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390 História: Debates e Tendências – v. 10, n. 2, jul./dez. 2010, p. 390-401. Publ. no 2 o sem. 2011. As “frestas” do tempo: sobre a concepção de história em Walter Benjamin Gerson Luís Trombetta * Resumo * Doutor em Filosoa, professor do Programa de Pós- Graduação em História da Universidade de Passo Fundo - RS. E-mail: [email protected] Recebido em 19/11/2010 - Aprovado em 1º/12/2010 Publicado em agosto de 2011 O artigo analisa a concepção de his- tória em Walter Benjamin presente, de modo especial, em sua obra Sobre o conceito de história. A reflexão ben- jaminiana ali contida não se constitui apenas como especulação sobre os ru- mos da história ou como um conjunto de análises pessimistas ou otimistas sobre acontecimentos passados. É, an- tes de tudo, uma abordagem crítica so- bre nosso discurso (escrita) a respeito da história (ou das histórias), o que re- mete às questões mais amplas da pró- pria atividade da narração. Objetivan- do atribuir um caráter emancipatório à narrativa historiográfica, o trabalho apresentado articula as noções benja- minianas de tempo, aura e memória, confrontando-as com a noção tradicio- nal de progresso. Palavras-chave: História. Benjamin. Aura. Panorama geral: o discurso da história O texto pretende ser uma breve in- trodução sobre a concepção de história em Walter Benjamin e, para tanto, se ampara na última obra escrita por ele (que se tem notícia) antes de se suicidar, em 22 de se- tembro de 1940, a saber: as teses “Sobre o conceito de história”. 1 O conteúdo das “Teses” não se constitui apenas como es- peculação sobre o “devir histórico” ou como um conjunto de análises pessimistas ou otimistas sobre acontecimentos passados. É, antes de tudo, “[...] uma reflexão crítica sobre nosso discurso a respeito da história (das histórias), discurso esse inseparável de uma certa prática. Assim, a questão da escrita da história remete às questões

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    Histria: Debates e Tendncias v. 10, n. 2, jul./dez. 2010, p. 390-401. Publ. no 2o sem. 2011.

    As frestas do tempo: sobre a concepo de histria em

    Walter Benjamin

    Gerson Lus Trombetta*

    Resumo

    * Doutor em Filosofi a, professor do Programa de Ps-Graduao em Histria da Universidade de Passo Fundo - RS. E-mail: [email protected]

    Recebido em 19/11/2010 - Aprovado em 1/12/2010Publicado em agosto de 2011

    O artigo analisa a concepo de his-tria em Walter Benjamin presente, de modo especial, em sua obra Sobre o conceito de histria. A reflexo ben-jaminiana ali contida no se constitui apenas como especulao sobre os ru-mos da histria ou como um conjunto de anlises pessimistas ou otimistas sobre acontecimentos passados. , an-tes de tudo, uma abordagem crtica so-bre nosso discurso (escrita) a respeito da histria (ou das histrias), o que re-mete s questes mais amplas da pr-pria atividade da narrao. Objetivan-do atribuir um carter emancipatrio narrativa historiogrfica, o trabalho apresentado articula as noes benja-minianas de tempo, aura e memria, confrontando-as com a noo tradicio-nal de progresso.

    Palavras-chave: Histria. Benjamin. Aura.

    Panorama geral: o discurso da histria

    O texto pretende ser uma breve in-troduo sobre a concepo de histria em Walter Benjamin e, para tanto, se ampara na ltima obra escrita por ele (que se tem notcia) antes de se suicidar, em 22 de se-tembro de 1940, a saber: as teses Sobre o conceito de histria.1 O contedo das Teses no se constitui apenas como es-peculao sobre o devir histrico ou como um conjunto de anlises pessimistas ou otimistas sobre acontecimentos passados. , antes de tudo, [...] uma reflexo crtica sobre nosso discurso a respeito da histria (das histrias), discurso esse inseparvel de uma certa prtica. Assim, a questo da escrita da histria remete s questes

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    Histria: Debates e Tendncias v. 10, n. 2, jul./dez. 2010, p. 390-401. Publ. no 2o sem. 2011.

    mais amplas da prtica poltica e da ati-vidade da narrao (GAGNEBIN, 1985, p. 7).

