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DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO PARANÁ CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVIL Protocolado nº 2134/09 – CGPC Douta Corregedora-Geral: Trata-se de ofício nº 3.034/09, assinado pelos Senhores Delegados de Polícia da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos desta Capital, Doutores Dirceu Schactae, Anderson Cássio Ormeni Franco e Antonio Procopiak Neto, solicitando parecer sobre o procedimento a ser adotado com relação a legalidade do Termo de Depósito em procedimentos de Polícia Judiciária, considerando que em alguns casos o procedimento seria necessário na instrução dos inquéritos policiais e regularização de veículos junto ao Detran. Noticia que atualmente aquela unidade policial estaria com o pátio abarrotado de veículos e carcaças, aproximadamente 900 (novecentos), e que não existiria espaço físico para o acondicionamento de novas apreensões, além da proliferação de insetos e ratos. Relata que em determinados casos, quando a perícia se mostra suficiente para revelar a numeração original, o veículo é entregue ao legítimo proprietário, mas quando esta não se revela, seria o termo de depósito documento hábil e utilizado em benefício do proprietário documental e possuidor do veículo na condição de boa-fé. Alega que o art. 120, parágrafo 4º do Código de Processo Penal, prevê que o juiz deposite o bem, em caso de dúvida a respeito da propriedade, em mãos do depositário ou do próprio terceiro que o detinha quando pessoa idônea e que nada impediria, por 1

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DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVILDO ESTADO DO PARANÁ

CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVIL

Protocolado nº 2134/09 – CGPC

Douta Corregedora-Geral:

Trata-se de ofício nº 3.034/09, assinado

pelos Senhores Delegados de Polícia da Delegacia de Furtos e Roubos de

Veículos desta Capital, Doutores Dirceu Schactae, Anderson Cássio Ormeni

Franco e Antonio Procopiak Neto, solicitando parecer sobre o

procedimento a ser adotado com relação a legalidade do Termo de

Depósito em procedimentos de Polícia Judiciária, considerando que em

alguns casos o procedimento seria necessário na instrução dos inquéritos

policiais e regularização de veículos junto ao Detran.

Noticia que atualmente aquela unidade

policial estaria com o pátio abarrotado de veículos e carcaças,

aproximadamente 900 (novecentos), e que não existiria espaço físico para

o acondicionamento de novas apreensões, além da proliferação de

insetos e ratos.

Relata que em determinados casos,

quando a perícia se mostra suficiente para revelar a numeração original, o

veículo é entregue ao legítimo proprietário, mas quando esta não se

revela, seria o termo de depósito documento hábil e utilizado em benefício

do proprietário documental e possuidor do veículo na condição de boa-fé.

Alega que o art. 120, parágrafo 4º do

Código de Processo Penal, prevê que o juiz deposite o bem, em caso de

dúvida a respeito da propriedade, em mãos do depositário ou do próprio

terceiro que o detinha quando pessoa idônea e que nada impediria, por

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CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVILanalogia, como caráter excepcional, que isto fosse aplicado pela

autoridade policial.

Aponta também, casos em que há

apenas adulteração de numeração indicadora de motor, quando o termo

de depósito seria utilizado com a finalidade de substituição deste, que

ficaria apreendido, enquanto o veículo seria devolvido definitivamente.

Por fim, além de esclarecer que no ato

da efetivação do termo de depósito o veículo teria a transferência de

propriedade bloqueada pelo Detran, ainda entende que da simples leitura

do art. 120 do Código de Processo Penal, se extrai que tanto o Juiz como a

Autoridade Policial seriam competentes para fazer a restituição definitiva

de bens, mediante termo nos autos e, sendo assim, o termo de depósito,

que se trata de restituição temporária e condicionada, seria um “minus”

em relação ao “múnus”, que seria a restituição definitiva, concluindo que,

se à autoridade policial cabe a entrega definitiva de determinados bens,

porque não caberia utilizar o termo de depósito, para a entrega

temporária e condicionada destes, ressaltando que, em sendo a lei omissa,

poderia o administrador suprir a lacuna através de ato administrativo

autônomo, até que lei posterior regulamente o assunto.

