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TÉCHNE 109 | ABRIL DE 2006 58 ARTIGO Envie artigo para: [email protected]. O texto não deve ultrapassar o limite de 15 mil caracteres (com espaço). Fotos devem ser encaminhadas separadamente em JPG. Desempenho acústico de divisórias para escritórios R aros escritórios comerciais não possuem divisórias para definir ambientes. Trata-se de um elemento arquitetônico versátil, com boas op- ções de acabamento, de instalação rápida, prático, fácil manutenção e que não gera entulho de obra. Por tudo isso, de grande sucesso e aceita- ção no Brasil. Esse importante mercado faz com que tenhamos uma grande variedade de modelos, de diversas tecnologias, materiais, padrões de qualidade, aca- bamentos e preços, para atender a todo tipo de cliente. Essa diversidade também se reflete no desempenho acústico das divisórias, um dos fato- res críticos da especificação desse produto, sobretudo quando se trata de modelos de alto padrão. Neste artigo são analisadas carac- terísticas e condições gerais que são determinantes para o desempenho acústico de divisórias do tipo piso- teto. Também são apresentados cri- térios acústicos e definições relativas ao tema. Tipologias e normas Ao tratar de divisórias, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) subdivide-as em duas cate- Marcelo de Godoy Mestre em Engenharia pela USP e Engenheiro Consultor da Modal Acústica [email protected] teto – classifica e delimita as caracte- rísticas dessas divisórias quanto aos requisitos mínimos de segurança e de qualidade. Porém, não existem nor- mas publicadas no Brasil que apre- sentem critérios de desempenho acústico de divisórias. Em geral, os fabricantes de divisórias se encarre- gam de providenciar ensaios acústi- cos de seus produtos, seja por exigên- cia do mercado ou para serem utiliza- dos como ferramenta de venda. Ainda assim, a falta de critérios nor- malizados e o desconhecimento téc- nico dificultam, aos profissionais não especializados em acústica, a especi- ficação de modelos. Isolação sonora de divisórias A principal característica do de- sempenho acústico de divisórias tipo piso-teto é a isolação sonora, ou seja, a propriedade de bloquear a transmissão sonora através da divi- sória. Este atributo reflete, por exemplo, a atenuação que sofre o som produzido em uma sala, ao ser transmitido pela divisória a uma sala vizinha. A isolação sonora da divisória, assim como a dos outros elementos que definem o perímetro de um escri- gorias: divisórias tipo painel, relati- vas aos modelos de meia altura utili- zados comumente para dividir esta- ções de trabalho; e divisórias tipo piso-teto, relativas aos modelos que se elevam do piso até o forro ou a laje. Apesar de as divisórias tipo pai- nel apresentarem propriedades acús- ticas importantes relativas principal- mente à propagação sonora em es- critórios panorâmicos, este artigo trata apenas das divisórias do tipo piso-teto, cujas características acús- ticas estão mais fortemente relacio- nadas ao conforto acústico e à priva- cidade. Este tipo de divisória é abor- dado de forma generalizada, con- siderando-se a tipologia básica de modelos geralmente associados a re- quisitos acústicos. Esta tipologia bá- sica consiste em uma estrutura (ge- ralmente metálica) em que são fixa- das duas camadas de painéis, uma em cada face da divisória. Os painéis podem ser constituídos de diversos tipos de materiais, como aglomerado e compensado de madeira, vidro, etc. Podem possuir preenchimento com diversos materiais (rígidos ou não) no vão entre as camadas de painéis. Também se encaixam nesta descri- ção as divisórias articuladas. A NBR 15.141/2004 – Móveis para escritório: Divisória tipo piso- artigo 109.qxd 10/4/2006 16:25 Page 58

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TÉCHNE 109 | ABRIL DE 200658

ARTIGOEnvie artigo para: [email protected] texto não deve ultrapassar o limitede 15 mil caracteres (com espaço).Fotos devem ser encaminhadasseparadamente em JPG.

Desempenho acústico dedivisórias para escritóriosRaros escritórios comerciais não

possuem divisórias para definirambientes. Trata-se de um elementoarquitetônico versátil, com boas op-ções de acabamento, de instalaçãorápida, prático, fácil manutenção eque não gera entulho de obra. Portudo isso, de grande sucesso e aceita-ção no Brasil.

Esse importante mercado faz comque tenhamos uma grande variedadede modelos, de diversas tecnologias,materiais, padrões de qualidade, aca-bamentos e preços, para atender atodo tipo de cliente. Essa diversidadetambém se reflete no desempenhoacústico das divisórias, um dos fato-res críticos da especificação desseproduto, sobretudo quando se tratade modelos de alto padrão.

Neste artigo são analisadas carac-terísticas e condições gerais que sãodeterminantes para o desempenhoacústico de divisórias do tipo piso-teto. Também são apresentados cri-térios acústicos e definições relativasao tema.

