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    Superviso em Servio Social

    Yolanda GuerraProfessora da ESS da Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ

    Maria Elisa BragaAssistente social e mestre pela PUC/SP

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    Superviso em Servio Social

    Introduo

    A superviso em Servio Social aparece como uma atribuio profissional desde a

    primeira verso da lei de regulamentao da profisso, que data de 1952, sendo

    aprovada em 1957.

    No obstante, tem sido frequente na categoria profissional a observao da

    ausncia do tema superviso no debate e na produo bibliogrfica, especialmente, a

    partir dos anos de 1980, dcada na qual Iamamoto reconhece como a maioridade

    intelectual do Servio Social brasileiro.

    Na atualidade, verifica-se empiricamente que algumas das modalidades de

    superviso encontram-se em decadncia ou se metamorfoseiam, tais como a superviso

    de polticas sociais, programas e projetos, e a superviso tcnica de equipes e de

    profissionais. Estas parecem ter sido banidas do horizonte das atribuies, mas isso

    mera aparncia. Muitas vezes assumindo uma conotao de assessoria, a superviso em

    servio, de programas, polticas, projetos, equipes e profissionais continua sendo uma

    atribuio socioprofissional das mais requisitadas.

    Como as entidades da categoria vm investindo na construo das bases legais,

    institucionais e terico-metodolgicas da superviso e quais investimentos ainda

    precisam ser feitos no sentido de subsidiar o exerccio profissional competente, crtico e

    comprometido com um projeto societrio que aponte para a ruptura com o

    conservadorismo e na direo da construo de uma nova sociedade? Como a

    superviso pode fornecer os elementos necessrios a uma formao continuada que

    capacite profissionais na perspectiva de qualificar os servios prestados? Em que

    medida a superviso pode ser conduzida na perspectiva da democratizao das decises

    e emancipao dos sujeitos envolvidos?

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    Essas questes do o norte da reflexo que aqui desenvolveremos.

    Inicialmente, cabe a considerao de que h uma crtica explicita ou velada, de

    cunho conservador, que afirma que a vertente chamada por Netto (1991) de inteno de

    ruptura no forneceu os instrumentais operativos capazes de colocar a teoria em ao.

    Reclama a necessidade de indicativos terico-prticos para consumar a interveno.

    Aqui, a ideia a de que o estatuto profissional dado pelo domnio de tcnicas,

    instrumentos, procedimentos e de uma metodologia do Servio Social.

    Tais crticas no apenas apontam uma fragilidade no debate na perspectiva da

    vertente que intenciona a crtica radical do conservadorismo, mas, sobretudo, esconde

    os avanos at o momento conquistados que se explicitam na concepo e no perfil

    profissional presente nas diretrizes curriculares vigentes a partir de 1996, como um dos

    pilares do projeto tico-poltico profissional.

    Resultado do investimento da profisso, temos a concepo de superviso como

    uma atribuio profissional que se localiza no mbito da formao graduada e

    permanente para a qualificao dos servios prestados sociedade, direcionada para a

    realizao dos objetivos, valores, princpios e direo social estratgica do projeto tico-

    poltico profissional com vistas emancipao social.

    certo que uma abordagem da superviso concebida a partir das suas funes

    pedaggica, socioprofissional, tica e poltica, e analisada criticamente no contexto da

    crise contempornea e de seus impactos no Estado, nos espaos scio-ocupacionais, nas

    demandas e no exerccio profissional, constitui-se, ainda, uma lacuna a ser preenchida

    pela produo terico-bibliogrfica crtica.

    Realizar algumas aproximaes crticas sobre a superviso como uma atribuio

    socioprofissional e mediao fundamental formao e capacitao profissional,

    desafio a que nos propomos, nos exige explicitar os pressupostos gerais dos quais

    partimos, bem como mencionar cada uma das modalidades de superviso nas suas

    particularidades e singularidades.

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    1 Alguns pressupostos e premissas que orientam estas reflexes

    a) A superviso a expresso da indissociabilidade entre trabalho e formao

    profissional. Nela as duas dimenses da profisso se articulam, de modo a realizar uma

    sntese de mltiplas determinaes que envolvem o exerccio profissional na sua

    totalidade: as condies objetivas que se operam no mercado de trabalho, as condies

    subjetivas relativas ao sujeito e a necessidade de qualific-las permanentemente. Nessa

    perspectiva, a superviso, na condio de atribuio profissional, contempla uma

    dimenso formativa. Aqui, pensa-se tanto a superviso de estgio quanto a superviso

    de equipes, polticas, programas e projetos. Em todas as suas modalidades, a superviso

    detm o potencial de cumprir com os princpios de compromisso com a qualidade dos

    servios prestados populao, bem como com o aprimoramento intelectual, na

    perspectiva da competncia profissional, expressa no nosso projeto tico-poltico

    profissional.

    b) A superviso expresso da unidade entre teoria e prtica. Uma unidade

    dialtica e interdependente que pressupe a contradio, aproximaes sucessivas e a

    construo de saberes. A superviso comporta a diversidade, ou seja, constitui-se num

    processo de sntese entre teoria/prtica, entendendo-a enquanto unidade indissolvel,

    na qual, a partir de um determinado referencial terico, no enfrentamento das condies

    concretas do real, sero construdas alternativas e respostas profissionais. Trata-se de

    um processo dialtico, que incorpora um conjunto de atividades e procedimentos, que

    mantm uma certa continuidade e que apresenta certa unidade, organicidade, exigindo

    particulares modos de fazer, metodologias e procedimentos adequados, ainda que no

    definidos a priori, mas a partir de reflexes e problematizaes, os quais dependem da

    clareza acerca dos objetivos, da convico nos valores e princpios e da escolha e

    utilizao de um conjunto de estratgias e instrumentos adequados.

    c) A superviso no pode ser compreendida desvinculada dos seus componentes

    terico, tico e poltico, da compreenso do significado social do Servio Social na

    sociedade brasileira, dos valores que privilegia, de um projeto profissional que se

    conecta (ainda que por meio de muitas mediaes) a projetos de sociedade.

