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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PS-GRADUAO LATO SENSU
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A EDUCAO ATRAVS DA BIOLOGIA DO AMOR E DO
CONHECIMENTO DE HUMBERTO MATURANA
Por: ELEISON DIETTRICH DE SO CHRISTOVO
OrientadoraProf. Fabiane Muniz
Rio de Janeiro
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2008
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PS-GRADUAO LATO SENSU
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A EDUCAO ATRAVS DA BIOLOGIA DO AMOR E DO
CONHECIMENTO DE HUMBERTO MATURANA
Apresentao de monografia Universidade Candido
Mendes como requisito parcial para obteno do grau
de especialista em Orientao Educacional
Por: Eleison Diettrich de So Christovo.
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DEDICATRIA
.....dedica-se ao meu mestre Celso
Sanchez por ter me introduzido na obra
desse gnio da atualidade,.......
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AGRADECIMENTOS
....principalmente ao meu companheiro
Jos do Rosario Silva, e a alguns
amigos especiais pela pacincia e
tolerncia comigo na realizao desse
trabalho.
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EPGRAFE
No deplorar, nem rir, mas compreender. (Spinoza)
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RESUMO
Esta monografia procura mostrar que para se trabalhar com educao
baseado nos preceitos de Humberto Maturana, devem-se abandonar os velhos
paradigmas da cincia que consideravam o corpo e a mente como separados efragmentados e passar a entender o ser humano de forma integral, como um ser
complexo, onde a sua existncia se realiza na linguagem e no racional partindo
do emocional.
Com isso o trabalho do Orientador Educacional deve ser um trabalho
baseado no maior sentimento existente entre os seres humanos, que o amor,
a aceitao do outro como legtimo outro. Ou seja, devemos amar nossos alunos
e respeitar a diversidade cultural em que eles esto imersos e a sua maneira de
perceber o mundo, ou seja, sua leitura de mundo, como diz Paulo Freire.
Respeitar a sua autonomia e estimular a sua criatividade, trabalhando sua
reflexo crtica e a responsabilidade perante os seus atos.
Palavras-chave: paradigma, linguagem, emoo, amor, leitura de mundo,
autonomia.
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SUMRIO
INTRODUO 09
CAPTULO I - A biologia do conhecimento e a educao 10
atual
CAPTULO II - A biologia do amor e o trabalho 20do orientador
CAPTULO III As diversas linguagens do 29
Orientador Educacional
CONCLUSO 36
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 38
ANEXOS 39
NDICE 43
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INTRODUO
Este trabalho tem como objetivo mostrar como o trabalho dos educadores
e especificamente aqui neste caso do Orientador Educacional, deveria ser feito a
partir de uma viso mais sistmica, holstica e integral, visto que o ser humano,
assim como todos os outros seres vivos, um sistema complexo e deve ser
visto e tratado como tal. Um sistema complexo orgnico um todo maior que a
soma das suas partes, ou seja, existem diversas variveis, feedback, e
imprevisibilidade. Seu trabalho tambm deveria pressupor um princpio
fundamental de respeito e amor pelo prximo. Amor assim definido como o
domnio das aes que constituem o outro como um legtimo outro naconvivncia. De acordo com Maturana, nos construmos humanos pelos valores
da cooperao, solidariedade, acolhimento, e no pela competio.
Outro princpio epistemolgico que perpassa a fala desse mesmo autor
com relao ao processo de aprendizagem humana o que a emoo define a
ao. 2
Este trabalho est dividido em trs captulos. No primeiro discutimos as
bases cientficas do novo paradigma da cincia e suas repercusses na biologia
do conhecimento e a importncia da linguagem como pressuposto para a
biologia do amor. Ainda se questiona neste captulo, a viso fragmentada do
representacionismo, a crena na separao entre sujeito e objeto.
No segundo captulo, apresentamos as origens da nossa sociedade
patriarcal europia buscando respostas falta de amor, sentimento esse o mais
importante, segundo Maturana.
No terceiro e ltimo captulo, estendemos todos esses conceitos j
discutidos nos captulos anteriores para uma aplicao prtica do dia a dia das
pessoas envolvidas com a educao, principalmente o Orientador Educacional.
CAPTULO I2 Ver anexo 1 Entrevista com Dan Ariely na revista poca de 21 de abril de 2008.
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A biologia do conhecimento e a educao atual
1.1 Mudana de paradigma
A cincia ps-moderna vem baseando-se na mudana do paradigma at
ento aceito como tradicional e reiniciado por Descartes no Sc. XVII. Digo
reiniciado, pois alguns pensadores pr-socrticos chamados atomistas j
pensavam dessa maneira. No mundo de Descartes, mente e corpo so duas
entidades separadas, onde o corpo e suas medidas cientficas de preciso esto
a cargo das cincias, e a mente e seus pressupostos epistemolgicos e
ontolgicos subjacentes a essas medidas, a cargo da filosofia, ou seja, sobre o
que como se conhece e o que se conhece.
Desde o mundo linear de Descartes sustentado por Isaac Newton e sua
fsica clssica, o mtodo de pesquisa consiste em dividir o todo em partes, como
se fosse um relgio, para que se estudem as suas partes separadamente para o
entendimento do todo. Essa viso fragmentada no se aplica aos sistemas
complexos. Para facilitar o entendimento, a alegoria do caleidoscpio muito
til. O que se percebe ao se olhar atravs do visor do caleidoscpio, certamente
no o que vai se encontrar ao abri-lo. Todas as partes agem em conjunto
produzindo o resultado final e ainda pode-se somar a esse fato, a interao do
observador e sua interferncia no sistema, pois o observador ao rodar o
caleidoscpio tambm vai alterar o que vai ser visto atravs das lentes.Aps o princpio de incerteza de Heisenberg, a teoria da relatividade de
Einstein, e os avanos da mecnica quntica, imprescindvel introduzir o papel
do observador nos processos de conhecimento.
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...mudana de cincia objetiva para a cincia
epistmica. No velho paradigma, acreditava-se que
as descries cientficas fossem objetivas, isto ,
independentes do observador humano e do processo
de conhecimento. No novo paradigma, acreditamos
que a epistemologia o entendimento do processo
do conhecimento tem de ser includa explicitamente
na descrio dos fenmenos naturais. (CAPRA, F
1983, p.245).
