21 a 23 de janeiro de 2012

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Ano II Número 110 Data 21 a 23.01.2012

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AnoII

Número110

Data21 a 23.01.2012

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CONSUMIDOR »

Venda casada é exercício comum nas academias

Apesar de ser condenados pelo Código de Defesa do Consumidor e considerados irregulares, estabelecimentos ignoram a lei e muitos comercializam serviços somente atrelados a outros

Frederico BottrelQuer fazer musculação? Tem

que pagar também pelo spinning, body pump, jump, running class, abs express, RPM, power step... Os es-trangeirismos na quantidade de mo-dalidades brotam nas academias de ginástica e entram na conta muitas vezes sem que o consumidor tenha tempo de perceber – que dirá de prati-car. Com o verão, aumenta o apelo por corpos sarados e saudáveis na mesma toada em que impera uma prática muito comum, porém, irregular de empresas do setor. Quando vendem seus serviços em pacotão e não ofere-cem preços inferiores a quem desejar contratar apenas uma modalidade, as academias fazem a chamada venda casada, prática condenada no Códi-go de Defesa do Consumidor (CDC), além de ser tipificada como crime na Lei 8.137, de 1990.

Os clientes, muitas vezes, se ren-dem à prática de maneira passiva. O economista Thiago Araújo, que tem tempo para fazer só uma hora de exer-cícios diários – e optou pela muscula-ção –, paga pacote que lhe dá “direi-to” de fazer outras sete modalidades de exercícios aeróbicos na Academia Alta Energia Savassi, na Região Cen-tro-Sul de Belo Horizonte: “Não faço outras modalidades porque não quero mesmo, não tenho paciência com aula coletiva. Mas, ao contratar o serviço, não existia a opção de pagar apenas pela musculação”. Ele conta que, quando pesquisou preços, constatou que a maior parte das academias da região pratica a mesma estratégia de precificação.

A Alta Energia nega que exista prática de venda casada nas acade-mias da rede. Por nota, afirmou que “conforme se pode constatar do con-

trato de prestação de serviços, firma-do com todos os seus consumidores, estas academias oferecem a presta-ção de serviços de atividade física na modalidade em que o consumidor optar por realizar. Basta comparar as mensalidades das modalidades dispo-níveis nas academias para verificar que não existem vendas casadas de modo a lesar qualquer consumidor”. Entretanto, a reportagem solicitou à empresa o referido contrato, mas o documento não foi encaminhado até o fechamento desta edição.

O que ocorre é que muitas vezes a venda casada é disfarçada de pro-moção. O Estado de Minas entrou em contato com várias academias e constatou, por meio dos orçamentos feitos via telefone, que a prática é na-turalizada nos discursos dos recepcio-nistas que lidam com o público. Na Pelé Club do Sion, também na Região Centro-Sul da capital, a atendende ex-plicou que, a partir da avaliação físi-ca, o aluno pode “fazer as modalida-des indicadas de graça”. Entretanto, o valor, mesmo que nenhuma outra atividade seja praticada além da mus-culação – por opção do consumidor –, é o mesmo. Por e-mail, a empresa informou que é oferecido aos alunos que se matriculam na academia o uso dos maquinários e do espaço existen-tes para que se exercitem, utilizan-do-se da sala de musculação e/ou das salas de ginástica. E ressalta que “o aluno pode optar em fazer somente as aulas de natação, sendo que, ao con-tratar a modalidade de natação, ganha o direito de utilizar o maquinário e o espaço existente na academia, sem nenhum ônus”.

O mesmo procedimento de ven-da casada ocorre na Fórmula Acade-mia: “Não trabalhamos com plano

separado. Nosso plano engloba todas as atividades da academia, menos as aquáticas”, disse a atendente ao ser questionada pela reportagem. Tam-bém por meio de nota, a empresa afirmou que adota o “conceito de aca-demia clube e dentro deste conceito não existe venda casada. Vendemos o acesso às instalações e os serviços que aqui dispomos.”

AMEAÇA NÃO SÓ ÀS FINAN-ÇAS A personal trainer Manuella Cardoso, que tem alunos particula-res em diversas academias da cidade, chama a atenção para o fato de que a sobreoferta de atividades, além de desvantajosa economicamente, pode ser prejudicial para a educação física do aluno: “Ninguém hoje tem tempo para fazer três atividades e, se tiver, pode não ser saudável, aumenta o risco de estresse muscular e não obe-dece à lógica de que, normalmente, cada um tem afinidade com um tipo de aula: uns preferem aulas coletivas, enquanto outros têm pavor a elas”.

