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CLLIA ANDRADE DE PAULA
O USO DE MAPAS CONCEITUAIS NO ATO DE LEITURA LITERRIA: UMA ANLISE DAS
SNTESES SEMITICAS DE ALUNOS DO ENSINO SUPERIOR
UNIVERSIDADE CATLICA DOM BOSCO CAMPO GRANDE MS
2002
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CLLIA ANDRADE DE PAULA
O USO DE MAPAS CONCEITUAIS NO ATO DE
LEITURA LITERRIA: UMA ANLISE DAS
SNTESES SEMITICAS DE ALUNOS
DO ENSINO SUPERIOR
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
Graduao - Mestrado em Educao da Universidade
Catlica Dom Bosco, como parte dos requis itos para
obteno do grau de Mestre em Educao.
rea de Concentrao: Educao Escolar e Formao de Professores Orientadora: Professora Dra. Helena Farias de Barros e co-orientao do Professor Dr. Orlando Antunes Batista.
UNIVERSIDADE CATLICA DOM BOSCO CAMPO GRANDE MS
2002
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O USO DE MAPAS CONCEITUAIS NO ATO DE LEITURA LITERRIA: UMA
ANLISE DAS SNTESES SEMITICAS DE ALUNOS DO ENSINO SUPERIOR
CLLIA ANDRADE DE PAULA
BANCA EXAMINADORA:
Prof Dr Helena Faria de Barros
Prof. Dr. Orlando Antunes Batista
Prof. Dr. Ivan Russeff
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DEDICATRIA
Aos meus pais
Elecina e Jos, razes slidas
Ao Valdir, meu esposo, o presente
s minhas filhas, Georgette Beatriz e Ktia Regina, o futuro.
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AGRADECIMENTOS A todos aqueles que contriburam direta ou indiretamente para que mais esse passo fosse
dado;
A meus familiares, que souberam compreender a minha ausncia;
Aos meus amigos e irmos, que me deram total apoio nos momentos de ansiedade e
desnimo;
Aos professores do curso de mestrado pela conscientizao da necessidade de fazer
emergir novos paradigmas da educao;
Ao prof. Dr. Orlando Antunes Batista, o co-orientador, o amigo pela pacincia e
compreenso.
A Dr Helena Faria de Barros pela dedicao, segurana e competncia ao conduzir a
orientao.
UNIDERP pela confiana e oportunidade.
Em especial.....
Aos alunos do 3 ano do curso de Letras da UNIDERP-1999, que possibilitaram a
realizao desta pesquisa, desenvolvendo as atividades propostas para que este estudo
fosse efetivado.
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Ningum liberta ningum, ningum se
liberta sozinho, os homens se libertam em
comunho.
Paulo Freire.
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PAULA, Cllia Andrade de. O uso de mapas conceituais no ato de leitura literria: uma anlise das snteses semiticas de alunos do ensino superior. Campo Grande, 2002, 128 p. Dissertao (Mestrado). Universidade Catlica Dom Bosco.
RESUMO Esta dissertao tem como objetivo investigar as possveis contribuies dos mapas conceituais como facilitadores da aprendizagem significativa aos alunos. Como procedimento metodolgico fez-se a seleo de narrativas curtas dos autores Machado de Assis, Clarice Lispector, Otto Lara Rezende, assim como poemas de Carlos Drummond de Andrade para que os acadmicos, do 3 ano do Curso de Letras da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Regio do Pantanal UNIDERP, lessem e analisassem fazendo uso das snteses semiticas que os alunos produziram no momento em que entraram em contato com cada texto lido. Posteriormente, houve a inter-relao das snteses semiticas produzidas pelos alunos com o que de novo os textos apresentavam. Isso ocorreu atravs de uma reflexo dos fatos e aes apresentadas em cada contexto para que se efetivasse o trabalho de leitura e anlise dos contos e poesias, a fim de que os acadmicos reconhecessem os ncleos de interesse atravs do uso do mapa conceitual com o que de novo os textos apresentavam a fim de que os alunos reconhecessem os ncleos de interesse atravs de uso do mapa conceitual e dirigissem a ateno no ato de leitura para a montagem da lgica da leitura literria. Os textos literrios foram desestruturados em suas partes fundamentais com o intuito de conhec- los nos componentes que os organizavam, fazendo com que as metforas do texto tendessem lgica da leitura, embora estivessem em linguagem conotativa. No se encontrou a pura denotao , mas dela os leitores se aproximaram para que o contedo pudesse ser explicitado e revelasse a lgica da construo da leitura. Os estudos dos contos e poemas foram organizados com o auxlio dos mapas conceituais e discutidos a partir de conceitos j conhecidos pelos acadmicos, e os desconhecidos foram alvo de pesquisa em dicionrios onomsticos para que aprofundassem os usos dos conceitos literrios. Os resultados apresentados entre o pr-teste e o ps-teste foram bastante significativos e a anlise qualitativa do processo demonstrou que houve um avano nas snteses semiticas dos leitores, medida que desenvolviam as atividades de leitura. O que se constatou de modo geral foi a mudana de postura do acadmico no tocante s avaliaes, s atividades em classe e extra-classe quando eles passaram a ser agentes de sua prpria aprendizagem e mais conscientes sobre a funo do processo ensino e aprendizagem.
PALAVRAS-CHAVE: mapa conceitual, snteses semiticas, aprendizagem significativa.
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PAULA, Cllia Andrade de. O uso de mapas conceituais no ato de leitura literria: uma anlise das snteses semiticas de alunos do ensino superior. Campo Grande, 2003, 128 p.. Dissertao (Mestrado). Universidade Catlica Dom Bosco.
ABSTRACT
This paper has as objective investigating the possible contributions of the conceptual maps as meaningful learning facilitators to the students. As methodological procedure a selection of short narratives from the writers Machado de Assis, Clarice Lispector, Otto Lara Rezende was done, as well as poems from Carlos Drummond de Andrade to the academics, from the 3 year of the Language Arts Course from the Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Regio do Pantanal UNIDERP, would read and analyze them making use of their semiotical syntheses. Later than, there was an inter-relation of the semiotical syntheses with the novelties the texts presented so the students would recognize the nucleus of interests by using conceptual maps and would focus the attention in the reading act to the mounting of the literary reading logic. The literary texts were separated into their fundamental parts with the intention of knowing them in the components that organized them, so the text metaphors would tend to the reading logic, although they were in connotative language. The pure denotation was not found, but the readers got close to it, allowing the content to be expressed and would reveal the building reading logic. The studies of the narratives and poems were organized with the assistance of conceptual maps and discussed from the concepts already known by the academics, and the unknown concepts were targets of research in onomastic dictionaries so the use of the literary concepts were deepened. The results presented between the pre-test and the pos-test were very meaningful and the qualitative analyses of the process showed that there was an advance in the semiotical syntheses, while the reading activities were developed. What was noticed in a general way was the change in the academics posture regarding the evaluations, class and extra-class activities when they started being agents of their own learning and more conscious about their function in the process of teaching and learning.
KEYWORD: conceptual maps, semiotical syntheses, meaningful learning.
SUMRIO
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INTRODUO ............................................................................................................... 11
CAPTULO I: A CONTRIBUIO DA TEORIA DA APRENDIZAGEM
SIGNIFICATIVA DE DAVID P. AUSUBEL PARA O ENSINO .................... 18
1. Ensino e a realidade no campo da educao atualmente ............................................ 18
2. A Crise no Sistema Educacional ............................................................................... 21
3. A Teoria de Ausubel................................................................................................. 23
4. O que aprendizagem significativa........................................................................... 25
4.1.As condies da aprendizagem significativa ........................................................ 27
4.2.Tipo de aprendizagem significativa ................................................................... 28
5 De onde vm os subsunores: formao de conceitos................................................ 29
6 Quem Joseph Novak ?............................................................................................... 30
7 O que um mapa conceitual? ................................................................................... 32
8 O que organizador prvio? ........................................................................................ 35
9 Diferenciao progressiva e hierarquias conceituais ..................................................... 37
9.1 Aprendizagem supeordenada ............................................................................... 37
9.2 Reconciliao Integrativa ..................................................................................... 37
CAPTULO II: A METODOLOGIA EMPREGADA NO ATO DA LEITURA
E INTERPRETAO DE TEXTOS ................................................................... 38
1. Metodologia e procedimentos ..................................................................................... 38
2. A metodologia dominante no processo de formao de leitor....................................... 43
3. Desenvolvimento da atividade de produo de mapas conceituais ................................ 46
3.1 Seleo dos textos ............................................................................................... 46
4. Anlise das atividades elaboradas pelos acadmicos ............................................... 48
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CAPTULO III: O DESENVOLVIMENTO DO GRUPO MEDIANTE A
APLICAO DO MAPA CONCEITUAL..................................................... 66
1. Desenvolvimento das atividades de anlise dos textos ................................................. 66
1.1 Anlise comparativa dos resultados do pr-teste ao ps-teste ............................ 79
1.2 O desenvolvimento surpreendente dos alunos considerados pouco produtivos
no dia-a-dia de sala de aula ................................................................................ 104
1.3 O rendimento dos alunos mais fracos na produo dos mapas conceituais ....... 104
2. Mudana de postura dos alunos aps o conhecimento dessa prtica ........................... 111
CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................ 113
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................................. 122
ANEXOS ........................................................................................................................... 126
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INTRODUO
Literatura a expresso, pela palavra escrita, dos contedos da fico oriundos
do imaginrio do autor.
Desde que nasce, o homem l o mundo a sua volta e age de acordo com essa
leitura. Ler1 uma atividade consciente ou inconsciente que faz parte da condio humana.
