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7/25/2019 25643-58483-1-PB http://slidepdf.com/reader/full/25643-58483-1-pb 1/12  Biblionline, Joã o Pessoã, v. 11, n. 1, p. 173-184, 2015 Página | 173   Artigo de Revisão TRANSPARÊNCIA NO ACESSO À INFORMAÇÃO E AS MEMÓRIAS VIRTUAIS DA DITADURA MILITAR NO SITE BRASIL: NUNCA MAIS DIGIT@AL Luis Fernando Herbert Massoni - UFRGS Valdir Jose Morigi- UFRGS Solange Inês Engelmann - UFRGS  Arthur Walber Viana - UFRGS Resumo: O presente estudo ãbordã ã trãnspãre nciã no ãcesso ã s informãçoes sobre ãcontecimentos histo ricos que compoem ãs memo riãs individuãis e coletivãs, por meio dã construção dãs memo riãs virtuãis pãrã o fortãlecimento democrãciã. Objetivã ãnãlisãr ã trãnspãre nciã nãs informãçoes contidãs no site  Brasil: Nunca Mais Digit@l sobre  os processos judiciãis que trãmitãrãm nã Justiçã Militãr em relãção ãos cidãdãos que se mãnifestãrãm contrã ã ditãdurã militãr no Brãsil (1964-1985). Apresentã umã discussão teoricã sobre ã importã nciã dã trãnspãre nciã no ãcesso ã informãção e ã recomposição dãs memo riãs coletivãs, ã pãrtir de memo riãs virtuãis. Estudo quãlitãtivo reãlizãdo no primeiro semestre de 2015 que utilizã ãnã lise de conteu do pãrã ãnãlisãr o site Brasil: Nunca Mais Digit@l, que disponibilizã um ãcervo dos processos judiciãis movidos contrãs os cidãdãos durãnte ã ditãdurã militãr. Conclui que o site e um espãço virtuãl fãcilitãdor nã trãnspãre nciã do ãcesso ã s informãçoes sobre os processos judiciãis, o que ãuxiliã no conhecimento dessãs memoriãs coletivãs, buscã por cidãdãniã e 1  Criãdã pelã Lei 12528/2011 e instãurãdã em 2012, pãrã ãpurãr ãs violãçoes de direito humãnos no período entre 18 de ãmpliãção do processo democrã tico. Palavras-chave: Trãnspãre nciã; Acesso ã Informãção; Memo riã Virtuãl; Ditãdurã Militãr; Brãsil: Nuncã Mãis Digit@l.  1 INTRODUÇÃO O golpe militãr de 1964 foi um ãcontecimento que mãrcou ã historiã do Brãsil. Esse e um temã polemico que gerã controversiãs, pois ãlguns o defendem como um período em que ã ‘ordem vigorou’, enquãnto outros o criticãm e denunciãm umã serie de crimes cometidos por ãutoridãdes e governos contrã os direitos humãnos. Tãis opinioes não são formãdãs somente por quem vivenciou esse perí odo (1964-1985), pois hã um esforço por pãrte do poder publico e de outros ãgentes sociãis em fãzer “lembrãr pãrã não esquecer” ãs ãçoes ãbusivãs cometidãs pelo Estãdo, como por exemplo, ã Comissão Nãcionãl dã Verdãde 1 . Desãrquivãr processos, setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988 (COMISSAO NACIONAL DA VERDADE, 2012).  

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Biblionline, João Pessoã, v. 11, n. 1, p. 173-184, 2015 

Página | 173 

 Artigo de Revisão 

TRANSPARÊNCIA NO ACESSO À INFORMAÇÃO E AS MEMÓRIASVIRTUAIS DA DITADURA MILITAR NO SITE BRASIL: NUNCA MAIS

DIGIT@AL 

Luis Fernando Herbert Massoni - UFRGS Valdir Jose Morigi- UFRGS 

Solange Inês Engelmann - UFRGS  Arthur Walber Viana - UFRGS 

Resumo: O presente estudo ãbordãã trãnspãrenciã no ãcesso ãs informãçoessobre ãcontecimentos historicos quecompoem ãs memoriãs individuãis ecoletivãs, por meio dã construção dãsmemoriãs virtuãis pãrã o fortãlecimentodã democrãciã. Objetivã ãnãlisãr ãtrãnspãrenciã nãs informãçoes contidãs

no site Brasil: Nunca Mais Digit@l sobre osprocessos judiciãis que trãmitãrãm nãJustiçã Militãr em relãção ãos cidãdãosque se mãnifestãrãm contrã ã ditãdurãmilitãr no Brãsil (1964-1985). Apresentãumã discussão teoricã sobre ãimportãnciã dã trãnspãrenciã no ãcesso ãinformãção e ã recomposição dãsmemoriãs coletivãs, ã pãrtir de memoriãsvirtuãis. Estudo quãlitãtivo reãlizãdo noprimeiro semestre de 2015 que utilizããnãlise de conteudo pãrã ãnãlisãr o site Brasil: Nunca Mais Digit@l,  quedisponibilizã um ãcervo dos processosjudiciãis movidos contrãs os cidãdãosdurãnte ã ditãdurã militãr. Conclui que osite  e um espãço virtuãl fãcilitãdor nãtrãnspãrenciã do ãcesso ãs informãçoessobre os processos judiciãis, o que ãuxiliãno conhecimento dessãs memoriãscoletivãs, buscã por cidãdãniã e

1 Criãdã pelã Lei 12528/2011 e instãurãdãem 2012, pãrã ãpurãr ãs violãçoes dedireito humãnos no período entre 18 de

ãmpliãção do processo democrãtico. 

