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Jacobina—BA, Abril - 2020 Ano XXVII - Edição Especial - Digital Edição Especial Digital Editorial Qual a lição que o Coronavírus pode nos deixar ? - Ivan Aquino As pandemias e o homem - Cledson Sady A higiene oral e a pandemia do COVID-19 - Cledson Sady O mundo mudou? - Vera Jacobina Seremos os mesmos? - July Braga Paradoxos trazidos pela Pandemia do Coronavírus - Geferson Carvalho Coronavírus - Vera Jacobina C O R O N A V Í R U S Nesta Edição: Foto: Google Imagens

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Page 1: - 2020 Edição Especial Digital · Recentemente li o livro “Sapiens – Uma breve história da humanidade” do historiador israelen-se Yuval Noah Harari. Na obra, o autor repassa

Jacobina—BA, Abril - 2020 Ano XXVII - Edição Especial - Digital

Edição Especial Digital

Imagem: Google

Editorial

Qual a lição que o Coronavírus pode nos deixar ? - Ivan Aquino

As pandemias e o homem - Cledson Sady

A higiene oral e a pandemia do COVID-19 - Cledson Sady

O mundo mudou? - Vera Jacobina

Seremos os mesmos? - July Braga

Paradoxos trazidos pela Pandemia do Coronavírus - Geferson Carvalho

Coronavírus - Vera Jacobina

C

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S

Nesta Edição: Foto: Google Imagens

Page 2: - 2020 Edição Especial Digital · Recentemente li o livro “Sapiens – Uma breve história da humanidade” do historiador israelen-se Yuval Noah Harari. Na obra, o autor repassa

Página 2 A LETRA

Fundado em 20 de novembro de 1993.

REDATORES: Equipe Acadêmica

CONSELHO EDITORIAL:

Equipe Acadêmica

DIAGRAMAÇÃO: Ivan Aquino Cledson Sady

Correspondência: Rua Melchior Dias, 20 - CEP- 44700-000

Jacobina - Bahia e-mail: [email protected]

ANO XXVII - Edição Especial Digital

Jacobina - Bahia, Abril - 2020

EDITORIAL

E o mundo teve que parar. Nossa

geração nunca enfrentou um momento

como este pelo qual estamos passando.

Um ser microscópico tem causado uma

paralisia global e suscitado discussões e

reflexões nas mais diversas áreas do co-

nhecimento humano. Cientistas, padres,

pastores, políticos, médicos, pedreiros,

engenheiros, professores, artistas, todos

expressam seus pontos de vista sobre o

“Coronavírus”.

De uma coisa temos certeza, o mun-

do nunca será o mesmo depois deste ad-

vento. As convivências sociais, as relações

políticas, religiosas, humanas, terão que

ser revistas. O conhecimento humano es-

tá abalado e muitos conceitos terão que

ser reavaliados. O vírus não levou em

consideração as diferenças criadas pelo

ser humano. Ninguém é melhor ou pior

para o “Corona”. O mundo inteiro discu-

te o assunto, procura culpados, soluções e

pensa em como será o futuro.

Dessa forma, os membros da AJL

também resolveram expor o que pensam

do Coronavírus e seu efeito sobre a socie-

dade humana, nesta edição especial do

Jornal “A Letra”.

Recentemente li o livro

“Sapiens – Uma breve história da

humanidade” do historiador israelen-

se Yuval Noah Harari. Na obra, o

autor repassa a história da humanida-

de, ou do homo sapiens, desde o sur-

gimento da espécie durante a pré-

história até os presentes dias, com

seus avanços e retrocessos. Também

questiona se, com o passar do tempo,

o homem soube utilizar a evolução

alcançada com sabedoria. É fato que em toda nossa his-

tória nunca chegamos a um nível tecnológico tão avançado.