Segundo dispõe o inciso II, do artigo 6º do

Decreto-lei nº 3.689/41, logo que tiver conhecimento da prática da

infração penal, a autoridade policial deverá apreender os objetos que

tiverem relação com o fato, após liberados pelo perito criminal (no

presente caso deverá solicitar a realização de exame pericial).

Mais adiante, em seu artigo 11, estabelece

que os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem a

prova, acompanharão os autos do inquérito.

O Código de Normas da Corregedoria-

Geral da Justiça, na Seção 20, que trata do DEPÓSITO E GUARDA DE

APREENSÕES, estabelece no item 6.20.1 a 6.20.23, normas para

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CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVILrecebimento e guarda de armas e demais objetos apreendidos, dispondo

que estes deverão ser encaminhados pelas autoridades policiais, com os

respectivos autos, relacionados em duas vias, ao juízo competente, e,

tendo na comarca mais de uma vara criminal, serão encaminhados à vara

a qual forem distribuídos, e que, t ratando-se de veículos, nos quais a

adulteração de chassis inviabilize a descoberta do verdadeiro proprietário

ou de qualquer outro bem cujo dono não possa ser identificado o juiz

deverá deixar em mãos do Depositário Público da Comarca. Proíbe,

porém, Seção 21, item 6.21.1, o recebimento, pelas escrivanias criminais, de

substâncias entorpecentes ou explosivas, seja com os autos de inquérito

policial, separadamente, ou com os laudos de constatação ou

toxicológicos, determinando que essas substâncias deverão permanecer

em depósito na delegacia de polícia ou no órgão médico-legal.

Estabelece também, em seu Adendo F,

os Livros do Ofício Criminal, onde consta o de Registro de Apreensões (4-F),

destinado ao registro de armas, objetos e valores apreendidos, não sendo

observado, em momento algum, proibição quanto ao recebimento de

veículos apreendidos, nem que a responsabilidade pela guarda caberia às

autoridades policiais.

Aliás, tal fato parece pacífico na doutrina

quando o assunto é tratado. Fernando da Costa Tourinho Filho, em seu

Manual de Processo Penal (Ed. Saraiva, 8ª edição, São Paulo, 2006, p. 84),

esclarece:

“Deverá, também, a Autoridade Policial

determinar a apreensão dos instrumentos do

crime e de todos os objetos que tiverem relação

com o fato, após a liberação feita pelos peritos. A

importância dessas diligências é facilmente

constatável. Nos termos do art. 11 do CPP, ‘os

instrumentos e objetos do crime, bem como os

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CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVILobjetos que interessarem à prova,

acompanharão os autos do inquérito .”

Fernando Capez, na obra Curso de

Processo Penal (Ed. Saraiva, 14ª edição, São Paulo, 2007, p. 89):

“Deve também apreender os instrumentos e

todos os objetos que tiverem relação com o fato,

após liberado pelos peritos criminais (cf. Lei nº

8.862/94), fazendo-os acompanhar os autos do

inquérito (CPP, art. 11)”.

Guilherme de Souza Nucci, Código de

Processo Penal Comentado (Ed. Revista dos Tribunais, 5ª edição, São Paulo,

2006, p. 108, itens 66 e 67):

“Instrumentos do crime e objetos de prova: os

instrumentos do crime são todos os objetos ou

aparelhos usados pelo agente para cometer a

infração penal (armas de fogo, documentos

falsos, cheques adulterados, facas, etc.) e os

objetos de interesse da prova são todas as coisas

que possuam utilidade para demonstrar ao juiz a

realidade do ocorrido (livros contábeis,

computadores, carro do indiciado ou da vítima

contendo vestígios de violência etc.). Ao

mencionar que os instrumentos e os objetos

acompanharão os autos do inquérito, quer-se

dizer que devem ser remetidos ao fórum, para

que possam ser exibidos ao destinatário final da

prova, que é o juiz e os jurados, conforme o caso.