1.2 A biologia do conhecimentoTodas as relaes sociais tm a base no amor. Uma vez ele
sedimentado, d espao para a construo das mais diversas relaes. H em
cada um de ns uma biologia do amor que pede para ser acionada, que deseja
uma condio favorvel para emergir e expressar-se. Render-se ou no se
render biologia do amor, pode ser um desafio importante para a condio
humana.(MATURANA, 1977).
Segundo Maturana (MATURANA, 1977), todo ato de conhecimento umaconstruo de um sujeito observador que v, explica, classifica e qualifica os
fenmenos a partir de uma emoo constitutiva fundamental. Ele diz que
existem duas emoes pr-verbais. A rejeio e o amor. Enquanto a rejeio
opera uma cognio pautada pela separao, pela negao e pela excluso do
outro em relao ao observador, o amor constitui o espao de condutas que
aceita o outro, como um legtimo outro na convivncia.
Ao se pensar a respeito do critrio que se utiliza para dizer se algum temconhecimento, na verdade buscamos uma ao efetiva no domnio no qual se
espera uma resposta, ou seja, duas observaes do mesmo sujeito, sob as
mesmas condies mas feitas com perguntas diferentes , podem atribuir
diferentes valores cognitivos ao que visto como o comportamento desse
sujeito.
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Uma histria da vida real ilustra claramente esse ponto. Certa ocasio,
num exame, foi proposto a um jovem estudante o seguinte: Calcule a altura da
torre da universidade com a ajuda deste altmetro. O aluno ento foi ao alto da
torre e com o altmetro amarrado na ponta de uma corda, baixou-o at tocar ao
solo. Mediu o comprimento da corda, sendo este ento o tamanho final da altura
da torre. O professor disse que ele estava errado. Novo pedido foi feito ao aluno,
nova oportunidade para proceder ao exame, e outra vez, o mesmo problema... O
estudante utilizou vrios outros procedimentos diferentes para calcular a altura
da torre com o altmetro, mas sem us-lo como altmetro. evidente que, dentro
de um certo contexto de observao, o aluno revelou mais conhecimento do que
lhe era pedido. Mas no contexto da pergunta do professor seu conhecimento era
inadequado.
Note-se que a avaliao de se h ou no conhecimento ocorre sempre
num contexto relacional, onde as mudanas estruturais que as perturbaes
desencadeiam num organismo aparecem para o observador como um efeito
sobre o ambiente. em relao a esse efeito esperado por ele que o observador
avalia as mudanas estruturais que so desencadeadas no organismo. Portanto,
toda interao de um organismo, toda conduta observada, pode ser avaliada por
um observador como um ato cognitivo. Da mesma forma, o fato de viver deconservar ininterruptamente o acoplamento estrutural como ser vivo
corresponde a conhecer no mbito do existir. Viver conhecer (viver ao
efetiva no existir como ser vivo).
1.3 A linguagem e o conhecimento
Segundo Maturana, o comportamento lingstico um comportamento
num domnio consensual. Quando o comportamento lingstico acontece
recursivamente num domnio consensual, de tal forma que os componentes do
comportamento consensual so recursivamente combinados na gerao de
novos componentes do domnio consensual, uma lngua estabelecida.
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Domnio consensual definido pelo Maturana, como o resultado do acoplamento
estrutural ontognico recproco entre organismos estruturalmente plsticos. Um
sistema determinado estruturalmente, em decorrncia de suas interaes, passa
por mudanas de estado que envolvem mudanas estruturais em seus
componentes (e no somente em suas relaes), ento esse sistema tem uma
estrutura plstica. Ao produto das interaes continuadas de um sistema
estruturalmente plstico num meio com estrutura redundante ou recorrente, e a
seleo contnua no sistema de sua estrutura que determina nele um domnio de
estados e um domnio de perturbaes que lhe permite operar recorrentemente
sem desintegrao, chama-se acoplamento estrutural. Todo ser vivo so
entidades autnomas, apesar de dependerem de um meio para sua existncia
concreta e intercmbio material. Esse sistema complexo e autnomo que o servivo chamado de sistema autopoitico, pois organizado e se autoproduz.
Esse sistema autopoitico um sistema fechado, e esse fechamento
autopoitico realizado atravs de uma mudana estrutural contnua sob
condies de contnuo intercmbio de material com o meio. Um sistema vivo
estruturalmente plstico ou opera como um sistema homeosttico determinado
estruturalmente, que mantm invariante sua organizao sob contnua mudana
estrutural, ou ele se desintegra.A linguagem, como fenmeno biolgico, consiste num fluir de interaes
recorrentes que constituem um sistema de coordenaes consensuais de
conduta de coordenaes de coordenaes consensuais de conduta
(MATURANA, 1978, 1988).
Da que a linguagem, como processo, no tem lugar no corpo de seus
participantes e sim no espao de coordenaes consensuais de conduta que
constitui no fluir nos seus encontros corporais recorrentes.
Portanto, so palavras os gestos, sons, e outras condutas ou posturas
corporais que participam, como elementos consensuais, no fluir recursivo das
coordenaes consensuais de conduta que constituem a linguagem.
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As palavras constituem operaes no domnio de existncia, como seres
vivos, dos que participam na linguagem, de forma que o fluir de suas mudanas
corporais, posturas e emoes tem a ver com o contedo de seu linguajar. O
que fazemos em nosso linguajar tem conseqncias em nossa dinmica
corporal, e o que acontece em nossa dinmica corporal tem conseqncias em
nosso linguajar.
Como se processa o conhecimento tem sempre sido uma matria que
instiga todos os seres humanos. Desde o Renascimento o conhecimento tem
sido visto como uma representao fiel de uma realidade independente do
conhecedor. Todas as produes artsticas e os saberes no eram considerados
construes da mente humana. A idia que o mundo pr-dado em relao
experincia humana hoje predominante e isso se deve mais por motivos
filosficos, polticos e econmicos do que como resultado das descobertas
cientficas de laboratrio.
