2v lpsdfwrv gd vhjxudqod gd srvvh qr ghvpdwdphqwr …

14
1 Os impactos da segurança da posse no desmatamento: novas evidências para a floresta amazônica 1 João Paulo Mastrangelo 2 Alexandre Gori Maia 3 Resumo Avaliamos em que medida os imóveis rurais com segurança da posse desmatam menos e se estão mais propensos a cumprir o Código Florestal na Amazônia brasileira. Nossas análises baseiam-se em dados para quase a totalidade de imóveis rurais localizados no estado do Acre, Brasil. Definimos a segurança da posse como a ausência de sobreposição de direitos de propriedade, o que significa que para cada lote rural existe apenas uma declaração de propriedade indicando a quem pertence o imóvel. Comparamos as estimativas de modelos lineares e não lineares para avaliar os impactos da segurança da posse na proporção de área desmatada entre os anos de 2009 e 2018 e na probabilidade de os estabelecimentos cumprirem o Código Florestal brasileiro. A não aleatoriedade entre os grupos de tratamento (segurança da posse) e controle (insegurança da posse) é controlada usando o ajuste de regressão de ponderação de probabilidade inversa. Nossos resultados destacam que a segurança da posse da terra reduz a proporção da área desmatada e aumenta o cumprimento do Código Florestal. Palavras-chave: Governança de terras; Segurança da posse; Desmatamento; Amazônia brasileira. Abstract We evaluate the extent to which farms with secure land rights are less prone to deforest and more likely to comply with the Forest Code in the Brazilian Amazon. We use a unique dataset with farm-level information for the whole population of farms in the state of Acre, Brazil. We work with a proxy for land tenure security defined as the absence of overlapping property rights, which means that for each rural plot, there is only one land title attesting to whom the legal ownership belongs. We evaluate the impacts of secure land right on the farm's share of the deforested area and the likelihood that farmers comply with the Brazilian Forest Code, which defines a limit of 20% of the deforested area in each farm. The non-randomness between the treatment (land security) and control (land insecurity) groups is controlled using the inverse probability weighting regression adjustment. Our results highlight that land tenure security reduces the deforested area and increases compliance with the Forest Code. Keywords: Land governance; Security of tenure; Deforestation; Brazilian Amazon. Área 11 – Economia Agrícola e do Meio Ambiente JEL: Q15, Q24, C21 1 Artigo submetido para o 49º Encontro Nacional de Economia (ANPEC), realizado virtualmente entre os dias 6 e 10 de dezembro de 2021. 2 Professor Assistente da Universidade Federal do Acre, Doutorando em Desenvolvimento Econômico, RA nº 226044, Núcleo de Economia Agrícola e do Meio Ambiente, Instituto de Economia, Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, CEP: 13.083-857, Campinas, SP, Brasil, E-mail: [email protected] 3 Professor Associado, Núcleo de Economia Aplicada, Agrícola e do Meio Ambiente, Instituto de Economia, Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, CEP: 13.083-857, Campinas, SP, Brasil, E-mail: [email protected]

Upload: others

Post on 17-Oct-2021

5 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: 2V LPSDFWRV GD VHJXUDQoD GD SRVVH QR GHVPDWDPHQWR …

1

Os impactos da segurança da posse no desmatamento: novas evidências para a floresta amazônica1

João Paulo Mastrangelo2 Alexandre Gori Maia3

Resumo

Avaliamos em que medida os imóveis rurais com segurança da posse desmatam menos e se estão mais propensos a cumprir o Código Florestal na Amazônia brasileira. Nossas análises baseiam-se em dados para quase a totalidade de imóveis rurais localizados no estado do Acre, Brasil. Definimos a segurança da posse como a ausência de sobreposição de direitos de propriedade, o que significa que para cada lote rural existe apenas uma declaração de propriedade indicando a quem pertence o imóvel. Comparamos as estimativas de modelos lineares e não lineares para avaliar os impactos da segurança da posse na proporção de área desmatada entre os anos de 2009 e 2018 e na probabilidade de os estabelecimentos cumprirem o Código Florestal brasileiro. A não aleatoriedade entre os grupos de tratamento (segurança da posse) e controle (insegurança da posse) é controlada usando o ajuste de regressão de ponderação de probabilidade inversa. Nossos resultados destacam que a segurança da posse da terra reduz a proporção da área desmatada e aumenta o cumprimento do Código Florestal. Palavras-chave: Governança de terras; Segurança da posse; Desmatamento; Amazônia brasileira.

Abstract

We evaluate the extent to which farms with secure land rights are less prone to deforest and more likely to comply with the Forest Code in the Brazilian Amazon. We use a unique dataset with farm-level information for the whole population of farms in the state of Acre, Brazil. We work with a proxy for land tenure security defined as the absence of overlapping property rights, which means that for each rural plot, there is only one land title attesting to whom the legal ownership belongs. We evaluate the impacts of secure land right on the farm's share of the deforested area and the likelihood that farmers comply with the Brazilian Forest Code, which defines a limit of 20% of the deforested area in each farm. The non-randomness between the treatment (land security) and control (land insecurity) groups is controlled using the inverse probability weighting regression adjustment. Our results highlight that land tenure security reduces the deforested area and increases compliance with the Forest Code. Keywords: Land governance; Security of tenure; Deforestation; Brazilian Amazon. Área 11 – Economia Agrícola e do Meio Ambiente JEL: Q15, Q24, C21

1 Artigo submetido para o 49º Encontro Nacional de Economia (ANPEC), realizado virtualmente entre os dias 6 e 10 de dezembro de 2021.