Na avaliação de Marcelo Bar-bosa, coordenador do Procon As-sembleia, se a academia fornece, por exemplo, a modalidade musculação como integrante de um pacote, deve também fornecê-la isoladamente. O aluno pode questionar no momento da contratação e, se não chegar a acordo, deve encaminhar a solicitação aos ór-gãos de defesa do consumidor, como o Procon e também a Delegacia do Consumidor: “Há o enfoque criminal, previsto na lei de crimes contra as re-lações de consumo. É preciso reunir provas, como folhetos e depoimen-tos pessoais com testemunhas. Mas o fornecedor não tem escapatória: ou fornece a modalidade isoladamente ou retira a atividade do seu grupo de serviços ofertados”, explica Barbosa.

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Em 25 de janeiro de 2002 dava entrada no Instituto Médico Legal (IML) de Minas Gerais o corpo do promotor Francisco José Lins do Rêgo Santos, o Chico Lins, secretário da Promotoria de Defesa do Consumidor, o Procon Estadual. Ele foi assassinado com sete tiros, durante investigação da máfia dos combustíveis em Minas, que chegava a desviar até 15% da arrecadação total de ICMS do estado. A riqueza de detalhes do laudo de criminalística de número 1.624/02 do IML, que repousa entre os 32 volumes de processo arqui-vados no 2º Tribunal do Júri do Fórum Lafayette de Belo Horizonte, revela a dimensão do maior atentado já praticado contra uma autoridade estadual.

O crime atingiu diretamente a instituição do Ministério Público, que re-formulou seus procedimentos em nível nacional, e tirou a vida de um pai de família, deixando inconsoláveis os filhos Júlia, então com 1 ano, e Gustavo, de 4, e a viúva Juliana Ferreira Lins do Rêgo Santos, aos 32, funcionária do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) mineiro. Passados 10 anos do assassinato, ela quebra o silêncio, fala pela primeira vez à imprensa e faz uma revelação surpreendente: o homicídio talvez não tivesse ocorrido se Francisco tivesse ouvido a súplica do filho mais velho, que naquele dia tentou impedir que o pai seguisse para o trabalho. Juliana havia saído um pouco antes, logo após o almoço em família, mas ficou sabendo que o garoto escondeu a chave do carro. “Hoje você não vai não, pai!”, disse o menino.

O promotor devolveu um sorriso maroto a Gustavo, deu um beijo na testa dele e outro na bochecha da bebê Júlia e partiu com a chave reserva, dizendo ter audiência marcada naquele horário. Só este ano, a mãe dos garotos des-cobriu a chave original escondida no armário do filho, agora adolescente, aos 14 anos, e que se tornou “a cópia do pai, tanto fisicamente, quanto no caráter honesto e íntegro”, como relatam as avós. Chico Lins foi morto dentro do Volkswagen Golf verde placa GVR 0213, quando parou no sinal vermelho da Rua Joaquim Murtinho, na altura do número 295, esquina com Avenida Prudente de Morais, no Bairro Santo Antônio, Centro-Sul de BH. No local, foi erguido um monumento em sua homenagem meses depois da morte.

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O crime foi cometido por volta das 13h, quando Lins se-guia de sua casa para o escri-tório. Uma moto branca com dois ocupantes, que vinha logo atrás, interceptou o carro pelo lado esquerdo, quando o pro-motor parou no sinal. Segundo o processo relativo ao crime, o empresário Luciano Farah Nas-cimento, então com 29 anos, pi-lotava a moto. Ele emparelhou com o carro e deu a ordem: “Atira, atira!”, disse, dirigindo-se ao soldado-PM Edson Souza Nogueira de Paula, de 27 anos, que estava na garupa, segundo os autos. O atirador então des-carregou 13 balas do pente da pistola semi-automática 380 em direção à vítima. Sete acertaram

o pescoço, o braço esquerdo, a mão e uma única atravessou a cabeça do promotor, que morreu na hora.

A moto arrancou, seguida por um Marea preto, que dava cobertura, dirigido pelo office-boy Geraldo Roberto Par-reiras, de 24, que durante um mês seguiu os passos do promotor a mando de Farah. O empresário e sua família eram donos da rede West, que constava entre as 22 redes de postos de gasolina investigadas por Chico Lins em Minas. Na época, todos os proprietários fecharam acordo com o MP, à exceção de Farah. Ele teria começado a nutrir ódio pelo promotor quando foi interditado o Big Posto, de Contagem, o maior da rede de nove revendas, que oferecia uma das gasolinas mais “baratas” da região metropolitana.

