2007__320_julho-agosto

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Jornal da ABI Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa 320 Artur da Távola O denuncismo empobrece o jornalismo Ele adverte que a tecnologia facilita o acesso a informações, mas oferece o risco de considerar o indício como fato e gerar julgamento, condenação e uma espécie de linchamento. Páginas 10, 11 e 12 UMA LIXEIRA INDUSTRIAL NUM PEDAÇO DO MAR FLUMINENSE GRUPO THYSSEN KRUPP VAI LANÇAR 23 MILHÕES DE METROS CÚBICOS DE METAIS PESADOS EM SEPETIBA. PÁGINAS 24 E 25 SÍMBOLO DO CENTENÁRIO DA ABI É DE ZIRALDO O PAI DO MENINO MALUQUINHO ACEITA DE PRIMEIRA CONVITE PARA CRIAR A LOGOMARCA HISTÓRICA. PÁGINA 13 UNIÃO GARANTE ESCOLHA DO R IO PARA SEDE DA TV P ÚBLICA SOCIEDADE CIVIL SE MOBILIZOU E OBTEVE O SIM DO PRESIDENTE LULA. TV NÃO SERÁ DELE NEM PARA ELE, DIZ FRANKLIN. PÁGINA 17 JOEL SILVEIRA O maior e mais completo repórter que a nossa imprensa conheceu Páginas 31, 32, 33 e 34 CINE ABI Em cartaz, Odete Lara e Henfil e seus irmãos. Ela, a mulher fatal. Páginas 14 e 15 Seminário na Câmara dos Deputados denuncia que a aplicação da legislação é lenta, parcial e escamoteada. Muitos que esperam têm 80 e até 90 anos.. Páginas 29 e 30 Ato na Academia reúne a elite intelectual. Só ele não pôde ir. Página 14 Área cultural em festa pelos 80 anos de Suassuna ANISTIADOS E ANISTIANDOS TÊM PRESSA VALTER CAMPANATO/ABR DIVULGAÇÃO ANIBAL PHILOT - AGÊNCIA O GLOBO

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Page 1: 2007__320_julho-agosto

Jornal da ABIÓrgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa

320

Artur da Távola O denuncismo empobrece o jornalismoEle adverte que a tecnologia facilita o acesso a informações, mas oferece o risco de considerar o indício como fato e gerar julgamento, condenação e uma espécie de linchamento.

Páginas 10, 11 e 12

UMA LIXEIRA INDUSTRIAL NUMPEDAÇO DO MAR FLUMINENSE

GRUPO THYSSEN KRUPP VAI LANÇAR23 MILHÕES DE METROS CÚBICOS DE METAIS

PESADOS EM SEPETIBA. PÁGINAS 24 E 25

SÍMBOLO DO CENTENÁRIODA ABI É DE ZIRALDO

O PAI DO MENINO MALUQUINHOACEITA DE PRIMEIRA CONVITE PARA CRIAR

A LOGOMARCA HISTÓRICA. PÁGINA 13

UNIÃO GARANTE ESCOLHA DORIO PARA SEDE DA TV PÚBLICA

SOCIEDADE CIVIL SE MOBILIZOU E OBTEVEO SIM DO PRESIDENTE LULA. TV NÃO SERÁ

DELE NEM PARA ELE, DIZ FRANKLIN. PÁGINA 17

JOEL SILVEIRAO maior e mais completo repórterque a nossa imprensa conheceu

Páginas 31, 32, 33 e 34

CINE ABIEm cartaz, OdeteLara e Henfil eseus irmãos.

Ela, a mulher fatal.Páginas 14 e 15

Seminário na Câmara dos Deputados denuncia que a aplicação da legislação é lenta, parcial e escamoteada. Muitos que esperam têm 80 e até 90 anos.. Páginas 29 e 30

Ato na Academia reúnea elite intelectual. Só

ele não pôde ir.Página 14

Área cultural emfesta pelos 80

anos de Suassuna

ANISTIADOS E ANISTIANDOS TÊM PRESSA

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2 Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI 320 Julho/Agosto de 2007

As revistas que fazem a cabeça dos brasileiros 3Artigo: Camus e o sol dos mortos 8Artigo: A nova censura: A gaveta do editor 8Jornalismo não pode ser contaminado pelo denuncismo 10Símbolo do Centenário é de Ziraldo 13Uma noite para Ariano na Academia 14Uma lixeira industrial num pedaço de mar do Rio 24“Carioquice” tem Nélson como matéria de capa 25A mídia pôs o Cristo no alto 36

Jornal da ABI

Associação Brasileira de Imprensa

Rua Araújo Porto Alegre, 71, 7º andarTelefone: (21) 2220-3222/2282-1292 Cep: 22.030-012Rio de Janeiro - RJ ([email protected])Editores: Francisco Ucha, Maurício Azêdo e Benício MedeirosProjeto gráfico, diagramaçãoe editoração eletrônica: Francisco UchaApoio à produção editorial: Ana Paula Aguiar,Fernando Luiz Baptista Martins, Guilherme Povill Vianna,José Ubiratan Solino, Maria Ilka Azêdo e Solange Noronha.Diretor responsável: Maurício AzêdoImpressão: Taiga Gráfica Editora Ltda - Av. Dr. Alberto Jackson Byigton, 1808Osasco, SP - (11) 3693-8027

As reportagens e artigos assinados não refletemnecessariamente a opinião do Jornal da ABI.

DIRETORIA – MANDATO 2007/2010Presidente: Maurício AzêdoVice-Presidente: Audálio DantasDiretor Administrativo: Estanislau Alves de OliveiraDiretor Econômico-Financeiro: Domingos MeirellesDiretor de Cultura e Lazer: Jesus ChediakDiretor de Assistência Social: Paulo Jerônimo de Sousa (Pajê)Diretor de Jornalismo: Benício Medeiros

CONSELHO CONSULTIVOChico Caruso, Ferreira Gullar, José Aparecido de Oliveira,Miro Teixeira, Teixeira Heizer, Ziraldo e Zuenir Ventura

CONSELHO FISCALLuiz Carlos de Oliveira Chester, Presidente; Argemiro Lopes doNascimento, Secretário; Jorge Saldanha e Manolo Epelbaum

CONSELHO DELIBERATIVO (2007-2008)Presidente: Fernando Barbosa Lima1º Secretário: Lênin Novaes2º Secretário: Zilmar Borges Basílio

Conselheiros efetivos (2006-2009)Antônio Roberto Salgado da Cunha, Arnaldo César Ricci Jacob,Arthur Cantalice, Aziz Ahmed, Cecília Costa, Domingos Augusto Xistoda Cunha, Domingos Meirelles, Fernando Segismundo, Glória SuelyAlvarez Campos, Heloneida Studart, Jorge Miranda Jordão,Lênin Novaes de Araújo, Márcia Guimarães, Nacif Elias Hidd Sobrinhoe Pery de Araújo Cotta.

Conselheiros efetivos (2005-2008)Alberto Dines, Amicucci Gallo, Ana Maria Costábile,Araquém Moura Rouliex, Arthur José Poerner, Audálio Dantas,Carlos Arthur Pitombeira, Conrado Pereira (in memoriam),Ely Moreira, Fernando Barbosa Lima, Joseti Marques, Mário Barata,Maurício Azêdo, Milton Coelho da Graça e Ricardo Kotscho

Conselheiros efetivos (2007-2010)Artur da Távola, Carlos Rodrigues, Estanislau Alves de Oliveira, FernandoFoch, Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Jesus Chediak, José Gomes Talarico,José Rezende Neto, Marcelo Tognozzi, Mário Augusto Jakobskind,Orpheu Salles, Paulo Jerônimo de Sousa, Sérgio Cabral e TerezinhaSantos

Conselheiros suplentes (2006-2009)Antônio Avellar, Antônio Calegari, Antônio Carlos Austregésilode Athayde, Antônio Henrique Lago, Carlos Eduard Rzezak Ulup,Estanislau Alves de Oliveira, Hildeberto Lopes Aleluia, Jorge Freitas,Luiz Carlos Bittencourt, Marco Aurélio Barrandon Guimarães,Marcus Miranda, Mauro dos Santos Viana, Oséas de Carvalho,Rogério Marques Gomes e Yeda Octaviano de Souza.

Conselheiros suplentes (2005-2008)Anísio Félix dos Santos (in memoriam), Edgard Catoira, FranciscoPaula Freitas, Geraldo Lopes (in memoriam), Itamar Guerreiro,Jarbas Domingos Vaz, José Amaral Argolo, José Pereira da Silva,Lêda Acquarone, Manolo Epelbaum, Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Pedro do Coutto, Sidney Rezende, Sílvio Paixão e Wilson S. J. Magalhães

Conselheiros suplentes (2007-2010)Adalberto Diniz, André Moreau Louzeiro, Arcírio Gouvêa Neto, BenícioMedeiros, Germando de Oliveira Gonçalves, Ilma Martins da Silva, JoséSilvestre Gorgulho, Luarlindo Ernesto, Luiz Sérgio Caldieri, Marceu Vieira,Maurício Cândido Ferreira, Yacy Nunes e Zilmar Borges Basílio

COMISSÃO DE SINDICÂNCIAEly Moreira, Presidente; Carlos di Paola, Jarbas Domingos Vaz,Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Maurílio Cândido Ferreira

COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃOAlberto Dines, Artur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filhoe Paulo Totti

COMISSÃO DE LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOSAudálio Dantas, Presidente; Arthur Cantalice, Secretário; Arcírio GouvêaNeto, Daniel de Castro, Germando Oliveira Gonçalves,Gilberto Magalhães, Lucy Mary Carneiro, Maria Cecília Ribas Carneiro,Mário Augusto Jakobskind, Martha Arruda de Paiva, Orpheu SantosSalles, Wilson de Carvalho, Wilson S. J. Magalhães e Yaci Nunes

JUSTIÇA QUE TARDAEditorialEditorial

Nesta EdiçãoNesta Edição

SEÇÕESACONTECEU NA ABI Emoção e aplausos para Betinho, Henfil e Mário Chico 14

O poeta Alexei, o verdadeiro Fenômeno 16União para fincar a TV Pública no Rio 17Uma relação em debate: imprensa/esporte/patrocínio 20Uma correnteza na contramão do desvio do Rio São Francisco 22

LIBERDADE DE IMPRENSA Como os jornais cobriam a luta armada nos anos 60 26TV Comunitária não gostou do flagrante do top, top, top 26

DIREITOS HUMANOS A ABI lamenta as mortes no vôo 3054 da Tam e reclamacompetência no setor aéreo 27Os anistiados e anistiandos pedem pressa 29

VIDAS Joel Silveira, Cardona, Copeba, Olavo Luz 31

EEEEEMMMMM BOABOABOABOABOA HORAHORAHORAHORAHORA a Comissão de Direitos Hu- a Comissão de Direitos Hu- a Comissão de Direitos Hu- a Comissão de Direitos Hu- a Comissão de Direitos Hu-manos e Minorias da Câmara dos Deputa-manos e Minorias da Câmara dos Deputa-manos e Minorias da Câmara dos Deputa-manos e Minorias da Câmara dos Deputa-manos e Minorias da Câmara dos Deputa-dos teve a iniciativa de realizar um seminá-dos teve a iniciativa de realizar um seminá-dos teve a iniciativa de realizar um seminá-dos teve a iniciativa de realizar um seminá-dos teve a iniciativa de realizar um seminá-rio sobre anistia, para a qual convocou asrio sobre anistia, para a qual convocou asrio sobre anistia, para a qual convocou asrio sobre anistia, para a qual convocou asrio sobre anistia, para a qual convocou asinstituições da sociedade civil que há quaseinstituições da sociedade civil que há quaseinstituições da sociedade civil que há quaseinstituições da sociedade civil que há quaseinstituições da sociedade civil que há quase30 anos se empenham na luta pela repara-30 anos se empenham na luta pela repara-30 anos se empenham na luta pela repara-30 anos se empenham na luta pela repara-30 anos se empenham na luta pela repara-ção moral e pecuniária das vítimas do regi-ção moral e pecuniária das vítimas do regi-ção moral e pecuniária das vítimas do regi-ção moral e pecuniária das vítimas do regi-ção moral e pecuniária das vítimas do regi-me militarme militarme militarme militarme militar, entre as quais esta Associação, entre as quais esta Associação, entre as quais esta Associação, entre as quais esta Associação, entre as quais esta AssociaçãoBrasileira de Imprensa, que tem longa tra-Brasileira de Imprensa, que tem longa tra-Brasileira de Imprensa, que tem longa tra-Brasileira de Imprensa, que tem longa tra-Brasileira de Imprensa, que tem longa tra-jetória de militância em questão tão crucialjetória de militância em questão tão crucialjetória de militância em questão tão crucialjetória de militância em questão tão crucialjetória de militância em questão tão crucialda vida política do Pda vida política do Pda vida política do Pda vida política do Pda vida política do País.aís.aís.aís.aís.CCCCCOMOOMOOMOOMOOMO LEMBROULEMBROULEMBROULEMBROULEMBROU NANANANANA ABERABERABERABERABERTURATURATURATURATURA do seminário do seminário do seminário do seminário do seminário

o Vo Vo Vo Vo Vice-Pice-Pice-Pice-Pice-Presidente da ABI, Aresidente da ABI, Aresidente da ABI, Aresidente da ABI, Aresidente da ABI, Audálio Dantas,událio Dantas,událio Dantas,událio Dantas,událio Dantas,um dos primeiros expositores do tema, comoum dos primeiros expositores do tema, comoum dos primeiros expositores do tema, comoum dos primeiros expositores do tema, comoum dos primeiros expositores do tema, comointegrante da mesa da sessão inaugural dointegrante da mesa da sessão inaugural dointegrante da mesa da sessão inaugural dointegrante da mesa da sessão inaugural dointegrante da mesa da sessão inaugural doencontro, foi na ABI que se instalou em 1978encontro, foi na ABI que se instalou em 1978encontro, foi na ABI que se instalou em 1978encontro, foi na ABI que se instalou em 1978encontro, foi na ABI que se instalou em 1978o primeiro Comitê Brasileiro pela Anistia,o primeiro Comitê Brasileiro pela Anistia,o primeiro Comitê Brasileiro pela Anistia,o primeiro Comitê Brasileiro pela Anistia,o primeiro Comitê Brasileiro pela Anistia,num ato memorável sob a presidência donum ato memorável sob a presidência donum ato memorável sob a presidência donum ato memorável sob a presidência donum ato memorável sob a presidência doGeneralGeneralGeneralGeneralGeneral P P P P Pererererery Constant Bevilacqua, ey Constant Bevilacqua, ey Constant Bevilacqua, ey Constant Bevilacqua, ey Constant Bevilacqua, ex-x-x-x-x-CoCoCoCoCo-----mandante do II e do III Exército, que aliás, aomandante do II e do III Exército, que aliás, aomandante do II e do III Exército, que aliás, aomandante do II e do III Exército, que aliás, aomandante do II e do III Exército, que aliás, aoassumir papel de ponta na luta por tão justaassumir papel de ponta na luta por tão justaassumir papel de ponta na luta por tão justaassumir papel de ponta na luta por tão justaassumir papel de ponta na luta por tão justacausa, purgava o pecado de ter faltado comcausa, purgava o pecado de ter faltado comcausa, purgava o pecado de ter faltado comcausa, purgava o pecado de ter faltado comcausa, purgava o pecado de ter faltado coma lealdade ao Presidente constitucional Joãoa lealdade ao Presidente constitucional Joãoa lealdade ao Presidente constitucional Joãoa lealdade ao Presidente constitucional Joãoa lealdade ao Presidente constitucional JoãoGoulart quando os golpistas desfecharam suaGoulart quando os golpistas desfecharam suaGoulart quando os golpistas desfecharam suaGoulart quando os golpistas desfecharam suaGoulart quando os golpistas desfecharam suaação liberticida, como marionetes manipula-ação liberticida, como marionetes manipula-ação liberticida, como marionetes manipula-ação liberticida, como marionetes manipula-ação liberticida, como marionetes manipula-das pelos cordéis do então Embaixador dosdas pelos cordéis do então Embaixador dosdas pelos cordéis do então Embaixador dosdas pelos cordéis do então Embaixador dosdas pelos cordéis do então Embaixador dosEstados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon.Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon.Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon.Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon.Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon.A A A A A EVOCAÇÃOEVOCAÇÃOEVOCAÇÃOEVOCAÇÃOEVOCAÇÃO DESSEDESSEDESSEDESSEDESSE EPISÓDIOEPISÓDIOEPISÓDIOEPISÓDIOEPISÓDIO marcante da marcante da marcante da marcante da marcante da

trajetória quase centenária da ABI e seu marcotrajetória quase centenária da ABI e seu marcotrajetória quase centenária da ABI e seu marcotrajetória quase centenária da ABI e seu marcotrajetória quase centenária da ABI e seu marcocronológico de quase 30 anos mostra comocronológico de quase 30 anos mostra comocronológico de quase 30 anos mostra comocronológico de quase 30 anos mostra comocronológico de quase 30 anos mostra comoé tormentosa essa busca de justiça, queé tormentosa essa busca de justiça, queé tormentosa essa busca de justiça, queé tormentosa essa busca de justiça, queé tormentosa essa busca de justiça, queregistrou a primeira conquista em l979, comregistrou a primeira conquista em l979, comregistrou a primeira conquista em l979, comregistrou a primeira conquista em l979, comregistrou a primeira conquista em l979, coma aprovação da anistia pelo Congressoa aprovação da anistia pelo Congressoa aprovação da anistia pelo Congressoa aprovação da anistia pelo Congressoa aprovação da anistia pelo CongressoNacional, ainda que não tão ampla, geral eNacional, ainda que não tão ampla, geral eNacional, ainda que não tão ampla, geral eNacional, ainda que não tão ampla, geral eNacional, ainda que não tão ampla, geral eirrestrita como se pleiteava, e se consolidouirrestrita como se pleiteava, e se consolidouirrestrita como se pleiteava, e se consolidouirrestrita como se pleiteava, e se consolidouirrestrita como se pleiteava, e se consolidoucom a promulgação da Constituição de 5 decom a promulgação da Constituição de 5 decom a promulgação da Constituição de 5 decom a promulgação da Constituição de 5 decom a promulgação da Constituição de 5 deoutubro de 1988, com o alargamento de seuoutubro de 1988, com o alargamento de seuoutubro de 1988, com o alargamento de seuoutubro de 1988, com o alargamento de seuoutubro de 1988, com o alargamento de seu

alcance pelo artigo 8º do Aalcance pelo artigo 8º do Aalcance pelo artigo 8º do Aalcance pelo artigo 8º do Aalcance pelo artigo 8º do Ato das Disposi-to das Disposi-to das Disposi-to das Disposi-to das Disposi-ções Constitucionais Tções Constitucionais Tções Constitucionais Tções Constitucionais Tções Constitucionais Transitórias. Como su-ransitórias. Como su-ransitórias. Como su-ransitórias. Como su-ransitórias. Como su-gere a menção dessas datas, a concessão dagere a menção dessas datas, a concessão dagere a menção dessas datas, a concessão dagere a menção dessas datas, a concessão dagere a menção dessas datas, a concessão daanistia é arrastada, lenta, eivada de insufi-anistia é arrastada, lenta, eivada de insufi-anistia é arrastada, lenta, eivada de insufi-anistia é arrastada, lenta, eivada de insufi-anistia é arrastada, lenta, eivada de insufi-ciências e discriminações. A declaração des-ciências e discriminações. A declaração des-ciências e discriminações. A declaração des-ciências e discriminações. A declaração des-ciências e discriminações. A declaração des-se oportuno 1º Seminário Nacional de Anis-se oportuno 1º Seminário Nacional de Anis-se oportuno 1º Seminário Nacional de Anis-se oportuno 1º Seminário Nacional de Anis-se oportuno 1º Seminário Nacional de Anis-tiados e Anistiandos proclama com razão quetiados e Anistiandos proclama com razão quetiados e Anistiandos proclama com razão quetiados e Anistiandos proclama com razão quetiados e Anistiandos proclama com razão quesua aplicação se faz de forma tardia, parcialsua aplicação se faz de forma tardia, parcialsua aplicação se faz de forma tardia, parcialsua aplicação se faz de forma tardia, parcialsua aplicação se faz de forma tardia, parciale escamoteada setorialmente.e escamoteada setorialmente.e escamoteada setorialmente.e escamoteada setorialmente.e escamoteada setorialmente.OOOOOCORRECORRECORRECORRECORRE OOOOO SEMINÁRIOSEMINÁRIOSEMINÁRIOSEMINÁRIOSEMINÁRIO num momento em num momento em num momento em num momento em num momento em

que a Comissão de Anistia do Ministério daque a Comissão de Anistia do Ministério daque a Comissão de Anistia do Ministério daque a Comissão de Anistia do Ministério daque a Comissão de Anistia do Ministério daJustiça atravessa uma transição, com a subs-Justiça atravessa uma transição, com a subs-Justiça atravessa uma transição, com a subs-Justiça atravessa uma transição, com a subs-Justiça atravessa uma transição, com a subs-tituição do seu antigo Presidente, Marcelotituição do seu antigo Presidente, Marcelotituição do seu antigo Presidente, Marcelotituição do seu antigo Presidente, Marcelotituição do seu antigo Presidente, MarceloLLLLLavénère, eavénère, eavénère, eavénère, eavénère, ex-Px-Px-Px-Px-Presidente do Conselho Fresidente do Conselho Fresidente do Conselho Fresidente do Conselho Fresidente do Conselho Fede-ede-ede-ede-ede-ral da Ordem dos Advogados do Brasil, queral da Ordem dos Advogados do Brasil, queral da Ordem dos Advogados do Brasil, queral da Ordem dos Advogados do Brasil, queral da Ordem dos Advogados do Brasil, quedeu ao órgão um dinamismo não conhecidodeu ao órgão um dinamismo não conhecidodeu ao órgão um dinamismo não conhecidodeu ao órgão um dinamismo não conhecidodeu ao órgão um dinamismo não conhecidosob o Goversob o Goversob o Goversob o Goversob o Governo Fno Fno Fno Fno Fererererernando Henrique Cardoso,nando Henrique Cardoso,nando Henrique Cardoso,nando Henrique Cardoso,nando Henrique Cardoso,pelo jurista Ppelo jurista Ppelo jurista Ppelo jurista Ppelo jurista Paulo Abrão, cujas primeiras açõesaulo Abrão, cujas primeiras açõesaulo Abrão, cujas primeiras açõesaulo Abrão, cujas primeiras açõesaulo Abrão, cujas primeiras açõese decisões parecem indicar que há perspec-e decisões parecem indicar que há perspec-e decisões parecem indicar que há perspec-e decisões parecem indicar que há perspec-e decisões parecem indicar que há perspec-tiva de elevação do nível de eficiência legadotiva de elevação do nível de eficiência legadotiva de elevação do nível de eficiência legadotiva de elevação do nível de eficiência legadotiva de elevação do nível de eficiência legadopor seu antecessorpor seu antecessorpor seu antecessorpor seu antecessorpor seu antecessor. P. P. P. P. Para isso oferecerá im-ara isso oferecerá im-ara isso oferecerá im-ara isso oferecerá im-ara isso oferecerá im-portante contribuição essa iniciativa daportante contribuição essa iniciativa daportante contribuição essa iniciativa daportante contribuição essa iniciativa daportante contribuição essa iniciativa daComissão de Direitos Humanos da Câmara,Comissão de Direitos Humanos da Câmara,Comissão de Direitos Humanos da Câmara,Comissão de Direitos Humanos da Câmara,Comissão de Direitos Humanos da Câmara,com os subsídios, informações e reclamoscom os subsídios, informações e reclamoscom os subsídios, informações e reclamoscom os subsídios, informações e reclamoscom os subsídios, informações e reclamosformulados pelas instituições da sociedadeformulados pelas instituições da sociedadeformulados pelas instituições da sociedadeformulados pelas instituições da sociedadeformulados pelas instituições da sociedadecivil que atenderam à convocação.civil que atenderam à convocação.civil que atenderam à convocação.civil que atenderam à convocação.civil que atenderam à convocação.OOOOOSSSSS FFFFFAAAAATOSTOSTOSTOSTOS POLÍTICOSPOLÍTICOSPOLÍTICOSPOLÍTICOSPOLÍTICOS EEEEE SOCIAISSOCIAISSOCIAISSOCIAISSOCIAIS que enseja- que enseja- que enseja- que enseja- que enseja-

ram a infinidade de punições impostas peloram a infinidade de punições impostas peloram a infinidade de punições impostas peloram a infinidade de punições impostas peloram a infinidade de punições impostas peloregime militar sucederam-se a partir de 1ºregime militar sucederam-se a partir de 1ºregime militar sucederam-se a partir de 1ºregime militar sucederam-se a partir de 1ºregime militar sucederam-se a partir de 1ºde abril de 1964 e se estenderam até a segun-de abril de 1964 e se estenderam até a segun-de abril de 1964 e se estenderam até a segun-de abril de 1964 e se estenderam até a segun-de abril de 1964 e se estenderam até a segun-da metade da década de 70. A maioria de seusda metade da década de 70. A maioria de seusda metade da década de 70. A maioria de seusda metade da década de 70. A maioria de seusda metade da década de 70. A maioria de seusprotagonistas e vítimas tem hoje 60, 70, 80protagonistas e vítimas tem hoje 60, 70, 80protagonistas e vítimas tem hoje 60, 70, 80protagonistas e vítimas tem hoje 60, 70, 80protagonistas e vítimas tem hoje 60, 70, 80anos; não poucos, 90 anos. Há que acudi-losanos; não poucos, 90 anos. Há que acudi-losanos; não poucos, 90 anos. Há que acudi-losanos; não poucos, 90 anos. Há que acudi-losanos; não poucos, 90 anos. Há que acudi-loscom a anistia ainda em vida, porque tantacom a anistia ainda em vida, porque tantacom a anistia ainda em vida, porque tantacom a anistia ainda em vida, porque tantacom a anistia ainda em vida, porque tantaprocrastinação configura reprovável injus-procrastinação configura reprovável injus-procrastinação configura reprovável injus-procrastinação configura reprovável injus-procrastinação configura reprovável injus-tiça. Justiça que tarda não merece tal desig-tiça. Justiça que tarda não merece tal desig-tiça. Justiça que tarda não merece tal desig-tiça. Justiça que tarda não merece tal desig-tiça. Justiça que tarda não merece tal desig-nação, é uma forma cruel de injustiça.nação, é uma forma cruel de injustiça.nação, é uma forma cruel de injustiça.nação, é uma forma cruel de injustiça.nação, é uma forma cruel de injustiça.

OBSERVAÇÃO - Esta edição foi finalizada e impressa na segunda quinzena de setembro de 2007, quando começou a circular nacionalmente.

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3Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI 320 Julho/Agosto de 2007

VEÍCULOS

POR JOSÉ REINALDO MARQUES

As quatro maiores revistas semanais do País,cada uma com seu estilo próprio, são consideradasos maiores formadores de opinião entre os veículosde comunicação de massa. Por isso, são aguardadas

por milhões de leitores em busca de informaçãopolítica, econômica, de comportamento etambém entretenimento, arte e cultura.

As revistas que fazem acabeça dos brasileiros

São quatro as principais revistas semanais de informação,

todas com sede na cidade de São Paulo: Veja, do Grupo Abril;

IstoÉ, da Editora Três; Época, da Editora Globo; e CartaCapital,da Editora Confiança. As duas primeiras circulam há mais de

30 anos. A caçula do grupo é Época, lançada em 1998. CartaCapital, criada em 1994, difere um pouco das demais por adotar

uma linha editorial que seus responsáveis consideram mais in-

dependente. No geral, todas abordam temas como ciência e

tecnologia, política e economia no Brasil e no mundo, compor-

tamento, cidades, cultura e gastronomia e contam com colu-

nistas fixos. Juntas, empregam nos departamentos de Jornalis-

mo cerca de 250 profissionais, que trabalham na coordenação

e produção editorial, na pesquisa e como diagramadores, revi-

sores, fotógrafos, repórteres, redatores e editores.

Mino Carta(ao centro)

e a primeiraequipe de

redação deVeja, em

setembro de1968, na gráfica

da Abril, emSão Paulo.

LEW PARRELLA

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4 Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI 320 Julho/Agosto de 2007

VEÍCULOS - AS REVISTAS QUE FAZEM A CABEÇA DOS BRASILEIROS

determinadas, mas como sinalização dematuridade jurisdicional e de respeito àsleis e aos contratos. Essa é uma primeiratentativa de esboçar com mais clareza oque nos move e como decidimos.

As reuniões de pauta de Veja aconte-cem às segundas-feiras, às 11h, com aparticipação do Diretor e dos editores-executivos. Definidos os assuntos quevirarão matérias, inicia-se a distribuiçãode tarefas entre as editorias (Brasil, Ge-ral, Internacional, Economia & Negóci-os, Guia e Artes & Espetáculos). A Coor-denação de Produção, que abrange ossetores de Revisão e Editoração, encarre-ga-se da revisão dos textos e de fazê-loscasar com as páginas diagramadas.

Sobre a escolha da capa, Eurípides dizque "não existe uma regra de ouro, opróprio assunto se impõe": "Como omundo não entra em recesso, até a noitede sexta-feira, quando o material vai paraa gráfica, as notícias quentes vão expul-sando as frias e, quanto mais isso ocorre,mais incandescente fica a revista".

Os repórteres participam ativamentedo fechamento (que acontece mais cedoem editorias como Artes & Espetáculos)e muitos integrantes da equipe foramselecionados no Curso Abril de Jornalis-mo, como Paula Neiva, contratada háquatro anos:

– Sem dúvida o curso ajuda a enten-der como se faz uma revista e o que é umarevista bem-feita. No meu caso, foi tam-bém a porta de entrada para a Veja. Aindadurante o curso, colaborei numa maté-

A MAIOR REDAÇÃO É Ada Veja (70 jornalistas),que tem também a mai-or circulação: são mais de1,1 milhão exemplaresem outubro do ano pas-sado, de acordo com a As-sociação Nacional dos Edi-tores de Revistas-Aner.Para o professor João Pe-dro Dias Vieira, coorde-nador do curso de Jorna-lismo da Universidade Es-tadual do Rio de Janeiro,um dos aspectos mais im-portantes que devem serensinados na faculdade so-bre um veículo semanalé o "tempo de validade" das matérias:

– Uma revista é um misto de jornal comsegundo caderno. Um jornal morre an-tes do meio-dia, quando as rádios e tele-visões já apresentaram desdobramentosde suas notícias. A revista pode ser lida asemana toda. A televisão mudou a ma-neira de o leitor olhar a notícia, tornan-do-o mais exigente, mas poucos donos de

editoras souberam tirarpartido disso.

– A Veja foi a primei-ra a ocupar esse espaçovazio. Depois vieram Is-toÉ, Época e CartaCapi-tal, mas confesso que nãovi grandes modificaçõesna imprensa como umtodo no período. Comoas boas revistas trazemum resumo das notíciasda semana, pode ser queos jornais tenham procu-rado apurar melhor, darmais e importantes in-formações, para obrigaros leitores dos diários a

considerar dispensável lê-las.Para o jornalista Sérgio Lírio, editor da

CartaCapital, os tempos atuais exigemuma nova forma de se fazer revista sema-nal, Para ele, "o crescimento de canais deacesso à informação torna obsoletos osmodelos que se contentam em ser umresumo da semana, como farol a ilumi-nar o passado": "A inglesa The Economist

talvez seja o modelo maisbem-acabado do que de-ve ser, ou deve buscar, umarevista semanal: analíti-ca, preocupada em ofere-cer reflexão que lanceluzes sobre o futuro apartir de fatos presentes,com uma dose equilibra-da de opinião e posiciona-mento".