2 Professor Assistente da Universidade Federal do Acre, Doutorando em Desenvolvimento Econômico, RA nº 226044, Núcleo de Economia Agrícola e do Meio Ambiente, Instituto de Economia, Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, CEP: 13.083-857, Campinas, SP, Brasil, E-mail: [email protected]

3Professor Associado, Núcleo de Economia Aplicada, Agrícola e do Meio Ambiente, Instituto de Economia, Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, CEP: 13.083-857, Campinas, SP, Brasil, E-mail: [email protected]

Page 2: 2V LPSDFWRV GD VHJXUDQoD GD SRVVH QR GHVPDWDPHQWR …

2

1. Introdução

O desmatamento da floresta amazônica é o principal responsável pelas emissões de CO2 no Brasil e uma das principais ameaças à mitigação dos impactos das mudanças climáticas no mundo (Cohn et al. 2019; Marengo et al. 2018). A fragmentação florestal, outro efeito do desmatamento, também promove perdas indiretas de carbono florestal devido ao efeito de borda (Silva et al., 2020). Estudos também sugerem que o desmatamento na Amazônia pode alterar o regime de chuvas nas regiões do Brasil, com potencial impacto sobre a produtividade agrícola (Leite-Filho et al., 2021).

A taxa de desmatamento na Amazônia brasileira seguiu uma tendência em forma de U na década de 2000 (PRODES 2019): o desmatamento caiu para menos de 5.000 km²/ano no início da década de 2010 e, em 2019, voltou a crescer, ultrapassando 10.000 km²/ano. A literatura destaca alguns drivers críticos do desmatamento na Amazônia, incluindo as condições do acesso à terra (Chomitz et al., 2003; Andersen et al., 2002; Pfaff et al. 2009), mercados e preços agrícolas (Hargrave et al., 2013; Assunção et al., 2015; Faria et al., 2016), tecnologia e produtividade agrícola (Cohn et al., 2014; Koch et al., 2019), governança ambiental, fundiária e a segurança da posse (Soares-filho et al., 2006; Arima et al., 2014; Börner et al., 2015; Moutinho et al., 2016; Wehkamp et al., 2018; Miranda et al., 2019; Brito et al., 2019).

Entre estes drivers, destacamos a segurança da posse, que está associada à baixa capacidade de governança das terras na Amazônia brasileira (Reydon et al. 2019). Os direitos de propriedade da terra na região estão sujeitos a incertezas generalizadas (Sparovek et al., 2019). Essas incertezas levaram o governo brasileiro a reforçar políticas fundiárias para facilitar a titulação individual, sob o argumento de que esta é uma medida que contribui, inclusive, para reduzir o desmatamento (Chiavari and Lopes 2020). No entanto, a titulação individual de terras não necessariamente altera o direito subjacente dos proprietários de tomar decisões sobre seu uso (Robinson et al. 2014). Há ainda fortes incentivos ao desmatamento e descumprimento da legislação ambiental, seja diretamente através das atividades agrícolas (Assuncąo et al., 2015), seja através da especulação imobiliária e grilagem de terras (Brito et al., 2019).

Estudos que aplicaram métodos quase experimentais destacam que a segurança da posse da terra pode afetar o desmatamento, seja em áreas ocupadas coletivamente, como terras indígenas (Buntaine et al., 2015; Blackman et al., 2017; Benyishay et al., 2017), seja em áreas privadas (Liscow, 2013; Probst et al., 2020). Entretanto, uma ressalva desses estudos é assumir que o registro formal da propriedade da terra é suficiente para proteger e manter a segurança da posse da terra. Até onde sabemos, nenhum estudo avaliou se a governança fundiária - a capacidade de garantir que os direitos sobre as terras serão protegidos e mantidos – poderia reduzir o desmatamento e aumentar as chances de as propriedades rurais cumprirem as regras florestais. Entre os fatores da boa governança de terra, entende-se a ausência de sobreposição de direitos fundiários.

Este trabalho contribui com a literatura sobre segurança da posse e conservação florestal de forma aplicada e teórica. A principal contribuição aplicada é combinar uma fonte de dados única, de quase todos os imóveis rurais no estado do Acre, com uma estratégia quase experimental, capaz de superar possíveis vieses de seleção na exposição à boa governança fundiária. A principal contribuição teórica é apresentar evidências de que a segurança da posse da terra, medida pela ausência de sobreposição de direitos fundiários, é uma abordagem fundamental para a formulação de políticas fundiárias para reduzir o desmatamento na Amazônia.

2. Revisão da literatura

Os efeitos de uma posse rural segura sobre o desmatamento de florestas tropicais ainda são controversos na literatura. Estudos de meta-análise não identificaram evidências consistentes de que a segurança da posse está associada ao desmatamento (Robinson et al., 2014; Busch et al., 2017). Três fatores principais ajudam a explicar as controvérsias desses resultados: (1) o contexto institucional no qual a posse da terra é estabelecida; (2) o indicador de segurança da posse adotado nas pesquisas; e (3) a possibilidade de endogeneidade ou causalidade reversa, uma vez que o desmatamento pode ser uma forma de ocupação ilegal de terras.

Page 3: 2V LPSDFWRV GD VHJXUDQoD GD SRVVH QR GHVPDWDPHQWR …

3

Estudos avaliando o efeito da titulação de terras indígenas no Peru sobre o desmatamento indicam que houve uma redução significativa em prazos de 2 a 5 anos após a titulação (Buntaine et al., 2015; Blackman et al., 2017). No Brasil, Benyishay et al. (2017) indicam que essa forma de titulação não teve efeito sobre o desmatamento quando comparadas com terras indígenas não tituladas, sugerindo que outros fatores contextuais podem ser mais importantes para explicar o desmatamento.

