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Página 1 de 74 Análise da Indústria Têxtil e Vestuário no Norte de Portugal e Galiza: Consolidação da Complementaridade do “Cluster” Transfronteiriço na Euroregião CENIT – Centro de Inteligência Têxtil 2009

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Análise da Indústria Têxtil e Vestuário no Norte de Portugal e

Galiza: Consolidação da Complementaridade do “Cluster”

Transfronteiriço na Euroregião

CENIT – Centro de Inteligência Têxtil

2009

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Índice

1. Introdução ........................................................................................................................... 5

2. Enquadramento regional ..................................................................................................... 7

3. Enquadramento sectorial................................................................................................... 10

3.1. Caracterização do contexto internacional.................................................................. 18

4. Caracterização da indústria têxtil e vestuário no Norte de Portugal ................................. 25

4.1. Evolução e contexto actual ........................................................................................ 25

4.2. Dados e indicadores sectoriais................................................................................... 28

4.3. Casos de empresas do Norte de Portugal................................................................... 33

5. Caracterização da indústria têxtil e vestuário na Galiza ................................................... 35

5.1. Evolução e contexto actual ........................................................................................ 35

5.2. Dados e indicadores sectoriais................................................................................... 38

5.3. Casos de empresas da Galiza..................................................................................... 43

6. Caso de estudo: El Niño.................................................................................................... 49

6.1. Apresentação ............................................................................................................. 49

6.2. Entrevista ................................................................................................................... 49

6.3. Parceiros .................................................................................................................... 54

7. Análise comparativa das duas regiões .............................................................................. 58

7.1. Comparação entre a indústria nas duas regiões ......................................................... 59

7.2. Comparação entre as empresas das duas regiões....................................................... 68

8. Considerações finais ......................................................................................................... 71

Referências ............................................................................................................................... 73

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Índice de siglas

AIPCLOP: Asociación de Industrias de Punto y Confección (Lugo, Orense y Pontevedra)

ATP: Associação Têxtil e Vestuário de Portugal

IGE: Instituto Galego de Estatística

INE (ES): Instituto Nacional de Estadística (Espanha)

INE: Instituto Nacional de Estatística

NUTS: Nomenclature of Territorial Units for Statistics

Índice de figuras

Figura 1: Mapa da região Norte de Portugal .............................................................................. 7

Figura 2: Mapa da Comunidade Autónoma da Galiza............................................................... 8

Figura 3: Sistema de negócios da indústria têxtil e do vestuário ............................................. 11

Figura 4: Evolução do número de empresas têxteis e vestuário na Galiza .............................. 39

Figura 5: Distribuição da dimensão da empresa em termos de pessoal ao serviço (2007) ...... 41

Figura 6: Comparação da evolução do volume de produção na indústria têxtil e vestuário.... 60

Figura 7: Gráfico com a comparação do número de empresas ................................................ 62

Figura 8: Mapa da distribuição das empresas têxteis............................................................... 63

Figura 9: Mapa da distribuição das empresas de vestuário...................................................... 64

Figura 10: Mapa das trocas comerciais .................................................................................... 68

Figura 11: Comparação do volume de negócios entre as maiores empresas das duas regiões 70

Índice de tabelas

Tabela 1: Principais indicadores da indústria têxtil e vestuário portuguesa ............................ 29

Tabela 2: Principais indicadores da actividade empresarial nos sectores têxtil e vestuário..... 29

Tabela 3: Distribuição geográfica das empresas do sector têxtil ............................................. 30

Tabela 4: Distribuição geográfica das empresas do sector de vestuário .................................. 31

Tabela 5: Número de empresas têxteis e vestuário no Norte de Portugal................................ 31

Tabela 6: Evolução do número de empresas e pessoas no sector têxtil ................................... 32

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Tabela 7: Evolução do número de empresas e pessoas no sector vestuário............................. 32

Tabela 8: Principais países de destino das exportações da indústria têxtil e vestuário em valor

.................................................................................................................................................. 33

Tabela 9: Principais empresas têxteis e vestuário do Norte de Portugal.................................. 34

Tabela 10: Número de empresas têxteis e de vestuário na Galiza ........................................... 38

Tabela 11: Evolução do número de empresas têxteis e vestuário na Galiza............................ 38

Tabela 12: Evolução do número de pessoas ao serviço na indústria têxtil e vestuário da Galiza

.................................................................................................................................................. 39

Tabela 13: Distribuição do número de empresas na Galiza por escalão de pessoal ao serviço40

Tabela 14: Evolução do volume de produção na Galiza.......................................................... 41

Tabela 15: Evolução do valor total das exportações por categoria de artigo........................... 42

Tabela 16: Evolução do valor total das importações por categoria de artigo .......................... 43

Tabela 17: Principais empresas têxteis e vestuário da Galiza em volume de negócios ........... 44

Tabela 18: Principais empresas de distribuição grossista de têxteis, vestuário e produtos

associados................................................................................................................................. 45

Tabela 19: Principais empresas de distribuição retalhista de têxteis, vestuário e produtos

associados................................................................................................................................. 46

Tabela 20: Comparação da evolução do volume de produção na indústria têxtil e vestuário . 60

Tabela 21: Valor acrescentado bruto das empresas têxteis e vestuário.................................... 61

Tabela 22: Comparação do número de empresas..................................................................... 61

Tabela 23: Distribuição das empresas têxteis por sector de actividade ................................... 65

Tabela 24: Comparação entre o total de exportações de têxteis e vestuário de Portugal e da

Galiza ....................................................................................................................................... 66

Tabela 25: Comparação entre o total de importações de têxteis e vestuário de Portugal e da

Galiza ....................................................................................................................................... 67

Tabela 26: Comparação entre as maiores empresas do Norte de Portugal e da Galiza ........... 69

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1. Introdução

Este documento tem por objectivo caracterizar e comparar a indústria têxtil e vestuário do

Norte de Portugal e a da região espanhola da Galiza, estando enquadrado no âmbito do

Projecto EUROclusTEX.

O Projecto “EUROclusTEX – Cluster Têxtil / Vestuário / Moda transfronteiriço Norte

Portugal – Galiza” supõe a consolidação de um cluster transfronteiriço para a fileira têxtil /

vestuário / moda das regiões Norte de Portugal e Galiza. A iniciativa encontra-se alicerçada

num importante “capital” de cooperação acumulado pelas empresas e agentes económicos das

duas regiões fronteiriças. Este projecto deve ser entendido como um catalisador dessa

complementaridade natural das duas realidades sectoriais, possibilitando o incremento dos

fluxos de carácter comercial e produtivo e institucionalizando as modalidades de cooperação.

O objectivo estratégico do EUROclusTEX consiste em lançar e consolidar um cluster de

âmbito transfronteiriço que favoreça os contactos e as práticas de cooperação entre todos os

actores da fileira e do território.

O Projecto “EUROclusTEX” pode desdobrar-se numa série de objectivos de carácter mais

operacional: (1) apoiar a iniciativa empresarial; (2) impulsionar a criação de valor

acrescentado e o surgimento de âmbitos de excelência na fileira transfronteiriça; (3) apoiar a

constituição de uma rede entre as principais entidades dos sistemas tecnológico e científico

das duas regiões com competências no sector; (4) fomentar a abertura internacional da

Indústria Têxtil e Vestuário (ITV) e a criação de uma imagem de excelência da Euroregião

Norte Portugal-Galiza num dos seus sectores de actividade com maior representatividade e

projecção internacional.

Esta intervenção vai estruturar-se a partir de 4 blocos de actividades:

1) Institucionalizar a cooperação: de modo a permitir o reforço das relações económicas e

a formalização de uma rede de cooperação sectorial;

2) Aumentar a cooperação entre as empresas, e entre as empresas e centros de

competências: através da criação de uma rede de apoio e dinamização empresarial

transfronteiriça, aberta aos actores empresariais e aos agentes da envolvente

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empresarial da Euroregião, a partir de um sistema de Pólos de dinamização da

actividade sectorial;

3) Reforçar o capital de inovação e de desenvolvimento tecnológico: com a criação de

uma rede com as entidades do sistema Inovação com competências na fileira

têxtil/vestuário/moda e com a prefiguração de uma Antena Tecnológica na Galiza;

4) Internacionalizar de maneira conjunta a fileira têxtil/vestuário/moda: apoiando a

internacionalização dos actores empresariais no âmbito da Euroregião e promovendo a

imagem do Cluster transfronteiriço no exterior.

A iniciativa conta com o apoio financeiro do Programa de Cooperação Transfronteiriça

Espanha-Portugal 2007-2013 (POCTEP).

Este documento é composto por sete secções, nas quais é inicialmente desenvolvido o

contexto actual que caracteriza os sectores em causa, sendo posteriormente apresentada a

análise da indústria têxtil e vestuário nas duas regiões. A Secção 0 (enquadramento regional)

apresenta a delimitação regional do âmbito deste estudo, delimita as regiões do Norte de

Portugal e da Galiza, e serve de base para a análise realizada na sequência do documento,

fundamentalmente no que se refere aos dados estatísticos e respectivo tratamento. A Secção 0

(enquadramento sectorial) apresenta o contexto internacional da indústria têxtil e vestuário,

focalizando os principais factores influenciadores e os acontecimentos que lhes precederam.

A Secção 0 apresenta a caracterização da indústria têxtil e vestuário do Norte de Portugal,

focalizando a evolução, o contexto actual e os dados e indicadores específicos. A Secção 5

apresenta a caracterização da indústria têxtil e vestuário da Galiza, focalizando a evolução, o

contexto actual e os dados e indicadores específicos. A Secção 0 apresenta a comparação

entre a indústria têxtil e vestuário das duas regiões. A Secção 8 apresenta as considerações

finais que resultam da análise. O documento conclui com as Referências utilizadas.

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2. Enquadramento regional

A região Norte (NUTS II) de Portugal (PT) é composta pelas seguintes sub-regiões NUTS III

(conforme definido pelo EUROSTAT): Minho-Lima (PT111), Cávado (PT112), Ave

(PT113), Grande Porto (PT114), Tâmega (PT115), Entre Douro e Vouga (PT116), Douro

(PT117) e Alto Trás-os-Montes (PT118). Em termos de correspondência com os distritos

portugueses, a região Norte engloba os distritos de: Viana do Castelo, Braga, Porto, Vila Real

e Bragança, e parte dos distritos de Aveiro, Viseu e Guarda. A Figura 1 apresenta o mapa da

região Norte.

Figura 1: Mapa da região Norte de Portugal

Fonte: European Communities

A região da Galiza (NUTS II) é uma comunidade autónoma de Espanha (ES) composta pelas

seguintes sub-regiões NUTS III (conforme definido pelo EUROSTAT): A Coruña (ES111),

Lugo (ES112), Ourense (ES113) e Pontevedra (ES114). A Figura 2 apresenta o mapa da

região da Galiza.

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Figura 2: Mapa da Comunidade Autónoma da Galiza

Fonte: European Communities

Embora a Galiza (29.574,4 km²) ocupe uma área superior à ocupada pelo Norte de Portugal

(21 278 km²), a população residente na região portuguesa é consideravelmente superior, com

3.745.439 habitantes, relativamente à população galega com 2.784.169 habitantes,

relativamente ao ano 2008. Ao considerarmos o total para as duas regiões, a população

ascende a mais de 6,5 milhões de habitantes. Em termos relativos, a região Norte de Portugal

representa 24% da área continental do país e agrega 37% da população do continente,

enquanto a Galiza representa apenas 5,8% da área do território espanhol e alberga pouco mais

de 6% da população do país.

No que se refere ao nível de escolaridade da população, considerando a faixa etária entre os

25 e os 64 anos, existiam 1,2 milhões de residentes com habilitações literárias ao nível do

secundário ou do ensino superior em 2006, representando apenas 32% da população nessa

faixa etária e evidenciando um nível de instrução inferior ao da Península Ibérica e da UE27,

com 45,3% e 69,3%, respectivamente.

Em termos do PIB (Produto Interno Bruto) agregado das duas regiões, este ascendeu aos 88,3

mil milhões de euros em 2005, representando 8,3% da riqueza em toda a Península Ibérica.

Em termos do PIB per capita, em Paridade do Poder de Compra (PPC), o valor agregado para

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as duas regiões situava-se em 2005 nos 15.600 euros, valor equivalente a 69,5% da média da

Península Ibérica e 72,5% da média da União Europeia (UE27).

No que se refere ao volume de comércio internacional de mercadorias, considerando

exportações e importações, as duas regiões têm mantido uma representatividade estável no

contexto da Península Ibérica, sendo responsáveis por cerca de 11% do comércio

internacional total, salientando-se o facto da taxa de cobertura ser mais elevada do que a

média do contexto ibérico.

Entre as mais de vinte fronteiras terrestres das duas regiões, a Intensidade Média Diária

(IMD) de veículos foi na ordem de 43.677 em 2004, os quais representaram 50,26% do total

registado nas fronteiras luso-espanholas. No que se refere à IMD de veículos ligeiros entre

Galiza e Norte de Portugal, este elevou-se em 2004 para 51,54% do tráfego entre Espanha e

Portugal, enquanto o tráfego de veículos pesados registado através das fronteiras entre a

Galiza e a região Norte de Portugal representou 40,85% do total verificado entre Espanha e

Portugal. Ao nível rodoviário, o destaque nas vias de comunicação vai para o eixo litoral, que

liga os principais núcleos habitacionais e empresariais das regiões.

As duas regiões englobam ainda quatro aeroportos, três na Galiza (A Coruña, Santiago de

Compostela e Vigo) e um no Norte de Portugal (Porto). Estas quatro infra-estruturas

aeroportuárias movimentaram 8,7 milhões de passageiros em 2007, predominando o tráfego

de passageiros essencialmente nacional nos aeroportos galegos e predominantemente

internacional no Aeroporto Francisco Sá Carneiro (Porto), responsável pela movimentação de

mais de 4,5 milhões de passageiros em 2008.

As duas regiões contam ainda com a existência de oito portos, seis localizados na região da

Galiza (San Cíbrao, Ferrol, A Coruña, Villagarcia, Marin e Vigo) e dois no Norte de Portugal

(Viana do Castelo e Leixões). Ao nível do movimento de contentores nos portos das regiões,

e considerando os dados de 2006, os dois portos portugueses registaram um total de 387,9

milhares de TEU (Twenty-foot Equivalent Unit), enquanto os portos galegos registaram 267,1

milhares de TEU.

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3. Enquadramento sectorial

As actividades produtivas de têxteis e vestuário têm acompanhado a história da humanidade,

evoluindo em sintonia com as necessidades sentidas pelo ser humano. À medida que o

homem modificava e se adaptava ao meio ambiente, foram necessárias novas estruturas

têxteis para responder a novas necessidades. Esta procura de novas respostas resultou no

desenvolvimento de estruturas e matérias-primas, capazes de responder a necessidades tão

diversas que variam desde a mais básica peça de vestuário até às aplicações técnicas mais

avançadas.

Na indústria têxtil e vestuário podemos distinguir dois sectores fundamentais, nomeadamente

o sector têxtil e o sector de vestuário. A distinção entre estes dois sectores é estabelecida com

base nas actividades de produção que lhes estão associadas. O sector têxtil encontra-se

associado às actividades que se iniciam na obtenção das fibras, dos fios e tecidos, passando

pelos respectivos tratamentos ao nível de tinturaria e ultimação, bem como os têxteis lar e os

têxteis técnicos. O sector de vestuário encontra-se associado às actividades de transformação

dos materiais têxteis em vestuário, englobando actividades como o corte, a confecção e o

acabamento das peças de vestuário.

A Figura 3 apresenta a estrutura genérica do sistema de negócios da indústria têxtil e

vestuário. Com base nesta representação, é possível distinguir a abrangência e as fronteiras

dos sectores em análise. Dependendo dos produtos e mercados em causa, é possível

especificar os processos e as actividades que fazem parte da rede de fornecimento, assim

como os sectores que a estas se encontram associados.

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Figura 3: Sistema de negócios da indústria têxtil e do vestuário

Fonte: baseado em Nordås (2004)

Para além dos sectores de actividade representados, existem diversos outros intervenientes,

como: responsáveis pelo desenvolvimento de equipamentos produtivos, produtos químicos,

serviços de transporte e distribuição, entre outros, fornecendo soluções específicas para as

necessidades dos sectores têxtil e de vestuário.

A indústria têxtil e vestuário europeia opera fundamentalmente em três mercados distintos:

vestuário, têxteis para interiores (ex.: cortinados, alcatifas) e lar (ex.: roupa de banho, roupa

de cama), e têxteis técnicos. Os dois primeiros subsectores estão fundamentalmente

vocacionados para os mercados de consumo (moda e decoração de interiores) e o terceiro para

as aplicações industriais e profissionais. Em anos recentes tem-se registado uma aproximação

entre os sectores técnicos e os sectores ligados à moda, verificando-se uma fusão dos dois em

diversos tipos de produtos.

A confecção de produtos de vestuário sempre foi e continua a ser uma actividade de mão-de-

obra intensiva, enquanto a produção de têxteis é caracterizada como sendo de capital

intensivo, desde que teve inicio a sua mecanização em Inglaterra do final do século XVIII.

Sendo um sector caracterizado pela mão-de-obra intensiva e com baixos requisitos ao nível do

investimento de capital, o sector de vestuário é reconhecido pelos países mais pobres como

uma via para o desenvolvimento económico.

