26 a 30 de maio de 2008

João Pessoa, PB - UFPB/ ABZ

FENO DE ERVA-SAL (Atriplex nummularia Lindl.) E PALMA FORRAGEIRA (Opuntia ficus, MiII.)EMDIETASPARA CAPRINOSE OVINOS1

Juliana Nogueira Alves2, Gherman Garcia Leal de Araúj03, Everaldo Rocha Port03

1 Parte da monografiado primeiroautor, pesquisa financiada pela Embrapa Sem i-árido.2 Estudante,J:IoPrograma de Pós-Graduação em Zootecnia do CCA-UFPB3 Pesquisadores da Embrapa Sem i-árido '

Resumo: Avaliou-sea composiçãoe a digestibilidadede nutrientesde dietacompostaporpalmaforrageira (Opuntia ficus) e feno de erva sal (Atriplex nummularia). Utilizou-se doze animais,sendo seis caprinos e seis ovinos, machos, com peso vivo inicial médio de 18 kg. Os animaisforam alojados em baias individuaisdurante um período de 15 dias, sendo 1Odias de adaptaçãoe 5 de coleta de dfidos. Foi oferecida uma dieta, com livreacesso à água e mistura mineral. Osteores na dieta de MS, PB, FDN, FDA, MM, MO, EE, HEM e DIVMSforam respectivamente: ,

55,06; 7,09; 39,92; 20,05; 22,54; 77,46; 1,12; 19;87; e 49,09%. Com relação ao coeficiente dedigestibilidade verificou-se que houve diferença significativa a 5% para FDA e MM, e a 1% paraMS, FDN e MO entre caprinos e ovinos com maiores valores verificados para os caprinos.

Palavras-chave: forragem, composição bromatológica, digestibilidade, semi-árido.

USE OF HAV OF Atriplex nummularia Lindl. AND OpuntiafFicus MiII.IN GOAT AND SHEEPDIETS

Abstract: Itwas evaluated the composition and digestibilityof nutrients of die!-composed of cactus(Opuntia ficus) and saltbush hay (Atriplex nummularia). It was used twelve animais, sixgoats andsix sheep, male, with average initial body weight of 18 kg. The animais w'ere housed in individualstalls for a period of 15 days, with 10 days of adaptation and 5 for data collection. He was offered adiet,with free accessto water and mineralmix.The levelsin the dietof DM,CP, NDF,ADF,MM,OM, EE, HEM and CDDM were respectively: 55,06; 7,09; 39,92; 20,05; 22,54; 77,46; 1,12; 19,87and:49,09%. Regarding the coefficient of digestibility found that sigilificant difference at 5% to ADFand MM, and 1% for DM, OM and ADF betw,eenand goats and sheep with higher values recordedfor the goats. .

Keywords: forage, bromatologic composition, digestibility, semiarid.

Introdução

Os caprinos e ovinos são classificados de acordo com seus hábitos alimentares, como animaisselecionadores intermediários, ou seja, são aqueles capazes de uma utilização limitada dosconstituintes da parede celular e que apresentam uma alta velocidade de passagem, o que ospermite ingerir quantidades suficientes de nutrientes facilmente fermentáveis. Os animaisenglobados nesta classificação apresentam uma grande flexibilidade' alimentar e são adaptadostanto para o consumo de gramíneas, quanto para o consumo de dicotiledôneas herbáceas e

, brotose folhas de árvorese de arbustos. As pesquisasgeradasno Brasil,especialmentenoNordeste, demonstraram que o uso estratégico e combinado de alternativas alimentares, comoforma de suplementação nutricional de ovinos e caprinos no semi-árido do Brasil, melhora osíndices de produtividade desses animais. A palma forrageira "Opuntia ficus Mil!."É um dos maisimportantes e estratégicos recursos forrageiros do semi-árido brasileiro. É extremamente

resistente a seca e se destaca pelo seu potencialenergético,chegando ,a ser chamado de um"concentrado energéfico aquoso". Outra espécie que poderá ter grande utilidade é a erva-sal"Atriplex nummularia Lindl.", uma planta originária da Austrália, de enorme adaptabilidade epotencial de uso forrageiro para a alimentação de ruminantes. A formulação de dietas ,associandoa palmaforrageira,e a erva-sal,fonteprotéica,pode se revelarem grande potencialforrageiro. Todavia" ainda é extremamente pequeno o volume de informações gerado pelapesquisa.

