3 caderno outubro 2013

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Caderno Outubro 2013

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  • Avanar! Na luta socialista!

    Avanar! Juventude Comunista!

    Avanar! Pelo pas inteiro

    Com Luiz Carlos Prestes Pelo Povo Brasileiro!

  • INDICE O direito cidade como estratgia para a luta pelo transporte pblico.....................04 Os comunistas e o EIV.....................................................................................................16 A atuao da esquerda no pas.......................................................................................25 Organizao dos Jovens Trabalhadores........................................................................34 Alguns apontamentos sobre a situao das mulheres no capitalismo......................49 Entidades nacionais estudantis, executivas e federaes...........................................55 A situao a importncia da atuao nos DCEs..........................................................73 Observaes e apontamentos sobre a formao da JCA............................................84 Nova Proposta de Formao...........................................................................................89 Reflexes sobre Organizao..........................................................................................91

    Ricardo Ferreira da Silva Mincarone

    Ricardo Ferreira da Silva Mincarone

    Ricardo Ferreira da Silva Mincarone

    Ricardo Ferreira da Silva Mincarone

  • O DIREITO CIDADE COMO ESTRATGIA PARA A LUTA PELO TRANSPORTE PBLICO

    Por Diego (Ncleo Gregrio Bezerra/RS), Aline e Julia (Ncleo Srgio Ferro/SC)

    O CONTEXTO DAS CIDADES As cidades so o principal local onde se d a reproduo da fora de trabalho, mas

    no apenas o espao, mas as condies para esses acontecimentos, como: transporte, moradia, saneamento, educao, lazer, iluminao, coleta de lixo ou segurana.

    Alm de espao para reproduo da fora de trabalho a cidade local de disputa de capitais e especulao. Nesse sentido a localizao torna-se uma mercadoria cara, o que impulsiona a expanso da cidade informal. Os mais ricos querem juntar-se e procuram isolar-se, os pobres so degradados para os locais com piores condies urbansticas. Essas condies urbansticas so determinadas pelas externalidades, que so fatores sobrepostos a um terreno urbano capazes de motivar sua ocupao, existem externalidades positivas e negativas. Externalidades positivas: proximidade do mar, existncia de rede de esgoto e boa vizinhana. Externalidades negativas: grande distancia do local de trabalho, falta de transporte e segurana, insalubridade. Acessibilidade a capacidade de se consumir externalidades positivas, apenas as rendas mais elevadas tem acessibilidade plena cidade (Villaa, 2001).

    A expanso da cidade informal tambm expande os baixos salrios e as prticas de clientelismo, onde ao invs de se investir em polticas pblicas de regularizao fundiria se incentiva ocupao informal para depois trocar favores atravs de melhorias de infraestruturas que seriam de competncia da esfera pblica, como arruamentos e demais regularizaes.

    Nos ltimos anos vimos avanos em leis de controle do uso do solo, como a criao do Estatuto da Cidade, que prev diversos mecanismos de democratizao da cidade, prefeituras com novas prticas urbanas e participao social, com a chamada Plataforma da Reforma Urbana. No caminho oposto tambm houve programas desenvolvimentistas do governo federal como o Programa de Acelerao do Crescimento PAC ou Minha Casa Minha Vida MCMV que estimularam um crescimento imobilirio desenfreado, contribuindo para a especulao e a crescente periferizao das ocupaes urbanas. Essa ausncia de uma real poltica pblica para a habitao em consonncia com o Estatuto da Cidade, onde percebemos que o MCMV uma poltica econmica que leva a um aumento da periferizao das cidades, construindo conjuntos habitacionais sem urbanidade em locais distantes dos grandes centros e locais de trabalho dos moradores, piora a mobilidade urbana, gerando longos e demorados trajetos de viagem dos trabalhadores at o local de trabalho, estudo, consumo, etc.

    A especulao e as longas distncias tambm tm incentivado a ocupao informal de reas de preservao e, com a nova dinmica da Copa e das Olimpadas vemos a cidade ser palco de misteriosos incndios em favelas e violentas remoes. Viemos de uma dinmica de prevalecimento dos movimentos populares rurais ao invs dos urbanos, que nos faz questionar o que aconteceu nas cidades nos ltimos anos que nos propiciou

  • ser o cenrio e objeto de lutas to amplas como as jornadas de junho? Megaeventos, meganegcios, megaprotestos. A transformao da cidade com os investimentos ligados Copa e s Olimpadas com instrumentos como Operao urbana consorciada, Lei Geral da Copa e outras brechas para no se respeitar as regulamentaes, as remoes e a represso brutal a qualquer resistncia, qualquer movimento popular, foram a fasca que faltava para a exploso das revoltas.

    Nessa mesma cidade se acentua a dualidade da condio urbana: precariedade dos servios falta de urbanidade e altos investimentos em estdios e suporte ao turismo. Vivemos um projeto excludente de cidade, com falta de participao popular efetiva e abandono dos espaos de democratizao dessa cidade, que ficaram no papel. Vimos em todo o pas o boicote aos processos participativos, desde planos diretores a demais conselhos.

    As polticas de desonerao de automveis, os subsdios ao transporte individual ao invs do coletivo e a runa do transporte pblico tem levado ao crescimento do nmero de automveis e queda da arrecadao de impostos. As obras de infraestrutura para a cidade tm privilegiado o transporte individual e a expanso do mercado em detrimento da mobilidade urbana.

    O direito cidade no apenas um direito de visita, mas um direito vida urbana. A liberdade cidade mais do que o simples acesso ao que j existe, mas o direito de transformao dessa cidade. A cidade tem sofrido um processo de aguamento dos conflitos e das desigualdades sociais, alm de um crescimento acelerado. Na cidade mista de neodesenvolvimentista e neoliberal os direitos e as liberdades individuais tem tido prioridade frente democracia.

    A FORMAO DA CIDADE CAPITALISTA A cidade, tal como a conhecemos hoje, fruto indissocivel do processo de

    acumulao inerente ao capitalismo. Historicamente, a intensificao do processo de aglomerao das pessoas em grandes centros acontece pari passu intensificao do processo de produo capitalista. Darvey (1975) afirma que o imperativo da acumulao produz concentrao da produo e de capital, criando, ao mesmo tempo, uma ampliao do mercado para sua realizao.

    (...) o desenvolvimento da produo capitalista torna constantemente necessrio o sustento crescente do volume de capital despendido num determinado empreendimento industrial, e a competio faz cada capitalista sentir as leis imanentes da produo capitalista como leis coercitivas externas. Essas leis foram cada capitalista a manter constantemente o aumento de seu capital, para preserv-lo: no entanto, ele no consegue aument-lo, exceto por meio da acumulao progressiva (Marx, 2013, vol. 1.)

    Quando em 1765, James Watt introduz significantes avanos no motor a vapor, de

    modo a permitir a produo em grandes escalas para a poca, tem-se o marco inicial da era industrial. a partir desse incremento que a produo de mercadorias pode atingir nveis suficientes de excedente para modificar as relaes econmicas da sociedade feudal. Enquanto na idade mdia, cerca de 80% da populao trabalhava no setor primrio e os outros 20% dividiam-se igualmente entre o setor secundrio e tercirio, para

  • alguns pases desenvolvidos estas taxas j se invertem atualmente (Vuchic, 2007). No entanto, Singer (1980) afirma que a produo de excedente sobretudo alimentar uma condio necessria, mas no suficiente para o surgimento da cidade. A existncia desta pressupe diferentes modos de participao dos homens nos processos de produo e circulao atravs de uma sociedade de classes.

    comum supor que tais cidades, que em geral possuem parcelas de sua populao subempregadas, vivendo em condies miserveis, so pobres porque no possuem indstrias. Tal suposio no , se no falsa, simplista. Seria mais correto dizer que tais cidades no possuem indstrias porque so pobres. preciso lembrar que estas cidades, ditas inchadas, se encontram em regies no desenvolvidas, em cujo hinterland a produtividade agrcola baixa e o mercado para produtos industriais quase inexistente. A ausncia de indstrias, nestas circunstncias, tanto causa como conseqncia do baixo nvel de desenvolvimento econmico (Singer, 1980).

    Portanto, a partir deste cenrio que as cidades organizam-se no contexto do capital monopolista. O controle dos investimentos pblicos e do planejamento urbano passa a subordinar-se dominao poltica e econmica destes monoplios. ento da combinao entre a livre mercantilizao do solo e da ausncia de polticas de planejamento que se forjam as cidades contemporneas no Brasil.

    O PAPEL DO TRANSPORTE NAS CIDADES BRASILEIRAS O desenvolvimento dos transportes nas sociedades capitalistas foi condio sine

    qua non para o processo de circulao de mercadorias. A construo de vias, redes e tecnologias que dessem suporte a este processo foi impulsionada significativamente a partir do estabelecimento da escala industrial no processo de produo. Como afirma Marx em seus manuscritos econmicos, os custos de circulao passam a tomar maior proporo no valor das mercadorias, exigindo a transposio das barreiras fsicas e espaciais existentes:

    Quanto mais a produo vier a se basear no valor de troca (portanto, na troca), mais importante se tornam as condies fsicas da troca os meios de comunicao e transporte para os custos de circulao. Por sua natureza, o capital se impulsiona alm de todas as barreiras espaciais. Assim, a criao das condies fsicas de troca (...) torna-se uma necessidade extraordinria para isso (Marx, 2011).

    Para o caso do Brasil, Brasileiro e Henry (1999) apontam que a receita de

    desenvolvimento adotada aqui, fortalecendo o setor industrial ligado ao rodoviarismo, opunha-se cultura ferroviria presente em outros pases. Vasconcellos (2000) relaciona o processo histrico de concentrao de renda e de desenvolvimento industrial a partir da abertura ao capital estrangeiro, apresentando seu impacto na estrutura social no pas:

    No perodo entre 1960 e 1970, com o advento da ditadura militar e a abertura ao capital estrangeiro, inicia-se um processo especfico de modernizao capitalista, que afetou toda a sociedade brasileira. Essa modernizao representou profundas mudanas na tecnologia da produo, requerendo novas capacitaes educacionais e tcnicas e induzindo a grandes mudanas no uso do solo, na estrutura urbana e nos padres de deslocamento. (...) No entanto, conforme ocorrido em outros pases em desenvolvimento,

  • o caso brasileiro implicou em uma distribuio de renda altamente concentrada: os 10% mais altos na escala de renda apropriaram-se de 50,6% da renda total, enquanto os 10% mais baixos na escala apropriaram-se de apenas 7% (Vasconcellos, 2000).