    Apesar de no constar explicitamen-te na obra, a argumentao das Teses dirige-se a dois interlocutores centrais. O primeiro interlocutor a historiografia progressista, mais exatamente a concep-o de histria em voga na Repblica de Weimar (social-democracia) que se apoia-va na ideia de progresso inevitvel e cien-tificamente previsvel. uma viso que bebe da fonte do marxismo ortodoxo: uma confiana dogmtica em relao ao adven-to da sociedade comunista e uma certeza ilusria de estar nadando a favor da cor-renteza. Benjamin atribuiu, em parte, a essa concepo a incompetncia da esquer-da alem de lutar contra a ascenso do na-zismo.

    Enquanto Marx e Engels tiveram, se-gundo Benjamin, a intuio fulgurante da barbrie por vir, em seus prognsti-cos sobre a evoluo do capitalismo, seus epgonos do sculo XX foram incapazes de compreender e portanto de a ela resistir eficazmente uma barbrie mo-derna industrial, dinmica, instalada no prprio cerne do progresso tcnico e cien-tfico (LWY, 1992, p. 121).

    O segundo interlocutor denominado por Benjamin de historiografia burgue-sa, oriunda da grande tradio acadmica de Ranke a Dilthey. Tal viso historiogr-fica pretendia reviver o passado atravs de uma identificao afetiva (romntica) do historiador com seu objeto. Os historia-dores, movidos por essa postura,

    [...] atribuem carter nico a todos os fe-nmenos histricos e sustentavam que cada poca devia ser interpretada em termos de suas prprias idias ou prin-cpios; ou ainda que, ao interpretar as aes dos homens no passado, neces-srio abandonar qualquer referncia s crenas, motivos e avaliaes de sua po-ca (DICIONRIO de Cincias Sociais, 1987, p. 557).

    Para Benjamin, as duas teorias su-pracitadas falham, fundamentalmente, por se apoiarem numa concepo de tempo homogneo, vazio e mecnico (tal como o movimento do relgio), um tempo crono-lgico linear: A idia de um progresso da humanidade na histria inseparvel da idia de sua marcha no interior de um tem-po vazio e homogneo. A crtica da idia do progresso tem como pressuposto a crtica da idia dessa marcha (Tese 13).

    O papel do historiador autntico, a quem Benjamin denomina de historiador materialista, buscar no passado os ger-mes de uma nova histria, uma histria que leve em considerao os sofrimentos acumulados (os documentos de barb-rie), d um novo impulso s esperanas solapadas e inaugure outro conceito de tempo, um tempo dos agoras (Jetztzeit).2 A rememorao sozinha, no entanto, impotente para libertar o homem dos gri-lhes do presente (s a revoluo poderia faz-lo totalmente). Porm, desempenha um papel crucial no resgate libertador do que aconteceu e, sobretudo, do que poderia ter acontecido.

    A reviso do conceito de tempo reto-ma o conceito de apocatstase (Orgenes, sc. III), ou seja, a redeno de todas as

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    aspiraes histricas atravs de um mo-mento revolucionrio. Nessa perspectiva, a histria s poderia ser mais bem eluci-dada a partir de uma compreenso aleg-rica3 (barroca), ou seja, um penoso decifrar de momento em momento na tentativa de restaurar uma continuidade em instantes aparentemente heterogneos e descone-xos.4 Para Benjamin (1984), enquanto o smbolo mostra a face da natureza luz da salvao, na alegoria a facies hippocri-ta da histria que jaz como uma paisagem petrificada diante do olhar de quem a con-templa. A histria, prossegue Benjamin, em tudo que tem de penoso e abortado, expressa-se nessa face de caveira. Embora possa ser verdade que tal modo alegrico seja desprovido da liberdade simblica de expresso e da harmonia clssica de fei-o do humano, o que drasticamente ex-presso aqui na forma de um enigma no apenas a natureza da vida humana em ge-ral, mas tambm a historicidade biogrfi-ca do indivduo em sua forma mais natural e organicamente corrompida. A mundana exposio barroca da histria como est-ria do sofrimento do mundo a essncia mesma da concepo alegrica; a histria ganha sentido somente nas estaes de sua agonia e deteriorao. A quantidade de significado exatamente proporcional presena da morte e do poder da decom-posio, uma vez que a morte que traa a linha recortada entre Physis e sentido (BENJAMIN, 1984, p. 188).