, Material e Métodos '

O experimento foi conduzido na Embrapa Semi-árido, em Petrolina~PE. Foram utilizados 12animais, sendo seis caprinos e seis ovinos, castrados, com idade aproximadamente de setemeses, sem padrão racial definido, oriundos de sistema extensivo de produção em caatinga, compeso médio inicial de 25 kg: Antes de iniciar o experimento, os animais foram previamenteidentificados com brincos numerados, verm,ifugados pesados e mantidos em baías individuaiscontendo água,'dieta e mistura mineral à vontade. Foi avaliada uma dieta composta de palmaforrageira (Opuntia ficus Mil\.) - in natura, associada ao feno .de erva-sal (Atriplex nummulariaLind\.) em um'aproporçãode 50:50 % na matéria seca. A dieta foi fornecida à vontade duas yezesao dia, às 8 e 15 horas, durante todo período experimental, ajustou-se uma sobra diária, deaproximadamente, 20% do oferecido por anima\. P.ara a determinação do coeficiente dedigestibilidadeaparente dos nutrientes foi realizado um ensaio de digestibilidade que ,constoudedez diãs de adaptação e cinco de coleta total de fezes. As fezes foram coletadas em sacolasespeciais adaptadas aos animais.nos cinco dias do período de coleta, às 8 e às 15 h, sendo ems~guida registrado o peso. Todo o material coletado (oferecido, sobras e fezes) foi devidamenteidentificado e levado ao laboratório, onde permaneceram em estufa à 6SgC até o momento dasanálises. Para os ingredientes oferecidOs, sobra e fezes, foram feitas amostras compostas dascoletas diárias referentes ao período de digestibilid~decomposto por cinco dias, por anima\. Asanálises de ma,tériaseca (MS), matéria orgânica (MO), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB),extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) edigestibilidade in vitro.da matéria seca (DIVMS), foram realizadas no Laboratório de NutriçãoAnimal da Embrapa Semi-árido, segundo. metodologia descrita por Silva e Queiroz (2002);hemicelulose (HEM) foi obtida' a partir dos dados de FDN - FDA. Os coeficientes dedigestibilidade foram calculados por: (nutrientes ingeridos - nutrientes excretados/ nutrientesingeridos)*100 (Silva e Leão, 1979). Os carboidratos totais (CHOT) foram obti.dospela equação100 - (%PB+%EE+%MM), enquanto os carboidratos não fibrosos (CNF) foram calculados peladiferença entre carboidratos totais e FDN, de acordo com Sniffen et aI. (1992). As análisesestatísticas das variáveis estudadas fotam interpretadas por análises de variância e teste t,utilizando-se o sistema para análises estatísticas - SAEG (2000) com níveis de 1 e 5% deprobabilidade.

Resultados e Discussão

A composição químico-bromatológica dos ingredientes e da dieta composta encontra-se naTabela I. Foram observados altos valores de matéria seca. e fibra em detergente neutro para apalma forrageira, (22,02 e 33,06%, respectivamente), devido, possivelmente pelo fato de se terutilizado a planta inteira e, considerando também a época em que foi realizado o trabalho(estação seca), quando a palma apresenta menor concentração de água. Barroso et a\. (2004),também encontraram elevados teores de fibra no farelo de palma oriundo da trituração da palmainteira, relatando valores de,40,90 e 31,87% para FDN e FDA, respectivamente. Já para Andradeet aI. (2002), '0 resultado de FDN (26,17) foi inferior e o de FDA (20,05) superior, quandocomparado ao resu1tadoobtido na composição da palma forrageira. De acordo com Santos et aI.(1997), um dos fatores limitantes na utilização da palma forrage.iraé o baixo consumo de MS peloanimal (10,20%), devido à elevada quantidade de água' que possui (89,8%), superior aoencontrado por Andra(:ieet aI. (2002), que foi 87,37% e ,inferiorao do presente trabalho (77,98%).Os coeficientes de digestibilidade da matéria seca (CDMS), da proteína bruta (CDPB), da fibra emdetergente neutro (CDFDN), fibra e'mdetergente ácido (CDFDA), da matéria orgânica (CDMO), damatéria mineral (CDMM) e do extrato etéreo (CDEE) são apresentados na Tabela,1 O coeficientede digestibilidade para espécie caprina apresentou maiores valores e diferiu estatisticamente, peloteste t, ao nível de 1% de probabilidade para MS, FDN e MO e a 5% para FDA e MM. Os valoresde PB e EE não diferiram estatisticamente entre as espécies 'estudadas. Em 'dados obtidos porSouto (2002)',com diferentes níveis de feno de erva sal em dietas para ovinos foi observado umdecréscimo na digestibilidade da MS e FDN à medida que aumentou o nível de participação do

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2 .

feno, e os valores por ele obtidos foram inferiores aos encontrados neste estudo (59,49 e 40,33%,respectivamente). Da mesma forma, em trabalhos de. Barros et aI. (1990), quando estudaram ovalor nutritivo da maniçoba por caprinos e ovinos, a digestibilidade da matéria seca foi inferiorpara ambas as espécies (51,4 e 47%, respectivamente). Isto possívelmente ocorreu em função daalta digestibilidade da palma. Gonzaga Neto (1999), utilizando 50% do feno da catingueira naalimentação de ovinos, encontrou valor de digestibilidade para MS (50,05) e EE (33,6), !;>endoambo~ inferiores aos encontrados neste trabalho (59,49 e 57,89, respectivamente). Os caprinossão considerados animais de boa capacidade de digestão em função da maior trituração dosalimentos, alta salivação, e com isso apresentam um melhor aproveitamento dos diferentesnutrientes da dieta, apresentando coeficientes de digestibilidade maiores quando comparada coma espécie ovina. A menor quantidade de matéria seca (g/dia), observapa para os caprinos podeter' propQrcionado um' maior tempo de permanência no trato digestório, aumentandoconseqüentemente a digestibilidade.

