4- cartel nós borromeanos - geraldo natanael
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AARRTTII GGOO
O inconsciente real e o sinthoma1
Geraldo Natanael de Lima Questão: Se é certo que em nossa comunidade de trabalho temos avançado na intenção de desvendar a noção de sintoma que se manifesta na última parte do ensino de Lacan - e com certeza o continuaremos fazendo -, parece-nos que, ao contrário, não temos prestado igual atenção às modificações que o próprio Lacan introduz sobre a noção de inconsciente.2 Resumo: Esse artigo será parte integrante do Cartel da Pós-graduação em Psicanálise Lacaniana e abordará a questão formulada por Fabián Schejtman em seu estudo do Seminário 23: o sinthoma de Jacques Lacan sobre o inconsciente real e a distinção com o inconsciente transferencial. Jacques-Alain Miller na primeira aula do curso realizado em 2006-2007 elaborou o artigo O inconsciente real que também aborda essa questão e servirá de base para o nosso trabalho. Palavras-chave: Inconsciente transferencial; inconsciente real; lapso; interpretação; sinthoma. Jacques Lacan no final de seu ensino realiza um estudo sobre o real fora do sentido, elaborando a tese do inconsciente real e seus efeitos sobre o sinthoma, o final de análise e o passe. É nesse momento que surge a questão de como devemos manejar a clínica psicanalítica quando tivermos acesso ao inconsciente real fora do sentido. Jacques-Alain Miller3 no seu artigo O inconsciente real apresentou uma distinção entre o inconsciente transferencial e o real, sendo o primeiro o que causa a articulação ao sujeito suposto saber e sustentado pela ligação entre S1 e S2. O segundo é exterior ao sujeito suposto saber, que não produz sentido ou interpretação e é homólogo ao traumatismo. Miller afirma que no Seminário 6: o desejo e sua interpretação, Lacan afirma que "o desejo inconsciente é sua interpretação", estamos falando aqui de um inconsciente transferencial em que a operação psicanalítica se sustenta no estabelecimento de um laço entre S1 e S2, sendo S1 o significante da transferência e que estabelece uma ligação com S2 que é um significante qualquer. O sujeito resulta dessa conexão tendo como resto dessa operação o objeto a, que deve ser ocupado pela posição do analista no seu discurso. Miller então acrescenta que é através da transferência que atualizamos e lemos o inconsciente.
1 Trabalho VI, apresentado em forma de Cartel ao Programa de Pós-Graduação em Psicanálise Lacaniana da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, com fins de avaliação em 31.08.13. Coordenação: Célia Sales. 2 SCHEJTMAN, Fabián. Σ + S: 22 proposições encadeadas em torno da divisão do simbólico em sintoma e símbolo in agente revista de psicanálise n.13 - As Paixões do Ser. Salvador: Escola Brasileira de Psicanálise - Bahia. 2000. Artigo Questão nº 14, p.42. 3 MILLER, Jacques-Alain. O inconsciente real. Opção Lacaniana: acesso realizado em 30.08.13 no Site: http://www.opcaolacaniana.com.br/antigos/n4/pdf/artigos/JAMIncons.pdf
Entretanto o analista deve estabelecer rapidamente um sentidofechamento do inconsciente. Freud já nos ensinava sobre o cuidado psicanalista no artigo Sobre o Início do Tratamentoadequado de falar, interpreta
Mesmo nos estádios posteriores da análise,não fornecer ao paciente a sodesejo até que ele esteja tão próximoum passo para conseguir a explicação
Jacques Lacan, no "Quando [...] o espaço de um lapso interpretação), só então temos certeza de estar no inconscientelapso pode ser entendido que existe um corte, uma fenda entre a interpretação e o inconsciente real. Sabemobarramento à interpretação, forçando ao psicanalista saber conduzir a análise ndo fora sentido. Lacan no S
É a título de lapso que aquilo aquilo precisamente por não
Miller acredita que é quando o espaço de um lapso não tiver mais nenhum impacto de sentido ou de interpre é nesse momento que não opera a conexão transferencial.fala nesse texto da "função inconsciente" existindo uma disjunção entre o inconsciente e a interpretação, ou seja, uma exclusão entre as duas funções, um corte, uma desconexão entre o significante do lapso e o significante da interpretação. que se refere Lacan, então nada, não sendo um significante representativo. É com o lapso que Lacan estudou o que se repete, é duradouro e foi fixado primariamente no recalque original, é qualquer tentativa de interpretação, pois é algo fora do sentido.o que se crê – digo: que o inconsciente seja real ressalta que o inconscientesignificante produzindo sentido, sendo que a função psicanalítica deve ser de tratácom urgência do que faz furo como traumatismo.
