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______________________________________________0______________________________________________ 5 Contos Ilustrados Lumiee-Versos

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5 Contos Ilustrados Lumiee-Versos

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Todos os direitos desta obra reservados ao Clube de Escritores Lumiee-Versos e aos

seus respectivos autores e ilustradores. Os direitos de uso dos textos e das imagens

foram cedidos ao clube de escritores Lumiee-Versos para esta publicação e divulgações

desta publicação.

SABÁDO, Diego (org). 5 Contos Ilustrados: Lumiee-Versos. Belém: PerSe, 2017.

Montagem da Capa: Diego Sabádo (colagem a partir das ilustrações feitas para o livro)

ISBN: 978-85-464-0428-5

Lumiee-Versos: Clube de Escritores

Limoeiro Edições

Editora PerSe

Belém – PA

2017

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AUTORES

pamelaBEAR

wilsonMAX

robertoLOPES

adsoSABÁDO

diegoSABÁDO

ILUSTRADORES

laísBRITO

renanROQUE

apoloNEVES

santanadeCARVALHO

andersonFINHO

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CONTO

Onírica ______________________________________________07

A Parábola do Burro Campeão _____________________________45

A Reação _____________________________________________58

A Estátua _____________________________________________77

Uma Guerra ___________________________________________94

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ONÍRICA

pamelaBEAR

ILUSTRAÇÔES

laísBRITO

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Ela andava em passos lentos, como gueixa ao longe, levada em flutuações

de seus pensamentos, dentro de si uma angústia, fervente náusea a borbulhar no

estômago. Um seio se mostrava sob a camisola augusta, e ela caminhava pelo quarto.

Havia fumaça entrando por baixo da porta, havia fumaça também saindo de baixo da

cama, e era uma fumaça fria, mas como a neblina que cobre as manhãs. Sentia um gélido

ar de desespero em todo quarto.

No canto havia uma mesa, madeira grossa, de lei, marrom, bem escura,

sobre ela cadernos com todos seus sonhos trancados, e com os cotovelos pousados

relaxadamente, um poeta vestindo um sobretudo e um chapéu cobrindo os olhos,

respirava em seu pesado ar boêmio. Estava encostado em uma cadeira e fumava um

cigarro azul, e soprava no ar círculos multicores, pendurado no encosto da cadeira

podia-se ver um casaco de couro avermelhado. O poeta olhava fixamente para a menina

em seu caminhar, e não conseguia esconder os espasmos de prazer que lhe invadiam.

Quebrou o silêncio enfim, com sua voz rouca e pesada, quase cantando

liberou no ar estas palavras:

Nos passos de uma jovem ninfa, sirena, helena, Lolita

Há raios e maios de atrás

Em máscaras vãs de espuma

Leve sopro de bruma

Réstia fria que invade

Mastro ereto e covarde

Tremulando em teu sonho

Uma bandeira saudade

Nesta penumbra sem cor

Anjos quebrados em asas de flor

Sob que nova luz?

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Sob que novo lar?

Asco ou limbo

Elísio ou purgatório alado?

Sob que outra máscara

Há de vir em retorno

O que guardei recalcado?

Sob que outra máscara o trarei?

Sob que oura máscara ele se fará lembrado?

Enquanto ele falava a fumaça ia se dissipando, como se o sol nascesse o

quarto ia clareando, e a jovem que caminhava agora estava parada, com os olhos fixos

no poeta fumando o azul e baforando o arco-íris. Aquela cena deixava a jovem como

em transe, apaixonada por aquilo, levada dali para qualquer outro lugar.

-Que lindo.

Disse ela, com uma voz engasgada do tanto que estivera no claustro da

boca. Pois fazia dias que Bianca não falava com ninguém.

-Eu sei.

Disse o poeta com sua voz rouca, respirando fundo e ajeitando o chapéu

sobre os olhos. Bianca curiosa torcia o pescoço, mas não conseguia reconhecer aquele

sujeito tão familiar, ainda que desconhecido.

-Quem é você?

