38656054 cecilia coimbra guardiaes da ordem uma viagem pelas praticas psi no brasil do milagre

5/20/2018 38656054 Cecilia Coimbra Guardiaes Da Ordem Uma Viagem Pelas Praticas Psi No Brasil Do Milagre

1/202


2/202

No toa que este livro

foi dedicado~'a todos aqueles

que ousaram sonhar, ousaram

lutar, ousaram correr riscos,

ousaram dizer no".

Sua autora, Cecilia Coimbra,

era uma jovem professora de

II istria que estudava

Psicologia quando, em agosto

de 1970, no perodo mais duro

(I() regime militar foi presa

pdo DOI-CODI!Rj. Slidosconhecimentos de Histria e

dl' Psicologia - em que mais

\:mll', depois de libertada,

Cecilia se graduou - so uma

111


3/202

CONSELHO DIRETORTlio Vagner dos Santos Vicente

Ronaldo Fonseca Paes de Lima

Luiz Ricardo Leito

Jane Lucas Assuno

AsSESSORIA JURDICA

Lia de Oliveira

CONSELHO EDITORIAL

Carlos Eduardo Falco Ucha

Joo Ramos Filho

Jos Novaes

Manoel de Carvalho Almeida

Manoel Ricardo Simes

Tamara Egler

1

Cecilia Maria Bouas Coimbra

GUARDIES DA ORDEM

uma viagem pelas prticas psi no Brasil do "Milagre"

Oficina do AutorRio de Janeiro - 1995


4/202

@ 1995 - Cecilia Maria Bouas Coim bra

SRIE CENA ABERTAvolume 2

SUPERVISAO EDITORIAL

Luiz Ricardo Leito

PROJETO GRFICO & EDITORAAo ELETRNICA

leme Lucc~,Assuno

PREPARAAo DE TEXTO E REVISAo

loo Ramos FilboManoel de Camalho Almeida

Ronaldo Fonseca Paes de Lima

CAPA

Lui, Hem'ique Nascimellto

FOTOS

AgPttcialBCt~,tdio Coimbm

[MPRESsAo E ENCADERNAAo

Marques-,


5/202

AGRADECIMENTOS

A todos s que foram por mim entrevistados e que, efetivamente,

contriburam para que esses fragmentos de histrias pudessem sercosturados e contados.

A todos os amigos e companheiros que, direta ou indiretamente,estiveram comigo nesta travessia. Em especial ao Jos Novaes, ao

Norberto de Abreu Silva Neto, e ao Eduardo Lociser. Ao Joo Ramos,Angela da Silva Rodrigues, Maria Elisa Rodrigues Coimbra, Emidio TadeuB. Coimbra, Dora Cristina Rodrigues Coimbra, Esther Arantes, LiliaFerreira Lobo, Heliana de B.Conde Rodrigues, Ana Maria Mota Ribeiro,

Ana Paula Jesus de Melo, Fernanda Coelho, Suzana K. Lisboa e MirthaRamirez.

Aos meus ftlhos Jos Ricardo e Srgio Ricardo Novaes pelapacincia e cumplicidade.

Ao Grupo Tortura Nunca Mais/RJ, em especial a Cla Lopes deMoraes.

A Ivan Cavalcante Proena que, por sua generosidade e cora-gem, possibilitou que eu trilhasse muitos outros caminhos at escrever

este livro. Em 1 de abril de 1964, quando o CACO foi cercado porgrupos paramilitares, o tenente Ivan salvou a minha vida e a de cercade 200 outros companheiros universitrios. Aps isto foi preso e expulsodo Exrcito. A voc, Ivan, os agradecimentos de todos ns que sobre-vivemos.


6/202

lNDICE

APRESENTAO i

INTRODUO li

I -A Questo da Militncia :\il'

CAPTULo I

Alguns processos de subjetivao nos anos 60, 70 e 80 no Brasil 1

I -Os Anos Instituintes 21 De 60 a 64: o engajamento populista 22 De 64 a 69: o engajamento consentido e seu rompimento 7

11 -Os Anos da Institucionalizao 17I O terrorismo de estado 19

2 E como ns, classe mdia, reagimos a isso 22.-) O familiarismo como controle social )0-1 A psicologizao e os especialistas "pSi" ')4

') A produo subterrnea de algumas prticas instituintes 38'i.1 Alguns movimentos sociais na grande So Paulo 4')').2 As associaes de moradores no Rio d e Janeiro 48').) O "Novo Sindicalismo" e seus efeitos ')3

