313_transferência de renda e imunização de cçs_programa bf

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TEXTO PARA DISCUSSÃO N° 313 POLÍTICA DE TRANSFERENCIA DE RENDA E IMPACTOS NA IMUNIZAÇÃO DAS CRIANÇAS: O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA Mônica Viegas Andrade Laeticia Rodrigues de Souza Flavia Chein Agosto de 2007

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  • TEXTO PARA DISCUSSO N 313

    POLTICA DE TRANSFERENCIA DE RENDA E IMPACTOS NA IMUNIZAO DAS CRIANAS:

    O PROGRAMA BOLSA FAMLIA

    Mnica Viegas Andrade Laeticia Rodrigues de Souza

    Flavia Chein

    Agosto de 2007

  • 2

    Ficha catalogrfica

    339.20981 A553p 2007

    Andrade, Mnica Viegas.

    Poltica de transferncia de renda e impactos na imunizao das crianas: o Programa Bolsa Famlia / Mnica Viegas Andrade; Laeticia Rodrigues de Souza; Flavia Chein - Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar, 2007.

    25p. (Texto para discusso ; 313)

    1. Renda - Distribuio Brasil. 2. Crianas Cuidado e higiene Brasil. 3. Programa Bolsa Famlia. I. Souza, Laeticia Rodrigues de. II. Feres, Flvia Lcia Chein. III. Universidade Federal de Minas Gerais. Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional. IV. Ttulo. V. Srie.

    CDD

  • 3

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE CINCIAS ECONMICAS

    CENTRO DE DESENVOLVIMENTO E PLANEJAMENTO REGIONAL

    POLTICA DE TRANSFERENCIA DE RENDA E IMPACTOS NA IMUNIZAO DAS CRIANAS: O PROGRAMA BOLSA FAMLIA

    Mnica Viegas Andrade Cedeplar/UFMG

    Laeticia Rodrigues de Souza

    Cedeplar/UFMG

    Flavia Chein Cedeplar/UFMG

    CEDEPLAR/FACE/UFMG BELO HORIZONTE

    2007

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    SUMRIO 1. INTRODUO .................................................................................................................................. 6 2. O PROGRAMA BOLSA FAMLIA................................................................................................... 8 3. BASE DE DADOS.............................................................................................................................. 8

    3.1. Desenho amostral ......................................................................................................................... 8 3.2. Coleta e tratamento das informaes ........................................................................................... 9

    4. ESTATSTICA DESCRITIVA......................................................................................................... 10

    4.1. Variveis de resultado................................................................................................................ 10 5. DEFINIO DO EXERCCIO EMPRICO .................................................................................... 11

    5.1. Especificao do Escore de Propenso ...................................................................................... 12 5.2. Tcnica de Pareamento .............................................................................................................. 16

    6. RESULTADOS DO PROGRAMA................................................................................................... 21

    6.1. Anlise no Condicionada ......................................................................................................... 21 6.2. Anlise Condicionada ................................................................................................................ 23

    7. CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................................ 24 8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................................................. 25

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    RESUMO

    Este artigo analisa o impacto do programa Bolsa Famlia na imunizao de crianas de 0 a 6 anos no Brasil e Grandes Regies. O Bolsa Famlia um programa de transferncia de renda condicional. Uma das condicionalidades do programa a manuteno do calendrio vacinal em dia para as crianas de 0 a 6 anos. A avaliao realizada utilizando mtodo Matching com Escore de Propenso a partir dos dados da pesquisa de linha de base Avaliao de Impacto do Programa Bolsa Famlia conduzida em novembro de 2005. Os principais resultados evidenciam que o programa no altera a condio de vacinao das crianas, muito embora a manuteno do calendrio vacinal seja uma das condicionalidades do programa. Palavras-Chave: Programa de transferncia de renda imunizao - pobreza ABSTRACT

    This paper investigates the impacts of Bolsa Famlia program on children aged 0-6 immunization in Brazil and its regions. Bolsa Familia is a conditional cash transfer program. One of its conditionalities is the children attendance to the immunization calendar ruled by Health Ministry. The evaluation method is Propensity Score Matching. We use data from a survey conducted in 2005 to evaluate the program Pesquisa de Avaliao de Impacto do Programa Bolsa Famlia. The main findings suggest that Bolsa Familia program do not affect immunization status. JEL: D12; I38; J13; J18 Key Words: Cash Transfer Program immunization poverty

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    1. INTRODUO

    O estado de sade tem impactos diretos e indiretos sobre o bem estar individual. O impacto direto decorre deste ser um parmetro da funo utilidade dos indivduos: em geral os indivduos so mais felizes quando esto mais saudveis. O impacto indireto est relacionado a diferenas na capacidade produtiva dos indivduos uma vez que o estado de sade integra o capital humano (Grossman,1972). O estado de sade pode afetar a capacidade dos indivduos gerarem rendimentos pelo menos atravs de trs canais: reduo da capacidade produtiva, uma vez que indivduos menos saudveis podem ser menos produtivos dependendo do tipo de atividade que esto inseridos; reduo do nmero de horas ofertadas, dado que os indivduos menos saudveis alocam parte do seu tempo para cuidar da sade; e excluso da fora de trabalho. Aliado ao fato do estado de sade ser um determinante importante da capacidade de gerao de rendimentos individuais, em geral observa-se grande desigualdade social no estado de sade e no acesso aos servios de sade. Alguns trabalhos mostram que as perdas de rendimento por motivo de sade so significativas e bastante diferenciadas entre os extratos sociais (Alves & Andrade, 2002; Noronha, 2005). Alm disso, existem tambm evidncias acerca dos efeitos destas perdas na determinao da pobreza e distribuio de renda principalmente atravs da excluso de indivduos do mercado de trabalho (Noronha, 2005). Ampliar o estoque de sade dos indivduos uma medida fundamental que pode ter impactos de curto e longo prazo nas dimenses microeconmicas e macroeconmicas do desenvolvimento econmico (Sachs, 2001).

    Uma dimenso importante do estado de sade a sade preventiva e a promoo da sade. O estado de sade individual pode ser pensado como um estoque de capital sujeito a uma taxa de depreciao e choques estocsticos. Estes choques estocsticos tm um componente aleatrio e um componente determinstico associado principalmente etapa do ciclo de vida e aos hbitos pessoais. De certo modo, medidas de sade preventiva e/ou de promoo sade podem afetar a probabilidade de ocorrncia dos choques no estado de sade. o caso, por exemplo, de medidas de saneamento bsico e decises de imunizao. A deciso de imunizao uma das formas mais eficazes de realizar a sade preventiva principalmente se tomada pela maior parte da populao. Um aspecto importante que refora a necessidade de induo da imunizao pelo setor pblico a presena de externalidades difusas. Externalidades difusas na imunizao ocorrem porque a probabilidade de ocorrncia de um evento depende no s da deciso individual de vacinao, mas tambm da deciso mdia da sociedade (Andrade, 2000). Nesse caso, os indivduos ao tomarem a deciso individual de imunizao no contabilizam o bem estar social gerado por esta deciso de modo que o nvel de vacinao na populao pode ser inferior ao nvel que maximizaria o bem estar social. No Brasil, as campanhas de vacinao so uma prioridade na rea de polticas pblicas e o Ministrio da Sade tem um calendrio vacinal para as crianas de 0 a 6 anos estabelecido e gratuito. A despeito das campanhas macias de vacinao gratuita ainda existem segmentos populacionais, principalmente, entre os grupos menos favorecidos que no cumprem o calendrio vacinal. Alguns fatores podem explicar esse fato: falta de informao sobre os benefcios alcanados com a vacina, custos de deslocamento at os postos de sade, custos de oportunidade na medida em que o tempo alocado para receber o servio de sade representa uma reduo das horas de trabalho, dificuldades de acesso, entre outros.

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    Uma forma do poder pblico oferecer incentivos objetivos para a imunizao e sade preventiva nos grupos sociais menos favorecidos o estabelecimento de condicionalidades em programas sociais. O objetivo desse trabalho analisar o impacto da insero no programa Bolsa Famlia sobre a imunizao das crianas de 0 a 6 anos residentes em domiclios que recebem o benefcio. Esse grupo compreende pessoas-alvo no domiclio, sobre as quais o programa impe cumprimento de condicionalidades para a realizao da transferncia de renda. Ao entrar no programa Bolsa Famlia, a famlia se compromete a manter suas crianas e adolescentes em idade escolar freqentando a escola e a cumprir os cuidados bsicos em sade: o calendrio de vacinao, para as crianas entre 0 e 6 anos, e a agenda pr e ps-natal para as gestantes e mes em perodo de amamentao.

