5 aulas sobre nietzsche

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  • 7/25/2019 5 Aulas Sobre Nietzsche

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    5 AULAS SOBRE NIETZSCHE

    Estas 5 aulas foram ministradas pelo Prof. Dr. Oswaldo Giacia Jnior no Ncleo

    Philemon, dirigido pela Profa. Dra. mn!ris "aroni, e compiladas por Dornelis #enato.

    http$%%www.ru&edo.psc.&r%artigos&%cursnite.htm

    1 AULA

    Aforismo 354 da Gaia CinciaRetomada da Aula AnteriorO Conceito de Vontade em SchopenhauerPargrafo ! de Al"m do #em e do $al%ragmentos P&stumos 'Pargrafo 4('!))

    2 AULA

    %ragmentos P&stumos 'Pargrafo 4('!)) 'Cont*)%ragmento P&stumo de +unho,+ulho de --5. 3-')Aforismo / de Al"m do #em e do $al

    3 AULA

    0ntrodu12oAforismo de Al"m do #em e do $al%ragmento 4('!() de agosto,setemro de --5%ragmentos P&stumos 4('!3)%ragmentos P&stumos 4('!4)%ragmentos P&stumos 4('!5)

    4 AULA

    0ntrodu12oAforismo de Al"m do #em e do $al6m Sofrimento *** $etaf7sicoA Vontade como 8ssncia do $undoO $undo como Representa12o da VontadeO+eti9a12o da Vontade $etaf7sicaCompai:2o em SchopenhauerSchopenhauer. Rousseau e SartreA 6nidade dos Opostos em ;ietue a arte 9ai transformar essa trag"dia?ransformar os seus @emnios?udo B Perspecti9a;o9amente os Rom=nticosCircumamulatio

    5 AULA

    0ntrodu12oAforismo de Al"m do #em e do $alAforismo !( de Al"m do #em e do $al

    http://www.rubedo.psc.br/artigosb/cursnite.htmhttp://www.rubedo.psc.br/artigosb/curniti1.htmhttp://www.rubedo.psc.br/artigosb/curniti2.htmhttp://www.rubedo.psc.br/artigosb/curniti3.htmhttp://www.rubedo.psc.br/artigosb/curniti4.htmhttp://www.rubedo.psc.br/artigosb/curniti5.htmhttp://www.rubedo.psc.br/artigosb/cursnite.htmhttp://www.rubedo.psc.br/artigosb/curniti1.htmhttp://www.rubedo.psc.br/artigosb/curniti2.htmhttp://www.rubedo.psc.br/artigosb/curniti3.htmhttp://www.rubedo.psc.br/artigosb/curniti4.htmhttp://www.rubedo.psc.br/artigosb/curniti5.htm
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    1 aula

    Oswaldo Giacia Jnior

    IFCH/UNICAMP

    Aforismo 354 da Gaia CinciaemroDme de ter dito a 9ocs. na semana passada. >ue passassem os olhos pelo aforismo354. da Gaia Cincia. n2o sei se 9ocs ti9eram ocasi2o de faue ti9essem a pacincia de prestar aten12o naminha leitura* #om. + fa< muito tempo. mas eu me lemro >ue eu tinha dito a 9ocs. >uandon&s nos encontramos. acho >ue foi no segundo encontro. >ue este prolema da unidade dosu+eito em ;ietuele >ue. ao mesmo tempo. consistiria num intr&ito do nosso curso. >ue " a>uele te:to soreOs @espreui* 8sse aforismo >ue n&s 9amos ler.n2o " o nico a respeito dessa >uest2o. e:istem 9rios outrosH eu 9ou tomar este a>ui comoponto de partida. por>ue ele condensa. segundo minha opini2o. muitos dos aspectos maisessenciais da discuss2o >ue ;ietue n&s 9amos 9er ho+e " a>uest2o da unidade su+eti9a em ;ietueles para cu+a prepara12o pedi>ue 9ocs lessem os aforismos de Al"m do #em e do $al. n&s 9amos 9er ainda um outroaspecto. aspecto esse >ue di< respeito a uma rela12o mais estreita com a>uilo >ue n&s 9imosnas anlises de @escartes e de Eant* Portanto. o >ue 9amos traalhar agora. " uma esp"cie depe>ueno refrig"rio. um tema menos rido. mas n2o menos essencial. na minha opini2o. emrela12o a essa >uest2o >ue estamos e:aminando*

    8sse aforismo 354. fa< parte do >uinto li9ro da Gaia Cincia* 8sse li9ro foi acrescentado por;ietue nos coloca a fisiologia e a

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    perfeitamente em passar sem isso* 8nt2o. a fisiologia e a ui. na 9erdade.simplesmente compro9am a>uilo >ue eini< + tinha dito* Ou se+a. >ue a conscincia n2o " oessencial do su+eito. da su+eti9idadeH mas a conscincia ". na 9erdade. uma 7nfima por12o dasu+eti9idade* Voc pode ter 9ida. tanto animal >uanto humana. sem >ue necessariamente ofenmeno da conscinciaDdeDsi tenha >ue se apresentar*

    Poder7amos. com efeito. pensar. sentir. >uerer. recordarDnos. poder7amos igualmente NagirN emtodo sentido da pala9raK e. a despeito disso. n2o seria preciso >ue tudo isso nos Nentrasse naconscinciaN 'como se di< em imagem)*

    ComentrioK Recordar. a>ui. fica dif7cil de aceitar isso*ProfessorK Por >ueLComentrioK ;2o sei* Recordar. sem conscinciaLProfessorK Sim*ComentrioK ;2o sei. fica***ProfessorK ogo para frente ;ietue a gente procurou 9erificar* Por >ueLPor>ue para @escartes. n2o sei se 9ocs lemram. >ue o sentir. o >uerer. o imaginar e o

    recordar eram formas do pensar. e o pensar era o ato por e:celncia da conscincia* Se 9ocs9oltam a>ui a Eant e 9em >ue a conscincia pensada como uma apercep12o transcendental.esse euDpenso >ue " precisamente o 9e7culo. uma unidade originria tem >ue sernecessariamente postulada como condi12o de todas as representa1Ies* Vocs 9em aimport=ncia da conscincia como origem ou unidade originria. >ue sintetiue unifica.>ue d unidade ao eu en>uanto o eu do pensamento. en>uanto su+eito do pensamento.inclusi9e. a mem&ria* Ou se+a. o >ue ;ietui. muito concretamente. " namem&ria como recolhimento e processamento de informa12o*PerguntaK Ou seria a mem&ria como instintoLProfessorK Por e:emplo. o >ue significa simplesmente informa12o receida. incorporada eprocessada***PerguntaK A7 sim. eu acho >ue a mem&ria como instinto. 9amos diue tem umritual. da7 d para entender***ProfessorK Claro* @a7 a referncia uin2o " s& Eant. @escartes. mas " Plat2o* Por>ue a recorda12o. como 9oc lemra muito em. o>ue era para Plat2oL 8ra a saedoria por e:celncia. era filosofia* ;ingu"m. no fundo. aprendecoisa nenhuma. 9oc s& se recorda* $as essa recorda12o***ComentrioK $as o te:to " muito irnico*ProfessorK $as esse te:to " irnico o tempo todo* 0nclusi9e. o Gnio da 8sp"cie. eu repito. "uma maldade terr79el. por>ue esta recorda12o " um ganhar conscincia de coisas >ue 9ocinconscientemente tinha 9i9ido. >ue a alma + tinha 9i9ido antes da encarna12o. etc*H en>uantohaitante do mundo das puras formas de Plat2o ou haitante do mundo das id"ias*

    A 9ida inteira seria poss79el sem >ue. por assim diue se passa na nossa 9ida mental. na nossa9ida an7mica* 8nt2o. segundo ele. toda a 9ida. tanto mental >uanto sens79el. como 9oliti9a. etc*.seria perfeitamente poss79el sem >ue ela ti9esse >ue refletir no espelho da conscincia*

    Ora. pareceDme. se se >uer dar ou9idos F minha resposta a essa pergunta e F sua suposi12otal9e< e:tra9agante. >ue o refinamento e for1a da conscincia est2o sempre em propor12o coma aptid2o de comunica12o de um ser humano ou animal***

    (

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    8nt2o. o primeiro elemento. isto ". o refinamento da conscincia e a for1a da conscincia "uma fun12o ou est em rela12o ou em propor12o com a capacidade ou aptid2o dacomunica12o. de um animal ou de um ser humano*

    ***e a aptid2o de comunica12o. por sua 9eue " precisamente mestre em

    comunicar e tornar intelig79eis suas necessidades. fosse tam"m. ao mesmo tempo. a>uelecu+as necessidades mais o encaminhassem aos outros*

    Ou se+a. a e>ua12o >ue ;ietui " entre a capacidade ou entre o refinamento daconscincia e a capacidade de comunica12o. por um lado* Por outro. entre a capacidade decomunica12o e a necessidade de comunica12oH mas essa necessidade de comunica12o n2opensado do ponto de 9ista do indi97duo singular ou do homem en>uanto indi97duo. mas sim emfun12o de cadeias de gera1Ies. ra1as inteiras como ele 9ai diui*

    $as em me parece ser assim no >ue se refere a ra1as inteiras e gera1Ies sucessi9asK onde anecessidade. a indigncia. coagiram longamente os homens a se comunicarem. a seentenderem mutuamente com rapide< e finura. acaa por ha9er um e:cedente dessa for1a earte da comunica12o. como >ue uma fortuna >ue pouco a pouco se acumulou e agora esperapor um herdeiro >ue a gaste perdulariamente*

    #om. ent2o. o plano em >ue ;ietui uma outra maldadeH se 9ocslerem o te:to a>ui. a tradu12o do Ruens. >ue " realmente precios7ssima. 9ocs ter2o l essasindica1Ies >ue eu estou dando para 9ocs* 8m alem2o. 9oc tem dois termos com os >uais9oc pode se referir F sociedade e comunidade* Por um lado. Gesellschaft se di< sociedade. e

    Gemeinde " o termo usado para comunidade* Por e:emplo. uma igre+a se di< uma Gemeinde.ou um certo grupo se di< uma Gemeinde. " uma comunidade* S& >ue Gemeinde. ;ietue est falando. ele usa em rela12o ao ad+eti9ogemein. e gemein. >uer diue ele liga como sociedade. en>uanto comunidade. F>uilo >ue " comum. 9ulgar.med7ocre* ?udo so esse ei:o do Gemeinde. gemein. Gesellschaft. etc*. >ue 9ai acaar porestaelecer uma esp"cie de liga12o entre a>uilo >ue " social. comunitrio e comum. e da7 comcomunica12o* Por conseguinte. comunicarDse " se tornar comum* 8 a conscincia "precisamente o modo pelo >ual 9oc se torna comum* Vamos chegar a ler e:atamente essemo9imento a>ui* 8 como " >ue 9oc se torna comumL Pela linguagem*PerguntaK Agora. comum. ele toma no sentido do pe+orati9oLProfessorK ;o duplo sentido* B um +ogo consciente com a e>ui9ocidade de comum. comum nosentido da>uilo >ue pertence a amos. mas tam"m no sentido da>uilo >ue " med7ocre*

    ComentrioK 8 " completamente oposto ao conceito do 9ero di9ino *** da pala9ra***ProfessorK Claro* Ou desta conscincia pensada como unidade originria. >ue n&s 9imos a>ui*A>ui o >ue n&s 9amos assistir neste te:to " a gnese simult=nea. para ;ietui " no fundo isso* B isso >ue significao Gnio da 8sp"cie*ComentrioK 8nt2o. mas " uma cr7tica imensa*ProfessorK Claro* 8 " a melhor forma de 9oc fugirDdeDsi* Ou se+a. a melhor forma de 9oc. emoa conscincia. es>uecer da>uilo >ue " asolutamente singular. da>uilo >ue n2o pode sercomunicado. por>ue ao ser comunicado se torna comum*ComentrioK 8 a7 entra o cristianismo***ProfessorK Sem d9ida* Com toda essa e>ui9ocidade* 0sso " proposital. n2o " por acaso. n2o ">ue ele n2o considerou. e9identemente >ue ele considerouH soretudo. por>ue ao longo datradi12o ha9ia esse primado da conscincia como fonte. sede. locus da racionalidadeH pensar

    era igual ser consciente*ComentrioK 8 da7 a linguagem*ProfessorK Claro* B o ogos* A pala9ra* Alis. a mesma pala9ra para linguagem e ra