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Os têxteis técnicos são um subsector da indústria têxtil e vestuário em franco crescimento,

abrangendo uma vasta diversidade de aplicações, desde as aplicações específicas com elevado

valor acrescentado (ex.: próteses e produtos ortopédicos), produtos com consumo elevado e

baixo valor acrescentado (ex.: tecidos em poliolefina e não-tecidos para aplicações de

protecção no sector agrícola), produtos têxteis especializados (ex.: têxteis para a indústria

automóvel), vestuário com aplicações técnicas (ex.: vestuário para profissionais de saúde,

vestuário de desporto para utilização profissional), produtos de interior (ex.: cortinas com

protecção à chama) e produtos têxteis para o lar (ex.: roupa de cama com tratamento

antibacteriano).

As modernas empresas produtoras de têxteis recorrem a equipamentos produtivos

equiparáveis, convergindo frequentemente para os mesmos fornecedores ou para fornecedores

com tecnologias semelhantes. Por conseguinte, as diferenças ao nível do produto e da

qualidade devem-se fundamentalmente às competências dos recursos humanos (incluindo as

competências de concepção e desenvolvimento), aos procedimentos de produção e aos

métodos de controlo. Por outro lado, a produção de vestuário depende menos do investimento

de capital e mais das competências dos trabalhadores individuais e na sequência das

operações necessárias à produção.

A importância da mão-de-obra qualificada depende directamente do processo e do subsector

em causa. Considerando dois extremos na cadeia de valor da indústria têxtil e vestuário,

podemos considerar diversos níveis de qualificação, desde o responsável pelo

desenvolvimento de uma colecção de produtos para determinado mercado ou o responsável

pela concretização de soluções têxteis para problemas específicos, até ao responsável por

determinada operação produtiva repetitiva realizada em centenas de peças de vestuário. No

entanto, apesar da diversidade de requisitos, a relevância das competências dos recursos

humanos encontra-se directamente associada ao valor acrescentado do produto em causa, ao

nível da especificação e desempenho das aplicações e do segmento de mercado.

A necessidade de desenvolver novos produtos encontra-se dependente do mercado alvo da

empresa, do sector em que opera e da posição na cadeia de valor. No âmbito da indústria têxtil

e vestuário, pode-se considerar desde empresas que trabalham apenas em regime de

subcontratação, onde o desenvolvimento de novos produtos é nulo, até empresas em que a

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capacidade de inovação, quer em termos de desempenho ou de “design” do produto, é um

factor fundamental para a sua capacidade competitiva. No entanto, independentemente dos

factores relacionados com o mercado e o sector onde a empresa opera, o desenvolvimento de

novos produtos e serviços é uma característica comum a todos os processos da rede de

fornecimento. Desde o desenvolvimento de novas fibras até ao desenvolvimento de novas

soluções na área da distribuição e do aprovisionamento (por exemplo, um dos casos mais

recentes prende-se com a aplicação de etiquetas RFID e o aproveitamento da informação que

é possível obter e integrar ao longo da rede de fornecimento).

O desenvolvimento de novos produtos pode ocorrer em diversas fases da cadeia de valor,

desde a concepção do produto até ao desenvolvimento de processos específicos na cadeia de

valor, como por exemplo no processo de acabamento têxtil. Para além do desenvolvimento de

novos produtos com base em novas fibras, fios ou tecidos, resultado de iniciativas específicas

de investigação e desenvolvimento, podem surgir novos produtos provenientes do

desenvolvimento de novas soluções tecnológicas destinadas ao fabrico de produtos têxteis e

de vestuário. Estes resultados surgem de diversos intervenientes, como: centros tecnológicos,

empresas multinacionais, pequenas e médias empresas, centros de ensino e investigação, entre

outros.

Os subsectores relacionados com os produtos têxteis e de vestuário com aplicações

especializadas, normalmente designados por têxteis técnicos, apresentam uma maior dinâmica

no ciclo de vida, na medida em que incorporam nos seus produtos os desenvolvimentos que

vão surgindo em diversas áreas científicas e tecnológicas. Um dos exemplos mais recentes é a

utilização da nanotecnologia no desenvolvimento de estruturas têxteis de elevado

desempenho. Os desenvolvimentos registados em nanotecnologia são incorporados no

desenvolvimento de novas estruturas e na renovação de estruturas preexistentes, originando

uma nova dinâmica no ciclo de vida dos produtos e até novos subsectores de actividade (ex.:

o caso dos nanotêxteis).

Ao nível das tecnologias utilizadas nos sectores, e considerando o sistema de negócios

representado na Figura 3, podemos distinguir, de forma generalizada, as diferentes

tecnologias envolvidas em cada uma das actividades referidas, nomeadamente: matérias-

primas (é necessário distinguir entre as tecnologias envolvidas na obtenção das fibras naturais

e nas fibras e filamentos não-naturais), empresas têxteis (abrangem desde a transformação das

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fibras em fios através da fiação e da texturização, tecelagem de tecidos, tricotagem de malhas,

e processos de ultimação), empresas de vestuário (encontram-se normalmente subdivididas

em corte, costura e acabamento, sendo a costura caracterizada por uma sequência de

operações que recorrem a tecnologias específicas), centros de distribuição (as tecnologias

empregues estão associadas fundamentalmente a operações de embalagem, etiquetagem,

identificação e armazenagem) e o ponto de venda (tecnologias associadas a sistemas de

informação, cujo objectivo fundamental prende-se com a optimização da rede de

fornecimento, tendo em vista objectivos específicos).

O desenvolvimento tecnológico no sector de vestuário encontra-se associado ao

desenvolvimento das máquinas de costura durante a década de 1850. A evolução registada no

sector tem por base o desenvolvimento do desempenho das tecnologias utilizadas, a

especialização dos equipamentos produtivos e a automatização de alguns processos

produtivos. Em relação ao sector têxtil, existem constantes evoluções nas tecnologias

empregues nos mais diversos processos, desde o desenvolvimento de novas fibras e

filamentos, passando pelos processos de fiação, tecelagem, tricotagem, tingimento,

acabamento, controlo da qualidade, etc. Os desenvolvimentos registados abrangem diversas

orientações, desde a procura de desempenho, melhoria da qualidade, desenvolvimento de

novos compostos químicos e corantes, até à automatização dos processos produtivos.

Para além dos desenvolvimentos tecnológicos que são registados nos meios de produção

directos, existem ainda diversos desenvolvimentos que, apesar de não serem desenvolvidos

com o objectivo concreto de satisfazer as necessidades dos sectores têxtil e de vestuário,

encontram aplicação em áreas destes sectores, podendo originar impactos diversos, como por

exemplo: o estabelecimento de novos requisitos na qualidade, de novas capacidades para o

controlo dos processos de produção, o desenvolvimento de novos produtos, ou o

desenvolvimento de novas soluções com aplicação específica na indústria têxtil e vestuário.

No sector têxtil, a distinção sectorial não apresenta a linearidade do sector de vestuário, na

medida em que se trata, em alguns casos, de um sector intermédio, que fornece uma

diversidade significativa de produtos. Em termos genéricos podemos considerar diferentes

tipos de produtos, nomeadamente: fios e fibras têxteis, têxteis-lar (ex.: roupa de cama, roupa

de banho), têxteis destinados à produção de vestuário (ex.: tecidos e malhas destinados ao

fabrico de vestuário), e têxteis destinados a aplicações técnicas (ex.: produtos com

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propriedades terapêuticas, materiais compósitos) e industriais (ex.: produtos destinados à

indústria automóvel ou á indústria aeronáutica).

Podem-se diferenciar fundamentalmente dois sectores no mercado de vestuário: os produtos

de moda e os produtos de produção em massa, nos quais se encontram também os produtos de

uso corrente (ex.: t-shirts, roupa interior de uso corrente).

O sector de vestuário de moda é caracterizado por ciclos de vida do produto muito curtos,

instabilidade nas preferências do consumidor e heterogeneidade das actividades de produção,

marketing e aprovisionamento. O sector do retalho de vestuário de moda apresenta um

mercado volátil e arriscado, com ciclos de vida do produto planeados para serem curtos, com

o objectivo de cativar o interesse do consumidor. Os produtores de vestuário de moda

concorrem permanentemente com novos produtos e esforços de marketing com a finalidade

de capturar a imaginação, o estilo e a imagem do consumidor. Os produtores desenvolvem

vantagens de diferenciação que são erodidas de forma rápida e fácil através da imitação e de

novos estilos. Num ambiente volátil como este, é difícil desenvolver vantagem competitiva e

é particularmente difícil manter a vantagem competitiva. O sector têxtil, na medida em que se

encontra parcialmente orientado para o fornecimento de empresas produtoras de vestuário,

acompanha esta sazonalidade, respondendo com os artigos adequados à estação do ano e às

tendências da moda. Para além dos produtos que apresentam uma sazonalidade marcada,

existem diversos produtos cuja procura se mantém estável ao longo do tempo, quer se trate de

produtos de vestuário ou de têxtil.

Na medida em que a produção de vestuário está significativamente dependente de recursos

humanos, os compradores internacionais tentam reduzir os custos através da colocação de

encomendas em países com custos de mão-de-obra inferiores. A procura é heterogénea em

termos de modelos e volumes e, em alguns tipos de produtos, encontra-se muito dependente

das tendências de moda. Desde o início da década de 1990 que a resposta rápida se impôs no

vestuário de moda. Determinando tempos de resposta e requisitos de merchandising, a

resposta rápida fomentou a necessidade de fluxos de informação claros e de uma abordagem

cooperativa por parte de todas as empresas envolvidas na rede de fornecimento.

O segmento de mercado de gama alta é caracterizado pela utilização de tecnologia moderna,

mão-de-obra razoavelmente bem remunerada, onde se incluem os designers, e um elevado

grau de flexibilidade. A vantagem competitiva das empresas que operam neste mercado

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prende-se com a capacidade de produzir um design que seja capaz de cativar, ou até

influenciar, os gostos e preferências dos consumidores. Para além da eficiência dos custos, as

funções principais destas empresas encontram-se localizadas em países desenvolvidos e,

normalmente, em zonas geográficas limitadas ou em clusters dentro dos países (ex.: Emilia-

Romagna em Itália, Los Angeles nos EUA).

Existem diversos factores que influenciam significativamente a rede de fornecimento de

vestuário. Em termos de factores baseados nos princípios económicos básicos do comércio

internacional, podemos referir: preço, taxas de câmbio, custos de expedição e taxas

alfandegárias. Na medida em que estes factores não permitem explicar a existência de

determinados fenómenos na indústria, existem outros factores que devem ser ponderados no

âmbito das decisões tomadas na rede de fornecimento, nomeadamente: riscos de inventário,

diversidade do produto, reaprovisionamento e serviço.

No segmento de mercado de produção em massa de vestuário, considerados como produtos

padrão, verifica-se mais a tendência para a produção estar localizada nos países em

desenvolvimento, em zonas dedicadas à exportação (distritos industriais) ou com acordos

estabelecidos com os principais importadores, assim como mão-de-obra pouco qualificada.

No segmento de mercado de preços baixos a médios, o papel do retalhista passou a ser

significativamente mais importante na organização da rede de fornecimento, na medida em

que o mercado do retalho se tornou mais concentrado, originando o maior poder dos

retalhistas multinacionais. Os retalhistas possuem poder de mercado não apenas no mercado

de consumo, mas também, e talvez de forma ainda mais significativa, poder de compra. Para

além destes factores, as cadeias de lojas de retalho desenvolveram as suas próprias marcas e

adquirirem as suas próprias roupas directamente aos fornecedores, independentemente de

serem estrangeiros ou locais.

Em relação aos produtos de vestuário, podemos ainda distinguir os diferentes tipos de

produtos pela sua necessidade de reabastecimento. Podemos ter, por um lado, os produtos

com uma estação única e com limitada possibilidade de reabastecimento (ex.: vestidos, blusas

de senhora, vestuário sensível à moda em geral), em que as estratégias de subcontratação vão

depender dos factores de custo tradicionais. Podemos considerar os produtos com

reabastecimento contínuo ao longo do ano (ex.: calças de ganga para homem) ou ao longo de

uma estação, neste caso os custos directos relacionados com a mão-de-obra, matérias têxteis,

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transportes e tarifas são ponderados em conjunto com os custos associados aos prazos de

produção, inventário e riscos associados, pelo que a proximidade do fornecedor torna-se

relevante.

No retalho de vestuário, a diferenciação tem por base o produto e o serviço fornecido. No que

se refere ao produto, a diferenciação dos artigos de gama média e baixa tem-se afastado das

competências produtivas e laborais, passando a focalizar fundamentalmente o serviço

prestado e a interacção na rede de fornecimento. Esta diferenciação no serviço é visível na

assistência ao cliente durante o processo de venda e no apoio logístico e integração entre o

ponto de venda e toda a rede de fornecimento, até à concepção e desenvolvimento do produto.

Na rede de fornecimento, os fluxos de informação assumem um papel preponderante,

principalmente ao nível do retalho de vestuário, fomentado pelas tendências actuais como a

“resposta rápida”. A resposta rápida é uma estratégia de ligação entre as operações de retalho

e produção, que permite fornecer a flexibilidade necessária para responder rapidamente a

mercados em mudança.

Com base na utilização de tecnologias de informação, os principais concorrentes em resposta

rápida desenvolveram novas competências em aprendizagem rápida, comunicação e

coordenação, as quais suplantaram as competências de base ao nível de design e moda. Em

vez de apostarem num número limitado de novos designs desenvolvidos por designers

renomeados, tentam muitos, imitam rapidamente outros e continuam a produzir apenas os que

apresentam vendas superiores.

Através da resposta rápida, os retalhistas e os produtores unem as operações de forma a gerar

a flexibilidade necessária para reagir às alterações do mercado, permitindo ajustar as

encomendas às vendas e fornecer os estilos e as quantidades necessárias para fazer face à

procura registada ao longo da estação. Tendo por objectivo alcançar um funcionamento mais

eficiente, menos arriscado e mais eficaz, os benefícios associados à resposta rápida surgem do

reduzido custo de inventário, do menor número de produtos em rebaixa, resultante da

diminuição da sobreprodução, e do aumento nas vendas de artigos mais populares, devido à

redução de rupturas nas existências. A concretização destas vantagens requer a coordenação

próxima entre as actividades de marketing, vendas e compras dos retalhistas e as actividades

de design, produção e distribuição dos fabricantes. Por conseguinte, a coordenação próxima, o

intercâmbio de informação e a partilha do risco entre a produção e a distribuição são

fundamentais para a inovação em mercados de rápida mudança.

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O sistema ideal de resposta rápida permitiria que o fabricante ajustasse a produção em

resposta às vendas do retalho a tempo de entregar os estilos e as quantidades necessárias para

responder à procura evidenciada ao longo da estação. Os benefícios da resposta rápida advêm

dos reduzidos custos de inventário, diminuição das rebaixas e aumento nas vendas de artigos

populares devido à redução das rupturas de stock. Para além da utilização de novas

tecnologias de informação, a resposta rápida está dependente de maiores trocas de informação

e maior proximidade nos relacionamentos de trabalho ao longo da rede de fornecimento. O

fabricante de vestuário pode participar na selecção de modelos e no planeamento do sortido

com o retalhista, e pode até trazer o fornecedor de tecidos e o retalhista para o processo de

design. Os principais benefícios da resposta rápida requerem a coordenação próxima entre as

actividades de marketing, vendas e aprovisionamento do retalhista e as actividades de design,

produção e distribuição do fabricante.

3.1. Caracterização do contexto internacional

A indústria têxtil e do vestuário encontra-se entre os sectores económicos mais distribuídos

em termos mundiais. Na base desta realidade existem diversas razões, tal como o facto de

fornecer artigos de consumo básico, fundamentais para qualquer país ou região, ser de mão-

de-obra intensiva e, fundamentalmente no caso do vestuário, ser relativamente fácil de

implantar. Para muitos países, estes sectores representam uma das primeiras fases do

desenvolvimento ou da diversificação industrial, afastando-se da dependência dos bens de

primeira necessidade.

A indústria têxtil e vestuário internacional entrou numa nova era com o fim das quotas

alfandegárias, que marcaram o ritmo do comércio internacional de têxteis e vestuário desde a

década de 1960 até ao dia 1 de Janeiro de 2005. As quotas de importação surgiram na década

de 1960 como mecanismo de defesa para limitar as importações de têxteis e vestuário nos

países mais desenvolvidos, fundamentalmente no caso da Europa Ocidental e dos Estados

Unidos da América. Durante os primeiros anos de implementação, as quotas eram aplicadas

sem que existisse uma estrutura formal ou coordenada, face à ausência de acordos

internacionais explícitos, ficando cada país responsável por estabelecer as regras segundo as

quais as quotas de importação seriam aplicadas no acesso de países terceiros ao seu mercado.

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Esta situação de ausência de regras foi concluída com a assinatura do Acordo Multi-fibras (no

original: “Multifibre Arrangement” ou MFA) em 1974. O MFA veio regulamentar a

implementação das quotas sobre as importações de têxteis e de vestuário de diversos países.

Ao abrigo deste acordo, as quotas de importação eram calculadas anualmente e aplicadas de

acordo com o país e a categoria do produto em causa. Quando o MFA entrou em vigor, os

países desenvolvidos eram responsáveis pela maior parte das exportações de têxteis e de

vestuário, mas existiam indícios de que esta situação pudesse vir a mudar, com os países em

desenvolvimento a ganharem peso no comércio internacional de têxteis e de vestuário.

No final da década de 1980, a quota das exportações de têxteis e de vestuário dos países em

desenvolvimento começou a ultrapassar a quota dos países industrializados. Uma década mais

tarde, os países em desenvolvimento eram responsáveis por mais de metade das exportações

mundiais de têxteis e por cerca de três quartos do total das exportações mundiais de vestuário,

evoluindo desde uma quota inferior a 20% em termos agregados no início da década de 1960.

A crescente concorrência dos produtores em alguns dos países menos desenvolvidos,

começou a ameaçar seriamente o lucro e a viabilidade de alguns segmentos dos sectores têxtil

e vestuário instalados nos países desenvolvidos.