A leitura tem uma dimenso semitica2:
... o texto torna-se o intermdio entre o sujeito e o mundo. E embora tenha condies de represent-lo de modo mais eficiente e sinttico, ele inevitavelmente provoca suspenso da experincia direta, assim como a suspeita para com ela. Em outras palavras, embora a obra escrita, de um lado signifique a possibilidade de o indivduo se integrar ao meio e melhor compreend-lo, de outro, ela estimula a renncia ao contato material e concreto, denegrindo as qualidades desse, ao negar-lhe os atributos de plenitude e totalidade. Transmuta-se na mediadora entre o indivduo e sua circunstncia, e decifr-la quer dizer tomar parte na objetividade que deu lugar sua existncia. Por isso, ler passa a significar igualmente viver a realidade por intermdio do modelo de mundo transcrito no texto. 3
Os dois ltimos sculos privilegiaram a escrita, pois a sociedade moderna
passou a ser pontuada por registros escritos. Saber ler esses registros condio
fundamental para fazer parte dessa sociedade, participar e usufruir dos bens culturais. A
escola, criada pela burguesia para atender as suas necessidades de expanso comercial e
manuteno do poder, tambm elegeu a escrita e estabeleceu critrios de promoo
1 Leitura cultura em ao, instrumento de absoro cultural. No h cultura sem leitura. No h leitura sem cultura... Da m leitura provm a falsa cultura e da falsa cultura a crtica inpta e deficiente (ATHAYDE Tristo. Teoria, crtica e Histria Literria, 1980, MEC, 1 ed. Pag. 189) 2 Semitica: tem como objeto estudar a vida dos signos no seio da vida social. O ser humano no se comunica, somente, atravs de signos orais e escritos. Existem outros sistemas de signos como os gestos, as placas de sinalizao, as notas musicais... tarefa da semitica interpret-los (CASTIM, p.4).
3 ZILBERMAN, Regina. A formao da leitura no Brasil, p.18.
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baseados na sua aquisio e compreenso.
As dificuldades apresentadas pelos alunos, quando chegam ao nvel de 3 grau,
no Brasil, so alarmantes no s no ato de leitura mas, tambm, quanto ao ato de produo
de textos. Teriam os educadores que atuam na rea da linguagem conscincia de que a
formao lingstica pode ser vista sob um aspecto mais cientfico e menos idealizante?
A dificuldade na apreenso da estrutura de um texto est sendo evidenciada
cada vez mais em todos os nveis educacionais e so necessrias medidas para uma
tentativa de reverter esse processo. A formao do leitor revela dentro das estruturas
curriculares vigentes que inexiste uma preocupao mais formal projetada sobre a
formao do prprio educador.
No Brasil, os estudos e as pesquisas sobre leitura ganharam impulso na dcada
de 80 e a bibliografia sobre o assunto tem crescido mais em quantidade do que qualidade
desde ento. Os estudos lingsticos no param de abordar o assunto, alertando sobre a
questo do fracasso, da falta de competncia e da falta do hbito de ler e a maior carga de
responsabilidade recai sobre a escola, tida como reprodutora de fracasso ao longo desses
anos.
... Nada mais comum do que a experincia da leitura e nada mais ignorado. Encarou-se o problema da leitura sob dois pontos de vista diferentes: um leva em conta os leitores na sua diversidade histrica ou social, coletiva ou individual; e outro, a imagem do leitor tal como ela se acha representada em alguns textos: o leitor como personagem ou ento como narratrio, mas um domnio permanece inexplorado, o da lgica da leitura que no representada no texto e que, no entanto, anterior diferena individual. 4
submetendo o texto a um tipo particular de leitura que se constri, a partir
dele, um universo imaginrio. O texto no imita a realidade, ele a cria e a perspectiva de
construo permite-nos compreender o funcionamento do texto representativo.
Na leitura de um texto, para que se possa construir um universo imaginrio,
preciso primeiramente que este texto seja, em si mesmo, referencial; no momento em que
ele lido deixa-se a imaginao trabalhar, filtrando a informao recebida.
4 TODOROV, Tzvetan. Os gneros do discurso, p.83.
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Aps ter construdo os acontecimentos que compem uma histria, o leitor
entrega-se a um trabalho de reinterpretao que lhe permite construir os caracteres e o
sistema de idias e valores subjacentes ao texto. Essa reinterpretao no arbitrria;
controlada por duas sries de coero.
A primeira srie de coero est no prprio texto: basta que o autor ensine a
interpretar os acontecimentos que evoca. A segunda srie provm do contexto cultural, que
nada mais so do que os lugares comuns de uma sociedade que se modificam com o
tempo, o que permite explicar a diferena de interpretao dada a alguns textos do passado.
O texto ficcional toma a construo como tema simplesmente porque
impossvel evocar a vida humana sem mencionar este processo essencial. Cada
personagem obrigada a construir os fatos e as personagens que a cercam, a partir das
informaes que recebe; nisso ela paralela ao leitor, que constri o universo imaginrio a
partir de suas prprias informaes e assim a leitura torna-se um dos temas do livro.
Para assumir de vez a parte que lhe cabe nesse processo de ensinar a ler, a
escola precisa, antes de tudo, compreender o que leitura. A porcentagem de leitores
revela hoje, nas sociedades industrializadas, o grau de democracia.
Leitura e Cultura representam duas atividades complementares, ligadas a dois deveres intelectuais precpuos do crtico, nunca dissociados de uma obrigao moral. Cultura leitura sedimentada, decantao da leitura. Leitura cultura em ao, instrumento de absoro cultural. No h cultura sem leitura. No h leitura sem cultura. Estes so dois deveres, morais e intelectuais que esto numa vizinhana muito significativa e tm de ser exercidos sem nunca permitir uma dissociao qualquer entre eles. Da m leitura provm a falsa cultura e da falsa cultura a crtica inepta e deficiente. 5
As pesquisas na rea da Lingstica Aplicada poderiam dar sua contribuio se
assumissem um envolvimento mais produtivo com a questo do ato de leitura. A presena
do pesquisador em uma escola, se realmente comprometido, com as questes do processo
de ensino-aprendizagem, poderia provocar mudanas.
E este objetivo da pesquisa, o de criar condies para reverter o quadro deste
tipo de deficincia, atravs da aplicao dos mapas conceituais no contexto do ato de
leitura.
Ningum se torna leitor sem querer, mas sim por intermdio de um processo
voluntrio, apoiado em mltiplas tomadas de conscincia sobre as condutas de leitura e a
5 ATHAYDE, Tristo. Teoria, crtica e histria literria, p.189.
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maneira de aprender (Foucambert, 1989). Da a complexidade do processo, visto que
implica esforo coletivo, de estmulos externos e internos do sujeito aprendiz e do uso de
procedimentos adequados.
Tornar-se leitor significa ter acesso aos escritos sociais, sabendo encontrar os
significados onde eles esto. Normalmente o aluno- leitor no usa o mapa conceitual
porque no recebeu orientaes sobre a importncia do seu potencial lingstico e sua
projeo na descoberta da leitura do texto. No caso desta pesquisa, tem-se as intenes de
detalhar o valor do mapa e as conseqncias que o seu uso correto traz para uma melhor
compreenso do que seria Ler ou Produzir conhecimento dentro de um texto. A crise no
ensino da linguagem advm do fato de que o professor no conhece o valor do protocolo
de leitura e muito menos ouviu referncias ao uso do mapa conceitual.
O mapa conceitual uma prtica sugerida para que se vena a crise no ensino
da linguagem, pois atravs dele que se estabelecem as relaes entre o conceito no ato da
leitura e interpretao do texto. Isso exige reflexo e assim o aluno aprende a administrar a
linguagem e adequ- la de acordo com o significado e conseqentemente construir o seu
prprio conhecimento.
A interpretao est presente em toda e qualquer manifestao da linguagem, no h sentido sem interpretao, mas interessante ainda pensar os diferentes gestos de interpretao, uma vez que as diferentes linguagens, ou as diferentes formas de linguagem, com suas diferentes materialidades, significam de modos distintos. (Orlandi, 1998:9)
No momento de produzir o mapa conceitual de um texto literrio o aluno deve
fazer uso da linguagem e construir um universo imaginrio. A obra literria, objeto de
nossa anlise, no imita a realidade mas a cria, e nessa perspectiva a linguagem evidencia
essa criao produzida pela interpretao verbal, o que propicia a intercompreenso6
Tristo de Athayde apresenta em sua obra Teoria, crtica e histria literria
oito tipos de leitura:
1. leitura por obrigao;
2. leitura para passar o tempo;
3. leitura sem entender;
4. leitura de ocasio;
5. leitura atravessada;
6 (Geraldi, p. 67, 1998)
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6. leitura de edificao;
7. leitura por estudo;
8. leitura por amor.
Em casa e na escola, crianas e jovens continuam resistentes leitura dos
textos escritos, principalmente os literrios. Quando lem, no vo alm da superficial
decodificao. Poucos conseguem fazer alm de uma parfrase do texto. Construir o sentido,
fazer uma leitura polissmica, ento, s privilgio de uma minoria. H uma minoria de
acadmicos que no apresenta dificuldade quanto leitura e produo de conhecimento.
Conhecer a histria de leitura de sujeitos leitores poderia ajudar na formao de novos
leitores, tanto na escola quanto fora dela. Neste trabalho a histria de leitura seria
evidenciada pela comparao entre a situao inicial e final dos sujeitos que nela estariam
envolvidos para demonstrao de que leitura inicial, feita sem o uso do mapa conceitual,
foi menos formativa do que a realizada com a aplicao deste conceito. Relegar escola o
papel exclusivo de formadora intelectual da juventude no um procedimento sensato,
pois desenvolver o gosto pela leitura se torna um ato to trabalhoso e requer tanta
dedicao que seria necessria uma completa reformulao do currculo e dos enfoques
sobre alfabetizao. Por isso, foi no 3 grau que se desenvolveu a aplicao do mapa
conceitual com os acadmicos sendo orientados a extrarem as palavras chaves e a
elaborarem sua associao com as demais e que os orientariam para possveis aes dos
textos que visassem apreender a pragmtica do texto.
Trabalhou-se com o lxico e com a estrutura da ao da narrativa de
determinados contos escolhidos. Foi solicitado um diagrama7 que ilustrou a presena das
palavras-chaves e sua ligao com outras dentro do contexto. Demonstrou-se de que
maneira o desenvolvimento de linguagem importante para que o aluno reconhecesse que
fundamental observar as palavras-chaves e em que sentido elas se associam num campo
semntico e em que medida o campo semntico poderia ser um instrumental para tornar a
leitura do texto mais hermenutica e atingir a melhor realizao do mapa conceitual.
