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    OS AUTMATOS DA FICOCIENTFICA: reconfiguraes datecnocincia e do imaginriotecnolgico1

    RGIS, FtimaDoutora em Comunicao e Cultura pela ECO/UFRJ;Professora da Faculdade de ComunicaoSocial(Graduao e Ps-Graduao) da UERJ;Pesquisadora do CiberIDEA Ncleo de Pesquisa emTecnologia, Cultura e Subjetividade ECO/[email protected]

    RESUMO

    Com base em pressupostos de Wolfgang Iser que permitemafirmar que o imaginrio de uma cultura se revela por meio deseus produtos ficcionais, o artigo prope compreender aevoluo do imaginrio contemporneo sobre a criao da vidaartificial do sculo XIX at os dias atuais por meio da anlisede histrias de fico cientfica. Neste sentido, o texto analisaa evoluo do conceito de autmato em textos literrios e emfilmes de fico cientfica como reconfiguraes dedescobertas cientficas e produo do imaginrio de cadapoca.

    Palavras-chave: Tecnocincia. Autmatos. Imaginriotecnolgico.

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    Os autmatos da fico cientfica

    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 15, p. 1-15, julho/dezembro 2006.

    Ns vivemos fico cientfica.(Marshall MacLuhan)

    Ns anexamos o futuro ao nosso prprio presente.(J. G. Ballard)

    Os cyberpunks so talvez a primeira gerao de ficocientfica a crescer no apenas sob a influncia de uma

    tradio literria de fico cientfica, mas em umverdadeiro mundo de fico cientfica.

    (Bruce Sterling)

    1 INTRODUO

    Uma das principais novidades da tecnocincia refere-se s possibilidades de

    interveno sobre os mecanismos da vida e de criao de vida artificial, que at ento

    estavam fora do alcance da cincia. Seres clonados - como a ovelha Dolly e artificiais

    como o rob campeo de sinuca Deep Green ( primo do computador enxadrista

    Deep Blue ) concretizam seres que s existiam na fico cientfica, despertando no

    imaginrio tecnolgico a idia de que vivemos num mundo de fico cientfica, como

    alardeiam os autores citados nas epgrafes que abrem este texto.Mas como acontece essa inter-relao entre tecnocincia, fico cientfica e

    imaginrio tecnolgico? Dito de outra forma: como podemos relacionar esse processo de

    retroalimentao entre real, fico e imaginrio?

    Em outro artigo (RGIS, 2004) mostramos como o imaginrio tecnolgico uma

    construo que envolve um entrelaamento de trs termos: tecnocincia (realidade),

    fico e imaginrio tecnolgico, cujos pressupostos cabem aqui retomar. Wolfgang Iser

    permite afirmar que o imaginrio de uma cultura se revela por meio de seus produtos

    ficcionais (textos literrios, imagens, jogos, entre outros). Iser substitui o dualismo

    clssico entre real e ficcional por uma relao tridica: real, ficcional e imaginrio

    (1993, p. 2). A relao entre as trs partes funciona assim: o ato ficcional parte do

    real/existente, de onde tira a veracidade necessria para a cumplicidade entre autor e

    leitor, e acrescenta-lhe uma qualidade imaginria, colocando em contato real e

    imaginrio. Se por um lado, ao apelar para o imaginrio, a fico conduz a realidade

    para alm de seus limites, por outro, ela captura e d forma ao imaginrio, que quando

    livre um repertrio de imagens, fantasias e sonhos em constante metamorfose e

    disperso.

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    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 15, p. 1-15, julho/dezembro 2006.

    Aplicando os pressupostos de Iser para nossa questo particular podemos

    descrever o papel da fico na produo do imaginrio atual da seguinte maneira: a

    fico cientfica (ato de ficcionalizao) tem a funo de cruzar as fronteiras entre o

    real/existente (os produtos engendrados pela tecnocincia) e o imaginrio de sua poca

    (ISER, 1993). Mas acreditamos que o cruzamento de fronteiras operado pela atividade

    ficcional no se limita a retirar elementos do imaginrio e do real e recombin-los no

    texto ficcional, como sugere Iser. Nossa hiptese que a fico os devolve,

    reconfigurando tanto a realidade quanto o imaginrio. As obras de fico cientfica

    ativam o imaginrio tecnolgico e inspiram a produo tecnocientfica, e estes, por sua

    vez, orientam novas especulaes ficcionais.O objetivo deste artigo duplo:

    a) compreender a evoluo do imaginrio tecnolgico sobre a criao da vida

    artificial do sculo XIX at os dias atuais por meio da anlise das histrias de fico

    cientfica;

    b) demonstrar que a fico cientfica reconfigura tanto a realidade quanto o

    imaginrio.

