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CLÉLIA ANDRADE DE PAULA O USO DE MAPAS CONCEITUAIS NO ATO DE LEITURA LITERÁRIA: UMA ANÁLISE DAS SÍNTESES SEMIÓTICAS DE ALUNOS DO ENSINO SUPERIOR UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO CAMPO GRANDE – MS 2002

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  • CLLIA ANDRADE DE PAULA

    O USO DE MAPAS CONCEITUAIS NO ATO DE LEITURA LITERRIA: UMA ANLISE DAS

    SNTESES SEMITICAS DE ALUNOS DO ENSINO SUPERIOR

    UNIVERSIDADE CATLICA DOM BOSCO CAMPO GRANDE MS

    2002

  • 12

    CLLIA ANDRADE DE PAULA

    O USO DE MAPAS CONCEITUAIS NO ATO DE

    LEITURA LITERRIA: UMA ANLISE DAS

    SNTESES SEMITICAS DE ALUNOS

    DO ENSINO SUPERIOR

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao - Mestrado em Educao da Universidade

    Catlica Dom Bosco, como parte dos requis itos para

    obteno do grau de Mestre em Educao.

    rea de Concentrao: Educao Escolar e Formao de Professores Orientadora: Professora Dra. Helena Farias de Barros e co-orientao do Professor Dr. Orlando Antunes Batista.

    UNIVERSIDADE CATLICA DOM BOSCO CAMPO GRANDE MS

    2002

  • 13

    O USO DE MAPAS CONCEITUAIS NO ATO DE LEITURA LITERRIA: UMA

    ANLISE DAS SNTESES SEMITICAS DE ALUNOS DO ENSINO SUPERIOR

    CLLIA ANDRADE DE PAULA

    BANCA EXAMINADORA:

    Prof Dr Helena Faria de Barros

    Prof. Dr. Orlando Antunes Batista

    Prof. Dr. Ivan Russeff

  • 14

    DEDICATRIA

    Aos meus pais

    Elecina e Jos, razes slidas

    Ao Valdir, meu esposo, o presente

    s minhas filhas, Georgette Beatriz e Ktia Regina, o futuro.

  • 15

    AGRADECIMENTOS A todos aqueles que contriburam direta ou indiretamente para que mais esse passo fosse

    dado;

    A meus familiares, que souberam compreender a minha ausncia;

    Aos meus amigos e irmos, que me deram total apoio nos momentos de ansiedade e

    desnimo;

    Aos professores do curso de mestrado pela conscientizao da necessidade de fazer

    emergir novos paradigmas da educao;

    Ao prof. Dr. Orlando Antunes Batista, o co-orientador, o amigo pela pacincia e

    compreenso.

    A Dr Helena Faria de Barros pela dedicao, segurana e competncia ao conduzir a

    orientao.

    UNIDERP pela confiana e oportunidade.

    Em especial.....

    Aos alunos do 3 ano do curso de Letras da UNIDERP-1999, que possibilitaram a

    realizao desta pesquisa, desenvolvendo as atividades propostas para que este estudo

    fosse efetivado.

  • 16

    Ningum liberta ningum, ningum se

    liberta sozinho, os homens se libertam em

    comunho.

    Paulo Freire.

  • 17

    PAULA, Cllia Andrade de. O uso de mapas conceituais no ato de leitura literria: uma anlise das snteses semiticas de alunos do ensino superior. Campo Grande, 2002, 128 p. Dissertao (Mestrado). Universidade Catlica Dom Bosco.

    RESUMO Esta dissertao tem como objetivo investigar as possveis contribuies dos mapas conceituais como facilitadores da aprendizagem significativa aos alunos. Como procedimento metodolgico fez-se a seleo de narrativas curtas dos autores Machado de Assis, Clarice Lispector, Otto Lara Rezende, assim como poemas de Carlos Drummond de Andrade para que os acadmicos, do 3 ano do Curso de Letras da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Regio do Pantanal UNIDERP, lessem e analisassem fazendo uso das snteses semiticas que os alunos produziram no momento em que entraram em contato com cada texto lido. Posteriormente, houve a inter-relao das snteses semiticas produzidas pelos alunos com o que de novo os textos apresentavam. Isso ocorreu atravs de uma reflexo dos fatos e aes apresentadas em cada contexto para que se efetivasse o trabalho de leitura e anlise dos contos e poesias, a fim de que os acadmicos reconhecessem os ncleos de interesse atravs do uso do mapa conceitual com o que de novo os textos apresentavam a fim de que os alunos reconhecessem os ncleos de interesse atravs de uso do mapa conceitual e dirigissem a ateno no ato de leitura para a montagem da lgica da leitura literria. Os textos literrios foram desestruturados em suas partes fundamentais com o intuito de conhec- los nos componentes que os organizavam, fazendo com que as metforas do texto tendessem lgica da leitura, embora estivessem em linguagem conotativa. No se encontrou a pura denotao , mas dela os leitores se aproximaram para que o contedo pudesse ser explicitado e revelasse a lgica da construo da leitura. Os estudos dos contos e poemas foram organizados com o auxlio dos mapas conceituais e discutidos a partir de conceitos j conhecidos pelos acadmicos, e os desconhecidos foram alvo de pesquisa em dicionrios onomsticos para que aprofundassem os usos dos conceitos literrios. Os resultados apresentados entre o pr-teste e o ps-teste foram bastante significativos e a anlise qualitativa do processo demonstrou que houve um avano nas snteses semiticas dos leitores, medida que desenvolviam as atividades de leitura. O que se constatou de modo geral foi a mudana de postura do acadmico no tocante s avaliaes, s atividades em classe e extra-classe quando eles passaram a ser agentes de sua prpria aprendizagem e mais conscientes sobre a funo do processo ensino e aprendizagem.

    PALAVRAS-CHAVE: mapa conceitual, snteses semiticas, aprendizagem significativa.

  • 18

    PAULA, Cllia Andrade de. O uso de mapas conceituais no ato de leitura literria: uma anlise das snteses semiticas de alunos do ensino superior. Campo Grande, 2003, 128 p.. Dissertao (Mestrado). Universidade Catlica Dom Bosco.

    ABSTRACT

    This paper has as objective investigating the possible contributions of the conceptual maps as meaningful learning facilitators to the students. As methodological procedure a selection of short narratives from the writers Machado de Assis, Clarice Lispector, Otto Lara Rezende was done, as well as poems from Carlos Drummond de Andrade to the academics, from the 3 year of the Language Arts Course from the Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Regio do Pantanal UNIDERP, would read and analyze them making use of their semiotical syntheses. Later than, there was an inter-relation of the semiotical syntheses with the novelties the texts presented so the students would recognize the nucleus of interests by using conceptual maps and would focus the attention in the reading act to the mounting of the literary reading logic. The literary texts were separated into their fundamental parts with the intention of knowing them in the components that organized them, so the text metaphors would tend to the reading logic, although they were in connotative language. The pure denotation was not found, but the readers got close to it, allowing the content to be expressed and would reveal the building reading logic. The studies of the narratives and poems were organized with the assistance of conceptual maps and discussed from the concepts already known by the academics, and the unknown concepts were targets of research in onomastic dictionaries so the use of the literary concepts were deepened. The results presented between the pre-test and the pos-test were very meaningful and the qualitative analyses of the process showed that there was an advance in the semiotical syntheses, while the reading activities were developed. What was noticed in a general way was the change in the academics posture regarding the evaluations, class and extra-class activities when they started being agents of their own learning and more conscious about their function in the process of teaching and learning.

    KEYWORD: conceptual maps, semiotical syntheses, meaningful learning.

    SUMRIO

  • 19

    INTRODUO ............................................................................................................... 11

    CAPTULO I: A CONTRIBUIO DA TEORIA DA APRENDIZAGEM

    SIGNIFICATIVA DE DAVID P. AUSUBEL PARA O ENSINO .................... 18

    1. Ensino e a realidade no campo da educao atualmente ............................................ 18

    2. A Crise no Sistema Educacional ............................................................................... 21

    3. A Teoria de Ausubel................................................................................................. 23

    4. O que aprendizagem significativa........................................................................... 25

    4.1.As condies da aprendizagem significativa ........................................................ 27

    4.2.Tipo de aprendizagem significativa ................................................................... 28

    5 De onde vm os subsunores: formao de conceitos................................................ 29

    6 Quem Joseph Novak ?............................................................................................... 30

    7 O que um mapa conceitual? ................................................................................... 32

    8 O que organizador prvio? ........................................................................................ 35

    9 Diferenciao progressiva e hierarquias conceituais ..................................................... 37

    9.1 Aprendizagem supeordenada ............................................................................... 37

    9.2 Reconciliao Integrativa ..................................................................................... 37

    CAPTULO II: A METODOLOGIA EMPREGADA NO ATO DA LEITURA

    E INTERPRETAO DE TEXTOS ................................................................... 38

    1. Metodologia e procedimentos ..................................................................................... 38

    2. A metodologia dominante no processo de formao de leitor....................................... 43

    3. Desenvolvimento da atividade de produo de mapas conceituais ................................ 46

    3.1 Seleo dos textos ............................................................................................... 46

    4. Anlise das atividades elaboradas pelos acadmicos ............................................... 48

  • 20

    CAPTULO III: O DESENVOLVIMENTO DO GRUPO MEDIANTE A

    APLICAO DO MAPA CONCEITUAL..................................................... 66

    1. Desenvolvimento das atividades de anlise dos textos ................................................. 66

    1.1 Anlise comparativa dos resultados do pr-teste ao ps-teste ............................ 79

    1.2 O desenvolvimento surpreendente dos alunos considerados pouco produtivos

    no dia-a-dia de sala de aula ................................................................................ 104

    1.3 O rendimento dos alunos mais fracos na produo dos mapas conceituais ....... 104

    2. Mudana de postura dos alunos aps o conhecimento dessa prtica ........................... 111

    CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................ 113

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................................. 122

    ANEXOS ........................................................................................................................... 126

  • 21

    INTRODUO

    Literatura a expresso, pela palavra escrita, dos contedos da fico oriundos

    do imaginrio do autor.

    Desde que nasce, o homem l o mundo a sua volta e age de acordo com essa

    leitura. Ler1 uma atividade consciente ou inconsciente que faz parte da condio humana.