    A eficcia no cumprimento dessas condicionalidades, entretanto, depende do monitoramento do programa. O Brasil um pas extremamente heterogneo e essa heterogeneidade provavelmente tambm se reflete na implementao dos programas sociais. No caso das condicionalidades do Bolsa Famlia, o monitoramento realizado pelos prprios municpios e pela SENARC- Secretaria Nacional de Renda e Cidadania1. O cancelamento ou bloqueio dos benefcios de competncia dos municpios na figura do gestor municipal do programa e deve ser realizado se houver o descumprimento das condicionalidades, se no se verificarem as condies de elegibilidade ou se for detectada a presena de trabalho infantil no domiclio.

    fato que a intensidade e o acesso ao cuidado primrio mudou muito no Brasil principalmente nos ltimos dez anos com a criao e expanso dos programas de agentes comunitrios de sade e sade da famlia, mas ainda existe muito espao para a ao pblica no combate s doenas evitveis. No Brasil, a despeito da transio demogrfica e epidemiolgica que o pas est vivendo, ainda se verificam a prevalncia e mortalidade por doenas infecto-contagiosas tpicas de pases atrasados s quais podem ser evitadas por condies adequadas de saneamento e cuidados preventivos bsicos (Simes, 2002). Nesse sentido, a imposio de esquemas de incentivos objetivos como o esquema de condicionalidades do programa Bolsa famlia pode ser um instrumento indireto de poltica pblica interessante desde que se estabeleam estratgias de monitoramento viveis e factveis. Nesse artigo investigamos os diferenciais de imunizao entre as crianas residentes em domiclios beneficirios do programa Bolsa Famlia e as crianas residentes em domiclios elegveis ao programa e que no recebem o benefcio utilizando o mtodo de Propensity Score Matching. O banco de dados utilizado oriundo de uma pesquisa de campo realizada em novembro de 2005 que investiga cerca de 15.000 domiclios no Brasil com o propsito de estabelecer a linha de base para a avaliao de impacto do programa Bolsa Famlia.

    Os principais resultados apontam que o programa no altera a condio de vacinao das crianas, apesar da manuteno do calendrio vacinal, conforme definio do Ministrio da Sade, ser uma das condicionalidades do programa.

    O artigo est organizado em mais seis sees alm desta introduo. A seo dois apresenta o programa Bolsa Famlia. A seo 3 apresenta o banco de dados e o tratamento das informaes. Na seo 4 realizada a anlise descritiva dos dados. O exerccio emprico discutido na seo 5. As estimativas dos resultados do programa so analisadas na seo 6 e, finalmente, na seo 7, so tecidas as consideraes finais.

    1 A gesto dos benefcios est regulamentada pela portaria 555 de 11 de novembro de 2005.

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    2. O PROGRAMA BOLSA FAMLIA

    O Programa Bolsa Famlia, criado em 2003, um programa de transferncia de renda condicional para famlias em situao de pobreza que visa a promover o alvio imediato da pobreza, por meio da transferncia direta de renda, e a ruptura do ciclo intergeracional da pobreza, por meio das condicionalidades, que reforam o exerccio de direitos sociais nas reas de sade e educao, e que potencialmente propiciam o combate pobreza futura atravs do investimento no desenvolvimento de capital humano. O programa consiste da integrao dos programas de transferncia de renda condicional existentes no Brasil, quais sejam: Auxilio Gs, Bolsa Alimentao e Carto Alimentao e Bolsa Escola. Estudos recentes (Rocha, 2004; Soares, 2006; Ferreira, Leite e Litchfield, 2006) evidenciam os potenciais efeitos dos programas de transferncia sobre a reduo das desigualdades e pobreza no pas, destacando a importncia deste tipo de poltica. Os critrios de elegibilidade do Bolsa Famlia partem da definio de situao das famlias na pobreza, com ocorrncia de crianas at 15 anos de idade, gestantes e nutrizes, e famlias em extrema pobreza, com ou sem ocorrncia de crianas, gestantes e nutrizes2. Para as famlias em situao de extrema pobreza, o benefcio parte de um valor bsico de R$50,00 para aquelas sem ocorrncia de crianas, gestantes e nutrizes, e adiciona um valor varivel de R$15,00 para cada ocorrncia, at o teto de trs3. Para as famlias em situao de pobreza, os valores dos benefcios so somente os variveis. Atualmente, o programa atende a cerca de 11 milhes de domiclios o que representa quase 45 milhes de indivduos, 25% da populao brasileira.. Desde a criao do programa em 2003, a expanso do nmero de beneficirios vem ocorrendo de forma bastante rpida, mas 2004 foi o perodo de expanso mais acelerada (Cedeplar, 2006). 3. BASE DE DADOS 3.1. Desenho amostral

    O desenho amostral da Pesquisa do Bolsa Famlia segue um procedimento de amostragem estratificada em uma nica etapa no caso de grandes municpios (41 maiores municpios do Brasil em termos de populao total) e em duas etapas para municpios pequenos. Nesse caso, a unidade primria de amostragem constituda por conglomerados de municpios (grupos de municpios contguos com pelo menos 50 setores censitrios) e a unidade secundria so os setores censitrios4.O tamanho da amostra foi definido de forma a obter representatividade para trs grandes reas do Pas: a regio Nordeste (NE); as regies Sudeste e Sul (SE-SUL); e as regies Norte e Centro-Oeste (NO-CO). A operao de coleta de dados ocorreu no ms de novembro de 2005. Como resultado, o total de questionrios completos coletados durante a operao de campo foi de 14.022, 82,5% do previsto. Para o estrato SE-SUL, este total foi de 5.077, 77,1% do previsto. Os estratos NE e NO-CO, apresentaram totais de 4.713, 84,5% do previsto, e 4.232, 87,7% do previsto, respectivamente.

    2 Em outubro de 2005, foram definidas como famlias em situao de pobreza aquelas com renda mensal per capita de

    R$50,01 a R$100,00, e famlias em situao de extrema pobreza aquelas com renda per capita mensal de at R$50,00. 3 Estes valores correspondem ao definido em outubro de 2005. 4 Ver relatrio para detalhamento sobre a estratificao da amostra (CEDEPLAR e SCIENCE, 2005).

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    3.2. Coleta e tratamento das informaes

    De acordo com as informaes coletadas nos questionrios, os grupos de domiclios foram classificados em termos de elegibilidade, tratamento e comparao. O corte de elegibilidade para a avaliao foi feito por meio de renda domiciliar per capita5 e pela presena de crianas entre 0 e 14 anos de idade ou de mulher gestante. Pelo primeiro critrio, a amostra foi restrita a aqueles domiclios com renda per capita, deduzida dos valores recebidos de programas de transferncia, menor ou igual a R$ 200,00. Dentro de cada sub-amostra de elegveis, o grupo Tratamento constitudo pelos domiclios que declararam receber atualmente o benefcio do Bolsa Famlia. O segundo grupo, denominado de Comparao, composto pelos domiclios que declararam nunca ter recebido nenhum tipo de benefcio, independentemente de serem cadastrados em algum programa pblico. O restante da amostra pesquisada constitudo de domiclios que se declararam beneficirios de outros programas sociais, como bolsa escola e bolsa alimentao, de domiclios que declararam j ter recebido algum tipo de benefcio, mas que no o recebem mais, e de domiclios cuja renda domiciliar per capita maior que R$ 200,00 ou que no apresentam criana ou mulher gestante residente. A amostra total contm 15.240 domiclios, incluindo 4.435 no grupo de Tratamento e 4.941 no grupo de Comparao.