Com o conhecimento e equipamentos atuais, a humanidade de-

veria estar usufruindo de um mundo bem melhor. Não devería-

mos estar enfrentando problemas que assolam a humanidade

atualmente: doenças, fome, discriminação, desigualdade social,

analfabetismo, mortalidade infantil. Tudo isso era para fazer parte do passado da humanida-

de em todos os cantos do planeta. Mas o avanço tecnológico

não foi acompanhado pelo avanço da sabedoria humana. Egoís-

mo, orgulho, ódio, mesquinhez, individualismo, frustração,

hostilidade, medo, são sentimentos que ainda têm forte influên-

cia na vida humana. Esses sentimentos influenciam nas ações

humanas em todos os campos da existência. Estão presentes em

toda a sociedade: na família, na religião, na política, no lazer,

no esporte... E dentro deste quadro chega o Coronavírus que não

escolhe credo, classe social, cor, nacionalidade, escolaridade,

etc. Esse temível vírus tem feito uma devastação em vários can-

tos do planeta. Mesmo neste quadro, o que vemos? Procura de

culpados, disputas políticas, religiosas, ideológicas, onde os

maus sentimentos acima citados estão atuando intensamente. Já está comprovado que uma das principais formas de

conter o avanço do Coronavírus é o isolamento social, ou seja,

seu recolhimento ao seu canto, ficando com os seus mais próxi-

mos, familiares e/ou amigos, com quem convive diariamente no

que você chama de lar. Não seria isso um chamado para a humanidade repen-

sar na sua existência? No sentido da vida? Não seria esse o mo-

mento de usar todo o conhecimento adquirido durante a história

da humanidade para o bem de todos e felicidades geral das na-

ções? Não seria esse o momento da humanidade testar a possi-

bilidade de viver em harmonia respeitando, ajudando, amando

seu semelhante? Não seria esse o momento de repensar em no-

vas formas de conviver com o meio ambiente, sem destruir o

planeta que nos possibilita a vida? Não seria esse o momento

da sabedoria humana deixar os sentimentos nobres: bondade,

companheirismo, humildade, alegria, altruísmo e, acima de tu-

do, amor, serem protagonista de uma nova história da humani-

dade? Ou será que um novo aviso terá que advir para que a hu-

manidade evolua de verdade?

Que tal uma reflexão sobre isso???

Qual a lição que pode nos deixar o Coronavírus?

Ivan Aquino

Ano XXVII - Edição Especial - Digital

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A LETRA Ano XXVII - Edição Especial - Digital

As pandemias e o homem.

Cledson Sady

Não sei se quando este singelo artigo for publicado já teremos esquecido da

pandemia do COVID-19, sofrendo os efeitos colaterais na economia ou restabeleci-

dos, já que parece que nunca passamos por isso quando surge um novo evento, es-

quecendo nossa história neste mundo.

A humanidade já viveu pandemias longas e destruidoras, quando nossos re-

cursos técnicos na área médica beirava o curandeirismo. Desde a antiguidade, idade

média e contemporânea, enfrentamos um inimigo invisível, altamente contagioso e

letal. Desde a peste negra, Hanseníase, tuberculose, cólera, gripe espanhola, AIDS,

sempre aparentou castigo divino e o final dos tempos, mas o mundo sempre seguiu.

No Brasil tivemos devastação em massa quando da chegada do invasor euro-

peu. Os donos da terra conheciam há milênios suas doenças, como desenvolveram suas práticas de cura, usando

das plantas, práticas religiosas, rotina de vida e alimentar específicas ao seu meio e organização social. Como me

disse uma vez o grande líder indígena Álvaro Tukano, conheceram e nominaram todas as plantas, animais, rios e

estrelas da Amazônia pela tradição oral, usando uma prática curativa tradicional, experimentada desde centenas

de anos antes da chegada do europeu, quando viviam sem roupas na mata, sem agredir a natureza, fortes e belos

como escreveu Caminha em sua carta ao Rei de Portugal.

Com a chegada do europeu, milhares de mortes de indígenas aconteceram, por não terem anticorpos pa-

ra combater o tal inimigo invisível. O cólera e a sífilis na América Central, a gripe no Brasil, exterminaram mais

pessoas que todas as outras pandemias que por aqui surgiram.

Na Bahia no final do século XIX a medicina baiana, especialmente com os médicos Alfredo Brito e Nina

Rodrigues, atuando no Hospital Santa Isabel, junto com a “Escola tropicalista baiana” desenvolveram estudos e

experimentaram cuidados para as vítimas da pandemia da gripe espanhola, que chegara da Europa, tendo conta-

minado cerca de seiscentos milhões de pessoas e matado 40 milhões de indivíduos de todas as faixas etárias e

condições sociais em todo o mundo.

