45551027 as doutrinas secretas de jesus h spencer lewis f r c

Upload: ordem-martinista

Post on 11-Jul-2015

219 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

H. Spencer Lewis, F.R.C.

AS Doutrinas Secretas de Jesus

www.espelhosdatradicao.blogspot.com

1

As doutrinas secretas de Jesus

H. Spencer Lewis, F.R.C., Ph.D.

1 Edio Grande Loja do Brasil

2

Maio de 1988

DEDICO A

SAR HIERONYMUS DA BLGICA Cuja postura e pureza de carter emprestaram Ilimitado encanto magnificncia de sua Sabedoria.

3

Figura 1: Construo de antigos essnios. Perto do Mar Morto, na Jordnia, encontram-se as runas de um antigo dormitrio e refeitrio dos essnios. Perto dali esto localizadas as colinas em cujas cavernas foram encontrados os famosos Pergaminhos do Mar Morto.

4

Figura 2: Local da ltima Ceia. As duas janelas, embaixo e no centro, deixam passar a luz para as antigas cmaras secretas do Conselho do Cristo Jesus

Figura 3: Igreja da Natividade, em Belm. Todas as seitas e autoridades concordam quanto autenticidade desse edifcio, cujo ptio freqentemente usado como quartel.

5

Figura 4: A majestosa muralha e a torre do Rei David. Essas sombrias pedras cinzentas resistiram muitas vezes aos selvagens ataques dos filisteus e de outras tribos belicosas do passado.

6

SUMRIO PREFCIO ..................................................................................................................8 CAPTULO I: Uma espantosa descoberta.................................................................13 CAPTULO II: A necessidade de sigilo ......................................................................21 CAPTULO III: A grande escola secreta....................................................................25 CAPTULO IV: A misso secreta de Jesus ...............................................................40 CAPTULO V: Administrao e discipulado dos mistrios cristos ...........................49 CAPTULO VI: Misses secretas individuais.............................................................66 CAPTULO VII: Estranhas passagens da Bblia........................................................72 CAPTULO VIII: O maior dos milagres ......................................................................92 CAPTULO IX: Mais comprovao bblica...............................................................103 CAPTULO X: As doutrinas secretas.......................................................................121 CAPTULO XI: Os grandes mistrios ......................................................................137 CAPTULO XII: Modificaes progressivas das doutrinas crists ...........................150 CAPTULO XIII: A preservao dos ensinamentos secretos ..................................158

7

PREFCIO

A discusso e a controvrsia no so os motivos principais deste livro, embora nele haja bastante argumentao, o que sem dvida suscitar controvrsia. Os fatos so teimosos. A verdade se revela mesmo que esteja oculta por trs de um vu ou misturada com alegorias, parbolas e estranhas interpretaes. A maioria dos fatos contidos neste livro esto claramente revelados na Bblia Crist, particularmente no Novo Testamento. Este trabalho, entretanto, no um exemplo da forma pela qual a Bblia pode ser erroneamente interpretada, ou descuidada e arbitrariamente citada, em partes, para comprovar uma idia, uma teoria ou uma postulao. Algum j disse que praticamente qualquer teoria estranha ou proposio assombrosa pode ser provada tomando-se passagens desconexas ou no relacionadas da Bblia e juntando-as de determinado modo, ou reforando certas palavras, de maneira a formar uma idia nova e totalmente incorreta. As citaes da Bblia Crist utilizadas neste livro so surpreendente e estranhamente esclarecedoras, quando usadas exatamente como aparecem no Novo Testamento e sem serem separadas do contexto geral. Elas contm fatos que foram deliberadamente omitidos ou mal interpretados, pois no so suscetveis de diferentes interpretaes. Ou elas significam determinada coisa, ou no significam nada. Quando o Novo Testamento afirma que Maria, a me de Jesus, era uma de suas discpulas secretas ou um membro do grupo de Seus discpulos que se reuniam em um local secreto, isto no significa nem pode significar que se tratava de 8

uma outra Maria, ou que ela era membro de algum outro grupo de estudantes, ou ainda que era uma de Suas discpulas apenas espiritualmente ou alegoricamente. Muitas pessoas podem ficar surpresas em saber que Jesus tinha uma mulher entre seus seguidores, fosse ela Maria, sua me, ou qualquer outra. Mas s porque esse fato surpreendente no h razo para duvidar de sua veracidade ou de sua implicao, seu significado claramente deliberado e seu significado subjacente. Se Jesus tinha Sua me, como simples mulher, entre Seus estudantes particulares, Seus discpulos secretos ou Seu grupo de discpulos, isto muito significativo, no apenas porque ela era Sua me, Maria. E se esse fato surpreendente, que devemos ento pensar de outras passagens do Novo Testamento que afirmam que havia outras mulheres alm de Maria entre Seus discpulos particulares e que, portanto, nem todos os Seus discpulos ou estudantes escolhidos eram homens? No se trata de que esse fato seja suficientemente importante para se escrever um livro a respeito, pois, afinal de contas, muitas mulheres foram eminentes estudantes das grandes verdades da vida, grandes instrutoras e pregadoras, sendo com certeza to qualificadas naquele tempo quanto o so hoje para serem discpulas iguais aos homens em quaisquer circunstncias. A importncia disto est no fato de que ou a Igreja ou seus representantes autorizados, ou alguns deles, ou o movimento cristo de sculos passados, deliberada ou inconscientemente omitiram esse significativo aspecto da grande obra de Jesus, o Cristo.

9

O mesmo se aplica ao fato de os irmos e irms de Jesus terem sido membros de sua escola secreta, particular. Ser que estamos dando excessiva nfase a isso e aos incidentes at agora velados de Sua vida? Pensamos que no, diante do fato de que muitos grandes sermes foram pregados, panfletos foram escritos e captulos de livros cuidadosamente preparados para interpretar a atitude de Jesus para com seus pais e seus parentes. Pensem por um momento nas milhares de vezes em que muitos clrigos, em sermes e por escrito, tentaram explicar a passagem do Novo Testamento que parece ser uma censura Sua me por ocasio de Sua demora na sinagoga. Esse estranho incidente tem sido apresentado aos freqentadores de escolas dominicais e a estudantes da Bblia como indicao de que Jesus no tinha pacincia com Seus pais, de que estes pouco ou nada compreendiam quanto a Sua misso na vida, e de que Ele podia at ser grosseiro, intolerante e sem considerao para com as mulheres e suas perguntas sobre Seus assuntos. Essas explicaes e interpretaes implantaram na mente de muitas pessoas a dvida quanto a Jesus ser to perfeito nas coisas humanas como o era nas coisas divinas. Ser isso justo? So as interpretaes daquele incidente corretas luz dos fatos que mostram que Jesus tinha a mente aberta e suficiente compreenso para permitir que Sua me, Suas irms e outras mulheres fossem estudantes secretos dos grandes "mistrios" que Ele ensinava? Se parecer que o autor deste livro est indo longe demais ao dar nfase a quaisquer possveis reunies secretas de uma escola particular de discpulos, tenhamos em mente que a prpria Bblia a melhor autoridade para comprovar essas afirmaes, e vai longe no destaque que d ao fato de que Jesus ensinava s 10

multides de um modo, ao crculo exterior de estudantes particulares de outro, e na intimidade ensinava e instrua a um grupo interior, uma escola secreta, de uma terceira forma. Temos tambm repetidas declaraes do prprio Jesus de que os grandes mistrios, os grandes segredos que Ele ensinava a uns poucos em Seus discursos privativos e Suas reunies secretas, no podiam ser revelados s multides nem podiam ser compreendidos pelas pessoas comuns. No obstante, a igreja crist de nossos dias no esclarece s massas a existncia de segredos, verdades e fatos que elas no compreendem porque so mesmo difceis de compreender, mas que podem ser revelados e demonstrados aos dignos, aos preparados, e aos especialmente iniciados. Esses fatos do um colorido diferente ao quadro do cristianismo como sistema religioso, filosfico ou moral. Na verdade, eles nos ajudam a compreender que a instruo crist original e verdadeira e as doutrinas crists originais eram coisas divinas no destinadas a todos os seres humanos, constituindo um sistema de verdades transcendentais, revelaes esotricas e leis divinas de ilimitada aplicao e onipotente poder. Cabe aos que contestam os fatos contidos neste livro provar seus argumentos. O autor apresenta seus fatos e as verdades por eles reveladas. Se as citaes aqui utilizadas e os fatos nelas contidos revelarem verdades que contrariem os fatos contidos neste livro, ento o leitor que contestar o livro dever apresentar suas interpretaes e demonstrar que so superiores s que aqui esto expostas.

11

Ou as muitas citaes do Novo Testamento, as muitas sugestes, as muitas condies e situaes reveladoras significam algo bem definido ou no tm significao alguma. O leitor de mente aberta e sem preconceitos ser o melhor juiz de que:

A Ordem Rosacruz em todo o mundo, a Fraternidade Rosacruz da AMORC, inclusive suas alianas e afiliaes, dedicada perpetuao e constante revelao das antigas verdades pela cuidadosa disseminao a pessoas devidamente qualificadas, no separa as verdadeiras doutrinas de Jesus e Suas grandes verdades do sistema original do cristianismo. Este livro, portanto, no , em sua natureza essencial ou em sua inteno, uma propaganda da Ordem Rosacruz, AMORC, e sim uma contribuio voltada unicamente para a literatura esotrica de milhares de anos passados e de hoje.

O AUTOR

Templo de Alden, Parque Rosacruz, San Jos, Califrnia 20 de janeiro de 1937 12

CAPTULO I: Uma espantosa descobertaEstamos certos de que muitos cristos ficaro surpresos com a insinuao de que Jesus ensinou quaisquer princpios divinos secretamente, ou que praticou qualquer arte divina sem a revelar a todos. O autor deste livro ficou espantado, a princpio, quando descobriu que isso era verdade. Como dedicado freqentador de cultos religiosos cristos por trinta anos ou mais, e aps muitos anos de estudo da Bblia dirigido por lderes do pensamento cristo protestante, parecia-lhes quase inacreditvel que fatos to importantes da vida de Jesus e da criao inicial das doutrinas e prticas crists tivessem passado despercebidos pelos mais aguados e analticos estudantes do cristianismo, ou tivessem sido deliberadamente ocultos do pblico por alguma razo que pudesse ter parecido boa e suficiente. Assim que a chave para corroborar esses fatos se revelou

inequivocamente em passagens do Novo Testamento e desvendou muitos mistrios da vida e das atividades de Jesus e Seus discpulos, as numerosas passagens intrigantes e at mesmo duvidosas da Bblia se tornaram claras, compreensveis, na forma de evidncias positivas que vieram apoiar a descoberta. Para que o leitor possa compreender claramente os segredos que Jesus transmitiu exclusivamente a Seus discpulos testados e comprovados, faz-se necessrio resumirmos a histria revelada por fatos descobertos to gradativamente que pareceram uma revelao verdadeiramente divina e csmica.