O esquema de Farah era grande. Contava com uma indústria química em Contagem, especializada na produção de solventes, que fabricava uma mistura sofisticada, muito próxima da gasolina regu-lar e que até então não era detectada pelos testes comuns dos fiscais. Só mais tarde ficaria claro que o líquido que escorria da bomba dos postos de Farah não era gasolina, nem solvente. Era sangue.

PRÊMIO NACIONALNa quarta-feira, será lançado o edital do Prêmio de Jornalis-

mo Chico Lins, de alcance nacional e aberto a todas as mídias, com o objetivo de reconhecer o trabalho jornalístico voltado para a atuação do Ministério Público em todo o Brasil. O anúncio do prêmio será feito pela Associação Mineira do Ministério Público (AMMP), a partir das 16h, durante a cerimônia que lembrará os 10 anos da morte do promotor Francisco José Lins do Rêgo Santos, que ocorre anualmente em 25 de janeiro, no dia em que ele foi assassinado.

A FAMÍLIA Juliana, com os filhos, a mãe do promotor e a irmã de Chico Lins: parentes reestruturam a vida, mas convivem com um vazio jamais preenchido

Nome: Francisco José Lins do Rêgo Santos Idade: 43 anos Profissão: promotor de Justiça Descrição: 1,75m de altura, cabelos e olhos castanhos, aparentando a idade alegada. Vestia calça azul-marinho, camisa branca de manga comprida, gravata azul com detalhes verdes e meia azul Laudo de criminalística 1.624/02, do IML

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Uma saudade que não quer passar

Sandra KieferNeto do escritor e promotor parai-

bano José Lins do Rego, autor de Me-nino de Engenho, Chico Lins deixou belas peças de promotoria e o livro In-ventário da Noite, com poemas escri-tos na adolescência, como os versos do alto destas páginas, de “A Noite”, que serão lidos na quarta-feira, durante a homenagem em memória dos 10 anos de sua morte, na Associação Mineira do Ministério Público (AMMP). So-

nhador, Chico Lins confiava em ajudar a mudar o mundo com o seu trabalho. E mudou.

Em 2002, a atuação de Lins foi pioneira no combate à adulteração de combustíveis, então um dos maiores problema enfrentado no país nos cam-pos do direito tributário e do consumi-dor. Em Minas, o percentual de sone-gação chegava a 15% da arrecadação do ICMS. Desde então, tem permane-cido em patamares controlados entre 2% a 5% no estado. Neste trimestre,

o percentual de amostras fora das es-pecificações da Agência Nacional do Petróleo (ANP) é de 2,4% em Minas, enquanto no Rio de Janeiro é de 13,2%. Controlada a adulteração, surge agora outra frente de batalha contra a máfia dos combustíveis: a fraude nas bom-bas, detectada no Paraná.

“A morte do Chico trouxe profun-das transformações na atuação do MP em Minas e nos outros estados e me-lhorou a segurança dos promotores”, diz o amigo e procurador de Justiça

Sandra Kiefer“E acaso na face oculta / a Lua nada transpareça, / su-

ponho que minhas lágrimas sejam as estrelas que caem, / em fragmentos de luzes e desejos.” Como se fosse uma profe-cia, descrita na última estrofe do poema “A Noite”, torna-ram-se estrelas as lágrimas de Chico, como era tratado pela mãe, Maria da Glória Lins do Rêgo, e pela sogra, Lourdinha Brandão, de 70 anos, professora de música aposentada, que mora em Conselheiro Lafaiete. “Quando aconteceu, disse-ram para o meu neto que o pai dele tinha ido para o céu. Gustavo ficava o dia inteiro na janela. Quando passava um avião, faltava voar para encontrar com o pai. Era de cortar o coração”, diz Lourdinha.

Até hoje, apesar de ter mudado de apartamento, a mu-lher e os filhos de Chico Lins mantêm uma espécie de altar com fotos, condecorações e homenagens a Francisco. Todo prêmio de natação e medalha que recebe, a mais nova, Júlia, faz questão de depositar no lugar. “Cultivo com carinho uma orquídea branca que ele me deu e esta semana, no dia do ani-versário do meu marido, toquei ao piano Let me Tray Again, do Frank Sinatra, que Francisco adorava. Era o filho que eu não tive, pois tenho três filhas”, lamenta dona Lourdinha, que conversa diariamente com dona Maria da Glória, por interurbano, no Rio de Janeiro.