    Neste sentido, o texto analisa a evoluo do conceito de autmato nas

    narrativas de fico cientfica como sintoma que entrelaa, por um lado, as

    descobertas cientficas e, por outro, a produo de imaginrio de cada poca.Antes de comear, vamos estabelecer brevemente o que se entende por

    tecnocincia, imaginrio tecnolgico e fico cientfica. Como tecnocincia

    entendemos a convergncia de mtodos e prticas entre tecnologia e cincia2.

    Chamamos de imaginrio tecnolgico ao conjunto de idias e percepes a respeito dos

    usos e especulaes sobre as possibilidades dos recursos tecnolgicos em um contexto

    cultural3. J a fico cientfica o gnero ficcional que produz deslocamentos em um

    ou mais dos seguintes campos da nossa realidade: subjetividade, saber ou concepo de

    espao-tempo4.

    2 BREVE HISTRICO DA VIDA ARTIFICIAL

    A criao de vida artificial tem razes remotas na Histria e na imaginao da

    humanidade. Desde a Antiguidade, o homem tem construdo autmatos engenhos

    mecnicos capazes de gerar seu prprio movimento e figuras animadas

    artificialmente. A fabricao de autmatos depende da capacidade tcnica e

    inventiva de cada cultura. A vida artificial tem suas bases na tipologia dos mecanismos

    de controle produzidos pela cincia de cada poca.

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    Na Antiguidade, os artefatos mecnicos capazes de gerar seu

    autofuncionamento baseavam-se em tcnicas de transporte de gua. Era o caso do

    relgio egpcio clepsidra. Por volta de 135 a .C., Ctesbios de Alexandria utilizou vrias

    tcnicas hidrulicas da poca para desenvolver um relgio mecnico, tambm movido

    gua. J no sculo primeiro, Hero de Alexandria escreveu um tratado sobre Pneumtica

    no qual descrevia vrios dispositivos, em forma de animais e seres humanos, que

    utilizavam princpios pneumticos para gerar movimento (LANGTON, 1996, p. 42). Em

    850 d.C., foi inventada a tcnica de escapamento mecnico que possibilitou um salto

    na tecnologia de relgios mecnicos. A partir desta era os artefatos passaram a exibir

    suas sofisticadas engrenagens internas.Ao longo da Idade Mdia e do Renascimento, a histria da tcnica esteve

    intimamente ligada produo de relgios. Os autmatos desse perodo so artefatos

    que realizam movimentos repetitivos, como os jacks, homenzinhos mecnicos

    incorporados s engrenagens de relgios que usavam machados para bater horas em

    sinos. No incio do sculo XVIII, o famoso Pato do francs Jacques de Vaucanson

    efetuava operaes mais complicadas. Alm dos mecanismos de relgio, possua

    controladores que processavam a seqncia de suas aes, sendo definido como um

    pato artificial [...] feito de cobre dourado que bebe, come, grasna, singra a gua, e

    digere sua comida tal um pato vivo (LANGTON, 1996, p. 42).Em 1771, Luigi Galvani realizou uma experincia com as pernas de uma r que

    se contraam involuntariamente quando atravessadas por uma corrente eltrica. A

    experincia inspirou a Natrphilosophie na propagao da idia de que foras naturais

    intercambiveis uniam o animado e o inanimado por meio do galvanismo e da

    eletricidade. Essa noo foi uma das principais inspiraes de Mary Shelley para

    Frankenstein (1817) .