Segundo essa teoria do representacionismo, nosso crebro recebe
passivamente as informaes vindas de fora e o conhecimento seria o resultado
do processamento dessas informaes. Seria uma analogia de como funciona
um computador onde se tem as entradas, processamento e sadas. Fica claro
ento que a subjetividade fica preterida em relao objetividade. Os cientistas
achavam que a subjetividade poderia comprometer os resultados e a exatido
cientfica. A mente ento seria como um espelho da natureza. O mundo teria as
informaes e ns teramos que extra-las por meio da cognio.
Como conseqncia dessa maneira de pensar que o mundo um objeto
para ser explorado pelo homem em busca de benefcios, vemos hoje a
degradao do nosso meio ambiente e o esgotamento dos recursos naturais.
Essa idia de extrair recursos do mundo se estendeu at s pessoas, que
quando no atendem mais s suas necessidades so descartadas tais quais um
objeto. Essa excluso social atingiu propores espantosas principalmente na
Amrica Latina e no continente africano.
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Essa viso de que somos separados do mundo, e conseqentemente das
outras pessoas, tem desencadeado distores no comportamento, tanto em
relao ao ambiente quanto alteridade.
O representacionismo um dos fundamentos da cultura patriarcal sob aqual vive hoje boa parte do mundo. A fragmentao, fundamento bsico do
representacionismo, traduz a separao sujeito-objeto e pretende que
continuemos convencidos de que somos separados do mundo e que ele existe
independente de nossa experincia.
Na viso atual Maturanstica, vivemos no mundo e por isso fazemos parte
dele; vivemos com os outros seres vivos e, portanto compartilhamos com eles o
processo vital. Construmos o mundo em que vivemos durante as nossas vidas.
Por sua vez, ele tambm nos constri ao logo dessa viagem comum. Assim, se
vivemos e nos comportamos de um modo que torna insatisfatria a nossa
qualidade de vida, a responsabilidade cabe a ns. O conhecimento no se limita
ao processamento de informaes vindas de um mundo anterior experincia
do observador, o qual ele se apropria para fragment-lo e explor-lo.
Para esse mesmo autor, os seres vivos so autnomos, isto ,
autoprodutores, capazes de produzir seus prprios componentes atravs da
autopoiese ao interagir com o meio: vivem no conhecimento e conhecem no
viver.
Essa autonomia dos seres vivos claramente oposta viso do
representacionismo. Por serem autnomos, no recebem passivamente
informaes vindas do mundo exterior. No funcionam somente seguindo
instrues externas. Conclui-se que se os considerarmos isolados eles so
autnomos, mas se os virmos em seu relacionamento com o meio, torna-se
claro que dependem de recursos externos para viver. Desse modo, autonomia e
dependncia deixam de ser opostos e se complementam uma a outra. Uma
constri a outra e por ela construda, numa dinmica circular. Para bem ilustrar
essa questo observemos a fotografia de M.C. Escher3, onde temos que3 Ver anexo 2 Foto mos que se desenham de M.C. Escher. Retirado do livro A rvore doconhecimento de Humberto Maturana e Francisco J. Varela Editora Palas Athena 2007 p.29.
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entender que as duas mos complementam uma a outra, e no teria sentido
pensar em uma s como mais importante que a outra.
Para que o ser humano se veja tambm parte do mundo natural,
preciso que ele se observe a si mesmo enquanto observa o mundo. Esse passo fundamental, pois permite compreender que entre o observador e o observado
entre o ser humano e o mundo no h hierarquia nem separao, mas sim
cooperatividade na circularidade.
Talvez o maior problema epistemolgico de nossa cultura seja a
dificuldade que temos de lidar com tudo aquilo que subjetivo e qualitativo,
estamos mais acostumados com o antigo paradigma do objetivo e quantitativo.
No devemos simplesmente descart-los e substitu-los, mas sim manter com
eles uma relao complementar.
Estamos condicionados ao conforto da passividade de receber
informaes de um mundo j pronto e acabado, tal como um produto recm
sado de uma linha de montagem e oferecido ao consumo, por isso no fcil
aceitar o ponto de vista da idia de que o mundo construdo por ns, num
processo incessante e interativo de participao ativa na sua construo. Em
suma, a vida um processo de conhecimento, os seres vivos constroem esse
conhecimento no a partir de uma atitude passiva e sim pela interao.
Aprendem vivendo e vivem aprendendo.
Ainda sobre a subjetividade e objetividade, Maturana nos diz que o
fenmeno do conhecer um fenmeno biolgico e que os seres humanos so
conhecedores ou observadores no observar, e ao ser o que somos, o somos na
linguagem. Ou seja, os seres humanos so humanos na linguagem, e ao s-lo,
somos fazendo reflexes sobre o que nos acontece. E reafirma que se no
estamos na linguagem no h reflexo.
...o fato de nos encontrarmos na linguagem
tambm algo que simplesmente ocorre conosco.
Quando refletimos sobre a linguagem, j estamos
nela. Nestas circunstncias, existem duas atitudes
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possveis diante do conhecer: ou aceitamos nossa
capacidade de conhecer como uma condio dada,
ou nos perguntamos como que conhecemos.
Agora, quando algum se pergunta como algo ocorre,
o que ela quer escutar uma resposta explicativa
que, como tal, deve separar a explicao da
experincia a ser explicada, na proposio de um
processo que, como resultado de seu operar, d
origem ao que se quer explicar.(MATURANA, 2005,
p.38).
Nenhuma proposio explicativa uma explicao em si. a aceitao
do observador que constitui a explicao, e o que acontece com o observador,
em geral, que ele aceita ou rejeita uma explicao de maneira inconsciente. A
respeito da pergunta sobre o observador e sua capacidade de conhecer, que
so dois caminhos de reflexo ou dois caminhos de relaes humanas, se no
nos fazemos a pergunta pela origem das capacidades do observador, nos
comportamos, na verdade, como se tivssemos a capacidade de fazer
referncia a entes independentes de ns, a verdades cuja validade
independente de ns, porque no dependem do que fazemos, e a este caminho
explicativo que afirma que nossas capacidades cognitivas so constitutivas de
nosso ser, o Maturana chama de o caminho da objetividade-sem-parnteses.
No caminho da objetividade-sem-parnteses agimos como se o que
dizemos fosse vlido em funo de sua referncia a algo que independente de
ns. Por isso dizemos: O que estamos dizendo vlido porque objetivo, no
porque somos ns que dissemos, mas por que objetivo, a realidade, so os
dados, so as medies. Operamos neste caminho explicativo, aceitando que
exista uma realidade transcendente que valida nosso conhecer e nosso explicar,
e que a universalidade do conhecimento se funda em tal objetividade.