Mais de duas décadas após a entrada em vigor do MFA, originalmente destinado a ser uma

medida temporária para gerir o fluxo de têxteis e de vestuário para os mercados dos países

desenvolvidos, gerou-se o consenso sobre a necessidade de eliminar estas restrições

comerciais. Com este objectivo surgiu, no âmbito das negociações da Organização Mundial

do Comércio (OMC), o Acordo sobre Têxteis e Vestuário (no original: “Agreement on

Textiles and Clothing” ou ATC). O ATC teve por objectivo assegurar a eliminação das quotas

alfandegárias de forma estruturada, regulamentando o processo de supressão das quotas ao

longo de um período de 10 anos, com início em 1995 e conclusão no primeiro dia de 2005.

Ao longo deste processo, as exportações de têxteis e de vestuário continuaram a assumir uma

relevância cada vez mais significativa nos países em desenvolvimento, face à crescente

relevância do custo da mão-de-obra como vantagem competitiva, fundamentalmente nos

sectores com mão-de-obra intensiva, como acontece com a maior parte das actividades

associadas ao sector do vestuário. No entanto, as quotas continuaram a servir de protecção

para os produtos com elevado valor acrescentado, especificidades técnicas e com elevada

relevância ao nível dos elementos de design e moda.

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No entanto, as quotas alfandegárias também originaram uma difusão alargada da capacidade

de produção de têxteis e vestuário nos países em desenvolvimento, na medida em que as

restrições quantitativas incentivaram a localização de unidades produtivas em países não

directamente restringidos pelas quotas. Exemplos destes casos são os de alguns dos países

abrangidos pelo Sistema Generalizado de Preferências (SGP), que beneficiam do acesso ao

mercado comunitário isento de quotas e taxas alfandegárias.

Na medida em que o ATC foi celebrado no âmbito da OMC, este acordo obrigava todos os

membros da organização a cumprirem as disposições estabelecidas. O acordo não previa

disposições para renegociação e cessaria após os dez anos em que esteve em vigor. No

entanto, a entrada da China na OMC em Dezembro de 2001, um dos países com as

exportações de têxteis e vestuário mais restringidas nos mercados europeu e norte-americano,

veio gerar uma expressiva polémica em diversos países do mundo.

De acordo com o estipulado pelo ATC, a eliminação das quotas alfandegárias decorreu de

forma faseada, embora a grande maioria das restrições sobre as importações (49%) seria

apenas obrigatoriamente suprimida no dia 1 de Janeiro de 2005, eliminando por completo as

restrições quantitativas entre os membros da OMC. Procurando salvaguardar as suas

empresas, através do adiamento da eliminação das quotas alfandegárias, os países

desenvolvidos atrasaram o acesso de produtos mais baratos aos seus mercados. Daqui resultou

que a última fase da integração dos sectores têxtil e de vestuário possuiu efeitos muito

significativos, quer nos produtores localizados em países não restringidos ou pouco

restringidos, quer nos produtores localizados em mercados previamente protegidos.

Sob uma perspectiva internacional, a concentração dos operadores nos sectores têxtil e de

vestuário tem apresentado variações ao longo do tempo: ao nível do número de operadores

existente em determinada região, ao nível dos subsectores de actividade mais representativos

de determinada região, bem como ao nível dos mercados em que actuam. Este nomadismo e

versatilidade industrial, verificados com maior incidência no sector de vestuário, originam

diversas questões no que se refere aos processos de formação e desfragmentação dos actores,

bem como da concentração nos sectores têxtil e vestuário. Por conseguinte, de acordo com a

informação divulgada pela OMC, o crescimento registado nas exportações no sector têxtil e

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no sector de vestuário apresenta uma variação significativa em função do país ou da região em

causa.

O relatório do IFM (publicado em 2004) salientou a posição da China como a base de

produção mais competitiva na análise desenvolvida. Devido à imensa oferta de mão-de-obra

nas zonas rurais e ao constante fluxo de jovens trabalhadores destas áreas para as zonas

industrializadas, a China consegue manter os seus salários baixos. Para além da abundância

em recursos humanos, a China beneficia de uma rede de fornecimento têxtil e de vestuário

integrada. A indústria têxtil e de vestuário é um sector fundamental da economia chinesa,

representando 10% do PIB e registando um crescimento anual na ordem dos 8% desde 1995,

sendo estes sectores responsáveis por gerar 20% do valor total das exportações de bens.

Considerando o total das trocas comerciais (trocas internas e externas), a UE é um dos

principais blocos comerciais nos sectores têxtil e de vestuário, sedo apenas suplantada pela

China (considerando os dados da OMC para 2006). De acordo com o referido pelo Eurostat, a

indústria têxtil e vestuário na União Europeia (UE 27) em 2004, era composta por um

universo de 219.100 empresas, que empregavam cerca de 2,8 milhões de pessoas,

representando cerca de 7,5% do total da mão-de-obra empregue na indústria transformadora.

Considerando os Estados-membros em termos individuais, estes sectores apresentam uma

heterogeneidade muito significativa, verificando-se a existência de países com uma elevada

dependência sectorial, enquanto outros países não se encontram dependentes de forma tão

significativa.

No que respeita as trocas internacionais, os principais mercados de vestuário encontram-se

nos países mais desenvolvidos, fundamentalmente: Estados Unidos da América, Canadá,

União Europeia, Japão, Austrália e Nova Zelândia. De acordo com os dados divulgados pela

OMC, em 2003 os mercados dos Estados Unidos da América, União Europeia (UE 15) e

Japão, foram responsáveis por uma quota de 77,4% do valor das importações mundiais de

vestuário.

As diferentes análises conduzidas aos mais diversos níveis sobre o futuro dos sectores têxtil e

vestuário apontam para o aumento das exportações com origem nos países em

desenvolvimento, fundamentalmente para os países localizados na Ásia Oriental, como a

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China e a Índia. Este desenvolvimento será operado em paralelo com a deterioração da quota

total das exportações dos países industrializados, como é o caso dos Estados Unidos da

América (EUA) e da União Europeia.

Os países fornecedores desenvolveram estratégias de actuação com o objectivo de enfrentar as

evoluções dos mercados consumidores, tendo por base os seus próprios pontos fracos e fortes.

Com base nesta perspectiva, o IFM distingue as seguintes abordagens estratégicas: (i)

melhorar a cadeia têxtil, (ii) apostar no design e marca, (iii) deslocar a produção, (iv)

concorrer no preço e (v) diversificar o mercado (ao nível do mercado doméstico e mercado de

exportação). Cada uma destas abordagens é discutida nos parágrafos seguintes.

Com o objectivo de melhorar a cadeia têxtil (i), diversos factores jogam a favor de uma

interacção eficiente entre os sectores têxtil e de vestuário nos países fornecedores. Com o

objectivo de ser rápido, fidedigno, flexível, económico e criativo, os produtores de vestuário

em tecido e em malha beneficiam da proximidade e da dinâmica dos fornecedores de tecidos e

de fios para tricotagem. Para além destes factores, os retalhistas assumem cada vez mais

contratos de subcontratação com os fornecedores, o que significa que querem que estes

assumam a responsabilidade pelo fornecimento do tecido, do fio e do vestuário, dando aos

retalhistas maior oportunidade de colocar em evidência as questões relacionadas com o

marketing. Nem todos os fornecedores de vestuário e os países fornecedores se encontram

numa posição de satisfazerem estes requisitos e, actualmente, poucos são capazes de adquirir

ao nível local os inputs necessários.

Outra estratégia prevalecente nos países fornecedores mais desenvolvidos é a de

contrabalançar a quebra na competitividade baseada nos custos de produção através de uma

melhoria dos produtos em termos de design e de valor da marca (ii). Em paralelo com esta

escalada no sentido dos sectores com maior valor acrescentado, orientados para a moda e a

marca, alguns intervenientes começaram a deslocalizar as suas bases de produção (iii). Esta

deslocação pode ser impulsionada pelos custos ou pelo acesso privilegiado a determinado

mercado.

A capacidade competitiva com base nos preços da mão-de-obra não corresponde a

desenvolvimento económico, pelo que os principais intervenientes procuram gerar outras

fontes de competitividade. Mesmo no caso da China, onde o excesso de oferta laboral deverá

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ainda manter-se por mais duas décadas, o país está a desenvolver estratégias de melhoria. A

feroz concorrência no preço nos mercados de vestuário e pronto-a-vestir é atribuída em larga

escala aos produtores chineses, apesar das consideráveis pressões exercidas por parte de

outros fornecedores como: Bangladesh, Malásia, Birmânia, Vietname e Laos.

No que se refere à diversificação do mercado doméstico (v), existem poucas dúvidas de que

os mercados domésticos vão absorver uma fatia cada vez maior da produção de têxteis e de

vestuário. As taxas de crescimento são muito maiores (cerca de 10%) nos mercados

domésticos do que nos mercados de exportação, que estão saturados e maduros. Este

crescimento da procura local explica parcialmente a quebra nas exportações chinesas de

têxteis e de vestuário como uma percentagem do total das exportações.

Em relação à diversificação dos mercados de exportação (v), a análise do IFM mostra que

existiu claramente uma diversificação no sector têxtil, à medida que o desenvolvimento do

comércio têxtil gerou um expressivo crescimento nos mercados asiáticos (toda a Ásia,

excluindo o Japão). No Japão, a indústria têxtil conseguiu resistir com sucesso à entrada das

importações. O crescimento foi significativo nos EUA e ainda mais na UE, com um forte

fomento das importações com origem na Turquia, mas também da China e da Índia. No

entanto, o fenómeno mais significativo é o crescimento do próprio mercado asiático, que mais

do que duplicou ao longo de uma década, representando actualmente um quarto das

importações mundiais, 50% das exportações coreanas de vestuário e quase 40% das

exportações chinesas.

A evolução do mercado internacional de vestuário e têxteis-lar apresenta uma tendência para

se expandir em torno de três pólos: segmento de mercado sensível ao preço, controlado na

generalidade pelos grandes retalhistas, pelo menos nas economias mais desenvolvidas;

segmento de mercado sensível a marcas, que permanece na posse das principais empresas; e

um segmento de mercado sensível à moda, cuja produção permanece fundamentalmente

concentrada em áreas próximas dos mercados consumidores. Os retalhistas têm assumido uma

relevância crescente ao nível da distribuição em determinadas gamas de mercado,

fundamentalmente na gama baixa e média.

No âmbito da rede de fornecimento de têxteis e de vestuário, também os retalhistas estão a

registar mudanças significativas, com maiores exigências aos seus fornecedores. Os

retalhistas modernos já não possuem armazéns repletos de artigos de vestuário prontos para

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enviar para as lojas, mas tornaram-se lean retailers, possuindo apenas os produtos que se

encontram na área comercial. Como resultado, os armazéns dos fornecedores e os centros de

distribuição actuam como armazéns virtuais e centros de distribuição para os retalhistas.

Na medida em que a produção de vestuário é um sector industrial de mão-de-obra intensiva, a

remuneração é claramente um factor fundamental nas decisões de subcontratação. Esta

realidade permite uma vantagem competitiva imediata aos produtores nos países em

desenvolvimento, onde se incluem a China e a Índia. No entanto, esta vantagem em termos do

custo da mão-de-obra não é reservada apenas aos países asiáticos, mas abrange também

diversas nações africanas (ex.: Madagáscar e Quénia), mas nem sempre se materializa em

termos da atractividade do país como fonte de subcontratação (ex.: a mão-de-obra no México

não é das mais baixas do mundo, mas a proximidade geográfica e a presença no NAFTA

concedem a este país um papel proeminente no mercado norte-americano de vestuário). Na

medida em que nem todos os artigos de vestuário requerem a mesma quantidade de mão-de-

obra, os benefícios resultantes dos baixos salários variam em função do produto.

Para além dos custos relacionados com a mão-de-obra, os quais nem sempre são

determinantes no custo total de um produto de vestuário, outro factor determinante é o preço

das matérias, associado principalmente com a aquisição do tecido, o qual pode influenciar o

preço final do artigo mais do que os custos laborais. Por conseguinte, os produtores

localizados na proximidade de fabricantes de têxteis possuem maior vantagem em relação aos

que se encontram mais distantes.

Os custos associados com a expedição são outro factor fundamental associado com os custos

de exportação ou de importação de vestuário. A proximidade dos mercados retalhistas,

principalmente do mercado europeu e do mercado norte-americano, tem influência sobre os

custos associados com o transporte, os quais assumem uma maior ou menor relevância em

função do preço dos produtos, em que a diferença entre diversas origens pode assumir uma

percentagem significativa no cômputo do custo geral do produto. Para além dos custos

associados com os componentes trabalho, matérias e expedição, o custo dos artigos de

vestuário está também sujeito a rubricas relacionadas com taxas alfandegárias, eventuais

quotas de importação, taxas adicionais (ex.: taxas anti-dumping), entre outros.

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4. Caracterização da indústria têxtil e vestuário no Norte de Portugal

Nesta secção é apresentada a caracterização da indústria têxtil e vestuário no Norte de

Portugal, focalizando inicialmente a sua evolução e o contexto actual. A secção expõe ainda

os respectivos dados e indicadores sectoriais, bem como uma análise das principais empresas

da região.

4.1. Evolução e contexto actual

A indústria têxtil e vestuário em Portugal possui uma vasta história e tradição, sendo de forma

consistente, um dos sectores industriais mais representativos da economia portuguesa e mais

assumidamente associado com a região Norte de Portugal. A forte presença industrial na

região Norte de Portugal, é reconhecida como um dos aspectos mais caracterizadores da sua

realidade social e económica.

A produção têxtil representou desde cedo um papel fulcral em Portugal, desempenhando uma

função de relevo já no século XVI, na produção das velas utilizadas pelos navios portugueses

dos descobrimentos, as quais eram fabricadas com pano de treu, sendo famigerado o que era

produzido e comercializado em Vila do Conde. Efectivamente, desde logo se denota a

necessidade de extrema qualidade que é exigida a estes produtos, os quais deveriam ser

capazes de suportar condições atmosféricas extremas e assegurar a protecção de vidas, o que

salienta a necessidade de exigências elevadas. Tal é a importância e a tecnicidade exigida do

pano de treu, que as suas especificidades foram ditadas por via legislativa em 1556 e 1561,

especificando as técnicas de fabrico.

Para o desenvolvimento industrial da região, contribuíram, por um lado, a exploração

vitivinícola do Douro, iniciada em meados do século XVII e consolidada no século XVIII, e o

desenvolvimento agrícola na região Norte, o qual foi acompanhado por diversas actividades

protoindustriais (processo de fabrico artesanal e de baixa concentração de mão-de-obra e

capital), associadas com as plantações do linho e a produção de seda, principalmente no

Minho e em Trás-os-Montes, respectivamente.

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A industrialização da região Norte decorreu ao longo do século XIX, em paralelo com a

Revolução Industrial (finais do século XVIII, inícios do século XIX) que se verificava em

diversos países europeus e no sub-continente norte-americano. Entre 1851 e 1881, o cerne da

industrialização da região Norte estava localizado no Porto, distribuindo-se lentamente e de

forma desigual pelas diversas áreas da região.

A região do Vale do Ave foi até 1890 uma região de economia fundamentalmente rural e em

estádio protoindustrial. O estádio industrial (grandes unidades mecanizadas) teve início por

volta de 1890 em termos regionais, com a criação de diversas unidades industriais nos

concelhos de Famalicão, Guimarães e Santo Tirso.

A actividade têxtil no Vale do Ave está intrinsecamente ligada à cultura do linho, através do

seu cultivo e utilização, chegando até às datas da constituição da nacionalidade. O espaço

ocupado pelo linho foi gradualmente conquistado pelo algodão, que acompanhou a

industrialização e assumiu um papel predominante na indústria da região. Factores como o

saber de gerações anteriores, o caminho-de-ferro, a proximidade do Rio Ave (fonte de energia

e de água), bem como a densidade de mão-de-obra, contribuíram para a localização da

indústria têxtil e vestuário na região do Vale do Ave.

Com o fim da II Guerra Mundial, Portugal passou por um período de maior abertura ao

exterior e, entre 1950 e 1974, a economia portuguesa atravessou um período de forte

desenvolvimento. Entre 1953 e 1973, a taxa média de crescimento do PIB foi de 5,6% e a

produtividade total registou um crescimento médio de 3,5% ao ano.

Com a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE), que se efectivou

no dia 1 de Janeiro de 1986, o país entrou num novo ciclo de desenvolvimento

socioeconómico bastante favorável à actividade industrial. Em 1991, Portugal ocupava a 10.ª

posição na lista dos maiores exportadores de vestuário, a nível mundial, com 3% do comércio

total e uma taxa média de crescimento de 17%, nos anos de 1980. Ao longo da década de

1990 e, em especial na segunda metade deste período, as exportações assumem um papel

preponderante na produção industrial, com especial relevo para as destinadas aos países da

União Europeia, deixando a indústria têxtil e vestuário muito dependente destes mercados.

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Por outro lado, com a integração europeia, os sectores têxtil, vestuário e couro perdem quota

no mercado interno, passando dos 92% que detinham em 1970, para apenas 60% em 1996,

sendo este fenómeno mais acentuado a partir de 1985.

Pese embora o facto da indústria têxtil e vestuário ser considerada como o principal pólo de

especialização da indústria portuguesa, essa competitividade continuava, mesmo em 1996,

baseada nos custos salariais reduzidos. A este factor, acrescia a reduzida qualificação dos

recursos humanos (mais de 90% dos efectivos possuíam 6 ou menos anos de escolaridade),

com reflexo também na reduzida presença de efectivos com licenciatura.