As evidências dos impactos da titulação em terras privadas não são menos controversas. Liscow (2013) estudou os efeitos da reforma agrária na Nicarágua e descobriu que as melhorias nos direitos de posse da terra privada estão associadas a mais desmatamento. Probst et al. (2020) identificaram que pequenos e médios proprietários de terras na Amazônia brasileira aumentaram o desmatamento em resposta a um programa oficial de titulação de terras, enquanto as taxas de desmatamento quase não mudaram entre os grandes proprietários.

No geral, esses estudos sugerem que apenas a titulação de terras não necessariamente reduziria o desmatamento, indicando que outros fatores institucionais também podem fazer a diferença. Entre esses fatores, destacam a presença de conflitos agrários e violência (Fearnside 2001; Araujo et al. 2009; Sant’Anna et. al 2010), processos sociais contenciosos relativos à ocupação das terras (Aldrich et al. 2012; Brown et. al 2016), incentivos à especulação imobiliária e grilagem de terras (Brito et al. 2019). Entre esses fatores, uma governança fundiária, que promova garantias gerais para a proteção e manutenção dos direitos fundiários, seria mais um importante fator para reduzir o desmatamento.

Apesar de evidências relacionando as falhas na governança fundiária ao desmatamento, ainda não há estudos estabelecendo causalidade. Alguns desafios a serem enfrentados nessas análises são a seletividade da amostra e existência de causalidade reversa entre problemas fundiários e desmatamento. Para Brown et al. (2016), por exemplo, se as decisões de ocupação de terras ocorrem em áreas que estão sendo desmatadas rapidamente, as ocupações não seriam a causa, mas o próprio efeito do desmatamento. A proporção de cobertura florestal está entre algumas das características mais importantes para explicar o risco de ocupação irregulares (Aldrich, 2015). Algumas das justificativas para explicar essa relação seriam: o risco de violência ao ocupar uma área florestal é menor, visto que seu valor é inferior aos das pastagens; é mais fácil convencer as autoridades de que a terra é improdutiva; acesso à madeira, que é uma fonte de renda para os posseiros; e, uma vez desmatadas, as áreas florestais são mais fáceis de cultivar lavouras temporárias do que pastagens que sofrem maior compactação do solo (Fearnside, 2001; Araujo et al., 2009; Sant’anna et al., 2010; Aldrich et al., 2012; Brown et al., 2016).

3. Hipóteses

Nossa hipótese central é a de que falhas institucionais de governança fundiária aumentariam o desmatamento na Amazônia brasileira. As falhas institucionais geram um ambiente generalizado de insegurança da posse na região (Sparovek et al. 2019), e incentivam as posses irregulares em áreas públicas ou privadas motivadas principalmente pela especulação no mercado imobiliário (Reydon et al., 2019). Nesse contexto, até as propriedades submetidas à titulação individual estariam sujeitas a mais desmatamento (Probst et al. 2020), pois são frágeis as garantias de que os direitos adquiridos sobre as terras serão protegidos e mantidos. Em outras palavras, em um ambiente com falhas institucionais de governança fundiária, a própria titulação poderia funcionar como estímulo para novos desmatamentos e outras ocupações irregulares. A existência de sobreposições fundiárias, onde dois ou mais lotes rurais declaram posse na mesma terra, é uma falha institucional frequente observada na Amazônia brasileira. Assim, nossas hipóteses seriam:

Hipótese 1. Imóveis rurais sem sobreposições de direitos fundiários, ou seja, onde não houve mais de uma declaração de propriedade sobre a mesma área, desmatam menos.

Hipótese 2. Imóveis rurais com segurança da posse, tem mais chances de cumprir os regulamentos florestais no Brasil.

Page 4: 2V LPSDFWRV GD VHJXUDQoD GD SRVVH QR GHVPDWDPHQWR …

4

4. Material e métodos

4.1 Dados

Acessamos a base de dados completa do Cadastro Ambiental Rural (CAR)4 do estado do Acre, com informações da população total imóveis rurais registrados no Sistema de Cadastro Ambiental Rural do Acre entre 2014 e 2018 (SICAR-Acre 2018). Consideramos apenas os registros dos imóveis que não se sobrepõem a qualquer área legalmente protegida, como terras indígenas e unidades de conservação. Nossa amostra contém um total de 35.067 estabelecimentos, que representam cerca de 36% do território do Acre. Os dados de desmatamento foram obtidos em PRODES (2019), que trata da fonte oficial de dados georeferenciados de desmatamento utilizados pelo governo brasileiro. Dados do PRODES indicam que mais de 70% da área total desmatada entre 2009 e 2018 ocorreu em propriedades rurais privadas (Figura 1).

Figura 1. Área desmatada no estado do Acre por categoria fundiária entre 2009 e 2018.

Fonte: PRODES (2019).

Quase 30% do desmatamento que aconteceu nestas propriedades estavam em áreas com direitos fundiários sobrepostos, ou seja, mais de um imóvel rural declarou propriedade sobre a mesma terra (Tabela 1).

4 Criado pelo novo Código Florestal do Brasil (Lei Federal 12.651/2012), como um registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais georreferenciadas das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.

Page 5: 2V LPSDFWRV GD VHJXUDQoD GD SRVVH QR GHVPDWDPHQWR …

5

Tabela 1. Participação proporcional das categorias fundiárias na área total desmatada entre 2009 e 2018 no Estado do Acre.

Categorias fundiárias Área de desmatamento (km²) Proporção (%)

Terras indígenas 26.326 0.9

Unidades de conservação 321.929 11.2

Cadastro Ambiental Rural 1,197.165 41.6

Cadastro Ambiental Rural sobreposto 847.449 29.4

Sem referências fundiárias 485.131 16.9

Total 2,878.000 100.0 Fonte: (PRODES 2019).