Perguntou-lhe curiosa.

-Quem... É... Você. Esta é a sua pergunta?

O homem levantou-se num pulo, Bianca ficou imóvel, atônita e

enfeitiçada, sentiu o toque em seus cabelos daquelas mãos grandes, porém leves,

delicadas, quase mãos femininas. O poeta aproximou os lábios de seu ouvido, e num

sussurro falou:

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-Esperava uma pergunta mais relevante.

Afastou-se e sentou novamente em sua cadeira, pegou uma pena antiga,

dessas que não se usa mais hoje em dia, do cigarro pousado no cinzeiro ainda subia uma

fumaça colorida, melou nela a pena e começou a escrever num papel em branco. Bianca

ficou ali, estátua espantada e eriçada pela voz que lhe tocara os ouvidos e a alma. Abriu

a boca para dizer algo, mais quedou-se assim, boca entreaberta mostrando uma língua

rosada por trás de lábios finos de desejo. O poeta parou de escrever, virou-se outra vez

para ela e tornou a falar, o que acabou por quebrar o encantamento daquele momento.

-Quem é você foi sua pergunta. Muito bem... Esta é “A fábrica do poema”

É a busca de uma...

-Perguntei quem é você...

Interrompe-o Bianca, e sentiu como se de um instante a outro tudo dentro

de si virasse do avesso, os pelos eriçados em todo corpo transformaram-se com o

enrijecer dos músculos, de um apaixonamento mágico pela figura estranha e familiar

com quem conversava passou para uma agressividade sem nexo. Sentiu-se ameaçada por

aquela criatura que não lhe mostrava os olhos.

-Não gostas dos meus poemas?

-Adoro teus poemas, mas...

-Então é onde estamos meu amor. Numa fábrica onde todos os poemas

são feitos.

-Eu sei...

-Sabe?

-Não. Quero dizer...

-Quer se decidir?

-O que quero é saber o que você tá fazendo aqui... Como você entrou aqui?

-Mas você tem certeza de que é só isso que você quer saber...

Ao dizer isto o poeta volta a escrever com a pena na folha branca sobre a

mesa, e volta a cantarolar seu poema.

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- Nos passos de uma jovem ninfa, sirena, helena, Lolita...

Bianca volta a aprisionar-se naquele canto, então se aproxima, aquela mão

grande, porém leve, delicada, quase feminina, aquele pescoço, o queixo pontiagudo,

aqueles lábios finos, os dentes brancos levemente montados uns sobre os outros, o

nariz. Aperta os olhos como se buscasse na memória uma sabedoria esquecida.

-Ei você é...

Mas antes que pudesse concluir sua frase um susto. Da cama atrás dela

levanta-se uma jovem, nos seus doze anos, linda, um rosto de boneca, com o corpo de

mulher começando sua formação escondido atrás de uma camisola de coelhinhos,

empurra os travesseiros como se estivesse sufocada embaixo deles, e grita alto, muito

alto. O poeta parece não notar nada, continua em seu recitar sereno e calmo, espalhando

ainda sua voz rouca pelo quarto. Mas Bianca assustada olha sem saber o que fazer, sem

entender o que era aquilo. Prenhe de confusão

-Mas...

E a menina continua gritando sem parar, num escândalo sem fim, como se

fugisse de algum terror.

-O que está acontecendo?

A menina se cala, tem a respiração ofegante, e um ar de quem sobreviveu a

morte ma vez mais. Abre a gaveta ao lado da cama, pega um remédio num potinho e

bebe com a água que se encontra num copo sobre a mesma mesinha, depois se encolhe

frágil sob o cobertor e começa a chorar baixinho, como um animal ferido, um animal

pequeno e muito ferido.

-Faça alguma coisa.

Bianca fala ao poeta, que parece ainda alheio a tudo aquilo, como se nem

estivesse ali.

-Mas de tudo fica um pouco, de cada lembrança, de cada momento, de

tudo. De uma semente resta apenas, e nada além, do que uma bela árvore...

-Cala essa boca.