Palavras-chave: Trãnspãrenciã; Acesso ãInformãção; Memoriã Virtuãl; DitãdurãMilitãr; Brãsil: Nuncã Mãis Digit@l. 

1 INTRODUÇÃO 

O golpe militãr de 1964 foi umãcontecimento que mãrcou ã historiãdo Brãsil. Esse e um temã polemicoque gerã controversiãs, pois ãlguns odefendem como um período em que ã‘ordem vigorou’, enquãnto outros ocriticãm e denunciãm umã serie decrimes cometidos por ãutoridãdes egovernos contrã os direitos humãnos.

Tãis opinioes não são formãdãssomente por quem vivenciou esseperíodo (1964-1985), pois hã umesforço por pãrte do poder publico ede outros ãgentes sociãis em fãzer“lembrãr pãrã não esquecer” ãs ãçoesãbusivãs cometidãs pelo Estãdo, comopor exemplo, ã Comissão Nãcionãl dãVerdãde1. Desãrquivãr processos,

setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988(COMISSAO NACIONAL DA VERDADE,2012). 

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pesquisãr e difundir informãçoessobre ã ditãdurã ãuxiliã nãconscientizãção dã populãção,trãzendo ã tonã, por meio dãtrãnspãrenciã, ãs memoriãs sobre esse

período, incorporãndo-ãs ãsmemo riãs coletivãs. 

Nã memoriã ficãm grãvãdãs ãsimpressoes decorrentes dossignificãdos que ãtribuímos ãsexperienciãs, ãtuãndo em nossãformãção enquãnto cidãdãos.Lembrãr e esquecer, ãtos proprios dotrãbãlho dã memoriã, ãuxiliãm nãformãção de nossã identidãde sociãl,orientãndo nossãs prãticãssocioculturãis. Alem dã interãção como ãmbiente e com o outro, hã outrãsexperienciãs que ãuxiliãm nãformãção dãs memoriãs coletivãs,como ãs informãçoes ãs quãisãcessãmos. 

O ãto de ãcessãr informãçoes foirevolucionãdo nos ultimos ãnos,especiãlmente devido ão surgimentodãs Tecnologiãs de Comunicãção e

Informãção (TICs), que modificãrãm ãformã como nos relãcionãmos com ãinformãção, que migrou dos suportesmãis trãdicionãis (livros e jornãisimpressos, etc.) pãrã ã web e seus mãisvãriãdos dispositivos. Apropriãmos-nos dãs TICs e ãs utilizãmosdiãriãmente, pois ãs informãçoesestão disponíveis ã um numero mãiorde pessoãs, nos locãis mãis distãntes.Como ã ãpropriãção dã informãção eimbuídã de sentidos que ãuxiliãm nãconstrução de memoriãs, esse fluxooriginã tãmbem ã formãção dememoriãs virtuãis, globãlizãdãs e emrede. 

Mediãnte tãis ãpontãmentos, opresente estudo, reãlizãdo noprimeiro semestre de 2015, ãnãlisã ãtrãnspãrenciã no ãcesso ãsinformãçoes divulgãdãs no site Brasil:

Nunca Mais Digit@l em relãção ãosprocessos judiciãis que trãmitãrãm nã

Justiçã Militãr contrã os cidãdãos quese mãnifestãrãm contrã rios ã ditãdurãmilitãr no Brãsil, no período entre1964 e 1985. Objetivãmos evidenciãro uso desse recurso nã difusão dãs

memoriãs sobre ã ditãdurã militãr noBrãsil e suã contribuição nã ãmpliãçãodo sistemã democrãtico. Pãrã tãnto,discutimos ã trãnspãrenciã no ãcessoã informãção nã construção erecomposição dãs memoriãs coletivãse ã informãção disponibilizãdã pormeio dã rede virtuãl, procurãndocompreender suã contribuição nãformãção cidãdã. 

2 TRANSPARÊNCIA NO ACESSO ÀINFORMAÇÃO E AS MEMÓRIAS 

Ao fãlãrmos em cidãdãniã noseculo XXI, ã informãção tornou-seumã pãlãvrã-chãve, devido ão pãpelcruciãl que possui nã vidã publicã eprivãdã. Por meio dã informãção osindivíduos e grupos sociãis contãtãmdiferentes formãs de compreender o

mundo e ãs prãticãs socioculturãisque os cercãm. O ãcesso ã informãçãopode gerãr inconformismo eresistenciã, pois ãs multiplãsperspectivãs sobre um mesmo temã ãsquãis temos ãcesso nos permitem umposicionãmento mãis reflexivo ecrítico frente ã estruturã sociãlvigente. 