Um dos factores que também prejudicou a competitividade das exportações da indústria têxtil

e vestuário, prende-se com a adesão de Portugal à moeda única europeia, que entrou em

circulação no dia 1 de Janeiro de 2002, a qual passou a servir como instrumento cambial,

acabando com o mecanismo de desvalorização do escudo face às outras moedas.

A eliminação das quotas alfandegárias entre os países membros da OMC, veio aumentar ainda

mais a pressão da concorrência sobre a indústria têxtil e vestuário portuguesa. Desde o dia 1

de Janeiro de 2005, que os produtos têxteis e vestuário de países como China, Índia e

Paquistão, entram livremente (de ressalvar a implementação temporária de quotas de transição

para algumas categorias de produtos provenientes da China) no mercado europeu.

O alargamento da União Europeia a Leste também contribuiu para o acréscimo da

concorrência, principalmente no sector de vestuário (devido à maior dependência nos custos

de mão-de-obra), com a inclusão de 10 novos Estados-membros em 2004, e de dois novos em

2007.

Considerando os dados de 2007, a indústria têxtil e vestuário continua a possuir uma presença

significativa na economia portuguesa, sendo responsável por 2,6% do valor acrescentado

bruto nacional e representando 11,2% do total da indústria transformadora do país. Em termos

de mão-de-obra, a indústria têxtil e vestuário representava 4,7% do total de trabalhadores das

empresas portuguesas e assumia 22% dos trabalhadores da indústria transformadora em 2007.

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Existem diversas associações, centros tecnológicos e organizações que representam e que se

encontram ligadas aos sectores têxtil e de vestuário em Portugal, e que se encontram diversas

vezes relacionadas com associações internacionais. Estas organizações têm como objectivo

fundamental zelar pelos interesses do sector ou do subsector que representam, em diversos

níveis diferentes (ex.: promoção comercial, desenvolvimento tecnológico). Para além das

associações, existem diversos centros tecnológicos que prestam os seus serviços aos sectores

têxtil e de vestuário. Os sectores contam ainda com o apoio de diversos organismos

governamentais que promovem medidas de apoio específicas e genéricas, destinadas à

promoção e ao desenvolvimento sectorial.

A indústria têxtil e vestuário portuguesa passou por diversas fases desde a sua origem como

actividade artesanal, que acompanhou a revolução industrial, passou por um período de algum

proteccionismo beneficiando do acesso privilegiado ao mercado e às matérias-primas das

colónias portuguesas, passou por períodos de grande desenvolvimento, até chegar ao actual

período de crescente concorrência internacional, com impacto na representatividade dos

sectores na economia portuguesa. A concorrência actual foi fomentada pelo acesso alargado

ao mercado europeu, pela deslocação de clientes tradicionais para fornecedores externos e

pela maior concorrência no mercado norte-americano, resultante da desvalorização do dólar

face ao euro.

4.2. Dados e indicadores sectoriais

A indústria têxtil e vestuário portuguesa atravessa actualmente uma fase de extrema mudança,

que está a forçar as empresas a repensarem estratégias de forma a conquistar vantagem

competitiva. Com base nos dados do ano 2007, a indústria têxtil e vestuário assume uma

elevada relevância no âmbito da indústria transformadora portuguesa, representando cerca de

9% do volume de negócios e 8,2% da produção. A Tabela 1 apresenta alguns dos principais

indicadores da indústria têxtil e vestuário portuguesa.

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Tabela 1: Principais indicadores da indústria têxtil e vestuário portuguesa

Ano Indicador

2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000

Volume de negócios (1.000 €)

Sector têxtil 3.770.961 3.774.585 3.770.055 4.053.799 4.151.960 4.448.274 4.749.963 4.453.813

Sector vestuário 3.208.492 3.156.369 3.222.680 3.425.042 3.950.692 3.749.565 3.588.927 3.509.382

Têxtil e vestuário 6.979.453 6.930.953 6.992.735 7.478.841 8.102.652 8.197.839 8.338.890 7.963.196

Valor da produção (1.000 €)

Sector têxtil 3.636.806 3.679.550 3.630.477 3.948.845 4.065.445 4.363.922 4.674.843 4.396.813

Sector vestuário 3.095.934 3.069.077 3.125.631 3.299.605 3.774.394 3.560.085 3.484.325 3.447.620

Têxtil e vestuário 6.732.739 6.748.627 6.756.108 7.248.451 7.839.839 7.924.006 8.159.168 7.844.434

Emprego

Sector têxtil 71.156 75.522 81.904 84.382 87.098 95.446 99.585 99.321

Sector vestuário 109.179 111.315 119.361 121.519 135.504 147.817 126.284 136.285

Têxtil e vestuário 180.335 186.837 201.265 205.901 222.602 243.263 225.869 235.606

Fonte: INE

A Tabela 1 evidencia uma diminuição no volume de negócios e no valor da produção para os

sectores têxtil e vestuário ao longo do período de 2000 a 2007. Esta evolução está em sintonia

com a diminuição no número de empresas e no número de pessoas ao serviço destes

sectores.A Tabela 2 apresenta os principais indicadores dos sectores têxtil e vestuário, mas

considerando apenas a região Norte de Portugal.

Tabela 2: Principais indicadores da actividade empresarial nos sectores têxtil e vestuário

Ano Indicador Sector

2007 2006 2005 2004

Têxtil 3.123.878.993 3.164.512.539 3.161.726.736 3.408.517.434

Vestuário 2.761.093.900 2.703.704.908 2.721.298.637 2.891.801.406 Volume de negócios (€)

Total 5.884.972.893 5.868.217.447 5.883.025.373 6.300.318.840

Têxtil 3.013.095.605 3.090.358.211 3.050.960.039 3.332.307.662

Vestuário 2.671.878.181 2.639.425.970 2.646.081.413 2.803.783.212 Volume de produção (€)

Total 5.684.973.786 5.729.784.181 5.697.041.452 6.136.090.874

Têxtil 57.493 61.046 64.887 67.441

Vestuário 90.584 91.837 97.480 98.862 Pessoal ao serviço

Total 148.077 152.883 162.367 166.303

NOTA: o sector de vestuário inclui: Indústria do vestuário; preparação, tingimento e fabricação de artigos de peles com pêlo Fonte: INE

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Comparando os dados da Tabela 2 com os dados da Tabela 1, verifica-se que, para o ano de

2007, a região Norte de Portugal foi responsável por absorver cerca de 82% do pessoal ao

serviço, por mais de 84% do volume de negócios e por mais de 84% do volume de produção

da indústria têxtil e vestuário de Portugal. Esta preponderância ao nível nacional, coloca a

região numa posição de expressivo destaque.

A distribuição geográfica das empresas dos sectores têxtil e de vestuário encontra-se

respectivamente na Tabela 3 e Tabela 4, onde se mostra a distribuição por sete regiões

portuguesas (i.e., Açores, Alentejo, Algarve, Centro, Lisboa/Vale do Tejo, Madeira, e Norte),

registada entre 1999 e 2007.

Tabela 3: Distribuição geográfica das empresas do sector têxtil

Evolução anual do número de empresas do sector têxtil Região

2007 Proporção 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999

Norte 3.885 64,34% 4.083 4.306 4.303 3.283 3.517 3.379 3.318 3.260

Centro 854 14,14% 889 1.028 1.002 669 677 573 532 524

Lisboa/Vale Tejo 857 14,19% 916 1.209 1.146 439 393 352 580 554

Alentejo 166 2,75% 159 197 206 117 82 63 77 87

Algarve 128 2,12% 125 163 145 32 29 37 38 28

Açores 68 1,13% 77 70 62 15 17 16 17 17

Madeira 80 1,32% 82 85 71 55 54 55 52 53

Fonte: INE

De acordo com o apresentado na Tabela 3, verifica-se no âmbito da distribuição geográfica

das empresas do sector têxtil, que estas se encontram fundamentalmente concentradas na

região Norte de Portugal. Apesar da evolução positiva no número de empresas na região

Norte ao longo do período de 1999 a 2007, é de salientar a quebra acentuada que foi registada

entre 2006 e 2007.

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Tabela 4: Distribuição geográfica das empresas do sector de vestuário

Evolução anual do número de empresas do sector de vestuário Região

2007 Proporção 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999

Norte 8.257 73,55% 8.300 8.670 8.933 9.239 9.270 6.971 7.536 8.085

Centro 1.088 9,69% 1.127 1.182 1.269 1.263 1.225 789 742 882

Lisboa/Vale Tejo 1.480 13,18% 1.471 1.655 1.724 1.520 1.421 568 1.022 1.486

Alentejo 171 1,52% 177 204 206 273 120 147 112 105

Algarve 105 0,94% 108 143 143 57 54 73 60 76

Açores 54 0,48% 58 57 52 19 23 16 37 20

Madeira 72 0,64% 71 62 73 25 28 30 38 35

Fonte: INE

À semelhança do que se verifica no sector têxtil, também as empresas do sector de vestuário

se encontram fundamentalmente concentradas na região Norte de Portugal, conforme é

evidenciado na Tabela 4. Também neste sector se verificou uma evolução positiva no número

de empresas entre 1999 e 2007, mas o pico do número de empresas foi registado em 2002,

com um total de 9.270 empresas e desde esse ano tem-se registado uma evolução negativa.

A Tabela 5 apresenta o número de empresas têxteis e vestuário, localizadas na região Norte de

Portugal, repartindo o total pela localização em termos de sub-regiões NUTS III. Conforme se

evidencia na análise, as sub-regiões do Cávado e Ave apresentam uma acentuada

concentração, sendo responsáveis pela localização de mais de metade das empresas da região.

No que se refere à concentração das empresas, após estas duas sub-regiões encontra-se o

Grande Porto.

Tabela 5: Número de empresas têxteis e vestuário no Norte de Portugal

Número de empresas (2007) NUTS II NUTS III

Sector

Norte Minho-Lima

Cávado Ave Grande Porto

Tâmega Entre

Douro e Vouga

Douro Alto

Trás-os-Montes

Têxtil 3.885 91

(2,34%) 728

(18,74%) 1699

(43,73%) 687

(17,68%) 473

(12,18%) 146

(3,76%) 29

(0,75%) 32

(0,82%) Vestuário

8.257 309

(3,74%) 2066

(25,02%) 3010

(36,45%) 1608

(19,47%) 963

(11,66%) 183

(2,22%) 54

(0,65%) 64

(0,78%) NOTA: o sector de vestuário inclui: Indústria do vestuário; preparação, tingimento e fabricação de artigos de peles com pêlo

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Fonte: INE

A Tabela 6 e a Tabela 7 apresentam a evolução do número de empresas e pessoas ao serviço,

para os sectores têxtil e de vestuário, para o período entre de 2000 a 2007, bem como a média

do número de pessoas por empresa.

Tabela 6: Evolução do número de empresas e pessoas no sector têxtil

Evolução do número médio de pessoas ao serviço no sector têxtil Indicador

2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000

Número de empresas 6.038 6.331 7.058 6.935 4.610 4.769 4.475 4.614

Número de pessoas ao serviço

71.156 75.522 81.904 84.382 87.098 95.446 99.585 99.321

Pessoas / empresa (média) 11,78 11,93 11,60 12,17 18,89 20,01 22,25 21,53

Fonte: INE

A Tabela 6 mostra que no sector têxtil existe uma diminuição do número de trabalhadores do

sector. Esta evolução evidencia uma redução no número de trabalhadores por empresa, que

pode estar ligada à diminuição no número de trabalhadores, bem como à criação de empresas

com um menor número de trabalhadores.

Tabela 7: Evolução do número de empresas e pessoas no sector vestuário

Evolução do número médio de pessoas ao serviço no sector vestuário Indicador

2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000

Número de empresas 11.227 11.312 11.973 12.400 12.396 12.141 8.594 9.747

Número de pessoas ao serviço

109.179 111.315 119.361 121.519 135.504 147.817 126.284 136.285

Pessoas / empresa (média) 9,72 9,84 9,97 9,80 10,93 12,18 14,69 13,98

Fonte: INE

À semelhança do que acontece no sector têxtil, também o sector de vestuário tem registado

uma evolução negativa no número de pessoas ao serviço. O número de empresas do sector

aumentou entre 2002 e 2004, caindo entre 2004 e 2006, sendo que entre 2001 e 2002 foi

registado um crescimento superior a 40%.

A Tabela 8 apresenta os principais países de destino dos produtos da indústria têxtil e do

vestuário portuguesa, considerando o valor das exportações. Destaca-se a Espanha, com 27%

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das exportações portuguesas de têxteis e de vestuário. A tabela evidencia ainda a importância

do comércio intra-comunitário, o qual absorve mais de 84% da totalidade das exportações.

Tabela 8: Principais países de destino das exportações da indústria têxtil e vestuário em valor

Valor (1.000 euro)

2007 2006 2005 País cliente

Têxtil Vestuário Total Proporção ∆ (2007/06) Total Proporção ∆ (2006/05) Total

Espanha 278.240 885.727 1.163.967 27,0% 15,86% 1.004.604 24,43% 0,96% 995.012

França 176.591 337.680 514.271 11,9% 1,81% 505.124 12,28% -2,66% 518.931

Reino Unido 159.161 309.852 469.013 10,9% -7,26% 505.721 12,30% -5,49% 535.113

Alemanha 162.587 245.486 408.073 9,5% -1,59% 414.683 10,08% -1,32% 420.240

Itália 87.231 152.239 239.470 5,6% 15,74% 206.901 5,03% 3,88% 199.165

EUA 179.127 34.458 213.585 5,0% -11,64% 241.731 5,88% 1,82% 237.411

Holanda 56.277 85.165 141.442 3,3% 5,00% 134.701 3,28% -12,26% 153.517

Bélgica 43.720 77.056 120.776 2,8% 2,13% 118.262 2,88% 1,15% 116.920

Suécia 35.258 62.182 97.440 2,3% 6,53% 91.469 2,22% -7,50% 98.882

Dinamarca 21.063 49.782 70.845 1,6% -2,77% 72.860 1,77% -0,44% 73.184

Outros - - - - - 816.699 19,86% 6,09% 769.790

UE_Extra 472.503 183.102 655.605 15,2% 0,07% 655.167 15,93% 5,44% 621.343

UE_Intra 1.225.167 2.423.341 3.648.508 84,8% 5,52% 3.457.587 84,07% -1,12% 3.496.821

TOTAL 1.697.670 2.606.443 4.304.113 100,0% 4,65% 4.112.754 100,00% -0,13% 4.118.164

Fonte: EUROSTAT (dados 2006 e 2005); ATP (dados 2007)

A totalidade das exportações apresenta uma evolução positiva entre 2006 e 2007. No entanto,

esta evolução traduz-se em variações distintas em função do tipo de produto (esta análise é

apresentada na Tabela 24, p. 66, em termos comparativos com a região da Galiza).

4.3. Casos de empresas do Norte de Portugal

A Tabela 9 apresenta as maiores empresas têxteis e vestuário localizadas na região Norte de

Portugal, considerando o volume de negócios.

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Tabela 9: Principais empresas têxteis e vestuário do Norte de Portugal

Volume de Negócios (€) Empresa

2006 ∆ 2006/2005 2005

Lameirinho - Indústria Têxtil, S.A. 77.373.000 9,60% 70.595.224

Irmãos Vila Nova, S.A. 70.007.000 10,70% 63.239.420

Fábrica Têxtil Riopele, S.A. 64.525.000 5,65% 61.073.757

Polopique - Comércio e Indústria de Confecções, Lda. 52.103.000 -0,71% -

Somelos - Tecidos, S.A. 50.681.000 4,62% 48.445.070

Indústria Têxtil do Ave, S.A. 48.120.000 13,35% 42.452.603

Mundotêxtil - Indústrias Têxteis, S.A. 44.574.000 -7,91% 48.403.490

JMA Felpos, S.A. - - 56.949.270

Textil Manuel Gonçalves, S.A. - - 48.607.080

Cotesi - Cª de Têxteis Sintéticos, S.A. - - 48.190.617

TMG - Tecidos para Vestuário e Decoração, S.A. - - 45.157.030

Confetil - Confecções Têxteis, S.A. - - 43.830.319

Ricon Industrial - Prod. de Vestuário, S.A. - - 37.801.016

Cª de Linhas Coats & Clark, S.A. - - 35.261.180

Stradivarius (Portugal) - Conf., Unipessoal Lda. - - 33.925.953

Orfama - Organização Fabril de Malhas, S.A. - - 29.440.530

Fábrica de Malhas Filobranca, S.A. - - 27.618.490

Marques Soares, S.A. - - 26.885.758

Endutex - Revestimentos Têxteis, S.A. - - 26.836.736

A. Sampaio & Filhos - Têxteis, S.A. - - 26.485.660

NOTA: valores do volume de negócios 2006 estão arredondados aos milhares

Fonte: EXAME (dados de 2006); Público (dados de 2005)

Com base na listagem apresentada na Tabela 9, salienta-se a diversidade de áreas de actuação

nas quais se enquadram as principais empresas do sector têxtil e vestuário. Entre as maiores

empresas listadas, é possível identificar empresas que desenvolvem a actividade em áreas

como: têxtil lar, têxtil técnico, retalho e confecção, existindo ainda dissemelhanças ao nível da

especificidade dos produtos. De salientar ainda que, para além de agregar a grande maioria

das empresas têxteis e de vestuário portuguesas, a região Norte de Portugal concentra grande

parte das maiores empresas destes sectores.

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5. Caracterização da indústria têxtil e vestuário na Galiza

Nesta secção é apresentada a caracterização da indústria têxtil e vestuário na Galiza,

focalizando inicialmente a sua evolução e o contexto actual. A secção expõe ainda os

respectivos dados e indicadores sectoriais, bem como uma análise das principais empresas da

região.

