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MINISTÉRIO DA JUSTIÇA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA CADE Gabinete da Conselheira Ana Frazão PROCESSO ADMINISTRATIVO nº 08012.004039/2001-68 Representante: Polícia Civil do Distrito Federal. Representados: Panificadora e Confeitaria Eulálio ME, Panificadora da Paz, Panificadora e Lanchonete Shallom, Panificadora Pão de Sal, Panificador Pão de Ouro, Panificadora Lua da Serra Ltda., Pão d’Italia (WC da Silva Costa), Panificadora Serranê Delícias do Trigo, Panificadora Pão da Casa, Panificadora de Itália, Panificadora Martins, Pão Nosso (JS Teles ME), Panificadora e Mercearia Belo Pão, Panificadora e Confeitaria Candanga Ltda. ME, Panificadora São Francisco, Panificadora Pão Francês, Panificadora Pão da Casa, Panificadora e Confeitaria São Conrado, Alaor Eulálio Melo, Fábio Henrique Costa Lemos, Joe Silva, Antero Ferreira Neto, Josias Silva, Druso Matos Ferraz, Antônio da Paz Costa, Renes José Soares, José de Morais Pessoa, Carlos Barbosa da Silva, Antônio Marcos Martins dos Reis, Jeovan Santana Teles, Édson Rocha da Silva, Marcelo Menezes Ribeiro, José Luciano Martins dos Reis, Ana Paula Pereira Gomes, Luiz Alberto Martins, Miguel Lourenço Batista, Jaime Divino Alarcão e Wilmar Ferreira Peixoto. Advogados: Gabriel Netto Bianchi, Marcelo Luiz Ávila de Bessa, Luiz José Guimarães Falcão e outros. Relatora: Conselheira Ana Frazão VOTO EMENTA: Processo Administrativo instaurado para apurar suposta infração à ordem econômica no mercado de panificação na região de Sobradinho/DF, passível de enquadramento no art. 20, inc. I, II, III e IV c/c art. 21, inc. I e II da Lei n. 8.884/94. Parecer da SDE pela condenação de todos Representados. Pareceres da ProCADE e do MPF pela condenação de parte dos Representados. Condutas cartelizadoras: desnecessidade de aferição exata do mercado relevante e do poder de

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MINISTÉRIO DA JUSTIÇA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE DEFESA ECONÔMICA – CADE

Gabinete da Conselheira Ana Frazão

PROCESSO ADMINISTRATIVO nº 08012.004039/2001-68

Representante: Polícia Civil do Distrito Federal.

Representados: Panificadora e Confeitaria Eulálio – ME, Panificadora da Paz, Panificadora e

Lanchonete Shallom, Panificadora Pão de Sal, Panificador Pão de Ouro,

Panificadora Lua da Serra Ltda., Pão d’Italia (WC da Silva Costa),

Panificadora Serranê Delícias do Trigo, Panificadora Pão da Casa,

Panificadora de Itália, Panificadora Martins, Pão Nosso (JS Teles ME),

Panificadora e Mercearia Belo Pão, Panificadora e Confeitaria Candanga

Ltda. – ME, Panificadora São Francisco, Panificadora Pão Francês,

Panificadora Pão da Casa, Panificadora e Confeitaria São Conrado, Alaor

Eulálio Melo, Fábio Henrique Costa Lemos, Joe Silva, Antero Ferreira Neto,

Josias Silva, Druso Matos Ferraz, Antônio da Paz Costa, Renes José Soares,

José de Morais Pessoa, Carlos Barbosa da Silva, Antônio Marcos Martins dos

Reis, Jeovan Santana Teles, Édson Rocha da Silva, Marcelo Menezes

Ribeiro, José Luciano Martins dos Reis, Ana Paula Pereira Gomes, Luiz

Alberto Martins, Miguel Lourenço Batista, Jaime Divino Alarcão e Wilmar

Ferreira Peixoto.

Advogados: Gabriel Netto Bianchi, Marcelo Luiz Ávila de Bessa, Luiz José Guimarães

Falcão e outros.

Relatora: Conselheira Ana Frazão

VOTO

EMENTA: Processo Administrativo instaurado para apurar suposta

infração à ordem econômica no mercado de panificação na região de

Sobradinho/DF, passível de enquadramento no art. 20, inc. I, II, III e IV

c/c art. 21, inc. I e II da Lei n. 8.884/94. Parecer da SDE pela condenação

de todos Representados. Pareceres da ProCADE e do MPF pela

condenação de parte dos Representados. Condutas cartelizadoras:

desnecessidade de aferição exata do mercado relevante e do poder de

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mercado. Conjunto de elementos que, de forma consistente e sólida,

comprova a existência de cadeia organizada de atos voltados ao

alinhamento artificial de práticas empresariais. Condenação de todos os

Representados. Aplicação da lei sancionadora mais benéfica. Imposição

de multa nos termos do art. 23, inciso III da Lei 8.884/94 e do art. 37,

inciso II da Lei 12.529/11.

Palavras-chave: Cartel. Mercado de panificação. Condenação.

Conteúdo I. Da representação e da instauração do processo administrativo ................................................................. 2 II. Da instrução do processo administrativo .................................................................................................. 3 III. Dos pareceres .......................................................................................................................................... 4 III. Da análise das preliminares ..................................................................................................................... 5 V. Da análise do mérito ................................................................................................................................. 6

V.1. Do conjunto probatório constante dos autos ..................................................................................... 6 V.2. Das conclusões dos órgãos pareceristas .......................................................................................... 11 V.3. Da suficiência do conjunto probatório em relação aos Representados Jaime Alarcão e Wilmar

Peixoto..................................................................................................................................................... 14 V.4. Da suficiência do conjunto probatório em relação aos demais Representados ............................... 19 V.5. Da dosimetria da pena ..................................................................................................................... 35

VI. Da conclusão ......................................................................................................................................... 38 VII. Anexo I – Multas impostas .................................................................................................................. 40

I. Da representação e da instauração do processo administrativo

1. Trata-se de processo administrativo instaurado pela Secretaria de Direito Econômico –

SDE para apurar suposta infração à ordem econômica no mercado de panificação na

região de Sobradinho/DF.

2. A instauração do presente processo ocorreu a partir de recebimento pela SDE, em

29/06/2001, do Ofício no

516/2001 da Delegacia de Defesa do Consumidor da Polícia

Civil do Distrito Federal (PCDF).

3. Referido ofício informou a autuação e prisão de vinte representantes de padarias de

Sobradinho/DF em reunião promovida pelo Sindicato das Indústrias da Alimentação de

Brasília – SIAB no dia 18/06/2001. Tal reunião foi acompanhada por agentes de PCDF

que, após constatarem que o encontro entre os panificadores destinava-se a discutir

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possível alinhamento de preços do pão de sal de 50 gramas, efetuaram a prisão em

flagrante de todos os participantes da reunião, enquadrando a conduta no art. 4o, inciso II,

alínea “a” da Lei n.º 8.137/90.

4. Após receber o Relatório n.º 088/20011-DECON, no qual se detalhavam os elementos

colhidos pela PCDF na sua investigação em relação à possível conduta de cartelização no

mercado de panificação em Sobradinho/DF, a SDE decidiu pela instauração de processo

administrativo para averiguar possível formação de cartel no mercado de comercialização

de pão de sal na cidade de Sobradinho/DF.

II. Da instrução do processo administrativo

5. Após ser devidamente notificado da instauração do processo, o representado Druso

Ferraz apresentou sua defesa no prazo legal (fls. 191/210). Os demais Representados

apresentaram defesa conjunta (fls. 238/258), cujo conteúdo é bastante similar ao da

defesa do Representado Druso Ferraz.

6. Em sede preliminar, os Representados argumentam que ocorreu o fenômeno da preclusão

temporal por descumprimento do prazo previsto no art. 32 da Lei 8.884/94.

7. No mérito, os Representados argumentam que:

os indícios existentes são insuficientes para instauração do processo

administrativo e para a caracterização da infração à ordem econômica;

não possuem poder de mercado no mercado relevante afetado pela conduta

investigada, sendo incapazes de influenciar o preço do pão francês;

sofrem pressão competitiva de grandes redes de supermercados, o que

impossibilitaria eventual exercício de poder de mercado por parte das

panificadoras;

não exercem posição dominante no mercado afetado pela conduta;

apenas alguns proprietários de panificadoras situadas em Sobradinho/DF

compareceram à reunião promovida pelo SIAB, o que comprovaria a sua

incapacidade de influenciar os preços praticados no mercado;

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o fato de um dos itens da pauta da reunião referir-se ao preço do pão está

relacionado com os aumentos dos insumos e com a crise energética

existente à época;

a reunião destinava-se apenas a discutir as maneiras mais eficazes de se

calcular o preço final do pão, e não a alinhar os preços entre concorrentes;

e

os preços do pão em Sobradinho/DF não eram uniformes.

8. Em 26/11/2003, foi encaminhada à SDE cópia da sentença que arquivou a ação penal por

formação de cartel em desfavor dos Representados, por terem eles cumprido pena

alternativa de pagamento de multa (fls. 461/468).

9. Após o saneamento do processo administrativo, foram realizadas as oitivas das

testemunhas arroladas pelas Representadas e pela SDE, cujos termos encontram-se

acostados às fls. 797/821.

10. Encerrada a fase instrutória, os Representados foram notificados para apresentação de

alegações finais. Em suas alegações (845/853), argumentaram que:

inexistem nos autos elementos que justifiquem sua condenação;

os cartazes que supostamente fixavam o preço do pão em R$ 0,20 não

foram juntados aos autos;

apenas dezoito panificadoras comparecerem à reunião promovida pelo

SIAB, embora existam mais de 100 empresas do setor na região de

Sobradinho/DF, o que comprova que os Representados não detêm poder

de mercado;

as oitivas das testemunhas comprovaram que a reunião promovida pelo

SIAB não tratou da elevação do preço do pão.

III. Dos pareceres

11. Em seu parecer final, manifestou-se a SDE pela existência de elementos suficientes para a

condenação de todos os Representados, afirmando que o conjunto probatório colhido

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demonstrava a existência de acordo entre empresas concorrentes voltado unicamente à

majoração do preço do pão.

12. A ProCADE, depois de afastar a preliminar arguida pelos Representados, entendeu que

os elementos dos autos comprovaram a configuração da infração em desfavor apenas de

dois Representados: Jaime Alarcão e Wilmar Peixoto. Para a Procuradoria, a condenação

dos demais Representados dependeria de uma análise mais profunda das condições de

mercado, o que não teria sido realizado pela SDE.

13. O Ministério Público Federal – MPF, a seu turno, opinou pela condenação dos

Representados Jaime Alarcão e Wilmar Peixoto pela prática de indução de concorrentes à

conduta uniforme. Manifestou-se também pela condenação de seis panificadoras

(Panificadora Pão de Sal, Panificadora Pão de Ouro, Panificadora Serranê Delícias do

Trigo, Panificadora Martins, Panificadora Pão Francês, Panificadora e Confeitaria São

Conrado) e das pessoas físicas a elas vinculadas (Antero Ferreira Neto, Josias Silva,

Renes José Soares, Antônio Marcos Martins dos Reis, Ana Paula Pereira Gomes, Miguel

Lourenço Batista) pela prática de cartelização.

