2ª aula

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Kuhn – A função do dogma na investigação científica 2° aula – dia 16 Fichamento das pp. 35-43. O exemplo de Kuhn, sobre a disputa sobre a melhor explicação do fenômeno magnético, associada a um campo mais amplo, o da eletricidade, remetia finalmente à divergência entre duas concepções filosóficas do espaço, da matéria, da física. Há vários elementos importantes contidos nesta passagem e não é necessário entender de eletricidade para identificar tais elementos. O primeiro é a caracterização do período pré- paradigmático de uma ciência, cuja marca essencial é a diversidade de pontos de vista. O segundo é o da relação entre ciência paradigmática e filosofia, ou ainda, entre uma ciência determinada e sua relação com o conjunto das ciências ou com uma ciência específica, mas mais ampla: a disputa no séc. XVII sobre a eletricidade refletia uma disputa mais ampla sobre a natureza do espaço e da matéria. Essa discussão remonta aos filósofos antigos chamados atomistas, que concebiam os corpos como combinação e interação de partículas indivisíveis – os átomos. Uma vez que a natureza é composta de um número limitado de átomos, pois é finita, como explicar a mudança, o movimento, por que a natureza não é extática, composta de relações permanente de átomos? Os filósofos atomistas diziam então que, além dos átomos, a natureza comporta o vazio. Descartes, como a maior parte dos primeiros filósofos modernos, concebia o espaço como infinito, comporto unicamente de relações de grandeza ou proporção é a matematização da natureza típica do racionalismo. Ele identificava espaço, matéria e extensão. Tudo o que existe espacialmente, portanto, materialmente, existe como extensão. O vazio não pode ser matéria, nem possuir extensão e, portanto, não existe no espaço, logo, não existe. Ademais, como a matéria e o espaço são explicados pela extensão, ou seja, por grandeza e proporção, através do modelo matemático, a divisão dos corpos é infinita. Descartes negava as duas características dos atomistas: a existência de átomos e de vazio. Newton, por sua vez, aceitava estas duas coisas, porém acrescentava um terceiro elemento: o conceito de força da natureza. A força (para Descartes, os fluidos) atuante nos corpos explicava, para ele, as relações de atração e repulsão. O terceiro elemento a ser identificado no exemplo de Kuhn é desenvolvido na página 35: p. 35, § 17 – A disputa sobre a explicação da eletricidade só será resolvida com Benjamin Franklin. Antes de expor as diferenças nas pesquisas antes e depois da teoria de Franklin, Kuhn identifica e sublinha as características essenciais do Curso Saber Rua Montese, n° 76 Telefone: (43) 3326-1212 1 Curso Saber DATA: 16.10. 2013 PROFESSOR: GLAUBER KLEIN MATÉRIA: FILOSOFIA

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REVISO UEL

Kuhn A funo do dogma na investigao cientfica2 aula dia 16Fichamento das pp. 35-43.