    A histria, assim concebida, no pode ser mera sucesso de fatos mudos, como queria o historicismo, mas uma sequncia de passados (possibilidades) oprimidos,

    que portam consigo um ndice misterioso que os impele rumo redeno. O histo-riador materialista como que desfere um choque no fato passado e o transforma numa mnada, livrando-o do continuum repressivo e extraindo da suas potencia-lidades recalcadas. no territrio arrui-nado da mnada que se faz o caminho para a compreenso do todo. O historiador o arauto que convida os mortos para a mesa.

    A aura nas frestas do tempo histrico

    Experincia e tradio

    Se na Obra de arte na poca de suas tcnicas de reproduo Benjamin v com otimismo as conquistas da tcnica moder-na e sua repercusso em termos de poten-ciais criativos na arte (fotografia e cinema, por exemplo), nas obras de meados de 1938 at seu suicdio h uma ntida guinada rumo ponderao dos traos melancli-cos e barbarizantes dessa mesma moder-nidade. No caso da arte de massa (repro-duzvel em alta escala), aponta Benjamin, se, por um lado, abriu caminho para novas formas de recepo e produo, por outro, desvinculou o homem de seu passado, da tradio, da sua experincia. A compreen-so dessa fase do pensamento de Benjamin fica mais facilitada quando se acompanha o deslocamento de um dos conceitos mais fundamentais para a sua antropologia da modernidade, a saber, o de aura. Antes identificado com elementos mticos, res-ponsveis pela relao distanciada com o

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    espectador e uma obra de arte, o conceito de aura deslocado para o campo das rela-es humanas, no seu nvel mais profundo, como foco gerador de sentido; o declnio da aura agora no mais visto como esclare-cedor e desencantador, mas como fator de ruptura do homem com sua experincia. preciso considerar tais ideias mais de perto.

    A filosofia, desde o final do sculo an-terior, vem se esforando para caracterizar a verdadeira experincia, em contraponto vida normatizada e desnaturada das massas civilizadas. No raro essas refle-xes a localizaram na literatura, na natu-reza e at mesmo na idade mtica. Henri-Louis Bergson (1859-1941) inscreve-se nesse debate ao localiz-la junto a deter-minadas estruturas da memria. Para Bergson a experincia pura qualidade, como um progresso na heterogeneidade e mutao contnua, como pura durao (du-re), com puro tornar-se e, fundamental-mente, desprovida de motivos utilitrios.

    A experincia residiria no Eu Profun-do, encontrando-se em contnuo devir. Sua unidade s poderia ser dada na memria. Bergson chega a dois tipos de memria: a memria-hbito, de carter prtico e repe-titivo, e a memria-recordao (memoire-souvenir), que reproduz o passado enquan-to passado, revivendo-o; acessada pelo querer sonhar a partir de uma abstrao do cotidiano. A concepo dessas duas fa-ces da memria pode ser representada pela imagem de um cone: a base, em contnuo crescimento, representa o passado indivi-dual carregado integralmente e o vrtice o Eu Superficial, movido pelos impulsos

    utilitaristas e responsvel por inserir o psiquismo na vida presente. No interior do cone, os elementos psquicos realizam um duplo movimento: do vrtice para a base (experincias presentes que passam para o inconsciente) e da base para o vrtice (o inconsciente que emerge, atuando sobre o plano da conscincia, como no sonho).

    A experincia, na teoria bergsoniana, funda-se num dado temporal qualitati-vo (dure)5 capturado na memria do Eu Profundo (memoire-souvenir). O problema, segundo Benjamin, que essa compreen-so de experincia, como algo individual e atemporal, morre com o sujeito psqui-co, no repercutindo no terreno histrico e social:

    [...] Bergson, por sua vez, em sua concep-o da dure, se afastou consideravel-mente da histria [...]. O fato de a morte ser eliminada da dure de Bergson isola a dure da ordem histria (bem como de uma pr-histrica) [...]. A dure, da qual a morte foi eliminada, tem a msera uti-lidade de um arabesco; exclui a possibili-dade de acolher a tradio (BENJAMIN, 1991, p. 137).