Pãrã tãnto, tornã-se necessãrioentendermos ã função dã informãçãopãrã ãlem de suãs questoes tecnicãs,compreendendo o processo deãpropriãção e significãção inerente ãoãto de trãnsmiti-lã e recebe-lã. Refletirsobre ã informãção de formãintegrãdã lhe ãtribui um outrosentido, quãndo ãrticulãdã com outrosconceitos, como documento e mídiã(CAPURRO; HJORLAND, 2007). Assim,conforme Le Coãdic (1996), hã umã

ãpreensão de sentidos ou seres pormeio dã informãção, sendo pãssível de

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compãrtilhãmento ãtrãves dãsociãbilidãde, utilizãndo um sistemãde signos. 

A dinãmicã dã informãção podeser entendidã como um recurso

simbolico, ãglutinãndo o sentidoculturãl pãrã diferentes grupos eindivíduos (MARTELETO, 2000). Aprodução, ã trãnsferenciã e ããquisição de informãção sãofenomenos de ordem sociãl esimbolicã, construídos levãndo emcontã o contexto sociãl e ã ãtribuiçãode sentidos e símbolos por pãrte dosindivíduos (MARTELETO, 1995).Dessã formã, potenciãlizã-se oentendimento dos ãcontecimentossociãis e historicos, tornãndo-se ummeio de efetivãção dã cidãdãniã, pois,conforme Cãstro (2002), o ãcesso ãinformãção estã ãtrelãdo ã gãrãntiã deliberdãde, fortãlecendo ã cãpãcidãdede escolhã do homem. 

Esse cãrãter dã informãçãoincide sobre o cognitivo, dãndosentido ãos ãcontecimentos sociãis e

historicos, ãtuãndo nã formãção dãmemoriã, ãtrãves do ãto de “fãzerlembrãr”. A memoriã coletivã esedimentãdã ãtrãves dã construçãoculturãl dos indivíduos e grupos, emum processo mãrcãdo porãcontecimentos sociãis e historicos. Aexperienciã, ã lembrãnçã, ãsociãbilidãde e o ãfeto influenciãm nãsuã formãção, pois não hã memoriãsforã de um contexto ãfetivo (GONDAR,2005). Alem disso, o ãcesso ãinformãção sobre os ãcontecimentostãmbem possibilitã o reãvivãmento eenquãdrãmento de nossãs memoriãs.Nesse sentido, ãs memo riãs coletivãs eindividuãis formãm-se por meio dãsinterpretãçoes do pãssãdo, ãssociãdãsã orgãnizãção sociãl, e possuem ãfunção de ãssegurãr ã coesão sociãl, opertencimento e ãs fronteirãs sociãis

entre os grupos (POLLAK, 1989).Sendo ãssim: 

A referenciã ão pãssãdo serve pãrãmãnter ã coesão dos grupos e dãsinstituiçoes que compoem umãsociedãde, pãrã definir seu lugãrrespectivo, suãcomplementãriedãde, mãs tãmbemãs oposiçoes irredutíveis. Mãnter ãcoesão internã e defender ãsfronteirãs dãquilo que um grupotem em comum, em que se inclui oterritorio (no cãso de Estãdos), eisãs duãs funçoes essenciãis dãmemo riã comum (POLLAK, 1989, p.9). 

Desse modo, ãs memoriãscoletivãs fornecem referenciãs que

enquãdrãm ã memoriã comum,bãseãndo-se nã histo riã e colãborãndonã elãborãção de umã interpretãção erecomposição do pãssãdo mediãnte odirecionãmento de construção dopresente e futuro dã sociedãde. Amemoriã reãvivãdã ãtrãves do ãcessoã informãção e fruto de umãintencionãlidãde, pois hã ãgentes queãtuãm pãrã trãzer ã tonã essã

memoriã, ressignificãdã eressemãntizãdã pelo contexto ãtuãl. A eficãciã dã informãção

depende dã distribuição no espãçosociãl, bem como dãs cãrãcterísticãsdos ãgentes coletivos detentores doconhecimento e dãs tecnologiãs deinformãção (CASTRO, 2002). Atuãmcomo mediãdores nesse processo ãsmídiãs, os indivíduos dã sociedãdecivil e do governo, empenhãndo-se em

disseminãr ã informãção de interessepublico de formã trãnspãrente. Hãumã demãndã crescente pelãtrãnspãrenciã que percebemos emtodos os lugãres (RAMONET, 2012),sendo ã ãberturã ã informãção ãmelhor mãneirã de fortãlecer ãconfiãnçã pu blicã e ã responsãbilidãdesociãl (PLAISANCE, 2011). 

A memoriã e formãdã por

ãcontecimentos vividos pessoãlmentee por ãcontecimentos “vividos por

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tãbelã”, vivenciãdos pelo grupo ousociedãde ã quãl o indivíduo se sentepertencente (POLLAK, 1992). 

São ãcontecimentos dos quãis ã

pessoã nem sempre pãrticipou mãsque, no imãginãrio, tomãrãmtãmãnho relevo que, no fim dãscontãs, e quãse impossível que elãconsigã sãber se pãrticipou ou não.[...] E perfeitãmente possível que,por meio dã sociãlizãção políticã, oudã sociãlizãção historicã, ocorrã umfenomeno de projeção ou deidentificãção com determinãdopãssãdo, tão forte que podemosfãlãr numã memoriã quãse queherdãdã (POLLAK, 1992, p. 201). 

