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CARAMUJOS INVADEM A MARÉ 4 4 4 ELEIÇÕES: SINÔNIMO DE DESESPERANÇA 14 14 14 14 14 SAÚDE: DERRAME MATA 19 19 19 19 19 OFICINA DE DANÇA DÁ SHOW NO CEASM 9 9 9 RIO DE JANEIRO ANO VIII Nº45 JUNHO/JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2006 Mas que tristeza! Mas que tristeza! E agora, eleições! E agora, eleições!

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Jornal comunitario da Maré Rio de Janeiro, Brasil.

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Page 1: Document45

1O Cidadão

CARAMUJOSINVADEM AMARÉ44444

ELEIÇÕES:SINÔNIMO DEDESESPERANÇA1414141414

SAÚDE:DERRAMEMATA1919191919

OFICINA DEDANÇA DÁ SHOWNO CEASM99999

RIO DE JANEIRO ANO VIII Nº45JUNHO/JULHO/AGOSTO/SETEMBRO 2006

Mas que

tristeza!

Mas que

tristeza!

E agora, eleições!E agora, eleições!

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2 O Cidadão

O Cidadão é uma publicação do CEASMCentro de Estudos e Ações Solidárias da Maré

Sede Timbau: Praça dosCaetés, 7 - Morro do TimbauTelefones: 2561-4604

Sede Nova Holanda:Rua Sargento Silva Nunes,1.012 - Nova HolandaTelefone: 2561-4965

Conselho InstitucionalAntonio Carlos Vieira • Cláudia Rose Ribeiro

Edson Diniz • Eliana S. SilvaJailson de Souza • Léa Sousa da Silva

Lourenço Cezar • Maristela KlemCoordenadora: Rosilene Matos

Editora: Renata SouzaCoordenadores de Edição:

Flávia Oliveira • Aydano André MottaCoordenadora de Reportagem: Carla Baiense

Administrador: Hélio EuclidesReportagem:

Renata Souza • Cristiane Barbalho • Ellen MatosHélio Euclides • Rosilene Matos • Silvana Sá

Gizele MartinsColaboraram nesta edição:

Observatório da Maré • Rede MemóriaJornalista Responsável:

Marlúcio Luna (Reg. 15774 Mtb) Ilustrações: Mayara e Jhenri

Publicidade: Elisiane AlcantaraProjeto Gráfico e Diagramação: José Carlos Bezerra

Assistente de Diagramação: Fabiana GomesCriação do Logotipo: Rosinaldo Lourenço

Foto de Capa: Hélio EuclidesRepórter Fotográfico: Cristiane Barbalho

Distribuição: Patrícia dos Santos (coordenadora)Charles Alves • Eliane Souza e Silva

Givanildo Nascimento da Silva • Marcele de AraújoJosé Diegos dos Santos • Maxwell Lima de Melo

Raimunda Nonato Canuto de SouzaFotolitos / Impressão: EdiouroTiragem: 20 mil exemplares

Correio eletrônico: [email protected]@yahoo.com.br

Página virtual: www.ceasm.org.br

CO Cidadão de cara nova

Ligue e anuncie!

3868-40073868-40073868-40073868-40073868-4007

aros mareenses, a edição 45 do jor-nal O CIDADÃO foi completamentereformulada para que você possa ter

mais prazer em lê-lo. Pedimos desculpas porter falhado em nossa periodicidade, pois en-frentamos graves problemas para viabilizar aprodução do jornal. Priorizando a qualidadede nossas matérias e resguardando a confian-ça depositada por nossos leitores, duranteeste período reorganizamos o jornal, para po-dermos apresentar O CIDADÃO de cara nova.

O colorido tomou conta de nossas pági-nas, que também receberam uma diagramaçãomais moderna e dinâmica para facilitar a sualeitura. Para diversão e entretenimento, umanova página, com palavras cruzadas e piadas.Esperamos que as mudanças sejam bem rece-bidas, porque tudo isso foi feito para você.

Esta edição traz matérias importantes,como a frustração do mareense com a Copado Mundo, que mostra a mobilização dosmoradores para enfeitar as ruas e assistir aosjogos com amigos e familiares. Nos dias daspartidas, o orgulho da nação estava estampa-

do no rosto e no corpo dos moradores daMaré, que se vestiram de verde e amarelo.Infelizmente, para ir às urnas em outubro, nãoencontramos a mesma emoção e disposição.Muito pelo contrário, encontramos pessoasdescrentes com a política e decepcionadascom o nosso primeiro governo popular apósa ditadura, administrado pelo presidente Lula.

Mas não podemos nos deixar abater, te-mos que votar com consciência e seriedade.O nosso voto não pode ser trocado por docu-mento de identidade, cortes de cabelo, peixese uniformes de futebol. Saiba que a nossa es-colha interfere diretamente nas políticas im-plantadas dentro das comunidades. É por issoque se devem conhecer as idéias e os progra-mas defendidos por cada candidato a presi-dente, a senador, a deputado federal, a depu-tado estadual e a governador.

Nesta edição há ainda matérias sobre onovo ponto cultural do bairro, o Museu daMaré, a hidroginástica da Vila Olímpica, oscuidados para prevenir o derrame e muito mais.Boa leitura e vote consciente!

ELES FAZEM O CIDADÃO

Parte da equipe do O CIDADÃO: Silvana, Renata, Rosilene, Ellen, Cristiane, Hélio, Carla e Gizele

CRISTIANE BARBALHO

EDITORIAL

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3O Cidadão

O Programa de Criança Petrobrasatende a diversas escolas públicas da Maré.

Promove oficinas e atividades que se tornamextensão da sala de aula.

Uma conquista dos moradores da Maré

A impressão deste Jornalfoi possível graças ao

apoio da

Rua Nova Jerusalém, 345

Bonsucesso

Tel: 3882-8200Fax: 2280-2432

O Instituto Telemarapoia o jornal

O Cidadão

cia. Vejamos uma lagarta: muitas vezes a critica-mos por comer as nossas plantas, mas, no fun-do, ela apenas se alimenta, realizando um ritualou uma contribuição ao meio ambiente. Apesardaquela pacata vida, ocorrerá uma transforma-ção. Ela pode até relutar, mas o que era apenasrastejante e de uma cor apenas entrará numcasulo, dando um tempo em tudo. E surgiráassim uma linda e colorida borboleta. Issopode ser algo romântico, mas é sim-plesmente um hábito,podendo ser corri-queiro. Contudo, éfantástico.

Isso também podeacontecer em nossa vida.Depois do nascer, vem oengatinhar, o andar, a ju-ventude, a vida adulta e oenvelhecer. São etapas quedevem ser obedecidas.Causam transtornos, masé algo necessário.

Vamos mais longe e fa-remos essa comparação com um jornal. As pes-soas mais antigas lembram de “O Globo”. Nosanos 80, era impossível imaginar aquele azul nologotipo do jornal. No início do milênio, “O Dia”

perdeu o amarelo “cheguei”, e recebeu a sua-vidade do azul e do vermelho. Mais recente-mente, o tradicional “Jornal do Brasil” reveloucerta graça, num tamanho menor. Essas sãomudanças gráficas, de veículos de comunica-ção impressa, que precisam acompanhar o tem-po e não cair na mesmice.

Com O CIDADÃO não foi diferente. Tive-mos que entrar num casulo, desde

abril, para uma reformulação total. Moderniza-ção foi uma palavra questionada, em torno daqual fizemos diversas discussões, envolven-

do a equipe, o Ceasm, a Ediouro e os leitores.Do nosso time, nasceu a vontade do profis-sionalismo. Do Ceasm, o desejo de melhorar asinstalações da redação e de aumentar o apoiopessoal. Da parceria com a Ediouro, um fortale-cimento maior a cada dia. Daí vem a novidadede um jornal dinâmico, com uma página dedica-da ao entretenimento, com a popular palavras

cruzadas “Coquetel”. Outro fato é ocolorido da borboleta, que aspáginas ganham, avivando asmatérias e dando um tom todo

especial aos anúncios. E, porfim, a união com os leitores, que

com competência escolheram anova logomarca de O CIDADÃO,revelando que o mareense parti-cipa de cada letra escrita nesseveículo de comunicação comu-nitária.

Esse é o novo O CIDA-DÃO, que agora, como uma bor-

boleta, deve voar até as flores, ouseja, num primeiro passo, continuar

cumprindo seu papel na comunicação, e como objetivo de manter a periodicidade bimestral.Não fugindo nunca da verdade e do interessedo nosso leitor. Obrigado pelo compromissode construir, através da leitura, o bairro Maré.

Hélio Euclides

A saga de ser umalagarta

natureza é sábia. Cada animal tem oseu papel, cada inseto, por mais es-tranho que seja, tem a sua importân-A

CRÔNICA

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4 O Cidadão

C

O alimento que virou doençaCaramujos considerados hospedeiros de doenças chegam à Maré

Caramujos africanos se reproduzem rapitamente em lugares com grande concentração de mato e umidade

CRISTIANE BARBALHO

Grupo de jovens recolhe os caramujos africanos que se alastraram pelos matagais da Vila Esperança

om sotaque francês, o escargot éconsiderado um prato requintadoe caro. Pensando no lucro, na

década de 80 o achatinafulica (nome científi-co do caramujo africano), que não é comestí-vel e pode ser hospedeiro intermediário devermes (nematódios), além de parasita defi-nitivo de animais domésticos e ratos, foi tra-zido para o Brasil. De acordo com a assisten-te social sanitarista do Posto de Saúde daVila do João Vera Joana, 57 anos, o caramujochegou na Maré em 2002, no Conjunto Es-perança. E estes moluscos, que a cada doismeses põem 200 ovos, se alastraram em es-paços com mato, perto de valões.