14. Segundo o MPF, os elementos dos autos permitiriam a individualização da conduta

infrativa em desfavor dos referidos Representados, já que eles teriam aderido ao preço

artificial de R$ 0,20 para o pão francês, além de terem também participado da reunião

promovida pelo SIAB. Em relação aos demais Representados, opinou o MPF pelo

arquivamento do processo, considerando que a simples presença no evento promovido

pelo SIAB não seria prova suficiente da participação no ilícito.

III. Da análise das preliminares

15. Em sede preliminar, os Representados requerem o arquivamento do feito pela

inobservância, por parte da SDE, do art. 32 da Lei n. 8.884/94, que prevê que o processo

administrativo deve ser instaurado em prazo não superior a oito dias a partir da

representação.

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16. Não merece prosperar a preliminar. Conforme assentado na jurisprudência do CADE,1 o

prazo estabelecido art. 32 da Lei n. 8.884/94 é impróprio, já que o legislador não previu

qualquer consequência jurídica para o seu descumprimento. Assim, não há que se falar da

ocorrência do fenômeno da preclusão temporal, conforme leciona Leonardo José

Carneiro da Cunha:2

Os prazos improprios são aqueles fixados em lei como mero parâmetro a ser

seguido, sem que de sua inobservância exsurja qualquer tipo de preclusão. Seus

destinatários são, via de regra, os juízes e os serventuários da justiça. A prática

do ato além do prazo impróprio fixado não conduz à preclusão temporal, não

acarretando qualquer ineficácia ou invalidade.

V. Da análise do mérito

V.1. Do conjunto probatório constante dos autos

17. O conjunto probatório colhido pela SDE no presente feito é composto de elementos de

diferentes naturezas.

18. A primeira evidência constante dos autos diz respeito ao Auto de Prisão em Flagrante no

67/2001, lavrado pela Delegacia de Defesa do Consumidor da Polícia Civil do Distrito

Federal (PCDF), em 18/06/2001.

19. Referido auto foi lavrado depois de agentes da PCDF monitorarem e acompanharem

presencialmente reunião de várias panificadoras de Sobradinho/DF promovida pelo

Sindicato das Indústrias de Alimentação de Brasília (SIAB) no Restaurante Armação, em

18/06/2001.

20. O acompanhamento da reunião foi realizado após a Delegacia de Defesa do Consumidor

receber denúncia de proprietário de panificadora em Sobradinho, que relatou estar sendo

objeto de ameaças de outros comerciantes do ramo de panificação da região pelo fato de

vender pão de sal mais barato que seus concorrentes.

1 Ver, dentre outros, o julgamento do Processo Administrativo n. 08012.005928/2003-12, Rel: Cons. Marcos Paulo

Verissimo, 17/04/2013. 2 CUNHA, José Carneiro da. Fazenda Pública em Juízo. 3. Ed. Dialética: São Paulo, 2005, p. 37.

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21. A partir do recebimento dessa denúncia em fevereiro de 2001, agentes da PCDF

iniciaram investigação no mercado de panificação em Sobradinho, em particular no que

toca à possível coordenação de preços entre as panificadoras. Depois de constatar

aumentos simultâneos de preços em diferentes panificadoras e de verificar que várias

panificadoras expunham cartaz idêntico anunciando o reajuste do preço do pão para R$

0,20, os agentes da PCDF descobriram que, em 18/06/2001, se realizaria reunião,

promovida pelo SIAB, com proprietários de panificadoras da região no Restaurante

Armação.

22. Do Auto de Prisão em Flagrante no 67/2001, constam os depoimentos dos agentes da

PCDF que acompanharam a referida reunião, restando clara a razão da prisão em

flagrante dos participantes do encontro, conforme relata a Agente Sandra Cristina Ribeiro

(fl. 5):

“QUE o presidente do SIAB, JAIME ALARCÃO, deu início aos trabalhos com

todos os integrantes da mesa se apresentando; QUE foi entregue a pauta, sendo

abordados todos os assuntos relacionados na mesma; QUE a certa altura, os

integrantes da mesa começaram a tratar do preço do pão; QUE uma senhora

que, salvo engano, é esposa de um dos proprietários de panificadoras presentes

na reunião, se manifestou dizendo que algumas panificadoras ainda não tinham

elevado o preço do pão de sal para R$ 0,20, o que estava prejudicando os

comerciantes que já haviam aderido a este preço; QUE o vice-presidente do

SIAB esclareceu para esta senhora que por ventura os comerciantes que ainda

não estavam cobrando R$ 0,20 pelo pão de sal, era porque não tinham

conhecimento que o preço do pão de sal, em Sobradinho, era R$ 0,20; QUE

diante disso, a declarante se dirigiu ao banheiro e comunicou ao Agente

WILTON os fatos presenciados e, logo em seguida, as equipes desta

Especializada, contando com o apoio de policias da 13a

DP, adentraram no

estabelecimento, se identificando e explicando o motivo de sua presença ali,

bem como convocando os participantes da reunião que eram proprietários de

panificadoras e os dirigentes do SIAB a comparecerem a esta Especializada à

presença da Autoridade Policial para análise dos fatos e adoção das

providências cabíveis.” (grifo nosso)

23. O relato do Agente Wilton Silva também é esclarecedor acerca das circunstâncias que

levaram à prisão em flagrante de dezoito proprietários de panificadoras localizadas em

Sobradinho/DF e dois dirigentes do SIAB (fl. 4):

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“QUE foram designadas 4 equipes de dois agentes, que ficaram aguardando no

estacionamento da 13a DP o desenrolar da reunião a ser realizada no

Restaurante Armação; QUE por volta de 18h15, recebeu um telefonema da

Agente SANDRA, informando que na reunião havia sido tratada a respeito do

preço do pão, e que inclusive uma senhora havia questionado que algumas

padarias que ainda estavam adotando o preço do pão de sal no valor de R$0,18,

acarretando prejuízo para quem o estava vendendo a R$0,20, momento em que

o vice-presidente do sindicato pediu a palavra, esclarecendo que as padarias

que ainda estavam vendendo o pão nesse valor é porque ainda não haviam sido

informadas que o pão, em Sobradinho, havia aumentado para R$0,20; QUE

diante disso, o condutor convocou as equipes envolvidas na operação para

adentrar no estabelecimento onde estava sendo realizada a referida reunião;

24. O conteúdo da reunião das panificadoras de Sobradinho promovida pelo SIAB no

Restaurante Armação pode ser parcialmente identificado por meio da gravação em fita de

áudio realizada pelos agentes da PCDF que acompanharam o encontro. Às fls. 151-183

dos autos, consta laudo de exame de material fonográfico realizado pelo Instituto de

Criminalística da PCDF, no qual se encontra transcrição parcial da referida gravação, já

que sua baixa qualidade da gravação impediu a transcrição de determinadas partes da

gravação.3

25. Também consta dos autos cartaz encontrado pela PCDF em diferentes panificadoras, que

previa o aumento de preço do pão para R$ 0,20 a partir de 17 de junho (fl. 25):

3 Como observou o Instituto de Criminalística da PCDF (fl. 152): “A gravação contida na fita, em exame, é de baixa

qualidade, sendo que em diversos trechos a intensidade do ruído é superior à das falas e ocupando o mesmo

espectro de frequências, o que dificulta e, até mesmo, impossibilita a sua filtragem digital a fim de se melhorar a

inteligibilidade das falas, prejudicando assim a transcrição”.

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26. Conforme narrado no Relatório n. 081/2001-EPOEP (fl. 20), referido cartaz foi

encontrado em nove panificadoras da região de Sobradinho/DF em diligência realizada

pela PCDF:

Em 16 de junho, Sábado, verificamos na padaria Sonho e Pão havia um cartaz

afixado no caixa ou no balcão, anunciando o aumento do pão francês a partir

do dia 17 de junho, posteriormente nos deslocamos para a padaria Pão da Casa,

e para nossa surpresa, ostentava o mesmo cartaz.

Continuando, em 18 de junho, segunda-feira, na parte da manhã, dirigimo-nos

às panificadoras: Pão de Ouro, quadra 08; Sonho e Pão, quadra 08; Pão da

Casa, situadas na quadra 08; Pão Francês da quadra 03 Cl. 13, loja 93;

Panificadora Três Poderes da quadra 01; Pão de Sal Pão Brasil da quadra 02;

Panificadora Serranê da quadra 12; Panificadora Karajás da Quadra 06 e

Panificadora São Conrado da quadra 13; constatamos que todas elas continham

cartaz com os dizeres: “APARTIR DE 17/06 PÃO FRANCES 50g R$ 0,20”,

sendo que chamou-nos a atenção, pois possuíam a mesma grafia e o mesmo

erro de português na palavra, onde se lê a APARTIR, seria A PARTIR.

27. Também foram apreendidos pela PCDF o convite para a reunião enviado pelo SIAB às

panificadoras (fl. 23) e o documento que informava a pauta da reunião do dia 18/06/2001

(fl. 25):

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28. Integram, ainda, o conjunto probatório do feito diversos depoimentos de panificadores da

região de Sobradinho/DF colhidos tanto pela PCDF (fls. 93-96) quanto pela SDE (fls.

797-821).

V.2. Das conclusões dos órgãos pareceristas

29. Em seu parecer final, a SDE entendeu que os elementos dos autos eram suficientes para

se concluir pela prática de infração à ordem econômica por parte de todos os

Representados, uma vez que todos eles estariam envolvidos no concerto de preços

ocorrido na reunião no Restaurante Armação:

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“(...) entende-se pela existência de evidências suficientes nos autos da prática de

cartel pelas Representadas ao concertarem o preço do pão de sal de 50g a R$ 0,20

na reunião realizada no restaurante “Armação” em 18/01/2001.”

30. Em seu parecer final, argumentou a Secretaria que:

a indicação da prática anticompetitiva em determinado setor da economia

já traz embutido consigo o delineamento do mercado relevante afetado;

o mercado relevante no presente feito seria, na dimensão produto, o de pão

de sal de 50g, e, na dimensão geográfica, o da região de Sobradinho/DF;

o ponto central para configuração do cartel é a existência de acordo entre

concorrentes com o fim de prejudicar a concorrência;

o elementos dos autos comprovam (i) a realização de reunião para

alinhamento de preços, (ii) a existência de tabela sugestiva de preços, e

(iii) a existência de pressões contra concorrentes não alinhados ao acordo;

tais elementos são suficientes para se concluir pela prática de cartel por

parte de todas as pessoas jurídicas e físicas que participaram da reunião

promovida pelo SIAB e que integram o polo passivo do presente feito.

31. A ProCADE, por sua vez, divergiu da SDE e opinou pela condenação de apenas dois

Representados: Jaime Alarcão e Wilmar Peixoto, respectivamente presidente e vice-

presidente do SIAB à época dos fatos. Segundo a Procuradoria, restou comprovado que

esses Representados atuaram no sentido de organizar movimento de acordo de preços

entre as padarias de Sobradinho/DF e, dessa forma, deveriam ser condenados por

influenciar a adoção de conduta comercial concertada entre concorrentes.