CAPTIJI,O 11As prticas psicanalticas nos anos 70 no Brasil 60

I - A "venladcira" psicanlise ou o Santurio de Vesta 6)

n-A instituio fonuao analtica ou a pedagogia da submisso 69

m-Algumas situacs analisadoras das prticas psicanalticas 79I O analisador Werner Kemper 802 () analisador Anna Katri.n Kemper ~ 84-

.-) O analisador Dcio Soares de Souza &() analisador Regina Chnaiderman 89

::; O analisador Helena Besserman Vianna 94() () analisador Amilcar Lobo 99

IV -A procura. da diferena I07I O Instituto de Medicina Psicolgica 107


7/202


8/202

.1 O analisador especialista - perito 301

2 O analisador "a mgica ela salvao" 30Ce

VI - Algumas consideraes :no

CAP11JLOV

Os Anos 80 e a Anlise Institucional no Brasil 316

I -Alguns processos de suhjetivao na segunda metade dosanos 80 no Brasil 317

11 -O Movimento Institucionalio;ta Francs 3231 () perodo da psicossociologia institucionaL 32.'12 O perodo das intervenes socioanalticas 3293 A anlise institucional se institucionaliza 332

m - O Movimento Institucionalio;ta no eixo Rio-So Paulo 33';1 No Rio de Janeiro 3382 Na Paulicia 341

IV - Algumas Consideraes 343

CAPTUlO VI

Algumas concluses' necessrio' 347

BmIJOGRAFIA

I - Livros e artigos 3';2

II - Revistas, jornais, boletins, etc 363

m - Documentos, prospectos. etc 367IV - Anais de congressos : -)68

DISCOGRAFIA 369

ANEXOS

I - Psicanalistas entrevisL1.dos -)70

l i - Outros profissionais e ex-presos polticos entreviSL1.dos 371m - Psicodramatistas entrevistados 371IV - Profissionais entrevistados ligados ao movimento do

potencial humano 371

APRESENTAO

sempre animador encontrar psiclogos atentos cincia quepraticam. Formados sobretudo como tcnicos, esses profissionaisgeralmente no dispem de instrumentos tericos que lhes permitamperceber que suas prticas no so politicamente neutras.

Qual a natureza da atuao poltica que se esconde sob as chamadas"prticas psi"? Via de regra, uma prtica que justifica a desigualdadesocial, a excluso, o confinamento, o preconceito; via de regra, umaprtica que quer ajustar os desviantes, que arredonda as arestas derespostas de resistncia justas e saudveis, patologizando-as em nomeda ordem e do progresso. Discurso lacunar, suas concepes quasesempre omitem as questes da ideologia e das relaes de poder eexplicam comportamentos reduzindo-os a uma dimenso psicolgicareificada.

Ceclia Coimbra faz uma incurso pelo universo dos psiclogosnos anos 70, perodo escuro da vida brasileira, procura de convergn-cias entre as modalidades psicoteraputicas ento em vigor e os desg-nios da ditadura militar. A tarefa gigantesca e complexa, no s porqueas modas teraputicas em vigor no pas naquela poca eram muitas, mastambm porque eram diversas as suas extraes tericas. Estavampresentes mistificaes fceis de criticar, pois que no iam alm do nvelraso do mais absoluto senso comum; chegaram tambm mtodos deinterveno que, embora em essncia conservadqres, continham mo-mentos de lucidez que importante sublinhar; foram introduzidas tam-bm propostas de interveno atentas dominao e exploraoinerentes s sociedades capitalistas e que propunham a desmontagemde prticas autoritrias nas instituies e nas relaes sociais. Em relaoa essas ltimas, Ceclia adverte para o perigo da transformao de


9/202

originalmente crticas em automatismos que se conjugam com a ordemque interessa aos poderosos.

Os Guardies da Ordem um mural, feito de largas pinceladas,

das prticas psicolgicas no Brasil do milagre. Ponto de partida impres-cindvel, a anlise que ele contm certamente um convite a outrasanlises mais profundas. O principal est feito; alertar os psiclogos paraa dimenso histrica e social de idias e tcnicas que aparecem comoisentas.