“Interessante é o tamanho dos cara-mujos africanos. A Prefeitura deveria to-mar uma atitude para acabar com eles. Atra-vesso o valão e posso contrair doençasgraves”, reclama o morador do ConjuntoPinheiro Carlos Reis, 32 anos. Opresidente da Associação deMoradores do ConjuntoPinheiro (AMACOVIPI),Alderley Júlio, diz quea Comlurb jogou sal.Já o ex-presidente daAssociação de Mora-dores da Vila do João(AMOVIJO) PauloGatelha, 51 anos, dizque encaminhou o pro-blema para a Defesa Civil(DC), mas ainda não obteveresposta.

De acordo com a Prefeitu-ra do Rio, a Defesa Civil

Municipal já vem dan-do orientação à popu-

lação desde 2004 enão recebeu ne-nhuma solicitaçãopara as comunida-des da Maré. Em2005, realizou pa-

lestra para os agen-tes de saúde do Pos-

to de Saúde da Vila doJoão, com material expli-

cativo para a orientação à po-

pulação local. Entretanto, afirma que nãorecolhe os moluscos, mas encaminhouamostras à Fiocruz para análise e não foiencontrado nenhum animal infectado na ci-dade.

A própria DC revela que o caramujoafricano pode transmitir uma doença co-nhecida como angiostrongilose abdominal,que ataca o intestino de pessoas e de ani-mais e produz sintomas parecidos com osda apendicite: dor abdominal, febre pro-longada, náusea, vômitos, diarréia e dorde cabeça. Para mais informações bastavisitar a página www.rio.rj.gov.br/defesacivil/caramujo ou ligar para 199.

Elimine os caramujosA Prefeitura recomenda os seguin-

tes passos:- Evitar manuseá-lo diretamente, prote-

gendo as mãos com luvas e/ou sacosplásticos, para evitar o contato domolusco com a pele

- Desidratá-lo através da colocação desal de cozinha ou sal grosso

- Queimá-lo- As cascas devem ser colocadas no lixo

doméstico para que a Comlurb reco-lha, já que uma casca vazia,com o acú-mulo de água da chuva, pode virar umcriadouro de mosquitos da dengue.

VERA JOANA

SERVIÇO

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5O Cidadão

Museu da Maré: um retorno ao passadoO espaço é inaugurado na Casa de Cultura com a presença do ministro Gilberto Gil

CRISTIANE BARBALHO

Na inauguração do museu, alunos da Oficina de Maracatú posam junto ao minstro da Cultura, Gilberto Gil

A história dos mareenses já tem umlugar cativo no seio da comunida-de: o Museu da Maré, o primeiro

do Brasil em comunidades populares, quenasce com o objetivo de resgatar a história ea identidade dos mareenses. Organizado peloprojeto Rede Memória do Centro de Estu-dos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm), onovo espaço conta a história dos moradorespor meio de fotografias e objetos doados pelacomunidade. De acordo com a coordenado-ra da Rede Memória, Claudia Rose Ribeiro, aidéia de se construir um museu surgiu pelotrabalho desenvolvido pela própria Rede, queprioriza a preservação da história dosmareenses. “Esta idéia foi reforçada a partirdo contato com o coordenador técnico dodepartamento de museus e centros culturaisdo Instituto do Patrimônio Histórico e Artís-tico Nacional Mário Chagas”. O Museu fun-ciona na Casa de Cultura da Maré, que ficana rua Maxwell nº 26, próximo ao SESI. Avisitação é gratuita.

A inauguração do museu, realizada nodia 8 de maio de 2006, contou com a presen-ça do ministro da Cultura, Gilberto Gil. Eledestacou a importância da cultura nas co-munidades. “São 400 e tantos pontos de cul-tura que inaugura-mos pelo Brasil.Estimulamos paraque recebam o kit digi-tal, com ferramentaspara áudio e vídeo.Aqui foi priorizado omuseu. Vamos ver aconstrução da histó-ria. Esse é o primeiromuseu numa locali-dade como esta.Agora, vai de-pender do ritmo eda vocação decada comu-n i d a d epara se a-p r o p r i a rdessa cul-tura his-tórica.E s s eespaço é importante já que a diversidade cul-tural da Maré é muito grande”, afirma.

O coordenador da Rede Memória da

Maré, Antonio Carlos Vieira, se diz sensibili-zado com a iniciativa de vários moradoresque ao saberem que haveria um lugar para

mostrar a história da Maré logo doaramseus objetos. “O

museu foiconstruídocom a parti-cipação detodos. Veros mora-dores aquipara contri-buir é umacoisa mui-tobacana.O Ceasmtem que fa-

zer maisi s t o ,trazera co-

munidadepara dentro do seu espaço

e o museu é o caminho”, afirma.Segundo Claudia Rose, a Maré não pode

deixar de participar da manutenção do espa-ço. “O museu precisa da colaboração dacomunidade para fazer, cada vez mais, me-

lhores exposições, que são a memória dosmoradores. Por isso, todos devem contribuircom seus objetos, para que o morador sejarepresentado aqui. Desse modo, faz sentidoa existência do museu”, diz.

RecordaçõesA moradora da Baixa do Sapateiro Neli

Ferreira, de 42 anos, em visita ao museurelembra a época em que esperava as fábri-cas, que existiam no bairro, fecharem à noi-te para poder pegar água. “Os vigias dasfábricas não negavam a água, porque sa-biam que era difícil conseguir já que nãohavia, sequer, saneamento básico. A idéiade construir o museu é maravilhosa por quefaz a gente relembrar o passado”, diz.

Para Renato Reis, de 24 anos, que tra-balha no arquivo da Rede Memória, o mu-seu é capaz de recuperar lembranças es-quecidas: ”Noto a nostalgia das pessoas epercebo que por mais difícil que fosse aque-la época, não havia o individualismo”.

O Museu da Maré está aberto avisitação de segunda à sexta-feira, das 10hàs 18h. Aos sábados funciona das 10h às14h. Para agendar visitas guiadas, com gru-pos maiores, é necessário ligar para 3868-6748. E boa viagem.

CULTURA

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6 O Cidadão

IsabelCristinaUma mulher de fibraComunidade: ManguinhosProfissão: Técnica da Ouvidoria de Di-reitos HumanosIdade: 44 anos

N

Isabel Martins: na luta contra as injustiças e a violência policial é odiada por poucos e amada por muitos

CRISTIANE BARBALHO

egra, longos cabelos em estilo afroe porte elegante. A bela mulher éIsabel Cristina Martins, 44 anos, as-

sistente técnica da Ouvidoria de DireitosHumanos do Estado. Nascida na NovaHolanda e criada na Febem, ela tem comorotina de trabalho ouvir denúncias de vio-lência policial. Além disso, é integrante daRede de Comunidades Contra a Violência.Por causa de sua atuação já sofreu oito ten-tativas de assassinato. Uma mulher paraquem dificuldades jamais foram obstáculo;pelo contrário, serviram como estímulo.

Ela nasceu na Nova Holanda, onde suamãe e avó moravam. Eram oito filhos e, paraque não passassem fome, a mãe resolveulevá-los para a Febem (Fundação do Bem Es-tar do Menor). Foi na instituição que Isabelcomeçou a pôr em prática as ações de lutapela defesa dos direitos e da integridade físi-ca das pessoas. Lá, a luta era para se prote-ger, junto com suas colegas. Para defender-se dos abusos das meninas maisvelhas, elas andavam semprejuntas. Outra tática usada emmomentos piores (quandoa comida começava a virestragada), eram os motinsna sala da diretora. “Daívinha a fiscalização e ascoisas melhoravam.Mas quem não ti-nha família apa-nhava muito”,conta ela.

Grande par-te da infânciade Isabel foipassada na Fe-bem, dos seisaos 13 anos deidade. Mas nem sóde recordações ruinsé povoada a memória desta mareense. “Eusempre lembro de uma tia que deixava agente ler, brincar no pátio. Cresci ouvindodisco de historinhas”, diz.

O regime era integral e as crianças sópodiam ir para casa uma vez por mês. Paraprolongar sua estada com a família, Isabelsempre tomava todos os remédios que en-c o n t r a v a pela casa. Mas o plano não

dava certo e sua mãea levava de volta.

Assim a meninaficava, algunsdias, na enfer-maria da Febem.Até que che-gou o esperadomomento em

que ela e os ir-mãos saíram da

instituição. A suamãe havia dado uma

surra na diretora daunidade, depois queviu uma marca de vi-olência no braço deuma das filhas.

A mãe de Isabelfoi uma figura muito

marcante na vida dela. De per-sonalidade forte, é lembrada com admira-ção. “Apesar de ter estudado pouco, es-crevia cartas muito coerentes. Também de-fendia os meninos da violência dos polici-ais. A Nova Holanda era pequena para ela.

Todo mundo conhecia minha mãe e minhaavó. Vovó era parteira e mamãe, namo-radeira” conta, com saudade. Sua mãe fale-ceu há cerca de um ano, com pneumonia,aos 69 anos. Sem preconceito, Isabel nãoesconde a opção sexual da mãe. “Ela erabissexual, mandava e batia nos namoradose namoradas”.

Outra referência na vida de Isabel sãoas leituras, principalmente o que leu na fa-culdade. “O livro que mais me marcou foi‘A crítica da razão pura’, de Kant”, relata amilitante. “Se eu pudesse lia um romancepor dia. Estou lendo ‘O dia em queNietzsche chorou’”, comenta. Também de-clara gostar da escrita. “Gosto de escreverpoesias e pensamentos”.

Isabel afirma que, muitas vezes, não écompreendida pelas pessoas mais próxi-mas. “Minha família não me entende por-que quando eu era criança eu dizia que iaestudar, trabalhar e ficar rica. Não tenhocarro, não tenho moto, mas sou rica deconhecimento. Eles dizem que eu sou umtalento desperdiçado. Mas não sei viverde outro jeito, meu trabalho é meu ali-mento. Os professores do meu filho di-zem que ele fala de mim e da minhaatividade com orgulho”, diz. Também nãoé para menos, Isabel é, de fato, um exem-plo de mulher.

