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XX 69 21 a 23/04/2012 * De guardiões a torturadores - p.03 * Governo pressiona e sete desistem da CPI do Bicho - p.21 * Rigor mostra que impunidade nos crimes de trânsito é mito - p.26

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XX 69 21 a 23/04/2012

* De guardiões a torturadores - p.03

* Governo pressiona e sete desistem da CPI do Bicho - p.21

* Rigor mostra que impunidade nos crimes de trânsito é mito - p.26

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ESTADO DE MINAS - 1ª p. E p. 17 E 18 - 23.04.2012

Sandra KieferComo castigo por ter feito xixi na cama, o garoto Ma-

theus(*), de 3 anos, foi marcado com o ferro de passar roupas, sem piedade, pelo padrasto Evanil. Tapando a boca da criança para abafar os gritos, o homem provocou queimaduras de 1º e 2º graus no rosto, na perna direita, no glúteo, perto do ânus e da bolsa escrotal do enteado. O episódio, emblemático, ocorreu no ano passado, em Poços de Caldas, no Sul de Minas. Poderia ser apenas mais um caso a provocar indignação e revolta, diante de tamanha crueldade. Mas seu andamento pode levar a uma mudança histórica na Justiça, alterando o rumo de processos se-melhantes, que chegam toda semana ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG).

Nos próximos dias, a Corte vai decidir se crimes semelhan-tes praticados no estado contra pessoas indefesas (crianças, ido-sos, pacientes em clínicas ou hospitais e deficientes), que estão sob a guarda do agressor, vão passar a ser qualificados como tortura ou como crime comum (maus-tratos ou lesões corporais). Até agora, os desembargadores mineiros se mostraram divididos frente à questão.

Não se trata apenas de punir o agressor com mais rigor, mas também de dar fim às cenas de horror sofridas pelas crianças e outros inocentes em Minas. “Não são poucos os casos de violên-cia desproporcional contra crianças que chegam aos tribunais. No meu entender, se um sujeito queima com ferro o corpo de um menino de 3 anos, porque ele estava fazendo xixi à noite, ou se um padrasto lacera o fígado de um bebê que estava chorando ou se um sobrinho espanca um tio na cadeira de rodas, levando-o à morte, isso é tortura”, define o procurador de Justiça Antônio Sérgio Tonet.

Com base no tormento vivido por Matheus, o Ministério Público de Minas quer unificar o entendimento do TJ. Em 23 de agosto, Tonet deu entrada em pedido de uniformização de ju-risprudência na 6ª Câmara Criminal do tribunal. “Quero propor uma cruzada de convencimento do Poder Judiciário, para que os criminosos respondam por tortura e não por crimes menos gra-ves, como maus-tratos ou lesões corporais, que acabam sendo beneficiados com a prescrição, gerando a sensação de impunida-de dos autores”, compara.BEBÊ ATACADO

A importância da batalha travada pelo Ministério Público fica clara quando se considera o desenrolar de outro caso de vio-lência extrema contra crianças, praticada contra a menina Yas-min, então com 1 ano e 11 meses, de Timóteo, no Vale do Aço, a 196 quilômetros de BH. Em 2008, o padrasto foi encarregado de

cuidar da menina das 18h até que a mãe chegasse do serviço, por volta das 23h. Como a enteada não parava de chorar, Jonathan Matos Estevão a espancou de forma cruel, provocando hema-tomas generalizados pelo corpo, cabeça, mãos e abdômen, com golpes que chegaram a lacerar o fígado da criança.

Acusado de prática de tortura, prevista na Lei 9.455/97, que estabelece de 4 a 16 anos de cadeia, o agressor poderá ficar li-vre antes de acabar o julgamento. O juiz de primeira instância desclassificou o crime para maus-tratos, punido com pena de 2 meses a 1 ano de prisão, ou mesmo pagamento de multa, segun-do o Código Penal. O Ministério Público apelou ao TJ, mas a 2ª Câmara Criminal manteve a decisão. Agora, o procurador Tonet interpôs recurso especial para tentar reverter o caso no Superior Tribunal de Justiça (STJ). O MP quer condenar também a mãe da criança a 1 mês de prisão, por omissão de socorro.