5.1. Evolução e contexto actual

Para se conseguir compreender a situação actual da indústria têxtil e vestuário da Galiza

dentro da economia espanhola e galega, é necessário fazer um breve resumo desde os inícios

da actividade nesta comunidade espanhola, para assim determinar os factores chave que

marcaram a sua evolução, na medida em que o caso da Galiza poder-se-ia considerar uma

excepção dentro do sector no território espanhol.

Remontando ao início da actividade têxtil galega, a sua origem encontra-se, no mundo rural

do final do século XVIII e início do século XIX, com uma ainda incipiente actividade de

fabrico de linho, que surge para satisfazer quer a procura nacional, quer a das colónias

espanholas no continente americano. Esta procura fez-se também sentir noutras regiões de

Espanha, como no caso das regiões da Catalunha e da Comunidade Valenciana, nas quais ao

longo do século XIX, decorre a consolidação de uma indústria têxtil que se vai tornando mais

forte e que chega até à actualidade, sendo caracterizada por uma actividade industrial de base.

No caso da Galiza, esta incipiente indústria perde mercado face a outras regiões espanholas e

europeias, permanecendo na comunidade uma actividade residual que comercializava de

forma precária no âmbito local e era desenvolvida por alfaiates e costureiras.

Apenas no final do século XX se pode começar a falar de uma indústria têxtil consolidada na

Galiza, que se diferencia da existente em Espanha pelo seu tardio aparecimento e

industrialização, pela sua especialização na confecção e pelo seu carácter rural. O

ressurgimento desta indústria resultou de um espírito empreendedor que se desenvolveu em

diversas zonas da comunidade galega.

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Os factores que propiciaram que a actividade de confecção têxtil se localizasse na Galiza,

foram os seguintes: existência de uma certa tradição no meio rural nas actividades de

confecção, associadas a alfaiates e costureiras; existência de mão-de-obra feminina abundante

e dedicada a actividades agrónomas, que vêem neste novo tipo de actividade um

complemento à sua renda familiar, bem como uma alternativa à vida no campo; e, por último,

uma procura crescente dos produtos com origem na Galiza, originando que determinadas

unidades de confecção se convertessem em pequenas empresas de carácter familiar.

Mas foi a partir do final da década de 1970 e início da década de 1980, que se concretizou o

verdadeiro desenvolvimento da indústria têxtil e confecção na Galiza, graças ao investimento

em tecnologia, ao design e à imagem de marca criada a partir do slogan “Moda Gallega”.

Tudo isto fez com que o sector seja hoje em dia uma das actividades mais importantes da

comunidade galega, tanto no que se refere com a riqueza económica que gera, como pelo

nível de emprego criado por estas empresas.

A partir deste momento, podemos considerar que na Galiza coexistem, dentro dos sectores

têxtil e vestuário, três realidades empresariais bem diferenciadas, não tanto pela sua origem,

na medida em que na maior parte dos casos é semelhante, mas pela evolução que cada uma

destas teve. Por conseguinte, podemos diferenciar entre:

i. Uma grande empresa multinacional (Grupo Inditex), presente em diversos países com

mais de 4.200 lojas (dados de 2009), adaptando-se a cada um dos mercados onde actua

e caracterizada por possuir o controlo de todos os processos da sua actividade

económica, ou seja, ela própria realiza todas as fases, desde a produção até à

distribuição, logística e comercialização.

ii. Um segundo grupo formado por um conjunto de empresas que foram cabeças de

cartaz do slogan “Moda Gallega” e que se caracterizam pelo design, qualidade e

imagem de marca. São o resultado, em muitos dos casos, da evolução de pequenas

empresas, fruto do carácter inovador do seu empreendedor e que na maioria das

ocasiões geram grandes laços de união com o território em que se constituem. Este

vínculo é sentido sobretudo pelas implicações na povoação onde se localizam e pelo

surgimento de empresas auxiliares, subcontratadas em muitas ocasiões para

determinadas fases do processo de fabrico.

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iii. A terceira realidade é a das cooperativas e oficinas, com uma grande presença na

Galiza, apesar da redução que se está a registar ao longo dos últimos anos.

Caracterizam-se por se localizarem em meio rural, em áreas onde existe abundante

mão-de-obra feminina, em muitos dos casos não qualificada, com um reduzido nível

tecnológico e que surgem a partir de uma pessoa empreendedora que cria a sua própria

oficina. Muitas destas empresas e cooperativas são subcontratadas pelas empresas

galegas para realizar as suas produções.

Relativamente a outras regiões de Espanha, o processo de industrialização da indústria têxtil e

vestuário da Galiza, decorreu mais tardiamente, especializando-se na confecção – e não na

indústria têxtil de base – e na criação de uma imagem de marca de moda produzida na região,

reconhecida ao nível internacional e associada à inovação, ao design e à qualidade, um factor

que tem garantido o posicionamento das empresas galegas.

Diversas empresas têm reorientado as suas estratégias através da deslocação dos seus

processos produtivos para regiões ou países em que os custos de produção são inferiores,

fundamentalmente no que se refere aos custos de aprovisionamentos e de produção, com

especial incidência nas actividades com mão-de-obra mais intensiva

Com base nos dados do segundo semestre de 2008 (AIPCLOP), existem na Galiza cerca de

300 empresas, dos sectores têxtil e vestuário, com marca própria. No entanto, é de salientar

que o principal mercado de grande destas empresas é o espanhol. Por conseguinte, existe uma

acentuada dependência em relação ao poder de compra e à procura interna. Para além da

dependência em relação ao mercado espanhol, não é lícito supor que a grande maioria das

marcas galegas dispõe de canais de distribuição próprios ou franquiados, efectivamente, de

acordo com diversas fontes, a maior parte das marcas galegas são comercializadas através de

canais multimarca, recorrendo a lojas independentes ou a grandes retalhistas.

Ao longo do primeiro semestre de 2008, as exportações de vestuário da Galiza ultrapassaram

os 552 milhões de euros, dos quais 517 milhões estão associados à sub-região de A Coruña,

grande parte deste valor corresponde à actividade do Grupo Inditex. No entanto, o valor das

exportações registou uma quebra de 54% em relação ao primeiro semestre de 2007. Para o

período em causa, Portugal foi o principal destino das exportações de vestuário galego,

absorvendo 104 milhões de euros, seguido por França, Itália, Grécia e México.

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5.2. Dados e indicadores sectoriais

À semelhança do que acontece na região Norte de Portugal, também as empresas de têxteis e

vestuário estabelecidas na região da Galiza, estão a enfrentar um período de acentuada

concorrência internacional e austeridade económica. No entanto, dentro do contexto do país, a

indústria galega tem apresentado uma evolução sólida, sendo responsável em 2007 por mais

de 12% do volume de produção da indústria têxtil e vestuário em Espanha.

A Tabela 10 apresenta o número de empresas têxteis e vestuário localizadas na Galiza em

2007, bem como o número de empresas desagregado por sub-região (NUTS III).

Tabela 10: Número de empresas têxteis e de vestuário na Galiza

Número de empresas (2007)

NUTS II NUTS III Sector

Galiza A Coruña Lugo Ourense Pontevedra

Têxtil 479 290 17 24 148

Vestuário 1.383 765 81 140 397

Fonte: IGE

Conforme se evidencia na Tabela 10, a concentração de empresas na Galiza verifica-se

fundamentalmente nas regiões de A Coruña e Pontevedra, com especial relevância para a

primeira, onde se encontram mais de 56% das empresas da indústria têxtil e vestuário galega.

A Tabela 11 apresenta a evolução do número de empresas por sector.

Tabela 11: Evolução do número de empresas têxteis e vestuário na Galiza

Número de empresas Sector

2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999

Têxtil 479 458 445 388 370 349 342 365 351

Vestuário 1.383 1.429 1.453 1.455 1.474 1.512 1.555 1.537 1.429

Fonte: IGE

Com base nos dados apresentados na Tabela 11, o gráfico da Figura 4 ilustra a evolução do

número de empresas nos sectores têxtil e vestuário, considerando o período de 1999 até 2007.

Com base no exposto, regista-se, a partir de 2001, uma tendência negativa na evolução do

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número de empresas de vestuário, a qual contrasta com o aumento no número de empresas do

sector têxtil. Em termos agregados, a representatividade da indústria têxtil e vestuário na

Galiza, registou entre 2000 e 2007, uma quebra ligeiramente superior a 2%.

Figura 4: Evolução do número de empresas têxteis e vestuário na Galiza

Fonte: com base em dados do IGE

A Tabela 12 apresenta a evolução do número de pessoas ao serviço, ficando evidente a

diminuição do número de trabalhadores na indústria, especialmente quando consideramos o

período de 2001 a 2007. Com base nos dados do ano 2000, verificou-se até 2007 uma quebra

de 15% no número de pessoas ao serviço.

Tabela 12: Evolução do número de pessoas ao serviço na indústria têxtil e vestuário da Galiza

Pessoas ao serviço por ano

2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999

19.665 21.191 19.492 20.474 21.185 22.143 23.745 23.187 20.064

Nota: dados relativos aos sectores: têxtil, vestuário, curtumes e calçado Fonte: INE (ES)

A Tabela 13 apresenta a distribuição das empresas têxteis e vestuário galegas, em função do

escalão de pessoal ao serviço e considerando apenas o ano de 2007. Com base nos dados

apresentados, salienta-se a grande proporção de empresas com dois ou menos trabalhadores,

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bem como a significativa concentração das empresas que possuem menos de 49 pessoas ao

serviço.

Tabela 13: Distribuição do número de empresas na Galiza por escalão de pessoal ao serviço

Número de empresas por escalão de pessoal ao serviço (2007) Sector

Total 0-2 3- 5 6- 9 10-19 20- 49 50- 99 100- 249 ≥ 250

Têxtil 479 381 35 21 13 18 5 4 2

Vestuário 1.383 807 145 102 148 144 24 10 3

Nota: no sector vestuário, estão incluídas empresas de curtumes

Fonte: IGE

Considerando apenas o indicador do número de pessoal ao serviço, a divisão da dimensão das

empresas pode ser realizada com base nos seguintes termos: micro empresa (com 9 ou menos

pessoas ao serviço), pequena empresa (10 a 49 pessoas), média empresa (menos de 250) e

grande empresa (250 ou mais). Com base nos dados apresentados na Tabela 13, o quadro da

Figura 5 expressa o panorama das empresas têxteis e vestuário galegas, em termos da sua

dimensão por número de pessoas ao serviço.

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Figura 5: Distribuição da dimensão da empresa em termos de pessoal ao serviço (2007)

Fonte: própria, com base em dados do IGE

Conforme é evidenciado pelo gráfico da Figura 5, verifica-se uma grande proporção de micro

empresas, que representam 80% do total de empresas da indústria, e de pequenas empresas,

que representam mais de 17% do total da indústria. De salientar ainda o reduzido número de

empresas de grande dimensão, quer no sector têxtil, quer no de vestuário.

No que se refere ao volume de produção dos sectores têxtil e vestuário da Galiza, regista-se

uma evolução acentuada ao longo do período de 2000 a 2007, conforme se encontra indicado

na Tabela 14. De salientar ainda o facto da proporção da Galiza estar a aumentar

significativamente dentro do âmbito da indústria têxtil e vestuário espanhola.

Tabela 14: Evolução do volume de produção na Galiza

Evolução anual do volume de produção (1.000 euros) dos sectores têxtil e vestuário Região

2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000

Galiza 1.428.450 1.452.209 1.229.285 1.133.847 1.020.220 959.502 1.007.161 920.156

Espanha 11.148.778 11.267.771 11.385.901 12.286.483 12.721.014 13.199.047 13.399.952 12.900.376

Proporção Galiza 12,81% 12,89% 10,80% 9,23% 8,02% 7,27% 7,52% 7,13%

Fonte: IGE

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As tabelas seguintes apresentam a proporção e evolução das trocas comerciais da Galiza, por

tipo de produto. A Tabela 15 apresenta a evolução do valor total das exportações, enquanto a

Tabela 16 apresenta a evolução do valor total das importações.

Tabela 15: Evolução do valor total das exportações por categoria de artigo

Exportações por ano (1000 euro) 2008 2007 NC Designação

Valor Proporção ∆ (08/07) Valor Proporção ∆ (07/06)

50 Artigos de seda 37.065 1,47% 171,64% 13.645 0,57% 1,86%

51 Artigos de lã 28.268 1,12% -12,56% 32.330 1,35% 15,60%

52 Artigos de algodão 85.189 3,39% -15,79% 101.164 4,22% 18,36%

53 Outras fibras têxteis vegetais 10.088 0,40% 81,93% 5.545 0,23% -12,39%

54 Filamentos sintéticos ou artificiais

30.918 1,23% -10,17% 34.420 1,44% 17,85%

55 Fibras sintéticas ou artificiais descontínuas

29.736 1,18% -20,05% 37.191 1,55% 50,56%

56 Pastas, feltros, artigos de cordoaria, etc

13.240 0,53% -13,85% 15.369 0,64% 16,66%

57 Tapetes e outros revestimentos 2.407 0,10% 19,25% 2.018 0,08% 125,89%

58 Tecidos especiais e tufados 11.366 0,45% -21,12% 14.409 0,60% -41,10%

59 Tecidos impregnados, etc 5.249 0,21% 142,94% 2.161 0,09% 76,05%

60 Tecidos de malha 9.063 0,36% 159,23% 3.496 0,15% -1,58%

61 Vestuário e acessórios de malha

881.208 35,05% 9,35% 805.857 33,63% 15,89%

62 Vestuário e acessórios excepto de malha

1.334.919 53,10% 2,67% 1.300.208 54,26% 12,87%

63 Outros artigos têxteis confeccionados

35.074 1,40% 24,13% 28.257 1,18% 44,48%

TOTAL 2.513.789 100% 4,91% 2.396.069 100% 14,25%

Fonte: IGE

Conforme está exposto na Tabela 15, a grande proporção das exportações galegas está

associada com a categoria 61 (vestuário e acessórios de malha) com mais de 35% das

exportações e 62 (vestuário e acessórios excepto de malha) com mais de 53% das

exportações. As restantes categorias apresentam uma proporção bastante inferior, sendo que

nenhuma destas ultrapassou os 5% em 2008 nem 2007.

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Tabela 16: Evolução do valor total das importações por categoria de artigo

Importações por ano (1.000 euro) 2008 2007 NC Designação

Valor Proporção ∆ (08/07) Valor Proporção ∆ (07/06)

50 Artigos de seda 47.577 2,71% 88,35% 25.260 1,32% -1,42%

51 Artigos de lã 54.866 3,12% 25,73% 43.638 2,28% -0,92%

52 Artigos de algodão 88.967 5,06% -21,08% 112.732 5,90% 5,47%

53 Outras fibras têxteis vegetais 13.779 0,78% 3,78% 13.277 0,69% 38,90%

54 Filamentos sintéticos ou artificiais

36.201 2,06% -10,15% 40.290 2,11% 16,25%

55 Fibras sintéticas ou artificiais descontínuas

44.301 2,52% -22,77% 57.362 3,00% 7,89%

56 Pastas, feltros, artigos de cordoaria, etc

15.121 0,86% -7,69% 16.380 0,86% 8,81%

57 Tapetes e outros revestimentos

8.713 0,50% -32,50% 12.907 0,68% 21,88%

58 Tecidos especiais e tufados 12.578 0,72% 4,09% 12.083 0,63% -46,51%

59 Tecidos impregnados, etc 11.599 0,66% -17,02% 13.978 0,73% 28,11%

60 Tecidos de malha 18.536 1,05% 56,36% 11.855 0,62% 25,55%

61 Vestuário e acessórios de malha

506.344 28,81% -12,15% 576.383 30,17% 7,66%

62 Vestuário e acessórios excepto de malha

850.400 48,39% -7,67% 921.059 48,21% 23,09%

63 Outros artigos têxteis confeccionados

48.430 2,76% -9,37% 53.437 2,80% 26,27%

TOTAL 1.757.412 100,00% -8,02% 1.910.643 100,00% 14,51%

Fonte: IGE

Em relação às importações, o panorama exposto na Tabela 16 é semelhante ao encontrado nas

exportações, evidenciando-se de forma clara a categoria 61 (vestuário e acessórios de malha)

responsável por mais de 28% das importações e a categoria 62 (vestuário e acessórios excepto

de malha) com mais de 48% das importações. Entre as restantes categorias de artigos, apenas

os artigos de algodão (52) apresentaram uma proporção superior a 5% em 2008 e 2007.

5.3. Casos de empresas da Galiza

Entre as diversas empresas galegas de referência, o destaque vai para o Grupo Inditex, que se

afirmou em termos internacionais, com uma rede de lojas que, no primeiro semestre de 2009,

ultrapassou os 4.350 pontos de venda. Para além deste caso, são ainda de realçar diversas

empresas, como a Adolfo Domínguez (com mais de 600 pontos de venda da sua marca

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homónima), a Sociedad Textil Lonia (que detém a marca Purificación García) e a Caramelo

(que detém a rede de lojas da marca homónima).

A Tabela 17 apresenta a listagem das principais empresas têxteis e vestuário localizadas na

Galiza, considerando como base o volume de negócios.

