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LUIZ SUGIMOTO [email protected] Foto: Antonio Scarpinetti Serviço Obra: Seguridad y Defensa em Sudamérica: entre la cooperación y el conflito Autor: Vitor Stuart Gabriel de Pieri Editora: Eudeba Brasil Venezuela Colômbia Equador Perú Bolívia Argenna Uruguai Chile Oceano Pacífico Oceano Atlânco Suriname G. Francesa LEGENDA A integração da AS é possível? Vitor Stuart Gabriel de Pieri, autor do livro: “As estratégias de defesa e segurança regional são primordiais” Livro de doutorando do IG aponta fatores que podem favorecer ou inviabilizar diálogo regional itor Stuart Gabriel de Pieri es- pera defender o doutorado pelo Instituto de Geociências (IG) até o final do ano, orientado pela professora Claudete Vitte. Mas o tema de sua pesquisa já embasou o livro Seguridad y Defensa em Sudamérica: entre la cooperación y el conflito lançado pela Eudeba, da Universidade de Buenos Aires, uma das principais editoras em língua espanhola do mundo. O livro aparece dentre os destaques na 39° Feira do Livro de Buenos Aires. Nele, o autor procura levantar, sistematizar e ana- lisar os diferentes vetores que, por um lado, contribuem para a convergência de agendas entre os países da América do Sul, e por ou- tro, impossibilitam um diálogo regional am- plo no âmbito político, econômico, social, cultural e ambiental. “A ideia do livro surgiu de alguns dados levantados na época em que atuei como pes- quisador do Gabinete Estratégico Militar do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas Argentinas. São questões que estão por trás de acordos como Mercosul [Mercado Co- mum do Sul], Alba [Aliança Bolivariana para as Américas] e CAN [Comunidade Andina de Nações]. A tendência é que esses acor- dos acabem tendo menos relevância do que a Unasul [União das Nações Sul-Americanas], que possui uma perspectiva acima de tudo política e em escala subcontinental de inte- gração”, explica Vitor de Pieri. O levantamento é minucioso, trazendo dados e análises sobre o que o pesquisador denomina conflitos “intermésticos” (interes- tatais e domésticos) envolvendo temas como delimitações fronteiriças – um dos vetores de fragmentação na política de integração da América do Sul – e sobre uma política con- junta de defesa dos recursos naturais – vista como vetor convergente. “As estratégias de defesa e segurança regional são primordiais para um subcontinente caracterizado por im- portantes reservas de recursos naturais e um enorme potencial de produção de alimentos, frente a um mundo marcado por crises nos Grupo prepara outro livro O doutorando Vitor de Pieri faz parte do grupo de pesquisa “Geografia das Relações Internacio- nais: Estado, Economia Território e Integração Re- gional”, coordenado pela professora Claudete de Castro Silva Vitte. Ao abordar em suas pesquisas os fenômenos geoeconômicos e geopolíticos na América Latina, o grupo pretende contribuir na discussão sobre as principais transformações do papel do Estado e das atividades econômicas, países centrais e exponencial aumento da de- manda por commodities.” Vitor de Pieri avalia que os vetores conver- gentes para a integração sul-americana estão todos atrelados aos recursos naturais, clas- sificados como ativos estratégicos comuns. “Esse termo surgiu em reunião dos ministros de Defesa dos países da região em 2008, em meio às discussões sobre a formação do Con- selho de Defesa Sul-Americano no âmbito da Unasul. Ativos estratégicos são as fontes de recursos naturais transfronteiriças, como por exemplo, a Amazônia, que transcende o ter- ritório brasileiro e se estende por mais oito países; o Atlântico Sul, com as reservas do pré-sal e o conflito em torno das Malvinas; e as reservas de petróleo