32. Por outro lado, compreendeu a ProCADE que não seria possível se concluir pela prática

de cartel por partes das panificadoras que integram o polo passivo do feito, já que a SDE

não teria realizado um exame aprofundado das condições do mercado afetado, em

particular no que toca à delimitação do mercado relevante e à aferição da existência de

poder de mercado por parte das panificadoras:

“(...) seja porque há dúvidas quanto à participação dos supermercados no

mercado relevante analisado, seja porque não ficou demonstrado o poder de

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mercado das representadas, não é possível concluir pela existência do ilícito

antitruste cartel, no presente caso, nos termos do que está disposto na Lei

8.884/94.”

33. O MPF, por fim, adotou uma terceira posição, considerando haver evidências suficientes

para condenação, além dos dois dirigentes do SIAB pela prática de indução de

concorrentes à conduta uniforme, de seis panificadoras e das pessoas físicas a elas

vinculadas pela prática de cartelização. Segundo o Ministério Público, o conjunto

probatório dos autos permitiria a individualização da conduta infrativa em desfavor das

panificadoras que aderiram ao preço de 20 centavos do pão francês, por meio da afixação

do panfleto distribuído pelo SIAB em seus estabelecimentos (fl. 937):

“A participação das panificadoras de Sobradinho no cartel está comprovada,

primeiramente, pela informação (fls. 20) constante no relatório elaborado pela

equipe de investigação da Delegacia de Defesa do Consumidor – Decon com

os nomes de fantasia de algumas panificadoras que afixaram em seus

estabelecimentos o cartaz distribuído pelo SIAB acerca do reajuste do preço do

pão frances: “Pão de Ouro, Sonho e Pão, Pão da Casa, Pão Francês,

Panificadora Três Poderes, Pão de Sal Pão Brasil, Panificadora Serranê,

Panificadora Karajás e Panificadora São Conrado”. A natureza articulada e

premeditada de tal ação reforça-se pela constatação da equipe de polícia de que

todos os cartazes tinham o mesmo erro de grafia: “APARTIR (sic) de 17/06,

PÃO FRANCÊS 50g R$ 0,20”.

A individualização dos representados acima referidos completa-se com a

qualificação no auto de prisão em flagrante (fls. 03/18) dos dirigentes das

panificadoras que participaram da reunião organizada pelo SIAB (...)”

34. Em relação aos demais Representados, opinou o MPF pelo arquivamento do processo,

considerando que a simples presença no evento promovido pelo SIAB não seria prova

suficiente da participação no conluio, já que a pauta da reunião incluía também a

discussão de assuntos legítimos.

35. Assim, vê-se que os órgãos pareceristas apresentaram conclusões bastante díspares

quanto à suficiência do conjunto probatório para configuração da infração à ordem

econômica em relação aos Representados.

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36. Nos próximos itens, analisa-se, a partir das considerações dos órgãos pareceristas, se o

conjunto de elementos colhidos pela SDE é suficiente para se concluir pela

caracterização do ilícito concorrencial em desfavor de cada um dos Representados.

V.3. Da suficiência do conjunto probatório em relação aos Representados Jaime Alarcão e

Wilmar Peixoto

37. Os três órgãos pareceristas são convergentes no sentido da suficiência do conjunto

probatório para a condenação dos Representados Jaime Alarcão e Wilmar Peixoto,

dirigentes do SIAB à época dos fatos, pela prática de indução de concorrentes à adoção

de conduta uniforme.

38. Em sua defesa, os Representados alegam que “o SIAB, ao efetuar a reunião do dia

18/06/2001, nada mais fez do que cumprir com a finalidade precípua das associações

civis denominadas sindicato, as quais visam a defesa dos direitos e interesses coletivos e

individuais de uma categoria econômica ou profissional, no caso específico os

panificadores de Sobradinho.” (fl. 244)

39. Segundo os Representados, a referida reunião tratou de assuntos legítimos inerentes à

atividade do SIAB, tais como o aumento da energia elétrica, a concorrência com as redes

de supermercados, a abertura do comércio aos domingos, dentre outras.

40. Os elementos dos autos, contudo, comprovam de forma bastante sólida que a reunião

promovida pelo SIAB no Restaurante Armação em 18/06/2001 também se voltou ao

alinhamento artificial de preços do pão fornecido pelas panificadoras de Sobradinho/DF,

o que configura infração à ordem econômica, nos termos do art. 20 e 21 da Lei n.

8.884/94.

41. Em primeiro lugar, tem-se que o próprio convite para a reunião enviado pelo SIAB

informa que um dos temas do encontro era o preço do pão (fl. 23), informação que foi

reafirmada em documento distribuído aos presentes no Restaurante Armação no encontro

do dia 18/06/2001 (fl. 25).

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42. Embora os Representados procurem justificar esse fato afirmando que a intenção do

SIAB era somente organizar um debate sobre a melhor forma de cálculo do preço final do

produto, o conjunto probatório dos autos demonstra que um dos objetivos da reunião era

mesmo promover conduta comercial uniforme entre concorrentes, prática vedada pela Lei

Antitruste.

43. Tal objetivo resta claro no depoimento da agente da PCDF Sandra Ribeiro, que

presenciou a reunião no Restaurante Armação (fl. 5):

QUE a certa altura, os integrantes da mesa começaram a tratar do preço

do pão; QUE uma senhora que, salvo engano, é esposa de um dos proprietários

de panificadoras presentes na reunião, se manifestou dizendo que algumas

panificadoras ainda não tinham elevado o preço do pão de sal para R$ 0,20, o

que estava prejudicando os comerciantes que já haviam aderido a este preço;

QUE o vice-presidente do SIAB esclareceu para esta senhora que por

ventura os comerciantes que ainda não estavam cobrando R$ 0,20 pelo

pão de sal, era porque não tinham conhecimento que o preço do pão de

sal, em Sobradinho, era R$ 0,20;

44. O objetivo anticompetitivo da reunião promovida pelos Representados Jaime Alarcão e

Wilmar Peixoto também é comprovado pelo depoimento do Sr. Pedro Paulo Tourinho

Pires, ex-funcionário da Panificadora Advanse que participou do encontro e que, em

depoimento à SDE, afirmou (fl. 805):

QUE dois representantes do Sindicato estavam à frente do público

presente na reunião e propuseram o preço a ser acordado entre os

presentes; QUE os presentes concordaram com a proposta daquelas duas

pessoas (...).

45. A finalidade anticompetitiva do encontro promovido pelo SIAB também é demonstrada

por trechos da gravação realizada pelos agentes da PCDF que presenciaram a reunião.

Embora a baixa qualidade da gravação tenha impossibilitado a transcrição completa do

conteúdo do encontro, trechos identificados indicam que os participantes da reunião no

Restaurante Armação procuravam uniformizar o preço do pão em Sobradinho no valor de

R$ 0,20:

H1 – “O ideal era que o supermercado passasse (*) vinte centavos (...) se ele

passar de vinte centavos (...) (Nós vamos) trabalhar (isso) também. Esse pão,

trabalhar, olhar e fazer, (se) todos nós (vendermos) esse pão a vinte centavos

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pode ter certeza o seguinte pessoal: supermercado (vai) (...)? Não vai. (...)

porque ninguém vai (no outro dia ao supermercado) comprar pão. (...) por quê?

Porque ( ) comprar pão, compra mais alguma coisa, certo? (...)”.

(fls. 163, grifo nosso)

H15 – “(...) dez, doze centavos (...) [Ruído.] Esse pão, vinte centavos tá bom,

se ce calcular, fizer as (...)”.

(fls. 164)

46. Também resta clara da gravação a intenção dos participantes da reunião de elevar seus

rendimentos por meio da “união” dos seus esforços, em detrimento da atuação

individualizada de cada panificadora:

H?- (...) a reunião. (Olha), eu queria agradecer a todos, a gente convidou muito

mais gente. A gente (...). Eu quero agradecer o (Edson), o (Renix). Todo

mundo que (...), inclusive, continuei convidando, eu ia atrás do pessoal. Alias,

(...), nós queríamos tar com (cinqüenta) pessoas, aqui. Nós convidamos vários

(*) e, (infelizmente), tem gente que parece que o negócio tá bom. Parece que o

negócio tá bom pra eles (...) e não querem unir, acham que (*) sozinho, ó.

Então, simplesmente, a realidade é essa, mas eu queria agradecer a todos que

vieram e (**), é mais ou menos isso mesmo(...)

(...)

H1 – (...) fica cinco diretores do sindicato, (...), e quatro (...) essa última feira

(...) trinta e dois panificadores (...) nunca (podia) imaginar (...) não tem o habito

(...) discutir os nossos problemas. (...) é assim mesmo. (...). A experiência que a

gente tem é que o panificador... o panificador, é... de certa forma, ele é muito

(bom). Ele, normalmente, (as vezes), (...) todo mundo, mas (...) notado, esse

período que (...) pouquinho de trabalho, um pouquinho de dedicação de

todos nós, nós vamos ter muito mais união, certo? E nós vamos ter muito

mais união e vamos começar, ou pelo menos voltar a ganhar, pelo menos

(...) como a gente ganhava antes. E hoje, (...). Então, cada vez mais a gente

tem que... você que gosta mais (...) (não só fazer) (**), (mas fazer) (*) (de

dinheiro), hoje não, cada vez mais (*) dentro dos negócios e tem que trabalhar,

vai ter que suar lá para tirar alguma coisa. Então esse...é, esse é o nosso (ano).

Mas nós vivemos aqui e muita gente cresceu e desenvolveu, que ganhou

dinheiro com panificação e certamente nós vamos ganhar também.

(fl. 156, grifo nosso)

47. A transcrição da gravação indica, ainda, que os partícipes do acordo procuravam

persuadir concorrentes para que aumentassem seus preços:

H1 – (...)

Tem algumas pessoas aí... o (Gilmar) já passou por uma experiência aí, que eu

já passei, todos nós já passou. (A gente) tentar conversar com o panificador,

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certo? Era um companheiro seu... ele falou: “Olha, meu amigo, sabe de uma

coisa: eu vendo o preço que eu quero! Não tem esse (negócio comigo).

(...)

H1 - Então, às vezes acontece e o cara fica bravo. “Olha, vai saindo fora

porque senão vô chamar a polícia.”

H15 - (Ah), mas não sou eu. Não sou eu.

H1 – É. Então, infelizmente... é... é..., na verdade a gente tem que ter outra

oportunidade de conversar com esse empresário. Pra conversar com ele

tem que falar sobre pão. Que aí, pode ter certeza que ele vai mudar a

cabeça dele. Ta? (...) uma oportunidade, nós vamos lá conversar com ele, sem

ser sobre pão. Pode ter certeza que ele vai mudar a cabeça dele um dia (...).

(fls. 164-165, grifo nosso)

48. Outro elemento que comprova a conduta dos dirigentes do SIAB de promover a adoção

de conduta concertada entre as panificadoras de Sobradinho/DF diz respeito ao cartaz

encontrado pela PCDF em diferentes estabelecimentos, que previa o aumento de preço do

pão para R$ 0,20 a partir de 17 de junho e que continha, inclusive, o mesmo erro de

grafia (fl. 25).