A semntica contempornea caracteriza-se por um interesse marcado pelas relaes entre a linguagem e o pensamento. J no se considera a linguagem como um mero instrumento de expresso dos nossos pensamentos, mas sim como uma influncia especial, que os molda e pr-
7 Diagrama (Dicionrio Aurlio, p.584 - verbete): [Do gr. Digrama, pelo lat. diagramma] S.m. 1. Representao grfica de determinado fenmeno. Determinao da disposio dos espaos a serem ocupados pelos elementos de livro, jornal, cartaz, anncio e etc. de forma precisa.
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determina, dirigindo-os para vias especficas. Estas idias, que j eram importantes na teoria dos campos semnticos, ganharam um novo impulso com os escritos de Whorf sobre o assunto e que despertaram na Amrica um grande interesse. Seus estudos preocupavam-se mais com a gramtica do que com o vocabulrio, mas na semntica que se verifica mais claramente a influncia da linguagem sobre o pensamento, e, alguns resultados prometedores foram conseguidos neste campo. 8
A Semntica ocupa-se de uma larga variedade de fenmenos que se encontram
e que tm um ponto comum: todos eles so signos que representam qualquer outra coisa, e
que sugerem o que quer que seja para alm deles prprios.
Dentre a vasta multiplicidade de signos empregados na comunicao humana
est a prpria linguagem, tanto falada como escrita. Mas a linguagem , sem dvida, a
forma mais importante e mais articulada da expresso simblica, e por isso ocupa uma
posio de relevo em qualquer teoria dos signos.
Deve haver uma identidade entre a linguagem e literatura (enquanto esta for
uma espcie de veculo privilegiado da narrativa).
... no mais possvel conceber a literatura como uma arte que se desinteressa de toda relao com a linguagem, j que a usa como um instrumento para exprimir a idia, a paixo ou a beleza: a linguagem no cessa de acompanhar o discurso estendendo-lhe o espelho de sua prpria estrutura: a literatura, singularmente hoje em dia, no cria uma linguagem das prprias condies da linguagem. 9
A teoria da aprendizagem significativa poderia ser denominada aprendizagem
verbal significativa porque Ausubel considera a linguagem como importante facilitador da
aprendizagem significativa.
O primeiro captulo deste trabalho mostra o enfoque de como vem caminhando
a prtica pedaggica nas escolas brasileiras e como os professores podem melhorar a
qualidade do ensino de um modo geral, pondo em prtica novas metodologias para o
desenvolvimento da competncia lingstica. O segundo captulo evidencia a teoria da
aprendizagem significativa de David Ausubel, que um referencial terico que pode ser
adequado s mais diversas situaes trabalhadas em sala de aula, se tornando uma
metodologia recomendvel ao aprimoramento do ensino. O terceiro captulo apresenta as
decises e os procedimentos metodolgicos adotados para a realizao desta proposta e no
quarto, os dados coletados e anlise evidenciando que a produo do conhecimento
8 ULMANN, Stephen. Semntica, p.22-23. 9 Anlise Estrutural da Narrativa (Introduo Anlise Estrutural da Narrativa) Roland Barthes, p.24, 3 ed. Ed. Vozes, 1973.
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depende de cada um, mas enfatizando de uma ao contnua e desde que haja a adoo
dessa metodologia, certamente a aprendizagem significativa acontecer. A concluso
avalia as situaes em que aconteceram os usos do mapa conceituais em atividades de
leitura literrios.
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CAPTULO I - A CONTRIBUIO DA TEORIA
DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
DE DAVID P. AUSUBEL PARA O ENSINO
5. ENSINO E A REALIDADE NO CAMPO DA EDUCAO ATUALMENTE
Quando se pensa na complexidade de tudo o que ocorre na escola, percebemos
a multiplicidade de relaes em que esto envolvidos o ensinar e o aprender. No tarefa
simples procurar entender o cotidiano da escola, j que nele esto envolvidas as relaes
econmicas e materiais, sociais e institucionais, relaes entre contedos e mtodos de
ensino, crenas, concepes, teorias. H uma diversidade de fatores que faz com que a
educao escolar seja objeto do interesse e de pesquisas de vrias cincias, principalmente
a Psicologia. Esta uma cincia que estuda o homem, por isso ocupa-se de uma variedade
de temas: afetividade, desenvolvimento da criana, a velhice, a aprendizagem, as relaes
sociais e institucionais, a deficincia mental, as relaes de trabalho, a sade mental e
outros. Considerando que o papel social da escola definido pelo processo de
transmisso/assimilao do conhecimento, as contribuies da Psicologia prtica
pedaggica so aquelas que podem lanar luz sobre alguns aspectos do ensinar e
aprender. Cabe ento Escola trabalhar sempre orientando-se pela Psicologia para que a
prtica pedaggica se efetive com sucesso e garanta a real aprendizagem significativa.
Constantemente questiona-se como o ser humano aprende. E a resposta de que se
aprende fazendo, mas quando se trata do aprendizado da criana temos a idia de que a
aprendizagem sempre se relaciona ao seu desenvolvimento, j que aprendizagem e
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desenvolvimento so processos inter-relacionados. Quando uma criana aprende
determinado contedo, ela amadureceu ou atingiu certa idade, isto o testemunho de que
se est subordinando a aprendizagem ao desenvolvimento dessa mesma criana. Mas do
ponto de vista Vygotskyano, esse aprendizado ocorre levando-se em conta a interao
homem/sociedade.
O desenvolvimento cognitivo no pode ser entendido sem referncia ao
contexto social, histrico e cultural em que ocorre (Vygotsky, 1998, p.168). Os processos
mentais superiores (pensamento, linguagem, comportamento voluntrio) tm origem em
processos sociais. O desenvolvimento cognitivo a converso de relaes sociais em
funes mentais. Nesse processo toda relao/funo aparece duas vezes, primeiro em
nvel social e depois em nvel individual. A aprendizagem significativa (abordagem
Vygotskyana) envolve a aquisio/construo de significados.
Para Ausubel a aquisio de significados transforma o significado lgico em
significado psicolgico, mas Vygotsky afirma que a transformao anloga
internalizao de instrumentos e signos. Os materiais de aprendizagem so os instrumentos
e signos no contexto de uma certa matria de ensino.
A atribuio de significados s novas informaes por interao com
significados claros e diferenciados que j existem na estrutura cognitiva no de imediato,
exigem troca de significados, negociao de significados. Vygotsky afirma que, no mtodo
tradicional, com as aulas expositivas o professor no parte do princpio de que o aluno j
tem um subsunor10 e que se houver interao vai ocorrer a aprendizagem significativa.
Ausubel no contra a aula expositiva, desde que ela no seja nica forma de ensinar,
porque alm de desmotivar o aluno, no d oportunidade para que ele construa o seu
aprendizado. Ausubel acredita que o ser humano tem grande capacidade de aprender sem
ter que descobrir. Aprender por recepo no instantneo e exige o intercmbio de
significados. Novas informaes, novos significados so dados diretamente ao aprendiz,
mas ele no constri a sua aprendizagem significativa. Quando o aprendiz elabora o mapa
conceitual na anlise do texto ele pe em prtica a leitura por estudo. Ler por estudo ler
analisando, decompondo o texto em suas partes para melhor penetrar as intenes
10 (1) A palavra subsunor no existe em portugus; trata-se de uma tentativa de aportuguesar a palavra inglesa subssumer (inseridor, facilitador, subordinador). (2) Idia (conceito ou proposio) mais ampla, que funciona como subordinador de outros conceitos na estrutura cognitiva e como ancoradouro no processo de assimilao. Como resultado dessa interao (ancoragem), o prprio subsunor modificado e diferenciado (MASINI, Moreira. Aprendizagem significativa , p.104).
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profundas.11
atravs do uso da linguagem no ato da leitura que se faz a decomposio do
texto e se produz o mapa conceitual.
Aprender a ler eficazmente constitui um dilema: difcil ler palavras e frases quando tm pouco ou nenhum significado e, no entanto, a leitura um meio muito til de aprender significados. Ento, como romper este ciclo vicioso? Como adquirir o significado sem ler primeiro um texto e como ler um texto que tem para ns pouco sentido? Os mapas conceituais podem ajudar-nos a resolver a situao.12
Sim, esse processo pode se tornar concreto a partir do momento em que ocorre
a teoria proposta por Vygotsky de que pela interao social que o ser humano desenvolve
os atos da linguagem e mesmo que o texto tenha pouco sentido para o leitor, no momento
em que ocorre a interao ele passa a ter de resolver essa situao e conseqentemente
construir o mapa conceitual.
Novak (1984:65): prope que:
Aps ler o texto fcil voltar atrs e rodear os conceitos ou proposies chave e depois construir com eles um mapa no qual os conceitos se apresentam ordenados hierarquicamente. A elaborao de um mapa conceitual permite-nos identificar os conceitos chave e reformar de uma maneira resumida os principais pontos de um texto. A organizao hierrquica do mapa conceitual modela o significado das idias que o texto contm de modo a que encaixem numa estrutura que permite recordar facilmente as idias essenciais do texto e rever a informao que se apresenta nele.13
Reiteramos, entretanto, a importncia da linguagem no ato da aprendizagem
significativa, porque a aquisio do conhecimento na matria de ensino depende da aprendizagem
verbal e da aprendizagem simblica e a teoria da aprendizagem verbal significatica pode contribuir
para a melhoria desta atividade.
Pela elaborao do mapa conceitual possvel solicitar ao leitor qual o tema do texto
trabalhado, segundo a sua interpretao.
Os mapas conceituais so instrumentos poderosos para observar as alteraes de signif icado que um estudante d aos conceitos que esto includos no seu mapa. Quando os mapas conceituais so conscientemente elaborados, revelam extraordinariamente bem a organizao cognitiva dos estudantes.14
11 ATHAYDE, T. A esttica literria. P.111. 12 Aprender a aprender, Joseph D. Novak e D. Bob Growin, p.59. 13 Aprender a aprender, Joseph D. Novak e D. Bob Growin, p.65. 14 Aprender a aprender, Joseph D. Novak e D. Bob Growin, p.51.