da Venezuela, já cons- tatadas como as maiores do mundo.” Os dados coletados pelo autor mostram que a América do Sul concentra 40% da biodiversidade do planeta, considerando os aquíferos (reservas sub-superficiais de água) que ocupam enorme extensão da re- gião, bem como as geleiras continentais en- tre a Argentina e o Chile, que também repre- sentam reservas de água doce. “Uma tabela sobre a oferta sul-americana de recursos naturais estratégicos traz minuciosos per- centuais como de água, floresta, pesca, pe- tróleo e minerais, nos níveis dos territórios nacional, continental, regional e mundial. Os recursos naturais surgem como vetor convergente de integração regional, através do Conselho de Defesa Sul-Americano, bra- ço importante da Unasul.” Na opinião de Pieri, alguns números chamam a atenção, como os referentes aos minerais, além da água e da biodiversidade. “A Bolívia possui 49% da reserva mundial de lítio, matéria-prima estratégica, utilizada na produção de baterias, enquanto o Brasil detém 96% do nióbio, que é fundamental na tecnologia da informação. Outra tabela interessante é sobre terras aptas para a agri- cultura: 33% do território argentino, que é o sexto do mundo, pode ser cultivado sem ne- cessidade de qualquer preparo; o Brasil tem 9% do território nas mesmas condições, área maior do que de países como a França e Itália juntos.” CONFLITOS INTERMÉSTICOSSe acordos como a Unasul parecem plausí- veis no papel, Vitor de Pieri aponta os vetores divergentes que dificultam esta integração na prática. Ele mapeou os principais conflitos “intermésticos” na região, desde a Guerra do Pacífico no final do século 19 até a desaven- ça entre Venezuela e Colômbia em 2010: são conflitos por demarcação de fronteiras, am- bientais, energéticos, agrários e geopolíticos. “Aponto os Estados envolvidos, o período de máxima tensão, nível atual de tensão e o grau de instabilidade (se há declaração formal de guerra, disputa sob arbitragem internacional ou ruptura de relações diplomáticas).” As instabilidades políticas em países como Venezuela e Bolívia são exemplos de confli- tos domésticos mencionados pelo autor do trabalho, que procurou apontar as principais motivações e atores. “Não se sabe o que vai ser dos venezuelanos com a morte de Hugo Chávez e sua sucessão por Nicolás Maduro. Temos também a ‘guerra civil’ colombiana; a oposição acirrada da Igreja, meios de comu- nicação e ruralistas a Cristina Kirchner na Argentina, etc. Esses conflitos geram insta- bilidades no campo econômico, afastando in- vestidores da região e criando desequilíbrios nas contas nacionais desses países.” Os conflitos identificados como interesta- tais, segundo Vitor de Pieri, são reflexos de conflitos clássicos como a Guerra do Pacífico (ou Guerra do Salitre), causada por questões fronteiriças e que confrontou o Chile contra uma força conjunta de Bolívia e Peru, entre 1879 e 1883. A vitória foi do Chile, que ane- xou áreas ricas em recursos naturais dos dois países rivais, sendo que a Bolívia ficou sem saída para o Pacífico e o Peru sofreu com per- da de território marítimo para o Chile. “Per- sistem até hoje diversos problemas no âmbito diplomático entre esses três países, inclusive com cortes de relações diplomáticas em diver- sos momentos da história contemporânea.” RECURSOS NATURAIS EM JOGO O pesquisador acrescentou em seu le- vantamento os recursos naturais em jogo nesses conflitos, como o petróleo na Guer- ra do Chaco, ocorrida de 1932 a 1935 entre Paraguai e Bolívia, resultando em dezenas de milhares de mortos por conta das even- tuais reservas naquela região. “Também ve- rifiquei o envolvimento direto ou indireto de terceiros atores (internacionais) e, no caso do Chaco, havia o interesse