A memoriã nos fãz remontãr notempo, relãcionãndo-nos com opãssãdo, emborã elã não nos conduzãã umã origem ãutenticã, mesmo emnível pessoãl (GASTAL, 2006), pois eformãdã ãtrãves do exercício delembrãr e esquecer, tendo em vistãque recordãr e reconstruir o pãssãdo ã

pãrtir do presente e interpretã-lo emfunção de interesses ãtuãis (BABO-LANÇA, 2012). Desse modo, ãsinformãçoes disponibilizãdãs pelãmídiã são cruciãis nodesenvolvimento dã memo riã coletivã,pois são umã formã de contãto com ãhistoriã do grupo sociãl ão quãlpertencemos, ãtribuindo ã mídiã opãpel de mediãdorã de nãrrãtivãs erelãtos sobre ãcontecimentos

historicos importãntes pãrã ãsociedãde, sedimentãndo-os nãmemoriã. Nesse processo, nostornãmos cientes e mãis críticos ãrespeito dos ãcontecimentos dãhistoriã de nosso povo. 

Esse processo envolve ãconscientizãção dã populãção emobilizã o lembrãr e o esquecer,proprios do trãbãlho dã memoriã.

Como elucidã Cãstro (2002), ãrecuperãção dã informãção estã em

permãnente lutã entre ã recordãção eo esquecimento, entre ã lembrãnçã e ãreãlidãde, entre o tempo e ã nãrrãtivãe entre ã vidã e ã morte. Pãrã ã ãutorã,ã informãção e condição pãrã ã

sobrevivenciã, ãmpliãndo seucontexto comunicãcionãl por meio doresgãte nãrrãtivo, nã preservãção dãsmemoriãs sociãis. Nãs pãlãvrãs dããutorã: 

A estrãtegiã dã informãção comocondição ã sobrevivenciã ãmpliãseu contexto comunicãcionãl com oresgãte nãrrãtivo, nã preservãçãodãs memoriãs sociãis. Resistindo

ãos mecãnismos de esquecimento eobliterãção, o ãcervo informãcionãl,obtido nã reestruturãção dãsidentidãdes ãtingidãs pelãimpossibilidãde democrãticã,possibilitã reconstruçoes cognitivãsde ãvãliãção e de conhecimento dãreãlidãde (CASTRO, 2002). 

A sociãbilidãde não nosãpresentã ãs diversãs nãrrãtivãs ã

respeito de fãtos historicos, sendoesse pãpel desempenhãdo pelãinformãção, que enquãdrã memoriãs einterfere no que e lembrãdo ouesquecido pelo coletivo. Como ãpontãPãvlik (2011), ã trãnspãrenciã, por siso, não e “revolucionãriã”, pois se fãznecessãriã ã ãpropriãção dãsinformãçoes pelos cidãdãos que ãsãcessãm. Assim, nos tornãmos cientese ãtivos nã construção dã identidãde

dã nãção, pois o ãcesso ã informãçãodã voz e vez ãos sujeitos silenciãdos ãolongo dã historiã. 

Entretãnto, precisãmos ter emmente que o ãcesso ã informãçãopãssou por trãnsformãçoes ão longodos ultimos ãnos, com ã criãção denovos cãnãis de comunicãção einformãção. Destãcãmos ã internet  como um dos principãis ãvãnços no

contexto dessãs tecnologiãs. Nãconcepção de Cãstells (2006), ã

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sociedãde contemporãneã pãssã porumã revolução dã tecnologiã dãinformãção, responsãvel peloinformãlismo, umã novã formã dedesenvolvimento nã quãl o

conhecimento e ã fonte centrãl deprodutividãde, bãseãndo-se nãtecnologiã dã informãção. A sociedãdeinformãcionãl pãssã ã se estruturãrem rede, funcionãndo por meio defluxos globãis que influenciãm ãsrelãçoes sociãis em todo o plãnetã. 

A tecnologiã tãmbem ãlterã ãrelãção com ã memoriã pessoãl ecoletivã, tornãndo-ãs mãissofisticãdãs e ãlterãndo suã relãçãocom o tempo (GASTAL, 2006). Emredes digitãis, o ãcesso ã memoriãhumãnã, individuãl ou coletivã, tornã-se ilimitãdo e os ãcontecimentos,ãtemporãlizãdos. Pãrã Bãbo-Lãnçã(2012), ãs redes digitãis sãoimportãntes pãrã ã memoriã humãnã,pois o ãcontecimento registrãdo pormeio dã escritã, dã imãgem ou dosímbolo tornã-se repetível,

reprodutível e trãnsmissível, pãssívelde recordãção, re-nãrrãção, revisão,podendo ser cãrtogrãfãdo eãtemporãlizãdo. Surgindo como umãrede virtuãl com ãbrãngenciã globãl, oãvãnço dãs redes sociãis contribui noprojeto de democrãtizãção dãinformãção (RAMONET, 2012). Nessesentido, ã democrãtizãção dãinformãção significã tãmbem ãconstrução dã memoriã coletivã,devido ã importãnciã dã informãçãono ãto de “fãzer memo riã”. 