Quando somos convocados a combater o COVID-19, ficando em casa, respeitando regras de higiene e

evitando o contato próximo, preservando especialmente os idosos e pessoas com imunidade comprometida, a saú-

de pública está fazendo o máximo que nossa experiência e saber sobre pandemias já registradas no mundo

transformou em protocolo. O vírus COVID-19, ainda é um ilustre desconhecido das nossas medicações, assim

como ocorreu com a chegada da bactéria vibrio cholerea, a tuberculose, a AIDS, a dengue, Zica, Chikungunya e

a gripe para os nossos indígenas. Estes não buscaram o contato com os europeus, mas foram dizimados pela ga-

nância dos estrangeiros.

Tudo voltará ao seu rumo, com alguns aprendizados, dores, perdas, mudanças de hábitos. Os europeus,

depois da gripe espanhola, tiveram duas guerras mundiais. Nós, brasileiros, ainda não nos firmamos das pernas,

desde a invasão europeia. Tivemos grande mortandade dos nativos, escravidão indígena e dos negros africanos,

imposição do modo de vida, produção e da ética guiada pela religião europeia, roubo das riquezas, e todas as ma-

zelas por que uma colônia fornecedora de matéria-prima pode passar. Nossa república, nossos representantes,

ainda pensa mais, em esmagadora maioria, no seu enriquecimento pessoal do que na melhoria de vida da popu-

lação.

Tivemos plano Funaro, inflação Sarney (mais de 80% ao mês), Collor, com confisco monetário, e outras

maravilhas que os sucederam, todos enriquecendo muito. Quando uma pandemia chega, ainda estamos despre-

venidos, sem leitos suficientes nem para o dia a dia, quanto mais para pacientes extras. Mas, vamos aprender.

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A LETRA Ano XXVII - Edição Especial - Digital

A higiene oral e a pandemia do COVID-19

Cledson Sady

Atuo como Cirurgião

Dentista no serviço público em

Jacobina e Mirangaba desde

1993. Especialmente nos povoa-

dos mais distantes e carentes de

Mirangaba, como também em

Jacobina, quando atendíamos

em unidades móveis na década

de 1990, conhecendo a realida-

de daquele povo mais carente,

quando dávamos orientações básicas de higiene oral, fazía-

mos bochechos fluorados nas crianças, além do tratamento

eletivo, geralmente exodontias.

No caso das ações preventivas para evitar a trans-

missão do Coronavírus, não ouvi ou li quase nada sobre higi-

ene oral, mesmo sendo muito divulgado que o vírus está pre-

sente na saliva, cavidade oral, garganta, além das vias respi-

ratórias.

Uma coisa era regra quase geral e ainda não mudou

nas comunidades de maior vulnerabilidade social, na nossa

região: o uso de escova dental coletiva. Numa casa com cinco

ou seis crianças e dois adultos, tem-se, muitas vezes, uma es-

cova para todos, sendo usada por meses. Além da transmis-

são de doenças, a inutilidade das escovas fica evidente. O uso

do creme dental tinha e tem o mesmo perigo de transmissão.

Sendo um tubo de creme dental para toda a casa e o hábito

de colocar o produto diretamente na escova dental, mesmo

sendo individuais, configura-se um fator de transmissão do

COVID-19 para toda a família.

Esta pandemia vai passar, como todas as outras.

Levará vidas, talvez aprimore hábitos de higiene, gere

algo de solidariedade, mas causará muitas dificuldades

financeiras, até falências. Como sempre, a humanidade

terá tido a oportunidade de enfrentar um inimigo invisí-

vel, um vírus, da mesma forma que enfrenta a ganância, o

egoísmo, a inveja, a maldade, desde que o homem surgiu

na Terra.

Espero que possamos ao menos usar bem nossas es-

covas de dente, individuais, e o creme dental, colocando pri-

meiro uma pequena porção no dedo, higienizado, para depois

aplica-lo na escova dental. Bochecho de uma colher de chá de

água oxigenada 10 volumes em um copo com água, por um

minuto, três vezes ao dia pode ajudar também. No corre-

corre da vida, muitas vezes deixamos de orientar e assimilar

boas práticas, simples, preferindo deixar o olho no complexo,

caro, temporal e fútil. Parece que precisamos de pandemias

para reavaliar nossos valores.

É impressão minha,

ou o mundo mudou?

O colorido está vibrante,

os pássaros é um alarido só,

e o sol, ah o sol!

Brilha e resplandece

num dourado encantador.

Os dias acontecem,

e nós vivemos um de cada vez,

"como se não houvesse amanhã..."