da ame- ricana Standard Oil e da holandesa Dutch Shell pelo território. No começo dos anos 2000, tivemos a criação do Plano Colômbia de combate ao narcotráfico, uma coopera- ção militar sob a influência direta dos Esta- dos Unidos.” Vitor de Pieri afirma que outro conflito demonstrando a fragilidade nas relações en- tre os países da América do Sul é a crise das “papeleras” (indústrias de papel e celulose), entre Argentina e Uruguai, que vem desde 2003. Tudo começou com um protesto de cunho ambiental, por cidadãos argentinos, contra a construção pelo Uruguai de duas usinas de celulose na fronteira traçada pelo rio La Plata: eles passaram a bloquear o aces- so às pontes que ligam a cidade uruguaia de Fray Bentos à argentina Gualeguaychú, pre- judicando a circulação de turistas e de mer- cadorias entre os dois países. “O que era um conflito local, tornou-se nacional e depois mundial, indo parar na Corte Internacional de Haia.” O Brasil não ficou livre de conflitos no período abordado pelo autor do livro, que começa registrando a disputa pelo Acre com a Bolívia entre 1899 e 1903, envolvendo re- volta armada de colonos brasileiros que ocu- param o território até então pertencente ao país vizinho, declaração formal de guerra e muita diplomacia – motivo: a abundância de seringueiras em pleno ciclo da borracha. O levantamento inclui os atritos com Argenti- na e Paraguai em torno da Usina de Itaipu, entre fazendeiros paraguaios e brasiguaios, e o recente massacre de Albina, em dezem- bro de 2009, quando garimpeiros brasileiros foram atacados com facões e pedras por qui- lombolas da pequena cidade do Suriname. PENDÊNCIAS DIVERSAS A conclusão de Vitor de Pieri é que a in- tegração está complicada do ponto de vista geopolítico e geoeconômico, mas vem se criando um diálogo do ponto de vista geoes- tratégico, especialmente a partir do debate sobre os ativos estratégicos comuns. “Ain- da não podemos pensar em colocar os pre- sidentes da Bolívia e do Chile lado a lado, imaginando que se tornem amigos imedia- tamente, pois há muitas pendências a serem resolvidas. Mas espero que este livro, ao sistematizar os obstáculos existentes para a integração entre os países, contribua de al- guma forma com os estudos relacionados à segurança e defesa regionais. Não se pode dizer que está tudo bem na América do Sul.” com suas consequências territoriais e sociais. Pretende, também, discutir os diversos proces- sos de integração em curso no subcontinente, observando os principais atores (governos, em- presas, sociedade civil, organizações internacio- nais). O grupo está elaborando o livro América do Sul: Estado, Economia, Território e Integração Regional, com previsão de lançamento para setembro deste ano pela Cenegri Edições. Guiana Região do Rio Manon Pecuaristas e Paraguai Rio Uruguai Nacionalização das Região do Andino Central Brasiguaios Fazendeiros Amazônia Legal Região do Triângulo do Novo Rio Região de Esseguibo Bacia de Arica Org.: Prof. Dr. Wanderley Messias da Costa Apoio: Viviam Merola 2007 Conflitos por Demarcação de Fronteiras Conflitos Ambientais Conflitos de Controle Fronteriço Conflitos Energécos Conflitos Agrários Eq q Oceano Pac c tlânco t LEGENDA G G uia uia Região do Rio Manon Pecuaristas e Agricultores ai a Rio Uruguai Nacionalização das Reservas de Gás Natural Região do Andino Central Itaipú Binacional Brasiguaios Fazendeiros Amazônia Legal Região do Triângulo do Novo Rio Região de Esseguibo Região da Bacia de Arica Org.: Prof. Dr. Wanderley Messias da Costa Cartografia: George Marcel Rosa Apoio: Viviam Merola 2007 Conflitos p p de Fronte ei Conflitos A A Conflitos d d Fronteriço o Conflitos E E Conflitos Agrários Conflitos Geopolícos Campinas, 13 a 19 de maio de 2013 3