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    d) A superviso, qualquer que seja sua modalidade, no pode ser realizada

    independentemente do carter e modelo de polticas sociais seja pblico ou privado e

    das formas particulares de enfrentamento da chamada questo social pelo Estado, bem

    como da sua relao com a dinmica do mercado de trabalho. Assim, a superviso ser

    sempre mediada por questes que particularizam as polticas sociais, seja a de educao

    superior, especialmente no caso da superviso de estagirios, sejam as demais polticas

    sociais setoriais, no que se refere s modalidades de superviso de polticas sociais,

    entidades, programas e projetos, equipe, assistentes sociais e estagirios.

    e) Na superviso se realiza a unidade entre ensino e aprendizagem: trata-se da

    insero de sujeitos sociais numa relao dialtica, a partir do engajamento em situaes

    concretas, cujo objeto de conhecimento o prprio movimento da realidade, o qual

    permite a anlise concreta de situaes concretas. Ensinar e aprender so experincias

    indissociveis do processo de Superviso, que se materializam na relao intrnseca

    entre estgio, superviso acadmica e de campo e superviso profissional. No processo

    de aprendizagem, os sujeitos envolvidos: estudantes, equipes profissionais e o/a

    supervisor/a, ao discutir e materializar a profisso no exerccio profissional, se

    constroem e se reconstroem como sujeitos, elaboram saberes conjuntos em um processo

    deliberado de favorecer o aprimoramento tico e intelectual, por meio de um espao

    didtico-pedaggico privilegiado.

    O objetivo deste texto refletir sobre a superviso e suas diversas modalidades no

    mbito das polticas sociais, das entidades responsveis pela sua execuo, dos

    programas e projetos, de equipes profissionais, de estagirios, como uma

    responsabilidade legal e legitimamente constituda pela Lei n. 8.662/1993, entre as

    atribuies privativas do assistente social, que se realizam norteadas por princpios,

    valores e perspectivas do seu projeto tico-poltico profissional.

    Partindo de uma tentativa de elaborao conceitual da superviso na sua dimenso

    mais genrica, ou seja, abarcando suas diversas modalidades, busca-se situar

    historicamente o papel da superviso nas atribuies socioprofissionais e nos diversos

    contextos e conjunturas scio-histricas, no intuito de indicar suas potencialidades

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    rumo ao fortalecimento de uma perspectiva democrtica e de defesa dos direitos sociais

    e humanos.

    Estamos entendendo superviso como uma atividade imprescindvel formao

    no s acadmica, mas direcionada para a formao e capacitao profissional

    permanente, que detm a possibilidade de orientar o aprimoramento da interveno

    profissional que se realiza por meio da formulao e implementao de polticas e

    servios sociais. um processo de estimular, provocar, acompanhar e contribuir na

    capacitao de estudantes e/ou profissionais, equipes e executores e/ou formuladores

    de polticas, programas e/ou projetos a apreender e interpretar, na conjuntura, a

    particularidade do fenmeno com o qual trabalham, com a finalidade de analisar e

    encontrar o modo mais qualificado de operacionalizar a interveno profissional.

    Em qualquer dessas modalidades h a necessidade de preparao/qualificao de

    modo que a superviso passa a ser a mediao necessria na preparao de

    profissionais aptos a realizar seu trabalho com competncia e compromisso na direo

    da efetivao dos princpios e valores do projeto tico-poltico profissional. Essa

    particular atividade realizada por assistentes sociais visa formao dos quadros

    tcnicos e intelectuais, cuja interveno na realidade requer a compreenso do

    significado social da profisso e da sua insero no contexto de relaes e condies

    especficas dentro de conjunturas determinadas, apreendendo os fenmenos sociais

    como processos em constituio, cuja legalidade tendencial s se explica no contexto

    contraditrio das relaes sociais. Nesse sentido, todo fenmeno social analisado (e aqui

    se inserem as polticas sociais e a prpria interveno profissional) deve ser apreendido

    como sntese de mltiplas determinaes e funcionalidades.

    2 Superviso, orientao ou superviso tcnica de polticas, projetos e programas

    sociais

    Prtica antiga no mbito da profisso, adquiriu vrias denominaes, formas e

    contedos ao longo da sua trajetria histrica.

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    A bibliografia que trata do tema mostra que as primeiras aes do servio social

    na perspectiva da assistncia tcnica se situam em termos de orientao tcnica s

    entidades privadas de filantropia (NOGUEIRA, 1990, p. 40). Surgindo no marco da

    dcada de 1930, a prtica de assistncia/orientao tcnica tinha por objetivo intervir

    no processo de organizao das obras sociais, orientando e, ao mesmo tempo, exercendo

    controle e fiscalizao sobre a mesmas, dando a direo social e poltica dessas

    instituies. Encontrando subsdios tericos numa bibliografia oriunda do Servio Social

    norte-americano, como aponta as produes de Reynolds (1942) e Robinson (1949), a

    superviso aparecia como: o processo educacional pelo qual uma pessoa possuidora de

    conhecimento e experincia prtica, toma responsabilidade de treinar outra possuidora

    de menos recursos tcnicos (ROBINSON apud VIEIRA, 1979, p. 29). Sob a influncia dos

    EUA, enfocava os aspectos psicanalticos do, ento, Servio Social de Casos, priorizando

    o relacionamento (numa abordagem psicossocial) e os procedimentos metodolgicos,

    dando nfase uma abordagem individual.

    Na dcada de 1960, no casualmente, ampliam-se as instituies sociais que

    instauram a prtica denominada de assistncia tcnica em servio social, cujas

    modalidades de interveno so: assessoria, consultoria, superviso e orientao, como

    parte das estratgias dos organismos internacionais (ONU, OEA, CEPAL, entre outros) de

    eliminar os obstcuos mudana e ao desenvolvimento.

    Assim, essa prtica consolida-se efetivamente no Brasil aps 1964, com a

    implantao do Estado ditatorial, com o estabelecimento de um novo pacto com o capital

    monopolista internacional, nomeadamente o norte-americano (NETTO, 1991, p. 26), e,

    especialmente aps 1968, quando se aprofunda sua condio de pas perifrico,

    dependente e associado.

    A perspectiva dessas aes combinava no apenas com o projeto

    desenvolvimentista e com suas estratgias na direo da modernizao conservadora.

    Mais do que isso: ao articular economia e poltica, o Estado burgus, principal

    empregador dos assistentes sociais, se reestruturava do ponto de vista funcional e

    organizacional promovendo uma diferenciao e especializao das atividades

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    resultante tanto da ampliao e do modelo das polticas sociais quanto das novas

    expreses da chamada questo social que ai se manifestam.