    A leitura tem uma dimenso semitica2:

    ... o texto torna-se o intermdio entre o sujeito e o mundo. E embora tenha condies de represent-lo de modo mais eficiente e sinttico, ele inevitavelmente provoca suspenso da experincia direta, assim como a suspeita para com ela. Em outras palavras, embora a obra escrita, de um lado signifique a possibilidade de o indivduo se integrar ao meio e melhor compreend-lo, de outro, ela estimula a renncia ao contato material e concreto, denegrindo as qualidades desse, ao negar-lhe os atributos de plenitude e totalidade. Transmuta-se na mediadora entre o indivduo e sua circunstncia, e decifr-la quer dizer tomar parte na objetividade que deu lugar sua existncia. Por isso, ler passa a significar igualmente viver a realidade por intermdio do modelo de mundo transcrito no texto. 3

    Os dois ltimos sculos privilegiaram a escrita, pois a sociedade moderna

    passou a ser pontuada por registros escritos. Saber ler esses registros condio

    fundamental para fazer parte dessa sociedade, participar e usufruir dos bens culturais. A

    escola, criada pela burguesia para atender as suas necessidades de expanso comercial e

    manuteno do poder, tambm elegeu a escrita e estabeleceu critrios de promoo

    1 Leitura cultura em ao, instrumento de absoro cultural. No h cultura sem leitura. No h leitura sem cultura... Da m leitura provm a falsa cultura e da falsa cultura a crtica inpta e deficiente (ATHAYDE Tristo. Teoria, crtica e Histria Literria, 1980, MEC, 1 ed. Pag. 189) 2 Semitica: tem como objeto estudar a vida dos signos no seio da vida social. O ser humano no se comunica, somente, atravs de signos orais e escritos. Existem outros sistemas de signos como os gestos, as placas de sinalizao, as notas musicais... tarefa da semitica interpret-los (CASTIM, p.4).

    3 ZILBERMAN, Regina. A formao da leitura no Brasil, p.18.

  • 22

    baseados na sua aquisio e compreenso.

    As dificuldades apresentadas pelos alunos, quando chegam ao nvel de 3 grau,

    no Brasil, so alarmantes no s no ato de leitura mas, tambm, quanto ao ato de produo

    de textos. Teriam os educadores que atuam na rea da linguagem conscincia de que a

    formao lingstica pode ser vista sob um aspecto mais cientfico e menos idealizante?

    A dificuldade na apreenso da estrutura de um texto est sendo evidenciada

    cada vez mais em todos os nveis educacionais e so necessrias medidas para uma

    tentativa de reverter esse processo. A formao do leitor revela dentro das estruturas

    curriculares vigentes que inexiste uma preocupao mais formal projetada sobre a

    formao do prprio educador.

    No Brasil, os estudos e as pesquisas sobre leitura ganharam impulso na dcada

    de 80 e a bibliografia sobre o assunto tem crescido mais em quantidade do que qualidade

    desde ento. Os estudos lingsticos no param de abordar o assunto, alertando sobre a

    questo do fracasso, da falta de competncia e da falta do hbito de ler e a maior carga de

    responsabilidade recai sobre a escola, tida como reprodutora de fracasso ao longo desses

    anos.

    ... Nada mais comum do que a experincia da leitura e nada mais ignorado. Encarou-se o problema da leitura sob dois pontos de vista diferentes: um leva em conta os leitores na sua diversidade histrica ou social, coletiva ou individual; e outro, a imagem do leitor tal como ela se acha representada em alguns textos: o leitor como personagem ou ento como narratrio, mas um domnio permanece inexplorado, o da lgica da leitura que no representada no texto e que, no entanto, anterior diferena individual. 4

    submetendo o texto a um tipo particular de leitura que se constri, a partir

    dele, um universo imaginrio. O texto no imita a realidade, ele a cria e a perspectiva de

    construo permite-nos compreender o funcionamento do texto representativo.

    Na leitura de um texto, para que se possa construir um universo imaginrio,

    preciso primeiramente que este texto seja, em si mesmo, referencial; no momento em que

    ele lido deixa-se a imaginao trabalhar, filtrando a informao recebida.

    4 TODOROV, Tzvetan. Os gneros do discurso, p.83.

  • 23

    Aps ter construdo os acontecimentos que compem uma histria, o leitor

    entrega-se a um trabalho de reinterpretao que lhe permite construir os caracteres e o

    sistema de idias e valores subjacentes ao texto. Essa reinterpretao no arbitrria;

    controlada por duas sries de coero.

    A primeira srie de coero est no prprio texto: basta que o autor ensine a

    interpretar os acontecimentos que evoca. A segunda srie provm do contexto cultural, que

    nada mais so do que os lugares comuns de uma sociedade que se modificam com o

    tempo, o que permite explicar a diferena de interpretao dada a alguns textos do passado.

    O texto ficcional toma a construo como tema simplesmente porque

    impossvel evocar a vida humana sem mencionar este processo essencial. Cada

    personagem obrigada a construir os fatos e as personagens que a cercam, a partir das

    informaes que recebe; nisso ela paralela ao leitor, que constri o universo imaginrio a

    partir de suas prprias informaes e assim a leitura torna-se um dos temas do livro.

    Para assumir de vez a parte que lhe cabe nesse processo de ensinar a ler, a

    escola precisa, antes de tudo, compreender o que leitura. A porcentagem de leitores

    revela hoje, nas sociedades industrializadas, o grau de democracia.

    Leitura e Cultura representam duas atividades complementares, ligadas a dois deveres intelectuais precpuos do crtico, nunca dissociados de uma obrigao moral. Cultura leitura sedimentada, decantao da leitura. Leitura cultura em ao, instrumento de absoro cultural. No h cultura sem leitura. No h leitura sem cultura. Estes so dois deveres, morais e intelectuais que esto numa vizinhana muito significativa e tm de ser exercidos sem nunca permitir uma dissociao qualquer entre eles. Da m leitura provm a falsa cultura e da falsa cultura a crtica inepta e deficiente. 5

    As pesquisas na rea da Lingstica Aplicada poderiam dar sua contribuio se

    assumissem um envolvimento mais produtivo com a questo do ato de leitura. A presena

    do pesquisador em uma escola, se realmente comprometido, com as questes do processo

    de ensino-aprendizagem, poderia provocar mudanas.

    E este objetivo da pesquisa, o de criar condies para reverter o quadro deste

    tipo de deficincia, atravs da aplicao dos mapas conceituais no contexto do ato de

    leitura.

    Ningum se torna leitor sem querer, mas sim por intermdio de um processo

    voluntrio, apoiado em mltiplas tomadas de conscincia sobre as condutas de leitura e a

    5 ATHAYDE, Tristo. Teoria, crtica e histria literria, p.189.

  • 24

    maneira de aprender (Foucambert, 1989). Da a complexidade do processo, visto que

    implica esforo coletivo, de estmulos externos e internos do sujeito aprendiz e do uso de

    procedimentos adequados.

    Tornar-se leitor significa ter acesso aos escritos sociais, sabendo encontrar os

    significados onde eles esto. Normalmente o aluno- leitor no usa o mapa conceitual

    porque no recebeu orientaes sobre a importncia do seu potencial lingstico e sua

    projeo na descoberta da leitura do texto. No caso desta pesquisa, tem-se as intenes de

    detalhar o valor do mapa e as conseqncias que o seu uso correto traz para uma melhor

    compreenso do que seria Ler ou Produzir conhecimento dentro de um texto. A crise no

    ensino da linguagem advm do fato de que o professor no conhece o valor do protocolo

    de leitura e muito menos ouviu referncias ao uso do mapa conceitual.

    O mapa conceitual uma prtica sugerida para que se vena a crise no ensino

    da linguagem, pois atravs dele que se estabelecem as relaes entre o conceito no ato da

    leitura e interpretao do texto. Isso exige reflexo e assim o aluno aprende a administrar a

    linguagem e adequ- la de acordo com o significado e conseqentemente construir o seu

    prprio conhecimento.

    A interpretao est presente em toda e qualquer manifestao da linguagem, no h sentido sem interpretao, mas interessante ainda pensar os diferentes gestos de interpretao, uma vez que as diferentes linguagens, ou as diferentes formas de linguagem, com suas diferentes materialidades, significam de modos distintos. (Orlandi, 1998:9)

    No momento de produzir o mapa conceitual de um texto literrio o aluno deve

    fazer uso da linguagem e construir um universo imaginrio. A obra literria, objeto de

    nossa anlise, no imita a realidade mas a cria, e nessa perspectiva a linguagem evidencia

    essa criao produzida pela interpretao verbal, o que propicia a intercompreenso6

    Tristo de Athayde apresenta em sua obra Teoria, crtica e histria literria

    oito tipos de leitura:

    1. leitura por obrigao;

    2. leitura para passar o tempo;

    3. leitura sem entender;

    4. leitura de ocasio;

    5. leitura atravessada;

    6 (Geraldi, p. 67, 1998)

  • 25

    6. leitura de edificao;

    7. leitura por estudo;

    8. leitura por amor.

    Em casa e na escola, crianas e jovens continuam resistentes leitura dos

    textos escritos, principalmente os literrios. Quando lem, no vo alm da superficial

    decodificao. Poucos conseguem fazer alm de uma parfrase do texto. Construir o sentido,

    fazer uma leitura polissmica, ento, s privilgio de uma minoria. H uma minoria de

    acadmicos que no apresenta dificuldade quanto leitura e produo de conhecimento.

    Conhecer a histria de leitura de sujeitos leitores poderia ajudar na formao de novos

    leitores, tanto na escola quanto fora dela. Neste trabalho a histria de leitura seria

    evidenciada pela comparao entre a situao inicial e final dos sujeitos que nela estariam

    envolvidos para demonstrao de que leitura inicial, feita sem o uso do mapa conceitual,

    foi menos formativa do que a realizada com a aplicao deste conceito. Relegar escola o

    papel exclusivo de formadora intelectual da juventude no um procedimento sensato,

    pois desenvolver o gosto pela leitura se torna um ato to trabalhoso e requer tanta

    dedicao que seria necessria uma completa reformulao do currculo e dos enfoques

    sobre alfabetizao. Por isso, foi no 3 grau que se desenvolveu a aplicao do mapa

    conceitual com os acadmicos sendo orientados a extrarem as palavras chaves e a

    elaborarem sua associao com as demais e que os orientariam para possveis aes dos

    textos que visassem apreender a pragmtica do texto.