Se o STJ não reformar a sentença, ocorrerá a prescrição do crime de maus-tratos, porque a pena é baixa (de dois meses a um ano), e o agressor sairá impune, pois o tempo decorrido já seria suficiente para a absolvição. No processo, o padrasto negou ter batido em Yasmin, mas uma vizinha que viu as agressões e ouviu os gritos da criança aceitou testemunhar no processo. No hospi-tal para onde a criança foi levada, o médico acionou a polícia ao identificar marcas antigas de mordidas, provocadas por adulto, além das novas lesões. Yasmin ficou oito dias internada até se recuperar da cirurgia a que precisou ser submetida.

Já o padrasto do menino Matheus está preso, condenado a 9 anos e quatro meses de cadeia em regime fechado, denun-ciado pelo crime de tortura. Ele cumpriu menos de um ano da pena e poderá ser solto a qualquer momento. Dependendo do resultado do julgamento prestes a ocorrer na 6ª Câmara Criminal do TJMG, o crime poderá ser desclassificado, podendo chegar à pena máxima de 4 anos, devido ao agravante de ter provocado lesão severa na vítima. Ainda assim, a condenação corresponde-ria a menos da metade do período a que o homem foi sentencia-do inicialmente.

(*) Para preservar a criança, apenas os primeiros nomes dos envolvidos foram adotados nesta reportagem

O que diz a leiO artigo primeiro da Lei 9.455/97 considera crime de tor-

tura constranger alguém com emprego de violência ou ameaça, causando sofrimento físico ou mental para obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de outra pessoa; para pro-vocar ação ou omissão criminosa; em razão de discriminação racial ou religiosa; além de submeter alguém sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou ameaça, a

QUANDO MAUS-TRATOS PASSAM A SER TORTURA

De guardiões a torturadores A partir do drama de menino queimado com ferro de passar, MP luta para enquadrar como tortura

casos de pais e responsáveis que agridem, espancam e até matam crianças ou pessoas indefesas. Caso emblemático está prestes a ser julgado e pode tornar punição mais pesada

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intenso sofrimento físico ou mental, como forma de castigo ou medida de caráter preventivo. A pena simples é de reclusão, de 2 a 8 anos. Se houver lesão corporal grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de 4 a 10 anos; se resulta em morte, a reclusão é de 8 a 16 anos. Aumenta-se a pena de um sexto até um terço se o cri-me é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 anos. São penas muito superiores à do crime de maus-tratos, previsto no artigo 136 do Código Pe-nal, definido como expor a perigo a vida ou a saúde de pessoas sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, privando-a de alimentação ou cuidados ou sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, ou ainda abusando de meios de correção ou disciplina. A pena é de detenção, de 2 meses a 1 ano, ou multa. Se ocorrer lesão corporal grave, a pena é de 1 a 4 anos. No caso de morte, de 4 a 12 anos. Aumenta-se a pena em um terço se o crime é praticado contra menor de 14 anos.

Espancamento e morteNa última sexta-feira, a mãe e o padrasto de um menino

de 4 anos foram autuados por homicídio qualificado por tortura, com pena de 12 a 30 anos, em Três Marias, na Região Central do estado, a 276 quilômetros de Belo Horizonte, suspeitos de espancar a criança até a morte. A vítima morreu na quinta-feira. Segundo a polícia, o menino foi levado a um hospital de Sete Lagoas, na mesma região, com ferimentos pelo corpo e seria transferido para Belo Horizonte, mas morreu antes. A mãe, de 24 anos, e o padrasto, de 23, alegaram que os hematomas seriam consequência de uma queda da criança do vaso sanitário dentro de casa. Contudo, o laudo da médica-legista apontou que o me-nino foi agredido

Uma cicatriz que desafia a legislação

Menino cujo caso pode mudar a história das agressões contra pessoas indefesas em Minas tem

marcas no corpo e na almaPoços de Caldas – Luciana pede para o filho Matheus mos-

trar a cicatriz na coxa direita. Envergonhado, o garoto, hoje com 5 anos, segura a camisa para exibir a marca inconfundível dei-xada pelo ferro de passar roupa. Abaixo da cintura ficou gravada na pele a forma do instrumento. Uma cicatriz que também pode ajudar a mudar a história de como esse tipo de situação é trata-do pelo Judiciário em Minas: o caso de Matheus foi o que deu origem a pedido prestes a ser julgado pelo Tribunal de Justiça. Nele, o Ministério Público defende que esse tipo de agressão contra pessoas indefesas seja considerado tortura e não maus-tratos, que tem pena mais branda.