    A tendncia de modernizao do conservadorismo no Servio Social se valeu desse

    expediente para oferecer ao projeto societrio hegemnico poca o arsenal tcnico-

    operativo necessrio para assegurar os objetivos e metas do projeto autocrtico

    burgus. A racionalidade tcnica que permeia a concepo de superviso hegemonizada

    neste perodo (que lhe peculiar, mas no exclusiva) tem por fim superar a

    racionalidade assistencial que caracteriza as instituies sociais, bem como as prticas

    tradicionais, interpretadas por Netto (1991, p. 17) como: a prtica empirista reiterativa,

    paliativa e burocratizada dos profissionals, parametrada por uma etica liberal-burguesa

    [...], pela utilizao de tcnicas das reas de Adminstrao e Planejamento, a luz dos

    critrios de eficcia e eficincia das aes com vistas superao do

    desenvolvimentismo.

    Com o aprofundamento da ditadura, os traos tradicionais passam a ser deslocados

    por procedimentos racionais, incorporando aes administrativas de controle, e sua

    verificao segundo critrios burocrticos-administrativos das instncias hierrquicas

    (NETTO, 1991, p. 123). Nesse contexto, a formao profissional tambm havia de ser

    reformulada: empreende-se a uma articulao entre as preocupaes operativas e os

    recentes contedos tericos, apropriados das disciplinas das cincias sociais, em

    especial, da psicologia, sociologia, administrao (com destaque para os conhecimentos

    da administrao cientfica do trabalho), dotando o profissional de um perfil

    fundamentalmente tecnocrtico. Aqui, a superviso passa a ser concebida como um

    conjunto de etapas que se sucedem umas as outras, um mtodo de eliminao das

    distores do modelo das poltica sociais.

    A bibliografia que trata do tema mostra que, nesse perodo, a chamada assistncia

    ou superviso tcnica se restringe a fiscalizao e controle dos programas, visando a sua

    eficcia e eficincia, donde o predomnio do carter tcnico-administrativo em

    detrimento do poltico-ideolgico. Adota uma perspectiva estrutural-funcionalista e

    sistmica na compreenso da realidade e da superviso a ser realizada, com nfase na

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    captao de desvios contratuais, financeiros e/ou metodolgicos, priorizando aspectos

    quantitativos na conduo da formulao e implementao das polticas, programas e

    projetos. Vale lembrar que a conduo do trabalho tcnico tem em vista eliminar os

    desvios e promover a integrao social, donde o deslocamento de eixo da interveno

    promove a passagem do carter assistencial para o promocional e socioeducativo, cuja

    alternativa mais vivel passa a ser a prtica da superviso de programas e/ou de

    entidades pblicas e/ou privadas.

    A chamada assistncia ou superviso tcnica se modifica com a ampliao das

    funes de macroatuao do Servio Social, quais sejam: no mbito da Poltica Social,

    Administrao e Planejamento. Agora sua dimenso poltica explcita quando interfere

    na formao do iderio dos dirigentes e profissionais das instituies sociais, bem como

    quando busca a manuteno de um padro de interveno profissional homogneo,

    sustentado em procedimentos administrativo-burocrticos e valores liberal-burgueses

    velados pelo discurso da neutralidade tcnica.

    A citao de Vieira exemplar do significado da chamada assistncia tcnica por

    parte da Organizao das Naes Unidas. Concebe essa instituio, a orientao tcnica

    como: auxlio dado por tcnicos altamente qualificados e durante um tempo

    determinado, a governos que a solicitam, para organizar ou reformular programas ou

    servios de Bem Estar, demonstrar tcnicas e treinar pessoal (VIEIRA apud NOGUEIRA,

    1990, p. 47).

    Cabe observar que o que parametrizou a superviso nesse perodo foram aes de

    planejamento, organizao, orientao e controle direcionadas pela racionalidade

    administrativo-burocrtica que prioriza a relao custo-benefcio e a otimizao de

    recursos, estabelecendo vnculos diretos com o alcance dos objetivos, metas e resultados

    definidos a priori, sem a problematizao sobre os interesses subjacentes aos mesmos.

    Muitos investimentos foram feitos na tentativa de construo de modelos e superviso1.

    1 Ver a produo do CBCISS Cadernos Verdes e a obra seminal de Vieira: Modelos de Superviso emServio Social, Rio de Janeiro, editora Agir, 1981.

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    Nota-se na Amrica Latina, especialmente no Brasil, que a produo da temtica da

    Superviso em Servio Social no acompanhou a profcua produo do Servio Social

    reconceituado, que redirecionou tica, poltica e teoricamente o Servio Social2.

    Isso significa que, no obstante a direo hegemnica dada pela racionalidade

    formal, tecnocrtica, gerencial, e sem querer subestim-la, o movimento social e as

    presses internas e externas profisso pem em questo a concepo hegemnica e o

    significado da assistncia/superviso tcnica vigente no perodo, que passa a se

    constituir em objeto de disputa de diversas vertentes, entre elas a denominada por

    Netto (1991) de inteno de ruptura, herdeira da vertente mais crtica do movimento de

    reconceituao latino-americana.

    Se no Brasil, at a metade da dcada de 1970, no se apresentavam polmicas na

    profisso, os anos seguintes so ricos em demonstrar a diferenciao de pespectivas, as

    polmicas e os projetos poltico-profissionais e societrios que se confrontam com o

    projeto que vai se tornando hegemnico na profisso.

    A insero da formao profissional dos assistentes sociais no mbito acadmico,

    que ocorre com a incorporao crtica de referncias terico-metodolgicas das cincias

    sociais, deveria permitir um salto de qualidade nas elaboraes tericas da profisso

    colocando os seus intelectuais na condio de interlocutores crticos das cincias sociais.

    Com a incluso da temtica sobre movimentos e lutas sociais entre os temas objeto

    de preocupao da profisso, como resultado do processo de democratizao da

    sociedade brasileira e dos movimentos revolucionrios e de libertao nacional da

    Amrica Latina, passa-se a questionar o modelo burocrtico da assistncia tcnica ou

    superviso e a incorporar, gradativamente, a racionalidade subjacente ao controle social

    democrtico. Essa perspectiva, por responder s demandas e requisies da classe

    trabalhadora, a direo presente no projeto tico-poltico profissional. Porm, a

    2 Reconhece-se que at a dcada de 1990, a nica produo que rompeu com a influncia norte-americanafoi a de Tereza Sheriff, em 1973, com Supervisin en Trabajo Social, onde a superviso entendida como:

    um processo educativo e administrativo da aprendizagem mtua entre supervisor e supervisionado noqual ambos so sujeitos do processo, tratando de que sejam portadores de uma educao libertadora(SHERIFF, T. et alli. Supervisin en Trabajo Social. Buenos Aires: Ecro, 1973, p. 26).