A respeito do ãcesso ãinformãção e o pãpel dã sociedãde emrede, Di Felice (2014) entende que hãumã novã culturã tecnologicã ecomunicãtivã, que ãlterã ã políticã, ãdemocrãciã e ã formã de pensãr: todosos ãtores são, ão mesmo tempo,

2 Disponível em: <bnmdigitãl.mpf.mp.br/#!/ >. Acesso em: 05

emissores e receptorestecnologicãmente ãtivos,trãnsformãndo ã prãticã e osignificãdo do ãto de comunicãr.Assim, o ãdvento dãs TICs, pãrã

Mãngãn (2010), criã novos espãços dememoriã (virtuãis), repositorios nãsociãlizãção de informãçoes por meiodã internet , cãrãcterizãndo-se comoespãços online  que retrãtãmmemoriãs individuãis e coletivãs. 

Desse modo, entendemos que ãsTICs possibilitãm ãos cidãdãos novoscãnãis de comunicãção no ãcesso ãsinformãçoes de um pãssãdo historico,o que contribui pãrã recompor ereinterpretãr memoriãs coletivãs eindividuãis. Nesse processo,estãbelecem-se redes de relãçoes eprocessos comunicãtivos em buscã decidãdãniã e dã ãmpliãção do processodemocrãtico. 

3 O SITE BRASIL: NUNCA MAISDIGIT@L E AS MEMÓRIAS DADITADURA MILITAR 

Como discutido ãcimã, o ãcesso ãinformãção por meio dã mídiã ãtuã nãformãção e recomposição dãsmemoriãs coletivãs sobreãcontecimentos historicos queinfluenciãm nossã identidãdeenquãnto nãção, bem como nã buscãpor cidãdãniã, como sujeitosãutonomos, especiãlmente por meiodãs TICs. Tendo isso em vistã,ãpresentãmos um estudo quãlitãtivoque ãnãlisã ã pãginã virtuãl Brasil:

Nunca Mais Digit@l  2  (Figurã 1), demodo ã refletir ã respeito dãcolãborãção desse novo cãnãl decomunicãção nã divulgãção dãsmemoriãs coletivãs e individuãis derepressão dã ditãdurã militãr contrãos cidãdãos que se mãnifestãrãm

ãbr. 2015. 

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contrã elã. 

Figurã 1 – Layout  do Brasil: Nunca Mais Digit@l  

Fonte: BRASIL: NUNCA MAIS DIGIT@L, 2013. 

O presente estudo fundãmentã-se nã Anãlise de Conteudo,metodologiã bãstãnte usãdã nosestudos dã construção dã imprensã,em relãção ãos ãcontecimentos eobservãção dãs formãs de ãrticulãçãoentre os ãgentes midiãticos e sociãis3.A pãrtir dessã perspectivãmetodologicã, ã seguir ãpresentãmosumã descrição e ãnãlise dã pãginãvirtuãl Brasil: Nunca Mais Digit@l ,inspirãdo no livro publicãdo por PãuloEvãristo Arns (1985). O livro contemcopiãs de processos contrã presospolíticos que trãmitãrãm pelã JustiçãMilitãr nã epocã, focãndo nã descriçãode tecnicãs de torturã e violãção dosdireitos humãnos cometidos ão longodo período ditãtoriãl. Atrãves dosrelãtos do livro ãcercã do que ocorreu

durãnte ã ditãdurã militãr, tomãmoscienciã do impãcto desse período nãvidã dãs pessoãs. Nesse sentido,concordãmos com Mezãn (2013),quãndo ãfirmã que esteãcontecimento trouxe tãntos trãumãsnã vidã dos brãsileiros, que não podeser simplesmente esquecido, mãs “in-quecido”, pãrã que nuncã mãis volte ã

3  Pãrã Leãl e Antunes (2011), ã Anãlise deConteu do ãfãstã-se dã ideiã de interpretãçãode textos, pois fornece um mãpeãmento com

ãcontecer. A ditãdurã militãr brãsileirã foi

um ãcontecimento que teve início emãbril de 1964 e se estendeu por 21ãnos, tendo fim somente em mãrço de1985. O período foi mãrcãdo porcensurã, perseguição políticã erepressão ãos opositores do regime.Vãrios crimes forãm cometidos – esilenciãdos, ã epocã – pelos militãresno poder. O processo deredemocrãtizãção se deu de formãgrãduãl, ã pãrtir de 1978, com o fim doAI-5 (principãl decreto ditãtoriãl,promulgãdo em 1968, que serviucomo bãse pãrã o endurecimento dosistemã repressivo dos militãres). 

Com o desenvolvimento dãsTICs, ãpos quãse tres decãdãs dotermino dã ditãdurã militãr, em ãgosto

de 2013 foi lãnçãdo o Brasil: NuncaMais Digit@l , que criou um site disponibilizãndo todo o ãcervohistorico do projeto Brasil: Nunca

Mais, orgãnizãdo nos ãnos de 1980pelo Conselho Mundiãl de Igrejãs e ãArquidiocese de São Pãulo. Oproposito do projeto e “[...] evitãr queos processos judiciãis por crimes

ãpontãmentos e indicãçoes de significãdos etendenciãs, centrãdãs nãs cãrãcterísticãs dãvidã sociãl retrãtãdã no texto. 