Na tarde da última quarta-feira, mãe e filho estavam diante da casa onde moram com seis parentes, no Bairro Chácara Alvo-rada, em Poços de Caldas, no Sul de Minas, a 468 quilômetros de Belo Horizonte. Pouco antes de o menino chegar da esco-la, Luciana, de 25 anos, havia sustentado que não havia ficado “marca nenhuma” no garoto. Parecia querer suavizar as agres-sões que ele sofreu em 2011, nas mãos de seu então padrasto, Evanil. Foram queimaduras no rosto, na perna direita, no glúteo, perto do ânus e da bolsa escrotal.

Evanil foi condenado a 9 anos e 4 meses de cadeia e está preso. Luciana é acusada de omissão, embora afirme ter acudido

prontamente o filho. Naquele dia, ela chegou tarde em casa. O garoto e dois irmãos – Peterson, hoje com 7 anos, e Victor Hugo, com 10 – estavam dormindo em um dos quartos.

Ao ouvir a mãe chegar, Matheus acordou e pediu para ma-mar, conta Luciana. “Ele não chorou, não reclamou de dor. Esta-va debaixo da coberta, por isso eu não vi nada”, relatou. Peterson dormia com Matheus na mesma cama e disse para a mãe olhar a perna do mais novo. Foi quando ela viu as queimaduras. De início, com medo, o menino de 7 anos assumiu a culpa. “Aí, fui conversando com ele, apertando, até que ele falou a verdade”, contou a mãe.

Com raiva, na mesma noite ela partiu para cima de Evanil. “Fiquei muito nervosa, joguei o ferro de passar na cabeça dele”, relatou. No entanto, deixou para levar Matheus ao hospital ape-nas no dia seguinte. Como trabalhava como auxiliar de cozinha – ocupação que lhe valeu marcas nas mãos e braços –, Luciana tinha uma pomada para queimaduras e a passou nos ferimentos do menino.Na manhã seguinte, ao levar o filho à policlínica, a mulher denunciou o ocorrido à polícia e ao conselho tutelar. Ela diz que, apesar de ter ficado com medo de Evanil – que já tinha lhe batido “umas duas vezes, em discussão normal de todo ca-sal” –, acusou o homem sem hesitar. Porém, a mãe de Luciana, de 46 anos, que também estava presente durante a visita da equi-pe do Estado de Minas, contou versão diferente: “Ele (Evanil) foi à policlínica e ameaçou (Luciana). Por isso, ela primeiro dis-se que tinha sido o Peterson, antes de apontar Evanil”. Luciana nega: “Não fui ameaçada, contei logo a verdade”. O Ministério Público estadual sustenta a versão de que, sim, Luciana tentou acobertar o companheiro.

Apesar de também acusada pela promotoria, ela concorda com a “promoção” do crime de Evanil, de maus-tratos para tor-tura. Desde o ano passado, os três irmãos, que relataram ter sido vítimas de Evanil anteriormente, são acompanhados por psicó-logos pagos pela Prefeitura de Poços de Caldas.

Discussão envolve até a ONUSandra KieferPara algumas gerações, a palavra tortura remete ao regi-

me militar instalado no país nas décadas de 1960 a 1980, e ao sofrimento mental e físico impingido pelo agente público para arrancar confissões. Na definição mais atual, defendida pelo Mi-nistério Público de Minas e aceita na maior parte dos estados, o crime pode ser praticado também por particulares.

A confusão se deve ao fato de o Brasil ser signatário de con-venção da Organização das Nações Unidas (ONU), que associou o crime de tortura à ação de agentes públicos, como policiais. Para os defensores da tese da atribuição de tortura a particulares, a convenção não impede os países de aprovarem leis amplian-do o campo de proteção aos direitos humanos. Tanto que a Lei da Tortura, 9.455, de 1997, abriu a possibilidade de particulares também responderem pelo crime.

Nos dois casos há uma relação de superioridade entre o agressor e a vítima, que podem ser padrasto e enteado, pais e filhos, tio e sobrinho. “Trata-se de uma pessoa indefesa que está sob a autoridade do agressor. O melhor critério para diferenciar os crimes é a vontade do agente”, explica o procurador de Justiça Antônio Sérgio Tonet. Se a intenção era corrigir ou disciplinar, o crime será tipificado como maus-tratos. “Se houver sofrimento extremado da vítima, revelando motivo desprezível ou mesmo sadismo, é tortura”, completa.