    Trabalhou-se com o lxico e com a estrutura da ao da narrativa de

    determinados contos escolhidos. Foi solicitado um diagrama7 que ilustrou a presena das

    palavras-chaves e sua ligao com outras dentro do contexto. Demonstrou-se de que

    maneira o desenvolvimento de linguagem importante para que o aluno reconhecesse que

    fundamental observar as palavras-chaves e em que sentido elas se associam num campo

    semntico e em que medida o campo semntico poderia ser um instrumental para tornar a

    leitura do texto mais hermenutica e atingir a melhor realizao do mapa conceitual.

    A semntica contempornea caracteriza-se por um interesse marcado pelas relaes entre a linguagem e o pensamento. J no se considera a linguagem como um mero instrumento de expresso dos nossos pensamentos, mas sim como uma influncia especial, que os molda e pr-

    7 Diagrama (Dicionrio Aurlio, p.584 - verbete): [Do gr. Digrama, pelo lat. diagramma] S.m. 1. Representao grfica de determinado fenmeno. Determinao da disposio dos espaos a serem ocupados pelos elementos de livro, jornal, cartaz, anncio e etc. de forma precisa.

  • 26

    determina, dirigindo-os para vias especficas. Estas idias, que j eram importantes na teoria dos campos semnticos, ganharam um novo impulso com os escritos de Whorf sobre o assunto e que despertaram na Amrica um grande interesse. Seus estudos preocupavam-se mais com a gramtica do que com o vocabulrio, mas na semntica que se verifica mais claramente a influncia da linguagem sobre o pensamento, e, alguns resultados prometedores foram conseguidos neste campo. 8

    A Semntica ocupa-se de uma larga variedade de fenmenos que se encontram

    e que tm um ponto comum: todos eles so signos que representam qualquer outra coisa, e

    que sugerem o que quer que seja para alm deles prprios.

    Dentre a vasta multiplicidade de signos empregados na comunicao humana

    est a prpria linguagem, tanto falada como escrita. Mas a linguagem , sem dvida, a

    forma mais importante e mais articulada da expresso simblica, e por isso ocupa uma

    posio de relevo em qualquer teoria dos signos.

    Deve haver uma identidade entre a linguagem e literatura (enquanto esta for

    uma espcie de veculo privilegiado da narrativa).

    ... no mais possvel conceber a literatura como uma arte que se desinteressa de toda relao com a linguagem, j que a usa como um instrumento para exprimir a idia, a paixo ou a beleza: a linguagem no cessa de acompanhar o discurso estendendo-lhe o espelho de sua prpria estrutura: a literatura, singularmente hoje em dia, no cria uma linguagem das prprias condies da linguagem. 9

    A teoria da aprendizagem significativa poderia ser denominada aprendizagem

    verbal significativa porque Ausubel considera a linguagem como importante facilitador da

    aprendizagem significativa.

    O primeiro captulo deste trabalho mostra o enfoque de como vem caminhando

    a prtica pedaggica nas escolas brasileiras e como os professores podem melhorar a

    qualidade do ensino de um modo geral, pondo em prtica novas metodologias para o

    desenvolvimento da competncia lingstica. O segundo captulo evidencia a teoria da

    aprendizagem significativa de David Ausubel, que um referencial terico que pode ser

    adequado s mais diversas situaes trabalhadas em sala de aula, se tornando uma

    metodologia recomendvel ao aprimoramento do ensino. O terceiro captulo apresenta as

    decises e os procedimentos metodolgicos adotados para a realizao desta proposta e no

    quarto, os dados coletados e anlise evidenciando que a produo do conhecimento

    8 ULMANN, Stephen. Semntica, p.22-23. 9 Anlise Estrutural da Narrativa (Introduo Anlise Estrutural da Narrativa) Roland Barthes, p.24, 3 ed. Ed. Vozes, 1973.

  • 27

    depende de cada um, mas enfatizando de uma ao contnua e desde que haja a adoo

    dessa metodologia, certamente a aprendizagem significativa acontecer. A concluso

    avalia as situaes em que aconteceram os usos do mapa conceituais em atividades de

    leitura literrios.

  • 28

    CAPTULO I - A CONTRIBUIO DA TEORIA

    DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

    DE DAVID P. AUSUBEL PARA O ENSINO

    5. ENSINO E A REALIDADE NO CAMPO DA EDUCAO ATUALMENTE

    Quando se pensa na complexidade de tudo o que ocorre na escola, percebemos

    a multiplicidade de relaes em que esto envolvidos o ensinar e o aprender. No tarefa

    simples procurar entender o cotidiano da escola, j que nele esto envolvidas as relaes

    econmicas e materiais, sociais e institucionais, relaes entre contedos e mtodos de

    ensino, crenas, concepes, teorias. H uma diversidade de fatores que faz com que a

    educao escolar seja objeto do interesse e de pesquisas de vrias cincias, principalmente

    a Psicologia. Esta uma cincia que estuda o homem, por isso ocupa-se de uma variedade

    de temas: afetividade, desenvolvimento da criana, a velhice, a aprendizagem, as relaes

    sociais e institucionais, a deficincia mental, as relaes de trabalho, a sade mental e

    outros. Considerando que o papel social da escola definido pelo processo de

    transmisso/assimilao do conhecimento, as contribuies da Psicologia prtica

    pedaggica so aquelas que podem lanar luz sobre alguns aspectos do ensinar e

    aprender. Cabe ento Escola trabalhar sempre orientando-se pela Psicologia para que a

    prtica pedaggica se efetive com sucesso e garanta a real aprendizagem significativa.

    Constantemente questiona-se como o ser humano aprende. E a resposta de que se

    aprende fazendo, mas quando se trata do aprendizado da criana temos a idia de que a

    aprendizagem sempre se relaciona ao seu desenvolvimento, j que aprendizagem e

  • 29

    desenvolvimento so processos inter-relacionados. Quando uma criana aprende

    determinado contedo, ela amadureceu ou atingiu certa idade, isto o testemunho de que

    se est subordinando a aprendizagem ao desenvolvimento dessa mesma criana. Mas do

    ponto de vista Vygotskyano, esse aprendizado ocorre levando-se em conta a interao

    homem/sociedade.

    O desenvolvimento cognitivo no pode ser entendido sem referncia ao

    contexto social, histrico e cultural em que ocorre (Vygotsky, 1998, p.168). Os processos

    mentais superiores (pensamento, linguagem, comportamento voluntrio) tm origem em

    processos sociais. O desenvolvimento cognitivo a converso de relaes sociais em

    funes mentais. Nesse processo toda relao/funo aparece duas vezes, primeiro em

    nvel social e depois em nvel individual. A aprendizagem significativa (abordagem

    Vygotskyana) envolve a aquisio/construo de significados.

    Para Ausubel a aquisio de significados transforma o significado lgico em

    significado psicolgico, mas Vygotsky afirma que a transformao anloga

    internalizao de instrumentos e signos. Os materiais de aprendizagem so os instrumentos

    e signos no contexto de uma certa matria de ensino.

    A atribuio de significados s novas informaes por interao com

    significados claros e diferenciados que j existem na estrutura cognitiva no de imediato,

    exigem troca de significados, negociao de significados. Vygotsky afirma que, no mtodo

    tradicional, com as aulas expositivas o professor no parte do princpio de que o aluno j

    tem um subsunor10 e que se houver interao vai ocorrer a aprendizagem significativa.

    Ausubel no contra a aula expositiva, desde que ela no seja nica forma de ensinar,

    porque alm de desmotivar o aluno, no d oportunidade para que ele construa o seu

    aprendizado. Ausubel acredita que o ser humano tem grande capacidade de aprender sem

    ter que descobrir. Aprender por recepo no instantneo e exige o intercmbio de

    significados. Novas informaes, novos significados so dados diretamente ao aprendiz,

    mas ele no constri a sua aprendizagem significativa. Quando o aprendiz elabora o mapa

    conceitual na anlise do texto ele pe em prtica a leitura por estudo. Ler por estudo ler

    analisando, decompondo o texto em suas partes para melhor penetrar as intenes

    10 (1) A palavra subsunor no existe em portugus; trata-se de uma tentativa de aportuguesar a palavra inglesa subssumer (inseridor, facilitador, subordinador). (2) Idia (conceito ou proposio) mais ampla, que funciona como subordinador de outros conceitos na estrutura cognitiva e como ancoradouro no processo de assimilao. Como resultado dessa interao (ancoragem), o prprio subsunor modificado e diferenciado (MASINI, Moreira. Aprendizagem significativa , p.104).

  • 30

    profundas.11

    atravs do uso da linguagem no ato da leitura que se faz a decomposio do

    texto e se produz o mapa conceitual.

    Aprender a ler eficazmente constitui um dilema: difcil ler palavras e frases quando tm pouco ou nenhum significado e, no entanto, a leitura um meio muito til de aprender significados. Ento, como romper este ciclo vicioso? Como adquirir o significado sem ler primeiro um texto e como ler um texto que tem para ns pouco sentido? Os mapas conceituais podem ajudar-nos a resolver a situao.12

    Sim, esse processo pode se tornar concreto a partir do momento em que ocorre

    a teoria proposta por Vygotsky de que pela interao social que o ser humano desenvolve

    os atos da linguagem e mesmo que o texto tenha pouco sentido para o leitor, no momento

    em que ocorre a interao ele passa a ter de resolver essa situao e conseqentemente

    construir o mapa conceitual.

    Novak (1984:65): prope que:

    Aps ler o texto fcil voltar atrs e rodear os conceitos ou proposies chave e depois construir com eles um mapa no qual os conceitos se apresentam ordenados hierarquicamente. A elaborao de um mapa conceitual permite-nos identificar os conceitos chave e reformar de uma maneira resumida os principais pontos de um texto. A organizao hierrquica do mapa conceitual modela o significado das idias que o texto contm de modo a que encaixem numa estrutura que permite recordar facilmente as idias essenciais do texto e rever a informao que se apresenta nele.13

    Reiteramos, entretanto, a importncia da linguagem no ato da aprendizagem

    significativa, porque a aquisio do conhecimento na matria de ensino depende da aprendizagem

    verbal e da aprendizagem simblica e a teoria da aprendizagem verbal significatica pode contribuir

    para a melhoria desta atividade.

    Pela elaborao do mapa conceitual possvel solicitar ao leitor qual o tema do texto

    trabalhado, segundo a sua interpretao.

    Os mapas conceituais so instrumentos poderosos para observar as alteraes de signif icado que um estudante d aos conceitos que esto includos no seu mapa. Quando os mapas conceituais so conscientemente elaborados, revelam extraordinariamente bem a organizao cognitiva dos estudantes.14

    11 ATHAYDE, T. A esttica literria. P.111. 12 Aprender a aprender, Joseph D. Novak e D. Bob Growin, p.59. 13 Aprender a aprender, Joseph D. Novak e D. Bob Growin, p.65. 14 Aprender a aprender, Joseph D. Novak e D. Bob Growin, p.51.

