2012 - paebes.caedufjf.net · (epp) do espírito santo nas disciplinas de língua portuguesa e...
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REVISTA DA GESTÃOESCOLAR
ISSN 2237-8324
SEÇÃO 1
O desafio da gestão escolar:avaliação e qualidade do ensino
EXPERIÊNCIA EM FOCO
SEÇÃO 2
A ampliação do ensino fundamental:obrigatoriedade e expectativas
SEÇÃO 3
Padrões de Desempenho
SEÇÃO 4
Os resultados da avaliação
EXPERIÊNCIA EM FOCO
AlfaPAEBES
2012
Paebes Alfa
ISSN 2237-8324
Programa de Avaliação da Educação Básica do Espírito Santo
REVISTA DA GESTÃO ESCOLAR
GOvERnADOR DO EStADO DO ESPÍRitO SAntOJosé renAto cAsAgrAnde
viCE-GOvERnADOR DO EStADO DO ESPÍRitO SAntOgivAldo vieirA dA silvA
SECREtÁRiO DO EStADO DA EDuCAçãOKlinger mArcos bArbosA Alves
SuBSECREtÁRiO DE EStADO DE PlAnEJAMEntO E AvAliAçãOeduArdo mAlini
GEREntE DE infORMAçãO E AvAliAçãO EDuCACiOnAlAline elisA cottA d`ávilA
SuBGERÊnCiA DE AvAliAçãO EDuCACiOnAlmAriA AdelAide tÂmArA Alves (subgerente)denise morAes e silvAgloriete cArniellimArildA surlo grAciottisilviA mAriA Pires de cArvAlHo leite
SuBGERÊnCiA DE EStAtÍStiCA EDuCACiOnAldenise PereirA dA silvA (subgerente)AnA PAulA APArecidA rAimundodAniel serAfim grossi diAselZimAr sobrAl scArAmussAmonicA KelleY bottoni de souZAmonique mArinHo noiA
Klinger Marcos Barbosa Alves, Secretário de Estado da Educação
AO EDuCADORApós um trabalho árduo para garantir o acesso de todas as crianças às escolas, o desafi o de hoje é
assegurar a qualidade do ensino. A sociedade exige melhorias nos níveis de aprendizagem e o Programa
de Avaliação da Educação Básica do Espírito Santo (Paebes) é um importante instrumento no processo
de planejamento das ações pedagógicas que vão contribuir para alcançar as metas estabelecidas.
O diagnóstico do sistema de ensino do Espírito Santo, obtido por meio do Paebes ao longo dos últimos
anos, subsidia a defi nição de políticas educacionais. Assim, o Paebes torna-se imprescindível de tal
modo que, a cada nova edição, surge a necessidade de ampliar sua abrangência.
No ano de 2012, além das provas de Língua Portuguesa, matemática, os alunos também fi zeram testes
de história e Geografi a. Ao todo, mais de 260 mil estudantes das redes estadual, particular e municipal
foram avaliados, nos anos iniciais e fi nais do Ensino Fundamental e na 3ª série do Ensino médio.
Dessa maneira, esperamos que as informações contidas nas publicações possam auxiliar os educadores
do estado na busca permanente que é de todos nós: garantir aos alunos o direito de aprender.
SumáRIO
EXPERIÊNCIA Em FOCO PáGINA 14
2. A AmPLIAÇÃO DO ENSINO FuNDAmENTAL – OBRIGATORIEDADE E EXPECTATIVAS PáGINA 16
1. O DESAFIO DA GESTÃO ESCOLAR: AVALIAÇÃO E quALIDADE DO ENSINO PáGINA 10
EXPERIÊNCIA Em FOCO PáGINA 21
4. OS RESuLTADOS DA AVALIAÇÃO PáGINA 22
3. PADRõES DE DESEmPENhO PáGINA 19
2. A AmPLIAÇÃO DO ENSINO FuNDAmENTAL – OBRIGATORIEDADE E EXPECTATIVAS PáGINA 16
Cara Equipe Gestora, a Revista da Gestão Escolar oferece informações gerais sobre a participação
dos estudantes na avaliação e os resultados de proficiência alcançados, apresentando, de
modo sintético, os Padrões de Desempenho estudantil, além de discussões em prol de uma
educação de qualidade.
O DESAfiO DA GEStãO ESCOlAR: AvAliAçãO E quAliDADE DO EnSinO
A cidadania está ancorada nas metas públicas de uma educação de qualidade. Isso
porque o indivíduo se torna cidadão não apenas quando o direito fundamental à vida
lhe é assegurado, mas também quando está capacitado ao exercício da democracia,
de modo a participar do destino da sociedade. Nesse sentido, a escola é uma das
instâncias de referência para a formação deste sujeito crítico e ativo, sendo o papel
formador um desafio para a gestão escolar. As atuais diretrizes federais propõem às
instituições públicas de ensino autonomia no seu processo de decisões, tanto do
ponto de vista pedagógico quanto financeiro.