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Guilherme Amado

Se a Lei de Acesso à Informação, que entra em vigor em 16 de maio, tivesse um rosto, ela teria olhos azuis, cabelos pretos repicados na altura dos ombros e sotaque mineiro. Aos 32 anos, a advogada Vânia Ribeiro Vieira, diretora de Prevenção e Combate à Corrupção da Controladoria-Geral da União (CGU), está à frente de uma maratona para tirar do papel uma lei que vai contra práticas seculares do que ela mesma chama de “cultura do segredo”. Firme, mas sem perder o jeito dócil de falar, caberá a Vânia convencer um governo inteiro de que a transparência agora é lei.

Desde que a Lei de Acesso foi aprovada no Congresso e depois sancionada pela presidente Dilma Rousseff, em no-vembro de 2011, terminou uma batalha de anos da sociedade e começou outra, não mais simples, dentro do governo. O périplo incluiu quase todos os ministérios em que Vânia foi, um a um, para explicar a lei, mostrar por que ela fortalece a democracia e, mais que tudo, deixar claro que qualquer in-formação produzida pelo Estado sempre será, em princípio, pública. Não foi fácil. “As pessoas ainda não veem o aces-so à informação como parte do nosso serviço. Dizem: ‘Vou ter que parar de fazer meu trabalho para dar informação?’”, conta.

Pela nova regra, cada órgão público terá uma área em sua página na internet com informações básicas e um Servi-ço de Informação ao Cidadão (SIC) para receber e entregar as demandas de informação. “O prazo de seis meses para a lei entrar em vigor foi exíguo. São mundos muito díspares. Mas vamos ter operacionalidade em todo o governo”, ex-plica, num modo de falar rebuscado, mas que acaba soando natural.

As palavras difíceis talvez sejam herança da formação jurídica. Advogada pela UFMG, curso que conciliou com a Escola de Governo da Fundação João Pinheiro, ela acostu-mou-se cedo com tarefas grandiosas. Entrou na CGU por concurso em 2004. Aos 26 anos, tornou-se procuradora fe-deral da Advocacia Geral da União (AGU), órgão que até hoje a cede para a CGU. As missões pesadas contrastam com a pouca idade. “Você que é a doutora Vânia? Nova as-sim e com tanta responsabilidade?”, surpreendem-se os que lhe são apresentados.

Não é surpresa para Elisa Peixoto, amiga dos tempos de faculdade e hoje secretária-executiva substituta do Ministé-rio das Comunicações. “A Vânia é uma pessoa leve, que gos-ta de sentar num bar e ouvir Beth Carvalho, Chico Buarque e sambas da Mangueira. A seriedade no trabalho é porque ela tem muito amor à causa de prevenção da corrupção. Ela

estuda a fundo, não é alguém que está ali a passeio”, afirma Elisa. Secretário-executivo do Ministério do Meio Ambien-te, Francisco Gaetani não mede palavras para elogiá-la. “Ela é ‘o novo’ do qual nosso país tanto precisa. Representa uma nova geração de quadros com formação sólida, princípios éticos e mentalidade aberta”, derrama-se.

TRABAlhO NA MADRugADA Nascida em Patrocínio (MG), a 400 quilômetros

de Belo Horizonte, Vânia se diz ambientada em Brasília. O trabalho domina sua rotina. Ela chega antes das 9h e só sai depois das 22h. Seguindo um estilo cada vez mais comum dentro do governo, também não desliga fora do expediente. Envia e responde e-mails até de madrugada. “A tecnologia é parceira da transparência”, sentencia.

Foi a tecnologia, aliás, que a colocou em um dos mo-mentos mais tensos da CGU. Uma das fundadoras do Portal da Transparência, site que reúne informações sobre gastos e receitas de todo o governo federal, Vânia já era diretora em 2008 quando estourou o escândalo dos cartões corporativos. Os extratos de gastos de ex-ministros, como as compras fei-tas em um free shop pela então ministra da Igualdade Ra-cial, Matilde Ribeiro, e o pagamento de uma tapioca pelo ex-titular do Esporte, Orlando Silva, vazaram e uma CPI foi instalada. “O portal nunca tinha tido aquela visibilidade. Teve dia em que o acesso explodiu e o portal quase caiu. E ali tivemos uma decisão de governo de não questionar a transparência.”