O exemplo de Kuhn, sobre a disputa sobre a melhor explicao do fenmeno magntico, associada a um campo mais amplo, o da eletricidade, remetia finalmente divergncia entre duas concepes filosficas do espao, da matria, da fsica. H vrios elementos importantes contidos nesta passagem e no necessrio entender de eletricidade para identificar tais elementos. O primeiro a caracterizao do perodo pr-paradigmtico de uma cincia, cuja marca essencial a diversidade de pontos de vista. O segundo o da relao entre cincia paradigmtica e filosofia, ou ainda, entre uma cincia determinada e sua relao com o conjunto das cincias ou com uma cincia especfica, mas mais ampla: a disputa no sc. XVII sobre a eletricidade refletia uma disputa mais ampla sobre a natureza do espao e da matria. Essa discusso remonta aos filsofos antigos chamados atomistas, que concebiam os corpos como combinao e interao de partculas indivisveis os tomos. Uma vez que a natureza composta de um nmero limitado de tomos, pois finita, como explicar a mudana, o movimento, por que a natureza no exttica, composta de relaes permanente de tomos? Os filsofos atomistas diziam ento que, alm dos tomos, a natureza comporta o vazio. Descartes, como a maior parte dos primeiros filsofos modernos, concebia o espao como infinito, comporto unicamente de relaes de grandeza ou proporo a matematizao da natureza tpica do racionalismo. Ele identificava espao, matria e extenso. Tudo o que existe espacialmente, portanto, materialmente, existe como extenso. O vazio no pode ser matria, nem possuir extenso e, portanto, no existe no espao, logo, no existe. Ademais, como a matria e o espao so explicados pela extenso, ou seja, por grandeza e proporo, atravs do modelo matemtico, a diviso dos corpos infinita. Descartes negava as duas caractersticas dos atomistas: a existncia de tomos e de vazio. Newton, por sua vez, aceitava estas duas coisas, porm acrescentava um terceiro elemento: o conceito de fora da natureza. A fora (para Descartes, os fluidos) atuante nos corpos explicava, para ele, as relaes de atrao e repulso. O terceiro elemento a ser identificado no exemplo de Kuhn desenvolvido na pgina 35:p. 35, 17 A disputa sobre a explicao da eletricidade s ser resolvida com Benjamin Franklin. Antes de expor as diferenas nas pesquisas antes e depois da teoria de Franklin, Kuhn identifica e sublinha as caractersticas essenciais do perodo anterior: 1. existncia de diversos pontos de vista, ou ainda, como diz ele, debates inter-escolas (cartesiana, newtoniana, intermedirias); 2. Embora os investigadores fossem cientistas, os resultados eram algo menos do que cincia: Cada experimentador em eletricidade era forado a construir o seu domnio de novo a partir da base, uma vez que o conjunto de convices que ele podia tomar como certas era muito limitado. Ao fazer isso, a sua escolha de experincias e observaes fundamentais era relativamente livre, porque o conjunto de mtodos, padro e fenmenos que cada terico da eletricidade podia utilizar e explicar era extraordinariamente reduzido. Os cientistas da eletricidade tendiam a andar em crculos. 18 Em suma, o perodo pr-paradigmtico aquele no qual h ausncia de uma teoria bem articulada e amplamente aceita. So dois, ento, os critrios: (1) uma explicao que rena, articule, englobe os diversos fenmenos relacionados a um objeto de estudo; (2) aceitao ampla, se no completa, de um modelo, que, assim, define os objetivos, mtodos e formao. Em uma palavra, a cincia definida por Kuhn a partir da existncia de um paradigma; a fase pr-paradigmtica , portanto, definida pela falta de unidade.

p.36, 19 A concluso da anlise do exemplo da eletricidade: O fim dos debates inter-escolas ps fim a constante reavaliao dos fundamentos; a convico de estarem a seguir o caminho correto dava coragem aos tericos da eletricidade para se lanarem em trabalhos de maior envergadura, mais exatos e esotricos. Liberto das preocupaes gerais levantadas com os fenmenos eltricos, o novo grupo agora unido podia orientar-se para fenmenos eltricos selecionados e estuda-los com muito mais pormenor, concebendo aparelhagem especializada para seu trabalho e utilizando-a com uma persistncia e um grau de sistematizao desconhecidas dos anteriores tericos da eletricidade.

p. 37, 20 Explicao do exemplo da eletricidade pelo paradigma de Franklin.

p. 38, 21 Kuhn afirma que o perodo pr-paradigmtico costuma ser longo; por isso, usa a expresso amadurecimento de uma cincia. O essencial, no entanto, apontar para o fato de que a eletricidade chegou, com Franklin, a um paradigma, isto garantindo a existncia de um grupo (a comunidade cientfica) que, a partir de ento, pode tomar os fundamentos do seu campo de atividade como bem estabelecidos e enveredar para problemas mais concretos e mais complexos. Em outras palavras, os cientistas deixam de se debater em disputas sobre as bases tericas e metodolgicas de seu ofcio no momento que essas ficam consolidadas em um nico modelo, capaz de determinar os procedimentos padres instrumentos, regras de aplicao, perspectiva de resultados para que a comunidade cientfica lide com a maior parte dos fenmenos em questo. A existncia de um paradigma, reafirma o autor, o essencial: difcil conceber outro critrio que estabelea to claramente o campo de atividade de uma cincia.

p. 39, 22 At aqui a caracterizao do paradigma concentrava-se na posio de uma unidade: E, em primeiro lugar, um resultado cientifico fundamental que inclui ao mesmo tempo uma teoria e algumas aplicaes exemplares aos resultados das experincias e da observao.. Agora, outra caracterizao destacada: o paradigma no esgota imediatamente suas aplicaes, ou dito de outro modo, a partir do paradigma possvel colher novos resultados incessantemente. Kuhn diz que o resultado de um paradigma est sempre em aberto.

p. 39, - Como modelo cuja potencialidade est em aberto, o paradigma ainda caracterizado pela atividade da comunidade cientfica, concentrada agora em explorar os resultados abertos, substituindo a tendncia geral pr-paradigmtica de resistncia e criao de alternativas.