    O conceito de experincia compre-endido na relao dialtica entre indivduo e coletividade, como [...] matria da tradi-o, tanto na vida privada como na coleti-va. Forma-se menos com dados isolados e rigorosamente fixados na memria, do que com dados acumulados, e com freqn-cia inconscientes, que afluem memria (BENJAMIN, 1991, p. 105). Essa ideia de experincia se aproxima do que Proust chamou de memria involuntria (m-moire involontaire).6

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    A memria involuntria, como expe-rincia, ao mesmo tempo individual e cole-tiva,7 transmitida pela narrao.8 Acon-tece que, numa poca em que se consagra o estilo jornalstico marcado pela novidade, conciso, inteligibilidade e, sobretudo, fal-ta de conexo entre uma e outra notcia , a relao sujeito-sujeito, campo onde ocor-re a narrao, perde espao. Por isso ne-nhum leitor dispe to facilmente de algo que possa informar a outro (BENJAMIN, 1991, p. 107). A transmissibilidade, ele-mento bsico da experincia, fica abalada no contexto da modernidade.

    A extensa obra de Proust Em busca do tempo perdido um esforo hercleo na tentativa de reabilitar o sentido da narra-o e do narrador. Entretanto, o acesso ao seio da experincia no algo determinado por uma vontade dominadora do sujeito; ele se decide na involuntariedade da me-mria. O prprio Proust reconhece isso e s consegue realizar sua tarefa narrativa a duras penas e contando com a sorte de a memria ter lhe oferecido lances invo-luntrios, como na famosa cena da made-leine e o ch:

    E de sbito a lembrana me apareceu. Aquele gosto era o do pedao de mada-lena quem nos domingos de manh em Combray [...] minha tia Lencia me ofe-recia, depois de o ter mergulhado no seu ch da ndia ou de tlia, quando ia cumpriment-la em seu quarto [...]. E, como nesse divertimento japons de mer-gulhar numa bacia de porcelana cheia dgua pedacinhos de papel, at ento indistintos e que, depois de mohados, se estiram, se delineiam, se colorem, se dife-renciam, tornam-se flores, casas, perso-nagens consistentes e reconhecveis, as-

    sim agora todas as flores do nosso jardim e as do parque do Sr. Swann, e as nin-fias de Vivonne, e a boa gente da aldeia e suas pequenas moradias e a igreja e toda Combray e seus arredores, tudo isso que toma forma e solidez, saiu, cidade e jardim, da minha taa de ch (PROUST, 1956, p. 46-47).

    O contexto moderno e a atrofi a da experincia: o homem sem histria

    No estudo sobre o poeta Baudelaire, Benjamin (1991) prope a diferenciao entre experincia (Erfahrung) e vivn-cia (Erlebnis). O conceito de experincia (Erfahrung) representa o corpo de conheci-mentos (no no sentido objetivista) acumu-lados sem a interveno da conscin cia e que permite que um indivduo inserido em uma comunidade disponha de critrios que ordenem sua prpria vida. uma es-pcie de corpus da tradio no no sentido moral, normativo, mas como uma mem-ria viva de um passado transmissor de sentido. J a vivncia (Erlebnis) diz res-peito s impresses fortes (choques) expe-rimentadas pelo indivduo privado e que, assimiladas s pressas, produzem efeitos imediatos e subordinados s exigncias do consciente.

    Para clarificar o conceito de Er-fahrung, Benjamin remete reflexo freudiana, de modo especial quela que se encontra no ensaio Alm do princpio do prazer, de 1921. Nessa obra especula-se9 sobre a diferenciao entre conscincia e memria. Para Freud, o consciente ocupa uma posio intermediria, uma linha fronteiria entre o interior e o exterior do

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    homem: O que a conscincia produz, con-siste essencialmente em percepes de ex-citao provindas do mundo externo e de sentimentos de prazer e desprazer que s podem surgir do interior do aparelho ps-quico (FREUD, 1976, p. 39). Nessa pers-pectiva, a memria se ope ao consciente (assim como, para Proust, a memria vo-luntria se opunha voluntria), j que este ltimo se constitui na medida em que processos estimuladores no deixam nele qualquer modificao duradoura. O fe-nmeno da conscientizao esfumaa os traos mnemnicos. As dimenses da me-mria e da conscincia pertenceriam a sis-temas psquicos incompatveis. As excita-es captadas por uma, necessariamente, no penetram na outra:

    Tais traos da memria, ento, nada tm a ver com o fato de tornarem-se conscien-tes; na verdade, com freqncia, so mais poderosos e permanentes quando o pro-cesso que os deixou a trs de si foi um processo que nunca penetrou na consci-ncia. Achamos difcil acreditar, contudo, que os traos permanentes de excitao como esses sejam tambm deixados no sistema Pcpt.-Cs. [...] tornar-se conscien-te e deixar atrs de si um trao de mem-ria, so processos incompatveis um com o outro dentro de um s e mesmo sistema (FREUD, 1976, p. 40).