“Meu Francisco era um promotor de Minas”, reforça Maria da Glória, que mora em Ipanema, no Rio de Janeiro, onde nasceu Francisco. Ela nunca se recuperou da perda do filho. Com mais de 80 anos, passou mal ao visitar o monu-mento ao promotor, em BH. “Ele era um menino modesto, que não exibia a cultura, bom filho, humano e amigo. Até hoje os amigos choram ao falar dele. Deixou uma lembrança sólida”, afirma, emocionada, amparada pela filha e irmã de Francisco, Maria Elizabeth.

A LEMBRANÇA Monumento em homenagem ao promotor foi erguido diante do local da morte

O CRIMe

Reconhecimento ao idealismoHomicídio ocorreu à luz do dia, em 25 de janeiro, em uma das regiões mais movimentadas da cidade

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Rômulo Ferraz. Já no mês seguinte à morte, representantes do MP em todo o país instituíram o Grupo Nacional de Combate às Organizações Criminosas (GNCOC). Com o grupo, os promo-tores passaram a atuar em regime de força-tarefa, despersonalizando a ação, além de poder contar com a participa-ção de fiscais da Receita Federal e com a proteção da polícia e de seu serviço de inteligência.

“Por pior que seja o episódio, o MP nunca deixou de atuar. Pelo contrá-rio, ficou ainda mais forte e aprendeu a lidar com os vários tipos de ameaças”,

define Alceu Torres Marques, procura-dor-geral de Justiça. Segundo ele, fica o exemplo de Chico Lins, que era voca-cionado para a promotoria e que fazia da profissão algo mais que um simples emprego.

Para este ano, Torres anuncia, em honra ao sacrifício de Chico Lins, a inauguração do prédio do Centro de Inteligência da Promotoria Criminal, que vai unir o Centro de Segurança Institucional do MP, o Centro de Inteli-gência do MP, o Centro de Combate ao Crime Organizado e ao Crime Ciberné-tico e Tóxicos, entre outros. Em abril,

o prédio onde funciona atualmente a Defensoria Pública, ao lado do Fórum Lafayette, será desocupado e, a partir de maio, devem começar as obras das novas instalações.

“O centro já existe no papel. No ano passado, foram baixadas as resolu-ções e este ano vamos implantar tudo”, afirma o procurador-geral, sem escon-der a ansiedade. Segundo ele, além de investigar o crime organizado, o MP passa a acompanhar com mais proxi-midade os pequenos delitos.

Sandra KieferDesde a morte violenta do promotor Chico Lins, com quem esteve casada por 10 anos, Juliana Ferreira Lins do Rêgo

Santos, funcionária do TRE de Minas, evita falar sobre o caso, especialmente perto dos filhos, Gustavo e Júlia, que tinham apenas 4 anos e 1 ano na época do crime. Ela foi orientada pela psicóloga, que a acompanha desde então, a levar na bolsa batom e blush, pois costuma ficar pálida e com os lábios arroxeados quando toca no assunto, deixando os filhos assustados. Segundo Juliana, a morte de Francisco não foi em vão, mas ficou um grande vazio na família, que ninguém ocupa. Sobre a situação dos assassinos, já soltos, ela se limita a declarar: “Não é culpa do MP, mas a lei penal é muito branda no Brasil”.

Passados 10 anos do assassinato, você hoje está mais forte?(Emocionada, Juliana não responde.)Vamos começar a entrevista de forma diferente. Que tipo de homenagens seu marido recebeu nesta década?Todo ano a Associação Mineira do Ministério Público presta uma homenagem a ele, no dia em que aconteceu (o as-

sassinato). O prédio da entidade leva o nome dele e, na época em que o Pimentel (Fernando Pimentel, hoje ministro do Desenvolvimento) era prefeito, ele criou o parque ecológico com o nome do Francisco, na Pampulha.

O que seus filhos pensam de o pai deles ter virado ome de monumentos na cidade? Para eles, é um conforto. Na época, a Júlia tinha 1 ano e o Gustavo, 4. Ela não tem lembrança do pai. Sua memória so-

bre ele é formada pelas minhas histórias, pelo vídeo do aniversário dela de 1 ano, fotos (a voz de Juliana falha). O Gustavo tem o pai como herói, como o exemplo de alguém que exerceu o trabalho com destemor, até a última gota de sangue.

