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    AS MICROALGAS COMO FONTE DE PRODUO DE BIODIESEL:DISCUSSO DE SUA VIABILIDADE

    LAUREN ESPINOSA1, NEYDA DE LA CARIDAD OM TAPANES2, DONATO ALEXANDRE GOMESARANDA1, YORDANKA REYES CRUZ1

    1 Escola de Qumica, Universidade Federal de Rio de Janeiro, EQ/UFRJ, [email protected] Centro Universitrio Estadual da Zona Oeste, UEZO, [email protected]

    E-mail: [email protected], [email protected].

    ABSTRACT:

    Proportion to the growth of energy consumption, increased pollution, making it necessary the development of "clean energy sources that enable thestabilization of this situation of pollution. For this reason, the research has focused on developing new basic petrochemicals, renewable character, to

    produce fuels that can replace petroleum, which puts the biomass in an important role. In this sense, the incorporation of biodiesel energy matrix isa significant environmental gain due to the reduction of emissions. Being microalgae primary producers that store solar energy to convert it intobiological energy, this work seeks a review of its use for the production of biodiesel. To complete this objective, it has been proposed to discusstheir technical, economic and environmental viability taking into account some likely scenarios. Without doubt, the most promissory alternative willbe those applying biorefinery concept to optimize process economics as well as environmental gains.

    Keywords: Biodiesel, microalgae, viability.

    INTRODUO

    As tendncias atuais no fornecimento e uso daenergia so insustentveis - economicamente,ambientalmente e socialmente. Sem uma ao

    decisiva, a energia relacionada aos gases deefeito estufa vai mais que dobrar at 2050 e ademanda crescente por petrleo ir aumentaras preocupaes sobre a segurana doabastecimento. Podemos e devemos mudar ocaminho em que estamos hoje. As tecnologiasde baixo teor de carbono de energia tero um

    papel crucial na revoluo da energianecessria para fazer esta mudana acontecer.(OECD/IEA 2011)............................................

    Os biocombustveis hoje comercializados so obioetanol e o biodiesel. Projeta-se umcrescimento da ordem de 14% a.a. para os

    biocombustveis lquidos nos prximos 5 anos,sendo o mercado atual da ordem de US$ 26

    bilhes (Biomass Research and DevelopmentTechnical Advisory Committee 2007). Hojeexiste uma grande variedade de tecnologias deconverso de biocombustveis convencionais eavanados das quais depende a qualidade finaldos biocombustveis, sempre visando

    processos mais eficientes. Os processos debiocombustveis convencionais, como o etanola partir de acar, biodiesel a partir detransesterificao, apesar de j disponveis

    RESUMO:

    Proporcionalmente ao crescimento do consumo de energia, cresceu a poluio, fazendo-se necessrio o desenvolvimento de fontes energticaslimpas, que permitam a estabilizao desse quadro de poluio. Por esse motivo as pesquisas tm se concentrado no desenvolvimento de novosinsumos bsicos, de carter renovvel, para a produo de combustveis que possam substituir os derivados de petrleo, o que coloca a biomassaem papel de destaque. Nesse sentido a incorporao do biodiesel matriz energtica constitui um ganho ambiental significativo devido reduodas emisses. Sendo as microalgas produtores primrios que armazenam energia solar para convert-la em energia biolgica, o pressente trabalhobusca uma anlise de seu uso para a produo de biodiesel. Para este fim se prope discutir a sua viabilidade tcnica, econmica e ambientallevando em conta alguns cenrios provveis. Sem dvidas as alternativas mais promissrias sero aquelas que apliquem o conceito de biorefinariapara otimizar a economia do processo assim como os ganhos ambientais.

    Palavras- chave: Biodiesel; microalgas, viabilidade.