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O outro caminho explicativo o da objetividade-entre-parnteses, que ao
aceitar a pergunta pela origem de nossa capacidade de observar, a biologia
adquire presena. Ao perguntarmos pela origem das capacidades cognitivas do
observador sabemos que estas se alteram ou desaparecem ao alterar-se nossa
biologia, e que no podemos mais desprezar o fato de que no conseguimos
distinguir na experincia entre o que iluso e percepo. E que tambm ao
aceitarmos uma proposio explicativa ou uma reformulao da experincia e a
aceitarmos como explicao, no uma referncia a algo independente de ns,
mas uma reformulao da experincia com elementos da experincia que
satisfaa algum critrio de coerncia que ns mesmos propomos explcita ou
implicitamente. Ou seja, usamos um critrio de aceitao que temos em nosso
escutar, e, portanto, que a validade das explicaes que aceitamos se configuraem nossa aceitao e no independente dela.
Na nossa vida cotidiana, ns nos movemos nos dois caminhos
explicativos mencionados. Ao nos reunirmos com nossos amigos, operamos na
objetividade-entre-parnteses, porque nesses casos, no importa o que os
outros digam ou pensem, pois ns os aceitamos, sem dvida alguma. Nesse
caminho, no h verdade absoluta nem verdade relativa, pois h muitas
verdades diferentes em muitos domnios distintos. Por isso, nesse caminho, ofato de uma pessoa gostar de Fsica e a outra gostar de Biologia, ou de ser
crist, e a outra muulmana, no cria uma dinmica de negao na convivncia,
porque no importa que um no seja como o outro.
1.4 Educao Atual
Baseado nos pressupostos do novo paradigma da cincia e no
entendimento do ato do conhecimento como construo de um sujeito
observador, deve-se pautar o trabalho do orientador educacional numa viso
mais humanstica, atendendo ao aluno de uma forma mais global, integral.
Entendendo que o seu contexto social, sua famlia, suas condies financeiras
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fazem todos parte da bagagem trazida por esse aluno, seu conhecimento do
mundo, ou parafraseando Paulo Freire, sua leitura de mundo, a importncia da
Orientao se da pelo vis de termos na escola um profissional de Educao,
um especialista capaz de ajudar o aluno na sua formao o melhor possvel, que
no se esgota apenas no racional, mas que engloba o sensvel e o emocional.
Ns seres humanos modernos do mundo ocidental,
vivemos numa cultura que desvaloriza as emoes
em favor da razo e da racionalidade. Em
conseqncia, tornamo-nos culturalmente limitados
para os fundamentos biolgicos da condio humana.
Valorizar a razo e a racionalidade como expresses
bsicas da existncia humana positivo, mas
desvalorizar as emoes que tambm so
expresses fundamentais dessa mesma existncia
no o . As emoes so disposies corporais
(estruturais) dinmicas que especificam, a cada
instante, o domnio de aes em que um animal
opera nesse instante. Isso se manifesta pelo fato de
que, na vida cotidiana, distinguimos diferentes
emoes nos seres humanos e em outros animais
diferenciando os diversos domnios de aes
(domnios comportamentais) em que eles se movem.
(MATURANA, 2006, p. 221)
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CAPITULO II
A biologia do amor e o trabalho do OrientadorEducacional
2.1 A biologia do amor
Estamos imersos numa sociedade cultural patriarcal europia. J existiu
outro tipo de cultura, a matrstica, a julgar pelos restos arqueolgicos
encontrados na rea do Danbio, nos Blcs e no Egeu, mais especificamente
na ilha de Creta. Essas duas culturas so totalmente distintas, as suas redes de
conversao realizam duas configuraes de coordenaes de coordenaes de
aes e emoes distintas, que abrangem todas as dimenses desse viver.
A cultura patriarcal constitui uma rede fechada de conversaes. Ela se
caracteriza pelas coordenaes de aes e emoes que fazem da vida
cotidiana um modo de coexistncia que valoriza a guerra, a competio, a luta,
as hierarquias, a autoridade, o poder, a procriao, o crescimento, a apropriao
de recursos e a justificao racional do controle e da dominao dos outros por
meio da apropriao da verdade. J a cultura matrstica, foi definida por uma
rede de conversaes completamente diferente da patriarcal. Valores como
participao ao invs de competio; no aparece uma oposio entre homens
e mulheres nem subordinao de uns aos outros; o viver matrstico de homens,
mulheres e crianas surge, ao longo de toda a vida, como um processo natural;relaes interpessoais surgem baseadas principalmente no acordo, cooperao
e co-inspirao; o mstico surge como participao consciente na realizao e
conservao da harmonia de toda a existncia, no ciclo contnuo e coerente da
vida e da morte; valorizao da cooperao e do companheirismo como modos
naturais de convivncia; onde se respeita a procriao e se aceitam aes de
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controle da natalidade e de regulao do crescimento populacional; a
sexualidade das mulheres e dos homens surge como um ato associado
sensualidade e ternura; a fertilidade surge como a abundncia harmoniosa de
todas as coisas vivas, numa rede coerente de processos cclicos de nascimento
e morte.
Segundo Maturana, nossa forma de vida patriarcal europia surgiu do
encontro das culturas patriarcal pastoril e matrstica pr-patriarcal europia como
resultado de um processo de dominao patriarcal diretamente orientado para a
completa destruio de todo o matrstico. Um exemplo claro disso, a histria
da invaso da Palestina, fundamentalmente matrstica, pelos hebreus
patriarcais, tal como est relatado na Bblia.
O Maturana nos diz que entre os povos paleolticos fundamentalmente
matrsticos que viviam na Europa h mais de vinte mil anos, houve alguns que
se tornaram sedentrios, coletores e agricultores. Alguns outros povos rumaram
para o leste at sia, atrs das migraes anuais de manadas de animais
silvestres.