    Entretanto, no sculo XIX a biologia divorciou-se da fsica e da qumica e

    invocou para si o princpio do vitalismo. A biologia alegou que a vida era dotada de

    fora e energia vitais, no redutveis aos procedimentos de investigao da fsica e da

    qumica. Ensejando a idia de que era constituda por meios inacessveis ao humano, o

    pensamento e a vida no podiam ser produzidos artificialmente nem seus mecanismos

    manipulados pelos humanos.

    O imaginrio e a fico cientfica do sculo XIX so fortemente contaminados

    pelas teorias da biologia. As figuras mecnicas que mimetizam seres humanos so vistas

    como blasfmias abominveis e trazem desgraas para seus criadores: uma represlia

    por tentarem acessar o conhecimento proibido. Em O homem de areia (1816), de E.T.A.

    Hoffman, o professor Spalanzani condenado judicialmente por ter apresentado

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    Olmpia uma boneca de madeira animada por segredos alqumicos como sua filha

    legtima e t-la inserido no convvio social. O turco falante de Autmatos (1814),

    tambm de E.T.A. Hoffman, e o autmato de The Bell-Tower (1855) , de Herman

    Melville, tambm trazem conotaes negativas para a relao entre humanos e seus

    autmatos.

    O romance Frankenstein, ou o moderno Prometeu (1817), de Mary Shelley, a

    primeira histria em que matria inerte animada por meio de procedimentos e

    conhecimentos cientficos, sendo considerada a primeira obra de fico cientfica. Na

    experincia do trgico Dr. Frankenstein, repousam quatro das principais questes que

    povoam o imaginrio sobre as relaes entre homens e autmatos: a promessa deobteno da fora prometica, o medo de que o conhecimento sobre a criao da vida

    seja proibido e leve o homem runa, o receio de que a criatura se volte contra seu

    criador e o temor de que a criatura se reproduza por conta prpria. A obra de Mary

    Shelley um marco tambm por discutir a questo epistemolgica de sua poca: a

    substituio da magia pela cincia.

    No sculo XX, o desenvolvimento dos estudos de robtica e de inteligncia

    artificial d asas ao imaginrio e fico cientfica. Na rvore genealgica dos

    autmatos aparecem, cronologicamente, robs, andrides e supercomputadores. Os

    robs da fico cientfica so qualitativamente diferentes dos robs industriais. Estesforam projetados para realizar tarefas especficas e repetitivas, assemelhando-se a

    braos mecnicos, cavalos de ao ou polvos gigantes. As narrativas ficcionais

    reconfiguram os robs reais dotando-os de qualidades imaginrias. Os robs da fico

    possuem forma corporal e capacidade sensorial e emotiva que os habilita a atuar no

    mundo humano. S nas ltimas dcadas a robtica tem criado robs parecidos com os

    imaginados pela fico cientfica, como o Deep Green , citado na abertura deste texto.

    A Honda desenvolveu o rob Asimo, cujo nome uma homenagem ao famoso escritor

    Isaac Asimov. O Asimo representa uma nova tendncia da robtica em emular a forma

    humana. Nesse sentido, os cientistas talvez tenham se inspirado nas inmeras

    conjecturas da literatura de fico cientfica que, pelo menos, desde a dcada de 1960,

    tm demonstrado a utilidade prtica deste tipo de design. Podemos citar como

    exemplo o conto I sing the body eletric , de Ray Bradbury, no qual a bab-rob tem

    forma humana e feminina para interagir melhor com os bebs que cuida.

    3 ROBS

    A primeira obra importante do sculo XX a tratar a questo da vida artificial foi a pea

    teatral R.U.R. (Rossum's Universal Robots), escrita em 1920 pelo escritor tcheco Karel

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    estavam sob controle. Quando se comportam como humanos, fogem ao controle. Eis o

    perigo: se nossas mquinas forem idnticas a ns em natureza e grau, elas agiro

    exatamente como ns, humanos: usurpando o lugar do Criador e tomando as rdeas

    sobre os outros seres vivos do planeta.