13

Eis os fatos: Jesus convocou muitas reunies ou sesses secretas com Seus discpulos e fiis companheiros, o que sugerido em muitas partes do Novo Testamento. Existem evidncias inequvocas deste fato. Jesus possua um conhecimento raro, secreto, divino ou espiritual e semicientfico, que Lhe permitia realizar milagres e transmitir Seu conhecimento e Seu poder secretos, o que igualmente inegvel se considerarmos conscienciosa-mente certas passagens do Novo Testamento. Os primeiros cristos, que constituram a verdadeira base da religio crist, eram capazes de realizar milagres ou aplicar princpios csmicos ou divinos de maneira nova e diferente que jamais fora aplicada antes, o que se imprime em nossa conscincia ao lermos e analisarmos os Evangelhos Sinpticos e outras partes do Novo Testamento. A primitiva igreja crist se dedicava a duas fases essenciais de atividade: pregao, ensino, postulao, e realizao de curas e demonstraes, o que no se pode negar. A igreja crist de hoje no mais pratica ou demonstra os princpios de cura ou de inovao das leis divinas e naturais para ocasionar manifestaes incomuns, concentrando-se quase exclusivamente na pregao e postulao, o que indica que a igreja crist de hoje e dos ltimos sculos ou abandonou toda uma fase de seu trabalho, ou algum conhecimento secreto que os antigos cristos possuam no foi transmitido atravs dos tempos, de sacerdote a sacerdote, de ministro religioso a ministro religioso, de seita a seita.

14

As declaraes acima constituem as chaves fundamentais para desvendar os mistrios da misso de Jesus, o Cristo, em Sua vida na Terra. Aps cuidadoso estudo e extensas pesquisas dessas chaves e dos muitos fatos correlatos revelados por elas e atravs delas, o autor passa a resumir os surpreendentes argumentos que apresentar nos captulos seguintes deste livro: 1. Jesus teve nascimento divino e, portanto, foi especialmente preparado (espiritualmente, mentalmente e por outros meios) para receber, testar e aplicar certo conhecimento secreto que O capacitaria a cumprir um ministrio especial na Terra;

2. Tendo sido devidamente preparado de forma divina, espiritual, intelectual, e de outras maneiras, para essa grande misso, tambm foi decretado que Ele transmitiria esse conhecimento, bem como os poderes especiais nele desenvolvidos por esse conhecimento, a outros indivduos que fossem capazes e dignos, a fim de que eles levassem avante Sua misso atravs das eras, e fizessem "coisas ainda maiores".

3. Durante os primeiros anos do ministrio de Jesus, Ele procurou, encontrou, treinou e preparou esses homens e mulheres da Palestina, do Egito e da Sria, que se mostraram espiritualmente dignos, alm de moral e eticamente qualificados para perpetuar o conhecimento que Ele trouxera Terra e os poderes que Lhe tinham sido transmitidos atravs de Seu nascimento divino;

15

4. Essas pessoas, preparadas e treinadas, constituram um grupo secreto de adeptos e servidores-companheiros, que se reuniam de tempos a tempos como um colgio secreto para fins de instruo, testes, provas e a prtica conscienciosa dos princpios secretos;

5. Essa sociedade secreta foi formada por Jesus e mantida em contnuo funcionamento e operao nos ltimos anos da vida de Jesus, no se extinguindo por ocasio da Crucificao e da Ascenso;

6. Os homens e mulheres ligados por juramento a essa sociedade secreta formavam um total de cento e vinte pessoas, no se limitando aos doze apstolos ou discpulos, e este fato espantoso est claramente indicado no Novo Testamento;

7. Como qualquer outra sociedade secreta que tinha de proteger zelosamente seus ensinamentos, princpios, listas de membros, ideais e propsitos de perseguio poltica ou aristocrtica, esse misterioso grupo de estudantes especiais tinha vrios locais de reunio definidos, fixos e continuamente utilizados, em Jerusalm, com ramificaes para reunies ocasionais em outros distritos;

8. Seu principal local de reunio, ou "Templo" era guardado e bem protegido, tinha um nome secreto e era conhecido somente pelos membros testados, 16

fato este tambm comprovado por passagens bem claras do Novo Testamento.

9. Essa sociedade secreta tambm utilizava palavras de passe, sinais, smbolos e outros meios de reconhecimento mtuo entre os membros, evitando que espies ou perseguidores polticos se infiltrassem ou tomassem

conhecimento de sua obra secreta, o que tambm comprovado por citaes do Novo Testamento;

10. Quando os membros dessa sociedade secreta eram convocados por Jesus, em ocasies regulares ou especiais, tinham de se dirigir ao local secreto da reunio um a um, com grandes precaues, usando senhas secretas que eram modificadas de tempos a tempos;

11. Entre os cento e vinte membros contavam-se, alm daqueles que se tornariam conhecidos como os doze apstolos e que constituam o comit executivo dessa sociedade secreta, outros interessados no misterioso e secreto trabalho da sociedade, inclusive a me de Jesus e Seus irmos e irms;

12. Durante o perodo de estudo e preparao para o trabalho secreto, Jesus no s lhes ensinou as lies secretas como os auxiliou a desenvolver no ntimo do seu prprio ser o mesmo poder misterioso, secreto e espiritual que Ele 17

possua e, feito isto, tendo assim preparado completamente os discpulos, conferiu-lhes a divina autoridade para usar o poder especial que haviam desenvolvido e representar Jesus e o Reino dos Cus pelos sculos afora;

13. Entre os cento e vinte estudantes secretos havia homens ricos do pas e alguns que tinham poder e influncia poltica, os quais vieram mais tarde em auxlio de Jesus em Suas horas de perseguio, realizando certas aes que tinham mutuamente prometido realizar em caso de emergncia; 14. As parbolas e instrues alegricas que Jesus transmitia ao pblico, especialmente s pessoas que o seguiam com certa cautela, eram verdades veladas e deliberadamente ocultas, que ainda hoje no podem ser compreendidas e adequadamente interpretadas a menos que se tenha um conhecimento bsico dos ensinamentos secretos transmitidos ao Seu grupo de estudantes secretos;

15. Essa sociedade secreta pode ou no ter sido afiliada aos essnios, outra sociedade secreta com que Jesus estava bem familiarizado1;

1

A descoberta dos Pergaminhos do Mar Morto confirmou a referncia feita pelo autor aos essnios e seus ensinamentos secretos, que precederam o cristianismo e que Jesus deve ter conhecido bem. Um relatrio parcial sobre essa descoberta, do arquelogo ingls G. Lankester Harding, Diretor do Departamento de Antigidades da Jordnia, diz o seguinte: "A mais espantosa revelao dos documentos essnios at agora publicada a de que os essnios possuam, muitos anos antes de Cristo, prticas e terminologias que sempre foram consideradas exclusivas dos cristos. Os essnios tinham a prtica do batismo, e compartilhavam um repasto litrgico de po e vinho presidido por um sacerdote. Acreditavam na redeno e na imortalidade da alma. Seu lder principal era uma figura misteriosa chamada o Instrutor da Retido, um profetasacerdote messinico abenoado com a revelao divina, perseguido e provavelmente martirizado. "Muitas frases, smbolos e preceitos semelhantes aos da literatura essnia so usados no Novo Testamento, particularmente no Evangelho de Joo e nas Epstolas de Paulo. O uso do batismo por Joo Batista levou alguns eruditos a acreditar que ele era essnio ou fortemente influenciado por

18

16. Cada um dos ensinamentos secretos constitui uma lei divina espiritualmente aplicada e materialmente manifestada e apresentado em detalhamento quase perfeito (oculto em passagens do Novo Testamento), de modo que pode ter suas partes unidas e concatenadas para que se chegue a uma compreenso completa e perfeita;

17. Esses ensinamentos e prticas secretos no esto includos nas instrues da igreja crist de nossos dias e, pelo fato de algumas dessas verdades secretas terem sido descobertas por pessoas que no pertenciam igreja crist, surgiram vrias seitas e cultos que passaram a utilizar esses conhecimentos secretos e se tornaram rivais da igreja crist;

18. Se a igreja crist da atualidade se instrusse nesse conhecimento secreto e se dedicasse a ensinar, preparar e qualificar certos estudantes devotados de todas as partes do mundo para pratic-lo e demonstr-lo, tornar-se-ia a mais importante e poderosa influncia em prol da paz, da felicidade, da sade e do contentamento universal. Ela poderia eliminar a maioria dos problemas da vida e estabelecer o Reino dos Cus na Terra, pela supresso gradativa das guerras nacionais e internacionais, das incompreenses, disputas,

rivalidades, erros e pecados.

essa seita. Os pergaminhos deram tambm novo mpeto teoria de que Jesus pode ter sido um estudante da filosofia essnia. de se notar que o Novo Testamento nunca menciona os essnios, embora lance freqentes calnias sobre outras duas seitas importantes, os saduceus e os fariseus." O Editor.

19

Os fatos referidos sero apresentados nos captulos seguintes deste livro. O resumo que demos representa o tema e os postulados do autor. Certamente esses fatos sero rejeitados pelos sacerdotes, pastores, ou religiosos em geral, e sero escarnecidos pela maioria dos cristos. Por estranho que parea, porm, os seguidores das chamadas religies pagas, ou no-crists, estaro entre os primeiros a reconhecer a verdade deste livro, e a apresentar evidncias que o apiem, baseadas em sua prpria experincia de vida e em seus arquivos. Os cristos por nascimento ou inclinao, que aos poucos foram se afastando da senda crist ou da igreja crist, aclamaro este livro como a correta explicao do que consideram ser a fraqueza da igreja crist de hoje, uma boa razo para o seu afastamento e sua indiferena s instituies crists. Os estudantes de misticismo, metafsica, filosofia mstica e leis csmicas, como rosacruzes, teosofistas, maons, hermticos e martinistas, recebero muito bem esta obra, por fora de incidentes comuns em sua vida e dos antigos registros de suas organizaes.