4 FREUD, S. (1913). Sobre o Início do TratamentoSigmund Freud. Rio de Janeiro5 LACAN, Jacques (Paris, 17 567. 6 LACAN, Jacques. (1972-1973). Magno. 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1996. p.517 LACAN, Jacques (Paris, 17 567.
Entretanto o analista deve ter cuidado com as interpretações, não buscando estabelecer rapidamente um sentido, pois pode levar à resistência do analisante e ao
inconsciente. Freud já nos ensinava sobre o cuidado Sobre o Início do Tratamento, e nos alerta so
interpretar, pontuar ou intervir. Freud então afirma qu
Mesmo nos estádios posteriores da análise, tem-se de ter cuidado em não fornecer ao paciente a solução de um sintoma ou a tradução de um desejo até que ele esteja tão próximo delas que só tenha de dar mais um passo para conseguir a explicação por si próprio.4
o Prefácio à edição inglesa do Seminário "Quando [...] o espaço de um lapso - já não tem nenhum impacto de sentido (ou
, só então temos certeza de estar no inconsciente" 5. No espaço de um lapso pode ser entendido que existe um corte, uma fenda entre a interpretação e o
os que o inconsciente real é acessado quà interpretação, forçando ao psicanalista saber conduzir a análise n
Seminário 20: mais ainda já nos tinha esclarec
É a título de lapso que aquilo significa alguma coisa, quer dizer, que aquilo pode ser lido de uma infinidade de maneiras diferentes. Mas é precisamente por isso que aquilo se lê mal, ou que se lênão se lê.6
que é quando o espaço de um lapso não tiver mais nenhum impacto de sentido ou de interpretação é que temos certeza de estar no inconsciente real e é nesse momento que não opera a conexão transferencial. Miller ressalta que Lacan fala nesse texto da "função inconsciente" existindo uma disjunção entre o inconsciente e a interpretação, ou seja, uma exclusão entre as duas funções, um corte, uma desconexão
tre o significante do lapso e o significante da interpretação. Esse é o inconsciente real Lacan, então Miller infere que com essa proposição o S1 não representa
nada, não sendo um significante representativo. É com o lapso que Lacan estudou o que se repete, é duradouro e foi fixado
primariamente no recalque original, é no inconsciente real que ocorrqualquer tentativa de interpretação, pois é algo fora do sentido. Lacan af
digo: que o inconsciente seja real – caso se acredite em mimiente real é exterior ao sujeito suposto saber e à máquina
significante produzindo sentido, sendo que a função psicanalítica deve ser de tratácom urgência do que faz furo como traumatismo.
