43-chegam os donos, e também a tormenta

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Quinta da Confusão – O nascimento de um império 320 Mina de Ferro da Quinta da Perfeição. E, realmente, foi o que se sucedeu. Após apenas alguns minutos a escavar na mina, um dos mineiros conseguiu encontrar novas pedras de minério de ferro, e logo outros mineiros também fizeram tal descoberta. Assim, a placa à entrada da mina que anunciava o seu esgotamento foi retirada, e os mineiros continuaram a trabalhar o resto do dia… que acabaria daí a 1 ou 2 horas. Depois de 4 dias na cidade de Madrid, os donos regressaram então à sua casa na Quinta da Confusão, que mudara durante o tempo de ausência dos donos. A primeira coisa em que estes repararam, ao atravessarem a quinta na sua velha carrinha, foi na existência dos quartéis do Exército e da Marinha, e na ponte entre as duas margens da Ribeira da Confusão. Afonso Gomes até comentou «Reconstruíram a ponte sobre a ribeira [esta existia na Quinta da Confusão de 1954, tendo-se deteriorado com o tempo]? Inteligentes, estes animais». Andando pela quinta, ainda na carrinha, os donos repararam também na Estação da Quinta da Confusão e nos primeiros metros do Troço Elevado da Quinta da Confusão. Mas a maior mudança da quinta era a sua própria casa… Mal chegaram lá, os donos viram a porta de entrada arrombada, e logo se puseram de sobreaviso. Ao entrarem na garagem repararam que faltavam algumas peças, nomeadamente parafusos, mas de resto tudo parecia em ordem. Ao entrarem na despensa notaram a falta de mais peças: as duas motosserras, as duas máquinas de cortar a relva e as duas ventoinhas que lá estavam não tinham motor, sendo que as ventoinhas nem tinham hélices. Também tinham desaparecido todas as pilhas da divisão, usadas como bateria da carroça a motor da 3ª Batalha da Quinta da Confusão, no Dia 6. Quando entraram na sala, porém, o cenário era devera pior: A mesa e as 8 cadeiras que lá estavam bloqueavam a porta que dava para a cozinha; os restantes móveis e sofás tinham vários golpes, alguns fazendo lembrar golpes de espadas; e vários objectos estavam caídos no chão, alguns partidos. O cenário poderia ser pior uma vez que ali tinham morrido 3 animais da então República da Quinta da Perfeição, mas todos os mortos da casa dos donos haviam sido enterrados após a batalha. Apesar disso, viam-se manchas de sangue no tapete em frente à televisão. Na cozinha esperava-os cenário semelhante ao da sala: mais manchas de sangue; e as máquinas de lavar a louça e de lavar e secar a roupa sem motores. Quando os donos foram ver a bilha de gás que tinham nas traseiras, atrás da cozinha, viram que esta já lá não estava. Nessa noite não teriam fogão nem água quente. Quando foram à casa de banho do rés-do-chão, os Gomes viram que esta estava intacta, uma vez que nenhum animal tinha lá ido na 3ª Batalha da Quinta da Confusão. Assim, com o andar revisto, os donos subiram ao 1º andar. Logo se depararam com os vestígios do tiroteio ali travado durante a batalha: a parede atrás das escadas estava crivada de buracos de

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Páginas 320 a 324

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Page 1: 43-Chegam os donos, e também a tormenta

Quinta da Confusão – O nascimento de um império

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Mina de Ferro da Quinta da Perfeição. E, realmente, foi o que se sucedeu. Após apenas alguns minutos a escavar na mina, um dos mineiros conseguiu encontrar novas pedras de minério de ferro, e logo outros mineiros também fizeram tal descoberta. Assim, a placa à entrada da mina que anunciava o seu esgotamento foi retirada, e os mineiros continuaram a trabalhar o resto do dia… que acabaria daí a 1 ou 2 horas.