    A fim de investigar sobre as condicionalidades da sade das crianas o entrevistador solicitou pessoa respondente a verificao do carto de vacinao para todas as crianas de 0 a 6 anos do domiclio. De posse do carto de vacinao, o entrevistador preencheu no questionrio a data de realizao de cada vacina. Ao todo foram preenchidas informaes para as 14 vacinas presentes no calendrio vacinal preconizado pelo Ministrio da Sade. Para avaliar os diferenciais de imunizao entre os grupos de tratamento e comparao construmos cinco indicadores: 1) uma varivel dicotmica que recebeu valor 1 se a criana tem e mostrou o carto e zero caso contrrio; 2) uma varivel dicotmica se a criana est com o calendrio vacinal em dia condicionado sua idade; 3) uma varivel dicotmica se a criana tem pelo menos 70% das vacinas adequadas sua idade em dia; 4) uma varivel dicotmica se a criana tem todas as vacinas obrigatrias at os seis meses de idade em dia; 5) uma varivel dicotmica se a criana tem pelo menos 70% das vacinas obrigatrias at os seis meses de idade em dia.

    Em relao s crianas de 0 a 6 anos, na amostra pesquisada o nmero de crianas de 0 a 6 anos de 9852 quando consideramos todos os grupos de renda. No grupo de domiclios com renda domiciliar per capita at R$200,00 a amostra se reduz para 9177 crianas, sendo 3836 no grupo de tratamento e 1824 no grupo de comparao e as demais residentes em domiclios beneficirios de outros programas sociais. Do total de 9177 crianas, 1043 foram excludas da anlise por declarar que tem carto de vacinas, mas no permitiram a visualizao do mesmo. Desse modo, restam 8134 crianas no corte de renda domiciliar per capita at R$ 200,00.

    5 A definio da renda domiciliar per capita segue a utilizada no Cadastro nico e inclui os rendimentos advindos do

    trabalho, de aposentadoria e penso e de penso alimentcia.

  • 10

    4. ESTATSTICA DESCRITIVA 4.1. Variveis de resultado

    Nesta seo apresentamos a estatstica descritiva referente aos indicadores de resultado que sero analisados. A tabela 1 reporta para todas as sub-amostras analisadas as propores de crianas que mostraram o carto de vacinas e as propores de crianas vacinadas segundo os indicadores de imunizao construdos. Em relao ao carto de vacinas para o Brasil mais de 85% das crianas mostraram o carto e essa proporo no se difere significativamente entre as crianas beneficirias do Bolsa Famlia e as no beneficirias. Entre as regies a que apresenta a menor proporo a regio Nordeste onde 81% das crianas entre 0 e 6 anos mostraram o carto. Chama a ateno a diferena da proporo de crianas com carto de vacinao em dia quando comparada proporo de crianas que possuam o carto de vacinas. A proporo de crianas com vacinao em dia no Brasil de 77% comparada de 85% que possuam o carto de vacinas. Nesse caso possvel notar um diferencial positivo para a regio Sul/Sudeste que apresenta 80% das suas crianas com vacinao em dia. A menor proporo verificada na regio Nordeste na qual esse percentual de aproximadamente 73%. Em relao aos grupos de tratamento e comparao os dados indicam no existirem diferenas significativas.

    O terceiro indicador de imunizao analisado a proporo de crianas com pelo menos 70% das vacinas em dia. Nesse caso as propores so mais elevadas: para o Brasil a proporo mdia de 94%, ou seja, 17 pontos percentuais superior proporo quando todas as vacinas so consideradas. Essa proporo tambm mais elevada nas regies, sendo o Sudeste a que apresenta o maior nvel. Entre os grupos de comparao no se verificam diferenas.

    Em relao proporo de crianas com todas as vacinas obrigatrias at os seis meses de idade em dia as propores apresentadas na tabela 1 so bastante elevadas, prximas de 90% na maior parte dos casos, reportando que a grande maioria das crianas tem essas vacinas tomadas. Esse indicador interessante uma vez que o calendrio vacinal mais intenso at os seis meses de idade e a me est mais disponvel para cuidar da criana. Nesse caso razovel supor que o custo de oportunidade da me de levar a criana ao posto de sade menor j que at os seis meses em geral as mes no retornaram vida ativa. A comparao deste indicador com o de todas as vacinas revela que a dificuldade de manter o calendrio vacinal em dia ocorre aps os seis meses de idade. Por ltimo, as propores de crianas com pelo menos 70% das vacinas obrigatrias at os seis meses de idade em dia so bastante elevadas chegando a 98% para a regio Sudeste e 95% para o Brasil.

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    TABELA 1 Proporo de crianas de 0 a 6 anos que mostraram o carto de vacinas e proporo de crianas

    vacinadas, segundo grupos de comparao, Brasil e Regies, 2005*

    Brasil Nordeste Norte e Centro-Oeste Sudeste e Sul Varivel de resultado T C Total T C Total T C Total T C Total

    Vacinao em dia Total de crianas na amostra 3019 1377 7550 1062 479 2504 907 440 2313 1050 458 2733 % crianas 75.63 75.44 77.48 76.32 74.52 73.23 74.98 77.91 76.56 74.99 75.35 80.35ep 2.20 3.80 1.30 2.40 3.00 2.40 2.70 3.40 3.60 4.90 7.10 1.70 Todas as vacinas obrigatrias at os 6 meses em dia 1 Total de crianas na amostra 3019 1377 7550 1062 479 2504 907 440 2313 1050 458 2733 % crianas 89.14 90.17 88.61 87.12 87.16 82.54 89.53 89.35 87.94 91.54 92.47 92.48ep 1.00 1.20 1.00 1.50 1.80 2.50 1.50 2.60 2.30 1.70 2.00 1.00 70% das vacinas em dia Total de crianas na amostra 3019 1377 7550 1062 479 2504 907 440 2313 1050 458 2733 % crianas 94.05 94.29 93.97 91.93 94.25 91.26 94.63 92.05 93.28 96.53 94.98 95.84ep 0.70 0.80 0.80 1.30 0.90 1.30 1.10 2.50 1.50 0.90 1.20 1.00 70% das vacinas obrigatrias at os 6 meses em dia 1 Total de crianas na amostra 3019 1377 7550 1062 479 2504 907 440 2313 1050 458 2733 % crianas 95.85 96.13 95.50 93.78 95.50 93.60 96.84 93.00 94.45 98.10 97.47 96.98ep 0.70 0.60 0.70 1.30 0.80 1.00 0.80 2.40 1.40 0.60 0.70 1.00 Posse do carto de vacinas 1 Total de crianas na amostra 3431 1613 8709 1199 552 2870 1063 532 2767 1169 529 3072 % crianas 85.95 86.65 85.33 85.61 88.68 81.00 86.90 87.68 86.71 86.05 85.03 87.69ep 1.90 1.50 1.50 2.40 1.40 3.30 2.00 1.50 1.50 3.70 2.50 1.90

    Fonte: AIBF, 2005. Notas: T = Tratamento e C = comparao. 1 De acordo com o Programa Nacional de Vacinao 2006, as vacinas obrigatrias at os 6 meses de idade so: a BCG e as 1

    e 2 doses de Anti-plio, DPT e Hepatite B. 2 Foram consideradas como tendo o carto de vacinao apenas as crianas que mostraram-no ao entrevistador. *As estimativas foram calculadas considerando o desenho amostral da pesquisa 5. DEFINIO DO EXERCCIO EMPRICO

    Para avaliao dos indicadores de imunizao das crianas beneficirias do Bolsa Famlia foram considerados apenas os domiclios enquadrados como grupo de Tratamento e grupo de Comparao. Seguindo o mtodo padro de avaliao de programas sociais, utilizamos os resultados de no participantes para estimar como estariam os participantes caso no tivessem sido beneficiados pelo programa. A diferena entre os resultados do grupo de Tratamento (participantes) e Comparao (no participantes) a estimativa do impacto bruto do programa.

    Contudo, como a implementao do Bolsa Famlia no foi realizada de forma aleatria entre as famlias elegveis, de forma a se ter um desenho experimental do programa, os resultados de no participantes podem diferir sistematicamente do que seriam os resultados de participantes caso no tivessem o programa, o que gera vis de seleo nas estimativas de impacto (Heckman, Ichimura, Smith e Todd, 1998). Um ponto de partida para avaliao de programas sociais, cujo desenho no experimental, supor que a participao no programa baseada apenas em variveis observadas anteriores ao tratamento e que exista uma justaposio suficiente entre a distribuio dessas variveis para os grupos de Tratamento e Comparao (Abadie e Imbens, 2001). Sob tais hipteses, os indivduos semelhantes em termos dessas variveis so pareados e estima-se a diferena mdia entre eles.