Para garantir uma aprendizagem de qualidade, é preciso, antes de tudo, fazer um
diagnóstico da educação nas redes de ensino que indique quais ações educacionais
e gerenciais devem ser tomadas, função desempenhada pela avaliação em larga
escala. Para que as ações sejam concretizadas em prol da excelência do sistema
educacional, faz-se necessário que gestores, professores, estudantes e comunidade
escolar conheçam, entendam e se apropriem de seus resultados. As informações
obtidas subsidiam a elaboração de políticas públicas voltadas à melhoria do processo
de ensino-aprendizagem e ao planejamento de propostas pedagógicas que possam
propiciar o avanço necessário.
Embora recente, a avaliação em larga escala no Brasil tem um respaldo legal. A Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (LDB/96), em seu artigo 9º, inciso
VI, estabelece que cabe à união assegurar o processo nacional de avaliação do
1
10 Paebes Alfa 2012
rendimento escolar na Educação Básica e Superior, em colaboração com os sistemas de
ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade da educação.
Neste contexto, as principais avaliações no país são o Sistema Nacional de Avaliação
da Educação Básica (Saeb), o Exame Nacional do Ensino médio (Enem) e o Exame
Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), que integra o Sistema Nacional
de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). Ao monitorar a qualidade do ensino, as
avaliações fornecem aos gestores um importante diagnóstico para embasamento de
políticas públicas educacionais nas instâncias federal, estadual e municipal.
A partir dessa perspectiva, a Secretaria de Estado da Educação do Espírito Santo
(SEDu), em parceria com o Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da
universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/uFJF), divulga os resultados do Paebes Alfa.
A Revista da Gestão Escolar oferece informações gerais sobre a participação dos
estudantes na avaliação e os resultados de proficiência alcançados, apresentando, de
modo sintético, os Padrões de Desempenho estudantil, além de discussões em prol de
uma educação de qualidade. Também são disponibilizados nesta Revista depoimentos,
baseados em relatos de experiência com o coordenador da avaliação e com um diretor
de escola da rede de ensino, de modo a aproximar a apropriação dos resultados à
prática educacional.
REviStA DA GEStãO ESCOlAR 11
2ª ondA
1ª ondA
110.738
2009
50.544
2008
Língua Portuguesa
1° Ano EF
Língua Portuguesa
1° Ano EF, 2º Ano EF e 3º Ano EF
Língua Portuguesa
1° Ano EF e 2° Ano EF
Língua Portuguesa
1° Ano EF e 2° Ano EF
51.059
2008
44.665
2009
O Paebes Alfa
O Programa de Avaliação da Educação Básica do Espírito Santo (Paebes Alfa) avaliou em
2012, os estudantes das escolas estaduais, municipais e Escolas Particulares Participantes
(EPP) do Espírito Santo nas disciplinas de Língua Portuguesa e matemática. O programa
avaliou estudantes do 1° ano, 2° ano e 3° ano do Ensino Fundamental. Na linha do tempo
a seguir, pode-se verifi car a trajetória do Paebes Alfa e, ainda, perceber como tem se
consolidado diante das informações que apresentam sobre o desempenho dos estudantes.
Paebes Alfa - tRAJEtÓRiA
12 Paebes Alfa 2012
2ª ondA
1ª ondA
110.738
2009
50.544
2008
Língua Portuguesa
1° Ano EF
Língua Portuguesa
1° Ano EF, 2º Ano EF e 3º Ano EF
Língua Portuguesa
1° Ano EF e 2° Ano EF
Língua Portuguesa
1° Ano EF e 2° Ano EF
51.059
2008
44.665
2009
O Paebes Alfa
O Programa de Avaliação da Educação Básica do Espírito Santo (Paebes Alfa) avaliou em
2012, os estudantes das escolas estaduais, municipais e Escolas Particulares Participantes
(EPP) do Espírito Santo nas disciplinas de Língua Portuguesa e matemática. O programa
avaliou estudantes do 1° ano, 2° ano e 3° ano do Ensino Fundamental. Na linha do tempo
a seguir, pode-se verifi car a trajetória do Paebes Alfa e, ainda, perceber como tem se
consolidado diante das informações que apresentam sobre o desempenho dos estudantes.