20

CAPTULO II: A necessidade de sigilo

A primeira pergunta que surge naturalmente na mente dos cristos devotos e estudantes sinceros da Bblia : "Houve a necessidade de um instrutor secreto e da preservao do conhecimento secreto com relao misso de Jesus?" Uma segunda pergunta poderia ser a seguinte: "Se concordamos com a idia de que Jesus foi divinamente predestinado a ser o Salvador da humanidade, alm de professor e instrutor dos que buscavam a vida eterna pelas verdades divinas, ento por que Ele teve de preservar o conhecimento e o poder em segredo, transmitindo-o apenas a uns poucos?" As mesmas perguntas so feitas hoje por pessoas que tm preconceitos em relao a igrejas de qualquer denominao, e que acreditam que Deus deveria ter revelado todo o conhecimento a toda a humanidade, e deveria continuar revelando esse conhecimento, conferindo poderes mundanos e espirituais extraordinrios a todos os indivduos, e assim promovendo o Reino dos Cus mais rpida e seguramente. Examinando a histria passada, percebemos que em dezenas de ocasies que remontam a uma grande antigidade, Deus inspirou certas pessoas sbias e escolhidas para servirem como reveladores ou avatares, para ensinar e pregar o conhecimento necessrio a elevar a conscincia do homem a um plano mais alto e tornar sua compreenso mais ampla, aproximando-o da harmonizao com os princpios da vida e da verdade eternas. Cada uma dessas grandes Luzes 21

contribuiu para o avano da civilizao e para o desenvolvimento moral do homem. Entretanto, esse processo sempre foi lento e pouco eficiente. O aumento da populao do mundo, acompanhado de uma crescente influncia desmoralizadora de natureza satnica, e da rpida deteriorao de princpios slidos responsveis pela estabilizao da moral entre homens e mulheres, tornou necessrio enviar Terra um Salvador que fundasse ou organizasse um sistema permanente de orientao e instruo que abrangesse o mundo inteiro. uma verdade fundamental,.to verdadeira hoje quanto o era h dois mil anos, que nem toda a humanidade est preparada e qualificada em qualquer sentido para receber ou compreender e utilizar as verdades mais elevadas da vida e o miraculoso poder que provm desse conhecimento. Deus deve ter compreendido, ento como hoje, que enquanto o indivduo no se torna espiritualmente digno, e digno tambm no sentido intelectual e social, no merece e no pode absorver nem aplicar adequadamente as verdades superiores que tornam o homem livre e o iniciam na senda da vida eterna. As prprias experincias de Jesus no cumprimento de Sua misso nos oferecem excelentes razes para justificar o princpio do sigilo. Mesmo entre os que foram cuidadosamente testados, preparados e qualificados, alguns se tornaram cticos, outros procuraram utilizar o conhecimento e o poder para objetivos pessoais e egosticos,.e ainda outros se tornaram espies, inimigos e traidores da causa. A perseguio e depois a execuo de Jesus provam que havia uma razo muito boa para que se guardasse sigilo.

22

Embora seja verdade que a misso de Jesus terminou cedo, quando Ele atingia a flor da vida; embora seja verdade que os perseguidores e executores fizeram o possvel para destruir o conhecimento e o poder que Jesus tinha trazido para a humanidade, vestgios da verdade e vagos elementos do miraculoso poder que Ele transmitia chegaram at ns, atravessando os sculos, e tm servido como meios de redeno gradual do homem. Se no fosse o sigilo, a organizao secreta, b cuidadoso teste de cada pessoa transformada em guardi dos mistrios, a Grande Luz que veio terra nos primeiros trinta anos da Era Crist teria se apagado no momento da Ascenso de Jesus, o Cristo, e hoje os ensinamentos e prticas que Ele tornou reais e universalmente aplicveis s necessidades do homem teriam sido perdidos, a humanidade teria regredido aos erros do passado e o mundo de hoje no veria sequer um desmaiado brilho daquela Grande Luz. A primitiva igreja crist, aps a transmisso das "chaves" de So Pedro para os lderes cristos que o sucederam, afirmou ter preservado cuidadosamente, por um sculo ou dois, o esprito da organizao secreta fundada por Jesus. A histria das primeiras atividades da igreja crist mostra que, embora a massa da populao constitusse um grande crculo exterior de devotos e estudantes dos ensinamentos cristos, ela recebia apenas uma forma velada e cuidadosamente moderada dos princpios cristos; j num crculo interior secreto, um limitado nmero de candidatos era conduzido passo a passo atravs dos grandes mistrios e ensinamentos secretos a um grau de desenvolvimento e desabrochar que os preparava para continuar o trabalho que Jesus havia iniciado e transmitido a Seus discpulos. 23

Mas, com o passar dos sculos, os ensinamentos secretos se tornaram cada vez mais exclusivos, enquanto as alegorias e os incompreensveis princpios da instruo velada foram sendo distorcidos, ritualizados, morrendo nas mentes obscurecidas das massas. verdade inquestionvel que, nos arquivos da Santa Igreja Catlica Romana, bem como no corao e na mente de grandes, sinceros e santos lderes de sculos passados, os verdadeiros ensinamentos secretos e poderes divinos transmitidos por Jesus foram preservados, sendo conscienciosa-mente utilizados, de modo limitado, para reforar o poder daquela igreja e a proteo de sua elevada autoridade. Mas tambm verdade que, nas fileiras da fraternidade crist de hoje, tanto catlica como protestante, esse grande conhecimento secreto desconhecido e at insuspeitado. Vemos, portanto, que em todos os sentidos, as chaves para a Igreja do Cristo (transmitidas por Jesus a Pedro, lder de sua grande Escola de Discpulos) eram de fato chaves reais que deveriam passar de cada sucessor de Pedro ao prximo responsvel pela preservao e explicao da verdade; no eram simples chaves alegricas, e sim as chaves de ouro que destravam os portes (abrem os portais) de todos os templos e tabernculos cristos, de todos os coraes ou almas, de todas as escolas de vida que hoje existem.

24

CAPTULO III: A grande escola secreta

Tendo descoberto as chaves que confirmaram a existncia da sociedade secreta, no foi difcil voltar a ateno para antigos arquivos e registros, para escritos histricos e Escrituras no includas na Bblia, e para muitas passagens do Novo Testamento, aos quais, reunidos como as contas de um rosrio, do nos, um quadro bem claro do modo pelo qual Jesus agiu para cumprir Sua grande misso na vida. Em primeiro lugar, devemos ter em mente que houve amplos precedentes para guiar Jesus no problema da organizao de um corpo fsico ou terreno como o grupo secreto que estamos descrevendo. Ao longo dos sculos anteriores tinha havido no Egito, na ndia, na Prsia e em outras regies do Oriente Prximo, escolas e movimentos secretos dedicados preservao e perpetuao da sabedoria revelada. Na maioria dos pases progressistas do Oriente Prximo havia um sacerdcio oficial dedicado difuso de religio oficial e preservao das tradies religiosas e das crenas antigas. Tambm havia, em cada um desses pases, uma ou mais organizaes secretas compostas de livres pensadores, filsofos, msticos iluminados e devotos religiosos que buscavam a verdade dos mistrios da vida e preferiam as revelaes espirituais e csmicas que lhes vinham como bnos de Deus e ddiva humanidade, e que, pouco a pouco, deixavam de lado as antigas tradies, supersties e crenas mitolgicas de seus ancestrais. Portanto, em todas as terras houve, por muitos sculos, uma rivalidade entre os buscadores da verdade revelada e os protetores das formas antigas e errneas de religio. 25

Como era de esperar, o sacerdcio oficial tinha todas as vantagens de ordem fsica e terrena para impor suas crenas e prticas s massas, enquanto que os buscadores, cticos, herticos e iluminados, muitas vezes tiveram de sacrificar a vida e os bens mundanos para preservar as grandes verdades que lhes tinham sido reveladas e que tinham descoberto pelo uso de chaves reveladas. A acirrada luta entre o culto de Amenhotep IV e o sacerdcio oficial do Egito um exemplo tpico dessa contnua rivalidade entre a Luz e as Trevas. A grande iluminao que recebeu o Fara Amenhotep IV, tornando evidentes para ele, pela primeira vez na histria da civilizao, os verdadeiros princpios da existncia de um s e eterno Deus, e a falsidade da multiplicidade de deuses, constituiu um despertar e uma chocante reao por todo o pas. Era inevitvel que, embora ele doasse seu tempo, sua fortuna e seus melhores interesses ao desenvolvimento da nova revelao, dessa religio monotesta, embora construsse templos e relicrios ao Deus eterno, destruindo esttuas, templos, tabuletas e afrescos relativos antiga crena, sua vida fosse tirada e os astuciosos sacerdotes conseguissem subverter o que consideravam um movimento rival perigoso. Embora esse Fara sofresse intensamente e fosse impelido a uma transio prematura, realizou tanto pela disseminao nacional de sua religio que centenas, talvez milhares de anos tenham passado sem esmaecer o brilho de suas doutrinas e preces ao Deus de todas as criaturas, nem torn-las perdidas para a posteridade. Depois que Jesus recebeu o batismo e o Esprito Santo desceu sobre Ele, preenchendo o Seu ser com a sabedoria e o poder divinos que o transformaram de alma encarnada no Cristo redentor do mundo, ele no poderia ter deixado de 26

compreender que cada revelao, cada impulso divino, cada viso, cada mensagem falada que vinha da boca dos anjos ou do prprio Deus, conduziam-no pelo mesmo caminho de sofrimento, intrigas, traio e finalmente crucificao, que todos os Seus predecessores haviam testemunhado em suas jornadas de Luz entre os homens. Os registros das atividades de todos os lderes anteriores do pensamento divino, criadores de organizaes secretas de preservao e perpetuao dos ensinamentos divinos, devem ter propiciado a Jesus um excelente mapa e um quadro impressionante da senda que Ele teria de trilhar no cumprimento de Sua misso. No me deterei na educao e treinamento preliminares que certamente devem ter sido administrados a Jesus para torn-lo to brilhante intelectualmente j aos doze anos, quando causou espanto aos Ancios da sinagoga de seu pas; tambm no me referirei educao terrena e espiritual superior que lhe foi dada na juventude, no incio de Sua misso, capacitando-o a usar analogias, alegorias e metforas relativas a assuntos pessoais, ocupaes, interesses, desejos,

esperanas, provas e tribulaes de pessoas de muitas naes, muitas profisses e ocupaes, alm de muitas posies sociais. Aquele jovem, nascido no lar de um carpinteiro de condio muito modesta, no poderia ter adquirido todo o seu conhecimento nas primitivas escolas de Sua prpria terra, e no poderia ter sido mandado para um pas distante a fim de freqentar uma escola particular, pela simples falta de recursos. A preparao que Ele recebeu como menino e depois como rapaz no foi apenas resultado de vises e mensagens inspiradoras vindas a Ele atravs do Csmico, da conscincia de Deus, pois Seu desenvolvimento, 27

treinamento e educao foram de natureza dual. Ele conhecia os hbitos e costumes, os artifcios, as crenas hipcritas, as tentaes mundanas e as fraquezas dos povos de muitas terras; tambm parecia possuir um conhecimento ilimitado de leis espirituais e divinas e de grandes verdades csmicas que no poderia ter aprendido a no ser colocando-se total e entusiasticamente em harmonia com Deus, Seu Pai, que Lhe ordenara que deixasse o Reino dos Cus e fosse ao reino da Terra, para transform-la em local de paz, como o Reino dos Cus na Terra. No se pode questionar Sua educao espiritual, Sua preparao e iluminao quanto s coisas mais elevadas da vida. Sem dvida, tratava-se de sabedoria revelada, religio revelada, lei revelada. De nenhuma outra fonte poderia ter provindo uma tal sabedoria. Mas tambm verdade que Seu conhecimento mundano, to detalhadamente compreendido em sua verdadeira relao com as coisas profanas da vida, como provam centenas de Suas alegorias e metforas, s poderia ter sido obtido pelo contato pessoal com as situaes mundanas, com pessoas profanas de idias profanas. A educao inicial de Jesus (conhecido pelo nome "Jos" at o Seu batismo) foi tratada amplamente em meu livro anterior, A Vida Mstica de Jesus, de modo que no h necessidade de fazer maiores referncias importncia desse Seu treinamento inicial. Mas no podemos deixar passar o fato de que parte desse treinamento inicial incluiu o estudo das provaes e sucessos, dos fracassos, esperanas e aspiraes daqueles que haviam formado e organizado ou apoiado escolas e movimentos secretos em terras prximas, pessoas que haviam assim 28