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A linguagem torna-se importante na aprendizagem significativa; a aquisio do
conhecimento na matria de ensino depende da aprendizagem verbal e da aprendizagem simblica.
a teoria da aprendizagem verbal significativa.
6. A CRISE NO SISTEMA EDUCACIONAL
Sabe-se que h uma perda de prestgio, associada alterao do papel tradicional, e de
passar conhecimento, dos professores no meio profissional de ensino fundamental e mdio j no
pertencem elite social das cidades, cujo recrutamento no passa apenas por critrios escolares.
A verdade que os professorem no souberam substituir estas imagens-fora por
novas representaes profissionais.15
Os professores constituem um dos mais numerosos grupos profissionais das
sociedades contemporneas, o que, por vezes, dificulta a melhoria do seu estatuto socioeconmico.
Toda gente conhece um ou outros professor que no investe na sua profisso, que no possui as
competncias mnimas, que procura no fazer o menos possvel. O professorado no seu conjunto
penalizado pela existncia destes casos, que a prpria profisso no tem maneira de resolver: os
colegas esto amarrados por uma solidariedade muitas vezes deslocada; os diretores das escolas
recusam-se a intervenes susceptveis de serem consideradas autoritrias; os sindicatos so
supostos defensores dos interesses de todos os seus membros; etc. Nesse sentido, parece
fundamental dotar a profisso docente dos mecanismos de seleo e de diferenciao, que
permitam basear a carreira docente no mrito e na qualidade .16
No fundo, o que est em discusso a possibilidade de um desenvolvimento
profissional (individual e coletivo), que crie as condies para que cada um defina os ritmos e os
percursos da sua carreira e para que o conjunto dos professores projete o futuro desta profisso e
reconquiste novas energias e fontes de prestgio.
Ainda baseada nessa informao, sabe-se que, tambm, a Universidade brasileira no
cumpre, hoje, algumas funes sociais que so suas e intransferveis, em parte por suas origens, em
parte pela mutilao que sofreu nos longos anos da era da ditadura militar em nosso pas. Essas
funes so, por exemplo, a pesquisa aplicada e a formao de professores que precisam ser
resgatadas para no frustrarem os esforos pela construo democrtica do pas. Neste caso cabe ao
educador procurar melhorar a sua rea de conhecimento.
15 Nvoa, , In:Profisso Professor o passado e o presente dos professores, 1992: p. 29-30. 16(Nvoa, , In:Profisso Professor o passado e o presente dos professores, 1992: p.32
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de lamentar que a escola, o estudante e o professor sejam pensados como peas
inertes do sistema. O prprio contedo que se ensina e se aprende, a prpria pratica pedaggica, o
ambiente educacional, deveriam ser repensados para atingirem uma linguagem nova e realmente
transformadora da crise que invade o sistema educacional brasileiro. Da a proposta de se trabalhar
com esta nova prtica que valoriza a reflexo e os conhecimentos armazenados que o aluno detm,
que o mapa conceitual.
O professor no deve ser um mero transmissor do conhecimento. possvel pensar o
professor como agente de transformao da sociedade, na qual no est como gostaria de estar.
Se o professor tiver competncia tcnica e cientifica na rea de sua especialidade, ele
ser capaz de interver na prtica do dia-a-dia de sala de aula com o seu saber e deixar de passar
frmulas que, hoje, o aluno j no aceita passivamente.
Ao iniciar o trabalho no 3 grau, o profissional observa que os acadmicos
permanecem com as mesmas falhas conceituais que apresentavam no Ensino Mdio. A melhor
atitude a tomar comear a fazer leituras que focalizem o processo de ensino e
aprendizagem e, quanto mais se l, mais questiona-se sobre a prtica educativa. S ento
percebe-se que a real funo enquanto professores criar condies para que o aluno
construa a sua prpria aprendizagem e a partir da que se comea a mudar uma prtica.
Hoje procura-se criar situaes para que o aluno interaja, relacione os novos conceitos com
aqueles que j conhece e utiliza no seu cotidiano.
No curso de letras, embora exista a disciplina de Leitura e Produo de Textos,
h inmeras falhas nas atividades lingsticas dos alunos e isto evidencia que educadores
no refletem sobre a hiptese de se construir uma metodologia para desenvolvimento de
linguagem.
muito amplo o conhecimento acumulado pelo homem ao longo do tempo e
por isso houve necessidade da criao de uma instituio que se responsabilizasse pelo
planejamento e orientao da aprendizagem dos conhecimentos essenciais para a
sobrevivncia fsica e social do cidado. Se a escola for eficiente, vai desempenhar bem a
funo e o aluno ter nela uma base muito slida para as suas aprendizagens.
Quando se aprende, percebe-se a assimilao dos contedos e o aluno est
aprendendo a aprender e quer tornar-se intelectualmente independente. Levando em
considerao que o aluno- leitor pode evoluir pela aplicao sistmica do mapa conceitual,
pode o Educador obter condies de demonstrar a que nveis o leitor capaz de chegar no
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seu desenvolvimento de linguagem, j que o ensino se faz com a mediao e a interveno.
Diante da crise de linguagem, em que o aluno no consegue apreender a
estrutura do texto, propusemos uma pesquisa sobre a utilidade dos mapas conceituais para
a desconstruo do discurso. Por desconstruo deve-se entender o desempenho do leitor
em realizar s avessas as mesmas operaes lingsticas que o autor do texto realizou
para montar o seu texto. Mais do que nunca o ser humano depende do poder lingstico
que pode lhe facultar a elaborao de conhecimento e uma leitura de mundo mais crtica e
menos massificante de sua percepo que lhe possibilitaria aprender e compreender melhor
os meandros dos discursos em que vive.
7. A TEORIA DE AUSUBEL
A teoria de Ausubel organiza as idias partindo do conhecimento e das
experincias prvias dos alunos que so o eixo principal dessa teoria. Ausubel afirma que a
estrutura cognitiva do indivduo organizada de maneira hierarquizada, na qua l os
conceitos gerais esto num topo e englobam outros mais especficos e, para haver
aprendizagem significativa, preciso que o indivduo relacione o novo conceito a ser
aprendido com outro, j presente na sua estrutura cognitiva. A grande funo do professor
diagnosticar os conhecimentos prvios dos alunos e, a partir da, ensin-los a gerarem
novos conhecimentos.
Deve ser apresentado ao aluno um material potencialmente significativo, o que
pressupe que o material de aprendizagem por si s pode ser relacionado a qualquer
estrutura cognitiva apropriada, que possua um sentido lgico, de forma no arbitrria, isto
sensvel, plausvel e no aleatria e substantiva (no literal) e que as novas informaes
podem ser relacionadas s idias bsicas relevantes j existentes na estrutura significativa
do aluno. A interao entre significados potencialmente novos e idias bsicas relevantes
estrutura cognitiva do aluno d origem a significados reais e psicolgicos. Na medida em
que cada estrutura cognitiva singular, todos os novos significados so forosamente
singulares.
A aprendizagem significativa no sinnima de aprendizagem apenas
pontecialmente significativo.
Em segundo lugar, deve haver uma disposio para a aprendizagem
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signifcatva.
uma teoria cognitiva e, como tal, busca explicar teoricamente o processo de
aprendizagem segundo a tica do cognitivismo. A psicologia da cognio (cognitivismo)
procura descrever, em linhas gerais, o que sucede quando o ser humano se situa e organiza
seu mundo. Preocupa-se com o processo da compreenso, transformao, armazenamento
e uso da informao envolvida na cognio.
A estrutura cognitiva de um indivduo o complexo organizado resultante dos
processos cognitivos atravs dos quais se adquire e se utiliza o conhecimento. Para
Ausubel, novas idias e informaes podem ser aprendidas e retidas na medida em que
conceitos relevantes e inclusivos estejam adequadamente claros e disponveis na estrutura
cognitiva do indivduo e sirvam, dessa forma, de ancoradouro a novas idias e conceitos.
Quando novas informaes adquirem significado para o indivduo atravs da interao
com conceitos existentes, sendo por esses assimiladas e contribuindo para sua
diferenciao, elaborao e estabilidade, aprendizagem dita significativa. Segundo os
cognitivistas, esse tipo de aprendizagem , por excelncia, o mecanismo humano para
adquirir e reter a vasta quantidade de informaes de um corpo de conhecimentos.
Consistentemente com esse ponto de vista, Ausubel destaca o processo de aprendizagem
significativa como o mais importante na aprendizagem.
A proposta de Ausubel est baseada na suposio de que as pessoas pensam
com conceitos, o que revela a sua importncia para a aprendizagem. Um conceito
comunica o significado de alguma coisa. Ele pode ser definido como um termo que
representa uma srie de caractersticas, propriedades, atributos, regularidades e/ou
observaes de um objeto, fenmeno ou evento. Para Ausubel, a aquisio, por parte do
aluno, de um conhecimento claro, estvel e organizado mais do que o principal objetivo
do ensino em sala de aula ou a principal varivel dependente usada na avaliao da eficcia
do ensino, pois, uma vez adquirido, esse conhecimento passa ser o principal fator a
influenciar a aquisio de novos conhecimentos na mesma rea.
8. O QUE APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA?
A aprendizagem significativa ocorre quando a informao nova ligada a
conceitos existentes (conceitos subsunores, ou subsunores, nos termos de Ausubel). De
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acordo com a viso de Ausubel, uma nova informao adquirida por aprendizagem
significativa armazenada de forma um tanto alterada (como produto de assimilao com
conceitos subsunores) e modifica os subsunores aos quais est ligada.