O texto de Ceclia indignado e radical, como devem ser, segundoAgnes Heller, as idias que querem denunciar a injustia e a iniqidade;"as idias tolerantes", diz Heller em OCotidiano e a Histria,"so passivase por isso historicamente ineficazes. Uma idia no pode se permitir serliberal. Deve ser enrgica, tenaz, fechada em si mesma, para cumprir omandato divino de ser produtiva".

Ceclia Maria Bouas Coimbra uma mulher corajosa e lcidaquando se trata de enfrentar trabalhos hercleos. Este livro mais uma

prova de que a militncia por um mundo mais humano est no coraode sua vida de guerreira.

Maria Helena Souza Patto

So Paulo, outubro de 1995.

i

"No sereiopoeta de um mundo caduco

Tambm no cantarei omundo futuro ..

Estou preso vida e olho meus companheiros:

Esto taciturnos, mas nutrem grandes esperanas.

Entre eles, considero a enorme realidade.

Opresente to grande, no nos afastemos.

N,o nos afastemos muito, vamos de mos dadas.

No sereiocantor de uma mulher, de uma histria,

No direi os suspiros ao anoitecer,

A paisagem vista da janela,No fugirei para as ilhas,

Nem serei raptado por serafins.

Otempo a minha matria,

Otempo presente,

Oshomens presentes,

A vida presente!"

(Mos Dadas -CarlosDmmmond de Andrade)

ii


10/202

IN1RODuO

"... devemos interpelar todos aqueles que ocupam uma posio deensino nas cincias sociais e psicolgicas, ou no campo do trabalho

social- todos aqueles, enfim, cuja profisso consiste em se interessarpelo discurso do outro. Eles se encontram numa encruzilhadapoltica e micropoltica fundamental. Ou vo fazer ojogo dessa

reproduo de modelos que no nos permitem criar sadas paraos processos de singularizao, ou, ao contrrio, vo estartrabalhando para ofuncionamento desses processos na medidade suas possibilidades e dos agenciamentos que consigam pr para

funcionar Isso quer dizer que no h objetividade cientficaalguma nesse campo, nem uma suposta neutralidade na relao ".

Flix Guattarl1

Este trabalho pretende ser um levantamento do que foram algumas

prticas "psi" na dcada de 70 no Brasil e um repensar sobre elas: aque demandas atenderam e ao mesmo tempo produziram, e quaisforam algumas de suas gneses histricas. Nele pretendo tambm pensara "encruzilhada" em que todos ns, "psi", nos encontramos. "Encru-zilhada" em que esto tambm todos aqueles que ensinam e que, comoqualquer outro dispositivo social, so responsvei,> pela produo de111liitas subjetividades.

Por isso, minha proposta caminhar por alguns processos de

slIbjctivao nos anos 60, 70 e 80: como so produzidos hegemonica-l11ente2, em que momentos conseguimos forjar processos de singula-

Guattari, F. e Rolnik,s. Micropolitica: Cartografias do Desejo. ~, Vozes, 1988, p. 29.2 No conceito de subjetividade dominante ou hegemnica, Guattari mostra que "...a produo de

subjetividade constitui matria-prima de toda e qualquer produo. As foras sociais que

administram o capitalismo hoje entendem que a produo de subjetividades talvez seja mais

importante que qualquer outro tipo de produo, mais essencial at que o petrleo e as energias,

visto produzirem esquemas dominantes de percepo do mundo". In: Guattari, F. e Rolnik, S.

(>p. cit., p. 40.

v


11/202


12/202


13/202


14/202


15/202


16/202

todo e qualquer intelectual que utilize seus saberes, suas prticas paraa produo de novos sujeitos, de novas alianas que afirmem a vida, a

paixo, a expanso. Militncia que nega toda e qualquer ortodoxia efechamento, que tenta ampliar suas alianas, expandindo outras formasde estar neste mundo. Militncia que uma construo cotidiana e que

percorre os mais variados caminhos.

Portanto, enquanto profissional psicloga, militante e implicadacom a histria, pretendo apontar para o poltico, para a produo desubjetividades, para a mitificao e naturalizao de algumas prticas

psicoteraputicas dominantes na dcada de 70, e ainda hoje.

Este texto-interveno , sem dvida alguma, um texto indignadoe apaixonado. Indignao e paixo que vm da minha implicao, daminha histria de vida. Indignao e paixo que so tambm produzi-das pelo fato de mexer com questes to naturalizadas e at mesmosagradas: a genealogia de algumas prticas psicoteraputicas no Brasile da prpria formao "psi".