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    9amos prosseguir um pou>uinho* Agora. o interessante " >ue. precisamente nesta rela12oentre a indigncia. a carncia. a necessidade e o poder de comunica12o. com isso se cria umafortunaH o Ruens tradu< Vermgen em alem2o. por fortuna. a pala9ra >uer diuanto poder no sentido de faculdade. capacidade* Ou se+a. estacapacidade de comunica12o " algo com >ue o homem se enri>uece. e " precisamente estacapacidade de comunica12o. >ue uma 9e< acumulada. tornada desen9ol9ida. " depois. com o

    progresso da cultura. gasta perdulariamente* A>ui. ele 9ai diue tam"m somente em propor12o ao grau dessa utilidade ela sedesen9ol9eu*

    Ou se+a. a conscincia se desen9ol9eu por>ue era til* 8 se desen9ol9eu e:atamente empropor12o ao seu grau de utilidade* Vale diui. come1a a aparecer. portanto. a simultaneidade do tema da conscincia como o tema dasociailidade* Muer diuiserem. social das rela1Ies entre os homens*

    Mue nossas a1Ies. pensamentos. sentimentos. e mesmo mo9imentos. nos cheguem F

    conscincia D pelo menos uma parte deles D. " a conse>ncia de um terr79el. de um longo N"precisoN. reinando sore o homemK ele precisa9a. como o animal mais amea1ado. de au:7lio.de prote12o. ele precisa9a de seu semelhante. ele tinha de e:primir sua indigncia. de saertornarDse intelig79el D e. para tudo isso. ele necessita9a. em primeiro lugar. de NconscinciaN.portanto. de NsaerN ele mesmo o >ue lhe falta. de NsaerN como se sente. de NsaerN o >uepensa*

    8nt2o. a>ui " um aspecto astante importante deste te:toH ou se+a. a conscincia >ue n&stemos de nossas a1Ies. de nossos pensamentos. de nossos estados. n2o " algo tam"m dadonaturalmente. mas " o resultado. " conse>ncia de uma necessidade. de uma carncia* Ouse+a. >ue carncia " essaL A carncia de comunicar esses estados* 8nt2o. " por>ue o homemtem necessidade de comunicar esses estados " >ue ele precisa ter conscincia dessesestados ou. pelo menos. de uma parte desses estados*

    8u pediria para >ue 9ocs prestassem aten12o nas aspas* Por>ue ele era um animal maisamea1ado. mais frgil. em ltima inst=ncia. ele precisa9a mais de prote12o. mais de au:7lio.

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    portanto. precisa9a de comunidade* Ora. n2o pode ha9er comunidade sem comunica12o*Portanto. para >ue ele possa se comunicar. ele precisa9a de NconscinciaN* B interessante >uea>ui o termo conscincia tenha sido usado por ;ietuer diue os fil&sofos tanto fala9am ". na 9erdade. isto ou estaferramenta. esse utens7lio. de >ue " preciso lan1ar m2o para se 9i9er em comum* 8 as aspasprosseguem 3 9eue lhe falta. NsaerN como

    se sente. NsaerN o >ue pensa* Ou se+a. o uso reiterado das aspas no saer. tem tam"m a>uiuma inten12o irnica no sentido de mostrar >ue a>uilo >ue n&s conscientemente saemos "muito pro9a9elmente um falso saer* Ou se+a. " um saer entre aspas. isto ". " um saerparcial. limitado. calirado na perspecti9a da conscincia* 8nt2o. a>uilo >ue a gente di< NsaerconscientementeN " saer entre aspasH ou se+a. n2o " saer no sentido em >ue os fil&sofoschamam de saer* Vale diue este pensamento consciente " o pensamento 9eral* Ou se+a. "a>uele >ue se d em signos de comunica12o. ocorre em pala9ras* Com o >ue se re9ela aorigem da pr&pria conscinciaH >uer diui*PerguntaK 8le chega a discutir com Rousseau no 8nsaio das Origem das 7nguasL Por>ue " atese do Rousseau*ProfessorK B a tese do Rousseau* Sem d9ida nenhuma*ComentrioK B melhor granir. urrar com Rousseau*ProfessorK B important7ssima* 8u ti9e a oportunidade de discutir isso. agora. numa tese dedoutorado sore Rousseau. eu n2o sei at" >ue ponto ;ietue di< respeito. por e:emplo. a +us naturalismo. etc*ProfessorK Por >ue 9oc diue ele n2o conhecia o te:toLProfessorK Por>ue eu n2o conhe1o em ;ietue corroorare:atamente com a>uilo >ue o Rousseau mostrou* 8 n2o " o nico ponto de pro:imidade entre;ietue ;ietuando fiue 92o se seguir. como apro:imidade com Eant " assustadora. apesar das in9ecti9as todas contra o Eant* $as ficaclaro. ent2o. como " >ue essa origem da conscincia " uma origem necessariamente gregriae como ela " contempor=nea do surgimento da linguagem ou dos signos de comunica12o*

    @ito concisamente. o desen9ol9imento da linguagem e o desen9ol9imento da conscincia 'n2oda ra

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    AcrescenteDse >ue n2o " somente a linguagem >ue ser9e de ponte entre homem e homem.mas tam"m o olhar. o to>ue. o gestoH

    Portanto. a>ui. a linguagem est sendo considerada. por ;ietue colocDlas fora de n&s. aumentaram na mesma medida em >ue cresceu aurgncia de transmitiDlas a outros por signos* O homem in9entor de signos " ao mesmo tempoo homem cada 9e< mais agudamente consciente de si mesmoH somente como animal social ohomem aprendeu a tomar conscincia de si mesmo D ele o fa< ainda. ele o fa< cada 9e< mais* D

    B somente do ponto de 9ista do pacto social. ou para usar a e:press2o de ;ietui.como animal social. >ue o homem se torna consciente de si. aprendeu a tornarDseDconscienteDdeDsi* 8. precisamente. tornarDseDconscienteDdeDsi se d no mesmo mo9imento em >ue sein9enta signos de comunica12o. em >ue se desen9ol9e. por conseguinte. a linguagem* #om. a7" um tra1o de separa12o no te:to. muito caracter7stico do ;ietue para mostrar>ue se trata de um segundo momento do argumento*

    $eu pensamento ". como se 9K >ue a conscincia n2o fa< parte propriamente da e:istnciaindi9idual do homem***

    Ou se+a. conscincia n2o " um dado da natureue nelecomanda D. " constantemente como >ue ma+oriue " a origem dafilosofiaK NconheceDte a ti mesmoN* Ora. mas conhecerDse a si mesmo " a maior mentiraposs79el. por>ue conhecerDse a si mesmo " a melhor maneira de ignorarDse t2o completamente>uanto poss79el* Por>ue conhecerDse a si mesmo significa retraduuecimento do indi9idual*Vrias aporias est2o implicadas nisso* Como tomar conscincia do indi9idual. da>uilo >ue "n2o gregrio. da>uilo >ue " n2o comunitrio. o >ue " >ue significa entrar em rela12o com o simesmo* 8sse ". tal9eual>uer tentati9a de uni9ersaliue ele constantemente insiste em diuilo de >ue todos s2o capauanto poss79el concretamente. o >ue " >uesignifica esta 9i9ncia do singular. do indi9idualH como " >ue ela se e:pressa ou pode see:pressar* 6ma das suas formas ". e:atamente. uma forma negati9a >ue consiste na denncia

    das falsas formas de autoDconhecimento* Como. por e:emplo. NconheceDte a ti mesmoN* Comose 9oc pudesse ter acesso ao siDmesmo 9ia conscincia* Como se a conscincia n2o fosseuma esp"cie de epifenmeno ou fenmeno de superf7cie desse siDmesmo* 8 9oc tem >ue

    +

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    tomar o corpo. a7 sim. para ;ietue n2o " mais a conscincia* Besta a grande raui +ustaposto neste te:to. necessidade. carncia. indigncia eutilidade. me parece >ue utilidade tem um sentido mais positi9o do >ue a id"ia de necessidadee carncia* Muando aparece necessidade e carncia. indigncia. " ra9a a coisa. mas osentido de utilidade n2o "*

    ProfessorK 8u detesto faue a gente poderia esperar. por>ue " um anuest2o da utilidade nesse te:to. como muitos s2o os anui* ;o final dote:to. ele 9ai desfaue a conscincia n2o fa< parte propriamente da e:istnciaindi9idual do homem. mas antes da>uilo >ue nele " da natureue tam"m. como se segue disso. somente em referncia F utilidade de comunidade ereanho ela se desen9ol9eu e refinou e >ue. conse>entemente. cada um de n&s. com amelhor 9ontade de entender a si mesmo t2o indi9idualmente >uanto poss79el. de Nconhecer a si

    mesmoN. sempre trar a conscincia. precisamente. apenas o n2oDindi9idual em si. seu Ncortetrans9ersalN D >ue nosso pensamento mesmo. pelo carter da conscincia D pelo Ngnio daesp"cieN >ue nele comanda D. " constantemente como >ue ma+oriue torna poss79el o desen9ol9imento e o refinamento da conscincia e dalinguagem. essa simultaneidade n2o retira de amas o seu papel simplesmente instrumental*Ou se+a. a sua e:istncia tem em 9ista a possiilidade de tomarDconscincia dos seus estados.das suas necessidades. e a linguagem possiilita a comunica12o. por conseguinte. a cessa12odesse estado geral de carncia. de falta*PerguntaK 8ntendo >ue a conscincia e9olui tanto no indi97duo como na esp"cie* Agora.situa1Ies onde a conscincia se+a manifesta na maneira de reanho sempre ir2o e:istir. masem condi1Ies muito primiti9as. nas trios por e:emplo. a conscincia " muito mais de reanhodo >ue indi9iduada* Ser >ue na "poca do ;ietue " ho+eL Por>ue essas id"ias cria um desconforto raual>uer forma. para ele. desse ponto de 9ista.ou se+a. mesmo os refinamentos futuros da conscincia. n2o purgar2o essa gnese daconscincia a partir da indigncia. da carncia. etc*ComentrioK Sim* 8sse aspecto da conscincia gregria sempre 9ai e:istir*ProfessorK 0sso* Agora. o >ue " mais engra1ado " >ue 'isto tal9e< n&s n2o cheguemos a 9ernesse te:to. tal9e< at" mesmo s& 9e+amos a partir do momento em >ue e:aminarmos a>uelespargrafos mencionados no primeiro cap7tulo do Al"m do #em e do $al) o >ue " poss79el e o>ue " efeti9amente realiue ela " capaue 9oc assiste a uma esp"cie de transforma12o dessa indigncia no seu contrrio* Ou se+a.a conscincia se torna t2o desen9ol9ida e a linguagem t2o enri>uecida. >ue ela dialeticamentese con9erte no seu outro. ou se+a. ent2o. de indigncia. ela se torna ri>ueuilo >ue 9ai acontecer >uando a linguagem + "suficientemente rarefeita. sulimada. >ue ela perde e:atamente a sua fun12o instrumentalmeramente representati9a* B >uando. ent2o. a linguagem dei:a de ser9ir simplesmente paracomunica12o destes estados comuns a todos. dessas 9i9ncias comuns a todos. e passa a seruma tentati9a de e:press2o da>uilo " asolutamente singular e inef9el* Ou se+a. >uando "poss79el fa