49. Conforme relatado pela PCDF (fl. 20), tal cartaz foi encontrado em todas as nove

panificadoras que foram visitadas por agentes nos dias 16 e 18 de junho de 2001. Na

mesma ocasião, constatou a PCDF que o cartaz havia sido distribuído pelo SIAB junto

com o convite para reunião no Restaurante Armação (fl. 21):

Prosseguindo com as investigações, entrevistamos informalmente alguns

funcionários de várias panificadoras, ocasião em que obtivemos o referido

cartaz juntamente com uma pauta de reunião do SIAB, Sindicato das Indústrias

Alimentação de Brasília, onde a diretoria convocava os panificadores de

Sobradinho para reunião a ser realizada no dia 18 de junho de 2001, às 16 hs,

no restaurante Armação (...)

50. A oitiva do Sr. Newton Fernandes Carneiro, proprietário da panificadora Três Poderes,

confirma que o cartaz que previa a elevação do preço do pão foi distribuído pelo SIAB

em conjunto com o convite para a reunião no Restaurante Armação (fl. 94):

Atualmente pratica o valor de R$ 0,18 o pão francês, porém no dia 17 de junho

após receber 02 (dois) panfletos do Sindicato – SIAB, onde convoca todos os

panificadores para a reunião a realizar-se no restaurante Armação e outro

panfleto contendo os dizeres: ‘A partir de 17/06 pão de sal 50 gramas R$ 0,20’,

embora, não sendo sindicalizado, aumentou o pão conforme orientação para R$

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0,20, entretanto, no dia 18 de junho retornou para R$ 0,18, em razão da prisão

de proprietários de panificadoras na mesma data.

51. Assim, resta inegável que o SIAB agiu, por meio de seus dirigentes Jaime Alarcão e

Wilmar Peixoto, para influenciar a adoção de conduta concertada entre concorrentes, em

clara infração às previsões da Lei Antitruste. Os Representados foram responsáveis não

apenas pela realização de reunião em que se procurou alinhar os preços praticados no

mercado, como também pela distribuição de cartaz em que se materializava o aumento do

pão para R$ 0,20.

52. Em sua defesa, os Representados alegam que o pequeno número de presentes na reunião

– apesar da lista de presença (fl. 26-28) constarem 64 nomes de panificadoras de

Sobradinho/DF, apenas 18 realmente participaram do encontro – tornaria impossível para

o SIAB influenciar o preço do pão na região.

53. Tal argumento não merece prosperar. A uma, porque o SIAB é a entidade de

representação da indústria de alimentação no DF e claramente detém os meios para

influenciar o comportamento empresarial de seus associados. A duas, porque os

elementos dos autos comprovam que a atuação do SIAB efetivamente alcançou o fim

anticompetitivo almejado, materializado no aumento do preço do pão para R$ 0,20,

conforme relatado pelo Sr. Newton Fernandes Carneiro, proprietário da panificadora Três

Poderes. O fato de o aumento ter sido passageiro, dada a rápida e louvável atuação da

PCDF no caso, não obscurece a capacidade do SIAB de influenciar a conduta dos seus

associados para a consecução de prática violadora da Lei Antitruste.

54. Além do mais, como informam os próprios Representados (fl. 846), o SIAB congregava

cerca de 100 panificadoras na região de Sobradinho/DF, o que deixa clara a

potencialidade lesiva da conduta, adotada por seus dirigentes, no sentido de fixar o preço

do pão no patamar de R$ 0,20. Nesse sentido, é acertada a conclusão da ProCADE de que

“a conduta do SIAB de organizar e de convidar, à prática do cartel, todas as

panificadoras que lhe eram filiadas tinha sim o potencial de causar lesão ao mercado e,

consequentemente, aos consumidores” (fl. 901).

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55. Como bem observa o MPF, os elementos dos autos comprovam que o SIAB e seus

dirigentes Jaime Alarcão e Wilmar Peixoto, ao distribuírem cartazes voltados ao aumento

do preço do pão e organizarem encontro destinado a garantir o alinhamento da conduta

entre as panificadoras de Sobradinho/DF, promoveram a adoção de estratégia comercial

uniforme entre concorrentes, em violação à Lei Antitruste:

(...) a prática de indução de concorrentes à conduta uniforme por parte do

Sindicato das Indústrias Alimentícias de Brasília – SIAB e seus dirigentes à

época dos fatos, Jaime Divino Alarcão e Wilmar Ferreira Peixoto, está

comprovada pela distribuição do cartaz determinando às panificadoras de

Sobradinho que praticassem um reajuste uniforme no preço do pão francês (fl.

25), bem como pela organização da reunião entre os dirigentes do setor visando

ratificar a adoção do cartel (fls. 23/24).

56. Dessa forma, acompanhando o posicionamento dos órgãos pareceristas, voto pela

condenação dos Representados Jaime Alarcão e Wilmar Peixoto pela prática de infração

à ordem econômica prevista no art. 20, inc. I c/c art. 21, inc. II da Lei n. 8.884/94.

V.4. Da suficiência do conjunto probatório em relação aos demais Representados

57. Em relação aos demais Representados no presente feito, inexiste consenso por parte dos

órgãos pareceristas quanto à suficiência do conjunto probatório para sua condenação.

58. Enquanto a SDE opinou pela condenação de todos os Representados presentes na reunião

promovida pelo SIAB no Restaurante Armação em 18/06/2001, manifestou-se a

ProCADE pela insuficiência de elementos para a condenação de outros Representados

que não os dois dirigentes do SIAB, Jaime Alarcão e Wilmar Peixoto. O MPF, a seu

turno, adotou uma terceira posição, considerando que o conjunto probatório justificaria a

condenação de seis panificadoras e de sete pessoas físicas e o arquivamento do processo

em relação aos demais Representados.

59. Dado que as teses defendidas pelas ProCADE e pelo MPF são bastante distintas, vale

analisá-las separadamente.

Da desnecessidade de delimitação exata do mercado relevante

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60. Em primeiro lugar, ao contrário da ProCADE, não tenho por necessária a realização, em

situações fáticas como a vislumbrada no presente feito, de exercícios investigativos

relacionados à delimitação exata do mercado relevante e à aferição mais precisa do poder

de mercado dos Representados.

61. Conforme já pude observar no julgamento do Processo Administrativo nº

08012.004472/2000-12,4 a delimitação do mercado relevante e o cálculo da participação

de mercado são ferramentas analíticas que se mostram relevantes em grande parte das

investigações antitruste, mas que são dispensáveis em investigações de conluios entre

concorrentes voltados à pura elevação de preços.

62. Isso porque, nesse tipo de infração, a capacidade dos agentes econômicos de influenciar a

ordem econômica por meio da atuação coordenada decorre, em geral, de outros

elementos materiais colhidos ao longo da investigação, que são suficientes para

comprovar o poder de mercado e a potencialidade lesiva dos atos examinados sem que

seja necessária a definição exata do mercado relevante e o cálculo das participações de

mercado.

63. Com efeito, a adoção de práticas empresariais uniformes entre concorrentes com o fim

exclusivo de apropriação de renda do consumidor reúne duas características que a

diferencia de outras condutas submetidas ao escrutínio antitruste:

a. tal conduta não gera nenhum benefício social nem possui qualquer aspecto

pró-competitivo, sendo desnecessária uma avaliação mais profunda acerca

dos seus efeitos sobre a economia;

b. ela só pode ser implementada por empresas capazes de influenciar o

funcionamento do mercado, o que permite que a potencialidade

anticompetitiva da conduta seja inferida a partir da comprovação da sua

materialidade.

64. Dessa forma, não parece acertada a posição da ProCADE, que entendeu a ausência da

delimitação precisa do mercado relevante e da aferição do poder de mercado como

4 Processo Administrativo nº 08012.004472/2000-12, Rel. Cons. Ana Frazão, DJ. 12/3/2013.

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justificativa suficiente para se concluir pela necessidade de arquivamento do processo em

relação às panificadoras que integram o polo passivo do presente feito e às pessoas físicas

a elas associadas.

65. Os exercícios de delimitação do mercado relevante e de cálculo de participação do

mercado possuem caráter meramente instrumental à análise antitruste e, enquanto

tentativas imperfeitas de mensuração da realidade econômica, não representam de forma

alguma elementos indispensáveis à conclusão pela configuração do ilícito concorrencial.

Essa constatação é de particular relevância quando o poder econômico de determinados

agentes e a potencialidade lesiva de suas condutas puder ser aferida, de forma segura e

consistente, a partir de outras evidências, como em geral ocorre com práticas colusivas

entre concorrentes.

66. Assim, tenho que a conclusão pela caracterização ou não da conduta infrativa por parte

das panificadoras representadas passa não pelo recurso às referidas ferramentas

analíticas, mas sim pelo exame detido e coerente dos elementos probatórios constantes

dos autos.

67. Com efeito, especialmente em casos de cartel, a conclusão a respeito da existência de

poder de mercado pode ser obtida a partir de outros caminhos que não a tradicional

análise de mercado relevante acrescida do cálculo do market share. No que diz respeito à

conduta ora em julgamento, comprovado que as Representadas efetivamente se reuniram

com o objetivo de aumentar o preço do pão de sal e que tal conduta apenas seria

racionalmente justificável se os envolvidos tivessem efetivo poder para implementar a

prática, não se pode questionar sobre a existência do referido poder.Tal raciocínio

reforça-se, ainda mais, no caso concreto, em razão da circunstância de que a abrangência

geográfica da conduta era diminuta, o que igualmente corrobora a conclusão em favor da

existência de poder de mercado por parte dos representados.

Da existência de conjunto probatório suficiente para a caracterização do ilícito

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68. Superada a questão da necessidade de delimitação do mercado relevante, resta avaliar se

as evidências constantes dos autos são ou não suficientes para justificar a condenação das

panificadoras que compareceram à reunião promovida pelo SIAB no restaurante

Armação.

69. A resposta à questão passa pela adequada compreensão das características do cartel

como infração cujos efeitos diretos sobre o mercado são de difícil, quando não

impossível, aferição.

70. Ao contrário do que ocorre com grande parte das infrações na esfera penal e

administrativa, que se caracterizam pelo alcance de resultados considerados antijurídicos

pelo ordenamento, a prática de cartel – assim como de outras infrações à ordem

econômica – não deixa registros claros de sua ocorrência no campo dos efeitos

naturalísticos. Como observa Schinkel:5

Violações à lei concorrencial são diferentes de crimes mais tradicionais, como

homicídio ou roubo, no sentido de que atos anticompetitivos muitas vezes não

deixam traços óbvios de sua ocorrência (...) O fato que um cartel elevou

preços, por exemplo, pode ser difícil de prova apenas com séries temporais de

preços e sem informação sobre os custos.