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Page 1: 3 A integração da AS é possível? · dos acabem tendo menos relevância do que a Unasul [União das Nações Sul-Americanas], que possui uma perspectiva acima de tudo política

LUIZ [email protected]

Foto: Antonio Scarpinetti

ServiçoObra: Seguridad y Defensa em Sudamérica: entre la cooperación y el conflitoAutor: Vitor Stuart Gabriel de PieriEditora: Eudeba

Brasil

Venezuela

Colômbia

Equador

Perú

Bolívia

Argenti na

Uruguai

ChileOceano Pacífi co

Oceano Atlânti co

Suriname

G. Francesa

LEGENDA

A integração da AS é possível?

Vitor Stuart Gabriel de Pieri, autor do livro: “As estratégias de defesa e segurança regional são primordiais”

Livro de doutorando do IG aponta fatores que podem favorecer ou inviabilizar diálogo regional

itor Stuart Gabriel de Pieri es-pera defender o doutorado pelo

Instituto de Geociências (IG) até o final do ano, orientado pela

professora Claudete Vitte. Mas o tema de sua pesquisa já embasou o

livro Seguridad y Defensa em Sudamérica: entre la cooperación y el conflito lançado pela Eudeba, da Universidade de Buenos Aires, uma das principais editoras em língua espanhola do mundo. O livro aparece dentre os destaques na 39° Feira do Livro de Buenos Aires. Nele, o autor procura levantar, sistematizar e ana-lisar os diferentes vetores que, por um lado, contribuem para a convergência de agendas entre os países da América do Sul, e por ou-tro, impossibilitam um diálogo regional am-plo no âmbito político, econômico, social, cultural e ambiental.

“A ideia do livro surgiu de alguns dados levantados na época em que atuei como pes-quisador do Gabinete Estratégico Militar do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas Argentinas. São questões que estão por trás de acordos como Mercosul [Mercado Co-mum do Sul], Alba [Aliança Bolivariana para as Américas] e CAN [Comunidade Andina de Nações]. A tendência é que esses acor-dos acabem tendo menos relevância do que a Unasul [União das Nações Sul-Americanas], que possui uma perspectiva acima de tudo política e em escala subcontinental de inte-gração”, explica Vitor de Pieri.

O levantamento é minucioso, trazendo dados e análises sobre o que o pesquisador denomina conflitos “intermésticos” (interes-tatais e domésticos) envolvendo temas como delimitações fronteiriças – um dos vetores de fragmentação na política de integração da América do Sul – e sobre uma política con-junta de defesa dos recursos naturais – vista como vetor convergente. “As estratégias de defesa e segurança regional são primordiais para um subcontinente caracterizado por im-portantes reservas de recursos naturais e um enorme potencial de produção de alimentos, frente a um mundo marcado por crises nos

Instituto de Geociências (IG) até o final do ano, orientado pela

professora Claudete Vitte. Mas o

Grupo prepara outro livroO doutorando Vitor de Pieri faz parte do grupo

de pesquisa “Geografia das Relações Internacio-nais: Estado, Economia Território e Integração Re-gional”, coordenado pela professora Claudete de Castro Silva Vitte. Ao abordar em suas pesquisas os fenômenos geoeconômicos e geopolíticos na América Latina, o grupo pretende contribuir na discussão sobre as principais transformações do papel do Estado e das atividades econômicas,

países centrais e exponencial aumento da de-manda por commodities.”

Vitor de Pieri avalia que os vetores conver-gentes para a integração sul-americana estão todos atrelados aos recursos naturais, clas-sificados como ativos estratégicos comuns. “Esse termo surgiu em reunião dos ministros de Defesa dos países da região em 2008, em meio às discussões sobre a formação do Con-selho de Defesa Sul-Americano no âmbito da Unasul. Ativos estratégicos são as fontes de recursos naturais transfronteiriças, como por exemplo, a Amazônia, que transcende o ter-ritório brasileiro e se estende por mais oito países; o Atlântico Sul, com as reservas do pré-sal e o conflito em torno das Malvinas; e as reservas de petróleo da Venezuela, já cons-tatadas como as maiores do mundo.”

Os dados coletados pelo autor mostram que a América do Sul concentra 40% da biodiversidade do planeta, considerando os aquíferos (reservas sub-superficiais de água) que ocupam enorme extensão da re-gião, bem como as geleiras continentais en-tre a Argentina e o Chile, que também repre-sentam reservas de água doce. “Uma tabela sobre a oferta sul-americana de recursos naturais estratégicos traz minuciosos per-centuais como de água, floresta, pesca, pe-tróleo e minerais, nos níveis dos territórios nacional, continental, regional e mundial. Os recursos naturais surgem como vetor convergente de integração regional, através do Conselho de Defesa Sul-Americano, bra-ço importante da Unasul.”