Depois de 4 dias na cidade de Madrid, os donos regressaram então à sua casa na Quinta da Confusão, que mudara durante o tempo de ausência dos donos. A primeira coisa em que estes repararam, ao atravessarem a quinta na sua velha carrinha, foi na existência dos quartéis do Exército e da Marinha, e na ponte entre as duas margens da Ribeira da Confusão. Afonso Gomes até comentou «Reconstruíram a ponte sobre a ribeira [esta existia na Quinta da Confusão de 1954, tendo-se deteriorado com o tempo]? Inteligentes, estes animais». Andando pela quinta, ainda na carrinha, os donos repararam também na Estação da Quinta da Confusão e nos primeiros metros do Troço Elevado da Quinta da Confusão. Mas a maior mudança da quinta era a sua própria casa… Mal chegaram lá, os donos viram a porta de entrada arrombada, e logo se puseram de sobreaviso. Ao entrarem na garagem repararam que faltavam algumas peças, nomeadamente parafusos, mas de resto tudo parecia em ordem. Ao entrarem na despensa notaram a falta de mais peças: as duas motosserras, as duas máquinas de cortar a relva e as duas ventoinhas que lá estavam não tinham motor, sendo que as ventoinhas nem tinham hélices. Também tinham desaparecido todas as pilhas da divisão, usadas como bateria da carroça a motor da 3ª Batalha da Quinta da Confusão, no Dia 6. Quando entraram na sala, porém, o cenário era devera pior: A mesa e as 8 cadeiras que lá estavam bloqueavam a porta que dava para a cozinha; os restantes móveis e sofás tinham vários golpes, alguns fazendo lembrar golpes de espadas; e vários objectos estavam caídos no chão, alguns partidos. O cenário poderia ser pior uma vez que ali tinham morrido 3 animais da então República da Quinta da Perfeição, mas todos os mortos da casa dos donos haviam sido enterrados após a batalha. Apesar disso, viam-se manchas de sangue no tapete em frente à televisão. Na cozinha esperava-os cenário semelhante ao da sala: mais manchas de sangue; e as máquinas de lavar a louça e de lavar e secar a roupa sem motores. Quando os donos foram ver a bilha de gás que tinham nas traseiras, atrás da cozinha, viram que esta já lá não estava. Nessa noite não teriam fogão nem água quente.

Quando foram à casa de banho do rés-do-chão, os Gomes viram que esta estava intacta, uma vez que nenhum animal tinha lá ido na 3ª Batalha da Quinta da Confusão. Assim, com o andar revisto, os donos subiram ao 1º andar. Logo se depararam com os vestígios do tiroteio ali travado durante a batalha: a parede atrás das escadas estava crivada de buracos de

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balas, e as próprias escadas tinham vários cartuchos de espingarda em cima. O sangue era também evidente, sinal de que alguém ali morrera ou ficara ferido. As paredes dos quartos e do escritório, assim como as respectivas janelas, tinham buracos de balas, e mais sangue foi encontrado pelos donos nas divisões. Nem mesmo a casa de banho do antigo quarto dos pais dos donos escapara, uma vez que alguns dos azulejos estavam partidos, e além disso as paredes tinham sangue em cima que entretanto escorrera para a banheira. Não se viam só vestígios da 3ª Batalha da Quinta da Confusão na casa dos donos: a vinda de dois touros no Dia 7 também deixara marcas na casa. O chão de ambos os andares tinha marcas de cascos de cavalos, e as portas do quarto dos donos e do antigo quarto dos seus pais, agora o quarto das visitas, estavam arrombadas, partidas ao meio. E uma das janelas da sala estava partida, quando o director da feira fugira da casa dos donos, onde estavam os touros, por ali. Dois curtos acontecimentos tinham bastado para deixar a casa dos Gomes naquele estado. Dois animais que estavam na Quinta da Confusão por altura da Guerra contra a Quinta da Perfeição e que sabiam do estado da casa dos donos viram-nos chegarem lá, e ficaram a observar a construção à espera da inevitável reacção dos Gomes. E esta não tardou: quando os donos chegaram à casa de banho do quarto das visitas e viram que nem mesmo essa divisão fora poupada, um deles gritou «Mas o que é que aconteceu à nossa casa?!», tão alto que os dois animais ouviram a frase. Um deles comentou então «Nós não tivemos culpa, só entrámos aí para ir buscar as armas. A Quinta da Perfeição é que nos seguiu, nós só nos defendemos», compreensivo com a situação dos donos. Era o começo do fim da estadia dos Gomes na Quinta da Confusão, que acabaria mais cedo do que aquilo que os animais esperavam…