    A verdadeira Erfahrung ocorre na medida do detrimento da fora utilitria do consciente (veculo da Erlebnis). A fun-o de captar os traos profundos da me-mria no pode residir na conscincia por esta no ser veculo mnemnico. A cons-cincia capta estmulos externos; estes, entendidos como cargas uniformizantes de energia externa se do em forma de cho-

    ques e atuam quase que ininterruptamen-te sobre o homem moderno. Ora, dada a quantidade de choques recebidos, o cons-ciente se torna, grosso modo, calejado e o choque como tal vai perdendo seu efei-to traumtico. Quanto mais o consciente operar, defendendo-se dos choques, tanto mais a vivncia substitui a experincia.10

    A conscincia, imbuda de catalogar e registrar os estmulos, traduz tal ato em vivncia. Se no fosse assim, viveramos em constantes sobressaltos de per si trau-matizantes. O conceito freudiano de trau-ma, desprovido de seus traos patolgicos, aproxima-se da Erfahrung. Da mesma forma que a experincia, o trauma cons-titudo de excitaes externas que foram suficientemente poderosas para atraves-sar o escudo. A intensa sedimentao do consciente, faz com que o homem moderno perca a capacidade de gerar experincias e, por conseguinte, perde o contato com a tradio e seu contedo utpico. Para Roua net (1981, p. 45), essa leitura da teo-ria freudiana o ponto basilar da crtica cultura apresentada por Benjamin: Para ele, com efeito, o mundo moderno se carac-teriza pela intensificao, levada ao paro-xismo, das situaes de choque, em todos os domnios.

    A teoria dos choques pode ser exem-plificada pela relao do indivduo com a tcnica, relao anloga aos jogos de azar. Na linha de montagem, a pea que entra no raio de ao do operrio exige, arbitra-riamente, uma atitude predefinida. Da mesma forma, o comportamento do oper-rio com relao mquina se d adaptati-vamente, sem espao para criar ou evoluir

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    a no ser quantitativamente. A relao com a mquina uma relao de resposta aos choques, no nvel da simples vivncia. o mesmo o que acontece nos jogos de azar.11 Assim como no trabalho no espe-cializado, o jogador no tem necessidade do seu passado: uma partida no reclama por outra precedente; o que se conquista anteriormente perde o sentido no reiniciar de um novo jogo. Trabalhador e jogador aproximam-se quanto ao carter eterna-mente incompleto de seus procedimentos, vivendo no vazio de uma atividade que no podem concluir. Sua sina o eterno recomear.

    O reencontro da aura na histria

    O que foi descrito at agora prepara o caminho para a compreenso do deslo-camento do conceito de aura. Em Sobre alguns temas em Baudelaire, Benjamin passa a identificar a aura com o comple-xo das experincias geradoras de sentido: Se chamamos de aura s imagens que, sediadas na mmoire involontaire, tendem a se agrupar em torno de um objeto de per-cepo, ento esta aura em torno do objeto corresponde prpria experincia que se cristaliza em um objeto de uso sob a forma de exerccio (BENJAMIN, 1991, p. 137).

    Esse conceito de aura se aproxima da experincia histrica que os choques da tcnica moderna insistem em manter dis-tncia. O conceito de aura revela o segre-do de uma experincia complexa capaz de transformar o aparentemente sufocado pe-los escombros do progresso numa possibi-

    lidade intersubjetiva; o objeto (que, nesse contexto, assume a forma de um momento histrico) auratizado investido do poder de revidar o olhar:

    A experincia da aura se baseia, portan-to, na transferncia de uma forma de re-ao comum na sociedade humana re-lao do inanimado ou da natureza com o homem. Quem visto, ou acredita es-tar sendo visto, revida o olhar. Perceber a aura de uma coisa significa investi-la do poder de revidar o olhar. Os achados da mmoire involontaire confirmam isso (BENJAMIN, 1991, p. 139-140).