Entretanto, apesar da indignao, paixo, denncia, desnatu-ralizao que esto presentes na maioria das pginas deste trabalho eapesar da radicalidade de minhas percepes, desejo pensar na

possibilidade de construir novos espaos e forjar novos aliados.

Da, este trabalho se propor a ser um trabalho militante, umainterveno. Pretenso em demasia? Talvez.

J, CAPTIJLO I

ALGUNS PROCESSOS DE SUBjETIVAO NOS

ANos 60, 70 E80 NO BRASIL

Este trabalho tenta mostrar a singularidade de uma existncia;procura apontar agenciamentos e encontros que foram se dando aolongo de uma histria e, portanto, a afirmao de uma percepo demundo.

uma leitura, embora outras existam. uma forma de pensar osdiferentes encontros que tive ao longo das trs ltimas dcadas. Trata-

se, por conseguinte, de uma leitura que, pretendo, no pertena aoterritrio das identidades reconhecidas, da academia, do cientificismo.Mas que, efetivamente, faa parte de outros espaos.

Para se falar sobre alguns processos de subjetivao nos anos60, 70 e 80 no Brasil h, inicialmente, que pensar a que subjetividadeestou me referindo. Penso produo de subjetividades, segundo o

enfoque guattariano - no "como coisa em si, essncia imutvel", mascomo "... esta ou aquela subjetividade, dependendo de um agenciamentode enunciao produzi-la ou no"!. Ou seja, formas de pensar, sentir,

perceber a si e ao mundOJProduzidas por diferentes dispositivos sociais,culturais, polticos, etc, existentes no mundo capitalstic02 Pretendo

1 Sobre o assunto, consultar Guattari, F. e Rolnick, S. Op. citoZ O termo capitalstico, utilizado por Guattari, "... designa no apenas as sociedades designadas

como capitalistas, mas tambm setores do 3" mundo ou do capitalismo perifrico, assim como as

economias ditas soclalistas dos pases do leste, que vivem numa espcie de dependncia e

xvi 1


17/202


18/202


19/202


20/202


21/202


22/202


23/202


24/202


25/202


26/202


27/202


28/202


29/202


30/202


31/202

principalmente por suas atitudes em relao ao trabalho e famlia. Sopessoas que fogem s suas obriga,es e questionam os planos e projetosde ascenso social de suas familias; com i~soso consideradas doentes,

poi",

ao questionar os dominios e critic-los, poem em dUl'da umaordem e uma concepo de mundo que devem set' pistas com.o

naturaL" e indi..,.cutil'ei.s"~

3 - O FAMILIARISMO COMO CONlROLE SOCIAL

"/'v'o centro da sala,

/Jiante da mesa,/',,'o.fundo do prato(,'amido e tristeza

A gente se olha,S'etoca e se cala.

E se desentrnde no instante ('m que {ala

_.\fedo, medo, medo,

},.fedo, medo, medo

Cada um guarda maL'i

Oseu segt'edoA sua maojf.'('bada,A sua boca arn'rla,O .'il'U J)eito dese110,

A sua mo parada,lAcrada e selada,E molbada d(' medo

Pai na caheceira

J? bom doalmoo,Jlinha mile me chama

E hora do almoo.Minha irma mab, nOI'Cl,Negra calJeleira,

Minha W' reclamat: hora do almoo

Pu ainda estou I)em moo,Pr tanta t1t.teza,

'70 luem,p. 64

30

lJe.:emos de coi."a

H cuidemos da I'idaSeno chega ti malteOu coisa parcctia.E nos arrasta moo,

Sem ter l-'1s./oa l'da_

Ou coLa parecida.Ou caLa par'ecda,

Ou coia pmw:tda.."1panxida'

(]/orfl do Almoo - Belcbior)

o que est suhjaccme a estas duas categorias c, porwntn, odispositivo produzido no sentido de enfraquecer todo c qualquer movi-mento de resistncia que possa forjar processos de singulariza'r.-':lo aprodu't::1o de uma outra suhjetividade: a "crise" da f:1nlia,a sua "descs-trLlturao '.. Se seus J1lhos, lndamcntahnente os de classe mdia emdia alta, esto se tornando "subversivos" ou 'bipjJit?-:',algo est errado.Ili,neste momento, grande preocup:W30 com a famlia: fala-se da suaimportncia como mantcnedor:l de uma sociedade s:lud:'ivcl, em que ocontrole e a dL"iciplinaesto presentes c ela, a famlia, deve cooperarni.sto. Principallnentc nas Gllna(bs mdias urbanas vem sendo vendida

desde h muito a importncia dos projetos de ascens:lo social, o quese torna um valor Ixisico para elas. Assim, esses filhos "desviantes" e'diferentes" s:1o produzidos pelos prohlemas por que essas bmliaspassam. Se algum militante seqestrado, torturado e J.ss~L