Além dos problemas técnicos da própria declaração, a sobreposição de registros é uma proxy para presença de conflitos agrários ou posseiros ocupando de forma irregular. Assim, essa sobreposição é nosso indicador de segurança da posse da terra. Criamos uma variável binária que assume um para aqueles imóveis rurais sem sobreposição de limites com outros lotes rurais (segurança de posse). Apenas 10,6% das fazendas em nossa amostra estão nessa condição (Figura 2).

Figura 2. Segurança da posse dos imóveis rurais inscritos no CAR do estado do Acre.

Fonte: SICAR-Acre (2018); PRODES (2019); IBGE (2020).

4.2 Variáveis de resultado

Para calcular a área desmatada em cada imóvel rural, combinamos os limites dos polígonos georreferenciadas do CAR com os dados de desmatamento fornecidos pelo projeto PRODES. Em seguida, analisamos dois resultados: (i) área desmatada e (ii) conformidade com o Código Florestal. O primeiro resultado é representado pela proporção da área do lote rural desmatado entre 2009-2018. Em média, 7,3% da área total das fazendas foi desmatada entre 2009-2018. A maioria absoluta das propriedades rurais desmataram até 20% de sua área, enquanto menos de 5% desmatou mais de 75% no período (Figura 3).

Page 6: 2V LPSDFWRV GD VHJXUDQoD GD SRVVH QR GHVPDWDPHQWR …

6

Figura 3. Quantidades de imóveis rurais por percentis da proporção desmatada entre 2009-2018.

Fonte: SICAR-Acre (2018); PRODES (2019); IBGE (2020).

O governo brasileiro aprovou uma nova reforma do Código Florestal em 2012 mantendo o limite de 20% que poderia ser desmatado em cada imóvel na Amazônia, e concedeu anistia àqueles que desmataram ilegalmente antes de julho de 2008. Definimos quatro grupos (mutuamente exclusivos) para medir o cumprimento do Código Florestal (Figura 4). Para os imóveis rurais que atendiam ao Código Florestal em 2008, definimos: (i) compliers post-2008, que pressupõe um para quem não desmatou irregularmente entre 2009 e 2018 (13,7% das observações); e (ii) non-compliers post-2008, que assume um para quem desmatou mais de 20% da área entre 2009 e 2018 (8,2% das observações). Para imóveis rurais rurais que não atendiam ao Código Florestal em 2008, definimos: (i) compliers post-2008, que pressupõe um para agricultores anistiados (mais de 20% desmatados) que não desmataram entre 2009 e 2018 (46,3% das observações); e (ii) non-compliers post-2008, que pressupõe um para os agricultores anistiados que retomaram o desmatamento entre 2009 e 2018 (31,7% das observações).

Figura 4. Binárias de cumprimento do Código Florestal.

Page 7: 2V LPSDFWRV GD VHJXUDQoD GD SRVVH QR GHVPDWDPHQWR …

7

A Figura 5 apresenta a distribuição espacial das propriedades de acordo com os grupos de cumprimento do Código Florestal. Identificamos que 78% da população total de imóveis rurais do estado do Acre não atendia o Código Florestal em 2008 que, basicamente, definia um limite de 20% de desmatamento. Este fato poderia até ser explicado pelas mudanças na legislação florestal que ocorreram ao longo da história do Brasil. A legislação reduziu de 50% para 20%, na década de 2000, o limite de desmatamento dos imóveis rurais na Amazônia Legal (Rajão et al. 2021). No entanto, entre os agricultores que não atendiam os regulamentos florestais em 2008, 40% voltaram a desmatar entre 2009 e 2018.

Figura 5. Quantidade de imóveis rurais por categorias de conformidade com o Código Florestal.

Fonte: SICAR-Acre (2018); PRODES (2019); IBGE (2020).

4.3 Variáveis de controle

Nós incluímos controles para o tamanho do imóvel rural, acessibilidade, aptidão agrícola, altitude e localização espacial (Tabela 2). Os dados de acessibilidade foram calculados com base no tempo para percorrer a distância até cidade mais próxima, e a altitude de onde se localiza o imóvel rural foram obtidos em Schielein (2018). A aptidão foi determinada através de uma composição de dados de aptidão agrícola baseada em classes recomendadas para uso do solo e declividade das terras obtida em Embrapa (2019). Finalmente, incluímos efeitos fixos (binárias) para os municípios do Acre. No material suplementar explicamos as etapas e procedimentos para construção da base de dados.

Page 8: 2V LPSDFWRV GD VHJXUDQoD GD SRVVH QR GHVPDWDPHQWR …

8

Tabela 2. Estatísticas descritivas

Variável Descrição Média SD Min Max N

Variáveis dependente: Desmatamento

Deforestation 09-18

Proporção de área desmatada no interior do imóvel rural entre 2009 e 2018

0.073 0.135 0 1 35,067

Variável dependente: Conformidade com o Código Florestal em 2008

Compliers post-2008

Imóveis rurais que assumem 1 para o caso em que cumpriam o Código Florestal em 2008, e que não desmataram de forma irregular entre 2009 e 2018

0.137 0.344 0 1 4,810

Non compliers post-2008

Imóveis rurais que assumem 1 para o caso em que cumpriam o Código Florestal em 2008, e que desmataram de forma irregular entre 2009 e 2018

0.082 0.274 0 1 2,888

Variável dependente: Não conformidade com o Código Florestal em 2008

Compliers post-2008

Imóveis rurais que assumem 1 para o caso em que não cumpriam o Código Florestal em 2008, e que não desmataram entre 2009 e 2018