    ISSN: 2317-8957Volume 2, Number 1, Jun. 2014

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    comercialmente, continuam a melhorar emeficincia e economia. As rotas de conversoavanadas, como o etanol celulsico ou o leovegetal hidrogenado, esto se movendo para afase de demonstrao ou j esto l. No caso

    do biodiesel baseado em microalgas aindaencontra-se na fase de P+D bsico e aplicado.(OECD/IEA 2011).............................................O biodiesel, biocombustvel derivado de fonterenovvel para uso em motores a combustointerna com ignio por compresso, contribui

    para a reduo da temperatura global doplaneta e dos custos com a sade, devido reduo das emisses, pois parte do gscarbnico emitido na queima do combustvel

    absorvida durante o crescimento da cultura damatria-prima utilizada na sua produo(Bermann 2008). Alm de isto proporcionaemprego e renda, totalmente miscvel emleo diesel mineral, aumenta a lubricidade docombustvel melhorando o desempenho domotor, biodegradvel e no txico(Encarnao 2008)............................................O uso de algas de grande importncia paracaptura de CO2 e produo de biomassa, bio-

    leo e produtos de alto valor agregado(espirulina, astaxantina, carotenos, etc.).Apesar do grande interesse que a utilizao dealgas para a produo de biocombustveis e

    bioprodutos tem despertado, os problemasexistentes, entenda-se economia do cultivo,colheita e extrao do leo, so vistos aindacomo importantes. O potencial das microalgas reconhecido: alto rendimento em leo (60%),rpido crescimento, utilizao de terras erecursos de baixo custo de oportunidade, no

    competio com alimentos e captura e uso deCO2. Entretanto, ainda necessria melhorcompreenso dos princpios de base para que oscale-up comercial seja vivel, P&Dfundamental e aplicado ainda parecemnecessrios. (Darzins e Garofalo 2009)Dentro das principais temticas de pesquisa edesenvolvimento que tem hoje a produo de

    biocombustveis baseado em microalgas,encontram-se os custos eficientes do cultivo, a

    colheita e a extrao do leo. A reciclagem da

    agua e nutrientes assim como o valor agregadodos coprodutos constituem assuntos de grandeinteresse para lograr a viabilidade do processo.

    MATERIAIS E MTODOS...........................

    Para este trabalho se levaram em consideraobibliografia dos ltimos 10 anos, com o 50%dentro dos ltimos 5 anos, onde foramestudadas as principais experincias refletidasna literatura. Tambm se levaram em conta osestudos relativos ao sistema de cultivo usadono Laboratrio GreenTec da Escola deQumica/UFRJ os quais so descritos emrelatrios tcnicos. Seguiu-se a tcnica daanlise de cenrios para discutir as seguintesvariantes:Cenrio 1: Produo de Biodiesel baseado emmicroalgas com o aproveitamento de guaresidual.Cenrio 2: Produo de Biodiesel baseado emmicroalgas com o aproveitamento de CO2industrial e venda dos crditos de carbono.Cenrio 3: Produo de Biodiesel baseado emmicroalgas com o aproveitamento decoprodutos de valor agregado.

    Tais cenrios sero avaliados levando emconta os seguintes aspetos: Viabilidade tcnica,Viabilidade econmica, Viabilidade ambiental.

    RESULTADOS E DISCUSSO..................

    Viabilidade tcnica da produo de biodieselbaseado em microalgasExtrair leo das algas como tirar o suco dalaranja: com uma reao qumica adicional. Asalgas so plantadas em sistemas de lagoas

    abertas ou fechadas. Uma vez que as algas socolhidas, os lipdios, ou leos, so extradosdas paredes das clulas das algas, o que podeser feito utilizando vrios mtodos (Defanti etal. 2010). Esse leo passa ser processado paraobteno de biodiesel.........................................O crescimento fotossinttico requer luz,dixido de carbono, gua e sais inorgnicas. Atemperatura deve manter-se geralmente dentrode 20 a 30 C. Para minimizar os gastos, a

    produo de biodiesel deve contar com a luz

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    solar disponvel livremente, apesar dasvariaes dirias e das diferentes estaes doano nos nveis de luz. O meio de crescimentodeve fornecer os elementos inorgnicos queconstituem a clula de algas. Os elementosessenciais incluem nitrognio (N), fsforo (P),ferro e, em alguns casos silcio. Os meios decrescimento so geralmente baratos (Chisti2007).A produo em larga escala da biomassa demicroalgas em geral, usa a cultura contnuadurante o dia. Neste mtodo de operao, omeio de cultura fresco alimentado a uma taxaconstante e a mesma quantidade de cultivo demicroalgas retirado continuamente. Segundoexpe Chisti 2007, os nicos mtodos viveisde produo em larga escala de microalgas solagoas Raceway e fotobioreatores tubulares.