    O brilhantismo de Capek no termina aqui. O autor traz outra novidade:

    associar a relao homem-mquina mecanizao e explorao dos homens nas

    fbricas, tnica da realidade na poca. Capek escreveu R.U.R. logo aps a Revoluo

    Bolchevique de 1917. O levante dos robs na fbrica Rossum claramente inspirado nos

    trabalhadores revolucionrios da Rssia. R.U.R. uma metfora da mecanizao,

    desumanizao e explorao dos operrios nas fbricas. Na tenso ambgua einquietante entre homens que tratamos como robs, e robs que emulam pensamentos,

    emoes e aes humanas, Capek traduz os problemas sociais do imaginrio de sua

    poca, mesclando-os com as questes milenares sobre o que o humano, o que a

    vida e quem tem o poder de ger-la (CAPEK, 19--).

    Aps R.U.R., as narrativas sobre criao de vida por meio da cincia logo

    substituram os seres animados por magia, como Olmpia, e os cadveres reanimados

    em laboratrio, como o monstro do Dr. Frankenstein, por robs, andrides e

    supercomputadores. A fico cientfica do sculo XX foi profcua em produzir histrias e

    representaes sobre nossos duplos de metal.De um modo geral, nas primeiras dcadas do sculo XX, os sentimentos

    ambivalentes em relao aos robs prevaleceram nas narrativas de fico cientfica. O

    conto A mquina perdida (1932), de John Wyndham, conta a saga de uma mquina

    originria de Marte, onde pertence a uma raa que convive com os seres humanos,

    gozando de direitos iguais. Ela veio para a Terra acompanhando um marciano em

    expedio ao nosso planeta, mas a espaonave sofreu um acidente e o marciano

    morreu. No suportando viver no terceiro planeta, o artefato comete suicdio e deixa

    uma carta explicando suas razes. A narrativa contada em primeira pessoa pela

    mquina. O conto prossegue com a mquina narrando suas aventuras na Terra,

    analisando criticamente os seres humanos, e desabafando sobre o quanto se sente mal

    em ver o estado primitivo em que se encontram as mquinas neste planeta. Mas o que

    mais choca a mquina o medo que ela desperta nos seres humanos.

    Homens com medo de uma mquina. Era inconcebvel. Que motivosteriam? No h dvida que o homem e a mquina so complementosnaturais; ajudam-se mutuamente. (...) Havia apenas dois motivospara esse receio. Em primeiro lugar, que nunca tivessem vistomquinas; em segundo, que as do terceiro planeta houvessem

    seguido uma linha de evoluo que lhes fosse hostil (WYNDHAM,1985, p. 27-42).

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    No perodo da fico cientfica que os tericos do gnero classificam como

    Golden Age (1938-1950), a balana comea a pender favoravelmente aos robs. A

    Golden Age o momento em que fico cientfica est sob o signo dos ideais

    iluministas. Seus principais autores demonstram grande otimismo com o progresso

    cientfico e a confiana na construo da verdade do sujeito e da sociedade nofuturo .

    Predominam os temas voltados para o desenvolvimento da cincia e da tecnologia.

    Entusiastas da cincia e da tecnologia, os escritores da Golden Age empenham-

    se em produzir enredos que combatam o temor pelos autmatos. Robs aliengenas

    que representam duplamente a funo de Outro vm para a Terra em misso de paz,mas so mal-interpretados e molestados por humanos, como o gigantesco Gnut,

    autodesativado depois de ver seu senhor exterminado pelos terrqueos, no conto Adeus

    ao mestre (1940), de Harry Bates, que originou o filme O dia em que a Terra parou

    (1951)5.

    Uma das estratgias mais usadas pelos escritores da Golden Age para estimular

    a afeio pelas mquinas o emprego de robs simpticos e fiis aos seus criadores.

    Revelando um modo moderno de minimizar os devires agressivos e incontrolveis das

    mquinas, vrios escritores do perodo optam pela domesticao dos robs. O

    escritor e pesquisador Brulio Tavares avalia que, na fico cientfica dessa poca,predominam os robs pesados, repletos de luzes e capazes de sentimentos e emoes.

    Demonstram uma mistura de ar de candura com pose filosfica. O cultivo dessa

    simpatia pelos robs conta Tavares era do mesmo tipo daquela que os ingleses

    portavam em relao aos nativos de suas colnias na sia ou os americanos em relao

    aos negros ex-escravos e os ndios recm-pacificados (TAVARES, 1986, p. 62-63).