Na opinião de Pieri, alguns números chamam a atenção, como os referentes aos minerais, além da água e da biodiversidade. “A Bolívia possui 49% da reserva mundial de lítio, matéria-prima estratégica, utilizada na produção de baterias, enquanto o Brasil detém 96% do nióbio, que é fundamental na tecnologia da informação. Outra tabela interessante é sobre terras aptas para a agri-cultura: 33% do território argentino, que é o sexto do mundo, pode ser cultivado sem ne-cessidade de qualquer preparo; o Brasil tem 9% do território nas mesmas condições, área maior do que de países como a França e Itália juntos.”

CONFLITOS “INTERMÉSTICOS”Se acordos como a Unasul parecem plausí-

veis no papel, Vitor de Pieri aponta os vetores divergentes que dificultam esta integração na prática. Ele mapeou os principais conflitos “intermésticos” na região, desde a Guerra do Pacífico no final do século 19 até a desaven-ça entre Venezuela e Colômbia em 2010: são conflitos por demarcação de fronteiras, am-bientais, energéticos, agrários e geopolíticos. “Aponto os Estados envolvidos, o período de máxima tensão, nível atual de tensão e o grau de instabilidade (se há declaração formal de guerra, disputa sob arbitragem internacional ou ruptura de relações diplomáticas).”

As instabilidades políticas em países como Venezuela e Bolívia são exemplos de confli-tos domésticos mencionados pelo autor do trabalho, que procurou apontar as principais motivações e atores. “Não se sabe o que vai ser dos venezuelanos com a morte de Hugo Chávez e sua sucessão por Nicolás Maduro. Temos também a ‘guerra civil’ colombiana; a oposição acirrada da Igreja, meios de comu-nicação e ruralistas a Cristina Kirchner na Argentina, etc. Esses conflitos geram insta-bilidades no campo econômico, afastando in-vestidores da região e criando desequilíbrios nas contas nacionais desses países.”

Os conflitos identificados como interesta-tais, segundo Vitor de Pieri, são reflexos de conflitos clássicos como a Guerra do Pacífico (ou Guerra do Salitre), causada por questões fronteiriças e que confrontou o Chile contra uma força conjunta de Bolívia e Peru, entre 1879 e 1883. A vitória foi do Chile, que ane-xou áreas ricas em recursos naturais dos dois países rivais, sendo que a Bolívia ficou sem saída para o Pacífico e o Peru sofreu com per-da de território marítimo para o Chile. “Per-sistem até hoje diversos problemas no âmbito diplomático entre esses três países, inclusive com cortes de relações diplomáticas em diver-sos momentos da história contemporânea.”

RECURSOS NATURAIS EM JOGOO pesquisador acrescentou em seu le-

vantamento os recursos naturais em jogo nesses conflitos, como o petróleo na Guer-ra do Chaco, ocorrida de 1932 a 1935 entre Paraguai e Bolívia, resultando em dezenas de milhares de mortos por conta das even-tuais reservas naquela região. “Também ve-rifiquei o envolvimento direto ou indireto de terceiros atores (internacionais) e, no caso do Chaco, havia o interesse da ame-ricana Standard Oil e da holandesa Dutch Shell pelo território. No começo dos anos 2000, tivemos a criação do Plano Colômbia de combate ao narcotráfico, uma coopera-ção militar sob a influência direta dos Esta-dos Unidos.”

Vitor de Pieri afirma que outro conflito demonstrando a fragilidade nas relações en-tre os países da América do Sul é a crise das “papeleras” (indústrias de papel e celulose), entre Argentina e Uruguai, que vem desde 2003. Tudo começou com um protesto de cunho ambiental, por cidadãos argentinos, contra a construção pelo Uruguai de duas usinas de celulose na fronteira traçada pelo rio La Plata: eles passaram a bloquear o aces-so às pontes que ligam a cidade uruguaia de Fray Bentos à argentina Gualeguaychú, pre-judicando a circulação de turistas e de mer-cadorias entre os dois países. “O que era um conflito local, tornou-se nacional e depois mundial, indo parar na Corte Internacional de Haia.”