    Como o pareamento de indivduos considerando-se um nmero grande de caractersticas observadas (um vetor de dimensionalidade n) pode se tornar pouco factvel, Rosenbaum e Rubin (1983) propem o Propensity Score Matching (PSM), ou Pareamento com Escore de Propenso, como

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    forma de tratar o problema de multidimensionalidade das caractersticas observveis. No PSM, o pareamento feito com base na probabilidade de participao no programa, estimada a partir de caractersticas observadas anteriores ao tratamento. Assim so formados pares de indivduos do grupo de Tratamento e de Comparao com escores de propenso semelhantes e, em seguida, estima-se a diferena mdia entre eles. 5.1. Especificao do Escore de Propenso

    O escore de propenso a probabilidade de uma famlia, ou domiclio, receber a transferncia do programa, condicionada a um vetor de caractersticas X. Esse vetor X corresponde aos critrios de focalizao do programa, tal que o escore de propenso, ( )Xp , definido pela medida de probabilidade condicional de tratamento, 1=D : ( ) [ ]XDXp |1Pr == . Uma suposio que deve ser assumida a chamada condio de equilbrio, representada como: ( )XpXD | .

    Essa condio implica que se a distribuio do escore de propenso a mesma entre as amostras de tratamento e controle, a distribuio de caractersticas que determinam esse escore tambm a mesma nas duas amostras. Dessa forma, as amostras de tratados e controle esto equilibradas, ou balanceadas.

    O escore de propenso do Bolsa Famlia foi estimado utilizando um modelo paramtrico de escolha binria. Em particular, um modelo probit, cuja unidade de anlise so os domiclios. Como variveis explicativas desse modelo probit, foram selecionadas aquelas que, por hiptese, so relevantes na determinao do tratamento e no foram alteradas em virtude dele (hiptese de ignorabilidade do tratamento). Nesse conjunto de caractersticas observadas foram includos dois nveis de variveis: municipais e domiciliares.

    A incluso de variveis municipais visa tanto capturar a abrangncia do programa anterior ao perodo analisado como o grau de pobreza e desenvolvimento do municpio, sob a hiptese de que domiclios localizados em municpios onde o programa mais abrangente, os nveis de pobreza so mais elevados e o desenvolvimento menor tero maior probabilidade de participao no programa. Nesse grupo de variveis incluem-se: total de domiclios com renda domiciliar per capita at R$ 100/total de domiclios; total de famlias com Bolsa Escola em 2001/ total de famlias com renda domiciliar per capita at R$ 200; taxa de fecundidade total; mortalidade at um ano de idade; percentual de pessoas em domiclios subnormais; mdia de anos de estudo das pessoas com 25 anos ou mais de idade6.

    J as variveis domiciliares captam tanto caractersticas de composio familiar, como de escolaridade dos pais e infra-estrutura domiciliar como proxy para renda e bem-estar anterior ao programa, supondo que condies de infra-estrutura domiciliar externa, como acesso a servios pblicos bsicos, e interna, a exemplo de caractersticas de construo do imvel, no so alteradas no curtssimo prazo pelo choque de renda oferecido pelo programa.

    6 As informaes municipais so Censo Demogrfico 2000 e do Ministrio do Desenvolvimento Social. Os valores de renda

    domiciliar esto a preos de 2005.

  • 13

    A grande dificuldade para definio de caractersticas observadas pr-determinadas est na limitao da nossa base de dados, na qual observamos apenas a situao do grupo de Tratamento e Comparao aps a implantao do Bolsa Famlia. Logo, para atender a hiptese de ignorabilidade do tratamento precisamos fazer algumas suposies sobre a exogeneidade em relao ao tratamento das variveis includas na estimativa do escore de propenso.

    A tabela 2 apresenta os resultados para o modelo probit utilizado para a estimao do escore de propenso. De maneira geral, os quatro modelos estimados apresentam bom grau de ajustamento. As variveis mais relevantes para explicar a probabilidade de participar do programa so a proporo de domiclios com renda per capita at R$100,00, a composio familiar e a densidade do domicilio. Estas trs variveis esto associadas s condies de elegibilidade ao programa: a proporo de domiclios com renda per capita at R$100,00 pode ser interpretada como proxy para a propenso do municpio receber o programa Bolsa Famlia enquanto que a composio domiciliar e densidade do domiclio refletem provavelmente a presena de crianas no domicilio.

  • 14

    TABELA 2 Estimao do Modelo Probit para Probabilidade de Participao do Domiclio no Programa Bolsa Famlia,

    Brasil e regies, 2005

    Regio Variveis BR NE N/CO SE/S VARIVEIS MUNICIPAIS Proporo de domiclios com renda per capita at R$ 100 1.467** (0.662) -0.226 (0.954) 2.043** (0.958) 2.272 (1.644)

    Proporo de domiclios com renda per capita at R$ 200 atendidos pelo Bolsa Escola em 2001

    0.469 (0.385) -0.261 (0.580) -0.254 (0.526) 1.220 (0.832)

    Taxa de fecundidade total, 2000 -0.056 (0.085) 0.138 (0.126) -0.155 (0.102) -0.197 (0.260) Mortalidade at um ano de idade, 2000 -0.004 (0.004) -0.009 (0.006) -0.008 (0.010) Percentual de pessoas que vivem em domiclios subnormais, 2000 0.003 (0.008) -0.005 (0.013) -0.003 (0.006) 0.013 (0.016)

    Mdia de anos de estudo das pessoas de 25 anos ou mais de idade, 2000 -0.034 (0.053) -0.140* (0.084) 0.007 (0.074) 0.026 (0.119)

    Caractersticas Domiciliares Composio da Famlia Casal com filhos maiores de 14 -0.529*** (0.169) -0.123 (0.309) -0.284 (0.290) -0.362 (0.357) Casal com filhos menores de 14 0.350 (0.227) 0.191 (0.199) 0.285 (0.241) Chefe do domiclio do sexo do feminino 0.205* (0.116) 0.122 (0.185) 0.621*** (0.185) 0.365* (0.206)

    -0.015 (0.064) 0.068 (0.107) -0.105 (0.079) -0.034 (0.107) Nmero de crianas de 0 a 6 anos no domiclio Escolaridade dos Responsveis Homem com 0 anos de estudo 0.058 (0.176) 0.068 (0.195) 0.027 (0.243) 0.031 (0.342) Homem com at 3 anos de estudo 0.054 (0.173) 0.057 (0.207) -0.270 (0.254) 0.070 (0.289) Homem com at 4 anos de estudo 0.090 (0.175) 0.328 (0.214) 0.061 (0.238) 0.106 (0.281) Homem com at 7 anos de estudo 0.248 (0.158) -0.151 (0.230) 0.585*** (0.191) 0.178 (0.239) Mulher com 0 anos de estudo -0.009 (0.155) 0.472** (0.207) 0.056 (0.256) -0.400 (0.295) Mulher com at 3 anos de estudo -0.259 (0.215) -0.183 (0.265) 0.300 (0.255) Mulher com at 4 anos de estudo 0.305** (0.134) 0.618*** (0.201) 0.336 (0.209) 0.102 (0.248) Mulher com at 7 anos de estudo 0.060 (0.128) -0.330* (0.183) -0.158 (0.157) 0.356* (0.206) Infra-Estrutura do Domiclio Tem coleta de lixo -0.182 (0.161) -0.221 (0.174) 0.052 (0.168) Esgotamento sanitrio por fossa -0.173 (0.124) -0.052 (0.151) 0.057 (0.209) -0.241 (0.269) Esgoto sem tratamento -0.076 (0.165) -0.035 (0.245) Rede de esgotamento sanitrio 0.286 (0.204) -0.079 (0.250) Rede geral de gua 0.217 (0.142) 0.155 (0.184) 0.303** (0.140) 0.005 (0.250) gua canalizada -0.054 (0.133) 0.026 (0.184) -0.255* (0.154) -0.107 (0.260) Parede de alvenaria 0.030 (0.105) 0.114 (0.143) -0.053 (0.128) -0.079 (0.146) Piso sem acabamento 0.194* (0.100) 0.205 (0.150) -0.007 (0.127) 0.383*** (0.143) Telhado sem acabamento 0.012 (0.164) 0.155 (0.334) 0.353 (0.405) -0.033 (0.182) Densidade de pessoas por dormitrio 0.169*** (0.043) 0.088 (0.065) 0.182*** (0.052) 0.163** (0.066) Domiclio prprio 0.240** (0.122) 0.156 (0.132) 0.263* (0.155) 0.143 (0.171) Domicilio alugado 0.068 (0.193) -0.282 (0.203) -0.141 (0.197) Outra condio de domiclio 0.074 (0.133) Constante -1.447*** (0.545) -0.410 (0.882) -1.608** (0.678) -1.795 (1.244) Pseudo R2 0.116 0.136 0.099 0.124 Observaes 4523 1540 1324 1659

    Fonte: AIBF 2005, Censo Demogrfico 2000 e Ministrio do Desenvolvimento Social, 2006. Notas: * significativo a 10%; ** significativo a 5%; *** significativo a 1%. 1 Erros padres robustos entre parnteses considerando desenho amostral.