  • 31

    A linguagem torna-se importante na aprendizagem significativa; a aquisio do

    conhecimento na matria de ensino depende da aprendizagem verbal e da aprendizagem simblica.

    a teoria da aprendizagem verbal significativa.

    6. A CRISE NO SISTEMA EDUCACIONAL

    Sabe-se que h uma perda de prestgio, associada alterao do papel tradicional, e de

    passar conhecimento, dos professores no meio profissional de ensino fundamental e mdio j no

    pertencem elite social das cidades, cujo recrutamento no passa apenas por critrios escolares.

    A verdade que os professorem no souberam substituir estas imagens-fora por

    novas representaes profissionais.15

    Os professores constituem um dos mais numerosos grupos profissionais das

    sociedades contemporneas, o que, por vezes, dificulta a melhoria do seu estatuto socioeconmico.

    Toda gente conhece um ou outros professor que no investe na sua profisso, que no possui as

    competncias mnimas, que procura no fazer o menos possvel. O professorado no seu conjunto

    penalizado pela existncia destes casos, que a prpria profisso no tem maneira de resolver: os

    colegas esto amarrados por uma solidariedade muitas vezes deslocada; os diretores das escolas

    recusam-se a intervenes susceptveis de serem consideradas autoritrias; os sindicatos so

    supostos defensores dos interesses de todos os seus membros; etc. Nesse sentido, parece

    fundamental dotar a profisso docente dos mecanismos de seleo e de diferenciao, que

    permitam basear a carreira docente no mrito e na qualidade .16

    No fundo, o que est em discusso a possibilidade de um desenvolvimento

    profissional (individual e coletivo), que crie as condies para que cada um defina os ritmos e os

    percursos da sua carreira e para que o conjunto dos professores projete o futuro desta profisso e

    reconquiste novas energias e fontes de prestgio.

    Ainda baseada nessa informao, sabe-se que, tambm, a Universidade brasileira no

    cumpre, hoje, algumas funes sociais que so suas e intransferveis, em parte por suas origens, em

    parte pela mutilao que sofreu nos longos anos da era da ditadura militar em nosso pas. Essas

    funes so, por exemplo, a pesquisa aplicada e a formao de professores que precisam ser

    resgatadas para no frustrarem os esforos pela construo democrtica do pas. Neste caso cabe ao

    educador procurar melhorar a sua rea de conhecimento.

    15 Nvoa, , In:Profisso Professor o passado e o presente dos professores, 1992: p. 29-30. 16(Nvoa, , In:Profisso Professor o passado e o presente dos professores, 1992: p.32

  • 32

    de lamentar que a escola, o estudante e o professor sejam pensados como peas

    inertes do sistema. O prprio contedo que se ensina e se aprende, a prpria pratica pedaggica, o

    ambiente educacional, deveriam ser repensados para atingirem uma linguagem nova e realmente

    transformadora da crise que invade o sistema educacional brasileiro. Da a proposta de se trabalhar

    com esta nova prtica que valoriza a reflexo e os conhecimentos armazenados que o aluno detm,

    que o mapa conceitual.

    O professor no deve ser um mero transmissor do conhecimento. possvel pensar o

    professor como agente de transformao da sociedade, na qual no est como gostaria de estar.

    Se o professor tiver competncia tcnica e cientifica na rea de sua especialidade, ele

    ser capaz de interver na prtica do dia-a-dia de sala de aula com o seu saber e deixar de passar

    frmulas que, hoje, o aluno j no aceita passivamente.

    Ao iniciar o trabalho no 3 grau, o profissional observa que os acadmicos

    permanecem com as mesmas falhas conceituais que apresentavam no Ensino Mdio. A melhor

    atitude a tomar comear a fazer leituras que focalizem o processo de ensino e

    aprendizagem e, quanto mais se l, mais questiona-se sobre a prtica educativa. S ento

    percebe-se que a real funo enquanto professores criar condies para que o aluno

    construa a sua prpria aprendizagem e a partir da que se comea a mudar uma prtica.

    Hoje procura-se criar situaes para que o aluno interaja, relacione os novos conceitos com

    aqueles que j conhece e utiliza no seu cotidiano.

    No curso de letras, embora exista a disciplina de Leitura e Produo de Textos,

    h inmeras falhas nas atividades lingsticas dos alunos e isto evidencia que educadores

    no refletem sobre a hiptese de se construir uma metodologia para desenvolvimento de

    linguagem.

    muito amplo o conhecimento acumulado pelo homem ao longo do tempo e

    por isso houve necessidade da criao de uma instituio que se responsabilizasse pelo

    planejamento e orientao da aprendizagem dos conhecimentos essenciais para a

    sobrevivncia fsica e social do cidado. Se a escola for eficiente, vai desempenhar bem a

    funo e o aluno ter nela uma base muito slida para as suas aprendizagens.

    Quando se aprende, percebe-se a assimilao dos contedos e o aluno est

    aprendendo a aprender e quer tornar-se intelectualmente independente. Levando em

    considerao que o aluno- leitor pode evoluir pela aplicao sistmica do mapa conceitual,

    pode o Educador obter condies de demonstrar a que nveis o leitor capaz de chegar no

  • 33

    seu desenvolvimento de linguagem, j que o ensino se faz com a mediao e a interveno.

    Diante da crise de linguagem, em que o aluno no consegue apreender a

    estrutura do texto, propusemos uma pesquisa sobre a utilidade dos mapas conceituais para

    a desconstruo do discurso. Por desconstruo deve-se entender o desempenho do leitor

    em realizar s avessas as mesmas operaes lingsticas que o autor do texto realizou

    para montar o seu texto. Mais do que nunca o ser humano depende do poder lingstico

    que pode lhe facultar a elaborao de conhecimento e uma leitura de mundo mais crtica e

    menos massificante de sua percepo que lhe possibilitaria aprender e compreender melhor

    os meandros dos discursos em que vive.

    7. A TEORIA DE AUSUBEL

    A teoria de Ausubel organiza as idias partindo do conhecimento e das

    experincias prvias dos alunos que so o eixo principal dessa teoria. Ausubel afirma que a

    estrutura cognitiva do indivduo organizada de maneira hierarquizada, na qua l os

    conceitos gerais esto num topo e englobam outros mais especficos e, para haver

    aprendizagem significativa, preciso que o indivduo relacione o novo conceito a ser

    aprendido com outro, j presente na sua estrutura cognitiva. A grande funo do professor

    diagnosticar os conhecimentos prvios dos alunos e, a partir da, ensin-los a gerarem

    novos conhecimentos.

    Deve ser apresentado ao aluno um material potencialmente significativo, o que

    pressupe que o material de aprendizagem por si s pode ser relacionado a qualquer

    estrutura cognitiva apropriada, que possua um sentido lgico, de forma no arbitrria, isto

    sensvel, plausvel e no aleatria e substantiva (no literal) e que as novas informaes

    podem ser relacionadas s idias bsicas relevantes j existentes na estrutura significativa

    do aluno. A interao entre significados potencialmente novos e idias bsicas relevantes

    estrutura cognitiva do aluno d origem a significados reais e psicolgicos. Na medida em

    que cada estrutura cognitiva singular, todos os novos significados so forosamente

    singulares.

    A aprendizagem significativa no sinnima de aprendizagem apenas

    pontecialmente significativo.

    Em segundo lugar, deve haver uma disposio para a aprendizagem

  • 34

    signifcatva.

    uma teoria cognitiva e, como tal, busca explicar teoricamente o processo de

    aprendizagem segundo a tica do cognitivismo. A psicologia da cognio (cognitivismo)

    procura descrever, em linhas gerais, o que sucede quando o ser humano se situa e organiza

    seu mundo. Preocupa-se com o processo da compreenso, transformao, armazenamento

    e uso da informao envolvida na cognio.

    A estrutura cognitiva de um indivduo o complexo organizado resultante dos

    processos cognitivos atravs dos quais se adquire e se utiliza o conhecimento. Para

    Ausubel, novas idias e informaes podem ser aprendidas e retidas na medida em que

    conceitos relevantes e inclusivos estejam adequadamente claros e disponveis na estrutura

    cognitiva do indivduo e sirvam, dessa forma, de ancoradouro a novas idias e conceitos.

    Quando novas informaes adquirem significado para o indivduo atravs da interao

    com conceitos existentes, sendo por esses assimiladas e contribuindo para sua

    diferenciao, elaborao e estabilidade, aprendizagem dita significativa. Segundo os

    cognitivistas, esse tipo de aprendizagem , por excelncia, o mecanismo humano para

    adquirir e reter a vasta quantidade de informaes de um corpo de conhecimentos.

    Consistentemente com esse ponto de vista, Ausubel destaca o processo de aprendizagem

    significativa como o mais importante na aprendizagem.

    A proposta de Ausubel est baseada na suposio de que as pessoas pensam

    com conceitos, o que revela a sua importncia para a aprendizagem. Um conceito

    comunica o significado de alguma coisa. Ele pode ser definido como um termo que

    representa uma srie de caractersticas, propriedades, atributos, regularidades e/ou

    observaes de um objeto, fenmeno ou evento. Para Ausubel, a aquisio, por parte do

    aluno, de um conhecimento claro, estvel e organizado mais do que o principal objetivo

    do ensino em sala de aula ou a principal varivel dependente usada na avaliao da eficcia

    do ensino, pois, uma vez adquirido, esse conhecimento passa ser o principal fator a

    influenciar a aquisio de novos conhecimentos na mesma rea.

    8. O QUE APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA?

    A aprendizagem significativa ocorre quando a informao nova ligada a

    conceitos existentes (conceitos subsunores, ou subsunores, nos termos de Ausubel). De

  • 35

    acordo com a viso de Ausubel, uma nova informao adquirida por aprendizagem

    significativa armazenada de forma um tanto alterada (como produto de assimilao com

    conceitos subsunores) e modifica os subsunores aos quais est ligada.