O editor diz que asmudanças anunciadaspelo novo diretor de Re-dação da americana Time,

O custo pioneiro parase tornar indispensável

REVISTA VEJA

QUANDO A VEJA FOI LANÇADA, em 11 desetembro de 1968, o clima no Brasil, coma ditadura militar, talvez não fosse o maispropício para investir em novo veículo decomunicação. Na opinião de Eurípides Al-cântara, diretor de Redação da revista, oque favoreceu o lançamento foi o fato deo Brasil passar então por um período deintensa urbanização, ampliação de infra-estrutura e aumento da população comacesso à universidade:

– Esboçava-se o que viria ser chamadomais tarde de milagre econômico, o cres-cimento acelerado do País, que chegou adois dígitos em alguns anos da década de70. A Abril avaliou que em um cenárioassim cresceria a necessidade de uma re-vista semanal de informação nos moldesdas americanas Time e Newsweek. O con-ceito demorou alguns anos para pegar ea empresa teve prejuízos continuados atéque Veja se tornasse indispensável, termoque mais tarde seria seu slogan.

Eurípides Alcântara diz que Veja apa-rece como quinta colocada no rankingmundial e primeira no Brasil entre asrevistas semanais de informação:

– Temos quase o dobro de leitores queas duas concorrentes somadas. Em con-teúdo, a meu ver, a distância é ainda maior.As outras revistas vivem em constantemutação e ainda não se estabilizaram aponto de oferecer base sólida de compa-ração. As pesquisas mostram que nossopúblico não lê outras semanais, mas osleitores delas têm a Veja como referên-cia. Nossos concorrentes são, pela ordem,

alinhadas com o que a The Economist pra-tica há várias décadas, reforçam o cami-nho para a sobrevivência:

– Modéstia à parte, CartaCapital é aúnica entre as revistas brasileiras conec-tada a essa realidade, pois sempre procu-rou fazer um jornalismo de reflexão, comuma boa dose de análise, com a contri-buição de colunistas respeitados e semesconder sua opinião sobre os fatos ouescamotear suas preferências, mas tam-bém sem adaptar a verdade factual a seusinteresses.

Sérgio diz ainda que a CartaCapital é oúnico projeto editorial inovador e próprio:

– Gráfica e editorialmente, ela é frutode uma reflexão do Mino Carta e de seuscolaboradores. Não deriva de nenhumprojeto de qualquer publicação estrangei-ra, ao contrário das cópias malfeitas exis-tentes por aí.

Embora ocupe o cargo de editor-execu-tivo há dois anos, Sérgio diz que, na ver-dade, continua repórter. A equipe da revistaé pequena, diminuta até, em comparaçãoàs demais publicações de porte no País. São11 jornalistas ao todo, incluindo Mino Car-ta. E as reportagens da semana são decidi-das às segundas-feiras, em reunião de pautade que só não participam Leonardo For-tes, sediado em Brasília, e Maurício Dias,que fica no Rio de Janeiro:

– A reunião é aberta. Todo mundosugere o que quiser e dá opinião sobre apauta dos outros. O único risco é que, comoa equipe é pequena, o repórter que nor-malmente sugere algo acaba escalado parafazer o trabalho - brinca Sérgio.

Na CartaCapital ninguém é setoris-ta. E não há uma pessoa específica paraa redação final das matérias: normalmen-te, Mino Carta lê as reportagens princi-

pais e o redator-chefe (cargo em abertono momento), o conteúdo completo.Também não há coordenação de produ-ção editorial. Diz Sérgio que Mino gostade trabalhar com equipes pequenas e, porisso, "sempre estimulou o que se pode cha-mar de jornalismo autoral, mesmo quan-do comandou Veja e IstoÉ":

– Ele mantém esse espírito. Aqui, cadaum responde por sua produção. Os pro-fissionais, em sua maioria, são experien-tes e têm domínio total das técnicas ne-cessárias para fechar uma revista. Estãohabilitados a, tomando emprestado umjargão da crônica esportiva, jogar nas 11.

a internet e a televisão. Também nos des-tacamos pela capacidade de apuração denotícias exclusivas e pela vigilância cons-tante sobre o poder público. Esta é umamissão que se impõe como prioridade emum país onde os cidadãos entregam aosgovernos 40% de seus ganhos, na formade impostos, e pouco recebem em troca.

No cargo desde fevereiro de 2004,Eurípides enumera as funções do diretorde Redação da Veja: cuidar de aspectoslegais, definir a linha de atuação e tratarda manutenção "dos níveis de qualidadee da inatacável credibilidade" da revista,muitas vezes questionada pelos leitores,além de reafirmar os princípios da publi-cação para seus jornalistas:

– Ocasionalmente, repórteres e atéalguns editores da revista se confundemsobre esses princípios e como eles orien-tam o que publicamos. Não nos vemosobrigados a nenhuma operação de soul-searching a cada vez que editamos asmatérias, mas quem está ligeiramentefora do processo de fechamento tem todoo direito de nos questionar.

Para ele, a defesa desses princípios –bem como dos princípios básicos deuma sociedade democrática – não põea revista "necessariamente à direita ou

à esquerda no espectro ideológico":– Ela nos coloca contra o racismo, con-

tra a corrupção, contra a tortura, sejam seusautores de um lado ou de outro. Coloca-nos na defesa da propriedade privada, nãopor vê-la como instrumento de preserva-ção de injustiças materiais historicamente

O coordenador do curso deJornalismo da Uerj, João PedroDias Vieira, não viu mudanças

significativas na imprensa depoisdas revistas semanais.

Para Sérgio Lírio, editor da Carta Capital,a revista semanal inglesa The Economist

é um modelo a ser seguido.

Capa da histórica primeira edição darevista Veja, que teve sua redação

comandada por Mino Carta.

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5Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI 320 Julho/Agosto de 2007

ria sobre um surto de dengue no Rio eestou até hoje na editoria de Saúde.

Paula afirma que o nível de qualifica-ção da reportagem é muito alto. A revis-ta preza a qualidade e a precisão das in-formações, bem como o ineditismo. Nasua área, em especial, é necessário estu-dar muito e falar outras línguas comfluência. Além disso, os temas, na mai-oria das vezes, são áridos e incluem muitostermos técnicos.

– Quanto ao funcionamento da edito-ria, nosso fechamento, geralmente, é àsquartas-feiras. Então, uso as quintas e sextaspara pesquisar pautas que, na segundaseguinte, fico sabendo se foram aprova-das ou não. Em caso positivo, parto paraa apuração. É preciso ter o olho treinadopara reconhecer uma pauta em potenci-al, curiosidade para descobrir fatos novose vontade de extrapolar o factual. Tambémé preciso estudar o assunto. Porque, alémde "vender" a pauta, temos que estar pre-parados para os questionamentos do edi-tor, que avalia a importância do tema emquestão e sua relevância para o leitor.

Camila Pereira, por sua vez, diz que nãohá um padrão para mensurar o númerode matérias que cada repórter tem sob asua responsabilidade. – Varia muito deacordo com a editoria e com a época. Podeacontecer de pegarmos em uma matériaespecial que exija três semanas de cuida-do exclusivo. Ou, na semana quente denotícias, termos que produzir váriasmatérias.

Também selecionada no Curso Abril,ela afirma que o conhecimento que ad-quiriu na faculdade não seria suficientepara ser repórter em qualquer Redação:

– Além disso, o curso é uma espécie deselo de qualidade que abre portas nasrevistas da editora. No meu caso, foi ain-da mais importante, porque, na parteprática do curso, eu trabalhei na Veja e ajornalista que é hoje minha editora foiminha orientadora durante o curso.Então, foi realmente uma espécie deensaio. Não tenho dúvidas de que o grandeaprendizado acontece no dia-a-dia daRedação. Aprende-se muito aqui. Traba-lho com profissionais muito experientese competentes e tenho acesso aos prin-cipais especialistas de cada área comofontes. A grande repercussão das maté-rias e a visibilidade do trabalho tambémsão gratificantes - diz Camila.

NA EDIÇÃO ESPECIAL DO 30º ANIVERSÁRIOda IstoÉ, lançada em 1976 pela Editora Três,o diretor editorial Carlos José Marquesdiz que, ao longo desse tempo, a publi-cação vem "demonstrando sua vocaçãopara registrar, provocar e participar dasmudanças do País". Lembra que a capa daprimeira edição já marcava a posição darevista pelo fim do regime totalitário ea volta da democracia:

– A linha editorial, de vigilância e críticaao sistema, já estava bem definida, abrindosempre espaço para mostrar e analisar ooutro lado dos fatos. É um princípio queIstoÉ segue até hoje.

Para dar essa contribuição ao jornalis-mo brasileiro, a revista conta com 50jornalistas. O escritório central fica emSão Paulo e a revista tem circulação médiade 350 mil exemplares. Na chefia dasucursal do Rio está a mineira ElianeLobato, que tem 17 anos de carreira, dezde IstoÉ, somando dois períodos distin-tos, e passagens por O Globo, Jornal doBrasil e Manchete.

Entre suas responsabilidades, Elianedestaca como tarefa número um, e talveza mais difícil, lutar pela aprovação das pautassugeridas pelo escritório fluminense:

– O Estado vem sofrendo esvaziamentocultural, financeiro e político que afetanosso trabalho aqui em todos os sentidos.Quando participo das reuniões de pautana sede, o Rio quase sempre é esquecido.Fala-se muito do Nordeste, de Brasília, otempo inteiro de São Paulo, mas comfreqüência o Rio de Janeiro fica de fora,como se não fizesse falta. É importantemostrar por que o Rio é o segundo Esta-do brasileiro, e que por mais que o seu PIBesteja defasado em relação a São Paulo aregião ainda tem importância muitogrande para o País.

Para explicar melhor o argumento,Eliane contou que é muito comum ospaulistas acharem que os repórteres ca-riocas têm obrigação de fazer matériascom atores de telenovela, pelo fato de asede da TV Globo ficar no Rio. Ela sem-pre tenta fazê-los entender que se a pau-ta veio por São Paulo cabe à reportagemde lá dar conta do serviço:

– Tentamos sempre mostrar que essanão é a nossa tarefa, que o repórter podepegar o telefone e ligar, por exemplo, parao Reynaldo Gianecchini ou qualquer outroator, e fazer a entrevista. Não é especifi-cidade do Rio ouvir artistas, isso é uma coisaque o repórter da sucursal não gosta. É umavisão deturpada de São Paulo achar quefazemos isso o tempo inteiro, a toda hora.

As reuniões de pauta da sucursal Rioda IstoÉ são realizadas às sextas-feiras, oque mudará em breve, pois o pessoal dasede também passará a fazer a sua nessedia. Até lá, porém, a equipe continuarámantendo sua agenda e enviando suges-tões para discussão na reunião geral queacontece às segundas, com o editor-che-fe, os editores, os chefes de sucursal e opessoal da Arte.

– Não é comum o chefe da sucursal ira essa reunião em São Paulo, mas desde

Vocação para provocare participar de mudanças

ISTOÉ

que assumi a chefia fui convocada peloCarlos Marques para participar de algu-mas. Apesar de eu detestar andar de avião,adorei, porque assim posso defendermelhor as nossas pautas. Preferimos tra-balhar as nossas matérias, mas às vezesSão Paulo "engole" a revista.

Ela conta que, durante o período elei-toral, isso aconteceu várias vezes: a su-cursal Rio quase não emplacou reporta-gens, porque o quadro político fluminen-se não apresentava fatos quentes. A saí-da foi fazer matérias com a participaçãode cientistas políticosde alguns respeitadosinstitutos acadêmicosdo País localizados nacidade.

– Havia um debatefraco entre os candida-tos Sérgio Cabral (de-pois eleito) e DeniseFrossard; o GovernoRosinha não empol-gava... O noticiário po-lítico ficou polarizadoentre São Paulo e Bra-sília e tivemos que usarmuita criatividade pa-ra contribuir com ma-terial de eleição, recor-rendo aos ótimos pensadores que estãono Ipea, no Iuperj e na Fundação Getú-lio Vargas, para não ficar apenas cumprin-do as pautas ditadas pela equipe paulista.

Para Eliane Lobato, as principais revis-tas semanais, com exceção da CartaCa-pital, estão muito voltadas para matéri-as de comportamento, ainda que políti-ca seja o tema de maior destaque:

– Acho que a IstoÉ começou a investirmais nessa linha de reportagens de com-portamento antes das concorrentes; é umamarca da revista. Trabalhamos muito comcomportamento e saúde. E as outras tam-bém passaram a investir no assunto.

Na IstoÉ, aprovadas as pautas, as ma-térias começam a ser distribuídas, não ne-cessariamente sob o critério de que cadasucursal só tratará de assuntos locais. Seo tema tiver apelo nacional, o pessoal doRio pode ser encarregado de cobrir a re-gião Nordeste e o de São Paulo ficar como Sul do País.

– Se a matéria é da editoria Brasil, asequipes podem ser deslocadas em viagense uma parte da matéria também pode serapurada por telefone e por e-mail. A fór-mula é simples: a reportagem sai em

campo e cada chefia seencarrega do sistema derealimentação, falan-do simultaneamentecom todas as praças.

Depois de receberacabamento do repór-ter que estiver à frenteda matéria e com maiscondições de contextu-alizar o assunto, compesquisa, teses e núme-ros, o texto passa pelaaprovação de seu editordireto e, em seguida,pelo editor-executivoda área. Diz Eliane quecom esse controle de

qualidade o leitor tem a verdadeira dimen-são do fato e compreende por que houveinvestimento no tema em questão:

– Quem fundamenta a matéria é,geralmente, a pessoa que produz o textofinal, porque esta é fase mais complica-da. O restante, que a gente chama decostura, são citações dos personagens, fon-tes acadêmicas etc., a parte mais fácil. Odifícil mesmo é convencer o leitor de quea reportagem é importante e interessan-te e merece ser lida integralmente. Na mai-oria das vezes, essa tarefa recai sobre a equi-pe paulista, que tem mais recursos huma-nos e técnicos.

O diretor de Redaçãoda Veja, Eurípides

Alcântara, asseguraque, até chegar àgráfica, a revista

está aberta para ainclusão de notícias

mais quentes.

A jornalista Eliane Lobato comanda a sucursal do Rio da revista IstoÉ.

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6 Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI 320 Julho/Agosto de 2007

Equipesmarcam asdiferenças

LANÇADA EM 1998 PELA EDITORA GLOBO,a Época é uma das revistas mais vendidasdo País, com circulação média de cerca de420 mil exemplares, de acordo com a As-sociação Nacional dos Editores de Revis-tas. Com sede em São Paulo e escritóriosem Brasília e no Rio de Janeiro, a publica-ção conta também com uma rede de co-laboradores em várias cidades brasileiras,que são acionados sempre que necessário,como explica o redator-chefe David Cohen,que está no cargo háum ano e, juntamentecom o diretor de Reda-ção Hélio Gurovitz, é oresponsável pelas deci-sões sobre o que a revis-ta vai cobrir:

– A revista está emalta e apresenta umbom desempenho emrelação às suas concor-rentes – diz Cohen. –No último trimestre, ti-vemos aumento de lei-tores nas classes A e B,entre os jovens e entreas mulheres, enquanto nossas concorren-tes tiveram queda. Estamos muito bem.

Na Época, as reuniões de pauta tambémacontecem nas manhãs de segunda-feira,com os editores e repórteres especiais. Assucursais têm algumas especificidades:Brasília é mais voltada para política e ins-tituições; Rio tem entretenimento e algode política. Ambas auxiliam em reporta-gens nacionais ou de acordo com a espe-cialidade das pessoas alocadas na região.

Época tem, geralmente, três fechamen-tos: na quarta-feira, uma editoria; naquinta, duas; na sexta, outras duas. Os edi-tores fecham o conteúdo e passam paraos editores-executivos, que os repassampara Cohen ou Hélio. A revista não temos chamados "checadores", a equipe de re-visores cumpre parte desse papel; a ou-tra parte cabe aos próprios repórteres e edi-tores, em leituras que o redator-chefechama de cruzadas.

Quanto à definição da capa, Cohen dizque ela se deve a um conjunto de fatores,tais como relevância, inovação e impac-to. "Em geral, procuramos captar o "espí-rito do tempo", traduzir em reportagenspoderosas aquilo que está no raio de aten-ção das pessoas. Algumas são decididascom antecedência. Criamos até uma es-pécie de calendário para capas especiais,como a de "Melhores empresas para tra-

balhar", feita com baseem uma pesquisa doGreat Place to Work Ins-titute. Claro que even-tos extraordinários,como um ataque doPCC ou uma queda deavião, podem alterá-las. Nesses casos, pode-mos mudar tudo deum dia para o outro.".

Contratado paratrabalhar na redação daÉpoca em São Paulo, orepórter Ricardo Men-donça conta que cobrediversas áreas:

– Estou há quatroanos na revista, depois de passar peloEstadão e pela Veja. Comecei na Geral, equi-valente à editoria de Cidade num jornal,fazendo um pouco de tudo. Acabei naPolítica, cobrindo eleições, denúncias,CPIs... Como a equipe da revista é peque-na (seis repórteres em São Paulo, cinco noDistrito Federal e dois no Rio), tambémestou fazendo, interinamente, a coluna"Primeiro plano", de notas que vão de eco-nomia a sociedade.

Com a experiência de quem já atuou emjornal, Ricardo Mendonça diz que a revis-ta dá oportunidade ao repórter de tratar commais cuidado suas matérias:

– Dá para a gente se aprofundar maisno assunto. Em algumas reportagens, po-demos trabalhar melhor a edição, as fo-tografias e até mesmo a arte. Temos tem-po de olhar e, se for preciso, refazer umamatéria. O produto final ganha em qua-lidade e é preciso agir assim desde a apu-

Das quatro revistas semanais deinformação brasileiras, Veja é a únicaque tem uma equipe exclusiva parachecagem das matérias. O diretor deRedação, Eurípides Alcântara,considera que esse trabalho é vitalpara garantir o menor número deerros possível. Ele lembra que, com afacilidade de acesso quase instantâneoa fontes confiáveis na internet(enciclopédias, dicionários e arquivos

VEÍCULOS - AS REVISTAS QUE FAZEM A CABEÇA DOS BRASILEIROS

Crescimento é maiorentre jovens e mulheres

ÉPOCA

ração, quando começamos a visualizaro acabamento. Embora o considere ummeio mais emocionante, porque gostodas notícias quentes, o jornal não nos dátempo de caprichar.

Apesar disso, os repórteres trabalhamem ritmo acelerado, embora Ricardo nãosaiba quantificá-lo:

– Pela própria dinâmica do trabalho édifícil manter um parâmetro da produ-ção mensal de matérias que temos quecumprir. Na cobertura das últimas elei-ções, por exemplo, a pauta tinha comoproposta fazer um levantamento e ava-liar o resultado das promessas que o Lulafez em 2002. Conseguimos juntar 700declarações do Presidente. Foi uma ma-téria que levou mais de quatro meses paraficar pronta e envolveu várias pessoas.

Os repórteres da Época têm participa-ção ativa nas sugestões de pauta, junta-mente com os editores-executivos:

– Nossas sugestões costumam ser aca-tadas – diz Ricardo. – Dessa parceria, quevale tanto para a escolha dos temas quan-to para a decisão do número de páginas darevista, pode inclusive aparecer uma ter-ceira idéia para a matéria. Como há umarelação menos formal, essas mudançaspodem ocorrer no meio do fechamento,devido às negociações entre repórter eeditor, que são constantes na Redação.

Para Ricardo, a sintonia com os edito-res também facilita o desempenho dorepórter na hora de redigir: "Ao longo daapuração, conversamos com os editoressobre as suas expectativas sobre a repor-tagem. Todo texto é lido pelos editores-

de universidades, jornais e revistas), achecagem primária tende a ficar cadavez mais com os próprios repórteres. Eafirma que a multiplicidade de novasferramentas faz que,aos poucos, oschecadores sejamliberados para funçãoainda mais nobre, queé a de zelar não apenaspela qualidade, masprincipalmente pelalógica interna dainformação.

Desde 1999, quemcoordena a equipe dechecadores da Veja é ajornalista Rosana Silveira,que começou a trabalharna revista em 1995:

– Somos uma equipe

de quatro jornalistas. A tarefa dochecador é conferir os dados que serãopublicados. É parte de um trabalhoconjunto, cujo objetivo é zelar pela

acuidade das informaçõesoferecidas aos leitores.

A checagem foicriada com inspiraçãona Time Magazine.Rosana não sabeinformar ao certoquando esse serviço foiimplantado na Veja,mas sabe que desde osanos 80 há uma equipedesignada para essafunção de rever asmatérias depois definalizadas e liberadaspelo diretor de Redação.A checagem é sempre

feita perto dos horários defechamento. É uma das últimas etapasda produção da revista. Eventuaismudanças de última hora não alterama dinâmica do trabalho, que tem deser rápido e objetivo.

Construtor finalNa IstoÉ, existem três editores-

executivos de área cuidando dofechamento de três editorias distintas.Eles são os construtores finais dasmatérias, mas quem dá a últimapalavra é sempre o Diretor Editorial. Sedepois de a reportagem passar por todasessas etapas ele achar que o assuntonão está bem conduzido, o texto temque ser refeito.

De acordo com Marco Damiani,cabe ao construtor final supervisionaro trabalho, mas com a obrigação

executivos, para verificar se a matéria estáseguindo o estilo da revista ou dandoênfase aos aspectos que eles acham maisimportantes. Mas a chefia não chega amudar a estrutura do texto. Na Época, éassim que funciona".

Rosana Silveira, da Veja,chefia a equipe que faz a

conferência das informações.

David Cohen, redator-chefe de Época está satisfeito com o desempenhoda revista, que teve aumento de leitores no último trimestre.

Mendonça: o trabalho em revista permite queo repórter trate a matéria com mais cuidado.

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7Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI 320 Julho/Agosto de 2007

QUANDO SE FALA NAS REVISTAS SEMANAISde informação brasileiras, o primeiro nomea ser lembrado é Mino Carta, nascido emGênova entre setembro de 1933 e fevereirode 1934 (a data exata do seu nascimentoé um mistério). O jornalista está associ-ado à criação de veículos como Jornal daTarde, Quatro Rodas, Veja e IstoÉ. Atual-mente diretor de outra de suas criações,a CartaCapital, ele diz que sua trajetóriaprofissional é um caso de sorte:

– Não se trata de mérito. Apenas esta-va no lugar certo, na hora certa –, comen-ta, modesto, apesar de só computar um fra-casso na carreira, o Jornal da República.

A estréia aconteceu na cobertura da Copado Mundo de 50, no Brasil, pelo jornal IlMessaggero, de Roma. Mino costuma di-zer que só continuou na profissão porquepode exercê-la no país em que percebeu queser jornalista tinha alguma utilidade – nocaso, "para tentar impedir que a Históriafosse escrita pelos vencedores":

– Normalmente são eles que a escre-vem, é claro. Como jornalista, porém, agente tem a chance de deixar para o fu-turo alguma anotação, alguma coisa quepoderá, eventualmente, sobreviver àquelaversão – declarou em entrevista ao siteComunità Italiana.

Com esse espírito crítico sobre o pa-pel da imprensa e do jornalista, Mino acei-tou o convite da Abril para criar a Veja:

– Eles acreditavam que eu poderia di-rigir uma revista como a Time no País. Ho-nestamente, como corria o ano de 1968,em plena ditadura militar, não achava queaquele era o melhor momento. Fecheientão um acordo de que eles (os sócios daeditora) não participariam nem das reu-niões de pauta, seriam simples leitores.Depois da revista pronta, poderiam darpalpites à vontade; nunca antes.

Mino Carta acha que a estratégia delançamento foi equivocada, porque todaa publicidade passava uma idéia de quea Veja seria uma concorrente da Manchete,uma revista ilustrada:

– A primeira edição saiu como obra-prima, mas tinha falhas. Começou com700 mil exemplares, depois caiu para 500mil, 300 mil, 150 mil, 80 mil... E foi ca-indo. Eles me diziam que estava em 40

Mino Carta: o criador quer escrever a História

Hoje ele não gosta do padrão de Vejae IstoÉ, que ajudou a criar e afirma que"o mercado das revistas semanais de in-formação está horrendo": "O Brasil viveum momento terrível, de má qualidadena imprensa, que serve ao patrão, aos se-nhores que mandam no País. A CartaCa-pital é uma voz isolada".

CartaCapital circulou pela primeiravez em agosto de 1994. Foi mensal até

maioria das matérias; os subeditores,que fazem o primeiro copidesque eapóiam o fechamento; e, acima, oseditores responsáveis pelas seçõesespecíficas, que se responsabilizampela pauta e coordenam o trabalho dosrepórteres.

Marco Damiani trabalha com 12profissionais sob sua supervisão,incluindo editores, repórteres e pessoaldas sucursais. A troca de informaçõescom a equipe é constante, por e-mail etelefone. "A base de tudo é a leitura dosjornais do dia, a escuta das rádios, oolhar na tv e, claro, a atenção naconcorrência. Temos de falar semprecom muitas fontes. Minha função éestimular isso e fazer que o pique semantenha forte".

Até chegar às mãos do editor-executivo para a redação final, o texto

percorre várias etapas:– Era mais trabalhoso quando as

matérias eram produções coletivas eiam para as páginas sem a assinaturados autores. Agora, por exigência dasredações, os profissionais já têm ochamado texto final. Mas é claro quesempre se pode dar um ajuste,principalmente em relação aotamanho. É que não faz barulho, masnas redações toda hora tem estouro(no jargão jornalístico, quando amatéria ultrapassa o tamanhoprevisto para ela na página). Tambémé comum dar branco (ou seja, faltartexto), mas isso é bem mais raro.Enfim, esses ajustes todos estãodentro, como dizia o saudoso JorgeEscosteguy, dentro do meuholerite (ou, para os cariocas,contracheque).

mil, mas na verdade o número era de 20mil exemplares.

Um dos piores problemas, como Minosuspeitava, era a ditadura. A revista tevevárias edições recolhidas:

– Aí veio o AI-5 e passamos a ser maisferozmente censurados. Os censores sódeixaram a revista com a minha saída, umfato que muito me honra. É algo queconto aos meus netos com prazer.

março de 1996 e quinzenal até cinco anosatrás. Inicialmente, seria uma revista denegócios, mas Mino só aceitou o convi-te para fazê-la porque teria autonomiapara criar um veículo sobre poder, polí-tica e cultura, e que por isso, em sua opi-nião, não tem concorrentes.

– As outras publicações têm outros in-tentos. Nossa busca é por uma fórmulanova, seguindo o caminho da análise, natentativa de diluir os eventos por meio detemas respeitáveis. Quem escreve em Car-taCapital tem conhecimento e autorida-

de para isso. Outrofator é a busca de in-formação exclusiva.

Quando lhe per-guntam se CartaCa-pital é uma revista deesquerda, Mino res-ponde que ela temcomo proposta a críti-ca consciente. E citaNorberto Bobbio, paraquem a luta isoladanão funciona, poispara quem quer aigualdade e a inclusãosocial a liberdade nãoé o bastante e um ele-mento sozinho corre

o risco de virar um instrumento do poder:– Não vamos questionar a natureza.

Determinar quem deve nascer e como.Igualdade de oportunidades o País nãoatingiu. A CartaCapital se bate pela igual-dade e prima pela verdade factual. Faze-mos o exercício do espírito crítico, coma fiscalização do poder.

A Redação da revista é enxuta, de ape-nas 15 jornalistas, e o diretor se diz satis-feito com o resultado apresentado pelaequipe, como valeu também na IstoÉ. "So-mos poucos e conseguimos pagar direi-to, com justiça e eqüidade. Tenho a con-vicção de que é uma vantagem muitogrande ter uma equipe pequena e maisafinada. Aqui é costume fazer uma có-pia grotesca do modelo americano, com40 pessoas numa Redação. Isso é ridícu-lo, porque são modelos aplicados em paísesricos. Infelizmente esse é o Brasil que agente vê por aí".

também de apurar matérias. Cadaeditor-executivo cuida de um grupode editorias, a partir do qual distribuio trabalho para as sucursais do Rio ede Brasília para o correspondente emNova York e, se necessário, para osfrilas:

– Sou o editor-executivoresponsável pelas editorias de Política,Economia e Assuntos Nacionais(Brasil). Minha função também éestar muito por dentro dessas áreas,coordenar os editores, ajudar na pautadas fotos, receber os textos e imprimir,quando necessário, a forma final.Acima dos editores-executivos está odiretor de Redação, com palavra finalsobre tudo.

A estrutura da revista pode serconsiderada piramidal. Tem na base osrepórteres, encarregados de apurar a

O editor-executivoMarco Damiani tem

como norma atroca constante deinformações com

sua equipe.

CARTACAPITAL

Mino Carta e suaCartaCapital:

escrevendo a Históriaque os vencedores

não contam.

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8 Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI 320 Julho/Agosto de 2007

ARTIGOS

Pensei que já houvesse escrito uma notapara esta coluna sobre Camus (1913-60),incluindo-o naquela relação ou galeria deautores esquecidos da nossa e de outrasliteraturas. Refiro-me àqueles que surgemde repente, adquirem em sua época grandenotoriedade e de pronto mergulhamnaquele sol dos mortos a que se refereBalzac, tendo o esquecimento como des-tino literário. Tristão de Athayde referiu-se certa feita a autores medíocres de livrosfamosos que por um momento brilhamcomo estrelas cadentes (a imagem é mi-nha) e de repente mergulham em totale absoluto esquecimento. E cita entre ou-tros os casos de Wendell Wilkie, políticonorte-americano que se opôs a Rooseveltnuma de suas eleições presidenciais eautor do livro de sucesso Um Mundo Só,e Axel Munthe, com a sua obra O Livrode San Michelle, que também causousensação ao aparecer.

Camus foi um desses monstros sagra-dos. Argelino, engajando-se na Resistên-cia Francesa ao tempo da Segunda Guer-ra Mundial, junta-se a Sartre e a outroscompanheiros da esquerda francesa, atra-vés do jornal Le Combat, após uma rápidapassagem pelo Partido Comunista, queera, naquela fase, uma espécie de batis-mo de fogo da intelectualidade de esquer-da européia.

Camus e o sol dos mortosPOR M. PAULO NUNES

M. Paulo Nunes é escritor e Presidente do ConselhoEstadual de Cultura do Piauí. Publicado originalmenteno Diário do Povo do Piauí, coluna Opinião.

O jornalista Paulo César de Araújo,autor da biografia Roberto Carlos em de-talhes, sofreu processo jurídico e tevemilhares de exemplares embargados-confiscados pela escuridão da Justiça; suaeditora, a Planeta, capitulou, aceitandoo esbulho e o prejuízo. Não lutou.

A atitude castradora do “Rei” não temexplicação, pois ele sabia desde o inícioque sua vida estava sendo pesquisada enada fez. Foram quinze anos de traba-lho jogados no lixo; desrespeito e arro-gância do cantor milionário, dito cató-lico, pouco cristão. Mas existem outrasformas de censura.

A Nova Fronteira, da família Lacerda,exerceu este dito cruel, deixando-me qua-tro anos sem qualquer resposta, primeirocom os originais de 466 frases e pensamen-tos políticos de Carlos Lacerda, entreguesem 1995 a Carlos Barbosa, Superintendenteda editora. Deu-me esperanças e que ficasseaguardando uma comunicação para vol-tar à editora e assinar o contrato. Nunca

A nova censura:a gaveta do editor

POR VIVALDO AZEVEDO

Carlos Lacerda: vetado pelo superintendenteda Nova Fronteira, editora que ele criou.