agido com um propsito mais ou menos semelhante ao que impeliu Jesus nas ocasies em que passou a perceber vividamente os contatos espirituais que estava fazendo e as obrigaes que logo teria de assumir. No ficamos surpresos, portanto, ao descobrir que, ao cumprir os desejos de Seu Pai e organizar uma sociedade secreta, alm de proteg-la e desenvolv-la, Jesus se serviu de muitos pontos e princpios de organizao j estabelecidos em escolas secretas do Extremo Oriente e do Oriente Prximo. At mesmo alguns termos e smbolos secretos que Jesus usou e a que se referia veladamente em Suas conversas, pregaes e histrias alegricas, eram idnticos aos de outras escolas e imediatamente reconhecveis para os membros de movimentos estrangeiros ou distantes, sendo ainda usados nos dias de hoje. E assim descobrimos, pela conscienciosa anlise de antigos registros de vrios arquivos do Oriente Prximo, em que foram preservadas referncias a Jesus, e pelo exame de passagens isoladas e especialmente salientadas do Novo Testamento, que logo aps Seu batismo e o influxo do Esprito Santo que deu incio Sua misso na vida, Ele se misturou a ricos e pobres, bons e maus, cultos e publicanos, virtuosos e pecadores, e muito aprendeu conversando e discutindo com todos eles, a respeito das religies estabelecidas e dos costumes de Seu tempo. Dotado de profundo discernimento interior e de um especial dom divino de recepo intuitiva de conhecimento provindo da mente de Deus e do homem, e tendo apenas a honestidade para servir e a verdade para revelar, Ele gradualmente foi reunindo nos olivais e nos campos ao longo das grandes estradas da Palestina, homens e mulheres que mostrassem alguma inclinao para ouvi-Lo pregar. Ao trmino de um 29

breve perodo de instruo, Ele repentinamente fazia perguntas aos Seus ouvintes, como se desejasse que argumentassem com Ele ou discutissem os pontos importantes, mas sempre com a idia de aprender como a mente do ser humano estava assimilando e aceitando os princpios racionais e futursticos que Ele defendia como vitais para a salvao do homem. Por causa da oposio poltica, e sabendo o que havia acontecido nos sculos anteriores, Ele fazia quase todas as reunies preliminares com o intuito de testar e selecionar discpulos dignos nos campos prximos das estradas, onde o soldado romano, o oficial judeu, o rabe desconfiado e outras pessoas podiam ouvir o que Ele dizia sem descobrir em Suas palavras qualquer erro tcnico, qualquer crime contra o Estado, qualquer insulto grosseiro contra as religies estabelecidas, e qualquer violao dos regulamentos militares. A princpio, muitos ridicularizavam Suas afirmaes amplas e positivas, que eram como proclamaes e profecias, enquanto outros sorriam de Suas descries da infelicidade que adviria aos ricos, aos preguiosos e negligentes. Os homens cultos da sinagoga, os dirigentes religiosos, os que detinham o controle poltico, riam com desprezo do crescimento e desenvolvimento de Seu pequeno bando de seguidores. Ele era encarado como um radical ou extremista inofensivo que poderia atrair e manter o interesse de um punhado de pessoas por alguns minutos. Mas no pensamento daqueles que eram sinceros, pessoas que em toda gerao ou poca so os verdadeiros buscadores da verdade, havia algo singular e mstico em Seu modo de falar, em Seu mtodo de demonstrao das simples porm misteriosas leis da natureza. 30

Assim, no tardou muito para que Jesus se visse cercado de duas classes de homens e mulheres os que duvidavam e escarneciam, e os que acreditavam Nele e em Seus ensinamentos, embora temessem pela prpria vida caso se mostrassem sinceros tanto diante dos que Lhe eram fiis como diante dos que eram contra Ele. Jesus logo achou necessrio desenvolver seu trabalho de maneira dual. Seria necessrio continuar as reunies abertas, as demonstraes pblicas de milagres nas margens das estradas, na presena das multides; mas tambm seria necessrio reunir-se, em ocasies variadas de cada ms, com Seus sinceros e honestos colaboradores, que Ele havia escolhido nos ltimos meses para levar adiante Sua grande obra. Nisso Jesus percebeu que a experincia de avatares e lderes anteriores era de grande valor, e os antigos registros indicam que ele no se desviou muito dos mtodos que esses lderes haviam utilizado, no que se referia aos detalhes do reconhecimento fsico e mundano. Evidentemente, havia dois tipos de homens e mulheres que eram admitidos a Suas escolas secretas ou a Seus locais secretos de reunio. O primeiro grupo consistia de pessoas que estavam sinceramente interessadas em conhecer os fatos, mas que deliberadamente tomavam esses fatos com certa restrio e exigiam sinais e demonstraes de tempos a tempos. Essas pessoas tornaram-se estudantes sinceros no que concerne ao desejo de dominar os princpios dessas demonstraes, j que esse domnio lhes permitiria curar os doentes, fazer andar os aleijados e dar viso aos cegos, como Jesus havia feito, mas no estavam ansiosas para seguir Seus preceitos espirituais e modificar o curso de sua vida pessoal de 31

modo que pudessem alcanar o estado ideal que Jesus defendia como o objetivo maior de Sua misso. A outra classe aceitava com sincera f todas as grandes verdades postuladas por Jesus e pouco ou nada se importava com demonstraes contnuas de Seu poder, encontrando na virtude de uma vida mais aprimorada toda a recompensa que desejava. Essas duas faces de Seu grupo fizeram Jesus ir a extremos para lhes transmitir a importncia da obra que tinha de realizar e que Ele sabia que deveria ser continuada por Seus seguidores no futuro. No foi fcil o trabalho que Jesus teve para organizar a instituio ou escola que Ele visualizava, e temos vrias provas de que Ele se retirou para a solido ou para o silncio muitas vezes, para chorar, orar e pedir a Deus que Lhe desse orientao especial. Os pecados do mundo no O entristeciam tanto quanto a indiferena e falta de sinceridade dos que eram verdadeiramente dignos de se tornar Seus grandes discpulos, mas que ainda se apegavam aos prazeres do mundo e no podiam se dar total e completamente ao novo movimento. Entretanto, percebemos que com o passar do tempo Ele reuniu cento e vinte seguidores e estudantes para formar Sua sociedade secreta. Houve alguns que Ele teve de deixar de parte, no crculo exterior de membros, pois representavam os buscadores insinceros ou superficiais da verdade. Hoje em dia temos o mesmo tipo de pessoas indo de um lado para outro para ouvir palavras de sabedoria de grandes pregadores e oradores, comprando livros e manuscritos, sempre procurando, conforme elas mesmas dizem, as grandes verdades da vida. Mas no 32

santurio de seu corao, nas horas silenciosas de meditao e auto-analise, elas classificam as verdades recebidas e as analisam luz de suas prprias crenas anteriores, especialmente luz de suas crenas e convices mais convenientes. Criam uma filosofia, um cdigo de vida, um credo prprio que e' uma mistura, de suas prprias crenas e daquelas que acharam mais convenientes e passveis de aceitao, provindas de mentes e coraes alheios. Essas pessoas jamais descobrem ou compreendem real e interiormente as grandes verdades que esto buscando. Encerram sua vida ainda convictas de que o grande mestre que poderia lhes ter revelado todas as verdades que elas poderiam aceitar e que lhes seriam inequivocamente provadas no apareceu, e que em algum lugar esse grande mestre devia existir, enquanto elas buscavam aqui e ali, passando diariamente pelo portal do templo que tanto esperavam encontrar. Para evitar que os indignos e aqueles que se encontravam no crculo exterior de membros participassem das instrues secretas e revelaes divinas que Deus prometera a Jesus que seriam dadas a Seus discpulos, nada mais natural que Jesus decidisse que Ele e Seus cento e vinte discpulos qualificados se reunissem secretamente, mediante um sinal ou palavra de passe com que se identificassem. E assim, no prprio corao de Jerusalm, numa rua que no despertava suspeitas e onde estava garantida a proteo contra interferncias dos soldados romanos, eles adquiriram e mantiveram um local secreto de encontros, com um nome vago que era conhecido somente por Jesus e seus cento e vinte associados. Tudo isso pode parecer fico ou imaginao, mas demonstrarei mais adiante que essas declaraes so fatos apoiados por provas inquestionveis no 33

Novo Testamento, em frases, pargrafos e palavras que no podem ter outra interpretao ou significado, e que tm sido considerados estranhos e misteriosos para os estudantes da Bblia, at agora. Assim, em certas noites, de acordo com as fases da Lua e com os regulamentos relativos a feriados judeus e romanos, com os quais no desejavam entrar em conflito para no chamar a ateno, e seguindo antigos costumes de avatares anteriores, que conheciam o valor dos aspectos benficos e harmnicos das condies celestes e csmicas, esses cento e vinte estudantes e seu divino lder se reuniam em ocasies previamente acertadas, sem qualquer notificao especial; em ocasies especiais, causadas por uma emergncia ou uma grande revelao vinda a Jesus em algum momento do dia ou da noite, eles eram avisados de uma reunio por meio de uma mensagem codificada que circulava entre eles. Foi dessa forma que Jesus gradualmente exps a Seus estudantes selecionados as grandes verdades secretas sobre os mistrios da vida e da morte, os valores espirituais da Terra e do Reino que estava por vir. Foi nessas reunies que Ele provou e demonstrou que Suas doutrinas no eram apenas filosficas, religiosas, morais ou de mero valor tico, mas tinham tambm valor prtico nos assuntos dirios da vida. Ele lhes ensinou a natureza da doena, sua causa e sua cura. Ensinou-lhes o quanto era falaz depender exclusivamente de ervas, drogas, bruxarias ou encantamentos e outras formas de tratamento, quando havia um grande poder divino que poderia ser e seria exercido atravs deles, tendo por elemento essencial o poder criativo usado por Deus no comeo dos tempos e na criao do universo e de tudo que existia acima e abaixo da superfcie da terra. A 34

transformao de gua em vinho, o fazer jorrar sangue da pedra, a restaurao instantnea de ossos quebrados e tecidos dilacerados, a volta do batimento a um corao sem vida, a doao da luz ou da viso dos olhos cegos, a preparao de po e man a partir de elementos invisveis do espao, e centenas de demonstraes semelhantes da lei natural e divina agindo em unssono, faziam parte dos procedimentos de cada uma dessas reunies secretas. O caminho para a vida eterna, a verdadeira imortalidade da alma, a purificao do corpo e do Eu Interior, a consecuo da beleza espiritual, do poder divino e da harmonizao com Deus eram cuidadosamente explicados, passo a passo, em lies coletivas e instruo pessoal. A Lei do Tringulo e o significado da Trindade eram bsicos em todas as discusses filosficas e demonstraes alqumicas ou fsicas das leis universais de Deus. Podemos fechar os olhos e ver, possivelmente com nossa viso mstica, o local mais importante dessas reunies. Deve ter sido bastante amplo para acomodar cento e vinte pessoas, e ter espao para as demonstraes. Sabemos com certeza que esse local foi reservado para o uso exclusivo de Jesus e seus estudantes por um longo perodo de tempo e que ele tinha um nome significativo, um nome que significava algo bem definido para os discpulos mas, obviamente, significou muito pouco para os estudantes de cristianismo no passar dos sculos. Poderemos ver mais adiante que o nome desse local poderia ter fornecido uma das importantes chaves para a situao, embora tenha sido negligenciado, como chave, nos ltimos dezenove sculos. A maioria dos templos secretos e locais de encontro de filsofos