Paebes Alfa - tRAJEtÓRiA
127.302
2012
38.323
2012
113.561
2011
34.377
2011
116.729
2010
43.504
2010
Língua Portuguesa e matemática
1° Ano EF
Língua Portuguesa e matemática
1° Ano EF
Língua Portuguesa e matemática
1° Ano EF
Língua Portuguesa e matemática
1° Ano EF, 2° Ano EF e 3º Ano EF
Língua Portuguesa e matemática
1° Ano EF, 2° Ano EF e 3º Ano EF
Língua Portuguesa e matemática
1° Ano EF, 2° Ano EF e 3º Ano EF
REviStA DA GEStãO ESCOlAR 13
Avaliações colaboram para elaboração de políticas públicas de educação mais efetivas
Com pouco mais de um ano à frente da
coordenação da Avaliação do Espírito Santo,
Eduardo malini defende a importância do sistema
avaliativo em larga escala enquanto política
pública para o estado.
Graduado em Ciências Sociais, Especialista
em Gestão municipal de Políticas Públicas e
mestre em Educação, o profissional acredita
que a medida “permite ao gestor público tomar
decisões mais seguras e garantir não somente
a aplicação eficaz dos recursos públicos, mas,
fundamentalmente, condições pedagógicas mais
favoráveis ao desenvolvimento da aprendizagem”.
Para ele, o programa de avaliação é produtivo
porque possibilita acompanhar o desenvolvimento
dos estudantes, relacionando a aprendizagem
com a idade do avaliado em um intervalo de
tempo determinado.
Esse processo, segundo
o coordenador, traz
benefícios para o
ensino. Tendo acesso aos resultados e analisando-
os, é possível subsidiar intervenções pedagógicas
efetivas e intervir positivamente na situação das
escolas. Dessa maneira, as ações se tornam mais
focadas e, portanto, mais eficazes. “A avaliação
permite informar sobre os resultados gerais em um
estado ou em um município e o que pode ser feito
para a obtenção de melhorias, se necessárias.
Além de obter resultados específicos por escola
e por estudante” , completa. Esses resultados
servem como fonte de estímulo e são norteadores
do desenvolvimento da aprendizagem.
• Entendendo o processo
Eduardo acredita que o envolvimento de todos os
integrantes da comunidade escolar é essencial
para o êxito da avaliação. E esse entendimento
deve ser ampliado, multiplicado, não se restringindo
ao contexto escolar. “Por permitir uma visão
sistêmica, desde a alta gestão, passando pelas
administrações regionais e chegando aos gestores
escolares e professores, deve haver um enorme
comprometimento com a realização das avaliações”,
afirma. Para ele, imprescindível também é que os
próprios estudantes entendam a importância, a
Eduardo Malini,Coordenador da avaliação do Espírito Santo
EXPERiÊnCiA EM fOCO
A avaliação permite informar sobre os resultados gerais
em um estado ou em um município e o que pode ser feito para
a obtenção de melhorias, se necessárias forem. Além de obter
resultados específicos por escola e por estudante...
ClAREzA nA AvAliAçãO, ClAREzA nO EnSinO
14 Paebes Alfa 2012
finalidade do sistema. Essa é uma forma de garantir
maior veracidade às informações coletadas, pois
são eles que farão os testes. “É necessário que
percebam mudanças a partir das avaliações para o
comprometimento ser crescente”.
A certeza de que os resultados obtidos através
dos testes servirão de base para a formulação
de políticas públicas mais efetivas e para o
enfrentamento das necessidades de melhoria na
aprendizagem é o que impulsiona o coordenador.
E esse é também o principal desafio: concretizar
os resultados da avaliação, transformando-os
em políticas voltadas para o desenvolvimento do
processo ensino-aprendizagem.
No entanto, Eduardo ressalta que as avaliações
em larga escala não tiram o espaço das avaliações
processuais aplicadas pelos professores no dia a
dia escolar. “Ambas são e devem ser ferramentas
de monitoramento para a melhoria do ensino”.
Destaca, ainda, que as duas formas têm objetivos
diferentes. “mas se pensarmos na gestão de um
sistema, de uma rede de escolas, a existência de
avaliações em larga escala permite a ampliação do
olhar, sem perdermos o foco na escola”.
• foco na docência
O sistema avaliativo permite que o professor
perceba os resultados de seu trabalho. um dos
objetivos da avaliação, segundo Eduardo, é
promover o suporte de informações necessárias
à construção de políticas de formação de
professores; além de permitir a criação de políticas
de bonificação por desempenho para os docentes.
Isso já vem acontecendo no estado. O
monitoramento da qualidade do ensino permitiu
que a Secretaria de Educação verificasse a
necessidade de uma ação intensa na formação
de professores de matemática do Ensino médio.
A intervenção foi feita e, após três anos de
investimentos, os resultados chegaram aos
estudantes com o avanço do aprendizado na
matéria. “Percebemos nessa situação que o
monitoramento permitiu uma ação eficaz e de
impacto”, conta Eduardo.