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    da sua pr&pria origem*PerguntaK $as o >ue eu acho >ue o @ornelis est sentindo. >ue " uma coisa dentro de todainterferncia iluminista. >ue a conscincia " transparente. >ue ela " o lugar da 9erdade. toda anossa su+eti9idade " isso* @e repente toda essa filosofia ocidental. >ue fa< a maior apologiada conscincia. e eu acho at" uma interpreta12o do ung muito e>ui9ocada. >ue fa< apologiada conscincia. le9a a id"ia de >ueK ;ossaT Aonde >ue estamosL Mue a conscincia n2o "

    colocada dentro desse referencial. eu acho >ue n2o "*ProfessorK Olha Amn"ris. relati9amente a esse ponto >ue 9oc toca. n&s 9amos chegar a 9ercom detalhes. como a posi12o de ;ietue n&s 9amos e:aminar ainda ho+e* Ou se+a.>ual " a 9erdadeira natureual>uer cr7tica da ideologia para ser conse>ente consigo mesmo. tem >ue partirdo dado de >ue a conscincia n2o " nem potencialmente onisciente. nem potencialmenteonipotente* 8 mais ainda. de >ue a ilus2o da onipotncia e da oniscincia da conscincia " operigo. precisamente por>ue ". como ilus2o. inconsciente de si mesmo* Ou se+a. a cr7ticanietue lhe d a aseL Ainda assim ela n2o " 9aloriue ela n2o podepercorrer inteiramente* ;&s 9amos 9er a>ui no te:to. em >ue medida o ponto de partidanietue significa tomar o corpo comoponto de partidaH e. na 9erdade. " esse o o+eti9o desse curso. em >ue medida tomar o corpocomo ponto de partida. pressupIe uma outra concep12o de su+eti9idade* Ou se+a. umaconcep12o de su+eti9idade >ue n2o se funda mais na unidade da conscincia. se+a elaconscincia transcendental a modo Uantiano. ou se+a ela a conscincia transparente para simesma. a modo cartesiano*PerguntaK As duas formas de olhar. tanto por Eant. tanto por @escartes. na 9erdade. no meumodo de entender. ha9ia uma confus2o do uso da pala9ra NconscinciaN* ?anto para Eant>uanto para @escartes. " saer. >ue " uma forma de racioc7nio* A conscincia. n2o sei. " isso>ue eu >ueria tentar entender dentro do ;ietue h algo a mais. " mais do >uesaer. a conscincia " perceer outra dimens2o da 9ida* 8 da7 a conscincia a n79el da

    situa12o. do reanho. do gregrio. " o come1o de um processo. >ue depois precisa chegar aum ponto em >ue " necessrio o sacrif7cio dessa pr&pria conscincia. em fun12o de uma outradimens2o*ProfessorK Precisamente isso* Ou se+a. a conscincia 9ai ter >ue faue n2o " muito ade>uada nesse progresso. ao termo do>ual ela se autoDsacrifica* 0sso " ;ietue. por conseguinte. todo e >ual>uer tipo de sal9a12o 'entreaspas). todo e >ual>uer tipo de esclarecimento ou de ilustra12o. ou melhor. toda a felicidade dohomem. depende desse processo de esclarecimento. de ilustra12o. >ue se funda naconscinciaH e por conseguinte. a cren1a e a f" inerentes a todas as formas de iluminismo. de>ue e:atamente em 9irtude dos progressos da conscincia e da ilustra12o. 9ai ser poss79elconstruir uma esp"cie de reinado da felicidade sore a terra. ou se+a. o estaelecimento das

    rela1Ies do homem com a nature

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    simplesmente racionaisH tudo isso " >ue 9ai ser completamente denunciado como ilus2o.precisamente a partir dessa cr7tica da conscincia*

    ;ossas a1Ies s2o. no fundo. todas elas. pessoais de uma maneira incompar9el. nicas.ilimitadamente indi9iduais. sem d9ida nenhumaH mas. t2o logo n&s as traduue cada uma das nossas a1Ies s& " asolutamente singular. na medida em >ue elaescapa a este plano gregrio da conscincia* Se ela " traduue podemos tomar conscincia. " apenasum mundo de superf7cies e de signos. um mundo generaliue setorna consciente +ustamente com isso se torna raso. ralo. relati9amente estpido. geral. signo.marca de reanho. >ue. com todo tornarDconsciente. est associada uma grande e radicalcorrup12o. falsifica12o. superficialiueria 9oltar F>uela >uest2o do @ornelisK 9e+am " preciso prestar um pouco deaten12o a este mo9imento dial"tico >ue est presente no pensamento do ;ietual>uer pensamentodial"tico* 8u estou entendendo a>ui. dial"tico. no sentido antigo da pala9ra dial"tico* Ve+a. isso>ue est sendo feito a>ui " uma cr7tica da conscincia. uma denncia do carter gregrio daconscincia* $as de onde se fa< essa cr7ticaL 89identemente a partir da pr&pria conscinciafilos&fica* B isso >ue eu tenta9a diue. na 9erdade. a>ui se trata de uma autocr7tica da conscincia filos&fica* Buma esp"cie de autoDrefle:2o da conscincia acerca da sua pr&pria natureui9ocamente uma cr7tica radical da conscincia e da linguagem s& pode ser feita a partir doponto e:tremo a >ue chegou o desen9ol9imento da conscincia e da linguagem* Vale diue a conscincia " capa< de se tomarDaDsiDmesma como o+eto*B precisamente ao longo ou ao termo de um processo hist&rico de profundo refinamento e

    sofistica12o >ue a conscincia se torna autoDconsciente* 0sso n2o >uer diue " essa conscincia >ue ela toma das suas pr&priaslimita1Ies. uma esp"cie de um suced=neo nietue a conscincia se torna t2o poderosa. >ue ela toma conscincia das suas pr&priaslimita1Ies* ;2o* 8la toma conscincia das suas limita1Ies. mas t2o radicalmente. >ue ela sae>ue a pr&pria conscincia >ue ela toma das suas limita1Ies. tam"m n2o " conscincia detodas as suas limita1Ies. nem pode ser* Ou se+a***ComentrioK B a e:perincia do semDfundo*ProfessorK 0sso* Ou se+a. a conscincia est sempre dan1ando sore a cratera de um 9ulc2o*Ou. como di< o +o9em ;ietuilo >ue " perspecti9a doreanho. e:atamente a sua nature

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    perspecti9a acima da simples perspecti9a do reanho* Vou tentar dar um e:emploK se 9octoma as formas mais comuns de cr7tica da conscincia. se 9oc >uiser. de cr7tica daconscincia ideol&gica. 9oc encontra. mais ou menos. o seguinte mo9imentoK h um certon79el de 9i9ncia. de e:perincia de saer. >ue " tido como falso saer. tomado por um certotipo de conscincia como o saer 9erdadeiro* Ora. precisamente. a cr7tica da ideologia temcomo fun12o denunciar o carter fict7cio. falso. desta forma da conscincia. deste contedo do

    saer. como sendo simplesmente encoridor de um outro n79el de realidade. >ue se encontraou denegado ou reprimido ou iniido ou. simplesmente desfigurado. por este falso saer >ue aconscincia imediata +ulga ser seu saer 9erdadeiro* 8nt2o. >ual " a fun12o da cr7tica daideologiaL Reconduuais a ideologia pode se impor F conscincia como 9erdade* Pore:emplo. se 9oc usa o e:emplo freudiano. " clssicoK o discurso do analisado como umaforma de falsa conscincia. e 9oc fa< uma interpreta12o desses discursos e dos seussintomas. no sentido de repor estes elementos todos num certo plano de 9erdade. e tornarposs79el o acesso da conscincia a esses planos de 9erdade. conseguindo ent2o uma9erdadeira ou uma forma 9erdadeira da conscincia a respeito da ideologia dos sintomas ou daraue " a denncia da conscincia como simplesmente in9ers2o encoridora da>uilo>ue. efeti9amente. se passa ao n79el das rela1Ies de produ12o* 8nt2o. a conscincia. o >ue "LA ideologia o >ue "L B uma representa12o in9ertida. falsa por conseguinte. encoridora da>uilo>ue. efeti9amente se passa a n79el das rela1Ies de produ12o e reprodu12o da 9ida material*8nt2o. o >ue " >ue fa< a cr7tica da ideologia neste sentidoL Recondu< a conscincia destadistor12o de >ue ela " 97tima. para uma 9is2o. para uma compreens2o. para uma intelignciaade>uada da>uilo >ue. efeti9amente. aconteceH ou se+a. da realidade* O >ue " >ue est pordeai:o desses dois prot&tipos de cr7tica da ideologia e cr7tica da conscinciaL 8:atamente apossiilidade de >ue por meio do saer. 9ale diue " um saeronde. realmente. se d uma ade>ua12o entre a representa12o e o o+eto da representa12o* Ouse+a. o >ue " de comum entre essas duas formas de ideologia " a con9ic12o de >ue por meiode um refinamento. de um progresso da conscincia. " poss79el oter algo assim. como um

    saer 9erdadeiro*ComentrioK $as. ent2o. n&s estamos enganchando D por mais intelectual mesmo >ue se+a ounem " t2o intelectual D. " isso >ue e:iste como possiilidade. desde %reud at" $a: >ue " umpatamar alto* B isto >ue e:iste* 8nt2o. isso causa o desconforto. por>ue entre os psic&logos.me perdoe @ornelis. eu nunca 9i algu"m propondo algo >ue n2o fosse o alargamento daconscincia*ProfessorK Concordo* O >ue ;ietue " poss79el F conscincia tornarDseinteiramente transparente para si mesma. isso " e:atamente uma ilus2o herdada doiluminismo. para ;ietue a conscincia n2o " o lugar da 9erdade. isso n2o >uer diue ela se+a falsa* Por>ue ele desmonta esse tipo de id"ia* 8la apenas n2o " onisciente. mas

    n2o " falsa*ProfessorK ;2o* 8la n2o " onisciente. nem pode ser* Ou se+a. h um certo grau de ignor=ncia.>ue " asolutamente necessrio para >ue a conscincia possa ser consciente. ou se+a. para>ue ela possa e:ecutar e:atamente as suas fun1Ies*PerguntaK 8 se a gente pensa no inconsciente do %reud. n2o seria esta a parte da conscincia>ue nunca se descore* Ou como " >ue " issoLProfessorK ;2o* 8u acho >ue a7 as duas coisas n2o se recorem mais* 8u acho >ue d para9oc manter. tanto no ;ietuanto no %reud. a id"ia de um inconscienteH eu acho >ue.inclusi9e. no ;ietue " diferente " este eu. >ue no %reud " uma das inst=ncias ou um dos seuscomponentes a n79el ps7>uico* B precisamente a conscincia. conscincia entendida a>ui como#en9urst

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    dimens2o de ignor=ncia. uma ignor=ncia de >ue n2o " negati9a. >ue n2o " simplesmente oa9esso da 9erdade. n2o " a n2o 9erdadeH mas >ue " elemento constituti9o e fa< parte dofuncionamento da conscincia*PerguntaK $as tem outro elemento a7 tam"m >ue diferencia* Por>ue toda essa tendncia. >uero iluminismo. >uer o $ar:. o %reud. tem ainda essa ilus2o iluminista de faue neste

    te:to. >ue n&s estamos lendo. n2o tem o atriuto de positi9idade* Muanto mais 9oc refina aconscincia. mais 9oc se torna comum no reanho* 8nt2o. " uma diferen1a muito grandedessa 9alora12o*ProfessorK B* 0nsisto sempre >ue ;ietue tam"m d uma dimens2o diferente

    da conscincia. >uer diuem n2o " reanho ela n2o temsentido como finalidade por ser ferramenta*ProfessorK $as " precisamente isso* Acho >ue esse tema " precisamente a>uilo de >ue trataeste te:to e os outros >ue a gente 9ai e:aminar* O carter da conscincia e da linguagemen>uanto signo de comunica12o " instrumental s&* 8 se 9oc n2o ultrapassa o n79el da simplesinstrumentalidade da conscincia e da linguagem como signo de comunica12o. 9oc perdeprecisamente a>uilo >ue " o singular. o indi9idual. o pessoal* 8 mais >ue issoK ao pretenderad>uirir alguma esp"cie de 9erdadeira 9i9ncia neste plano. 9oc n2o est faue por meio da linguagem e da conscincia 9oc 9ai ter acesso a algo como sendo a9erdade* 8 n2o se es>ue1am >ue a>ui 9ocs + 9iram isso. + nos referimos a isso*Q uma e:press2o Nconhecer a si mesmoN >ue. se eu n2o me engano. Amn"ris tinha chamadoa aten12o disso no nosso encontro anterior* 0sso " claramente uma indica12o irnica.profundamente maldosa e de um 9eneno fora do comum. contra a interpreta12o socrticoDplatnica do Orculo de @elfos* 0magino >ue 9ocs todos de9em saer o >ue o S&cratesperguntaK O >ue o orculo disse ao meu respeitoL Mue o homem mais sio da Gr"cia "S&crates* 8 ele. ent2o. >ueria saer em por>ue raue ele se acha9a o mais ignorante de todos* 8nt2o. ele falouK #om. deduas uma. ou deus mentiu ou eu n2o entendi* Como Apolo n2o pode ter mentidoH ent2o. eu.com certeue eu sou o mais inteligente* 8nt2o. foicon9ersar com todos a>ueles >ue eram considerados inteligentesH ou. pelo menos. com o

    representante de cada uma dessas categoriasK os poetas. os pol7ticos*** 8 descoriu >ue todoseles saiam algumas coisas. mas ignora9am muit7ssimas outras* 8 >ue mesmo ignorandomuit7ssimas outras. +ulga9am >ue saiam tudo* Muer diue ele. S&crates. n2oH por>ue ele n2o ignora9a >ue ignora9a tudo* Por conseguinte. elesaia mais do >ue a>ueles. >ue acha9am. >ue nada ignora9am. por>ue esses sim ignora9am ofundamental. ou se+a. ignora9am a sua pr&pria ignor=ncia* 8nt2o. de fato. S&crates era ohomem mais sio da Gr"cia. n2o por>ue souesse mais do >ue os outros. mas simplesmentepor>ue saia >ue saia menos do >ue os outros*8nt2o. esse primeiro passo. a chamada Ndouta ignor=nciaN. " e:atamente o sentido damensagem socrtica >ue " o NconheceDte a ti mesmoN* Agora. conheceDte a ti mesmo " algo>ue s& " poss79el como se n&s repetirmos o gesto socrtico. ou se+a. se n&s tomarmosconscincia da nossa pr&pria ignor=ncia e procurarmos. ent2o. faue est ao nossoalcance para conhecer alguma coisa de 9erdadeiro* Ora. o >ue ;iet