35

msticos de sculos anteriores ficava em cavernas ou espaos subterrneos em runas, onde estava assegurado o sigilo e onde o silncio era um fator importante. Um pequeno nmero desses locais, entretanto, ficava na superfcie, s vezes at acima do primeiro andar de alguma velha estrutura; neste caso particular, verificamos que Jesus e seus discpulos escolheram uma grande sala acima do primeiro andar, onde os transeuntes de Jerusalm nada veriam de suspeito, especialmente se os discpulos seguissem as instrues rigorosas de entrada no local um a um, enquanto um guardio observava secretamente a rua, avisando se algum estranho se aproximava. Com as janelas totalmente fechadas por cortinas mas um grande quadrado no teto aberto para o cu estrelado, um altar central com velas suficientes para iluminar o local, nenhuma luz podia ser vista de fora. Talvez a coisa mais espantosa a respeito dessa sociedade e suas reunies seja o fato de que, quando Jesus escolheu, com muito cuidado e certamente atravs de orientao espiritual e revelao, os cento e vinte discpulos dignos a quem podia confiar a prpria vida, incluiu Sua prpria me, alm de Seus irmos e irms. Digo espantosa, no pelo fato de Jesus ter considerado dignos Sua me, irmos e irms, mas porque os estudantes da Bblia e os cristos em geral questionaro o fato e diro que ele impossvel por no estar revelado pela palavra de Deus na Bblia. Mas a verdade que isso revelado no Novo Testamento de modo to claro que no pode ser questionado. Esse fato pode ser encontrado em diversas passagens que citarei mais adiante, e torna claros e compreensveis outros incidentes da relao de Jesus com Seus pais quanto Sua misso, os quais no so compreensveis sem que se tenha conhecimento dessa associao com Jesus 36

na sociedade secreta. Na verdade, muitos cristos lero este livro e negaro que Jesus tivesse irmos e irms. Minha afirmao neste sentido foi questionada tantas vezes em palestras pblicas e em discusses em igrejas, que aprendi a consultar rapidamente vrias partes do Novo Testamento e ler as declaraes que a confirmam para meus surpreendidos ouvintes. No de admirar, portanto, que o estudante cristo da Bblia esteja to pouco familiarizado com grande parte do trabalho secreto de Jesus durante Sua misso na Terra. Se a Bblia pode ser lida por tantos milhes de pessoas e analisada por tantos pregadores e intrpretes eruditos, e se tanta coisa pode ser escrita e afirmada a respeito da vida de Jesus sem que se torne de conhecimento geral o fato de que Jesus teve irmos e irms nascidos depois Dele (se devemos acreditar em muitas passagens da Bblia) ou alguns nascidos antes e outros depois Dele, se decidirmos crer em outros registros, ento no devemos nos surpreender com o fato de que o verdadeiro e secreto propsito, as verdadeiras e secretas leis, ideais e doutrinas de Jesus tenham se perdido para os cristos modernos. Jesus manteve Seus estudantes e Sua escola secreta at a ltima hora de Sua vida. Ele havia dito muitas e muitas vezes a Seus discpulos o que os grandes mestres de todas as eras haviam dito aos discpulos sinceros: que chegaria o tempo em que a perfeio ou maestria desceria como que do cu e ficaria com eles como resultado de sua dedicao aos estudos e sua pacincia quanto s lies e demonstraes. Jesus assegurou aos discpulos que chegaria o tempo em que Deus cumpriria Sua promessa e faria o Esprito Santo descer sobre eles como havia 37

descido sobre Ele prprio, e que, com essa bno de Deus, Ele, como mestreinstrutor, tambm lhes outorgaria autoridade para sair pelo mundo e no s pregar e ensinar como Ele havia feito, mas fazer ainda milagres como Ele havia feito e realizar coisas ainda maiores. Ano aps ano aqueles estudantes esperaram ansiosos por esses exerccios mais elevados, pelo maior dos dias de formatura, quando o milagre dos milagres seria realizado neles. Mas Jesus tambm os advertiu de que antes que isso pudesse ocorrer, Ele teria de descer ao inferno e carregar Sua cruz, sacrificar Sua vida terrena, ser crucificado e sepultado. Ele sabia, pelo conhecimento da vida de anteriores Luzes do mundo, pelas profecias dos grandes patriarcas, pelas vises que Deus havia Lhe revelado, que deveria sofrer perseguio justamente nas mos daqueles que Ele se dispunha a auxiliar, e que seria trado por algum em quem muito confiava; e que, tal como mostravam milhares de exemplos na histria de civilizaes passadas, um traidor teria de estar entre os leais e sinceros, para exemplificar o esprito das trevas e o carter de Sat. Chegou ento a hora negra e tudo que havia sido profetizado se cumpriu. Em silncio, a maioria de Seus estudantes, que haviam penhorado a prpria vida ao sigilo, afastaram-se das hordas de tagarelas espectadores, com uma compreenso que outros jamais alcanariam, e observaram o cumprimento dramtico do antigo princpio csmico de que o Mestre deve levar Sua cruz ao local do suplcio, nela sofrer e ser sepultado com os mortos, e assim se preparar para a ascenso final ao reino de perfeita paz e perfeito amor. Os doze estudantes especiais que eram Sua guarda pessoal e Seu grupo executivo, e que seriam conhecidos do mundo como Seus nicos seguidores secretos, cumpririam seu dever 38

durante as horas do martrio, enquanto os outros cem ou mais, inclusive Sua me, cumpriam suas tarefas em silncio, sempre atentos ao olhar observador do inimigo. Um de Seus membros secretos mais ricos se apresentou (como se tivesse recebido uma inspirao repentina) oferecendo-se para tomar conta do corpo, no momento exato em que a lei decretara que algum deveria cumprir essa formalidade. Ento desceu o pano sobre aquela drstica cena, sem que os soldados e polticos, os zombadores, os crticos e os que haviam atirado pedras em Jesus e cuspido Nele, ficassem sabendo que um grupo de cento e vinte pessoas havia cercado o palco do Glgota, formando um crculo mstico cujo poder elevou Jesus para alm do sofrimento humano e da profanao humana; que, longe de ter sido aquele o ato final e o fechamento da tumba que encerraria a carreira de um misterioso fazedor de milagres, tratara-se apenas do fechamento temporrio de uma tumba que seria novamente aberta e da qual se ergueria o grande Redentor da humanidade, cujo poder ascendera enquanto Ele estava na cruz mas que desceria novamente, no sobre um s, mas sobre o nmero mstico de cento e vinte seguidores; e que, pela transformao do homem Jesus e pela transferncia de Seu poder, ocorreria no mundo o incio de um novo Reino que seria eterno na Terra.

39

CAPTULO IV: A misso secreta de JesusForam feitas constantes referncias, nos captulos anteriores, grande misso que Jesus deveria realizar em Sua vida na terra. Como essa misso esteve fortemente associada ao segredo e ao mistrio, talvez seja adequado fazer uma pausa e apresentar algumas consideraes sobre a prpria misso. J nos referimos ao fato de que, no decorrer de sculos anteriores a Jesus, haviam surgido personalidades iluminadas que tinham espargido luz e revelaes divinas sobre povos de vrias naes. Mesmo que hesitemos em aceitar pelo que parecem ser as estranhas declaraes dos registros mitolgicos de antigas filosofias e religies, e mesmo que descontemos os exageros de afirmaes alegricas na histria das religies egpcias e hindus, por exemplo, ainda assim nos resta uma quantidade de fatos que indicam claramente que as populaes daqueles pases acreditaram por muitos sculos que os grandes lderes que surgiram em seu meio e os guiaram para fora das trevas espirituais, levando-os para a luz, haviam tido nascimento divino e tinham sido divinamente predestinados para cumprir uma misso de iluminao. Como indiquei em meu livro sobre a vida mstica de Jesus, houve muitas personalidades sobre as quais se fizeram afirmaes de concepo imaculada ou concepo e nascimento divinos, havendo registros que so praticamente semelhantes s histrias sobre a concepo e o nascimento de Jesus. Mesmo que no aceitemos esses registros histricos como verdadeiros, mas apenas como alegricos, no podemos fugir concluso de que, entre os povos antigos, havia a 40

crena comum de que esses filsofos msticos e "sbios" iluminados eram a representao de seu deus ou deuses, indicados singular e espiritualmente para surgir entre os homens em diversos estgios de civilizao para apontar o prximo caminho, ou o prximo caminho superior, e a melhor maneira de abandonarem a situao em que se encontravam, em troca de outras mais nobres e melhores. E podemos facilmente compreender como os admiradores e mesmo adoradores sectrios de cada ciclo de tempo inventaram ou criaram histrias exageradas ou fantsticas sobre a extrema divindade e singularidade desses "sbios", depois que tais lderes morreram. Mesmo em nossa poca somos dados a transformar em heris extraordinrios pessoas que tenham alcanado destaque em algum campo de empenho humano; ainda tendemos a encarar toda mente muito iluminada como um ser no s destinado a cumprir uma misso iluminadora, mas, tambm um ser incomum, mesmo num sentido fsico, mental e biolgico. Essa tendncia a atribuir aos sbios e iluminados lderes da humanidade certas qualidades diferenciadoras que no so comuns a todos os seres humanos continua a existir, por exemplo, entre os cristos devotos que acham que cada um dos discpulos de Jesus deve ter sido cosmicamente concebido como uma alma, e nascido fisicamente no plano terreno de maneira singular, para ter alcanado as grandes alturas de sua nobre posio na religio crist. Apesar do fato de que a literatura crist e os registros cristos nos contam por exemplo que So Mateus, antes de se converter ao cristianismo, era um publicano ou cobrador de impostos residente em Cafarnaum, e que depois de se tornar um grande pregador e uma grande luz entre os homens (deixando vrios registros espirituais imortalizados na 41

Bblia) ele morreu de morte natural, os cristos parecem achar que ele merece o ttulo de santo, no por causa do bem que realizou na ltima fase de sua vida, como discpulo e missionrio, mas devido a algumas qualidades singulares que devem ter sido atribudas sua alma ou personalidade antes que ela se projetasse do Reino dos Cus ou espao csmico para o pequenino corpo fsico nascido na Terra, e porque at o seu nascimento deve necessariamente ter sido acompanhado de incidentes ou condies singulares que no so comuns a todos. Embora os registros cristos nos digam claramente, sem qualquer inteno de pintar uma imagem fantstica, que So Marcos tinha na realidade o nome de Joo e o sobrenome Marcos, e apesar de pouco se saber de sua vida pessoal antes da converso ao cristianismo, e de que no lhe seja atribudo nenhum fato que pudesse chamar a ateno do pblico antes que ele comeasse a pregar associando-se aos outros discpulos, os cristos tendem a visualiz-lo como uma criana santa e devota que cresceu e alcanou a idade adulta com magnfica espiritualidade, predestinada a ser uma grande luz na igreja crist, um santo. O mesmo se repete com todas as personalidades ligadas histria crist. Mas uma coisa certa quanto aos antigos registros relativos aos avatares e grandes luzes que precederam Jesus: eles de fato cumpriram uma misso, a despeito de terem sido divinamente predestinados ou no, ou de terem nascido de maneira singular ou no. No porque esses filsofos msticos e homens sbios tenham pretendido ou declarado que foram divinamente enviados que a histria contempornea e moderna os aclama como divinamente inspirados e designados