    Isaac Asimov que antes de se tornar um escritor de fico cientfica era

    cientista qumico foi um dos maiores defensores da causa dos robs e um dos

    principais autores da Golden Age. Como grande entusiasta da cincia e f de fico

    cientfica, Asimov revoltava-se contra o que denominava complexo de Frankenstein.

    Na viso de Asimov, as histrias que narram hordas de robs assassinos ameaando a

    raa humana representam no apenas o temor de que a criatura supere e ameace o

    criador, mas tambm imputam medo ao progresso da cincia e ao conhecimento dos

    segredos da vida.

    A maior preocupao de Asimov demonstrar a segurana e a fidelidade dos

    robs em relao aos humanos. Seus robs so dotados de crebros positrnicos

    compatveis com o pensamento e a fala dos humanos, e projetados para se comunicar

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    verbalmente com as pessoas. O nome positrnico deve-se descoberta dos postrons

    quatro anos antes da publicao de seu primeiro conto.

    A histria sobre robs, Impasse , publicada originalmente na edio de maro

    de 1942 da Astounding Science Fiction, marcou a primeira vez em que se utilizou o

    termo robtica'. O Oxford English Dictionary atribui a inveno da palavra a Isaac

    Asimov. Foi tambm nesse conto que Asimov criou as famosas Trs Regras

    Fundamentais da Robtica que ficaram mais conhecidas como as Trs Leis da

    Robtica. Os trs princpios esto gravados numa espcie de memria ROM nos

    crebros positrnicos de todos os robs. As leis prevem que:

    Primeira Lei: Um rob no pode fazer mal a um ser humano ou, poromisso, permitir que um ser humano sofra algum tipo de mal. [...]Segunda Lei: Um rob deve obedecer s ordens dos seres humanos, ano ser que entrem em conflito com a Primeira Lei. [...] TerceiraLei: Um rob deve proteger a prpria existncia, a no ser que essaproteo entre em conflito com a Primeira ou Segunda Lei. (ASIMOV,1986, p. 128).

    As Trs Leis agem sobre os robs de modo semelhante ao modo como as normas

    de conduta disciplinares atuam sobre os indivduos: com o objetivo de estancar os atos

    indesejveis vida social. Entretanto, as Leis de carter moral ocasionalmente

    entram em conflito com o raciocnio puramente lgico do rob ou com as ordens diretas

    recebidas dos humanos. Os robs tornam-se confusos. Na tentativa de conciliar as

    informaes contraditrias, cometem pequenos delitos e mentem, como ocorre em O

    pequeno rob desaparecido6, escrito por Asimov em 1947. As situaes mais diversas

    provocam reaes inusitadas nos robs. Apesar de sua programao, freqentemente os

    robs reagem de modo totalmente imprevisvel: demonstram sentimentos e desejos, e

    chegam at mesmo a sonhar.

    4 ANDRIDESCom o desenvolvimento da ciberntica e da biologia molecular nas dcadas de 1940 e

    1950, os robs da fico cientfica comeam a se tornar ainda mais semelhantes

    fisicamente aos humanos surgem os andrides. Clute & Nicholls historiam que a

    palavra apareceu na lngua inglesa em 1727 para referir-se s supostas tentativas do

    alquimista Albertus Magnus (1200-1280) de criar um homem artificial (CLUTE;

    NICHOLLS, 1995, p. 34). Na fico cientfica, foi usada pela primeira vez em 1936 por

    Jack Williamson em The cometeers . O uso atual do termo andride em geral denota

    robs com aparncia humana, podendo ser produzidos com substncias orgnicas ou

    revestidos com materiais sintticos que imitam fielmente musculatura e pele.

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    Autnticas reprodues humanas, os andrides so considerados seres mais evoludos

    que os robs e, freqentemente, alcanam nveis de complexidade mental e at

    emocional que rivalizam com os humanos.