O Brasil não ficou livre de conflitos no período abordado pelo autor do livro, que começa registrando a disputa pelo Acre com a Bolívia entre 1899 e 1903, envolvendo re-volta armada de colonos brasileiros que ocu-param o território até então pertencente ao país vizinho, declaração formal de guerra e muita diplomacia – motivo: a abundância de seringueiras em pleno ciclo da borracha. O levantamento inclui os atritos com Argenti-na e Paraguai em torno da Usina de Itaipu, entre fazendeiros paraguaios e brasiguaios, e o recente massacre de Albina, em dezem-bro de 2009, quando garimpeiros brasileiros foram atacados com facões e pedras por qui-lombolas da pequena cidade do Suriname.

PENDÊNCIAS DIVERSASA conclusão de Vitor de Pieri é que a in-

tegração está complicada do ponto de vista geopolítico e geoeconômico, mas vem se criando um diálogo do ponto de vista geoes-tratégico, especialmente a partir do debate sobre os ativos estratégicos comuns. “Ain-da não podemos pensar em colocar os pre-sidentes da Bolívia e do Chile lado a lado, imaginando que se tornem amigos imedia-tamente, pois há muitas pendências a serem resolvidas. Mas espero que este livro, ao sistematizar os obstáculos existentes para a integração entre os países, contribua de al-guma forma com os estudos relacionados à segurança e defesa regionais. Não se pode dizer que está tudo bem na América do Sul.”

com suas consequências territoriais e sociais. Pretende, também, discutir os diversos proces-sos de integração em curso no subcontinente, observando os principais atores (governos, em-presas, sociedade civil, organizações internacio-nais). O grupo está elaborando o livro América do Sul: Estado, Economia, Território e Integração Regional, com previsão de lançamento para setembro deste ano pela Cenegri Edições.

Guiana

Região do Rio Manon

Pecuaristas eAgricultores

Paraguai

Rio Uruguai

Nacionalização dasReservas de Gás Natural

Região doAndino Central

Itaipú Binacional

Brasiguaios

Fazendeiros

Amazônia Legal

Região do Triângulodo Novo Rio

Região deEsseguibo

Região daBacia de Arica

Org.: Prof. Dr. Wanderley Messias da CostaCartografi a: George Marcel RosaApoio: Viviam Merola

2007

Confl itos por Demarcação de Fronteiras

Confl itos Ambientais

Confl itos de Controle Fronteriço

Confl itos Energéti cos

Confl itos Agrários

Brasil

Venezuela

Colômbia

EquadorEquadorEquador

Perú

Bolívia

Argenti na

Uruguai

ChileOceano Pacífi coOceano Pacífi coOceano Pacífi co

Oceano Atlânti coOceano Atlânti coOceano Atlânti co

Suriname

G. Francesa

LEGENDA

GGGuiauiauiana

Região do Rio Manon

Pecuaristas eAgricultores

ParaguaiParaguaiParaguaiParaguai

Rio Uruguai

Nacionalização dasReservas de Gás Natural

Região doAndino Central

Itaipú Binacional

Brasiguaios

Fazendeiros

Amazônia Legal

Região do Triângulodo Novo Rio

Região deEsseguibo

Região daBacia de Arica

Org.: Prof. Dr. Wanderley Messias da CostaCartografi a: George Marcel RosaApoio: Viviam Merola

2007

Confl itos por Demarcação Confl itos por Demarcação Confl itos por Demarcação de Fronteirasde Fronteirasde Fronteiras

Confl itos AmbientaisConfl itos AmbientaisConfl itos Ambientais

Confl itos de Controle Confl itos de Controle Confl itos de Controle FronteriçoFronteriçoFronteriço

Confl itos Energéti cosConfl itos Energéti cosConfl itos Energéti cos

Confl itos Agrários

Confl itos Geopolíti cos

Campinas, 13 a 19 de maio de 2013 3Campinas, 13 a 19 de maio de 2013