    Cultivo (Lagoas Raceway vs. fotobioreatores)

    O cultivo de microalgas para a produo debiodiesel em raceway ponds tem sidolargamente avaliado em estudos financiados

    pelo Departamento dos Estados Unidos vistoque constitui uma metodologia menosdispendiosa que os fotobioreatores em termosde custos de construo e manuteno.Contudo, este tipo de cultivo, emboraapresente produtividades geralmentesuperiores a 10 g de peso seco/m2d, mantm-se aqum do rendimento dos fotobiorreactores.Uma vez que um sistema aberto sujeito aflutuaes dirias e sazonais de temperatura, as

    perdas para a atmosfera por evaporao tornamtambm a utilizao do CO2 menos eficiente, oque conduz a uma produtividade sub-ptima.Adicionalmente, a contaminao por algas emicrorganismos que se alimentem de algas,afeta tambm a eficincia da produo de

    biomassa (OILGAE, 2012). Uma produo porperodo muito longo acaba sendo contaminadae por isso, essa no a forma mais indicada

    para obteno de compostos puros a partir de

    alga para indstria farmacutica, de cosmticos

    ou alimentcia (Arceo 2010).Contudo, os lagos de cultivo abertoapresentam algumas vantagens: no competem

    por terra agricultvel e podem ser construdosem terras com produo marginal, requerem

    menos consumo energtico para manuteno,operao e limpeza e podem retornar um

    balano energtico favorvel. por isso queeste tipo de sistema geralmente encaradocomo a base para a cultura de microalgas emlarga escala para a produo de biodiesel,embora estejam ainda a serem optimizadas ascondies para cultura das espcies-chave paraa produo de biodiesel (OILGAE, 2012).

    No caso dos fotobioreatores, os cultivos so

    realizados em sistemas fechados, em painisde forma plana ou em forma de serpentinas,espirais ou cilindros, construdos com tubos de

    plstico, vidro ou policarbonato. Os tubosformam o sistema coletor de luz solar, nointerior dos quais uma soluo de microalgas circulada, advindas de um reservatrio, onde oar (contendo CO2) alimentado, a alimentao mantida constante, durante os perodos desol. Subseqentemente passagem pelos

    tubos, parte do inculo removido comoproduto e o restante recirculado coluna deseparao de gs. gua, CO2 e os nutrientesnecessrios so providos de forma controlada,enquanto oxignio tem que ser removido(Borges 2010). Existem muitas variaes, masde forma geral os fotobioreatores podem serclassificados quando ao formato em: planos,tubulares ou verticais (tubulares em coluna).

    Nos fotobioreatores possvel controlar ascondies de cultivo (quantidade de nutrientes,

    temperatura, iluminao, pH etc.). Isto implicauma elevada produtividade, viabilizando a

    produo comercial de uma srie decompostos de elevado valor agregado (Teixera2007).Seu ponto forte principal a baixacontaminao exterior, o que possibilitacultura e obteno de monoculturas ecompostos para farmcia e alimentao

    produzem biomassa de forma mais densa, o

    que reduz os custos de colheita, mas ainda

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    assim sua montagem e manuteno mais caraque o cultivo aberto (Arceo 2010).Suas principais limitaes incluem:sobreaquecimento, bio-incrustantes, acmulode oxignio, dificuldade de ampliao, alto

    custo de construo, operao do cultivo algale danos s clulas pelo estresse decisalhamento (shear stress) e deteriorao domaterial utilizado para aproveitar a iluminaonatural. Adicionalmente, o custo da produode biomassa algal em fotobioreatores pode sermaior que em tanques. Isto depender dodestino que ser dado biomassa microalgal(obteno de qumicos de alto ou baixo valorno mercado) (Brennan & Owende 2010).