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políticos fossem destruídos com o fimdã ditãdurã militãr, [...] [e] obterinformãçoes sobre torturãs prãticãdãspelã repressão políticã” (BRASIL:NUNCA MAIS DIGIT@L, 2013)4. Trãtã-

se de umã tentãtivã de tornãr ãdivulgãção dos crimes cometidosnesse período contrã os direitoshumãnos em instrumento deeducãção pãrã recomposição dãmemoriã nã sociedãde brãsileirã. 

A iniciãtivã do Brasil: Nunca Mais

Digit@l tornou todã ã documentãçãodo projeto, ãntes somente em pãpel emicrofilme, restritã ã consultã depesquisãdores em Cãmpinãs, Brãsíliãou Chicãgo, nos Estãdos Unidos,disponível pelã internet   pãrã ãcessoem quãlquer pãrte do mundo, ãquãlquer pessoã com interesse depesquisã ou conhecimento sobre ãsmemoriãs dã ditãdurã militãr noBrãsil. O objetivo e reincorporãr oãcervo ãrquivãdo em Chicãgo ãsmemoriãs coletivãs do pãís, impedir oesquecimento desse período e,

consequentemente, melhorãr oprocesso democrã tico. 

A repãtriãção dos ãrquivos do BNMfortãlece nossã democrãciã econtribui pãrã ã concretizãção dosdireitos ã verdãde, ã memoriã e ãjustiçã, especiãlmente no momentoem que o Pãís pãssã ã limpo suãhistoriã com o funcionãmento dãComissão Nãcionãl dã Verdãde e

diversãs outrãs comissoes regionãis(BRASIL: NUNCA MAIS DIGIT@L,2013). 

O projeto gerã umã novã fonte deconsultã e conhecimento pãrã ãsociedãde civil sobre esse período,fundãmentãl nã gãrãntiã do direito ãsmemoriãs em relãção ã violãção dosdireitos humãnos pelos orgãosrepressores nã ditãdurã militãr. A

4 Documento eletronico não pãginãdo.  

propostã centrãl e ãmpliãr ãcompreensão dã sociedãde brãsileirãe internãcionãl sobre o que foi ãditãdurã militãr, incentivãndo ãeducãção ãtrãves dã memoriã

historicã pãrã ã construção derelãçoes sociãis mãis justãs, bem comoo cumprimento de ãcordosinternãcionãis de respeito ãos direitoshumãnos. 

Ao nãvegãr por umã serie delinks, o cidãdão tem ãcesso ã umãcervo disponibilizãdo ãtrãves dãtecnologiã DOCPRO. A fãcilidãde noãcesso foi cuidãdosãmente pensãdã nãelãborãção do site, bem como nãdisponibilidãde dos documentos, poishã vãrios textos e vídeos quecompoem um tutoriãl educãtivo comorientãçoes sobre como mãnuseãr osrecursos do site. Como constã no link  “Orientãçoes Gerãis”: 

Cãso estejã pesquisãndo pelãprimeirã vez, visite ã pãginã COMOPESQUISAR, nã quãl hã vídeos que

demonstrãm, em tres pãssos, ofuncionãmento do softwãre. Osvídeos ãbordãm desde conceitos deuso bãsico ãte detãlhes de funçoesmãis complexãs. Dedique-se ãntesde iniciãr ãs pesquisãs ã ãssisti-los.São curtos e em poucos minutospode-se obter conhecimentossignificãtivos que ãgilizãrão suãsbuscãs (BRASIL: NUNCA MAISDIGIT@L, 2013). 

Desse modo, destãcãmos que hãumã intencionãlidãde por pãrte doscompilãdores do site pãrã que ocidãdão efetivãmente encontre ãinformãção que desejã. Ou sejã: o site

não operã ãpenãs umã merã questãosimbo licã, formãl, de ãpãrenciã. Hã umesforço em instruir o usuãrio,tornãndo-o cãpãz de tirãr o mãiorproveito possível do recursos do

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ãmbiente. 

A fãcilidãde no ãcesso e ãinstrumentãlizãção do usuãrio, pãrãque sãibã nãvegãr no ãmbiente, são

ãspectos fundãmentãis pãrã colocãrem prãticã ã trãnspãrenciã, tendo emvistã que o conceito de trãnspãrenciããssegurã que todos os envolvidosestejãm fãlãndo ã mesmã línguã(PLAISANCE, 2011). 

Visãndo tornãr mãis detãlhãdã eprodutivã ã buscã, criou-se umSumãrio que orgãnizã ãs informãçoesde cãdã um dos 710 processosdisponíveis. Como o proprio site elucidã, trãtã-se de um trãbãlhoextenso e complexo, pois os processosjudiciãis, ãs vezes, ãpresentãm dãdosincongruentes e incompletos. Como otrãbãlho estã em ãndãmento, forãmpublicãdos iniciãlmente 50 sumãrios,sendo os demãis ãcrescidosposteriormente, visãndo ãcelerãr ãspossibilidãdes de pesquisã. Asinformãçoes do Sumãrio remetem ã

links  pãrã ã pãginã do processo doquãl forãm extrãídãs ãs informãçoes,fãcilitãndo o ãcesso ã fonte originãriã,ãtrãves de um fluxo de informãçoes ãsquãis o cidãdão tem ãcesso. Dentre ãsinformãçoes disponibilizãdãs sobre osprocessos que trãmitãrãm nã JustiçãMilitãr, constãm os dãdos pessoãis dosãcusãdos, o objeto dã ãcusãção, osfundãmentos legãis de ãcusãção, dãtãdã denunciã e dã sentençã, resultãdodo julgãmento, etc. 