    Os grficos 1, 2, 3 e 4 da Figura 1 reportam a funo densidade do escore de propenso para os grupos de tratamento e comparao. possvel observar que para valores menores do escore de propenso existe uma maior participao de domiclios no beneficirios do Bolsa Famlia enquanto que para valores superiores a 0.5 a proporo de domiclios beneficirios do Bolsa sempre superior de no beneficirios. Essas densidades refletem a focalizao do programa.

  • 15

    FIGURA 1 Distribuio da probabilidade de participao no programa Bolsa Famlia, crianas de 0 a 6 anos,

    Tratamento e Comparao, Brasil e regies, 2005

    Grfico 1 Grfico 2

    Grfico 3 Grfico 4

    01

    23

    0 .2 .4 .6 .8 1Valor do Pscore

    Tratamento Comparao

    Fonte: AIBF 2005

    Crianas de 0 a 6 anos - BrasilDistribuio da Probabilidade de Participao no Programa

    0.5

    11

    .52

    0 .2 .4 .6 .8 1Valor do Pscore

    Tratamento Comparao

    Fonte: AIBF 2005

    Crianas de 0 a 6 anos - NordesteDistribuio da Probabilidade de Participao no Programa

    01

    23

    4

    0 .2 .4 .6 .8 1Valor do Pscore

    Tratamento Comparao

    Fonte: AIBF 2005

    Crianas de 0 a 6 anos - Sudeste e SulDistribuio da Probabilidade de Participao no Programa

    01

    23

    4

    0 .2 .4 .6 .8 1Valor do Pscore

    Tratamento Comparao

    Fonte: AIBF 2005

    Crianas de 0 a 6 anos - Norte e Centro-OesteDistribuio da Probabilidade de Participao no Programa

    A fim de validar a qualidade da estimao do escore de propenso estimado apresentamos ainda em uma anlise grfica a distribuio da renda domiciliar per capita excluindo os rendimentos oriundos do programa segundo o escore de propenso para os grupos de tratamento e comparao. Nosso pressuposto que a renda domiciliar per capita excluindo o valor recebido atravs do Bolsa Famlia ortogonal participao no programa. Em outras palavras estamos supondo que a participao no programa no afeta a gerao de outros rendimentos no domiclio. Supondo esta ortogonalidade, uma forma de caracterizar a qualidade da estimao do escore de propenso analisar as distribuies da renda domiciliar per capita para os dois grupos segundo os valores dos escores de propenso. Quanto mais superpostas forem estas distribuies melhor a qualidade do escore de propenso estimado. Os grficos 1,2,3 e 4 da figura 2 mostram que a distribuio da renda segundo os valores do escore de propenso apresenta comportamento esperado e bastante similar entre os dois grupos para Brasil e todas as regies. A distribuio da renda domiciliar per capita monotonicamente decrescente segundo os valores do escore de propenso. Ou seja, domiclios com renda domiciliar per capita superior tm uma probabilidade menor de participar no programa.

  • 16

    FIGURA 2 Distribuio da renda domiciliar per capita segundo o escore de propenso domiciliar, crianas de 0 a 6

    anos, Tratamento e Comparao, Brasil e regies, 2005

    Grfico 1 Grfico 2

    Grfico 3 Grfico 4

    50

    60

    70

    80

    90

    10

    0

    0 .2 .4 .6 .8 1 Pscore

    Tratamento Comparao

    Fonte: AIBF 2005

    Crianas de 0 a 6 anos, Sudeste e SulDistribuio da Renda Domiciliar per capita por Pscore

    40

    60

    80

    10

    01

    20

    0 .2 .4 .6 .8 1 Pscore

    Tratamento Comparao

    Fonte: AIBF 2005

    Crianas de 0 a 6 anos - Norte e Cenro-OesteDistribuio da Renda Domiciliar per capita por Pscore

    20

    40

    60

    80

    10

    01

    20

    0 .2 .4 .6 .8 1 Pscore

    Tratamento Comparao

    Fonte: AIBF 2005

    Crianas de 0 a 6 anos - BrasilDistribuio da Renda Domiciliar per capita por Pscore

    20

    40

    60

    80

    10

    0

    0 .2 .4 .6 .8 1 Pscore

    Tratamento Comparao

    Fonte: AIBF 2005

    Crianas de 0 a 6 anos - NordesteDistribuio da Renda Domiciliar per capita por Pscore

    5.2. Tcnica de Pareamento

    Uma vez calculados os escores de propenso para cada domiclio a informao adicionada a cada uma das crianas de 0 a 6 anos residentes nos mesmos. Depois, necessrio utilizar algum mtodo de pareamento, ou seja, algum mtodo que permita definir quais so os controles para cada unidade tratada. Nesse trabalho, utilizamos a tcnica de pareamento por vizinhana mais prxima (Nearest Neighbor Matching NNM) com reposio.

    No NNM, para cada criana residente em um domiclio beneficirio do Bolsa Famlia procurada uma criana no beneficiria de quaisquer programas sociais com o escore de propenso mais prximo. Ou seja, o pareamento realizado de forma a minimizar a diferena absoluta entre os escores de propenso do domiclio da criana tratada e da criana no-tratada. Formalmente, considere que ip e jp denotam o escore de propenso das crianas tratadas e no-tratadas, respectivamente. O

    conjunto de crianas no-tratadas pareadas com as crianas tratadas dado por:

    jijppiC = min)( ,

    onde )(iC pode ser calculado com e sem reposio. Quando a reposio permitida significa que um mesmo indivduo no tratado pode ser pareado com mais de um indivduo tratado.

  • 17

    Identificados os vizinhos mais prximos de cada uma das crianas nos grupos de Tratamento e Comparao possvel estimar trs efeitos distintos: a) o efeito mdio sobre os tratados (ATT), b) o efeito mdio sobre os controles (ATC) e c) o efeito mdio do tratamento (ATE). O efeito mdio sobre os tratados a mdia da diferenas entre as crianas tratadas e os seus respectivos pares; o efeito mdio sobre os controles a mdia da diferenas entre as crianas do grupo de controle e os seus respectivos pares. Por fim, o efeito mdio do tratamento, considera a mdia das diferenas entre todas as crianas do grupo de Tratamento e de Comparao e seus respectivos pares.

    A tabela 3 apresenta as mdias das covariadas includas na estimao do escore de propenso antes e depois de realizado o pareamento entre os grupos de tratamento e comparao para o Brasil. As maiores diferenas so observadas para as variveis de municpio - mortalidade at um ano, proporo de domiclios com renda per capita at R$100 - ; para as variveis de escolaridade dos responsveis no domiclio e algumas caractersticas de infra-estrutura domiciliar. De maneira geral, os indicadores observados para o grupo de tratamento so sempre piores que os observados para os domiclios de comparao, o que mais uma vez sugere focalizao do programa. Em outras palavras, a anlise dessas mdias sugere que as crianas tratadas residem em municpios com grau de desenvolvimento mais atrasado, domiclios com menor infra-estrutura e chefiados por responsveis menos escolarizados.