    A aprendizagem significativa ocorre quando a nova informao ancora-se em conceitos ou proposies relevantes, preexistentes na estrutura cognitiva do aprendiz. Ausubel v o armazenamento de informaes no crebro humano como sendo organizado, formando uma hierarquia conceitual, na qual elementos mais especficos de conhecimento so ligados (e assimilados) a conceitos mais gerais, mais inclusivos. Estrutura cognitiva significa, portanto, uma estrutura hierrquica de conceitos que so representaes de experincias sensoriais do indivduo. 17

    Os conceitos subsunores podem ser substancialmente mais diferenciados em

    um indivduo do que em outro, por isso o mesmo material pode ser aprendido de modo

    muito significativo por uma pessoa e quase que mecanicamente por outra. Notcias sobre a

    descoberta de um neologismo pode ter pouca importncia para um cidado comum, mas

    para um lingista esta notcia se relaciona a todo um conjunto de conceitos, desde o

    conhecimento da etimologia da palavra latina, toda a evoluo at a criao do novo

    vocbulo, seu significado e sua incluso no lxico da Lngua a que pertence.

    Se o conceito de neologismo tivesse de ser aprendido significativamente, o

    aluno deveria ter conceitos disponveis sobre o que um neologismo, quais so os

    processos de formao da palavra, quais so os radicais gregos, latinos e etc. Se no

    quisermos que a definio de neologismo seja aprendida mecanicamente, devemos

    determinar at que ponto os conceitos subsunores necessrios esto presentes e

    desenvolvidos ou diferenciados.

    A idia central na teoria de Ausubel o que ele descreve como aprendizagem

    significativa. Para Ausubel, aprendizagem significativa um processo no qual uma nova

    informao relacionada a um aspecto relevante, j existente, da estrutura de

    conhecimento de um indivduo.

    Sabe-se que a informao armazenada em determinadas regies do crebro e

    que muitas clulas esto envolvidas na armazenagem de unidades de conhecimentos. Uma

    nova aprendizagem resulta em mudanas nas clulas do crebro, mas algumas clulas

    afetadas durante a aprendizagem significativa so as mesmas que j armazenaram

    informao similar nova que est sendo adquirida (Novak, 1981, p. 56).

    17 MOREIRA. Teorias de aprendizagem, p.153.

  • 36

    Na aprendizagem mecnica, a nova informao no se relaciona a conceitos j

    existentes na estrutura cognitiva e, portanto, pouca ou nenhuma interao ocorre entre a

    nova informao adquirida e aquela j armazenada.

    A teoria de Ausubel focaliza, pode-se dizer, a aprendizagem verbal significativa receptiva.Verbal, porque Ausubel considera a linguagem como importante facilitador da aprendizagem significativa. A manipulao de conceitos e proposies aumentada pelas propriedades representacionais das palavras. A linguagem clarifica os significados, tornando-os mais precisos e transferveis. O significado emerge quando estabelecida uma relao entre a entidade e o signo verbal que a representa. A linguagem tem, ento, um papel integral e operacional na teoria e no meramente comunicativo. Receptiva, porque, embora sem negar o valor da descoberta, Ausubel argumenta que a aprendizagem significativa receptiva o mecanismo humano por excelncia, para adquirir e armazenar a vasta quantidade de idias e informaes de qualquer campo de conhecimentos. 18

    A aprendizagem significativa classificada em:

    a. Aprendizagem por representaes: o tipo de aprendizagem adquirida

    pelas crianas aps o nascimento, quando so atribudos nomes aos objetos que elas fitam

    ao acaso, o significado de smbolos unitrios ou palavras que vo formando a estrutura

    cognitiva da criana, que at ento no existia.

    b. Aprendizagem de proposies: o tipo de aprendizagem adquirida quando

    uma idia composta relacionada com idias j existentes na estrutura cognitiva do

    indivduo. Essa relao ser subordinada no momento em que a estrutura cognitiva do

    indivduo tiver conceitos mais gerais e abrangerem as idias mais especficas e ser

    superordenada no caso inverso, isto , quando idias mais gerais, que podero abranger

    vrias idias j estabelecidas na estrutura cognitiva, forem propostas. A relao poder ser

    ainda do tipo combinatria, isto , a nova idia no se relaciona com idias aprendidas

    previamente pelo indivduo e, em conseqncia, so menos perceptveis, mais difceis de

    serem aprendidas e recordadas.

    c. Aprendizagem de conceitos: o tipo de aprendizagem que pode ser

    adquirida de duas formas: a primeira pela formao de conceitos quando o indivduo,

    mais comumente crianas, adquire espontnea e individualmente idias genricas,

    baseadas em experincias concretas (descoberta); segundo tipo a assimilao de

    conceitos que ocorre no momento em que novos significados so apresentados e

    18 MOREIRA. Teorias de aprendizagem, p.163.

  • 37

    relacionados com idias conceituais pr-existentes na estrutura cognitiva.

    Ausubel ainda diferencia as maneiras para se alcanar a aprendizagem

    significativa em aprendizagem por recepo e aprendizagem por descoberta. Na

    aprendizagem por recepo, o contedo a ser aprendido apresentado ao aluno na sua

    forma final e na aprendizagem por descoberta, o contedo a ser aprendido no dado na

    sua forma final, mas deve ser descoberto pelo aluno, ou seja, o ser que aprende deve

    reorganizar um conjunto de informaes e integr-las ao conhecimento que j possui. Esta

    diferena s existe no ponto de partida, pois independente da forma que o contedo

    apresentado, o aprendiz s alcanar a aprendizagem significativa se conseguir relacionar o

    contedo com o que j sabido.

    Com esses princpios, Ausubel defende a aula expositiva como uma boa

    tcnica didtica, desde que no seja nica. O professor dever ter constante preocupao de

    facilitar o relacionamento, pelo aluno, das novas informaes com as idias j presentes na

    sua estrutura cognitiva.

    4.1 AS CONDIES DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

    A essncia do processo de aprendizagem significativa que as idias expressas

    simbolicamente so relacionadas s informaes previamente adquiridas pelo aluno atravs

    de uma relao no arbitrria e substantiva (no literal). Uma relao no arbitrria e

    substantiva significa que as idias so relacionadas a algum aspecto relevante existente na

    estrutura cognitiva do aluno, como por exemplo, uma imagem, um smbolo, um conceito

    ou uma proposio. A aprendizagem significativa pressupe que o aluno manifeste uma

    disposio para a aprendizagem significativa ou seja, uma disposio para relacionar, de

    forma no arbitrria e substantiva, o novo material sua estrutura cognitiva e que o

    material aprendido seja potencialmente significativo principalmente incorporvel sua

    estrutura do conhecimento atravs de uma relao no arbitrria e no literal.

    O trabalho com contos e poesia, material potencialmente significativo para a

    produo de mapas conceituais provocou, no acadmico de Letras, uma disposio para

    relacionar os conceitos aprendidos que eram potencialmente significativos com sua

    estrutura do conhecimento. Da o sucesso obtido nessa nova proposta.

    4.2 TIPO DE APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

    O tipo de aprendizagem significativa mais bsico a aprendizagem

  • 38

    representacional, que implica aprender o significado de smbolos particulares (palavras) ou

    aprender o que eles representam. As palavras particulares de qualquer lngua so

    convenes ou smbolos compartilhados, cada um representando um conceito, uma

    situao ou um objeto unitrio. Quando um indivduo est num estgio mais primitivo de

    desenvolvimento, o significado ou representao de um determinado smbolo algo

    completamente desconhecido para ele, portanto h necessidade dessa aprendizagem por

    parte do falante da lngua.

    Um outro tipo de aprendizagem significativa, que importante na aquisio de

    conhecimento, consiste na formao de conceito. Os conceitos so, tambm, representados

    por smbolos particulares, assim como o so outras formas de unidades referenciais.

    No momento de montar o diagrama do mapa conceitual o aluno recorre a esses

    smbolos particulares que so associados formando todo um contexto. As palavras

    combinam-se, formam sentenas e constituem proposies que representam conceitos e

    no objetos ou situaes, portanto, a aprendizagem proporcional implica, num sentido

    amplo, aprender o significado de uma estrutura gerada pela combinao de palavras

    isoladas numa sentena.

    Na aprendizagem proporcional, a tarefa de aprendizagem significativa no se

    reduz ao aprendizado do que representam as palavras isoladamente ou combinao das

    mesmas, mas ao aprendizado do significado de novas idias expressas de forma

    proporcional.

    5. DE ONDE VM OS SUBSUNRES: FORMAO DE CONCEITOS

    que ocorre o principal processo de aquisio de conceitos. um tipo de

    aprendizagem por descoberta envolvendo formulao e testagem de hipteses, assim como

    generalizao a partir de instncias especficas. Por exemplo, atravs do contato constante

    com cadeiras, crianas mais velhas e adultos, a criana pequena, gradualmente, descobre os

    atributos criteriais que caracterizam estes conceitos e seus rtulos lingsticos. Aps a

    criana ter adquirido um ou dois mil conceitos (reconhecido como o vocabulrio funcional

    da criana) atravs da formao de conceitos, a diferenciao adicional destes e o

    desenvolvimento de novos prossegue atravs da assimilao de conceitos.

  • 39

    As crianas fazem perguntas repetitivas quando tentam aguar sua

    compreenso de conceitos simples e dos rtulos lingsticos apropriados. Em idade

    escolar, a criana tem uma estrutura conceitual adequada para permitir a ocorrncia da

    aprendizagem receptiva significativa e a maioria dos novos conceitos adquirida atravs

    de assimilao de conceitos, diferenciao progressiva e reconciliao integrativa.

    Novak um dos autores que tem aperfeioado a Teoria da Aprendizagem

    proposta por David Ausubel para que seja aplicada em salas de aula e sugeriu a utilizao

    de mapas conceituais como instrumento para promover a reconciliao integrativa e a

    diferenciao progressiva.

    No princpio da diferenciao progressiva, as idias mais gerais e inclusivas

    devem ser apresentadas em primeiro lugar e, a partir delas, serem progressivamente

    diferenciadas at s idias menos inclusivas. Tal sugesto fcil de ser entendida, j que

    tem a ver com o tipo de organizao hierrquica percebida por Ausubel na estrutura

    cognitiva dos indivduos, ou seja, se percebe em Ausubel, a preocupao de que o aluno

    tenha disponvel na sua estrutura cognitiva, aquelas idias mais amplas que podero

    incluir, abranger idias mais concretas (Ronca, 1978:67). No segundo princpio, o da

    reconciliao integrativa, exige-se do professor um esforo em mostrar semelhanas e

    diferenas entre o contedo novo e o que o aluno j sabe. H uma extenso da Teoria da

    Assimilao de Ausubel: Organizao Lgica versus Psicolgica.