    Devido ao exposto acima, os fotobioreatorespodem no ter um impacto significante em umfuturo prximo sobre qualquer produto ou

    processo que possa ser obtido nos tanquesaerados abertos.

    Colheita

    Diversas metodologias podem ser utilizadaspara a colheita de microalgas. Os custos de

    colheita da biomassa representam cerca de 20-30 % do custo total. Atualmente, a colheita dabiomassa de microalgas baseia-se emprocessos de sedimentao em camposgravitacionais, centrifugao, fracionamentode espuma, floculao, filtrao por membranae separao com ultra-som (Carlsoon 2007).

    Secagem ou desidratao

    Uma vez que ocorre a separao a biomassa desidratada. Para tanto, podem ser empregadasdiversas tcnicas, dentre os mais comuns tm-se a secagem com spray (spry-drying), tamborde secagem (drum-drying), liofilizao esecagem ao sol. A secagem ao sol maisutilizada para biomassas com um baixo teor deumidade e a secagem com spray no economicamente vivel para produtos de baixovalor, como biocombustveis e protenas. Aliofilizao tem sido utilizada para secagem de

    microalgas em pesquisas laboratoriais. Noentanto, este mtodo muito caro para serutilizado em uma escala comercial para arecuperao de produtos microalgais. Emalguns casos, a extrao com solvente de

    biomassa seca tem demonstrado uma maiorrecuperao de metablitos intracelulares doque a biomassa mida. Produtos intracelularescomo leos podem ser de difcil extrao de

    biomassas midas de clulas no rompidas.Mas so extradas facilmente se a biomassa forseca anteriormente (Brennan & Owende2010).

    Extrao do leo

    Embora existam diversas metodologias para adisrupo celular, o critrio fundamental amaximizao do valor dos materiais obtidos. Adisrupo mecnica das clulas geralmente omtodo por excelncia uma vez que evita acontaminao qumica da preparao.A extrao do leo das microalgas um tpico

    polmico atualmente debatido em virtude deseu alto custo e pode determinar a

    sustentabilidade do biodiesel de microalgas(Prez 2007). De acordo com este autor, hcinco mtodos bem conhecidos para extrair oleo das sementes oleaginosas, e estes mtodostambm devem aplicar-se bem para asmicroalgas: Prensagem, Extrao porsolventes, Extrao fluda supercrtica,Extrao enzimtica, Choque osmtico.

    Produo de Biodiesel: Transesterificao vs.hidroesterificao

    Uma vez que os leos so extrados a partir dapasta de microalgas, so depois transformadosem biodiesel e glicerina onde geralmente soutilizados os mtodos da transesterificao(alcalina cida ou enzimtica) ou ahidroesterificao. Ambos apresentam a suasvantagens e desvantagens.

    Na hidroesterificao, a reao de hidrliseeleva a acidez da matria-prima e torna

    desnecessria a remoo dos cidos graxos

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    livres, que realizada no refino. Sendo assim,qualquer matria-prima graxa (gordura animal,leo vegetal, leo de fritura usado, borrascidas de refino de leos vegetais, entre outros)

    pode ser utilizada neste processo, independente

    da acidez e da umidade. A possibilidade deutilizar matria-prima nestas condies ogrande diferencial em relao ao processotradicional de transesterificao que,inevitavelmente, gera sabes e afeta orendimento das plantas e dificulta a separaodo biodiesel e da glicerina. (Encarnao 2008).O alto custo de produo da biomassa seca eda extrao do leo podem ser resolvidosmediante a utilizao do processo de