    A coluna da diferena das mdias entre os grupos de tratamento e comparao evidencia que o pareamento praticamente no tem efeito no sentido de tornar os dois grupos mais similares. Todas as diferenas que eram significativas antes do pareamento se mantiveram. Em parte, isso pode estar ocorrendo em funo do reduzido nmero de observaes de comparao. No caso do Brasil, a amostra de crianas no grupo de comparao cerca de um tero da amostra de tratados. A qualidade do pareamento depende do nmero de controles. Esse nmero reduzido de crianas no beneficirias na amostra decorrncia do processo de expanso e universalizao do benefcio que se deu principalmente em 2004, antes da pesquisa ir a campo. Essa uma restrio que no pode ser mediada pelo uso de outras tcnicas de avaliao. A dificuldade que o desenho da avaliao foi proposto posteriormente implementao do programa.

  • 18

    TABELA 3 Diferenas entre a Mdia das Covariadas para os Grupos de Tratamento e Comparao antes e aps o

    Pareamento, Brasil, 2005

    Antes Aps Covariadas T C Dif T C Dif Mortalidade at um ano de idade (por mil), 2000 37,59 31,11 6,48*** 37,59 28,04 9,55*** Taxa de fecundidade total, 2000 2,75 2,50 0,25*** 2,75 2,45 0,30*** Percentual de pessoas que vivem em domiclios subnormais, 2000 3,06 3,47 -0,41 3,06 2,96 0,10

    Mdia de anos de estudo das pessoas de 25 anos ou mais de idade, 2000 4,77 5,43 -0,66*** 4,77 5,58 -0,81***

    Proporo de domiclios com renda per capita at R$ 100 0,28 0,19 0,08*** 0,28 0,16 0,11*** Proporo de domiclios com renda per capita at R$ 200 atendidos pelo Bolsa Escola em 2001 0,31 0,27 0,04*** 0,31 0,26 0,05***

    Casal com filhos maiores de 14 0,04 0,06 -0,01 0,04 0,05 -0,00 Nmero de crianas de 0 a 6 anos no domiclio 1,83 1,69 0,14 1,83 1,69 0,14 Homem com 0 anos de estudo 0,23 0,11 0,11*** 0,23 0,10 0,12*** Homem com at 3 anos de estudo 0,39 0,21 0,18*** 0,39 0,19 0,20*** Homem com at 4 anos de estudo 0,53 0,31 0,22*** 0,53 0,31 0,23*** Homem com at 7 anos de estudo 0,68 0,48 0,21*** 0,68 0,46 0,22*** Mulher com 0 anos de estudo 0,21 0,11 0,10*** 0,21 0,12 0,09** Mulher com at 4 anos de estudo 0,59 0,38 0,22*** 0,59 0,38 0,21*** Mulher com at 7 anos de estudo 0,79 0,64 0,16*** 0,79 0,64 0,15*** Domiclio tem coleta de lixo? 0,69 0,78 -0,09*** 0,69 0,78 -0,09** Domiclio tem esgotamento sanitrio por fossa 0,42 0,42 0,00 0,42 0,39 0,03 Domiclio com esgoto sem tratamento 0,26 0,17 0,09** 0,26 0,16 0,10*** Densidade de pessoas por dormitrio 2,74 2,56 0,18 2,74 2,59 0,15 Domiclio com parede de alvenaria 0,62 0,64 -0,03 0,62 0,64 -0,03 Domiclio com piso sem acabamento 0,69 0,50 0,19*** 0,69 0,46 0,22*** Domiclio com telhado sem acabamento 0,10 0,17 -0,06 0,10 0,18 -0,07 Domiclio prprio 0,59 0,49 0,10** 0,59 0,45 0,14*** Outra condio de domiclio 0,26 0,28 -0,03 0,26 0,30 -0,04 Chefe do domiclio do sexo do feminino 0,33 0,34 -0,02 0,33 0,35 -0,03 Domiclio com rede geral de gua 0,67 0,73 -0,06 0,67 0,75 -0,09* Domiclio com gua canalizada 0,73 0,85 -0,12*** 0,73 0,90 -0,17***Fonte: AIBF 2005, Censo Demogrfico 2000 e Ministrio do Desenvolvimento Social, 2006. Nota: C = Comparao, T = Tratamento e Dif = Tratamento Comparao. * significativo a 10%; ** significativo a 5%; *** significativo a 1% As estimativas foram calculadas considerando o desenho amostral da pesquisa.

    A tabela 4 reporta as mdias das variveis includas na estimao do escore de propenso antes

    e depois do pareamento para a regio Nordeste. De maneira geral, a situao das crianas tratadas em relao s no beneficirias similar observada para o Brasil. As crianas tratadas residem em municpios com elevada mortalidade infantil e menor nvel de desenvolvimento econmico. Chama a ateno o diferencial de escolaridade dos responsveis no domiclio: em 37% dos domiclios beneficirios do Bolsa os homens responsveis tem menos de 01 ano de estudo enquanto que para as crianas residentes em domiclios do grupo de comparao esse percentual de 16. Esse diferencial tambm observado para as mulheres responsveis. Essa distribuio da escolaridade pode refletir o diferencial de renda observado no grfico 2 da figura 2.

    Em relao ao pareamento este no apresenta nenhum efeito uma vez que todas as observaes do grupo de comparao foram includas no pareamento.

  • 19

    TABELA 4 Diferenas entre a Mdia das Covariadas para os Grupos de Tratamento e Comparao antes e aps o

    Pareamento, Nordeste, 2005

    Antes Aps Covariadas T C Dif T C Dif Mortalidade at um ano de idade (por mil), 2000 51,35 48,78 2,57** 51,35 48,78 2,57** Taxa de fecundidade total, 2000 2,99 2,60 0,39*** 2,99 2,60 0,39*** Percentual de pessoas que vivem em domiclios subnormais, 2000 2,91 4,76 -1,84** 2,91 4,76 -1,84**

    Mdia de anos de estudo das pessoas de 25 anos ou mais de idade, 2000 3,78 4,62 -0,84*** 3,78 4,62 -0,84***

    Proporo de domiclios com renda per capita at R$ 100 0,42 0,35 0,07*** 0,42 0,35 0,07*** Proporo de domiclios com renda per capita at R$ 200 atendidos pelo Bolsa Escola em 2001 0,36 0,34 0,02*** 0,36 0,34 0,02***

    Casal com filhos menores de 14 0,80 0,59 0,21*** 0,80 0,59 0,21*** Casal com filhos maiores de 14 0,05 0,08 -0,04 0,05 0,08 -0,04 Nmero de crianas de 0 a 6 anos no domiclio 1,93 1,95 -0,02 1,93 1,95 -0,02 Homem com 0 anos de estudo 0,37 0,16 0,20*** 0,37 0,16 0,20*** Homem com at 3 anos de estudo 0,54 0,29 0,25*** 0,54 0,29 0,25*** Homem com at 4 anos de estudo 0,67 0,38 0,29*** 0,67 0,38 0,29*** Homem com at 7 anos de estudo 0,75 0,53 0,23*** 0,75 0,53 0,23*** Mulher com 0 anos de estudo 0,33 0,15 0,19*** 0,33 0,15 0,19*** Mulher com at 3 anos de estudo 0,49 0,29 0,20*** 0,49 0,29 0,20*** Mulher com at 4 anos de estudo 0,66 0,45 0,21* 0,66 0,45 0,21* Mulher com at 7 anos de estudo 0,80 0,67 0,13** 0,80 0,67 0,13** Domiclio tem coleta de lixo 0,54 0,75 -0,21*** 0,54 0,75 -0,21***Domiclio tem rede de esgotamento sanitrio 0,24 0,26 -0,02 0,24 0,26 -0,02 Domiclio tem esgotamento sanitrio por fossa 0,43 0,47 -0,04 0,43 0,47 -0,04 Densidade de pessoas por dormitrio 2,58 2,57 0,01 2,58 2,57 0,01 Domiclio com parede de alvenaria 0,69 0,73 -0,03 0,69 0,73 -0,03 Domiclio com piso sem acabamento 0,85 0,74 0,11* 0,85 0,74 0,11* Domiclio com telhado sem acabamento 0,02 0,08 -0,06** 0,02 0,08 -0,06** Domiclio alugado 0,14 0,22 -0,08 0,14 0,22 -0,08 Domiclio prprio 0,64 0,59 0,05 0,64 0,59 0,05 Chefe do domiclio do sexo do feminino 0,29 0,43 -0,14* 0,29 0,43 -0,14* Domiclio com rede geral de gua 0,54 0,65 -0,11 0,54 0,65 -0,11 Domiclio com gua canalizada 0,56 0,63 -0,06 0,56 0,63 -0,06 Fonte: AIBF 2005, Censo Demogrfico 2000 e Ministrio do Desenvolvimento Social, 2006. Nota: C = Comparao, T = Tratamento e Dif = Tratamento Comparao. * significativo a 10%; ** significativo a 5%; *** significativo a 1% As estimativas foram calculadas considerando o desenho amostral da pesquisa.