Como foi naquele dia?Eu fiquei sabendo (do assassinato) na frente do meu serviço (no TRE). A sensação era de que tinham me tirado o chão.

Ficou um buraco, que ninguém ocupa. Você vai moldando aos poucos as bordas, mas qualquer coisinha ele torna a se abrir. Durante dois meses, tive proteção policial, até sentir que o que eles queriam era o promotor de Justiça e não o Francisco.

Dez anos depois, você está mais forte?A gente tenta preencher o espaço com a ajuda de psicólogos, da família, de amigos, mas continua doendo. Eu me tornei

hipertensa, tenho insônia e choro à toa. Eu, o Gustavo e a Júlia fazemos terapia. Nosso padrão de vida não mudou muito. Ele deixou uma pensão, garantida por lei, e eu continuo trabalhando no TRE, mas a família não se refaz mais. Ele era um pai muito presente.

Qual o legado que ele deixou?A morte de Francisco não foi em vão. Depois do que ocorreu, o Ministério Público criou o conceito de força-tarefa

e começou a atuar em equipe para diluir as ações e abrir caminho para que os promotores possam continuar exercendo a profissão deles, que é árdua.

Dos três condenados, dois já estão soltos e o Luciano Farah apenas dorme na prisão. Qual é sua opinião sobre isso?

Não é por culpa do MP, mas no país em que a gente vive a lei penal é muito branda

eNtReVISta/JULIaNa FeRReIRa LINS DO RêGO SaNtOS - VIúVa DO pROMOtOR CHICO LINS »

“Nosso filho tem o pai como exemplo de destemor até a última gota de sangue”

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Sandra KieferDos três condenados por elimi-

nar o promotor Chico Lins, em ple-na luz do dia, apenas Luciano Farah continua tendo o sistema prisional em sua rotina. Mesmo assim, cum-pre pena em regime aberto. No ano passado, chegou a passar alguns me-ses em prisão domiciliar, aguardando sair uma vaga na Casa do Albergado Presidente João Pessoa, no Bairro São Francisco, encravado próximo a uma favela na Região Noroeste de BH. Nesse meio tempo, retornou ao antigo e nobre endereço na casa dos pais, na Rua Tomás Antônio Gonza-ga, 444, no Condomínio Marc Cha-gall, um dos metros quadrados mais valorizados do Bairro de Lourdes, na Região Sul de BH.

Apesar de não ter dado os tiros que mataram o promotor, Farah foi condenado à maior pena entre os três (21 anos), por ter sido o mandante do crime. Condenado a 19 anos, o PM Nogueira foi solto em junho do ano passado, beneficiado pela progessão de pena. O offi-ce-boy Geraldo Parreiras, que pegou 18 anos, teve a pena revista para 12 anos e cumpriu somente três em regime fe-chado. Está livre desde 2009. “A vida humana está valendo muito pouco. É o preço de sete balas de revólver”, protesta o promotor Francisco de Assis Santiago, que já participou de mais de 1 mil julgamentos em tribunais de júri, incluin-do o relativo à morte do colega. Ele defende a mudança da lei penal para o cumprimento da pena em sua integralidade, sem os benefícios da progressão. “É muito fácil matar um homem”, esbraveja.

“Há uma insatisfação monumental do MP, porque a ins-tituição foi atacada com sangue, mas os réus pagaram o que devem. Eles queriam pena de caráter perpétuo”, contesta o advogado dos condenados, Ércio Quaresma, que ficou co-nhecido também ao atuar no caso do ex-goleiro Bruno. Ele entrou com recurso para reduzir a pena de Parreiras de 18 para 12 anos. “No caso do office-boy, o tribunal reconheceu que houve excesso”, afirma.

A reportagem do Estado de Minas tentou conversar com Luciano Farah e com parentes dele, mas não foi recebida nem no apartamento da família, nem na porta da Casa do Albergado (onde ele, avisado da presença da equipe, entrou correndo). O atual advogado de Farah, Bruno César Gonçal-ves da Silva, disse por telefone apenas que o cliente é outra pessoa desde que se converteu à igreja evangélica: está tra-balhando durante o dia como motorista de uma mineradora em Esmeraldas, na Grande BH. Ele desistiu de fazer o cur-so técnico à noite, pois achou pesado trabalhar e estudar ao mesmo tempo. Apesar disso, continua se apresentando mais tarde no albergue, às 23h30.