Além disso, o estado do Espírito Santo desenvolveu
seu plano de formação de professores a partir
das informações extraídas do Paebes. Esses
mesmos resultados também proporcionam o
desenvolvimento da política de bonificação por
desempenho para os profissionais da educação, o
Bônus Desempenho.
“Nenhuma ação pode acontecer sem que haja
ferramentas de monitoramento de seus impactos
e efetividades”, enfatiza Eduardo, esperando
que os benefícios da avaliação continuem
presentes nas políticas de formação docente e de
assessoramento pedagógico para as escolas.
Um dos objetivos da avaliação, segundo Eduardo, é promover o
suporte de informações necessárias à construção de políticas de formação
de professores; além de permitir a criação de políticas de bonificação por
desempenho para os docentes.
REviStA DA GEStãO ESCOlAR 15
A estrutura e a forma de organização do Ensino Fundamental têm
apresentado muitas mudanças nos últimos anos, revelando uma
preocupação com o ensino ofertado por esta etapa de escolaridade.
uma das mudanças mais significativas foi a ampliação do Ensino
Fundamental, que passou a contar com a previsão de nove anos de
escolaridade, um ano a mais do que previa a organização anterior,
de oito anos.
A concepção de um Ensino Fundamental de nove anos não é
uma peculiaridade do sistema educacional brasileiro. Ela pode
ser percebida como um movimento mundial, que já ganhou força
em muitos outros países, e se encontra em expansão também na
América Latina.
No Brasil, a Lei 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, é o documento
que dispõe e regulariza a escolaridade obrigatória com entrada na
escola a partir dos seis anos de idade, prevendo a organização do
Ensino Fundamental em nove anos. A Lei é fruto do entendimento
de haver uma necessidade de ampliar a duração da escolaridade
obrigatória no país.
A determinação legal de ampliação do tempo de escolaridade, com
a consequente inclusão das crianças com seis anos de idade no
Ensino Fundamental, tem dois principais objetivos:
A AmPliAção dA
escolAridAde
obrigAtóriA está
relAcionAdA com
A tentAtivA de
enfrentAr dois
grAndes ProblemAs
que A educAção
brAsileirA vem
APresentAndo: os
Altos índices de
evAsão escolAr e A
quAlidAde do ensino
ofertAdo no PAís,
AindA Aquém do que
se esPerA.
2
A AMPliAçãO DO EnSinO funDAMEntAl – OBRiGAtORiEDADE E EXPECtAtivAS
16 Paebes Alfa 2012
» Oferecer maiores oportunidades de
aprendizagem no período de escolarização
obrigatória, já que prevê um aumento do
tempo de escolaridade;
» Buscar assegurar uma maior permanência
das crianças e, depois, adolescentes, na
escola, permitindo com que alcancem maior
nível de escolaridade, visto que as crianças
ingressariam mais cedo no sistema escolar.
Estes dois objetivos se alicerçam,
fundamentalmente, em duas crenças: a de que,
quanto mais longa for a escolaridade obrigatória,
maiores as chances de o estudante permanecer
na escola; e a de que a antecipação da entrada
dos estudantes no Ensino Fundamental aumentará
suas oportunidades escolares, fazendo com que
alcancem melhores rendimentos no decorrer de
sua trajetória escolar. Essas duas crenças revelam,
portanto, que a ampliação da escolaridade
obrigatória está relacionada com a tentativa de
enfrentar dois grandes problemas que a educação
brasileira vem apresentando: os altos índices de
evasão escolar e a qualidade do ensino ofertado
no país, ainda aquém do que se espera.
Além dessas preocupações, ainda há outra,
de cunho social. O ingresso antecipado na
escola atende a camadas menos favorecidas
da população. Crianças de estratos sociais mais
favorecidos, na idade de seis anos, em regra, já
estavam frequentando a escola. O mesmo não
ocorria com as crianças cuja origem social era
menos favorecida. Ainda um ponto importante a
ser considerado: já havia uma tendência, anterior
à Lei 11.274, de ingresso na escola aos seis anos
de idade, como mostram os dados do IBGE,
relativos ao tema, datados de 2000. Segundo tais
dados, à época, 81,7% das crianças de seis anos já
frequentavam a escola, sendo que cerca de 29% já
estavam no Ensino Fundamental.
quando se trata de avaliar as consequências da
ampliação do ensino obrigatório, ainda é cedo
para emitir algum julgamento sólido sobre suas
possibilidades e falhas. Contudo, é possível,
desde já, levantar alguns pontos essenciais em
torno desse debate. Não há concordância, na
literatura que tem se dedicado ao tema, acerca da
eficácia do Ensino Fundamental de nove anos. Os
especialistas se dividem.
há quem acredite se tratar de uma política acertada,
visto que o Ensino Fundamental estava mesmo
carecendo de uma reforma em sua organização, e
a ampliação da escolaridade obrigatória para nove
anos seria um passo importante nesse sentido,
pois não só contribuiria para uma mudança na
estrutura e na cultura escolar, como também daria
mais ênfase a uma etapa essencial do processo de
aprendizagem, a Alfabetização. Com mais tempo
destinado à Alfabetização, estaríamos combatendo
um dos grandes problemas educacionais que
ainda nos aflige.