Tabela 17: Principais empresas têxteis e vestuário da Galiza em volume de negócios

Volume de Negócios (€) Empresa

2007 ∆ 2007/2006 2006

Adolfo Dominguez, S.A. 178.775.678 4,92% 170.384.419

Stear, S.A. (GI) 169.357.326 10,51% 153.254.324

Sociedad Textil Lonia, S.A. - - 159.822.215

Indipunt, S.L. (GI) 153.710.150 11,33% 138.070.553

Zintura, S.A. (GI) 104.515.362 25,89% 83.024.095

Denllo, S.A. (GI) 95.059.386 -0,32% 95.364.003

Confecciones Fios, S.A. (GI) 91.812.544 0,57% 91.288.967

Glencare, S.A. (GI) 88.870.530 5,47% 84.263.165

Hampton, S.A. (GI) - - 74.047.696

Caramelo, S.A. - - 73.408.953

Trisko, S.A. (GI) 57.997.842 1,29% 57.258.814

Samlor, S.A. (GI) - - 52.554.067

Nikole, S.A. (GI) 46.334.896 9,16% 42.448.704

Confecciones Goa, S.A. (GI) 42.114.084 12,10% 37.569.543

Plataforma Europa, S.A. (GI) 42.078.432 50,52% 27.956.012

Roberto Verino Difusion, S.A. - - 41.445.092

Choolet, S.A. (GI) 39.257.894 -3,90% 40.849.038

Selmark, S.L. 24.496.430 6,59% 22.982.042

Kenner, S.A. (GI) - - 22.975.310

Florentino Coleccion, S.L. 19.300.260 -7,12% 20.780.679

Legenda: (GI): empresa pertence ou está relacionada ao Grupo Inditex

Fonte: ARDÁN

Com base na listagem apresentada na Tabela 17, salienta-se o facto de grande parte das vinte

maiores empresas de têxtil e vestuário galegas, estarem integradas no Grupo Inditex,

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representando para o ano 2006, mais de 67% do volume de negócios registado entre as vinte

maiores empresas têxteis e vestuário galegas.

A Tabela 18 apresenta a listagem das maiores empresas galegas de distribuição grossista de

têxteis e vestuário.

Tabela 18: Principais empresas de distribuição grossista de têxteis, vestuário e produtos associados

Volume de Negócios (€) Empresa

2007 ∆ 2007/2006 2006

Industria de Diseño Textil, S.A. (GI) 3.423.513.998 15,67% 2.959.780.997

Tempe, S.A. (GI) 482.252.678 19,51% 403.539.252

El Secreto del Mar, S.L. 26.213.492 0,23% 26.152.164

Cial. Textil Saroni Verin, S.L. 21.424.116 71,88% 12.464.787

Gralcutex, S.L. 17.538.573 0,81% 17.397.101

Shoes & Piel, S.L. - - 13.237.051

Dieguez Global, S.L. 11.636.953 -0,59% 11.705.799

Lanera Galicia, S.L. 8.801.155 -2,59% 9.035.556

Cueros Noroeste, S.A. 5.894.793 -14,31% 6.879.473

Numa Textil, S.L. 5.648.414 21,34% 4.655.055

Confecciones Dorama, S.A. 5.408.730 6,88% 5.060.624

Almacenes Prieto, S.A. 5.165.525 -3,47% 5.351.165

Angel Castro Cea, S.L. 5.153.715 19,26% 4.321.433

Medias Filigrana, S.L. 4.738.680 3,24% 4.590.080

R.C. Fil Distribuciones, S.L. 4.522.442 9,27% 4.138.744

Llobar Textil, S.L. 4.492.127 -8,37% 4.902.318

Peña Cueros y Derivados, S.A. 4.426.917 -0,22% 4.436.527

Comercial Galfer de Cueros y Pieles, S.L

4.105.015 -13,05% 4.721.094

Grupo 3 Fashion, S.L. 3.788.804 -12,91% 4.350.679

S.K. Selnova Textil, S.L. 3.500.210 -18,69% 4.304.899

Legenda: (GI): empresa pertence ao Grupo Inditex

Fonte: ARDÁN

No caso das principais empresas de distribuição grossista, apresentadas na Tabela 18, as

empresas do Grupo Inditex lideram de forma muito destacada, ocupando as duas primeiras

posições.

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A Tabela 19 apresenta a listagem das maiores empresas galegas de distribuição retalhista de

têxteis e vestuário.

Tabela 19: Principais empresas de distribuição retalhista de têxteis, vestuário e produtos associados

Volume de Negócios (€) Empresa

2007 ∆ 2007/2006 2006

Zara España, S.A. (GI) 1.662.451.336 7,28% 1.549.671.367

Bershka Bsk España, S.A. (GI) 749.481.537 17,63% 637.136.538

Grupo Massimo Dutti, S.A. (GI) 602.066.622 12,29% 536.186.993

Pull & Bear España, S.A. (GI) 508.012.832 21,69% 417.461.842

Stradivarius España, S.A. (GI) - - 434.365.998

Kiddy's Class España, S.A. (GI) 173.355.306 11,18% 155.922.980

Oysho España, S.A. (GI) 171.961.884 26,85% 135.562.030

Zara Home España, S.A. (GI) 166.495.168 37,63% 120.968.946

Sls Salsa España Com. Difusion Vestuario, S.A.

11.421.520 46,44% 7.799.593

Gucamasi, S.A. 7.993.743 8,30% 7.380.891

Funcho, S.A. - - 6.433.498

Pidolti, S.L. - - 4.627.306

Veiga Vilariño, S.L. 4.440.800 -2,26% 4.543.531

Macrecormoda, S.L. 3.734.876 39,73% 2.672.839

Emprogal, S.L. 3.611.842 -10,48% 4.034.504

Froiz Textil, S.A. 3.438.997 3,03% 3.337.889

Bera 2000, S.L. 3.300.103 -1,90% 3.364.039

Aurelio Santas, S.L. 3.215.373 -6,25% 3.429.808

Vidrio Galicia, S.L. 3.177.479 -7,26% 3.426.082

Don Vaquero Sport Wear, S.L. 2.654.286 15,04% 2.307.225

Legenda: (GI): empresa pertence ao Grupo Inditex

Fonte: ARDÁN

Entre as empresas de distribuição retalhista, conforme é referido na Tabela 19, a posição

destacada das empresas pertencentes ao Grupo Inditex é também evidente, ocupando as oitos

primeiras posições com uma diferença significativa ao nível do volume de negócios.

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De acordo com a análise da COINTEGA (Confederación de Industrias Textiles de Galicia), as

empresas da indústria têxtil e vestuário galega podem ser agrupadas em quatro grupos

distintos: retail, marcas, fabricantes e serviços auxiliares. Cada um destes agrupamentos é

discutido seguidamente de forma individual.

Retail: é composto por empresas cuja actividade principal é o retalho, pelo que todas

as restantes actividades estão direccionadas para esta actividade. O exemplo mais

representativo é o Grupo Inditex, o qual ocupa uma posição de colossal destaque em

relação aos outros actores sectoriais. Para além deste caso, são ainda de salientar a

Adolfo Dominguez (através da sua rede de retalho com marca homónima) e a

Sociedad Textil Lonia (que detém a rede de lojas com a marca Purificación García),

ambas possuindo um volume de negócios superior aos 100 milhões de euros. Dentro

deste modelo de negócio, existem ainda outras empresas com redes de retalho

próprias, ao nível regional e mesmo nacional, que procuram assim criar as bases para a

expansão internacional, frequentemente necessária para a sustentabilidade do negócio.

Marcas: este grupo é composto por empresas que contam com uma ou mais marcas

próprias e que são comercializadas fundamentalmente através de canais multimarca,

por intermédio de lojas independentes, como grandes retalhistas ou lojas por

departamentos. Estas empresas têm procurado especializar-se, centralizando-se nas

actividades que lhes permitem ser mais competitivas, como o desenvolvimento de uma

identidade de marca e estilo, a comunicação com o mercado e os aspectos logísticos.

Estas empresas têm sabido utilizar de forma eficiente o recurso à subcontratação,

inicialmente no mercado interno e posteriormente ao nível internacional, começando

pelos mais próximos e conhecidos para evoluir no sentido do controlo desta área de

negócio ao nível internacional. Desta forma, conseguiram adaptar a sua estrutura, onde

a maior parte dos custos passou a ser do tipo variável, o que lhes permite ser mais

flexíveis à inconstância do mercado.

Um dos factores que contribuiu significativamente para possibilitar a proliferação

destas empresas é a dimensão do mercado interno espanhol, o qual lhes permite

alcançar facilmente o ponto de equilíbrio, operando apenas ao nível interno. Esta

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situação é ainda patente ao nível do relativamente reduzido volume de exportação

destas empresas.

Fabricantes: este grupo pode ser subdividido em três subgrupos. O primeiro é

composto por empresas com uma dimensão considerável, que fizeram uma forte

aposta na tecnologia e que se especializaram num determinado tipo de produção,

evoluindo até no sentido da criação de novas unidades industriais noutros países.

O segundo subgrupo é composto por empresas com marca ou distribuição própria que

mantêm internamente uma parte da produção. Em alguns casos porque estas

actividades são consideradas críticas para manter as vantagens da empresa no mercado

e, noutros casos, como manutenção da sua actividade tradicional.

No terceiro subgrupo encontram-se as pequenas unidade de confecção. Neste caso,

observa-se que as que possuem mais possibilidades de se manter, são as que estão a

adaptar continuamente a sua estrutura e focalização, no sentido dos novos requisitos e

necessidades dos seus clientes, convertendo-se em empresas auxiliares destes,

sincronizadas e integradas nas suas estruturas produtivas.

Serviços auxiliares: a reconfiguração do sector está a proporcionar o aparecimento de

novas ofertas de serviços, os quais se desenvolvem quer a partir de spin offs de

empresas de maior dimensão, que procuram aproveitar uma oportunidade de mercado

a partir de iniciativas empreendedoras, justificadas pela necessidade de serviços

especializados para a indústria da região. Como exemplo, encontra-se o caso de

empresas especializadas na gestão de compras, empresas de logística especializadas

nos têxteis, empresas de novas tecnologias aplicadas ao sector, fotógrafos de moda,

agências de modelos, entre outras.

Com base na análise apresentada pela associação galega, é de salientar a não referência de

empresas dedicadas ao desenvolvimento e produção de têxteis técnicos, o que reflecte a

menor expressão desta área de actividade na indústria têxtil e vestuário da Galiza.

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6. Caso de estudo: El Niño

6.1. Apresentação

Desde muito cedo que as relações empresariais no âmbito da indústria têxtil e vestuário entre

o Norte de Portugal e a Galiza foram fortes. Com uma experiência e know-how inigualáveis

em termos de produção, a ITV nacional foi uma das eleitas pela fileira moda galega como

centro de produção das suas marcas.

Um dos grandes impulsionadores foi, sem dúvida, o grupo Inditex, que à medida que foi

crescendo, foi recorrendo cada vez mais às empresas portuguesas para a confecção das peças

vendidas nas suas lojas. E quando avançou para a internacionalização, o Porto, a capital do

Norte, foi a cidade escolhida para acolher a primeira loja Zara fora de território espanhol.

Para além destas, outras marcas e empresas galegas não resistiram ao apelo da indústria têxtil

e vestuário portuguesa, como é o caso mais recente da El Niño, a marca do grupo El Secreto

del Mar, já completamente realizada em Portugal, do design à confecção. Uma escolha que se

ficou a dever “ao factor qualidade na confecção dos produtos e know-how existente na

indústria têxtil e de vestuário portuguesa, à proximidade de Vigo com o Norte de Portugal e

às questões financeiras”, explica Javier Guerra, administrador do grupo El Secreto del Mar,

fundado em 2002.

6.2. Entrevista

O administrador do grupo não quis guardar segredo da sua preferência por Portugal e revelou

em entrevista concedida ao Jornal Têxtil (na edição de Setembro de 2008), os projectos de

internacionalização, as ambições e os factores de sucesso da El Niño, a marca galega com

alma portuguesa que tem conquistado o território espanhol.

Constituída por uma equipa de design de 23 pessoas, que concebe os modelos a partir do

gabinete situado no Porto, a marca espanhola conta igualmente com parcerias criadas com 37

empresas portuguesas para a produção das suas colecções. Javier Guerra, um dos

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administradores do grupo e, porventura, neto de portugueses, desvendou os segredos que o

levaram a decidir-se por Portugal.

Jornal Têxtil (JT): A marca El Niño é produzida em Portugal. Porquê esta escolha?

Javier Guerra (JG): Por três razões. A primeira deve-se ao factor qualidade na confecção dos

produtos e a todo o know-how existente na indústria têxtil e de vestuário portuguesa. As

empresas de Vigo conhecem muito bem a forma como é realizada a produção em Portugal.

Além disso, chegamos a estabelecer uma relação com o director-geral da Boxer Short e

Throttleman que nos permitiu conhecer muito bem o ambiente da produção e ganhar

confiança no profissionalismo da ITV portuguesa. O que procurávamos era exactamente um

produto de boa qualidade, de gama média e que não fosse básico.

A segunda razão deveu-se à proximidade de Vigo com o Norte de Portugal, o que nos permite

deslocar com frequência às empresas parceiras. Desta forma, podemos controlar a produção,

ver como estão a ser desenvolvidas as peças e sentirmo-nos assim parte integrante do

processo industrial.

Por último, as questões financeiras. Em Portugal, temos uma relação directa com os

fornecedores, sem intermediários, para além de termos umas condições financeiras que em

Espanha não existem.

JT: Quais são as empresas portuguesas que seleccionou para parceiras?

JG: Contamos com a colaboração de 37 empresas portuguesas. Destas, destaco a Têxteis

André Amaral, com a qual estabelecemos uma importante relação desde o início da marca e

que, por isso, faz parte da “família”. Mas há outras empresas com as quais foram criadas

relações extraordinárias e às quais estamos especialmente agradecidos, como a Barata &

Garcia, Becri Malhas de Confecção, Caifai Malhas & Confecções, Cavidel Têxteis, Crivedi &

Monteiro Têxteis, Crivedi Vestuário, Franciscos, TRL – Têxteis Em Rede e Vipaltex –

Malhas e Confecções, entre outras. Consideramos o fornecedor como um amigo e como parte

integrante da mesma cadeia.

JT: Como foi feita essa selecção?

JG: O mais importante é a seriedade. Escolhemos pessoas sérias e profissionais, que fossem

capazes de cumprir prazos e manter os padrões de qualidade. Contamos com empresas que

têm capacidade de responder às necessidades de mercado. Para isso, conto com a ajuda do

meu sócio, José Cardoso, que conhece muito bem as empresas da ITV portuguesa.

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JT: Como caracteriza o cliente que procura produtos El Niño? Qual é o público-alvo e o

segmento actual da marca?

JG: Trata-se de uma marca jovem, surfwear, casualwear. Um produto relacionado com o

mundo do mar, areia, luz, praias do Sul e com desportos como o windsurf e o kytesurf.

A gama de produtos da El Niño vai desde a linha baby até à linha adulto (16 aos 24 anos),

passando pela linha de criança (6 aos 14 anos). Em todos os segmentos existe uma colecção

direccionada para o público feminino e outra para o masculino.

JT: Quantas colecções lança a marca por ano?

JG: Temos duas colecções de base por ano, incluindo cada uma cerca de 1.000 modelos. Ao

longo do ano são também lançados dois ou mais “refreshing” no meio de cada estação,

dependendo das necessidades do mercado. Somos pró-activos e, assim que o mercado exija

mais produtos dentro de uma estação, prontamente colocamos nas lojas novos modelos.

JT: Tem uma equipa de designers a trabalhar no Porto. As colecções são elaboradas somente

cá ou em conjunto com Espanha?

JG: Todo o trabalho de design é realizado em Portugal. Possuímos, actualmente, uma equipa

constituída por 23 pessoas. Sinto-me absolutamente honrado, orgulhoso mesmo, deste grupo

de trabalho, que acreditou desde o início no projecto.

Desenvolvemos tudo no Porto, desde o desenho gráfico das peças às primeiras amostras e

correcção destas, assim como todos os complementos das peças: etiquetas, embalagens, entre

outros.

JT: Quais são os factores de sucesso da El Niño?

JG: Primeiramente, atribuo esse sucesso à Bárbara Pimentel, responsável pelo departamento

de Design, que foi a pessoa a concretizar o espírito da empresa. É ela que coordena todo o

departamento de desenho conjuntamente com o José Cardoso e que formou esta equipa

fantástica que hoje temos.

A criatividade, a atractividade, o despertar interesse pelo produto são também factores-chave

do sucesso da marca. E também a qualidade, o factor pelo qual a marca é conhecida e

reconhecida.

JT: A marca tem lojas próprias ou é distribuída através do canal multimarca?

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JG: Em Espanha, a distribuição é feita através de três canais: multimarca, com 600 clientes;

monomarca, com 16 lojas próprias; e através do El Corte Inglés, onde contamos com 165

pontos de venda. O crescimento em Espanha foi exponencial. Em cinco anos, multiplicamos

por quinze as vendas da marca e, por isso, tivemos bastante trabalho.

JT: Quais os mercados em que a marca gostaria de entrar?

JG: Queremos entrar em Itália e interessa-nos também muito penetrar no Benelux,

principalmente na Holanda, um mercado muito cosmopolita e que procura este tipo de

produto.

JT: E Portugal não é mercado a atacar em termos de vendas?

JG: Estamos a pensar num plano de comercialização para Portugal. Temos já um ponto de

venda na Ericeira, junto à praia, e iremos abrir uma loja no centro comercial do IKEA.

Como em Portugal o canal multimarca é muito complicado, decidimos implementar o nosso

próprio canal através de lojas próprias.

JT: Quais são os principais concorrentes da El Niño?

JG: A El Niño posiciona-se ao lado das marcas como Quiksilver, Billabong, O'Neill, entre

outras. O preço médio de uma t-shirt, por exemplo, ronda entre 35 e 40 euros.

JT: A marca aposta em acções de comunicação e marketing?

JG: A nossa aposta recai no marketing silencioso. Patrocinamos pessoas famosas e mediáticas

que servem de líderes de opinião para atrair consumidores à marca. Somos também

patrocinadores de algumas provas de grupo de jovens. Há pouco tempo atrás, tivemos o

privilégio de patrocinar uma experiência fantástica de um grupo de jovens que concebeu um

satélite para competir num campeonato nos EUA.