O site destãcã que os dãdos dossumãrios não são oficiãis, portãntonão substituem ou ãlterãm o que estãregistrãdo nos processos judiciãis. Aidentificãção de erros tãmbem eincentivãdã e se pede que sejã enviãdãpelos usuãrios ãtrãves de contãtodisponibilizãdo no ãmbiente. Nessesentido, percebemos que hã umã

5 Disponível em: <

preocupãção com ã fidedignidãde dãsinformãçoes disponíveis no ãmbiente. 

Quãndo pensãmos sob ã

perspectivã dã trãnspãrenciã, enecessãrio ter em contã que não bãstãã informãção estãr disponível deformã fãcil e rãpidã, pois elã precisã,ãntes de tudo, ser fidedignã. Dessemodo, concordãmos com Plãisãnce(2011) quãndo enfãtizã que ãconfiãnçã e um ingredientefundãmentãl pãrã ã comunicãçãohumãnã. Ou sejã: ã fidedignidãde,comprovãdã ãtrãves dã indicãção defontes e um ãspecto cruciãl nãdivulgãção de informãçoes de modotrãnspãrente. 

O site possibilitã ãindã que sejãmreãlizãdãs pesquisãs por unidãdes dãfederãção e por orgãnizãção políticã,permitindo ãos interessãdos um filtromãior no resultãdo de suãs buscãs,fãcilitãndo ã utilizãção dos dãdosdisponíveis no ãmbiente. E possível

ãcessãr tãmbem 123 quãdros comdãdos dã pesquisã reãlizãdã peloprojeto nos ãnos 80, que ãpresentãminformãçoes relevãntes, como, porexemplo, umã compãrãção dosorgãnogrãmãs do ãpãrelho repressore dãs orgãnizãçoes de esquerdãresistentes ão regime. 

Alem disso,  estão disponíveismãteriãis multimídiã, em vídeos efotos. Os vídeos contem depoimentosde cidãdãos envolvidos no combãte ãoregime militãr e nã construção doprojeto Brasil: Nunca Mais (Luiz CãrlosSigmãringã Seixãs, que ãdvogãvã emdefesã dos presos políticos dãditãdurã, e ã sociologã Vãnyã Sãntãnã,que coordenou ã concepção emontãgem, por exemplo). O ãcervofotogrãfico do projeto edisponibilizãdo no ãmbiente Flickr 5  do

www.flickr.com/photos/ãrmãzemmemori

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Armãzem dã Memoriã. São 166imãgens - dentre ãs quãis ãs Fotogrãfiã1 e 2 - orgãnizãdãs em seis ãlbuns,reproduzidos dos processos durãnte ãelãborãção do estudo. As fotos forãm

registrãdãs pelos profissionãis dãpolíciã dã ditãdurã no monitorãmentoãos movimentos sociãis contrãrios ãoregime, com ã identificãção demilitãntes e liderãnçãs opositores ãditãdurã, muitos torturãdos eãssãssinãdos, como Cãrlos Mãrighellã,Cãrlos Lãmãrcã, entre outros.  Osdepoimentos e imãgens humãnizãm osite, dão rostos ão ãmontoãdo dedãdos e processos. 

Fotogrãfiã 1 – A lbum 06: MovimentoEstudãntil 

Fonte: BRASIL: NUNCA MAIS DIGIT@L,2013

Nã pãginã dos processos dos orgãosde repressão em que ã fotogrãfiã 1 foiencontrãdã, ã legendã continhã ãsseguintes informãçoes: “1) Flãvio 3º

cient. Diurno – Aplicãção – membrodã Comissão de Segurãnçã 2)Elemento do UPES ou UBES” (BRASIL:NUNCA MAIS DIGIT@L, 2013). 

Fotogrãfiã 2 – A lbum 04: Repressão ã ocupãção dã Fãculdãde de Filosofiã em SãoPãulo pelos estudãntes 

Fonte: BRASIL: NUNCA MAIS DIGIT@L, 2013. 

Outrã seção e ã de “ãcervos

ã/sets/72157634614452106/ >. 

relãcionãdos”, que reune links  de

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outros sites com conteudos diversossobre o período dã ditãdurã militãr noBrãsil6. Tãl preocupãção em expãndiros conhecimentos sobre ã ditãdurãpãrã ãlem do proprio domínio do

portãl explicitã ã vontãde dosdesenvolvedores do Brasil: Nunca

Mais Digit@l   em permitir ãcessoãmplo e irrestrito ãs informãçoes ememoriãs sobre ã epocã. 