Mas que chegue

trazendo saúde, paz e alegria,

nos tirando de qualquer agonia,

nos fazendo se importar...

Com o divino,

empenhados no trabalho,

de fazer e compartilhar

um planeta melhor,

onde todos dão-se as mãos,

e agem também com o coração,

amenizando as dores e degustando sabores.

Publicado no site “Recanto das Letras” ,

na página da autora:

https://www.recantodasletras.com.br/autores/vereda

O mundo mudou?

Vera Jacobina

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Ano XXVII - Edição Especial - Digital Página 5 A LETRA

Perplexos e perplexas estamos todos nós diante do que os nossos olhos veem, nossos

ouvidos ouvem e nossos corações sentem. Foi a vida que nos surpreendeu e nos obrigou a pensar sobre os nossos atos, suas conse-

quências, assim como nos tem impulsionado a mudar de comportamentos na atual sociedade.

Diante dessa situação, do Coronavírus, invisível aos nossos olhos, nos questionamos sobre o que

fizemos, o que devemos fazer e qual será o nosso futuro, tão incerto. A relação entre ser humano e meio ambiente está em questão. A exploração desenfrea-

da da fauna e da flora... Por outro lado, muitos acreditam em obra de Deus para nos alertar sobre

o mundo que ele deixou e o mundo que se vê agora. A beleza da criação inspira, mas devemos

ter a certeza de que Deus se preocupa com a sua preservação e a sobrevivência do ser criado à

sua imagem.

Pensemos: Qual a origem desse Coronavírus? Logo nos reportamos a esse pensamento

superior. Cientistas se debruçam sobre a ciência, como um desafio da vida... notícias e mais notícias sobre os medicamentos,

testes e vacinas a serem descobertos. O mundo científico se une em estudos e experiências, buscando a cura e, principalmen-

te, a vacina.

Enquanto isso, cidadãos de todas as nacionalidades, raças, credos e classes sociais se isolam. É o isolamento social.

Se a vida estava com pressa, agora chegou o momento de parar para refletir sobre o antes, o agora e o depois. Até num momento desse de aflição, as classes sociais se dividem, deixando transparecer as desigualdades sociais e

econômicas. Os ricos, em suas fazendas ou apartamentos, das janelas fazem e assistem o show da vida. De baixo, como sem-

pre, os pobres cidadãos, trabalhadores informais ou desempregados, lutam para sobreviver: de um lado, a fome, do outro, o

vírus. São filas enormes implorando por um prato de comida. Graças a Deus, esses tempos de solidariedade tem aflorado

nos afortunados voluntários o prazer de amenizar a miséria. Pessoas morrendo... o vírus sem dó nem piedade matando indiscriminadamente... as estatísticas subindo no mundo

inteiro. Todos lutam, muitos morrem e muitos ficarão para contar a história assim como minha mãe me conta, de vez em

quando, o relato de um surto de febre tifoide, na década de 40, em que meu avô “gastou o que tinha e o que não tinha” para

salvar os filhos.

Viveremos, mas não seremos mais os mesmos.

Assim diz a canção: “A vida é um rio...”. Teremos que falar menos e agir mais...

“A Vida É Um Rio

(Raffa Torres)

A vida é um rio

Estamos no mesmo barco

Remaremos juntos

Pra onde vai esse rio

Ainda não sabemos

Mas, remaremos juntos

Ainda temos estrelas pra alcançar

Sonhos pra sonhar

Flores pra regar

Mas, precisamos fazer isso juntos

E vamos fazer isso juntos

Uoh ô ô ô

Não seremos os mesmos jamais

Uoh ô ô ô

Se a gente falar menos e agir mais

Uoh ô ô ô

Não seremos os mesmos jamais

Uoh ô ô ô

Se a gente falar menos e agir mais

A vida é um rio

Estamos no mesmo barco

Remaremos juntos

Pra onde vai esse rio

Ainda não sabemos

Mas, remaremos juntos

Ainda temos estrelas pra alcançar

Sonhos pra sonhar

Flores pra regar

Mas, precisamos fazer isso…

Seremos os mesmos?

July Braga

Page 6: - 2020 Edição Especial Digital · Recentemente li o livro “Sapiens – Uma breve história da humanidade” do historiador israelen-se Yuval Noah Harari. Na obra, o autor repassa

Ano XXVII - Edição Especial - Digital Página 6 A LETRA A LETRA

Ano XXV, Nº 54

Paradoxos trazidos pela Pandemia do Coronavírus.