Em Portugal, patrocinamos duas escolas de surf, a “Inês Tralha” na Ericeira e a “Onda Pura”

em Matosinhos. Em Espanha, apostamos de igual forma em acções deste tipo.

A imagem dos locais de venda é também uma prioridade, não só nas lojas próprias como

também nos corners instalados no El Corte Inglés.

JT: Que orçamento disponibiliza para acções de promoção da imagem?

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JG: Somos especialmente estritos no orçamento que disponibilizamos anualmente para acções

desse género. Investimos cerca de 3 a 4% das vendas da empresa. O investimento na imagem

dos corners no El Corte Inglés é um investimento de grande importância.

JT: Quais são os objectivos traçados para este ano?

JG: Para nós, era importante estabilizar no mercado espanhol e, principalmente,

internacionalizar a marca. Queremos também alargar a oferta de produtos e renovar a imagem

das lojas.

JT: O grupo Segredo do Mar trabalha também em private label?

JG: Trabalhamos também para marcas estrangeiras, como por exemplo a francesa Marcel

Gerdan. Oferecemos um serviço completo aos nossos clientes em private label. Concebemos

o design do produto, controlamos e acompanhamos, através das nossas controladoras, todo o

processo produtivo, à semelhança da nossa marca própria. Na nossa opinião, trabalhar para

outros é tão importante como trabalhar para nós próprios. É como se alguém perguntasse qual

dos braços é mais importante? Obviamente que são os dois.

JT: Qual é o volume de negócios do grupo Segredo do Mar?

JG: O grupo apresenta uma facturação anual que ronda os 33 milhões de euros.

JT: Ultimamente tem-se falado muito da criação de um mega-cluster Galiza-Portugal, que

servirá de ligação às trocas comerciais entre os dois países. Que vantagens poderá trazer para

o grupo?

JG: Sou um dos motores desse projecto e também um dos membros da Associação de

Fabricantes da Galiza. Penso que existem muitas sinergias a associar entre os dois países. A

junção de Portugal, com a sua capacidade de produção e conhecimento do produto, e de

Espanha, com a sua vocação comercial, poderá resultar num casamento perfeito.

As desconfianças existentes entre estes países estão a desaparecer e as barreiras estão, pouco a

pouco, a ser derrubadas com o conhecimento das empresas. Todos temos que desenvolver

esforços, porque em Portugal existe uma indústria têxtil e de vestuário muito importante,

talvez a mais importante na Europa, e em Espanha há uma mais-valia em termos comerciais.

Por isso, temos que nos ajudar mutuamente.

Neste sentido, o grupo Segredo do Mar não deixa de ser um cluster. Este é um exemplo de

união perfeita entre os dois países.

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6.3. Parceiros

Têxtil - André Amaral, TRL – Têxteis em Rede e Becri são apenas três das 37 empresas que

trabalham com a marca espanhola El Niño, detida pelo grupo galego El Secreto del Mar.

Pertencendo à numerosa rede de pequenas e médias empresas têxteis portuguesas, estas três

empresas têxteis, localizadas na região Norte de Portugal, são exemplificativas da excelente

colaboração existente entre os dois lados da fronteira e provam que o private label, num

modelo com mais-valias do que no passado, é também uma aposta com futuro para a indústria

têxtil e vestuário portuguesa.

TRL – Têxteis em Rede, Lda.

Especializada na confecção nas áreas de activewear fitness e artigos de banho, praia e

desporto, a TRL – Têxteis em Rede, fundada em 1993, é uma das empresas parceiras da El

Niño, parceria esta que remonta “praticamente ao início da marca, em 2002”, como revela

Alexandra Barreiras em declarações ao Jornal Têxtil.

Entre os artigos que produz para a marca espanhola, destacam-se artigos de surf, artigos de

praia para senhora e criança, a linha homewear em malha, também para senhora e criança, e

uma linha casual composta por diferentes artigos.

A empresa sedeada em Águas Santas, que detém também as marcas próprias Dafne e

Intensive Sports e produz e comercializa igualmente roupa técnica para escalada e montanha,

considera esta uma parceria de excelência, já que, como explica Alexandra Barreiras, “todas

as parcerias com marcas reputadas dão protagonismo à empresa”. Além disso, como realça a

responsável, “no caso da marca El Niño, e dado o seu nível de qualidade, o nível de preço

aceitável é a maior vantagem competitiva”.

O processo de produção para a marca espanhola decorre nos moldes normais, “com o

desenvolvimento das matérias-primas, acessórios e modelos e a elaboração das respectivas

colecções para os vendedores, seguindo-se as vendas por colecção Primavera-Verão e

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Outono-Inverno, com a produção a ser entregue em três locais distintos”, explica Alexandra

Barreiras.

As empresas têxteis nacionais apresentam numerosas vantagens no âmbito do private label,

uma vez que Portugal tem, “em primeiro lugar, uma fileira têxtil consolidada no saber fazer,

em tempo útil, em proximidade e com versatilidade e nível de qualidade de transformação

capaz de fornecer pequenas séries”, como explica Alexandra Barreiras.

Estas vantagens competitivas têm trazido sucesso à TRL, que já exporta para diversos países

da Europa, nomeadamente Espanha, França, Alemanha, Reino Unido, Escandinávia, Holanda,

e para os EUA.

Têxtil - André Amaral, Lda.

A Têxtil - André Amaral é a principal fornecedora da El Niño. A empresa barcelense trabalha

com a marca espanhola desde 2003, logo nos primórdios da insígnia, produzindo “todo o tipo

de t-shirts, em vários tipos de materiais e composições”, como explica André Amaral, o

administrador da empresa, em declarações ao Jornal Têxtil.

E para já, a parceria tem dado bons frutos para a empresa sedeada em Abade de Neiva. De

acordo com André Amaral, “esta foi uma aposta forte desde o início e que nos traz

importantes vantagens, nomeadamente financeiras, já que são cerca de cinco milhões de euros

de facturação anual quase garantidos. Pode sofrer oscilações, devido ao mercado, mas logo no

início do ano temos este volume de negócio mais ou menos assegurado, o que nos confere

uma certa segurança”.

O processo de desenvolvimento das colecções segue também a mesma metodologia usada

pela empresa espanhola, com o arranque a partir do gabinete de design da marca instalado no

Porto, que elabora os designs e os envia para a Têxteis André Amaral. “A partir daí

desenvolvemos as amostras para os agentes comerciais e gerimos todo o processo até à

produção final da colecção”, explica o administrador da empresa barcelense.

Para além da El Niño, que representa cerca de 80% da produção total da Têxteis André

Amaral, a empresa, que emprega actualmente 80 pessoas directamente e cerca de 300 de

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forma indirecta, exporta os restantes 20% da sua produção para os mercados francês e

holandês.

Considerando esta uma parceria valiosa, assim como todas as outras que mantém com

diversas marcas, André Amaral destaca a qualidade como a grande vantagem da sua empresa.

“Oferecemos acima de tudo qualidade e pontualidade na entrega. Além disso, somos os

parceiros ideais porque temos sabido demonstrar capacidade para resolver qualquer problema

que surja. Oferecemos uma boa qualidade de serviços”, conclui o administrador da Têxteis

André Amaral.

Becri – Malhas e Confecções, S.A.

A confecção de vestuário em malha é a especialidade da Becri e foi esse know-how que

conquistou a El Niño. Com uma história que remonta a 1983, a empresa de Barcelos produz

“todo o tipo de artigos em malha circular, desde t-shirts a calças e vestidos”, como explica

José Costa, administrador da Becri, em declarações ao Jornal Têxtil.

Esta parceria com a marca espanhola, firmada há cerca de ano e meio, junta-se a outras já

estabelecidas com diversas marcas internacionais, como a Pepe Jeans, a principal cliente da

Becri, e a Zara, que no conjunto contribuem para os 95% de volume de exportação da

empresa portuguesa, repartidos sobretudo pelos mercados espanhol e alemão.

Apesar da marca espanhola ser um cliente recente, José Costa não minimiza a sua

importância, até porque, como sublinha, “trabalhamos em private label e, por isso, todos os

clientes são importantes”. Além do mais, como enfatiza o administrador da Becri, “estando a

El Niño perto de Portugal, com o gabinete de design sedeado no Porto, será sempre um ponto

de sucesso e, com este cliente, as perspectivas de futuro não direi que serão as mais risonhas

mas serão certamente menos dramáticas”.

As peças produzidas para a El Niño são controladas pelo gabinete de design do Porto, que

escolhe a malha, a qualidade do estampado ou do bordado, a lavagem, etc., sendo sempre

“peças de valor acrescentado, que incorporam sempre inovações”.

Para além da qualidade inerente à produção e aos serviços prestados pelas empresas

portuguesas, José Costa realça um outro factor que coloca a Becri e as empresas nacionais no

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topo das preferências de algumas das principais marcas internacionais: “rapidez é a principal

vantagem. Estando aqui tão perto, os centros de decisão estão mais próximos e as decisões

são mais rápidas. Qualquer alteração é rapidamente processada”.

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7. Análise comparativa das duas regiões

Embora existam semelhanças na origem dos sectores têxtil e vestuário das duas regiões,

ambas com estreitas ligações à actividade agrária e ao cultivo e utilização do linho, é de

salientar o facto da indústria na região portuguesa se ter desenvolvido mais cedo, assumindo

um carácter industrial de base, com uma forte presença do sector têxtil.

Quando a indústria têxtil e vestuário arranca efectivamente na Galiza, já em finais do século

XX, especializa-se no sector do vestuário. Esta especialização, associada à forte promoção da

moda galega e à possibilidade de aceder de forma privilegiada ao vasto mercado espanhol,

propiciam o desenvolvimento do sector de vestuário na Galiza. Esta evolução potenciou a

focalização nas actividades do retalho, inibindo o desenvolvimento ao nível da indústria têxtil

de base e, consequentemente, restringindo a relevância dos têxteis técnicos na indústria da

região, ou mesmo do têxtil lar, sectores onde a indústria do Norte de Portugal é

assumidamente mais expressiva.

Outro aspecto a considerar no desenvolvimento favorável do sector de vestuário na Galiza,

prende-se com o menor número de trabalhadores que as empresas da região empregam, o que,

aliado ao menor número de empresas verticalmente integradas, limita os custos e a

dependência associados com as actividades a montante. Efectivamente, a focalização nas

actividades a jusante, associadas a valores acrescentados superiores, a independência em

relação a actividades a montante e os menores custos fixos, são factores que beneficiam a

flexibilidade organizacional, tão necessária em períodos de abrandamento económico.

Pese embora estas vantagens relativas, a indústria têxtil e vestuário galega está a registar

dificuldades em quatro áreas críticas, identificadas pela COINTEGA: (i) consumo, a

diminuição do consumo no mercado espanhol, afecta de forma significativa grande parte das

empresas galegas, cujas vendas estão fundamentalmente concentradas no mercado interno; (ii)

custos, fundamentalmente os associados com a subutilização da capacidade instalada,

resultado da diminuição no volume de negócios; (iii) capital, os reflexos da crise financeira

são sentidos na maior dificuldade para a obtenção de crédito, muitas vezes fundamental para o

financiamento das operações; e (iv) canais, a quebra do consumo e a maior dificuldade na

concessão de crédito resultam em dificuldades acrescidas para os retalhistas multimarca,

limitando as compras e diminuindo o número de actores intervenientes.

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A actual conjuntura em que se encontra a indústria têxtil e vestuário no Norte de Portugal e na

Galiza, advém das mudanças que ocorreram ao longo dos últimos anos, associadas

fundamentalmente com a conclusão do Acordo sobre os Têxteis e Vestuário (ATV). O fim

deste acordo marcou a liberalização completa das importações, em termos quantitativos, de

têxteis e de vestuário nos principais mercados internacionais. Esta livre circulação de

produtos, provenientes de origens com baixos custos (como: China ou Índia), veio afectar

negativamente, e de forma intensa, os produtores de vestuário europeus. Por outro lado, deve-

se também entrar em consideração com o contínuo processo de globalização, o qual tem como

consequência directa a deslocação de diversas empresas.

Por outro lado, também ao nível do mercado europeu foi registado um acréscimo da

concorrência, com o alargamento da União Europeia a diversos países de Leste, nos quais o

custo da mão-de-obra torna mais rentável a produção nessas regiões. Este alargamento

originou que estas economias, nas quais a indústria têxtil e vestuário possui um peso

considerável, ponderassem as suas estratégias de forma a responder às necessidades do

mercado europeu.

Também a conjuntura económica, com reflexos globais ao nível da diminuição generalizada

do consumo, originou dificuldades acrescidas para as empresas têxteis e de vestuário das duas

regiões, com efeitos marcantes a partir do segundo semestre de 2008.

7.1. Comparação entre a indústria nas duas regiões

Com base na análise individual da indústria têxtil e vestuário de cada uma das regiões,

realizada na Secção 4.2 para a região Norte de Portugal e na Secção 5.2 para a Galiza, são

analisados nesta secção alguns dos principais indicadores de forma comparativa.

A Tabela 20 apresenta a evolução do volume de produção da indústria têxtil e vestuário nas

duas regiões. Com base nos dados apresentados, é notório o valor significativamente superior

do volume de produção na região Norte de Portugal, o qual em 2007 foi quase quatro vezes

superior ao da Galiza.

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Tabela 20: Comparação da evolução do volume de produção na indústria têxtil e vestuário

Evolução anual do volume de produção (1.000 euros) Região

2007 2006 2005 2004

Norte de Portugal 5.684.974 5.729.784 5.697.041 6.136.091

Galiza 1.428.450 1.452.209 1.229.285 1.133.847

Fonte: INE (dados do Norte de Portugal); IGE (dados da Galiza)

Com base nos dados apresentados na Tabela 20 e ilustrados no gráfico da Figura 6, verifica-se

uma tendência distinta na indústria têxtil e vestuário das duas regiões, pois no caso do Norte

de Portugal regista-se uma evolução tendencialmente negativa, enquanto na Galiza se verifica

uma maior estabilidade na evolução do volume de produção.

Figura 6: Comparação da evolução do volume de produção na indústria têxtil e vestuário

Fonte: INE (dados do Norte de Portugal); IGE (dados da Galiza)

A Tabela 21 apresenta a evolução do valor acrescentado bruto (VAB) para as empresas têxteis

e vestuário das duas regiões.

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Tabela 21: Valor acrescentado bruto das empresas têxteis e vestuário

Evolução anual do VAB (1.000 euros) Região

2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000

Norte de Portugal 1.841.591 1.822.978 1.853.563 1.998.226 - - - -

Galiza - 680.609 650.384 595.783 572.884 594.171 561.169 479.462

Fonte: INE (dados do Norte de Portugal); IGE (dados da Galiza)

Com base na análise da evolução do VAB, verifica-se uma evolução nitidamente crescente

nas empresas galegas, quando comparamos o período de 2000 a 2006. Efectivamente, ao

analisarmos os dados desta região, e recorrendo aos dados de 1995 (onde o VAB cifrou-se em

cerca de 215 milhões de euros), verifica-se uma evolução muito acentuada neste indicador.

No entanto, em termos agregados e apesar da evolução negativa neste indicador por parte das

empresas da região Norte de Portugal, o VAB gerado pelas empresas da região portuguesa é

muito superior ao das suas congéneres galegas.

A Tabela 22 apresenta a comparação do número de empresas entre as duas regiões,

considerando os dados relativos ao período de 1999 a 2007.

Tabela 22: Comparação do número de empresas

N.º de empresas Sector Região

(NUTS II) 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000

Norte Portugal 3.885 4.083 4.306 4.303 3.283 3.517 3.379 3.318 Têxtil

Galiza 479 458 445 388 370 349 342 365

Norte Portugal 8.257 8.300 8.670 8.933 9.239 9.270 6.971 7.536 Vestuário

Galiza 1.383 1.429 1.453 1.455 1.474 1.512 1.555 1.537

Fonte: INE (dados do Norte de Portugal); IGE (dados da Galiza)

A tabela evidencia a dimensão dos sectores no Norte de Portugal, no que se refere ao número

de empresas no sector têxtil e no sector do vestuário. O gráfico da Figura 7 ilustra os dados

apresentados na Tabela 22.

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Figura 7: Gráfico com a comparação do número de empresas

Fonte: INE (dados do Norte de Portugal); IGE (dados da Galiza)

A Figura 8 apresenta o mapa com a distribuição das empresas têxteis nas doze sub-regiões

NUTS III que compõem a Galiza e o Norte de Portugal. Conforme se encontra ilustrado nesta

análise, verifica-se uma acentuada concentração de empresas nas regiões portuguesas do Ave

(PT113), Cávado (PT112), Grande Porto (PT114) e Tâmega (PT115). As restantes oito sub-

regiões, encontram-se no intervalo de até 340 empresas, embora existam diferenças

acentuadas nestas regiões, onde o número de empresas varia desde as 17 localizadas em Lugo

(ES112) até às 290 localizadas em A Coruña (ES111).