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    de mim mesmo. por>ue ao tomar conscincia de mim. eu me percoH eu me colocoprecisamente na perspecti9a gregria. na perspecti9a do reanho. na>uilo >ue h de comum atodos e. por conseguinte. na>uilo >ue " rigorosamente o n2o eu*PerguntaK Ser >ue o S&crates ignora9a issoLProfessorK Olha. >uando eu disse >ue a>ui h um 9eneno terri9elmente destilado. " >ue oS&crates est sendo 9isado simplesmente como o pai da crian1a* 0sso >uer diue S&crates

    est sendo 9isado como o pai do racionalismo ocidental* 8nt2o. na 9erdade. a>ui a cr7tica estsendo endere1ada F filosofia no seu con+unto. no seu todo* ;2o " simplesmente. nem S&cratese Plat2o somente. mas S&crates est sendo tomado a>ui precisamente como a>uele >ueinspira este gesto. >ue inaugura este gesto. do racionalismo ocidental. segundo o >ual a raui identificada F conscincia. a raue cresce " um perigo. e >uem 9i9e entre os mais conscienteseuropeus. sae at" mesmo >ue ela " uma doen1a*

    8ssa frase " nitidamente uma cita12o indireta de @ostoi"9sUi. precisamente nas $em&rias deSusolo* A>uela famosa passagem em >ue @ostoi"9sUi diue o @ostoi"9sUi di< l e >ue o ;ietue a>ui ;ietueparecia ser a dele no come1o do te:to ao tra1ar essa gnese comum da conscincia. dalinguagem. da sociailidade. sore a forma da utilidade* Ou se+a. a conscincia e a linguagems& se desen9ol9eram por>ue s2o teis*

    ;2o ". como se adi9inha. a oposi12o de su+eito e o+eto >ue me importa a>uiK dei:o essadistin12o aos te&ricos do conhecimento. >ue ficaram presos nas malhas da gramtica. 'ametaf7sica do po9o)*

    O >ue e:iste. na 9erdade. do ponto de 9ista da>ueles >ue pretendem faueria mostrar a>ui o seguinteK ;ietuiserem. a gramtica* Ou se+a. asimples id"ia clssica da filosofia. de separa12o entre a conscincia e o seu o+eto. entresu+eito e o+eto. >ue " a distin12o epistemol&gica fundamental ". na 9erdade. o >ueL 6mapro+e12o metaf7sica da senten1a gramatical* Perceem aonde ;ietuer chegarL Ou se+a.a senten1a gramatical. isto ". a estrutura12o l&gica da senten1a sica. o su+eito e o+eto*8nt2o. " por>ue os fil&sofos e os metaf7sicos n2o perceeram o enraiue tudo isso " simplesmente modo de tra9estimento inconsciente da estruturagramatical. l&gico gramatical da senten1a* 8nt2o. por a>ui. 9ocs perceem o >uanto ;iet

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    Ou se+a. n2o somente n&s n2o podemos separar entre a conscincia e o o+eto. entre a coisaem si e o fenmeno. mas n&s tam"m n2o podemos separar entre a 9erdade e a falsidade. ou.a 9erdade e o erro* ;2o temos +ustamente nenhum &rg2o para conhecer. para a 9erdade* Ouse+a. a nossa distin12o entre saer 9erdadeiro e opini2o. " da mesma natureue a distin12oentre coisa em si e aparncia ou fenmeno. ou da mesma natureue a distin12o entre aconscincia e o seu o+eto* Ou se+a. a falsa distin12o*

    A>uilo >ue n&s conhecemos e >ue n&s +ulgamos ou imaginamos ou cremos ser 9erdadeiro. "simplesmente n2o o contrrio do erro. mas uma forma do erro. uma forma do erro >ue sere9ela til. produti9a. pro9eitosa para a e:istncia*8nt2o. n&s n2o temos como separar a>uilo >ue " 9erdadeiro da>uilo >ue " falso. por>ue n&sn2o podemos conhecer nada de 9erdadeiro* A id"ia de >ue a conscincia pode ter um acessoo+eti9o F 9erdade " mais uma forma de ilus2o. precisamente essa forma de ilus2o >ue surgecom S&crates*PerguntaK 8nt2o. pela distin12o >ue ele fa< " imposs79el se ter a 9erdade de um lado. e a n2o9erdade do outro* 8 a proposi12o. ent2o. seria tanto um caminho >uanto o outro. tem os dois* BissoL ?anto a 9erdade tem erro. como o erro tem 9erdade*ProfessorK B isso* ;a 9erdade. sem trocadilho. a pala9ra 9erdade. em termos de ;ietue raua12o. termo a termo. entre a conscincia en>uanto representa12o. e o o+eto dessarepresenta12o* Ou se+a. a famosa teoria da ade>ua12o entre a conscincia. en>uanto inst=nciada representa12o. e o o+eto da representa12o* Vale diue a conscincia n2o pode captar aestrutura ontol&gica do real. pelo simples fato de >ue a conscincia. ela pr&pria. + " umaperspecti9a. e precisamente a perspecti9a do reanho* Ora. n2o e:iste perspecti9a >ue n2ose+a de um =ngulo. logo n2o e:iste uma perspecti9a >ue se+a asolutamente neutra.asolutamente o+eti9a* 8la sempre significa um certo recorte do real*ComentrioK Ou se+a. o >ue h de comum entre a 9erdade e o erro s2o pro+e1Ies doinconsciente*ProfessorK 0sso mesmo*ComentrioK Agora ficou melhor. por>ue eu esta9a incomodada com a >uest2o do @ornelis

    falando de um caminho e outro caminho* eio ;ietue9oc s& pode ter um saer perspecti9o. esta perspecti9a 9ai sempre ser otida a partir de umdeterminado ponto. a partir de uma determinada situa12o* ogo. se todo o tipo de saer "perspecti9o. n2o e:iste nenhuma possiilidade de acesso a uma estrutura o+eti9a derealidade. fora de uma perspecti9a >ual>uer* Se+a a perspecti9a da 9erdade. isto ". se+a aperspecti9a da conscincia e da gregariedadeH 9ale diuela n2ogregria. no caso do ;ietue se+ustificar a famosa afirma12o nietue at" ho+e produ< ou d ense+o a 9erdadeirosoceanos de tinta. a arte " mais 9erdadeira do >ue a cincia* O >ue significa issoL A arte " mais9erdadeira do >ue a cincia significa simplesmente >ue a arte " um saer perspecti9o >ue se

    sae perspecti9o. en>uanto a cincia " um saer igualmente perspecti9o. mas >ue pretendeser mais >ue isso* 8nt2o. neste sentido. a arte " mais 9erdadeira do >ue a cincia. porconseguinte. a arte " prefer79el F cincia*ComentrioK Por isso >ue eu acho >ue a psicoterapia " arte*ProfessorK 8nt2o. essa " uma das discussIes >ue se insere nesse oceano de tintas. aprop&sito da frase nietue isso se+a uma afirma12o com muitotr=nsito entre os terapeutas*ComentrioK S& entre os +unguianos. entre os freudianos n2o*PerguntaK A perspecti9a do Guattari de faui " a perspecti9a hegemnica* ;a

    )

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    9erdade " esse o prolema*ComentrioK B por isso >ue eu acho >ue todo o meio acadmico. uni9ersitrio. ou acomunidade cient7fica fa< >uest2o desse ponto para garantir emprego*ProfessorK Olha. isso " uma coisa >ue 9ai muito longe*** 0sso >ue 9oc est diue na discuss2o >ue n&s ti9emos no Col&>uio sore Qeidegger. uma pessoa >ue mefalou. me parece certamente um psicoterapeuta. tanto " >ue ele esta9a falando. um pouco. em

    termos da Sociedade #rasileira de Psicanlise* 8le esta9a diue. do ponto de 9ista deuma certa tendncia mundial. e:iste um empenho muito grande em insistir no carter cient7ficoda psicanlise. esta9a falando mais da e:tra12o freudiana. entre outras raue elapossa ser reconhecida como tratamento teraputico leg7timo pelos seguros de sade. tanto no#rasil >uanto fora do #rasilH >ue " uma maneira de garantir a remunera12o do traalhopsicoteraputico pago por esses grupos. >ue dominam cada 9e< mais. em termos >uase >uemonopol7sticos* 0sso mostra. mais uma 9eue a >uest2o n2o " simplesmente cient7fica ousimplesmente epistemol&gica. mas passa por outros caminhos*ComentrioK 8u fico at" mais sossegada. por>ue o >ue eu sinto " assim. uma forma desu+eti9a12o t2o cristaliue. realmente. parece >ue " imposs79el >uerar* B umasu+eti9idade em >ue se constitui. >ue acredita na>uilo. e >ue n2o 9 as outras falas. n2o 9outros 9ieses* Se fosse s& para segurar emprego. eu acho >ue seria mara9ilhoso* Mue + estno n79el de utilidade plica. entendeuL O prolema. eu acho. " mais s"rio por>ue realmente

    n2o se demo9e para outras perspecti9as. pelo contrrio. arrasa as outras perspecti9as emnome da 9erdade. de uma forma religiosa de se conduuando a cincia 9ira religi2o.por>ue tem a 9erdade e tem >ue pro9ar contra todos os outros. e se n2o for aceito pIe osoutros na fogueira* Suporta o outro em nome da diferen1a partidria. sei l o >ue 9em***ProfessorK Vocs perceem >ue o >ue 9ocs est2o falando " e:atamente isso >ue est sendodito nessas 3 ltimas linhas a>uiL B e:atamente isso* 8u n2o >uero interromper. mas inclusi9eos termos cren1a. religi2o e tal. 9ai aparecer e:atamente a7*

    NsaemosN 'ou acreditamos ou imaginamos) precisamente o tanto >ue. no interesse do reanhohumano. da esp"cie. pode ser tilK

    emremDse >ue o te:to chamaDse o Gnio da 8sp"cie* 8nt2o. n&s saemos a>uilo >ue " tilpara a esp"cie*

    e at" mesmo o >ue a>ui denominamos utilidade***

    Parece >ue o ;ietui na9egando em guas de utilitarismo. de e:tra12o angloDsa:nica. e a>ui a ltima pirueta do ;ietue essa estupideue n&s sucumiremosN. mas o >ue ;ietuer de fato diue uma forma deestupide< na >ual ou em fun12o da >ual. tal9e< um dia. a gente 9enha a sucumir* Sucumir.por >ueL Sucumir por>ue a gente perde de 9ista. precisamente. a pluralidade. amultiplicidade. a inesgotailidade das figuras >ue. em ltima inst=ncia. a conscincia humanapode se dar*ComentrioK 0sso " um mo9imento >ue estamos 9endo crescer e me angustia isso*ProfessorK 0sso >ue 9oc chama de mo9imento crescente. ;iet

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    PerguntaK $as se o fiuen2o se+a de recusa desse ideal de modernidade. pode dei:ar de ser assimilada. precisamente.na mesma din=mica da modernidade* A7 " uma longa discuss2o sore como " >ue fica aposi12o de ;ietue a posi12o dele " claramente de recusa*

    ComentrioK $as se for poss79el um dia in9erter a ordem das coisas. 9ai ter >ue serindi9idualmente* S& " poss79el indi9idualmente* ;2o creio >ue se+a poss79el decretar umamudan1a da maneira de ser para a humanidade*ProfessorK ;o caso do ;ietue asfiguras >ue o ;ietuer diuilo >ue s2o as id"ias modernas. para eleH da>uilo >ue " considerado como om e

    +usto no mundo moderno* 8nt2o. por e:emplo. a cr7tica fero< dele F leitura de +ornal* @e 9e< em>uando 9oc se impressiona. por >ue ele critica tanto esse neg&cio de leitura de +ornal*ComentrioK Por>ue " do reanho*ProfessorK Por>ue. para ele. significa forma12o massi9a da conscincia e da opini2o*PerguntaK 8 o >ue ele acharia da ?V a cao. da Gloo e da gloaliuesignifica massifica12o da culturaL Significa. para ;ietual>uer tipo de gloaliue nega12o do esp7ritoL Por>ue " a impossiilidade de 9oc pensar por si. 9oc tem sempre>ue pensar heteronomamente em fun12o de algu"m >ue determina as coordenadas da suapercep12o. do seu gosto. do seu +u7ual>uer coisa >ue 9ai ser dita na Gloo. tem >ue ser dita do +eito >ue eles>uerem >ue se+a dito* 8 se n2o disser do +eito deles. n2o sai***