A aprendizagem significativa ocorre quando a nova informao ancora-se em conceitos ou proposies relevantes, preexistentes na estrutura cognitiva do aprendiz. Ausubel v o armazenamento de informaes no crebro humano como sendo organizado, formando uma hierarquia conceitual, na qual elementos mais especficos de conhecimento so ligados (e assimilados) a conceitos mais gerais, mais inclusivos. Estrutura cognitiva significa, portanto, uma estrutura hierrquica de conceitos que so representaes de experincias sensoriais do indivduo. 17
Os conceitos subsunores podem ser substancialmente mais diferenciados em
um indivduo do que em outro, por isso o mesmo material pode ser aprendido de modo
muito significativo por uma pessoa e quase que mecanicamente por outra. Notcias sobre a
descoberta de um neologismo pode ter pouca importncia para um cidado comum, mas
para um lingista esta notcia se relaciona a todo um conjunto de conceitos, desde o
conhecimento da etimologia da palavra latina, toda a evoluo at a criao do novo
vocbulo, seu significado e sua incluso no lxico da Lngua a que pertence.
Se o conceito de neologismo tivesse de ser aprendido significativamente, o
aluno deveria ter conceitos disponveis sobre o que um neologismo, quais so os
processos de formao da palavra, quais so os radicais gregos, latinos e etc. Se no
quisermos que a definio de neologismo seja aprendida mecanicamente, devemos
determinar at que ponto os conceitos subsunores necessrios esto presentes e
desenvolvidos ou diferenciados.
A idia central na teoria de Ausubel o que ele descreve como aprendizagem
significativa. Para Ausubel, aprendizagem significativa um processo no qual uma nova
informao relacionada a um aspecto relevante, j existente, da estrutura de
conhecimento de um indivduo.
Sabe-se que a informao armazenada em determinadas regies do crebro e
que muitas clulas esto envolvidas na armazenagem de unidades de conhecimentos. Uma
nova aprendizagem resulta em mudanas nas clulas do crebro, mas algumas clulas
afetadas durante a aprendizagem significativa so as mesmas que j armazenaram
informao similar nova que est sendo adquirida (Novak, 1981, p. 56).
17 MOREIRA. Teorias de aprendizagem, p.153.
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Na aprendizagem mecnica, a nova informao no se relaciona a conceitos j
existentes na estrutura cognitiva e, portanto, pouca ou nenhuma interao ocorre entre a
nova informao adquirida e aquela j armazenada.
A teoria de Ausubel focaliza, pode-se dizer, a aprendizagem verbal significativa receptiva.Verbal, porque Ausubel considera a linguagem como importante facilitador da aprendizagem significativa. A manipulao de conceitos e proposies aumentada pelas propriedades representacionais das palavras. A linguagem clarifica os significados, tornando-os mais precisos e transferveis. O significado emerge quando estabelecida uma relao entre a entidade e o signo verbal que a representa. A linguagem tem, ento, um papel integral e operacional na teoria e no meramente comunicativo. Receptiva, porque, embora sem negar o valor da descoberta, Ausubel argumenta que a aprendizagem significativa receptiva o mecanismo humano por excelncia, para adquirir e armazenar a vasta quantidade de idias e informaes de qualquer campo de conhecimentos. 18
A aprendizagem significativa classificada em:
a. Aprendizagem por representaes: o tipo de aprendizagem adquirida
pelas crianas aps o nascimento, quando so atribudos nomes aos objetos que elas fitam
ao acaso, o significado de smbolos unitrios ou palavras que vo formando a estrutura
cognitiva da criana, que at ento no existia.
b. Aprendizagem de proposies: o tipo de aprendizagem adquirida quando
uma idia composta relacionada com idias j existentes na estrutura cognitiva do
indivduo. Essa relao ser subordinada no momento em que a estrutura cognitiva do
indivduo tiver conceitos mais gerais e abrangerem as idias mais especficas e ser
superordenada no caso inverso, isto , quando idias mais gerais, que podero abranger
vrias idias j estabelecidas na estrutura cognitiva, forem propostas. A relao poder ser
ainda do tipo combinatria, isto , a nova idia no se relaciona com idias aprendidas
previamente pelo indivduo e, em conseqncia, so menos perceptveis, mais difceis de
serem aprendidas e recordadas.
c. Aprendizagem de conceitos: o tipo de aprendizagem que pode ser
adquirida de duas formas: a primeira pela formao de conceitos quando o indivduo,
mais comumente crianas, adquire espontnea e individualmente idias genricas,
baseadas em experincias concretas (descoberta); segundo tipo a assimilao de
conceitos que ocorre no momento em que novos significados so apresentados e
18 MOREIRA. Teorias de aprendizagem, p.163.
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relacionados com idias conceituais pr-existentes na estrutura cognitiva.
Ausubel ainda diferencia as maneiras para se alcanar a aprendizagem
significativa em aprendizagem por recepo e aprendizagem por descoberta. Na
aprendizagem por recepo, o contedo a ser aprendido apresentado ao aluno na sua
forma final e na aprendizagem por descoberta, o contedo a ser aprendido no dado na
sua forma final, mas deve ser descoberto pelo aluno, ou seja, o ser que aprende deve
reorganizar um conjunto de informaes e integr-las ao conhecimento que j possui. Esta
diferena s existe no ponto de partida, pois independente da forma que o contedo
apresentado, o aprendiz s alcanar a aprendizagem significativa se conseguir relacionar o
contedo com o que j sabido.
Com esses princpios, Ausubel defende a aula expositiva como uma boa
tcnica didtica, desde que no seja nica. O professor dever ter constante preocupao de
facilitar o relacionamento, pelo aluno, das novas informaes com as idias j presentes na
sua estrutura cognitiva.
4.1 AS CONDIES DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
A essncia do processo de aprendizagem significativa que as idias expressas
simbolicamente so relacionadas s informaes previamente adquiridas pelo aluno atravs
de uma relao no arbitrria e substantiva (no literal). Uma relao no arbitrria e
substantiva significa que as idias so relacionadas a algum aspecto relevante existente na
estrutura cognitiva do aluno, como por exemplo, uma imagem, um smbolo, um conceito
ou uma proposio. A aprendizagem significativa pressupe que o aluno manifeste uma
disposio para a aprendizagem significativa ou seja, uma disposio para relacionar, de
forma no arbitrria e substantiva, o novo material sua estrutura cognitiva e que o
material aprendido seja potencialmente significativo principalmente incorporvel sua
estrutura do conhecimento atravs de uma relao no arbitrria e no literal.
O trabalho com contos e poesia, material potencialmente significativo para a
produo de mapas conceituais provocou, no acadmico de Letras, uma disposio para
relacionar os conceitos aprendidos que eram potencialmente significativos com sua
estrutura do conhecimento. Da o sucesso obtido nessa nova proposta.
4.2 TIPO DE APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
O tipo de aprendizagem significativa mais bsico a aprendizagem
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representacional, que implica aprender o significado de smbolos particulares (palavras) ou
aprender o que eles representam. As palavras particulares de qualquer lngua so
convenes ou smbolos compartilhados, cada um representando um conceito, uma
situao ou um objeto unitrio. Quando um indivduo est num estgio mais primitivo de
desenvolvimento, o significado ou representao de um determinado smbolo algo
completamente desconhecido para ele, portanto h necessidade dessa aprendizagem por
parte do falante da lngua.
Um outro tipo de aprendizagem significativa, que importante na aquisio de
conhecimento, consiste na formao de conceito. Os conceitos so, tambm, representados
por smbolos particulares, assim como o so outras formas de unidades referenciais.
No momento de montar o diagrama do mapa conceitual o aluno recorre a esses
smbolos particulares que so associados formando todo um contexto. As palavras
combinam-se, formam sentenas e constituem proposies que representam conceitos e
no objetos ou situaes, portanto, a aprendizagem proporcional implica, num sentido
amplo, aprender o significado de uma estrutura gerada pela combinao de palavras
isoladas numa sentena.
Na aprendizagem proporcional, a tarefa de aprendizagem significativa no se
reduz ao aprendizado do que representam as palavras isoladamente ou combinao das
mesmas, mas ao aprendizado do significado de novas idias expressas de forma
proporcional.
5. DE ONDE VM OS SUBSUNRES: FORMAO DE CONCEITOS
que ocorre o principal processo de aquisio de conceitos. um tipo de
aprendizagem por descoberta envolvendo formulao e testagem de hipteses, assim como
generalizao a partir de instncias especficas. Por exemplo, atravs do contato constante
com cadeiras, crianas mais velhas e adultos, a criana pequena, gradualmente, descobre os
atributos criteriais que caracterizam estes conceitos e seus rtulos lingsticos. Aps a
criana ter adquirido um ou dois mil conceitos (reconhecido como o vocabulrio funcional
da criana) atravs da formao de conceitos, a diferenciao adicional destes e o
desenvolvimento de novos prossegue atravs da assimilao de conceitos.
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As crianas fazem perguntas repetitivas quando tentam aguar sua
compreenso de conceitos simples e dos rtulos lingsticos apropriados. Em idade
escolar, a criana tem uma estrutura conceitual adequada para permitir a ocorrncia da
aprendizagem receptiva significativa e a maioria dos novos conceitos adquirida atravs
de assimilao de conceitos, diferenciao progressiva e reconciliao integrativa.
Novak um dos autores que tem aperfeioado a Teoria da Aprendizagem
proposta por David Ausubel para que seja aplicada em salas de aula e sugeriu a utilizao
de mapas conceituais como instrumento para promover a reconciliao integrativa e a
diferenciao progressiva.
No princpio da diferenciao progressiva, as idias mais gerais e inclusivas
devem ser apresentadas em primeiro lugar e, a partir delas, serem progressivamente
diferenciadas at s idias menos inclusivas. Tal sugesto fcil de ser entendida, j que
tem a ver com o tipo de organizao hierrquica percebida por Ausubel na estrutura
cognitiva dos indivduos, ou seja, se percebe em Ausubel, a preocupao de que o aluno
tenha disponvel na sua estrutura cognitiva, aquelas idias mais amplas que podero
incluir, abranger idias mais concretas (Ronca, 1978:67). No segundo princpio, o da
reconciliao integrativa, exige-se do professor um esforo em mostrar semelhanas e
diferenas entre o contedo novo e o que o aluno j sabe. H uma extenso da Teoria da
Assimilao de Ausubel: Organizao Lgica versus Psicolgica.