42

para uma misso singular, mas por causa do que eles efetivamente realizaram e fizeram pela civilizao, e por causa da iluminao que irradiaram entre os homens. Ao estudarmos e analisarmos os escritos ou ensinamentos desses antigos filsofos, verificamos que a verdade revelada e a sabedoria inspirada constituem o tema de suas contribuies perenes para o pensamento moral e espiritual de sua poca. De onde veio esse maravilhoso conhecimento, e o que que eleva um homem de uma situao comum de vida, fazendo-o renunciar a todas as oportunidades de conforto pessoal e consecues individuais, para trabalhar diligente e longamente em favor da espiritualidade, ou pelo menos da moral e da tica, fazer sacrifcios para elevar a humanidade e sofrer corajosamente a recompensa final e suprema que a humanidade insiste em dar aos que mais a auxiliam? Com efeito, a histria registra claramente que os Duminados do passado sempre sofreram traio, suspeita, inveja e cime de certas seitas e classes de pessoas de seu tempo, e na maioria dos casos passaram pela transio como seres incomuns, pendurados numa cruz alegrica, seno real, e escarnecidos por aqueles que deveriam ser os mais reconhecidos por sua obra. Nada seno um plano cosmicamente esboado, algum esquema divinamente previsto, alguma idia concebida por Deus e por Ele autorizada, poderia ser responsvel pela posio especial ocupada por esses filsofos antigos em sua poca e pela grande sabedoria que eles legaram ao mundo, preservada em impressionantes registros. Esses ensinamentos mostram claramente que a revelao de grandes verdades da vida no s proveio de uma fonte divina mediante mensagens e vises, motivaes e impulsos, mas tambm que as verdades assim 43

reveladas e apresentadas humanidade foram progressivas, como passos para a frente e para o alto, rumo aos planos superiores de existncia e compreenso consciente. Cada um desses avatares pareceu lanar uma base e sobre ela erigir uma estrutura que se ergueu at que elevou a conscincia da humanidade a um ponto ou plano alm do qual no poderia passar naquele ciclo de desenvolvimento da civilizao e do progresso espiritual na Terra. Ento, aps um longo perodo de silncio, outro avatar surgia e levava o desenvolvimento a um outro plano superior. Ao analisarmos os ensinamentos daqueles antigos msticos e sbios, percebemos que o ltimo deles levara o desabrochar da conscincia espiritual, bem como da compreenso tica e moral do homem, a um ponto em que a humanidade estava preparada para os surpreendentes e chocantes princpios e verdades que Jesus revelaria j em seus primeiros discursos. Quando Jesus declarou aos seus seguidores sinceros que lhes trazia um Novo Caminho para a vida eterna, que lhes trazia a realizao e o cumprimento das profecias dos sbios do passado, Ele queria dizer precisamente o que disse, e o desenvolvimento do cristianismo e dos princpios cristos nos revelou, nos quase dois mil anos que se passaram desde ento, que talvez Ele tenha falado com mais sabedoria do que imaginava, ou de fato sabia bem o que dizia, graas a Sua preparao e Seu treinamento para o ministrio e a misso de Sua vida. Qual era ento essa misso? Deveria ela ser como a misso dos sbios Iluminados anteriores? Deveria Jesus erguer-se nas trevas do ciclo do tempo e elevar a conscincia da humanidade um grau acima do que os outros haviam feito, e evitar que a humanidade tropeasse no caminho ou voltasse a antigas crenas e 44

prticas? Deveria Ele afinal ser apenas mais um dos salvadores divinamente inspirados e predestinados que surgiram com o passar dos ciclos de tempo? Como quer que vejamos Sua genealogia e as condies imediatas que cercaram Sua concepo e Seu nascimento fsico, persiste o fato de que Jesus, como a mais nova e maior das Luzes divinas, surgiu em meio a um povo que aparentemente no precisava de uma religio nova, mais elevada ou mais sincera. Se por um lado analisamos a religio judaica dominante em Sua poca, percebemos que, com exceo de algumas crenas que os cristos hoje consideram talvez falhas em sinceridade, no se pode questionar a sinceridade geral dos seguidores da religio judaica, particularmente no que concerne adorao do "Deus nico e eterno". E se analisamos outras religies que existiam em Seu local de nascimento, verificamos que nelas no faltavam seguidores ardorosos e profunda devoo. 0 fato de que um grande Messias era esperado no era indicao de que se esperava ou necessitava de uma nova religio, nem de que fossem consideradas necessrias mudanas radicais. Na verdade, foi porque Jesus anunciou logo no incio de Sua misso que no concordava com as idias incorporadas f judaica, e que no podia apoi-las, que Ele atraiu antagonismo fazendo a maioria dos judeus achar que Ele no poderia ser o Messias esperado. S unia vez na histria da civilizao viera Terra um lder e instrutor espiritual cujos ensinamentos e prticas tinham sido to radicalmente diferentes e cujo primeiro passo fora contestar as crenas religiosas da poca. Essa nica e grande luz fora o fara egpcio Amenhotep IV, mais tarde conhecido como

45

Akhenaton, que desviara as meditaes do homem da multiplicidade de deuses simblicos para o "Deus nico e eterno". Vemos, portanto, que Jesus nasceu em um pas comparativamente novo, onde uma nova religio, ou uma reviso da religio existente, parecia no ser necessria, e que Ele falou desde o incio como um puro modernista. Que podemos ento dizer sobre a misso desse grande modernista? Encontramos a resposta simbolizada em uma de Suas declaraes, quando Ele afirmou que viera como um mensageiro de Deus para ser o redentor e Salvador dos homens. Ele no veio com uma espada para destruir a vida, mas com uma espada flamejante para destruir o mal e dar maior poder verdade. Ele veio para assegurar que as leis reveladas ao homem em todas as eras no fossem mais ignoradas e abolidas vontade, ou negadas, e sim obedecidas e cumpridas. No obstante, Ele tinha uma misso secreta, que explicou em detalhes para Seus estudantes em Sua escola secreta. Essa misso, como veremos em captulos posteriores, consistia em sofrer vicariamente pelos pecados de todos os homens, assim purific-los de todo mal, inclusive do pecado original herdado pela humanidade, alm de sofrer e dedicar Sua misso terrena e sua divindade para que os homens pudessem receber o Esprito Santo e estabelecer na Terra o Reino dos Cus. Que misso maravilhosa e nica! Haver alguma razo para nos perguntarmos por que Ele envolveu Sua misso em mistrio e segredo? No teria Ele de revelar ao homem o maior de todos os mistrios, e no eram esses mistrios secretos? No era essa misso cheia de 46

perigos e terrveis conseqncias para todos os padres e prticas polticos, religiosos e sociais de todo o mundo? Percebemos, pela anlise de Sua misso, e tomando Suas prprias palavras e combinando-as para compar-las com Suas prticas e instrues particulares, que alm de se apresentar ao povo como a Luz dos Homens, como um outro Joo Batista, um outro Amenhotep, ou um outro lder do desabrochar espiritual, pregando aberta e publicamente, Ele iria lanar o alicerce (o estranho e misterioso alicerce) da superestrutura invisvel que deveria constituir o milagre dos milagres, a Remisso dos pecados dos homens e a purificao de suas almas pelo "Sangue do Cordeiro". Atravs das eras o cordeiro fora o smbolo de um grande mistrio, e seu sangue sempre fora reservado para sacrifcio especial, em pocas e locais dos ciclos de civilizao em desenvolvimento em que o povo nunca compreendera o significado espiritual ou mstico da cerimnia, de modo que ele permanecera como o mistrio dos mistrios, no revelando sequer s grandes Luzes que haviam apenas sugerido sua significao. Era parte da misso de Jesus no continuar mistificando Seus seguidores com o smbolo do cordeiro, ou com referncias ao seu sangue ou referncias maiores possibilidade da completa redeno e purificao do homem, mas demonstrar o mistrio, erguer o vu e expor alma de toda a humanidade o processo da purificao e o caminho da salvao. Uma misso to tremenda tinha de ser realizada com o mais alto grau de sigilo e cuidado em sua fase inicial. Uma revelao prematura dos fatos, uma descoberta extempornea de Seus planos, uma aplicao profana de Seus 47

princpios msticos, teriam tornado Sua misso mais rdua, teriam frustrado muitas de Suas mais caras esperanas e desejos; pior que isso, teriam impedido a demonstrao final e decisiva de Seus ensinamentos, pela qual a f do mundo foi atrada para Ele e Seus ensinamentos e a "rocha" de Sua igreja firmemente colocada nos ciclos adequados da evoluo humana. Assim, verificamos que Sua divina e predestinada misso, Seu nascimento e Sua preparao terrena como o maior de todos os lderes da humanidade, ocorreram exatamente no ciclo histrico, exatamente no perodo de desabrochar e desenvolvimento do ser humano, exatamente no local e nas condies precisas em que o mximo de bem poderia ser realizado. S a compreenso disto deveria bastar para que todo cristo (todo pensador analtico) acreditasse que Jesus fora singularmente concebido e nascido para cumprir uma misso nica, e para manifestar ao mundo o mistrio secreto, o mistrio dos mistrios.