23:00

Após 7 horas de viagem e mais de 240 km percorridos, os 10 animais que saltaram a cascata encontravam-se já longe de Portugal Continental, a 120 km da costa. O grupo, ao fim de tanto tempo a navegar, começara a querer regressar ao império, até porque não havia comida alguma a bordo. Já sentindo as barrigas a roncar de fome, os animais reuniram-se na cabina do navio e decidiram inverter a marcha. Aquela viagem já durava há muito, era altura de regressar. Deveriam estar de volta em 4 horas, seguindo sempre a 60 km\h, o que ainda era muito para um grupo de animais esfomeados. Mas o regresso não se faria tão cedo… De repente, uma rajada de vento fechou com estrondo a porta da cabina do navio, fazendo cair a tranca que a fechava por dentro. A ondulação aumentou quase de imediato, e rapidamente começou a chover fortemente e a trovejar. No espaço de

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poucos minutos, os animais viram-se perante uma grande tempestade com ventos e chuvas fortes, trovões sonoros, relâmpagos largos e ondulação de pelo menos 5 metros de altura, a altura do navio. O grupo ora se via acima do mar ora rodeados de ondas, que se abatiam violentamente em cima do navio. Os animais sabiam instintivamente que se levassem com uma onda grande na lateral do barco deveriam virar-se, o que significava morte certa naquele ambiente, com um oceano bastante profundo por baixo e com a costa a mais de 100 km de distância. Tal como os navegadores de «Os Lusíadas», que enfrentavam uma tempestade antes de chegar à Índia, também os 10 animais se viam perante uma tormenta. Mas, ao contrário do que se sucedia na narrativa poética, não havia deuses greco-romanos a auxiliar os navegadores, estes sabiam que só podiam contar consigo mesmos para sobreviver à situação. E havia algo que o grupo tinha de fazer urgentemente: fechar a entrada do porão, por onde a água das chuvas e das ondas entrava constantemente. Para que o navio não se afundasse e levasse para a morte os 10 animais, era preciso que um deles arriscasse a vida a atravessar o curto mas perigoso espaço entre a entrada da cabina e as escadas do porão, que ainda por cima estavam voltadas para a popa e não para a cabina. O animal ao leme e um outro ofereceram-se então para isso.

Um terceiro animal assumiu o leme do navio, reduzindo a velocidade para que a embarcação não se afastasse muito caso um dos animais caísse à água, e pudesse tão rapidamente quanto possível dar a volta para o ir buscar. Então, os dois que se tinham oferecido para arriscarem a vida aproximaram-se da porta, que era constantemente empurrada contra a tranca por fortes rajadas de vento. Quando o navio começou a descer uma onda, aproveitando a oportunidade, os dois animais levantaram de rompante a tranca, e de imediato a porta foi empurrada violentamente para trás. O vento, forte e gélido, invadiu logo a cabina, e os animais distraíram-se momentaneamente com as rajadas. Distracção fatal: quando o primeiro animal deu um passo em frente, o navio inclinou-se de súbito para cima para subir uma onda, e este escorregou para a frente e caiu. O convés de madeira tinha uma camada de água por cima, e o animal deslizou por cima dela, passando por cima da abertura do porão, até alcançar a popa. Este tentou desesperadamente agarrar-se ao rebordo do navio para evitar a queda, mas o animal deslizava de frente e não de trás. Para horror dos animais, o seu compatriota saltou do convés e aterrou de cabeça no mar. A súbita queda na água gelada, com temperaturas que não superavam os 10 graus Celsius, fez o coração do animal começar a bater apressadamente com o choque de temperatura. Quando este se deu conta, estava rodeado de escuridão e de bolhas, bolhas causadas pelo rebentar das ondas, que por sua vez o empurravam para baixo cada vez que caíam. A reacção do animal foi de nadar para cima, para a superfície, e mal emergiu das águas do Atlântico este viu, iluminado por um relâmpago, o navio a virar para a direita. Com o