0.463 0.498 0 1 16,243

Non compliers post-2008

Imóveis rurais que assumem 1 para o caso em que não cumpriam o Código Florestal em 2008, e que desmataram entre 2009 e 2018

0.317 0.465 0 1 11,123

Variável de tratamento

Landsecurity Imóveis rurais assumem 1 para o caso em que não apresentam sobreposições fundiárias (segurança da posse)

0.106 0.308 0 1 3.732

Variáveis de controle

Consolidated Área proporcional do imóvel rural desmatada até o ano de 2008, definida pelo Código Florestal como área rural consolidada5

0.557 0.345 0 1 35.067

ln size Logarítimo do tamanho (hectare) do imóvel rural registrado no CAR

3.825 1.181 -4.919 12.280 35.067

Distance Tempo em minutos de viagem até a cidade mais próxima dividido por 100

1.330 1.665 0 17.090 35.067

Altitude Altitude em metros do imóvel rural dividida por 100 1.990 0.353 0 3.600 35.067

Aptitude Binária para identificar os imóveis rurais localizados em terras com maior aptidão agrícola

0.392 0.488 0 1 35.067

Municipalities Binárias (efeitos fixos) para identificar os municípios onde se localizam os imóveis rurais

- - 1 22 35.067

4.4 Estratégia empírica

Nosso objetivo é estimar δ, o impacto médio do tratamento (𝑇 = 1 para a segurança da posse da terra e 0 para a insegurança da terra) no resultado de interesse 𝑌, controlando pelas características dos agricultores:

𝑌 = 𝛼 + 𝛿𝑇 + 𝐱′ 𝛃 + 𝜀 (1)

Onde 𝛼 é o intercepto, 𝐱 é um vetor de variáveis de controle (Tabela 2) e 𝛽 seu respectivo vetor de coeficientes; 𝜀 é o erro aleatório. No modelo para a área desmatada, 𝑌 representa a proporção da área desmata entre 2009 e 2018 (deforestation 09-18). No modelo para os grupos de cumprimento do Código

5 Área rural consolidada foi definida no novo Código Florestal (Lei Federal 12.651/2012) como a área do imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a 22 de julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou atividades agrossilvipastoris.

Page 9: 2V LPSDFWRV GD VHJXUDQoD GD SRVVH QR GHVPDWDPHQWR …

9

Florestal, 𝑌 representa o log das chances (logit) de pertencer a um dos quatros grupos de cumprimento: compliers post-2008; non compliers post-2008; compliers post-2008; non compliers post-2008. Nesse caso, utilizamos modelos de regressão logística multinomial. A categoria de referência nos modelos de regressão logística multinomial é a de non-compliers post-2008.

Estimamos o efeito médio do tratamento no tratado (ATT) usando o ajuste de regressão de ponderação de probabilidade inversa (IPWRA) (Imbens and Wooldridge 2009). O IPWRA é uma estratégia de estimação em dois estágios, com um modelo de seleção para agricultores com garantia de posse da terra, p, no primeiro estágio, e um modelo para a variável de resultado, ponderado para p, no segundo estágio. O IPWRA estima o ATT usando coeficientes de regressão ponderada, onde os pesos são as probabilidades inversas estimadas de tratamento. O método obtém estimativas consistentes mesmo quando apenas uma das duas equações (modelo de seleção ou resultado) é especificada corretamente, ou seja, o IPWRA é considerado uma estratégia duplamente robusta (Imbens and Wooldridge 2009). Outra vantagem do IPWRA é o fato de ser aplicado tanto a modelos lineares quanto a modelos não lineares, incluindo regressão logística multinomial (McCaffrey et al. 2013). As variáveis incluídas na seleção são as mesmas usadas nos modelos de resultado.

5. Resultados

O primeiro passo de nossas análises consistiu em ajustar o modelo para a probabilidade de a propriedade ter uma posse de terra segura (p), medida pela inexistência de direitos fundiários sobrepostos. O modelo se ajustou bem aos dados, com todas as estimativas sendo significativas a 1% (Tabela 3). As propriedades com maior probabilidade de ter posse garantida, segundo nosso indicador, são as menores, mais distantes das áreas urbanas, com maior aptidão agrícola e área consolidada menor dentro do lote rural.

Tabela 3. Estimativas (erros padrão entre parênteses) do modelo para a probabilidade de ter segurança da posse da terra

Variáveis Landsecurity

Consolidated -0.114***

(0.035)

ln size -0.208***

(0.009)

Accessibility 0.088***

(0.007)

Altitude -0.389***

(0.044)

Aptitude 0.052**

(0.022)

Constant 0.037

(0.098)

Binaries for municipalities Yes

Observations 35,067

Pseudo 𝑅 0.0841

AIC 21829.19

BIC 22057.74

Notas: *** p<0.01, ** p<0.05, * p<0.1 Erro padrão entre parênteses.

Page 10: 2V LPSDFWRV GD VHJXUDQoD GD SRVVH QR GHVPDWDPHQWR …

10

O segundo estágio de nossa estratégia empírica estima os modelos de resultados ponderados pela probabilidade de ter segurança da posse (Tabela 4). Para facilitar a interpretação das estimativas dos modelos de regressão logística multinomial (colunas B-E), calculamos o efeito marginal médio na probabilidade de pertencer aos grupos de cumprimento da legislação. As estimativas são, em sua maioria, significativas a 0,1% e confirmam nossas hipóteses.