Alguns restos arqueolgicos h mais ou menos sete e cinco mil anos
antes de Cristo, encontrados nas reas do Danbio, nos Blcs e no Egeu,
mostram traos da cultura matrstica pr-patriarcal europia que vivia em
conversaes totalmente diferentes das conversaes patriarcais que
constituem nossa cultura de hoje. Eles eram agricultores e coletores. Mulheres e
homens vestiam de forma muito similar, nas vestes que vemos nas pinturas
murais minicas da ilha de Creta. Conviviam em harmonia com a natureza.
Nessa cultura, a vida humana s pode ter sido vivida como parte de uma rede
de processos cuja harmonia no dependia exclusivamente de nenhum processo
particular. Assim o pensamento humano talvez tenha sido naturalmente
sistmico, em harmonia com um mundo que era o que era em suas conexes
com tudo mais. Esses povos ainda viviam uma vida de responsabilidade total,
consciente das conseqncias das prprias aes e agindo aceitando-as. Isso
conseqncia de se reconhecer parte intrnseca do mundo em que vive.
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Essa cultura pr-patriarcal foi destruda pelos povos pastores patriarcais
indo-europeus vindos do leste, h cerca de seis mil anos. O patriarcado foi
trazido Europa por esses povos invasores, cujos ancestrais haviam se tornado
patriarcais.
Por ser a cultura uma rede fechada de conversaes conservadas como
modo de viver num sistema de comunidades humanas necessrio olhar para
as circunstncias que podem ter originado uma mudana na rede de
conversaes que constitui a cultura em alterao. E para que haja essa
mudana de cultura, deve mudar o emocionar fundamental que constitui o
domnio de aes da rede de conversaes que forma a cultura em transio.
Sem modificao no emocionar no h mudana cultural.
Em outras palavras, acredito que para compreender
como uma cultura especfica pode ter se modificado,
na histria humana, devemos reconstruir o conjunto
de circunstncias sob as quais a nova cultura pode
ter comeado a conservar-se de maneira
transgeracional, como o fundamento de uma nova
rede de conversaes, numa comunidade humana
especfica que originalmente no a vivia. Tal
comunidade pode ter sido to pequena como uma
famlia, e o novo emocionar no deve ter sido nada
de especial como emocionar ocasional.
(MATURANA, 2006. P. 50).
Para se entender melhor a origem do patriarcalismo, temos que analisar
as comunidades humanas que seguiam os seus animais em suas migraes.
Elas ainda no eram pastores, pois no eram proprietrios desses rebanhos.
Todos conviviam com essas comunidades em harmonia, at os lobos que
tambm se alimentavam de carne dos seus rebanhos. . Eram todos comensais.
Essa criao de animais domsticos no lar implica uma maneira de viver
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diferente do pastoreio, pois a ateno e o cuidado nas cercanias do lar, e no
a apropriao, o emocionar que o define.
A cultura do pastoreio surge quando os membros de uma comunidade
que vive seguindo as manadas de animais migratrios comea a restringir oacesso a ele de outros animais migratrios como os lobos.
Com essa alterao no emocionar e modificao cultural, o homem
apreende a operao inconsciente que constitui a apropriao, isto um limite
operacional que negou aos lobos o acesso a seu alimento natural, agindo assim
de modo sistemtico.
A caa que antes era um ato sagrado, de alimentao, torna-se um ato de
violncia, pois agora uma vida suprimida para conservar uma propriedade.
Conseqentemente com a origem do pastoreio surgiu o inimigo. Em tal
processo, esse hbito se transformou numa caracterstica conservada de modo
transgeracional como forma de vida cotidiana dessa famlia.
A segurana em relao disponibilidade dos meios de vida comeou a
ser uma preocupao, amainada pelo crescimento da manada ou do rebanho
sob o cuidado do pastor.
com a valorizao da procriao, a famlia pastoril se
transformou numa famlia patriarcal e o homem
pastor converteu-se em patriarca. Mas essa
transformao da maneira de viver na qual uma
famlia nmade, comensal de alguma manada
migratria de animais silvestres passou a ser pastora,
teve uma conseqncia fundamental: a exploso
demogrfica , animal e humana. (MATURANA, H 2006 p.61).
Sustento que nossa forma de vida patriarcal
europia surgiu do encontro das culturas pastoril e
matrstica pr-patriarcal europia como resultado de
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um processo de dominao patriarcal diretamente
orientado para a completa destruio de todo o
matrstico, mediante aes que s poderiam ter sido
moderadas pela biologia do amor. Com efeito, se
quisermos imaginar como isso pode ter ocorrido, tudo
o que temos a fazer ler a histria da invaso da
Palestina fundamentalmente matrstica pelos
hebreus patriarcais, tal como est na Bblia.
(MATURANA, H 2006 p.77).
Ainda segundo esse autor, a democracia a tentativa de resgatarmos
esses valores matrsticos abandonados pelo homem na sua sede de poder.
Democracia uma produo de nosso emocionar e se baseia no auto-respeito,
respeito mtuo e dignidade.
Na educao escolar, Maturana prope a aplicao da biologia do
amor, que consiste em que o professor aceite a legitimidade de seus alunos
como seres vlidos no presente, corrigindo apenas o seu fazer e no o seu ser.
Pois, o respeito pelo outro ou a conduta amorosa para com ele s ocorre se for
visto e aceito. E, para que isso seja possvel, prope que o professor tenha
capacitao suficientemente ampla para tratar a temtica que ensina, e atue
com o prazer que essa liberdade criativa traz consigo. Ainda, a implementao
no ensino da biologia do amor exige que se d maior ateno formao
humana dos professores. Por essa razo necessrio maior comprometimento
do Estado na conservao da dignidade dos professores, ofertando condies
para que guardem o respeito por si mesmos e sua autonomia criativa.
...o que nos faz seres humanos nossa maneira
particular de viver juntos como seres sociais na
linguagem. E nessa maneira particular de
coexistncia que nos faz humanos, o amor o
fenmeno biolgico que nos permite escapar da
alienao anti-social criada por ns atravs das
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nossas racionalizaes. atravs da razo que
justificamos a tirania, a destruio da natureza ou o
abuso sobre outros seres humanos na defesa de
nossas propriedades materiais ou ideolgicas.
Justificamos a tirania afirmando que outros seres
humanos deveriam obedecer nossos caprichos sobre
a verdade ou a realidade, porque possumos um
acesso privilegiado a elas. A aceitao do outro sem
exigncias o inimigo da tirania e do abuso, porque
abre um espao para a cooperao. O amor o
inimigo da apropriao. (MATURANA, 2002, p.186).