71. De forma semelhante, Anderson, Bolema, e Geckil ressaltam a dificuldade de se constatar

a ocorrência de um aumento de preços no mercado derivada da fixação conjunta de

preços por concorrentes:6

Mesmo no caso mais simples de fixação de preços, a “cobrança excessiva” não

está registrada nas faturas comerciais e nem nas declarações contábeis. Um

economista ou outro especialista terá que estimá-la, num mercado com

competidores, custos variáveis, informação imperfeita e consumidores cujas

rendas, preferências e reações a preços podem ter mudado durante o período

em que a fixação de preços ocorreu.

72. A dificuldade de se aferir com exatidão os efeitos de um conluio de concorrentes sobre o

mercado não inviabiliza, porém, a condenação de empresas e pessoas físicas envolvidas

5 SCHINKEL, Maarten Pieter. 2008. “Forensic Economics in Competition Law Enforcement”. Journal of

Competition Law and Economics 4: 1, fl. 6. 6 ANDERSON, Patrick, Theodore Bolema, e Ilhan Geckil. 2007. “Damages in Antitrust Cases”. AEG Working

Paper 2007-2. East Lansing, Chicago: Anderson Economic Group.

http://www.andersoneconomicgroup.com/Portals/0/upload/Doc2066.pdf, fl. 2.

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em acordos voltados à majoração artificial dos preços em detrimento do consumidor.

Pelo contrário, a Lei Antitruste brasileira é expressa ao prever que a mera potencialidade

lesiva é suficiente para a configuração do ilícito concorrencial, não sendo necessária a

comprovação de que os efeitos anticompetitivos foram efetivamente alcançados.

73. Aqui é importante notar que o standard probatório exigido para a configuração da prática

de cartelização deve levar em conta as particularidades desse ilícito e a forma da sua

implementação. De forma simplificada, pode-se conceituar o cartel como um acordo

entre concorrentes que, por meio da fixação artificial de preços, da divisão de mercados,

da determinação de cotas de produção ou de qualquer outra maneira, regula a oferta e

permite a apropriação da renda do consumidor por parte dos agentes econômicos.

74. Tem-se, assim, que a consumação do cartel dá-se por meio da comunicação entre

empresas sobre informações concorrencialmente relevantes, tais como preço, nível de

produção, mercados de atuação etc., a partir da qual se estabelecem acordos restritivos da

concorrência. Nesse sentido, a prática de cartelização, cujo grau de nocividade à

economia é tão elevado que já chegou a ser denominada de “câncer das economias de

mercado” pelo ex-Comissário Europeu para assuntos concorrenciais,7 é de difícil

diferenciação de outras condutas absolutamente legítimas que envolvem o encontro e a

comunicação entre concorrentes. Dentre tais condutas legítimas, podem-se citar a criação

de estatísticas sobre o setor, a viabilização de pleitos setoriais junto ao governo e mesmo

a realização de determinados esforços econômicos pró-competitivos.8

75. Dessa forma, o ilícito de cartelização revela-se muitas vezes indistinguível de atos

rotineiros e ordinários praticados pelos agentes econômicos no curso normal de seus

negócios. Tal característica não é uma idiossincrasia da infração de cartel e pode ser

7 MONTI, Mario. Why should we be concerned with cartels and collusive behavior? In: Fighting Cartels – why and

how? Konkurrensverket: Estocolmo, 2001. 8 Um exemplo interessante, relativo a estratégias de marcas coletivas, foi analisado pelo ex-Conselheiro Paulo

Furquim de Azevedo Azevedo no julgamento do PA 08012.006241/1997-03 (495ª SO, 24/07/2009):

“Esforços promocionais e de propaganda comumente apresentam economias de escala, de tal modo que podem ser

inacessíveis a pequenos estabelecimentos. Não por outro motivo, são comuns as estratégias de marcas coletivas, as

quais podem ser geridas por formas de governança variada, tais como rede de franchising, denominações de

origem, cooperativas ou associações. Há, portanto, um benefício associado ao estabelecimento de marca coletiva e,

mais especificamente, a esforço promocional e de propagada comum.

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notada em grande parte dos delitos econômicos e dos chamados crimes de “colarinho

branco”. Como bem observou o Ministro Luiz Fux em julgamento recente no STF:

(...) o delito econômico é, aparentemente, uma operação financeira ou mercantil,

uma prática ou procedimento como outros muitos no complexo mundo dos

negócios. A ilicitude não se constata diretamente, sendo necessário, não raras

vezes, lançar mão de perícias complexas e interpretar normas de compreensão

extremamente difícil. As manobras criminosas são realizadas utilizando

complexas estruturas societárias, que tornam muito difícil a individualização

correta dos diversos autores e partícipes. (...)

Essas sutilezas que marcam a identidade dos crimes do “colarinho branco”

constituem razões que devem informar a lógica probatória inerente à sua

persecução.

(STF, AP 470, Relator: Min. Joaquim Barbosa, DJ 22/04/2013)

76. A dificuldade na identificação da prática de cartelização é ainda agravada pelo fato de se

tratar de prática de difícil comprovação direta. Uma vez que a consumação do ilícito se

dá com a simples comunicação entre concorrentes voltada à realização de acordo

restritivo da concorrência, é natural que a produção de prova direta seja de difícil

realização, dado o evidente interesse dos participantes do cartel na ocultação dos

elementos materiais que atestem a existência do acordo.

77. Nesse contexto, mostra-se de fundamental relevância o recurso a provas indiciárias e

circunstanciais que, ainda que de forma indireta, sejam capazes de constituir um conjunto

suficientemente robusto para gerar um convencimento por parte da autoridade julgadora

no sentido da configuração do ilícito. Sem o recurso a provas dessa natureza, a legislação

repressiva acabaria por se tornar de todo inefetiva, deixando passar incólumes práticas

altamente lesivas à economia e aos consumidores. Conforme já reconheceu o próprio

STF, não reconhecer o valor das provas indiretas representa, em certas situações,

verdadeiro desrespeito à legislação posta:

(...) em determinadas circunstâncias, pela própria natureza do crime, a prova

indireta é a única disponível e a sua desconsideração, prima facie, além de

contrária ao Direito positivo e à prática moderna, implicaria deixar sem resposta

graves atentados criminais à ordem jurídica e à sociedade.

(STF, AP 470, Relator: Min. Joaquim Barbosa, DJ 22/04/2013)

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78. A experiência nacional e estrangeira no combate a cartéis evidencia a importância do uso

de provas indiretas para a construção de uma política eficiente de repressão a condutas

colusivas. Exemplo mais claro disso diz respeito à doutrina do paralelismo plus, que

autoriza a condenação de agentes econômicos pela prática de cartel mesmo quando

inexistem evidências diretas da ocorrência do conluio. Os chamados plus factors nada

mais são do que situações econômicas em mercados oligopolísticos que não são

explicáveis pelo comportamento independente das empresas neles atuantes, permitindo,

observadas certas condições, que se presuma a existência de um acordo ilícito entre

concorrentes.

79. Vale notar que a doutrina do paralelismo plus já foi utilizada pelo CADE quando da

condenação imposta a empresas de siderurgia no PA n. 08000.015337/1997-48 e que tal

decisão foi mantida tanto na 1a quanto na 2

a instância do Judiciário, sendo interessante

ressaltar trecho da decisão do Tribunal Regional Federal da 1a Região que confirmou a

condenação imposta pelo CADE:

O paralelismo de conduta não é ilícito desde que as decisões de cada empresa

sejam tomadas de forma independente, autônoma. O que a lei veda é o acordo

entre as empresas (formal ou informal, expresso, velado ou mesmo tácito) a

respeito de preços e condições de pagamento, na medida em que tal conduta

impede a normalidade da atuação das forças de mercado, prejudicando a posição

do consumidor, o qual tem dificultada ou mesmo impedida a negociação em

busca de condições a ele mais vantajosas.

No caso em exame, conforme enfatizou a sentença apelada “as três únicas

empresas produtoras de aço plano comum no mercado nacional, após mais de um

ano sem alteração nos preços dos produtos, decidem elevar os preços em

patamares semelhantes e datas próximas. À época não havia causa determinante

para a continuidade do exercício da atividade econômica desenvolvida pelas

empresas que impedisse a manutenção dos preços que vinham sendo por elas

praticados por mais tempo, como o aumento dos insumos dos produtos ou dos

custos de produção. Logo, a conduta das empresas importa prejuízo à livre

concorrência, na medida em que impossibilita ao consumidor a opção de comprar

o produto de um outro fornecedor que não tenha praticado reajuste de preço.”

(TRF, Apelação Cível 2000.34.00.000087-1/DF, Rel. Des. Maria Isabel Gallotti

Rodrigues, e-DJF1 23/11/2011)

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80. Diante das especificidades dos delitos econômicos, em particular nos de caráter

associativo, deve ser visto com naturalidade o recurso a provas indiretas e circunstanciais

em investigações de cartéis, especialmente na seara administrativa.

81. Após analisar detidamente os autos, tenho que o conjunto probatório colhido pela SDE,

apesar de formado em sua maior parte por evidências indiretas, é suficiente para

caracterizar a prática de infração colusiva por parte das panificadoras e pessoas físicas

que integram o polo passivo.

82. Primeiramente, deve-se atentar para o depoimento do Sr. José Pires de Morais,

proprietário da Panificadora Advense e responsável pela denúncia à PCDF que originou a

investigação (fls. 5-6)

“QUE é proprietário de fato da Panificadora Advanse, situada na Q. 17, CL 02,

lojas 01/02, Sobradinho/DF; QUE esta panificadora foi inaugurada em 17 de

março do corrente ano; QUE desde a inauguração cobra R$ 0,13 pelo pão de

sal de 50g, pois após efetuar alguns cálculos achou que esse preço seria

suficiente para obter um bom lucro; QUE as demais panificadoras de

Sobradinho cobravam, nessa época, R$ 0,15 pelo pão Frances de 50g; QUE

alguns dias após a inauguração da Panificadora Advanse, foi procurado pelo

proprietário da Panificadora Serranê, salvo engano, Sr. Wilmar, que lhe

entregou vários panfletos que informavam que a partir de 20 de março as

panificadoras de Sobradinho cobrariam pelo pão de sal de 50g R$ 0,18,

sugerindo-lhe que adotasse também aquele preço para não prejudicar os demais

comerciantes; QUE o declarante afirmou para esse senhor que não concordava

com esse aumento de preço; QUE um dia após o aumento do pão para R$ 0,18,

vários donos de panificadoras de Sobradinho se dirigiram até seu

estabelecimento a fim de fazer pressão psicológica para que o declarante

aumentasse o preço do pão, pois as únicas panificadoras, alem da do declarante

que ainda não haviam aumentado o preço do pão de sal eram as localizadas na

Q. 15 e Q. 16; devido à concorrência feita pelo estabelecimento do declarante;

QUE por ser horário de grande movimento e para se ver livre daquela

“pressão”, o declarante afirmou que poderia aumentar o preço do pão de sal de

50g para R$ 0,15 dentro de uns quinze dias e, no próximo aumento da farinha

de trigo chegaria aos R$ 0,18; QUE ainda assim, no dia seguinte, foi procurado

pelo proprietário da Panificadora Vale dos Paes, localizada na Q. 13, e pelo

proprietário da Panificadora Pão Quentinho, localizada na Q. 16, os quais

queriam saber se realmente aumentaria o preço do pão; QUE o declarante

respondeu que não, pois não havia justificativa para o aumento do preço do pão

e que se continuasse a sofrer pressões iria procurar esta Especializada,como de

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fato o fez; QUE os proprietários de panificadoras deixaram de importunar o

declarante durante um tempo, contudo, ao retornar de viagem, dia 17 de junho

próximo passado, recebeu da pessoa que havia ficado tomando conta da

panificadora, um panfleto com os dizeres “a partir de 17/06 pão de sal 50g R$

0,20” e um convite para comparecer em reunião a ser realizada no dia 18/06,

pelo SIAB, para tratar de assuntos de interesse dos panificadores, inclusive a

respeito do preço do pão de sal; QUE por já ter um compromisso marcado para

o horário da reunião e também por não achar conveniente comparecer ao local,

já que sabia que seria vitima de pressões, acabou pedindo para que seu filho o

representasse; QUE seu filho foi a reunião, e informou-lhe que um dos

presentes pediu-lhe que intercedesse junto ao declarante para que o mesmo

aumentasse o preço do pão como os demais comerciantes.”