Tabela 4. Estimativas (erros padrão entre parênteses) dos efeitos marginais médios na variável de interesse

Variáveis (A)

Deforestation 09-18

Conformidade com o Código Florestal em 2008

Não conformidade com o Código Florestal em 2008

(B) 0

Compliers post-2008

(C) 1

Non-compliers post-2008

(D) 2

Compliers post-2008

(E) 3

Non-compliers post-2008

Landsecurity -0.010*** 0.029*** -0.003 0.065*** -0.090***

(0.002) (0.006) (0.005) (0.013) (0.013)

Consolidated -0.211*** - - - -

(0.005) - - - -

ln size -0.021*** 0.033*** -0.018*** -0.098*** 0.083***

(0.001) (0.003) (0.002) (0.011) (0.012)

Accessibility -0.007*** 0.066*** 0.051*** -0.261*** 0.145***

(0.001) (0.006) (0.004) (0.020) 0.014

Altitude 0.043*** 0.098*** 0.134*** -0.333*** 0.101***

(0.005) (0.015) (0.011) (0.037) 0.035

Aptitude 0.012*** -0.023** 0.005 0.048** -0.029+

(0.003) (0.008) (0.006) (0.016) (0.016)

Binaries for municipalities

yes yes yes yes yes

Observations 35,067 35,067 35,067 35,067 35,067

𝑅 0.263

Pseudo R² - 0.2504

AIC -52645.3 128240.9

BIC -52408.3 128926.6

Notas: *** p <0,001, ** p <0,01, * p <0,05, + p<0,1. Erros padrão robustos em parênteses. Os modelos usam estimadores de mínimos quadrados ponderados.

Imóveis com segurança de terra apresentaram uma proporção da área desmatada neste período que foi 1 ponto percentual (p.p.) inferior à dos imóveis que apresentam sobreposições de direitos fundiários (Modelo A na Tabela 4). As áreas desmatadas no interior dos imóveis rurais da nossa base de dados aumentou 3,5 pontos percentuais entre 2009 e 2018. Isso significa que 29% (1/3.5) do desmatamento observado entre 2009 e 2018 estaria associado à falta de segurança da posse de terra.

Os efeitos marginais dos modelos de regressão logística multinomial (colunas B-E) também corroboram nossas hipóteses, indicando que a segurança da posse da terra aumentou a probabilidade de cumprimento do Código Florestal. Os impactos mais relevantes foram observados naqueles que não cumpriam o código florestal até 2008 (non compliers 2008). Imóveis com segurança da posse de terra apresentaram uma probabilidade de apresentar reincidência de crimes ambientais (non compliers post-2008) 9 pontos percentuais inferior à dos imóveis sem segurança da posse. Imóveis non compliers 2008 também

Page 11: 2V LPSDFWRV GD VHJXUDQoD GD SRVVH QR GHVPDWDPHQWR …

11

apresentaram uma probabilidade de cumprimento da legislação pós-2008 (compliers 2008) 6.5 pontos percentuais superior à dos imóveis sem segurança da posse. Entre aqueles imóveis que estavam em conformidade com a legislação em 2008 (compliers 2008) a probabilidade de cumprimento da legislação pós-2008 foi 2.9 pontos percentuais superior entre aqueles com segurança de posse de terra.

6. Discussão

Desenvolvemos nossas hipóteses partindo do pressuposto de que as falhas institucionais de governança fundiária no Brasil, especialmente na Amazônia, promovem incertezas significativas quanto à segurança da posse da terra. Entre essas falhas institucionais, destaca-se o fato de os direitos de propriedade sobre a terra não estarem claramente estabelecidos na Amazônia, o que se reflete no elevado percentual de propriedade com sobreposições de direitos fundiários. Este é um fator potencialmente impactante nas taxas de desmatamento da região. Até onde sabemos, este é o primeiro estudo que aplicou um método quase-experimental, ao nível do lote rural, para estimar os efeitos da governança fundiária sobre o desmatamento e o cumprimento da legislação florestal.

A maioria dos trabalhos na literatura utiliza a titulação individual como indicador de segurança da posse da terra. Mas a titulação não necessariamente garante a segurança da posse da terra se os direitos não forem respeitados. Encontramos evidências que o desmatamento entre 2009 e 2018 foi menor em imóveis rurais sem sobreposições de direitos fundiários, o que é menos controverso do que os efeitos da titulação individual de terras (Buntaine et al., 2015; Blackman et al., 2017; Benyishay et al. 2017; Liscow 2013; Probst et al. 2020). Em outras palavras, a titulação individual de terras pode não gerar os impactos esperados sobre o desmatamento se não houver garantia que os direitos de propriedade adquiridos sobre a terra serão protegidos e mantidos através de uma boa governança fundiária.

Nossas evidências também contribuem com uma ampla literatura sobre conflitos agrários e desmatamento. Assumindo que a ocorrência de sobreposições de direitos fundiários esteja associada à presença de conflitos agrários (Fearnside 2001; Araujo et al. 2009; Sant’Anna e Young 2010 ), a processos sociais contenciosos por ocupação irregular de terras (Aldrich 2015; Brown et al. 2016), ou até mesmo como um sintoma de processos de especulação imobiliária e crimes de grilagem em terras públicas ou privadas (Reydon et al. 2019; Brito et al. 2019), nossos resultados reforçam a ideia de que a segurança da posse desempenha um papel importante no desmatamento da Amazônia, sendo capaz, inclusive, de aumentar a capacidade de enforcement do Código Florestal.