REviStA DA GEStãO ESCOlAR 17
Por outro lado, há quem pense que tal ampliação acabaria por
suprimir uma etapa do importante trabalho desenvolvido no período
pré-escolar, no bojo da Educação Infantil. Além disso, o aumento
do tempo destinado à escolarização obrigatória acabaria por se
mostrar uma medida meramente administrativa, sem reais impactos
na melhoria da qualidade da educação, na medida em que não
implicaria uma reforma do Ensino Fundamental, constituindo uma
ação isolada e, portanto, ineficaz.
Embora exista divergência acerca do tema, há um terreno comum,
sobre o qual todos concordam. A ampliação do Ensino Fundamental
não pode figurar como uma ação isolada, desconectada de um
movimento maior, de reforma de toda a estrutura do Ensino
Fundamental. Ela não pode ser pensada apenas como um
acréscimo de um ano de escolaridade. Ainda, é preciso que haja
uma reforma que vá além de aspectos meramente administrativos
e organizacionais, tendo em vista a necessidade de uma mudança
pedagógica. Isso significa a ênfase no aspecto cognitivo que essa
mudança exige: formação específica de professores para trabalhar
com crianças de seis anos; adaptação de conteúdos, que devem ser
específicos para essa faixa etária, e não uma simples transferência
de conteúdos da antiga 1ª série do Ensino Fundamental; adaptação
do material didático e das atividades utilizadas para atender a esse
público específico; investigação de outros elementos necessários à
adaptação desses novos estudantes, como a própria organização
física da sala de aula, bem como o mobiliário utilizado.
Vale notar ainda que, mesmo entre aqueles que acreditam na
eficácia dessa mudança, estes pontos são ressaltados. No que tange
à Alfabetização, por exemplo, não basta que o tempo dedicado a
essa etapa seja ampliado do ponto de vista formal. É preciso que
haja um uso mais eficaz do tempo destinado a esta atividade. Em
razão do pouco tempo de implantação de tal política, ainda não é
possível estabelecer um diagnóstico preciso se ela trará benefícios
para o ensino ofertado, melhorando sua qualidade, ou se acarretará
o aumento de problemas antigos, e mesmo o surgimento de novos.
O fato é que, sem um planejamento que envolva a atenção a todos
os elementos abarcados nessa discussão, a ampliação do Ensino
Fundamental para nove anos será apenas mais uma tentativa
de política educacional para a reforma de nosso ensino que não
alcançaram os resultados esperados.
A AmPliAção do
ensino fundAmentAl
não Pode figurAr
como umA
Ação isolAdA,
desconectAdA de um
movimento mAior,
de reformA de todA
A estruturA do
ensino fundAmentAl.
18 Paebes Alfa 2012
Esta seção apresenta os Padrões de Desempenho agrupados em quatro níveis de acordo com
intervalos de desempenho dos estudantes na avaliação. Por meio desses Padrões, é possível
planejar e realizar ações voltadas aos estudantes a partir do nível em se encontram.
3
Os testes aplicados aos estudantes trazem uma medida de seu desempenho nas
habilidades avaliadas, denominada PROFICIÊNCIA. Os resultados de proficiência
obtidos foram agrupados em quatro PADRõES DE DESEmPENhO – Abaixo do básico,
Básico, Proficiente e Avançado. Esses Padrões proporcionam uma interpretação
pedagógica das habilidades desenvolvidas pelos estudantes e oferecem à escola
o entendimento a respeito do nível em que eles se encontram. Por meio deles é
possível analisar a distância de aprendizagem entre os estudantes que se encontram
em diferentes níveis de desempenho, do mais baixo ao mais elevado. É importante
atentar-se para os estudantes que estão nos Padrões mais baixos, pois são eles os
mais vulneráveis à evasão e ao insucesso escolar.
Os níveis de proficiência compreendidos em cada um dos Padrões de Desempenho,
para as diferentes etapas de escolaridade avaliadas, correspondem a determinados
intervalos de pontuação alcançada nos testes e estão descritos mais detalhadamente
na Revista Pedagógica desta Coleção. A seguir, são apresentados os Padrões de
Desempenho e suas respectivas caracterizações.