Neste momento do texto, Kuhn adverte o que poderia ser uma concluso tirada precipitadamente: a definio de um paradigma e, em especial, a sua terceira caracterstica, a saber, o de estabelecer a atividade cientfica como produo de novos resultados proporcionados pelo paradigma, no significa que o paradigma no possa ser, a seguir, substitudo. Isto quer dizer: a passagem do perodo pr-paradigmtico para o paradigmtico, ou seja, o da cincia normal, no nunca definitivo. Dito ainda de outro modo: ao contrrio de outras atividades do saber, como as cincias humanas ou as artes, a cincia definida pela unidade de paradigma dentro de uma comunidade cientfica que, ao aderir a um paradigma, resiste a alteraes e inovaes; isto, porm, no significa que sejam eliminadas as mudanas de paradigma. A cincia se desenvolve por rupturas, que so perodos de crise e de mudana de paradigma.

23 - O pargrafo exemplifica casos de mudanas de paradigmas dentro de uma cincia j madura, acrescentando dois elementos interligados. (1) Um paradigma, mesmo sendo substitudo por outro no decurso histrico de uma cincia madura, no deixa de ser um paradigma. (2) Por isso, a mudana de paradigma no significa que o anterior foi, finalmente, posto como falso, errado ou um mito. Pelo contrrio, a eficcia de uma paradigma indefinida. Eficcia parece ser o critrio essencial, no validade ou verdade.

p. 40, 24 O tema perodo de cincia extraordinria. No perodo pr-paradigmtico so criadas diversas teorias, ideias, hipteses. A diversidade de perspectivas encerrada com a adoo de um paradigma. A partir de ento, no h mais a indefinio do perodo pr-paradigma, mas o paradigma pode e frequentemente alterado. Poderia ser o caso, pois, de pensar a histria da cincia dentro do modelo de progresso linear, pois cada novo paradigma seria a aproximao da verdade ou mais completa explicao do objeto cientfico em questo. Porm, a viso de Kuhn a da compreenso da histria da cincia como histria de rupturas. No h nenhuma forma de progresso linear.

Poder-se-ia pensar, ento, que modelos rejeitados no perodo pr-paradigmticos e os paradigmas substitudos aps perodos de crise fossem abandonados definitivamente. justamente isso que Kuhn nega nesta pgina: o historiador com frequncia tem de reconhecer que, com a rejeio da perspectiva proposta por dada escola pr-paradigmtica, uma comunidade cientfica rejeitou o embrio de uma importante ideia cientifica a que seria forada a voltar mais tarde. Salienta-se, porm, que um modelo ou paradigma antes rejeitado s reaparece nos perodos de crise dentro de uma cincia madura.

pp. 41-2, 25 Aps abordar pela primeira vez o tema da cincia no perodo extraordinrio, tambm chamado aqui de episdios revolucionrios, Kuhn volta a destacar a predominncia e a regra da atividade cientfica pautado na hegemonia de um paradigma: O paradigma diz-lhes qual o tipo de entidades com que o universo est povoado e qual a maneira como essa populao se comporta; alm disso, informa-os de quais as questes sobre a natureza que podem legitimamente ser postas e das tcnicas que podem ser devidamente aplicadas na busca das respostas a essas questes. O interesse historiogrfico e de divulgao cientfica por perodos de crise e de revoluo (mudana de paradigma) deve-se antes a sua raridade do que sua regularidade. Com efeito, a atividade baseada na produo de resultados (eficcia) pela orientao e definio de propsitos e procedimentos por meio de um paradigma a regra.

p. 43 Exemplo da conservao da paridade.Esquema geral

p. 35 O perodo pr-paradigmtico: disputa inter-escolas, proliferao de pontos de vista, indefinio de objetivos, fundamentos tericos e metodolgicos. Passagem para o perodo paradigmtico: aceitao plena de um nico paradigma, responsvel pela unidade de regras e objetivos, assim como modelo de soluo ou produo de resultados significativos dentro de uma cincia.

p. 36 Exemplificao do perodo de aceitao de um paradigma, o da eletricidade, a parti do qual se segue o perodo de cincia normal, definida pela resistncia a disputas tericas e aplicao sistemtica do paradigma elegido.p. 37 Explicao do paradigma de Franklin para explicao do conjunto dos fenmenos eltricos.p. 38 O paradigma determina o surgimento de uma comunidade cientfica , cuja atividade a padro da cincia madura: unidade de mtodo, propsito e padro de produtividade.