O significado psicolgico idntico ao significado real ou fenomenolgico. O
significado lgico depende somente da natureza do material, por exemplo, durante os
sculos, a afirmativa de que a terra era achatada foi considerada tanto lgica quanto vlida,
mas sabemos que esta proposio no valida.
Alguns livros de textos passam dos conceitos gerais para especficos, de um
modo geral o procedimento usado raramente timo para a diferenciao progressiva ou
para o aumento da reconciliao integrativa. A maioria dos professores e livros de textos
seguem uma ordem lgica ao invs de psicolgica. Uma boa organizao lgica pode
colocar, em um nico lugar, toda a informao relevante a um conceito e, naquele mesmo
lugar, toda a informao importante para elementos subordinados a este conceito. Um livro
de histria, por exemplo, pode, atravs da organizao cronolgica, ajudar os alunos a
relembrar datas em que ocorreram eventos na histria e isso tem alguma lgica, mas
sequenciar, progressivamente, a instruo para desenvolver conceitos de sistemas
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econmicos e organizaes polticas pode ajudar os alunos a aprender importantes
conceitos scio-histricos.
Uma das razes por que estudantes bem sucedidos continuam a ter sucesso
que eles dominaram uma organizao psicolgica. Naturalmente, esta habilidade deve ser
valorizada, mas como conduzir o ensino para que ela possa ser alcanada? Um argumento
em favor da aprendizagem por investigao ou descoberta o de que os alunos aprendem a
aprender. Alguns aprendem. Se compreendssemos mais claramente o processo envolvido
na diferenciao progressiva de conceitos e sua reconciliao integrativa, provavelmente,
poderamos planejar bons programas para ensinar habilidades de pesquisa.
6. QUEM JOSEPH NOVAK?
Sempre houve uma angstia muito grande por alguns professores das diversas
matrias, por no encontrarem uma teoria da aprendizagem e educao abrangente que lhes
oferecesse uma base consistente para explicar seus sucessos e orientar seu trabalho dirio.
Joseph Novak encontrou isto na teoria de aprendizagem desenvolvida por David Ausubel;
uma teoria que muito mais do que modificao de comportamento ou condicionamento e
mais claramente relevante aprendizagem inquisitiva, desenvolvimento de conceitos e
soluo de problemas.
Aps estudos de vrias teorias como de Jerome Bruner e outros identificou-se
atravs de uma crescente convico de que a teoria de Ausubel teoria da aprensizagem
significatica era um modelo convincente de aprendizagem para guiar a educao.
Um ponto forte da teoria de Ausubel reside no fato de que ela permite a
integrao de muitas observaes sobre a aprendizagem que no fazem meno teoria de
Ausubel, afirmando que muitos psiclogos da aprendizagem no deram ao trabalho de
entender esta teoria. Complementa ainda que o estilo bastante montono de Ausubel falar
em pblico pouco ajudou a despertar interesse pelas suas idias. Por isso, especula-se sobre
a posio que ocuparia a teoria de Ausubel na educao se ele tivesse o carisma de um
ator, o humor e as habilidades retricas de Jerome Brumer ou B. F. Skinner.19
Ausubel e outros pesquisadores (Lyon Jones,B. English) demonstraram que a
aprendizagem significativa no ocorre da mesma maneira que a aprendizagem mecnica.
19 (Novak, 1981:55)
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Quando conceitos relevantes no existem, na estrutura cognitiva de um
indivduo, novas informaes tm que ser aprendidas mecanicamente. Na aprendizagem
mecnica, a nova informao no se relaciona a conceitos j existentes na estrutura
cognitiva e, portanto, pouca ou nenhuma interao ocorre entre a nova informao
adquirida e aquela j armazenada. O bom professor ajuda o formando a ir para alm da
aprendizagem por memorizao, discutindo significados com este (NOVAK, 1998:15)
Novak passou muitos anos testando a relevncia e a aplicabilidade dos
conceitos mais importantes a suas observaes e seu trabalho como professor. Os
resultados convenceram este intelectual de que a teoria era uma formulao segura e
abrangente, til para professores de vrias matrias, e no apenas para as cincias. Por isso
preocupados com os resultados do ensino, decidiu-se aplicar essa teoria de aprendizagem
ao ato de leitura literria, fazendo com que o acadmico aplicasse os novos conceitos aos j
existentes j que agora tem-se uma poderosa teoria de aprendizagem cognitiva para
orientar toda uma atividade de pesquisa e esforos em ensino, conseqentemente
melhorando a aprendizagem de conceitos. Infelizmente as escolas esto longe de usar seu
potencial para auxiliar os alunos a adquirir conceitos proveitosos e, desta forma, atitudes
mais positivas em relao a si mesmos e a outras pessoas. Pode-se tomar medidas positivas
e especficas para melhorar a aprendizagem conceitual, pois dispe-se de uma teoria
suficiente para orientar esse trabalho.
Na execuo desses dois princpios de reconciliao integrativa e diferenciao
progressiva, sugerida por Novak, como estratgia pedaggica a utilizao de
organizadores prvios.
O organizador prvio um material introdutrio apresentado antes do material
a ser aprendido, por, em nvel mais alto de generalidade, inclusividade e abstrao do que
o material tem em si , explicitamente, relacionado s idias relevantes existentes na
estrutura cognitiva e tarefa de aprendizagem.
Destina-se a facilitar a aprendizagem significativa, servindo de ponte entro o
que o aprendiz j sabe e o que ele precisa saber para que possa aprender o novo material de
maneira significativa. uma espcie de ponte cognitiva. 20
20 (Moreira, M.A. Masinie E. F., 1982, p. 104)
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7. O QUE UM MAPA CONCEITUAL?
um esquema grfico usado para representar a estrutura bsica de partes do
conhecimento sistematizado, representado pela rede de conceitos e proposies relevantes
do conhecimento. Isto significa que uma determinada estrutura inerente ao conhecimento
sistematizado, e que a mesma pode ser analisada e reorganizada de acordo com certos
princpios e com os fins a que se destina.
Novak e colaboradores utilizaram os mapas conceituais em pesquisas
longitudinais, objetivando verificar como os significados de conceitos, em estudantes
individuais mudam com o tempo. Os pesquisadores analisaram as mudanas dos contedos
de organizao retratados nos mapas conceituais de alunos, enfatizando o processo de
construo e originalidade da construo individual.
Para a elaborao dos mapas conceituais, houve a orientao cognitiva voltada
para a aprendizagem verbal atravs da teoria da aprendizagem significativa de David
Ausubel.
A forma e representao do mapa conceitual dependem dos conceitos e das
relaes includas, de como os conceitos so representados, relacionados e diferenciados e
do critrio usado para organiz-los. Portanto, mapas conceituais so diagramas
hierrquicos indicando os conceitos e as relaes entre esses conceitos.
Esses diagramas procuram refletir a organizao conceitual de uma disciplina
ou parte de uma disciplina, de um livro, de um artigo, de um experimento de laboratrio,
da estrutura cognitiva de um indivduo sobre um dado assunto, de uma obra ou de uma
outra fonte ou rea de conhecimentos qualquer. Ou seja, sua existncia derivada da
estrutura conceitual de uma fonte de conhecimentos.
Em princpio, esses diagramas podem ter uma, duas, trs ou mais dimenses.
Mapas unidimensionais so apenas listas de conceitos que tendem a apresentar uma
organizao vertical. Embora simples, tais diagramas do apenas uma viso grosseira da
organizao conceitual de uma fonte de conhecimentos. Mapas bidimensionais, por outro
lado, tiram partido no s da dimenso vertical mas tambm da horizontal e, portanto,
permitem uma representao mais completa das relaes entre os conceitos, por meio de
linhas que os ligam. Obviamente, mapas com um maior nmero de dimenses permitiriam
uma representao ainda melhor dessas relaes e possibilitariam a incluso de outros
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fatores que afe tam a estrutura conceitual da fonte. Entretanto, mapas bidimensionais so
mais simples e mais familiares. Alm disso, mapas com mais de trs dimenses no mais
seriam representaes concretas de estruturas conceituais e sim abstraes matemticas de
limitada utilidade para fins educacionais (Moreira e Masini, p.46). Esta afirmativa
contraria os resultados da pesquisa em questo da qual discorda-se inteiramente.
No desenvolvimento deste trabalho vo ser apresentados resultados
surpreendentes de leitores que produziram mapas no s tri, mas quadrimensionais
revelando representaes extremamente concretas e no complexas das estruturas
conceituais e com ampla utilidade para fins educacionais. Para Moreira e Masini21, os
mapas bidimensionais fornecem uma representao menos elementar das estruturas
conceituais que os unidimensionais e so menos complexos do que os mapas com trs ou
mais dimenses. Essas so as razes principais da preferncia pelo modelo bidimensional.
Assim sendo, daqui para frente mapas conceituais devem ser entendidos como
diagramas bidimensionais, tridimensionais e quadridimensionais que procuram mostrar
conceitos hierarquicamente organizados e suas relaes com a fonte de conhecimentos.
Mapas conceituais podem ser traados para toda uma disciplina, para uma
subdisciplina, para um tpico especfico de uma disciplina, para um artigo, para um
experimento de laboratrio e assim por diante. Existem vrias maneiras de traar um mapa
conceitual, isto , existem diferentes modos de mostrar os conceitos e suas relaes num
diagrama. Alm disso, mapas conceituais traados por diferentes especialistas numa
mesma rea provavelmente refletiro algumas diferenas em compreenso e interpretao
das relaes entre os conceitos bsicos dessa rea. O ponto importante que um mapa
conceitual deve ser sempre visto como um mapa conceitual e no o mapa conceitual de
um conjunto de conceitos. Ou seja, qualquer mapa conceitual deve ser visto como apenas
uma das possveis representaes de uma certa estrutura conceitual.22
Embora sejam concebveis mapas conceituais diferentes dentro de uma mesma
rea de conhecimentos, devido s diferenas individuais da estrutura cognitiva dos autores
e da prpria forma de representar essa rea em um mapa, isso no significa que todos os
mapas possveis sejam plenamente aceitveis. provvel que alguns poucos possam ser
21 MOREIRA, M. A., MASINI. E. F. Aprendizagem significativa. A teoria de David Ausubel. P. 45-46, Ed. Moreira, 1982. So Paulo. 22 MOREIRA, M. A., MASINI. E. F. Aprendizagem significativa. A teoria de David Ausubel. P. 46, Ed. Moreira, 1982. So Paulo.