7. Considerações Finais

Avaliamos o impacto da segurança da posse da terra no desmatamento na Amazônia brasileira. Nossa análise traz contribuições aplicadas e teóricas para a literatura sobre governança fundiária e conservação florestal. As principais contribuições aplicadas são (i) usar um conjunto de dados exclusivos com informações georreferenciadas ao nível do lote rural e (ii) propor um novo indicador de segurança da posse da terra, a sobreposição de direitos fundiários, que pode ser utilizado como uma proxy da existência de falhas de governança fundiária. Nossa principal contribuição teórica é provar que a segurança da posse da terra pode ser um mecanismo essencial para a redução do desmatamento na Amazônia. Nossas estimativas são robustas para diferentes indicadores de resultados.

A falta generalizada de garantias de que os direitos sobre a terra serão protegidos e mantidos na Amazônia brasileira, não alcançada pela simples titulação individual do imóvel rural, ajuda a explicar o aumento do desmatamento, incluindo o não cumprimento do Código Florestal. Portanto, se a regularização fundiária não for acompanhada por uma efetiva governança fundiária na região, as políticas individuais de titulação de terras podem, na verdade, até estimular novos desmatamentos.

Page 12: 2V LPSDFWRV GD VHJXUDQoD GD SRVVH QR GHVPDWDPHQWR …

12

Referências

Aldrich, S., R. Walker, C. Simmons, M. Caldas, and S. Perz. 2012. “Contentious Land Change in the Amazon’s Arc of Deforestation.” Annals of the Association of American Geographers 102(1):103–128.

Aldrich, S.P. 2015. “Decision-making and the environment in the Amazon Land War.” Journal of Land Use Science 10(1):38–58.

Alexander Pfaff, Alisson Barbieri, Thomas Ludewigs, Frank Merry, Stephen Perz, E.R. 2009. “Road Impacts in Brazilian Amazonia Alexander.” Geophysical Monograph Series (January):1–16.

Andersen, L.E., C.W.J. Granger, E.J. Reis, D. Winhold, and S. Wunder. 2002. The dynamics of deforestation and economic growth in the Brazilian Amazon. Cambridge: University Press.

Araujo, C., C.A. Bonjean, J.-L. Combes, P. Combes Motel, and E.J. Reis. 2009. “Property rights and deforestation in the Brazilian Amazon.” Ecological Economics 68(8–9):2461–2468. Available at: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0921800908005417.

Arima, E.Y., P. Barreto, E. Araújo, and B. Soares-Filho. 2014. “Public policies can reduce tropical deforestation: Lessons and challenges from Brazil.” Land Use Policy 41(2014):465–473.

Assuncąo, J., C. Gandour, and R. Rocha. 2015. “Deforestation slowdown in the Brazilian Amazon: Prices or policies?” Environment and Development Economics 20(6):697–722.

Assunção, J., C. Gandour, and R. Rocha. 2012. “Deforestation slowdown in the Brazilian Amazon : prices or policies ? Deforestation slowdown in the Brazilian Amazon : prices or policies ?” Environment and Development Economics (February):1–5.

BenYishay, A., S. Heuser, D. Runfola, and R. Trichler. 2017. “Indigenous land rights and deforestation: Evidence from the Brazilian Amazon.” Journal of Environmental Economics and Management 86:29–47.

Blackman, A., L. Corral, E.S. Lima, and G.P. Asner. 2017. “Titling indigenous communities protects forests in the Peruvian Amazon.” Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America 114(16):4123–4128.

Börner, J., K. Kis-Katos, J. Hargrave, and K. König. 2015. “Post-crackdown effectiveness of field-based forest law enforcement in the Brazilian Amazon.” PLoS ONE 10(4):1–20.

Börner, J., S. Wunder, S. Wertz-Kanounnikoff, G. Hyman, and N. Nascimento. 2014. “Forest law enforcement in the Brazilian Amazon: Costs and income effects.” Global Environmental Change 29:294–305.

Brito, B., P. Barreto, A. Brandão, S. Baima, and P.H. Gomes. 2019. “Stimulus for land grabbing and deforestation in the Brazilian Amazon Stimulus for land grabbing and deforestation in the Brazilian Amazon.” Environmental Research Letters 14:1–8.

Brown, D.S., J.C. Brown, and C. Brown. 2016. “Land occupations and deforestation in the Brazilian Amazon.” Land Use Policy 54:331–338.

Buntaine, M.T., S.E. Hamilton, and M. Millones. 2015. “Titling community land to prevent deforestation: An evaluation of a best-case program in Morona-Santiago, Ecuador.” Global Environmental Change 33:32–43.

Page 13: 2V LPSDFWRV GD VHJXUDQoD GD SRVVH QR GHVPDWDPHQWR …

13

Busch, J., and K. Ferretti-Gallon. 2017. “What drives deforestation and what stops it? A meta-analysis.” Review of Environmental Economics and Policy 11(1):3–23.

Chiavari, J., and C.L. Lopes. 2020. “Medida provisória recompensa atividades criminosas. Análise da MP no 910/2019 que altera o marco legal da regularização fundiária de ocupações a terras públicas federais.”

Chomitz, K.M., and T.S. Thomas. 2003. “Determinants of Land Use in Amazônia: A Fine-Scale Spatial Analysis.” American Journal of Agricultural Economics 85(4):1016–1028.

Cohn, A.S., N. Bhattarai, J. Campolo, O. Crompton, D. Dralle, J. Duncan, and S. Thompson. 2019. “Forest loss in Brazil increases maximum temperatures within 50 km.” Environmental Research Letters 14(8).

Cohn, A.S., A. Mosnier, P. Havlik, H. Valin, M. Herrero, E. Schmid, M. O’Hare, and M. Obersteiner. 2014. “Cattle ranching intensification in Brazil can reduce global greenhouse gas emissions by sparing land from deforestation.” Proceedings of the National Academy of Sciences 111(20):7236–7241.

EMBRAPA, E.B. de P.A. 2020. “Sistema Interativo de Análise Geoespacial da Amazônia Legal.”