O respaldo do Palácio do Planalto, que tem lucrado com a imagem anticorrupção, faz com que Vânia já tenha defini-do sua próxima missão: brigar para aprovar no Congresso a lei que propõe a responsabilização jurídica de empresas envolvidas em corrupção, seja com indenização, seja com a devolução de recursos recebidos indevidamente. “É o próxi-mo passo que precisamos dar na prevenção da corrupção”, sentencia. Em tempos de CPI, com a relação entre políticos e empresas no fio da navalha, a nova bandeira de Vânia Viei-ra ainda vai dar o que falar.

Às claras

A Lei de Acesso à Informação torna pública toda a infor-mação produzida em todos os níveis do Executivo, Legisla-tivo e Judiciário, incluindo Ministério Público e os tribunais de contas. Com ela, o cidadão poderá, por exemplo, chegar a um posto de saúde e pedir uma relação de quantos médicos, de que especialidades e em que turnos deveriam estar tra-balhando ali. Sem contar contratos, licitações, estatísticas e quaisquer outras informações e documentos produzidos pelo poder público.

pERFIl

O novo rosto da transparência Diretora de Prevenção e Combate à Corrupção da CGU, a advogada mineira Vânia Vieira tem pela frente a missão de fazer valer a Lei de Acesso à Informação, que entra em vigor em maio

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Pedro FerreiraO passaporte, vencido em 5 de fevereiro, e o cer-

tificado de vacinação internacional do goleiro Bruno Fernandes foram recolhidos pelo Supremo Tribunal Fe-deral (STF) e anexados ao processo que julga pedido de habeas corpus para libertar o atleta. No início de abril, o advogado Rui Caldas Pimenta entregou os documentos ao ministro Ayres Brito, relator do processo na época, como forma de convencê-lo de que seu cliente pode ficar em liberdade até o julgamento e que não vai fugir se for solto. “Também consegui do presídio o atestado de bom comportamento do Bruno, dizendo que ele tra-balha e não causa nenhum problema. O Supremo tem agora mais uma garantia, mesmo sendo o meu cliente primário e de bons antecedentes”, disse o advogado.

Na terça-feira, o ministro Ayres Britto, que anteon-tem assumiu a presidência do STF, atendeu o pedido de Pimenta e determinou o acautelamento dos documen-tos. Como o presidente não participa da turmas julga-doras, o processo será redistribuído para outro relator, que vai julgar o habeas corpus. Segundo o STF, não há previsão de julgamento, mas há prioridade para réus presos. Bruno está na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Grande BH, acusado do desapareci-mento e morte da ex-amante, Elisa Samudio, em junho de 2010.

Segundo Pimenta, o goleiro deixou o serviço de limpeza do pavilhão onde está recolhido para trabalhar agora numa fábrica de bolas dentro do presídio. “Ele é muito habilidoso e tem algumas prerrogativas. Para cada três dias trabalhados, ganha um dia a menos na pena. Se for condenado, esses dias serão descontados em sua sentença. Ele também recebe auxílio peniten-ciário e repassa o dinheiro para a família”, disse o ad-vogado.

Ele adianta que pretende adiar o julgamento do atleta para depois da Copa do Mundo de 2014. “Bru-no em liberdade vai ter chance de retornar ao futebol e ser convocado para a Seleção Brasileira, disputando os jogos do Mundial. Quero que a Justiça o julgue como campeão do mundo”, afirmou Rui Pimenta. Ele disse ter recebido autorização do goleiro para fazer em cartó-rio escritura declaratória, com cópias para a ex-mulher Dayanne Rodrigues, mãe de suas duas filhas, e para Sônia de Fátima Moura, mãe de Eliza e que cuida do neto que seria filho do goleiro. “Bruno se compromete a depositar 10% de tudo que ganhar no futuro para os três filhos”, explicou.

pRONÚNCIA A defesa de Bruno também recorreu da sentença de

pronúncia da juíza de Contagem, Marixa Fabiane Lo-pes Rodrigues, em que manda o goleiro a julgamento, mas o Tribunal de Justiça de Minas não acatou o recur-so. “Entramos, então, com um recurso extraordinário no próprio TJMG e um recurso especial será avaliado pelo Superior Tribunal de Justiça. Isso tudo para tentar tirar Bruno da sentença de pronúncia e ele não ir a jul-gamento, por falta de provas”, disse Rui Pimenta.