PADRõES DE DESEMPEnhO
REviStA DA GEStãO ESCOlAR 19
língua Portuguesaacima de 600 acima de 700 acima de 750
Matemáticaacima de 550 acima de 600 acima de 650
língua Portuguesa500 a 600 600 a 700 650 a 750
Matemática450 a 550 500 a 600 550 a 650
língua Portuguesa400 a 500 500 a 600 600 a 650
Matemática350 a 450 400 a 500 450 a 550
língua Portuguesaaté 400 até 500 até 600
Matemáticaaté 350 até 400 até 450
1º Ano EF 2º Ano EF 3ª Ano EF
Avançado
Proficiente
Básico
Abaixo do Básico
O estudante que atingiu este Padrão de Desempenho revela ter
desenvolvido habilidades mais sofisticadas e demonstra ter um
aprendizado superior ao que é previsto para o seu ano escolar.
O desempenho desses estudantes nas tarefas e avaliações
propostas supera o esperado e, ao serem estimulados, podem ir
além das expectativas traçadas.
Neste Padrão de Desempenho, o estudante demonstra ter
adquirido um conhecimento apropriado e substancial ao que
é previsto para a sua etapa de escolaridade. Neste nível, ele
domina um maior leque de habilidades, tanto no que diz respeito
à quantidade, quanto à complexidade, as quais exigem um
refinamento dos processos cognitivos nelas envolvidos.
O estudante que se encontra neste Padrão de Desempenho
demonstra ter aprendido o mínimo do que é proposto para
o seu ano escolar. Neste nível ele já iniciou um processo de
sistematização e domínio das habilidades consideradas básicas
e essenciais ao período de escolarização em que se encontra.
Neste Padrão de Desempenho, o estudante demonstra
carência de aprendizagem do que é previsto para a sua etapa
de escolaridade. Ele fica abaixo do esperado, na maioria das
vezes, tanto no que diz respeito à compreensão do que é
abordado, quanto na execução de tarefas e avaliações. Por isso,
é necessária uma intervenção focada para que possa progredir
em seu processo de aprendizagem.
PADRõES DE DESEMPEnhO EStuDAntil
áREA DO CONhECImENTO AVALIADA
CARACTERIzAÇÃO
20 Paebes Alfa 2012
língua Portuguesaacima de 600 acima de 700 acima de 750
Matemáticaacima de 550 acima de 600 acima de 650
língua Portuguesa500 a 600 600 a 700 650 a 750
Matemática450 a 550 500 a 600 550 a 650
língua Portuguesa400 a 500 500 a 600 600 a 650
Matemática350 a 450 400 a 500 450 a 550
língua Portuguesaaté 400 até 500 até 600
Matemáticaaté 350 até 400 até 450
INTERVALO NA ESCALA DE PROFICIÊNCIA POR ETAPA AVALIADA
1º Ano EF 2º Ano EF 3ª Ano EF
REviStA DA GEStãO ESCOlAR 21
legenda explicativa para o quadro de resultados de desempenho e participação
• Resultados: é explicitado o desempenho da escola
e das demais instâncias por disciplina e etapa de
escolaridade.
• Edição: ano em que a prova foi aplicada e ao qual o
resultado se refere.
• Proficiência média: grau ou nível de aproveitamento
na avaliação.
• Desvio padrão: medida da variação entre as
proficiências individuais (ou seja, das diferenças de
proficiência entre os estudantes avaliados).
» Considerando um caso hipotético, em
que todos os estudantes de uma mesma
escola obtenham exatamente o mesmo
resultado no teste, o desvio padrão é igual
a zero, indicando que não houve variação de
proficiência dentre os estudantes daquela
escola. Valores menores de desvio padrão
indicam, portanto, uma situação mais
igualitária dentro da escola, pois apontam para
menores diferenças entre os desempenhos
individuais dos estudantes. Por outro lado,
valores maiores de desvio padrão indicam
que os estudantes da escola constituem
uma população mais heterogênea do ponto
de vista do desempenho no teste, ou seja,
mais desigual, de modo que se percebem
casos mais extremos de desempenho, tanto
para mais quanto para menos. Este dado
indica o grau de equidade dentro da escola,
sendo muito importante, pois um dos maiores
desafios da Educação é promover o ensino
de forma equânime.
• Nº previsto de estudantes: quantidade de
estudantes calculada para participar da avaliação
antes da realização da prova.
• Nº efetivo de estudantes: quantidade de
estudantes que realmente responderam aos testes
da avaliação.
• Participação (%): percentual de estudantes que
fizeram o teste a partir do total previsto para
a avaliação.