    At a dcada de 1940, os andrides raramente aparecem nas histrias de fico

    cientfica. Os enredos da Golden Age privilegiam os mecanismos de aspecto

    visivelmente maqunico. Os robs esto no limite do humano, mas sua natureza

    mecnica mantm fronteiras bem delineadas. Mas os andrides no possuem diferena

    biolgica em relao aos humanos. Por ofenderem diretamente a prerrogativa divina de

    criao seres vivos orgnicos, os andrides produzem no imaginrio a idia de que so

    mais perigosos que os robs humanides.Freqentemente, as histrias de fico cientfica apresentam andrides criados

    imagem e semelhana do homem justamente com o objetivo de substitu-lo. o caso

    do romance As Possudas , de Ira Levin, no qual os homens da pequena cidade de

    Stepford substituem suas esposas feministas por rplicas perfeitas que no se importam

    em serem usadas, literalmente, como objetos. J no filme Westworld: onde ningum

    tem alma (1973)7, andrides masculinos e femininos so criados para povoar um parque

    de diverses onde podero ser assassinados e estuprados por turistas sequiosos por

    emoes violentas. s vezes, as mquinas emulam o ser humano com tanta perfeio

    que enganam a si mesmas, como o menino Daryl, que se julga completamente comumat que descobre ser um Data Analysing Robot Youth Lifeform (forma de vida robtica

    jovem de anlise de dados), no filme D.A.R.Y.L . (1985)8.

    Principalmente aps a ciberntica e a biologia molecular terem dissolvido as

    distncias entre humanos e mquinas, as histrias passaram a destacar mais os esforos

    de andrides que desejam se tornar humanos, desenvolvendo os dilemas morais e os

    recorrentes problemas de preconceitos e diferenas ontolgicas adjacentes questo.

    Como o boneco de madeira que queria ser um menino de verdade, no famoso

    romance de Carlo Collodi (1883), muitas vezes andrides perfeitos exigem ser

    reconhecidos como seres humanos. Entre os mais famosos portadores do complexo de

    Pinquio esto o Tenente Data, da srie televisaJornada nas estrelas A nova gerao

    (1987-1993) e Andrew, de O homem bicentenrio, conto de Isaac Asimov, transformado

    em filme homnimo (2000)9.

    Os autores tradicionalmente relacionados ao movimento New Wave da fico

    cientfica produziram obras marcantes sobre andrides e sua relao com humanos. A

    raa de andrides de A torre de vidro (1970), de Robert Silverberg, desenvolve

    emoes tipicamente humanas como o prazer sexual, o amor e o medo. Os andrides

    revoltam-se contra a condio de subordinados e lutam por sua emancipao.

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    Entretanto, esta luta no pode mais ser compreendida como a revolta da criatura que

    ameaa o criador, nem mesmo como metfora para o castigo da humanidade que ousou

    conhecer os segredos da vida. Os andrides de Silverberg no so meras mquinas,

    possuem alma; no so seres assassinos tentando destruir a raa humana, lutam pelo

    direito de ser livres. o imaginrio da liberdade de escolha e do direito aos prazeres

    individuais, caracterstico da dcada de 1960, contaminando a fico (SILVERBERG,

    1981).

    5 COMPUTADORES SURGEM OS CREBROS ELETRNICOS

    Mas como comparar a inteligncia orgnica com a inteligncia sinttica quando noexistem semelhanas entre os corpos nos quais esto enclausuradas? Constitudo por

    caixas gigantescas e opacas que encerram circuitos eltricos indecifrveis e

    insondveis, o computador representa a frieza e a assepsia do clculo perfeito, isento

    de emoes. Destitudo de aspectos antropomrficos, a criao humana mais

    diferente do homem, e, justamente por isso, a mais ameaadora.

    O uso do computador como crebro eletrnico apto a realizar clculos

    velocidade da luz foi praticamente ignorado pelo imaginrio tecnolgico e pelos

    primeiros escritores de fico cientfica. O gnero havia apostado no desenvolvimento

    de autmatos semelhantes aos humanos, tecendo narrativas em que os crebros

    eletrnicos encontravam-se enclausurados em corpos mecnicos com formato

    humanide os robs.

    Entretanto, assim que surgiu, o computador foi adotado pela fico cientfica.