    ProfessorK 0sso* 8 outra coisaK n2o somente tem >ue ser dita do +eito deles. mas o >u eles>uerem >ue se+a dito " dito* 8 h certas coisas >ue simplesmente n2o tem nenhum interesseem aparecer* Ve+a. o >ue " >ue aparece. o >ue " >ue fa< sucesso. o >ue " >ue causa impacto.s2o apenas coisas >ue s2o resultados. e9identemente. de um processo de sele12o* 8 a>uest2o " >uem fa< essa sele12oL ;2o " claramente nenhum su+eito indi9idual. e nem o Sr*Roerto $arinho. nem nada. mas s2o grandes +ogos suprapessoais de interesses*PerguntaK 0sso " pensando sempre ao n79el do coleti9o. do pol7tico. do gregrio. do interesseeconmico*** $as se pensarmos na e9olu12o do indi97duo n2o sei se esse processo deassassinato. 9amos diue ;ietue significa sucumir* Sucumir n2o significasimplesmente morrer* @e +eito nenhum* Sucumir pode significar precisamente a dura12o

    potencialmente eterna de uma comunidadeDreanho. s&. mais nada* Ou se+a. o sucumirsignifica a>ui. desaparecer a>uilo >ue fa< a grandeue significa sucumir*PerguntaK Posso polemiuinhoL ;2o est emutido a7 uma id"ia de >ue n2opodemos ser muitos. temos >ue ser poucos e seletosLProfessorK A id"ia a>ui " a seguinteK o mundo moderno perdeu a percep12o da diferen1a. n2otem mais lugar leg7timo para dist=ncia. para o outro. para a diferen1a no sentido largo* Ou se+a.o mundo moderno transforma a igualdade na uniformidade* 8 o muito " sempre. na 9erdade. afigura mais e:trema da poreue o muito " sempre a reprodu12o ao infinito do mesmo*PerguntaK 0sso n2o tem um tipo de germe fascistaLProfessorK #em. 9oc pode certamente 9er nesse sentido. desde >ue 9oc identifi>ue isto com

    categorias sociais e pol7ticas* Coisa >ue ;iet

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    pro9ocati9a. no sentido de mostrar >ue o discurso contempor=neo se trama. se tece todo emcategorias >ue torna inaud79el certas pala9ras onde. por e:emplo. simplesmente a men12o Fdiferen1a e F hierar>uia +. por si s&. " e9itada ou imediatamente rotulada de negati9a* Ou se+a.do ponto de 9ista de ;ietuando n2o imediatamente suspeito* Agora.onde " >ue se >uer chegar com issoL Muer se chegar precisamente a id"ia deste perigoe:tremo. >ue " o perigo do mundo moderno. de uma identifica12o entre felicidade. conforto eem estarH e essa identifica12o entre igualdade e uniformidade. >ue " na 9erdade uma formae:trema de despotismo. de >ue isso se+a a ltima figura do homem* Ou se+a. >ue ahumanidade se congele. se fi:e. nesta uniformidade. e >ue se+a incapa< de se ele9ar para al"mde si mesmo* B esse o perigo >ue " pior do >ue morte*ComentrioK O modelo da sociedade americana*ProfessorK 0sso* 8:atamente* Por >ue esse perigo " pior do >ue a morteLRespostaK Por>ue ele intimida*ProfessorK ;2o. " por>ue esteriliuilo >uen&s somos ho+eH esse perigo. ou se+a. o perigo en9ol9ido na possiilidade da reprodu12o infinitado mesmo. mata >ual>uer futuro*

    PerguntaK 8 a natureue pode superar tudo issoL 8la podepro9ocar uma situa12o >ue re9olucione toda a situa12o para romperLProfessorK 0sso 9oc n2o tem condi1Ies de afirmar. segundo ;ietue 9ocdisponha de uma teoria da natureue se+a uma 9erdadeira teoria da natureue elen2o poderia afirmar mais*PerguntaK $as a7 o >ue acontece com o inconscienteLProfessorK Pois "T B +ustamente a id"ia de toda a prega12o nietue " no sentido defauais o nosso discursomoderno. a nossa conscincia moderna. + n2o " mais recepti9a* Como. por e:emplo. adimens2o do corpo. do inconsciente*PerguntaK 8stou pensando assimK Se a conscincia " uma forma de representa12o. se 9occristaliuest2o da gloaliue eu estou falando da natureue agente est chegando num n79el. >ue a natureue n2o dei:a outra perspecti9a sen2o a da catstrofe* Pore:emplo. a catstrofe ecol&gica* $as " claro >ue ;ietue esse ideal a>ui. >ue ele 9ai chamar no Jaratustra. de o ltimohomem se+a tam"m a>uele >ue triunfe* Ou se+a. 9oc tem em ;ietue eu estou diui*ComentrioK $as + est ha9endo tam"m uma aceita12o maior das diferen1as*ProfessorK @esde >ue elas se+am domesticadas* @esde >ue elas se+am neutraliuest2oK a >uest2o da diferen1a. no discurso daigualdade. ela " suport9el* Muando se fundou a id"ia do homem. a igualdade do homem. sefundou tam"m. com certo esfor1o. a possiilidade da diferen1a. de opiniIes religiosas. etc* etal* Agora. a id"ia da multiplicidade n2o est 9inculada a id"ia da desigualdade dos homensL

    Sem le9antar suspeitas. mas se com os mltiplos. se as su+eti9idades s2o mltiplas. somosdesiguais*

    +

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    ProfessorK B e:atamente isso* Somos desiguais* A id"ia de uma identidade de natureueles >ue conseguem n2o ficar no reanho. ent2o a medida a7 " o reanho. os >ueest2o no reanho e os >ue est2o fora do reanho* Agora. >uando ele fala da multiplicidade. n2o

    " nem diferen1a e nem dificuldade. " uma outra coisa. n2o "L Por>ue n2o tem medida paraisso. temLProfessorK 8u acho >ue 9oc tem toda a raue eu acho >ue est emasada numa id"ia de umadesigualdade dos homens. e >ue " um ser insuport9el para n&s***ComentrioK A desigualdade n2o foi uma medida. " isso >ue eu estou >uerendo diue eu sugeriria a 9ocs. por>ue n&s n2o teremos mais tempo parae:plorar essa >uest2oH e:iste uma ampla e:plora12o desse prolema so a perspecti9a darela12o entre o pr&:imo e o amigo. em ;ietuilo >ue ;ietue " >ue significa ser amigo contrariamentea ser um pr&:imo do seu outro. do seu amigo* Ser amigo significa e:atamente dei:ar o outroser. por conseguinte. ser9ir de alguma forma de est7mulo permanente. para >ue o outro se+a ooutro mesmo singularmente. e n2o uma esp"cie de refle:o de si* O refle:o de si " a perspecti9ado amor ao pr&:imo*O Conceito de Vontade em SchopenhauerPerguntaK Posso faue me interessa muito pessoalmenteL ;o Schopenhauera >uest2o da conscincia. ela acompanha essa id"ia de uma transparnciaL

    ProfessorK Olha. a >uest2o. no Schopenhauer. da conscincia " a seguinteK 8m primeiro lugar.a conscincia ". para Schopenhauer. asolutamente instrumental. ela " o instrumento da9ontade. ela tam"m fica no n79el de superf7cieH e assim como a 9ontade se 9ale deinstrumentos de 9rias ordens e de 9rias esp"cies para conseguir os seus o+eti9os. a9ontade tam"m se 9ale da conscincia* A conscincia ou o intelecto " um instrumento da9ontade* Ou se+a. a 9ontade " muito mais ampla. e para oter a concep12o dos seus fins. elaprecisa do intelecto* 8nt2o. o intelecto " o meio de >ue a 9ontade se 9ale ou se ser9e. paraconseguir tudo a>uilo >ue >uer* 0sso. tanto o intelecto >uanto a conscincia* 8nt2o. aconscincia. para Schopenhauer. " tam"m algo de superficial e >ue se mant"m inconscienteda sua fun12o meramente instrumental* $as. em Schopenhauer. a conscincia pode sedesen9ol9er. de tal maneira e em tal medida. >ue ela passa a renegar a sua origeminstrumental e ser9ir como >ue de espelho da 9ontade*ComentrioK Ai >ue lindoT B a figura do gnio*

    ProfessorK B a figura do gnio* O gnio " e:atamente esta conscincia em >ue a 9ontade sepro+eta como um espelho* Ou se+a. >ue a essncia do mundo. como 9ontade. toma conscincia

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    de si. >ue " e:atamente isso a ora de arte nas suas di9ersas figuras e " especialmente a orado gnio* 8 mais aindaK a conscincia pode e:ercer ainda uma fun12o mais ele9ada do >ue aart7stica. >ue " a conscincia asc"tica. >ue " a conscincia no caso do asceta e do santo. >ue" a>uela na >ual a 9ontade n2o somente toma conscincia de si como num espelho. como erao caso do artista. mas a 9ontade se nega a si mesmo* Se autoDrenega*PerguntaK Atra9"s da conscincia aindaL

    ProfessorK Atra9"s da conscincia* 8la renuncia a si* $as a conscincia. a>ui. " associada auma esp"cie de sentimento m7stico imediato. >ue n2o " necessariamente racional no sentidocient7fico. " uma esp"cie de 9i9ncia ou de conscincia imediata da compai:2o. ou se+a. daigualdade ou da identidade em tudo a>uilo >ue 9i9e* Vale diuanto minha* B somente nesteplano " >ue a 9ontade pode se negar a si mesma. ou se+a. ela toma conscincia da natureue fa< o asceta. " isso >ue fa< o santo. " isso >ue fa< o artista* S& >ue o

    artista fa< isso de uma maneira simplesmente temporria. en>uanto >ue o santo e o ascetafauilo >ue ganha. passa pelo contorno da indi9idua12o.necessariamente trs a marca do sofrimento*ComentrioK ;iet

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    ;o >ue se refere ao atomismo materialista. " uma das coisas melhor refutadas >ue e:istemH etal9e< n2o ha+a. + ho+e. na 8uropa. entre os doutos. ningu"m t2o indouto >ue continueatriuindoDlhe uma significa12o s"ria. e:ceto para o uso manual e dom"stico. >uer diuele polons #osco9ich. >ue+unto com o polons Cop"rnico. foi at" ho+e o maior ad9ersrio e o mais 9itorioso da aparnciasens79el*

    #om. em primeiro lugar. a>ui. apenas informa1Ies hist&ricas* Primeiro. #osco9ich n2o erapolons. a>ui " um erro de ;ietui a afirma12o de #osco9ichcomo confrade do Cop"rnico e como aliado do Cop"rnico na luta contra a aparncia sens79eltem como al9o a cr7tica do atomismo materialista* O >ue significa issoL Significa >ue ;ietuanto ao erro imenso >ueconsistiria em confundiDlo como materialista* Alis. " muito comum esse erro. ;ietuanto o espiritualismo* A>ui se trata de denunciar oatomismo materialistas. ou se+a. em primeiro lugar. a id"ia de >ue tudo a>uilo >ue e:iste "mat"riaH e em segundo lugar. a id"ia de >ue a menor part7cula ou por12o de mat"ria " o tomo*PerguntaK @ para 9oc repetirLProfessorK #om. o materialismo " a doutrina segundo a >ual tudo o >ue e:iste " mat"ria. n2o

    h nenhuma alma e a mat"ria " infinitamente di9is79el e a menor por12o ou part7cula pens9elde mat"ria " o tomo* ;ietui como o tomo " uma esp"cie de suced=neoleigo da almaH como tomo. a alma tem a sua rai< na estrutura gramatical da senten1a* Ouse+a. no conceito l&gico gramatical do su+eito* B mais ou menos isso*PerguntaK Como ele fala do corpo e 9aloriue " materialismo*ProfessorK 8:atamente isso >ue n&s 9amos 9er* Alis. algu"m >ue toma como ponto de partidaa fisiologia. ele 9ai diueL Por>ue materialismo e espiritualismo s2o correntes opostasda metaf7sica. de modo >ue um s& fa< sentido em rela12o ao outro* 8 o >ue ele 9ai >uerer fauanto Cop"rnico nos persuadiu a crer. contra todos os sentidos. >ue a terra n2o estfi:a. #osco9ich nos ensinou a a+urar a cren1a na ltima coisa da terra >ue esta9a fi:a. acren1a no corporal. na mat"ria. no tomo. este ltimo res7duo e part7cula terrestre. foi este omaior triunfo sore os sentidos alcan1ados at" agora na terra*