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CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVILAlém disso, ficam eles à disposição das partes

para uma contraprova, caso a realizada na fase

extrajudicial seja contestada.”

“Guarda dos instrumentos e objetos do delito:

quanto aos instrumentos do delito, são eles

encaminhados juntamente com os autos do

inquérito, para serem armazenados em local

apropriado no fórum...”

O próprio Departamento da Polícia Civil

do Estado, através de seu Assessor Jurídico, Doutor Antonio Aparecido

Felício, em informação nº 026, já se pronunciou acerca de assunto

semelhante:

“...tem esta Assessoria a esclarecer que a

legislação penal não contempla a possibilidade

de permanência de veículos ou outros objetos

(salvo em caso de apreensão de drogas), nos

pátios das Delegacias de Polícia.”

Manifestou-se também o Senhor Assessor,

no sentido que os instrumentos que interessarem à prova deverão

acompanhar os autos de inquérito policial, e, em se tratando de veículos,

permanecerão sob a guarda do depositário público.

Também a Corregedoria Geral da

Justiça, nos protocolados nº 2008.0076145-6/0 e nº 2008.0127062-6/0,

respectivamente, proferiu manifestação semelhante sobre a questão, em

situações provocadas por esta Corregedoria:

“Parecer nº 29/2008 – 1. Consulta acerca da

guarda de veículo apreendido em sede de

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CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVILprocedimento especial a fim de apurar eventual

prática de ato infracional. 2. Autoridade Policial

que remete veículo apreendido ao Juízo

competente. 3. Decisão exarada pela Juíza de

Direito que preside os autos no sentido de ser

competência da Autoridade Policial a guarda do

bem. 4. Situação que deve ser analisada com

base no caso concreto, com base nos critérios da

proporcionalidade e da razoabilidade, a fim de

evitar o perecimento ou deterioração do

veículo.”

“Denota-se, por ora, a inexistência de falta

funcional praticada por servidor da justiça, uma

vez que foi a autoridade policial quem restituiu o

veículo à vítima sem lavrar o respectivo auto de

restituição, bem como deixou de encaminhar o

veículo à autoridade judiciária juntamente com

os autos de inquérito policial, após a sua

conclusão.” (grifo nosso)

Outrossim, também não parece

adequado que veículos permaneçam sob a guarda da Autoridade Policial

depois de concluído os autos, de vez que não mais poderá decidir sobre o

destino do mesmo, e o que vemos atualmente não se trata de questão

legal, e sim de costume, já que é mais cômodo deixar às Autoridades

Policiais a responsabilidade pela guarda, destinação de local e o mais

grave, por responsabilidades administrativas, criminais e cíveis por

eventuais irregularidades ocorridas.

Ademais, não custa observar o que

dispõe o art. 62 caput e § 1º da Lei nº 11.343/06 (Lei de Drogas):

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CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVIL

Art. 62. Os veículos, embarcações, aeronaves e

quaisquer outros meios de transporte, os

maquinários, utensílios, instrumentos e objetos de

qualquer natureza, utilizados para a prática dos

crimes definidos nesta Lei, após a sua regular

apreensão, ficarão sob custódia da autoridade

de polícia judiciária, excetuadas as armas, que

serão recolhidas na forma de legislação

específica.

§ 1º. Comprovado o interesse público na

utilização de qualquer dos bens mencionados

neste artigo, a autoridade de polícia judiciária

poderá deles fazer uso, sob sua responsabilidade

e com o objetivo de sua conservação, mediante

autorização judicial, ouvido o Ministério Público.