Além da Resistência, também se apro-ximou de Sartre, com quem depois rom-peria, como ocorreu com o filósofo Mer-leau-Ponty, pelo mesmo motivo, a discor-dância política. Expôs suas idéias filosó-ficas no livro O Mito de Sísifo, ensaio sobreo absurdo, através das quais se identificacom o Sartre de O Ser e o Nada. Nele expõesua filosofia do absurdo, originária daantinomia entre o homem e sua situaçãoirracional no mundo, da qual somente seliberta pelo conhecimento e pela razão.

Seu estudo famoso O Homem Revolta-do, publicado em 1951, ensaio político emque expressa sua paixão pela revolta per-manente como expressão de uma hones-tidade desesperada, é erroneamente rece-bido como profissão de fé direitista e anti-revolucionária que o leva ao rompimen-to com seu velho amigo Sartre, como jáfoi dito.

Foi Camus também um entusiasta doteatro, de que resultaram suas obras ori-ginais O Mal-entendido, que juntamen-te com O Estrangeiro enfeixa suas idéiasfilosóficas expressas no ensaio O Mito deSísifo; Calígula e O Estado de Sítio. Foitambém um adaptador de autores famososcomo Calderón de la Barca, Lope da Vêgae ainda Faulkner e Dostoiévski, comadaptações bem sucedidas.

De sua obra de romancista se destacamO Estrangeiro, sua estréia literária, e APeste, sua obra-prima, cuja metáfora é a

ocupação alemã, que li numa traduçãode Graciliano Ramos.

Há que referir ainda seu Diário, publi-cação póstuma e praticamente ausentede sua fortuna crítica, mas aquela em quesua angústia existencial se manifesta daforma mais dolorosa, com crises que olevam quase ao suicídio, que seria no casoa negação de suas idéias, porquanto sig-nifica uma das formas de evasão descar-tadas de seu ideário, pois que representa-ria a supressão da consciência.

Em 1957 recebe a consagração máxi-ma ao ser-lhe atribuído o Prêmio Nobelde Literatura e falece três anos depois emum desastre de automóvel.

Josué Montello, em sua obra diarís-tica Diário da Noite Iluminada, refereuma passagem do livro por ele conside-rado magistral, de Lottman, sobre AlbertCamus, que nos punge, “à revelia daglória literária que a vida proporcionaao romancista”.

“Para mim, continua o autor de A Noitesobre Alcântara, que o conheci no Rio deJaneiro, associada à admiração por seusromances, o fecho do livro de Harbert R.Lottman quase me fez chorar: “O visi-tante que, hoje, penetra no cemitério, emLoumarin, encontra um túmulo quebra-do, coberto por espessa moita de alecrim;a lápide, com nome e as datas de Camus,parece velha de vários séculos. Alguémpor vezes deixa ali uma cruz – freqüen-

temente muito simples, tirada de umtúmulo. No entanto, pelo menos, umavez, deixaram sobre a lápide uma grandecruz de pedra, retirada de algum túmuloem ruína.”

E conclui:“Camus morreu em 1960, num desas-

tre de automóvel, e seu biógrafo lhe viuo túmulo, quinze anos depois. Três lus-tros apenas. E já estava esquecido pelosparentes e amigos.” (ob.cit.p.457)

foi feita essa comunicação. Tratava-se deum engodo, como vim a saber.

Como nenhuma outra editora aceitaqualquer obra sobre Carlos Lacerda, noRio de Janeiro e em São Paulo — “A edi-tora da família é a Nova Fronteira”, to-dos repetem o refrão –, o jeito foi retor-nar à Rua Bambina, 25, para oferecer meusegundo livro sobre o patrono.

Assim, no dia 22 de outubro de 2003— tenho o protocolo —, fiz a entrega de474 páginas do texto e mais 260 diagra-mações (desenho da página) da obraCarlos Lacerda, anedotário, que consumiunove anos de pesquisa, contendo 991anedotas, fotos, caricaturas e charges, dosaudoso político e intelectual dos maio-res que o Brasil possui, cuja bibliografiasoma 31 livros desde Carta fechada aHumberto de Campos, de 1934, a Depoi-mento, vindo à luz um mês após sua morte,em 21 de maio de 1977.

Para evitar a decepção da vez anterior,com o apoio dos associados Coronel NeyCoelho Soares e Dr. Enyr de Jesus da Costae Silva, ambos da Loja Maçônica de São

Cristóvão, mandei compor e imprimirquarenta exemplares; um deles levei paraCarlos Augusto Lacerda, então Diretor-Presidente da Nova Fronteira, junto como disquete contendo a obra, pronta paraimprimir, além do oferecimento de R$

15 mil, para os primeiros quatro milexemplares do livro. Na minha frente,aceitou a oferta, mas naturalmente o seusuperintendente — Carlos Barbosa — ofez desistir. E nunca deu resposta, jogan-do tudo numa das inúmeras “gavetas” daempresa, até hoje.

São editores que se esquivam, incapa-zes de enfrentar o autor olho no olho. Éa outra forma de censura, a covardiaprofissional. Carlos Barbosa — soube peloCláudio Lacerda —, sobrinho do patro-no e também vítima, era quem vetavaqualquer obra sobre Carlos Lacerda, ale-gando que lá havia obras demais de Car-los Lacerda.

Demais? Eis algumas: Discursos par-lamentares, de 1982; Depoimento, de 1977;A vida de um lutador — I e II, saídos em1992 e 2000, do brazilianista John Fos-ter Dulles, vendem bem até hoje; bemcomo A casa do meu avô, de 1976; e ou-tros esgotados. E mais dois de CláudioLacerda: Carlos Lacerda, 10 anos depois,de 1987, e Carlos Lacerda e os anos sessen-ta, de 1998. E mais dois livros que Cláu-dio escreveu, entregou à editora, mas nãoforam publicados até a sua morte, anopassado. Obras boicotadas.

E assim, de picuinha em picuinha, aNova Fronteira trocou de mãos. Semcontar que perdeu, há três anos, seu car-ro-chefe, o Dicionário Aurélio...

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Paulo Alberto Monteiro de Barros ini-ciou sua trajetória parlamentar em 1960,como deputado do PTN pelo antigo Es-tado da Guanabara. Dois anos depois, seelegeu deputado constituinte pelo PTB.Entre 64 e 68, cassado pelo regime mili-tar, viveu na Bolívia e no Chile. Na volta,assumiu o pseudônimo de Artur da Tá-vola. Ele é o funcionário mais antigo daRádio MEC, onde estreou em 1957 eapresenta um programa sobre músicaclássica. Durante 15 anos, foi colunistado jornal O Globo, depois de escrever naÚltima Hora. Também colaborou emrevistas da Bloch e há 18 anos escreve“crônicas sobre a vida” no Dia.

Conselheiro da ABI, Paulo Alberto dizque o jornalismo enveredou pela linhada notícia como entretenimento, como risco de julgamentos muito rápidos esuperficiais das matérias, o que não ébom para os veículos e seu público.

JorJorJorJorJornal da ABI — Pnal da ABI — Pnal da ABI — Pnal da ABI — Pnal da ABI — Por que o pseu-or que o pseu-or que o pseu-or que o pseu-or que o pseu-dônimo?dônimo?dônimo?dônimo?dônimo?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Eu era editor deCidade na Última Hora e assinava com omeu nome, Paulo Alberto, uma colunachamada Cidade livre. Quando foi decre-tado o Ato Institucional nº 5, quem, comoeu, já tinha problemas políticos precisouse esconder. Quando a coisa foi-se norma-lizando, o Samuel Wainer me chamou eme aconselhou a arranjar um pseudôni-mo e passar a escrever sobre televisão. Aíme veio à cabeça o nome de Artur da Távola.

Jornal da ABI — Isso foi logo apósJornal da ABI — Isso foi logo apósJornal da ABI — Isso foi logo apósJornal da ABI — Isso foi logo apósJornal da ABI — Isso foi logo apósseu retorno do exílio?seu retorno do exílio?seu retorno do exílio?seu retorno do exílio?seu retorno do exílio?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Sim. A convitedo Samuel Wainer, fui trabalhar na Últi-ma Hora com o Tarso de Castro, o NelsonMotta, que na época era um garoto, e o LuizCarlos Maciel. E lá encontrei MoacirWerneck de Castro e Otávio Malta, habi-

tuais colaboradores do Samuel.

Jornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABIJornal da ABI — Quando o se-— Quando o se-— Quando o se-— Quando o se-— Quando o se-nhor decidiu voltar ao Brasil?nhor decidiu voltar ao Brasil?nhor decidiu voltar ao Brasil?nhor decidiu voltar ao Brasil?nhor decidiu voltar ao Brasil?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Vivia no Chile,em 68, quando o Costa e Silva anunciouque os brasileiros que quisessem voltarnão seriam incomodados. Só duas pesso-as acreditaram nele: o Samuel e eu. Minhaprimeira mulher veio na frente com meusfilhos e eu fiquei na casa do Plínio de ArrudaSampaio. Cheguei um mês depois e fuitrabalhar na UH.

Jornal da ABI — Que tipo de co-Jornal da ABI — Que tipo de co-Jornal da ABI — Que tipo de co-Jornal da ABI — Que tipo de co-Jornal da ABI — Que tipo de co-mentários fazia sobre TV?mentários fazia sobre TV?mentários fazia sobre TV?mentários fazia sobre TV?mentários fazia sobre TV?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Naquela épocaera muito comum os intelectuais e osjornalistas arrasarem com a televisão,veículo em que trabalhei no Chile. Seguia sugestão do Samuel, no sentido de fa-zer uma coluna analítica. No começo eume apresentava como um velho aposen-tado, que ficava numa cadeira de rodasdiante da TV, minha única diversão.

Jornal da ABI — Depois da Jornal da ABI — Depois da Jornal da ABI — Depois da Jornal da ABI — Depois da Jornal da ABI — Depois da UHUHUHUHUH e e e e eda Bloch, veio da Bloch, veio da Bloch, veio da Bloch, veio da Bloch, veio O GloboO GloboO GloboO GloboO Globo?????

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Um belo dia, oEvandro Carlos de Andrade, que chefia-va a Redação, me chamou para escreverno jornal. Perguntei ao Evandro: comoé que eu vou fazer crítica de TV no Glo-bo? Ele me disse: “Deixa comigo, vamostentar.” Durante 15 anos, ele adotou aseguinte técnica: com o Roberto Mari-nho, defendia a minha posição quandoeu criticava a Globo; comigo, defendiaa posição do jornal. Quando não tinhajeito, ele me aconselhava a ir conversarcom o Dr. Roberto.

Jornal da ABI — Houve algumJornal da ABI — Houve algumJornal da ABI — Houve algumJornal da ABI — Houve algumJornal da ABI — Houve algumperíodo mais difícil?período mais difícil?período mais difícil?período mais difícil?período mais difícil?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Quando ele

ENTREVISTA A JOSÉ REINALDO MARQUES

Jornalismo não pode sercontaminado pelo denuncismo

Cronista acredita que os jornalistasse preocupam “muito mais

com a liberdade de comunicar,que é fundamental, do quecom o direito de quem estádo outro lado da notícia”.

DEPOIMENTO ARTUR DA TÁVOLA

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demitiu o Walter Clark e assumiu a TV,achei que ia complicar, pois, se eu criti-casse, estaria criticando o patrão. Mas foijustamente nesse período que ele absor-veu muito melhor as minhas críticas. Paraalguns colegas, eu fazia “o jogo” da TVGlobo. Não era verdade. Muita gente daTV pediu minha cabeça diversas vezes edizia que eu não podia emitir opiniõescontrárias à emissora sendo funcionáriodas Organizações Globo.

Jornal da ABI — Qual era o tomJornal da ABI — Qual era o tomJornal da ABI — Qual era o tomJornal da ABI — Qual era o tomJornal da ABI — Qual era o tomdas suas críticas?das suas críticas?das suas críticas?das suas críticas?das suas críticas?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Primeiro, ana-lisava mais do que opinava. Depois, des-tacava o trabalho de profissionais sembajular a empresa e buscava infiltrarmaterial de crônica na análise que fazia— especialmente nos comentários sobrenovelas, que tinha autores muito talen-tosos, a maioria banida do teatro pelacensura e levando material político e dereflexão para o telespectador.

Jornal da ABI — Quanto tempoJornal da ABI — Quanto tempoJornal da ABI — Quanto tempoJornal da ABI — Quanto tempoJornal da ABI — Quanto tempoo durou o seu trabalho como críti-o durou o seu trabalho como críti-o durou o seu trabalho como críti-o durou o seu trabalho como críti-o durou o seu trabalho como críti-co de TV?co de TV?co de TV?co de TV?co de TV?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Eu me demitiem 87, quando fui eleito deputado e oMário Covas me convidou para ser rela-tor, na Constituinte, de um capítulogrande que incluía educação, cultura ecomunicação, segmento da empresa emque eu trabalhava.

Jornal da ABI — Como avalia seuJornal da ABI — Como avalia seuJornal da ABI — Como avalia seuJornal da ABI — Como avalia seuJornal da ABI — Como avalia seutrabalho como constituinte?trabalho como constituinte?trabalho como constituinte?trabalho como constituinte?trabalho como constituinte?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Bem, o capítu-lo da comunicação até hoje está aí, nin-guém nunca tentou mudar nada. Todasas defesas contra a censura e pela regi-onalização de produção e a criação doConselho de Comunicação nós conse-guimos ganhar.

Jornal da ABI — O senhor foi pro-Jornal da ABI — O senhor foi pro-Jornal da ABI — O senhor foi pro-Jornal da ABI — O senhor foi pro-Jornal da ABI — O senhor foi pro-fessor de Jornalismo no Chile.fessor de Jornalismo no Chile.fessor de Jornalismo no Chile.fessor de Jornalismo no Chile.fessor de Jornalismo no Chile.Ainda leciona?Ainda leciona?Ainda leciona?Ainda leciona?Ainda leciona?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Não, porque eunotava que apenas 30% dos alunos seinteressavam pelas aulas. Cheguei àconclusão de que não valia a pena o es-forço e resolvi transformar o meu conhe-cimento em Comunicação em livros.Escrevi vários sobre o tema.

Jornal da ABI — O senhor es-Jornal da ABI — O senhor es-Jornal da ABI — O senhor es-Jornal da ABI — O senhor es-Jornal da ABI — O senhor es-creveu sobre a liberdade de impren-creveu sobre a liberdade de impren-creveu sobre a liberdade de impren-creveu sobre a liberdade de impren-creveu sobre a liberdade de impren-sa. Acha que ela vem sendo exerci-sa. Acha que ela vem sendo exerci-sa. Acha que ela vem sendo exerci-sa. Acha que ela vem sendo exerci-sa. Acha que ela vem sendo exerci-da satisfatoriamente no Brasil?da satisfatoriamente no Brasil?da satisfatoriamente no Brasil?da satisfatoriamente no Brasil?da satisfatoriamente no Brasil?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — De uns dez anospara cá, tem havido um grande aparelha-mento partidário nas Redações. É preci-so ressaltar que a liberdade de imprensadeverá respeitar também os direitos doreceptor da informação, que deverá rece-bê-la sem condicionamentos, vista detodos os ângulos. Nós, jornalistas, nospreocupamos muito mais com a nossaliberdade de comunicar, que é fundamen-tal, do que com o direito de quem está dooutro lado da notícia.

Jornal da ABI — Quando reto-Jornal da ABI — Quando reto-Jornal da ABI — Quando reto-Jornal da ABI — Quando reto-Jornal da ABI — Quando reto-mou o contato com a imprensa, es-mou o contato com a imprensa, es-mou o contato com a imprensa, es-mou o contato com a imprensa, es-mou o contato com a imprensa, es-

crevendo em crevendo em crevendo em crevendo em crevendo em O DiaO DiaO DiaO DiaO Dia, foi novamen-, foi novamen-, foi novamen-, foi novamen-, foi novamen-te fazendo crítica de televisão?te fazendo crítica de televisão?te fazendo crítica de televisão?te fazendo crítica de televisão?te fazendo crítica de televisão?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Não. Eu disse quenão gostaria mais de escrever sobre o tema.Então me pediram que fizesse crônicasvariadas, e eu topei. Adoro o gênero e oescrevo até hoje. Só em O Dia, já são quase18 anos escrevendo crônicas sem parar.

Jornal da ABI — O senhor é umaJornal da ABI — O senhor é umaJornal da ABI — O senhor é umaJornal da ABI — O senhor é umaJornal da ABI — O senhor é umafigura pública e um intelectual defigura pública e um intelectual defigura pública e um intelectual defigura pública e um intelectual defigura pública e um intelectual deprestígio, que atua com desenvol-prestígio, que atua com desenvol-prestígio, que atua com desenvol-prestígio, que atua com desenvol-prestígio, que atua com desenvol-tura na política, na imprensa e natura na política, na imprensa e natura na política, na imprensa e natura na política, na imprensa e natura na política, na imprensa e naliteratura. Como é dar conta deliteratura. Como é dar conta deliteratura. Como é dar conta deliteratura. Como é dar conta deliteratura. Como é dar conta detantas atividades?tantas atividades?tantas atividades?tantas atividades?tantas atividades?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Não me consi-

dero intelectual de prestígio, sou umapessoa respeitada. Inclusive, nos meuslivros, eu confesso que sinto falta deprestígio intelectual.

JorJorJorJorJornal da ABI — Pnal da ABI — Pnal da ABI — Pnal da ABI — Pnal da ABI — Por quê?or quê?or quê?or quê?or quê?Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Intelectual não

lê o que eu escrevo, porque eu tenho muitapreocupação de escrever para o grandepúblico. E eu escrevo crônica, que é con-siderado um gênero menor. Não é, masfoi caracterizado assim.

Jornal da ABI — O senhor se con-Jornal da ABI — O senhor se con-Jornal da ABI — O senhor se con-Jornal da ABI — O senhor se con-Jornal da ABI — O senhor se con-sidera vítima de algum tipo de pa-sidera vítima de algum tipo de pa-sidera vítima de algum tipo de pa-sidera vítima de algum tipo de pa-sidera vítima de algum tipo de pa-trulhamento?trulhamento?trulhamento?trulhamento?trulhamento?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Quando entreipara a política acho que tive a coragem deabraçar uma atividade que a intelectua-lidade não compreendia e até hoje nãocompreendeu.

Jornal da ABI — Em alguns cír-Jornal da ABI — Em alguns cír-Jornal da ABI — Em alguns cír-Jornal da ABI — Em alguns cír-Jornal da ABI — Em alguns cír-culos, dizem que a sua não reelei-culos, dizem que a sua não reelei-culos, dizem que a sua não reelei-culos, dizem que a sua não reelei-culos, dizem que a sua não reelei-ção para o Senado enfraqueceu oção para o Senado enfraqueceu oção para o Senado enfraqueceu oção para o Senado enfraqueceu oção para o Senado enfraqueceu oquadro político cujos projetos des-quadro político cujos projetos des-quadro político cujos projetos des-quadro político cujos projetos des-quadro político cujos projetos des-tacavam a cultura brasileira. Otacavam a cultura brasileira. Otacavam a cultura brasileira. Otacavam a cultura brasileira. Otacavam a cultura brasileira. Osenhor concorda?senhor concorda?senhor concorda?senhor concorda?senhor concorda?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Acho que issoaconteceu realmente, porque eu medediquei muito à área. Fui Presidente daComissão de Educação, Cultura e Comu-nicação do Senado e participei diretamen-te dos seis anos de tramitação do projetoda Lei de Diretrizes e Bases da Educaçãono Congresso Nacional, cujo relator foiDarci Ribeiro.

Jornal da ABI— Esta sua atua-Jornal da ABI— Esta sua atua-Jornal da ABI— Esta sua atua-Jornal da ABI— Esta sua atua-Jornal da ABI— Esta sua atua-ção teve a visibilidade merecida?ção teve a visibilidade merecida?ção teve a visibilidade merecida?ção teve a visibilidade merecida?ção teve a visibilidade merecida?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — O que eu possodizer é que em termos de mídia há umabismo entre o que um parlamentar fazem Brasília e a repercussão em seu Esta-

do, a menos que ele se envolva em algumescândalo.

Jornal da ABI— O senhor pode-Jornal da ABI— O senhor pode-Jornal da ABI— O senhor pode-Jornal da ABI— O senhor pode-Jornal da ABI— O senhor pode-ria explicar isso melhor?ria explicar isso melhor?ria explicar isso melhor?ria explicar isso melhor?ria explicar isso melhor?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Ninguém fazcobertura de comissão ou de trabalho. Eisso vem sendo o comportamento geral,principalmente depois que o jornalismoenveredou pela linha da notícia comoentretenimento. Este fenômeno nãoacontece apenas no Brasil, mas no mun-do inteiro. Vivemos uma era em que osmodelos televisivos influenciam o for-mato do telejornalismo e da imprensa,embora os jornais ainda tenham articu-listas capazes de exercer um papel dereflexão de muito boa qualidade.

Jornal da ABI — Qual é o prin-Jornal da ABI — Qual é o prin-Jornal da ABI — Qual é o prin-Jornal da ABI — Qual é o prin-Jornal da ABI — Qual é o prin-cipal defeito desse jornalismo quecipal defeito desse jornalismo quecipal defeito desse jornalismo quecipal defeito desse jornalismo quecipal defeito desse jornalismo queo senhor classifica como de entre-o senhor classifica como de entre-o senhor classifica como de entre-o senhor classifica como de entre-o senhor classifica como de entre-tenimento?tenimento?tenimento?tenimento?tenimento?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — É opinar emmanchete. Sou de uma geração que nuncausou esse expediente; manchete era sópara informar, ainda que fosse sobre algograndioso e brutal como a guerra. De uma

década para cá, é possível observar o quantoas editorias opinam na edição da matériae das manchetes, muitas vezes em fun-ção da competição entre os jornais.

Jornal da ABI — Nesse contex-Jornal da ABI — Nesse contex-Jornal da ABI — Nesse contex-Jornal da ABI — Nesse contex-Jornal da ABI — Nesse contex-to, de que maneira o público podeto, de que maneira o público podeto, de que maneira o público podeto, de que maneira o público podeto, de que maneira o público podeser afetado?ser afetado?ser afetado?ser afetado?ser afetado?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola —Isso leva à ten-dência de julgamentos muito rápidos esuperficiais das matérias, o que não é bomnem para o veículo, nem para o seu pú-blico.

Jornal da ABI — Qual é a avalia-Jornal da ABI — Qual é a avalia-Jornal da ABI — Qual é a avalia-Jornal da ABI — Qual é a avalia-Jornal da ABI — Qual é a avalia-ção que o senhor faz desse compor-ção que o senhor faz desse compor-ção que o senhor faz desse compor-ção que o senhor faz desse compor-ção que o senhor faz desse compor-tamento da mídia?tamento da mídia?tamento da mídia?tamento da mídia?tamento da mídia?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — O jornalismovive, atualmente, uma trepidação cons-tante de empresas que têm que alcançargrande tiragem ou audiência para con-seguir vender os espaços publicitários quelhes trazem os lucros — que, aliás, nãosão pequenos.

Jornal da ABI — O que o senhorJornal da ABI — O que o senhorJornal da ABI — O que o senhorJornal da ABI — O que o senhorJornal da ABI — O que o senhoracha do jornalismo investigativoacha do jornalismo investigativoacha do jornalismo investigativoacha do jornalismo investigativoacha do jornalismo investigativobrasileiro?brasileiro?brasileiro?brasileiro?brasileiro?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — A tecnologiaajudou muito no desenvolvimento dessecampo do jornalismo, com suas máqui-nas de capturar som e imagem, mas emcertos momentos ele se deixa contami-nar pelo denuncismo. Às vezes há umatendência de se tratar o indício como sin-toma, o sintoma como fato, o fato comojulgamento, o julgamento como conde-nação e a condenação como linchamento.

Jornal da ABI — E quais seriamJornal da ABI — E quais seriamJornal da ABI — E quais seriamJornal da ABI — E quais seriamJornal da ABI — E quais seriamos pontos positivos da investiga-os pontos positivos da investiga-os pontos positivos da investiga-os pontos positivos da investiga-os pontos positivos da investiga-ção jornalística?ção jornalística?ção jornalística?ção jornalística?ção jornalística?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Há uma emer-são de talento no jornalismo brasileiro daditadura para cá. Muita podridão temvindo à tona graças ao esforço do jorna-lismo e aos seus defeitos, que vão se cor-rigindo no andamento do processo. Achoque os jornalistas mais conseqüentes sederam conta desse problema e têm luta-do contra a arrogância do jornalismo e oautoritarismo enfático nos veículos degrande circulação.

Jornal da ABI — De que tipo deJornal da ABI — De que tipo deJornal da ABI — De que tipo deJornal da ABI — De que tipo deJornal da ABI — De que tipo delinha editorial o senhor sente falta?linha editorial o senhor sente falta?linha editorial o senhor sente falta?linha editorial o senhor sente falta?linha editorial o senhor sente falta?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Do jornalismode idéias, que marcou um tempo e tam-bém sumiu.

JorJorJorJorJornal da ABI — Pnal da ABI — Pnal da ABI — Pnal da ABI — Pnal da ABI — Por eor eor eor eor exxxxxemplo?emplo?emplo?emplo?emplo?Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Os jornais comu-

nistas, católicos etc., todos eles refluírampara publicações mais fechadas e maisalternativas. Na Europa, os jornais doPartido Comunista ainda se mantêm, mashá uma tendência à diluição, principal-mente depois da queda do Muro de Ber-lim. Há outros aspectos relevantes que eupoderia destacar sobre a mídia nacional...

Jornal da ABI — Quais?Jornal da ABI — Quais?Jornal da ABI — Quais?Jornal da ABI — Quais?Jornal da ABI — Quais?Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Há um que nunca

é observado e acontece com muito maisfreqüência na TV: deprimir a populaçãonos noticiários e euforizá-la nos comer-

A biblioteca de Paulo Alberto tem 4 mil volumes e teria o dobro se ele não tivesse doadooutro tanto. No acervo, obras sobre música e biografias de santos. Ele tem 4 mil discos.

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ciais. Trata-se de uma estratégia do siste-ma produtor, para mostrar que tudo o quevem do consumo, da indústria e do capi-tal é a beleza, é a gente alegre e vencedo-ra. Então, teoricamente, o que tem a vercom a realidade deprime e o que tem a vercom o consumo euforiza.

JorJorJorJorJornal da ABI — Tnal da ABI — Tnal da ABI — Tnal da ABI — Tnal da ABI — Todos os veícu-odos os veícu-odos os veícu-odos os veícu-odos os veícu-los de comunicação trabalhamlos de comunicação trabalhamlos de comunicação trabalhamlos de comunicação trabalhamlos de comunicação trabalhamnessa linha?nessa linha?nessa linha?nessa linha?nessa linha?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Como eu já citei,o jornal ainda é um reduto de articulis-tas de alto grau de independência, atéporque os donos de jornais sabem que háuma massa crítica no País que precisa seralimentada. E a tv a cabo dá também umacota muito interessante de matéria parao público mais exigente e formador deopinião. No rádio predomina o populis-mo, tanto na faixa AM como na FM.

Jornal da ABI — Dá para o se-Jornal da ABI — Dá para o se-Jornal da ABI — Dá para o se-Jornal da ABI — Dá para o se-Jornal da ABI — Dá para o se-nhor fazer uma análise do popu-nhor fazer uma análise do popu-nhor fazer uma análise do popu-nhor fazer uma análise do popu-nhor fazer uma análise do popu-lismo do rádio em relação à quali-lismo do rádio em relação à quali-lismo do rádio em relação à quali-lismo do rádio em relação à quali-lismo do rádio em relação à quali-dade do seu noticiário?dade do seu noticiário?dade do seu noticiário?dade do seu noticiário?dade do seu noticiário?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — O radiojorna-lismo tornou-se mais urgente do queanalítico, ou seja, a rapidez da informa-ção é mais importante do que aprofun-dar e analisar o assunto.

Jornal da ABI — Essa correria nãoJornal da ABI — Essa correria nãoJornal da ABI — Essa correria nãoJornal da ABI — Essa correria nãoJornal da ABI — Essa correria nãoaumenta o risco de erros de repor-aumenta o risco de erros de repor-aumenta o risco de erros de repor-aumenta o risco de erros de repor-aumenta o risco de erros de repor-tagem?tagem?tagem?tagem?tagem?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — A pressa do furodetermina algumas conclusões nemsempre adequadas, pois muitas vezes asfontes não são checadas.

Jornal da ABI — Como o senhorJornal da ABI — Como o senhorJornal da ABI — Como o senhorJornal da ABI — Como o senhorJornal da ABI — Como o senhoravalia os investimentos em progra-avalia os investimentos em progra-avalia os investimentos em progra-avalia os investimentos em progra-avalia os investimentos em progra-mas jornalísticos que vêm sendomas jornalísticos que vêm sendomas jornalísticos que vêm sendomas jornalísticos que vêm sendomas jornalísticos que vêm sendofeitos pelas emissoras de rádio e TV?feitos pelas emissoras de rádio e TV?feitos pelas emissoras de rádio e TV?feitos pelas emissoras de rádio e TV?feitos pelas emissoras de rádio e TV?

Artur da Távo-Artur da Távo-Artur da Távo-Artur da Távo-Artur da Távo-lalalalala — Apesar da ur-gência das matérias,aumentaram os in-vestimentos no jor-nalismo. A quanti-dade de repórteresque as emissorastêm hoje é muitogrande. Nunca hou-ve uma fase comoessa, com tantosjornalistas traba-lhando em váriasfrentes até nos veículos mais populares.

Jornal da ABI — O senhor é umJornal da ABI — O senhor é umJornal da ABI — O senhor é umJornal da ABI — O senhor é umJornal da ABI — O senhor é umhomem que atua em várias frentes.homem que atua em várias frentes.homem que atua em várias frentes.homem que atua em várias frentes.homem que atua em várias frentes.Como dá conta de tantas tarefas?Como dá conta de tantas tarefas?Como dá conta de tantas tarefas?Como dá conta de tantas tarefas?Como dá conta de tantas tarefas?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Às vezes eumesmo me espanto. Toda semana, faço trêscrônicas para O Dia, dois programas naRádio MEC, quatro no Senado (três de rádioe um de TV) e um de música erudita naTV Cultura, em São Paulo. Como gostode todas essas coisas, consigo dar conta.

Jornal da ABI — Qual das ativi-Jornal da ABI — Qual das ativi-Jornal da ABI — Qual das ativi-Jornal da ABI — Qual das ativi-Jornal da ABI — Qual das ativi-dades lhe dá mais prazer?dades lhe dá mais prazer?dades lhe dá mais prazer?dades lhe dá mais prazer?dades lhe dá mais prazer?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Todas se equi-valem, mas tenho paixãozinha secretapelo rádio. Em função da tecnologia, sua

comunicação com o ouvinte, na suaescuta solitária, traz um grau de intimi-dade e aceitação maior que o da televisão.Esta é dominada pelo olhar, mais volúvelque a audição.

Jornal da ABI — Quando se deuJornal da ABI — Quando se deuJornal da ABI — Quando se deuJornal da ABI — Quando se deuJornal da ABI — Quando se deuseu primeiro contato com o rádio?seu primeiro contato com o rádio?seu primeiro contato com o rádio?seu primeiro contato com o rádio?seu primeiro contato com o rádio?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Na juventude.E o meu primeiro emprego jornalísticofoi na Rádio MEC, que completa 70 anos,como eu. Atualmente sou o funcionáriomais antigo da emissora.

Jornal da ABI — Sua formaçãoJornal da ABI — Sua formaçãoJornal da ABI — Sua formaçãoJornal da ABI — Sua formaçãoJornal da ABI — Sua formaçãojornalística vem da Rádio MEC?jornalística vem da Rádio MEC?jornalística vem da Rádio MEC?jornalística vem da Rádio MEC?jornalística vem da Rádio MEC?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Ali fui obrigadoa improvisar, o que era essencial nas trans-missões externas antigamente e me deuuma boa base. Outra experiência notá-vel na minha vida foi a passagem pelojornal O Metropolitano, da União Metro-politana dos Estudantes. Ele era todo feitopor estudantes e circulava encartado noDiário de Notícias, aos domingos. Foi ondeeu aprendi a fazer jornalismo impresso.Depois, tive forte influência do SamuelWainer, que foi um grande mestre.