32/202


33/202


34/202


35/202


36/202


37/202


38/202


39/202


40/202


41/202


42/202


43/202


44/202

A configurao deste quadro com os "novos personagens que id l i f dif i i i d d


45/202

A configurao deste quadro, com os novos personagens queentram em cena" por intermdio dos vrios movimentos sociais, fazcom que a ilegitimidade e o repdio ao governo militar cresam.

"A combinao, no governo Figueiredo, de uma recesso cadalX'Zmais intolervel, com uma notria condescendncia em relaoaos escn4alos financeiros. envolvendo somas gigantescas e altas

personalidades do regime, priva ogoverno e o que restava do sis-tema inietado em 1964 de qualquer apoio significativo, em todososestratos da populao" 13S.

Compreende-se, assim, o grande xito que, ao longo de 1983 e1984,consegue a campanha das Diretas J!em todo o pais. Maisde SOmilhes de brasileiros saem s ruas, comparecendo aos coocios da

oposio, exigindo eleies diretas para presidente e a democratizaoda sociedade em todos os nivel,.

Todavia, apesar da extraordinria mobilizao popular, a ditaduraainda possui seus trunfos e, por fora do pacto com as elites dirigentes,incluindo alguns partidos que se dizem de oposio - da mesma formacomo havia ocorrido com a Lei da Anistia -, consegue barrar a EmendaDante de Oliveira, em1984,e manter as eleies indiretas para presidenteda Repblica atravs do Colgio EleitoraL

B,portanto, nesse clima de grande mobilizao popular, repdioe indignao ao ciclo autoritrio, que se inicia a dcada ele80. Mo-bilizao que comea a atingir as classes mdias urbanas brasileirasque, refeitas do sonho do "milagre", ligam-se s Associaes deMoradores, s campanhas pela Anistia, contra o Custo de Vida e sDiretas J!, participando de uma srie de movimentos de "minorias"con10 dos negros, das mulheres, etc.

Entretanto, se o incio dos anos 80 traz para a cena poltica todos

esses novos sujeitos, poucos sero os grupos "psl", no eixo Rio---..'ioPaulo, que se implicaro efetivamente em tais movimentos.

Interessante notar que alguns psiclogos e psicanalistas - estesltimos ligados s Sociedades vinculada, IPA- desempenham, durantetoda a dcada de 70 e mesmo na seguinte, importantes papis nas lutasde resistncia pela democratizao da sociedade brasileira. Ligando-se

135 Jaguaribe, H. Sociedade e Poltica. Rio de janeiro,jorge Zahar, 193'5,p. 36 .

S8

a partidos polticos cfou diferentes movimentos sociais do penodo, esses"psi" tm uma expressiva participao, inclusive por meio de dennciasque fazem na grande imprensa, quando h "permi'8o" da censura paral':iSO.Porm, parece haver um "corte" entre suas atuaes enquanto

cidados e aquelas enquanto profIssionais. Em seus espaos "psi", emseu cotidiano como trabalhadores "psi", no h implicao politica comos diferentes movimentos sociais. B a fora e o poder que tm algumassubjetividades hegemnieas, j vistas anteriormente, quando acionadase fortalecidas por alguns dL'positivos e instituies como a "verdadeira"

psicanlise e a formao analtica, conforme veremos a seguir.