Em breve, o trio deve voltar ao banco dos réus. Em 2009, o exame de balística de um dos projéteis que mataram o promotor denunciou haver semelhanças com balas usadas em assassinato ocorrido em Contagem, 10 dias antes. Farah e o ex-soldado da PM foram condenados pela morte de An-derson de Carvalho, suspeito de roubar R$ 390 de um dos postos de combustíveis do empresário, mas o julgamento foi anulado. O office-boy foi absolvido das acusações até o jul-gamento ser refeito.

Condenados já estão nas ruas

O MANDANTE Sentenciado, Luciano Farah hoje está em regime aberto

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Não é raro as academias optarem por fornecer pacotes com múltiplas modalidades por um preço e, isola-mente, a redução do valor ser irrisó-ria. Por exemplo um pacote completo pode sair a R$ 200 e, só a musculação isolada, R$ 190. “Podemos chamar isso de esperteza, mas não é ilegal”, diz Marcelo Barbosa, do Procon As-sembleia. Na prática, em economia de livre mercado, nada se pode fazer a respeito, segundo o especialista. A menos que os concorrentes decidam mobilizar-se, com representação jun-to ao Ministério Público: “Foi o que fizeram as companhias aéreas contra a Gol, alegando concorrência desleal, quando a empresa vendeu passagens a R$ 1”.

O analista de sistemas Rodrigo Barbosa explica que não pratica mais de uma modalidade por falta de tem-po, mas que entende que o pacote de vantagens oferecido pela academia é mais representativo do que as desvan-tagens, como a venda casada: “É inte-ressante porque posso optar por fazer

uma dessas aulas quando eu quiser, embora quase nunca queira”. A pe-dagoga Raquel Chaves, que também não tem mais de uma hora disponível para exercícios e pratica apenas uma modalidade, opina que seria mais in-teressante o desconto caso o aluno se interessasse por mais atividades.

DESINFORMAÇÃO Segundo a coordenadora do Proteste – Associa-ção Brasileira de Defesa do Consu-midor, Maria Inês Dolci, a distorção do mercado responde à desinforma-ção dos clientes. “O consumidor tem que procurar outro local para se ma-tricular. Ou se faz isso, ou as acade-mias não vão perceber que seus alu-nos sabem que estão sendo lesados”, sugere. Ela também chama a atenção para outra venda casada escondida nesses casos: a da avaliação médica: “O consumidor pode questionar essa cobrança e fazer valer seu direito de levar para a academia a avaliação feita pelo médico de sua preferência, nos padrões exigidos pelos profissio-nais de educação física”.

Disfarce pode não compensar

O que diz o Código Publicação: 23/01/2012 04:00

Art. 5 – Constitui crime contra a ordem econômicaII - subordinar a venda de bem ou a utilização de serviço à aquisição de

outro bem, ou ao uso de determinado serviço.

Art. 39 – É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas

I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitati-vos.

Fonte: CDC

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Briga.empresa rompeu a sociedade e decidiu não cumprir a oferta anunciada em site de compras coletivas

Cliente compra massagem com desconto, mas não leva

Só depois de procurado por O TEMPO, Groupon devolveu o dinheiro

ANA PAULA PEDROSAEm julho do ano passado, a fonoaudióloga Franciene

Assunção comprou um pacote de massagem e outros pro-cedimentos estéticos com 90% de desconto em um site de compras coletivas e levou uma dor de cabeça para casa. O pacote deveria ser utilizado em cinco sessões, ela agendou todas, mas só conseguiu realizar uma. “Primeiro, a massa-gista desmarcou, depois, eu não consegui falar mais com ela”, conta.

Ela tentou ainda ir ao estabelecimento, mas encontrou as portas fechadas. Franciene só conseguiu um novo conta-to em novembro, quando foi informada de que a sociedade na clínica havia sido desfeita e que os procedimentos não seriam realizados. “Eram duas massagistas. Elas brigaram e a que ficou falou que não tinha nada a ver com aquela venda”, diz. Sem conseguir uma solução com a empresa, ela procurou o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) do Groupon, site onde ela fez a compra, mas também não teve sucesso. “Eles me pediram alguns dados por e-mail, eu enviei e eles não me responderam”, afirma.

O advogado especialista em direito do consumidor, Luiz Fernando Valladão, do escritório que leva o seu nome, diz que, mesmo com a ruptura da sociedade, a clínica seria obrigada a cumprir a oferta. “O fato de as sócias terem se de-sentendido não altera as obrigações assumidas pela pessoa jurídica”, diz. Ele diz que, em casos como esse, o consumi-dor deve procurar uma solução amigável, mas pode recorrer à Justiça para pedir o cumprimento forçado da obrigação ou o dinheiro de volta.