48

CAPTULO V: Administrao e discipulado dos mistrios cristos

Os cristos em geral ficaro sem dvida surpresos ao lerem que as verdadeiras doutrinas e prticas crists esto repletas de mistrios reais e que a misso secreta de Jesus e Seus discpulos consistia em primeiro praticar e aplicar esses mistrios e depois revelar as leis secretas neles envolvidos aos discpulos dignos, capacitando-os assim a cumprir suas misses especiais em todo o mundo. A igreja crist de nossos dias, com seus rituais e doutrinas modernizadas, deixa na mente de seus seguidores sinceros a impresso de que todos os mistrios do cristianismo pertencem aos sacramentos e s caractersticas do ritual, no tendo ligao com as leis naturais ou divinas aplicveis aos assuntos prticos e naturais do dia a dia. Aps fazer minuciosa pesquisa sobre a compreenso de milhares de cristos nos ltimos anos, conclu que essas pessoas, a despeito de longo e detalhado estudo da Bblia e sincera anlise dos princpios cristos, tm a idia geral de que quaisquer mistrios que tenham sido associados a rituais e doutrinas religiosos, faziam parte de antigas idias e ensinamentos pagos, e de que tais mistrios foram abandonados ou classificados como secretos, e na maioria dos casos tornados inconseqentes e totalmente transparentes pelas revelaes de Jesus ao mundo. Em outras palavras, essas pessoas parecem pensar que nos ensinamentos pagos, primitivos e mitolgicos da ndia, do Egito, da Prsia e de outras naes, havia afirmaes tidas 49 como estranhas e misteriosas e

demonstraes pretensiosas, freqentemente dramatizadas e apresentadas em ambientes impressionantes e hipnticos, chamadas de "mistrios" para confundir e atordoar os participantes desses rituais e conduzi-los cegamente, ou seduzi-los a uma forma de devoo que os manteria eternamente no escuro com relao verdade desses chamados "mistrios". As pessoas que tm essa crena concluem logicamente que a vinda do cristianismo e a difuso de nova Luz por Jesus e Seus discpulos afastaram esses mistrios que eram tomados como fatos pelas massas, livrando-as de continuarem escravizadas a falsas crenas e poderes misteriosos que no eram divinos nem sobrenaturais, e sim mgicos, sendo produzidos ou manifestados por meio de truques para enganar os ingnuos. A verdade que as primitivas doutrinas e prticas crists continham mais mistrios e segredos genunos relativos a leis e princpios misteriosos do que os pagos jamais haviam conhecido. Embora seja indiscutivelmente verdadeiro que nas primitivas religies pagas encontramos muitos chamados mistrios que no passam de inteligentes disfarces da verdade de manipulaes mgicas da lei natural, muitos deles eram baseados em verdades fundamentais representativas de genunos mistrios da vida. Os iluminadores ensinamentos de Jesus e Seus discpulos desfizeram os engodos de muitos mistrios pagos, mas Jesus tambm trouxe uma nova luz para a compreenso desses antigos mistrios, e com isto fez com que eles evolussem para sublimes e transcendentais revelaes e demonstraes da verdade. Os mistrios que Jesus ensinou a Seus discpulos, e que foram por eles usados em seus trabalhos missionrios especficos, nunca estiveram separados da 50

igreja crist e nunca deixaram de ser elementos essenciais da teologia crist e da doutrina crist. Entretanto, verdade que, medida que a religio crist foi sendo sistematizada, ritualizada e modernizada, os mistrios transcendentais que Jesus veio para revelar e que constituram o mais elevado elemento espiritual de Seus ensinamentos e prticas, perderam-se para o crculo exterior de membros da antiga igreja crist, tornando-se finalmente desconhecidos at mesmo para os mais avanados e proficientes criadores e instrutores dos Evangelhos cristos. Indaga-se hoje se os primeiros Padres da Santa Igreja Romana conheciam alguma coisa daqueles sublimes mistrios alm do fato de que Jesus os havia demonstrado e revelado a Seus discpulos, utilizando-os para fazer Seus milagres e cumprir Seus compromissos como mestre e missionrio. Provavelmente verdade que nos mais sigilosos arquivos da Santa Igreja Romana esto preservadas as verdades desses grandes mistrios e das leis que tornam possvel ao indivduo altamente espiritualizado demonstr-los e manifest-los. Na verdade, alguns desses mistrios, que utilizam leis naturais e divinas para sua manifestao, foram aplicados em sculos passados pelos mais altos dignitrios eclesisticos do crculo interior da Igreja Catlica Romana e foram colocados disposio de muitos cardeais e servidores especiais. Temos certamente o direito de presumir que o crculo interior da Igreja, conhecido como o Colgio dos Cardeais, esteja de posse da sabedoria e do conhecimento relativos a esses grandes mistrios e possa aplicar as leis e realizar aparentes milagres quando achar necessrio. Se esses eminentes Sacerdotes da igreja crist no conhecem esses mistrios e o modo de aplic-los,

51

ento so mais passveis de crtica por essa falta de conhecimento e sua ineficiente direo da Igreja. Nas observaes levemente veladas mas freqentemente claras feitas pelos apstolos do Novo Testamento, vemos que as doutrinas e mistrios secretos que Jesus veio demonstrar, revelar e ensinar, foram um dom transcendental de Deus aos apstolos escolhidos e nomeados, que deveriam se considerar os administradores dessas coisas e no receptores pessoais de uma bno individual. Seria seu dever transmitir essas verdades e mistrios como seus curadores e no mantendo o conhecimento e a sabedoria em sua prpria conscincia, como uma legtima posse pessoal. Vemos nessa idia um dos mais antigos princpios msticos, totalmente conhecido e mantido como lei e prtica fundamentais pelos devotos seguidores de vrias fraternidades e organizaes msticas do nosso tempo. A rara sabedoria e o conhecimento divino que vm ao mstico sincero atravs de revelaes, ou atravs do estudo de antigos manuscritos disponveis nos arquivos de sua fraternidade, no existem para serem incorporados conscincia do estudante e do adepto como um poder intelectual ou como ddivas para o fim de aumentar sua proficincia pessoal e servi-lo egoisticamente em seu domnio da vida. Esse mstico aprende, desde os primeiros estgios de seu desenvolvimento, que, se ele for considerado digno de receber esse conhecimento e compreenso dos mistrios, e desenvolver algum grau de capacidade na aplicao da lei natural e divina revelao, demonstrao e manifestao ou uso dos mistrios da vida, ele o far apenas como um canal, um instrumento ou servo labutando na vinha da humanidade, realizando suas 52

demonstraes e aplicando seu conhecimento em favor da Conscincia de Deus, da divina Conscincia universal. Assim sendo, qualquer tentativa de reter secretamente esse conhecimento no interior da conscincia individual, de deixar de oferec-lo aos que so dignos, mesmo sem utiliz-lo egoisticamente, constitui o no cumprimento dos deveres e obrigaes do ministrio; e isto um pecado maior do que permitir o uso demasiadamente freqente do conhecimento, a tal ponto que possa ocasionalmente redundar em benefcio para o indivduo que esteja agindo como instrumento ou servidor. No podemos conceber, portanto, qualquer afirmao satisfatria que explique a falta da prtica e revelao dos mistrios na igreja crist de hoje com base em que os padres da igreja ignoram esses mistrios ou preferem ocult-los. A falta de referncia a esses mistrios nos ensinamentos e prticas da igreja crist de hoje constitui a base para as mais severas crticas feitas contra ela, tanto na verso protestante como na catlica. Embora o devoto comum da religio crist no saiba quais foram esses grandes mistrios que foram ocultos ou restritos, e possa at duvidar de que tais mistrios tenham existido, ele est se tornando mais familiarizado com o fato de que muitos cultos e seitas fora das igrejas crists ortodoxas esto utilizando o que denominam leis e princpios divinos e mistrios cristos, para com eles realizarem aparentes milagres e executarem em prol da humanidade prticas que simulam as dos primeiros discpulos cristos. O fato de esses cultos utilizarem uma sabedoria ou um conhecimento que chamam de mstico ou metafsico, divino ou cristo, e de realizarem extraordinrias demonstraes de cura e domnio dos problemas da vida, no s tem causado sria diminuio nas 53

fileiras das igrejas crists ortodoxas, enfraquecendo-as, como tambm tem levado muitas mentes analticas a pelo menos suspeitarem de que deve ter havido sabedoria, conhecimento e poder conhecidos de Jesus, de Seus discpulos e provavelmente dos primeiros padres cristos, que no esto includos na igreja crist de hoje nem so utilizados pelos cristos como parte de seus deveres. Essa infeliz situao, causadora de muitas divises na igreja crist e do aumento de afiliao aos cultos e sociedades msticos e metafsicos, foi considerada deplorvel por muitos telogos cristos importantes do sculo passado. Muitos deles indicaram que a ausncia de caractersticas msticas, dos mistrios genunos e de prticas divinas nas igrejas crists de nossa poca constitui a verdadeira razo do crescimento lento e do grande abandono das denominaes crists por parte de seus membros. Embora eclesisticos de todas as denominaes religiosas tenham se expressado freqentemente sobre a influncia dessas mltiplas seitas, cultos e escolas secretas contra o crescimento e desenvolvimento da igreja crist, e tenham admitido que esses novos movimentos representam uma sria forma de rivalidade para com a igreja crist, no conseguiram perceber que o erro est em sua prpria igreja e que, se essa igreja despertasse e ativasse o esprito dos mistrios e prticas cristos que Jesus ensinou a Seus discpulos, e que eles utilizaram em seu trabalho missionrio, os movimentos e sistemas rivais no teriam razo de existir e mesmo desapareceriam, devido ao imediato retorno ao seio da igreja crist de milhes de pessoas que se tornaram indiferentes ou desanimadas.

54

Um dos maiores telogos e analistas espirituais modernos foi o falecido Dr. Robert Norwood, que foi pastor de uma igreja que crescia rapidamente na Filadlfia, e mais tarde foi escolhido para ser a grande Luz da Igreja de So Bartolomeu, em New York. Durante um conclave de eclesisticos episcopais reunidos para discutir assuntos da igreja e resolver seus problemas mais prementes, o Dr. Norwood afirmou que "a maior necessidade da igreja crist de hoje o retorno aos ensinamentos msticos e s revelaes dos mistrios do verdadeiro fundamento do cristianismo". Que os discpulos de Jesus sabiam que estavam lidando com mistrios que eram secretos e com doutrinas novas e portanto ainda no reveladas, verifica-se em todas as suas falas registradas no Novo Testamento. Basta atentarmos para as seguintes declaraes de Jesus e Seus discpulos: "A vs dado conhecer os mistrios do reino dos cus; a vs vos dado saber os mistrios do reino de Deus; falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistrio; e somos os dispenseiros dos mistrios de Deus e compreendemos todos os mistrios; tendo nos dado a conhecer os mistrios; tendo sido recebidos nos mistrios e sendo conhecedores deles, tornamos conhecidos os mistrios dos evangelhos e o mistrio que foi oculto das eras; guardando o mistrio da f em uma pura conscincia" etc. Frases como estas, e muitas outras de teor semelhante, podero ser encontradas em Mateus 13:11; Marcos 4:11; Lucas 8:10; Romanos 11:25, 16:25; 1 Corntios, 2:7, 4:1; 13:2, 14:2, 15:51; Efsios 1:9, 3:3, 3:4, 3:9, 5:32; Colossenses 1:26, 1:27, 2:2, 4:3; Timteo 3:9, 3:16; Apocalipse 1:20, 10:7, 17:5, 17:7.