Atividade cientfica caracterizada como produo de resultados a partir do paradigma, que contm virtualmente uma eficcia inesgotvel.p. 39 O perodo de cincia normal no definitivo, pois o desenvolvimento das cincias maduras comporta perodos de crise, quando as anomalias na aplicao do paradigma tornam-se generalizados, seguidos de episdios revolucionrios, nos quais h mudana de paradigma.A mudana de paradigma estrutural nos desenvolvimento das cincias maduras, porm o paradigma substitudo no passa a ser falso, mas ineficiente para resolver anomalias.

p. 40 Possibilidade de, nos episdios revolucionrios, ressurgir modelos pr-paradigmticos ou retomada de uma paradigma j rejeitado.pp. 41-42 Retomada da tese de que a cincia madura, a despeito de inevitavelmente passar por perodos de crise e de episdios revolucionrios, ou seja, de mudana de paradigma, definida em sua atividade normal ou regular como baseada em um nico paradigma, que define, limita, orienta e sistematiza a atividade cientfica.p. 43 Exemplo de conservao de paridade.Glossrio

Cincia pr-paradigmtica______________________________

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Paradigma__________________________________________

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Episdios revolucionrios________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Anomalia____________________________________________

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Desenvolvimento cientfico______________________________

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Exerccios

Texto 1: O fim dos debates inter-escolas ps fim a constante reavaliao dos fundamentos; a convico de estarem a seguir o caminho correto dava coragem aos tericos da eletricidade para se lanarem em trabalhos de maior envergadura, mais exatos e esotricos. Liberto das preocupaes gerais levantadas com os fenmenos eltricos, o novo grupo agora unido podia orientar-se para fenmenos eltricos selecionados e estuda-los com muito mais pormenor, concebendo aparelhagem especializada para seu trabalho e utilizando-a com uma persistncia e um grau de sistematizao desconhecidas dos anteriores tericos da eletricidade. (p. 36) Texto 2: Pelo contrario, o historiador com frequncia tem de reconhecer que, com a rejeio da perspectiva proposta por dada escola pr-paradigmtica, uma comunidade cientifica rejeitou o embrio de uma importante ideia cientfica a que seria forada a voltar mais tarde. Mas est longe de ser bvio que a profisso atrasou o desenvolvimento cientfico com esse procedimento. (...) teriam a astronomia e a dinmica avanado mais depressa se os cientistas tivessem reconhecido que tanto Ptolomeu como Coprnico tinham escolhido processos igualmente legtimos para descrever a posio da Terra? Tal posio foi, de fato, sugerida durante o sc. XVII e foi depois confirmada pela teoria da relatividade. Mas at l ela foi, juntamente com a astronomia de Ptolomeu, vigorosamente rejeitada, vindo tona de novo s no fim do sec. XIX quando, pela primeira vez, se relacionava concretamente aos problemas insolveis postos pela prtica usual da fsica no-relativista. (p. 40)Questo 1 Diversamente s Humanidades, Artes e Cincias Sociais, as Cincias da Natureza possuem uma distino bem clara entre o perodos de definio de bases tericas, mtodos e comunidade cientfica . Explique.___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Questo 2 Kuhn argumenta que modelos e paradigmas rejeitados podem tornar a ser paradigmas, isso no significa, porm, que a rejeio anterior foi errada. Desenvolve seu argumento neste sentido.___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Questo 3 O primeiro texto afirma a necessidade de superao do perodo pr-paradigmtico e dos perodos de crise para sucesso das cincias; o segundo texto, porm, afirma que modelos e paradigmas rejeitados costumam guardar solues valiosas e, muitas vezes, retomadas pelas cincia maduras. Fim das disputas sobre bases tericas e reviso e retomada dessas bases. Explique esta relao.__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Curso Saber

DATA: 16.10. 2013 PROFESSOR: Glauber Klein MATRIA: FILOSOFIA

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