    E em seguida, associa este processo s mudanas nos padres de transporte urbano no Brasil:

    O processo de concentrao de renda e o novo estilo de vida e consumo geraram e consolidaram a classe mdia urbana, como uma das caractersticas mais relevantes do processo de urbanizao no Brasil. Do ponto de vista dos transportes urbanos a conseqncia mais importante que essas classes mdias mudaram do transporte pblico para o transporte particular (Vasconcellos, 2000).

    visvel, portanto, que o transporte urbano no Brasil seguidamente vem assumindo

    um papel excludente, beneficiando as classes mais ricas e, sobretudo, a indstria automobilstica de capital estrangeiro. As atuais polticas dos governos Lula e Dilma de desonerao da carga tributria sobre a industrializao e a comercializao de automveis particulares segue esta linha desenvolvimentista que historicamente vem mostrando ser de interesse to somente das indstrias multinacionais do ponto de vista econmico e, no caso dos transportes urbanos, vem se tornando um cncer que inviabiliza a circulao das pessoas dentro de suas prprias cidades.

    O DIREITO CIDADE COMO ESTRATGIA Na sociedade capitalista, a cidade tornou-se o cenrio do embate e da disputa entre

    interesses diversos. na cidade moderna que a luta de classes acontece diariamente. Mas alm de palco cotidiano da reproduo do modus operandi capitalista, a cidade tornou-se tambm objeto em disputa. Tornou-se obra em disputa. Sua morfologia, sua hierarquia e seus mecanismos nada mais so do que reflexos dos interesses de uma classe dominante sobre outra, dominada, despossuda.

    neste cenrio em disputa que a classe burguesa, proprietria dos meios de produo e controladora da circulao de mercadorias na vida urbana, se apropria do espao a partir de seu modelo econmico e transforma a cidade em valor de troca. Espaos pblicos e at mesmo ncleos habitacionais perdem sua funo social na medida em que a especulao imobiliria passar a trat-los como mercadoria na qual s podero tomar parte e utilizarem aqueles com condies de pagarem por tal, seja temporariamente, seja enquanto posse definitiva.

    Perdem, ento, as classes despossudas, seu direito de apropriao da natureza transformada pelo homem, a cidade. Da mesma forma como, no modo de produo capitalista, so alienados do fruto de seu trabalho, natureza transformada pelo homem os trabalhadores so alienados dos espaos urbanos construdos por eles.

    O direito cidade no pode ser concebido como um simples direito de visita ou de retorno s cidades tradicionais. S pode ser formulado como direito vida urbana, transformada, renovada. Pouco importa que o tecido urbano encerre em si o campo e aquilo que sobrevive da vida camponesa conquanto que o urbano, lugar de encontro, prioridade do valor de uso, inscrio no espao de um tempo promovido posio de supremo bem entre os bens, encontre sua base morfolgica, sua

  • realizao prtico-sensvel. (...) S a classe operria pode se tonar o agente, o portador ou o suporte social dessa realizao (Lefebvre, 2011).

    Portanto, o direito cidade em ltima instncia, o direito vida urbana deve

    servir como estratgia na luta pelo transporte pblico, pois este, ferramenta e meio fundamental para que se alcance aquele direito. na perspectiva da ocupao dos espaos da cidade pela classe trabalhadora, fazendo com que ela perca seu carter de valor de troca e de mercadoria passe a ser apropriada enquanto valor de uso. A luta por um projeto de transporte pblico que atenda aos anseios da classe trabalhadora deve servir de ttica para o fim da especulao imobiliria e da apropriao privada dos espaos pblicos, estratgia fundamental para a emancipao da vida urbana.

    TRANSPORTE PBLICO: PARA QUE E PARA QUEM? O papel do transporte pblico na disputa inerente entre as classes conflituosas da

    cidade capitalista revela, ao mesmo tempo, sua importncia e seu vis. A partir do momento em que a industrializao assume um formato de rede e se estabelece nas cidades, no so mais as fbricas que procuram localizar-se perto do maior contingente de trabalhadores e sim, o contrrio. No perodo ps-guerra do Brasil, as grandes indstrias multinacionais comeam a instalar suas plantas no mais prximas aos centros comerciais efervescentes, mas em municpios menos desenvolvidos prximos s capitais, que passaram a cumprir o papel de circulao e de aporte financeiro atravs dos bancos ao processo produtivo.

    a partir de ento que o transporte assume intrinsecamente o papel de apenas prover o deslocamento da massa de trabalhadores entre suas casas e seus locais de trabalho. No mais visto como um meio para, o transporte pblico passa a estruturar-se to somente em torno da localizao das indstrias e centros comerciais e dos horrios de entrada e sada dos trabalhadores. Hoje pode-se perceber essa subordinao do transporte exclusivamente a produo e a circulao de mercadorias atravs dos quadros de horrios e dos itinerrios das linhas de nibus, trem e metr nas cidades. Aos finais de semana, quando o trabalhador geralmente tem seu tempo disponvel para o descanso, o lazer e a cultura nos mais variados espaos da cidade, os horrios e linhas de transporte pblico so praticamente nulos, tolhendo-lhe a possibilidade de usufruir e ocupar a cidade.

    Nesse sentido devemos compreender que os servios pblicos como a educao, a sade, a segurana pblica disponibilizados pelo Estado classe trabalhadora tm como nico intuito, na fase atual do capitalismo monopolista, a reproduo ampliada do capital. E o transporte coletivo, como parte desses servios, no est a servio do povo em prol do direito de ir e vir, mas como um servio de fundamental importncia para promover o deslocamento da classe trabalhadora, que vive na periferia das cidades, para o local de trabalho geralmente no centro onde ocorre o processo de produo e circulao de mercadorias, necessrios gerao de capital e apropriao de mais-valia pela burguesia (Mandelli, 2011).

    Alm de ter o transporte pblico apenas como meio de chegar at os meios de produo para vender sua fora de trabalho, o trabalhador passou a ser tambm o responsvel pelo custeio deste sistema. Mesmo com a implantao do vale-transporte na

  • dcada 1980, mecanismo no qual o trabalhador formal compromete o mximo de 6% de seu salrio nos custos de transporte grande parcela dos usurios cativos do transporte pblico, sobretudo trabalhadores informais e desempregados, ainda sofrem com o peso da tarifa em seus rendimentos mensais.

    O Grfico 1 mostra o impacto dos custos com servios pblicos dentre eles, o transporte para diferentes nveis de renda familiar no Brasil.

    Grfico 1

    Nota-se que para as famlias de menor nvel de renda at seis salrios mnimos o peso da despesa mensal com transporte pblico gira em torno de 8% do rendimento, maior do que para as classes de maior poder econmico. Ou seja, o custo com transporte pblico incluindo as tarifas de nibus, trem, metr e txi relativamente maior para aqueles que mais se utilizam dele por no possurem muitas vezes meios de transporte particular. Considerando ainda que muitos destes no possuam casa prpria, tendo que comprometer a maior parte de seus salrios com o pagamento de aluguel, o impacto do custo da tarifa de transporte praticamente aniquila o rendimento mensal dessas famlias, eivando-as da possibilidade de pouparem algum dinheiro ou mesmo de usufrurem programas de lazer, educao e cultura no gratuitos.

    J a Tabela 1 apresenta a distribuio dos motivos que levam as pessoas a realizarem deslocamentos a p excludos os motivos de pequena distncia e outros

  • para trs tipos de domiclio na Regio Metropolitana de So Paulo: particular, coletivo e favela.

  • Tabela 1

    Pode-se observar que para os moradores de favelas, os principais motivos so ponto/estao distante, conduo cara e com demora para passar nos pontos, sendo o primeiro ponto/estao distante o que obteve ampla maioria sobre os demais. Este cenrio revela o descaso pblico com o atendimento acessvel e de qualidade s camadas mais pobres da populao. O custo da tarifa e a no oferta no tempo e no espao de sistemas de transporte pblico foram muitos a caminharem longas distncias para poderem realizar suas necessidades cotidianas.

    A Tabela 2 compara os ndices de mobilidade total e por meio de transporte coletivo, individual ou a p para cada grupo de ocupao principal na Regio Metropolitana de So Paulo.

    Tabela 2

    Estes dados explicitam a diferena de entre as classes ricas e pobres do Brasil. Enquanto os trabalhadores, sobretudo os trabalhadores domsticos, apresentam os menores ndices de mobilidade representados pelo nmero de viagens por dia p pessoa, os empregadores so os que usufruem de melhores condies para realizarem seus deslocamentos nas cidades.

    Observa-se ainda que, pelo fato de a poltica do vale-transporte no contemplar os trabalhadores informais, so estes trabalhadores domsticos e assalariados sem

  • carteira de trabalho assinada que realizam a maior quantidade de deslocamentos a p por no terem condies de pagar a tarifa.

    O transporte pblico estruturado sobre a premissa de que sua funo nas cidades a de levar e trazer o trabalhador at o seu local de trabalho, geralmente em condies precrias superlotao, demora, etc. e extraindo grande parte de sua exgua renda mensal. Principalmente sobre aqueles mais pobres, sem condies de adquirir a iluso do veculo particular como soluo para seu transporte, que a realidade do transporte pblico torna-se mais cruel. Excludos financeiramente e espacialmente por no contarem com oferta de transporte prximo a suas residncias, acabam sendo obrigados a lanar mo do modo mais arcaico e extenuante de deslocamento: a caminhada.

    Uma poltica de transporte urbano voltada para a incluso social deve priorizar o desenho de programas e projetos que proporcionem o acesso dos mais pobres a servios de transporte adequados. preciso inverter a atual lgica da formulao das polticas do setor, que hoje est focada na oferta ou seja, no aumento da competitividade dos servios, na reduo de custos e no gerenciamento da frota , para o real atendimento das necessidades dos cidados que esto sendo privados do acesso aos servios existentes (Gomide, 2003).

    Portanto, a superao da sociedade capitalista, exploradora em sua essncia e inqua em sua gnese, passa tambm pela superao de toda relao que expresse a fora de trabalho como mera mercadoria. Uma sociedade mais justa, humanista e sem classes em ltima instncia, uma sociedade comunista ser aquela onde as cidades permitam a apropriao de seu valor de uso a todos e que, portanto, a todos seja concedido o acesso a tudo que a cidade tem a oferecer em sua plenitude.

    A LUTA PELO TRANSPORTE E AS JORNADAS DE JUNHO O transporte pblico, ento, um direito do povo e tem papel fundamental no viver

    da populao, porm assim como os tantos outros no distribudo de maneira democrtica levando em considerao apenas interesses privados dos empresrios do transporte e polticos envolvidos. Dessa forma, h muitos anos que a questo da mobilidade urbana uma pauta permanente nos movimentos sociais e principalmente estudantis.

    A luta pelo transporte pblico j tem um histrico longo que se estabelece, basicamente, a partir dos temas explorados hoje pelo Movimento Passe Livre (MPL), que vem debatendo um sistema de transporte que deixe ser privado e passe a ser verdadeiramente pblico atravs da municipalizao do transporte e a criao de empresas pblicas de transporte com controle social.