55

Neste incio de nossa discusso desta questo, procuremos uma compreenso correta dos termos "mistrio" e "mistrios", conforme foram usados por Jesus e pelos apstolos no Novo Testamento. No devemos acreditar que a palavra "mistrio" se referisse a qualquer ocorrncia ou princpio incomum ou extraordinrio que mediante uma simples explicao deixaria de ser um mistrio ou uma lei difcil de compreender. Uma das mais eminentes autoridades em anlise de palavras e termos usados pelos autores dos livros da Bblia foi Robert Young, cuja concordncia analtica da Bblia, publicada em 1893, continua sendo uma fonte sem igual de informaes confiveis sobre esses assuntos. Ele afirma que a palavra "mistrio", como foi usada pelos autores do Novo Testamento, significava "aquilo que s conhecido pelos iniciados". Outra fonte de informaes confiveis sobre este ponto o excelente livro comentado sobre termos expositivos e explanatrios, escrito e editado pelo Reverendo Robert Jamison da Igreja de So Paulo em Glasgow, Esccia; pelo Rev. A. R. Fausset, de St. Cuthberfs, York, Inglaterra, e pelo Rev. David Brown, Professor de Teologia em Aberdeen, Esccia. Em seus exaustivos comentrios sobre o uso dos termos "mistrio" e "mistrios" por Jesus e Seus discpulos, eles nos esclarecem que a palavra "mistrios", nas escrituras, no usada no sentido clssico de "segredos religiosos", nem tampouco de coisas incompreensveis ou difceis de compreender por sua prpria natureza, mas sim no sentido de coisas relacionadas com revelao puramente divina e, geralmente, coisas obscuramente divulgadas segundo os antigos padres de parcimnia, e obscuramente compreendidas durante todo aquele perodo, mas completamente publicadas nos evangelhos... Os 56

"mistrios do Reino dos Cus", portanto, significam as gloriosas verdades evanglicas que, naquele tempo, somente os discpulos mais adiantados podiam compreender, e apenas parcialmente. Pela explicao dada pela primeira das autoridades citadas, que emprega a palavra "iniciados", e pelas explicaes das outras autoridades, em que usada e expresso "discpulos mais adiantados", percebemos que esses autores

evidentemente discerniram a grande verdade representada pelo termo mistrio. Os mistrios que Jesus ensinou a Seus discpulos, e que eles mantinham em grande segredo e estudavam diligentemente a fim de manifest-los, demonstrlos e aplic-los em seu trabalho missionrio, constituam revelaes ou operaes sobrenaturais ou transcendentais da lei que somente os iniciados ou os discpulos mais adiantados podiam compreender ou aplicar. Veremos em captulos posteriores que esses discpulos de Jesus (os cento e vinte que formavam Sua escola secreta) eram iniciados, pois passavam por uma cerimnia de iniciao e tinham meios secretos de identificao, como palavras de passe, sinais e smbolos. Eles eram os mais adiantados entre os milhares de seguidores de Jesus, representando aqueles que haviam hipotecado sua prpria vida ao apoio da obra de Jesus, e cada um dos quais tinha recebido uma misso especial, o que os distinguia dos outros seguidores que no passavam de ouvintes casuais, muitos dos quais egoisticamente buscavam alvio para seus sofrimentos fsicos ou tinham a esperana de se engrandecerem pela associao a um novo movimento, um surpreendente sistema de pensamento. Nas antigas escolas pagas, e nos antigos sistemas msticos ou mitolgicos de estudos secretos, era prtica generalizada a referncia a seus 57

mistrios secretos por meio de smbolos, bem como falar dos ensinamentos secretos em parbolas, para impedir que as massas no iniciadas descobrissem as verdades secretas. Quando Jesus, ainda menino, foi levado para o Egito por Seus pais, era jovem demais para compreender que estava entrando numa terra onde quase todas as grandes verdades da vida estavam gravadas em pedras ou pintadas em paredes na forma de smbolos ou desenhos alegricos que revelavam grandes princpios em parbolas. Mas quando sua educao se desenvolveu o suficiente para que Ele, aos treze anos, causasse espanto aos Ancios de Seu pas, ento Ele aprendeu que a nica maneira segura de preservar verdades e transmiti-las aos dignos, ocultando-as aos egostas e indignos, era usar smbolos na escrita e parbolas e alegorias na fala. No deveramos portanto nos surpreender de que, tendo-lhe sido revelado o maior de todos os mistrios, e tendo a mais elevada sabedoria sido transmitida Sua conscincia por Deus, a fim de que Ele pudesse ser um mensageiro para comunicar essas verdades, Jesus adotasse prontamente o sistema de falar por parbolas e alegorias, bem como de sinais e smbolos, para ocultar aos no iniciados aquilo que somente os obreiros iniciados e devidamente preparados poderiam compreender em todos os detalhes. Alguns dos mais antigos smbolos de mistrios e sinais secretos usados em escritos e ensinamentos alegricos e msticos eram o tringulo, a cruz, o crculo, o quadrado, e seus componentes, como linha reta vertical, linha reta horizontal, linha diagonal e linha curva. Jesus no adotou arbitrariamente esses antigos smbolos em Seu sistema de comunicao secreta de conhecimento, ou na apresentao de 58

parbolas

e

alegorias,

nem

os

adotou

apenas

porque

eles

estavam

convenientemente disposio. Ele os adotou porque cada um deles representava uma verdade fundamental e sublime que fora revelada por Deus s grandes Luzes de eras passadas, no transcurso de seu trabalho preliminar de iluminao da humanidade, e Jesus sabia que as grandes verdades simbolizadas dessa forma continuavam a ser as grandes verdades da vida e tinham significado para as mentes iniciadas, para mentes inspiradas ou harmonizadas, mas nada significavam para os indignos, os irrefletidos e os no evoludos. E assim vemos Jesus usando esses antigos smbolos do mesmo modo como eles haviam sido usados por muitos sculos para representar uma verdade fundamental. Mas luz das novas revelaes e dos novos mistrios que Ele deveria transmitir aos Seus discpulos, esses smbolos (e as alegorias em que eles estavam inseridos para formar uma histria aparentemente clara) adquiriram uma nova luz, um novo poder de tocar a alma e a mente. por essa razo que encontramos no Novo Testamento tantas referncias dos discpulos ao fato de que Jesus "disse-lhes muitas coisas em parbolas". A propsito dessas parbolas, as eminentes autoridades que j citamos declararam em seu livro que "essas parbolas so sete e notvel que, sendo sete o nmero sagrado, as primeiras quatro parbolas foram transmitidas s massas, ao passo que as outras trs foram comunicadas em particular aos doze discpulos, e essa diviso em quatro e trs em si mesma notvel na aritmtica simblica das Escrituras". Vemos nisso uma referncia ao fato de que, nos mistrios que foram revelados por Jesus a Seus discpulos, houve a continuao do uso dos sete nmeros sagrados que tinham sido usados nos antigos mistrios, e de que o nmero 59

sete era considerado o nmero sagrado por Jesus e Seus discpulos, e no apenas um nmero sagrado, como tido hoje pelas fraternidades msticas que esto tentando preservar e perpetuar para sempre os genunos mistrios e as doutrinas secretas do cristianismo. Vemos, alm disso, como esses nmeros de um a sete facilmente constituem a primeira parte dos smbolos j referidos, 1 representando uma das linhas retas, 2 representando duas linhas, 3 representando o tringulo, e 4 o quadrado. Notamos, tambm, que esses autores usaram a expresso "aritmtica simblica das Escrituras". Quando lemos atentamente os ensinamentos e pregaes de Jesus quando Ele estava cercado de apenas alguns discpulos, ou quando estava em meio a multides, percebemos que Ele usava parbolas, a no ser quando falava no crculo privativo e secreto de Sua escola de cento e vinte estudantes iniciados e qualificados. Quando Ele caminhava pelas estradas da Palestina e encontrava uma rocha ou um monte conveniente, de onde pudesse ter uma boa viso dos grupos de pessoas que se reuniam aos poucos no local ou atrair a ateno dos que passavam montados em seus jumentos, com freqncia sentia que era necessrio que transmitisse Sua mensagem, que imprimisse Seu breve sermo com profundeza naquelas mentes, por meio de uma histria que interessasse imediatamente aos transeuntes porque se relacionasse com seus problemas pessoais, com coisas que lhes fossem familiares e no abstratas e especulativas. Jesus estava sempre acompanhado de um ou dois discpulos, especialmente os doze apstolos que representavam uma espcie de guarda pessoal e crculo mais ntimo ou comit executivo, como poderamos dizer na 60

linguagem de hoje; em todas as comunidades havia um ou dois membros de Sua escola secreta que se postavam no meio ou na orla do crculo crescente de ouvintes, a fim de aproveitarem as demonstraes que Jesus fazia quanto atitude e postura adequadas ao pregar, bem como as corretas vibraes espirituais a serem emitidas a fim de que os ouvintes pudessem sentir Seu amor espiritual e Sua autntica preocupao com o bem-estar de todos eles. Podemos facilmente visualizar as multides heterogneas, com suas vestes, faixas e toucados multicoloridos, formadas por muitas pessoas pauprrimas, apenas algumas muito ricas, a maioria da classe mdia trabalhadora. Quase todas tinham alguma instruo, especialmente quanto s doutrinas de sua religio, o que as tornava familiarizadas com certos termos teolgicos, de modo que muitas delas estavam prontas para rir e zombar de qualquer idia ou pensamento que parecesse contrariar suas convices religiosas, tal como acontece ainda hoje em qualquer aglomerao de pessoas. Assim, Ele falava a essas multides em parbolas, primeiro escolhendo como abertura da palestra uma ou duas palavras-chave que atrairiam a ateno vacilante daquelas pessoas e tornariam Suas sugestes atraentes e familiares para elas. Ele no falava de maneira difcil demais nem simplificada demais, pois criava, mesmo na mente das pessoas importantes e cultas, a impresso de que era uma mente extraordinariamente brilhante. Se Ele tivesse tentado baixar o nvel da palestra ao nvel de inteligncia da multido que O ouvia, teria dado a impresso de ser pessoa de pouca instruo e qualificao para manter a ateno de qualquer grupo. Mas Ele tinha a mgica habilidade, sem dvida de inspirao divina e 61

cuidadosamente desenvolvida e treinada, de inventar parbolas que lidavam com os problemas imediatos dos ouvintes. Algumas parbolas envolviam os problemas daqueles que viviam em terras distantes, revelando claramente que em Sua juventude, antes de iniciar Seu ministrio no mundo, Ele devia ter vivido e estudado nessas outras terras, junto ao povo a que se referia e de cujos problemas falava com imagens detalhadas e precisas. Quando falava para homens e mulheres cujo interesse principal era a pesca, Suas parbolas giravam em torno de histrias e incidentes de pescadores. Quando falava a pessoas cujo trabalho dirio estava ligado ao fabrico de vinho, Ele usava uma parbola que se referia aos princpios dessa profisso. Se lembramos que a linguagem usada por Ele tambm se adaptava natureza, compreenso intelectual e nacionalidade do Seu povo, como o hebraico ao falar para os judeus, e o aramaico quando falava com os gentios e outros, percebemos que Ele utilizava todos os meios que o auxiliassem a transmitir simblica e alegoricamente as verdades que os ajudariam, sem colocar em suas mos as verdades e doutrinas secretas que poderiam usar e aplicar erroneamente, e que provavelmente no poderiam compreender corretamente. Ele fazia certos sinais com as mos que pareceriam aos transeuntes casuais meros gestos para acompanhar Sua oratria, mas que para os estudantes iniciados eram vistos como sinais reveladores de verdades simblicas. Nas parbolas havia palavras e expresses de duplo significado. A palavra vinho significava um produto comercial para os plantadores de uva e fabricantes da bebida, mas para os iniciados tinha o sentido que sempre tivera nos mistrios e nos ensinamentos sagrados do lado 62

espiritual do homem. Quando Ele falava do pescador e suas redes, com os rasges que precisavam ser consertados, transmitia duas idias diferentes s duas classes de ouvintes, os iniciados e os no iniciados. Infelizmente muitos erros foram cometidos pelos tradutore