PERFIL

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7O Cidadão

Rua 11, na quadra 5 – Vila do João. Tel: 3868-7056

Sede: Rua da Candelária, 4, Centro – Tel/fax: 2253-6443www.acaocomunitaria.org.brAÇÃO COMUNITÁRIA DO BRASIL

RIO DE JANEIRO

Fotos: Leonardo Marques

Oficina de Bonecos BantoResgate da cultura negra e geração de renda

Texto: Leonardo MarquesNa edição de janeiro do Fashion Rio,

a moda da ACB/RJ chamou atençãocom pequenas bonecas negras vesti-das com roupas idênticas às da cole-ção. Todas foram vendidas e ainda re-ceberam mais encomendas. Apesarde parecer novidade, as bonecas sãofruto de um trabalho três anos na ofi-cina de bonecas banto. O objetivo doprojeto é resgatar parte da cultura a-fricana, onde capoeira, orixás, jongoe ciranda são retratados em forma debonecos.

O sucesso veio rápido e com apenasseis meses a produção começou a servendida. As alunas foram acrescentandonovas idéias como o chaveiro e o brochee hoje elas próprias coordenam a oficina.

Edite Nunes trabalhava por contaprópria, como desenhista de instala-ções elétricas e de gás. A necessidadede criar sozinha o filho Vítor a levou adeixar o emprego de técnica de cons-trução civil para trabalhar em casa. Po-rém, os projetos passaram a ser pelosfeitos em computador. Como Edite nãotinha o equipamento em casa, foi seafastando do mercado. Foi então queela ingressou na oficina da ACB/RJ. “Seum lado está ruim, você tem que ir praoutro, né?”, brinca ela. Hoje, a bolsa querecebe da ACB/RJ é boa parte de suarenda mensal. Parte do lucro das ven-das é dividida entre ela e as demaisartesãs Maria Catarina Ferreira, a maisantiga na oficina, Joice Gonçalves eLiliane de Jesus.

Para elas, o trabalho significa maisdo renda. “Quantas coisas a gente a-prendeu. Antes de eu trabalhar comas bonecas, eu não prestava atençãoem racismo, por exemplo”, comentaEdite. As oficineiras contam que esseé as alunas evangélicas têm dificulda-de com a oficina. “Muitas pessoas e-ram evangélicas e saíram porque nãoentenderam”, comenta Edite. MariaCatarina é membro da Igreja Univer-sal e crê que algumas mulheres têmdificuldade de separar a cultura da reli-gião: “Eu sei separar as coisas. Estoutrabalhando em cima de uma cultura”.

Informe Publicitário

ANÚNCIOS

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8 O Cidadão

TEL: 3976-84313976-84313976-84313976-84313976-8431

AV. CANAL, 41 – LOJA B – VILA PINHEIRO AO LADO DA LINHA AMARELA

TEL: 3976-84313976-84313976-84313976-84313976-8431

PEÇAS PPEÇAS PPEÇAS PPEÇAS PPEÇAS PARAARAARAARAARAAAAAAUTUTUTUTUTOMÓVEISOMÓVEISOMÓVEISOMÓVEISOMÓVEISNNNNNAAAAACIONCIONCIONCIONCIONAISAISAISAISAIS

Mano a ManoDia: 23/09/2006

Horário: a partirdas 20:00h

Local: Campo principalVila Cruzeiro - Penha

Olimpi Ibiss

Apresenta:

ANÚNCIOS

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9O Cidadão

Dois pra lá, dois pra cáOficinas de dança na Maré mostram um novo universo cultural aos moradores

Alunos do curso de Dança se exercitam com movimentos corporais que são essenciais para a performance

OCRISTIANE BARBALHO

O CIDADÃOdá dicasde cursos

MatemáticaFormar licenciados professores de Ma-

temática do ensino fundamental e médio ebacharéis em Matemática; preparar profis-sionais para realizarem estudos de pós-gra-duação em Educação Matemática, Matemá-tica Pura, Matemática Aplicada ou em áreasafins à Matemática. O curso de Matemática,além das atividades obrigatórias, oferece ao

aluno a oportunidade de participar, comobolsista, de projetos de Iniciação Científica,projetos específicos para Licenciatura eMonitoria de diversas disciplinas,complementando sua formação profissional.

Duração: De 3 a 7 anosCurso: Pode ser encontrado na UFRJ,

UFF e UERJ.

s pés de valsa de plantão podemcontar com aulas de dança naMaré. O Ceasm (Centro de Estu-

dos e Ações Solidárias da Maré) desen-volveu o projeto Escola de Dança, que visacapacitar jovens e adultos na arte. As au-las são ministradas na Casa de Cultura daMaré e na sede do Ceasm da NovaHolanda. O projeto oferece oficinas de dan-ça, balé, jazz, consciência corporal, streetdance, teatro, percussão, dança contem-porânea e Hip-Hop.

Segundo a coordenadora do projeto,Patrícia Riess, a escola foi criada em 2000 eao longo do tempo foi se expandindo. Alémdos cursos de dança, a escola possui oCorpo de Dança da Maré, que já fez apre-sentações em diversos teatros e museusno Rio de Janeiro. Outro projeto vincula-do à escola é o Ano Um, que trabalha comjovens de 14 a 17 anos que são prepara-dos para ingressar no Corpo de Dança.

Só mareenses A Escola de Dança atende somente a

moradores da Maré, porque, segundo a co-ordenadora, a demanda seria maior do queeles estão preparados para atender. “Qual-quer morador que tenha interesse pelas ar-tes, de modo especial a dança, é bem-vin-do no projeto. Nosso principal objetivo éfazer uma aproximação desse universo ar-tístico com o morador que não teve aces-so a esse tipo de informação”, diz. A Esco-la está montando a primeira turma de dan-ça para adultos, a partir de 25 anos, tam-bém na Nova Holanda.

O número de matrículas chega a 370.Para tanto, 14 professores são escolhidosa dedo para atuarem junto aos alunos. “São

pessoas com formação superior em dança.Quando não, em educação física, mas bai-larinos. São todos vindos das universida-des que atualmente disponibilizam cursosde dança, entre elas a UFRJ”, enfatiza acoordenadora.

A aluna da oficina de Hip-Hop NatáliaDionísio, de 16 anos, diz que sempre so-nhou com a dança. “Eu já gostava de dan-ça, só estava esperando uma oportunidadepara atuar. E pretendo continuar na área”,avisa. Ramon Willian, de 14 anos, moradorda Vila do Pinheiro, diz que iniciou suasatividades no curso de Dança Contemporâ-nea no início de 2006 e encontrou dificulda-des. “O mais difícil é aprender a coreogra-fia, todo dia é uma batalha para aprender,mas a gente consegue”, afirma.

Mesmo com o financiamento daPetrobras, uma das principais preocupa-ções de Patrícia é conseguir manter o pro-

jeto. “Precisamos conseguir parceiros paraapoiar a idéia. Já temos espaço, salas, pes-soas, mas precisamos de parceiros”, diz acoordenadora, que a partir de setembroprecisará buscar novamente patrocíniopara dar continuidade ao projeto em 2007.“Essa incerteza na continuidade, infeliz-mente, é muito comum em projetos soci-ais”, lamenta.

Outro importante desafio apontado pelacoordenadora é conseguir adequar a ba-gagem pessoal dos professores à realida-de dos alunos e aos objetivos do projeto.“A arte oferece mil possibilidades de edu-car. Informar é um dos papéis da arte nosnossos tempos. Com tudo isso buscamostrazer felicidade para as pessoas”, afirma.

As vagas estão abertas nas sedes doCeasm na Nova Holanda e no Timbau.Mais informações podem ser obtidas pe-los telefones 2561-4965 e 3868-6748.

NAS REDES DO CEASM

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10 O Cidadão

A vida como ela é: Gegê e Nelsinho(NelsonRodrigues Filho)

ARQUIVO PESSOAL

Futvôlei e beach soccer em uma das quadras daciclovia do Pinheiro.

CRISTIANE BARBALHO

A vida como ela éEncenada a peça “A vida como ela

é”, de Nelson Rodrigues, pelo grupo deteatro da Ação Comunitária do Brasil(ACB), formado por jovens moradores daMaré e do Conjunto Habitacional da Ci-dade Alta. O espetáculo ficou em cartazaté o dia 03 de setembro e teve como umdos destaques o ator Evandro Rosa, oGegê da Maré. Portador de deficiênciavisual, devido ao glaucoma, Evandro re-cebeu elogios do diretor Nelson Rodri-gues Filho. “Ressalto o total profis-sionalismo do Gegê”, disse o filho autordo texto e diretor do espetáculo. “É gra-tificante trabalhar na peça “A vida comoela é”. Eleva o nosso currículo”, diz oator Gegê, de 28 anos.

Futvôlei e beach soccerna Maré

Inaugurada a primeira quadra debeach soccer da Maré. Mais conheci-do como futebol de areia, o esporte foitrazido para a comunidade pelo mora-dor Evandro de Menezes. Ele faz partedo grupo de 25 pessoas que mantêm aquadra e compram os equipamentos.Aqueles que quiserem se associar aogrupo de futevôlei da Maré devem pro-curar por um dos integrantes do grupona quadra, que está localizada próximaao bloco 34 do Conjunto Pinheiro, apartir das 15h, nos dias de semana, edas 10h, nos fins de semana.