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    questo que a se coloca : em que medida a superviso de polticas, programas e

    projetos sociais vem sendo concebida e conduzida na perspectiva da socializao de

    saber e democratizao de poder e fortalecimento do projeto tico-poltico profissional.

    A bibliografia consultada faz referncia a uma distino entre superviso e

    assessoria3, as quais, apesar dos aspectos singulares, possuem particularidades, dentre

    elas o fato de que no implicam em uma interveno direta na execuo das polticas

    sociais, planos e /ou projetos, posto que o profissional no executor, mas propositor de

    aes, de novas estratgias, mediante avaliao dos mesmos.

    No obstante as suas particularidades, segundo Vieira (1981, p. 108):

    o que distingue assessoria da superviso sua natureza temporria,

    eventual (o supervisado procura o assessor quando precisa) e ampla

    liberdade do assessorado em aceitar ou no, em seguir ou no as

    indicaes do assessor. Mais do que supervisor, assessor tem uma

    autoridade de idias, ou de competncia e no de mando.

    A superviso, por sua vez, constitui-se em uma atividade programada que se

    realiza segundo uma sistematizao programtica, muitas das vezes, por meio de

    controle, acompanhamento, avaliao e replanejamento. Pauta-se em decises em

    termos de diretrizes ou procedimentos operacionais previamente estabelecidos, normas

    e metas a serem cumpridas. A autoridade resultante da propria atividade e de

    natureza formal, institucional e hierrquica. Em muitos casos envolve o

    acompanhamento de recursos pblicos, visando a sua racionalizao e otimizao, everificao da observncia de regras e normas contratuais preestabelecida nos planos e

    projetos. Em alguns casos o supervisor contratado pela instituio demandante; em

    outros, vincula-se instituio financiadora. O que importa considerar que o

    supervisor possui vnculo de assalariamento e, portanto, no um profissional liberal.

    Aqui, as condies e relaes de trabalho que se estabelecem, somadas a natureza,

    caractersticas e limites prprios da superviso devem ser considerados, j que

    3 Uma abordagem interessante sobre o tema assessoria encontra-se em Matos, no artigo intituladoAssessoria e Consultoria, que compe o material didtico deste curso.

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    condicionam o processo: hierarquizao, controle, poder, saber especializado, deciso,

    autoridade, padronizao de procedimentos, unidade de orientao, sistematizao de

    aes, organizao e racionalizao de recursos, necessidade de provocar mudanas nos

    sujeitos, enfoque adaptativo e no relacionamento entre os sujeitos envolvidos,

    perspectiva de resultados e cumprimento de metas.

    Ora, exatamente nessas relaes e condies que essa atribuio profissional se

    faz necessria. A superviso de polticas sociais (pblicas ou privadas), programas e

    projeto, ao exigir que se estabelea claramente seus objetivos frente aos objetivos da

    instituio contratante, pressupe um conhecimento amplo, claro, largo e profundo

    (ainda que sempre provisrio) da relao Estado-sociedade civil, da Poltica Social e das

    polticas setoriais e de seus ns problemticos. Requer atualizao e conhecimento

    permanente e sempre aproximativo da poltica da instituio, do papel do Estado e dos

    sujeitos polticos coletivos e individuais envolvidos, seus interesses e a correlao das

    foras em presena4. Sugere formas de interveno, no que se refere ao processo de

    tomada de deciso e de implementao da mesma, bem como as possveis revises de

    rota no que se refere aos seguintes aspectos: amplitude das polticas, programas,

    projetos, servios sociais, seu significado social e funcionalidade, resultados e metas,

    enfim, todos os elementos que atribuem forma e contedo poltica, planos, programas,

    projetos e/ou servios objeto da superviso.

    A nosso juzo, a superviso, seja ela de projetos, programas e polticas sociais e de

    equipes/assistentes sociais e estagirios, atravessada pelas contradies da realidade

    social, na qual encontra-se inserida a instituio e os sujeitos sociais e polticos. Nela

    comparecem um conjunto de interesses e de demandas divergente e, muitas vezes,

    antagnico. Com base nessa premissa, entendemos que a superviso pode adotar uma

    perspectiva controlista ou emancipadora, ou seja, pode ser realizada na direo da

    democratizao das decises e da emancipao poltica dos sujeitos. Ela detm a

    capacidade de garantir a continuidade das diretrizes do programa, o alcance dos

    4 A ttulo de ilustrao podemos indicar alguns aspectos da poltica/programa/instituio social que

    podem ser observados: concepo, objetivos, estratgias de gesto e controle social, fontes definanciamento, alcance social, amplitude da populao atendida, demandas, valores, requisiesprofissionais.

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    objetivos; de avaliar e qualificar o padro de prestao dos servios; de contribuir com

    os profissionais para que direcionem seus esforos na apreenso crtica da realidade e

    realizao de pesquisas, favorecendo a compreenso da particularidade das expresses

    da questo social com a qual trabalham, em uma perspectiva de totalidade; de orientar

    profissionais na formulao, implementao e avaliao das polticas sociais e da

    participao de usurios nesse processo. Permite, ainda, a proposio de aes que

    garantam a universalidade dos direitos sociais, na perspectiva do controle social

    democrtico, preparem profissionais crticos e propositivos, contribuam na realizao

    de metas e de objetivos profissionais e assegurem e/ou melhorem a qualidade dos

    servios, contribuam na avaliao de impacto e no alcance dos objetivos da politica,

    programa ou instituio, na definio/ampliao dos critrios de elegibilidade, visando

    desencadear aes que sejam baseadas em princpios democrticos e de democratizao

    das decises, convergentes com o nosso projeto tico-politico profissional.

    O que est sendo dito que, se de um lado, a superviso possui uma natureza de

    controlar, inspecionar e vigiar, por ser essa natureza histrica e social, ela depende das

    condies objetivas e subjetivas nas quais se realiza, podendo ser orientada para a

    autonomia, democratizao das relaes de poder e emancipao poltica.