    Ve+am s& >ue frase e:traordinria* Muer diuilo >ue pega mais fundo em rela12o ao conhecimento imediato >ue n&s temosH9ale diue a>uilo >ue n&s 9emos. somos. tocamos. "mat"ria* 8 >ue essa mat"ria " composta. no seu ltimo estrato. de pe>uenos elementos

    irredut79eis >ue s2o os tomos* Ou se+a. de >ue todos os corpos materiais s2o resultado dacomposi12o dessas menores part7culas de mat"ria >ue e:iste. >ue s2o os tomos* Ou se+a. oscorpos s2o compostos de unidades atmicas. de mat"ria* #om. acho >ue todos n&sconcordamos >ue " isso >ue a gente efeti9amente 9* S& >ue o #osco9ich di< >ue " poss79elprescindir da part7cula. do tomo como part7cula de mat"ria* Ou se+a. >ue 9oc pode passarsem isso na cincia e faue se 9oc decompor o tomo. 9oc n2o tem mat"ria*ProfessorK B isso mesmo* Voc n2o precisa de ase material. 9oc n2o precisa de uma aseatmica material onde uma for1a se e:pressa* B poss79el 9oc traalhar com a no12o de for1ae de campo de for1a sem ase material* 8 o >ue " pior. di< ;ietue o 9erdadeiro fisi&logo " a>uele >ue 9ai encontrar a alma na ponta doisturi. " na 9erdade uma oagem superficiali

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    permanncia da alma* B e:atamente o >ue o te:to 9ai nos mostrar a>ui* A denncia de#osco9ich " a >ue desestailiue esta9a mais firme em termos de cren1aH ;ietui do materialismo do s"culo 0 * Muer diuilo >ue era e:atamente a ordem dodia no mundo da cincia* 0sso sim era firme. fi:o. todos esta9am de acordo a respeito da cr7ticado racionalismo espiritualista. esta9am todos mais ou menos de acordo >ue o materialismoH eraa hip&tese cient7fica em 9oga e #osco9ich 9em e diue " o maior atentadoL Por>ue " feito de dentro da cincia*

    D $as " preciso ir mais al"m no entanto. e declarar a guerra. uma impiedosa guerra de faca.tam"m F Nnecessidade atomistaN. a >ual continua sore9i9endo de maneira perigosa emterrenos onde ningu"m a suspeitar. analogamente. como sore9i9e a>uela Nnecessidademetaf7sicaN mais famosa ainda*

    ;ietui a pala9ra Nnecessidade atomistaN e Nnecessidade metaf7sicaN. entreaspas. e eu 9ou tentar diue* 8m primeiro lugar. por>ue a e:press2o Nnecessidademetaf7sicaN. " uma e:press2o de SchopenhauerH e " uma e:press2o pela >ual Schopenhauerdiue a metaf7sica corresponde a uma esp"cie de impulso natural do homem. >ue "naturalmente le9ado a faue em 9irtude da sua pr&pria natureue de encantamento ou de congelamento dointelectoH ou se+a. 9oc fa< metaf7sica. 9oc tem uma necessidade metaf7sicaH ent2o. 9oce:plica a e:istncia da metaf7sica em fun12o de uma necessidade >ue + supIe a pr&priametaf7sica* 8 a>ui ele diue ">ue a metaf7sica e:iste* Vale diue o homem ocidental fala comofala. tem a linguagem >ue temH e esta linguagem. a estrutura l&gicoDgramatical dessalinguagem. engendra. indu< a certas teorias como o atomismo*

    Primeiro o termo. h >ue acaar tam"m com a>uele outro e mais funesto atomismo. >ue ocristianismo melhor e mais prolongadamente ensinou. o atomismo an7mico* PermitaDmedesignar com essa e:press2o a>uela cren1a >ue concee a alma como algo indestrut79el.eterno. in9enc79el. como uma mnada. como um tomoK essa cren1a de9emos e:pulsDla dacinciaT

    ;ietui um paralelismo entre o atomismo materialista e o atomismo an7mico*

    8le tenta mostrar como a cren1a na imortalidade da alma " uma esp"cie de atomismo.entendida a>ui a alma como algo nico. unitrio. eterno. indestrut79el. como uma mnadaH ora.a e:press2o mnada. " e:atamente caracter7stica do 9ocaulrio leini

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    preconceito materialista. de pretender transformar a alma em uma unidade atmica materialHsignifica renunciar a pretens2o. por e:emplo. de encontrar a alma na ponta do isturi* Ou se+a.significa renunciar simplesmente a id"ia de se manter congelado. fi:ado na oposi12o entreesp7rito e mat"ria* Vale diue a id"ia mesmo de tomo. " id"ia de

    uma sust=ncia nica e irredut79el* B precisamente isso >ue constitui o sustrato da id"ia dealma* ;esse sentido. o materialismo " t2o metaf7sico >uanto espiritualismo* 8 " por isso >uepode ;ietue traalha9a oespiritualismo* 8nt2o. faui est um dos pontos centrais do pensamento de ;ietue resulta dacomposi12o da organiuilo >ue mais ilustra a alma. " o corpoH por>ue o corpo" precisamente unidade de organiue " em apropriada a>uiK a hip&tese " >ue determinados tipos de antrop&idesdesen9ol9eram um 9olume cereral muito maior. o >ual foi desen9ol9ido sem consumoadicional de energia* 8nt2o era um mist"rio ine:plic9el como sem aumentar o ingresso deenergia tinha podido se desen9ol9er em determinadas esp"cies de antrop&ides. em especial nohomoerectus. o 9olume da massa cereralH e a hip&tese a >ue chegou esse cientistarecentemente " de isso se deu em fun12o da diminui12o dos intestinos. aliada a uma esp"cieparticular de dieta ligada ao campo de 9is2o possiilitado pela postura ereta* Ou se+a. o homemdei:ando de ter uma alimenta12o fundamentalmente feita a ase de 9egetais. n2o precisa9amais de c=maras de fermenta12o no intestinoH com isso o intestino pde encolher. diminuir epoupar uma energia >ue foi apro9eitada para o aumento da massa cereral*PerceemL 0sso significa a alma com pluralidade de su+eitos* A alma entendida a>ui em nessesentido a >ue o ;ietui para >ue isso funcione*PerguntaK ;ietue n2o e:iste diferen1aentre alma e corpoLProfessorK ;2o* A alma " o corpo. mas n2o " o corpo en>uanto 9olume de mat"ria. " o corpo

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    en>uanto grande raui como esse princ7pio de organiue mant"m permanentemente em oposi12o. mas reunido cada c"lula do tecidocorporal e o tecido corporal no seu con+unto* Agora. 9e+am. isso n2o significa asolutamentenada mondico. posto >ue esta organiue eu dei o e:emplo do c"rero e do intestinoH >uerdiue 9ocs prestem aten12o na presen1a do psic&logo a>ui. especialmente do no9opsic&logo* O pargrafo. um pouco mais adiante. o !3. 9ai tratar e:atamente da psicologia comocaminho >ue condu< aos prolemas fundamentais. mas s& >ue n&s n2o 9amos entrar por a>ui*

    O no9o psic&logo. ao pr um fim F supersti12o >ue at" agora prolifera9a como umafrondosidade >uase tropical em torno da representa12o da alma. se desterrou a si mesmo.desde logo. por assim diue os psic&logos antigos 9i9essem de modo mais cmodo e mais di9ertido. mas emdefiniti9o. a>uele se sae condenado caalmente por isto. tam"m. a>ui. a in9entar D e >uemsaeL. acaso a encontrar*

    A>ui " um +ogo de pala9ras >uase imposs79el de ser 9ertido para o portugus entre dois 9erosalem2es. um deles 8rfinden. e outro %inden* 8rfinden significa in9entar. %inden encontrar*8rfinden " um 9ero constru7do a partir do mesmo radical %inden. s& >ue acrescido de umprefi:o >ue refor1a. no sentido desse encontrar 8rfinden. " in9entar e n2o encontrar* ;ietui. 'isso eu acho fundamental nesse te:to). sustituir um erro dasrepresenta1Ies tradicionais ou das psicologias antigas da alma. por algo >ue fosse

    o+eti9amente 9erdadeiro. ou se 9ocs >uiserem. ontologicamente 9erdadeiro acerca da alma.ele est a>ui sustituindo uma in9en12o por outra in9en12o* Ou se+a. " trocar a in9en12otradicional da alma pensada como unidade sustancial. pela in9en12o de uma outrarepresenta12o da alma pensada como sociedade ou estrutura social dos impulsos e dos afetos*PerguntaK 8 o >ue tem a 9er o no9o psic&logoLProfessorK 8nt2o. o no9o psic&logo " e:atamente a>uele >ue ao in9entar uma no9arepresenta12o. pode tal9e< encontrar alguma coisa* Ou se+a. " a>uele para >uem tal9e< n2oe:ista mais diferen1a entre in9entar e encontrar* Ou se+a. a>uele para >uem 8rfinden e %indens2o mo9imentos >ue se d2o no mesmo n79el* Ou se+a. " muito poss79el >ue ao in9entar umano9a hip&tese sore a alma. isso possa ser9ir de meio au:iliar. ou de princ7pio heur7stico paraencontrar alguma coisa* 8 >ue essa no fundo " a fun12o das teorias cient7ficas* 8las s2oin9en1Ies >ue tal9e< tornem poss79el efeti9amente algum encontro*PerguntaK 0n9en12o no sentido de uma fantasia pro+eti9a por trsL

    ProfessorK 0sso* $as sendo de uma hip&tese de traalho. uma hip&tese regulati9a. ou oprinc7pio heur7stico mesmo* B isso >ue ele chama de o no9o psic&logo e por >ue o no9oLPor>ue o 9elho psic&logo " a>uele >ue continua preso na metaf7sica do po9o. ou se+a. nas

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    ilusIes da gramtica*ComentrioK Ou se+a. na 9erdade e na cincia*ProfessorK 0sso* Claro*PerguntaK 8nt2o. para ele. " a e:perincia e a 9i9ncia de cada indi97duo. >ue se estrutura coma 9ida do pr&prio indi97duo e n2o " mais a imaterialidade. a incorruptiilidade e a personalidade*%ragmentos P&stumos 'Pargrafo 4('!))

    ProfessorK 8:atamente* Alis. como um gancho imediato para isso >ue 9ocs est diue a gente passasse para a>ueles %ragmentos P&stumos. para um te:to. o fragmentode nmero '4()!* B um te:to de --5. contempor=neo desse >ue n&s estamos lendo a>ui* Bum te:to >ue ;ietue 9ocs n2o tm esse te:to emm2os* O te:to ". portanto. um te:to escrito entre agosto e setemro de --5. contempor=neodesse te:to >ue n&s estamos lendo a>ui*

    Ponto de partidaK do corpo e da fisiologiaK por >uL D ;&s otemos a correta representa12o daesp"cie de nossa unidade su+eti9a. a saer. como go9ernantes F testa de uma comunidade.n2o como XalmasY ou Xfor1as 9itaisYH do mesmo modo. da dependncia desses go9ernantes comrela12o aos go9ernados e Fs condi1Ies da hierar>uia e di9is2o do traalho como possiilita12osimultaneamente das singularidades e do todo*

    6m te:to comple:o. mas asolutamente essencial para a>uilo >ue nos interessa* O >uesignifica tomar como ponto de partida o corpo e a fisiologiaLRespostaK A grande raue. na 9erdade. " uma culmin=ncia emrela12o ao antigo ou a uma antiga tradi12o. de despreuilo >ue foi negado por @escartes e pelo mo9imento todo da filosofiaidealista*ComentrioK PodeDse chamar assimK Neu tenho um corpoN*ProfessorK ;2o. N8u sou um corpoN*ComentrioK N8u tenho um corpoN. + parte do princ7pio >ue 9oc " antes do corpo. estpensando*ComentrioK tem su+eito e o+eto*ProfessorK B isso mesmo* Ou se+a. Neu tenho um corpoN. rigorosamente em termo nietuem pensa primeiro " o corpo. pois " ele >ue di< primeiro Nestoucom fomeN. Nestou com sedeN***ProfessorK Claro* 8le pensa sem >ue 9oc saia*** >ue ele est pensando*PerguntaK 8le fa< filosofiaL ***ProfessorK Claro* Alis. a frase do ;ietue tm >uadros depressi9os >ue negam partedo seu corpo***ProfessorK O grande mal entendido sore o corpo le9a e:atamente a issoK as formas maispatol&gicas. mais agudamente patol&gicas da psicopatia* #om. ent2o. dei:a eu 9er se euconsigo desmontar ainda mais essa frase* Ora. por >ue " mais importante partir do corpo e dafisiologiaL Por>ue " e:atamente por meio do corpo >ue n&s temos uma correta representa12o