Jornal da ABI — E de onde vemJornal da ABI — E de onde vemJornal da ABI — E de onde vemJornal da ABI — E de onde vemJornal da ABI — E de onde vemo seu estilo como cronista?o seu estilo como cronista?o seu estilo como cronista?o seu estilo como cronista?o seu estilo como cronista?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Do ponto de vistaliterário, sempre fui um enamorado dacrônica, que é um dos gêneros mais encon-

trados na coleção de livros que mantenhoem casa. É uma pena que ela esteja desapa-recendo do jornalismo. Na minha concep-ção, a crônica é tão importante para umjornal como um jardim é para uma cidade.

Jornal da ABI — O senhor rece-Jornal da ABI — O senhor rece-Jornal da ABI — O senhor rece-Jornal da ABI — O senhor rece-Jornal da ABI — O senhor rece-be muitas manifestações de leito-be muitas manifestações de leito-be muitas manifestações de leito-be muitas manifestações de leito-be muitas manifestações de leito-res sobre suas crônicas?res sobre suas crônicas?res sobre suas crônicas?res sobre suas crônicas?res sobre suas crônicas?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Sim. O que eunão tenho em prestígio intelectual re-cebo dos leitores participantes. Em ODia, chegam muitas cartas e e-mails.

Jornal da ABI — O senhor menci-Jornal da ABI — O senhor menci-Jornal da ABI — O senhor menci-Jornal da ABI — O senhor menci-Jornal da ABI — O senhor menci-onou há pouco sua coleção de livros...onou há pouco sua coleção de livros...onou há pouco sua coleção de livros...onou há pouco sua coleção de livros...onou há pouco sua coleção de livros...

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Além dos livrosde crônicas, também coleciono obrassobre música e biografias de santos, queleio por um interesse misterioso que nãosei qual é. Estas são as três coisas que eumais leio habitualmente.

Jornal da ABI — Quantos volu-Jornal da ABI — Quantos volu-Jornal da ABI — Quantos volu-Jornal da ABI — Quantos volu-Jornal da ABI — Quantos volu-mes tem a sua biblioteca?mes tem a sua biblioteca?mes tem a sua biblioteca?mes tem a sua biblioteca?mes tem a sua biblioteca?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Cerca de 4 mil,mas já teve muito mais. Recentementedoei essa mesma quantidade de livros auma universidade.

Jornal da ABI — E o seu acervoJornal da ABI — E o seu acervoJornal da ABI — E o seu acervoJornal da ABI — E o seu acervoJornal da ABI — E o seu acervomusical?musical?musical?musical?musical?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Também tenhocerca de 4 mil discos e uma coleção for-midável de publicações sobre música, decoisas recentes às antigas, compradas emsebos. Estou escrevendo um livro sobremúsica clássica, em que enumero as 100obras indispensáveis desse segmento ecomento cada uma.

Jornal da ABI — Em que estágioJornal da ABI — Em que estágioJornal da ABI — Em que estágioJornal da ABI — Em que estágioJornal da ABI — Em que estágiose encontra a cultura nacional?se encontra a cultura nacional?se encontra a cultura nacional?se encontra a cultura nacional?se encontra a cultura nacional?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — O Brasil tem umacapacidade descomunal de produçãocultural, mas tem problemas nos canaisde distribuição da cultura. Política cul-tural que não cuide desse processo não é

política para o povo brasilei-ro. Outro ponto negativoé que se gasta muito di-nheiro proveniente da LeiRouanet com a aprovaçãode projetos muito caros,quando se poderia viabili-zar eventos mais baratos eirradiar a ação cultural atéas periferias.

Jornal da ABI — QueJornal da ABI — QueJornal da ABI — QueJornal da ABI — QueJornal da ABI — Queacha do trabalho de Gil-acha do trabalho de Gil-acha do trabalho de Gil-acha do trabalho de Gil-acha do trabalho de Gil-berto Gil no Ministérioberto Gil no Ministérioberto Gil no Ministérioberto Gil no Ministérioberto Gil no Ministérioda Cultura?da Cultura?da Cultura?da Cultura?da Cultura?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Soususpeito para falar do Gilporque gosto muito dele,sou seu amigo, mas discor-do dos que reclamam do fatode ele estar no Ministério econtinuar sendo um artista.Acho importantíssimo terum artista como ministro.E o Gil sabe perfeitamentedistinguir o que é oficial dasua carreira. Ele não pode

fazer mais porque o Ministério da Cultu-ra não tem dinheiro; a verba só dá para fazera manutenção do que já existe.

Jornal da ABI — Então, o que éJornal da ABI — Então, o que éJornal da ABI — Então, o que éJornal da ABI — Então, o que éJornal da ABI — Então, o que épreciso mudar na política cultu-preciso mudar na política cultu-preciso mudar na política cultu-preciso mudar na política cultu-preciso mudar na política cultu-ral do Pral do Pral do Pral do Pral do País?aís?aís?aís?aís?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Investir maisdinheiro e considerar que a cultura é umbem de primeira necessidade que tem tudoa ver com a evolução civilizadora do povo.A cultura é tão importante quanto gas-tar dinheiro com estrada e com saúde.

Jornal da ABI — Fale da sua re-Jornal da ABI — Fale da sua re-Jornal da ABI — Fale da sua re-Jornal da ABI — Fale da sua re-Jornal da ABI — Fale da sua re-lação com a Associação Brasileiralação com a Associação Brasileiralação com a Associação Brasileiralação com a Associação Brasileiralação com a Associação Brasileirade Imprensa.de Imprensa.de Imprensa.de Imprensa.de Imprensa.

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Quando retor-nei do exílio, fui chamado para ser vice-presidente da ABI pelo Dr. Barbosa LimaSobrinho. Este é um grande momento daminha vida e do qual tenho um grandeorgulho. Fiquei encarregado da parte deassistência social. E há uma passagem queeu nunca vou esquecer.

Jornal da ABI — Qual?Jornal da ABI — Qual?Jornal da ABI — Qual?Jornal da ABI — Qual?Jornal da ABI — Qual?Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Foi o período em

que a direita estava colocando bombas embancas de jornal. Um dia nós fomoschamados por causa de uma bomba quehavia sido colocada na ABI. Encontramoso Dr. Barbosa Lima na portaria com osbombeiros. Ele, que era um homem muitosereno, naquele dia nos deu uma broncae disse: “Vocês não vão entrar, porque eué que sou um homem idoso e que jácumpri com os meus deveres com a vida.Se eu tiver que explodir, vocês têm queficar para continuar a luta.”

Jornal da ABI — E a sua partici-Jornal da ABI — E a sua partici-Jornal da ABI — E a sua partici-Jornal da ABI — E a sua partici-Jornal da ABI — E a sua partici-pação na ABI atualmente?pação na ABI atualmente?pação na ABI atualmente?pação na ABI atualmente?pação na ABI atualmente?

Artur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da TávolaArtur da Távola — Hoje eu olho oConselho e vejo pessoas que lutaram a vidainteira por uma causa política. São cole-gas que já estão fora do poder dentro daimprensa, mas continuam lutando paraerguer a instituição.

“Intelectual não lê o que euescrevo, porque eu tenho muitapreocupação de escrever para o

grande público. E eu escrevocrônica, que é considerado umgênero menor. Não é, mas foi

caracterizado assim.”

Paulo Alberto discursa no Senado, onde foi relator, na Constituinte, do capítulo da comunicação social.

JOSÉ C

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O jornalista, cartunista e escritor Ziraldo Alves Pin-to recebeu uma missão honrosa formalizada numconvite da ABI: a de criar a logomarca do centenário daCasa, que transcorrerá em 7 de abrildo ano que vem. O convite a Ziraldofoi feito pela Comissão Executiva doCentenário da ABI, que em sua primei-ra reunião formal, realizada no dia 22de agosto, aprovou por unanimidadea proposta do jornalista Fernando Bar-bosa Lima, Presidente do ConselhoDeliberativo da ABI, para que a con-cepção do símbolo dos cem anos daCasa fosse confiada ao criador do Me-nino Maluquinho.

Ziraldo se encontrava em Foz doIguaçu, Paraná, quando o Presidente da ABI, MaurícioAzêdo, lhe transmitiu a notícia da decisão da Comissãoe formalizou o convite. Ele disse que recebeu a escolhacomo uma honra e aplaudiu a decisão da Comissão dedefinir como tema central das peças de promoção docentenário a presença da ABI na luta em defesa da liber-dade desde a sua fundação pelo repórter Gustavo de Lacerda,à frente de reduzido grupo de jornalistas, em 1908.

A memória de Gustavo de Lacerda foi o centro de umaproposta do jornalista e Professor Mário Barata, quechamou a atenção para a necessidade de se restabelecero nome do fundador da ABI num logradouro públicodo Rio, antes mesmo da comemoração do centenárioda Casa, porque a rua que tinha o seu nome, situada nasproximidades da Praça Tiradentes, foi varrida do mapapelas obras de abertura da Avenida República do Para-guai, há cerca de 30 anos. Em aparte, o associado MiltonCoelho lembrou que a Rua Silva Jardim, também jor-nalista, situada junto à desaparecida Rua Gustavo deLacerda, foi igualmente sacrificada: após a abertura daAvenida República do Paraguai, dela só restou um pe-queno pedaço, menor que um beco.

Por proposta de ambos, a Comissão decidiu que a ABIpedirá ao Prefeito César Maia a criação de um largo oude uma praça na confluência da Rua da Carioca, PraçaTiradentes e Avenida República do Paraguai com adenominação de Gustavo de Lacerda, bem como a res-tauração de parte da antiga Rua Silva Jardim.

Cartuns da liberdadeAlém de convidar Ziraldo para criar a logomarca do

centenário, a Comissão decidiu pedir a outros cartunistasque concebam cartazes de exaltação da liberdade, temaque estará presente em todas as peças de promoção docentenário, conforme proposta dos associados RicardoKotscho, Rodolfo Konder, Fernando Barbosa Lima eCecília Costa. Os cartazes serão reunidos numa expo-sição no saguão do 9º andar da ABI e expostos tambémno hall térreo do Edifício Herbert Moses, sede da Casa,para conhecimento dos cidadãos comuns que passampela Rua Araújo Porto Alegre. Essa última proposta foide iniciativa da associada Maria Ignez Duque Estrada

Comissão que planeja as comemorações aprova por unanimidade convite ao pai do Menino Maluquinho para criar a logomarca histórica.

Bastos, que sugeriu também que no hall térreo da ABIsejam expostas outras peças comemorativas do cente-nário. A associada Cecília Costa foi incumbida de fazer

o convite aos cartunistas para a cria-ção dos cartazes.

A convite da Comissão, o associa-do Sérgio Cabral aceitou o encargo deorganizar o Show do Centenário, umespetáculo cujo detalhamento seráfeito na próxima reunião da Comis-são, com base nas indicações de Cabral.Também merecerão detalhamentoposterior outras propostas e sugestõesapresentadas na reunião, como:

• realização de semanas especiaisde promoção de eventos teatrais, ci-

nematográficos e literários com peças, filmes e livrosque tenham sido alcançados por censura e proibições(proposta de Rodolfo Konder);

• a organização de exposição de jornais clandesti-nos editados durante a ditadura e também de mostrade pequenos jornais, como periódicos de sindicatos,associações de bairros e outras organizações popula-res, bem como de publicações de produção gráfica ru-dimentar, como jornais mimeografados (propostasde Milton Coelho);

• realização de seminários ou cursos de valorizaçãoda língua nacional, em colaboração com instituiçõescomo a União Brasileira de Escritores-UBE (proposta deRodolfo Konder);

• edição de número especial do Jornal da ABI e edi-ção da Revista ABI e do Livro do Centenário da ABI(proposta perfilhada por vários participantes da reunião);

• realização de exposição ou edição de artigos dejornalistas panfletários do Rio, como João do Rio (PauloBarreto), Mário Rodrigues, pai de Mário Filho e de NélsonRodrigues, e Carlos Lacerda, e de outros Estados, comoPernambuco, Ceará, Maranhão e Pará, nos quais a con-tundência dos panfletários resultou em mortes eminúmeros casos (proposta de Tarcísio Holanda).

Da reunião, além dos associados já citados, parti-ciparam Benício Medeiros, Domingos Meirelles, Es-tanislau Alves de Oliveira, Francisco Paula Freitas,

Jesus Chediak, Marcelo Tognozzi, Pery Cotta e a Se-cretária-Executiva da Comissão, Marilka Azêdo.Tognozzi e Tarcísio Holanda vieram de Brasília espe-cialmente para a reunião, enquanto Kotscho e Kon-der vieram de São Paulo.

A ComissãoA Comissão Executiva do Centenário da ABI, com-

posta de 28 membros, está assim constituída: AlbertoDines, Ancelmo Góis, Arthur da Távola, Audálio Dan-tas, Aziz Ahmed, Benício Medeiros, Cecília Costa, Do-mingos Meirelles, Estanislau Alves de Oliveira, Fernan-do Barbosa Lima, Francisco Paula Freitas, José GomesTalarico, Jesus Chediak, Marcelo Tognozzi, Maria IgnezDuque Estrada Bastos, Mário Barata, Marlene da Silva,Milton Coelho da Graça, Miro Teixeira, Paulo Jerônimode Souza, Pery Cotta, Ricardo Kotscho, Rodolfo Konder,Sérgio Cabral, Silvestre Gorgulho, Tarcísio Holanda eTerezinha Santos, sob a presidência de Maurício Azêdo.

SÍMBOLO DO CENTENÁRIOÉ DE ZIRALDO

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A emoção tomou conta do AuditórioOscar Guanabarino durante a nova ses-são do Cine ABI na noite de 7 de agosto.A pré-estréia de Três irmãos de sangue,documentário sobre a vida dos irmãosBetinho, Henfil e Chico Mário, foimarcada pela presença de grande platéia,que aplaudiu calorosamente a obra dajornalista Ângela Patrícia Reiniger.

Jesus Chediak, Diretor Cultural da ABI,abriu a sessão, relembrando a estréia do CineABI, cujo patrono é o jornalista, cineastae acadêmico Nélson Pereira dos Santos. Emseguida, passou a palavra a Maurício Azêdo,Presidente da Casa, que convidou o públicoa conhecer o documentário: — É uma obraque fala à sensibilidade e à saudade. Hen-fil sempre foi ligado aos jornalistas por seutalento no humor e por sua coragem emdenunciar a ditadura nos anos de chum-bo. Esta noite é o marco de uma progra-mação intensa para transformar a ABI numpólo de reflexão.

Honrada pela pré-estréia de seu filmena ABI, Ângela contou que o documen-tário chegaria às salas de cinema no dia17, no Rio, São Paulo, Belo Horizonte eBrasília: — Meu longa é uma homena-gem a brasileiros que fazem parte da vidado País, no humor, na política e na mú-sica. Estou muito feliz de poder exibi-lonesta Casa, que já foi palco de importan-tes momentos da vida nacional.

A platéia vibrou após a exibição dodocumentário — “parecia que as palmasnão iam parar”, orgulha-se Ângela. Nocoquetel que se seguiu à sessão, a atriz MariaPompeu era uma das mais emocionadas:— O filme é belíssimo, perfeito. É um temaque tem tudo para ser depressivo, mas naverdade é um hino à vida. Transmite umamensagem de coragem, de superação doser humano. O otimismo predomina,

PRÉ-ESTRÉIA

Emoção e aplausospara Betinho, Henfil

e Chico MárioDocumentário foi saudado com longa salva de palmas

em sua primeira apresentação, no Cine ABI.....

POR RODRIGO CAIXETA graças à escolha excelente dos depoimen-tos e das histórias, sempre positivas.

Também comovida, a autora teatralEwa Procter destacou a narrativa alegredo filme: — É uma história bonita, bemproduzida, em que a alegria dá o tom. Dostrês irmãos, tive a oportunidade de conhe-cer o Henfil, que era o mais divertido,cabeça aberta, e transitava em diversaslinguagens.

Glorinha Souza, irmã de Betinho,Henfil e Chico Mário, diz que o filme éuma sinfonia, que agrega política, humore música: — É uma obra genial, bonitae leve. É ainda um documentário instru-tivo, pois indiretamente informa o teles-pectador sobre determinados cuidados edá dicas de prevenção à saúde. Além dis-so, o brasileiro tende a esquecer a histó-ria dos personagens de seu País, mas éimportante resgatar a memória daque-les que lutaram por um Brasil melhor.

O sociólogo Maurício Fabião, respon-sável pelas pesquisas de ações do ComitêRio do Ação da Cidadania contra a Fomee a Miséria e pela Vida, também se emo-cionou ao ver a história dos irmãos con-tada na tela: — O filme destaca aspectosmuito importantes das ações de cada um.Lembro-me de um texto do Betinho, emque ele diz que a ausência de cidadania éa raiz da fome e que um dos direitos bá-sicos de cidadania é a educação. Betinho,com suas campanhas, contribuiu para umBrasil melhor, pois sempre acreditou queera possível mudar a nossa realidade.

Emocionada, Ângela Reiniger disseque o que mais a impressionou foi a re-ação do público: — Quando acabou asessão, vivi um momento de euforia: osaplausos duraram, parecia que não iamacabar. E, depois, muitas pessoas que nemconhecia vieram me parabenizar e nãocansavam de elogiar o filme — envaide-ce-se a jornalista, estreante na direção delonga-metragens.

Imortais, jornalistas, escritores e ad-miradores da obra de Ariano Suassunalotaram o Salão Nobre do Petit Trianon,na Academia Brasileira de Letras na noitede 12 de julho, para uma mesa-redondacomemorativa dos 80 anos do acadê-mico. Em seguida, foi inaugurada a ex-posição Ariano Suassuna — Uma foto-biografia, na Galeria Manuel Bandeira,também na ABL.

Marcos Vinicios Vilaça, Presidenteda Casa, abriu a cerimônia dizendo queSuassuna ainda não foi suficientemen-te homenageado e por isso as festivida-des pelo seu 80º aniversário devem con-tinuar. A seguir, passou a palavra ao aca-dêmico Moacyr Scliar, que coordenouas atividades da mesa-redonda. Emoci-onado, Scliar destacou a importância daobra de Suassuna para o Brasil e o mun-do: — Ele representa um marco na cul-tura, uma figura excepcional no pano-rama brasileiro e mundial. Ariano valo-riza a dimensão regional da cultura, le-vantando a questão da sobrevivência.

As aulas-espetáculo, marcadas pelaespontaneidade, a simplicidade, a ale-gria e a erudição de Suassuna, foramapontadas por Scliar como outra ca-racterística marcante da trajetória doescritor: — Esta metodologia hoje éindiscutivelmente associada a Aria-no. Tanto que ele é um dos escritoresmais convidados a dar palestras. Os bra-sileiros exigem muito dos escritores,inclusive como motivadores cultu-rais. Assisti a poucas aulas dele, masfiquei fascinado.

O sociólogo e escritor José Almino deAlencar, especialista na obra de Suassu-na, disse que, quando soube que Arianonão estaria presente à homenagem, po-deria mentir à vontade, já que o acadê-

A nata da inteligência reunida para festejar os 80 anos do escritor.mico adora histórias de mentirosos. E tra-çou outros pontos da criação do escritor:— Ele tem obsessão pela identidade naci-onal, que ocupa lugar central em sua obra,e busca as origens da cultura nordestina.Ele foi também incentivador do Movi-mento Armorial de Pernambuco.

Na seqüência, o professor universitá-rio Carlos Newton Jr., assessor de Suas-suna na Secretaria de Cultura de Pernam-buco, disse que há 20 anos estuda a obrado acadêmico, de quem foi aluno em cincodisciplinas na UFPE: — Presenciei as aulas-espetáculo desde quando entrei na uni-versidade, aos 17 anos. Tinha que dispu-tar espaço na sala com os alunos forma-dos. Ele nunca fez chamada e suas turmaseram sempre lotadas.

Carlos Newton Jr. justificou a ausên-cia de Suassuna, que estava em casa serecuperando de uma virose. Ele revelouque Ariano diz estar sofrendo de “come-morite”, depois de tantas festividadespelo seu aniversário. O professor comen-tou ainda que o público conhece o ladoclown do escritor, que começou a vidaliterária como poeta:

— Ele é também artista plástico, au-tor de um painel de 17 metros instaladono aeroporto de Campina Grande. Come-çou sua criação com os desenhos de A pedrado reino e não parou mais. Há também olado colunista, pois colabora para diver-sos jornais, e o ensaísta, com textos pri-morosos que estou reunindo para publi-car em livro. São várias dimensões, bali-zadas pela coerência profunda: a buscada identidade nacional.

A exposição Ariano Suassuna — Umafotobiografia, reúne fotos tiradas ao lon-go dos 80 anos de vida do acadêmico, alémde manuscritos, documentos e a crono-logia atualizada do escritor.

HOMENAGEM

Uma noite para Arianona Academia

Presidente da Academia, Marcos Vilaça (de terno) assiste no telão aflagrante das múltiplas habilidades de Ariano Suassuna: a de pintor.

Suassuna foi o ilustrador de sua obra-prima, o festejado A Pedra do Reino.

Patrícia Reiniger não coube em side alegria com a consagradora

ovação ao seu filme.

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Dirigido e roteirizado pela jornalistaÂngela Patrícia Reiniger, Três irmãos desangue foi idealizado por Marcos Souza,filho de Chico Mário. No dia da morte dotio Betinho, ele percebeu que a históriadaqueles três homens, “com trajetórias devida tão marcantes e com uma ligação tãoíntima com o Brasil”, tinha que ser con-tada. Inspirado pelo trabalho de Ângela àfrente do programa Mãe & Cia. — queestreou no GNT e depois foi exibido na TVCultura —, Marcos convidou-a para fa-zer o documentário, que marca tambéma estréia da jornalista na direção de longas:

— O desejo de dirigir um longa já eraantigo. Então, quando apareceu a possi-bilidade de dirigir uma história tão fas-cinante quanto a desses irmãos, foi umótimo desafio — empolga-se Ângela, quetem larga experiência nas telas, como adireção de dez episódios da série Livrosanimados, do Canal Futura, dos curta-metragens Os oficineiros da inclusão e Oaprendiz e o mestre e da série Programaespecial, da TVE/Rede Brasil.

Até ser convidada para dirigir o filme,Ângela admirava as ações de Betinho e otrabalho de Henfil, mas não conhecia aobra musical de Chico Mário. Animada,ela planeja outros longas, um tambémligado às causas sociais e outro sobre a vidae obra de Clarice Lispector: — Apesar doenorme trabalho que dá, é tudo muitoapaixonante. Você passa a viver duas vidas:uma, a normal, do seu dia-a-dia; a outra,do universo do filme, repleta de idéias,gravações e edições.

A idéia, a produção, a autoraPatrícia Reiniger fala de seu “ótimo desafio”.

Para registrar toda a história, foramcerca de cem horas de gravações. Ângela,que está ligada ao projeto desde 2001,contou que “a maior dificuldade foi captarrecursos, até conseguir o patrocínio daPetrobras”. Outro desafio, diz, foi esco-lher, entre tantos fatos marcantes da vidados irmãos, o que entraria no filme:

— Conseguimos um bom resultadofinal. A grande questão foi exatamentecomo entrelaçar essas três histórias de modoque o roteiro fluísse com naturalidade —e, aliado a isso, o fato de termos ainda o Brasilfuncionando quase como um quarto per-sonagem. O segredo foi, em certos momen-tos, respeitar a ordem cronológica dos acon-tecimentos e, em outros, alinhavar temaspor personagens, como na hora de falar so-bre a vida profissional de cada um. Alémdo mais, o filme é estruturado como se fosseuma ópera. Tem um prólogo, três atos e umepílogo. Isso deu um charme especial nahora de alinhavar a história.

Ângela lembra que o trabalho de pes-quisa, tanto de texto quanto de imagem,foi extremamente rico — “à medida queo processo de produção foi caminhando,deparávamos com mais e mais informa-ções, descobertas de novo material dearquivo e assim por diante”, diz a jorna-lista, que roteirizou o documentáriojunto com Cristiano Gualda:

— Procuramos aproveitar todo o pre-cioso material da melhor forma possível.Algo que me marcou muito foi o fato de,mesmo tantos anos após a morte dos três,os entrevistados terem falado deles como

pessoas muito, muito próximas. Os elosde afeto, companheirismo e admiração nãoficaram frágeis com o tempo. Pelo contrá-rio, continuam extremamente fortes.

O lançamento oficial de Três irmãos desangue aconteceu simultaneamente noRio, em São Paulo, Belo Horizonte e Bra-sília, no dia 17 de agosto: — A expecta-tiva é de que o filme fique em cartaz omáximo de tempo possível. Acreditamosmuito no boca-a-boca, uma vez que arecepção ao filme em exibições fechadase pré-estréias foi excelente. Além de aspessoas se emocionarem e se divertiremindo ao cinema, elas estarão prestandouma homenagem aos três irmãos e ain-da ajudando a Associação Brasileira In-terdisciplinar de Aids–Abia, já que parteda renda do filme é revertida para a en-tidade — entusiasma-se a diretora.

Feliz com a repercussão e a exibição deseu filme em importantes festivais, Ân-gela diz que o documentário foi bem re-

Após a exibição de Três irmãos de san-gue, o Cine ABI apresentou no dia 13 deagosto o longa-metragem Lara, de AnaMaria Magalhães, que retrata os anos 60,época em que os artistas lutavam pela li-berdade de expressão econtra a ditadura militar.A atriz Odete Lara viviaum intenso caso de amorcom Oduvaldo Viana Fi-lho, o Vianinha, drama-turgo cuja peça foi cen-surada, e sua relação eraatormentada pelas me-mórias do passado e a am-bição pelo sucesso.

Filha de um operárioitaliano, Lara saiu da pe-riferia de São Paulo parase tornar a Deusa Lourado cinema brasileiro,num momento de mu-danças no teatro, da che-gada da televisão e da re-novação do cinema naci-onal. O longa-metragemé uma adaptação livre davida da atriz e baseia-se em diferentes mo-mentos de sua trajetória, traçando um re-trato de mulher, de uma geração e do mun-do em que ela construiu sua carreira.

A vida de Odete Lara, numa adaptação livre

Aconteceu na ABIAconteceu na ABI

cebido “tanto pelo público queviveu a época da ditadura e daanistia, quanto pelos mais jovens,interessados em conhecer melhoresse período da nossa História”:

— O filme definitivamentemexeu com as pessoas, as fezrirem, chorarem e, acima de tudo,terem vontade de agir para me-lhorar o mundo em que vivemos.Além de termos sido premiadoscomo Melhor Roteiro no Festi-val de Goiânia, fomos o segundodocumentário mais bem votadopelo público na Mostra Interna-cional de Cinema de São Paulo,participamos da Mostra Retratos,dentro do Festival do Rio, fomosselecionados para o Festival de Ci-nema Brasileiro de Paris e estamosconcorrendo no Festival de Cine-

ma Brasileiro de Nova York.Ângela comemora também o sucesso

na imprensa: Zuenir Ventura, de O Glo-bo, escreveu que “a diretora conseguiumostrar, sem pieguice, bem ao estilo dostrês irmãos, como a luta contra a mortepode ser uma exemplar lição de vida”;Luiz Zanin, do Estadão, disse que se tra-ta de “um belo e emocionante filme, quetraça a saga de uma família e também deum período, tanto difícil como épico, dahistória recente”; e o colunista Sebasti-ão Nery afirmou que o documentário faz“um levantamento histórico, minucio-so, sério, biográfico, mas principalmen-te político, social, de Minas e do Brasil,a partir dos anos 50 até a ditadura de 64e as batalhas da resistência, do exílio, daabertura, da anistia, das Diretas Já”.

Sensibilizada com a oportunidade defazer o lançamento no Cine ABI, a con-vite do Diretor Cultural Jesus Chediak,Ângela diz que sua experiência jornalís-tica em entrevista e edição foi de fun-damental importância na realização dodocumentário. E avisou aos espectado-res da pré-estréia:

— A mensagem que eu quero que fi-que é traduzida perfeitamente através deuma frase do Betinho no filme: “A vidaé uma só. Ela é valiosa. O tempo é muitovalioso. E nós devemos fazer da vida e dotempo o que melhor nós pudermos, to-dos os dias”.

Três irmãos, três vidasTrês irmãos de sangue retrata a vida dos

irmãos Betinho, Henfil e Chico Mário,brasileiros que fizeram da solidariedade asua grande arma na luta pela vida e queajudaram a tornar o Brasil um país mais justoe solidário. Cada um deles contribuiu, à suamaneira, para as principais transformaçõespelas quais passou o povo brasileiro. Beti-nho, cientista social e exilado político, crioua Campanha Contra a Fome e a Miséria ePela Vida e foi indicado em 1994 ao PrêmioNobel da Paz. O cartunista Henfil lutou pelavolta dos exilados durante a ditadura mi-litar e criou a expressão “Diretas Já”, comoforma de exigir a volta da democracia aoBrasil. Chico Mário, pioneiro na questãoda música independente, compôs diversascanções contra a tortura. Os irmãos sabi-am da importância da defesa dos direitoshumanos e defenderam com garra esseideal. Hemofílicos, os três foram conta-minados pelo vírus HIV através de trans-fusão de sangue e se transformaram numsímbolo da luta contra a Aids no Brasil. Paraeles, a luta pela vida sempre esteve emprimeiro lugar. (Rodrigo Caixeta)

Ana Maria Magalhães foi uma das con-vidadas do ciclo de palestras ABI pensa ocinema. Aos 15 anos, estreou como atriznum pequeno papel num filme francês.Em seguida, foi estudar teatro no Con-

servatório Nacional enão parou mais. Foi pro-tagonista de Como eragostoso o meu francês, deNélson Pereira dos San-tos, e atuou em outros 25longa-metragens, comoQuando o Carnaval che-gar, de Cacá Diegues, eOs sete gatinhos, de Ne-ville d’Almeida.

No início dos anos 80,dirigiu um documentá-rio sobre Leila Diniz quese tornou o primeirovídeo com produção in-dependente a ser exibi-do pela televisão brasilei-ra. Entre seus trabalhosno gênero destacam-se Obebê, exibido na Europae no Brasil, e Les enfants

de la samba, exibido no Canal Plus de Parise premiado com Menção Honrosa pelaConferência Nacional dos Bispos doBrasil–CNBB.

Afonso Romano de Sant’Anna (à direita, com Maurício)assistiu à pré-estréia: é um dos entrevistados no filme.

Ana Maria Magalhães mostra emLara a mulher Odete, sua geração

e o mundo em que ela viveu.

A moçoila sonhadora Odete Lara, antes de seusardentes romances, um deles com Vianinha.

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16 Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI 320 Julho/Agosto de 2007

Aconteceu na ABIAconteceu na ABI

O poeta, escritor e ensaís-ta Alexei Bueno, também or-ganizador de várias antologias,foi o convidado do dia 8 deagosto do projeto Estação ABIe gravou seu depoimento parao ciclo ABI pensa a literatura.Do encontro participaram oDiretor de Cultura e Lazer daCasa, Jesus Chediak, e a Con-selheira e colunista do Site daABI Cecília Costa.