    Entender historicamente signifi-ca reviver o entendido, recuperar a sua aura. Como sugere Kothe (1991, p. 16), a aura de um encontro constituda quan-do certo momento ou aspecto do passado seja atingido pelo presente do historiador, como que encontrando uma expectativa implcita em certo momento do passado, no sentido de ele, implicitamente, querer ser lido e entendido um dia.

    Essa forma de conceber a histria , de certa forma, messinica: como se cada momento da histria conseguisse captar e realmente entender outro momento da his-tria e, ao fazer isso, realizaria a inteno messinica do passado. Haveria como que uma pr-destinao, entendida em termos hermenuticos, daquele momento passado em vista de uma reconhecibilidade no fu-turo. O Messias seria, assim, uma forma de romper o continuum da histria.12 o tempo em que o presente espia pelas fres-tas do passado e se d conta do que ficou atrs dos tapumes e das paredes.

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    Benjamin e a crtica radical ao progresso

    Fortemente conectada com o com-promisso tico e epistemolgico que o historiador deve manter com a aura do passado, est uma radical crtica noo de progresso, pilar central na construo da modernidade ocidental. A atuao de uma racionalidade estruturante e panto-mtrica providenciou as condies me-tafsicas para uma experincia de tempo baseada na mudana, em que o instante posterior se posiciona como qualitativa-mente superior ao anterior. Nos contex-tos pr-modernos, onde as relaes sociais confundiam-se com elementos mticos, a experincia circular do tempo inviabiliza-va as dinmicas exigidas pelo capitalismo moderno.

    Como assinala Weber (1990), a mo-dernidade se constituiu como produto dos processos de racionalizao que se des-dobraram no Ocidente a partir da Refor-ma Protestante e que se estenderam aos mbitos culturais e sociais. Na cultura, a modernidade provocou a secularizao da tradio e a consequente perda dos seus elementos mticos. No campo social, carac-terizou-se pelo grande desenvolvimento da calculabilidade dos custos, institucionali-zao do trabalho assalariado, ideologiza-o legitimadora dos processos de acmulo e por uma intensa incorporao da cincia e da tcnica nos processos produtivos.

    O que essencial na compreenso weberiana a oposio direta entre a esfe-ra mtico-religiosa e a tcnico-econmica. Onde a tradio religiosa mantm a sua

    fora, os processos de acmulo e desenvol-vimento capitalista no prosperaram. Em outras palavras, o progresso econmico e tcnico, possibilitado pelo desencanta-mento (Entzauberung) do mundo, ao mes-mo tempo em que agente desse desen-cantamento, promove o recuo das foras mticas.

    Para Benjamin o caminho adotado pela modernidade, ao contrrio do otimis-mo anunciado por ela, passvel de duras crticas. Ao invs de despertar o homem do seu sonho mtico, a modernidade capi-talista mergulhou-o numa mitologia dissi-mulada na forma de progresso. Imergiu o homem num sono, e uma coletividade su-jeita a esse sono [...] no conhece histria. Ela recebe o fluxo da histria como sempre igual e como sempre novo. Tanto a sensa-o do novo e do moderno como o eterno retorno do idntico constituem as formas da histria do sonho (BENJAMIN apud ROUANET, 1992, p. 6). O mundo de sonho que envolve o homem moderno encontra sua condio de possibilidade na perda da experincia com o passado. Perder a expe-rincia significa, aqui, exonerar os clamo-res do passado, ou seja, a histria mesma.

    Rejeitando o culto ao progresso, Ben-jamin coloca no centro da sua viso de his-tria o conceito de catstrofe. A catstrofe o progresso, e o progresso a catstrofe. A catstrofe o continuum progressivo da histria. A tempestade do progresso nos distancia do Jardim do den e nos conduz ao oposto do Paraso isto , o inferno; a tempestade conduz-nos a repetir mimeti-camente os impulsos do presente, como o jogador que recomea eternamente a par-

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    tir do zero e no necessita da experincia do seu passado para prosseguir. O homem moderno, tomado pela ideologia do pro-gresso, fecha seus olhos aos clamores do passado, e a isso devemos chamar de bar-brie:

    H um quadro de Klee que se chama An-gelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos esto es-cancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da histria deve ter esse aspecto. Seu rosto est dirigido para o passado. Onde ns vemos uma cadeia de acontecimentos, ele v uma catstro-fe nica, que acumula incansavelmente runa sobre runa e as dispersa a nossos ps. Ele gostaria de deter-se para acor-dar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraso e prende-se em suas asas com tanta for-a que ele no pode mais fech-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de runas cresce at o cu. Essa tempestade o que cha-mamos de progresso (BENJAMIN, Teses, p. 226).