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    da esp"cie da nossa unidade su+eti9aH ou se+a. n&s somos su+eitos. temos a unidade dasu+eti9idade. n2o so a forma da unidade sustancial da alma. mas e:atamente como umaesp"cie de go9erno. ou se+a. de estrutura social* Ora. o >ue " necessrio para >ue ha+ago9ernoL B necessrio >ue ha+a uma rela12o hierr>uica em >ue h go9ernantes ego9ernados* Ora. para >ue possa funcionar uma unidade de organiue uma esp"cie deespecifica12o do princ7pio da di9is2o do traalho*PerguntaK O oposto de Plat2oLProfessorK Claro* 8nt2o. a id"ia nietui " a id"ia de >ue a conscincia " ogo9ernante. de >ue a conscincia " a fun12o ps7>uica mais ele9ada. mas precisamente umafun12o* Ou se+a. uma fun12o dirigente. uma fun12o de dire12o e de tra1ar diretriuico em rela12o a di9is2odo traalho e aos outros elementos da organiuia das for1as. da hierar>uia das fun1Ies e da di9is2o dotraalho*8nt2o. " isto >ue torna poss79el. numa unidade de organiue o todo* Para 9oltar ao nosso e:emplo do homoerectus. algo assim como ocorpo do homoerectus. s& " poss79el so a perspecti9a deste concurso simult=neo ecompetiti9o dos diferentes &rg2os e das diferentes fun1Ies em fun12o da especifica12o de umahierar>uia dessas fun1IesH hierar>uia essa na >ual. por e:emplo. o c"rero le9ou 9antagem*ComentrioK $as se o resto deai:o n2o funcionar. nem >ue se+a um em particular. nem o

    c"rero l em cima funciona* 8nt2o. ele depende do resto* 8 um n2o " mais importante do >ueo outro***ProfessorK 8:atamente* 8sta correla12o comple:a de for1as >ue torna poss79el no interior deuma determinada unidade. de uma unidade espec7fica de organiuanto o funcionamento do con+untoorganiui " o sentido de mostrar >ue numadeterminada unidade de organiue a gente pode 9ersore prismas diferentes dependendo da organiuiser. algumas* 8u creio >ue n&s n2o poderemos terminar ae:posi12o desse te:to ho+e. o >ue lamento muito. mas*** 8u acho melhor >ue a gente. tal9euestIes. "prefer79el do >ue a gente passar em sore9o o te:to. de certa forma. comple:o como " esse

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    te:to a>ui* 8nt2o. eu pediria a 9ocs. por fa9or. >ue no nosso pr&:imo encontro. acho >ue "da>ui a 5 dias. se n2o me engano. n&s retornssemos a este te:to. e >ue 9ocs o lessem at"l*

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    5 AULAS SOBRE NIETZSCHE

    2 aula

    Oswaldo Giacia Jnior

    IFCH/UNICAMP

    %ragmentos P&stumos 'Pargrafo 4('!)) 'Cont*)Se eu n2o me engano. n&s n2o t7nhamos terminado a leitura desse fragmento* 8stou na pginano9e*

    NPonto de partidaK do corpo e da fisiologiaK por >uL ;&s otemos a correta representa12o daesp"cie de nossa unidade su+eti9a. a saer. como go9ernantes F testa de uma comunidade.n2o como XalmasY ou Xfor1as 9itaisYH do mesmo modo. da dependncia desses go9ernantes comrela12o aos go9ernados e Fs condi1Ies da hierar>uia e di9is2o do traalho como possiilita12osimultaneamente das singularidades e do todo*N

    Muer diui " precisamente o corpo sendo tomado como ponto de partida. isto". o corpo fornecendo o modelo propriamente da unidade do su+eito* 8nt2o. imagino >ue de9emestar suficientemente recordados disso. >ue tanto para @escartes >uanto para Eant. o ponto departida era a unidade da conscincia entendida como intelecto. en>uanto >ue. precisamentepara a toda a tradi12o da metaf7sica. da psicologia racional. esses atriutos D simplicidade.unidade e imaterialidade D era precisamente a>ueles >ue caracteriue o ponto de partida >ue ;ietui representa umain9ers2o da metaf7sica tradicional* ;2o se trata de unidadeH pelo contrrio. trataDse demultiplicidadeH n2o se trata de imaterialidade. ou se 9ocs >uiserem. espiritualidade. pelocontrrio. trataDse da f7sica. da >uest2o f7sica do corpo* 8nt2o. o corpo " tomado na suamaterialidade. na sua multiplicidade constituti9a e em especial na sua comple:idade* 8nt2o.s2o as imagens. a fisiologia entendida como organiue essa frase >uer diuia e di9is2o de traalho. possiilita12o simult=nea das partes e dotodoH ent2o. da mesma maneira como 9oc tem o corpo. a cae1a e os memros. e a cae1atem uma fun12o diretora em rala12o ao restante do corpo. a fun12o de determinar a orienta12ogeral. por e:emplo. o sentido da ati9idade do corpo. da mesma forma um go9ernante tra1a o

    regime do go9erno* Por"m. isso n2o significa diue o go9ernante ou a cae1a se+a poss79elautar>uicamente. ela " na 9erdade definida pela sua fun12o no interior dessa organiue ela cumpre " dependente dotodo. e o todo " garantido precisamente pela di9is2o do traalho* Ou se+a. assim como numasociedade 9oc tem o go9ernanteH esse go9ernante " respons9el pela manuten12o e peloprogresso da comunidade. mas esse go9ernante n2o poderia asolutamente nada sem a>uelesa >uem ele go9erna. >ue por sua 9e< tam"m se eneficiam das diretriue ;ietue " a unidade su+eti9a* 8nt2o. acae1a seria a conscincia* Ve+a. a conscincia " metaforicamente e:pressa como umaesp"cie de go9ernante dentro de um estadoH ele go9erna. tra1a dire12o. d as pautas maisgerais da 9ida em comum. mas e9identemente n2o " onipotente* 8sse go9erno " garantidoprecisamente pelas di9ersas alian1as >ue s2o mantidas dentro do todo estado* @a mesmaforma como a conscincia n2o " onipotente em rela12o ao restante da 9ida corporal*

    N@o mesmo modo. como as unidades 9i9entes D 'por unidades 9i9entes entendam a>uisimplesmente organismos) D permanentemente surgem e morrem e como ao Xsu+eitoY n2o

    '+

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    pertence eternidadeH de >ue tam"m no oedecer e comandar se e:pressa o comate e de>ue F 9ida pertence um camiante determinar fronteiras de poder*N

    Ou se+a. a unidade do su+eito " semelhante F unidade de >ual>uer organismo* 8ntre osdiferentes &rg2o e as diferentes fun1Ies e:iste uma permanente tens2o. e essa tens2o fa< com>ue as fronteiras do poder. >uer diue os diferentes a+ustes no interior de cada

    unidade org=nica 9arie permanentemente* ;ada " estailiue setrate de uma unidade 9i9ente. ou se+a. de um organismo*PerguntaK Assim como tam"m n2o " sempre a conscincia >ue 9ai estar com apredomin=nciaLProfessorK O9iamente* O mais importante do te:to " a partir deste pontoK

    NPertence Fs condi1Ies segundo as >uais pode ha9er go9erno certa incerteue ogo9ernante de9e ser mantido a respeito das disposi1Ies particulares e at" das pertura1Ies dacomunidade*N

    O >ue ;ietue a unidade su+eti9a. pensada segundo o modelo do corpo. possa e:istir "necessrio >ue a conscincia ignore determinadas pertura1Ies dos demais &rg2os >uecompIem essa mesma unidade comple:a* Ou se+a. para >ue a conscincia possa manter efauadamente a sua fun12o direti9a " preciso uma certa ignor=nciaH com acompleta transparncia ou com a conscincia asolutamente onisciente muito pro9a9elmenten2o ha9eria possiilidade de >ue pudesse e:ercer ade>uadamente a sua fun12o*ComentrioK O >ue acontece num indi97duo hipocondr7aco*

    ProfessorK B +ustamente isso* Ou se+a. uma certa ignor=ncia de ase " condi12o fundamentaldo e:erc7cio otimiue tem partes >ueescapamLComentrioK 8 funciona automaticamente* O hipocondr7aco >uer ter o controle de tudo* 8le>uer dar conta conscientemente de todas as fun1Ies dos &rg2os *** se uma coisa escapa. ele>uer saer por>u. pois ele n2o confia >ue o cora12o funciona automaticamente. >ue ointestino funciona***ProfessorK 0sso mesmo* ;&s 9amos 9er isso de modo preciso em rela12o a esse te:to >ue eutraduue isso da>ui " uma coisa assim e:traordinariamentediferente da posi12o iluminista tradicional. >ue +ustamente aposta9a o m:imo poss79el nacompleta transparncia da conscincia*ComentrioK Como se a conscincia ti9esse a total hegemoniaT***

    ProfessorK 8:atamente* Muanto. na 9erdade. esse ideal de completa transparncia " ele pr&prioposto como uma figura da ilus2oL A conscincia tem a ilus2o dessa onipotncia. mas essaonipotncia " +ustamente ilus&ria* Por >uL Por>ue a condi12o para >ue a conscincia possase e:ercitar " essa ignor=ncia >ue ter de ser mantida a respeito do funcionamento geral docorpo. asicamente*

    N8m resumoK otemos uma aprecia12o tam"m para o n2oDsaer. o 9er por alto. o simplificar. ofalsear. o perspecti9o* O mais importante. por"m "K >ue n&s entendemos o comandante e seussualternos como sendo de idntica esp"cie. todos sens79eis. 9oliti9os. pensantes e >ue portoda a parte onde 9emos ou adi9inhamos mo9imento no corpo. n&s aprendemos a XinferirY uma9ida complementar. su+eti9a e in9is79el* $o9imento " uma sim&lica para o olhoH ele indica >uealgo foi sentido. >uerido. pensado*N

    Ve+am. o mais importante neste te:to a>ui. com essa metfora do go9ernante e o go9ernado.ele est. no fundo. se referindo F famosa oposi12o entre impulsos. afeto. pai:Ies.

    '

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    racionalidade. inteligncia. conscincia. ou se+a. ele est se referindo F diferen1a. F di9ersidadeda 9ida ps7>uica* Por"m. >uando ele est diue o mais importante " >ue o comandante.D isto ". a conscincia. a rauilo >ue n&s costumeiramente identificamos com oracional " tam"m impulsi9o. sensiti9o. 9oliti9o. ou se+a. >ue na 9erdade a racionalidade "apenas uma transforma12o de um material pulsional. e >ue o pr&prio material pulsional. afeti9o.

    etc " tam"m pensante* Ou se+a. e:iste um componente de pensamento nos impulsos assimcomo e:iste um componente pulsional no pensamento* B precisamente isso >ue o corpoe:pressa. ou melhor. dito de outra maneira. " e:atamente isso >ue o corpo constitui comounidade* A unidade desta acomoda12o. desse arran+o. desse a+ustamento entre os diferentescomponentes da 9ida. tanto da 9ida somtica. >uanto da 9ida ps7>uica*ComentrioK O >ue eini< chama de mnadas*ProfessorK 0sso* Vindo da tradi12o leinitu79oco da mesma natureue o e>u79oco cartesiano da almasustancial ou da unidade originria Uantiana da apercep12o*PerguntaK B poss79el o senhor repetirLProfessorK Sim* O @ornelis se refere F mnada leinitue " a mnadaL A mnada " o

    tomo. a unidade m7nima. a unidade elementar >ue cont"m nela mesma todo o uni9ersoH amnada " para eini< tanto apetitus. impulso. >uanto percep12o* O uni9erso " composto demnadas* Cada mnada cont"m. ela pr&pria. na sua radical singularidade. o uni9ersocondensado* Ora. precisamente por>ue. para ;ietuena raue 9oc estdiue o >ue ;ietuerendo passar a>ui " >ue o corpo fornece uma indica12odo tipo de su+eito >ue n&s somos. na medida em >ue esse su+eito >ue o corpo ". " constitu7do apartir de mltiplos centros de for1a*ComentrioK %ica mais fcil pensar isso de um ponto de 9ista +unguiano. por>ue para ung.todas as partes s2o instintos. todos est2o numa fonte comum. cada um tem a suacaracter7stica. mas " sempre o mesmo*ProfessorK Para ;ietue n2o h dissocia12o. " sempre o mesmo elemento. se 9oc>uiser. a mesma materialidade do impulso >ue se ramifica. >ue se di9ersifica indefinidamente.infinitamenteH ent2o. ele se sulima como espiritualidade. mas ele se realiue 9oc est diue constitui a unidade do ser 9i9o. entendido como organismo* 8o curioso " >ue isto " e:presso em termos de mo9imento do corpo* 8nt2o. a id"ia domo9imento como sim&lica para o olho. a id"ia de uma esp"cie de semi&tica ou semiologia.como sendo precisamente a maneira de interpretar a>uilo >ue se passa a n79el dessa grandeunidade su+eti9a >ue " o corpo* Ou se+a. em todo o lugar >ue h mo9imento no corpo "

    preciso interpretar. " preciso descorir a>uilo >ue " >uerido. pensado. sentido*

    '-

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    NO >uestionar direto do su+eito sore o su+eito e toda a autoDrefle:2o do esp7rito tem a>ui osseus perigosK >ue o interpretarDse falsamente poderia ser til e importante para a suaati9idade*N