Já quanto aos casos suscitados pelas

Autoridades Policiais da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos, onde se

questiona sobre o destino daqueles veículos cujos inquéritos policiais ainda

não foram concluídos e que apresentam adulteração/remarcação na

numeração do chassi e/ou qualquer outro sinal identificador, o Código de

Processo Penal, em seus arts. 118 a 124, disciplina procedimento a ser

adotado para a restituição das coisas apreendidas:

Art. 118. Antes de transitar em julgado a

sentença final, as coisas apreendidas não

poderão ser restituídas enquanto interessarem ao

processo.

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CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVILArt. 119. As coisas a que se referem os arts. 74 e

100 do Código Penal não poderão ser restituídas,

mesmo depois de transitar em julgado a sentença

final, salvo se pertencerem ao lesado ou a

terceiro de boa-fé.

Art. 120. A restituição, quando cabível, poderá

ser ordenada pela autoridade policial ou juiz,

mediante termo nos autos, desde que não exista

dúvida quanto ao direito do reclamante.

§ 1 o Se duvidoso esse direito, o pedido de

restituição autuar-se-á em apartado, assinando-

se ao requerente o prazo de 5 (cinco) dias para a

prova. Em tal caso, só o juiz criminal poderá

decidir o incidente.

§ 2 o O incidente autuar-se-á também em

apartado e só a autoridade judicial o resolverá,

se as coisas forem apreendidas em poder de

terceiro de boa-fé, que será intimado para alegar

e provar o seu direito, em prazo igual e sucessivo

ao do reclamante, tendo um e outro dois dias

para arrazoar.

§ 3 o Sobre o pedido de restituição será sempre

ouvido o Ministério Público.

§ 4 o Em caso de dúvida sobre quem seja o

verdadeiro dono, o juiz remeterá as partes para o

juízo cível, ordenando o depósito das coisas em

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CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVILmãos de depositário ou do próprio terceiro que as

detinha, se for pessoa idônea.

§ 5 o Tratando-se de coisas facilmente

deterioráveis, serão avaliadas e levadas a leilão

público, depositando-se o dinheiro apurado, ou

entregues ao terceiro que as detinha, se este for

pessoa idônea e assinar termo de

responsabilidade.

Art. 121. No caso de apreensão de coisa

adquirida com os proventos da infração, aplica-

se o disposto no art. 133 e seu parágrafo.

Art. 122. Sem prejuízo do disposto nos arts. 120 e

133, decorrido o prazo de 90 dias, após transitar

em julgado a sentença condenatória, o juiz

decretará, se for caso, a perda, em favor da

União, das coisas apreendidas (art. 74, II, a e b do

Código Penal) e ordenará que sejam vendidas

em leilão público.

Parágrafo único. Do dinheiro apurado será

recolhido ao Tesouro Nacional o que não couber

ao lesado ou a terceiro de boa-fé.

Art. 123. Fora dos casos previstos nos artigos

anteriores, se dentro no prazo de 90 dias, a contar

da data em que transitar em julgado a sentença

final, condenatória ou absolutória, os objetos

apreendidos não forem reclamados ou não

pertencerem ao réu, serão vendidos em leilão,

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CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVILdepositando-se o saldo à disposição do juízo de

ausentes.

Art. 124. Os instrumentos do crime, cuja perda em

favor da União for decretada, e as coisas

confiscadas, de acordo com o disposto no art.

100 do Código Penal, serão inutilizados ou

recolhidos a museu criminal, se houver interesse

na sua conservação.

A respeito da restituição das coisas

apreendidas, ensinam Guilherme de Souza Nucci (Código de Processo

Penal Comentado, Ed. Revista dos Tribunais, 8ª edição, São Paulo, 2008, p.

308, 309 e 310, itens 3, 4 e 7), Fernando Capez (Curso de Processo Penal,

Ed. Saraiva, 14ª edição, São Paulo, 2007, p. 399 e 400, item 18.2.12.5) e

Fernando da Costa Tourinho Neto (Manual de Processo Penal, Ed. Saraiva,

8ª edição, São Paulo, 2006, p. 433) respectivamente:

“3. Coisas apreendidas: são aquelas que, de

algum modo, interessam à elucidação do crime e

de sua autoria, podendo configurar tanto

elementos de prova, quanto elementos sujeitos a

futuro confisco, pois coisas de fabrico, alienação,

uso, porte ou detenção ilícita, bem como as

obtidas pela prática do delito.”