Rádio apaga velinhas naPraia de Ramos

Comemorado no mês de março o ani-versário de dois anos da Rádio 91 FM. Afesta, que aconteceu no Piscinão de Ra-mos, teve roda de música e partida de fute-bol, disputada contra o Balança a Rede, timelocal que venceu o jogo com placar de 8 X3. Mas nem isso ofuscou o brilho da come-moração. “É uma confraternização com osouvintes. É uma vitória, pois lutamos con-tra a repressão e pelo direito da comunida-de. Este é o trabalho comunitário, mostrar ooutro lado da moeda”, comenta o locutorDivan Souza, 45 anos.

Sesi comemorafinalização de curso

A tarde de 28 de julho foi especial para osjovens da turma de ensino médio do Sesi. Naunidade Bonsucesso ocorreu a formatura dosalunos, reunindo professores, lideranças, fa-miliares e amigos. O curso foi realizado emparceira com Ceasm, que desenvolveu um tra-balho de expressão corporal com os alunos.Na festa, o diretor do Ceasm Edson Diniz, 35anos, destacou a qualidade do curso e dosalunos que chegam ao final como vencedo-res. A gerente da unidade de Bonsucesso doSesi, Lucrecia Guimarães, 44 anos, afirmou sermuito especial o sentimento de realização apósa formatura. “A gente vê a gratificação nosolhos das pessoas. Alguns não sabiam o quefazer, hoje já tem esperança no futuro”.

45 anos de educaçãoCom o slogan “Este Espaço Também

é Meu”, na manhã de 11 de agosto foicomemorado o aniversário da Escola Mu-nicipal Armando de Salles Oliveira, lo-calizada na Praia de Ramos. A festa reu-niu professores, direção, amigos, alu-nos, representantes das entidades pró-ximas, familiares e ex-alunos. A diretoraAnna Maria, 45 anos, abriu o eventoemocionada. “Fico feliz em estar traba-lhando pela comunidade. Houve, tam-bém, celebração religiosa, discursos deagradecimentos, apresentação de alunose exposições. O celebrante Frei Cleber,25 anos, estava emocionado, pois foi alu-no do colégio.“Meu aprendizado teveinicio aqui, e a minha professora é adiretora agora. Sabemos que são 45 anosde dificuldade, mas também de perseve-rança em Deus, no desafio do ensino”,lembra. O cinegrafista Walter Gonçalves,58 anos, destaca a importância da esco-la para vida dos moradores. “Meus fi-lhos estudaram aqui, hoje são quatro ne-tos. O próprio Frei é uma lição de vida,mostrando que na favela nem tudo estáperdido”, diz.

Futebol na Vila do JoãoO Radar foi o vencedor da Copa

Valter Lopes Sub-20. Foram premiados,ainda, os destaques da competição:Romário (Radar), que ficou com o titu-lo de melhor jogador, Igor (Torino),com o de revelação, Rodrigo Cabeça(Amacovipi), com o de melhor artilhei-ro e Leonel (Radar), com o titulo degoleiro menos vazado na competição.

Inauguração da biblioteca da comunidade Rubens Vaz

CRISTIANE BARBALHO

Biblioteca é inauguradana Rubens Vaz

Aberta, na Associação de Moradores doParque Rubens Vaz, a biblioteca comunitáriaMaria Julieta Drummond de Andrade. A bi-blioteca nasceu da iniciativa da professoraAline de Andrade, com o apoio da associa-ção e de voluntários, empenhados em ga-rantir o acesso à leitura aos alunos do cursode alfabetização, que funciona no mesmolocal, e a todos os moradores da comunida-de. O acervo é formado com doações e jáconta com mais de 800 livros. “A leitura éuma grande confluência, é necessária e boa.Ela nos identifica e nos lembra que estamosno mesmo mundo, apesar das diferenças, dasbarreiras, tornando-nos sempre iguais”, dis-se Pedro Augusto Drummond, 46 anos, netode Carlos Drummond de Andrade, que doouos primeiros livros da biblioteca. “Ninguémnunca ouviu falar de um ambiente de estu-dos dentro de uma associação. Mas estouvendo isso agora. Nos juntamos, ligamos paravários lugares e recebemos muitos livros”,diz José Alcides de Oliveira, 49 anos, alunodo curso de alfabetização da associação.

ACONTECEU NA MARÉ

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11O Cidadão

ECRISTIANE BARBALHO

Severina, moradora da Baixa do Sapateiro, mostra a reforma elétrica feita em sua casa pela empresa

CRISTIANE BARBALHO

João Batista aponta os transformadores que vazaram

Light dá uma força para a MaréCompanhia firma parceria para ampliar o trabalho social no bairro

mpresas dos mais variados tipos etamanhos, com o objetivo de melho-rar o relacionamento com seus usu-

ários, investem cada vez mais em ações so-ciais. Com isso, estas empresas, além de agra-dar o cliente, têm os seus impostos diminu-ídos. A Light, continuando o trabalho deproximidade com a Maré, que já vinha reali-zando através do posto instalado na 30ªRegião Administrativa, reafirmou o desejode ações sociais junto às comunidades. Em2006, a empresa assinou um termo de com-promisso com os presidentes das associa-ções de moradores da Maré, firmado combase na cooperação mútua.

O principal objetivo do trabalho é a edu-cação e conscientização do uso eficiente deenergia, para melhorar o fornecimento. O pro-jeto Comunidade Eficiente II é um bom exem-plo de iniciativas como esta. Os funcionári-os recadastraram as casas e levaram infor-mações sobre uso da energia elétrica e dicasde segurança para os moradores. O pontoalto foi um sorteio, no qual os contempladosganharam uma reforma elétrica nas suas resi-

dências e receberam lâmpadas eficientes.“Foi um trabalho de alto nível. Antes, as to-madas do ferro e do liquidificador derretiam,agora estão bonitas e embutidas”, diz a mo-radora da Baixa do Sapateiro Severina Josefa,46 anos , contemplada pelo sorteio.

Ainda na área educacional, a Light de-senvolve parceria com o Ceasm, desde 1998,com financiamento de turmas de pré-vesti-bular na Maré. Além disso, a empresa inves-te na utilização de mão-de-obra local.

Roquete reclamaNem tudo são flores na prestação de ser-

viço da empresa. Quando a equipe de repor-tagem de O CIDADÃO esteve na RuaOuricuri, na comunidade Roquete Pinto, doisprestadores da empresa faziam testes na car-ga e voltagem dos transformadores, o quedeixou alguns consumidores inconformadas.

A proximidade com os equipamentos tam-bém deixa os moradores inquietos. Na ruaprincipal da comunidade, um transformadorvazou. “O técnico disse que quando o óleosecar ele explode. A minha janela é pertodele”, comenta assustada a comercianteCleuza Oliveira, 63 anos. No poste z-40056,na Rua Vila Sampaio, a reclamação é de trans-

formador perto da residência. “O encarrega-do tirou foto, mediu e constatou 26 centíme-tros de distância. Um raio já acertou a fiação,mas nada de remoção”, conta, Pedro Serafim,31 anos.

Andando na comunidade, percebem-secasas sem medidor, apesar do pedido.Hozana da Silva, 31 anos, lembrou que al-guns foram instalados com numeração erra-da. O presidente da Associação de Morado-res da Roquete Pinto, João Batista, 38 anos,reclamou por ter ficado 36 horas sem luz. Elepediu, ainda, que a empresa faça a instalaçãode transformadores na antiga gráfica do INSS,que foi ocupada por sem-teto. E a melhorianos transformadores próximo aos quiosquesjunto ao Colégio Tenente General Napion,para acabar com a queda de energia.

A Light informou que no segundo se-mestre deste ano efetuará o rodízio de cercade 50% dos transformadores instalados,priorizando os que apresentarem sobrecar-ga. A empresa soluciona as interrupções natransmissão de energia com a equipe do pro-grama Eletricistas Comunitários, que atua naMaré. O telefone de emergência é 0800 210196. Mais informações ligue para o Disque-Light 0800 282 0120.

CIDADANIA

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12 O Cidadão

A lguém que sofreu uma desilusãoamorosa, que sonhou, planejou,mas, no fim, teve de sofrer com um

gosto amargo na boca e na alma. Assim sesentiu a maior parte dos brasileiros, inclusi-ve os da Maré, após a eliminação do Brasilna Copa. O assunto continua bem indigesto.Mas O CIDADÃO o traz de volta para que,alguns aspectos desta conturbada relaçãosejam vistos mais de perto.

Os mareenses se prepararam para as co-memorações com animação e toda a garra.Bem diferente da forma como a seleção jo-gou. As crianças pareciam ter sido escaladaspara dar mais brilho à festa, com os rostospintados de verde e amarelo, elásticos nocabelo da cor da bandeira e roupa combinan-do.

As ruas também não deixavam a desejar,se comparadas com qualquer outro bairro,como confirma Esli Correa, 57 anos. “Morei50 anos na Baixa do Sapateiro, hoje moro noEngenho de Dentro. Apesar de lá enfeitaremas ruas também, aqui é mais caloroso”. Narua Teixeira Ribeiro, que fica no Parque Maré,

Copa do mundo: que deceCopa do Mundo: que deceO orgulho de ser brasileiro tomou conta da Maré, mas a derrota trouxe a rotina de volta

por exemplo, havia bandeiras do país e deoutras nações competidoras. Os muros e asruas eram telas para criativas pinturas com orosto dos jogadores e os símbolos da Copa.E não parava por aí: depois dos jogos havia,nas ruas, funk e shows de grupos de pa-gode.

Algumas ruas eram fechados apósas partidas. Os jogos eram vistos emgrupo, na casa de familiares, vizinhosou amigos. Alguns faziam churrasco.Outros, no fim das partidas, reuniam-sena rua, onde cada um contribuía com umprato, no clima de boa vizinhança, comumna Maré, como atesta Antônio Cabral, 67anos, morador da Baixa do Sapateiro.“Aqui é uma alegria. Na favela é sempremais animado, todo mundo é mais unido”.