Resposta. Depois de procurado pela reportagem, o Groupon entrou em contato com Franciene Assunção para resolver o caso. A empresa ofereceu a ela a devolução do va-lor pago em forma de crédito válido por 12 meses no site ou estorno no mesmo meio de pagamento utilizado na compra. Em nota, o Groupon informou que “soube que a sociedade que mantinha a empresa foi desfeita, e que por esta razão, a consumidora não conseguiu realizar o serviço” e que já solicitou os dados para o ressarcimento. “O Groupon se des-culpa pelo ocorrido e ressalta que está à disposição de seus clientes pelo site www.falecomogroupon.com.br/clientes”, diz a nota.Como publicidade, setor busca sua autorregulamentação

A exemplo do que acontece na publicidade, o setor de compras coletivas também criou um código de autorregu-lamentação para criar regras de conduta e evitar problemas para sites, parceiros e, principalmente, para o consumidor. Iniciativa da Câmara Brasileira do Comércio Eletrônico (ca-mara-e.net), o código - que não tem força de lei - recomen-da, que os sites devem empenhar “seus melhores esforços para que seus parceiros cumpram com o objeto da oferta, em seus exatos termos”.

A camara-e.net também recomenda que os sites estabe-leçam regras claras para cada oferta e fiquem atentos para que os descontos oferecidos sejam reais. Os sites que cum-prirem as recomendações podem exibir o selo “compra cole-tiva segura”, como indicativo de qualidade. (APP)

Dezembro

Faturamento foi de R$ 91,4 mi no mês Apesar de jovem no mercado nacional - vai fazer dois anos em março

-, o mercado de compras coletivas já conquistou o consumidor e, apenas em dezembro, movimentou R$ 91,4 milhões segundo o relatório do Info SaveMe. Esse valor é resultado da venda de 1,5 milhão de cupons no mês, relativos a 14.770 ofertas publicadas. De acordo com o instituto, os consu-midores economizaram R$ 185 milhões em relação ao preço original dos produtos e serviços oferecidos nos sites.

As categorias mais procuradas no mês passado foram hotéis e viagens (34%) e saúde e beleza (20%). De acordo com o Info SaveMe, a proximi-dade das férias e a chegada do verão influenciaram no perfil dos negócios. A cada compra, o usuário gastou, em média, R$ 64, 57.

Segundo o Bolsa de Ofertas, que acompanha o mercado de compras coletivas, o Groupon é o maior site do país, seguido pelo Peixe Urbano e pelo ClickOn. (APP)

Números do setor1,5 milhão de cupons foram vendidos

em dezembro no Brasil

14.770 ofertasforam publicadas no mês

passado pelos sites no país

R$ 185 milhõesfoi a economia em relação

ao preço normal dos produtos

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Fique de olho nos presços e nos itens da lista do material escolar

HOJe eM DIa - p.10 - 22.01.12

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Choque

Juros têm diferenças de 1%Especialista diz que captação do FGTS e poupança faz taxa de juro ficar alta

HELENICE LAGUARDIAEnquanto os juros do financiamento imobili-

ário são, em média, de 4,75% ao ano nos Estados Unidos, numa simulação no site dos grandes ban-cos no Brasil, os juros para um crédito de R$ 200 mil, de um imóvel de R$ 400 mil, podem variar de 11,35% ao ano, no Banco do Brasil, a até 12,48%, no Itaú. A diferença é chocante entre os dois paí-ses e de mais de 1% dentro do país.

O especialista em crédito imobiliário, José Pereira Gonçalves, afirma que é muito difícil a portabilidade se concretizar no Brasil porque as instituições financeiras praticam taxas muito pró-ximas e os custos cartoriais são elevados. José Pereira explica que, no Brasil, o crédito imobiliá-rio vive de recursos do FGTS e da poupança. “Os bancos pagam 6% de juros no FGTS e 8% na pou-pança e acabam repassando para o cliente final”, informa Gonçalves.

Para o especialista, os bancos teriam que ter no Brasil outras captações de recursos para finan-ciar imóveis. “Nos outros países, os bancos utili-zam recursos de depósitos à vista e, por isso, não têm custo de juros para o banco repassar”, expli-ca.