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candeeiro da proa já derrubado, os animais a bordo da embarcação só podiam contar com os relâmpagos para encontrarem o compatriota seu que caíra ao mar. O animal que o acompanhava por pouco não sofrera igual destino, mas o facto de o navio estar já numa parte mais alta da onda, com menor inclinação, fê-lo embater com o peito nas escadas de ferro em vez de continuar a deslizar. A pancada magoou-o, mas salvou-o do mar. Um terceiro animal foi também apanhado desprevenido pela inclinação da onda e quase que caía para trás, mas este conseguiu agarrar a porta e voltar para a cabina com a ajuda dos companheiros.

Sozinho no mar, com ondas que o atiravam constantemente para baixo de água e que dificultavam a respiração, com o fundo do oceano a milhares de metros de distância, o animal que caíra ao oceano sabia que a sua situação não era boa. O navio já não estava à vista, mas depois de ser empurrado por uma onda o animal viu-o. Cinquenta metros a oeste, a embarcação circulava a uma velocidade de 10 km\h, com os animais a observarem o mar à sua volta na tentativa de verem o companheiro desaparecido. Este tentou erguer os braços e acenar para o navio, mas um súbito trovão impediu-o de ser ouvido. Logo a seguir, uma onda caiu-lhe em cima e submergiu-o, fazendo-o engolir água salgada. Mas, no momento em que a onda caía em cima do animal, o compatriota que não caíra à água por embater nas escadas do porão viu-o, e decidiu ir salvá-lo. Este agarrou uma das cordas do barco destinadas a amarrá-lo a um porto, cuja ponta estava presa à borda do convés, e atou-a à cintura. De seguida, no momento em que uma onda inclinava a embarcação, o animal atirou-se à água e nadou para o sítio onde vira o compatriota ser afundado pelas ondas. O choque de temperatura pôs o seu coração a bater apressadamente, o que lhe deu mais forças para nadar pelo mar para salvar o companheiro. Os compatriotas no navio assistiram a tudo, através das janelas da parede de trás do porão, e logo o capitão do navio parou a embarcação e pô-la a recuar. Dessa forma, com o navio a acompanhar lentamente o nadar do animal, este foi capaz de alcançar o compatriota caído à água, já cansado de nadar e de ser constantemente afundado pelas ondas. O animal alcançou o seu salvador com um último esforço, e os dois juntos começaram a nadar então para o navio, que parou para os deixar subir. Os animais treparam para bordo pela popa, e entraram rapidamente para o porão. Este podia ser fechado por duas portas de madeira, cada uma inserida num lado da abertura horizontal, dentro do chão do navio. Os dois fizeram-nas deslizar, selando assim o porão e salvando o navio de se afundar. A camada de água no espaço dava pelos joelhos dos animais, e estes trataram de colocá-la dentro da caldeira para ser evaporada juntamente com mais carvão, aquele que não fora molhado pelas águas. Assim, o navio continuou a seguir para oeste, enfrentando a tempestade mas, em princípio, já a salvo do afundamento. Bastava que nenhuma forte onda o atingisse de lado.

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Saldo do Dia 10

População e densidade populacional

Saldo da população: +135 habitantes Saldo da densidade populacional: -175 hab.\km2

660 690640

750795

0

100

200300400

500

600700800

900

07:30 09:00 10:30 11:00 19:00

Popu lação

440

345 320250 265

050

100150200250300350400450500

07:3

009

:00

10:3

011

:00

19:0

0

Densidadepopulacional