Até o triste dia em que o Brasil foi eli-minado pela França e a festa acabou. Osmoradores, como todos os brasileiros, sen-tiram-se frustrados. “Aqui na rua fize-mos uma feijoada, mas, depois do jogotodo mundo estava desanimado. Cadaum pegou seu prato, dividiu a feijoada e levou para casa. Ia ter uma festa, mas nin-

guém ficou”, conta Maria José, 36 anos, mo-radora do Morro do Timbáu. Os enfeites degrande parte das ruas da Maré foram arran-cados como forma de protesto.

EspecialistasSegundo o escritor e jornalista Mario

Augusto Jakobskind, que acompanha a Copado Mundo de forma crítica há alguns anos,esta grande expectativa e a frustração queveio, a seguir, não foram à toa. “A mídia fezuma cobertura atrás da audiência. Vale tudopara ganhá-la. Joga-se com o sentimento dapopulação. Cria-se um clima artificial. O povofoi levado a pensar que a seleção já tinhaentrado na Copa como vencedora”. Ele vaialém e declara haver fortes interesses comer-ciais envolvidos. “Existe um acordo que en-volve milhões e milhões, entre a Globo e aFIFA. A criação do clima de ‘já ganhou’ épara garantir audiência”.

Outro fator a ser pensado é o patriotismo,em alta nos anos de Copa. Para Jakobskind,este também é um elemento sobre o qual agrande mídia tem influência. “É um naciona-lismo vazio, mobilizado pelos grandes meios

Na Rua Principal, na Nova Holanda, a cada vitória do Brasil as pessoas saíam em grupo, cantando e pulando

RENATA SOUZA

CAPA

Page 13: Document45

O Cidadão 13

O Brasil não poderiater sido hexa

Após a derrota para a seleção da França, moradores revoltados destruiram as bandeirinhas e os enfeites da Copa

RENATA SOUZA

RENATA SOUZA

epção!epção!

egundo o dicionário Aurélio, apalavra hexa é denominadacomo seis: hexandro ou

hexagrama. Mas, para alguns estudio-sos no assunto, a seleção brasileira nãopoderia ter sido hexa. Segundo eles oBrasil não traria o título, porque as vitó-rias não foram consecutivas, exigênciapara ostentar o rótulo de hexacampeão.Esse pensamento é defendido pelo co-mentarista de futebol e professor uni-versitário Fábio Tubino, 38anos, sendo 21 dedi-cados ao rádio.“Hexa significaseis vezes se-guidas, o quenão aconte-ceu nas

conquistas do Brasil no futebol. Na verda-de nem tri é, porque a seleção só ganhouem 58 e 62 continuamente. Acho incrível a

mídia, principalmente aRede Globo, invocar nassuas transmissões essetermo, induzindo a popu-

lação menos informada arepetir a palavraachando que é corre-to. Nos meus comen-

tários no rádio, sem-pre falei que bus-

camos a sextaestrela ou

s i m p l e s -mente o tí-tulo mun-dial”.

S

As ruas foram enfeitadas com alegria e criatividade

de comunicação. Acabou a Copa, acabou onacionalismo”, critica o jornalista.

Há quem pense diferente, como EdsonDiniz, professor de História do Curso Pré-Vestibular da Maré. Para ele, a competição éuma oportunidade para se pensar o Brasil “ACopa pode, inclusive, levar a população a seperguntar: ‘Que país é este que é campeãode futebol e, também, campeão da desigual-dade social?’”. Jakobskind enfatiza a impor-tância de se canalizar esta energia para ou-tros temas. “O melhor seria que toda estamobilização fosse para outros assuntos,como saúde e educação”, reforça.

Para muitos, a ocasião em que a Copafoi realizada não foi a ideal. Como de-clara o técnico do Flamengo Jaime de

Almeida. “O futebol é uma coisa boa, masesta época ajuda a quem gosta de em-purrar as coisas para debaixo do tape-te. Na Copa todo mundo pára e depois

vêm as eleições. E não adianta só chamarde ladrão, tem que apurar. O que dá desâ-nimo é que ninguém é punido”. Algunsmareenses reafirmam a idéia. “Na Copa, agente esquece de política”, admite JoséMonteiro, 42 anos, do Parque União. Masnão há unanimidade. “Acho que não influ-ência em nada a política. Até porque a elei-ção é só em outubro”.

Page 14: Document45

14 O Cidadão

E

Agora o jogo é outroApós a Copa, o Brasil se prepara para as eleições, mas não há sinal de entusiasmo

Faixas de propaganda sendo espalhadas na Maré

HÉLIO EUCLIDES

nquanto o clima de preparação paraa Copa do Mundo na Maré foi dealegria e de empolgação, às véspe-

cia a decisão do eleitor da Maré. “Pretendoanular o meu voto. Mas se a Heloísa Hele-na conseguir chegar em segundo lugar noIbope eu voto nela”, afirma José Carlos deLima, 50 anos, do Parque Maré.

Já o presidente da Associação de Mo-radores do Parque União, Tadeu Ribeiro,de 53 anos, discorda com esta prática: “Nos-so povo não é politizado, é fácil ser ludibri-ado. Espero que o voto seja consciente,analisando as propostas”, diz.

Entretanto, o que todos reconhecem éo abandono da Maré. A região, como ou-tras áreas populares da cidade, é deixadade lado pelo poder público. “Políticos sóandam na favela na época das eleições. Elessó vêm colher os frutos. O povo só temvalor na hora de votar”, afirma Jocimar Oli-veira, 58 anos, comerciante no ParqueUnião.

E os mareenses apontam caminhos parase mudar esta relação desigual e oportu-nista. Segundo o morador da Vila do Pi-nheiro, Rickson de Lima, de 35 anos, “ospolíticos deveriam, primeiro, vir nas comu-nidades, ouvir o que nós precisamos e de-pois apresentar os seus projetos”. Por isso,os mareenses precisam estar atentos aosprogramas de cada candidato, antes de es-colher em quem votar.Eleitores mareenses votando nas últimas eleições, em CIEP, da Maré

HÉLIO EUCLIDES

ras das eleições, o que se vê é o desânimoe a falta de esperança. Isto pode ser notadono desabafo da maioria dos mareenses,quando o assunto é política. A grande par-te mostra descrédito pelos candidatos esuas propostas. Muitos afirmam quejá desistiram até de assis-tir o horário político-elei-toral. “Ali todo mundoparece direito. Todomundo quer ‘mamar navaca’”.

Os que vêem aprogramação parti-dária também nãomostram entusiasmo.É o caso de EdnaMartins, 39 anos, morado-ra de Roquete Pinto. “Eunão gostava, mas, agoraassisto e é muito cansativo.Não dá confiar na informação”.Há até quem se divirta com a propagandaeleitoral, como a comerciante LeilaRodrigues da Costa, 52 anos, moradora doParque União. “Acho bem engraçado. Éuma comédia. É espetacular, melhor do queo ‘Caceta e Planeta’”, diz.

Para os estudiosos, do assunto, estedesinteresse no horário político é geradopela falta de debate e de idéias. “As cam-panhas são, cada vez menos, fundamenta-das em ideologias e plataformas políticase, cada vez mais, em uma briga de percep-ção da imagem do candidato. Hoje o perío-do de eleições é uma batalha de marketing”,

afirma a especialista na área Maurada Cruz Xerfan.

Contudo, osmareenses têmsuas estratégiaspara escolher oscandidatos. Mui-tos têm o telejor-nal como guia.“Vejo o jornal, natelevisão, para sa-ber alguma coisasobre os políti-

cos”, diz Natália Lucas,53 anos, comerciante da

Roquete Pinto. Mas, há outrasformas de se interar sobre o tema. “O me-lhor é conversar com alguém que saiba doassunto, algum amigo ou parente que en-tenda de política e conheça os candidatos”,declara Antony Rodrigues, 17 anos, doParque União.

A pesquisa de opinião também influen-

CAPA

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O Cidadão 15

O CIDADÃO foi às ruas para saber oque os mareenses querem dos candida-tos que vêm buscar votos na comunida-de. Caso fosse feita uma lista com ositens do que a Maré mais precisa seriadesta forma: “O que precisamos é de sa-neamento básico, de escola de ensinobásico e médio”, afirma Zélia Silveira,30 anos, da Marcílio Dias. “O que preci-sam fazer aqui é acabar com amarginalidade”, declara a HorosinaMaciel, de 76 anos, também da MarcílioDias.

Mareenses fazem lista de reivindicaçõesSaúde, educação e uma política de segurança séria são as prioridades dos moradores

“O que a gente precisa é de saneamen-to, quando chove, fica tudo alagado”, dizAirton Raulino, 34 anos, da Marcílio Dias.“A Maré precisa de emprego para quemestá desempregado”, afirma Carlos Antô-nio de Lima, 40 anos, Rubens Vaz. “AMaré precisa de esgoto, bom calçamento,água encanada. Precisa de posto médico24 horas. O daqui só funciona até às 16h.As pessoas não escolhem a hora para pas-sar mal. Precisei de um exame de sangue esó ia ter o resultado seis meses depois.Então, tive que pagar R$ 25 reais”, conta

Mário José da Costa, 47 anos, da Praiade Ramos .

“O que precisa ser feito na Maré é umbanco”, afirma José Melo, 67 anos, doParque União. “Na Maré o problema mai-or é o carro blindado da polícia, que sem-pre entra atirando na comunidade”, dizJoão Gutemberg, 38 anos, da Salsa e Me-rengue. Mario José da Costa, 47 anos,morador da Praia de Ramos, resume a mai-or reivindicação dos mareenses: “Nãoqueremos saber de ilusão, queremos coi-sa séria”.