Dos oito acusados pela morte de Eliza, apenas Bru-no, o amigo dele Luiz Henrique Ferreira Romão, o Ma-carrão, e o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, ainda estão presos. Os demais respondem ao in-quérito em liberdade. “Bruno foi traído pelo Macarrão. Meu cliente nunca quis ou desejou a morte de Eliza”, disse o advogado.

Na próxima semana, o TJMG julga recurso do Mi-nistério Público pedindo que quatro réus, Dayane Ro-drigues, Elenilson Vitor da Silva, Wemerson Marques de Souza e Fernanda Gomes de Castro, também sejam julgados por homicídio qualificado. Eles foram pronun-ciados por sequestro e cárcere privado e o procurador de Justiça José Alberto Sartorio de Souza e o promotor Márcio Henrique Mendes da Silva querem uma pena maior, de 12 a 30 anos. Esse pedido já foi negado antes pelo TJMG e o MP entrou com novo embargo declara-tório.

Um crime sem corpo De acordo com o Ministério Público, “Elisa foi

morta porque suplicava a Bruno, que reconhecesse a paternidade de seu bebê e pagasse os alimentos devi-dos. Bruno, insatisfeito com isso, resolveu engendrar o plano diabólico”. Ainda segundo a denúncia, Bruno se uniu aos outros acusados para planejar o homicídio. “Todos sabiam que Eliza seria morta e que seria dado um sumiço em seu corpo”, diz o promotor Gustavo Fantini de Castro, lembrando que Elisa foi mantida por seis dias em cativeiro, até ser morta em Vespasia-no. “Marcos Aparecido Bola, contando com a ajuda de Macarrão, asfixiou Elisa até a morte. Pelas costas de Elisa, Bola passou seu braço pelo pescoço da vítima, em um golpe conhecido como gravata, e constrangiu-lhe o pescoço, esganando-a. Macarrão, para auxiliar no covarde extermínio de Eliza, ainda desferiu chutes nas pernas da vítima indefesa. Posteriormente, Bola escon-de o corpo em local desconhecido até a presente data”, diz a denúncia do Ministério Público estadual.

ESTADO DE MINAS – ON lINE – 21.04.2012 hABEAS CORpuS

Supremo recolhe o passaporte de Bruno Advogado de defesa também entrega cartão internacional de vacina na esperança de conseguir liberdade para atleta

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Assembleia. Deputados da base retiratam os nomes do requerimento

Governo pressiona e sete desistem da CPI do Bicho

Desistências de parlamentares

da base

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São Paulo. Preo-cupado com o clima de insegurança jurí-dica causado pela bri-ga pública entre dois ministros, o novo presidente do Supre-mo Tribunal Federal (STF), Ayres Britto, convocou reunião in-terna, a se realizar até amanhã, destinada a lavar roupa suja e preparar a Corte para os julgamentos histó-ricos previstos para este ano.

Entre esses jul-gamentos está o pro-cesso do mensalão, em tramitação desde 2005 e o que contes-ta as cotas raciais das universidades, mar-cado para começar na próxima quarta-feira.

“O STF tem o de-ver de conferir segu-rança jurídica ao país, pois quando isso não ocorre, a República e a democracia ficam ameaçadas”, afirmou o presidente da Or-dem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante. A preocupação atinge diversos operadores do direito. “Que a pacificação chegue rápido porque tempos duros pela frente”, acrescentou o presi-dente da Associação de Magistrados Bra-sileiros (AMB), Nel-son Calandra.

“A quem a socie-

dade vai recorrer se o STF é sua última ins-tância?”, indagou.

Acusado de “in-seguro” e de ter “tem-peramento difícil” pelo ministro Cezar Peluso, em entrevis-ta ao site Consultor Jurídico, o ministro Joaquim Barbosa, relator do mensalão, retrucou em tom ás-pero. Ele chamou o colega de “ridículo”, “brega”, “corporati-vo”, “desleal”, “ti-rano” e “pequeno””. Mais grave: acusou o ex-presidente da Cor-te de manipular resul-tados de julgamentos para atender seus in-teresses e de praticar racismo contra ele, por ser negro, além de bullying por conta do seu problema de saúde.

O clima ficou pesado desde então na casa e isso trouxe preocupações com re-lação aos julgamentos importantes que o Su-premo tem pela fren-te. Para observadores, a briga deixou danos à imagem do STF e as perspectivas não são animadoras, por-que Britto será presi-dente por apenas sete meses, aposentando-se em novembro. O próximo presidente será Barbosa, que tem atritos com alguns co-legas.