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julgados como os que melhor representam a estrutura conceitual da rea de interesse e,
portanto, mais aceitveis do que outros. Bem mais difcil ou arbitrrio selecionar um
nico mapa como o melhor ou o mais apropriado dentre os aceitveis.
Mapas conceituais podem tambm lembrar diagramas de fluxo, mas esses
implicam em seqncia de operaes e no de conceitos e tm um componente temporal
no existente nos mapas conceituais. As hierarquias e agrupamentos conceituais nada tm
a ver com as seqncias de operaes de um diagrama de fluxo. Mapas conceituais tm a
ver com relaes significativas entre conceitos na forma de proposies.
O mapa conceitual um tipo de instrumento que organiza os conceitos de uma
forma hierarquizada, do mais abrangente para o menos abrangente, num plano
unidimensional, bidimensional, tridimensional ou quadridimensional e que permite ao
estudante perceber as inter-relaes entre os conceitos que j so conhecidos e os que
devem ser aprendidos. Segundo Novak, representam as relaes significativas entre os
conceitos, em forma de proposies.
O mapa conceitual de grande auxlio para a promoo da aprendizagem
significativa porque direciona a ateno de quem o elabora para as idias relevantes de um
determinado tema, as quais podero ser organizadas num resumo esquemtico. No que
tange ao seu uso no ato de leitura literria colocamos a seguinte hiptese: como seu usurio
poder, sem perder a relao proporcional, reorganizar os conceitos referentes ao tema de
diferentes formas?
A reflexo subjacente elaborao e reelaborao do mapa possibilitar que
professores e alunos e tambm alunos entre si compartilhem a pesquisa sobre os
significados do texto. Poder, ainda, o mapa conceitual, evidenciar as concepes
equivocadas, desencadeando uma negociao dos significados e um estabelecimento de
relaes entre os conhecimentos novos e os prvios mais significativos. Os mapas
conceituais deveriam ser usados por professores de diversas matrias para que alunos
conseguissem ler e interpretar todo tipo de texto, superando assim as possveis dificuldades
que porventura venham apresentando at ento nessas prticas.
8. O QUE ORGANIZADOR PRVIO?
Quando publicou seu primeiro trabalho (1960), Ausubel recomendou o uso de
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organizadores prvios, os quais descreveu como mais gerais, mais abstratos e mais
inclusivos do que o material de aprendizagem subseqente. Organizadores prvios
(unidades lexicais) deveriam servir de ancoradouro na estrutura cognitiva, para o novo
conhecimento. Se conceitos relevantes no estivessem disponveis na estrutura cognitiva, o
organizador prvio serviria para ancorar novas aprendizagens e levar ao desenvolvimento
de um conceito subsunor que facilitasse a aprendizagem subseqente. Mas, se conceitos
adequados estivessem disponveis, organizadores prvios poderiam servir como elementos
de ligao entre novas aprendizagens e subsunores relevantes especficos. Neste caso,
organizadores prvios funcionariam como uma ponte cognitiva que permitiria pronta
ligao entre os subsunores relevantes e o novo material a ser aprendido.
Porm importante saber que Ausubel nunca afirmou que os organizadores
prvios facilitariam a aprendizagem de informaes sem significado, e sim que a
informao subseqente deveria ser potencialmente significativa e que os aprendizes
deviam apresentar uma disposio para aprender. Por outro lado, medida que se
acumulou evidncia sobre o valor dos organizadores prvios, tornou-se cada vez mais claro
que a facilitao de nova aprendizagem , em grande parte, funo da adequao dos
conceitos existentes na estrutura cognitiva.
Provavelmente, organizadores prvios funcionam somente na medida em que
alguns subsunores relevantes existam e que o aprendiz perceba a relao entre estes
subsunores e as novas informaes.
Nos mapas conceituais dos contos elaborados pelos acadmicos, os
organizadores prvios passaram a ser vistos como funcionais somente quando serviram,
explicitamente, como pontes cognitivas. Estudos sobre Ausubel incluem as seguintes
ponderaes sobre organizadores:
Tal como destacado anteriormente, a fundamentao lgica para utilizar organizadores est baseada primordialmente em: a) a importnc ia de ter idias estabelecidas, relevantes e adequadas, j disponveis na estrutura cognitiva, a fim de dar ancoragem estvel e tornar logicamente significativas idias potencialmente significativas; b) as vantagens de usar as idias mais gerais e inclusivas de uma disciplina como idias ncora ou subsunores (a adequao e espedificidade integradora); e c) o fato de que eles, em si mesmos, tentam tanto identificar contedo relevante j existente na estrutura cognitiva (e ser explicitamente relacionada a ele), como indicar explicitamente a relevncia deste contedo, assim como sua prpria relevncia, para a aprendizagem do
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novo material. (Novak, 1981:61). Em resumo, a principal funo do organizador preencher o hiato entre o que o aprendiz j sabe e o que ele precisa saber antes que possa aprender, com sucesso, a tarefa com que se defronta. (p.148; itlico de Ausubel) (Novak, 1981:61).
Novak ressalta que uma orientao que no deve ser deixada de dar aos alunos,
pelo professor, e deve ser enfatizada na formao de professores de que em um contexto
amplo, deve-se orientar os estudantes para o estabelecimento de uma disposio para a
aprendizagem e isso pode influenciar significativamente a maneira pela qual a informao
internalizada na estrutura cognitiva.
Um conceito subsunor no um tipo de papel pega-mosca mental no qual a informao fica grudada; o papel de um conceito subsunor na aprendizagem significativa interativo, facilitando a passagem de informaes relevantes atravs de barreiras perceptivas do indivduo e fornecendo ligao entre a nova informao recm-percebida e o conhecimento previamente adquirido. Alm disso, durante esta ligao o conceito subsunor ligeiramente modificado e a informao armazenada tambm um pouco alterada. neste processo interativo entre o material recm-aprendido e os conceitos existentes (subsunores) que est o cerne da teoria da assimilao de Ausubel (Novak, 1981:63).
O mapa conceitual favorece um jogo intelectual no ato de leitura e vence o
jogo o leitor que aprender a passar da linguagem unidimensional para a bi, tri ou
quadridimensional.
9. DIFERENCIAO PROGRESSIVA E HIERARQUIAS CONCEITUAIS
medida que se d a aprendizagem significativa, o desenvolvimento e a
elaborao de conceitos subsunores ocorrem. Do ponto de vista de Ausubel, o
desenvolvimento de conceitos ocorre da melhor maneira quando os elementos mais gerais,
mais inclusivos, de um conceito so introduzidos em primeiro lugar e, ento, o conceito
progressivamente diferenciado em termos de detalhe e especificidade.
9.1. APRENDIZAGEM SUPEORDENADA
medida que uma nova informao recebida e relacionada a um conceito na
estrutura cognitiva (subsuno) este cresce ou torna-se mais diferenciado. A aprendizagem
superordenada ocorre quando conceitos previamente aprendidos so percebidos como
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elementos de um conceito mais amplo, mais inclusivo.
9.2 RECONCILIAO INTEGRATIVA
Durante a diferenciao conceitual, novos significados sero adquiridos para
um ou vrios conceitos.
O princpio de reconciliao integrativa tambm se aplica quando o assunto
organizado em linhas paralelas, isto , quando materiais relacionados so apresentados em
srie mas sem nenhuma dependncia seqencial intrnseca de um tpico a outro. Tambm
admite que todas as referncias cruzadas necessrias de idias relacionadas podem ser
desempenhadas pelo alunos. No entanto, so feitos poucos esforos srios no sentido de
explorar explicitamente relaes entre idias, de assinalar semelhanas e diferenas
significativas, e de reconciliar inconsistncias reais ou aparentes.
Portanto, para que a aprendizagem das novas idias no familiares ocorra, as
idias devem ser adequadamente discriminadas daquelas familiares estabelecidas. Caso
contrrio, os novos significados sero imbudos de ambigidades, concepes errneas e
confuses que sero parcialmente ou completamente no existentes de direito prprio. Se,
por exemplo o aprendiz no pode discriminar entre a nova idia A e a velha idia A, A no
existe realmente para ele, fenomenologicamente, o mesmo que A. Alm do mais, mesmo
se o aprendiz puder discriminar entre A e A no momento da aprendizagem, a
discriminao tem que ser precisa e livre de ambigidade e confuso. Se isto no ocorrer,
haver uma tendncia de reduzir A a A com o tempo ( medida que as duas idias
interagem durante o intervalo de reteno), mais rapidamente do que geralmente ocorre.
(Ausubel; 1981:162)
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CAPTULO II - A METODOLOGIA EMPREGADA NO ATO DA
LEITURA E INTERPRETAO DE TEXTOS
1. METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS
O uso do mapa conceitual esteve voltado para operaes globalizadoras na
busca de uma viso dialtica da realidade textual.
No incio do trabalho houve a leitura das obras: Teoria da Adaptao Textual,
Modelagens Lingsticas e Adaptaes, Formao do Leitor e Construo do Imaginrio
Textual, de Orlando Antunes Batista. Tais obras deram uma orientao a respeito do papel
do educador como adaptador de textos e a sua contribuio para a formao do leitor. A
seguir fez-se o estudo de obras produzidas sobre mapas conceituais, teses sobre este
enfoque que conduziram os passos para o desenvolvimento desta pesquisa. Esse tipo de
tcnica deveria ser aplicado em todos os nveis escolares inclusive nos Cursos de
Formao de Professores. Relacionar os novos conceitos com situaes cotidianas, mas
tendo-se o cuidado de conhecer previamente a realidade dos alunos para que eles possam
interagir e, conseqentemente, haja o aprendizado.
Geralmente a inquietao de cada professor est somente relacionada a que o
aluno aprenda o contedo que depois ser reproduzido no dia da avaliao.