    Em 2003 tivemos na Bahia uma grande mobilizao que ficou conhecida como A revolta do Buzu, onde milhares de estudantes e trabalhadores em funo do aumento tarifrio foram s ruas e pararam a cidade durante 10 dias, nesta poca as manifestaes estavam sendo tocadas juntamente com estudantes da UNE, entidade que depois passa a colocar-se contraria ao movimento, o que no de se estranhar, conhecendo o histrico despolitizante da mesma. Posteriormente em 2004 e 2005 em Florianpolis estudantes e trabalhadores vo s ruas, tambm tomados pela grande insatisfao com as condies de transporte da cidade, que passava por processos de intensos aumentos no preo da

  • tarifa estes dois anos de luta ficaram conhecidos como Revolta da Catraca. Foi a partir do histrico de lutas destas duas cidades que em 2005 nasce oficialmente e nacionalmente o MPL.

    J nestas primeiras experincias, a represso policial foi de intensa agressividade o que gerou com que ao mesmo tempo mais estudantes se mobilizassem pela causa e que os meios de comunicao de massa manipulassem as informaes de maneira a colocar a populao contra os manifestantes criando apelidos maldosos como vndalos e baderneiros.

    A partir da praticamente todos os anos em inmeras cidades brasileiras ocorrem manifestaes em torno deste tema, o que de extrema importncia, pois como vemos o transporte ocupa um papel fundamental na lgica capitalista que estrutura as nossas cidades, manipulando o ir e vir do povo como forma de restringir lugares e acessos convenientes s elites.

    Infelizmente nos ltimos anos comevamos a perceber uma dificuldade cada vez maior em seguir com as lutas, a polcia vinha desenvolvendo mais artifcios de bruta violncia contra os manifestantes, o que tornava muito difcil manter as mobilizaes por muito tempo. Mas ainda assim, tivemos mais dois momentos que foram de grande relevncia em 2010 novamente em Florianpolis e em 2011 em So Paulo para a disseminao da bandeira da Tarifa Zero e consequentemente a conquista de um transporte de pblico e de qualidade. Apesar de em ambos os casos a luta ter se impulsionado em torno do reajuste tarifrio, percebemos que neste perodo de modo geral a populao colocou-se mais afetiva ao movimento.

    Em junho deste ano iniciaram-se no estado de So Paulo acerca do tema do transporte pblico ondas de protestos que se espalharam por todo o Brasil e que tomou proporo inclusive internacional. O aumento tarifrio do transporte foi o estopim, a gota que faltava para o copo transbordar, mas bem sabemos que o que levou realmente milhes de pessoas s ruas reflexo de anos de explorao e contradies sociais que cada vez so mais evidentes e colocam o povo nesta situao de constante descontentamento poltico-social.

    Logo as lutas que foram puxadas pelo MPL aumentaram em proporo e as mais diversas pautas foram adicionadas aos protestos como sade, educao, segurana consequncias dos megaeventos (copa e olimpadas) e crticas administrao federal. Mas tambm as manifestaes foram muito positivas para os temas que envolvem o transporte, a populao tornou-se muito mais aberta ao projeto de tarifa zero, o que pode ser muito benfico em momentos futuros e em dezenas de cidades as tarifas baixaram, apesar de que com a iseno dos impostos dos empresrios do transporte no alterou em praticamente nada o lucro dos mesmos.

    Assim que os acontecimentos comearam atingir ambitos nacionais, a mdia e a direita brasileira comeam a intervir, identificando aquele como um espao de disputa poltica, devido a inmera quantidade de pessoas envolvidas sem o entendimento claro de uma estratgia, embasamento terico, organizao e programa consistente. E, logicamente, devido ao entendimento deste novo momento que se instala no Brasil sendo reflexo da insatisfao popular que pode agravar a crise da hegemonia capitalista.

    Rapidamente percebemos a mudana no discurso da grande mdia (que sempre se coloca contra as manifestaes populares) caracterizando as manifestaes como

  • divididas em dois blocos os manifestantes pacficos e os vndalos. Conjunto a isso temos a dominao de grande parte das massas por um bloco conservador que cria um esprito nacionalista e anti-partidrio nos protestos, logrando a despolitizao e caracterizao destes no como movimento com base popular, mas de classe mdia. Ento as manifestaes foram ficando cada vez mais difceis, adquirindo a lgica de cada um leva sua bandeira, sem uma unidade nas lutas e sem um propsito final os atos foram se esvaziando e apenas em algumas cidades como So Paulo, Braslia, Porto Alegre e Rio de Janeiro a luta continuou por mais tempo, organizada por grupos de esquerda e com objetivos concretos.

    Em um ms o pas passou por um momento histrico, que apesar dos desvios teve um saldo enorme para ns comunistas, aonde vimos a fora do povo e a real indignao com a situao em que nos encontramos, por isso nosso papel to importante e se intensificar cada vez mais fortalecendo e educando nossas bases, pois apenas com a organizao e a compreenso das massas de um objetivo maior teremos a garantia de avanos rumo uma mudana radical da sociedade que no seja pautada pelo mercado e pela explorao mas sim pela igualdade social.

    E claro, a luta pelo transporte tem grande importncia neste processo de construo social, j que a mobilidade urbana tem como foco no a venda da fora de trabalho, pois essa j garantida pela maioria dos empregadores, mas o acesso aos direitos bsicos do povo como educao, sade e lazer. Sendo o acesso mobilidade um passo de reconfigurao da vivncia social, cultural e poltica do povo com os variados espaos de uso e convivncia, iniciando um processo de modificao da lgica hoje imposta de segregao social e restrio do direito cidade.

    TESES RESOLUTIVAS Defesa do transporte pblico como direito social a ser assegurado pelo Estado e

    fiscalizado pela sociedade; Luta pela reduo gradual da tarifa em todos os municpios com vista extino da

    tarifa como forma de financiamento do transporte pblico; Criao de um Sistema Nacional de Transporte Pblico aos moldes do Sistema

    nico de Sade (SUS) com o objetivo de tornar o transporte pblico uma poltica de Estado gerida pelas trs esferas do Poder Pblico e com participao popular efetiva;

    Financiamento do transporte pblico atravs da taxao sobre propriedades

    subutilizadas ou que no cumpram sua funo social, estabelecimentos comerciais e industriais proporcionalmente ao nmero de trabalhadores empregados e sobre a produo e a circulao de meios de transporte individuais;

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    3. Engels, F. (1873) Para a questo da habitao. Disponvel em: Acesso em: 11 de agosto de 2013.

    4. Fernandes, F. (2006) A revoluo burguesa no Brasil. Editora Globo, So Paulo, SP.

    5. Gomide, A. (2003) Transporte urbano, pobreza e incluso. Anais do XVII Congresso de Pesquisa e Ensino em Transporte. ANPET, Rio de Janeiro, RJ.

    6. Harvey, D. (2005) A produo capitalista do espao. Annablume, So Paulo. SP. 7. Lefebvre, H. (2011) O direito cidade. Centauro Editora, So Paulo, SP. 8. Marx, K. (2013) O Capital. Livro I. Boitempo Editorial, So Paulo, SP. 9. Marx, K. (2011) Grundrisse. Boitempo Editorial, So Paulo, SP. 10. Mandelli, B. (2011) A Questo Urbana e a Luta pelo Transporte Pblico in Teses

    para o VI Encontro Nacional da Juventude Comunista Avanando, Caderno I, p. 72-76. 11. Maricato, E. [et al.] (2013) Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestaes

    que tomaram as ruas do Brasil. Boitempo/Carta Maior, So Paulo, SP. 12. Santos, E. e Arago, J. [org.] (2004) Transporte em tempos de reforma: estudos

    sobre o transporte urbano. EdUFRN, Natal, RN. 13. Santos, M. (2008) A urbanizao brasileira. EdUSP, So Paulo, SP. 14. Santos, C. N. (1990) O uso do solo e municpio. IBAM, Rio de Janeiro, RJ. 15. Singer, P. (1980) Economia poltica da urbanizao. Editora Brasiliense, So

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    reflexes e propostas. Annablume, So Paulo, SP. 17. Villaa, F. (2001) Espao intra-urbano no Brasil. Studio Nobel: FAPESP: Lincoln

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    Polo Comunista Luiz Carlos Prestes - Voz Operria, p. 3 - 5, ano 15, n 20, setembro de 2013

    20. A IRRUPO DOS PROTESTOS POPULARES. Jornal do Polo Comunista Luiz Carlos Prestes - Voz Operria, p. 6 - 9, ano 15, n 20, setembro de 2013

    21. A LUTA PELO TRANSPORTE COMO DIREITO. Jornal da Juventude Comunista Avanando - Jornal Avanando,p. ano 5, n 11, agosto de 2013.

  • OS COMUNISTAS E O EIV

    Por Henrique e Maiari (Ncleo Srgio Ferro/SC), Joo Victor (Ncleo Florestan Fernandes/SC) e Jorge (Ncleo Soledad Barrett Viedma/SC)

    Concepo, princpios e objetivos do EIV Como comunistas devemos ter a compreenso do EIV, a partir de uma anlise

    critico-dialtica de toda sua histria. Desde o seu objetivo proposto pela FEAB quando foi criado e quais so suas finalidades nos moldes atuais da sociedade capitalista em que vivemos. Como j dizia o camarada Ho Chi-minh:

    nisso que o individualismo se ope ao coletivismo. O coletivismo e o socialismo vencero, enquanto o individualismo ser infalivelmente aniquilado. (in BOGO, Ademar).

    Sob esta perspectiva, o EIV traz ao estagirio, que vem da cidade ao campo, o

    conceito de coletividade e a praticar isto atravs da formao de brigadas. Tal metodologia, baseada no mtodo do Instituto Josu de Castro, provoca no estagirio, em seu inicio um certo estranhamento. Porm, com o passar do tempo espera-se que atravs do choque com o campo, e com as tarefas, ele(a) desenvolva certa segurana com seu(ua) companheiro(a) de brigada, tornando mais orgnico o espao, trazendo assim ao estagirio a reflexo de que fora da vivncia, no seu espao de atuao, necessrio se organizar com demais pessoas que possuem o mesmo pensamento para conseguir dar um passo em seu objetivo, acabando com o individualismo.

    O Estgio Interdisciplinar de Vivncia (EIV) uma atividade que existe desde 1989, em vrios estados do Brasil, tendo com o intuito fortalecer a unio entre as lutas entre campo e as lutas da cidade, auxiliando na construo de outro modelo de desenvolvimento para o espao agrrio brasileiro. Em Santa Catarina existe desde 2006, tendo sua 6 edio ocorrido no incio deste ano (2013), no municpio de Catanduvas.