Cuidado EleitorPara conscientizar os mo-

radores da Maré para não tro-carem o seu voto pornada que seja ofere-cido pelos candida-tos que só aparecemem época de eleição,Bhega compôs umamúsica, cujo clip foigravado na Praia deRamos:Cuidado eleitor estáchegando a eleição,Eles chegam de fininho,falando bonitinho eapertando a sua mão. (bis)E o nosso povo sofrendo, passandofome, desempregado,E eles enchendo o bolso, e nosso povocantado lixo e roendo o osso.Não troque o seu voto, pra manhã nãose arrepender.Hoje ele é seu amigo, e se for eleito es-quece você. (bis)OH! OH! OH! Ele foi eleito não fez nadae nem voltou pra agradecer aos seuseleitores.“Xi! Vai começar a baixaria e o festivalde promessa,poluição sonora,poluição visual, eu jánão agüento mais”

Para assistir o clip gravado na Praiade Ramos é só entrar no site:

www.youtube.com e digitar o títuloda música no campo Search for: cuida-do eleitor.

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O que você acha dasujeira feita peloscandidatos naseleições?

“Penso que os políticos andam sujan-do muito as comunidades. Aqui nós arran-camos os papéis, para não ficar igual a Vilado João, onde há muita papelada. Eles de-veriam vir dentro da comunidade para con-versar e não colar papel”, Edna Maria, 30anos, dona de casa, Bento Ribeiro Dantas.

“Esses candidatos são tudo fantasmas,é uma palhaçada! Só sabem sujar as ruas edepois da eleição esquecem de tirar o lixo.Falta uma lei que impeça que façam tantasujeira”, Ivanildo de Araújo, 52 anos, apo-sentado, Conjunto Pinheiro.

“Nós brasileiros já caímos na real! Espera-mos um país melhor sem corrupção. E com aeleição o que espero é que alguém ligue para8643-2794, me indicando um emprego. Faltarespeito por parte dos políticos que deveriamprocurar ser mais conhecidos, para não preci-sarem dessa propaganda toda que só sujamas ruas”, João Gutemberg, 38 anos, desem-pregado, Salsa e Merengue.

“Se vivemos numa democracia não de-veríamos ser obrigados a se alistar e a votar.Acho isto errado e afirmo que no país aindahá uma ditadura. Ainda temos que agüentartoda essa sujeirada que os políticos fazem emépoca de eleição. Fica cheio de lixo no meioda rua. Isso é um absurdo. Eles deveriam apre-sentar os seus projetos, ao invés, de ficarsujando as ruas”, Rickson de Lima, 35 anos,atendente de serviço, Vila do Pinheiro.

FOTOS DE CRISTIANE BARBALHO

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16 O Cidadão

E por falar em governo...Entidades governamentais no Catálogo deInstituições da Maré

Baixa sob nova direçãoAssociação de Moradores desenvolve diversos projetos para a comunidade

FCRISTIANE BARBALHO

oi título de música cantada por JairRodrigues, é nome de bairro da Bahia,e tem grande importância na Maré. Esta

é a Baixa do Sapateiro, cuja Associação deMoradores está sob a direção de Charles Gon-çalves Guimarães, 47 anos.

Na Associação dos Moradores da Baixado Sapateiro (AMBS) são desenvolvidosprojetos como o reforço escolar, que funcio-na de manhã e à tarde, e o “Segundo Tempo”,do governo federal, atendendo a aproximada-mente 210 crianças, a partir dos 8 anos, quetreinam futebol na praça.

No prédio da associação funciona o pro-jeto Vida Nova, que beneficia quem está hámuito tempo fora da escola. Os alunos quemantiverem a média de presença exigida rece-bem bolsa-auxílio de R$100. A moradora dacomunidade Clarice Coelho da Silva, de 39anos, começou na aula de alfabetização hápouco tempo e aposta no futuro. “Espero nofuturo não precisar depender dos outros paraler ou escrever uma carta”, diz.

No prédio há ainda exames de vista, quesão pagos. Mas a entidade doa dois óculospor mês aos moradores. Segundo Guimarães,a AMBS, com a parceria da Secretaria de MeioAmbiente, implantou o projeto Guardiões deRio, que empregou dois moradores para lim-

par o valão da rua Projetada, na Baixa do Sa-pateiro. Em parceria com a Rio-Luz, tambémconseguiu melhorar a iluminação na comuni-dade .

Guimarães avalia ser um presidente de as-sociação presente, pois sua casa fica na co-munidade, o que permite às pessoas falar comele mesmo fora do horário de trabalho. Mas,

como a maioria das associações de morado-res, a da Baixa do Sapateiro padece com pro-blemas de infra-estrutura. Além da falta decomputadores na secretaria, o espaço peque-no dificulta o atendimento. Segundo o presi-dente da AMBS, o fato de depender do go-verno municipal prejudica o desenvolvimen-to do trabalho para a comunidade.

CCDC – Centro Comunitário deDefesa da CidadaniaRua Principal, s/n - Baixa do Sapateiro –Maré – CEP: 21044-690.Telefones: 2290-3212 / 2280-8787 / 2280-9898. Vínculo: Se-cretaria de Estado de Ação Social. Funci-onamento: 2ª a sábado, 8h às 18h. Servi-ços: Cursos (parceria com a Faetec): mon-tagem e manutenção de computador e deoperador de telemarketing. Emissão de do-cumentos. Segunda via de certidão denascimento gratuita.

Centro de Referência das Mulhe-res da Maré (anexo ao Posto deSaúde da Vila do João)Rua 17, s/nº ,Vila do João. Vínculo: Mi-

nistério da Justiça – Sec. de Estado de

Direitos Humanos /Fundo de Desen-

volvimento das Nações Unidas para a

Mulher. Funcionamento: 2ª, 4ª e 6ª, 14h

às 17h. Programa: Projeto Cidadania

das Mulheres.

CEDAE – Comp. Estadual de Águae EsgotoRua Teixeira Ribeiro, s/nº Nova Holanda .CEP: 21044-700. Telefones: 2270-5454 / 2270-5286. Vinculação: Secretaria de Estado deMeio Ambiente e Desenvolvimento Urba-no. Funcionamento: 2ª a 6ª, 7h às 16h. Ser-viços oferecidos pela instituição: de-sentupimento de esgotos, obras e conser-tos.

Crianças estudam e fazem exercícios na aula de reforço escolar promovida pela associação

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GERAL

Page 17: Document45

17O Cidadão

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18 O CidadãoANÚNCIOS

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19O Cidadão

COMO VOVÓ JÁ DIZIA

AVC, sigla do perigoNa Maré, apenas o Posto Américo Veloso tem tratamento para doenças como derrame

O

Vítima de AVC durante sessão de fisioterapia para recuperar os movimentos no Posto Américo Veloso

CRISTIANE BARBALHO

* Para assar o bolo por dentro:Se o bolo que você pôs no forno ficou

dourado por fora mas não assou por den-tro, experimente colocar numa panela ouassadeira com água na grade de cima doseu forno.O resultado será ótimo.* Sem gosto de arroz queimado:

Não se preocupe se você deixou o arrozgrudar na panela e ele ficou com umgostinho de queimado. Veja como é fácildeixá-lo novamente saboroso; bote uma fa-

tia de pão sobre o arroz, tampe a panela eespere alguns minutos. Depois, basta ti-rar o pão e servir o arroz.* Para alargar os sapatos apertados:

Basta enchê-los com papel umedeci-do em água ou álcool e 12 horas depoiscalçá-los, de preferência ainda um poucoúmidos, para dar-lhes a forma dos pés.

Fonte: Folhinha do Sagrado Cora-ção de Jesus, Editora Vozes.

Dicas domésticas

acidente vascular cerebral (AVC),popularmente conhecido comoderrame, é uma das doenças neu-

rológicas mais comuns. Sua incidência émaior em pessoas idosas, mas ela pode ocor-rer em qualquer idade. Há dois tipos de AVC,o isquêmico e o hemorrágico. O primeiro casoocorre quando há obstrução de uma das ar-térias do cérebro, o que impede a circula-ção do sangue na região. Já no hemorrágico,acontece o rompimento de uma dessas arté-rias, causando sintomas igualmente graves,e seqüelas.

Em 30% dos casos, o AVC leva à morte, equando isso não ocorre algumas pessoasacabam ficando com deficiências permanen-tes. “A família tem que cooperar, tendo sem-pre uma pessoa para levar o doente para afisioterapia que ajuda na recuperação”, diz aenfermeira do Posto de Saúde OperárioVicente Mariano Vera Freira, 63 anos.

Os principais fatores que ocasionam o AVCsão: hipertensão não tratada, tabagismo, dia-betes, obesidade, colesterol alto esedentarismo. Por isto é necessário o contro-le de todos esses fatores para prevenção dadoença. Além disso, especialistas re-comendam a prática de exercícios físicos e pelomenos 30 minutos de caminhada diária. Se-gundo Vera Freira, a doença pode ser evitadacom uma boa alimentação. “Para evitar o der-rame é necessário que as pessoas comam fru-tas e verduras e evitem carne de porco, friturase embutidos. Além disso, aquele tempero domiojo tem um alto teor de sal, prejudicando

ainda mais a saúde”, afirma.Assim que o derrame acontece, o paci-

ente deve ser socorrido, para evitar conse-qüências mais graves. A Maré ainda não temcondições de tratar as pessoas afetadas porAVCs, mas aqueles que necessitarem de aten-dimento poderão se dirigir ao PAM de Ra-mos Maria Cristina Roma Paugartten. Lá, os

pacientes podem fazer a fisioterapia para arecuperação dos movimentos. O atendimen-to, porém, é limitado devido à grande procu-ra e às poucas vagas. Há até uma lista deespera que é aberta poucas vezes ao ano. Ospostos da comunidade fazem apenas o aten-dimento primário, ou seja, a distribuição dosremédios.