Carioca, 44 anos, Alexei Bu-eno publicou 11 livros, entreos quais As escadas da torre(1984) e A via estreita (1995),premiado com o Alphonsus deGuimarães, da BibliotecaNacional, e o APCA. Em 1998,ganhou o Prêmio FernandoPessoa pelo lançamento de Po-emas reunidos. Em 2003, comPoesia reunida, venceu o Jabu-ti e o Prêmio da Academia Bra-sileira de Letras. No momento prepara-separa lançar Uma história da poesia brasi-leira — “dos 13 capítulos, 11 já estão pron-tos”, informa. Amiga e admiradora deAlexei, Cecília Costa comentou e elogioua versatilidade do entrevistado, “polêmi-co até a medula”. Jesus Chediak comple-mentou o comentário bem-humorado,dizendo que “fenômeno é o Alexei, não o

LITERATURA

O poeta Alexei,o verdadeiro Fenômeno

Um comentário de Chediak ao recolher o depoimentodo poeta, escritor e ensaísta Alexei Bueno.

Ronaldinho, por tudo que já fez com tãopouca idade”.

A fama se justifica. Além de cuidar daspróprias produções, como editor Alexeiorganizou para a Nova Aguilar a série deobras completas de importantes poetas,como o português Sá-Carneiro e osbrasileiros Olavo Bilac, Jorge de Lima eVinicius de Moraes. Em 93, publicou a

O jornalista Paulo Henrique Amorimgravou na ABI em 12 de julho uma en-trevista especial com a professora Tâ-nia Lopes Muri, irmã do jornalista TimLopes. A matéria entrou no ar no progra-ma Domingo Espetacular, da TV Record,dia 15, às 18h30min.

Tânia Lopes falou do drama vivido pelafamília depois que seu irmão foi brutal-mente assassinado no Complexo doAlemão pelo bando do traficante EliasMaluco. Comentou também o fascínio

GRAVAÇÃO

Record lembra Tim Lopesouvindo sua irmã Tânia

Um depoimento comovente para o Domingo Espetacular.

no auditório às 21h, para assistir a Deuse o Diabo na Terra do Sol”, que me inte-ressou porque eu tinha mania de coisasligadas ao cangaço. Foi esse filme que melevou para o cinema, talvez a minha maiorpaixão. Acho que tenho a maior biblio-teca privada do assunto no Brasil, de ci-nema sério, de Griffith, Eisenstein, Go-dard, Gláuber, Truffaut etc.

O escritor ficou chocado com a mortede Ingmar Bergman e Michelangelo An-tonioni quase no mesmo dia: — O Berg-man, sobretudo, foi quase como perder umparente. Já aconteceu também com ato-res: senti a mesma coisa quando morreuo Mastroianni. São pessoas que acompa-nham a gente a vida inteira de tal modoque quando morrem levamos aquele susto.

Alexei diz que não costuma freqüen-tar teatro, mas gosta de ler peças: — Apre-cio a leitura do teatro. De Ibsen eu li muitacoisa, mas nunca vi uma montagem bem-feita. Não é comum eu gostar das mon-tagens brasileiras de textos estrangeiros.Quando eu era muito jovem, assisti a umapeça que me impressionou muito, O úl-timo carro, do João das Neves, no Opinião;achei uma maravilha. Vi também umamontagem esplêndida de Amadeus, comRaul Cortez e Edwin Luisi. No geral,porém, não vi uma montagem de Shakes-peare que me interessasse.

Quanto à sua inspiração poética, elediz que geralmente acontece quando estádeitado em sua cama. E conta que sem-pre escreve à mão, nunca no computador:— Fiquei quatro anos sem escrever umlivro até que veio A árvore seca, com 134poemas que fiz em três meses e pouco.Num só dia fiz seis poemas, absolutamen-te incorporado, como acontece na um-banda quando baixa um caboclo. OGuimarães Rosa é que dizia isso: “Eu sóescrevo quando estou tomado pelos ca-boclos.” Eu também sou assim. Friamen-te, não faço nada. O poeta é um médiumde si mesmo, psicografa os seus própriosversos” — diz Alexei.

edição comentada de Os Lusíadas, deCamões, que define como “um livrorigorosamente genial”. Entre tantos tra-balhos, reunir a obra de Augusto dos An-jos foi tarefa das mais estimulantes.

— Essa edição crítica foi a coisa maisimportante que fiz editorialmente, por-que ele sempre foi mal-editado, mesmona edição famosa do Houaiss, dos anos 60,que tinha muitas qualidades. Havia umnúmero enorme de poemas cômicos, etambém a prosa de Augusto dos Anjos,que era completamente desconhecida.Tive o grande prazer de fazer também aobra completa de Alphonsus de Guima-

rães, poeta pelo qualtenho uma tremen-da veneração, eCruz e Souza, quetambém adoro.

Além da poesia eda literatura, o ci-nema atrai AlexeiBueno, que é fã dafilmografia deGláuber Rocha,sobre quem escre-veu: — É uma bio-filmografia, queanalisa seus curtase longas, de O pátioaté A idade da terra,para a coleçãoBahia com H, da Ma-nati, coordenadainicialmente peloWaly Salomão, quemorreu no meio dotrabalho. Saíram

quatro volumes, todos sobre baianos —os outros foram Mestre Bimba, o can-tador Cuíca de Santo Amaro e Gregóriode Matos.

Por causa de Gláuber, Alexei conta quefoi freqüentador do Cineclube Macuna-íma, da ABI: — Lembro que a primeiravez que vim foi em 15 de janeiro de 77;eu ia completar 14 anos em abril. Entrei

de Tim pela reportagem investigativa, queo levou a morar longe de casa para pro-teger seus parentes, aos quais era muitoapegado, de qualquer tipo de risco.

Contou Tânia que na semana em queseu irmão desapareceu, em junho de 2002,sua família tinha esperança de que, mes-mo que ele tivesse sido seqüestrado, os ban-didos fizessem algum tipo de proposta deresgate. Outra hipótese levantada à épo-ca era de que, como estava programadoum jogo do Brasil, eles poderiam aprovei-

tar que as atenções estariam voltadas paraa Seleção para libertar Tim em algumponto da cidade. Um dos momentos maisdramáticos vividos por ela foi quando atelevisão anunciou oficialmente a mor-te de Tim Lopes e lhe coube a missão decontar para a mãe que “Canjo” (apelidode família de Tim, batizado ArcanjoAntonino Lopes do Nascimento) nun-ca mais retornaria.

— Eu ficava pensando de que manei-ra ia dar a notícia. A missão era minha,porque havia sido eu que contara sobreo desaparecimento dele. (...) Tive tambémque encontrar forças para assistir ao de-poimento dos assassinos. Lembro da nar-rativa do promotor público sobre o queo meu irmão sofreu. Foi o que mais mechocou e é tudo que eu não gostaria deter que repetir.

Embora não conheça o lugar, ela se pre-ocupa com o destino das famílias quemoram no Complexo do Alemão: — A

comunidade tem um percentual grandede famílias decentes, grupos de criançasque são fundamentais para o País. A mortedo Tim foi um divisor de águas, pelas cau-sas que ele defendia e as denúncias quefez com toda a sua coragem.

Tim Lopes foi ao Complexo do Alemãoseguindo uma denúncia sobre a prostitui-ção de jovens em bailes funk. Para sua irmã,ele foi um mártir, cuja morte trouxe gran-de sofrimento para parentes, amigos e co-legas de trabalho, mas deixou uma men-sagem para toda a sociedade:

— Tim teve coragem e nos deixouuma obra na forma de denúncia. Noslocais que foram cavados para encontrarseu corpo outros corpos foram encon-trados pela Polícia. Que mortes são es-sas? Esta é uma resposta que precisa serdada pelas autoridades. (...) Tim era umhomem de bem, que fazia do jornalis-mo um grande instrumento para podercontemplar a cidadania.

Alexei escreveu seu primeiro livro com 23 anos. Viu Deus e o Diabo naTerra do Sol com 14, em sessão do Cineclube Macunaíma, na ABI

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Em manifestação realizada no dia 23de julho na ABI, jornalistas, radialistas,produtores de TV, parlamentares e repre-sentantes do setor de tecnologia digitaldefenderam que a sede da nova rede deradiodifusão — a ser criada pelo Gover-no Federal, que desejava levá-la para Bra-sília — seja no Estado do Rio de Janeiro,gerida pela TVE Brasil.

O Comitê Pró-TV Pública do Rio deJaneiro tem o apoio da ABI, OAB-RJ,Sindicato dos Jornalistas Profissionais doMunicípio do Rio de Janeiro, Sindicatodos Radialistas, Sindicato das Empresasde Informática do Estado, Riosoft, FórumNacional de Professores de Jornalismo,Instituto Brasileiro de Análises Sociais eEconômicas-Ibase, Criar Brasil e Viva Rio.

A mesa que dirigiu a reunião foi com-posta por Miguel Walter Costa, Presiden-te do Sindicato dos Radialistas; WadihDamous, Presidente da OAB-RJ; NeiseMarçal, chefe de Reportagem da TV Edu-cativa; Aziz Filho, Presidente do Sindica-to dos Jornalistas do Município do Rio;Benito Paret, Presidente do Seprojr; e JohnForman, Presidente da Riosoft. No inícioda reunião, Aziz Filho disse que o princi-pal objetivo do Comitê e do Sindicato élutar para que a TV Pública não se trans-forme em uma emissora chapa-branca:

— Quando o Governo anunciou aproposta da nova rede de radiofusão, pen-sava-se que ela seria criada nos moldes daBBC de Londres, que tem um conselhoautônomo e pouca interferência do Go-verno britânico. Nossa preocupação nãoenvolve apenas a questão de se instalar acabeça de rede da TV Pública em Brasília.

O mais importante, disse Aziz Filho,é mostrar para a sociedade que o grandeproblema das tvs oficiais no Brasil é elasserem vinculadas aos interesses doGoverno:

— Isso as torna menos próximas darealidade brasileira. Queremos uma TVPública mais relacionada com a socieda-de do que com o poder oficial, vinculaçãoque sempre enfraqueceu as tvs educativas.No Rio, o estigma da chapa branca é menor,a emissora já nasce mais próxima da pro-dução audiovisual pela experiência acu-mulada pelos profissionais do Estado emfazer um jornalismo oficial mais ligadoà agenda da sociedade. Esse processo jácomeçou a ser viabilizado pela TVE, quandofoi criada a Associação de ComunicaçãoEducativa Roquette-Pinto.

Aziz Filho ressaltou que o Ministroda Secretaria de Comunicação Social,Franklin Martins, disse que a palavrafinal cabe ao Presidente da República,mas que particularmente tem reveladoa pessoas próximas ser favorável a quea rede de radiofusão tenha sede no Rio.O Ministro prometeu encaminhar aoPresidente as propostas do Comitê econseguir com ele uma “conferênciaauricular” para debater o assunto:

— O episódio das vaias que o PresidenteLula recebeu no Maracanã na abertura dosJogos Pan-Americanos nos preocupa, masesperamos que isso não interfira de for-ma negativa no processo e que ele leve em

consideração questões técnicas na sua to-mada de decisão — disse o sindicalista.

Coube a Neise Marçal, da TV Educa-tiva, a leitura do manifesto que os orga-nizadores do Comitê Pró-TV Pública dis-tribuíram aos presentes. O documentodestaca que o País está prestes a dar um passohistórico na democratização da comuni-cação e no incremento da produção audi-ovisual. Falando em nome dos funcioná-rios da emissora e da Rádio MEC, ela afir-mou que, nesse processo, o trabalho que

vem sendo realizado pelos profissi-onais no Estado do Rio é fundamen-tal. Diz um trecho do manifesto:

“Há 30 anos a programação da TVEBrasil, sediada no Rio de Janeiro, sevolta para a cidadania, a educação ea cultura universalista. Com profis-sionais de alta qualificação, já fami-liarizados com a idéia de que uma tvpública deve estar voltada para a so-ciedade e não para burocracia, a TVEreúne as melhores condições para en-cabeçar a rede em gestação. Não só emtermos de estrutura, mas principal-mente pela oferta de profissionaiscomprometidos com a qualidade daprogramação pública.”

A manifestação do Comitê RioPró-TV Pública contou com a parti-cipação de muitos parlamentares,entre eles o Deputado Marcelo Ita-giba e os Vereadores Aspásia Camar-go, Eliomar Coelho e AlexandreMolon, segundo o qual, além daimportância para o Estado, a medi-da interessa ao País:

— A recuperação do Rio de Janei-ro como símbolo da identidade na-cional e como principal pólo de pro-dução audiovisual é fundametal parao Brasil — declarou.

Itagiba lembrou que toda tv noBrasil é pública, mas algumas são explo-radas de maneira privada: — Nosso deba-te relaciona-se com a necessidade de ter-mos hoje uma televisão cidadã, capaz deexpressar o sentimento do povo brasilei-ro, e uma questão que existe na mídia emgeral, que é a liberdade intelectual paraaqueles que produzem notícias e cultura.

Itagiba lembrou que o ato do Comitêacontecia no Rio, na sede da AssociaçãoBrasileira de Imprensa, entidade que sem-pre esteve na vanguarda da liberdade de

União para fincar a TV Pública no RioSociedade civil manifesta em ato na ABI seu empenho em que a futura tv tenha sede aqui.

expressão: — Além da ABI, é no Rio queestá a Academia Brasileira de Letras. Tudono Rio, que foi a Capital Federal, é brasi-leiro. Em Brasília está tudo o que é bomou ruim que foi tirado do Rio. Então, nãoé uma dádiva dar ao Estado a sede da TVPública. É obrigação devolver ao Rio o quelhe é de direito, como a liberdade de im-prensa que esta Casa sempre representou.É por isso que, além de defender um jor-nalismo independente e a produção cul-tural, também abraçamos essa causa.

Wadih Damous prometeu que vaipropor o engajamento nacional da enti-dade na luta e manifestou seu desejo deque o próximo encontro seja na sede daOAB: — Se houver outro ato como este,nossa Ordem se sentirá honrada em se-diá-lo. Vou conversar com o Presidentedo Conselho Federal da OAB, em Brasí-lia, para que também se una a essa lutapara que tenhamos uma tv vinculada àsociedade e não ao Estado, em Brasília.

No final do ato foi muito aplaudida asugestão de Eliomar Coelho para que oComitê entre em contato com as CasasLegislativas do Estado, a Câmara Muni-cipal do Rio e a Assembléia Legislativa doEstado do Rio de Janeiro, pedindo que seuspresidentes promovam uma campanhaem prol da TV Pública no Rio.

(José Reinaldo Marques)

Em declaração em Brasília, em 5 de julho, o Ministro da Secretaria de Comuni-cação Social da Presidência da República, Franklin Martins, admitiu a criação de umConselho formado por personalidades representativas da sociedade, que não tenhaligações com o Governo, para garantir que a TV Pública seja pautada pela diversidadena abordagem de sua programação, com base em aspectos regionais, cidadania e respeitoao direito das minorias. Esta, disse, seria a maneira de se garantir que a TV públicanão seja “a TV do Lula, a TV para o Lula ou a que o Governo mandar”.

Franklin expôs essas idéias no Seminário Políticas de Comunicação Pública no Brasil,promoção dos Sindicatos de Radialistas do Distrito Federal e do Rio de Janeiro. Eledeclarou aos participantes do encontro que a intenção do Governo é criar um sistemade comunicação que, além da TV Pública, inclua o rádio e a internet.

Admitiu o Ministro que isso não livrará a TV Pública totalmente dos riscos de pressãopor parte de governos e grupos políticos. Esse risco, ponderou, é sempre iminente,por melhor que seja o Executivo. Por isso, o Conselho será um instrumento quali-ficado para “evitar que os interesses privados, partidários ou de grupos prevaleçamsobre o interesse público”.

Franklin Martins informou também que a proposta de criação da TV Pública seriaenviada pelo Governo ao Congresso até o fim de agosto, por meio de projeto ou medidaprovisória. Em relação à forma jurídica e ao local da sede da empresa, que será umafusão da Radiobrás com a TVE, ainda não havia definição.

“Nem do Lula, nem para o Lula”Um Conselho representativo da sociedade

é que dirigirá a TV Pública, diz Franklin Martins.

Em visita ao Rio e reunião com oGovernador Sérgio Cabral, o PresidenteLuiz Inácio Lula da Silva confirmou queo Rio de Janeiro será a cabeça de rededa emissora, que deve estrear no dia 2de dezembro, data para a qual estãoprogramadas também as primeirastransmissões da tv digital, em São Paulo.

A decisão do Presidente foiconfirmada dois dias depois peloMinistro da Comunicação Social,Franklin Martins, que, em conversa comjornalistas durante um semináriorealizado no Planalto, disse que a TVBrasil terá uma diretoria em Brasília,que será o local de geração denotícias. No Rio, onde estará instaladaa cabeça de rede, o foco será aprogramação cultural. Segundo OGlobo, Lula disse que sediar aemissora no Rio significa “um iníciocom mais energia” da TV Pública.

A nova emissora terá um conselhogestor de cerca de 20 representantesda sociedade civil indicados peloPresidente da República. De acordocom a Agência Brasil, os cargos serãoestáveis e o órgão — que nasce dafusão da Radiobrás e da Associação deComunicação Educativa Roquette-Pinto,da qual fazem parte a TV Educativa e aRádio MEC — terá co-responsabilidadepela gestão participativa da sociedadena nova rede e seus conteúdos de tv,rádio e internet.

“O Rio dá mais energia”Assim o Presidente justificaa escolha da cidade para

cabeça da nova rede.

Franklin Martins naquilo que ele chamou de “despachoauricular” com o Presidente: na pauta, a TV Pública.

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POR RODRIGO CAIXETA

A discussão sobre o desenvolvimentodos esportes de base e as ações de marke-ting das empresas e o improviso marcaramo último dia do Fórum de debates noticiá-rio esportivo — Harmonizando o meio-de-campo entre imprensa, esporte e patrocínio,uma promoção da ABI com o Jornal dosSports e a J. Cocco Sport Marketing, como patrocínio da Petrobras e do GovernoFederal. O evento, encerrado na manhã dodia 5 de julho, lotou o Auditório OscarGuanabarino, na sede da ABI, e pôs emquestão temas recorrentes da relação entrea mídia e os anunciantes.

A primeira palestra do dia foi do Dire-tor de Marketing da Confederação Bra-sileira de Handebol, Fabiano Redondo,que falou sobre Esporte de base — Comoviabilizar o desenvolvimento da base e cri-ar novos ídolos através do financiamentopúblico, privado e da mídia, sob a media-ção de Sérgio Azevedo, Presidente da

Associação Brasileira de Anunciantes.Disse Fabiano que o handebol tem alcan-çado níveis cada vez mais satisfatóriosentre os esportes de base: — Conseqüen-

temente, conquista cada vez mais patro-cinadores, que visam a entreter clientese fornecedores, gerar mídia espontânea,aumentar vendas, diferenciar-se dos pro-

SEMINÁRIO

Uma relação em debate:imprensa/esporte/patrocínio

Durante dois dias, representantes da área de comunicação e dosetor empresarial discutiram essa questão de importância crescente

O primeiro dia do Fórum foi prestigi-ado por grande número de estudantes eespectadores em geral que lotaram oAuditório Oscar Guanabarino, na manhãdo dia 4 de julho. Para abrir a cerimônia,foram convidados Maurício Azêdo, Pre-sidente da ABI; Wellington Rocha, Dire-tor-Executivo do Jornal dos Sports; JoséEstêvão Cocco, Diretor da J. Cocco SportMarketing; Lúcio Pimentel, Gerente deImprensa da Petrobras; o Deputado PedroPaulo, membro da Comissão de Esportesda Alerj; e João PedroFigueira, represen-tante da Prefeiturado Rio.

José Estêvão Coc-co antecipou que oFórum permitiria fa-zer um amplo deba-te sobre as relaçõesentre mídia e patro-cínio. Maurício Azê-do, concordando,afirmou que é im-portante discutir as-pectos relacionadosà imprensa e ao espor-

Em 2006, tv aberta exibiu3 mil horas de cobertura esportiva

Aconteceu na ABIAconteceu na ABI

dutos dos concorrentes e moldar o com-portamento das pessoas.

Fabiano apontou também as razõespelas quais algumas empresas não patro-cinam esportes: — O patrocínio geraapenas retorno institucional, não finan-ceiro. Além disso, as empresas prefereminvestir em eventos e ações, acreditamque falta profissionalismo ao setor equestionam a falta de incentivos fiscais.

Para “o esporte acontecer”, diz Fabia-no, é preciso fazer parcerias com o Minis-tério dos Esportes e os Estados e Municí-pios, entre outras ações. Ele revelou queo handebol sempre teve destaque namídia impressa, mas há apenas dez anoscomeçou a estreitar os laços com a tele-visão, principalmente depois da popula-rização das tevês por assinatura: — E oesporte vai ter bastante importância nosJogos Pan-Americanos, porque as dispu-tas serão classificatórias para as Olimpí-adas — profetizou.

O carro-chefeThiago da Luz, Gerente de Patrocíni-

os da Petrobras, apresentou o tema Con-tinuidade e planejamento no patrocínio es-portivo — O Programa Petrobras de Espor-tes, que teve como moderador Paulo Sca-glione, Presidente da Confederação Bra-sileira de Automobilismo. Thiago apre-sentou as diretrizes gerais da empresa:— Não patrocinamos pilotos ou atletasindividualmente nem projetos relacio-nados a lutas e artes marciais. Tambémnão participamos de campeonatos de ca-ráter regional, apenas de âmbito nacio-nal ou internacional. Já o ProgramaPetrobras Social cuida das iniciativas de

primeira vez participava de “um debateem que o esporte é tido como agregadorde imprensa e patrocínio”: — O esporteconstrói valores morais e sociais, desen-volve o comércio, a indústria, o turismo,a cidadania e até a auto-estima. Além disso,é importante fator de imagem para asempresas que o patrocinam.

Ele observou que os atletas patrocina-dos endossam a qualidade de produtos emarcas e as empresas apóiam os grandeseventos esportivos com o objetivo de obterretornos institucionais: — O esporte geraum novo segmento de negócios e é con-teúdo para a mídia, que se vale dele paraalavancar a audiência de programas derádio e TV e a venda de jornais e revistas.

Outro aspecto importante ressaltadopor Melo Neto diz respeito ao esportecomo instrumento de socialização real,num momento em que as pessoas ampli-am cada vez mais sua rede de contato emsites de relacionamento: — O esporteaproxima e promove uma maior intera-ção entre os membros da comunidade,além de educar e formar cidadãos.

ContrapontoO Diretor Nacional da Rede Record,

Eduardo Zerbini, foi o palestrante do painelQuais os limites dos interesses editoriais, jor-nalísticos e comerciais, mediado pelo Dire-tor de Conteúdo do Jornal dos Sports, Luiz

te: — A ABI tem a honra de abrir este Se-minário, no qual certamente haverá umafecunda discussão dos temas propostospelo fórum.

Wellington Rocha disse que o eventonão poderia ser realizado em outro lugarque não fosse a ABI e destaca o apoio doJornal dos Sports à iniciativa: — Há 76anos o jornal vem trilhando um caminhobrilhante na cobertura esportiva e estesdebates serão importantes para a análiseda relação entre imprensa e patrocínio.

Lúcio Pimentel salientou que o espor-te é uma das principais atividades apoia-das pela Petrobras, reconhecida como amaior patrocinadora de cultura no Brasile que se esforça para potencializar as açõesde patrocínios esportivos. Para João PedroFigueira, o Fórum acontecia num momen-to importante para o Rio, opinião acatadapor Pedro Paulo: — O Pan será um sucessona cidade e é preciso atentar para o fato deque o esporte é um instrumento de inclu-são e também um valoroso canal de pro-moção social — explica o Deputado.

Socialização realO professor Francisco Paulo de Melo

Neto abriu a primeira palestra, Qual oretorno que a práti-ca esportiva podeproporcionar aossegmentos envolvi-dos: comunidade,governo, mídia epatrocinadores,com mediação dojornalista FelippeCardoso, da RádioGlobo. Em sua apre-sentação, MeloNeto mostrou-sesurpreso com otema do Fórum eafirmou que pela

Luciano: Nosso povo tem capacidade de adaptação a qualquer modalidade esportiva.

José Estêvão Cocco, Diretor da J. Cocco Sport Marketing; Eduardo Zerbini, Diretor Nacional daRede Record, e Wellington Rocha, Diretor-Executivo do Jornal dos Sports: debate amplo no Fórum.

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— solução para criação de riqueza e em-prego e... noticiário?, que teve a mediaçãoda jornalista Vanessa Riche, apresentado-ra do SporTV news. Em sua explicação, eledefiniu o esporte como ferramenta po-derosa do plano de marketing da empre-sa, para conquista e manutenção de cli-entes:

— Em nossas estratégias, procuramosagregar ao esporte conceitos como ca-risma, força, saúde, juventude, energiae plasticidade.

Disse Giannubilo que fazer merchan-dising no local dos eventos esportivos e pa-trocinar equipes e campeonatos figuramentre as opções de investimento da empre-sa, que entende que o esporte atinge o pú-blico em seu momento de relaxamento epromove o seu encontro com os ídolos:

— Além disso, num comparativo entreo PIB brasileiro e o PIB esportivo, percebe-se que este último tem atingido índices cadavez maiores em relação ao primeiro.

Giannubilo disse que as ações de ma-rketing reforçam a preocupação de suaempresa com a saúde e a qualidade de vidae que 50% do orçamento deste ano sãodestinados a patrocínios esportivos:

— Nossos índices de investimentos ede retorno nos últimos anos têm sidosatisfatórios. De 2003 até agora, saltamosde 391 mil para 593 mil clientes em nossacarteira. (Rodrigo Caixeta)

Aproveitando o ensejo dos Jogos Pan-Americanos no Rio e pegando embalono esporte que é paixão nacional, o jor-nalista, escritor e sócio da ABI Lóris Baenafez em 12 de julho longa conferênciasobre Introdução e evolução do futebol noBrasil, em encontro na Sala Belisário deSouza, no 7º andar do Edifício HerbertMoses, sede da ABI.

A palestra assinalou a passagem dos54 anos da morte, ocorrida em 30 de junhode 1953, do introdutor do futebol noBrasil, Charles Miller. Em sua apresen-tação, Lóris contou como se deu a im-plantação do esporte no Brasil e sua evo-lução até os anos 50. Cronista e comen-tarista esportivo, o escritor estreou nojornalismo aos 19 anos, no Pará, onde nas-ceu. Antes, porém, jogou no time juve-nil do Paissandu, de Belém:

— Só que meu pai era contra o fute-bol, como a maioria das pessoas do sé-culo XIX. Tive que abandonar o time,mas, como tinha paixão pelo jogo, co-mecei como foca de Esportes na Folhado Norte, então o jornal de maior pres-tígio na Amazônia. Depois fui para aRádio Clube do Pará.

Aos 22 anos, Lóris decidiu vir para oRio e começou a trabalhar na FolhaCarioca. Em seguida, mudou-se para SãoPaulo e trabalhou no Mundo Esportivo.Ali nasceu no jornalista o interesse pelofutebol do passado, que o levou à buscadas origens do esporte: — Soube, então,de uma palestra com o próprio CharlesMiller, que trouxe o futebol para o Bra-sil. Filho de um inglês com uma brasi-leira, ele pertencia a uma família abas-tada e foi estudar na Inglaterra, onde seafeiçoou pelo esporte e chegou a jogarcomo titular no time de sua universi-dade. Seu apelido era “Nipper” (algocomo “garoto”, ou “moleque”) e ele foi

o primeiro brasileiro a jogar fora do País.

Os pioneirosLóris falou também sobre a parceria

entre Charles e Hans Nobiling, ex-joga-dor do Germânia, de Hamburgo, que trou-xe para o Brasil o estatuto do seu time:— Foi assim que surgiram os primeirosclubes de futebol brasileiros, como o SãoPaulo Athletic Club, de Charles, e o HansNobiling Team, do alemão. Os alunos doMackenzie, também fascinados pelo es-porte, fundaram em 1898 a AssociaçãoAtlética do Colégio Mackenzie, jogandocom camisas vermelhas e gravatas e cal-ças compridas brancas.

Outros relatos de Lóris foram sobre acriação da primeira liga brasileira, a pri-meira partida oficial do Brasil, em 1902,e a discriminação que os jogadores sofri-am no início do século XX. — Todos eramconsiderados vagabundos e desocupados— diz o jornalista, lembrando que certavez uma comissão de atletas do Rio foià Central do Brasil pedir patrocínio depassagens para participar de um jogo emSão Paulo, mas teve o pedido recusado pelaDireção da estação, por preconceito emrelação ao que faziam.

O surgimento de expressões como“cartola” e “tijolo quente” também foiexplicado aos assistentes da palestra.Paralelamente, houve uma miniexpo-sição com fotos de jogadores da primei-ra metade do século XX. O Conselheiroda ABI José Rezende considerou a pa-lestra de Lóris como o início da conso-lidação do Centro Histórico Esportivoda ABI, projeto que pretende promoverdebates freqüentes e reunir autores delivros sobre esportes: — Vai ser umencontro muito interessante, visandoà revitalização da ABI com as novasgerações de estudantes e profissionais.

AULA

A chegada do futebol ao BrasilJornalista e historiador, Lóris Baena mostrou o começo e a evolução

entre nós do esporte que os ingleses inventaram

Augusto Veloso. Para Zerbini, a concorrên-cia entre os veículos é saudável, pois aju-da na criação de programas de qualidade:— De acordo com as pesquisas de audiên-cia, 96% da população da Grande São Pauloassistiram, na última semana, à programa-ção da tv aberta, que apenas em 2006mostrou mais de 3 mil horas de transmis-sões esportivas, a maioria de futebol. Osoutros esportes vêm, gradativamente,conquistando espaço na programação.

Com relação aos contratos com ospatrocinadores, Zerbini faz um contra-ponto entre o papel do jornalista e o de-partamento comercial dos veículos: —O repórter, durante a entrevista, não sepreocupa se a marca do patrocinador estáaparecendo no vídeo, enquanto o pesso-al do comercial fica de olho para saber seo anunciante está tendo o espaço devidono noticiário.

Informou Eduardo Zerbini que as cotasde patrocínio de eventos como a Copa doMundo hoje já não são mais vendidas: —Os organizadores se encarregam de formaro grupo de anunciantes e os veículos com-pram o conteúdo das transmissões com aobrigação de mostrar os patrocinadores.

O retorno: um saltoMarcelo Giannubilo, Diretor de Ma-

rketing da Unimed-Rio, apresentou o úl-timo painel do dia, A indústria do esporte

cunho social, que usam o esporte comoferramenta.

Disse Thiago que o Programa EsporteMotor — por estar mais ligado à ativida-de da empresa — é o carro-chefe dospatrocínios esportivos, porque, além dequalificar a marca junto ao público, usao esporte como laboratório para desen-volvimento e teste de produtos: — For-necemos combustível para a Williams,estamos na Stock Car, na Fórmula Tru-ck, no Petrobras Lubrax Team — queparticipa dos ralis Paris—Dakar e dosSertões —, na Seletiva Petrobras de Kart,no SAE-Mini Baja, e no Petrobras ScudTeam, de motociclismo.

Ao mostrar os benefícios de imagemtrazidos pelo patrocínio, disse Thiago: —Atestamos a qualidade e a tecnologia denossos produtos, fazemos a exposição ea internacionalização de nossa marca emelhoramos nosso relacionamento comclientes e parceiros, demonstrando a altatecnologia brasileira da Petrobras.

Luciano, o apito finalO apresentador Luciano do Valle era

um dos participantes mais esperados doencerramento do Fórum. Ao lado de JoséEstêvão Cocco, Diretor da J. Cocco SportMarketing, ele quebrou o protocolo dacerimônia e promoveu um grande bate-papo com a platéia, semelhante ao Apitofinal, programa que apresenta na TVBandeirantes. Antes de começar a conver-sa, porém, foi exibido um vídeo de um jogoda Seleção Brasileira de Vôlei contra a daUnião Soviética, realizado no Maracanãe narrado por Luciano:

— Mais de 94 mil pessoas prestigiaram

este evento, em 26 de julho de 1983.Sempre trabalhei pelo esporte brasileiroe lutei para projetar o Brasil no cenáriointernacional — orgulha-se o apresenta-dor, que “não admitia ver um país dotamanho do Brasil não ter destaque nascompetições mundiais”.