    De um modo geral, os computadores da fico cientfica so inteligncias artificiais

    puras, que prescindem da forma corporal dos robs e mantm apenas os mecanismos

    constituintes do crebro. O pensamento racional do Ocidente v o corpo como base das

    emoes, elemento que confunde a razo. Neste contexto, o computador a figura que

    representa o ideal mximo de perfeio: desvencilha-se do inconveniente de um corpoprprio ao mesmo tempo em que, sendo mquina, rene atributos de lgica,

    inteligncia e razo puras. O rob e o andride ainda so feitos imagem e semelhana

    do homem, mas o computador parece tocar diretamente o divino. A eletrnica sempre

    manteve um carter etreo por sua capacidade de fazer sons e imagens trafegarem

    invisveis pelo espao areo, tendo o ar como nico substrato material.

    fcil imaginar robs tornando-se companheiros do homem. Mas difcil

    imaginar que o computador, com suas formas retilneas e inexpressivas evocando frieza

    e razo, possa sentir empatia pelos humanos. Entrevistado sob a possibilidade de as

    mquinas desenvolverem emoes genunas, Michael Hawley, cientista do MIT, revela

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    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 15, p. 1-15, julho/dezembro 2006.

    sua crena de que ser mais fcil para as mquinas apresentarem reaes quando

    forem dotadas de corpos e possam experimentar o mundo10. Sherry Turkle (1984), em

    sua pesquisa sobre os modos de relacionamento entre crianas e computador, revela

    que, no imaginrio infantil, a mquina uma entidade que raciocina e os homens so

    seres que sentem.

    O computador eleva ao grau mximo a suspeita dos humanos em relao s

    mquinas. A maior parte das obras de fico cientfica destaca os temores em relao

    s mquinas inteligentes. A idia de um computador evoluir at se tornar Deus e no

    necessariamente uma divindade bondosa apresentada em vrias histrias. No conto

    Resposta (1954), de Fredric Brown, cientistas conectam todos os computadores datotalidade de planetas habitados do universo inteiro (96 bilhes de planetas) a um

    supercomputador capaz de combinar o conhecimento integral de todas as galxias. Em

    seguida, um cientista formula ao computador uma pergunta que nenhuma outra

    mquina tinha sido capaz de responder: Deus existe? Ao que o computador responde

    sem hesitao: Sim, agora existe. Apavorado, o cientista tenta desligar a chave, mas

    fulminado por um raio cado de um cu sem nuvens (BROWN, 1985).

    J o conto No tenho boca e preciso gritar (1967), de Harlan Ellison, faz jus ao

    ttulo que recebeu: a melhor histria de horror que a fico cientfica criou at hoje

    em torno dos computadores. Com seu estilo direto e ultrajante, Harlan Ellison conta ahistria de uma Terra cujo perodo de Guerra Fria desencadeou a Terceira Guerra

    Mundial. O conflito alcanou propores to gigantescas que os polticos recorreram a

    computadores para resolver a situao. A soluo do computador AM para a guerra foi

    exterminar a humanidade, reduzindo-a a cinco espcimes, a quem ele tortura e mata,

    sempre os ressuscitando em seguida para mant-los em agonia por toda a eternidade

    (ELLISON, 1985).

    Mas h tambm os enredos otimistas. Um dos mais comuns refere-se

    expectativa de que a inteligncia superior da mquina possa ser usada para concretizar

    o sonho moderno de construo de organizaes sociais justas. Isaac Asimov defende

    consistentemente os benefcios de uma sociedade administrada por mquinas

    inteligentes. Em O conflito evitvel (1950), Asimov imagina uma mquina inteligente

    capaz de refrear as tendncias destrutivas da humanidade. Sob o controle de

    computadores, a guerra torna-se evitvel. Uma outra possibilidade otimista (?) a do

    upload da mente. A hiptese de que em pouco tempo as tecnologias da informao e

    da comunicao tornaro possvel o upload da mente no computador e, at mesmo, a

    juno de memrias de pessoas diferentes em uma mesma mente, ficou famosa com a

    divulgao da obra Mind Children , do cientista do MIT, Hans Paul Moravec. Esta

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    13RGIS, Ftima

    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 15, p. 1-15, julho/dezembro 2006.

    hiptese um dos exemplos em que a fico cientfica inspirou imaginrio e

    tecnocincia. A idia do upload surgiu em 1969 no romance To live again , de Robert

    Silverberg, no qual os vivos disputam as mentes gravadas de gnios falecidos para

    serem mescladas s suas prprias, na condio de conscincias secundrias.