2.2 O trabalho do Orientador Educacional
Construmos uma cultura, como seres humanos da histria da famlia dos
primatas bpedes, quando o nosso linguajear como maneira de conviver em
coordenaes de coordenaes comportamentais consensuais deixou de ser
ocasional e conservou-se gerao aps gerao num grupo humano, e tornou-se parte central da maneira de viver que definiu nossa linhagem. Esse
linguajear apareceu necessariamente entrelaado com o emocionar. Constitui-se
ento de fato o viver na linguagem, a convivncia em coordenaes de
coordenaes de aes e emoes que se chama conversar (Maturana, 1988).
O humano surgiu quando comearam a viver no conversar como uma maneira
cotidiana de vida que se conservou, gerao aps gerao, pela aprendizagem
dos filhos. O que nos faz humanos nossa existncia no conversar.
Na nossa sociedade patriarcal, herana da vida patriarcal europia, existe
uma oposio entre uma infncia matrstica e a vida adulta patriarcal. Existe
uma nostalgia inconsciente da dignidade inocente e direta de nossa infncia.
Esse sentimento uma disposio operacional que toma a forma de um desejo
recorrente e inconsciente de viver na coexistncia fcil que surge do respeito
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mtuo, sem a luta nem o esforo contnuos pela dominao do outro que so
prprios da cultura patriarcal. Ele um aspecto remanescente de nosso
emocionar infantil matrstico.
A relao materno-infantil um fenmeno biolgico humano que envolvea me no como mulher, mas como um adulto numa relao de cuidado.
Portanto, tanto a mulher como o homem, esto em igualdade de condies,
biologicamente dotados para exercerem essa funo. A maternidade uma
relao de cuidado, no uma tarefa associada ao sexo.
Ainda Segundo Maturana, a sexualidade humana um aspecto do viver
relacional, corporal e espiritual, que surge a partir da biologia como um elemento
fundamental na harmonia amorosa da convivncia no co-emocionar. A
reproduo um fenmeno ocasional que pode ser evitado. Logo, a sexualidade
humana tem como conseqncias laos de intimidade sensual, prazer na
convivncia, ternura, cuidado com o outro. Tambm uma coexistncia amorosa
e esttica, num modo de conviver no qual o cuidado com as crianas pode surgir
como um prazer sensual e espiritual, quando se leva a vida como uma escolha e
no como um dever.
A relao materno-infantil dever ser baseada no brincar, numa intimidade
corporal baseada na total confiana e aceitao mtuas, e no no controle e
exigncia. Tudo isso se resume a o que Maturana denomina de vida matrstica
da infncia.
Ns seres humanos somos entes biolgicos que existem num espao
biolgico cultural, e em termos sexuais, somos classes diferentes de animais.
Contudo esta diferena no nos distingue culturalmente como homens e
mulheres, j que como entidades biolgicas e culturais somos seres humanos
iguais. Isto , somos igualmente capazes de tudo o que humano. As
diferenas de gnero so somente formas culturais especficas de vida, redes
especficas de conversaes. Na histria da nossa humanidade, a colaborao
foi a conversao que fez com que ns nos conservssemos como somos.
Compartilhvamos alimentos, ternura e sensualidade, e tudo isso ocorreu sem
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reflexes, como aspectos naturais desse modo de vida. A colaborao no
obedincia; ela ocorre naturalmente na realizao espontnea de
comportamentos coerentes de dois ou mais seres vivos.
As relaes materno-infantis devem ser uma atividade independente dognero. A mulher no precisa ter filhos para ser mulher, e um homem no
necessita participar na procriao de uma criana para ser um homem. A
maternidade seja ela feminina ou masculina um fenmeno cultural, que pode
ou no ser vivido em coerncia com seus fundamentos biolgicos. Logo, como
um fenmeno cultural, est aberta escolha. Podemos ou no viv-la segundo
nossa opo, e ser culturalmente responsveis a seu respeito.
Ns seres humanos, existimos num domnio relacional que constitui
nosso espao psquico como o mbito operacional no qual todo o nosso viver
biolgico, toda a nossa fisiologia, fazem sentido como forma de viver humano.
(MATURANA, 2006).
O patriarcado um modo de viver um espao psquico. Se quisermos
recuperar a igualdade colaborativa da relao homem-mulher da vida matrstica,
temos de gerar um espao psquico neomatrstico. Nele as pessoas de ambos
os sexos surgem na qualidade de colaboradores iguais no viver, sem esforo,
como resultado do seu crescimento como crianas em tal espao, no qual as
diferenas de sexo so apenas o que so. Para isso devemos viver maneira
de homens e mulheres que vivem como colaboradores iguais, por meio de uma
co-participao da criao de uma convivncia mutuamente acolhedora e
libertadora, que se prolonga desde a infncia at a vida adulta.
O trabalho do Orientador Educacional deve ser baseado nesses fundamentos
bsicos do relacionamento entre os seres humanos, sendo o mais importante, o
amor.
Como um mediador entre a escola e a comunidade, o Orientador tem que
estar atento s formas peculiares que cada famlia apresenta, tentando intervir
de forma que seu relacionamento seja baseado em respeito mtuo. O Maturana
junto com a Doutora Gerda Verden Zller enfatizam a necessidade do brincar
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entre os pais e as crianas. O orientador pode utilizar o espao escolar e
articular meios de maior interao entre pais e alunos.
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CAPTULO III
As diversas linguagens do Orientador Educacional
3.1 Educao para Valores
Os valores so o conjunto de qualidades que nos distinguem como seres
humanos, independentemente de raa, credo, ou condio social. So inerentes
ao ser humano e dignificam e ampliam a capacidade de percepo do ser
consciente, que tem no pensamento e nos sentimentos sua manifestao
palpvel e afervel. So valores que o homem considera importantes: a verdade,
a retido, a paz, o amor e a no violncia, que une as pessoas e a libertam do
egosmo e individualismo, dissolvendo preconceitos e diferenas.
Se ensina na escola o necessrio para que as crianas e adolescentes
cheguem ao mercado de trabalho capazes de realizar alguma funo, mas no
se ensinam valores como amor ao prximo, solidariedade, respeito
diversidade, cooperao, lealdade e tica. A educao fragmentada que no v
o aluno como um ser integral, com mltiplas habilidades tanto intelectuais
quando emocionais, propicia um ser desestruturado, sem limites, sem
responsabilidade e sem projeto de vida.