Luciano considera que nada é impos-sível para o esporte no Brasil, pois o povobrasileiro é o que mais se adapta a qual-quer modalidade esportiva. Já no que dizrespeito à relação entre política e espor-te, foi incisivo: — Sou contra a politica-gem que é feita aqui. Para se fazer polí-tica de esportes, é preciso conhecer bemo tema e lutar pelos interesses coletivosdos atletas.

Brincando com a platéia, Luciano disseque começou a narrar futebol aos cincoanos de idade, quando promovia jogoscom os botões arrancados das roupas desua mãe:

— É claro que depois eu apanhava,porque sempre os perdia. Mas comeceia trabalhar em rádio em 1963, quandonão havia faculdade de Jornalismo.Mesmo assim, procurei estudar e mequalificar — explicou, afirmando quesempre defendeu a presença de um jor-nalista ao lado dos atletas na hora decomentar as disputas.

Ele hoje se denomina apenas locutoresportivo e diz que para ser jornalista deesportes é preciso ter talento e conheci-mento. E recomenda aos recém-formadosque saiam em busca de oportunidades forado eixo Rio-São Paulo: — Aqui está esgo-tado, mas há vários Estados onde se podetentar uma chance. O Brasil precisa deprofissionais em diversos cantos.

Ao lado de José Rezende (à esq.), organizador do ciclo de palestrassobre esporte, Loris Baena fez minuciosa exposição sobre as origens

do futebol no Brasil e prestou homenagem ao pioneiro Charles Miller.

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Aconteceu na ABIAconteceu na ABI

Em visita ao Rio no dia 21 de agosto, aCaravana em Defesa do Rio São Francis-co e do Semi-Árido promoveu reunião nasede da ABI, na segunda etapa de sua pe-regrinação pelo País, iniciada no dia 19, emBelo Horizonte, para questionar o proje-to de transposição das águas do Rio SãoFrancisco, proposta pelo Governo Federalcomo solução para o problema da seca nasregiões semi-áridas do Nordeste do Brasil.

Criticado por especialistas e técnicosque integram o movimento em defesa doRio como uma obra faraônica e de suces-so duvidoso, o Projeto de Integração daBacia do São Francisco às Bacias do Nor-deste Setentrional-Pisf prevê a constru-ção de mais de 2 mil quilômetros de canaisem concreto armado, incluindo o uso deleitos secos. Diz o Governo que vai levarágua do São Francisco para outros riossituados em Pernambuco, Ceará, RioGrande do Norte e Paraíba, garantindo oabastecimento de água para 12 milhõesde brasileiros que vivem no semi-áridosetentrional do País. A água deverá ser cap-tada em dois pontos de Pernambuco: umem Cabrobó, o chamado eixo Norte, outroem Itaparica, o eixo Leste.

Em 2000, a previsão de gastos com aobra, com base no primeiro Relatório deImpacto Ambiental-Rima, era de R$ 2,7bilhões. Em 2007, o cálculo subiu paracerca de R$ 4,5 bilhões — e o GovernoFederal já solicitou R$ 6,6 bilhões aoPrograma de Aceleração Econômica-Pac.De acordo com o Ministério de Integra-ção, responsável pela gestão do projeto,as obras deverão estar concluídas em 2010.

Coalizão com empreiteirasCarlos Vainer, professor do Instituto

de Pesquisa e Planejamento Urbano e Re-gional da Universidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ) e coordenador da Associ-ação Técnica Habitacional e Meio Am-biente e de Barragem, diz que o grandeproblema são os interesses ocultos por trásda iniciativa do Governo:

— É evidente que o caso do São Fran-cisco é uma grande operação das grandesempreiteiras associadas a grandes gruposindustriais do Ceará. É esta coalizão quesustenta a construção dessa obra, comovárias outras no Brasil, por interesses dosetor elétrico ou de mineração. Neste caso,os estudos já mostraram que o problemada suposta sede no Nordeste não se resol-ve com transposição ou com grandes obrase que o objetivo principal desse projetoé atender à necessidade de determinadosgrupos industriais e do agronegócio nor-destino. É um projeto com previsão decusto de R$ 5 bilhões, mas vai custar trêsvezes mais, como quase todas as obrashídricas de grande porte no Brasil.

Para Apolo Heringer Lisboa, líder daCaravana em Defesa do São Francisco,professor da Universidade de Minas Ge-rais e Presidente do Comitê da Bacia Hi-drográfica do Rio das Velhas, o principalobjetivo da peregrinação pelo Brasil édespertar na sociedade um sentimento deindignação contra “projetos milagrosos”:

— A missão da Caravana é não deixarque se repita o desenvolvimento viciadodo tipo Transamazônica, que foi umfracasso total. A transposição tem a mes-ma lógica das empreiteiras e da indústriada seca. As mentiras vão sangrando o País,que precisa investir prioritariamente emeducação. Nosso trabalho para plantar essadiscussão e mobilizar a sociedade é volun-

tário. Há muita água no semi-árido doNordeste, o que falta é uma política dedistribuição dessa água. A seca é causadapela concentração de água, não por faltadela.

12 Baías de GuanabaraApolo Heringer diz que o volume de

água acumulada nos açudes construídoscom recursos do Governo Federal repre-senta 12 Baías de Guanabara:

— O Governo tenta apresentar a trans-posição do São Francisco como salvaçãodo Nordeste, como a indústria da secaapresentou os açudes de Orós e Casta-nhão. Não se pode distribuir água parauma demanda difusa que sofre com a seca— no caso, a população que mora espa-lhada no meio do sertão — através de umaoferta concentrada, seja de um açude oude um rio. A demanda difusa só pode seratendida com uma oferta difusa, ou seja,as chuvas e os poços das regiões onde ocidadão já mora, porque encontrou água.

Técnico da Fundação Joaquim Nabucode Pernambuco, o engenheiro agrônomoJoão Suassuna concorda com Apolo so-bre essa questão:

— Existem mais de 70 mil represas noNordeste, que têm um potencial de acu-mulação estimado em 37 bilhões demetros cúbicos de água represada. É omaior volume em regiões semi-áridas domundo. O que a gente não tem é umapolítica efetiva de utilização e distribui-ção dessa água para o povo.

O índio Marco Sabaru, representan-te dos Tingui-Botó, de Alagoas, reclamouda não participação da população indí-gena na discussão do impacto da obra emsuas terras:

Uma correnteza na contramãodo desvio do Rio São Francisco

Caravana representativa de vários Estados sustenta na ABI que atransposição das águas tem a lógica das empreiteiras e da indústria da seca.

— E não é só a minha região que sofreagora essa nova ameaça, é todo o SãoFrancisco. A comunidade indígena já vemsendo atingida há muito tempo pela faltade peixes e por não poder mais navegarcom alguns barcos pelo rio. Somos umpovo que habita o São Francisco há mi-lhares de anos, mas que não tem partici-pação na discussão de um projeto que foicriado nos gabinetes. Nosso povo nuncateve participação na discussão de umaquestão que está sendo colocada comosolução para os seus problemas.

Confronto na justiçaO projeto do Governo também terá que

enfrentar ações civis públicas encaminha-das à Justiça — atualmente, tramitam noSupremo Tribunal Federal cerca de 20contra o Projeto de Integração do Rio SãoFrancisco, ainda sem previsão de apreci-ação e julgamento. O Promotor de Jus-tiça Eduardo Lima de Matos, do Minis-tério Público de Sergipe, informou queas ações foram movidas com base nosrelatórios da Coordenadoria Interestadu-al das Promotorias do Rio São Francisco,formada por representantes do MP deGoiás, Distrito Federal, Minas Gerais,Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco:

— As ações que hoje tramitam naJustiça vêm de Sergipe, Bahia e Alagoase foram avocadas para o STF quando oórgão entendeu que havia um conflitofederativo e que a competência para julgaressas ações era dele. O Tribunal de Con-tas da União também fez fartas investi-gações e recomendações sobre o licenci-amento das obras e propôs ações crimi-nais que tramitam na Justiça Federal deBrasília contra o ex-Presidente do Ibamae o chefe de licenciamento do órgão, porterem autorizado licitação irregular.

Revelou Eduardo Matos que houvedescumprimento da legislação no proces-so de licitação das obras de transposição,o que gerou dezenas de irregularidades:

— Um dos argumentos das ações é olicenciamento autorizado sem que o es-tudo de impacto ambiental estivessecompleto. Há também falhas de váriascondicionantes do licenciamento pré-vio para o sistema de instalação. Alémdisso, o TCU verificou que na primeiralicitação os preços cotados estavam R$400 milhões acima do real e por issodeterminou que fosse alterado o edital.Todas essas irregularidades estão dispo-níveis no site do Tribunal.

Omissão e desperdícioAo encerrar a reunião, o Presidente da

ABI, Maurício Azêdo, criticou a ausên-cia da discussão da transposição do RioSão Francisco no noticiário do País.

— Essa questão estaria hoje no primei-ro plano das discussões nacionais, mas issonão se dá porque o que interessa aos gran-des meios de comunicação é a perfuma-ria, é o secundário, o que gera escândalo,o que pode gerar toda essa falsificação detodos os lados, como no caso do SenadorRenan Calheiros. Há meses assistimos aum desperdício de espaço e de tempo queteria muito mais proveito social se fosseutilizado para a divulgação de problemasgraves e dramáticos do País, como o dosatingidos pelas barragens e o do São Fran-cisco, ameaçado por esse processo de umacupidez tremenda — declarou, sob inten-sos aplausos da platéia que lotou a SalaBelisário de Souza, no sétimo andar doEdifício Herbert Moses.

Barcos de pescadores e detransporte no Rio São Franciscono trecho de Ibotirama, Bahia:

populações ribeirinhas nãoforam ouvidas.

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Em sua reunião de agosto, realizada no dia 28, o Conse-lho Deliberativo da ABI aprovou proposta do ConselheiroCarlos Rodrigues favorável à participação de sócios da Casano plebiscito popular programado para a Semana da Pátriade 1 a 7 de setembro de 2007, pela anulação da privatizaçãoda Companhia Vale do Rio Doce.

A fundamentação apresentada pelo Conselheiro CarlosRodrigues foi objeto de prolongada discussão, com a parti-cipação dos Conselheiros Milton Coelho da Graça, MárioAugusto Jakobskind, Jesus Chediak e Orfeu Salles, além doPresidente da ABI, Maurício Azêdo. Durante o debate, Jako-bskind lembrou que Barbosa Lima Sobrinho teve atuaçãodestacada na luta contra a privatização da Vale e tambémda Companhia Siderúrgica Nacional–CSN. Maurício Azêdorecordou que o ex-Presidente da ABI sustentou então queno Brasil havia dois partidos: o de Tiradentes, ao qual Bar-bosa pertencia e que defendia os interesses do Brasil, e o deSilvério dos Reis, chefiado pelo Presidente Fernando Hen-rique Cardoso, que privatizou as empresas.

A proposta de Carlos Rodrigues, fundamentada emcopiosa massa de informações, tem o seguinte teor:

“Em 1990, através do Decreto nº 1.510, o então Presiden-te Fernando Collor de Mello criou o Programa Nacional deDesestatização, com a intenção de entregar as riquezasnacionais — as empresas estatais e os serviços públicos —à iniciativa privada. Atendia, assim, ao imperialismo e àsmultinacionais, ansiosos por eliminar direitos trabalhistase a proteção ao mercado nacional.

Vários aspectos legais, determinados pelo próprio PND,não foram respeitados no processo da ‘venda’ da CompanhiaVale do Rio Doce. Isso levou a 107 ações populares na Jus-tiça, todas pedindo a anulação da ‘venda’ e a reestatizaçãoda companhia, baseadas no não-cumprimento e observân-cia dos critérios legais previstos na Lei de Licitações.

Trata-se de um dos maiores crimes de lesa-pátria come-tidos contra o País, um assalto ao patrimônio e à soberanianacional.

Outro problema foi a escandalosa subavaliação da em-presa. Os avaliadores não incluíram no patrimônio da Vale,por exemplo, as reservas de urânio — material radioativode propriedade restrita à União —, a cessão das faixas de terranas fronteiras para exploração de minérios, as estruturasportuárias e ferroviárias. Estudos mostraram que o patrimô-nio da Vale do Rio Doce era calculado, em 1997, em R$ 10bilhões. E a empresa foi privatizada por US$ 3,3 bilhões, ouR$ 3,3 bilhões, porque naquela época a moeda brasileira estavaao par com o dólar.

Não bastassem os problemas legais e a subavaliação, a Valejá era então uma das maiores estatais do Brasil e a maiorexportadora mundial de minério de ferro, com um comple-xo de 34 empresas e duas ferrovias.

As ações contra a privatização rolam desde 1997 na Jus-tiça, mas sem qualquer definição. Já passaram por diversostribunais, inclusive pelo Superior Tribunal de Justiça, masaté agora nada foi decidido.

As razões apresentadas para a privatização da Vale sãototalmente inconsistentes e atentam contra os interessesnacionais. Rezam pela cartilha dos falcões de Washingtone as multinacionais que, depois da queda do Muro de Ber-lim, se arrogam a ser donos do mundo.

O lucro acumulado pela Vale entre 1998 e o primeirosemestre de 2006 supera os R$ 32 bilhões, quase dez vezeso seu preço de ‘venda’. Somente no segundo semestre do anopassado o lucro de empresa chegou perto dos R$ 3,7 bilhões,acima do valor pelo qual ela foi vendida. No primeiro semestredeste ano já bateu novo recorde: mais de R$ 4 bilhões. Já pensouo que daria pra fazer se toda essa dinheirama fosse nossa?”

CONSELHO

Não à privatizaçãoda Vale

Conselho convida os sócios daABI à participação no plebiscito

sobre a venda da empresa.

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Reina estranho silêncio nos meios decomunicação do Rio de Janeiro a respeitode questão crucial que é a ameaça concre-ta de mais uma tragédia ecológica e socialque pode resultar da construção de umausina da Companhia Siderúrgica do Atlân-tico–CSA, à margem da Baía de Sepetiba,nos moldes em que está sendo executada.

Trata-se de uma mega-usina siderúrgi-ca, com gigantesco terminal marítimoprivativo e uma enorme termelétricaalimentada a carvão, altamente poluen-te, a ser construída em associação com aCompanhia Vale do Rio Doce e a empresaalemã Thyssen Krupp, com tecnologiaobsoleta adotada em nome de irresponsá-vel economia de custos, colocando em risconão apenas os interesses econômicos doEstado e do País, como especialmente a vidae os meios de sobrevivência de muitosmilhares de pessoas da região.

A partir do projeto, criminosamentepremiado por licença ambiental prelimi-nar da Feema, concedida às pressas emperíodo eleitoral sem levar em conta origor técnico e legal necessário que deveria

DENÚNCIA

A tragédia ambiental que a mídia não vê

Uma lixeira industrial num pedaço de mar do RioPara viabilizar o funcionamento de sua usina siderúrgica, grupo alemão Thyssen Krupp vai sepultar na

Baía de Sepetiba, no Rio, 23 milhões de metros cúbicos de metais pesados perigosíssimos: cádio, zinco, arsênio.

POR UBIRAJARA LOUREIRO E SÉRGIO RICARDO DE LIMA

nortear a análise de estudos de viabilida-de econômica- ecológica de empreendi-mentos de elevado potencial poluente.Com isso, dita-se uma sentença de mor-te contra o rico ecossistema das Baías daIlha Grande e de Sepetiba, que são ambi-entes marinhos associados, altamenteprodutivos, e com expressiva biodiversi-dade e pescado. Isto porque o plano da CSAinclui a dragagem de um canal para aces-so ao terminal marítimo a ser usado pelogrupo alemão. E a dragagem será feitaexatamente numa área que há anos vemsendo contaminada por contínuos vaza-mentos de metais pesados deixados a céuaberto, a partir da falência da CompanhiaIngá, há muitos anos, que abriga em seupátio uma montanha de lixo químicoestimada em 2 a 3 milhões de toneladasque tem vazado para o mar, desde mea-dos dos anos 80.

O pior, porém, é que a empresa, sem-pre em nome da egoísta e desumana

economia de custos, após a dragagem,pretende jogar em plena Baía de Sepeti-ba, entre a Ponta da Marambaia e a Ilhade Jaguanum, o material altamente con-taminado por metais pesados resultanteda dragagem do canal. O bota-fora pre-tendido por esta empresa transnacional(e lamentavelmente autorizado pelasautoridades ambientais e Feema e quegoza da omissão do Ibama) irá enterrar,numa sepultura ou cava profunda, a sercoberta por apenas um metro de argila,a ser aberta no fundo do mar, 23 milhõesde metros cúbicos de metais pesados pe-rigosíssimos (cádmio, zinco, arsênio, etc)por anos a fio vazados do dique da Ingápara a Baía, que se encontram atualmen-te depositados no fundo do mar. Apesarde surreal é isso mesmo: o projeto trans-forma a Baía numa lixeira industrialexclusiva da CSA, sem a menor seguran-ça de que, a uma ressaca mais forte no mar,dessas capazes de acabar com a areia da

Praia do Arpoador em algumas horas, nãovazará a lama tóxica ali depositada.

Com esta atividade, curiosamente jápremiada com milionários incentivosfiscais de isenção tributária por parte doGoverno do Estado e da Prefeitura do Rio,os empresários alemães, majoritariamenteassociados à Vale do Rio Doce, pretendemobter, com custo menor e elevada polui-ção, matéria-prima para suas atividadesindustriais espalhadas pelo mundo. Comoexplicou num dia desses Erwin Schnein-der, diretor da Thyssen, “uma toneladafabricada no Brasil é US$ 25 mais baratado que na Alemanha e em outros lugares”.

O problema é que esta redução de custosse deve não apenas às facilidades oficiais,mas, muito especialmente, à utilizaçãode tecnologias obsoletas e de elevado riscoambiental, não mais aceitas em qualquerpaís desenvolvido.

Tentando encobrir estes aspectos decapital importância, a empresa alega quetudo resultará na criação de milhares deempregos, diretos e indiretos. Este tipo de“progresso” ou “chantagem do emprego”

A montanha de rejeitos químicos da Mineradora Ingá vaza para o mar de Sepetiba desde os anos 80. A siderúrgica da Thyssen Krupp vai agravar um problema ambiental que as autoridades insistem em ignorar.

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de opção tecnológica e energética altamen-te poluente não interessa ao nosso país, ejá demonstrou ser um falso e ilusório “de-senvolvimento”. Não há emprego que pa-gue a degradação ambiental de uma enor-me área e que liquidará de vez a fonte desobrevivência de milhares de pescadoresque tiram seu sustento das águas da Baía.E que pode afetar irremediavelmente apróspera indústria do ecoturismo, que co-meça a crescer na região. A lama conta-minada a ser dragada e enterrada no fundodo mar pela CSA representa uma enor-me pá de cal que poderá liquidar de vezas vocações pes-queira e turísticadaquela exuberan-te região, gerandoempobrecimento,desmantelamentocultural e desestru-turação na econo-mia de várias cida-des da Costa Verdefluminense.

Além de tudo, osfatos vêm demons-trando que a pers-pectiva de criação deempregos é maistênue do que apregoam os alemães, escu-dados ilegalmente no seu sócio minoritá-rio, a Vale do Rio Doce, para com isso obterbenesses de financiamento bilionário dobanco federal BNDES, além de milioná-rias isenções fiscais de ICMS e de ISS, res-pectivamente do Governo estadual e daPrefeitura do Rio. O noticiário tem des-tacado que já começaram a chegar ao Brasiltécnicos contratados na China com bai-xos salários. Ou seja, em sua ganância ca-pitalista de destruir a natureza e poluiro mar, a CSA provocará o aumento da ex-clusão social de milhares de pescadoresde tradição artesanal e a exploração demão-de-obra de imigrantes chineses. Aoinvés de trazer desenvolvimento econô-mico, social e humano, a marca da dupladinâmica Vale-Thyssen Krupp será a deuma globalização econômica excludentee destruidora do patrimônio ecológico,que poderíamos denominar de neo-escra-vagismo poluidor.

Para agravar o quadro, tudo isto vemrecebendo elogios de todos os segmentospolíticos e empresariais, sendo classificadode o maior investimento privado no País.Essa inédita, estranha e inesperada uniãode interesses inconfessáveis da classepolítica nos níveis federal, estadual emunicipal, dos mais diferentes matizespolítico-ideológicos, em torno da viabi-

A filmografia do cineasta Nélson Pe-reira dos Santos é o assunto de capa domais recente número (referente aotrimestre abril/maio/junho de 2007)da revista Carioquice, considerada pelocolunista de O Globo Mauro Ventura“um bálsamo na combalida alma ca-rioca”. A publicação, por enquanto, nãoé vendida em bancas, mas pode serencontrada nas livrarias.

A reportagem escrita por Vera de Sou-za é quase toda centrada na análise dofilme Rio 40 graus, lançado e censura-do em 1955. A matéria descreve Nél-son como “gentil, elegante e soberano”e o chama de “amuleto do cinema na-cional”, fazendo um jogo de palavrascom o título de um dos seus filmes, OAmuleto de Ogum. O cineasta ocupa acadeira nº 7 da Academia Brasileira deLetras, cujo patrono é Castro Alves.

Responsável pela cinemateca da ABL,Nélson também finalizou recentemen-te o documentário Português, a língua doBrasil, que contém depoimentos de aca-dêmicos sobre o que está acontecendocom o idioma falado no País.

Outras boas reportagens de Cario-quice têm como tema a trajetória artís-tica do compositor Paulo César Pinhei-ro e o perfil do escritor Antônio Calla-do, com entrevistas com a jornalista AnaArruda, com quem o escritor se casouem 1977, e sua filha Tessy Callado.

lização da CSA é muito preocupante. Umsábio dito popular antigo nos alerta quequando a “classe política” está toda uni-da e satisfeita com alguma coisa, é que estãoocupados tramando, em consenso, como“ferrar o povo”...modernamente devemosaí incluir também “destruir a Natureza”!Talvez essa incompreensível união de per-sonagens políticos tão aparentemente di-ferentes explique por que a Vale do RioDoce é, de acordo com o próprio Tribu-nal Superior Eleitoral, apontada como re-cordista individual no financiamento dasprincipais candidaturas do País nas últi-

mas eleições, inde-pendentementedos eventuais anta-gonismos e/ou di-ferenças existentesentre os diversospartidos e candida-tos agraciados porsua generosidade fi-nanceira.

É em nome dis-so que os alemães,já premiados comisenções fiscais es-timadas em mais deUS$ 150 milhões

(dispensa de pagamento de tributos mu-nicipais e estaduais pelo prazo de 12 anos),ainda têm o desplante de pleitear finan-ciamento público para a obra, através doBNDES, no valor de mais de US$ 1 bilhão.

É verdade que, em se tratando do gru-po Thyssen Krupp, não se poderia espe-rar postura ética muito diferente do des-caso diante da vida de seres humanos. Oconglomerado atuou em estreita colabo-ração com o esforço de guerra da ditadu-ra nazista de Adolf Hitler, inclusive comutilização de mão-de-obra escrava, cons-tituída especialmente por judeus. Em ra-zão desses crimes, vários de seus dirigen-tes foram condenados no Tribunal de Cri-mes de Guerra que funcionou na cidadede Nüremberg, após o término da Segun-da Guerra Mundial.

Esta mesma postura filosófica racista,desumana e sem preocupação social é aúnica explicação possível para a manu-tenção de projeto empresarial que é umaverdadeira bomba de destruição ecológicade alto impacto e potência, a ser lançadacontra a população que habita o entornoe vive das e nas Baías de Sepetiba e da IlhaGrande, na verdade partes de um ecossis-tema único, vivo, ainda com rica biodi-versidade, de valor incalculável e insubs-tituível. A irresponsabilidade ambientale social é a marca deste projeto, regado de

milhões de dólares de isenções fiscais eextraordinário e vultoso financiamentodo BNDES. Mais uma vez, dinheiropúblico é usado para destruir a naturezae cometer injustiça ambiental, prejudi-cando a sociedade.

Apesar de tudo isto, à custa de aliançasobscuras, a Thyssen Krupp vem conseguin-do atropelar a legislação brasileira nocumprimento das etapas legais no licen-ciamento ambiental e que não exige se-quer melhor adequação tecnológica indis-pensável a um empreendimento dessevulto e risco. No mundo afora, em que leise tratados internacionais visam a prote-ger a sociedade e o meio ambiente, o con-sagrado direito à precaução é levado a sério,os órgãos ambientais, ao menos, exigiri-am a adoção das melhores e mais segurastecnologias para dar destino final ao gran-de volume de lama contaminada por me-tais pesados que a CSA pretende imoral-mente enterrar no mar. Certamente, nestecaso, seriam indicadas tecnologias menosvulneráveis e mais seguras, como o con-finamento destes perigosos contaminan-tes em aterro industrial ou através detécnicas de encapsulamento.

Já é lugar-comum, no mundo do bomsenso, que o processo de desenvolvimentodeve, necessariamente, ser sustentável.A pretexto de criar-se emprego e receitadaqui a 20 anos não se pode destruirpatrimônio natural insubstituível. Éurgente que as autoridades responsáveispela fiscalização ambiental impeçam estacatástrofe anunciada, sem prejuízo da ati-vidade econômica, mas respeitando oprincípio de sua necessária sustentabili-dade e exigindo a adoção de tecnologiasque não degradem o meio ambiente demaneira irreversível.

Por isto, é importante uma mobiliza-ção social no sentido de que tenham se-guimento urgente e imediato inquéri-tos instaurados pelos Ministérios Públi-co Federal e do Rio de Janeiro (MPF1.0200.000646/2006-61), bem comoação judicial em curso no Tribunal de Jus-tiça do Estado do Rio de Janeiro, que emestudos preliminares já identificaram ris-cos ambientais de grande monta no pro-jeto da Thyssen Krupp, além de irregu-laridades flagrantes no processo de licen-ciamento executado com uma pressa ex-tremamente suspeita durante o desastrosoGoverno dos Garotinhos no Rio e curi-osamente ignoradas por seu sucessor, ago-ra quase desafeto, Sérgio Cabral.

Ubirajara Loureiro é jornalista e sócio da ABI. SérgioRicardo é gestor ambiental.

VEÍCULOS

“Carioquice” temNélson como

matéria de capa

À custa de aliançasobscuras, a Thyssen Krupptem conseguido atropelar alegislação no cumprimento

das etapas legais para olicenciamento ambiental,que tramitou com uma

pressa altamente suspeita.

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26 Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI 320 Julho/Agosto de 2007

Liberdade de imprensaLiberdade de imprensa

Nos anos 60, durante a ditadura mi-litar, além da luta armada entre os mo-vimentos de guerrilha e as forças doGoverno, uma outra batalha era travadano campo das palavras, envolvendo jor-nalistas e os censores aserviço do regime ditato-rial. Deste combate par-ticipou o atual chefe doDepartamento de Comu-nicação Social da Univer-sidade Federal Flumi-nense, João Batista deAbreu, que conta a histó-ria no livro As manobrasda informação: análiseda cobertura jornalísticada luta armada no Bra-sil — 1965-1979 (EdU-FF/Mauad), que acaba deganhar nova edição.

No livro, João Batistaanalisa em detalhes a cobertura jornalís-tica da imprensa durante o chamadogoverno de exceção, que implantou umarígida censura sobre o noticiário dos jor-nais, em nome da segurança nacional. Olivro aborda o processo de edição das re-portagens sobre a luta armada, as organi-zações clandestinas e os seqüestros dediplomatas estrangeiros.

Estudo de João Batista de Abreu mostra as mudanças então ocorridas:noticiário passou da editoria de Política para a de Polícia.

Como os jornais cobriama luta armada nos anos 60

Por seu didatismo e sua atualidade nocampo dos estudos sobre o Jornalismo,o trabalho é considerado pelo jornalistae professor do curso de Pós-Graduação Ci-ências da Comunicação da Unisinos (RS)

Fausto Neto “um regis-tro muito importantepara os debates voltadospara a constituição eidentidade do campo dacomunicação”.

João Batista de Abreunasceu no Rio de Janei-ro em março de 1954,uma década antes dogolpe militar, e diz no ca-pítulo introdutório quesempre teve interessepelo noticiário dos jor-nais sobre os fatos queocorriam no País e leva-ram à queda do Presiden-

te João Goulart. Mas foi no início dos anos70, aos 18 anos, como repórter da edito-ria de Polícia do Diário de Notícias, a par-tir da familiaridade com o processo de apu-ração, seleção, ordenação e edição do ma-terial jornalístico, que se deu conta de que“os grandes jornais transferiram para aspáginas policiais as matérias referentesà luta armada”.

Além disso, devido à pressão dos cen-sores, palavras começaram a ser substi-tuídas, como tortura, que virou “maus-tratos”. João Batista observa que o noti-ciário político ficou “restrito à retóricaproverbial entre o MDB e a Arena”, lem-brando que essas siglas — produtos do AtoInstitucional nº 2, de outubro de 1965 —foram à época ironizadas como “os par-tidos do sim e do sim, senhor”.

O jornalista destaca também que apóso AI-5, 13 de dezembro de 1968, a mai-oria dos jornais brasileiros aboliu as edi-torias políticas, transferindo os repórte-res para os setores da editoria de Cidade:“Houve até quem buscasse nas paixõesdo futebol o espaço permitido para extra-vasar suas opiniões”, observa.

O leitor vai encontrar na obra análisesobre a objetividade do discurso jornalís-tico e os tipos de intervenção que os mei-os de comunicação exercem na narrativa.Há também críticas à “estreita relação po-lítica entre Estado e imprensa” e ao hábi-to de se “privilegiar as fontes oficiais”.

João Batista trabalhou no Jornal do Brasil,Rádio Jornal do Brasil, TV Educativa, RedeGlobo, Jornal do Commercio e Folha de S.Paulo, sucursal carioca, e é professor doInstituto de Arte e Comunicação Social daUniversidade Federal Fluminense.

Através do Conselheiro Mário AugustoJakobskind, que a respeito apresentoumoção na reunião de agosto do Conse-lho Deliberativo da ABI, a TV Comuni-tária do Rio de Janeiro protestou contrauma cobertura jornalística que ela con-siderou invasão de privacidade e mani-pulação de informação: a cena em que umassessor do Presidente da República,Marco Aurélio Garcia, festejou com umtop, top, top, como classificado no noti-ciário, um fato que isentava o Governode culpa no acidente com o avião do vôo3054 da TAM. Dizia a moção:

“A TV Comunitária do Rio de Janeirovem manifestar seu veemente protestopor um fato lamentável ocorrido emBrasília neste mês de julho de 2007 e quese caracteriza por invasão de privacida-de e manipulação de informação.

Um cidadão brasileiro, integrante doGoverno brasileiro, foi flagrado por umacâmera de tv em seu espaço de trabalho, fatototalmente ilegal e que fere a Constitui-ção da República Federativa do Brasil noCapítulo 1 — Dos direitos e deveres indi-viduais e coletivos, artigo 5, inciso X: ‘sãoinvioláveis a intimidade, a vida privada, ahonra e a imagem das pessoas, asseguradoo direito a indenização pelo dano materialou moral decorrente de sua violação.’

Trata-se de uma ocorrência grave e quemerece o repúdio, sobretudo quando umaemissora de tv de grande audiência ferea liberdade individual em nome de umapretensa liberdade de expressão, comoocorreu neste episódio envolvendo oassessor internacional do Governo Fede-ral, Marco Aurélio Garcia.