    Na perspectiva da autonomia, com base nos valores do projeto tico-poltico

    profissional, a superviso adota uma conotao formativa, da a necessidade de

    profundo conhecimento na rea, advindo da trajetria do profissional, da sua

    qualificao terico-metodolgica e de suas experincias, dos objetos, da populao, da

    instituio. Exige a adoo de uma postura investigativa propositiva de aes e

    estratgias direcionadas ao profissional ou equipe supervisionada. Nesse mbito, se

    evidencia a dimenso poltica da superviso e a autonomia relativa do profissional que a

    realiza, uma vez que ela pode ser conduzida como uma atribuio que estabelece a

    dependncia ou a autonomia dos sujeitos5. Assim, h que se reconhecer as foras sociais

    e polticas que explicitam diversos interesses que mobilizam a superviso.

    5 Cabe a notao de que, por no ser neutra, a superviso ser orientada pelo referencial terico-metodolgico e poltico que lhe d a direo.

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    Tambm, importante explicitar a dimenso tica inerente a todo processo de

    superviso porque ela sinaliza o horizonte onde se inscrevem as prticas sociais. nesse

    territrio que se colocam as tenses entre querer, poder e dever fazer. no processo de

    aprendizagem, frente aos dilemas e impasses do trabalho cotidiano, que a reflexo tica

    se coloca como componente essencial, conduzindo o fazer intencionalmente

    parametrado pelo projeto profissional coletivamente construdo pela categoria.

    3 Superviso de estgio e suas particularidades

    Outra modalidade de superviso, essa sim difundida e aprofundada nos debates

    tericos dos ltimos anos, tendo em vista a sua centralidade nas diretrizes da formao

    profissional dos assistentes sociais brasileiros, a superviso direta de estagirios,

    responsabilidade atribuda aos assistentes sociais pela Lei n. 8.662/1993, enquanto

    atribuio privativa dispe no seu artigo 5o, inciso VI, sobre o treinamento, avaliao e

    superviso direta de estagirios de Servio Social. Tal atribuio:

    ser feita conjuntamente por professor supervisor e por profissional do

    campo, com base em planos de estgio elaborados em conjunto pelas

    unidades de ensino e organizaes que oferecem estgio . (Cf.Resoluo

    CNE/CES n. 15/2002 que aprovou as Diretrizes Curriculares do Curso

    de Servio Social).

    Assim, a legislao profissional, ao vincular a superviso como sendo direta,

    estabeleceu o seu carter obrigatrio no exerccio da superviso6. H o reconhecimento

    explcito das entidades da categoria de que:

    a atividade de superviso direta do estgio em Servio Social constitui

    6 Como apresenta o Parecer Jurdico n. 12/1992, de 17 de maro de 1998, de autoria de Sylvia HelenaTerra, assessora do Conselho Federal de Servio Social, que trata da concepo, abrangncia e alcance daSuperviso Direta, em suas folha 3 diz que: O acompanhamento direto do aluno estagirio ser efetivado

    pelo Assistente Social dos quadros da instituio onde se realiza o estgio, cabendo a este delegar funesao estagirio como forma de treinamento e aprendizagem. Quando da delegao de funo ao estagirio,dever acompanhar minuciosamente a adequada aplicao dos mtodos e tcnicas do Servio Social,

    transmitindo seus conhecimentos sobre a prtica profissional. Alm disso, como afirma e sse mesmoparecer em sua folha 4: A concesso de estgio s poder ocorrer em situao que fique caracterizada a

    natureza didtica da atividade a ser realizada pelo aluno e sob a condio de Superviso Direta.

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    momento mpar no processo ensino-aprendizagem, pois se configura

    como elemento sntese na relao teoria-prtica, na articulao entre

    pesquisa e interveno profissional e que se consubstancia como

    exerccio terico-prtico, mediante a insero do aluno nos diferentesespaos ocupacionais das esferas pblicas e privadas, com vistas

    formao profissional, conhecimento da realidade institucional,

    problematizao terico-metodolgica (Resoluo CFESS n. 533, de 29

    de setembro de 2008).

    Para alm do aspecto normativo e jurdico-legal e da necessidade de seu

    conhecimento pelos sujeitos envolvidos, mas sem menosprezar a sua importncia, a

    relao entre superviso e estgio, como faces de um mesmo processo, e, ao mesmo

    tempo, com atribuies distintas, para se efetivar como processo de

    ensino/aprendizagem, estgio/superviso, necessita ser construda e reconstruda

    permanentemente. Aqui cabe a indicao de que, sendo a superviso um processo que

    parte integrante do projeto de formao profissional, seus pressupostos, princpios,

    orientao terico-metodolgica e direo social devem ser buscados nas Diretrizes da

    Formao Profissional dos assistentes sociais e em outros componentes do projeto

    tico-poltico profissional.

    Como processo ensino/aprendizagem, a superviso conjunta envolve dois sujeitos

    profissionais, quais sejam supervisor acadmico e supervisor de campo, prev a

    realizao de encontros sistemticos nos quais se constri, se acompanha e se avalia o

    plano de estgio, tendo por base os objetivos a serem alcanados, as metas, os

    instrumentos e estratgias didtico-pedaggicas7. Essa avaliao deve ser realizada

    continuamente, contemplando duas dimenses: a avaliao do processo de estgio e a

    avaliao do desempenho discente, assegurando a participao dos diversos segmentos

    envolvidos (supervisores acadmicos e de campo e estagirios)8.

    7 Estamos entendendo que quando planejada conjuntamente, a Superviso de estgio tende a contemplarde maneira mais clara possvel os objetivos do estgio, as diretrizes de ao do estagirio e dossupervisores.8 De acordo com o texto da proposta da Poltica Nacional de Estgio, elaborada pela ABEPSS, gesto 2009-2010. Alm da PNE-ABEPSS, a Resoluo CFESS n. 533/2008, em seu artigo 4o, item II, indica que caber

    aos supervisores acadmico e de campo e ao estagirio, no incio de cada semestre ou ano letivo, aconstruo do plano de estgio onde estejam claramente definidos os papis, funes, atribuies edinmica processual da superviso.

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    Cabe observar que, parametrizada por uma concepo de estgio vinculado

    superviso, h o reconhecimento da natureza que diferencia a atividade do professor e

    do assistente social na condio de supervisor, bem como das atividades de superviso

    como prtica docente e como atribuio privativa do assistente social. Ao ser concebida

    como atividade indissocivel do estgio, articulada ao projeto profissional, a superviso

    configurada como lugar que permite uma reflexo sistemtica que busca apreender os

    processos sociais para alm da sua aparncia imediata. Os encontros peridicos

    constituem condio indispensvel sua realizao, na perspectiva de construir e

    manter espaos de problematizao, reflexo e sntese permanentes.