Sobre o Início do Tratamento in ESB das obras psicológicas completas de
eiro: Editora Imago 1987. Vol. XII, p. 183. de maio de 1976). Outros escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
1973). O Seminário Livro 20: Mais ainda. Versão brasileira M. Magno. 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1996. p.51-52
de maio de 1976). Outros escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
2
ter cuidado com as interpretações, não buscando r à resistência do analisante e ao
inconsciente. Freud já nos ensinava sobre o cuidado que deve ter o obre o momento ue:
se de ter cuidado em sintoma ou a tradução de um
delas que só tenha de dar mais 4
11, afirma que: já não tem nenhum impacto de sentido (ou
No espaço de um lapso pode ser entendido que existe um corte, uma fenda entre a interpretação e o
uando ocorre o à interpretação, forçando ao psicanalista saber conduzir a análise no campo
cido que:
ca alguma coisa, quer dizer, que nidade de maneiras diferentes. Mas é
isso que aquilo se lê mal, ou que se lê través, ou que
que é quando o espaço de um lapso não tiver mais nenhum etação é que temos certeza de estar no inconsciente real
Miller ressalta que Lacan fala nesse texto da "função inconsciente" existindo uma disjunção entre o inconsciente e a interpretação, ou seja, uma exclusão entre as duas funções, um corte, uma desconexão
inconsciente real não representaria
É com o lapso que Lacan estudou o que se repete, é duradouro e foi fixado re a rejeição de firmou "que só é
caso se acredite em mim" 7. Miller exterior ao sujeito suposto saber e à máquina
significante produzindo sentido, sendo que a função psicanalítica deve ser de tratá-lo
psicológicas completas de
. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. p.
. Versão brasileira M. D.
. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. p.
Entendemos assim que no espaço do lapso está viinconsciente, necessário para a interpretação e o avanço da análise, entretanto isso levará ao analisante ao inconsciente real, nenhuma interpretação seja possível, pois de sentido, que nos remetanalisante saber lidar com o que é da ordem do real e está fora do sentido, ou seja, possibilitará ao analisante saber lidar com o seu gozo, com o seu sintoma direcionandoo para o final da análise. A destituição subjetivaidentificar com o seu sinthoma, permanecer como seu escravoalgo com o sem sentido, me
8 LACAN, Jacques. (1972-1973). Zahar, 1996. p.188. Lacan afcomunicação. É o que a experiência do inconsciente mostrou, no que ele é feito de alíngua, essa alíngua que vocês sabem que eu escrevo numa só palavra, para designar [...] alíngua dita materna”.
Entendemos assim que no espaço do lapso está vinculado à abertura do inconsciente, necessário para a interpretação e o avanço da análise, entretanto isso levará ao analisante ao inconsciente real, algo no campo de alíngnenhuma interpretação seja possível, pois ali está o fora sentido indicand
e a impossibilidade da relação sexual. Isso possibilitará ao nte saber lidar com o que é da ordem do real e está fora do sentido, ou seja,
possibilitará ao analisante saber lidar com o seu gozo, com o seu sintoma direcionandoA destituição subjetiva ocorrerá quando o falasser p
com o seu sinthoma, não se transformando em senhor dopermanecer como seu escravo, ou seja, quando o falasser puder aprender
esmo sabendo que restará algo do real em seu
1973). O Seminário Livro 20: Mais ainda. 2ª ed. Rio firma que: “Alíngua serve para coisas inteiramente difer
comunicação. É o que a experiência do inconsciente mostrou, no que ele é feito de alíngua, essa alíngua que vocês sabem que eu escrevo numa só palavra, para designar [...] alíngua dita
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nculado à abertura do inconsciente, necessário para a interpretação e o avanço da análise, entretanto isso
gua8, lugar onde do a inexistência
. Isso possibilitará ao nte saber lidar com o que é da ordem do real e está fora do sentido, ou seja,
possibilitará ao analisante saber lidar com o seu gozo, com o seu sintoma direcionando-quando o falasser puder se
o seu gozo nem aprender saber fazer
u sinthoma.
2ª ed. Rio de Janeiro: “Alíngua serve para coisas inteiramente diferentes da
comunicação. É o que a experiência do inconsciente mostrou, no que ele é feito de alíngua, essa alíngua que vocês sabem que eu escrevo numa só palavra, para designar [...] alíngua dita