Paradoxalmente, a pandemia do Coronavírus tem seus méri-

tos. Como um tsunami, avança ferozmente contra as nações, gerando

pânico, desespero e pranto; seu alvo tem sido a destruição de massas e

a falência de sistemas complexos de sustentabilidade humana. Por

outro lado, como uma brisa, acalenta multidões de trabalhadores fati-

gados, viciados em trabalho, dando tempo para recuperarem suas for-

ças, equilíbrio e sanidade; famílias diluídas, perdidas pelo número

elevado de compromissos e atividades, agora tem seus membros estra-

nhamente reunidos na mesma mesa, alimentadas pelo reflorescimento

do diálogo, cooperação e unidade.

Enquanto o vírus amordaça a garganta, sufoca e comprime

pulmões, interligando humanos a máquinas respiratórias, o planeta

respira melhor: nuvens de poluição são dissipadas dos centros urba-

nos, o céu resplandece em azul limpo, sem manchas, a camada de

ozônio se renova e bilhões de pessoas, pela primeira vez, respiram

oxigênio puro, natural. Curiosamente, máscaras deixaram de ser usa-

das como filtros de ar para conter partículas químicas, neste momento

como barreiras, muitas vezes improvidas, para impedir avanço de aterrorizantes partículas orgânicas.

Como um vírus cibernético, o covid-19 infecta o modelo de vida moderno (lifestyle), pautado nas vaida-

des, consumos extravagantes, busca desenfreada por prazeres carnais e acúmulo de capitais. Agindo como hacker,

o vírus controla mentes e sistemas, alterando configurações clássicas do mercado financeiro, econômico e social,

determinando a atividade humana dentro e fora dos lares. Ele dita as regras: privados dos entorpecentes, muitos

ébrios e dependentes químicos estão sendo desintoxicados. Fanfarrões e playboys são tangidos para seus lares.

Celebridades, madames e executivos forçosamente submetem-se a atividades domésticas nada glamourosas. A

mídia está voltada para profissionais e autoridades de saúde, calando a voz de tradicionais políticos, famosos e

poderosos, que sempre deram as cartas à sociedade brasileira. O mundo está de pernas pro ar!

O vírus está expondo a fragilidade humana e sua incapacidade de debelar eficazmente adversidades des-

conhecidas. O microrganismo está quebrando a lógica do poder e da acumulação de riquezas. As grandes potên-

cias mundiais, com todos seus recursos humanos, econômicos e tecnológicos, sucumbem com número elevado de

mortes e infectados, que é infinitamente maior que os registrados em países pobres. Em meados de abril, por

exemplo, toda a África contabilizava pouco mais de 15 mil infectados, enquanto os USA já ultrapassava meio

milhão de doentes. Pensávamos estar prontos para colonizar o planeta Marte em audacioso projeto no qual quase

tudo já fora idealizado, produzido e testado para suportar as rigorosas intempéries do ambiente marciano. Com

essa crise, bem provável que o projeto seja adiado.

Meses atrás, o mundo aplaudia a rebeldia de intolerantes que, a pretexto de produzir arte, blasfemavam

contra a Bíblia, seus valores e sua divindade. Curiosamente, essa praga surgiu no período que em a Netflix disse-

minava mundialmente a exibição do filme “Especial de Natal Porta dos Fundos: A Primeira Tentação de Cristo”,

retratando Jesus Cristo como um homossexual pueril, namorado de Lúcifer. Essa onda de ridicularizar o sagrado

estava ganhando força no Brasil, todavia, com muita gente buscando o transcendental, tende a minguar. Pergunto:

onde estão os que escarneceram de Jesus Cristo nas passarelas do Carnaval de São Paulo e Rio de Janeiro? Man-

tém o orgulho e a ousadia? Ou estão amedrontados, fugindo do vírus?

É consenso que neste momento de crise impera uma atmosfera de quebrantamento de espírito entre as

pessoas, aflorando ações de gentileza, altruísmo, bondade e solidariedade; o orgulho dando lugar a humildade, a

soberba à gratidão, a descrença à fé, as intrigas à comunhão. Ainda há coisas boas para comemorar!

Geferson Carvalho

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Ano XXVII - Edição Especial - Digital Abril - 2020 Página 7 A LETRA A LETRA

Ano XXV, Nº 54

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