    hidroesterificao, j que a secagem dabiomassa no seria precisa. Tais mudanas soapropriadas quando so utilizadas guasresiduais (Cenrio 1) para o cultivo das algas.Para cultivos que visam obter o valorizar todosos componentes das microalgas (Cenrio 3),

    pode ser que este processo no seja o maisadequado, as altas temperaturas utilizadas

    podem trazer consequncias nefastas para asprotenas e vitaminas que ainda contm o

    CAKE de algas. A esterificao gera ento obiodiesel e como subproduto a gua, que podeser reutilizada no processo de hidrlise,fechando o ciclo. O processo dehidroesterificao (hidrlise seguida deesterificao) se insere neste contexto comouma alternativa ao processo convencional de

    produo de biodiesel (Arceo 2010).Em relao aos custos de ambos processos,como cerca de 80% do custo de produo do

    biodiesel proveniente do custo da matria-

    prima, a hidroesterificao permite umsignificativo salto na viabilidade de um projetode biodiesel. Na tabela 1 se apresenta umestudo comparativo em relao aos custosoperacionais destes processos:

    Tabela 1 Comparao dos custos operacionais entre as tecnologiasTransesterificao e Hidrlise + Esterificao (50,000 mton/ano).Fonte: Cruz & Aranda 2011.

    Viabilidade econmica

    Atualmente, o processo de produo decombustvel a partir de algas poder parecerno rentvel, embora existam muitas empresasde biocombustveis a base de algas, nenhumaainda com a produo de quantidades em

    escala comercial nem a preos competitivos(St John 2009) Tem sido sugerido que o custode produo deve ser reduzido em at duasordens de magnitude para se tornar econmica(Wijffels 2007).Muitas pesquisas publicadas apresentamresultados diferentes para o custo de produoe venda do biodiesel de microalgas. Estima-seque os custos de biodiesel a partir de algas,

    pelo menos, 10 a 30 vezes superior do

    produzido a partir de matrias primasconvencionais (Kovalyova 2009). O custoestimado para o barril de leo de microalgas

    pode variar de $39 - $69, onde estes clculosforam feitos com base no cultivo de 400hectares em tanques abertos, usando aliberao de CO2 puro a partir da liberao deuma termoeltrica onde a previso de

    produtividade de 30-60g m2 dia- 1 debiomassa de microalga com um rendimento

    aproximado de 50% de lipdeos (Kowalski2010).O custo para se produzir um kg de biomassa demicroalgas de U$ 2,95 em fotobioreatores eU$ 3,80 para produo em piscinas abertas(Chisti 2007). Estas estimativas pressupemque o CO2 est disponvel sem custo e que asmatrizes algais receberam gua e luz solar.Quando a produo de biomassa aumenta paraaproximadamente 10.000 ton. por ano o custodo kg reduz-se a cerca de U$ 0,47

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    para produo em fotobioreatores e U$ 0,67para produo em piscinas abertas por causa daeconomia de escala.O custo de produo de biomassa de algas seconum bioreactor tubular tem sido dado como

    US$ 32.16 por Kg (Molina et al. 2003).Algumas estimativas indicam que os sistemasde reatores fechados s sero capazes decompetir com o petrleo ao preo de US $ 800

    por barril (US $ 5 por litro) (Broere 2009).Muitos admitem que a indstria de cultivo dealgas para biocombustveis no pode serrentvel por si s. necessrio oaproveitamento de co-produtos de alto valoragregado, tais como "nutracuticos",

    fertilizantes e a produo de energia a partir deresduos de biomassa de algas.Sem dvidas o conceito de biorefinaria deveser aplicado, j que os leos representamapenas um dos muitos produtos com valorcomercial. Um sistema integrado implica nos que a biomassa de algas alimentadiretamente a biorefinaria, mas tambm adireta utilizao dos efluentes e gases deexausto (por exemplo, gs de sntese, metano,