    Com a crescente presso exercida pelas empresas de agronegcio ao campo, observa-se cada vez mais famlias expropiadas de suas terras, como o caso dos ribeirinhos pelas empresas hidreltricas e camponeses pelos latifundirios. Com isso observamos uma atuao maior dos movimentos sociais, como o caso do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), MMC (Movimento das Mulheres Camponesas), MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) e MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores), que compe a Via Campesina, e tambm possivel indentificar alguns movimentos articulados a esta via como o caso da Comisso Pastoral da Terra (CPT), a Federao dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB) e a Pastoral da Juventude Rural (PJR).

    A grande preocupao, crescente dos movimentos sociais e das famlias de camponeses, a permanncia de seus descendentes no campo, o qual esta provocando um grande exdo rural ainda no terceiro milnio.

    O EIV a nivel nacional infelizmente no apresenta condies concretas para tirarmos principios e concepes, pois no encontra um meio para se articular nacionalmente, em

  • muito devido a no termos uma entidade nacional representativa dos estudantes e que represente a classe trabalhadora. Diante disto, muito difcil, ou quase impossvel, falar em concepo, princpios e objetivos do EIV. Cada EIV cria os seus prprios. O problema terico de no termos fontes para embasar nossa tese um problema prtico de quem tenta organizar um.

    Embora a FEAB sempre tenha acompanhado e lutado pela disseminao dos EIVs, fica cada vez mais complicado para ela e isto perfeitamente compreensvel, pois trata-se de uma entidade estudantil e de rea ter condies de desenhar uma poltica geral para os EIV e garantir sua implementao. A relao da FEAB com o EIV a de pais que geraram um filho e logo o largaram no mundo.

    Vimos que houve duas importantes transformaes no desenvolvimento dos objetivos do EIV dentro da FEAB: a definio do horizonte socialista em 1998 e a mudana do carter de formao profissional para formao militante (aps a eleio do governo Lula). So deliberaes muito significativas, mas que diante de nossa realidade marcada pela completa fragmentao da esquerda e ausncia de entidades nacionais democrticas e capazes de impulsionar e direcionar a luta do povo (falamos da ausncia de uma Central Sindical combativa e representativa e do problema da UNE e da UEEs), se tornam impraticveis seno parcialmente. Sem uma entidade capaz de aliar a luta estudantil necessidade de superao da sociedade do capital como um estagirio ir se formar militante socialista?

    Observa-se nacionalmente que o EIV tornou-se campo de recrutamento para organizaes politicas, fugindo do seu foco principal que a formao politico social do estagirio, para que este possa entender a realidade, e achar a necessidade de se organizar. visto atualmente o EIV de Santa Catarina, como o nico estado onde o EIV no tem o propsito imediato de formar militantes para organizaes, mas sim o propsito de dialogar com o estgirio e faze-lo refletir sobre a realidade. O MUP/GTUP, enquanto movimento universitrio que pode ajudar a construir o EIV, tem um papel fundamental para dialogar a respeito das alternativas e estratgias para combater mos diariamente em nossos meios de atuao, a dura realidade que o sistema capitalista traz em seus meios de atuao seja estes, tanto no meio urbano, quanto no meio rural.

    Breves apontamentos sobre as condies do campo hoje O Camarada que participar do EIV se confrontar com uma condio pouco

    romntica no campo. Se, por um lado, o Estgio no contribui com uma viso fantstica, fetichizada, dos Movimentos Sociais camponeses, por outro mostra a necessidade da organizao dos trabalhadores, e a imensa responsabilidade que a histria nos confia.

    Estas linhas gerais, aqui expostas, tem o principal intuito no o de ser um guia dogmtico, mas servir como sugestes para o camarada estagirio refletir sobre aspectos mais estruturais e tirar o melhor proveito possvel da estadia privilegiada que experimentar.

    A realidade dos Movimentos, hoje, de certa desmobilizao de parte da base. H uma espcie de acomodao entre os que conquistam seu pedao de terra. Vale dizer que os militantes do MST, especificamente, no recebem a propriedade das terras

  • quando da transferncia decorrente da desapropriao, mas to s a concesso de utilizao da terra para fins produtivos. Ou seja, a titularidade da terra est condicionada ao trabalho produtivo ali expendido pela famlia beneficiria. O que entra em consonncia com a proposta do prprio movimento, trazida no nome: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Trata-se, pois, de um movimento de trabalhadores e no de proprietrios.

    Ns Comunistas h muito nos debruamos sobre a condio da classe camponesa, aquela proprietria de terras, por conseguinte, de meios de produo. Marx j assegurou que apenas o proletariado pode ser a classe revolucionria por excelncia, destinada a abolir a propriedade privada, justamente por j estar completamente desprovida desta.

    Referindo-se possibilidade da emancipao da sociedade Alemanha do sculo XIX, Marx apontava que estava

    na constituio de uma classe que tenha esferas radicais, de uma classe na sociedade civil que no seja somente uma classe da sociedade civil, de uma classe que seja a dissoluo de todas as classe, de uma esfera que possua carter universal porque os seus sofrimentos so universais e que no exige uma reparao particular porque o mal que lhe feito no um mal particular, mas o mal em geral, que j no possa exigir ttulo histrico, mas apenas o ttulo humano; de uma esfera que no se oponha a consequncias particulares, mas que se contraponha totalmente aos pressupostos do sistema poltico alemo; finalmente, de uma esfera que no pode emancipar-se a si mesma nem se emancipar de todas as outras esferas da sociedade sem as emancipar a todas o que , em resumo, a perda total da humanidade, assim, s pode redimir-se a si mesma por uma redeno total do homem. A dissoluo da sociedade, como classe particular, o proletariado. (MARX. Introduo crtica da filosofia do direito de Hegel).

    E Marx continua, tratando da viabilidade no apenas ideolgica, mas material,

    necessria para uma classe levar a cabo a Revoluo Socialista, condio esta colocada apenas ao Proletariado, sem absolutamente nenhum privilgio a perder:

    No momento em que o proletariado proclama a dissoluo da ordem social existente, apenas afirma o mistrio da sua prpria existncia, desta forma a efetiva dissoluo desta ordem. Quando o proletariado exige a negao da propriedade privada, apenas estabelece como princpio da sociedade o que a sociedade j elevara a princpio do proletariado e o que este j involuntariamente encarna como resultado negativo da sociedade. (MARX. Introduo crtica da filosofia do direito de Hegel).

    Tal reflexo importante, pois a vida no campo gera uma ideologia camponesa,

    ainda que o campons no o seja enquanto classe. Ainda que no se tenha a propriedade da terra, no sentido jurdico, tem-se a propriedade no sentido prtico. O trabalhador rural sem-terra que recebe sua gleba do governo deve assumir uma srie de clusulas para se manter beneficirio das mesmas, a principal delas a impossibilidade de vender seu terreno. Todavia, para muitos que nunca tiveram lugar onde carem mortos, os poucos hectares que recebem tornam-se um reduto perptuo onde se fecham para viver com sua famlia at o ltimo dias de suas dias.

    Cabe apontar que no desejo dos Comunistas que o proletariado esteja frente da Revoluo, so as condies materiais que o definem. No desejo dos Comunistas

  • que a classe camponesa no seja revolucionria por excelncia, so as condies materiais que o definem. Cabe apontar aqui, que de forma alguma se est desmerecendo a luta camponesa, que inclusive tem sido a mais atuante e vanguardista frente popular no Brasil nas ltimas dcadas. O prprio smbolo mximo do Comunismo, a foice e o martelo, define a importncia do campesinato como aliado na luta pela emancipao humana.

    O ponto importante, onde desemboca as linhas esboadas acima, que muitos dos militantes dos movimentos camponeses, principalmente do MST, perdem muito do seu contato com o Movimento a partir da conquista do seu direito terra. Enquanto so proletrios, os trabalhadores rurais que ingressam no movimento, vivem a vida de militantes. Pois, bvio, aos que nada tem resta apenas a luta pela sobrevivncia.

    A concluso a que se chega, e que vai ao encontro do que apontou Marx, que a mera ideia revolucionria no basta para fazer de uma classe essencialmente revolucionria. As condies materiais precisam tambm confluir no mesmo sentido.

    Todavia, so louvveis, e muitas vezes sobre-humanos os esforos empreendidos pelos militantes dirigentes do MST para que a base no perca seu vnculo orgnico. A base terica do movimento o Marxismo, e seus militantes tm conscincia disso, ainda que possuam uma compreenso um pouco debilitada do mesmo.

    As contradies em que parte do movimento se colocou, que fruto da sua prpria atuao prtica, leva-nos a entender um pouco das dificuldades orgnicas que vive o movimento. Por um lado, h a desmobilizao de boa parte da base, por outro, parte dos dirigentes tm se colocado em defesa do atual governo brasileiro. O governismo crescente nas fileiras do MST consequncia direta da formao do prprio, muito ligada ao Partido dos Trabalhadores.

    O apoio em torno do projeto do governo petista resultado das mnimas polticas que o governo aporta ao movimento, como incentivos e projetos para escoamento dos seus produtos ao setor pblico. O que, de fato, de grande ajuda aos trabalhadores rurais que raramente conseguem competir num mercado dominado pelo agronegcio capitalista. Apesar de reconhecerem que o apoio s grandes empresas capitalistas do campo pelo governo de uma ordem muitssimo maior, o MST possui a viso de que melhor esse pouco nada. Sustentam que a no radicalizao do governo do PT no culpa do partido, mas de condies alheias vontade deste. Ainda circula no imaginrio dos movimentos sociais do campo, infelizmente, que o PT conseguir transformar o brasil pelas vias tradicionais da democracia burguesa.

    Todavia, nos lugares onde o MST ergue acampamentos, a luta intensa, a beleza do povo organizado salta aos olhos. Nada mais belo e emocionante do que ver o povo trabalhador decidindo a sua prpria vida, gerindo suas prprias necessidades, fazendo por suas mos aquilo que lhes diz respeito. Em muitos assentamentos a luta tambm se mantm, mesmo que passados vrios anos da conquista da terra. As reunies, com o povo extremamente humilde, com as demandas das mais genricas s mais pontuais, tambm so oportunidades nicas de presenciarmos os embries das formas de organizao do futuro socialismo brasileiro.

    Ainda que tenham sido duras as crticas ao MST aqui escritas -- muitas delas mais pertinentes ao momento histrico do que propriamente aos seus valorosos militantes --, na mesma intensidade arrebata os militantes a beleza da construo de uma comunidade

  • autogerida, que fazem lembrar as que puseram os Bolcheviques em marcha na URSS com seus Kolkhozes e Sovkhozes (comunidades rurais coletivas e fazendas estatais).