83. Do depoimento do Sr. José de Morais, retiram-se elementos importantes para a

compreensão da situação fática analisada no presente feito:

as ameaças ao Sr. José de Morais foram realizadas reiteradamente, e

não apenas de forma esporádica;

a pressão para que o Sr. José de Morais aumentasse o preço do pão de

sal foi realizada ao longo de vários meses;

a reunião promovida pelo SIAB foi apenas mais um momento de uma

sequencia lógica de eventos destinados a convencer o Sr. José de

Morais, e também outros panificadores, a elevar o preço cobrado pelo

pão de sal;

84. Em segundo lugar, restou comprovado que a reunião no Restaurante Armação foi

precedida da distribuição, por parte do SIAB, de cartaz que fixava o preço em diferentes

padarias da região no patamar de R$ 0,20 (fl. 25). Como consta do Relatório n. 081/2001-

EPOEP (fl. 20), diligência realizada pela PCDF em 17/06/2001 em nove panificadoras de

Sobradinho/DF constatou que todas anunciavam a elevação do preço do pão por meio do

mesmo cartaz, que contava, inclusive, com o mesmo erro de grafia.

85. Referido cartaz foi distribuído junto com convite para a reunião do dia 18/06/2001, do

qual constava expressamente que o preço do pão era um dos itens a ser debatido no

encontro (fl. 23). A informação de que a reunião no Restaurante Armação teria como

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tópico de discussão o preço do pão foi reafirmada em documento que estabelecia a pauta

do encontro (fl. 24).

86. Por fim, tem-se a comprovação sólida de que, durante a referida reunião, ocorreram

tratativas a fim de garantir o alinhamento do preço do pão no nível de R$ 0,20, tratativas

essas que só foram interrompidas pela intervenção célere e precisa da PCDF. Tal

comprovação decorre, como já analisado, de vários elementos.

87. Inicialmente, tem-se o depoimento da agente da PCDF Sandra Ribeiro, que acompanhou

a reunião e que informou (fl. 5):

que, em determinado momento da reunião, os integrantes da mesa

começaram a tratar do preço do pão;

que a esposa de um proprietário de uma panificadora reclamou que

outras panificadoras ainda não tinham elevado o preço do pão para R$

0,20, o que estaria prejudicando a atividade dos comerciantes que

tinham aderido ao preço;

que o vice-presidente do SIAB informou que tal situação se devia ao

fato de que alguns comerciantes ainda não tinham conhecimento que o

preço do pão, em Sobradinho, era R$ 0,20.

88. Também é esclarecedor o depoimento do Sr. Pedro Paulo Tourinho Pires, ex-funcionário

da Panificadora Advanse que participou do encontro e que afirmou à SDE (fl. 805):

que os representantes do SIAB estavam à frente da reunião e

propuseram o preço a ser acordado entre os presentes;

que os presentes no encontro concordaram com a proposta.

89. É de se notar, ainda, o conteúdo da gravação realizada pelos agentes da PCDF que

acompanharam o encontro. Apesar da baixa qualidade da gravação, diferentes trechos da

sua transcrição confirmam as tratativas para alinhamento artificial do preço por meio de

conluio entre concorrentes:

às fls. 163-164, há menções ao preço do pão a R$0,20;

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à fl. 156, fala-se na necessidade de união entre os panificadores para

que eles voltem a ganhar mais;

às fls. 164-165, vê-se a preocupação dos interlocutores para convencer

seus concorrentes a aumentar o preço do pão.

90. Dessa forma, resta bastante clara, do conjunto probatório dos autos, a existência de

conluio no mercado de panificadoras em Sobradinho/DF para fixação do preço do pão no

patamar de R$ 0,20. A leitura integrada dos elementos constantes do processo deixa claro

que a reunião promovida pelo SIAB em 18/06/2001 não foi um evento esporádico, que

teria pego de surpresa os ali presentes por tratar da elevação artificial do preço do pão.

Pelo contrário, é bastante nítido que o encontro organizado pelo SIAB representou apenas

mais um evento, de uma cadeia de acontecimentos mais ampla e interconectada, em que

se procurou burlar a lei concorrencial por meio de acordo ilícito entre concorrentes.

91. Este aspecto precisa ser salientado, porque a condenação que ora se propõe não se baseia

exclusivamente na participação dos representados na referida reunião. Tal fato – que já

seria, por si só, extremamente significativo – é ora valorado em contexto muito mais

amplo de indícios, que apontam para o fato de que não há que se cogitar de surpresa,

desaviso, boa-fé ou mesmo indiferença em relação àqueles que participaram do

mencionado encontro.

92. O exame sistemático e integrado do conjunto probatório dos autos revela, portanto, o

desacerto da posição adotada pelo MPF, no sentido de que a configuração da conduta

infrativa teria sido comprovada apenas em relação a seis panificadoras (Panificadora Pão

de Sal, Panificadora Pão de Ouro, Panificadora Serranê Delícias do Trigo, Panificadora

Martins, Panificadora Pão Francês, Panificadora e Confeitaria São Conrado), em cujos

estabelecimentos a PCDF constatou a afixação do cartaz de elevação do preço distribuído

pelo SIAB.

93. Segundo o MPF, a prática de infração à ordem econômica não poderia ser imputada aos

demais Representados, já que não foi constatada a afixação no seu estabelecimento do

referido cartaz:

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Os demais representados, a seu turno, não foram identificados como parte do

grupo que afixou o cartaz em seus estabelecimentos, constando do polo passivo

do presente feito apenas por terem participado da reunião organizada pelo

SIAB.

Tendo em vista que a pauta convocatória da reunião (fls. 23/24) distribuído

pelo SIAB contém diversos assuntos, com apenas uma breve menção ao temo

“preço do pão”, à míngua de outras evidências, o fato desses representados

terem atendido à reunião caracteriza apenas que agiram nos limites do

exercício do seu direito constitucional de associação.

94. Tal posição não se mostra acertada, em primeiro lugar, por identificar o alcance dos

efeitos anticompetitivos como requisito configurador da infração à ordem econômica, o

que contraria o texto da Lei Antitruste, que é claro ao prever que o ilícito concorrencial

pode restar caracterizado ainda que os efeitos da conduta não sejam alcançados. Com

efeito, ao recomendar a condenação apenas das panificadoras em que a PCDF constatou

o cartaz que fixava a elevação do preço do pão, o MPF parece sugerir que a condenação

de cartéis pelo SBDC depende da comprovação do efetivo aumento de preços, o que não

só contraria a Lei Antitruste brasileira, como também toda a prática de combate a cartéis

assentada nos planos nacional e internacional.

95. Como ressaltado anteriormente, a prática de cartelização em geral não deixa registros

claros da sua ocorrência no plano dos efeitos naturalísticos e suas consequências nefastas

sobre a economia só podem ser inferidas, de forma imperfeita, a partir de estimativas

econômicas altamente complexas. Além do mais, os danos causados por cartéis podem se

apresentar de forma mais indireta do que o mero aumento de preços, repercutindo na

diminuição da pressão competitiva sobre os agentes econômicos e na redução da

qualidade dos serviços.

96. A dificuldade de se identificar com precisão os danos decorrentes de conluios entre

concorrentes é uma das razões que levou ao legislador nacional, seguindo o exemplo de

outras jurisdições, a construir um modelo de responsabilização administrativa antitruste

no qual a configuração do ilícito prescinde da comprovação do efetivo alcance dos efeitos

anticompetitivos da conduta investigada. Sobre o tema, são bastante elucidativas as

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considerações da ex-Desembargadora Federal Maria Isabel Gallotti Rodrigues no

julgamento da Apelação Cível n. 2000.34.00.000087-1/DF:

Frise-se que não se cuida, aqui, de imputação de crime contra a ordem

econômica (Lei 8.137/90, art. 4º, I), mas de mera punição por infração

administrativa, cuja tipificação legal é objetiva e não depende da obtenção do

resultado lesivo à concorrência, opção legislativa esta que tem o óbvio

escopo de alcançar proteção mais eficiente para o mercado. (grifo nosso)

(TRF, Apelação Cível 2000.34.00.000087-1/DF, Rel. Des. Maria Isabel

Gallotti Rodrigues, e-DJF1 23/11/2011)

97. Dessa forma, inexiste razão, no presente feito, para que se considere a afixação do cartaz

de alinhamento de preços como elemento definidor da ilicitude da conduta investigada,

uma vez que a efetiva elevação dos preços representa apenas a consumação de um

potencial anticompetitivo que decorre, conforme atestado pelo conjunto probatório dos

autos, de um conjunto concatenado de atos muito mais amplo.

98. Aqui é necessário ressaltar que, ao contrário do que afirma o MPF, os elementos colhidos

pela SDE não permitem que se caracterize a conduta dos participantes da reunião como

um simples comparecimento a um encontro de associação. Conforme já analisado, a

realização da reunião promovida pelo SIAB ocorreu num contexto em que:

a) diferentes elementos demonstram que, à época da reunião, panificadores de

Sobradinho/DF procuravam, em comum acordo, elevar o preço do pão para R$

0,20;

b) panificadores não alinhados ao acordo de elevação de preços vinham sendo

pressionados, de forma reiterada, para aderirem ao acordo ilícito;

c) uma diligência realizada pela PCDF em nove panificadoras no dia anterior à

realização da reunião constatou que todas anunciavam o aumento do preço do pão

por meio do mesmo cartaz, distribuído pelo SIAB;

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d) o próprio convite da reunião, distribuído na véspera da reunião em conjunto

com o cartaz de elevação do preço do pão,9 informava que um dos temas do

encontro seria o preço do pão.

99. Os elementos existentes nos autos acerca do andamento e do conteúdo tratado na reunião

permitem descartar a hipótese, defendida pelo MPF, de que se trataria de um encontro

associativo legítimo que, de forma inesperada e surpreendente para parte das pessoas ali

presentes, descaminhou para a realização de um conluio ilícito. Note-se que:

a) o documento que informava a pauta do dia reafirmou que o preço do pão era

um dos itens de debate;

b) diferentes depoimentos confirmam que o preço do pão foi objeto de discussão

na reunião, discussão essa que envolveu não apenas os dirigentes do SIAB, como

também os proprietários das panificadoras;

c) a gravação ambiental demonstra a preocupação dos presentes na reunião em se

unir para aumentar seus ganhos.