As aulas de leitura e interpretao de texto, nas escolas brasileiras, nada
contribuem para o enriquecimento da linguagem do aluno, fazendo com que ele passe a ler
e entender melhor o texto selecionado e se torne um leitor capaz de pensar criticamente.
.. parece irrelevante, quando se discutem os problemas relativos formao do leitor ou crise de leitura, sugerir didticas ou textos de que
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o professor pode se socorrer se quiser mostrar mais competncia no exerccio de suas funes docentes. 23
Independente do tema trabalhado fica evidente a necessidade de o aluno usar
ativamente a aprendizagem significativa na elaborao do novo conhecimento. Os mapas
conceituais, enfocados no presente trabalho, tornam-se relevantes por poderem ser
utilizados pelos professores de toda a rea de Letras na leitura e interpretao de textos e,
pelos alunos, nas trs etapas que caracterizam a construo do seu conhecimento: sncrese,
anlise e sntese.
Foi feito um levantamento dos nveis da linguagem usual do acadmico,
atravs de testes de anlise de narrativas que foram aplicados no 2 semestre de 1999, ao
longo de 18 encontros, num total de 32 horas/aula, tendo como sujeitos os alunos do 3
ano, do curso de Letras, no perodo noturno.
Os passos iniciais seguidos para o desenvolvimento dos trabalhos foram os
seguintes:
1. Seleo de textos;
2. Leitura de contos;
3. Insero do mapa conceitual no ato de leitura:
3.1 Procedimentos para elaborao do mapa.
4. Realizao do mapa conceitual: Conto A Cartomante, de Machado de
Assis, no Pr-teste. De acordo com o resultado os alunos foram classificados em fortes,
mdios e fracos. Os fortes obtiveram nota A, os mdios B e os fracos C, D e E nas
avaliaes dos mapas.
5. Elaborao dos mapas conceituais: O Enfermeiro (Machado de Assis), Feliz
Aniversrio (Clarice Lispector) e o Elo Partido (Otto Lara Resende) e a poesia A Noite
Dissolve os Homens (Carlos Drummond de Andrade).
5.1. Insero do mapa no protocolo de leitura.
6. Redao de um texto crtico sobre a metodologia, partindo do uso dos mapas
conceituais para demonstrar o nvel de compreenso da tcnica e as vantagens ou
desvantagens de sua aplicao.
23 ZILBERMANN, Regina LAJOLO, Marisa. A formao da leitura no Brasil, p.19.
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Quando algum fala que o discurso se d como evento uma verdade. O texto
um ato de fala e por isto espao que se sujeita a uma interpretao:
Algo acontece quando algum fala. Esta noo de discurso como evento impe-se desde que levemos em considerao a passagem de uma lingstica da lngua ou do cdigo a uma lingstica do discurso ou da mensagem. A distino tem sua origem, como se sabe, em Ferdinand de Saussure e em Louis Hjelmslev. O primeiro distingue a lngua e a fala; o segundo distingue o esquema e o uso. 24
A lingstica estrutural coloca entre parnteses a fala e o uso, a teoria do
discurso suspende o parntese e afirma que existem duas lingsticas, com base em leis
diferentes.
Benveniste aprofundou a efetuao da linguagem como discurso. Para ele, a
lingstica do discurso e a lingstica da lngua se constroem sobre unidades diferentes. Se
o signo (fonolgico e lrico) a unidade de base da lngua, a frase a unidade de base do
discurso. a lingstica da frase que suporta a dialtica do evento e do sentido, de onde
parte a teoria do texto e nela teria incio a construo do mapa.
O evento consiste no fato de algum falar, de algum se exprimir tomando a
palavra. O discurso ainda evento quando os signos da linguagem s remetem a outros
signos, no interior do mesmo sistema.
Nos mapas conceituais h portanto um discurso a respeito de algo, h
referncia a um mundo descrito, expresso ou representado. H a vinda linguagem de um
mundo mediante o discurso organizado por um diagrama ou mapa conceitual.
Se todo discurso efetuado como evento, todo discurso compreendido como
significao e o que queremos compreender a significao que permanece e no o
evento. O discurso se ultrapassa, enquanto evento, na significao.
Austin e Searle afirmam que o ato de discurso constitudo por uma hierarquia
de atos subordinados, em trs nveis:
1. Nvel do ato locucionrio ou proposicional: ato de dizer;
2. Nvel do ato ilocucionrio: aquele que fazemos ao dizer;
3. Nvel do ato perlocucionrio: aquilo que fazemos pelo fato de falar.
O ato locucionrio se exterioriza nas palavras ou frases enquanto proposio
durante a elaborao da mapa conceitual. Mas o ato locucionrio tambm pode ser
exteriorizado atravs dos paradigmas gramaticais e de outros procedimentos que marcam
24 RICOEU, Paul. Interpretao e ideologias, p.45.
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a fora ilocucionria do termo permitindo identific- lo ou reidentific- lo. J a ao
perlocucionria aquilo que, no discurso, o menos discurso. o discurso enquanto
estmulo. Nesse caso o discurso age pelo interlocutor, pela influncia direta sobre as
emoes e as disposies afetivas do interlocutor.
O mapa conceitual insere-se nos nveis 2 e 3, do ato ilocucionrio e no ato
perlocucionrio respectivamente, porque o momento em que estes aspectos do ato do
discurso so codificados e regulados segundo paradigmas; na medida em que podem ser
identificados como possuindo a mesma significao.
G. G. Granger em seu Ensaio de uma filosofia de estilo escreve:
A prtica a atividade considerada com seu contexto complexo e, especialmente, com as condies sociais que lhe do significao num mundo efetivamente vivido. O trabalho , assim, uma das estruturas da prtica, seno sua estrutura principal: a atividade prtica objetivando-se em obras. 25
A partir do momento em que o leitor penetra no mundo da obra literria, ele foi
capaz de assimilar a sua complexibilidade e torn- la prtica, associando-a s condies
sociais que sero encarregadas de dar significao atravs da contextualizao de
situaes. Assim o aluno- leitor ao produzir o mapa conceitual j extraiu do contexto as
palavras-chave que representaro a complexibilidade que se tornara prtica no diagrama
tecido com esses conceitos, distribudos horizontal e verticalmente.
O modo de estruturao do mapa conceitual revela uma preferncia a outro,
uma produo individual, designa o estilo de seu autor. Esse autor mais que locutor: o
arteso em obra de linguagem que trabalha com a categoria da interpretao, no sentido em
que contempornea da significao da obra como um todo. Portanto os acadmicos, em
cada produo de mapas conceituais, se individualizaram produzindo mapas individuais.
Graas escrita, o mundo do texto pode fazer explodir o mundo do autor.
Tudo o que verdadeiro das condies psicolgicas, tambm o das condies
sociolgicas da produo do texto. O importante que a obra transcenda suas prprias
condies psicossociolgicas de produo e que se abra a uma seqncia ilimitada de
leituras, mesmo situadas em contextos scio-culturais diferentes. Ento o texto deve poder,
tanto do ponto de vista sociolgico quanto do psicolgico, descontextualizar-se de maneira
a deixar-se recontextualizar numa nova situao: o que justamente faz o ato de ler.
25 GRANGER, G.G. Essai dune philosophie, p.6.
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Nesta dissertao so apresentados mapas conceituais de contos e de um
poema. bom frisar que um conto e um poema no existem sem referente. este referente
que estabelece uma ruptura com o da linguagem quotidiana.
Pela fico, pela poesia, abrem-se novas possibilidades do ser-no-mundo na realidade quotidiana. Fico e poesia visam ao ser, mas no mais sob o modo do ser-dado, mas sob a maneira de poder-ser. Sendo assim, a realidade quotidiana se metamorfoseia em favor daquilo que poderamos chamar de variaes imaginativas que a literatura opera sobre o real26
Atravs das leituras propostas aos acadmicos, observou-se a descoberta da
fico e da realidade, e sobretudo a metamorfose da realidade pela arte. Houve momentos
da leitura dos contos em que os leitores evidenciaram situaes concretas, vivenciadas por
pessoas de seu convvio como se a fico tivesse sido operada sobre o real no momento de
selecionar as palavras-chave e associar aos conceitos escolhidos.
Diz-se que texto a mediao pela qual o leitor compreende-se a si mesmo.
Entra em cena a sua subjetividade, j que o texto um discurso dirigido a algum. um
discurso institudo pela prpria obra que se d a seus leitores e cria, para si, sua prpria
subjetividade. Ocorre ento o problema da apropriao ou da aplicao do texto situao
presente do locutor.
Aquilo de que o leitor se apropria uma proposio de mundo que no se
encontra atrs do texto, mas diante dele, como aquilo que a obra desvenda, descobre,
revela. Ao produzir o mapa conceitual o acadmico compreendeu-se diante do texto, no
impondo ao texto sua prpria capacidade finita de compreender, mas expondo-se ao texto e
colocando nele uma proposio27 de mundo.
Os alunos relacionam o significado das palavras chaves com os conceitos que
devem ser aprendidos atravs do conto lido e em seguida eles constroem novas relaes e,
com isto, adquirem autonomia para estabelecerem diagramas sobre o lxico daquele texto,
demonstrando as novas associaes feitas no contexto lido.
A anlise dos resultados foi feita comparando os resultados do pr-teste com os
do ps-teste, destacando-se o desempenho daquele grupo de alunos que foram
considerados de pior desempenho no pr-teste, para verificar a hiptese de que os alunos
mais deficientes so os maiores beneficiados por um mtodo que prioriza a construo do
26 RICOEU, Paul. Interpretao e ideologias, p.57. 27 Proposio (Dicionrio Aurlio, p.1650 - verbete): 1. Ato ou efeito de propor. 2. Aquilo que se prope; proposta. S. assunto que vai ser discutido ou assero que vai ser defendida.
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conhecimento pelo prprio aluno.
Tambm foram analisados os dados resultantes da auto avaliao que os alunos
fizeram, refletindo sobre o prprio desempenho sobre o desenvolvimento da tcnica do
mapa conceitual.
A pesquisa sobre o uso dos mapas conceituais no desenvolvimento do ato de
leitura literria tem uma abordag