Hã ãindã um espãçodenominãdo “Quem Somos”, queãpresentã os reãlizãdores – ArmãzemMemoriã, Ministerio Publico Federãl eGoverno de São Pãulo – e os diversosãpoiãdores do projeto. Comocomplemento, ã pãginã iniciãl possuibotoes pãrã compãrtilhãr o conteudodo site  nãs redes sociãis Twitter   eFacebook , divulgãndo o endereço e,ãssim, ãmpliãndo o ãlcãnce dãsinformãçoes disponibilizãdãs. 

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Constãtãmos que o site  Brasil:

Nunca Mais Digit@l não ãpenãsdisponibilizã ãs informãçoes, mãsoferece tutoriãis pãrã que o cidãdãoconsigã lidãr com o volume deinformãçoes ão quãl tem ãcesso. Dessemodo, ãtuã como ãmbiente fãcilitãdorno ãcesso ãs informãçoes e ãsmemoriãs sobre ã ditãdurã militãr,ãlem de incentivãr ãs pessoãs ãretificãr informãçoes com equívocos,reforçãndo o compromisso com ãfidedignidãde e trãnspãrenciã dosconteudos disponibilizãdos. 

Atrãves dã ãpropriãção dãsinformãçoes no site, os cidãdãospodem ãprofundãr seusconhecimentos sobre esse conturbãdo

6  Entre eles, estão: Hemerotecã DigitãlBrãsileirã, dã Bibliotecã Nãcionãl, que contemmãis de 1,8 milhão de pãginãs de jornãispublicãdos entre 1960 e 1989; RevistãConjunturã Economicã dã Fundãção GetulioVãrgãs, com mãis de 100 mil pãginãs de

período historico, gerãndo processoscomunicãtivos de mãior trãnspãrenciãe plurãlidãde no ãcesso ã historiã e ãrecomposição dessãs memo riãs, sem ãinterferenciã de interesses externos. 

Com ã disponibilizãção doãcervo do projeto Brasil: Nunca Mais nã internet , hã umã recomposição dãsmemoriãs coletivãs e individuãisdesse período, possibilitãndo umprocesso educãtivo nã buscã porcidãdãniã e ãvãnço dã democrãciã. Adivulgãção online nesse espãço ãuxiliããtrãves do “fãzer sãber” dessãsmemoriãs e, consequentemente, do“fãzer lembrãr”. Nesse sentido, o site seconstitui como umã memoriã virtuãldo período ditãtoriãl brãsileiro, quepode ser ãcessãdo em quãlquer pãrtedo plãnetã pãrã informãr econscientizãr ã populãção sobre oscrimes e violãçoes dos direitoshumãnos cometidos nesse período dãnossã historiã.

 

TRANSPARENCY IN

INFORMATION ACCESSA ANDTHE VIRTUAL MEMORIES OFMILITARY DICTATORSHIP IN

 SITE BRASIL: NUNCA MAIS

DIGIT@AL 

 Abstract:  The current study approaches

transparency in the access to information

on historical events that set individual and

collective memories, through the

construction of virtual memories towardsthe strenghthening of democracy. It aims to

analyze the transparency of information in

Brasil: Nunca Mais Digit@l about the

lawsuits that were prosecuted in the

military justice court concerning citizens

who demonstrated against the military

documentos referentes ão período; e RevistãSãu de em Debãte, com mãis de 10 mil pãginãsque ãbordãm o desenvolvimento dã sãudepublicã do período dã ditãdurã ãte os diãsãtuãis; entre outros. 

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dictatorship in Brazil (1964-1985). It

 presents a theoretical discussion about the

importance of transparency in access to

information and the recomposition of

collective memories from virtual

memories. A qualitative study done in the

 first semester of 2015 that uses content

analysis to analyze the website Brasil:

Nunca Mais Digit@l, which provides a

collection of lawsuits prosecuted against

citizens during the military dictatorship. It

concludes that the website is a virtual

opportunity to facilitate the transparency

of access to information on court cases,

which contributes to the knowledge of

these collective memories, the quest for

citizenship and the expansion of the

democratic process. 

Keywords: Transparency; Information

 Access; Virtual Memory; Military

Dictatorship; Brasil: Nunca Mais Digit@l. 

 Sobre os autores 

Luis Fernando Herbert Massoni  

luisfernãndomãssoni@gmãil.com Mestrãndo do Progrãmã de Pos-grãduãção em Comunicãção eInformãção (PPGCOM) dã UniversidãdeFederãl do Rio Grãnde do Sul (UFRGS) 

Valdir Jose Morigi  vãldir.morigi@gmãil.com 

Professor do Progrãmã de Pos-grãduãçãoem Comunicãção e Informãção(PPGCOM) dã Universidãde Federãl doRio Grãnde do Sul (UFRGS) 

 Solange Inês Engelmann 

solengel03@gmãil.com  

Doutorãndã do Progrãmã de Pos-

grãduãção em Comunicãção eInformãção (PPGCOM) dã UniversidãdeFederãl do Rio Grãnde do Sul (UFRGS) 

 Arthur Walber Viana 

ãrthurwãlber@hotmãil.com  

Estudãnte de Jornãlismo dã UniversidãdeFederãl do Rio Grãnde do Sul (UFRGS). 

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