SAÚDE

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20 O Cidadão

Omelete caseiro nordestinoA receita é de Zefinha do Parque Maré

SABOR DA MARÉ

N

Inverno aquático na Vila OlímpicaExercícios na piscina aliviam tremores e animam idosos que cuidam da saúde

Turma de hidroginática da Vila Olímpica faz exercícios que ajudam a manter a forma e garantir o bem-estar

CRISTIANE BARBALHO

o inverno, a estação que deixa mui-tas pessoas com vontade de ficardebaixo do cobertor , a piscina

nem sempre é uma boa opção. Mas quan-do o lazer pode ser associado à saúde,muita gente prefere o esporte à preguiça.É o que mobiliza cerca de duas mil pesso-as na Vila Olímpica da Maré, de segundaa domingo, nas aulas de hidroginástica.

Uma destas alunas é dona DulcinéiaPatrícia de Lima, 64 anos, esportista fa-nática da região. Antes mesmo de a Vilaser construída, ela já caminhava com asamigas na ciclovia que existia no lugar.Hoje, Dulcinéia é aluna de alongamento,caminhada e hidroginástica. “Minha saú-de melhorou muito, antes das atividadesia para fisioterapia toda semana, por cau-sa da artrose. Hoje não preciso mais”,afirma.

Já Geruza Maria de Souza, 55 anos,que está fazendo hidroginástica desde2002, diz que não teve tanta melhora. Noentanto, o seu médico lhe explicou que oproblema que sofre é irreversível e a acon-selhou a não largar as atividades.

A professora Karla Monteiro, 33 anos,deu aula de hidroginástica na Vila Olím-pica por dois anos e conta que muitosalunos sofriam de depressão e tinhammedo de entrar na água. “É muito bomver que o incentivo dado aos alunos ser-viu para vê-los com a felicidade estampa-

da no rosto. No início só iam tristes paraas aulas”, afirma a professora, que hojedá aula de dança na instituição.

Segundo o coordenador técnico daVila Olímpica, Antonio Bezerra, os interes-

sados em participar das atividades devemficar de olho nas inscrições, que aconte-cem durante o ano inteiro. Para se inscre-ver, basta levar atestado médico, xerox daidentidade e comprovante de residência.

RENATA SOUZA

Ingredientes:- Meio copo d’água- Um tablete de caldo sabor galinha- Folhinhas de salsinha ou coentro- Um tomate- Um pimentão maduro- Uma cebola- Uma colher de sopa de massa ou extratode tomate- Uma colher de sopa de manteiga ou mar-garina (se preferir de óleo)- De três a cinco ovos

Preparo:Dissolva o tablete de caldo na água fervendo,retire e aguarde. Depois acrescente a manteiga(margarina ou óleo) e dissolva. Quando estiverdissolvido coloque o tomate, o pimentão, e acebola, todos picados em cubos pequenos. De-pois, para ficar homogêneo, coloque a massade tomate e aguarde.Nesse momento coloque os ovos para ocozimento, podendo ficar inteiros ou mexidos.E ponha a mistura em cima dos ovos. Agora ésó se servir.

Dica:Quando estiver cozido retire e coloque emum pirex na mesa.Acompanhado de um arroz branco, peitode frango ou carne seca desfiada.“Aprendi essa receita com minha vó” –Zefinha da Costa, 57 anos, Parque Maré.

O omelete permite diversos acompanhamentos

ESPORTES

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21O Cidadão

A voz queclama naperiferiaGrupo evangeliza atravésdo Hip-Hop

Xandi, Elias e André protestam e evangelizam através do rap cantado pelo grupo “Hip Hop Com Fé”

CRISTIANE BARBALHO

“cara de mau”. O grupo evangélico Hip Hopcom Fé sabe fazer a diferença na hora deevangelizar as comunidades que visita. Criadoem 2002, é composto por seis pessoas. Trêsconstituem a banda: Alexandre, na guitarra,Sidiclei de Oliveira, na bateria, e Robson, nocontrabaixo. Os outros três são os MC’s EliasLima (Mano Lia), Carlos André Farias (Profes-sor) e Jomar Fonseca (Levita). Todos morado-res da Maré, das comunidades de Vila do João,Vila do Pinheiro e Salsa e Merengue.

O Hip Hop Com Fé já se apresentou emdiversos lugares da Maré, em outros bairros

cariocas e até em São Paulo. Mas faz showsespeciais em asilos e casas de recuperação.“Através desse trabalho já conseguimos res-gatar muitas vidas. Com nosso estilo conse-guimos nos aproximar das pessoas e passarpara elas a palavra de Deus”, afirma Elias.

Suas músicas relatam histórias do cotidia-no da Maré, embasadas nas palavras do Evan-gelho. Numa delas, “Visão de um morador”,eles relatam a entrada do Bope (Batalhão deOperações Especiais da Polícia Militar) na Vilados Pinheiros, quando os policiais obrigarammoradores a deitar no chão e os espancaram.

“Somos protestantes e fazemos um som de pro-testo”, argumenta Elias.

O grupo está na fase de produção de seuprimeiro CD, mas ainda não há previsão de lan-çamento. “Queremos abrir uma instituição paraprofissionalizar pessoas oriundas de cadeias.Esse seria um fruto que sonhamos poder co-lher através da venda do CD. Somos a voz queclama na periferia”, diz Elias.

O grupo pode ser contatado pelo sitewww.oe.maisemconta.com e pelos telefones:3104-8989 e 8205-3908 (Elias) e 8749-3902(André).

Eles têm um estilo despojado, um tantodiferente dos evangélicos tradicionais.Usam boné, calça-bag e também fazem

A movimentada rua Nova JerusalémSobra pedestre e falta espaço nas calçadas

Na Nova Jerusalém as pessoas andam no meio da rua por falta de espaço nas calçadas tomadas pelo comércio

CRISTIANE BARBALHO

ARua Nova Jerusalém, localizada noMorro do Timbau, na Maré, é co-nhecida por sua grande movimen-

tação. Durante toda a sua extensão há vári-os tipos de comércio, como bares, restau-rantes, lojas, armazéns, feiras, fábricas e atéa conceituada editora de livros, Ediouro, queé a grande responsável pela impressão dojornal O CIDADÃO. Além disso, a NovaJerusalém é a rua de principal acesso dosmoradores, carros e vans.

Segundo a funcionária da EdiouroJosilene de Andrade, de 34 anos, a empresaestá presente no local há cerca de 60 anos.“Aqui foi o local escolhido pela empresapor causa da grande área industrial e da fa-cilidade de acesso”, afirma. A rua também éponto de educação. Nela funciona a escolamunicipal IV Centenário, que existe há 48anos. “Agora a escola faz a entrada pelaoutra porta, por conta da grande movimen-tação de pessoas e de carros”, diz a coorde-

nadora do colégio, Cátia Maria Fernandes,de 50 anos.

A moradora Míriam Débora dos San-tos, de 62 anos, reclama da inexistência deum espaço para a saúde. “O que falta mes-mo é um posto, pois quando passamos malnão temos onde nos socorrer. Por que to-

dos os outros lugares da Maré têm um pos-to, e nós aqui não?”, reclama ela, com ra-zão.

O CIDADÃO entrou em contato com aassessoria de imprensa da Prefeitura, querespondeu estar estudando as possibili-dades de abrir um posto de saúde no local.

MARÉ MUSICAL

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22 O Cidadão

As cartas ou sugestões para o jornal devem ser encaminhadas para o Centrode Estudos e Ações Solidárias da Maré - Jornal O Cidadão (Praça dos Caetés,7, Morro do Timbau, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 21042-050)

CARTASANA MUNIZ

Voto obrigatórioSolicito aos senhores a publicação des-

se manifesto, já que criaram um plebiscitopara impor a fabricação de armas. Solicitoque seja retirada a arma maior que eles vêmutilizando há muito tempo, o voto obrigató-rio. Desejo que se veicule neste meio de co-municação uma consulta para saber se opovo é a favor ou contra o voto obrigatório.O meio encontrado para acabar com a frau-de política e o descaso das autoridades,quando as coisas que acontecem no cená-rio que eles dizem ser política, mas que, paramim, é o cenário das facções unidas paradilapidar o patrimônio público.

Washington LuizGrupo de Pais do Ciep MinistroGustavo Capanema

Quero receber o jornalPrimeiramente, gostaria de dizer que

vocês estão de parabéns pelo jornal. Moroaqui desde que tinha meses de idade e nun-ca vi um grupo que desse tanta importânciae apoio a nós quanto vocês. De nota 10vocês merecem 100, porque fazem um jornalcom vários temas interessantes, que sem-pre tem como único objetivo melhorar a nos-sa comunidade. Apesar de gostar muito dojornal, eu queria fazer uma reclamação: rara-mente ele chega em minha porta em todosos meses. Sei o quanto deve ser difícil en-tregar O CIDADÃO em todas as casas, porisso quero saber se tem algum lugar ondepossa pegá-lo. Também gostaria de sabercomo funciona o pré-vestibular. Um grandeabraço e continuem sempre com este traba-lho maravilhoso para a nossa Maré!

Diogo LiberatoSalsa e Merengue

Caro Diogo, obrigada por reconhecer o nossoincessante trabalho! Se o jornal não chegarem sua casa, você pode encontrá-lo na Asso-ciação de Moradores ou na sede do Ceasm,que fica na Praça dos Caetés, nº 7, Morro doTimbau. Sobre o pré-vestibular, o telefonepara informações é o 2561-4604

Roquete PintoSegundo o Presidente da Associação

de Moradores da Roquete Pinto, João Batis-ta, o número de moradores da comunidade,informado na edição 41 do jornal O CIDA-DÃO, está incorreto. A matéria, publicada napágina 4, que falava sobre a falta desaneamente na comunidade, afirma que emRoquete Pinto há cerca de 2.600 habitantes,baseada nos dados do Censo Maré 2000.Para o presidente da associação, o númerocorreto é de 15 mil moradores. Ele obteveeste número a partir de um censo interno,feito por alguns moradores, a seu pedido.