    O que deve ser um jovem Comunista no EIV? Parafrasendo o grande Camarada Ernesto Guevara: o que deve ser um jovem

    Comunista no EIV? Um jovem Comunista, como j apontou Che, deve ser um exemplo vivo, ser o

    espelho onde possa olhar os homens e mulheres de idade mais avanada que perderam certo entusiasmo juvenil, que perderam a f na vida e que ante o estmulo do exemplo reagem sempre bem (GUEVARA, 1962). No Estgio Interdisciplinar de Vivncia, assim como em todos os espaos coletivos da vida social, a nossa atuao sempre medida e aferida pelos demais. Portanto, reconhecidos como Comunistas, devemos nos portar como tais. Ainda que, nesta sociedade, a ao conforme a moral Comunista seja um tanto quanto artificial, no se deve abrir mo da conduta reta revolucionria.

    A moral Comunista de forma alguma confunde-se com a moral burguesa, enquanto esta fruto das relaes sociais alienadas existentes, aquela parte constitutiva da nova sociedade em gestao. Por ainda no existirem as relaes de produo Comunistas sequer socialistas , plenamente justificvel do ponto de vista da cincia marxista, que tambm a moral Comunista seja difcil de ser praticada. Tudo se volta contra ela no atual estado de coisas, e dever do jovem Comunista posicionar-se em sua frrea defesa, e estar frente, em vanguarda, na construo da sociedade verdadeiramente humana.

    O EIV um espao sui generis para viver a interao social caracterstica da juventude: uma bolha de conhecimento e dignidade num oceano de barbrie.

    Vindos eminentemente do meio acadmico, muitos estagirios trazem seus vcios das relaes alienadas. Claro que encontramos tais vcios em todos que sobrevivem neste modo de produo arcaico, porm nos cabe, aos jovens Comunistas, entender para alm das nossas condies objetivas o que pode ser feito e o que pode acumular para a construo do Socialismo. Devemos agir conforme o futuro que lutamos, tarefa heroica, para a qual precisamos de muita fora, buscando nos espelhar nos grandes exemplos Comunistas que aportaram a prpria vida causa.

    De fato, somos apenas homens e mulheres, jovens, que passaram a combater a injustia que nos fere nossa carne quando nos toca, e aos nossos olhos quando a vemos tocar nossos semelhantes a todo momento. E esta a nossa tarefa primordial enquanto jovens Comunistas, a de ser essencialmente humano, ser to humano que se aproxime ao melhor do humano, purificar o melhor do homem por meio do trabalho, do estudo, do exerccio de solidariedade continuada com o povo e com todos os povos do mundo, desenvolver ao mximo a sensibilidade at se sentir angustiado quando um homem assassinado em qualquer canto do mundo e para se sentir entusiasmado quando em algum canto do mundo se ala uma nova bandeira de liberdade (GUEVARA, 1962).

    Para o Estgio aportam jovens de todas as matizes de pensamento, em sua maior parte desejosos de conhecer a realidade dos movimentos sociais do campo. Alguns poucos, vale dizer, no esto interessados nas lutas populares, to s desejam conhecer o Campo, em abstrato, ou a passar frias numa espcie de hotel fazenda gratuito.

  • No fcil agir conforme a moral Comunistas quando estamos num grupo juvenil guiado pela incontinncia de conduta. Fatalmente comete-se erros no processo.

    Todavia, se por um lado no se deve deixar levar pelas aes moralmente esprias da moral burguesa, tambm no se deve ser excessivamente rgido ante tais atos. importante, que ao nos colocarmos como Comunistas, no podemos, com isso, criar uma barreira entre ns e o resto alienado e equivocado. Precisamos abrir caminhos de dilogo, apresentando o materialismo histrico-dialtico onde for possvel. Diante da conjuntura, necessrio que sejamos criativos frente s aes dos demais estagirios, sem, contudo, pecar pelo excesso de rigidez ou pelo excesso de complacncia. Est a posto um grande desafio.

    Nas discusses, devemos nos posicionar de forma a garantir que o foco no se distancie da questo poltica. muito comum que a discusso caia na vala comum do bucolismo campestre, exaltando-se as belezas e pontos altos do modo de vida campons. Devemos estar conscientes que a nossa atuao precisa acumular para a modificao do modo de produo capitalista, que atua tanto no campo quanto na cidade, sendo a glamourizao do Campo e as propostas de comunidades alternativas camponesas, falsas sadas para o problema que muito maior.

    O conjunto dessas relaes de produo constitui a estrutura econmica da sociedade, a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurdica e poltica e qual correspondem formas de conscincia social determinadas. O modo de produo da vida material condiciona o processo da vida social, poltica e intelectual, em geral. No a conscincia dos homens que determina o seu ser, mas, pelo contrrio, o seu ser social que determina a sua conscincia. (Karl Marx)

    Ns, enquanto comunistas (e consequentemente materialistas), devemos no

    apenas estar plenamente cientes dessa predominncia (dialtica e no causal determinista) do modo de produo sobre as formas de conscincia social, como tambm devemos sub-entender essa relao em nossa prtica poltica. Se por um lado a ideologia dominante busca eternizar a estrutura social existente, de outro, o ps modernismo leva aqueles acometidos por esse mal a elaborar ou acreditar em estratgias de mudana completamente desvinculadas da realidade, sem base cientifica e completamente romantizadas.

    Exemplo do que pode ocorrer (a intensidade pode variar): compreenso de que a industrializao e outros fenmenos da civilizao so consequncia indissocivel do capitalismo, e portanto, para fugir dos males do capital, deve-se buscar a vida em comunidades isoladas, sem industrializao, sem mercadorias, etc.

    Frente a uma situao do gnero, o Comunista deve ser didtico em demonstrar que: - apesar de historicamente a sociedade de classes ter impulsionado o desenvolvimento das foras produtivas, (embora no atual momento histrico a apropriao privada e a consequente produo mercantil sejam freios para o desenvolvimento destas) inteiramente possvel (e inevitvel) que continue-se desenvolvendo as foras produtivas, mas de acordo com o interesse social (e no do capital). Isto , mostrar que o problema por trs da pseudo-oposio entre industrializao e harmonia social nada mais que a produo atualmente ser voltada exclusivamente

  • para a reproduo do capital, deixando os interesses sociais em segundo plano. Portanto, pondo a prioridade da produo como satisfao das necessidades sociais, possvel a coexistncia entre desenvolvimento das foras produtivas e harmonia social.

    - ainda que o fulano esteja muito desejoso por largar tudo e se mudar para o campo ou para uma caverna (numa espcie de nihilismo misturado com franciscanismo), a opo de vida tida como simples ameaada pela tendencia expansionista do capital. Com o fortalecimento do agronegcio, a partir da revoluo verde, a pequena propriedade do agricultor fica ameaada tanto agrologicamente pelos agrotxicos, quanto economicamente pela estrutural vantagem que o latifundirio tem sobre os camponeses na hora de comercializar.

    Quando compreendemos que todos os problemas que so expostos durante o estgio s podem de fato ser resolvidos por uma reorganizao da sociedade desde suas estruturas, o foco da nossa atuao deve ser claro: formar outros jovens Comunistas, traz-los para a luta social. Demonstrar que o nico caminho para a transformao social o caminho traado pelos Comunistas. O EIV um espao dos mais importantes para nos preparar, pr em prtica nossas ideias e exercitar a discusso.

    Nesses espaos podemos exercitar aquilo que desejamos numa sociedade Socialista, bem como exercitar e desenvolver um grande esprito de sacrifcio, um esprito de sacrifcio no apenas para as jornadas heroicas, mas para todo o momento. Sacrificar-se para ajudar o companheiro nas pequenas tarefas e que possa cumprir o seu trabalho, para que possa cumprir com o seu dever no colgio, no estudo, para que possa melhorar de qualquer maneira. Estar sempre atento a toda a massa humana que o rodeia.

    [...] Tem de ser assim, deve ser assim, e assim que ser, companheiros, ser assim, porque vocs so jovens comunistas, criadores da sociedade perfeita, seres humanos destinados a viver num mundo novo de onde ter desaparecido de vez todo o caduco, todo o velho, tudo o que representar a sociedade cujas bases acabam de ser destrudas. Para atingirmos isso cumpre trabalhar todos os dias. Trabalhar no senso interno de aperfeioamento, de aumento dos conhecimentos de aumento da compreenso do mundo que nos rodeia. Inquirir e pesquisar e conhecer bem o porqu das coisas e colocar sempre os grandes problemas da Humanidade como problemas prprios (GUEVARA, 1962).

    importante que os camaradas que venham a participar do EIV, (estagirio, CPP ou

    convidado) se coloquem enquanto membros da JCA (e consequentemente ajam com as responsabilidades j citadas), de maneira a garantir que os estagirios (e demais pessoas), vejam na nossa Juventude uma organizao legtima e uma alternativa de militncia. A propaganda da organizao no EIV (como em qualquer outro espao) deve ser obviamente no de um ponto de vista assediativo ou como nica-opo, mas respeitando o processo dos independentes. A melhor propaganda da JCA sempre foi e sempre ser nossa dedicao atuao prtica.

    A atuao da JCA no EIV no deve se restringir apenas aos 20 dias de estgio. importante que mantenhamos um acompanhamento dos estagirios no periodo que segue a finalizao do estgio. Tal acompanhamento pode ser feito de inmeras maneiras desde ir em grupo num bar at convid-los para espaos de formao abertos da JCA. O importante estar sempre prximo e disponvel para esclarecimentos polticos.

  • Em muitos casos os estagirios do EIV so de cursos que temos atuao na base, e nesses casos acaba sendo de menor relevncia a ostensividade do acompanhamento ps-EIV, uma vez que travar-se- contato atravs da atuao na base. Entretanto, na maior parte dos casos, no temos nenhum tipo de proximidade com os estagirios (cursos onde no temos atuao, ou de outras cidades). para exatamente esses casos que escrevemos essas guias, para garantir que tenhamos maneiras de manter o contato poltico com os estagirios que demonstraram afinidade poltica durante o estgio.

    Alm disso, a atuao da JCA no EIV tambm deve ser pensada durante todo o ano, ao longo da construo da CPP. A CPP, enquanto espao de atuao da JCA tem suas especificidades que devem ser levadas em considerao quando vamos elaborar um plano de ao para ela. Diferentemente de um DCE onde basicamente militariam todos nossos militantes que estudam na determinada universidade, na CPP do EIV, devemos selecionar alguns camaradas para ficarem responsveis. Essa seleo deve levar em conta, como sempre, equilibrio de experincia com reconhecimento individual (significa que no faz sentido deslocarmos muitos de nossos militantes mais experientes se eles estiverem afastados do EIV a muito tempo).