    calor, dixido de carbono, esgoto, etc) pelabiorefinaria ou usina de energia em nossosnovos sistemas de produo de algas.O Cenrio 1, relativo ao aproveitamento degua residual, traz muitos benefcios tantoeconmicos como ambientais. As microalgasalimentadas por efluente, em um sistema delagoa de estabilizao, por exemplo, podem serutilizadas para a obteno de um leo mais

    barato quando comparado aos obtidos emsistemas de cultivos. Isso levar a uma

    economia de gua e nutrientes, bem comoservir para a remoo de nutrientes doefluente, como nitrognio e fsforo.A obteno de biomassa microalgaldiretamente da lagoa facultativa mostra-secomo uma alternativa aos processos deobteno de biomassa algal tradicionalmenteutilizados (fotobioreator e tanques aerados).Alm de apresentar um motivo para oinvestimento da instalao de um sistema para

    recuperar a biomassa microalgal deixando,

    com isso, de lan-la no crrego e podendoter-se um ganho econmico e ambiental(Cardoso & Vieira 2010).Outro estudo foi o realizado por umauniversidade espanhola: Universidade de

    Mlaga com o cultivo da microalgaScenedesmus dimorphus utilizando uma fontede gua residual suna. Dado a possibilidadeda gua residual ser obtida sem custosadicionais existe a oportunidade de associar ocrescimento de algumas espcies ao tratamentodas guas residuais sunas conseguindo assim,

    por um lado, a obteno a baixo custo debiomassa com aprecivel contedo lipdico e,por outro lado, o tratamento dessas guas.

    Por outra parte, no mistrio que o cultivo demicroalgas requer de grandes quantidades deCO2, dentre todos os organismosfotossintticos e autotrficos, capazes deremover CO2 de correntes gasosas, asmicroalgas so o grupo que suportam at 50%de CO2. No caso de se integrar a qualquerusina que emita quantidades significativas deesse gs (Cenrio 2), poderiam ser reduzido oscustos e a poluio ambiental, alm de gerar

    para a empresa uma nova fonte de ingressos aoexistir a possibilidade de comercializar hojeem dia os crditos de carbono. Cada toneladade CO2 que absorvida (sequestro decarbono) ou a quantidade de gases poluentesque deixam de ser produzidos pela empresaclassificada como poluidora convertida emuma unidade de crdito de carbono, que negociada em dlar no mercado mundial.Levando em conta o relatrio divulgado porPeters-Stanley & Hamilton 2012, aonde o

    preo mdio ponderado dos crditosnegociados no mercado OTC (Over-TheCountry) foi de US $ 6/tCO2e = R$12/tCO2e,e que segundo Chisti 2007 para o crescimentodas microalgas se precisam 1,88356 Kg deCO2/ kg de biomassa, ento se obteria umareceita aproximadamente de $R 0,226 por cadaquilograma de biomassa cultivada.Em relao ao Custo de operao do processode recuperao do CO2, apesar de que

    antigamente se considerava custoso, alguns

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    autores j considerarem que este processoesteja disponvel a baixos, ou nenhum custo(Chisti 2007), porm, se faz preciso analisarvrios parmetros que afetam sensivelmenteessa estimativa. Atualmente pode ser assumido

    o custo operacional de US $ 1,00 por toneladade CO2 recuperado, incluindo as etapas decoleta e redirecionamento de CO2 para ostanques, com uma eficincia de 99% narecuperao de CO2.

    No caso do Cenrio 3, conhecido que oscidos graxos poliinsaturados (cidoaraquidnico - ARA, cido eicosapentaenico -EPA e cido docosahexaenico DHA, porexemplo) e pigmentos carotenides

    (astaxantina, betacaroteno, lutena,cantaxantina etc.) apresentam propriedadesteraputicas. Atualmente, so comercializadascomo alimento natural ou suplementoalimentar e so encontradas formulaes em

    p, tabletes, cpsulas ou extratos. So tambmincorporadas em massas, petiscos, doces,

    bebidas etc., tanto como suplementonutricional quanto como corantes naturais(Becker 2004). Na Tabela 2 mostra-se como

    so comercializados alguns produtos eaplicaes obtidas da biomassa microalgal.