S9


46/202


47/202


48/202


49/202


50/202


51/202


52/202


53/202


54/202


55/202


56/202


57/202


58/202


59/202


60/202


61/202


62/202


63/202


64/202


65/202


66/202


67/202


68/202


69/202


70/202


71/202


72/202


73/202


74/202


75/202


76/202


77/202


78/202


79/202


80/202


81/202


82/202


83/202


84/202


85/202


86/202


87/202


88/202


89/202


90/202


91/202


92/202


93/202


94/202


95/202


96/202


97/202


98/202


99/202


100/202


101/202


102/202


103/202


104/202


105/202


106/202


107/202


108/202


109/202


110/202


111/202


112/202


113/202


114/202


115/202


116/202


117/202


118/202


119/202


120/202


121/202


122/202


123/202


124/202


125/202


126/202


127/202


128/202


129/202


130/202


131/202


132/202


133/202


134/202


135/202


136/202


137/202


138/202


139/202


140/202


141/202


142/202


143/202


144/202


145/202


146/202


147/202


148/202


149/202


150/202


151/202


152/202


153/202


154/202


155/202


156/202


157/202


158/202


159/202


160/202


161/202


162/202


163/202


164/202


165/202


166/202


167/202


168/202


169/202


170/202


171/202


172/202


173/202


174/202


175/202


176/202


177/202


178/202


179/202


180/202


181/202


182/202


183/202


184/202


185/202


186/202


187/202


188/202


189/202


190/202

que se espalham pelo mundo.

O que fica de todo este percurso, de todo este caminho'

No ficammuitas verdades. Talvezpudesse dizer: ficam problemas,dvidas e desafios, pois muito importante t-los e viv-los, sem a"segurana" do que est pronto e acabado, instituido e naturalizado.Restammuitas histrias, muitos acontecimentos belos, apaixonantes, IJistese decepcionantes. Fica talvez uma nica certeza: a minha implicao

com o meu tempo, com muitos sonhos, utopias e encontros, com algunsagenciamentos. Trago comigo tambm as dores, os desencontros, asseparaes e as mortes.

Esta viagem no foi, propositalmente, um recordar melanclico,saudosista, piegas, mas uma tentativa de trazer esses tempos em sua.c;

mais diversas e diferentes diInenses, com todas as marcas, com toda a

paixo e a vida ali presentes.

Eis porque esta narrativa possui tambm o objetivo de pr para

funcionar agenciamentos que tenham fora, no sentido de expandiroutras formas de pensar uma genealogia de algumas prticas "psi" noB il O t b lh l ti d t d t

tI

I

I

, '~

Todavia: nesses fraglllentos aqui narrados h. sem dvida. uma

afnmao singular dos lugares por mim ocupados. Os lugares de psicloga- que sem negar este especialismo. tenta coloc-lo em anlise - e demilitante - que pretende uma outra produo desta prtica.

Enfinl, esta narrativa pretende ser o que G. Deleuze e F.Guattariafjrmarn constituir o funcionamento de uma obra, pois

".. no se ir procurar nada a compreender num livro, mas

perguntarcmn o que ei.efunciotul, em conexo com oque elejaz ou no passar intensidades, dentro de quaL"multiplicidadesele se introduz e metamorfOseia assuas, "4 (grifas meus).


191/202

Brasil. O que penso ser trabalho coletivo de todos os que atuam nocampo "psi" - e no s nele - e que em seu cotidiano forjam outrdSprticas. e faz parte desta sempre renovada luta contra as tendnciassedutoras ao acomodamento c naturalizao, s facilidades e confortosdo que se estabelece, se institui e tenta permanecer.

Este trabalho , portanto, - como afuma Lucy Garrido no incio

deste Capitulo - apenas fragmentos de histrias, de acontecimentoscom os quais estive mais ou menos implicada. Com alguns de formaintensa, apaixonada e at irada ou mesmo decepcionada. Com outros,de forma mais distante, nem sempre os acompanhando, ainda que osobservasse distncia.

So pedaos de uma trajetria, de uma gerao - a minha - queno esto absolutamente completos e que nunca estaro acabados.Da no me atrever a uma concluso que, pretensiosa e implicitamente,

procuraria "fechar" algo. No me atrevo, portanto, a ser uma espciede "conscincia dos outros", como afirma Foucault - papel muitodesempenhado pelos intelectuais de esquerda que vem reconhecidoo seu direito de falar enquanto donos da verdade e da justia'.

3 Foucauit, M. MJcrofisica do Poder. Op. cit., p. 08.

350

4 Deleuze. G. e Guattari,F. .Mille Plateaux:Capitalisme etSchlzopbrnie. Paris,'\'finuit,1980, p.

10.

351


192/202


193/202


194/202


195/202


196/202


197/202


198/202


199/202

Proposta de Atividades do Quiran. Rio de Janeiro, 1990.

Prospecto da Oficina de Convvio - Centro de Estudos de Gesult de So Paulo. 19~5,mimeog.

Prospecto do Instituto de Orgonomia ala R'1knes e da Escola de Orgonomia l.atino-Americana. Rio de Janeiro, 1990.