    Poderamos perguntar se, a partir da constatao do inferno do progresso, Benjamin, a exemplo de Weber, tambm no estaria incorrendo num pessimismo que atrofia qualquer tipo de prxis, uma gaiola dura como o ao. Entretanto, para Benjamin h um cuidado em salvaguardar elementos nitidamente emancipatrios: o primeiro a interrupo messinica do devir, ou seu correspondente profano, a revoluo. Como sugere Lwy (1992, p. 122), a figura do anjo inverteria a ima-gem marxista tradicional de revoluo. Marx diz que as revolues so as loco-motivas da histria; no entanto, as coisas podem se passar de uma maneira bas-tante diversa. As revolues, ao invs de locomotivas, poderiam representar o ato da humanidade, que viaja no trem do pro-gresso, de puxar urgentemente os freios: A interrupo messinico-revolucionria do progresso , portanto, a resposta de Benjamin s ameaas que faz pesar sobre a espcie humana a continuidade da tem-pestade malfica, a iminncia de novas catstrofes. Era o ano de 1940, pouco an-tes de Auschwitz e Hiroshima... (LWY, 1992, p. 122).

    Um segundo elemento emancipatrio s pode ser compreendido dialeticamente, aproveitando os potenciais criados pela modernidade capitalista. o caso das po-tencialidades que guarda a ideia de sonho. O mito equiparado ao sonho, mas o sonho no se esgota no mito:

    Levando s ltimas conseqncias a teoria de Freud, Benjamin v no sonho coletivo o entrelaamento de duas ins-tncias: uma que reproduz imagens de desejo e outra que censura e dissimula

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    Histria: Debates e Tendncias v. 10, n. 2, jul./dez. 2010, p. 390-401. Publ. no 2o sem. 2011.

    essas imagens, uma instncia que quer o novo e outra que quer perpetuar o exis-tente, uma que impulsiona em direo ao despertar histrico e outra que eterniza o sonho (ROUANET, 1992, p. 6).

    O que fica preconizado, assim, a recuperao do vetor utpico do sonho, ou seja, o seu vnculo com a experincia, com a tradio e com os clamores do passado, uma vez que o verdadeiro desencantamento (Entzauberung) a transformao em pr-xis das utopias contidas no sonho coletivo.

    Um terceiro elemento emancipatrio poderia ser localizado no trabalho do his-toriador materialista, ou melhor dizendo, numa postura especfica com relao histria, uma postura marcada por uma nova tica da memria (SELIGMANN-SILVA, 2009, p. 53), preocupada com as experincias (Erfahrung) soterradas no passado. O historiador, movido por tal ti-ca, v-se comprometido com um modo de tentar salvar nas representaes culturais a violncia que est na origem da cultura (SELIGMANN-SILVA, 2009, p. 53). Benja-min pensa essa prtica tica da escritura do passado a partir do seu presente dete-riorado, arruinado. A ateno ao trgico e quilo que escapa linearidade do tempo e compulso da identidade caracteriza uma prxis do saber orientada por um olhar poltico e atento para os modos de reproduo do poder. No por acaso que uma das figuras-snteses de tal postura tica seja a do poeta. Os poetas encontram o lixo da sociedade nas ruas e no prprio lixo o seu assunto herico (BENJAMIN, 1991, p. 78). O poeta e o prprio historia-dor so assim trespassados pelos traos do trapeiro, figura urbana moderna que

    tanto ocupou Baudelaire. Solitrios, am-bos realizam seus negcios nas horas em que os burgueses se entregam ao sono:

    Aqui temos um homem ele tem de reco-lher na capital o lixo do dia que passou. Tudo o que a cidade grande jogou fora, tudo o que ela perdeu, tudo o que des-prezou, tudo o que destruiu, reunido e registrado por ele. Compila os anais da devassido, o cafarnaum da escria; se-para as coisas, faz uma seleo inteligen-te; procede como um avarento com seu tesouro e se detm no entulho que, entre as maxilas da deusa indstria, vai ado-tar a forma de objetos teis ou agrad-veis (BAUDELAIRE apud BENJAMIN, 1991, p. 78).