    O significado psicolgico idntico ao significado real ou fenomenolgico. O

    significado lgico depende somente da natureza do material, por exemplo, durante os

    sculos, a afirmativa de que a terra era achatada foi considerada tanto lgica quanto vlida,

    mas sabemos que esta proposio no valida.

    Alguns livros de textos passam dos conceitos gerais para especficos, de um

    modo geral o procedimento usado raramente timo para a diferenciao progressiva ou

    para o aumento da reconciliao integrativa. A maioria dos professores e livros de textos

    seguem uma ordem lgica ao invs de psicolgica. Uma boa organizao lgica pode

    colocar, em um nico lugar, toda a informao relevante a um conceito e, naquele mesmo

    lugar, toda a informao importante para elementos subordinados a este conceito. Um livro

    de histria, por exemplo, pode, atravs da organizao cronolgica, ajudar os alunos a

    relembrar datas em que ocorreram eventos na histria e isso tem alguma lgica, mas

    sequenciar, progressivamente, a instruo para desenvolver conceitos de sistemas

  • 40

    econmicos e organizaes polticas pode ajudar os alunos a aprender importantes

    conceitos scio-histricos.

    Uma das razes por que estudantes bem sucedidos continuam a ter sucesso

    que eles dominaram uma organizao psicolgica. Naturalmente, esta habilidade deve ser

    valorizada, mas como conduzir o ensino para que ela possa ser alcanada? Um argumento

    em favor da aprendizagem por investigao ou descoberta o de que os alunos aprendem a

    aprender. Alguns aprendem. Se compreendssemos mais claramente o processo envolvido

    na diferenciao progressiva de conceitos e sua reconciliao integrativa, provavelmente,

    poderamos planejar bons programas para ensinar habilidades de pesquisa.

    6. QUEM JOSEPH NOVAK?

    Sempre houve uma angstia muito grande por alguns professores das diversas

    matrias, por no encontrarem uma teoria da aprendizagem e educao abrangente que lhes

    oferecesse uma base consistente para explicar seus sucessos e orientar seu trabalho dirio.

    Joseph Novak encontrou isto na teoria de aprendizagem desenvolvida por David Ausubel;

    uma teoria que muito mais do que modificao de comportamento ou condicionamento e

    mais claramente relevante aprendizagem inquisitiva, desenvolvimento de conceitos e

    soluo de problemas.

    Aps estudos de vrias teorias como de Jerome Bruner e outros identificou-se

    atravs de uma crescente convico de que a teoria de Ausubel teoria da aprensizagem

    significatica era um modelo convincente de aprendizagem para guiar a educao.

    Um ponto forte da teoria de Ausubel reside no fato de que ela permite a

    integrao de muitas observaes sobre a aprendizagem que no fazem meno teoria de

    Ausubel, afirmando que muitos psiclogos da aprendizagem no deram ao trabalho de

    entender esta teoria. Complementa ainda que o estilo bastante montono de Ausubel falar

    em pblico pouco ajudou a despertar interesse pelas suas idias. Por isso, especula-se sobre

    a posio que ocuparia a teoria de Ausubel na educao se ele tivesse o carisma de um

    ator, o humor e as habilidades retricas de Jerome Brumer ou B. F. Skinner.19

    Ausubel e outros pesquisadores (Lyon Jones,B. English) demonstraram que a

    aprendizagem significativa no ocorre da mesma maneira que a aprendizagem mecnica.

    19 (Novak, 1981:55)

  • 41

    Quando conceitos relevantes no existem, na estrutura cognitiva de um

    indivduo, novas informaes tm que ser aprendidas mecanicamente. Na aprendizagem

    mecnica, a nova informao no se relaciona a conceitos j existentes na estrutura

    cognitiva e, portanto, pouca ou nenhuma interao ocorre entre a nova informao

    adquirida e aquela j armazenada. O bom professor ajuda o formando a ir para alm da

    aprendizagem por memorizao, discutindo significados com este (NOVAK, 1998:15)

    Novak passou muitos anos testando a relevncia e a aplicabilidade dos

    conceitos mais importantes a suas observaes e seu trabalho como professor. Os

    resultados convenceram este intelectual de que a teoria era uma formulao segura e

    abrangente, til para professores de vrias matrias, e no apenas para as cincias. Por isso

    preocupados com os resultados do ensino, decidiu-se aplicar essa teoria de aprendizagem

    ao ato de leitura literria, fazendo com que o acadmico aplicasse os novos conceitos aos j

    existentes j que agora tem-se uma poderosa teoria de aprendizagem cognitiva para

    orientar toda uma atividade de pesquisa e esforos em ensino, conseqentemente

    melhorando a aprendizagem de conceitos. Infelizmente as escolas esto longe de usar seu

    potencial para auxiliar os alunos a adquirir conceitos proveitosos e, desta forma, atitudes

    mais positivas em relao a si mesmos e a outras pessoas. Pode-se tomar medidas positivas

    e especficas para melhorar a aprendizagem conceitual, pois dispe-se de uma teoria

    suficiente para orientar esse trabalho.

    Na execuo desses dois princpios de reconciliao integrativa e diferenciao

    progressiva, sugerida por Novak, como estratgia pedaggica a utilizao de

    organizadores prvios.

    O organizador prvio um material introdutrio apresentado antes do material

    a ser aprendido, por, em nvel mais alto de generalidade, inclusividade e abstrao do que

    o material tem em si , explicitamente, relacionado s idias relevantes existentes na

    estrutura cognitiva e tarefa de aprendizagem.

    Destina-se a facilitar a aprendizagem significativa, servindo de ponte entro o

    que o aprendiz j sabe e o que ele precisa saber para que possa aprender o novo material de

    maneira significativa. uma espcie de ponte cognitiva. 20

    20 (Moreira, M.A. Masinie E. F., 1982, p. 104)

  • 42

    7. O QUE UM MAPA CONCEITUAL?

    um esquema grfico usado para representar a estrutura bsica de partes do

    conhecimento sistematizado, representado pela rede de conceitos e proposies relevantes

    do conhecimento. Isto significa que uma determinada estrutura inerente ao conhecimento

    sistematizado, e que a mesma pode ser analisada e reorganizada de acordo com certos

    princpios e com os fins a que se destina.

    Novak e colaboradores utilizaram os mapas conceituais em pesquisas

    longitudinais, objetivando verificar como os significados de conceitos, em estudantes

    individuais mudam com o tempo. Os pesquisadores analisaram as mudanas dos contedos

    de organizao retratados nos mapas conceituais de alunos, enfatizando o processo de

    construo e originalidade da construo individual.

    Para a elaborao dos mapas conceituais, houve a orientao cognitiva voltada

    para a aprendizagem verbal atravs da teoria da aprendizagem significativa de David

    Ausubel.

    A forma e representao do mapa conceitual dependem dos conceitos e das

    relaes includas, de como os conceitos so representados, relacionados e diferenciados e

    do critrio usado para organiz-los. Portanto, mapas conceituais so diagramas

    hierrquicos indicando os conceitos e as relaes entre esses conceitos.

    Esses diagramas procuram refletir a organizao conceitual de uma disciplina

    ou parte de uma disciplina, de um livro, de um artigo, de um experimento de laboratrio,

    da estrutura cognitiva de um indivduo sobre um dado assunto, de uma obra ou de uma

    outra fonte ou rea de conhecimentos qualquer. Ou seja, sua existncia derivada da

    estrutura conceitual de uma fonte de conhecimentos.

    Em princpio, esses diagramas podem ter uma, duas, trs ou mais dimenses.

    Mapas unidimensionais so apenas listas de conceitos que tendem a apresentar uma

    organizao vertical. Embora simples, tais diagramas do apenas uma viso grosseira da

    organizao conceitual de uma fonte de conhecimentos. Mapas bidimensionais, por outro

    lado, tiram partido no s da dimenso vertical mas tambm da horizontal e, portanto,

    permitem uma representao mais completa das relaes entre os conceitos, por meio de

    linhas que os ligam. Obviamente, mapas com um maior nmero de dimenses permitiriam

    uma representao ainda melhor dessas relaes e possibilitariam a incluso de outros

  • 43

    fatores que afe tam a estrutura conceitual da fonte. Entretanto, mapas bidimensionais so

    mais simples e mais familiares. Alm disso, mapas com mais de trs dimenses no mais

    seriam representaes concretas de estruturas conceituais e sim abstraes matemticas de

    limitada utilidade para fins educacionais (Moreira e Masini, p.46). Esta afirmativa

    contraria os resultados da pesquisa em questo da qual discorda-se inteiramente.

    No desenvolvimento deste trabalho vo ser apresentados resultados

    surpreendentes de leitores que produziram mapas no s tri, mas quadrimensionais

    revelando representaes extremamente concretas e no complexas das estruturas

    conceituais e com ampla utilidade para fins educacionais. Para Moreira e Masini21, os

    mapas bidimensionais fornecem uma representao menos elementar das estruturas

    conceituais que os unidimensionais e so menos complexos do que os mapas com trs ou

    mais dimenses. Essas so as razes principais da preferncia pelo modelo bidimensional.

    Assim sendo, daqui para frente mapas conceituais devem ser entendidos como

    diagramas bidimensionais, tridimensionais e quadridimensionais que procuram mostrar

    conceitos hierarquicamente organizados e suas relaes com a fonte de conhecimentos.

    Mapas conceituais podem ser traados para toda uma disciplina, para uma

    subdisciplina, para um tpico especfico de uma disciplina, para um artigo, para um

    experimento de laboratrio e assim por diante. Existem vrias maneiras de traar um mapa

    conceitual, isto , existem diferentes modos de mostrar os conceitos e suas relaes num

    diagrama. Alm disso, mapas conceituais traados por diferentes especialistas numa

    mesma rea provavelmente refletiro algumas diferenas em compreenso e interpretao

    das relaes entre os conceitos bsicos dessa rea. O ponto importante que um mapa

    conceitual deve ser sempre visto como um mapa conceitual e no o mapa conceitual de

    um conjunto de conceitos. Ou seja, qualquer mapa conceitual deve ser visto como apenas

    uma das possveis representaes de uma certa estrutura conceitual.22

    Embora sejam concebveis mapas conceituais diferentes dentro de uma mesma

    rea de conhecimentos, devido s diferenas individuais da estrutura cognitiva dos autores

    e da prpria forma de representar essa rea em um mapa, isso no significa que todos os

    mapas possveis sejam plenamente aceitveis. provvel que alguns poucos possam ser

    21 MOREIRA, M. A., MASINI. E. F. Aprendizagem significativa. A teoria de David Ausubel. P. 45-46, Ed. Moreira, 1982. So Paulo. 22 MOREIRA, M. A., MASINI. E. F. Aprendizagem significativa. A teoria de David Ausubel. P. 46, Ed. Moreira, 1982. So Paulo.