“4. Interesse ao processo: é o fator limitativo da

restituição das coisas apreendidas. Enquanto for

útil ao processo, não se devolve a coisa

recolhida, até porque, fazendo-o, pode-se não

mais obtê-la de volta.” (grifo nosso)

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DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVILDO ESTADO DO PARANÁ

CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVIL

“7. Autoridade policial determinando a

restituição: tal pode dar-se, caso não haja dúvida

alguma sobre a propriedade e não seja ela de

fabrico, alienação, uso, porte ou detenção

proibida. Envolvendo, no entanto, o interesse de

terceiro de boa-fé, estranho ao processo criminal,

a autoridade policial deve abster-se de efetuar a

devolução, remetendo o caso à apreciação do

juiz, conforme dispõe o § 2º.” (grifo nosso)

“18.2.12.5. Restituição feita pela autoridade

policial: Na fase de inquérito policial, a pessoa

interessada poderá pedir à autoridade policial a

devolução do objeto apreendido. A autoridade

policial é quem decide a respeito da devolução

ouvindo-se, por força do art. 120, § 3º, do CPP, o

representante do Ministério Público. Caso o MP

não seja ouvido, a autoridade policial deve

alertar o requerente para não dispor da coisa até

segunda ordem.

Decidida a devolução, dar-se-á por despacho

nos autos, lavrando-se, então, um termo de

restituição assinado pelo interessado ou

representante legal e por duas testemunhas,

como medida de cautela.

Poderá ser restituído pela autoridade policial se:

a) tratar-se de objeto restituível e não houver

nenhum interesse na sua retenção;

b) não houver dúvida quanto ao direito de

reclamante;

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CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVILc) a apreensão não tiver sido feita em poder de

terceiro de boa-fé.(grifo nosso)

“Restituição feita pela autoridade policial – Na

fase do inquérito policial, a pessoa interessada,

em requerimento dirigido à Autoridade Policial,

pode solicitar a devolução do objeto

apreendido. Juntando o requerimento aos autos

do inquérito, decidirá pela restituição, ou não.

Somente será viável a restituição pela

Autoridade Policial desde que satisfeitas as

seguintes exigências: a) tratar-se de objeto

restituível e não haver nenhum interesse na sua

retenção; b)não haver dúvida quanto ao direito

do reclamante; c) não haja sido feita a

apreensão em poder de terceiro de boa-fé. Se,

porventura, houver dúvida quanto ao direito do

reclamante ou se a apreensão houver sido feita

em poder de terceiro de boa-fé, somente a

Autoridade Judicial é que pode autorizar a

devolução. (grifo nosso)

Nos pedidos de restituição, sejam eles

formulados ao Juiz ou à Autoridade Policial, será

sempre ouvido o órgão do Ministério Público, nos

precisos termos do § 3º, do art. 120 do CPP.”

Os Tribunais, quando tratam do

tema, têm o seguinte posicionamento:

“PROCESSUAL PENAL RESTITUIÇÃO DE COISAS

APREENDIDAS. VEÍCULOS. BEM GRAVADO COM

LEASING. QUITAÇÃO DO CONTRATO.

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DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVILDO ESTADO DO PARANÁ

CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVILLEGITIMIDADE PARA AGIR. INDEFERIMENTO DO

PEDIDO. LICITUDE DA ORIGEM DO BEM NÃO

COMPROVADA COM SUFICIENTE SEGURANÇA.

NOMEAÇÃO DE TERCEIRO COMO FIEL

DEPOSITÁRIO. IMPOSSIBILIDADE.