    Assim, a bibliografia que trata do tema considera a superviso de estgio como

    atividade sistemtica que tem de ser organizada por meio de processos interativos para

    a aproximao e a relao entre os sujeitos envolvidos. Grande parte dessa produo

    recai no enfoque da relao entre os sujeitos profissionais. Nesse espao, priorizaremos

    as condies e relaes de trabalho nas quais ela se realiza, abordando as distintas

    lgicas presentes na superviso.

    3.1 Problematizao acerca das lgicas que polarizam a superviso

    A crise do capital e suas mais recentes estratgias de reproduo em escala

    ampliada vm alterando substancialmente as condies e relaes de trabalho

    profissional, o cotidiano profissional, o padro e a condio das polticas sociais, o

    processo de formao profissional, os estgios supervisionados e os processos de

    superviso. A isso se soma a lgica da expanso universitria, a precarizao da

    formao profissional estimulada pela proliferao de cursos de graduao de pouca

    qualidade e a distncia, as dificuldades enfrentadas pelos cursos presenciais (com suas

    particularidades nos mbitos pblico e privado), a lgica mercadolgica, instrumental,

    gerencial e produtivista que sustenta o atual padro de acumulao do capital e

    atravessa as instituies campos de estgio/mercado de trabalho profissional, que

    enfraquece a dimenso pedaggica da superviso e acirra sua dimenso controlista,

    gerencial, administrativa, burocrtica.

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    Outra determinao que faz parte dessa problematizao diz respeito lgica que

    atravessa todo o processo da superviso, j que a lgica do mercado, utilitarista e

    instrumental, acaba subsumindo tambm esse espao, historicamente considerado pela

    profisso como privilegiado no que se refere formao terica-prtica e tico-poltica.

    Assim, constatam-se prticas que para atender s necessidades de abertura de

    campo de estgio ou para viabilizar o estgio ao estudante trabalhador, facultam-lhe a

    realizao do estgio: a) no seu local de trabalho, sem a clara definio de que se trata de

    objetivos, tempos e situaes diferentes; b) em fins de semana; c) em perodos de tempo

    curtos ou concentrado num nico dia da semana ou no ms de suas frias trabalhistas,

    impedindo a vivncia do processo e contrapondo-se aos requisitos obrigatrios

    indicados nas diretrizes curriculares, entre outras aes. Tambm se observa a

    substituio da prtica de estgio supervisionado pela de participao em pesquisa ou,

    ainda, por atividades de extenso, sem que essas possam dar conta das particularidades

    da experincia que o estgio deve proporcionar formao de assistentes sociais.

    H que se problematizar as condies de realizao da superviso, de insero do

    estagirio e os interesses por essa contratao, a partir da reflexo de quem a demanda:

    certamente no o departamento de Servio Social diretamente, mas sim os dirigentes

    e, portanto, a contratao se d a partir da lgica mercadolgica e utilitarista, centrada

    na, j citada, relao custo-benefcio. O estagirio contratado para atender s

    demandas institucionais, por um custo muito menor que um profissional. Este acaba

    sendo utilizado como mo-de-obra barata, sem vnculos/direitos trabalhistas, em

    condies ainda mais precrias que os profissionais, para, em muitos casos, responder

    s mesmas demandas e exigncias profissionais9. A observao emprica da realidade

    nos permite afirmar que tem havido uma substituio da contratao de profissionais

    por estagirios e a rea das cincias humanas e sociais ainda mais afeita a isso 10.

    9 Muitos dos equvocos que envolvem a imagem da profisso pela sociedade brasileira tm a sua gnese narelao que a mesma estabelece com leigos (ou ainda estudantes) que se autointitulam assistentes sociais.10 Para conter a contratao desmedida de estagirios e garantir qualidade e condies de realizao daSuperviso que em consonncia com a Lei federal n. 11.788/2008, foi aprovada a Resoluo CFESS n.533/2008, que em seu artigo 3o, pargrafo nico, dispe: A definio do nmero de estagirios a serem

    supervisionados deve levar em conta a carga horria do supervisor de campo as peculiaridades do campode estgio e a complexidade das atividades profissionais sendo, que o limite mximo no deve exceder 1(um) estagirio para cada 10 (dez) horas semanais de trabalho.

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    Tal lgica institucional no incorpora a lgica pedaggica da formao profissional.

    Mais ainda, ela o seu avesso, pois a instituio no prioriza nem a demanda dos

    usurios, nem a demanda de aprendizagem do estagirio. Disso decorre um conjunto de

    problemas que se coloca na contramo do nosso projeto de formao profissional. Os

    espaos profissionais que se convertem em campos de estgio so constituintes de

    condies objetivas e subjetivas que se autodeterminam e se autoimplicam. As primeiras

    se colocam de maneira cada vez mais precria para os assistentes sociais: contratos

    temporrios ou parciais, por tempo determinado ou por programas, reduo da jornada

    de trabalho e de salrio, o duplo vnculo e os baixos salrios, o trabalho em regime de

    planto, entre outras condies que no podem ser analisadas aqui. Certamente a essas

    condies os estagirios tero de se sujeitar. Da a relao entre mercado de trabalho

    profissional e campos de estgio (como campo de aprendizagem)11. Outra realidade o

    chamado estgio no obrigatrio de natureza extracurricular. O debate dessa

    modalidade de estgio recente para as Unidades de Formao Acadmicas e para

    categoria profissional como um todo, uma vez que a Lei Federal n. 11.788, bem como a

    Resoluo CFESS n. 533, que ratifica essa discusso, foram sancionadas em setembro de

    2008. Nessas legislaes fica explicitado que o estgio no obrigatrio dever ocorrer

    nas mesmas condies que o obrigatrio, isto , os projetos pedaggicos dos cursos

    devero indicar claramente o sentido e o lugar que ele ocupa na formao universitria.

    Assim, na realizao do estgio no obrigatrio na formao profissional dos assistentes

    sociais se exige, como requisito legal e acadmico, os mesmos critrios e instrumentais

    que o estgio obrigatrio, bem como a exigncia de superviso acadmica e de campo.

    Os impasses e dificuldades para sua efetivao so desafios a serem enfrentados pelas

    entidades da categoria em conjunto com as UFAS.