Silenciar e aceitar a verdade, verdadeentre aspas, da Rede Globo é abrir umprecedente perigoso que põe em risco averdadeira democracia, que duramente opovo brasileiro conquistou após mais de20 anos de um outro tipo de ditadura.”

TV Comunitárianão gostoudo flagrante

do top, top, top

Marco Aurélio Garcia: seu top, top, topencontrou defensores na TV Comunitária.

O cerco da ditadura à imprensa: censura, condicionamento do noticiário, violência terrorista, como a que atingiu a Tribuna da Imprensa.

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27Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI 320 Julho/Agosto de 2007

A ABI manifestou o seu profundo pesarpelo falecimento de centenas de pessoasno acidente com o avião da TAM que faziao vôo 3054 entre Porto Alegre e São Pauloe expressou sua solidariedade às famíliasenlutadas por essa tragédia, em especialàs famílias do Diretor-Geral e do DiretorComercial do SBT em Porto Alegre, JoãoRoberto Brito e Luiz Pinto, e da jornalis-ta Kátia Escobar, Assessora de Imprensado Sindicato dos Servidores PúblicosAposentados e Pensionistas do Estado doRio Grande do Sul.

Em declaração firmada em 18 de ju-lho, o Presidente da ABI, Maurício Azêdo,assinalou que o desfecho do acidentecausou grande comoção e depressão noconjunto da sociedade, por se seguir, nomesmo dia, à euforia que o povo viviacom o feito dos atletas brasileiros nosJogos Pan-Americanos, com a conquis-ta de duas medalhas de ouro nas com-petições de natação e duas nas de ginás-tica olímpica.

“A ABI considera seu dever — afirmaa declaração — reclamar das autoridadesdo Governo da União uma ação compe-tente na gestão da aviação comercial doPaís, que desde setembro passado, após oacidente com o avião da Gol que matou154 pessoas, está mergulhada numa cri-se agravada pela inércia e desqualificaçãodos dirigentes e agentes públicos encar-

Direitos humanosDireitos humanos

A ABI LAMENTA AS MORTESNO VÔO 3054 DA TAM E RECLAMACOMPETÊNCIA NO SETOR AÉREO

Omissões e desídias disseminam a morte e o luto entre asfamílias brasileiras, afirma declaração da Casa.

Em e-mail à ABI, a mulher do sargento do controle do tráfego aéreoCarlos Trifilio, jornalista Marley Trifilio, denuncia as condições daprisão de 15 dias imposta a ele pelo Comando da Aeronáutica, taiscomo limite de uma visita semanal da família, apenas uma horadiária de banho de sol e refeições feitas no quarto, não no rancho.Diz Marley:“(...) A dura punição cria inquietação não só aos familiares deCarlos Trifilio, como também às dezenas de entidades de DireitoCivil (Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Condep, Comissão deDireitos Humanos da OAB, entre outras), já que na semana passadavárias tentativas de diálogo foram feitas por estas entidades juntoao Comando da Aeronáutica e ao Governo Federal.”“Se é desejo de todos a volta da paz nos céus brasileiros, istopassa necessariamente pelo reinício do diálogo. E é somente paz ediálogo que nós familiares dos punidos pedimos.”

Em ofício encaminhado à AssociaçãoBrasileira de Imprensa, os DeputadosLuciana Genro (PSOL-RS) e Ivan Valen-te (PSOL-SP) reproduziram denúncia doProcurador do Trabalho Fábio de Assis F.Fernandes, que, segundo os parlamenta-res, sofre uma representação junto àCorregedoria-Geral do Ministério Públi-co do Trabalho.

Informaram Luciana Genro e Ivan Va-lente que o Procurador Fábio Fernandes

Quem contesta é intimidado

Esposa de sargento denuncia

regados de resolvê-la. Além de incompe-tência, essas autoridades revelam intole-rância, como a que marca o relacionamen-to do Comando da Aeronáutica com tra-balhadores do controle de vôo e commembros do Ministério Público do Tra-balho que ousam questionar o desempe-nho das autoridades militares com inge-rência nesse campo.

A ABI reclama também do Poder Pú-blico ações transparentes na área da avi-ação comercial, na qual decisões, inves-tigações, planos e projetos são mantidossob sigilo ou objeto de informações frag-mentadas, sem que as autoridades assu-mam de forma clara as responsabilidadesque lhes cabem. Por sua importância navida econômica e sua influência na vidadas pessoas, que não podem ficar expos-tas a morte terrível como a imposta acentenas de patrícios nos vôos da Gol eda TAM, a aviação comercial não pode per-manecer sob a gestão inepta dos quepermitiram que nela se instalem omis-sões, insuficiências e desídias que disse-minam a morte e o luto entre as famíliasbrasileiras. O Presidente da República temsobejos motivos para substituir essesagentes que desde o começo do ano semostram incapazes de livrar o País dochamado caos aéreo e de suas funestasconseqüências, como essas que nos co-brem de dor e tristeza.”

vem atuando pela garantia de condiçõesmínimas de trabalho aos controladoresde vôo. Este seria o motivo da persegui-ção ao Procurador e que “tal representa-ção — transformada em sindicância —não tem qualquer cabimento e possuinítido propósito intimidatório, que pre-judica a atuação do membro que defen-de os trabalhadores”.

Fábio Fernandes diz que sua atuaçãoestá baseada na Constituição Federal e na

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Bombeiros lutamcontra as chamas no

dia da tragédia dovôo 3054, da Tam.

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28 Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI 320 Julho/Agosto de 2007

Por iniciativa do Vereador LeopoldoPaulino (PSB), a Câmara Municipal deRibeirão Preto-SP aprovou Moção de So-lidariedade com as vítimas da ditadu-ra, por motivo do Dia Mundial institu-ído pela Organização das Nações Uni-das. O texto da moção foi encaminha-do à ABI pelo Presidente e pelo 1º Secre-tário da Câmara, Vereadores WandeirSilva e Bertinho Scandiuzzi.

Na proposição, assinalou o VereadorLeopoldo Paulino que o Dia Mundial deSolidariedade às Vítimas de Tortura foicelebrado no dia 26 de junho em ato re-alizado no Auditório Vladimir Herzogdo Sindicato dos Jornalistas Profissio-nais no Estado de São Paulo, por inici-ativa da Comissão Organizadora doPrêmio Vladimir Herzog de DireitosHumanos, pela ABI, pela OAB-SP, pelaComissão Justiça e Paz da Arquidioce-se de São Paulo, pela Federação Nacionaldos Jornalistas, pela Ouvidoria da Polí-cia de São Paulo, pelo Fórum dos PresosPolíticos de São Paulo, pelo Grupo Tor-tura Nunca Mais, pelo Observatório dasViolências Policiais de São Paulo, pelo

Maurício Ferreira da Silva Dias (Maurício Piauí),jornalista, é sócio da ABI.

Parece que o Brasil é o país das tra-gédias. Mas esta da aviação brasileirachegou ao ápice da irresponsabilidadedaqueles que a comandam. Houve aprimeira tragédia – certo? –, não po-deria haver outra. Entrementes, – comodizia o grande Gustavo Corção – con-tinua diuturnamente para tristeza detodo mundo.

Santos Dumont – Alberto, garoto defôlego de gato, pai da aviação, lá do Olímpo,está mesmo chorando; ele que inven-tou o avião, para servir de transporte, ser-vindo ao bem. Homem nascido na Fa-zenda Cabangu, Palmira atual, tinha seteanos quando sua família se estabeleceuem Ribeirão Preto. Dele disse ThomasEdson: “A Santos Dumont, o bandeiran-te dos ares”. O Presidente Campos Salesdeu-lhe uma medalha de ouro e o Con-gresso Nacional ofereceu-lhe um prêmiono valor de 100 contos de Réis.

Que diacho! Estou tomando o lugar donosso inesquecível João Evangelista deSouza, o menino pobre que virou o maiorpesquisador do Brasil. Há uma placa naentrada da Sala de Redação no 11° an-

Santos Dumont choraPOR MAURÍCIO FERREIRA DA SILVA DIAS

Advogado perseguido na BahiaO advogado Carlos Lucena enviou

à ABI denúncia de que autoridades doMunicípio de Prado e de comarcas vi-zinhas “lesam patrimônios e verbas daUnião no assentamento agrário Proje-to Cumuruxatiba (...) e que os crimessão conhecidos pela Justiça Federal deEunápolis, pelo Ministério PúblicoFederal de Ilhéus, pelo Departamentode Polícia Federal de Porto Seguro, pelaOuvidoria Agrária Nacional e peloTribunal de Justiça da Bahia”.

Informou Lucena que vem “sofren-do ilícitas coações, intimidações eameaças dessas mesmas autoridades,sem que as instâncias de segundo grauda Bahia se prestem a coibir tais crimes

ou a defender os interesses do Estado eda sociedade civil e menos ainda da cre-dibilidade da Justiça”.

O advogado conta também que foipreso ilegalmente três vezes, “sem queo juiz autor de tais abusos seja punidoou tenha sua punição pedida pela Or-dem dos Advogados da Bahia”.

Na carta à ABI, o advogado afirmaainda que a OAB-BA não cumpre “seusdeveres institucionais em favor da so-ciedade” e que são “inertes a Subseçãode Itamaraju e de Teixeira de Freitas”.

A ABI encaminhou a denúncia deCarlos Lucena ao Presidente do Conse-lho Federal da Ordem dos Advogadosdo Brasil, Cezar Britto.

Apoio à família Jango na JustiçaPor proposta do Conselheiro Má-

rio Augusto Jakobskind, a Comissãode Defesa da Liberdade de Imprensae Direitos Humanos da ABI manifes-tou seu apoio à pretensão da famíliado ex-Presidente João Goulart de obterdo Governo dos Estados Unidos umaindenização pelos danos que sofreucom o golpe militar de 1º de abril de1964, em face da confissão do ex-Em-baixador Lincoln Gordon de que seupaís não só apoiou como contribuiupara a deposição do Presidente cons-titucional do Brasil:

“Entende a Comissão de Defesa daLiberdade de Imprensa e Direitos Hu-manos que não apenas a família Gou-

Câmara de Ribeirão repudia a torturaGrupo Desarquivando o Brasil e outrasinstituições de defesa dos direitos hu-manos.

“O evento, que faz parte do calendá-rio da Onu” — diz a Moção —, “buscachamar a atenção da sociedade para osofrimento das vítimas de tortura, dassuas famílias e comunidades, além deproporcionar a discussão e a reafirmaçãodo combate e da condenação coletiva datortura e de todos os tipos de tratamen-tos cruéis, desumanos e degradantes.”

“Infelizmente” — acrescenta a Mo-ção —, “sabe-se que a tortura e os atosdesumanos, ainda que inaceitáveis,ainda são muito praticados. Esta ocasiãotambém é uma oportunidade de a so-ciedade renovar o compromisso emdenunciar tais atos e de procurar que sejafeita justiça às vítimas de tortura, de osgovernos interrogarem-se sobre suasações para impedir atos de tortura, pres-tar assistência às vítimas, punir os queos praticam e evitar que se repitam e parahomenagear a todos os que, em todo omundo, aliviam o sofrimento dos sobre-viventes da tortura e das suas famílias.”

lart como todo o povo brasileiro foiprejudicado pelo golpe, que levou oPaís a uma ditadura de mais de 20anos”, diz a moção de Mário Augus-to Jakobskind, que considera que ovalor da indenização deveria ter comobase os gastos que o Tesouro do Bra-sil está tendo para indenizar as víti-mas da ditadura reconhecidas pela Co-missão de Anistia do Ministério daJustiça e por Comissões de DireitosHumanos dos Estados que trataramda questão de vítimas de assassinatosdurante a ditadura.

A ação da família de Jango tramitaem grau de recurso no Superior Tri-bunal de Justiça.

dar da ABI, proposição minha ao Presi-dente Alexandre José Barbosa Lima So-brinho. No momento da colocação, es-tava toda a Diretoria: Barbosa Lima, Edi-tor do jornal na época, os funcionários,Conselheiros, etc. O Alberto Dines, queinventou o nome do programa Pergunteao João, na Rádio JB, não estava no Brasile não pôde comparecer, infelizmente.

Acode-me tornar a dizer que SantosDumont, povo brasileiro, está chorandocopiosamente, por esta grande tragédiada TAM. Agora me vem à mente o pen-samento do grandioso médico e escri-tor, Guimarães Rosa, que disse, certa feita:

“Ninguém morre, fica encantado”.Que esses que pereceram nas tragé-

dias (foram três tragédias ao todo?) fi-quem encantados. ab imo pectore, ouseja do fundo do coração deste velhojornalista, ator/diretor e poeta. O poeta(e é mesmo) Carlos Drummond de An-drade disse que “o sentimento das coi-sas mora longe”. Eu disse que sou po-eta? Sandice de velho-moço: 78 anos,apenas? Arre!!!

Lei Complementar nº 75/93, que impõeque o empregador atue na defesa da saú-de do trabalhador e na higidez do meioambiente do trabalho. Por isso, em 6 dejunho do ano passado instaurou proce-dimento investigatório no que diz res-peito às condições trabalhistas dos con-troladores de vôo.

Diz o Procurador que se cadastrou nogrupo de discussão criado na internet quecongrega esses profissionais visando aconhecer melhor a realidade e as questõestécnicas referentes aos controladores. Emabril, participou de um seminário reali-zado na sede da Procuradoria Regional doTrabalho da 2ª Região.

Entendendo que não cometia qualquerdesvio ético, Fábio Fernandes aceitoupedido de Edith Seligman-Silva, psiquia-tra, sanitarista e doutora em medicinapreventiva pela USP, para divulgar o semi-nário aos controladores. O fato desagra-dou ao Ministro da Aeronáutica, JunitiSaito, que formulou representação con-tra ele, acusando-o de incitar os controla-dores de vôo militares, na Procuradoria-Geral da República. A representação foidistribuída à Procuradoria-Geral do Tra-balho e depois encaminhada à Corregedo-ria-Geral do Ministério Público do Traba-lho, com prazo de 15 dias para Fábio Fer-nandes apresentar sua defesa. O prazo seesgotou no dia 22 de maio.

No documento encaminharado à ABI,os deputados pedem o apoio da entidadepara uma causa que “macula a democra-cia, pois atinge a independência e a liber-dade de investigação em prol da coletivi-dade”. Em resposta ao pedido, a ABI afir-mou que partilha do entendimento dosparlamentares “de que a apresentaçãoformulada contra o Procurador Fábio

Fernandes tem o propósito de intimidá-lo e agride as prerrogativas e o poder deinvestigação do Ministério Público (MP)”.

Além da divulgação da denúncia noSite da ABI, os deputados foram informa-dos de que o ato de violência contra oProcurador Fábio Fernandes será apresen-tado formalmente ao Conselho de Defesados Direitos da Pessoa Humana, órgão doMinistério da Justiça do qual a ABI par-ticipa desde a sua criação, em 1964.

A ABI estima também que, com basena iniciativa dos Deputados Luciana Genroe Ivan Valente, a Comissão de DireitosHumanos da Câmara dos Deputados adoteas medidas necessárias à proteção dosdireitos do Procurador Fábio Fernandescomo membro do Ministério Público.

Durante o Panamericano, atletas brasileiroscomo Fabricio Mafra, medalha de bronze na

competição de levantamento de pesocategoria 105 kg, usaram faixas pretas nos

braços em sinal de luto pelas vítimas doacidente com o avião da TAM.

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Direitos humanosDireitos humanos

Em encontro realizado em 15 de agostona Câmara dos Deputados, por iniciati-va de sua Comissão de Direitos Huma-nos, instituições da sociedade civil de todoo País reclamaram mais pressa e eficiên-cia no cumprimento da legislação deanistia, que está sendo aplicada de formatardia, parcial e escamoteada setorialmen-te, como assinalado na vigorosa declara-ção submetida ao plenário do encontro.

A ABI foi representada na reunião,intitulada 1º Seminário Nacional dosAnistiados e Anistiandos do Brasil, peloVice-Presidente Audálio Dantas, que étambém Presidente da Representação daABI em São Paulo. Participante da mesana sessão de instalação do Seminário,Audálio expôs as questões que a Casaconsidera indispensáveis para a efetiva-ção real da anistia:

1. mais rapidez na apreciação e deci-

Reunidas em Brasília por iniciativa da Comissão de Direitos Humanos da Câmarados Deputados, instituições da sociedade civil reclamam o cumprimento da legislação

de anistia, aplicada de forma tardia, parcial e escamoteada setorialmente.

OOOOOS ANS ANS ANS ANS ANIIIIISSSSSTTTTTIADIADIADIADIADOOOOOSSSSSE ANE ANE ANE ANE ANIIIIISSSSSTTTTTIANIANIANIANIANDDDDDOOOOOSSSSSPPPPPEEEEEDDDDDEEEEEM PM PM PM PM PRRRRREEEEESSSSSSSSSSAAAAA

Precedida de uma epígrafe extraída deuma manifestação do Ministério Públi-co Federal em São Paulo, a declaraçãopolítica do 1º Seminário Nacional dosAnistiados e Anistiandos do Brasil é vaza-da em termos candentes. Diz o documento:

01. “Não existe justiça nem paz emuma sociedade a que se nega o direitointernacional e constitucional à verda-de e à memória; a negativa da verdadeofende a liberdade e a democracia. En-quanto não houver luz sobre todos osfatos históricos brasileiros, não se com-pleta a construção da democracia (Car-ta de São Paulo do Ministério PúblicoFederal em São Paulo)

02. A destruição do adversáriodestruição do adversáriodestruição do adversáriodestruição do adversáriodestruição do adversário pelatortura e mortetortura e mortetortura e mortetortura e mortetortura e morte tem na sua origem amais primeva manifestação troglodita dohomem. Só o homem que ainda não foibafejado pela idéia de civilização e con-vívio harmônico é que defende a aniqui-lação de seu semelhante pela simples razãode pensar diferente, reação que deveriaser atribuída somente ao desequilíbrio.

03. Os anos obscuros do regime militarforam expoentes na tentativa de destrui-ção de todo cidadão que não servia ou

09. A trajetória de forjar o esquecimen-to dos fatos históricos, para fugir à com-posição de conflitos passados, tambémestimula a violência, que aumenta a cri-minalidade reveladora da idéia de um Es-tado não-transparente, que favorece acorrupção e ratifica a desigualdade soci-al, pois demonstra que nem todos sãoiguais perante a lei.

10. E assim continuará sendo enquantonão forem reformulados os currículos dasescolas de formação de integrantes dosórgãos de segurança, dando a eles ensinohumanitário, de sociologia, de direitoconstitucional, cidadania. Todo ser hu-mano primeiro tem que ser cidadão paradepois ser militar ou policial. Pergunta-se: Não estará aqui a razão da falta deinteresse para o aparelhamento e moderni-zação das Forças Armadas? Estas institui-ções geralmente são orgulho em outros paísese aqui não estarão sendo tidas como peri-gosas à sociedade civil?

11. Certos agentes do Estado cumpri-ram parcamente a Lei 6.683/79 (excetopara os golpistas e torturadores), comimensas dificuldades a Emenda Consti-tucional 26/85 e reagiram ao cumprimen-to do artigo 8º do Ato das DisposiçõesConstitucionais Transitórias da Consti-tuição Federal de 1988 e ainda reagem àaplicação da Lei 10.559/02;

12. Os anistiados políticos hoje são aindatratados como inimigos daquele Estadoestabelecido pela força, e ainda serão en-quanto não for mudada a filosofia daAdministração da República, que mesmosobrepujando resistências continuamanistiados, e do Estado, sob ameaça de es-pada sobre a cabeça. Estamos rotineiramen-te a ver nas manifestações pela imprensaos saudosistas matadores nos porões da di-tadura se refestelarem e fazerem ameaçaà democracia e ao Governo.

13. Outros países já estão na segundaetapa. O Brasil ainda esconde sua histó-ria de terror em benefício de quem? Paraacobertar os horrores dos interessesamericanos? Ou para esconder os crimi-nosos nacionais?

14. O Estado tem prometido abrir suahistória, mas não cumpre, é conivente.Isso tem atrasado a consolidação da de-mocracia no Brasil, tem impedido o se-pultamento político da ditadura e a cri-ação de instrumentos sólidos contra ogolpismo, as conspirações e provocaçõesautoritárias. Por conta desse artifício ospoderes constituídos, manobrados, nãocensuram nem punem provocações dealtas patentes e da aristocracia militar, queprotagonizou a ditadura, e fazem janta-res de confraternização e desagravo atorturadores de suas fileiras, e renegamou procuram desqualificar os julgamen-tos da Comissão de Anistia.

15. Assim, a aplicação das leis de anis-tia está sendo tardia, parcial e escamo-teada setorialmente. Já avançamos nes-te Governo, mas poucos têm a noção realdo trabalho que vimos tendo para alcan-çar os objetivos. O Estado, que deveriaestar sendo empregado em benefício detodos, está tendo prejuízos em funçãode ter sido mal usado. Onde quer que oEstado totalitário tenha se manifestadopela bota do ditador, aí tem que haver

são dos processos em tramitação naComissão de Anistia do Ministério daJustiça, pois seus requerentes estão já com70, 80 e 90 anos e precisam receber essareparação em vida;

2. a adoção dessa rapidez nos proces-sos de jornalistas, que são depois dosmilitares o segmento profissional quemais agressões e danos sofreu durante aditadura;

3. a abertura dos arquivos da repressãoe especialmente dos arquivos militares,para que se conheçam em toda a suaextensão os horrores cometidos peladitadura e particularmente sobre os ca-sos dos desaparecidos, como os jornalis-tas Orlando Bonfim, Jaime de AmorimMiranda e Mário Alves e os mortos naGuerrilha do Araguaia.

Após o Seminário, a ABI divulgou emseu Site (www.abi.org.br) um comuni-

cado dirigido aos jornalistas, sejam seusassociados ou não, para que indiquem onúmero do processo de seu interessependente de decisão da Comissão deAnistia. De posse desse levantamento, épropósito da Casa solicitar uma audiên-cia ao novo Presidente da Comissão deAnistia, jurista Paulo Abrão, para pleite-ar apressamento na decisão desses reque-rimentos.

Aqui, o Jornal da ABI publica o docu-mento aprovado no 1º Seminário Nacio-nal dos Anistiados e Anistiandos do Bra-sil, apresentado em três partes: a decla-ração política do encontro; a íntegra dalista de proposições submetidas às auto-ridades presentes ao Seminário e ao Po-der Executivo; a exortação final de agra-decimento aos congressistas e o reconhe-cimento da “boa vontade do Executivono avanço do cumprimento da lei”.

“Os anistiados ainda são tratados como inimigos”poderia não servir às elites econômicasnacionais que eram, e são, irmãs dos ca-pitais internacionais que dão exemplarapoio na guerra de aniquilação das inten-ções democráticas, populares e nacionaisda década, as quais se propunham redis-tribuir as riquezas produzidas pela Na-ção e seriam prejudiciais às minoriasdominantes.

04. Entendemos que a simples repara-ção econômica não recompõe a integra-lidade do direito fundamental violado e,quando aplicada isoladamente, desqua-lifica esse direito e aprofunda a violaçãodo direito à verdade e à memória.

05. A violação do direito à verdade e àmemória produz a tolerância de grandeparte da sociedade a crimes graves comoa corrupção, aumento da violência e datortura, assim como a alienação dos meiosde comunicação e das instituições daJustiça brasileira, na função essencial doEstado de administrar a Justiça.

06. As leis ficam à mercê da boa von-tade de alguns dos Agentes do Estado emcumpri-las ou não sob exigências que elesinterpretam. Buscam com lupa as entre-

linhas para postergar a concessão debenefícios, ideologizados pelos centrosque os preparam para a carreira, com afilosofia da ditadura ainda hoje intacta.

07. Procrastinam, chancelam, acober-tam e defendem as entregas do País apotências estrangeiras e, por um viés decegueira, chancelam as mortes sumári-as ou sob tortura (vide Élio Gaspari), dãoguarida às desaparições, que ainda hojesão escamoteadas ou simplesmente escon-didas. Isto é, defendem esclerosadamen-te o terrorismo de Estadoterrorismo de Estadoterrorismo de Estadoterrorismo de Estadoterrorismo de Estado vivido numaépoca servil do passado, para satisfação deinteresses dos grupos econômicos inter-nacionais.

08. A ditadura montou uma engrena-gem de formação social, intelectual e deopinião pública para justificar seus atos.Assim, as escolas e centros de formaçãoda máquina repressora aí existente ins-truem seus agentes para tratar os adver-sários de ontem e os criminosos de onteme de hoje, todos igualados. desumana,discricionária e ilegalmente, como sefossem inimigos humanos, inimigosdaquela sociedade brasileira que elesvêem, que pensam ser apenas deles.

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Direitos humanosDireitos humanos

A extensa e minuciosa lista de reivin-dicações formuladas no Seminário con-tém os itens a seguir, numerados com al-garismos romanos.

18. “O Estado brasileiro tem que darmostras de sua maturidade em defesa dasociedade e do povo deste país tão explo-rado. Assim sendo, as representações deentidades que trabalham pelo cumprimen-to das leis de anistia e reparações propug-nam às autoridades e ao Executivo:

I não à alteração da Lei de Anistia 10.559/02 sustentada pelo artigo 8º do Ato das Dis-posições Constitucionais Transitórias;

II incluir na rubrica de pagamento daPMPC os anistiados do setor privado;

III que o Executivo tome as medidasnecessárias para abertura dos arquivos edocumentos do período discricionáriocom duplo objetivo de esclarecer a His-tória do País e de fornecer dados às famí-lias dos mortos e desaparecidos;

IV ação concreta dos Poderes Execu-tivo, Legislativo e Judiciário que estabe-leça claramente a distinção entre a legis-

VII que sejam analisados pedidos deanistiandos, interpretando os fatos e suaépoca, e as intervenções do Estado ditato-rial que não permitia recursos e defesas;

VIII o atraso no cumprimento do Ter-mo de Adesão no Ministério da Defesa in-viabilizou a assinatura pelas viúvas dosmilitares;

IX das viúvas pensionistas de anisti-ados os órgãos militares estão descontan-do Imposto de Renda, contrariando o quedizem a lei e o decreto;

X que o Executivo tenha em vista asnecessidades de verbas para atender os anis-tiados, independentemente de especifi-cações setoriais, já que a Lei de Anistia de-termina o Estado reparar sem distinção(verba de indenização não pode ser ver-ba de custeio);

XI as atualizações das indenizaçõesdevem ser automáticas, como prevê a lei;

XII que o Executivo não se interpo-nha aos trabalhos da Justiça nos proces-sos aos torturadores e matadores de pre-sos políticos, já que o País é signatário detratados contra os crimes de tortura ecrimes de lesa-humanidade;

XIII cabos da Aeronáutica já anistiadosestão encontrando dificuldades para assi-nar seus Termos de Adesão junto à Dirint-Diretoria de Intendência da Aeronáutica(Portaria 1.103), alegando sempre que existeduplicidade de pagamentos. Entretanto,não diz como e com quem resolver. No casodo Tribunal de Contas da União-TCU, ondeexistem mais de mil processos parados,dizem que aproximadamente trezentos des-tes estão irregulares, mas não dizem quaissão as irregularidades;

XIV a constituição de uma Comis-são da Verdade, na forma como já existeem todos os países latino-americanos(abertura dos arquivos);

XV definição da situação dos cabos daAeronáutica atingidos pela Portaria 1.104;

XVI criar uma subcomissão de anistiana Comissão de DireitosHumanos para participa-ção das associações de anis-tiados e anistiandos;

XVII marinheiros so-frem discriminação porserem anistiados políticose assim não possuem direi-tos atribuídos aos outrosmilitares em atividade oureformados normalmen-te, embora nesses casos deanistiados políticos, deacordo com a Lei 10.559/02, possuam garantias dedireitos baseados no Esta-tuto dos Militares (Parecerda AGU JD1, que reforçaa Lei 10.559/02);

O pleno cumprimentoda Lei 10.559/02, principal-mente nos artigos:

Art. 1º, inciso V:“reintegração dos servi-

dores públicos civis e mi-

alguma forma de reparação ou então oatual Estado está fomentando ou justi-ficando o arbítrio de então.

16. Por esta razão muito especial osaçambarcadores do Estado de Direitodeveriam ser exemplarmente punidos.Estas pessoas, iguais aos que cometemcrimes de guerra, genocídios ou lesa-humanidade, não podem ser dispensadasdas responsabilidades, porque crimino-sos conscientes, criminosos com a cons-ciência de estarem cometendo o crimepelo abuso do poder momentâneo quedetinham. Teriam eles que repor ao Es-tado os prejuízos causados. Teriam quecobrir os gastos de indenizações e outros

“Decisões do Ministro da Justiça devemser cumpridas sem subterfúgios”

A exortação final da manifestação doSeminário registra a importância daCâmara dos Deputados para a instituiçãoe efetivação da anistia. Eis seu texto:

19. “Os representantes das enti-representantes das enti-representantes das enti-representantes das enti-representantes das enti-dadesdadesdadesdadesdades, na oportunidade, expressam, pelopresente documento, o reconhecimentoe agradecimento aos congressistas, espe-cialmente à Comissão de Direitos Huma-nos da Câmara, à Comissão de Trabalhoe Serviço Público, e parlamentares solidá-rios, pela constante acolhida e coberturadas reivindicações através dos tempos. Nãofosse a acolhida da Casa do Povo, a anistiaseria letra morta. Recebam nosso reconhe-cimento e agradecimento.

Reconhecem, também, publicamen-te, a boa vontade do Executivo no avan-ço do cumprimento da lei.

Brasília, 15 de agosto de 2007.”

resultantes de suas ações. Ou indeniza-riam o Estado pelo seu mal ou teriam queser processados.

17.A Lei de Anistia nº 6.683/79, talcomo foi aprovada, não se presta paraanistiar os crimes praticados por agentesdo Estado, pois delitos como seqüestro,tortura, mortes e desaparecimentos deopositores ao regime não podem serchamados de crimes políticos, conexosou vinculados a estes. Os crimes de tor-tura e desaparecimento forçado de pes-soas devem ser qualificados como crimescontra a Humanidade e imprescritíveis,conforme jurisprudência das cortes in-ternacionais de Direitos Humanos.”

lação sobre a anistia política no Brasil ea imprescritibilidade dos crimes come-tidos pelos agentes do Estado contra oEstado de Direito Democrático e os Di-reitos da Pessoa Humana, cumprindo ostratados internacionais;

V se faça cumprir as leis de anistia nosprazos compatíveis para que os prejudi-cados se beneficiem. Há processos commais de dez anos sem julgamento e maisde dois mil recursos ou revisões de errosinternos estagnados;

VI os órgãos do Executivo cumpramsem subterfúgios as decisões do SenhorMinistro da Justiça, designado peloCongresso o executor da Lei 10.559/02;questionamentos burocráticos por outrosórgãos têm por fim o retardamento do seucumprimento e a manutenção da pena.OExército retardou a expedição da Porta-ria de Instrução (848/06) interna e comisso está acarretando o atraso de pagamen-tos do Termo de Adesão à Lei 11.354/06em um ano. Uma proposta de acordolegalizada em junho/06 (MP 300), commanifestações explícitas e imediatas deadesão dos interessados, ainda não estásendo cumprida após um ano, repetimos; “Não fosse a acolhida

da Câmara, a anistiaseria letra morta”

litares e dos empregados públicos puni-dos por interrupção de atividade profis-sional em decorrência de decisão dostrabalhadores, por adesão a greve emserviço público e em atividades essenci-ais de interesse da Segurança Nacional pormotivo político”;

Art. 2º, inciso VI:“punidos, demitidos ou compelidos ao

afastamento das atividades remuneradasque exerciam, bem como impedidos deexercer atividades profissionais em vir-tude de pressões ostensivas ou expedien-tes oficiais sigilosos, sendo trabalhado-res do setor privado ou dirigentes e repre-sentantes sindicais, nos termos do pará-grafo 2º do artigo 8º do Ato das Disposi-ções Constitucionais Transitórias”;

Art. 2º, inciso XI:“desligados, licenciados, expulsos ou

de qualquer forma compelidos ao afas-tamento de suas atividades remuneradas,ainda que com fundamento na legisla-ção comum ou decorrentes de expedien-tes oficiais sigilosos”;

XVIII Moção à Câmara dos Deputa-dos e ao Tribunal de Contas da União;

XIX Os anistiados políticos da Mari-nha estão prejudicados no pagamento dosvalores retroativos.