Os meios de comunicao de massa s pioram a situao com excesso
de informaes, onde a crianas tm acesso a tudo quanto tipo de informao
sem nenhum apoio pedaggico. O educador (seja ele o professor, orientador ou
um membro da famlia) precisa ajud-los a organizar essas informaes e
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fornece-lhes ferramentas cognitivas para torn-las proveitosas e no
prejudiciais.
Muitos pais jogam para a escola a responsabilidade de educar seus filhos.
Segundo Savater, uma das causas para essa renncia da famlia das suasfunes educacionais o fanatismo pelo juvenil. Parecer velho e ser um velho
que assume o tempo que passou, algo quase obsceno, que condena solido
e ao abandono.
Nessa perspectiva, considerando que a aceitao e o amor so
indispensveis para o desenvolvimento do ser humano responsvel e livre,
espera-se dos educadores que, ao imprimirem convivncia familiar um
ambiente amoroso e no competitivo, corrijam o fazer e no o ser das crianas,
estimulando suas capacidades reflexivas e de ao, tornando-as capazes de ver
e corrigir seus erros; de cooperar e possuir um comportamento tico; e capaz
de no serem arrastados para as drogas e o crime, porque no dependero da
opinio dos outros no buscando a sua identidade em coisas fora de si
(MATURANA, 2000, p. 12).
Quanto construo da personalidade moral Piaget no acredita que os
comportamentos morais sejam redutveis a simples hbitos. Suas pesquisas o
convenceram de que os valores e as regras passam pela conscincia e de que
justamente a qualidade da assimilao racional destes que determina morais
diferentes: a moral heternoma se as regras so meramente legitimadas em
funo do prestgio de quem as impe e entendidas ao p da letra, e a moral
autnoma quando essas regras so claramente compreendidas no seu esprito e
legitimadas em razo dos contratos feitos entre pessoas que se concebem como
livres e iguais.
Do ponto de vista educacional, Piaget ainda nos aconselha a promover
relaes de cooperao entre as crianas, relaes que promovem a
descentrao ( capacidade de se colocar no ponto de vista de outras pessoas
para melhor compreend-las e, reciprocamente, melhor compreender o prprio
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ponto de vista maior apropriao racional) por serem baseadas no dilogo e
no acordo.
Ao tratarmos de educao moral, devemos falar do termo da autonomia
da conscincia moral, j que a conscincia autnoma compreendida comocondio constitutiva da personalidade moral humana e imprescindvel ao
considerar os fatos e as decises humanas como morais.
Ao nos referirmos conscincia moral autnoma, supomos a existncia
de uma construo psicossocial denominada conscincia, que saber que se
sabe. Adquire-se a capacidade de atribuir valor, pensar e decidir por si mesmo
sobre os prprios valores, pensamentos e decises. A conscincia se faz juiz do
sujeito que a possui (PUIG, 1998, p.79).
Com a conscincia aparece um regulador que
orienta e controla boa parte daquilo que a tornou
possvel. De tudo isso podemos concluir que a
conscincia um regulador de nvel superior
necessrio para seres complexos em meios
complexos. Todo sistema uma unidade constituda
de um conjunto de elementos e suas interaes, no
pode ser entendida pela simples soma de seus
componentes. Portanto interpretamos a conscincia
como uma nova faculdade ou qualidade, que no
redutvel, aos elementos cerebrais e sociais, ainda
que surja deles. (PUIG, J 1998, p. 89).
3.2 - A educao e a Orientao Educacional
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A funo primordial da educao deveria ser formar para a vida. Estudos
apontam que esta tentativa tem sido frustrante. Apesar da escola oferecer
currculo prximo realidade do aluno, ainda tem o desafio de conciliar
interesses diferentes dos alunos e tornar-se atrativa, exigindo muita criatividade
do professor.
O bilogo Maturana,ao lanar sua proposta reflexiva e de ao em torno
da tarefa educativa, assegura que a tarefa da educao formar seres
humanos para o presente, para qualquer presente, seres nos quais qualquer ser
humano possa confiar e respeitar, seres capazes de pensar o todo e de fazer
tudo o que preciso como um ato responsvel a partir de sua conscincia
social (MATURANA, 2000, p. 10).
A tarefa da educao escolar, como um espao de convivncia, consiste
em permitir e facilitar o crescimento das crianas como seres humanos que
respeitam a si e os outros com conscincia social e ecolgica, de modo que
possam atuar com responsabilidade e liberdade na comunidade a que
pertencem. E a responsabilidade e a liberdade, segundo Maturana, s so
possveis a partir do respeito por si, que permite escolher voluntariamente e no
movido por presses externas (MATURANA, 2000, p. 13).
O educar se constitui no processo em que a criana ou o adulto convive
com o outro e, ao conviver com o outro, se transforma espontaneamente, de
maneira que seu modo de viver se faz progressivamente mais congruente com o
do outro no espao de convivncia (Maturana, 2005, p. 29).
O educador Paulo Freire (1996, p. 22), ao afirmar que ensinar no
transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produo ou a
sua construo, induz-nos a concluso de que se nos colocamos na posio de
objeto, somos meros pacientes que recebem os conhecimentos e contedos
acumulados pelo sujeito que sabe e que so a ns transferidos. O autor ainda
demonstra sua perseverana nos seres humanos e na educao autntica como
o caminho necessrio para a justia e a paz.
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Paulo Freire (1996, p.77) elenca capacidades mnimas necessrias
prtica educativa de qualidade. Dentre elas, refere que o educador democrtico
deve reforar a capacidade crtica do educando, sua curiosidade e insubmisso;
deve investir em sua formao permanente, assumindo-se como pesquisador;
deve respeitar os saberes dos educandos; agir com tica e corporificar as
palavras pelo exemplo; rejeitar qualquer forma de discriminao; arriscar; aceitar
o novo; e, sobretudo, estar convicto de que a mudana possvel.