    Quanto aos fatores subjetivos da relao estgio e superviso, o prprio

    profissional, a despeito de a dimenso formativa ser intrnseca prpria profisso, de a

    superviso ser uma atribuio privativa e no obstante a se tornar mais uma

    11 H que se enfatizar que, como uma das estratgias de enfrentamento precarizao das condies detrabalho e de estgio supervisionado, a Resoluo CFESS n. 533/2008, artigo 2 o, pargrafo nico, indica:Para sua realizao, a instituio campo de estgio deve assegurar os seguintes requisitos bsicos: espaofsico adequado, sigilo profissional, equipamentos necessrios, disponibilidade do supervisor de campo

    para acompanhamento presencial da atividade de aprendizagem, dentre outros requisitos da ResoluoCFESS n. 493/2006 que dispe sobre as condies ticas e tcnicas do exerccio profissional do

    Assistente Social.

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    competncia do assistente social frente instituio exigindo dedicao e qualificao

    diferenciada, a prpria formao profissional nem sempre capacita para essa atribuio.

    Tambm nem sempre se verifica o acompanhamento e/ou a capacitao sistemtica do

    corpo de supervisores e, por isso, sem perceber acabam reforando a lgica

    mercadolgica que envolve essa relao entre estagirio e instituio.

    Outra questo que pauta o binmio estgio e superviso a concepo que dele se

    tem os docentes, discentes e assistentes sociais, nas instituies de ensino superior e nas

    instituies que se convertem em mercado de trabalho profissional. Nesse mbito,

    muitas vezes prevalece uma concepo instrumental de estgio, onde este entendido

    como a realizao de aes, de operacionalizao, espao para aquisio de

    comportamentos e de treinamento de habilidades (manipulao, adestramento). Essa

    concepo instrumental de estgio, bem como de exerccio profissional, tem levado

    tanto professores da disciplina quanto supervisores a referenciar o estgio como

    prestao de servios e no como um momento privilegiado na formao profissional.

    Com isso, as prticas de estgio acabam sendo reduzidas a: 1) execuo de tarefas

    conferidas institucionalmente ao aluno, prestao de servios, execuo de atividades

    meio para solucionar problemas institucionais; 2) locus de articulao, ou pior, de

    aplicao da teoria na prtica; 3) espao de repetio das aes realizadas pelos

    assistentes sociais; 4) aes voltadas para secretariar o assistente social.

    Tais requisies tambm encerram uma contradio j que no tem havido

    resistncia a essa lgica por parte dos estudantes. Ao contrrio, a procura por estgio

    curricular ou extracurricular nestas condies (considerando que estes possibilitam

    uma remunerao) tem sido uma iniciativa recorrente dos prprios estudantes, que os

    disputam acirradamente, tendo em vista o desemprego e o processo de pauperizao

    que os mesmos vm sofrendo na condio de classe trabalhadora.

    Essa lgica ainda adquire peculiaridades em termos das instituies envolvidas a

    depender se a unidade de ensino pblica ou privada, bem como da instituio campo

    de estgio e da superviso ali realizada (suas finalidades, metas e objetivos). Aquela

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    lgica mercadolgica se agrava quando se trata das escolas particulares. Nestas, o

    estgio aparece com uma das disciplinas mais caras do curso, uma vez que, em geral, a

    demanda por campos de estgio sempre menor do que oferta, no h carga horria (ou

    h pouca) para acompanhamento do estagirio no campo, em alguns casos os prprios

    alunos tm de se responsabilizar por encontrar um estgio.

    Outra questo que envolve o estgio/superviso que nele no tm sido

    observadas diretrizes acadmicas e polticas e instrumentos normativos da categoria,

    to pouco se realizam por meio da necessria articulao entre universidade e campo de

    estgio. A ausncia de relao mais intrnseca entre os campos de estgios e unidades de

    ensino encontra-se expressa nos problemas: desconhecimento das diretrizes por parte

    dos assistentes sociais supervisores12, ausncia de capacitao e prevalncia da viso de

    superviso como uma prtica volitiva, ou seja, de que sua realizao est vinculada

    (boa) vontade do assistente social.

    H que se ressaltar que essa relao entre estgio e superviso deve ser

    direcionada ao perfil profissional proposto pelo projeto de formao profissional. Assim,

    pode-se conceber o estgio como o espao privilegiado para que o aluno amplie as

    possibilidades de anlise, compreenda as dimenses constitutivas das questes

    especficas que se pe ao campo, supere o nvel de uma racionalidade imediata que

    prpria da vida cotidiana (uma vez que a se coloca ao estudante processos concretos,

    sntese de mltiplas determinaes), adquira valores e vivncias dos mesmos, participe

    da construo de contra-hegemonias. no enfrentamento do cotidiano no estgio que o

    estudante observa e vivencia as expresses da chamada questo social, podendo

    identificar e problematizar a alienao e os preconceitos forjados na socializao dessa

    sociedade classista, racista, patriarcal e homofbica. Assim, o espao da superviso de

    estgio favorece a compreenso de que nos limites de nossa sociedade e nos limites

    mais estreitos do trabalho profissional, h o que fazer, especialmente para no perder o

    rumo tico e a medida do poltico. (BARROCO, 2008, p. 231).

    12 Uma pesquisa realizada pelo CFESS sobre o mercado de trabalho profissional mostra que quase 50%dos assistentes sociais entrevistados no conheciam as novas Diretrizes Curriculares da atual formaoprofissional dos assistentes sociais, aprovadas pela categoria em 1996 (Cf. site do CFESS).

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    H que se desenvolver as potencialidades da superviso como espao de reflexo

    sobre a conjuntura, sobre o contexto socioinstitucional e de aprendizado das dimenses

    terico-metodolgica, tcnico-operativo e tico-poltica. O conhecimento sobre as

    expresses da chamada questo social que atravessam o campo de estgio permite

    iluminar a descoberta de estratgias e tticas de interveno profissional.

    Assim espera-se que o estgio/superviso ou o estgio supervisionado

    proporcione uma reflexo e releitura essencialmente crtica das aes profissionais nas

    suas mltiplas dimenses e articulaes, que capacite estudantes para: investigar,

    analisar criticamente, desenvolver sua capacidade argumentativa e a utilizar, construir e

    renovar o instrumental tcnico profissional13. Problematizar o contexto

    socioinstitucional e o significado scio-histrico do trabalho profissional, vislumbrar as

    formas de articular nossa prtica a outras prticas profissionais, tecendo relaes

    interdisciplinares, por meio das quais podem se estabelecer nexos polticos, reconhecer

    e refletir criticamente sobre sua viso de homem e mundo, seus preconceitos e

    esteretipos, desenvolver valores e adquirir competncia.