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Figura 8: Mapa da distribuição das empresas têxteis

Minho-Lima PT111

Cávado PT112

Ave PT113

Grande Porto PT114

Tâmega PT115

Entre Douro e Vouga PT116

Douro PT117

Alto Trás-os-Montes PT118

A Coruña ES111

Lugo ES112

Ourense ES113

Pontevedra ES114

680 - 1020

340 - 680

0 - 340

290

17

24

148

1360 - 1700

1020 - 1360

473

146

29

32

Galiza 479

Norte de Portugal 3885

91

728

1699

687

Distribuição das empresas têxteis (2007)

Região N.º Empresas

PT118

PT117

PT115

PT116

PT112

PT111

ES111

ES112

ES114

ES113

Fonte: INE (dados do Norte de Portugal); IGE (dados da Galiza)

À semelhança do exposto para as empresas têxteis, o mapa da Figura 9 ilustra a distribuição

das empresas de vestuário nas doze sub-regiões NUTS III. Embora seja também evidente a

elevada concentração de empresas nas sub-regiões portuguesas do Ave (PT113), Cávado

(PT112), Grande Porto (PT114) e Tâmega (PT115), salienta-se ainda a sub-região galega de

A Coruña (ES111). De referir ainda que, no intervalo de menor densidade de empresas

(menos de 602), existe uma variação acentuada, que vai desde as 54 empresas da sub-região

do Douro (PT117) até às 397 empresas da sub-região de Pontevedra (ES114).

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Figura 9: Mapa da distribuição das empresas de vestuário

Minho-Lima PT111

Cávado PT112

Ave PT113

Grande Porto PT114

Tâmega PT115

Entre Douro e Vouga PT116

Douro PT117

Alto Trás-os-Montes PT118

A Coruña ES111

Lugo ES112

Ourense ES113

Pontevedra ES114

Galiza

Norte de Portugal

2408 - 3010

1806 - 2408

1204 - 1806

602 - 1204

0 - 602

64

1.383

765

81

140

397

2.066

3.010

1.608

963

183

54

Região N.º Empresas

8.257

309

Distribuição das empresas de vestuário (2007)

PT118

PT117

PT115

PT116

PT112

PT111

ES111

ES112

ES114

ES113

Fonte: INE (dados do Norte de Portugal); IGE (dados da Galiza)

Em termos da evolução do número de empresas nos sectores, verifica-se uma acentuada

tendência decrescente no número de empresas do sector de vestuário e a queda mais ligeira no

número de empresas do sector têxtil do Norte de Portugal, cuja variação contrasta com a

relativa estabilidade do número de empresas na Galiza.

Em relação às empresas do sector têxtil, a Tabela 23 apresenta a repartição por subsector de

actividade, comparando o número de empresas localizadas em cada região.

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Tabela 23: Distribuição das empresas têxteis por sector de actividade

N.º empresas (2007) Norte de Portugal Galiza Sector de actividade

Quantidade

Proporção Quantidad

e Proporção

Preparação e fiação de fibras têxteis 109 2,81% 8 1,67%

Tecelagem de têxteis 239 6,15% 2 0,42%

Acabamento de têxteis 436 11,22% 35 7,31%

Fabricação de artigos têxteis confeccionados, excepto vestuário

893 22,99% 203 42,38%

Outras indústrias têxteis 1.219 31,38% 206 43,01%

Fabricação de tecidos de malha 283 7,28% 16 3,34%

Fabricação de artigos de malha 706 18,17% 9 1,88%

Fabricação de têxteis (total de empresas) 3.885 100% 479 100%

Fonte: INE (dados do Norte de Portugal); IGE (dados da Galiza)

Na comparação expressa na Tabela 23 entre as duas regiões, salienta-se a reduzida dimensão

no número de empresas de tecelagem na Galiza, mesmo em termos relativos ao número total

de empresas, bem como a maior proporção de empresas no Norte de Portugal, dedicadas ao

subsector das malhas.

A Tabela 24 apresenta a comparação das exportações de têxteis e vestuário das duas regiões,

com a indicação da designação do tipo de produto, a respectiva Nomenclatura Combinada

(NC), o valor das exportações portuguesas e galegas, bem como a respectiva proporção e

variação em relação ao ano anterior.

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Tabela 24: Comparação entre o total de exportações de têxteis e vestuário de Portugal e da Galiza

Total de exportações (2007) em 1.000 de euros Portugal Galiza NC Designação

Valor Proporção ∆

(2007/06) Valor Proporção

∆ (2007/06)

50 Artigos de seda 657 0,02% -10,73% 13.645 0,57% 1,86%

51 Artigos de lã 95.832 2,23% 8,94% 32.330 1,35% 15,60%

52 Artigos de algodão 179.604 4,17% 3,59% 101.164 4,22% 18,36%

53 Outras fibras têxteis vegetais 5.321 0,12% 34,71% 5.545 0,23% -12,39%

54 Filamentos sintéticos ou artificiais 72.415 1,68% 16,63% 34.420 1,44% 17,85%

55 Fibras sintéticas ou artificiais desc. 236.471 5,49% -2,50% 37.191 1,55% 50,56%

56 Pastas, feltros, artigos de cord., etc 175.100 4,07% 15,05% 15.369 0,64% 16,66%

57 Tapetes e outros revestimentos 80.020 1,86% 9,72% 2.018 0,08% 125,89%

58 Tecidos especiais e tufados 87.732 2,04% 39,61% 14.409 0,60% -41,10%

59 Tecidos impregnados, etc 117.423 2,73% -2,62% 2.161 0,09% 76,05%

60 Tecidos de malha 56.300 1,31% 9,80% 3.496 0,15% -1,58%

61 Vestuário e acessórios de malha 1.748.809 40,63% 5,72% 805.857 33,63% 15,89%

62 Vestuário e acess. excepto de malha

857.634 19,93% 4,22% 1.300.208 54,26% 12,87%

63 Outros artigos têxteis confeccionados

590.795 13,73% -2,37% 28.257 1,18% 44,48%

TOTAL 4.304.113 100,00% 4,65% 2.396.069 100,00% 14,25%

Fonte: INE (dados de Portugal), IGE (dados da Galiza)

Com base na análise da Tabela 24, verifica-se que o volume das exportações portuguesas de

produtos têxteis são superiores às da Galiza para a generalidade das categorias, com a

excepção dos artigos de seda (50), outras fibras têxteis vegetais (53) e no vestuário e

acessórios excepto de malha (62).

A Tabela 25 segue a mesma lógica da informação apresentada na tabela anterior, mas em

relação às importações de têxteis e vestuário.

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Tabela 25: Comparação entre o total de importações de têxteis e vestuário de Portugal e da Galiza

Total de importações (2007) em 1.000 de euros

Portugal Galiza NC Designação

Valor Proporção ∆ (2007/06) Valor Proporção ∆ (2007/06)

50 Artigos de seda 13.650 0,41% 2,37% 25.260 1,32% -1,42%

51 Artigos de lã 149.094 4,47% 7,30% 43.638 2,28% -0,92%

52 Artigos de algodão 523.217 15,70% -4,54% 112.732 5,90% 5,47%

53 Outras fibras têxteis vegetais 29.710 0,89% -1,05% 13.277 0,69% 38,90%

54 Filamentos sintéticos ou artificiais 266.118 7,98% 1,42% 40.290 2,11% 16,25%

55 Fibras sintéticas ou artificiais desc. 238.862 7,17% 5,04% 57.362 3,00% 7,89%

56 Pastas, feltros, artigos de cord., etc 65.754 1,97% 2,17% 16.380 0,86% 8,81%

57 Tapetes e outros revestimentos 65.386 1,96% 11,20% 12.907 0,68% 21,88%

58 Tecidos especiais e tufados 58.920 1,77% -11,93% 12.083 0,63% -46,51%

59 Tecidos impregnados, etc 107.156 3,22% -10,85% 13.978 0,73% 28,11%

60 Tecidos de malha 91.933 2,76% -3,72% 11.855 0,62% 25,55%

61 Vestuário e acessórios de malha 796.589 23,90% 21,87% 576.383 30,17% 7,66%

62 Vestuário e acess. excepto de malha

786.984 23,61% 12,92% 921.059 48,21% 23,09%

63 Outros artigos têxteis confeccionados

139.492 4,19% 28,86% 53.437 2,80% 26,27%

TOTAL 3.332.865 100,00% 8,04% 1.910.643 100,00% 14,51%

Fonte: INE (dados de Portugal), IGE (dados da Galiza)

No que se refere às importações apresentadas na Tabela 25, verifica-se também que o valor

das importações portuguesas é superior para a generalidade dos produtos, com a excepção dos

artigos de seda (50) e do vestuário e acessórios excepto de malha (62). Considerando as

diferenças entre as regiões comparadas, as excepções identificadas são relevantes na análise

comparativa do comércio externo.

Com base nos dados actualizados disponíveis, foi construído o diagrama da Figura 10, onde

se encontram representados os fluxos comerciais de têxteis e vestuário entre a Galiza e

Portugal e entre Portugal e Espanha.

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Figura 10: Mapa das trocas comerciais

Comérciode têxteis e vestuário (2008)

Portugal -Espanha€1.022.474.150

Comérciode têxteis e

vestuário (2008)Espanha -Portugal

€1.115.542.485

Têxtil Vestuário

129.877,7 293.050,0

A Coruña ES111 109.341,9 272.224,3

Lugo ES112 987,4 386,7

Ourense ES113 1.890,3 11.623,9

Pontevedra ES114 17.658,1 8.815,0

Têxtil Vestuário

100,00% 100,00%

A Coruña ES111 84,19% 92,89%

Lugo ES112 0,76% 0,13%

Ourense ES113 1,46% 3,97%

Pontevedra ES114 13,60% 3,01%

Comércio de têxteis e vestuário (2008)

Galiza - Portugal

Proporção das trocas comerciais

Região

Galicia

Trocas comerciais (1.000 euros)

Região

Galicia

Têxtil Vestuário

102.611,8 262.411,6

A Coruña ES111 63.676,8 218.974,8

Lugo ES112 919,9 432,8

Ourense ES113 15.993,5 10.887,1

Pontevedra ES114 22.021,7 32.116,9

Têxtil Vestuário

100,00% 100,00%

A Coruña ES111 62,06% 83,45%

Lugo ES112 0,90% 0,16%

Ourense ES113 15,59% 4,15%

Pontevedra ES114 21,46% 12,24%

Comércio de têxteis e vestuário (2008)

Portugal - Galiza

Proporção das trocas comerciais

Região

Galicia

Trocas comerciais (1.000 euros)

Região

Galicia

Fonte: INE (dados de Portugal), IGE (dados da Galiza)

As importações de têxteis e vestuário com origem na Galiza, representam 37,9% do total das

importações portuguesas, destes sectores, com origem em Espanha. Por outro lado, as

exportações portuguesas de têxteis e vestuário, que têm como destino a Galiza, representam

35,7% do total das exportações com destino a Espanha. No que se refere às trocas comerciais

entre Portugal e a região da Galiza, o destaque é assumido pela sub-região de A Coruña, quer

ao nível da exportações (sendo responsável por mais de 84% das exportações de têxteis e por

mais de 92% das de vestuário) quer das importações (62% das importações de têxteis e mais

de 83% das de vestuário). É ainda de salientar o valor bastante superior das exportações e

importações galegas de vestuário, relativamente aos têxteis, cuja proporção é mais do dobro.

7.2. Comparação entre as empresas das duas regiões

Com base na análise individual das principais empresas localizadas nas duas regiões,

realizada na Secção 4.3 para a região Norte de Portugal e na Secção 5.3 para a Galiza, são

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comparados nesta secção alguns dos principais indicadores das principais empresas que

compõem a indústria têxtil e vestuário nas duas regiões.

A Tabela 26 apresenta a comparação entre as sete maiores empresas (em termos de volume de

negócios) das duas regiões, considerando os dados do ano 2006.

Tabela 26: Comparação entre as maiores empresas do Norte de Portugal e da Galiza

Volume de Negócios (€) Empresa Região

2006

Adolfo Dominguez, S.A. G 170.384.419

Sociedad Textil Lonia, S.A. G 159.822.215

Lameirinho - Indústria Têxtil, S.A. NP 77.373.000

Caramelo, S.A. G 73.408.953

Irmãos Vila Nova, S.A. NP 70.007.000

Fábrica Têxtil Riopele, S.A. NP 64.525.000

Polopique - Comércio e Indústria de Confecções, Lda. NP 52.103.000

Somelos - Tecidos, S.A. NP 50.681.000

Indústria Têxtil do Ave, S.A. NP 48.120.000

Roberto Verino Difusion, S.A. G 41.445.092

Selmark, S.L. G 22.982.042

Florentino Coleccion, S.L. G 20.780.679

TOTAL (GALIZA) G 488.823.400

TOTAL (NORTE DE PORTUGAL) NP 362.809.000

NOTA 1: valores do volume de negócios das empresas do Norte de Portugal estão arredondados aos milhares

NOTA 2: as empresas associadas ao Grupo Inditex, não foram incluidas nesta análise

Legenda: NP: indica empresa do Norte de Portugal; G: indica empresa da Galiza

Fonte: EXAME (dados Norte de Portugal); ARDÁN (dados Galiza)

Com base nos dados apresentados na Tabela 26, a Figura 11 relaciona o volume de negócios

total (dados relativos ao exercício de 2006) das principais empresas das duas regiões

(excluindo as relacionadas com o Grupo Inditex). Conforme se evidencia, no que se refere às

principais empresas, existe uma maior relevância das empresas da Galiza, relativamente às

comparáveis localizadas no Norte de Portugal.

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Figura 11: Comparação do volume de negócios entre as maiores empresas das duas regiões

Em relação à presença de empresas de vestuário com marca própria, entre as principais

empresas das duas regiões, contrastando com as empresas da Galiza, a presença do Norte de

Portugal está limitada à marca Salsa (detida pela empresa Irmãos Vila Nova, S.A.), sendo

ainda de destacar (com base no volume de negócios de 2005) a marca Decénio (detida pela

empresa Ricon Industrial – Produção de Vestuário, S.A.). No computo geral, e excluindo as

marcas do Grupo Inditex, a Adolfo Dominguez e a Sociedad Textil Lonia (com a marca

Purificación García) encabeçam a listagem de forma destacada.

Uma das dissemelhanças mais notória entre a indústria têxtil e vestuário das duas regiões,

encontra-se no desenvolvimento e produção de produtos técnicos. Enquanto na região Norte

de Portugal existe uma aposta, por parte de diversas empresas de maior dimensão, nos

produtos técnicos, na Galiza não se encontram referências de relevo nesta área produtiva.

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8. Considerações finais

A indústria têxtil e vestuário localizada no Norte de Portugal, possui uma dimensão

significativamente superior à localizada na Galiza e abrange mais áreas de actividade. Mesmo

considerando a maior dimensão geográfica da região da Galiza, o Norte de Portugal possui

uma densidade de empresas bastante superior. Considerando o número agregado de empresas

têxteis e de vestuário em 2007, a região Norte de Portugal possuía uma densidade de 0,58

empresas por quilómetro quadrado, enquanto na Galiza, este indicador é de apenas 0,06

empresas. Esta maior densidade industrial possui reflexos ao nível da relevância relativa dos

sectores no panorama industrial da região, possuindo os sectores têxtil e vestuário uma

relevância muito superior na região Norte de Portugal.

No que se refere à divulgação e reconhecimento das marcas, a Galiza apresenta dois aspectos

diferenciadores. O primeiro está associado com a presença do Grupo Inditex, cuja expressão é

reconhecida e inquestionável em termos internacionais e cuja concentração no território da

Galiza, confere uma elevada expressão ao sector galego, mas não se encontram outras

empresas na região que possam ser minimamente equiparadas. O segundo está associado a um

conjunto restrito de empresas, que possuem uma imagem e reconhecimento internacional, e

uma forte componente de moda, incluindo-se neste grupo marcas como: Adolfo Dominguez,

Purificacion Garcia ou Caramelo, mas também a uma escala menor: Roberto Verino, Antonio

Pernas (pertence ao Grupo Caramelo) ou Kina Fernández.

A generalidade das marcas galegas, à semelhança do que aconteceu com a marca Zara do

Grupo Inditex, concentram a sua expansão, numa fase inicial, no mercado galego e espanhol,

beneficiando da dimensão, do poder de compra e da apetência do consumidor espanhol pelos

produtos nacionais. Numa eventual segunda fase, desenvolvem o processo de

internacionalização, no qual o mercado português é um passo lógico (fundamentalmente nas

principais cidades do país) pela proximidade geográfica e cultural, mas também o mercado

mexicano e da América Latina em geral, com diversas empresas galegas a possuírem pontos

de venda nestes países.

No que refere às diversas marcas de vestuário detidas por empresas do Norte de Portugal e

com presença directa no retalho, salienta-se o caso da Salsa e da Decénio, embora existam

diversos nomes de relevo, como: Onara, Ana Sousa, Throttleman, River Woods, Red Oak,

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Mike Davis, Tiffosi, Impetus e Petit Patapon. No entanto, existem diversas empresas no Norte

de Portugal que concebem e comercializam produtos com marca própria, embora não

possuam uma presença expressiva no mercado de retalho.

Para além da representatividade do conjunto da indústria têxtil e vestuário, as duas regiões

salientam-se ainda pela sua dimensão social, nomeadamente a sua população relativamente

significativa, com mais de 6,5 milhões de habitantes, representando mais de 11,3% da

população da Península Ibérica. Além disso, é também de salientar a dimensão ao nível

económico, sendo as duas regiões responsáveis por mais de 8% do PIB da Península Ibérica.

Relativamente à estrutura industrial, a diferença mais acentuada encontra-se no sector têxtil,

onde se verificam deficiências relevantes na indústria galega. Salientam-se as lacunas ao nível

da fiação, tecelagem e tricotagem, as quais podem facilmente ser complementadas pela oferta

das empresas localizadas na região Norte de Portugal.

Entre as diversas áreas de desenvolvimento simbiótico entre as duas regiões, afigura-se ainda

o interesse em explorar a ligação, cada vez mais evidente, entre a componente moda e os

produtos técnicos. Embora esta ligação já seja explorada por diversas empresas do sector,

nomeadamente na aplicação em produtos seamless, é licito considerar que na Galiza, com a

especialização no retalho e na componente moda, o conhecimento técnico e a sua

incorporação no produto, podem estar subaproveitados.

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