    The cracks of time: the concept of history in Walter Benjamin

    Abstract

    This article analyses the concept of his-tory on Walter Benjamin, which is pre-sent, specially, in his On the concept of history. The content of this book is not only a speculation about the course of history, or a set of pessimistic or opti-mistic analyses about past events. It is first a critical reflection on our speech (writing) about the history (or the his-tories), which makes us think of more general points of discussion about the narrative itself. With the objective of attributing the emancipatory charac-ter to the historical narrative, this pa-per presents and connects Benjamins concepts of time, aura, and memory, contrasting them with the traditional concept of progress.

    Key words: History. Benjamin. Aura.

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    Histria: Debates e Tendncias v. 10, n. 2, jul./dez. 2010, p. 390-401. Publ. no 2o sem. 2011.

    Notas1 O texto referido encontra-se em BENJAMIN,

    Walter. Obras escolhidas I: magia e tcnica, arte e poltica. 4. ed. So Paulo: Brasiliense, 1995. p. 222-232. A referncia a esta obra ser feita pela abreviatura Teses.

    2 Tambm traduzido por agoridade ou tempo-do-agora.

    3 A compreenso alegrica da histria desenvol-vida por Benjamin representa um contraponto concepo romntica e simblica do histori-cismo. De um lado est a alegoria, fragmentada e plurvoca e, de outro, o smbolo, harmnico e permanente.

    4 Como se aponta na Origem do drama barroco alemo, as alegorias representam, no domnio dos pensamentos, o que as runas so no dom-nio das coisas.

    5 Exemplo disso o quanto pode parecer dife-rente a durao de um minuto. uma durao qualitativa, pois o mesmo minuto pode parecer interminvel se vazio ou se ocupado pela angs-tia da espera, mas pode parecer demasiadamen-te curto se preenchido por uma vida psicolgica intensa.

    6 A memria involuntria contraposta mem-ria voluntria, tutelada pelo intelecto e facil-mente resgatvel.

    7 Onde h experincia no sentido estrito do ter-mo, entram em conjuno, na memria, certos contedos do passado individual com outros do passado coletivo (BENJAMIN, 1991, p. 107). Os cultos, com seus cerimoniais e festas, so exemplos dessa fuso.

    8 Na narrao fi cam impressas as marcas do nar-rador como vestgios das mos do oleiro no vaso de argila (BENJAMIN, 1991, p. 107).

    9 Ver FREUD, 1976, p. 39.10 importante aqui registrar como aparece tal

    ideia preservando o raciocnio freudiano: Con-tudo, temos mais a dizer sobre a vescula viva, com sua camada cortical receptiva. Esse peque-no fragmento de substncia viva acha-se suspen-so no meio de um mundo externo carregado com as mais poderosas energias, e seria morto pela estimulao delas emanadas se no dispusesse de um escudo protetor contra os estmulos. Ele adquire esse escudo da seguinte maneira: sua superfcie mais externa deixa de ter a estrutu-ra apropriada matria viva, torna-se at cer-to ponto inorgnica e, da por diante, funciona

    como um envoltrio ou membrana especial, re-sistente aos estmulos. Em conseqncia disso, as energias do mundo externo s podem passar para as camadas subjacentes seguintes, que permanecem vivas, com um fragmento de sua intensidade original, e essas camadas podem de-dicar-se, por trs do escudo protetor, recepo das quantidades de estmulos que este deixou passar. Atravs de sua morte, a camada exte-rior salvou as camadas mais profundas de um destino semelhante, a menos que os estmulos que a atinjam sejam to fortes que atravessem o escudo protetor. A proteo contra os estmulos , para os organismos vivos, uma funo quase mais importante do que a recepo deles. O es-cudo protetor suprido com seu prprio estoque de energia e deve, acima de tudo, esforar-se por preservar os modos especiais de transformao de energia que nele operam, contra os efeitos ameaadores das enormes energias em ao no mundo externo, efeitos que tendem para o nivelamento deles e, assim, para a destruio (FREUD, 1976, p. 42-43).

    11 O arranque est para a mquina, como o lan-ce est para o jogo de azar (BENJAMIN, 1991, p. 127).

    12 O contexto no qual Benjamin escreve as Te-ses (1939-1940) apontava para a possibilidade de dois agudos rompimentos: ou o salto dialtico da revoluo ou o desencadeamento da Segunda Guerra Mundial.

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