Tipologias e normasAo tratar de divisórias, a ABNT

(Associação Brasileira de NormasTécnicas) subdivide-as em duas cate-

Marcelo de GodoyMestre em Engenharia pela USP

e Engenheiro Consultor da Modal Acú[email protected]

teto – classifica e delimita as caracte-rísticas dessas divisórias quanto aosrequisitos mínimos de segurança e dequalidade. Porém, não existem nor-mas publicadas no Brasil que apre-sentem critérios de desempenhoacústico de divisórias. Em geral, osfabricantes de divisórias se encarre-gam de providenciar ensaios acústi-cos de seus produtos, seja por exigên-cia do mercado ou para serem utiliza-dos como ferramenta de venda.Ainda assim, a falta de critérios nor-malizados e o desconhecimento téc-nico dificultam, aos profissionais nãoespecializados em acústica, a especi-ficação de modelos.

Isolação sonora de divisóriasA principal característica do de-

sempenho acústico de divisóriastipo piso-teto é a isolação sonora, ouseja, a propriedade de bloquear atransmissão sonora através da divi-sória. Este atributo reflete, porexemplo, a atenuação que sofre osom produzido em uma sala, ao sertransmitido pela divisória a umasala vizinha.

A isolação sonora da divisória,assim como a dos outros elementosque definem o perímetro de um escri-

gorias: divisórias tipo painel, relati-vas aos modelos de meia altura utili-zados comumente para dividir esta-ções de trabalho; e divisórias tipopiso-teto, relativas aos modelos quese elevam do piso até o forro ou a laje.

Apesar de as divisórias tipo pai-nel apresentarem propriedades acús-ticas importantes relativas principal-mente à propagação sonora em es-critórios panorâmicos, este artigotrata apenas das divisórias do tipopiso-teto, cujas características acús-ticas estão mais fortemente relacio-nadas ao conforto acústico e à priva-cidade. Este tipo de divisória é abor-dado de forma generalizada, con-siderando-se a tipologia básica demodelos geralmente associados a re-quisitos acústicos. Esta tipologia bá-sica consiste em uma estrutura (ge-ralmente metálica) em que são fixa-das duas camadas de painéis, umaem cada face da divisória. Os painéispodem ser constituídos de diversostipos de materiais, como aglomeradoe compensado de madeira, vidro, etc.Podem possuir preenchimento comdiversos materiais (rígidos ou não)no vão entre as camadas de painéis.Também se encaixam nesta descri-ção as divisórias articuladas.

A NBR 15.141/2004 – Móveispara escritório: Divisória tipo piso-

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tório, protege este ambiente dos ruí-dos produzidos externamente, comosalas vizinhas ruidosas, áreas de circu-lação ou áreas de instalações prediais.Deste modo, contribui para o confor-to acústico e, entre outros efeitos,para o aumento da produtividade epara a redução do estresse, como de-monstra um estudo elaborado pelaAmerican Society of Interior Desig-ner, entidade norte-americana ligadaao estudo de ambientes de trabalho.

Outro aspecto importante relati-vo à isolação sonora de divisórias é aprivacidade da fala, fundamentalpara ambientes de negócios, sobretu-do para altos escalões, como direto-rias e presidência. Não é à toa quepara estes ambientes são feitas as exi-gências mais críticas quanto ao de-sempenho acústico de divisórias: in-formações valiosas que chegam a ou-vidos errados podem significar pre-juízo de milhões de reais.

A isolação sonora é quantificadaem decibéis (dB), unidade básica demedida do som. A grandeza física as-sociada à isolação sonora de um ma-terial é o Índice de Redução Sonora,que caracteriza a atenuação impostapelo elemento (divisória) à transmis-são sonora. Esta atenuação é forte-mente dependente da freqüência dosom transmitido: de modo geral,sons graves (baixa freqüência) sãotransmitidos mais facilmente do quesons agudos (alta freqüência).

O ensaio para a determinação daisolação sonora, executado por la-boratórios de acústica, como o do

IPT (Instituto de Pesquisas Tecno-lógicas do Estado de São Paulo), re-sulta em um relatório com tabelaapresentando os valores do Índicede Redução Sonora (R) por faixasde freqüência. Este resultado aindaé caracterizado por um índice

único, o Índice de Redução SonoraPonderado (Rw).

A tabela 1 apresenta valores de re-ferência para a isolação sonora quepodem ser aplicados a divisórias. Taiscritérios, adaptados do livro "Ruído –Fundamentos e Controle", do profes-sor Samir N. Y. Gerges, relacionam aisolação sonora característica da di-visória (Rw) ao efeito esperado sobrea privacidade da fala, considerando-se dois ambientes (conversação e ou-vinte) separados pela divisória.

Deve-se ressaltar que os efeitosdescritos na tabela devem ser tidoscomo referência, pois dependemainda de outros fatores, como o ruídode fundo dos ambientes considera-dos e a característica da isolação so-nora das divisórias por freqüência.