  • 44

    julgados como os que melhor representam a estrutura conceitual da rea de interesse e,

    portanto, mais aceitveis do que outros. Bem mais difcil ou arbitrrio selecionar um

    nico mapa como o melhor ou o mais apropriado dentre os aceitveis.

    Mapas conceituais podem tambm lembrar diagramas de fluxo, mas esses

    implicam em seqncia de operaes e no de conceitos e tm um componente temporal

    no existente nos mapas conceituais. As hierarquias e agrupamentos conceituais nada tm

    a ver com as seqncias de operaes de um diagrama de fluxo. Mapas conceituais tm a

    ver com relaes significativas entre conceitos na forma de proposies.

    O mapa conceitual um tipo de instrumento que organiza os conceitos de uma

    forma hierarquizada, do mais abrangente para o menos abrangente, num plano

    unidimensional, bidimensional, tridimensional ou quadridimensional e que permite ao

    estudante perceber as inter-relaes entre os conceitos que j so conhecidos e os que

    devem ser aprendidos. Segundo Novak, representam as relaes significativas entre os

    conceitos, em forma de proposies.

    O mapa conceitual de grande auxlio para a promoo da aprendizagem

    significativa porque direciona a ateno de quem o elabora para as idias relevantes de um

    determinado tema, as quais podero ser organizadas num resumo esquemtico. No que

    tange ao seu uso no ato de leitura literria colocamos a seguinte hiptese: como seu usurio

    poder, sem perder a relao proporcional, reorganizar os conceitos referentes ao tema de

    diferentes formas?

    A reflexo subjacente elaborao e reelaborao do mapa possibilitar que

    professores e alunos e tambm alunos entre si compartilhem a pesquisa sobre os

    significados do texto. Poder, ainda, o mapa conceitual, evidenciar as concepes

    equivocadas, desencadeando uma negociao dos significados e um estabelecimento de

    relaes entre os conhecimentos novos e os prvios mais significativos. Os mapas

    conceituais deveriam ser usados por professores de diversas matrias para que alunos

    conseguissem ler e interpretar todo tipo de texto, superando assim as possveis dificuldades

    que porventura venham apresentando at ento nessas prticas.

    8. O QUE ORGANIZADOR PRVIO?

    Quando publicou seu primeiro trabalho (1960), Ausubel recomendou o uso de

  • 45

    organizadores prvios, os quais descreveu como mais gerais, mais abstratos e mais

    inclusivos do que o material de aprendizagem subseqente. Organizadores prvios

    (unidades lexicais) deveriam servir de ancoradouro na estrutura cognitiva, para o novo

    conhecimento. Se conceitos relevantes no estivessem disponveis na estrutura cognitiva, o

    organizador prvio serviria para ancorar novas aprendizagens e levar ao desenvolvimento

    de um conceito subsunor que facilitasse a aprendizagem subseqente. Mas, se conceitos

    adequados estivessem disponveis, organizadores prvios poderiam servir como elementos

    de ligao entre novas aprendizagens e subsunores relevantes especficos. Neste caso,

    organizadores prvios funcionariam como uma ponte cognitiva que permitiria pronta

    ligao entre os subsunores relevantes e o novo material a ser aprendido.

    Porm importante saber que Ausubel nunca afirmou que os organizadores

    prvios facilitariam a aprendizagem de informaes sem significado, e sim que a

    informao subseqente deveria ser potencialmente significativa e que os aprendizes

    deviam apresentar uma disposio para aprender. Por outro lado, medida que se

    acumulou evidncia sobre o valor dos organizadores prvios, tornou-se cada vez mais claro

    que a facilitao de nova aprendizagem , em grande parte, funo da adequao dos

    conceitos existentes na estrutura cognitiva.

    Provavelmente, organizadores prvios funcionam somente na medida em que

    alguns subsunores relevantes existam e que o aprendiz perceba a relao entre estes

    subsunores e as novas informaes.

    Nos mapas conceituais dos contos elaborados pelos acadmicos, os

    organizadores prvios passaram a ser vistos como funcionais somente quando serviram,

    explicitamente, como pontes cognitivas. Estudos sobre Ausubel incluem as seguintes

    ponderaes sobre organizadores:

    Tal como destacado anteriormente, a fundamentao lgica para utilizar organizadores est baseada primordialmente em: a) a importnc ia de ter idias estabelecidas, relevantes e adequadas, j disponveis na estrutura cognitiva, a fim de dar ancoragem estvel e tornar logicamente significativas idias potencialmente significativas; b) as vantagens de usar as idias mais gerais e inclusivas de uma disciplina como idias ncora ou subsunores (a adequao e espedificidade integradora); e c) o fato de que eles, em si mesmos, tentam tanto identificar contedo relevante j existente na estrutura cognitiva (e ser explicitamente relacionada a ele), como indicar explicitamente a relevncia deste contedo, assim como sua prpria relevncia, para a aprendizagem do

  • 46

    novo material. (Novak, 1981:61). Em resumo, a principal funo do organizador preencher o hiato entre o que o aprendiz j sabe e o que ele precisa saber antes que possa aprender, com sucesso, a tarefa com que se defronta. (p.148; itlico de Ausubel) (Novak, 1981:61).

    Novak ressalta que uma orientao que no deve ser deixada de dar aos alunos,

    pelo professor, e deve ser enfatizada na formao de professores de que em um contexto

    amplo, deve-se orientar os estudantes para o estabelecimento de uma disposio para a

    aprendizagem e isso pode influenciar significativamente a maneira pela qual a informao

    internalizada na estrutura cognitiva.

    Um conceito subsunor no um tipo de papel pega-mosca mental no qual a informao fica grudada; o papel de um conceito subsunor na aprendizagem significativa interativo, facilitando a passagem de informaes relevantes atravs de barreiras perceptivas do indivduo e fornecendo ligao entre a nova informao recm-percebida e o conhecimento previamente adquirido. Alm disso, durante esta ligao o conceito subsunor ligeiramente modificado e a informao armazenada tambm um pouco alterada. neste processo interativo entre o material recm-aprendido e os conceitos existentes (subsunores) que est o cerne da teoria da assimilao de Ausubel (Novak, 1981:63).

    O mapa conceitual favorece um jogo intelectual no ato de leitura e vence o

    jogo o leitor que aprender a passar da linguagem unidimensional para a bi, tri ou

    quadridimensional.

    9. DIFERENCIAO PROGRESSIVA E HIERARQUIAS CONCEITUAIS

    medida que se d a aprendizagem significativa, o desenvolvimento e a

    elaborao de conceitos subsunores ocorrem. Do ponto de vista de Ausubel, o

    desenvolvimento de conceitos ocorre da melhor maneira quando os elementos mais gerais,

    mais inclusivos, de um conceito so introduzidos em primeiro lugar e, ento, o conceito

    progressivamente diferenciado em termos de detalhe e especificidade.

    9.1. APRENDIZAGEM SUPEORDENADA

    medida que uma nova informao recebida e relacionada a um conceito na

    estrutura cognitiva (subsuno) este cresce ou torna-se mais diferenciado. A aprendizagem

    superordenada ocorre quando conceitos previamente aprendidos so percebidos como

  • 47

    elementos de um conceito mais amplo, mais inclusivo.

    9.2 RECONCILIAO INTEGRATIVA

    Durante a diferenciao conceitual, novos significados sero adquiridos para

    um ou vrios conceitos.

    O princpio de reconciliao integrativa tambm se aplica quando o assunto

    organizado em linhas paralelas, isto , quando materiais relacionados so apresentados em

    srie mas sem nenhuma dependncia seqencial intrnseca de um tpico a outro. Tambm

    admite que todas as referncias cruzadas necessrias de idias relacionadas podem ser

    desempenhadas pelo alunos. No entanto, so feitos poucos esforos srios no sentido de

    explorar explicitamente relaes entre idias, de assinalar semelhanas e diferenas

    significativas, e de reconciliar inconsistncias reais ou aparentes.

    Portanto, para que a aprendizagem das novas idias no familiares ocorra, as

    idias devem ser adequadamente discriminadas daquelas familiares estabelecidas. Caso

    contrrio, os novos significados sero imbudos de ambigidades, concepes errneas e

    confuses que sero parcialmente ou completamente no existentes de direito prprio. Se,

    por exemplo o aprendiz no pode discriminar entre a nova idia A e a velha idia A, A no

    existe realmente para ele, fenomenologicamente, o mesmo que A. Alm do mais, mesmo

    se o aprendiz puder discriminar entre A e A no momento da aprendizagem, a

    discriminao tem que ser precisa e livre de ambigidade e confuso. Se isto no ocorrer,

    haver uma tendncia de reduzir A a A com o tempo ( medida que as duas idias

    interagem durante o intervalo de reteno), mais rapidamente do que geralmente ocorre.

    (Ausubel; 1981:162)

  • 48

    CAPTULO II - A METODOLOGIA EMPREGADA NO ATO DA

    LEITURA E INTERPRETAO DE TEXTOS

    1. METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS

    O uso do mapa conceitual esteve voltado para operaes globalizadoras na

    busca de uma viso dialtica da realidade textual.

    No incio do trabalho houve a leitura das obras: Teoria da Adaptao Textual,

    Modelagens Lingsticas e Adaptaes, Formao do Leitor e Construo do Imaginrio

    Textual, de Orlando Antunes Batista. Tais obras deram uma orientao a respeito do papel

    do educador como adaptador de textos e a sua contribuio para a formao do leitor. A

    seguir fez-se o estudo de obras produzidas sobre mapas conceituais, teses sobre este

    enfoque que conduziram os passos para o desenvolvimento desta pesquisa. Esse tipo de

    tcnica deveria ser aplicado em todos os nveis escolares inclusive nos Cursos de

    Formao de Professores. Relacionar os novos conceitos com situaes cotidianas, mas

    tendo-se o cuidado de conhecer previamente a realidade dos alunos para que eles possam

    interagir e, conseqentemente, haja o aprendizado.

    Geralmente a inquietao de cada professor est somente relacionada a que o

    aluno aprenda o contedo que depois ser reproduzido no dia da avaliao.