Tabela 1.-eomposição químico-bromatológica da palma forrageira (PF), do feno da erva-sal (FES)e da dieta total (50% PF: 500/0FES), eXDressasem Dercentaaemna matéria seca.

.,

Tabela J, Coeficientes de digestibilidade da matéria seca (CDMS), da matéria orgânica (COMO),da proteína bruta (CDPB), da fibra em detergente neutro (CDFDN), fibra emdetergente ácido (CDFDA), matéria mineral (CDMM), do extrato etéreo (CDEE), dietacomposta de palma-forrageira e feno dá erva-sal porcaprinos e ovinos.

VariávelEspécie .animal

Caprino

Média + Desvio Dadrão

Ovino

Média + Desvio Dadrão

CDMS 78,32:t 9,01 59,49:t 7,35

CDPB 49,91 :t18,88 47,85:t15,41

CDFDN 70,48:t 13,67 40,33:t 11,17

CDFDA 61,95:;t 16,48 36,13:t 14,74

COMO 79,78:t 7,90 61,31 :t 6,45

, CDMM 71,56:t 8,31 60,16:t 7,44

CDEE ,70,56:t 10,73 57,89:t 8,76" ": Significativo a 5 e 1%, respectivamente, pelo teste t. CV '" Coefic ente de variação

3

Palma- Feno de DietaConstituinte forrageira (%) erva-sal (%)

-

Matéria Seca (MS).

22,02 88,11 55,76

Matéria Orgânica (MO) 86,94 68,23 77,58

Matéria Mineral (MM) 13,05 32,03 22,54

Proteína Bruta (PB) 5,29 8,85 7,07

Extrato etéreo (EE) 1,20 ' 1,04 1,12

Fibra De.tergenteNeutro (FDN) '33,06 46,79 39,92

Fibra Detergente Ácido (FDA) 18,48 21,62 20,05

Hemicelulose (HEM) 14,58 25,17 19,87

Carboidratos totais (CHOT) 80,46 58,08 69,27

Digestibilidade in vitro da matéfia seca (DIVMS) 53,14 45,04

Carboidratos não fibrosos (CNF) 47,40 11,29 '29,34.

Análises reali?adas no Laboratório de Nutrição Animal da Embrapa Sem i-árido.

t calc. CV (%)

3,23** 13,44

O,16ns 38,79

3,41** 26,10-

2,33* 34,59

3,62** 11,50

2,04* 12,75

1,83ns 17,03

Conclusões

A dieta composta de feno de erva-sal e palma forrageira apresentou baixos teores protéico eenergético. evidenciando a necessidade de combinação com outros ingredientes. A espéciecaprina mostrou ter melhor aproveitamento dos diferentes nutrientes da dieta. apresentandocoeficientes de digestibilidade maiores quando comparada com a espécie ovina.

Literaturacitada

1. ANDRADE, D.K.B.; FERREIRA, M.A.; VÉRAS, A.S.C. et aL Digestibilidadee absorção aparentes em vacas da raça holandesa alimentadas compâlma forrageira (Opuntia fícus - indica Mil!) em substituição a silagem desorgo (Sorghumbicolor (L.) Moench). Revista Brasileira de Zootecnia,v.31, n.5, p.2088-2097, 2002. .,

2. BARROSO, 0.0.; ARAÚJO, G.G.L.da; MEDINA,F.T.; et aI., Característicasde carcaças de ovinos terminados em confinamento com resíduodesidratado' de vitinícolas do Vale "do .São Francisco combinado adiferentes fontes energéticas. In: CONGRESSO NORDESTINO DEPRODUÇÃO ANIMAL, 3, SIMPÓSIO NORDESTINO DE ALIMENTAÇÃO,DE RUMINANTES, 9, SIMPÓSIO PARAIBANO DE ZOOTECNIA, 4, 2004,Campina Grande, PB'. Anais. Campina Grande, PB: SNPA/UFPB, 2004.

.CD ROM.

3. GONZAGANETO,S. Consumo, digestibilidade e degradabilidade de dietascom diferentes níveis de feno de Catingueira (Caesalpinia bracicosa) emovinos e bovinos. Recife: Universidade Federal Rural de Pernambuco, 1999.44p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Federal Rural dePernambuco, 1999.

4. SILVA, J.F.C.; LEÃO, M.I. Fundamentos da nutrição dos ruminantes.Piracicaba-SP: Livroceres,1979. 380p.

5. SNIFFEN, C.J.; O.'CONNOR, J.D.; VAN SOEST, P.J. et aloA net carbohydrateand protein system for evaluating cattle diets: 11.Carbohydrate and proteinavailability. Journal of AnimalScience, v.70, n.11, p.35-62-3577, 1992.

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