    8ssa id"ia da autoDrefle:2o D lemremDse de Eant na Cr7tica da Raue ;ietue est sendo posto. a>ui. definiti9amente em >uest2o* Valediue eu n2o sei se dariapara acompanhar 9oc e diue ;ietue isso tem de e:istir. mas " compreens79el >ue issoe:ista*ComentrioK %a< parte do mundo*ProfessorK 8:atamente* Ou se+a. fa< parte deste +ogo a>ui* B compreens79el >ue e:ista e "compreens79el >ue e:ista com tanta fre>ncia* 8 tem mais um outro ponto >ue ainda " maisterr79el >ue isso. >ue " o seguinteK " ilus2o pensar >ue 9oc pode acaar com isso facilmente.

    ou se+a. a>ui h uma denncia do otimismo de todas as formas de ilustra12o. ou se+a. destacren1a na onipotncia da conscincia*Alis. se 9ocs >uiserem. isto a>ui est tecido em grande medida no $al 8star na Cultura. de%reud* Se 9ocs est2o em lemrados do te:to sore o $al 8star n2o a Cultura. >uando %reudest +ustamente >uestionando a id"ia de >ue uma organiue ele di< assimK Npoderia ser til eimportanteN. ent2o. se " importante de9e e:istir*ProfessorK Vou usar um e:emplo grosseiroK imagina se 9oc ti9esse >ue acompanhar pelaconscincia cada mo9imento da tua circula12o sang7nea. por e:emplo* Para >ue aconscincia possa e:ercer fun1Ies ps7>uicas superiores " preciso >ue eu n2o tenha >ue mepreocupar com o metaolismo f7sico* B preciso. portanto. >ue a ignor=ncia a esse respeito se+acondi12o pr"9ia para >ue a conscincia possa precisamente ser conscincia. possa se e:ercer

    (/

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    como intelecto* A ignor=ncia n2o " pura negati9idade. " uma condi12o para >ue possa ha9erdiferencia12o das fun1Ies ps7>uicas*ComentrioK 8 a7 tem a >uest2o >ue >uanto mais conscincia. mais responsailidade ter7amos*ProfessorK 0sso* ;o limite. isso " um tema schopenhauriano. a conscincia total. a conscinciaasoluta mata* Muer diuestionamos o corpo e recusamos o testemunho dos sentidos agu1adosK N

    A>ui " uma frase francamente pro9ocati9a. Ntestemunho dos sentidos agu1adosN " literalmenteKa conscincia. a racionalidade. o intelecto* O intelecto " simplesmente um sentido maisagu1ado >ue os outros* 8 agora essa frase terr79el. tal9e< uma das rauais;ietuer assim. se os pr&prios suordinados n2o podem entrar emcontato conoscoN*

    PerguntaK B uma pergunta ou n2oLProfessorK ;2o* B uma id"ia lan1ada. " efeti9amente uma frase programtica* O >ue n&s>ueremos " dei:ar de faue " dito. sen2o um eu >ue " produue ele est >uerendo diui " >ue esta unidade do eu >ue se funda na l&gica e nagramtica " unidade astrata. " a unidade >ue decorre da simples fun12o gramaticalH en>uanto>ue a unidade do eu >ue se realiue sed a partir de uma multiplicidade >ue " sempre mut9el*

    %ragmento P&stumo de +unho,+ulho de --5. 3-')Vamos tomar o te:to >ue passei para 9ocs por>ue eu >ueria e:plorar um pou>uinho maisesse ponto antes de passarmos para um outro*

    NO pensamento na forma em >ue acorre. " um signo e>u79oco. >ue carece de interpreta12oHmais precisamente. de um estreitamento e limita12o. at" >ue finalmente se torne ine>u79oco*8le emerge em mim D de ondeL por meio do >ueL ;2o sei* 8le ad9"m. independentemente deminha 9ontade. com fre>ncia en9olto e ensomrecido por uma multid2o de sentimentos.dese+os. a9ersIes. tam"m de outros pensamentos. com suficiente fre>ncia >uaseindiferenci9el de um X>uererY ou XsentirY* ;&s o retiramos dessa multid2o. limpamoDlo.colocamoDlo sore os pr&prios p"s. 9emos como se mant"m em p". como caminha* ?udo issonum surpreendente presto e. contudo. totalmente sem o sentimento de pressaK >uem fa< issotudo. D n2o o sei e seguramente sou mais espectador >ue autor desse processo*N

    (

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    ?rataDse a>ui de uma anlise do pensamento e de uma prolematiue 9ocs acham >ue " esse eu do pensamentoLRespostaK ;o meu modo de entender " a grande raueautor* Perceem como o te:to " um te:to cheio de parado:osL A>ui um eu " o eu do discursoH

    este eu >ue aparentemente " o ncleo da su+eti9idade. >ue de9eria ser o autor desseprocesso. de9eria ser o eu >ue pensa. mas >ue " muito mais espectador do >ue autor doprocesso todo* A>ui " uma outra maneira de prolematiuena raue ocupa o ncleo da su+eti9idade. isto ". oeu da conscincia. n2o " o autor do processo. ele ". no m:imo. espectador do processo*Muem ". ent2o. o euL Muem fa< isso* A7 a resposta "K eu n2o sei* 8 este eu n2o pode saer.+ustamente por>ue ele n2o " o autor*ComentrioK O ung tem uma metfora tal9eue o pensamento " como os animais nafloresta. ele aparece e desaparece >uando lhe d nas 9entas. e o eu n2o pode seresponsailiuenos animais sel9agens* 8les n2o tm l&gica na sua apari12o*ProfessorK $as. o processo " o mesmo a>ui* Muem " >ue fa< isso tudoL Por >ue 9em esse en2o outroL 8u n2o sei* Sei >ue tudo isso acontece. ou se+a. >ue o pensamento >ue 9em nessa

    forma 9em acompanhado de uma multid2o de outros atos. de outros elementos. de outrossentimentos. a9ersIes. inclina1Ies *** >ue eu limpo *** mais ou menos como uma crian1arec"mDnascida >ue 9oc a la9a. enfim. coloca em ordem. mas todo esse processo n2o " geridosoerana e autar>uicamente pela conscincia*PerguntaK $as o eu da conscincia teria a fun12o organiual h um +uiuiri12o de testemunha.

    de >ue me " permitido ou9ir um pouco. D na 9erdade apenas um poucoK a maior parte. ao >ueparece. me escapa*N

    A>ui a compara12o " uma compara12o com outros >uadros clssicos do pensar como triunale um dos mais famosos triunais " do Eant como triunal da rauiri12o de testemunhas. eu >uero saer >ual dos dois tm raue eu estou diue " o imag"tico datradi12o e aparentemente " uma referncia de concord=ncia com a tradi12o. mas a>ui h umacoloca12o. em parte. irnica por>ue. na 9erdade. o mais importante Nme escapaN*PerguntaK Por isso " in+usto. n2oL Por>ue esse conceito de +usti1a no ;ietue " fundamentalK eu sei pouca coisa do processo. eu ou1oum pouco s&. a testemunha >ue est sendo in>uirida. eu n2o ou1o todo o depoimento dela. eun2o posso ou9ir o todo. eu s& sei parte do processo. n2o a totalidade***

    ND Mue todo pensamento. primeiramente. ad9enha e>u79oco e flutuante e. em si mesmo.apenas como moti9o para tentati9a de interpreta12o ou para a aritrria estailiue emtodo pensar uma multiplicidade de pessoas pare1a tomar parte DK isso n2o ". de modo algum.fcil de oser9ar. no fundo. somos mais aptos no contrrio. isto ". em n2o pensar. ao pensar.no pensar*N

    Perceem >ue a id"ia da multiplicidade. da unidade de organi

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    e:iste uma unidade. n2o e:iste a simplicidade do pensamento. cada ato do pensamento + "uma pluralidade de pensamentos. de sentimentos. de inclina1Ies. de a9ersIes. etc*. e cada umdeles e:ige o seu pr&prio ponto de 9ista* B essa a id"ia do triunal* 8nt2o. >uando n&spensamos. +ustamente por>ue n&s >uando pensamos n2o pensamos no pensar. n&s temos aid"ia e>u79oca. errnea. simplificadora da unidade. >uando na 9erdade o pensamento " amultiplicidade dessa pessoas. digamos assim* $ultiplicidade de pessoas >uer diuL A

    multiplicidade desses pontos de 9ista em >ue os mais di9ersos elementos ps7>uicos esomticos >ue est2o em +ogo em cada ato do pensamento* Ou se+a. cada ato do pensamentode >ue n&s tomamos conscincia " o resultado desta longa disputa +udicial em >ue uma parteacaa triunfando sore a outra* $as o triunfo de uma parte sore a outra n2o significa >ueessas partes n2o tenham tomado parte no processo. +ustamente o contrrio disso. significa >ueeste pensamento >ue eu tenho neste momento " s& o resultado dessa atalha. dessa disputa+udicial*PerguntaK Como " >ue ficaria nisso a >uest2o. assim. das pessoas >ue tm id"ia de outropensamento >ue s2o os del7rios. imposi12o do pensamentoLProfessorK B. isso " engra1adoH eu penso >ue isso seria certamente um elemento interessantepara se discutir e ao mesmo tempo em >ue eu acho >ue a id"ia do pensamento emergente Fconscincia. n2o como dado imediato. mas +ustamente como resultado dessa confronta12oentre diferentes pontos de 9ista coloca >uestIes da ordem. por e:emplo. de >ue >ual>uer ato

    da conscincia. >ual>uer contedo da conscincia sempre se coloca sore essa perspecti9a datens2o. do emate. do afrontamento e a conscincia s& recore a camada mais superficial.mais e:terior dissoH ou se+a. ela s& tem acesso aos lances finais desse processo todo*PerguntaK 8la est falando do rouo de pensamento. para mim fica assim. >ue h uma rupturaentre esse organismo e os outros num psic&tico* Muer diuestrar* 8nt2o. fica a d9ida de >uemrouou*** 8stou lemrando do ang >uando ele coloca essa coisa da ruptura do eu. >uer diual>uer neste eu >ue haita o ncleo daconscincia " poss79el >ue essa disputa +udicial n2o possa ser le9ada a om termo* 8ntendeuLComo 9oc n2o tem o +uiue e:iste interna entre Nas 9rias pessoas >ue opinamN e >ue n&snaturalmente n2o temos acesso e a pessoa >ue adoece tem* Via de regra n&s n2o nosocupamos dessa riga***ProfessorK @esculpa eu estar apro9eitando o seu e:emplo. " >ue ele " t2o om a>ui. a genten2o tem acesso e nem pode ter se n2o >uiser adoecer* 8sse " o prolema do ;ietuest2o. >ue caiu de colher. eu estou fascinada com esteli9ro. eu + te falei >ue eu adorei. recomendo 9i9amente por>ue realmente " uma mara9ilha.mas ele coloca uma coisa em rela12o ao Qaermas >ue eu fi>uei assim parada* 8le pergunta o>ue " a conscinciaL Como " o &rg2o da 9erdade. isso na tradi12o. ela " poesia* A7 ele remetepara uma nota de rodap"* Olha a>ui o >ue ele fala do Qaermas por>ue tenho ou n2o >ue ficarlouco afinalL 8 pegando essa >uest2o. ele di< o seguinteK

    N8sta passagem ao est"tico " um ato de desespero. por"m significa uma rea12o e uma cr7tica

    F raue n2o poderia ser mais imanente* Ou >ue nome dar. >uando a raual ela n2o poderia ser raue ele 9 " o ponto de 9ista est"tico e n2o uma cr7tica imanente da pr&priaraue ele est di

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    faue se 9oc oti9esse o acesso completo a essa disputa. digamos assim. se aconscincia pudesse acessar 9oc n2o teria unidade mais da conscincia*ComentrioK $as " a nica forma de 9oc perceer o funcionamento*ProfessorK Claro. radicalmente* Sem d9ida*ComentrioK 8nt2o. se 9oc n2o tem essa e:perincia 9oc n2o pode perceer*** o Qaermasn2o pde perceer*ProfessorK Sem d9ida* ;o caso do ;ietue o ?rcUe insiste mais a7 " >ue n2o se