» Este percentual é importante, pois quanto
mais estudantes do universo previsto para
ser avaliado participarem, mais fidedignos
serão os resultados encontrados e maiores
as possibilidades de se implementar políticas
que atendam a esse universo de forma eficaz.
• % de estudantes por Padrão de Desempenho:
percentual de estudantes que, dentre os que foram
efetivamente avaliados, estão em cada Padrão
de Desempenho.
OS RESultADOS DA AvAliAçãOnesta seção são apresentados os resultados dos estudantes desta escola na avaliação do Paebes Alfa 2012.
Para uma interpretação apropriada do desempenho da escola, encontram-se a seguir os resultados de proficiência
média, participação e distribuição dos estudantes por Padrão de Desempenho; bem como análises contextuais,
baseadas nos questionários aplicados junto aos testes. Esses resultados têm como objetivo oferecer à escola um
panorama do desempenho dos estudantes avaliados em todas as etapas de escolaridade e áreas de conhecimento
no ciclo 2012.
4
22 Paebes Alfa 2012
EXPERiÊnCiA EM fOCO
Esse instrumento permite avaliar os conhecimentos
prévios do educando, além de mostrar como a escola
desenvolve os conteúdos e onde devemos avançar
para atingir os níveis de proficiência desejados...
ABRAçAnDO AS OPORtuniDADES
Envolvimento da comunidade escolar na avaliação externa ajuda escola a superar os próprios limites
Dizem que sorte é o encontro do preparo com
a oportunidade. Vanete zani Klippel acredita na
premissa e, por isso, sempre se preparou como
professora. hoje, por assumir o papel de gestora
escolar, percebe a importância do investimento
em capacitação na sua carreira. “Ao escolher o
curso de pós-graduação, pensei em alguma coisa
que fosse me tornar melhor na sala de aula. Sem
que eu esperasse, estava me preparando para o
cargo de diretora”.
Formada em Pedagogia, com pós-graduação
em Psicopedagogia e Pedagogia Empresarial e
Especialista em Gestão Escolar, trabalha há cinco
anos como gestora na Rede Estadual de Ensino
do Espírito Santo. Para Vanete, é necessário
desenvolver uma visão ampla sobre o ambiente
escolar, a fim de aperfeiçoar o processo de ensino-
aprendizagem. “O maior desafio do gestor é ter
uma visão 360º da escola, ou seja, estar ligado
nas ações dos envolvidos, pois só há um foco para
todos: o pedagógico”, complementa.
A diretora acredita que a instituição deve estar
presente na vida dos estudantes para além
dos muros da escola. ultrapassar esses limites,
procurar compreender a realidade da comunidade
e buscar o envolvimento de todos os agentes da
educação faz com que a escola se torne parte da
vida dos educandos, mesmo fora das salas de
aula. “Nosso papel é conhecer o perfil das famílias,
valorizar a realidade de cada uma e trabalhar
com o estudante a partir disso”. Vanete destaca,
ainda, que o desenvolvimento do conteúdo e dos
projetos deve acontecer a partir das necessidades
e características encontradas.
• Ampliando horizontes
Trabalhar com o foco na participação de todos
é o que faz o sistema de avaliação externa ser
encarado com seriedade pela escola. “Esse
instrumento permite avaliar os conhecimentos
prévios do educando, além de mostrar como a
escola desenvolve os conteúdos e onde devemos
avançar para atingir os níveis de proficiência
desejados” , considera.
A diretora conta que, desde o início do processo
de aplicação das avaliações externas, percebeu
REviStA DA GEStãO ESCOlAR 21
REitOR DA univERSiDADE fEDERAl DE Juiz DE fORAHENRIQUE DUQUE DE MIRANDA CHAVES FILHO
COORDEnAçãO GERAl DO CAEdLINA KÁTIA MESQUITA DE OLIVEIRA
COORDEnAçãO tÉCniCA DO PROJEtOMANUEL FERNANDO PALÁCIOS DA CUNHA E MELO
COORDEnAçãO DA uniDADE DE PESquiSATUFI MACHADO SOARES
COORDEnAçãO DE AnÁliSES E PuBliCAçõESWAGNER SILVEIRA REZENDE
COORDEnAçãO DE inStRuMEntOS DE AvAliAçãORENATO CARNAÚBA MACEDO
COORDEnAçãO DE MEDiDAS EDuCACiOnAiSWELLINGTON SILVA
COORDEnAçãO DE OPERAçõES DE AvAliAçãORAFAEL DE OLIVEIRA
COORDEnAçãO DE PROCESSAMEntO DE DOCuMEntOSBENITO DELAGE
COORDEnAçãO DE DESiGn DA COMuniCAçãOJULIANA DIAS SOUZA DAMASCENO
RESPOnSÁvEl PElO PROJEtO GRÁfiCOEDNA REZENDE S. DE ALCÂNTARA
quanto mais o índice da avaliação
externa cresce, mais a equipe pedagógica
e a comunidade escolar procuram o
aperfeiçoamento das aulas. “Digo que a
escola partiu de um estado de zona de
conforto para uma zona de movimento
constante”, observaVanete Zani Klippel,
Gestora escolar
maior comprometimento com a qualidade das
aulas. “Procuramos intensificar os projetos e
sequências didáticas que abrangem os conteúdos”.