Faria, W.R., and A.N. Almeida. 2016. “Relationship between openness to trade and deforestation: Empirical evidence from the Brazilian Amazon.” Ecological Economics 121:85–97.

Fearnside, P.M. 2001. “Land-tenure issues as factors in environmental destruction in Brazilian Amazonia: The case of Southern Pará.” World Development 29(8):1361–1372.

Hargrave, J., and K. Kis-Katos. 2013. “Economic Causes of Deforestation in the Brazilian Amazon: A Panel Data Analysis for the 2000s.” Environmental and Resource Economics 54(4):471–494.

IBGE. 2020. “Malha Municipal Digital da Divisão Político‐Administrativa Brasileira.” Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Imbens, G.W., and J.M. Wooldridge. 2009. “Recent Developments in the Econometrics of Program Evaluation.” Journal of Economic Literature 47(1):5–86.

Koch, N., E.K.H.J. zu Ermgassen, J. Wehkamp, F.J.B. Oliveira Filho, and G. Schwerhoff. 2019. “Agricultural Productivity and Forest Conservation: Evidence from the Brazilian Amazon.” American Journal of Agricultural Economics. Available at: https://academic.oup.com/ajae/advance-article/doi/10.1093/ajae/aay110/5376645.

Leite-filho, A.T., B.S. Soares-filho, G.M. Abrahão, J. Börner, and J.L. Davis. 2021. “Deforestation reduces rainfall and agricultural.” Nature Communications (2021):1–7.

Liscow, Z.D. 2013. “Do property rights promote investment but cause deforestation? Quasi-experimental evidence from Nicaragua.” Journal of Environmental Economics and Management 65(2):241–261.

Marengo, J.A., C.M. Souza, K. Thonicke, C. Burton, K. Halladay, R.A. Betts, L.M. Alves, and W.R. Soares. 2018. “Changes in Climate and Land Use Over the Amazon Region: Current and Future Variability and Trends.” Frontiers in Earth Science 6(December).

McCaffrey, D.F., B.A. Griffin, D. Almirall, M.E. Slaughter, R. Ramchand, and L.F. Burgette. 2013. “A tutorial on propensity score estimation for multiple treatments using generalized boosted models.” Statistics in Medicine 32(19):3388–3414. Available at: http://doi.wiley.com/10.1002/sim.5753.

Miranda, J., J. Börner, M. Kalkuhl, and B. Soares-Filho. 2019. “Land speculation and conservation policy

Page 14: 2V LPSDFWRV GD VHJXUDQoD GD SRVVH QR GHVPDWDPHQWR …

14

leakage in Brazil.” Environmental Research Letters 14(4).

Moutinho, P., R. Guerra, and C. Azevedo-Ramos. 2016. “Achieving zero deforestation in the Brazilian Amazon: What is missing?” Elementa: Science of the Anthropocene 4:100125.

Probst, B., A. BenYishay, A. Kontoleon, and T.N.P. dos Reis. 2020. “Impacts of a large-scale titling initiative on deforestation in the Brazilian Amazon.” Nature Sustainability 3(12):1019–1026. Available at: http://www.nature.com/articles/s41893-020-0537-2.

PRODES, I.N. de P.E. 2019. “Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Brasileira por Satélite.”

Rajão, Raoni; Del Giudice, Roberta; Van der Hoff, Richard; Carvalho, E.B. 2021. Uma Breve História da Legislação Florestal Brasileira: contém a Lei no 12.651, de 2012, com comentários críticos acerca da aplicação de seus artigos 1o Edição. E. Expressão, ed. Rio de Janeiro.

Reydon, B.P., V.B. Fernandes, and T.S. Telles. 2019. “Land governance as a precondition for decreasing deforestation in the Brazilian Amazon.” Land Use Policy (October):104313.

Robinson, B.E., M.B. Holland, and L. Naughton-Treves. 2014. “Does secure land tenure save forests? A meta-analysis of the relationship between land tenure and tropical deforestation.” Global Environmental Change 29:281–293.

Sant’Anna, A.A., and C.E.F. Young. 2010. “Direitos de propriedade, desmatamento e conflitos rurais na Amazônia.” Economia Aplicada 14(3):381–393.

Schielein, J. 2018. “Deforestation Frontiers in the Brazilian Amazon.” Harvard Dataverse:V1.

SICAR-Acre. 2018. “Sistema de Cadastro Ambiental Rural do Estado do Acre.”

Silva, C.H.L., L.E.O.C. Aragão, L.O. Anderson, M.G. Fonseca, Y.E. Shimabukuro, C. Vancutsem, F. Achard, R. Beuchle, I. Numata, C.A. Silva, E.E. Maeda, M. Longo, and S.S. Saatchi. 2020. “Persistent collapse of biomass in Amazonian forest edges following deforestation leads to unaccounted carbon losses.” Science Advances 6(40):1–10.

Soares-Filho, B.S., D.C. Nepstad, L.M. Curran, G.C. Cerqueira, R.A. Garcia, C.A. Ramos, E. Voll, A. McDonald, P. Lefebvre, and P. Schlesinger. 2006. “Modelling conservation in the Amazon basin.” Nature 440(7083):520–523. Available at: http://www.nature.com/articles/nature04389.

Sparovek, G., B.P. Reydon, L.F. Guedes Pinto, V. Faria, F.L.M. de Freitas, C. Azevedo-Ramos, T. Gardner, C. Hamamura, R. Rajão, F. Cerignoni, G.P. Siqueira, T. Carvalho, A. Alencar, and V. Ribeiro. 2019. “Who owns Brazilian lands?” Land Use Policy 87(June):104062.