Na prática, a maioria das divisó-rias tipo piso-teto disponíveis nomercado tem sua isolação sonoracom o valor de Rw situado entre 25dB e 35 dB. Divisórias com isolaçãosonora superior a 40 dB podem serconsideradas de ótimo desempenhoacústico, adequadas para a grandemaioria dos escritórios e das salasde reunião. Casos em que se desejeprivacidade acústica extraordinária

TABELA 1 – VALORES DE REFERÊNCIA DE ISOLAÇÃO SONORARw Efeito acústico esperado<30 dB Conversação normal facilmente audível

com alto índice de inteligibilidade30 - 35 dB Conversação em voz alta audível com bom índice de inteligibilidade;

Conversação normal razoavelmente entendida35 - 40 dB Conversação em voz alta audível com

baixo índice de inteligibilidade; Conversação normal audível com baixo índice de inteligibilidade

40 - 45 dB Conversação em voz alta pouco audível; Conversação normal não pode ser escutada

45 - 50 dB Conversação em voz alta não é audível> 50 dB Conversação em tom de voz bastante alterado

fracamente audível e com baixo índice de inteligibilidadeFonte: livro "Ruído - Fundamentos e Controle", de Samir N. Y. Gerges

Plenum Som Forro

Ambientesilencioso ruidoso

Divisória

Ambiente

Propagação sonora pelo plenum

Plenum Septo Forro

Ambientesilencioso ruidoso

Divisória

Ambiente

Presença do septo bloqueando o som

Figura 1 – Septo montado no plenum

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ções de borracha de boa qualidade oua aplicação de materiais como silico-ne líquido ou mástique, reforçando avedação do encontro da divisóriacom a alvenaria ou entre os painéis eos perfis estruturais da divisória, evi-tam frestas e aberturas que podemcomprometer seriamente o desempe-nho acústico.� Portas e caixilhos: geralmenteapresentam isolação sonora inferior àdas divisórias onde são instaladas,comprometendo isolação sonoratotal. Este efeito deve ser consideradono projeto do escritório.� Septo: na maioria dos escritóriosde edifícios comerciais, a divisória éinstalada até a altura do forro suspen-so, sobre o qual há um vão (plenum)utilizado para a passagem de instala-ções prediais e para o retorno de ar dosistema de ar-condicionado. Vistoque geralmente a isolação sonora doforro suspenso é inferior à isolação dadivisória, deve-se construir um septosobre a divisória para evitar a propa-gação sonora pelo plenum. A figura 1ilustra este caso.� Qualidade na montagem: trata-sede um dos principais parâmetrospara assegurar o desempenho acústi-co de uma divisória. Boas divisóriaspodem ter sua isolação sonora brus-camente reduzida por falhas e descui-dos durante sua instalação, principal-mente no que diz respeito a falhas devedação entre os painéis e a estrutura,à vedação junto a paredes e forros e àinstalação de portas. As figuras 2 e 3

apresentam exemplos típicos de fa-lhas de vedação, que poderiam serevitadas na montagem.

ConclusõesO desempenho acústico de divi-

sórias tipo piso-teto é consideradoum dos principais fatores na escolhade modelos de alto padrão, colabo-rando diretamente para o confortoacústico e para a privacidade da falaem escritórios comerciais. A especifi-cação deve ser feita mediante dadosde ensaio de isolação sonora do pro-duto, visando garantir que o desem-penho acústico da divisória seja com-patível com seu padrão de qualidade.Da mesma forma, a qualidade da ins-talação da divisória deve ser assegu-rada, para que não haja frestas e aber-turas que prejudiquem a isolação so-nora da divisória.

podem requerer divisórias espe-ciais, com isolação sonora aindamais alta.

Parâmetros determinantes da isola-ção sonora de divisórias

O desempenho acústico de umadivisória tipo piso-teto depende deuma série de aspectos abrangendodesde o projeto até a montagem. Aseguir, são relacionados os principaisparâmetros que determinam a isola-ção sonora dessas divisórias.� Densidade superficial: quantomaior a densidade superficial da di-visória (isto é, quanto maior suamassa por metro quadrado), maiortenderá a ser sua isolação sonora. Emoutras palavras, a escolha de painéismais pesados e perfis mais espessosresulta em divisórias mais isolantes.Frestas e aberturas podem prejudicardrasticamente este efeito.� Tecnologia: o desenvolvimento deperfis metálicos e demais acessóriosque previnam frestas e dificultem atransmissão sonora melhoram o de-sempenho acústico da divisória semnecessariamente aumentar seu custoou sua densidade superficial.� Preenchimento: a utilização demantas ou painéis de materiais ab-sorventes acústicos (como lã devidro, lã de rocha ou espuma de po-liuretano) dispostos no vão entre ospainéis de uma divisória possibilitaum ganho de até 8 dB no Índice Pon-derado de Redução Sonora (Rw).� Vedação: a utilização de guarni-

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NBR 15.141/2004 – Móveis paraescritório – Divisória tipo piso-teto.Associação Brasileira de NormasTécnicas. Rio de Janeiro, 2004.

Increasing office productivitythrough integrated acousticplanning and noise reductionstrategies. American Society ofInterior Designers. Washington, 1996

Ruído – Fundamentos e Controle.Samir N. Y. Gerges. Florianópolis, 1992.

Figura 2 – Fresta entre painéis de divisória articulada Figura 3 – Fresta entre divisória e alvenaria

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