Não há de se falar na ilegitimidade para agir, na

forma como suscitada pelo Ministério Público

Federal, haja vista ter restado demonstrada a

ocorrência da quitação do contrato de Ieasing.

Deve ser mantida a apreensão dos veículos em

questão, por não se vislumbrar nos autos

documento hábil a comprovar, com a necessária

segurança, ter sido o bem adquirido por meio

lícito.

O art. 118, do Código de Processo Penal

determina que, antes do trânsito em julgado, as

coisas apreendidas não poderão ser restituídas

enquanto interessarem ao processo. É o que se

verifica na espécie.

Não se apresenta juridicamente possível a

nomeação de terceiro, que não figura

formalmente como proprietário do bem

apreendido, como fiel depositário. Esta Corte tem

admitido a nomeação do proprietário, não de

terceiros.

Nego provimento à apelação criminal.”(ACR

2006.32.00.006608- 4/AM, relatora Juíza Federal

Rosimayre Gonçalves De Carvalho (conv), Quarta

Turma do TRF da 1ª Região, DJ-II de 28/03/2008,

p.253)

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DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVILDO ESTADO DO PARANÁ

CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVIL

RECURSO ORDINÁRIO EM MS N° 6.480 - SP

(1995/0063732-4)

RELATOR : MINISTRO GILSON DIPP

RECORRENTE : ALFREDO AUGUSTO DE JESUS

ADVOGADO : GELSON REIS MICHEL E OUTRO

T. ORIGEM : TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL DO

ESTADO DE SÃO PAULO

IMPETRADO: JUÍZO DE DIREITO DO DEPARTAMENTO

DE INQUÉRITOS POLICIAIS E POLÍCIA JUDICIÁRIA DE

SÃO PAULO - DIPO

RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE

SÃO PAULO

EMENTA

CRIMINAL. ROMS. FURTO. VEÍCULO APREENDIDO,

EM INQUÉRITO QUE APURA FURTO E

ADULTERAÇÃO DE CHASSI, PARA PERÍCIA.

RESTITIUIÇÃO DO BEM ANTES DA REALIZAÇÃO DO

EXAME.

IMPOSSIBILIDADE RECURSO DESPROVIDO.

I - Sendo a perícia para a constatação de

adulteração do chassi de veículo, imprescindível

para a apuração de eventual crime de furto,

inviável restituição do automóvel antes da

realização do exame.

II- Recurso desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são

partes as acima indicadas, acordam os Ministros

da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça,

A Turma, por unanimidade, negou provimento ao

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DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVILDO ESTADO DO PARANÁ

CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVILrecurso. Os Srs. Ministros Jorge Scartezzini, José

Arnaldo da Fonseca e Felix Fischer votaram com

o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 23 de abril de 2002 (Data do

Julgamento). Ministro Felix Fischer - Presidente.

Ministro Gilson Dipp – Relator.

APELAÇÃO - PEDIDO DE RESTITUIÇÃO DE VEÍCULO

AUTOMOTOR APREENDIDO -ADULTERAÇÃO DE

IDENTIFICAÇÃO - APURAÇÃO ATRAVÉS DE

INQUÉRITO POLICIAL - RESTITUIÇÃO DO VEÍCULO -

TERCEIRO DE BOA-FÉ - IRRELEVÂNCIA - INTERESSE

PÚBLICO - INDEFERIMENTO DA PRETENSÃO -

DECISÃO ACERTADA - RECURSO DESPROVIDO.

Constatado através de perícia a adulteração da

identificação de veículo automotor,

recomendável é a sua apreensão para a devida

investigação pela autoridade policial.

Ainda que evidenciem os autos a condição de

terceiro de boa-fé do postulante do bem, "antes

de transitar em julgado a sentença final, as coisas

apreendidas não poderão ser restituídas

enquanto interessarem ao processo". Art. 118 do

CPP. (grifo nosso) Precedentes da Corte.

Apelação conhecida e não provida.