100. Nesse sentido, o conjunto probatório existente tanto em relação ao contexto em que

ocorreu a reunião promovida pelo SIAB como em relação ao próprio desenrolar do

encontro não permite a conclusão, alcançada pelo MPF, de que parte dos Representados

teria agido dentro dos limites do seu direito de associação. O fato de a pauta convocatória

da reunião conter também itens de discussão legítima – como os efeitos da crise de

energia elétrica e a divulgação de eventos – não infirma a constatação de que uma das

finalidades do encontro foi permitir que concorrentes procurassem alinhar sua conduta

comercial na variável preço, conduta que é claramente vedada pela lei brasileira de

defesa da concorrência.

101. A pergunta que se coloca neste feito, portanto, é se a comprovação (i) de que

concorrentes tomaram parte em uma reunião em que foi discutido um acordo para

majoração de preços e (ii) de que a referida reunião estava concatenada com outros atos

9 Conforme depoimento do Sr. Newton Carneiro (fl. 94): “Atualmente pratica o valor de R$ 0,18 o pão francês,

porém no dia 17 de junho após receber 02 (dois) panfletos do Sindicato – SIAB, onde convoca todos os

panificadores para a reunião a realizar-se no restaurante Armação e outro panfleto contendo os dizeres: ‘A partir de

17/06 pão de sal 50 gramas R$ 0,20’”.

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voltados à elevação artificial de preços constitui condição suficiente para preenchimento

dos requisitos legais de configuração da infração à ordem econômica, com a consequente

imposição das penalidades previstas na Lei Antitruste a todos os participantes da reunião.

102. Tenho que a resposta a tal questão é, de modo geral, afirmativa, já que outra resposta

implicaria a perda do alcance protetivo que o legislador pretendeu criar no âmbito da

defesa da concorrência, quando estabeleceu que o efetivo alcance do efeito

anticompetitivo é desnecessário para a configuração da infração antitruste. Considerar,

como sugere o MPF, que a configuração do ilícito concorrencial demandaria também a

comprovação do efetivo aumento por parte dos agentes econômicos significa reduzir, de

forma significativa e injustificada, a capacidade dissuasória da legislação antitruste, além

de representar violação à previsão legal expressa.

103. É de se ressaltar também que a simples participação em reuniões de concorrentes nas

quais sejam objeto de discussão variáveis concorrenciais sensíveis – tais como níveis de

preços, volumes de oferta e mercados de atuação – representa, por si só, ameaça ao bom

funcionamento da economia. Isso porque a mera troca desse tipo de informação já é

suficiente para que os agentes econômicos alterem sua atuação no mercado, modificando

aquele que seria o cenário competitivo normal no setor afetado.

104. Um dos objetivos primordiais da legislação concorrencial é justamente fazer com que as

empresas desenvolvam suas estratégias comerciais de forma independente, e a

comunicação entre concorrentes sobre preços, quantidades ofertadas ou outras

informações concorrenciais sensíveis já é suficiente para ameaçar a consecução de tal

objetivo. Com efeito, é difícil, senão impossível, se imaginar que um agente econômico

seja capaz, depois de ter tido acesso a informações relevantes da estratégia empresarial de

seus concorrentes, de não usar tais informações na definição de sua atuação no mercado.

105. Nesse sentido, é bastante elucidativa a decisão da Corte de Justiça Europeia no caso Hüls

AG v Commission:

(...) embora a exigência de independência não impeça que agentes econômicos

se adaptem de forma inteligente às condutas existentes e futuras de seus

concorrentes, ela impede qualquer contato direto ou indireto entre esses

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agentes cujo objeto ou efeito seja influenciar a conduta de um concorrente real

ou potencial ou revelar a esse concorrente a conduta comercial que ele decidiu

adotar, de forma a criar condições de concorrência que não correspondam as

condições normais do mercado em questão (...)

(Caso C-199/92, Julgamento da Corte, Sexta Câmara, 8 de julho de 1999)

106. Assim, seja pela necessidade de se respeitar o âmbito de proteção conferido pelo

legislador nacional à esfera antitruste, seja porque o mero intercâmbio de informações

concorrencialmente relevantes é capaz de prejudicar o bom funcionamento do mercado,

parece claro que o conjunto probatório existente nos autos é suficiente para autorizar a

responsabilização dos Representados presentes à reunião promovida pelo SIAB no

Restaurante Armação.

107. Tal conclusão é reforçada pela não apresentação, por parte dos Representados, de

qualquer explicação plausível capaz de se contrapor à força das várias provas indiretas

existentes nos autos. Em sua defesa, os Representados apresentam duas justificativas para

a realização de uma reunião entre panificadoras concorrentes voltada a discutir o preço

do pão:

o fato de um dos itens da pauta da reunião referir-se ao preço do pão

estaria relacionado com os aumentos dos insumos e com a crise energética

existente à época;

o fato de a reunião destinar-se apenas a discutir as maneiras mais eficazes

de se calcular o preço final do pão, e não a alinhar os preços entre

concorrentes.

108. Ora, parece claro que, diante do peso das evidências colhidas pela PCDF e pela SDE, a

simples negativa genérica, assim como a mera apresentação de relato alternativo

desacompanhado de elementos probatórios, é insuficiente para desconstruir uma narrativa

lógica que deriva do quadro probatório constante dos autos e que conduz à

responsabilização dos Representados.

109. Nenhuma das alegações dos Representados encontra respaldo no lastro probatório dos

autos, existindo, ao revés, vários elementos a indicar que o encontro organizado pelo

SIAB voltava-se sim a promover o alinhamento de preços entre concorrentes. Nesse

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contexto, é valido ressaltar julgado recente do STF, em que se decidiu que “indícios e

presunções, analisados à luz do princípio do livre convencimento, quando fortes,

seguros, indutivos e não contrariados por contraindícios ou por prova direta, podem

autorizar o juízo de culpa do agente”.10

110. Perante um conjunto de provas que, de forma consistente e sólida, indica que a tratativa

sobre preços entre concorrentes ocorrida na reunião promovida pelo SIAB não

representou evento isolado e surpreendente, mas sim uma etapa de uma cadeia mais

ampla e organizada de atos voltados ao alinhamento artificial de práticas empresariais,

cabe aos participantes da reunião comprovar que sua presença no encontro em nada

estava relacionada com a conduta infrativa que ali se implementava. Desse ônus

probatório, nenhum Representado se desincumbiu. Observo, inclusive, que o conjunto é

de tal ordem que não se cogita da inexistência de culpa por parte dos representados

pessoas físicas, restando preenchido requisito da culpabilidade para sua condenação,

conforme previsto no art. 37, inc. III da Lei n. 12.529/11.

111. Do exposto, voto pela condenação de todos os Representados – pessoas físicas e jurídicas

– que compareceram à reunião promovida pelo SIAB, considerando que o conjunto

probatório dos autos é suficiente para comprovar, em seu desfavor, a prática de infração à

ordem econômica prevista no art. 20, inc. I, II, III e IV c/c art. 21, inc. I e II da Lei n.

8.884/94.

V.5. Da dosimetria da pena

112. Quanto à dosimetria da pena, decidiu esse Conselho, no julgamento do Processo

Administrativo no 08012.009834/2006-57, que é aplicável a Lei n. 12.529/11 quando ela

se mostrar mais favorável a Representados em processos pendentes de julgamento

relativos a condutas ocorridas sob a vigência da Lei n. 8.884/94.

10

STF, Ação Penal 481, Rel. Min. Dias Toffoli, DJ 29/06/2012.

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113. No referido julgamento, notei que o cotejo entre a Lei n. 8.884 e a Lei n. 12.529/11

permite presumir que:

“i) os parâmetros estabelecidos na Lei 12.529/11 para condenação de

empresas são mais benéficos que os anteriormente previstos na Lei 8.884 e, por

isso, devem ser aplicados;

ii) os parâmetros estabelecidos na Lei 12.529/11 para condenação de

administradores responsáveis por infrações à ordem econômica são mais

benéficos que os anteriormente previstos na Lei 8.884 e, por isso, devem ser

aplicados;

iii) os parâmetros estabelecidos na Lei 12.529/11 para condenação de

associações de entidades ou pessoas constituídas de fato ou de direito que não

exerçam atividade empresarial não são mais benéficos que os anteriormente

previstos na Lei 8.884 e, por isso, não há que se cogitar da sua aplicação.”

114. Como tais presunções se mostram válidas no presente processo, é a partir delas que se

realizará a dosimetria da pena dos Representados.

115. Primeiramente, porém, é importante ressaltar que o presente feito apresenta determinadas

peculiaridades que o diferenciam dos casos de cartel habitualmente analisados por este

Conselho. Isso porque o polo passivo do processo é composto quase integralmente por

micro e pequenas empresas, restando clara dos autos a sua delicada situação econômica.

As panificadoras representadas são em sua maioria empresas familiares de estrutura

organizacional simples, sendo que várias delas encerraram suas atividades ao longo dos

últimos anos (fls. 956-960). A precariedade organizacional das empresas representadas

revela-se na dificuldade de apresentar dados confiáveis com relação ao faturamento

obtido no ramo de atividade em que ocorreu a infração no ano anterior à instauração do

processo.

116. Dessa forma, embora a infração analisada seja de inegável gravidade, a dosimetria da

pena deve ser realizada levando-se em consideração a particular situação econômica dos

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Representados (Lei n. 12.529/11, art. 45, inc. VII), que se mostra bastante distante

daquela normalmente encontrada nos processos administrativos analisados por este

Conselho.

117. Ressalto que – até pelo fato dos Representados terem apresentado defesa conjunta, sem

diferenciar a situação de cada uma das empresas e das pessoas físicas que integram o

polo passivo do feito – inexistem nos autos elementos que possibilitem ou justifiquem a

realização individualizada da dosimetria para cada um dos Representados.

118. Como informa o artigo 45 da Lei Antitruste, os seguintes elementos devem ser levados

em consideração na aplicação das penas aplicáveis aos responsáveis por infrações à

ordem econômica:

i. gravidade da infração: o conjunto probatório demonstra que os atos dos

Representados voltaram-se a elevar artificialmente o preço do pão de sal por

meio do conluio entre concorrentes. Trata-se de conduta cartelizadora, que é

reconhecidamente a infração mais gravosa aos princípios concorrenciais.

ii. boa-fé do infrator: não há que se falar em boa-fé dos Representados, já que os

elementos dos autos demonstram a existência de uma cadeia organizada de atos

voltados ao alinhamento artificial de práticas empresariais.

iii. a vantagem auferida ou pretendida pelo infrator: a formação de cartéis entre

concorrentes pode gerar elevados lucros ilícitos às empresas participantes do

conluio. No presente feito, contudo, as vantagens auferidas foram reduzidas

diante da rápida intervenção policial.

iv. a consumação ou não da infração: a infração investigada foi consumada, como

se extrai dos diversos elementos que comprovam a existência do acordo ilícito

e o seu efeito no mercado (aumento do preço do pão para R$0,20).

v. grau de lesão, ou perigo de lesão, à livre concorrência, à economia nacional,

aos consumidores, ou a terceiros: a potencialidade lesiva da conduta

investigada é alta, já que – além de possibilitar a apropriação indevida da renda

do consumidor por parte do cartel – também tende reduzir a produtividade e a

eficiência das estruturas econômicas.