    As aulas de leitura e interpretao de texto, nas escolas brasileiras, nada

    contribuem para o enriquecimento da linguagem do aluno, fazendo com que ele passe a ler

    e entender melhor o texto selecionado e se torne um leitor capaz de pensar criticamente.

    .. parece irrelevante, quando se discutem os problemas relativos formao do leitor ou crise de leitura, sugerir didticas ou textos de que

  • 49

    o professor pode se socorrer se quiser mostrar mais competncia no exerccio de suas funes docentes. 23

    Independente do tema trabalhado fica evidente a necessidade de o aluno usar

    ativamente a aprendizagem significativa na elaborao do novo conhecimento. Os mapas

    conceituais, enfocados no presente trabalho, tornam-se relevantes por poderem ser

    utilizados pelos professores de toda a rea de Letras na leitura e interpretao de textos e,

    pelos alunos, nas trs etapas que caracterizam a construo do seu conhecimento: sncrese,

    anlise e sntese.

    Foi feito um levantamento dos nveis da linguagem usual do acadmico,

    atravs de testes de anlise de narrativas que foram aplicados no 2 semestre de 1999, ao

    longo de 18 encontros, num total de 32 horas/aula, tendo como sujeitos os alunos do 3

    ano, do curso de Letras, no perodo noturno.

    Os passos iniciais seguidos para o desenvolvimento dos trabalhos foram os

    seguintes:

    1. Seleo de textos;

    2. Leitura de contos;

    3. Insero do mapa conceitual no ato de leitura:

    3.1 Procedimentos para elaborao do mapa.

    4. Realizao do mapa conceitual: Conto A Cartomante, de Machado de

    Assis, no Pr-teste. De acordo com o resultado os alunos foram classificados em fortes,

    mdios e fracos. Os fortes obtiveram nota A, os mdios B e os fracos C, D e E nas

    avaliaes dos mapas.

    5. Elaborao dos mapas conceituais: O Enfermeiro (Machado de Assis), Feliz

    Aniversrio (Clarice Lispector) e o Elo Partido (Otto Lara Resende) e a poesia A Noite

    Dissolve os Homens (Carlos Drummond de Andrade).

    5.1. Insero do mapa no protocolo de leitura.

    6. Redao de um texto crtico sobre a metodologia, partindo do uso dos mapas

    conceituais para demonstrar o nvel de compreenso da tcnica e as vantagens ou

    desvantagens de sua aplicao.

    23 ZILBERMANN, Regina LAJOLO, Marisa. A formao da leitura no Brasil, p.19.

  • 50

    Quando algum fala que o discurso se d como evento uma verdade. O texto

    um ato de fala e por isto espao que se sujeita a uma interpretao:

    Algo acontece quando algum fala. Esta noo de discurso como evento impe-se desde que levemos em considerao a passagem de uma lingstica da lngua ou do cdigo a uma lingstica do discurso ou da mensagem. A distino tem sua origem, como se sabe, em Ferdinand de Saussure e em Louis Hjelmslev. O primeiro distingue a lngua e a fala; o segundo distingue o esquema e o uso. 24

    A lingstica estrutural coloca entre parnteses a fala e o uso, a teoria do

    discurso suspende o parntese e afirma que existem duas lingsticas, com base em leis

    diferentes.

    Benveniste aprofundou a efetuao da linguagem como discurso. Para ele, a

    lingstica do discurso e a lingstica da lngua se constroem sobre unidades diferentes. Se

    o signo (fonolgico e lrico) a unidade de base da lngua, a frase a unidade de base do

    discurso. a lingstica da frase que suporta a dialtica do evento e do sentido, de onde

    parte a teoria do texto e nela teria incio a construo do mapa.

    O evento consiste no fato de algum falar, de algum se exprimir tomando a

    palavra. O discurso ainda evento quando os signos da linguagem s remetem a outros

    signos, no interior do mesmo sistema.

    Nos mapas conceituais h portanto um discurso a respeito de algo, h

    referncia a um mundo descrito, expresso ou representado. H a vinda linguagem de um

    mundo mediante o discurso organizado por um diagrama ou mapa conceitual.

    Se todo discurso efetuado como evento, todo discurso compreendido como

    significao e o que queremos compreender a significao que permanece e no o

    evento. O discurso se ultrapassa, enquanto evento, na significao.

    Austin e Searle afirmam que o ato de discurso constitudo por uma hierarquia

    de atos subordinados, em trs nveis:

    1. Nvel do ato locucionrio ou proposicional: ato de dizer;

    2. Nvel do ato ilocucionrio: aquele que fazemos ao dizer;

    3. Nvel do ato perlocucionrio: aquilo que fazemos pelo fato de falar.

    O ato locucionrio se exterioriza nas palavras ou frases enquanto proposio

    durante a elaborao da mapa conceitual. Mas o ato locucionrio tambm pode ser

    exteriorizado atravs dos paradigmas gramaticais e de outros procedimentos que marcam

    24 RICOEU, Paul. Interpretao e ideologias, p.45.

  • 51

    a fora ilocucionria do termo permitindo identific- lo ou reidentific- lo. J a ao

    perlocucionria aquilo que, no discurso, o menos discurso. o discurso enquanto

    estmulo. Nesse caso o discurso age pelo interlocutor, pela influncia direta sobre as

    emoes e as disposies afetivas do interlocutor.

    O mapa conceitual insere-se nos nveis 2 e 3, do ato ilocucionrio e no ato

    perlocucionrio respectivamente, porque o momento em que estes aspectos do ato do

    discurso so codificados e regulados segundo paradigmas; na medida em que podem ser

    identificados como possuindo a mesma significao.

    G. G. Granger em seu Ensaio de uma filosofia de estilo escreve:

    A prtica a atividade considerada com seu contexto complexo e, especialmente, com as condies sociais que lhe do significao num mundo efetivamente vivido. O trabalho , assim, uma das estruturas da prtica, seno sua estrutura principal: a atividade prtica objetivando-se em obras. 25

    A partir do momento em que o leitor penetra no mundo da obra literria, ele foi

    capaz de assimilar a sua complexibilidade e torn- la prtica, associando-a s condies

    sociais que sero encarregadas de dar significao atravs da contextualizao de

    situaes. Assim o aluno- leitor ao produzir o mapa conceitual j extraiu do contexto as

    palavras-chave que representaro a complexibilidade que se tornara prtica no diagrama

    tecido com esses conceitos, distribudos horizontal e verticalmente.

    O modo de estruturao do mapa conceitual revela uma preferncia a outro,

    uma produo individual, designa o estilo de seu autor. Esse autor mais que locutor: o

    arteso em obra de linguagem que trabalha com a categoria da interpretao, no sentido em

    que contempornea da significao da obra como um todo. Portanto os acadmicos, em

    cada produo de mapas conceituais, se individualizaram produzindo mapas individuais.

    Graas escrita, o mundo do texto pode fazer explodir o mundo do autor.

    Tudo o que verdadeiro das condies psicolgicas, tambm o das condies

    sociolgicas da produo do texto. O importante que a obra transcenda suas prprias

    condies psicossociolgicas de produo e que se abra a uma seqncia ilimitada de

    leituras, mesmo situadas em contextos scio-culturais diferentes. Ento o texto deve poder,

    tanto do ponto de vista sociolgico quanto do psicolgico, descontextualizar-se de maneira

    a deixar-se recontextualizar numa nova situao: o que justamente faz o ato de ler.

    25 GRANGER, G.G. Essai dune philosophie, p.6.

  • 52

    Nesta dissertao so apresentados mapas conceituais de contos e de um

    poema. bom frisar que um conto e um poema no existem sem referente. este referente

    que estabelece uma ruptura com o da linguagem quotidiana.

    Pela fico, pela poesia, abrem-se novas possibilidades do ser-no-mundo na realidade quotidiana. Fico e poesia visam ao ser, mas no mais sob o modo do ser-dado, mas sob a maneira de poder-ser. Sendo assim, a realidade quotidiana se metamorfoseia em favor daquilo que poderamos chamar de variaes imaginativas que a literatura opera sobre o real26

    Atravs das leituras propostas aos acadmicos, observou-se a descoberta da

    fico e da realidade, e sobretudo a metamorfose da realidade pela arte. Houve momentos

    da leitura dos contos em que os leitores evidenciaram situaes concretas, vivenciadas por

    pessoas de seu convvio como se a fico tivesse sido operada sobre o real no momento de

    selecionar as palavras-chave e associar aos conceitos escolhidos.

    Diz-se que texto a mediao pela qual o leitor compreende-se a si mesmo.

    Entra em cena a sua subjetividade, j que o texto um discurso dirigido a algum. um

    discurso institudo pela prpria obra que se d a seus leitores e cria, para si, sua prpria

    subjetividade. Ocorre ento o problema da apropriao ou da aplicao do texto situao

    presente do locutor.

    Aquilo de que o leitor se apropria uma proposio de mundo que no se

    encontra atrs do texto, mas diante dele, como aquilo que a obra desvenda, descobre,

    revela. Ao produzir o mapa conceitual o acadmico compreendeu-se diante do texto, no

    impondo ao texto sua prpria capacidade finita de compreender, mas expondo-se ao texto e

    colocando nele uma proposio27 de mundo.

    Os alunos relacionam o significado das palavras chaves com os conceitos que

    devem ser aprendidos atravs do conto lido e em seguida eles constroem novas relaes e,

    com isto, adquirem autonomia para estabelecerem diagramas sobre o lxico daquele texto,

    demonstrando as novas associaes feitas no contexto lido.

    A anlise dos resultados foi feita comparando os resultados do pr-teste com os

    do ps-teste, destacando-se o desempenho daquele grupo de alunos que foram

    considerados de pior desempenho no pr-teste, para verificar a hiptese de que os alunos

    mais deficientes so os maiores beneficiados por um mtodo que prioriza a construo do

    26 RICOEU, Paul. Interpretao e ideologias, p.57. 27 Proposio (Dicionrio Aurlio, p.1650 - verbete): 1. Ato ou efeito de propor. 2. Aquilo que se prope; proposta. S. assunto que vai ser discutido ou assero que vai ser defendida.

  • 53

    conhecimento pelo prprio aluno.

    Tambm foram analisados os dados resultantes da auto avaliao que os alunos

    fizeram, refletindo sobre o prprio desempenho sobre o desenvolvimento da tcnica do

    mapa conceitual.

    A pesquisa sobre o uso dos mapas conceituais no desenvolvimento do ato de

    leitura literria tem uma abordag