(TJPR - 1ª C.Criminal - AC 0142316-5 - São Miguel

do Iguaçu - Rel.: Des. Jorge Wagih Massad -

Unânime - J. 06.11.2003)

TJSC - Mandado de Segurança n. 1988.091391-7,

de Capital

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DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVILDO ESTADO DO PARANÁ

CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVILRelator: Alvaro Wandelli

Órgão Julgador: Segunda Câmara Criminal

Data: 26/03/1996

Ementa:

MANDADO DE SEGURANÇA - RESTITUIÇÃO DE

COISA APREENDIDA EM INQUÉRITO POLICIAL, EM

PODER DE TERCEIRO - NÃO PROCESSAMENTO DO

PEDIDO DE ACORDO COM O § 1º E 2º, DO ART.

120, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL - TERCEIRO

DE BOA-FÉ - SEGURANÇA CONCEDIDA.

É pacífico na jurisprudência que é cabível

mandado de segurança contra o indeferimento

do pedido de restituição de coisa apreendida em

inquérito policial, desde que se vislumbre, de

pronto, ser a decisão manifestamente ilegal,

abusiva ou teratológica, ocasionando dano

irreparável ao agente. "O simples fato de ter sido

o objeto apreendido em poder de terceiro, de

boa-fé, é motivo para que só o juiz possa decidir

sobre a entrega, em processo sumário, autuado

em apartado" (EDUARDO ESPÍNOLA FILHO).

Ademais, a boa-fé não pode ser elidida por mera

suspeita de que o adquirente seja receptador.

(grifo nosso) "Embora o pedido de restituição de

coisa apreendida seja execução de ordem

meramente administrativa, a lei estabeleceu

contraditório. Haja vista o disposto no art. 120, §

2º, do CPP, possibilitando às partes a faculdade

de 'alegar e provar o seu direito', bem assim

concedendo-lhes, após a instrução sumária, o

prazo de dois dias para arrazoar" (RT, 600/359).

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DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVILDO ESTADO DO PARANÁ

CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVIL

TJSC - Mandado de Segurança n. 1997.012851-7,

de Lages

Relator: Solon d´Eça Neves

Órgão Julgador: Primeira Câmara Criminal

Data: 18/08/1998

Ementa:

Mandado de segurança - Pedido de restituição

de caminhão apreendido - Impetrante que não

comprovou ser o verdadeiro dono do veículo

pretendido - Ausência de direito líquido e certo -

Não conhecimento do writ.

Ravênia Márcia de Oliveira Leite,

Delagada de Polícia do Estado de Minas Gerais, finalizando artigo

publicado na revista Jus Vigilantibus em 13.07.2009, demonstra o seguinte

entendimento:

“O Inquérito Policial, como se sabe, segue o

Principio Inquisitivo, sendo que a legitimidade

para postular em processo incidental para

restituição de objetos apreendidos somente cabe

à parte interessada, junto ao Judiciário. Além do

mais, conforme nos ensina o eminente Vicente

Greco Filho: “Não há ilegalidade na apreensão

policial porque o próprio Código de Processo

Penal, no art. 119, preceitua a proibição de

devolução de coisas proveito da infração e

sujeitas a perdimento, reiterada no art. 122; logo,

pressupõe sua apreensão anterior, admitida,

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Page 18: 2009 11-12-veiculoapreendido

DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVILDO ESTADO DO PARANÁ

CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVILademais, no art. 121. Não pode haver dúvida,

também, sobre a licitude administrativa ou penal

do uso ou porte da coisa, porque não serão

devolvidas coisas de porte ilícito,

independentemente de condenação.

Se houver dúvida, somente o juiz pode decidir

sobre a devolução, mediante requerimento, que

será autuado em apartado. Em 5 dias o

interessado poderá fazer a prova que desejar.