Prospecto da Role Phy1ng. Pesquisa c Aplkao. So Paulo, s/cbu.

__________ ,.Pesquisa e Participaao. So Paulo, 1987, mimeogr.

Psicologia-Legislao. publicao oficial do CH\ Distrito Federal, srie A, n! 01,1976.

Relatrio Criminolgico referente a Ivan Akselrud Seixas. Depanamento dos InstitutosPenais. Casa de Custdia e Tratamento de Taubat. So Paulo, 1974, mimeogr.

Relatrio da Comisso Antimanicomial da Prefeitura de So Paulo. 1991, mimeoW

Relatrios do Grupo Tortura Nunca Mais/Rj sobre Pesquisa sobre Mortos e Desapareddos

Politicos. Outubro/1991 e fcvereiro/1992, mimeogr.

Regimento Interno da SBPRJ - 19")9 e 1982, mimeogr.

Regimento Interno da SBPSP -1984, mitneogr.

Regimento Interno d"l SPAG/Rj - 1974, mimeogr.

Regimento Interno da SPID - R], 1974 e 1976, mimeogr.Regimento Interno do Colgio Freudiano do Rio de janeiro - 1991, mimeogr.

Regimento Interno do Crculo Psicanaltico do Rio de Janeiro - 1978, mimeogr.

DISCOGRAFIA

BELClBOR. "Hora do Almoo". In LP:Juntos!, Phonodisc. 1988.

BI.ANC, A. & BOSCO, J. "plataforma". In LP: Joo Bosco - TIro de Mi'iericrdia.RCA, 1977.

LYRA, C. & ASSIS, C. "O Subdesenvolvido". In C...ompactoSimples: O Povo Canta. CPC

da UNE, 1962,

GU, G. "O Sonho Acabou ....In U: Temporada de Vero. Phonogram, 1974.

__ &HOLANDA, c.B. "Clice", In LP, CWco Ruarque, Polygram, 1978,

LENNON,J. "God", In CD, John Lennoo- Imagine. E~n Records, 1988.

NErO, T. & GIL, G. "Marginlia n". In lJ', (',Jllierto (',]1Polygram, 1982-

RODRIX, Z, & TAVITO. "Casa no Campo". In LP, A Arte de Elis Regina. Phonogram,

1975.

SFJXAS, R. "Ouro de Tolo". In LP, citoTAPAJS, M, &PINHEIRO, P.c. "Pesadelo'. In lJ', MPB-4 - Cicatrizes. Phonogram,

1972.

VANDR G "P N Di Q N F l i d Fl " I CD C it P O i


200/202

Regimento Interno do hl.stitutoJacques L"lcan - Rj, 1991, mimeogr.

Regimento Interno do L\1P - 1974, mimcogr.

IV - ANAIS DE CONGRESSOS

III Conferncia Rrasileir.t de Educao. Rio de Janeiro, 1984.

\1 Congresso Brasileiro de Psicodrama. So Paulo, s/data.

VANDR, G. "Pr No Dizer Que No Falei de Flores". In CD: Convite .Para OuvirGeraldo v.mdr. RGE, 1988.

VELOSO, C. U Tropklia. Saturno, 1968.

_____ . "Alegria, Alegria". In LP: C..aetano. Gil e Gal: SrleAutgrafos de Sucesso.

Fontana, 1971.

"Fala de Ordem", In lJ', Clrculad. Polygram, 1991.

369


201/202

Seu admirvel trabalho corno

secretria e, atualmente, cornopresidente do Grupo TorturaNunca Maisdo Rio de Janeiro

demonstrao disso.

Assim, o compromisso com

a busca de um mundo melhor

e com a "criao de novos

espaos" est presente em

cada pgina deste livro. A

obra, sem ser panfletria, bate

duro naqueles profissionais da

rea "psi" que, comportando-

se como autnticos "guardies

da ordem", tentaram fazer dacincia mais um instrumento

de servido aos poderosos.


202/202

,

Impress:to e Encadernao

"MARQUES-SARAIVA"GRFICOS E EDITORES S.A

Tels (02l!213-9498 - 2739447

Milton Temer

Cecilia Coimbraprafessara-adjuntade Psicologia na UFF

epresidente doGrupo Tortura Nunca Ma;s

38656054 cecilia coimbra guardiaes da ordem uma viagem pelas praticas psi no brasil do milagre

Documents