    Em Santa Catarina (possivelmente nos outros lugares seja similar) a CPP se divide tambm em brigadas: finanas, articulao, comunicao e formao. Uma vez por ms a CPP se rene para ter um espao de formao e ir aos poucos construindo o prximo EIV. A diviso por brigadas na verdade se refere mais s tarefas a serem efetuadas pelos membros entre cada encontro da CPP, sendo elas muito mais executivas do que deliberativas. Nesse sentido, o militante da JCA que compuser a CPP deve cumprir as tarefas de sua brigada durante o ms e estar preparado para atuar politicamente na reunio mensal. Para isso importante que os camaradas que componham a CPP tenham maneiras de reunir-se e dialogarem entre si, de maneira a afinar nossa atuao, entre os encontros mensais. No existe necessidade de criar um ncleo da JCA exclusivo para atuao no EIV, uma vez que nossa meta que a construo deste esteja cada vez mais articulada nos espaos de organizao trabalhista e estudantil, mas seria interessante ter uma reunio mensal pr-estabelecida entre os camaradas que compe a CPP para garantir que os propsitos citados sejam efetivados.

    TESES RESOLUTIVAS 1) Manter como atividade estratgica a nossa atuao qualificada nos EIVs, por

    consider-lo um espao fundamental de formao e organizao; 2) Incentivar a participao dos Camaradas e contatos prximos nos EIVs que se

    seguirem; 3) Organizar um espao de formao aberto da JCA nas semanas sequentes ao

    trmino do EIV, garantindo assim um espao para dar continuidade ao processo de elevao de conscincia e organizao dos estagirios. O tema do espao de formao no precisa ser necessariamente algo relacionado ao EIV, mas importante que seja pensado de forma a ser convidativo aos estagirios.

  • 4) Construir o EIV em todos os estados onde a JCA esteja inserida. No havendo

    condies de compor a CPP enquanto JCA, a orientao de avaliar a possibilidade de comp-la enquanto centros acadmicos, diretrios, sees regionais do GTNUP, etc.

    5) Garantir um nmero mnimo de Camaradas para acompanhar os processos de

    construo dos EIVs que nos propusermos a construir, colaborando para a solidez terica e estrutural dos espaos que compem o estgio.

  • A ATUAO DA ESQUERDA NO PAS

    Por Ana Carla, Michele (Ncleo Srgio Ferro/SC) e Jonaz (Ncleo Gregrio Bezerra/RS)

    A necessidade de uma organizao revolucionria No Manifesto Comunista, Marx e Engels escrevem que a histria de todas as

    sociedades at hoje existentes a histria das lutas de classes. Tal como nas pocas passadas, hoje, a sociedade na qual vivemos encontra-se envolta em contradies e permeada por antagonismos. O que de certa forma no poderia ser diferente, j que o modo capitalista de produo jamais projetou dentro dos seus limites o fim da explorao e da opresso de uma classe pela outra. O capitalismo nasce da explorao e dela tira o seu sustento. A existncia objetiva do capital torna-se invivel se no tiver por base a extrao do mais-valor. Coisa que s pode acontecer mediante a contratao/explorao da fora de trabalhado assalariada que vendida cotidianamente por aqueles no possuem em suas mos os meios necessrios e fundamentais de produo. Assim ns temos a sociedade dividida em classes. Uma que detentora dos meios de produo e que vive da explorao alheia, e outra que a classe dos no proprietrios, ou seja, daqueles que por no possurem os meios de produo so obrigados a vender a sua fora de trabalho para aqueles que queiram compr-la no mercado. Portanto, se a sociedade est dividida em classes, no h porque acreditarmos que os interesses dessas mesmas classes iro coincidir para todo sempre, ainda que no senso comum seja possvel imaginarmos ou, at mesmo, enxergarmos isso!

    Acontece que o simples fato de vivermos numa sociedade cujo mercado se destaca como o espao privilegiado das realizaes, que se processam atravs da compra e venda, ns acabamos por acreditar ou aceitar que esse o nosso espao, o lugar comum onde todos se encontram e encaminham as suas realizaes. Da que a nossa conscincia acaba absorvendo essa idealizao de que todos, em princpio, so iguais. Porque todos compram e/ou vendem para todos, numa relao recproca de satisfao e/ou realizao pessoal ou impessoal. Sendo assim, a ideologia dominante pode e deve encontrar a um ambiente propcio para se afirmar como sendo a ideia comum quase que natural de que no existem classes sociais distintas, que dir antagnicas. Todos ns somos um s povo, uma s massa, uma nao. No entanto, nesse mundo nem todos comensais so iguais.

    H desigualdades, iniqidades, injustias, discriminaes, etc., portanto, nem tudo pode ser encarado de forma igual, ainda que exista um esforo da ideologia dominante em fazer crer que todas essas diferenas so questes de cunho pontual, pessoal ou acidental. Quando no, natural!

    Todavia, essas pessoas que sofrem com tais desigualdades no sofrem caladas, elas tendem a buscar uma explicao, uma sada ou soluo. Da a proliferao de promessas, ideias ou salvaes mgicas, irracionais ou impraticveis. Que no fundo no fazem outra coisa a no ser renovar as esperanas das pessoas, para que todas

  • continuem acreditando nessa ordem social. Para que todas busquem de uma forma ou outra se ajustar ao padro que tido como normal, funcional e imutvel.

    Assim, anulam-se as crticas, os projetos verdadeiramente revolucionrios e as tentativas de transformao da ordem social. No a toa que hoje em dia mais fcil as pessoas acreditarem em coisas sobrenaturais ou em grandes catstrofes naturais, do que numa alternativa revolucionria e vivel que busque transformar radicalmente a ordem societria. Isso porque, atualmente, ns vivemos um perodo que poderamos muito bem classificar de ostracismo revolucionrio, que se apresenta de forma global e at mesmo visceral. Exemplo disso so as recentes manifestaes de trabalhadores e jovens seja no Brasil, EUA ou na Europa (talvez exceto na Grcia) que na sua maioria protestavam contra os efeitos da crise sem saber exatamente o que criticar e, principalmente, para aonde apontar.

    Se voltarmos ao Manifesto, ns poderemos constatar que os seus autores advogavam que o proletariado precisava se organizar como classe, como partido poltico. O que numa rpida traduo pode significar que o movimento proletrio, como movimento autnomo da imensa maioria em proveito da imensa maioria (pg.50), deve se apoderar do seu programa poltico para travar a sua luta contra o capital, defendendo os seus prprios interesses contra os interesses antagnicos da burguesia. Quanto aos revolucionrios caberia o dever de ajud-los a avanar nessa luta para que o movimento em si se transformasse num movimento autenticamente revolucionrio, cujo objetivo final seria o de acabar com a ordem social regida pelo capital.

    Na prtica, os comunistas constituem a frao mais resoluta dos partidos operrios de cada pas, a frao que impulsiona as demais; teoricamente tm sobre o resto do proletariado a vantagem de uma compreenso ntida das condies, do curso e dos fins gerais do movimento proletrio. (pg.51)

    Sendo assim, nenhum movimento revolucionrio poder brotar espontaneamente

    das manifestaes de massas, mesmo quando essas so diretamente afetadas pelos ditames do capital. Se no houver a mediao dos comunistas, e portanto, a absoro da teoria revolucionria, dificilmente haver revoluo. Pois muito daquilo que se entende por revoluo, s vezes, no passa de um impulso ou ato insurrecional que visa to somente a tomada do poder 1. Sendo que para Marx a tomada do poder sempre foi visto como um meio e nunca como um fim. At porque, para ele, a transio socialista implicava no somente em tomar o Estado burgus, como tambm, em destru-lo. Basta lembrar da clebre lio que ele tirou da Comuna de Paris quando afirmou que no bastava apoderar-se da mquina estatal para fazer servi-la aos seus prprios fins.

    Mas antes de tratarmos da questo do Estado, torna-se foroso prosseguirmos na recuperao dos apontamentos que esto contidos no Manifesto, e que dizem respeito ao objetivo imediato dos comunistas. So eles: constituio do proletariado em classe,

    1 No nosso entendimento, o que Marx entende por revoluo algo que vai muito alm da simples troca de poder.

    Entendemos que revoluo, para ele, aquilo que transcende a ordem social transformando profundamente sua estrutura. O que de certa forma pode ser resumido na seguinte passagem: Para ns, no se trata de modificar a propriedade privada, mas de aniquil-la, no se trata de camuflar as contradies de classe, mas de abolir as classes, no se trata de melhorar a sociedade vigente, mas de fundar uma nova. (Mensagem do Comit Central Liga [dos Comunistas], pg. 64)

  • derrubada da supremacia burguesa, conquista do poder poltico pelo proletariado. (pg. 51)

    Como j foi destacado diversas vezes pelo terico revolucionrio Florestan Fernandes, esses trs objetivos que esto presentes no Manifesto so essenciais ao socialismo proletrio.

    1) A constituio do proletariado em classe

    claro que, para o trabalhador transformar a sua condio de existncia e a sociedade na qual vive precisa proceder como faz a burguesia, isto , organizar-se como classe. Esse processo espontneo, mas possui componentes que dependem da conscincia social dos agentes histricos. O trabalhador precisa compreender que o sindicato um meio de luta, mas que insuficiente e que necessrio inventar outros meios de luta, que so os partidos polticos.

    2) A derrubada da supremacia burguesa

    No basta ao trabalhador se desenvolver como classe, dispor de sindicato, partidos e organizaes culturais, educacionais (). necessrio que ele adquira a conscincia social da subalternizao, da importncia de adquirir todos os direitos concedidos pela cidadania e acabar com o despotismo na fbrica e com o despotismo na sociedade civil, porque esses dois despotismos caminham juntos. Seria ilusrio pensar que o despotismo na fbrica uma contingncia da vida burguesa, porque ele se reproduz na comunidade onde vivem os trabalhadores. () Da a necessidade de limitar, primeiro, o poder da burguesia na fbrica, na sociedade global, no Estado, e de disputar, classe a classe, em todos os nveis, com a que exerce o monoplio da riqueza, da cultura, e do poder poltico. Por isso, crucial desenvolver conscincia social de classe e capacidade de luta poltica organizada, coisas que esto ligadas entre si. A partir desse patamar, pode-se falar de movimento socialista e de desalienao dos de baixo. Os trabalhadores formam, nesse momento, uma classe em si, capaz de lutar por seus objetivos, independentemente de qualquer ligao associao, submisso, cooptao com o capital, com a burguesia e com outras classes intermedirias.

    3) A conquista do poder poltico pelo proletariado

    Esta a etapa mais avanada, na qual o trabalhador pode sair para a luta poltica no mais para resolver problemas de sua classe, mas para construir uma sociedade nova e um Estado de novo tipo, nos quais a democracia se inicia como a democracia da maioria e no como democracia da minoria, no como democracia representativa que favorea os poderosos e subalternize aqueles que so menos iguais, que so dependentes e vivem

  • em condies de desigualdade social. algo importante distinguir entre ocupar o poder e conquistar o poder. H vrios exemplos histricos nos quais os trabalhadores, os partidos socialistas ou social-democratas ocuparam o poder. Mas a conquista do poder significa que o movimento social de transformao da ordem existente atingiu seu objetivo, a classe capitalista no ter mais condies sociais e polticas de se reproduzir como classe dominante 2

    Esses trs objetivos extrados do Manifesto e apontados pelo Florestan Fernandes

    podem muito bem nos servir como um parmetro para entendermos em que patamar das lutas de classes ns estamos e quais so os nossos deveres para com a luta social. evidente que esses objetivos no se estabelecem de forma linear, como um processo contnuo a ser seguido sem possveis imbricaes ou retrocessos. No entanto, fica claro que na atual conjuntura brasileira pouco, ou quase nada, foi alcanado nesse sentido pela esquerda revolucionria nas ltimas movimentaes polticas a nvel nacional.