    Na tabela 5 observamos que na regio Norte/Centro-Oeste as diferenas entre os dois grupos so menos significativas. Nesse caso os municpios de residncia so mais similares em grau de desenvolvimento e as diferenas de escolaridade dos responsveis s ocorrem para os homens responsveis com at 7 anos de estudo.

    Como observado para o Brasil, o pareamento no consegue reduzir a heterogeneidade entre os dois grupos.

  • 20

    TABELA 5 Diferenas entre a Mdia das Covariadas para os Grupos de Tratamento e Comparao antes e aps o

    Pareamento, Norte e Centro-Oeste, 2005

    Antes Aps Covariadas T C Dif T C Dif Taxa de fecundidade total, 2000 3,05 2,80 0,24* 3,05 2,72 0,33** Percentual de pessoas que vivem em domiclios subnormais, 2000 4,41 4,02 0,38 4,41 3,48 0,93

    Mdia de anos de estudo das pessoas de 25 anos ou mais de idade, 2000 5,13 5,18 -0,04 5,13 5,13 0,00

    Proporo de domiclios com renda per capita at R$ 100 0,24 0,20 0,04*** 0,24 0,18 0,05*** Proporo de domiclios com renda per capita at R$ 200 atendidos pelo Bolsa Escola em 2001 0,26 0,26 0,01 0,26 0,27 -0,01

    Casal com filhos menores de 14 0,77 0,77 0,00 0,77 0,78 -0,01 Casal com filhos maiores de 14 0,06 0,09 -0,03 0,06 0,10 -0,04 Nmero de crianas de 0 a 6 anos no domiclio 1,89 1,80 0,09 1,89 1,77 0,13 Homem com 0 anos de estudo 0,16 0,18 -0,03 0,16 0,19 -0,03 Homem com at 3 anos de estudo 0,30 0,28 0,02 0,30 0,30 0,00 Homem com at 4 anos de estudo 0,49 0,36 0,14* 0,49 0,38 0,12 Homem com at 7 anos de estudo 0,66 0,49 0,17*** 0,66 0,52 0,15** Mulher com 0 anos de estudo 0,15 0,16 -0,01 0,15 0,16 -0,01 Mulher com at 3 anos de estudo 0,27 0,25 0,02 0,27 0,27 0,00 Mulher com at 4 anos de estudo 0,45 0,42 0,03 0,45 0,47 -0,01 Mulher com at 7 anos de estudo 0,74 0,68 0,06 0,74 0,71 0,03 Domiclio tem coleta de lixo 0,83 0,72 0,11** 0,83 0,67 0,16*** Domiclio tem esgotamento sanitrio por fossa 0,73 0,72 0,01 0,73 0,77 -0,04 Domiclio com esgoto sem tratamento 0,13 0,11 0,02 0,13 0,09 0,04 Densidade de pessoas por dormitrio 2,94 2,45 0,49** 2,94 2,35 0,59*** Domiclio com parede de alvenaria 0,48 0,48 -0,01 0,48 0,49 -0,01 Domiclio com piso sem acabamento 0,71 0,62 0,09 0,71 0,61 0,09 Domiclio com telhado sem acabamento 0,06 0,06 0,01 0,06 0,04 0,02 Domiclio alugado 0,12 0,18 -0,06 0,12 0,20 -0,09* Domiclio prprio 0,64 0,43 0,21*** 0,64 0,38 0,26*** Chefe do domiclio do sexo do feminino 0,22 0,16 0,06 0,22 0,14 0,08** Domiclio com rede geral de gua 0,65 0,57 0,08 0,65 0,56 0,09 Domiclio com gua canalizada 0,74 0,86 -0,12*** 0,74 0,87 -0,14***Fonte: AIBF 2005, Censo Demogrfico 2000 e Ministrio do Desenvolvimento Social, 2006. Nota: C = Comparao, T = Tratamento e Dif = Tratamento Comparao. * significativo a 10%; ** significativo a 5%; *** significativo a 1% As estimativas foram calculadas considerando o desenho amostral da pesquisa.

    A Tabela 6 reporta as mdias das covariadas antes e depois do pareamento para a regio Sudeste/Sul. As principais diferenas ocorrem na escolaridade dos responsveis no domiclio. Nesse caso, entretanto, os diferenciais so favorveis aos grupos de tratamento. Nessa regio, assim como no Nordeste, o pareamento no descarta nenhuma observao do grupo de comparao.

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    TABELA 6 Diferenas entre a Mdia das Covariadas para os Grupos de Tratamento e Comparao antes e aps o

    Pareamento, Sudeste e Sul, 2005

    Antes Aps Covariadas T C Dif T C Dif Mortalidade at um ano de idade (por mil), 2000 22,49 21,83 0,66 22,49 21,83 0,66 Taxa de fecundidade total, 2000 2,35 2,33 0,02 2,35 2,33 0,02 Percentual de pessoas que vivem em domiclios subnormais, 2000 2,77 2,54 0,23 2,77 2,54 0,23

    Mdia de anos de estudo das pessoas de 25 anos ou mais de idade, 2000 5,90 5,97 -0,08 5,90 5,97 -0,08

    Proporo de domiclios com renda per capita at R$ 100 0,11 0,11 0,01 0,11 0,11 0,01 Proporo de domiclios com renda per capita at R$ 200 atendidos pelo Bolsa Escola em 2001 0,27 0,24 0,03** 0,27 0,24 0,03**

    Casal com filhos menores de 14 0,77 0,76 0,01 0,77 0,76 0,01 Casal com filhos maiores de 14 0,03 0,03 0,01 0,03 0,03 0,01 Nmero de crianas de 0 a 6 anos no domiclio 1,68 1,51 0,16** 1,68 1,51 0,16** Homem com 0 anos de estudo 0,07 0,06 0,01 0,07 0,06 0,01 Homem com at 3 anos de estudo 0,22 0,13 0,09** 0,22 0,13 0,09** Homem com at 4 anos de estudo 0,38 0,26 0,12* 0,38 0,26 0,12* Homem com at 7 anos de estudo 0,60 0,44 0,16*** 0,60 0,44 0,16***Mulher com 0 anos de estudo 0,08 0,08 0,00 0,08 0,08 0,00 Mulher com at 3 anos de estudo 0,27 0,18 0,09* 0,27 0,18 0,09* Mulher com at 4 anos de estudo 0,55 0,32 0,24*** 0,55 0,32 0,24***Mulher com at 7 anos de estudo 0,81 0,60 0,21*** 0,81 0,60 0,21***Domiclio tem rede de esgotamento sanitrio 0,48 0,59 -0,10 0,48 0,59 -0,10 Domiclio tem esgotamento sanitrio por fossa 0,31 0,27 0,04 0,31 0,27 0,04 Densidade de pessoas por dormitrio 2,88 2,61 0,27 2,88 2,61 0,27 Domiclio com parede de alvenaria 0,56 0,67 -0,10** 0,56 0,67 -0,10**Domiclio com piso sem acabamento 0,47 0,32 0,16** 0,47 0,32 0,16** Domiclio com telhado sem acabamento 0,22 0,26 -0,04 0,22 0,26 -0,04 Domiclio alugado 0,18 0,25 -0,07 0,18 0,25 -0,07 Domiclio prprio 0,51 0,46 0,05 0,51 0,46 0,05 Chefe do domiclio do sexo do feminino 0,40 0,37 0,03 0,40 0,37 0,03 Domiclio com rede geral de gua 0,83 0,83 0,00 0,83 0,83 0,00 Domiclio com gua canalizada 0,94 0,98 -0,04* 0,94 0,98 -0,04* Fonte: AIBF 2005, Censo Demogrfico 2000 e Ministrio do Desenvolvimento Social, 2006. Nota: C = Comparao, T = Tratamento e Dif = Tratamento Comparao. * significativo a 10%; ** significativo a 5%; *** significativo a 1% As estimativas foram calculadas considerando o desenho amostral da pesquisa.