O TEMpO - ON lINE - 23.04.2012 STF

Ayres Britto faz reunião para acabar com a briga interna

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O glOBO - p. 15 - 22.04.2012

Em Pernambuco, juíza pede ajuda para não morrerMagistrada diz que policiais militares encarregados de sua proteção, e que eram investigados, tentaram assassiná-la

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RAPHAEL RAMOS

Portas arrombadas, vidros quebrados, ar-mários destruídos e objetos espalhados por to-dos os lados. O cenário, que parece de um ar-rastão, teria sido deixado por policiais militares durante uma operação desastrosa, na noite de anteontem. A acusação foi feita por um faxinei-ro, de 39 anos, morador do bairro Miramar, na região do Barreiro.

O homem, que prefere não ter o nome di-vulgado por medo de represálias, afirma que a casa onde ele mora com a mulher e a filha, de 16 anos, foi invadida por quatro militares que estariam à procura de um criminoso em fuga.

De acordo com o faxineiro, os policiais usavam fardas, sendo que um deles estava iden-tificado na tarjeta como cabo e o outro como soldado. Ele não identificou os nomes dos PMs, que agiram sem qualquer mandado judicial. O batalhão no qual os policiais são lotados tam-bém não foi identificado pelo morador.

Uma testemunha que estava em um bar na esquina da casa invadida contou à reportagem de O TEMPO que os policiais pararam duas viaturas do tipo Blazer na rua. A pé, quatro de-les seguiram até a porta da casa do faxineiro. Por quase meia hora, eles teriam batido no por-tão, mas, como não foram atendidos, invadiram o imóvel. “Na hora, até estranhei, mas preferi ficar quieto. A gente nunca sabe o que é”, afir-mou a testemunha.

O faxineiro contou que ele, a mulher e a filha estavam dormindo na hora da ação. “Vi luzes de lanternas na casa. Abri a janela do meu quarto que dá para ver o terreno e um dos policiais já colocou a arma na minha cabeça e gritou: ‘polícia, polícia’”. O militar, segundo o faxineiro, ainda perguntou: “Cadê o cara que correu da gente armado?”

Segundo a vítima, ele e a família ficaram em pânico. Sob ameaças, todos foram levados para um dos cômodos da casa. O faxineiro disse que os militares vasculharam o imóvel. Mexe-ram em armários, jogaram roupas e objetos no chão. “Como não acharam o tal homem, muda-ram de conversa. Começaram a perguntar por armas e drogas. Mas acabaram indo embora”.

DENÚNCIA

Investigação. O faxineiro fotografou os estragos deixados pelos policiais. A intenção, segundo ele, é, juntamente com uma advogada já contratada, denunciar o caso ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) para que o órgão investigue o caso.

Investigação somente com denúncia

O chefe da assessoria de comunicação da Polícia Militar, major Marcone Freitas, infor-mou que, para que seja realizada uma investi-gação, é necessária uma formalização da de-nuncia por parte da vítima.

Apesar disso, ele informou que, caso se confirme a veracidade da ocorrência, já have-ria uma irregularidade na ação dos policiais. O major Freitas explicou que a abordagem poli-cial em residências e locais particulares só é permitida com ordem judicial ou em casos de flagrante. (RR)

Minientrevista“Acho que entraram na casa errada”

FaxineiroAlvo da ação de PMsComo o senhor percebeu que estava tendo

a casa invadida?

Estávamos dormindo. Ouvi batendo no portão, mas, como não esperávamos ninguém, não atendemos. Depois que vi as luzes, eles já me abordaram.

Eles se identificaram como policias?

Sim, mas já chegaram ameaçando. Ainda mostrei minha carteira de trabalho. Tentei ex-plicar que levanto às 4h30 todos os dias para trabalhar, mas eles não me ouviram. É uma si-tuação traumática. Minha filha e minha mulher saíram de casa. Elas estão com medo.

Por que o senhor acha que invadiram a sua casa?