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vi. efeitos econômicos negativos produzidos no mercado: ainda que a duração da

conduta tenha sido breve em razão da intervenção da PCDF, é inegável que a

infração produziu efeitos negativos sobre o mercado, como se percebe do

alinhamento de preços constatado na diligência policial.

vii. situação econômica do infrator: as panificadoras representadas são micro ou

pequenas empresas de atuação limitada à região de Sobradinho/DF, cuja

situação econômica é delicada e instável.

viii. reincidência: inexiste reincidência no caso em tela.

119. Dessa forma, considerando (i) os elementos acima expostos, (ii) a jurisprudência recente

do CADE relativa a condenações de condutas cartelizadoras, e (iii) o não preenchimento

dos requisitos dispostos no art. 37, inc. I da Lei n. 12.529/201111

, aplico – nos termos do

art. 23, inc. III da Lei n. 8.884/94 – multa no valor de 30.000 UFIRs a cada uma das

empresas representadas, conforme discriminado no Anexo I deste voto.

120. Aos Representados Jaime Alarcão e Wilmar Peixoto, aplico – a partir das mesmas

considerações – multa no valor de 10.000 UFIRs, nos termos do art. 23, inc. III da Lei n.

8.884/94.

121. Por fim, ainda a partir das mesmas considerações e nos termos do art. 37, inc. II da Lei n.

12.529/2011, aplico a cada uma das outras pessoas físicas representadas multa de 10%

das multas aplicadas às empresas por elas representadas, conforme discriminado no

Anexo I deste voto.

VI. Da conclusão

122. Ante o exposto, voto pela condenação dos Representados Jaime Alarcão e Wilmar

Peixoto pela prática de infração à ordem econômica prevista no art. 20, inc. I c/c art. 21,

inc. II da Lei n. 8.884/94 e dos demais Representados pela prática de infração à ordem

econômica prevista no art. 20, inc. I, II, III e IV c/c art. 21, inc. I e II da Lei n. 8.884/94.

11

Como notado anteriormente, nenhuma das Representadas apresentou dados confiáveis sobre o faturamento obtido

no ramo de atividade em que ocorreu a infração no ano anterior à instauração do processo, o que impossibilita a

utilização dos parâmetros previstos no art. 37, inc. I da Lei n. 12.529/2011.

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123. Pela prática de tal infração, imponho aos Representados, nos termos do art. 37, inc. I da

Lei n. 12.529/2011 e do art. 23, inc. III da Lei 8.884/94, o pagamento de multas nos

valores descriminados no Anexo I deste voto.

124. As multas impostas deverão ser pagas no prazo de 30 (trinta) dias da publicação da

decisão.

É o voto.

Brasília, 22 de maio de 2013.

ANA FRAZÃO

Conselheira-Relatora

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VII. Anexo I – Multas impostas

Empresas

1- Panificadora e Confeitaria Eulálio Ltda. (folha 322)

Condenação em Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 30.000 (cinquenta mil)

Valor da Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 1,0641

Valor da condenação R$ 31.923,00

2- Panificadora Confeitaria e Mercearia da Paz LTDA (folha 354)

Condenação em Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 30.000 (cinquenta mil)

Valor da Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 1,0641

Valor da condenação R$ 31.923,00

3- Panificadora e Lanchonete Shallon (fl.408)

Condenação em Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 30.000 (cinquenta mil)

Valor da Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 1,0641

Valor da condenação R$ 31.923,00

4- Panificadora Pão de Ouro LTDA (folha 360)

Condenação em Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 30.000 (cinquenta mil)

Valor da Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 1,0641

Valor da condenação R$ 31.923,00

5- Panificadora, Confeitaria e Mercearia Lua da Serra LTDA (folha 389)

Condenação em Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 30.000 (cinquenta mil)

Valor da Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 1,0641

Valor da condenação R$ 31.923,00

6- Pão D’Itália (WC DA SILVA COSTA – ME) (folha 374)

Condenação em Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 30.000 (cinquenta mil)

Valor da Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 1,0641

Valor da condenação R$ 31.923,00

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7- Panificadora Serranê Delícias do Trigo (Osnilson Alves da Costa– ME) (fl 308)

Condenação em Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 30.000 (cinquenta mil)

Valor da Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 1,0641

Valor da condenação R$ 31.923,00

8- Pão da Casa Panificadora LTDA – ME (folha 301)

Condenação em Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 30.000 (cinquenta mil)

Valor da Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 1,0641

Valor da condenação R$ 31.923,00

9- Panificadora de Itália (fl.411)

Condenação em Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 30.000 (cinquenta mil)

Valor da Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 1,0641

Valor da condenação R$ 31.923,00

10- Indústria de Panificação Nobre LTDA (fl. 381)

Condenação em Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 30.000 (cinquenta mil)

Valor da Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 1,0641

Valor da condenação R$ 31.923,00

11- Panificadora e Mercearia Pão Nosso (J.S Telles – ME) (fl. 370)

Condenação em Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 30.000 (cinquenta mil)

Valor da Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 1,0641

Valor da condenação R$ 31.923,00

12- Panificadora e Mercearia Belo Pão (fls. 294 à 296)

Condenação em Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 30.000 (cinquenta mil)

Valor da Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 1,0641

Valor da condenação R$ 31.923,00

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13- Panificadora e Confeitaria Candanga LTDA (fl. 392)

Condenação em Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 30.000 (cinquenta mil)

Valor da Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 1,0641

Valor da condenação R$ 31.923,00

14- Padaria e Confeitaria São Francisco de Assis LTDA. (fl. 314)

Condenação em Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 30.000 (cinquenta mil)

Valor da Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 1,0641

Valor da condenação R$ 31.923,00

15- Panificadora Pão Francês

Condenação em Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 30.000 (cinquenta mil)

Valor da Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 1,0641

Valor da condenação R$ 31.923,00

16- Panificadora Pão da Casa (fl. 364)

Condenação em Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 30.000 (cinquenta mil)

Valor da Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 1,0641

Valor da condenação R$ 31.923,00

17- Panificadora e Confeitaria São Conrado LTDA. (fl. 327)

Condenação em Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 30.000 (cinquenta mil)

Valor da Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 1,0641

Valor da condenação R$ 31.923,00

18- Panificadora Pão de Sal (Empresário Indiv. Antero Ferreira Neto) (fl. 386)

Condenação em Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 30.000 (cinquenta mil)

Valor da Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 1,0641

Valor da condenação R$ 31.923,00

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Pessoas Físicas

1- Alaor Eulálio Melo

Multa imposta a Panificadora e Confeitaria Eulálio – ME R$ 31.923,00

Percentual Condenação Pessoa Física 10%

Valor da Condenação Pessoa Física R$ 3.192,30

2- Fábio Henrique Costa Lemos

Multa imposta a Panificadora Confeitaria e Mercearia da

Paz LTDA R$ 31.923,00

Percentual Condenação Pessoa Física 10%

Valor da Condenação Pessoa Física R$ 3.192,30

3- Joe Silva

Multa imposta a Panificadora e Lanchonete Shallon R$ 31.923,00

Percentual Condenação Pessoa Física 10%

Valor da Condenação Pessoa Física R$ 3.192,30

4- Josias Silva

Multa imposta a Panificadora Pão de Ouro LTDA R$ 31.923,00

Percentual Condenação Pessoa Física 10%

Valor da Condenação Pessoa Física R$ 3.192,30

5- Druso Matos Ferraz

Multa imposta a Panificadora, Confeitaria e Mercearia Lua

da Serra LTDA R$ 31.923,00

Percentual Condenação Pessoa Física 10%

Valor da Condenação Pessoa Física R$ 3.192,30

6- Antônio da Paz Costa

Multa imposta a Pão D’Itália R$ 31.923,00

Percentual Condenação Pessoa Física 10%

Valor da Condenação Pessoa Física R$ 3.192,30

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7- Renes José Soares

Multa imposta a Panificadora Serranê Delícias do Trigo R$ 31.923,00

Percentual Condenação Pessoa Física 10%

Valor da Condenação Pessoa Física R$ 3.192,30

8- José de Moraes Pessoa

Multa imposta a Pão da Casa Panificadora R$ 31.923,00

Percentual Condenação Pessoa Física 10%

Valor da Condenação Pessoa Física R$ 3.192,30

9- Carlos Barbosa da Silva

Multa imposta a Panificadora de Itália R$ 31.923,00

Percentual Condenação Pessoa Física 10%

Valor da Condenação Pessoa Física R$ 3.192,30

10- Antônio Marcos Martins dos Reis

Multa imposta a Indústria de Panificação Nobre LTDA R$ 31.923,00

Percentual Condenação Pessoa Física 10%

Valor da Condenação Pessoa Física R$ 3.192,30

11- Jeovan Santana Teles

Multa imposta à Panificadora e Mercearia Pão Nosso R$ 31.923,00

Percentual Condenação Pessoa Física 10%

Valor da Condenação Pessoa Física R$ 3.192,30

12- Édson Rocha da Silva

Multa imposta a Panificadora e Mercearia Belo Pão R$ 31.923,00

Percentual Condenação Pessoa Física 10%

Valor da Condenação Pessoa Física R$ 3.192,30

13- Marcelo Menezes Ribeiro

Multa imposta a Panificadora e Confeitaria Candanga

LTDA (folha 392). R$ 31.923,00

Percentual Condenação Pessoa Física 10%

Valor da Condenação Pessoa Física R$ 3.192,30

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14- José Luciano Martins dos Reis

Multa imposta a Padaria e Confeitaria São Francisco de

Assis LTDA R$ 31.923,00

Percentual Condenação Pessoa Física 10%

Valor da Condenação Pessoa Física R$ 3.192,30

15- Ana Paula Pereira Gomes

Multa imposta a Panificadora Pão Francês R$ 31.923,00

Percentual Condenação Pessoa Física 10%

Valor da Condenação Pessoa Física R$ 3.192,30

16- Luiz Alberto Martins

Multa imposta a “Segunda” Panificadora Pão da casa,

consta só procuração( folha 364). R$ 31.923,00

Percentual Condenação Pessoa Física 10%

Valor da Condenação Pessoa Física R$ 3.192,30

17- Miguel Lourenço Batista

Multa imposta a Panificadora e Confeitaria São Conrado

LTDA R$ 31.923,00

Percentual Condenação Pessoa Física 10%

Valor da Condenação Pessoa Física R$ 3.192,30

18- Jaime Alarcão

Condenação em Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 10.000 (dez mil)

Valor da Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 1,0641

Valor da condenação R$ 10.641,00

19 - Wilmar Peixoto

Condenação em Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 10.000 (dez mil)

Valor da Unidades Fiscais de Referência (Ufir) 1,0641

Valor da condenação R$ 10.641,00

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