Também autuar-se-á em apartado o incidente de

restituição se a coisa foi apreendida com terceiro

de boa-fé, que será intimado para alegar e

provar o seu direito em prazo igual ao do

reclamante, tendo ambos 2 dias para arrazoar

após a apresentação das provas. No pedido de

restituição será sempre ouvido o Ministério

Público.”

Assim, conforme aqui se demonstrou, os objetos

restaram apreendidos em caso de quaisquer

indícios de serem produtos ou instrumentos de

crime, cabendo somente ao juiz a decisão no

ponto, em processo incidental”.

Como descrito anteriormente, o Código

de Normas da Corregedoria da Justiça do Estado do Paraná, em seu item

6.20.17.2 define como proceder nos casos envolvendo adulteração de

chassi.

“6.20.17.2. Tratando-se de veículos nos quais a

adulteração do chassi inviabilize a descoberta do

verdadeiro proprietário ou de qualquer outro bem

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DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVILDO ESTADO DO PARANÁ

CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVILcujo dono não possa ser identificado, o juiz

deverá deixar em mãos do Depositário Público da

Comarca, observado o disposto no item 6.20.21

do CN.”

Há que se atentar também, sobre o que

dispõe o art. 232 da Lei nº 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro) que veda

a condução e circulação de veículos automotores sem portar o

Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo devidamente

atualizado:

Art. 232. Conduzir veículo sem os documentos

de porte obrigatório referidos neste Código:

Infração - leve;

Penalidade - multa;

Medida administrativa - retenção do veículo até

a apresentação do documento.(grifo nosso)

Finalmente, quanto à aplicação

analógica, a ser utilizada em caráter excepcional, entendo não se

enquadrar aos casos suscitados, pois tais hipóteses estão devidamente

reguladas por Lei, vide arts. 120 e §§ do CPP, dispondo que ao juiz caberá

decidir o incidente e que só este o resolverá se as coisas forem

apreendidas em poder de terceiros de boa-fé, sempre ouvindo o Ministério

Público.

“Na analogia inexiste norma reguladora do caso

concreto, devendo ser aplicada a norma que

trata de hipótese semelhante. Há, para o caso

não-regulado, a criação de uma norma jurídica.”

(Fernando Capez, Curso de Processo Penal, Ed .

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DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVILDO ESTADO DO PARANÁ

CORREGEDORIA GERAL DA POLÍCIA CIVILSaraiva, 14ª edição, São Paulo, 2007, p. 68, item

8.4)

“analogia: não existe norma reguladora do caso

concreto, devendo ser aplicada norma que trata

de hipótese semelhante.” (Denílson Feitoza, Direito

Processual Penal, Teoria, Crítica e Práxis, Ed.

Impetus, 5ª edição, Niterói/RJ, 2008, p.105, item

2.2.3, letra “a”)

Sabemos douta Corregedora Geral, que

a situação dos veículos apreendidos e amontoados nas nossas unidades

policiais é caótica, pois além dos riscos de transmissão de doenças, furtos,

etc., ainda há iminente possibilidade de deterioração de tais bens, cujos

proprietários ou interessados lesados poderão acionar o Estado

judicialmente visando à reparação de eventuais perdas, porém, cabem às

autoridades policiais cumprirem o que dispõe a Lei, não “darem um jeito”

quando se depararem com tais situações, o que poderá, inclusive, lhes

resultar em ações cíveis, criminais e administrativas, motivo pelo qual sugiro,

s.m.j., que, doravante, ao analisarem pedidos de restituição, se abstenham

da expedição do chamado Termo de Depósito, e cumpram,

integralmente, o disposto no art. 120 e seus §§ do CPP, devendo as

Autoridades Policiais, nos casos em que os veículos restarem apreendidos,

postularem, fundamentadamente, inclusive apontando a real situação em

que se encontram os bens apreendidos, ao Juízo competente para que

decida sobre a destinação.

Submeto a Vossa apreciação.

Curitiba, 11 de dezembro de 2009.

Sérgio Taborda Corregedor Geral Adjunto

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