    6. RESULTADOS DO PROGRAMA 6.1. Anlise no Condicionada

    A Tabela 7 apresenta os resultados do efeito mdio do tratamento para as crianas tratadas (ATT), para as crianas do grupo de comparao (ATC) e para todas as crianas da amostra indistintamente (ATE). Em todos os casos foram incorporados os pesos amostrais das crianas para estimao das diferenas mdias entre os pares de crianas.

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    TABELA 7 Efeito Mdio do Programa Bolsa Famlia na Imunizao de Crianas de 0 a 6 Anos - Brasil e Regies

    Brasil Nordeste Norte/Centro-Oeste Sudeste/Sul

    Vacinao em Dia -0,019 0,008 -0,007 0,005 ATT (0,031) (0,045) (0,039) (0,058) 0,055 0,059 0,037 0,102* ATC (0,039) (0,070) (0,069) (0,053) 0,029 0,034 0,026 0,074* ATE (0,029) (0,043) (0,054) (0,045)

    Todas as vacinas obrigatrias at os 6 meses em dia 0,013 0,038 0,009 0,036 ATT (0,023) (0,038) (0,030) (0,040) 0,044 0,019 0,044 0,052 ATC (0,031) (0,066) (0,053) (0,038) 0,033 0,029 0,036 0,047 ATE (0,022) (0,039) (0,042) (0,031)

    70% das vacinas em dia 0 -0,007 0,017 0,046 ATT (0,017) (0,030) (0,023) (0,031)

    0,013 0,035 0,024 0,028 ATC (0,024) (0,045) (0,040) (0,029) 0,009 0,014 0,022 0,033 ATE (0,017) (0,028) (0,032) (0,024)

    70% das vacinas obrigatrias at os 6 meses em dia 0,001 -0,029 0,014 0,039 ATT (0,015) (0,024) (0,019) (0,026) 0,02 0,025 0,026 0,027 ATC (0,019) (0,037) (0,037) (0,023) 0,013 -0,002 0,023 0,031 ATE (0,014) (0,023) (0,028) (0,020)

    Posse do carto de vacinas -0,002 -0,016 0,006 0

    ATT (0,007) (0,010) (0,008) (0,010) 0,003 -0,005 0,017 0

    ATC (0,007) (0,012) (0,020) (0,005) ATE 0,001 -0,011 0,014 0 (0,006) (0,008) (0,014) (0,006) Total de Observaes 5324 1831 1597 1896 Fonte: Elaborao dos autores a partir de dados da pesquisa AIBF, 2005. Nota: ATT = Efeito Mdio sobre os Tratados; ATC = Efeito Mdio sobre o grupo de Comparao; ATE= Efeito Mdio Total Erro padro robusto entre parnteses. * significativo a 10%; ** significativo a 5%. *** significativo a 1%.

    Os resultados apresentados na tabela 7 indicam que a insero no programa Bolsa Famlia no altera a situao de imunizao das crianas de 0 a 6 anos. Foram encontrados efeitos do programa Bolsa Famlia apenas sobre a imunizao de crianas de 0 a 6 anos na Regio Sudeste/Sul, embora pouco significativos e apenas para o indicador de vacinao em dia. Esse resultado corrobora a anlise descritiva. A proporo de crianas com vacinao em dia no grupo de comparao seria cerca de 10% maior caso tivessem sido atendidas pelo Bolsa Famlia. Os resultados da Tabela 7 apontam ainda que, na mdia, o efeito do programa Bolsa Famlia um aumento de cerca de 7% na imunizao, mas com um nvel de significncia de apenas 10%.

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    6.2. Anlise Condicionada

    Os resultados anteriores apontam para um efeito positivo, embora pouco significativo, do programa Bolsa Famlia na imunizao de crianas de 0 a 6 anos, tanto para as crianas no grupo de Comparao (ATC), como para os grupos de Tratamento e Comparao considerados conjuntamente (ATE). Contudo, esse efeito positivo, especialmente sobre as crianas no grupo de comparao, pode estar refletindo diferenas de acesso aos servios de sade entre as crianas dos dois grupos. Como forma de investigar a possvel correlao entre o que definimos como efeito do programa Bolsa Famlia e tais diferenas de acesso, re-estimamos o efeito mdio sobre as crianas no grupo de Comparao e o efeito mdio total, incluindo como controles o total de leitos per capita e o percentual da populao coberta pelo Programa Sade da Famlia, do Ministrio da Sade, no municpio de residncia de cada criana.

    Para tanto, estimamos uma regresso por mnimos quadrados ordinrios, com correo do desenho amostral, em que a varivel dependente a diferena entre cada criana e seu respectivo par no outro grupo e, como variveis independentes, inclumos, alm da constante, que capta o efeito mdio do tratamento, as variveis de acesso aos servios de sade anteriormente explicitadas. No caso do efeito mdio sobre as crianas no grupo de Comparao, consideram-se na regresso apenas as crianas desse grupo. Para a estimao do efeito mdio do tratamento so includas as crianas do grupo de Comparao e Tratamento.

    Os resultados apresentados na Tabela 8 indicam que, tanto para o ATC como para o ATE, as variveis de acesso includas no modelo no so significativas para explicar as diferenas entre os grupos considerados. Os resultados mostram, ainda, a no significncia da constante, o que reflete a inexistncia de efeito do programa Bolsa Famlia.

    TABELA 8 Efeito Mdio do Programa Bolsa Famlia na Regio Sudeste/Sul Condicionado ao

    Acesso a Servios de Sade

    ATC ATE -56.419 -24.594 Leitos per capita (45.551) (28.358) -0.002 -0.001 Percentual da Populao coberta pelo Programa

    Bolsa Famlia (0.003) (0.002) 0.086 0.016 Constante

    (0.160) (0.108) Total de Observaes 845 1488 R2 0.01 0

    Fonte: Elaborao dos autores a partir de dados da pesquisa AIBF, 2005 e DATASUS. Nota: ATC = Efeito Mdio sobre o grupo de Comparao; ATE= Efeito Mdio Total Erro padro robusto entre parnteses. * significativo a 10%; ** significativo a 5%. *** significativo a 1%.

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    7. CONSIDERAES FINAIS

    Nesse artigo investigamos o impacto do programa Bolsa Famlia sobre a imunizao das crianas de 0 a 6 anos no Brasil e regies. Os principais resultados evidenciam que o programa no altera a condio de vacinao das crianas, muito embora a manuteno do calendrio vacinal seja uma das condicionalidades do programa. A comparao das condies scio-econmicas dos domiclios dos dois grupos revelou que para o Brasil e Nordeste a situao scio-econmica dos domiclios tratados significativamente inferior dos no tratados. Desse modo, uma possvel explicao para a inexistncia de impacto do programa pode ser devido s condies scio-econmicas dessas crianas uma vez que o pareamento no suficiente para reduzir essas diferenas.

    Para a regio Norte/Centro Oeste as diferenas nas covariadas so menos importantes e ainda assim no encontramos diferenciais na imunizao das crianas beneficirias do Bolsa Famlia sugerindo que as condicionalidades no esto sendo atendidas. A regio Sul/Sudeste foi a nica que apresentou resultado positivo para o programa, mas com baixo nvel de significncia e que desaparece na anlise condicionada.

    Por ltimo, vale destacar que a anlise descritiva dos indicadores de imunizao mostra que, a despeito das campanhas de vacinao e da intensificao dos cuidados primrio e preventivo que ocorreram nos ltimos 10 anos, o grau de imunizao ainda no universal entre os mais pobres. Essa constatao refora a necessidade de se investigar as causas do no atendimento das condicionalidades do programa e os custos de monitoramento associados a essa estratgia de poltica pblica.

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    8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ABADIE, A.; IMBENS, G. (2001). Simple and Bias-Corrected Matching Estimators for Average

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