    A partir das responsabilidades assumidas e das aes desencadeadas nos

    processos de Superviso pelos sujeitos partcipes diretos (supervisor, supervisionado,

    unidades de ensino, entidades da categoria), espera-se que possam ser capazes de

    materializar o projeto profissional, enquanto uma mediao que venha a contribuir para

    a construo de uma outra sociabilidade que assegure a emancipao humana. Como diz

    Lukcs: O homem criador responsvel por seu prprio destino determina o destino da

    Humanidade (2007, p. 72).

    13 No mbito da instrumentalizao do estudante vemos no estgio o local adequado para: 1) oequacionamento sobre o papel e do lugar do instrumental tcnico tradicional; 2) a apropriao doinstrumental tcnico e construo de novos; 3) a criao/recriao de estratgias sociopolticas e

    profissionais para a ao. Observa-se o potencial da discusso da instrumentalidade como condio depossibilidade de um aprendizado profissional que incorpore a totalidade das dimenses da profisso.

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    4 Algumas consideraes finais

    Considerando que a Superviso faz parte constituinte das atribuies

    socioprofissionais desde a sua primeira legislao at a lei que a regulamenta na

    atualidade, isso deve ser objeto de pesquisas sistemticas, produo terico-

    bibliogrfica e construo cotidiana por parte da categoria e das instituies que a

    materializam, como as Unidades de Formao Acadmicas, Unidades Contratantes e

    Unidades de Intermediao como o Centro de Integrao Empresa e Escola (CIEE),

    Ncleo Brasileiro de Estgios (NUBE), entre outros, ressaltando o protagonismo das

    assistentes sociais que a desenvolvem.

    A crise capitalista, os ajustes neoliberais, a reao conservadora que domina as

    sociedades contemporneas nesta fase do capitalismo impem categoria profissional

    sujeito particular e coletivo a luta contra a restaurao das concepes e prticas

    controlistas, burocrticas e de inspencionamento que marcam a profisso desde a sua

    gnese.

    Frente a esses desafios, a superviso de qualidade prescinde da luta contra a

    precarizao do trabalho e da formao profissional. Esta, por sua vez, tendo em vista

    suas particularidades, requer a luta contra a mercantilizao e o aligeiramento a que se

    encontra submetido o ensino superior, bem como uma apropriao da lgica das

    diretrizes curriculares e de outros instrumentos normativos e legais da categoria.

    Considerando a complexidade dos Campos de Estgio, a intersetorialidade das

    polticas sociais e a formao generalista, h que se promover e inserir as experincias

    de estgios dos alunos em todos os espaos e dimenses da academia, tais como: nas

    disciplinas curriculares, pesquisas e extenso, ncleos temticos, e no somente no

    espao da Superviso Acadmica.

    Considerando que a Superviso uma atividade intrnseca e primordial da

    formao profissional, as Unidades de Ensino devem favorecer condies para que

    docentes possam exercit-la por meio de: atribuio de carga horria para este fim,

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    grupos pequenos de estudantes, supervisor acadmico capacitado, espaos e recursos

    didticos necessrios, apoio administrativo e arquivos para a documentao legalmente

    exigida. Tambm deve propiciar condies para que o estudante vivencie e valorize essa

    atividade inerente formao, alm de favorecer um intercmbio verdadeiro com

    supervisores de campo, propiciando cursos de extenso, atualizao e capacitao,

    superviso tcnica quando solicitada, assessorias, reunies peridicas, pois estes so

    parceiros indispensveis formao dos estudantes daquela respectiva Unidade de

    Formao Acadmica.

    A peculiaridade da contribuio do estgio na formao acadmica requer

    compreender e efetivamente reconhecer como sujeitos os segmentos que o compem.A

    experincia da constituio de Fruns de Supervisores expressa uma participao

    propositiva para contribuir com a organizao da categoria para com o projeto de

    formao profissional, para troca de saberes e para a qualificao do exerccio da

    Superviso.

    As Unidades de Formao Acadmicas devem ter uma relao articulada com o

    CRESS de cada regio, especialmente com a Comisso de Fiscalizao e os agentes

    fiscais, visando construo coletiva de enfrentamentos dos desafios presentes na

    implementao com qualidade dos estgios supervisionados e no desempenho da

    Superviso Direta de Estgio, como atribuio privativa. Tambm, os sujeitos envolvidos

    devem participar efetivamente das discusses promovidas pelos rgos representativos

    da categoria profissional.

    A esse respeito, importante reconhecer, como afirma Boschetti, que a

    organizao das entidades nacionais de Servio Social no Brasil (CFESS/CRESS, ABEPSS

    e ENESSO) articula uma mediao fundamental para o estabelecimento de uma relao

    entre o projeto profissional e um projeto societrio comprometido com uma nova

    sociabilidade (2009, p. 42) que tem como meio a socializao da poltica e o

    fortalecimento de aes democrticas; exige o posicionamento contrrio a toda forma de

    explorao, dominao e violncia, a defesa de uma poltica econmica que garanta

    crescimento e redistribuio de riqueza, pelo direito ao trabalho e ampliao de salrios,

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    a defesa da educao laica, pblica e de uma formao em Servio Social com qualidade

    e na vigilncia e fiscalizao da materializao das legislaes construdas coletiva e

    democraticamente pela categoria profissional.

    Como tentamos demonstrar, como parte de um dos processos mais avassaladores

    do contexto neoliberal, a precarizao do ensino superior no Brasil faz com que a

    superviso em todas as suas modalidades necessite do empenho vigoroso, radical e

    objetivo dos sujeitos para que efetivamente se converta em espao de formao

    profissional e de possibilidade efetiva de capacitao permanente.

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    Referncias

    ABESS/CDEPSS. Diretrizes Gerais para o Curso de Servio Social. Formao Profissional:trajetrias e desafios. Caderno ABESS, So Paulo, n. 7, Cortez, 1997.

    ALMEIDA, Maria de Ftima L. de. Uma sistematizao de superviso de Programas anvel institucional. 1976. Dissertao (Programa de Ps-Graduao em Servio Social)Pontifcia Universidade Catlica, So Paulo, 1976. (Original indito).

    BARROCO, Maria Lcia S. tica: fundamentos scio-histricos. So Paulo: Cortez, 2008.4. v. (Biblioteca Bsica de Servio Social).

    BOSCHETTI, Ivanete. Trabalho, Direitos e Projeto Poltico Profissional. Revista Inscrita,Braslia, n. 11, CFESS, 2009.

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