Mas a gerente jurídica do Instituto Brasilei-ro de Defesa do Consumidor (Idec), Maria Elisa Novais, acredita que a situação pode mudar no

Brasil, desde que o consumidor saiba mais sobre o assunto. Para Novais, o consumidor só conhece os produtos que o banco faz publicidade. “E o banco não tem interesse em divulgar a portabilidade”, afirma. Para a advogada, o consumidor sabe pou-co. “A ideia de portar o crédito é uma questão de concorrência e não há disputa entre os bancos”, critica.

Maria Elisa diz que a vantagem da portabili-dade é para um dos lados da operação; o consumi-dor. “O que muda é a taxa de juros, então muda o valor da prestação e o tempo para pagar. E a dívida transferida não pode ser aumentada”, orienta.

O diretor-presidente da FinanciarCasa, Ra-phael Rotggen, diz que uma concorrência agres-siva, com propaganda para tentar convencer clientes a mudar de um fornecedor para outro, é comportamento típico de mercados mais maduros, como o da telefonia celular. W.S., outro empresá-rio que não quis ter o nome divulgado, também penou com a burocracia quando fez portabilidade. “Demorou dois meses e gastei R$ 5.000 em todo o processo”, contou W.S, do Triângulo Mineiro. Em queda

Operações. De acordo com levantamento do Banco Central (BC), em 2011, foram realizadas 379,1 mil operações de portabilidade de crédito no país. Em 2010, foram 405,5 mil operações.

A Caixa Econômica Federal (CEF), único banco que se dispôs a falar sobre o assunto, informou, por meio de nota, que não pratica taxa de juros diferenciada para clientes que querem portar seus créditos de outras instituições para lá.

Quanto aos clientes que manifestam interesse em portar seus créditos imobiliá-rios para outras instituições financeiras, a CEF disse que não coloca qualquer obstá-culo. “Até mesmo porque, neste caso, a atribuição da instituição financeira se limita a informar o valor da dívida e, ao receber o valor para sua liquidação, fornecer a baixa da garantia hipotecária”, afirma.

O advogado especializado em direito imobiliário, Rodrigo Karpat, diz que a pes-soa tem que ter consciência dos custos com a avaliação do imóvel e o registro. “Se a pessoa tiver um financiamento antigo de juros de 12% ao ano pode valer. A pessoa tem que ir ao banco dela para ver se consegue condições gerais melhores”. (HL)

Concorrência

Bancos evitam oferecer benefício a novo cliente

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São Paulo. Após um teste realizado pela revista especializada em automóveis “Quatro Rodas”, a Chery anunciou que irá interromper as vendas do recém-lançado S-18. A medida foi adotada devido a um problema no pedal de freio no primeiro lote que foi importado da China. O fato será publicado na edição de fevereiro da revista.

Durante a realização do teste de fre-nagem - que é padronizado para todos os veículos avaliados e realizados em pista fechada -, a haste do pedal cedeu à pressão aplicada e entortou. O problema é o mes-mo que ocorreu com a unidade que avalia-mos em junho de 2011, quando o S-18 foi trazido para a homologação no Brasil.

Na época, a Chery limitou-se a ga-rantir que “todos os ajustes necessários seriam realizados antes do lançamento”. Contatada novamente após o ocorrido com a unidade avaliada agora, a empresa afirma que um lote de S-18 foi encomen-dado logo após o anúncio da nova política de tributação de IPI. E que por equívoco, o fornecedor chinês dos pedais produziu e entregou o componente sem as alterações determinadas pela engenharia da monta-dora, que incluem um reforço na haste e uma nova fixação em “L”.

“Tomamos conhecimento do proble-ma pela “Quatro Rodas” e já fizemos um pedido em caráter de emergência de peças com as novas especificações”, afirmou à revista Luis Curi, presidente da marca no Brasil. Ainda segundo Curi, foram empla-cadas 20 unidades desse lote e seis delas haviam sido vendidas. Os clientes já te-riam sido contatados e terão o veículo re-colhido para que seja feita a substituição, período no qual a Chery lhes cederá um outro carro.

A previsão da retomada das vendas é para o fim de fevereiro.

Freio

Chery suspende vendas do S-18 por defeito

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Consumidor ainda sofre com o pós- venda

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Qualidade de banda larga ameaçadaAnatel coloca novamente em consulta pública regras aprovadas em outubro, devido a pedido de anulação

pela Oi

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Jogo da batata quenteNa hora que dá defeito em um componente, há casos em que os fabricantes tentam esquivar,

responsabilizando o fornecedor, mas a responsabilidade também é da marca

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