Os professores buscam desde o início do ano
letivo intensificar e aperfeiçoar as avaliações e
os estudantes têm consciência sobre o sistema
desde as séries iniciais. “Procuro garantir que
cada segmento esteja fazendo sua parte, dando
suporte para eles”, conta.
quanto mais o índice da avaliação externa cresce,
mais a equipe pedagógica e a comunidade escolar
procuram o aperfeiçoamento das aulas. “Digo que
a escola partiu de um estado de zona de conforto
para uma zona de movimento constante”, observa.
O sistema avaliativo incentiva, inclusive, a melhoria
no desempenho das avaliações internas. “Tenho
percebido que é um ciclo. Os resultados das
avaliações externas contribuem para a melhoria
da qualidade das avaliações internas e vice-versa”.
• Divulgar para crescer
Além da análise dos resultados da avaliação, a
gestora acredita que a divulgação dos dados
para os agentes envolvidos é um fator importante
para que o comprometimento com o processo
permaneça. A instituição dirigida por Vanete
atende a 242 estudantes com uma equipe de 14
professores. “Em primeiro lugar, fazemos uma
reunião com os funcionários, depois espalhamos
cartazes pela escola e então informamos aos pais,
responsáveis e estudantes”.
Para Vanete, a divulgação dos resultados ainda
permite que a escola tenha um parâmetro em
relação ao desempenho do estado, da região e
do município. “Com as informações, vemos onde
podemos crescer. A comparação incentiva o
avanço do ensino em todas as instâncias”, afirma.
Políticas de monitoramento, como a avaliação
externa, ainda permitem que a instituição
programe ações pedagógicas especiais. “quando
a escola realiza o Pré-Conselho de Classe e o
Conselho de Classe, detectamos as causas das
deficiências no trimestre e, então, elaboramos
intervenções específicas, sejam elas na sala de
aula, na equipe pedagógica, nas famílias ou em
disciplinas isoladas”.
mesmo com os índices da escola crescendo
gradativamente, chegando a ultrapassar os do
estado e do município, Vanete espera que a escola
continue no caminho do desenvolvimento. “Nossa
meta é elevar os níveis de proficiência de cada
estudante e da escola em geral”, finaliza.
22 Paebes Alfa 2012
REitOR DA univERSiDADE fEDERAl DE Juiz DE fORAHENRIQUE DUQUE DE MIRANDA CHAVES FILHO
COORDEnAçãO GERAl DO CAEdLINA KÁTIA MESQUITA DE OLIVEIRA
COORDEnAçãO tÉCniCA DO PROJEtOMANUEL FERNANDO PALÁCIOS DA CUNHA E MELO
COORDEnAçãO DA uniDADE DE PESquiSATUFI MACHADO SOARES
COORDEnAçãO DE AnÁliSES E PuBliCAçõESWAGNER SILVEIRA REZENDE
COORDEnAçãO DE inStRuMEntOS DE AvAliAçãORENATO CARNAÚBA MACEDO
COORDEnAçãO DE MEDiDAS EDuCACiOnAiSWELLINGTON SILVA
COORDEnAçãO DE OPERAçõES DE AvAliAçãORAFAEL DE OLIVEIRA
COORDEnAçãO DE PROCESSAMEntO DE DOCuMEntOSBENITO DELAGE
COORDEnAçãO DE DESiGn DA COMuniCAçãOJULIANA DIAS SOUZA DAMASCENO
RESPOnSÁvEl PElO PROJEtO GRÁfiCOEDNA REZENDE S. DE ALCÂNTARA
ESPÍRITO SANTO. Secretaria de Estado da Educação do Espírito Santo.
PAEBES ALFA – 2012/ universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Educação, CAEd.
v. 2 ( jan/dez. 2012), Juiz de Fora, 2012 – Anual.
ARAÚJO, Carolina Pires; mELO, manuel Fernando Palácios da Cunha e; OLIVEIRA, Lina Kátia mesquita de; REzENDE, Wagner Silveira.
Conteúdo: Revista da Gestão Escolar.
ISSN 2237-8324
CDu 373.3+373.5:371.26(05)