ParabénsVocês estão de parabéns. Adorei a

edição 44, principalmente o editorial fa-lando do que passamos com a violência.Percebi que vocês se preocupam com anossa realidade. Pois hoje o nosso direi-to de ir e vir está sendo violado. Em umsimples dia de domingo não se pode terlazer, pois somos importunados peloCaveirão. Isso ocorre por culpa de umgoverno fraco e sem qualidade.

Oroandi TeixeiraSalsa e Merengue

É Bola na Rede...é Gol!

A Copa domundoÉ um mistério.O espírito brasi-leiroSe tornabola:Bate, voltaCai e rola, é gol!

Um grito demo-cráticoOnde o verde e oamareloContracenam com a vaidadeDe um Brasil cinco estrelas.

A nossa féÉ gritar com o coração,Um aprendizado dessa“Brava gente brasileira”.

É bola na redeÉ magia no péÉ um senhor BrasilQue sonha em ser hexa.

Em um único momentonos tornamos continenteÉ bola no chãoÉ troca de passes,É gol!

Admilson Rodrigues GomesParque Maré

Transpor = dar beiço na dor.Pouco importao que engole ou deixa de engoliro cósmico buraco negroo que interessaé o sol-posto do seu regoa luneta dos olhose a lista espessa dos seus óbitos.quem atea fogo ao corpo ilumina as suastrevas?Sim, entornar o caldonum choque anafiláticona boca de espera

mapear um som improvisadoé na louca lavourados perdidos e achadosque encontrarás um céu derramadopor intermédio de pedras e valas(duas asas)qualquer bagatelapoderá enlaçar sua pálida almadifícil é façanhade mantê-la suada.

Rogério BatalhaMorador da Penha

Apelo aos meninosda Maré

PÁGINA DE RASCUNHO

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23O Cidadão

PiadasPiadas

O VerboO professor pede que os alunosdigam um verbo.Renata diz: bicicletaGizele levanta o dedo e responde:amareloAs duas garotas levam nota zero.Joãozinho sem pestanejar fala:hospedarO mestre bate palma e pede que elecomplete uma frase:O menino entusiasmado conclui oraciocínio: "Hospedar" da bicicleta éamarelo.

Meu medoDia do folclore, a professora perguntado que os alunos têm mais medo:Cristiane responde: da mula-sem-cabeçaFabiana diz: do saci-pererêO Juquinha abre a boca e fala: do“malamem”A professora não entende e pergunta oque aquilo significa.Juquinha explica: Não sei, masminha mamãe reza toda noitecontra ele.A educadora tenta pesquisar: Comoassim?Ele esclarece a oração da mãe: ...nãodeixei cair em tentação, mas livrai-nos do “malamem”.

Ligue eLigue eLigue eLigue eLigue eanuncie!anuncie!anuncie!anuncie!anuncie!

3868- 4007

© COQUETEL 2006

1

Solução

PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

BANCO 4/baré. 5/clean. 6/acerar. 7/ladairo. 8/acurácia.

(?)-Mirim,município

de SãoPaulo

Água, emlatim

maispotência

Modificar o carropara que ele tenha

Função do guruDois

golpes decapoeira

Pai doTeatro

Moderno

Adepto dodeísmo,doutrinareligiosa

BalizaDeus, para

o povohebreu

Qualidadeque éobtidacom aidade

Pasmo;surpreso

O períodoantecessorao Cretá-

ceo (Geol.)

Tipo decasa para

botão

Com, emfrancês

Distúrbioque levaà hiper-glicemia

Dispensadasde impostos

Início de jornadas (pl.)

Festapopular do

mês dejunho

Órgão de registro depatentes (sigla)Exatidão de umaoperação (Mat.)

Tucanoe arara

AquelamulherJovens;moços

CírioCabelo ata-do no altoda cabeça

Tipo decheque decrediários

1.000, emromanos

Atuo;opero

Rio dosEUA

Privadosde roupas

Partido deVargas(sigla)

Vitaminade efeitoantigripal

Oambientedo caipira

Aquele quepromoveconfusão

na rua

Limpo, eminglês

Guisadode vitela

Semhabitantes

Tranqüi-lidade;

sossego

(?)Coruña,

cidade daEspanha

Massa deágua

salgada

Amazo-nense

Acentuar;exacerbar

Forma do piercingusado pelos jovens

Poema religioso doAntigo Testamento

GMJMATURIDADE

BOQUIABERTOJURASSIV

DIABETESAAISENTAS

INPIAVESLADAIROELA

CARRAPICHONUSIEMA

RPTBBNAARRUACEIROCLEANRUILDBARE

CALACERARAROSAL

CO

JO

AG

MAMO

L

I

O

B

S

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CCRISTIANE BARBALHO

Rede Memória presenteia o ministro com uma camisa estampada com a foto da Maré

O Museu é inaugurado!

Caro leitor, este espaço do CIDADÃO é seu. Conte sua história para que elaseja publicada aqui. Pergunte o que você gostaria de saber sobre a história daMaré e da cidade do Rio de Janeiro, e nós responderemos. Envie sua histó-ria, perguntas e sugestões para a Rede Memória nos endereços: Morro doTimbau (Pç. dos Caetés, nº 7. Tels.: 2561-4604; 2561-3946); Nova Holanda(R. Sargento Silva Nunes, 1012. Tel.: 2561-4965); Casa de Cultura (Av.Guilherme Maxwell, 26, em frente ao SESI. Tel.: 3868-6748). Se você tiverfacilidade de acesso à internet, envie sua colaboração para os seguintesendereços eletrônicos: [email protected] ou [email protected].

CRISTIANE BARBALHO

Gil acena da varanda de uma réplica, em tamanho real, de uma casa de palafitas

aro leitor de O CIDADÃO, quem acompanha esta página dojornal, com certeza, estava ansioso por notícias, pois, há váriosmeses, falamos sobre a criação de um museu. Depois de muito

planejamento e trabalho, no dia 08 de maio, finalmente concretizamosnosso sonho! Com a colaboração de várias pessoas de diferentes luga-res, em particular dos moradores e moradoras, conseguimos inaugurar oMuseu da Maré.

Todo o esforço e cansaço da equipe da Rede Memória e de tantoscolaboradores que se juntaram ao trabalho para conseguir terminar atempo a montagem das exposições foi recompensado pela emoção epelo carinho de todos e todas que até agora visitaram o museu.

A imprensa saudou a iniciativa como pioneira, referindo-se ao Mu-seu da Maré como o “primeiro museu em favelas”. Várias matérias foramrealizadas na televisão, no rádio, nos jornais, revistas e internet. A inau-guração do Museu da Maré não deixou, porém, de trazer polêmicas. Emum site, várias pessoas fizeram duras críticas à iniciativa, como as quereproduzimos aqui:

“Me diga: quem vai visitar esse museu logo na Maré, tão divididapor facções?”

“Esse negócio de glamourizar favelas em vez de promover a suaextinção via remoções ou reurbanização levou o Rio à situação que se vêhoje.”

“Que lembranças terríveis são essas que as pessoas querem tantoguardar na memória? Morar em palafitas, sem rede de esgoto e inúmerasdificuldades enfrentadas”

Contrariando estas críticas, o museu é um sucesso! Mais de cincomil pessoas já visitaram as exposições. Gostaríamos de agradecer a estaspessoas que de alguma forma colaboraram para a concretização dessesonho. Um sonho realizado, mas não terminado! As críticas construti-vas e as palavras de apoio, incentivo e afeto nos impulsionam a pensarum museu que se transforma a cada dia. Queremos reproduzir aqui al-guns destes depoimentos emocionados:

“Eu estou orgulhosa de ver uma conquista tão dificultosa a ser vistada forma dolorosa, mas vitoriosa. Mas isso mostra a cada pessoa quepassa por aqui o lugar no qual nós moramos. Se fizermos, poderemosmudar a situação que ainda aflige a todos nós, a violência. Estão deparabéns”.

“O museu está lindo. Só tenho uma ressalva a fazer: o primeiro mora-dor da Maré é Seu Otávio da Capivari e o 1º bloco de carnaval é o Blocodos Tamanqueiros, que depois se transformou no Cacique de Ramos”.

“Adorei! Revi parte da minha história junto a essa gente bonita etrabalhadora. Fui professora do CIEP nos seus primeiros anos. Aprendimuito aqui. É fantástico ter uma outra forma de contar a história”.

“Eu morei nas palafitas, hoje moro no Pinheiro. Tenho 31 anos, jálevei tiro, já fui agredido fisicamente, mentalmente. Mas essa visita fazvocê notar a evolução de um povo que não tinha nenhuma chance, umpovo que luta, que sofre e que, com certeza, vence a cada dia que passa.Falo isso como um vencedor que tem muito que fazer para continuar naluta!”

“Achei ótima idéia viajar ao passado. As fotos que pude observarme levaram a uma viagem que já havia me esquecido. Pude ver que oavanço da urbanização não extinguiu, infelizmente, a violência”.

“Gostei muito. Fiquei emocionada com a luta do nosso povo procu-rando melhoria de vida. Vindo dos interiores do Brasil, com a ilusão demorar e trabalhar e ganhar bem. Só que a realidade que encontrava eramuito diferente dos sonhos”.

“Hoje foi a primeira vez que visitei o museu: estava passando eresolvi entrar. Foi uma das melhores experiências que tive nos últimosanos. Incrível! É bom saber que temos história, cultura, tradição, etc. Nãosomos números ou censo de pobreza; somos gente. Que bom que háquem saiba disso e nos faça lembrar, porque às vezes esquecemos.Obrigado.”

A equipe da Rede Memória é que agradece a colaboração de todose todas.

Parabéns Maré!