    6 CONSIDERAES FINAIS

    Por meio da anlise do modo como os autmatos evoluram na fico cientfica,

    buscamos mostrar o entrelaamento entre tecnocincia, fico cientfica e imaginrio

    tecnolgico. Procuramos evidenciar tambm que a atividade ficcional no se limita a

    colher elementos do real e do imaginrio, recombinando-os no texto ficcional. A ficoos devolve, reconfigurando real e imaginrio.

    E o que os autmatos revelam a respeito de seus criadores humanos? Ao se

    posicionarem no limiar do humano, robs, andrides e computadores espelham as

    vises que o homem faz de si prprio. Para Capek, nossos autmatos so robs na

    acepo exata da palavra tcheca: escravos. Representam o proletariado e aspiram

    emancipao (CAPEK, 19--). J os seres artificiais de Silverberg (1981) desfrutam do

    despertar dos sentidos oferecido pela dcada de sessenta, despindo-se de seus pudores

    e reivindicando seus direitos aos prazeres. Nos anos noventa, o andride Data reflete o

    assombro do homem diante do determinismo gentico: se ele dotado de conscincia e

    identidade, como pode ser uma mera mquina?

    ABSTRACT

    Starting from Wolfgang Iser's conjectures, which enable toaffirm that one culture's imaginary manifest itself through itsfictional production, this article aims to discuss the evolutionof contemporary imaginary on the creation of artificial life,from XIX century until present day, analyzing science fictionstories. In this sense, the text analyses the evolution of

    automaton's concept in science fiction literature and cinemaas a reconfiguration of the scientific discoveries and theproduction of each times' imaginary.

    Keywords: Technoscience. Automaton. Technologicalimaginary.

    RESUMEN

    Basado en los conceptos de Wolfgang Iser, que nos permitenafirmar que el imaginario de una cultura se revela por mediode sus productos ficcionales, el artculo se proponecomprender la evolucin del imaginario contemporneo sobrela creacin de la vida artificial desde el siglo XIX hasta los das

    actuales a travs de una anlisis de cuentos de ciencia-ficcin.En este sentido, el texto analisa el concepto de autmata en

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    Os autmatos da fico cientfica

    Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 15, p. 1-15, julho/dezembro 2006.

    textos literarios y en pelculas de ciencia-ficcin como

    reconfiguraciones de descubrimientos cientficos y laproduccin del imaginario de cada poca.

    Palabras claves: Tecnociencia. Autmata. Imaginariotecnolgico.

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    1Artigo apresentado na Conferncia de Abertura do NP Tecnologias da Informao e daComunicao, do VI Encontro dos Ncleos de Pesquisa da Intercom, na UnB, Braslia, 6 a 9 desetembro de 2006 .2Para uma anlise da convergncia entre tecnologia e cincia, ver as entrevistas de JaquesPerrin (Por Uma Cultura Tcnica) e de Dominique Janicaud (Crticas Filosficas das

    Tecnocincias). (SCHEPS, 1996).3Para um aprofundamento sobre o tema, ver FELINTO (2005) e SILVA (2003).4Para um maior aprofundamento sobre esta definio e para uma descrio pormenorizada devrios conceitos de fico cientfica, ver RGIS (2002).5As anlises que se seguem so uma verso condensada e modificada do texto original que seencontra em REGIS (2002).6O DIA em que a terra parou. Direo: Robert Wise . EUA: 20 th Century Fox , 1951. 1 DVD (92min).7As histrias de Impasse e O pequeno rob desaparecido so as principais inspiraes do filmeEu, rob (Direo de Alex Proyas, 2004) .8WESTWORLD: onde ningum tem alma. Direo: Michael Crichton. EUA: MGM, 1973. 1 DVD (88min).9D.A.R.Y.L. Direo: Simon Wincer. EUA: Paramount Pictures, 1985. 1 DVD ( 99min).10O HOMEM bicentenrio. Direo: Chris Columbus. EUA: Paramount Pictures, 2000.