Como aconteceu, acredito que eles esta-vam procurando alguém. Acho que entraram na casa errada. (RR)

O TEMpO - ON lINE - 23.04.2012 Barreiro

Faxineiro acusa policiais militares por abuso em açãoDurante invasão, família teria sido ameaçada; objetos foram destruídos

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CONT... O ESTADO DE Sp - p. A12 - 21.04.2012

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As respostas do ministro Joaquim Barbosa às críticas que lhe foram feitas pelo mi-nistro Cezar Peluso, um dia antes de deixar a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), lançaram mais luz so-bre um cenário que o grande público supunha preservado de lavagens públicas de roupa suja.

A história do STF, que acumula as competências de corte constitucional e de tri-bunal de última instância, sempre registrou as mais va-riadas desavenças entre seus integrantes, mas elas eram tra-vadas a portas fechadas ou por floreios retóricos nas sessões plenárias - e não sob a forma de trocas de insultos através da mídia. As críticas de Pelu-so foram feitas em entrevista concedida ao site Consultor Jurídico, e as respostas de Barbosa, que é o relator do processo do mensalão e as-sumirá a direção do Supremo em novembro, sucedendo ao ministro Ayres Britto, foram dadas em entrevista ao jornal O Globo de sexta-feira.

Na saraivada de críticas que disparou contra a presiden-te da República, a corregedora Nacional de Justiça, o senador Dornelles e colegas de corte, Peluso afirmou que Barbosa tem ambições eleitorais, razão pela qual julgaria os processos mais com base em motivações políticas do que jurídicas. Na mesma entrevista, o ex-pre-sidente do Supremo também disse que Barbosa “é dono de temperamento difícil” e o classificou como “inseguro”, motivo pelo qual se ofenderia

com “qualquer coisa”. Em resposta, Barbosa

chamou Peluso de “ridículo”, “brega”, “caipira”, “corporati-vo”, “desleal”, “tirano”, “de-sastroso” e “pequeno”. “Uma universidade francesa me convidou a participar de uma banca de doutorado em que se defendera uma excelente tese sobre o STF e seu papel na democracia brasileira. Peluso vetou que me fossem pagas diárias durante os três dias de afastamento, ao passo que me parecia evidente o interesse da Corte em se projetar inter-nacionalmente, pois, afinal, sua obra estava em discussão. Inseguro, eu?”, retrucou Bar-bosa.

Além de comparar seu currículo acadêmico com o de Peluso, o ministro Joaquim Barbosa o acusou de praticar “supreme bullying” contra ele, por conta dos problemas de saúde que o levaram a so-frer uma cirurgia no quadril e a se afastar para tratamento médico, e de plantar fofocas na imprensa sobre suas con-dições físicas. Afirmou, ain-da, que nas sessões plenárias o ex-presidente do Supremo manipulava regras e violava dispositivos regimentais de acordo com seus interesses, com o objetivo de impor sua vontade aos demais ministros nos julgamentos mais impor-tantes.

“As pessoas guardarão na lembrança a imagem de um presidente do STF conserva-dor, imperial, tirânico, que não hesitava em violar as normas quando se tratava de impor à força sua vontade. Dou exem-

plos. Peluso inúmeras vezes manipulou ou tentou manipu-lar resultados de julgamentos, criando falsas questões pro-cessuais simplesmente para tumultuar e não proclamar o resultado que era contrário ao seu pensamento. Lembre-se do impasse nos primeiros julgamentos da Lei da Ficha Limpa, que levou o tribunal a horas de discussões inúteis. Peluso também não hesitou em votar duas vezes num mesmo caso, o que é inconsti-tucional, ilegal e inaceitável”, disse Barbosa, referindo-se ao julgamento que livrou Ja-der Barbalho da Lei da Ficha Limpa.

Na entrevista ao Consul-tor Jurídico, Peluso afirmou que uma de suas realizações, em dois anos de gestão, foi ter apaziguado o Supremo e aca-bado com as tensões e discus-sões entre os ministros. Bar-bosa refutou-o, acusando-o de ter “incendiado” não apenas a mais importante Corte do País, mas “o Poder Judiciário inteiro, com sua obsessão cor-porativista”. Barbosa, eviden-temente, referia-se ao embate de Peluso contra a corregedo-ra Nacional de Justiça, Eliana Calmon, e ao recurso impetra-do pela Associação dos Ma-gistrados Brasileiros com o objetivo de esvaziar as prerro-gativas do Conselho Nacional de Justiça. A entidade é che-fiada por um desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, onde Peluso atuou por quase duas décadas.

O bate-boca entre Peluso e Barbosa em nada dignifica o Supremo.

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Bate-boca constrangedor

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