    Tabela 2. Comercializao de produtos e aplicaes a partir de.algumas espcies de microalgas. Fonte: BRENNAN e OWENDE,.2010.

    Por sua parte, o betacaroteno de fontemicroalgal tem sido comercializado sob trsformas: extratos, p e como biomassa seca.

    Segundo Ben-Amotz 2004, o preo desteproduto varia entre US$ 300,00 e US$3.000,00 por quilograma. Em quanto as

    protenas solveis para alimentao humana

    podem ser vendidas a 5/kg e para alimentaoanimal em 0,75/kg (Wijffels et al 2010).Viabilidade ambientalUma das caractersticas relevantes dasmicroalgas a capacidade destes micro-organismos transformarem o dixido decarbono presente na atmosfera e a luz solar emvrias formas de energia, atravs do processode fotossntese, tambm so capazes deremover a presena de outros compostos como

    NO e SO2.Neste contexto, as microalgas ganhamdestaque na reduo de concentraes dosgases do efeito estufa devido capacidadefotossinttica e sua aplicabilidade em sistemasde engenharia em que a energia solar leva afixao de CO2 convertendo-o de energiatrmica em biomassa rica em energia comadio de valor agregado gerando produtosqumicos e alimentcios. (Chisti 2007).Estima-se que a fixao de carbono por

    cultivos de microalgas em condies timasestaria entorno de 11-36 ton. C ha/ano.Durante a remoo de CO2 e NO, geradosdurante a combusto do carvo, pormicroalgas, estudos tm revelado que aremoo mxima de CO2 chegou a 22,97%, ede NO 27,13% o que pode reduzir os custoscom nutrientes do meio de cultivo e problemasgerados com a emisso de gases. (Morais &COSTA 2008)

    Por outra parte, as microalgas podem mitigaros efeitos dos esgotos e fontes industriais denitrognio residual como aqueles derivados detratamento de gua residual ou da ictioculturae, ao mesmo tempo, contribuindo para a

    preservao da biodiversidade. Alm disso,removendo nitrognio e fsforo da gua, asmicroalgas podem ajudar a reduzir aeutrofizao no ambiente aqutico (Mulbry etal 2008).Tambm no pode se deixar de mencionar que

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    como seu cultivo pode ser feito em guamartima ou salobra e em terras nocultivveis, no incorre na degradao dossolos, minimizando os impactos ambientaisassociados, ao mesmo tempo em que no

    compromete a produo de alimentos,forragens e outros produtos derivados deculturas.

    Consideraes Finais

    As microalgas constituem uma alternativapromissora devido a suas inmeras vantagens,por exemplo: o rendimento do leo extradopara fazer biodiesel nas microalgas cerca de

    200 vezes maior do que o rendimento obtidocom outras mais produtivas oleaginosas;

    podem ser produzidas em qualquer poca doano de forma rpida, os nutrientes para ocultivo de microalgas (especialmentenitrognio e fsforo) podem ser obtidos a partirde guas residuais, tendo nestes casos duplafuncionalidade: captura de CO2 e tratamentode efluentes contribuindo manuteno emelhoria da qualidade do ar; podem produzir

    uma srie de outros produtos valiosos alm doleo, tais como protenas e carboidratos quepodem ser utilizados como alimento paraanimais ou fertilizantes, ou fermentados para

    produzir etanol, metano, ou outros produtoscom maior valor agregado, como PUFAs,

    pigmentos, acares e antioxidantes.Em relao s desvantagens, alm dasuscetibilidade contaminao e a adaptaoao ambiente, o aspecto que no pode se deixarde mencionar a dificuldade para uma

    produo economicamente vivel, o alto custodo processo de cultivo e da produo da

    biomassa seca e extrao do leo. Mas essesproblemas podem se resolver num futuroquando se saibam aproveitar as vantagens jmencionadas anteriormente e aplicar oconceito de biorefinaria com o objetivo de

    potenciar a economia do processo e os ganhosambientais.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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