3.3 - A Educao como um ato poltico
O modelo de educao proposto pelo nosso professor Paulo Freire, se
diferencia muito do modelo tradicional, pois abomina dentre outras coisas a
dependncia dominadora, que inclui entre outras coisas, a relao de
dominao do educador sobre o educando. Na prtica da ao libertadora existe
uma relao horizontal entre educador e educando, exigindo nessa troca a
transformao da realidade conhecida. Neste sentido, quanto mais se articula o
conhecimento frente ao mundo, mais os educandos se sentiro desafiados a
buscar respostas, e conseqentemente quanto mais incitados, mais sero
levados a um estado de conscincia crtica e transformadora frente realidade.
Esta relao dialtica cada vez mais incorporada na medida em que,
educadores e educandos se fazem sujeitos do seu processo.
E ainda o jogo dessas relaes do homem com o
mundo e do homem com os homens, desafiando e
respondendo ao desafio, alterando, criando, que no
permite a imobilidade, a no ser em termos de
relativa preponderncia, nem das sociedades nem
das culturas. E, na medida em que cria, recria e
decide, vo se conformando as pocas histricas.
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de se impor como cultura legtima, seriam aqueles sustentados pelas classes
dominantes. Portanto, para o autor, a cultura escolar, socialmente legitimada,
seria a cultura imposta como legtima pelas classes dominantes. (Revista
Educao Bourdieu pensa a educao 2008).
Por isso devemos estar atentos principalmente formao dos nossos
educadores, pois eles sero os responsveis por uma transformao nessa
maneira de se praticar a verdadeira educao. Uma educao justa e solidria,
voltada para todos.
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CONCLUSO
Ns seres humanos, temos em comum uma tradio biolgica quecomeou com a origem da vida e se prolonga at hoje, nas variadas histrias
dos seres humanos. Devido a essa herana biolgica comum temos tambm o
fundamento de um mundo comum. De nossas heranas lingsticas diferentes,
surgiram os diferentes mundos culturais, que como homens podemos viver, e
dentro dos limites biolgicos, podem ser to diversos quanto se queira.
A unicidade do ser humano est num acoplamento estrutural social em
que a linguagem tem duplo papel. Por um lado, gerar as regularidades prprias
do acoplamento estrutural social humano, ou seja, o fenmeno das identidades
pessoais. E de outro lado, constituir a dinmica recursiva do acoplamento
estrutural social, que produz a reflexividade que conduz ao ato de ver sob uma
perspectiva mais ampla. Trata-se de ver que como seres humanos s temos o
mundo que criamos com os outros.
A esse ato de ampliar nosso domnio cognitivo reflexivo, que sempre
implica em uma experincia nova, nos leva a ver o outro como igual, um ato que
chamamos de amor, ou seja, a aceitao do outro junto a ns. Sem essa
premissa, no h socializao e nem humanidade. Temos de nos libertar de
uma cegueira fundamental, de no percebermos que s temos o mundo que
criamos com os outros, e que s o amor nos permite criar um mundo em comum
com eles.
Por isso importante que como educadores tenhamos em mente essas
premissas e tentemos coloc-las em prtica na nossa atividade diria. o
compromisso que temos que ter com nossos alunos de no agirmos com
preconceitos, nem julgamentos precipitados, tentando entender todo o contexto
de vida deles e sua palavramundo, como nos diz Paulo Freire.
Muito se fala em evaso escolar hoje em dia. O trabalho do Orientador
Educacional pode ser de suma importncia. Temos que transformar a escola
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que continua resistindo em ser tradicional. Hoje as crianas esto muito mais
expostas a objetos que atraem a sua ateno. So vdeos-game da mais alta
tecnologia em terceira dimenso, so celulares com vdeo, onde se pode falar e
ver imagens ao mesmo tempo, so i-pods, e-phones, etc. Ser que tudo isso
no mais atrativo do que sentar-se num banco da escola? Temos que
repensar a escola e transform-la num grande vdeo-game de construo de
conhecimento, utilizando as ricas ferramentas da tecnologia as TICs,
(tecnologias da informao e comunicao), a Web 2.0, e muitas mais, para
atrairmos a ateno dessa juventude e inclu-las nesse universo que chegou
para ficar.
Outro aspecto importante que no se deve deixar de refletir e agir como
Orientador Educacional, em relao vocao das crianas. Muito pouco se
tem feito para encaminharem as crianas no sentido de fazerem aquilo que
realmente as tornam felizes. Somente quando tivermos todos fazendo aquilo que
realmente gostam e estudaram para fazer, teremos profissionais responsveis e
capacitados para exercerem suas profisses voltadas para a satisfao dos
desejos e necessidades de nossas comunidades. J vem de milnios o
desprezo pelo trabalho manual em comparao com o trabalho mental. Valoriza-
se mais quem pensa e no quem faz. Essa mudana de paradigma se faznecessria para um mundo mais equilibrado e harmonioso. Todos tm o seu
valor, tanto o que pensa e planeja como o que executa. Precisamos dos dois
para que o projeto seja realizado. No h melhor nem pior, ambos so
necessrios e ambos devem ser valorizados igualmente, e conseqentemente
bem pagos.
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MATURANA, Humberto.Ontologia da Realidade. Belo Horizonte. Editora UFMG,2002.
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1997, p. 66-72.
ANEXOS
ndice de anexos
Anexo 1 Entrevista com Daniel Ariely publicada na revista poca de 21 deabril de 2008.
Anexo 2 Foto de M.C. Escher retirada do livro rvore do conhecimento doHumberto Maturana e Francisco Varela Ed. Palas Athenas 2007 p. 29.
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ANEXO 1 CONTINUAO
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INTRODUO 09
CAPTULO I-A biologia do conhecimento e a educao atual 10
1.1-Mudana de paradigma 10
1.2- A biologia do conhecimento 11
1.3-A linguagem e o conhecimento 12
1.4-Educao Atual 18
CAPTULO II-A biologia do amor e o trabalho do Orientador 20
Educacional
2.1-A biologia do amor 202.2-O trabalho do orientador educacional 25
CAPTULO III-As diversas linguagens do Orientador 29
Educacional
3.1-Educao para valores 29
3.2-A educao e a orientao educacional 31
3.3-A educao como um ato poltico 33
CONCLUSO 36
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 38
ANEXOS 39
ANEXO 1 40
ANEXO 1 Continuao 41
ANEXO 2 42NDICE 43
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