    E por mais que os trabalhadores tenham ido s ruas ou tenham realizado as suas greves, pouco se pode dizer de um movimento significativo da esquerda organizado e dos partidos polticos que se apresentam como representantes da classe trabalhadora. Talvez porque a insero dos poucos militantes que esto realmente comprometidos com a revoluo seja muito pequena, e porque a posio atual dos partidos ditos de esquerda esteja muito distante do que fora postulado no Manifesto como tarefa poltica imediata dos comunistas. Exemplo disso so: as disputas por vias institucionais pela ocupao do Estado; a total ausncia de um programa poltico revolucionrio que vise a tomada violenta do poder; a incompreenso de que necessrio organizar os trabalhadores como nas centrais, por exemplo , para que os mesmos lutem contra a supremacia burguesa; a deficincia terica e o trabalho precrio de elevao do nvel de conscincia social, etc. Tudo isso pode ser somado ao momento de fragilidade organizacional em que nos encontramos e que acaba contribuindo para que cada qual busque uma sada individual, em uma tentativa quase que desesperada de tentar se construir como sendo a verdadeira (e por que no a nica?) alternativa revolucionria. O que por sua vez, s faz aumentar o sectarismo, a fragmentao e a deformao na esquerda pretendida como revolucionria.

    Essas ideias de que o Estado um ente neutro em disputa, de que as composies partidrias com plataformas polticas distintas so viveis, de que as instituies democrticas constituem-se como espaos privilegiados para a nossa atuao, de que os acertos de cpula determinam o futuro das bases, e todas as outras prticas deturpadas e deturpadoras que so completamente nefastas a toda e qualquer forma de atuao. E no so poucos os partidos, entidades, organizaes e movimentos que adotam essas concepes como sendo os modus operandi de se fazer poltica. Nesse sentido, aquele que nega passa a ser determinado por aquilo que negado. Em outras palavras, isso significa que a forma de atuao poltica burocrtica burguesa passa a ser adotada como a forma por excelncia de atuarmos junto as bases. Assim, em nome das formas viveis e possveis de atuao, todo o potencial poltico de contestao vai se conformando como uma fora de barganha ou negociao.

    2 FERNANDES, Florestan. Reflexes sobre a auto-emancipao dos trabalhadores, pgs. 223-225.

  • Certa vez, Engels, num prefcio do Manifesto edio inglesa (1888), escrevera

    Para o triunfo decisivo das ideias formuladas pelo Manifesto, Marx dependia unicamente do desenvolvimento intelectual da classe operria, o qual deveria resultar da unidade da ao e da discusso. Os acontecimentos e as vicissitudes da luta contra o capital, as derrotas maiores que as vitrias, poderiam apenas mostrar aos combatentes a insuficincia de todas as panaceias em que acreditavam, fazendo-os compreender melhor as verdadeiras condies da emancipao da classe operria. E Marx tinha razo. (pg. 76)

    No s das idas e vindas, dos avanos e retrocessos, das conquistas e perdas

    feita a luta da classe operria. Ou seja, para alm das lutas objetivas no cho da fbrica existe tambm uma luta encarniada que travada no campo das ideias. Nesse sentido, a busca pela unidade na ao e no pensamento to importante quanto a busca por novos instrumentos de mobilizao e organizao da classe operria. Portanto, no se trata somente de questionarmos a validade ou a eficcia dos nossos instrumentos, coisa que atualmente est em voga na esquerda em geral, preciso tambm retomarmos de forma profundamente crtica as discusses politico tericas que ganharam terreno nas ltimas dcadas, vicejando dentro das esquerdas partidrias e dos movimentos sociais. Da a necessidade de se pautar o carter do Estado e a atuao dos partidos polticos, por exemplo. Porque se voltarmos a Marx, veremos que nem todas as concepes vigentes so de fato atuais. Nesse caso, podemos dizer que so os velhos erros polticos que continuam de uma forma ou de outra pesando sobre a gente 3. Vejamos:

    O Estado jamais ver no 'Estado e na organizao da sociedade' a razo das mazelas sociais (). Onde quer que haja partidos polticos, cada um deles ver a razo de todo e qualquer mal no fato de seu adversrio estar segurando o timo do Estado. Nem mesmo os polticos radicais e revolucionrios procuram a razo do mal na essncia do Estado, mas em uma determinada forma de Estado, que querem substituir por outra forma de Estado. (Glosas crticas... pg. 38)

    Assim, a luta partidria passa a ser contra os polticos corruptos, contra os

    traidores, contra as pssimas formas de gesto, contra o neoliberalismo, contra a situao. Pouco se fala e quase nada se faz com relao a estrutura sob a qual se erguem essas formas de Estado. Parafraseando o prprio Marx, ns podemos afirmar que essa misria poltica constitui ao mesmo tempo a expresso da misria real e o protesto contra a misria real 4. J que o entendimento que se tem, ou melhor, a crtica que se faz dessa realidade ao mesmo tempo contestatria e corroboradora dela. Portanto, cabe

    3 Como diria Marx no seu livro O 18 de brumrio: Os homens fazem a sua prpria histria; contudo, no a fazem de

    livre e espontnea vontade, pois no so eles quem escolhem as circunstncias sob as quais ela feita, mas estas lhes forma transmitidas assim como se encontram. A tradio de todas as geraes passadas como um pesadelo que comprime o crebro dos vivos. E justamente quando parecem estar empenhados em transformar a si mesmos e as coisas, em criar algo nunca antes visto, exatamente nessas pocas de crise revolucionria, eles conjuram temerosamente a ajuda dos espritos do passado, tomam emprestados os seus nomes, as suas palavras de ordem, o seu figurino, a fim de representar, com essa venervel roupagem tradicional e essa linguagem tomada de emprstimo, as novas cenas da histria mundial. (MARX, K. O 18 de brumrio de Lus Bonaparte. Pg. 25-26.)

    4 Cf. MARX, K. Crtica da filosofia do direito de Hegel Introduo. pg. 145.

  • aos revolucionrios retomar em toda sua profundidade, de forma radical, a crtica da terra para derrubar o cu.

    As contradies do capitalismo precisam ser exploradas, os limites da ordem institucional precisam ser tensionados, as formas de reproduo social precisam ser questionadas e os processos de valorizao do capital precisam ser atacados, porque s assim ns conseguiremos criar as condies objetivas e subjetivas to necessrias para a organizao da fora social proletria. Tarefas que j foram apontadas por Marx e Engels em meados do sculo XIX, e que mais do que nunca continuam atuais para a nossa realidade.

    A conjuntura atual Talvez nos encontramos em um momento histrico em que a esquerda, apesar de

    no to expressiva em nmeros e quantidade de militantes, est mais difusa do que nunca. Diversas organizaes so criadas e desfeitas a cada ano que passa. Alm disso, diferentes linhas de atuao dentro dos partidos, com maiores filiados, surgem a todo momento. Essa difuso s faz desunificar a esquerda em todo o pas, com diferentes formas de atuar e diferentes formas de analisar a realidade como est posta.

    necessrio que consigamos elevar nossas pautas e nos unir em um programa revolucionrio, que tenha como objetivo final uma revoluo socialista. No podemos deixar de lado as limitaes das compreenses e horizontes estratgicos defendidos por cada organizao. exatamente por ter um vasto estudo da realidade e da histria de dominao do mundo, que to difcil se fazer alianas, que vo alm de um mero objetivo eleitoreiro. Somente com uma aliana e uma unidade programtica conseguiremos unir foras para mobilizar os trabalhadores a fim de buscar a revoluo socialista.

    Sabemos que em muitos momentos da histria do mundo e do nosso pas, os comunistas estiveram presentes frente do movimento, conversando com as massas e dando um fim consequente ele. Situao semelhante aconteceu recentemente, com as chamadas Jornadas de Julho. Apesar da dificuldade em se fazer uma anlise conjuntural ante aquele momento de constantes acontecimentos e soma de diferentes elementos, que num geral nos pegaram desprevenidos, ainda assim, tentamos sempre fazer uma anlise condizente e responsvel, para poder estar junto da massa de estudantes e trabalhadores, na busca de um fim resoluto s manifestaes.

    Nesses movimentos de massas que as organizaes comunistas devem se unificar para poder atingir os estudantes, secundaristas e universitrios, e principalmente, os trabalhadores para aglutinar o movimento, majoritar a esquerda e embasar um movimento revolucionrio.

    Os movimentos de massa tem tambm enorme importncia para que os comunistas possam de fato se aproximar do povo. Devido ao nosso sistema de democracia representativa, os partidos so conhecidos pelos trabalhadores principalmente pela sua participao em eleies. Logo, os partidos que so reconhecidos como a esquerda do Brasil so PSOL, PSTU e claro, os mais que distantes de serem esquerda, PT e PC do B.

  • Temos a clareza dentro da nossa organizao que no a disputa dentro da mquina do Estado que vai nos levar a chegar s massas ou conseguir mudar nossa ordem societria. Entretanto, temos claro tambm de que somente algutinando foras e elevando a conscincia do proletariado e organizando-os que vamos conseguir atingir o objetivo comunista.

    Sendo assim, vemos que mais do que necessrio o fortalecimento de uma organizao revolucionria, que atravs do estudo e da prxis poltica no movimento cotidiano de massa, v em busca da organizao do povo para a construo de uma sociedade comunista.

    No podemos desprezar o fato de termos nomes importantes de partidos realmente de esquerda, que vem fazendo um trabalho a servio do povo e em busca de uma sociedade mais justa e igualitria.Mandatos populares que esto em constante dilogo com base, atuando conjuntamente com os movimentos sociais e buscando experincias que acumulam para um processo revolucionrio. Entretanto, sabemos tambm, que no atravs de avanos pontuais que vamos conseguir atingir nosso objetivo final. Uma vez, que a sociedade do capital, no se descuida e jamais deixar passar medidas que podem, de fato, fazer tremer seus pilares.

    O avano da direita Analisando o movimento da realidade latinoamericana, percebemos a ausncia de

    um projeto que una as diversas correntes polticas, um sintoma disso, como afirmado acima as difuses cotidianas das organizaes que se reivindicam como sendo de esquerda. Dessa forma, o que ocorre o avano de um movimento reacionrio, conservador, que se propaga como novo para consolidar-se.

    Podemos observar na realidade, muitos exemplos desta poltica vazia com vis privatizante destes partidos que esto no governo e seus aliados, entre eles: PT, PC do B, PSDB, PSD, PMDB, entre outros. Projetos privatizantes, que sucateiam diferentes reas das polticas sociais, esto se multiplicando cada vez com mais fora partindo dessas correntes.

    A venda (ou a doao) dos royalties do pr - sal a diversas companhias vinculadas ao imperialismo do grande capital. Foi o que aconteceu mais recentemente com o leilo do Campo de Libra. Uma reserva natural de petrleo que foi leiloada sem sequer ter sido realizada uma anlise prvia da sua capacidade de produo. Escracha a forma como as nossas riquezas naturais esto sendo entregues a interesses escusos, enquanto deveriam servir como forma de acumular capital para investir em polticas pblicas.

    As manifestaes antecedentes ao leilo mostram como a populao est criando conscincia de que os interesses desse governo so outros e esto intimimamente ligados ao proveito do capital. Um momento que de certa forma, fez despertar o povo brasileiro, e j citado em teses anteriormente, foram as Jornadas de Junho, que com certeza contriburam para a constituio desse caldo poltico que vemos agora.

    No campo da educao, temos programas como o FIES (Fundo de Financiamento Estudantil), que consiste em um financiamento para os estudantes, na sua grande maioria pobres, que no conseguiram ingressar em uma universidade ou instituto pblicos. Com esse financiamento eles acessam s universidade privadas base de endividamento.

  • Apesar de conseguirem ingressar no ensino superior sem nenhum gasto inicial, logo aps a concluso estes estudantes devero pagar pela oferta do servio.

    O governo vende a imagem do FIES como sendo uma grande maravilha, pois contribui para aumentar a quantidade de jovens que conseguem adentrar no ensino superior do nosso pas. Acontece que com isso, ele se furta responsabilidade de ampliar o ensino superior pblico, gratuito e de qualidade, a troco de enriquecer ainda mais os bolsos das oligarquias que dominam as universidades privadas do nosso pas. Alm de tratar esses estudantes como meros nmeros para que o Brasil avance em ndices sobre a educao e se torne um pas mais competitivo.

    Na rea social temos os programas de transferncia de renda focalizados de combate pobreza como o Programa Bolsa Famlia - que em seu cerne jamais conseguir trazer a redistribuio de renda, pois se trata apenas de um repasse financeiro s famlias, o qual no consegue atender minimamente as necessidades sociais destes sujeitos, muito menos anula a sua condio de miserabilidade.

    Alm disso, temos o sucateamento seguido de privatizao dos servios sociais na rea da sade, por meio das Organizaes Sociais, fundaes que se propagam como pblicas, porm de direito privado, nas quais a responsabilidade da gesto pblica repassada a esta empresa, ou seja, caracterizando-se assim como o incio da privatizao dos servios de sade pblica. Deixando de lado as necessidades do povo brasileiro.

    Perante tal conjuntura de sucateamento seguido de privatizaes, fica o questionamento: o que a esquerda tem feito? Muito tem nos preocupado com a resposta da esquerda mediante tantos desafios postos no cotidiano, o que mais espanta so as limitaes da ao de uma esquerda realmente comprometida com o povo brasileiro. Ao invs de buscar a unidade para barrar esses retrocessos, o que se percebe uma afiliao de cada organizao com sua respectiva pauta. Algo que para as organizaes comunistas no deve ocorrer, pois devemos ter uma viso totalitria desses retrocessos, que servem para contribuir para o projeto do capital. Entender que no h uma pauta mais importante que outra, mas sim uma necessidade de se travar uma luta fervorosa contra toda e qualquer forma de avano do capital. Como j diria Prestes Os comunistas devem ser os campees da unidade.

    Sem ter essa compreenso, a esquerda brasileira pouco avanar na luta por uma sociedade do povo. Apenas ser ludibriada pelo capital, acreditando que algumas conquistas pontuais, que rapidamente so revertidas, contribuem para um processo de transformao societria. Deixando assim, de acumular foras reais num processo de disputa de interesses antagnicos difundidos pelas classes sociais. Dessa forma, o pensamento poltico e a dominao hegemnica permanecem e nos mantemos estagnados em aes de influncia ilusria na construo de um projeto revolucionrio.

    A universidade em disputa Tendo claro que a universidade constitui a sociedade e portanto, um espelho, com

    expresses e reaes das disputas antagnicas que so travadas nesse meio, vemos a necessidade de se fortalecer uma unidade programtica dentro da universidade, da

  • mesma forma que ocorre na realidade externa esta instituio, s assim, poderemos barrar os ecos do projeto dominante.

    Sabemos muito bem qual a funo da educao dentro desta sociedade capitalista, sendo assim so criadas diversas formas na tentativa de naturalizar o desenvolvimento do capital, pois afinal os estudantes que esto em processo de formao nestas universidades, sero a fora de trabalho que iro produzir e reproduzir as condies que mantm vivo o sistema.

    Assim vemos uma alienao dos estudantes universitrios, promovida pela lgica presente nas instituies de ensino superior e sua materializao se d atravs da averso ao contedo crtico nos Planos Poltico Pedaggicos, da reproduo de opresses e preconceitos presentes nessa sociedade patriarcal, homofbica e racista. O empresariamento da educao atravs da institucionalizao de Empresas Jniores, que utilizam o conhecimento produzido pelos estudantes, fomentado dentro de um espao pblico e o vendem a preos irrisrios para a iniciativa privada. Sem sequer questionar a validade do seu papel quanto detentor de um conhecimento capaz de transformar a atual realidade.

    A promoo do afastamento do estudante com pautas polticas e organizativas cada vez mais frequente. Consolidando-se na criao de Atlticas,que coloca o estudante em uma posio de um ser totalmente acrtco e impulsiona uma repulsa do espao universitrio, enquanto momento de criao, reflexo e com carter pedaggico. Todo esse movimento leva ao pice do consentimento a processos privatizantes dentro das IES.

    Vemos ento, que da mesma forma que a sociedade est num momento crucial de disputa, a universidade no diferente. Por isso a importncia da presena dos comunistas no movimento estudantil, cumprindo a tarefa de organiz-lo, assegurando a permanncia das conquistas histricas e avanando cada vez mais nas pautas progressistas. Sabemos que uma anlise que no considera todos os elementos relevantes, pode gerar consequncias muito profundas para o movimento. Dada a facilidade de disseminao das pautas vazias de contedo levantadas pelos setores reacionrios da universidade, exatamente por fazerem parte de um discurso raso e dominante compatvel ao presente na nossa sociedade, que elas se consolidam to rapidamente, sem qualquer reflexo ou questionamento.

    Entretanto, sabemos que toda poltica que se consolida facilmente, sem uma base forte e difundida, tambm pode facilmente ser desfeita. Contando com uma esquerda esclarecida, quanto ao poder do inimigo e afinada num programa unitrio combativo e com um objetivo transformador. Sem rebaixar suas pautas e seu prprio programa, mas trabalhando para elevar a compreenso da estratgia que levar a revoluo!

  • ORGANIZAO DOS JOVENS TRABALHADORES

    Por Jorge (N. Soledad Barrett Viedma) e Diego (N. Gregrio Bezerra)

    Eu vivo em tempos sombrios. Uma linguagem sem malcia sinal de estupidez,

    Uma testa sem rugas sinal de indiferena. Aquele que ainda ri porque ainda no recebeu a terrvel notcia.

    Que tempos so esses, Quando falar sobre flores quase um crime. Pois significa silenciar sobre tanta injustia?

    Aquele que cruza tranqilamente a rua J est ento inacessvel aos amigos

    Que se encontram necessitados? [...]

    Dizem-me: come e bebe! Fica feliz por teres o que tens!

    Mas como que posso comer e beber, Se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome?

    Se o copo de gua que eu bebo, faz falta a quem tem sede? Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.

    [...] Infelizmente, ns,

    Que queramos preparar o caminho para a amizade, No pudemos ser, ns mesmos, bons amigos.

    Mas vocs, quando chegar o tempo Em que o homem seja amigo do homem,

    Pensem em ns Com um pouco de compreenso.

    (BRECHT, Bertolt. Aos que viro depois de ns.) H algum tempo a JCA vem trabalhando a construo de uma slida organizao

    dos jovens trabalhadores que no esteja subordinada Universidade e que no se confunda com a organizao adulta.

    As primeiras grandes contribuies foram elaboradas no ltimo Encontro Estadual (SC) da JCA, ocorrido em 2011, onde foram traadas as primeiras linhas de anlise e atuao da Juventude no sentido de dar uma maior autonomia e protagonismo a esse setor diferenciado e de certa forma problemtico dos jovens comunistas.

    PRELIMINARMENTE: ALGUNS DADOS SOBRE A JUVENTUDE BRASILEIRA Em 2010 a populao de 20 a 29 anos era de 17.091.222 pessoas, 17,9% dos 190

    milhes de brasileiros.5 A populao empregada, em 2012, segundo o Ministrio de Trabalho e Emprego,

    descrita pela tabela abaixo. Pode-se verificar que comparativamente ao ano de 2011, em

    5 IBGE, 2011.

  • 2012 houve um nfimo incremento do emprego entre a populao jovem, quando no seu decrscimo.

    Faixa Etria 2011 2012 Variao Absoluta Variao Relativa

    (%)

    At 17 anos 502.235 531.618 29.383 5,85

    18 a 24 anos 7.820.740 7.828.573 7.833 0,10

    25 a 29 anos 7.738.086 7.695.450 -42.636 -0,55

    30 a 39 anos 13.562.142 14.094.347 532.205 3,92

    40 a 49 anos 9.913.632 10.157.126 243.494 2,46

    50 a 64 anos 6.370.604 6.717.156 346.552 5,44

    65 ou mais 402.753 434.101 31.348 7,78

    Total 46.310.631 47.458.712 1.148.081 2,48 Fonte: (MTE) RAIS - Dec. 76.900/75 - Elaborao: CGET/DES/SPPE/TEM Obs.: No total esto includos os Ignorados.

    As faixas correspondentes aos extremos, ou seja, a populao mais vulnervel

    (jovens e idosos), por outro lado, apresentam taxas de crescimento relativo, mais expressivas. No que se refere aos jovens (at 17 anos), a elevao do nvel de emprego foi da ordem de +5,85%, percentual inferior ao observado em 2011, quando se registrou uma expanso de +14,48%. Os assalariados com mais de 65 anos e de 50 a 64 anos apresentaram crescimento de, respectivamente, +7,78% e +5,44%, patamares bastante superiores ao observado para o crescimento do saldo de empregos global, incluindo todas as faixas etrias, que foi da ordem de +2,48% [...].6

    Segundo levantamento do IBGE, em 20