XX Determinar ao INSS que revoguea Instrução Normativa nº 17, de 9 de abrilde 2007, em seu artigo 588, parágrafo 2º,que estabelece que o anistiado político comfundamento em certidão da Comissão deAnistia e da Lei 10.559/02, poderá utilizara Contagem de Tempo certificada, desdeque devidamente indenizado, isto é, reco-lhendo contribuição PREVIDENCIÁRIApelo tempo que esteve fora de atividade,o que contraria frontalmente o art. 1º,inciso III, da Lei, que estabelece que a Con-tagem de Tempo concedida ao anistiadoé para todos os efeitos, vedada a cobrançade contribuição previdenciária.”

Casa cheia no Auditório Nereu Ramos: a sociedade civil atendeu em massa ao convite da Comissão de Direitos

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VidasVidas

Houve coincidência na reação dosprincipais jornais do Rio e de SãoPaulo diante do passamento de

Joel Silveira – Joel Magno Ribeiro Silveira,como lembrou numa crônica o jornalis-ta e escritor Carlos Heitor Cony —, ocor-rido em l5 de agosto: além da tristeza cau-sada pelo desaparecimento da excepcio-nal figura humana que ele era, o jorna-lismo brasileiro perdeu uma de suasmaiores expressões dos séculos 20 e 2l. Àdefinição dos jornalistas e acadêmicosArnaldo Niskier e Cícero Sandroni, de queJoel foi o maior repórter brasileiro, reco-nhecimento também feito por O Globoem manchete interna de seis colunas (JoelSilveira, o maior repórter doBrasil, 88), Vi-llas-Bôas Corrêa fez um acréscimo queconferiu ainda maior realce à qualifica-ção dada a este sergipano irreverente, caús-tico e extremamente sensível que embar-cou no navio Itanagé no dia 5 de feverei-ro de 1937 e, após “preguiçosa viagem”,chegou ao Rio somente oito dias depoispara iniciar uma trajetória profissionallonga e fecunda.

“A morte esperada de Joel Silveiramereceu de jornais e redes de TV o des-

JoelSilveira

Este sergipanoirreverente, caústico

e tambémextremamente sensívelproduziu algumas das

mais brilhantesreportagens

publicadas naimprensa brasileira

e deu ao textojornalístico um

refinamento vizinhoda literatura.

POR MAURÍCIO AZÊDO

1918-2OO7

O MAIOR, O MAIS COMPLETO REPÓRTER DO BRASIL

Enquanto a visãopermitiu, Joel nãoparou de escrever;nos últimos anos,

lançou um livroatrás do outro.

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taque justo e o reconhecimento unâni-me de que o sergipano sem papas na lín-gua foi o maior, o mais completo repór-ter do Brasil pelo conjunto de singularesqualidades”, disse Villas-Bôas nos doistópicos finais da crônica política que fezdias após a morte de Joel (A Voz da Serra,Nova Friburgo,18 a 20 de agosto de 2007,página 8) . No “simples registro da despe-dida do amigo — disse ainda Villas —, aevidência de uma vida plenamente rea-lizada. Joel considerava o livro de memóriaNa fogueira, de 1988, como o de sua pre-ferência. Vale a sugestão da releitura.”

O destaque referido por Villas foi vi-sível especialmente em O Globo, Folha deS. Paulo e O Estado de S. Paulo, que abri-ram espaço compatível com a dimensãoque Joel teve no jornalismo do País.Embora não tenha chamado o assunto naprimeira página, provavelmente porinjunções de ordem industrial impostasao cronograma de fechamento da edição,a Folha foi o jornal que abriu mais espa-ço para o registro da morte de Joel e ahomenagem a ele devida. Praticamentetoda a página A8 da edição de l6 de agostofoi dedicada ao assunto, apresentado emuma manchete de alto de página em seiscolunas, isto é, a largura do jornal.

Jornalista e escritor Joel Silveira morre aos88, dizia o título, sobre uma foto de Joelcom as mãos sobre a bengala, numa poseque a repórter-fotográfica Bel Pedrosa fixouem 4 de setembro de 2003. Mesmo ceden-do espaço a alguns anúncios, um de trêscolunas em meia página, um comunica-do ao mercado de uma empresa local, emduas colunas por três centímetros de al-tura, e um da própria Folha ocupando duascolunas por dez centímetros, e a notíciaem uma coluna por 13 centímetros dealtura sobre a ratificação do nome do ex-Prefeito Luiz Paulo Conde para a presidên-cia da estatal Centrais Elétricas de Furnas,o jornal deu largo espaço à trajetória de Joel,suficiente para registrar em corpo maisdestacado oito excertos de depoimentosdele, entre os quais o conselho-advertên-cia que ouviu do jornalista Assis Chateau-briand, proprietário dos Diários Associa-dos, quando este o contratou para cobrircomo correspondente de guerra a campa-nha da Força Expedicionária Brasileira-Febna Itália:

— Seu Silveira, o senhor vai para a guer-ra. Mas me faça um favor. Não morra.Repórter não vai para a guerra para morrer.Vai para mandar notícia.

A Folha divulgou aspectos pouco co-nhecidos da carreira de Joel, como aobservação feita pelo poeta Manuel Ban-deira acerca de seu estilo (“uma punha-lada que só dói quando a ferida esfrita”),sua prisão após a decretação do Ato Insti-tucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968,quando ele dirigia o jornal O Paiz, e as duasvezes em que concorreu a uma cadeirada Academia Brasileira de Letras, uma em2000, outra em 200l, quando disputou avaga de Jorge Amado com sua viúva, ZéliaGattai, e foi derrotado por 36 votos a um.

Em sua coluna na página 2, Carlos Hei-tor Cony reproduziu em homenagem aoamigo e companheiro de redação na BlochEditores a crônica Um pouco do Joel, pu-

blicada na revista Manchete em agostode 1998, quando Joel ganhou o PrêmioMachado de Assis pelo conjunto da obra.

Mais audacioso na linha de titu-lação foi O Globo, que compen-sou a magra chamada da pri-

meira página, feita em quatro linhas de28 toques cada sob a indicação da seçãoObituário (que palavra!, como reclamaHélio Fernandes), com a manchete de seiscolunas na página 21: Joel Silveira, o maiorrepórter do Brasil, 88. O Globo dedi-coumais da metade superior dessa página aoassunto, valorizado pela publicação deuma foto feita em 2000 pela repórter-fotográfica Camilla Maia, em que Joelaparece em duas colunas de 17 centíme-tros de altura de boné e na indefectívelpose das duas mãos sobre a Bengala. Aolado, discreta, em duas colunas e comcinco centímetros de altura,uma foto dearquivo de Joel na campanha da Itália aolado do repórter Egydio Squeff, que tam-bém cobriu a guerra, como enviado de OGlobo. Ambas as fotos em preto-e-bran-co, que, como disse o diretor norte-ame-ricano Martin Scorsese sobre o cinema,ainda não esgotou todas as suas potenci-alidades estéticas.

Com chamada de primeira página emuma coluna e o título Joel Silveira morreno Rio aos 88 anos, O Estado de S. Paulo

abriu uma página ímpar, tal como fezO Globo, para a manchete de seis colu-nas intitulada Morre no Rio a “víbora” JoelSilveira e, cobrindo quase toda a meta-de superior, para o texto assinado pelosrepórteres Roberta Pennafort e UbiratanBrasil, que lembram a razão desse títu-lo, exposta por Joel ao Estadão quandofoi lançada a reedição pela Companhiadas Letras de seu livro de reportagens AMilésima Segunda Noite da Avenida Pau-lista. O volume incluía a reportagemGrã-Finos em São Paulo, publicada em1943 no jornal Diretrizes, de SamuelWainer, em que, lembram Roberta eUbiratan, “ele apresentava sua impres-são do high-society paulistano em umanarrativa irônica e debochada”. ContouJoel 60 anos depois:

“Foi nessa época que ganhei o apelidode víbora, dado pelo Assis Chateaubriand”.

O Estado deu destaque, publicando-aem três colunas, no alto da matéria, a umafoto feita em 25 de agosto de 2005 pelorepórter-fotográfico Tasso Marcelo. Joelaparece com uma exuberante blusa ver-melha, tendo ao fundo sua imagem, comcapacete militar, durante a campanha daItália. Distribuída pela Agência Estado,essa foto, talvez uma das últimas ou aúltima para a qual Joel posou, seria pu-blicada também nas matérias do Jornalda Tarde, de São Paulo, e de O Dia, do Rio.

O Jornal da Tarde dedicou metade dapágina 3C do caderno JT Variedades paraa reportagem intitulada Morreu umaparte do jornalismo, em que a repórter IvyFarias demonstra que as grandes maté-rias não são necessariamente matériasgrandes: com apenas cerca de 120 linhasde 33 toques ou dígitos, Ivy Farias re-produz a trajetória de Joel, que aparecenovamente, na fotografia destacada,com a sua blusa vermelha e, ao fundo,seu retrato com uniforme militar de cor-respondente de guerra, agora visível nobusto, e não apenas no capacete. Ivy Fariasouviu também jornalistas cujas fotosilustram seu texto: José Hamiltom Ri-beiro, Ruy Castro, apresentado só comoescritor na legenda, e o autor deste tex-to. Um dos entrevistados, Geneton Mo-raes Neto, jornalista e diretor do progra-ma Fantástico, parceiro de Joel em al-gumas obras, reproduziu para Ivy oepitáfio que, com ironia, Joel imagina-va para o seu túmulo:

“Aqui jaz um desafortunado que, emvida, não conseguiu ler Guerra e Paz nooriginal.”

Com chamada na primeira página(Morre Joel Silveira, 88 anos, escritor ejornalista que cobriu a 2a. Guerra), O Diadedicou a Joel a manchete do alto dapágina 07, em seis colunas, sob o títuloAdeus a um ícone do jornalismo. Sobre otexto de tamanho econômico mas cominformações essenciais sobre o grandemorto, está a foto de Tasso Marcelo: Joelcom sua camisa vermelha, agora distan-te da foto do tempo da guerra e sem as mãossobre a bengala.

O mais avaro na cobertura da mortede Joel foi o Jornal do Brasil, que estam-pou a notícia em pouco mais de um quar-to da página 14 da seção Cidade, tendoabaixo da indicação Obituário – Joel Sil-veira, 1919-2007, com erro de nascimentoquanto ao ano de nascimento dele, o títuloJornalista e escritor várias vezes premiadosobre uma foto preto-e-branco de Joel deboné e uma blusa que não é aquela ver-melha. O que salva a face do JB em rela-ção a Joel é a abertura da crônica de FaustoWolff na edição do dia 18 de agosto, emque ele fala da emoção causada pela mortedo amigo. Diz Fausto Wolff:

“Eu já havia terminado o artigo de hojequando me deram uma notícia que teveo efeito de um soco no peito. Com a mor-te de Joel Silveira, o Brasil ficou mais burroe mais triste. Lembram-se de que há al-guns dias disse aqui que, quando morre-rem uns 60 homens extraordinários, ospatifes poderão também comemorar amorte da cultura brasileira? Um desses50 era Joel, meu grande mestre, queimprimia um espírito de missão a seuofício e a seu estilo.

“Companheiro de Rubem Braga naFeb,como correspondente, Joel escreviatão bem quanto o Sabiá da Crônica, mas,se era menos doce, era melhor repórter.Minha admiração e amizade por essehomem eram tão grandes que no meu maisrecente romance – Olympia, já em todasas livrarias – o personagem central é umjornalista chamado Joel. Meus pêsames,dona Iracema. Meus pêsames, Brasil.”

O PESAR DA ABIA ABI dirigiu à filha de Joel, Elizabete Silveira, esta mensagem de pesar:“Em nome da Diretoria da ABI e em meu nome pessoal, peço-lhe que aceitenosso abraço de conforto neste momento doloroso da perda do nossoinesquecível Joel Silveira, que marcou sua passagem entre nós pelasensibilidade na captação do humano, pela competência profissional e pelaadesão a valores como ética, a honradez e a esperança de um mundo melhor.(a) Maurício Azêdo, Presidente das ABI.”

Tarimbado no ofício em que começou muito jovem, Joel tinhamemória extraordinária e só anotava números que exigiam precisão.

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VidasVidas

Joel Silveira morreu de causas naturaisna manhã do dia 15, em sua casa emCopacabana, na Zona Sul do Rio. Com

mais de 60 anos de carreira e cerca de 40 livrospublicados, o sergipano foi pracinha e cor-respondente na Segunda Guerra Mundi-al pela divisão da Força Expedicionária Bra-sileira-Feb. Trabalhou em diversos jornaisdo País, como os do grupo Diários Associ-ados, a Última Hora, o Estadão e o Correioda Manhã e a revista Manchete.

Portador da carteira nº 4077 da ABI,Joel associou-se à Casa do Jornalista em1952, quando era Diretor do Diário deNotícias, referendado por Rubem Braga.Ficou conhecido por ser um dos precur-sores do jornalismo literário e da cober-tura de guerra no País. Na primeira metadedo século passado, ganhou o apelido de“Víbora”, por conta da reportagem “Eramassim os grã-finos em São Paulo”, que foipublicada na revista Diretrizes e desagra-dou profundamente à elite paulistana. Re-cheado de críticas ao comportamento da-quela burguesia emergente, o texto con-sagrou o jovem repórter, que deixara seuEstado natal para se estabelecer definiti-vamente no Rio de Janeiro.

Como repórter dos Diários Associados,Joel cobriu os mais importantes episódi-os da História do Brasil no século XX e tevea oportunidade de conhecer praticamen-te todos os presidentes do período ante-rior ao golpe militar de 1964. EnfrentouGetúlio Vargas no Palácio do Catete,conviveu na Câmara com o então Depu-tado Juscelino Kubitschek e foi compa-nheiro de copo de Jânio Quadros. Comocorrespondente, cobriu a II GuerraMundial ao lado dos jornalistas RubemBraga, do Diário Carioca, Egydio Squeff,de O Globo, Tassylo Sampaio Mitke, fo-tógrafo da Agência Nacional. Boa partede suas reportagens está registrada nosarquivos dos jornais e em dezenas de livroslançados ao longo da carreira.

Poucos meses antes do suicídio deGetúlio, e com a desculpa de conseguirum emprego, Joel mentiu ao então Chefeda Casa Civil, Lourival Fontes, para con-seguir uma entrevista com o Presidente,que não queria atender a imprensa. Porse tratar de um pedido de emprego, Ge-túlio recebeu o repórter e disse: “Oi,doutor Silveira, que prazer.” Ele esclare-ceu que não era doutor, pois só estudaraaté o segundo ano de Direito, mas o Pre-sidente retrucou: “Não, doutor é quemé douto em alguma coisa e o senhor édouto em jornalismo.” Eles riram e Sil-veira conseguiu a entrevista.

Joel teve profunda admiração por JânioQuadros. Conviveu intimamente comele; viajaram e beberam juntos. No livro“Viagem com o Presidente eleito”, o jorna-lista conta os dias que passaram numnavio, logo depois da eleição. Com JK,teve convivência fraterna: dividiram até

A trajetória invejável: 60 anos de carreira, 40 livros publicadosPOR JOSÉ REINALDO MARQUES uma namorada, a Osmarina, que fora

secretária do então Deputado e que umdia Joel levou em casa, tarde da noite, apedido de Juscelino. Anos depois, já Pre-sidente, ele perguntou: “Como vai a nossaOsmarina?” “Nossa não, senhor Presiden-te. Minha”, respondeu o jornalista. Es-querdista, Joel era fã do sindicalista Lula,mas crítico do Presidente. E não acredi-tava que o petista pudesse se reeleger em2006. Nos últimos anos de vida, perdeua visão e acompanhava o noticiário pormeio da leitura diária dos jornais feita porsua filha, Elizabete.

Com toda uma vida dedicada ao jor-nalismo, Joel ganhou diversos prêmios,como o Machado de Assis de Conjuntoda Obra, o mais importante concedidopela Academia Brasileira de Letras, e tam-bém o Líbero Badaró, o Esso Especial, oJabuti e o Golfinho deOuro.

O corpo de Joel foi cremado no diaseguinte no Memorial do Carmo, noCaju, no Rio.

A OBRATTTTTEXTOSEXTOSEXTOSEXTOSEXTOS JORNALÍSTICOSJORNALÍSTICOSJORNALÍSTICOSJORNALÍSTICOSJORNALÍSTICOS

“O inverno da guerra” (Objetiva, 2005)“Diário do último dinossauro” (Travessa dos Editores, 2004)

“A feijoada que derrubou o Governo” (Companhia das Letras, 2004)“A milésima segunda noite da Avenida Paulista” (Companhia das Letras, 2003)

“Memórias de alegria” (Mauad, 2001)“A camisa do senador” (Mauad, 2000)

“Na fogueiras - Memórias” (Mauad, 1998)“Viagem com o Presidente eleito” (Mauad, 1996)

“Nitroglicerina pura” (Record, 1996), em co-autoria com Geneton Moraes Neto“II Guerra: momentos críticos” (Mauad, 1995)

“Guerrilha noturna” (Record, 1994)“Tempo de contar” (José Olympio, 1993)

“Conspiração na madrugada” (José Olympio, 1993)“Presidente no jardim” (Record, 1991)

“Segunda Guerra Mundial” (Espaço e Tempo, 1989)“O pacto maldito” (Record, 1989)

“Você nunca será um deles” (Record, 1988)“A luta dos pracinhas” (Record, 1983), em co-autoria com Tássylo e Mitke

FFFFFICÇÃOICÇÃOICÇÃOICÇÃOICÇÃO“Os melhores contos de Joel Silveira” (Global, 1998)

“Não foi o que você pediu?” (José Olympio, 1991)“O dia em que o leão morreu” (Record, 1986)

“Dias de luto” (Record, 1985)

Tel Aviv -Soube há minutos damorte de Joel Silveira, sem dúvidaum repórter de texto e talento ini-

gualáveis. Eu o conheci quando era con-tínuo, faxineiro e ajudante na distribui-ção de Diretrizes, revista mensal de SamuelWainer. A publicação era ponto de encon-tro e apoio da jovem intelectualidade deoposição ao Governo Vargas na fase di-tatorial. Lá vinham Rubem Braga, JorgeAmado, Dorival Caymmi, Dalcídio Ju-randir, muitos outros. Faz muito tempo.Vivia-se de vales. Mas o pessoal tinha bomcoração. Mandavam-me comprar cigar-ros e me davam gorjetas que eu guarda-va para ter para um cinema no fim de se-mana e almoço reforçado no Reis, restau-rante que matou a fome de muitos da-queles que viriam a ganhar fama. Nun-ca consegui ir ao cinema. Na sexta Joelou Braga me pediam a poupança empres-tada para tomar uma média com uma ca-noa, pão sem miolo. Nunca recusei. Eramgente muito especial. Dizem que Joelmorreu de câncer que se recusou a tratar.O Rubem Braga fez isto anos antes. Eramgente nascida para sorver a vida até a ul-tima gota. Nada de falsas expectativas.

Hoje reli crônica do Heitor Cony sobreJoel lembrando um clássico da reporta-gem brasileira, Os Grã-Finos de São Pau-lo, sobre como viviam as novas-ricas dacapital paulista. Joel praticava o que osnorte-americanos, quando passaram a es-crever na mesma linha, chamaram denovo jornalismo. Os norte-americanosficaram multimilionários. Claro que nãoos brasileiros. Lembro de outras do Joel,como aquela que teve o titulo de Osimortais da Glória, sobre a AcademiaBrasileira de Letras. Como ele era conhe-cido, me encarregou de fazer umas per-guntas aos acadêmicos dando meu nomecomo sendo Nelson Rodrigues Sobrinho.Tal era minha ignorância que nem sabia

que se tratava de jornalista e escritor queviria a ser dos maiores autores teatrais doPaís. Lembro de receber de cada acadêmi-co livros dedicados ao “brilhante intelec-tual patrício”. Era o que Joel queria. Comogozou os acadêmicos.

Decidiu que talvez desse para a profis-são. E me encaminhou a Brício de Abreu,que mantinha um semanário literário,Dom Casmurro, que só pagava colabora-dor quando podia, isto é, raramente.Escrevi um texto que levaria zero emqualquer escola primária entrevistando,por sugestão de Joel, o critico literário deO Globo, Eloy Pontes, sobre o novo criti-co do melhor matutino da época, o Cor-reio da Manhã. Eloy disse que se tratava“de um pobre coitado de enciclopédicaignorância”. Foi a única frase válida e bo-tou meu nome na boca dos intelectuais.O Rio era uma província e cidade mara-vilhosa. O começo foi minha perdição.Mudei de caminho. Joel, que me chama-va de “foca zero”, foi me ensinando, ou,na linguagem da época, domando o foca.Braga e Joel eram inseparáveis. Foram osdois à guerra acompanhando a tropabrasileira, a Feb. Não davam notícias, es-creviam do lado humano, do pracinha.Levavam o leitor ao campo de batalha coma arte com a qual escreviam. Faziam rire chorar. Que talentos ambos. Joel com-partilhava tudo. Não sabia o significadode mesquinhoeegoísta.

E Iracema, amor de toda a sua vida, ti-nha a paciência necessária. Os indivídu-os de talento e imaginação sempre têmalgo da inocência da criança que vê o queos mais velhos não mais enxergam. As-sim era Joel. Foi ao encontro de amigos,do Egydio Squeff, companheiro da guerra,Nássara, Jorge Amado, Rubem Braga. Seo Paraíso existe, lá estarão eles em paposque não existem mais, rindo-se de quan-to tudo aqui é ridículo. Juro que chorei.

“Sempre tive um contato amigo comJoel. Eu o conheci quando erarepórter do Segundo Caderno de OGlobo. Depois de sair do jornal efundar minha editora, fui procuradapor ele, que me deu o texto de IIGuerra: momentos críticos, o primeirolivro dele editado pela Mauad. Joelteve uma experiência excepcional, umatrajetória que deve ser conhecidapelos estudantes de Jornalismo.Juntava à informação jornalística umtexto gostoso, de bom conteúdo ecom fluidez. É uma grande perda parao jornalismo brasileiro.”Isabel MauadIsabel MauadIsabel MauadIsabel MauadIsabel Mauad, jornalista eproprietária da Mauad Editora

“Durante muitos anos juntos naManchete, pude sentir que estavadiante do maior repórter brasileiro,não pela experiência acumulada nacobertura da II Guerra, mas pelasgrandes matérias que ele produziupara a revista. O Brasil perde umgrande escritor, um grande amigo eum grande jornalista.”Arnaldo NiskierArnaldo NiskierArnaldo NiskierArnaldo NiskierArnaldo Niskier, jornalista e membroda Academia Brasileira de Letras

“O que fica? Um excepcional trabalhojornalístico: os textos de Joel sobre aguerra são clássicos. Páginas como adescrição do encontro com GetúlioVargas. O Joel que fica é o repórtertalentosíssimo, o precursor brasileirodo chamado novo jornalismo, a‘víbora’ divertida e ferina. Joel foimestre e amigo. A morte é, comosempre, uma piada de péssimo gosto.O Joel de nossas lembranças vai sersempre o que se revelava emconversas como a entrevista que fizcom ele em 2004.”Geneton Moraes NetoGeneton Moraes NetoGeneton Moraes NetoGeneton Moraes NetoGeneton Moraes Neto, repórterespecial do Fantástico

Juro que choreiPOR NAHUM SIROTSKY

“O precursordo chamado

novo jornalismo”

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34 Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI 320 Julho/Agosto de 2007

“Tive três grandes amigos que,coincidentemente, participaram comigo dacobertura da II Guerra: o Rubem Braga, oEgydio Squeff e o Joel Silveira, com quemconvivi por bastante tempo na ÚltimaHora, onde se tornou braço direito deSamuel Wainer. Foi um grande jornalista eamigo. Lamento que de todos oscompanheiros do tempo comocorrespondente da Força ExpedicionáriaBrasileira, agora reste apenas eu. A últimavez que vi Joel foi na ABI, durante aentrega de algum prêmio a ele. Estoutriste, a saudade dói.”Moacir Werneck de CastroMoacir Werneck de CastroMoacir Werneck de CastroMoacir Werneck de CastroMoacir Werneck de Castro, jornalista eescritor

“Pessoalmente, fui conhecer o Joel Silveirahá dez anos quando organizei o livroRepórteres, para o qual ele fez um textobrilhante sobre o jornalismo queconheceu da década de 1940 até os diasatuais, quando as redações foraminformatizadas. Foi ele também que,recentemente, escreveu a apresentaçãodo meu livro sobre Graciliano Ramos. Masjá o conhecia desde os tempos em queme iniciei no jornalismo, pela leitura dosseus textos, que sempre foram umagrande referência para mim. Joel Silveirafoi repórter até o fim e criou uma maneirapeculiar de contar suas histórias, que nãoficavam nada a dever aos textos dasgrandes estrelas da imprensa mundial,como Truman Capote e Gay Talese. Coma memorável reportagem A milésimasegunda noite na Avenida Paulista — queele fez sobre o comportamento da altasociedade paulista daquele período —,Joel provou que o elogiado modelo dejornalismo norte-americano introduzidono Brasil a partir dos anos 60 não erauma coisa nova.”Audálio DAudálio DAudálio DAudálio DAudálio Dantasantasantasantasantas, Vice-Presidente da ABI

“Nós dois pertencemos a uma geração dejornalistas que começou os seus temposquando a capital funcionava no PalácioTiradentes. Então, começamos umagrande amizade e coleguismo todoespecial, na época áurea da democraciabrasileira, entre os anos de 1950 e 1960.Com o Congresso funcionando no Riocom sessões inesquecíveis de grandesdebates entre oradores admiráveis, comoAdauto Cardoso, Aliomar Baleeiro; PradoKelly, os dois Mangabeira, Otávio e João,os dois Cunha, Vieira de Melo e Raul Pilla

“Ele não tinha papasna língua, não admitia

coisas erradas”

e Mário Martins. No Comitê de Imprensada Câmara, tínhamos acesso direto atodos eles ali no plenário e o Joel sedestacou como um dos nossosrepórteres mais competentes. Poucoantes ele fora escolhido por AssisChateaubriand para acompanhar a ida daForça Expedicionária Brasileira-Feb que ialutar na Europa. Chatô chamou-lhe nogabinete e disse: ‘Seu Joel, estouprecisando muito que o senhor me vá àEuropa cobrir essa FEB, mas por favornão me morra, porque repórter não épara morrer e sim para mandarnotícia.’ Joel foi depositário de muitosanos de atuação permanente daimprensa brasileira. Dele vamos sentirmuita falta e saudade imensa.”Murilo Mello FilhoMurilo Mello FilhoMurilo Mello FilhoMurilo Mello FilhoMurilo Mello Filho, jornalista e membroda Academia Brasileira de Letras

“Eu e o Joel Silveira fomos uns dosprimeiros jornalistas a pisar em Brasília,para fazer uma reportagem sobre acapital da República, cumprindo umapauta a pedido do Adolpho Bloch para arevista Manchete. Me lembro quedesembarcamos de avião em Anápolis edepois seguimos de carro até o DistritoFederal. O Joel Silveira era um granderepórter, como pessoa humana era gentile amigo, sempre ajudando os fotógrafosque trabalhavam com ele. Eu também oadmirava porque ele não tinha papas nalíngua, não admitia coisas erradas.”Gervásio BGervásio BGervásio BGervásio BGervásio Batistaatistaatistaatistaatista, repórter-fotográfico daRadiobrás

“Joel Silveira foi o maior repórter brasileirodos últimos 50 anos. E foi importantetambém como escritor, contista e umlutador pelas liberdades democráticas. Suaatuação como correspondente de guerra,na Força Expedicionária Brasileira, deixouum grande exemplo para várias geraçõesde profissionais”Cícero SandroniCícero SandroniCícero SandroniCícero SandroniCícero Sandroni, jornalista e Secretário-Geral da Academia Brasileira de Letras

As obras de Joel no acervo da ABI

A lista de obras de Joel ou com participação dele existentes na BBT, levantada pelaAuxiliar de Biblioteca Alice Diniz, compreende os seguintes títulos:– A feijoada que derrubou o Governo. A feijoada que derrubou o Governo. A feijoada que derrubou o Governo. A feijoada que derrubou o Governo. A feijoada que derrubou o Governo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.Posfácio de Leão Serra.– Os homens não falam de mais. Os homens não falam de mais. Os homens não falam de mais. Os homens não falam de mais. Os homens não falam de mais. Rio de Janeiro: Editora Leitura, 1945. Colaboraçãode: Francisco de Assis Barbosa.– Um guarda-chuva para o coronel. Um guarda-chuva para o coronel. Um guarda-chuva para o coronel. Um guarda-chuva para o coronel. Um guarda-chuva para o coronel. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal Popular, 1968.– Desaparecimento da Aurora Desaparecimento da Aurora Desaparecimento da Aurora Desaparecimento da Aurora Desaparecimento da Aurora [ s.l ]: Rev. Branca, [ 1.d. ]– Viagem com presidente eleito. Viagem com presidente eleito. Viagem com presidente eleito. Viagem com presidente eleito. Viagem com presidente eleito. Rio de Janeiro: Mauad, 1996.– Vinte horas de abril. Vinte horas de abril. Vinte horas de abril. Vinte horas de abril. Vinte horas de abril. Rio de Janeiro: Saga, 1969.– O repórO repórO repórO repórO repórter e o presidente. ter e o presidente. ter e o presidente. ter e o presidente. ter e o presidente. Revista de Comunicação. Rio de Janeiro. 1(2): 27-28, 1985.– ANDRADE, Jefferson Ribeiro de. Um jornal assassinado: a última batalha doUm jornal assassinado: a última batalha doUm jornal assassinado: a última batalha doUm jornal assassinado: a última batalha doUm jornal assassinado: a última batalha doCorreio da Manhã. Correio da Manhã. Correio da Manhã. Correio da Manhã. Correio da Manhã. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1991. Colaboração de Joel Silveira.– CALVINO, Ítalo. O cavaleiro inexistente. O cavaleiro inexistente. O cavaleiro inexistente. O cavaleiro inexistente. O cavaleiro inexistente. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura,1970. Tradução de Joel Silveira.– Contos policiais urbanos. Contos policiais urbanos. Contos policiais urbanos. Contos policiais urbanos. Contos policiais urbanos. Antologia. Rio de Janeiro: Record, 1985. Trad. Joel Silveira.– FELLINI, Frederico. A TA TA TA TA Trapaça. rapaça. rapaça. rapaça. rapaça. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972. Trad. de Joel Silveira.– A Guerra no Oriente Médio. A Guerra no Oriente Médio. A Guerra no Oriente Médio. A Guerra no Oriente Médio. A Guerra no Oriente Médio. 5 dias de junho. Rio de Janeiro: Bloch, 1976. Org.Joel Silveira [et. al...].– ReporReporReporReporReportagens que abalaram o Brasil. tagens que abalaram o Brasil. tagens que abalaram o Brasil. tagens que abalaram o Brasil. tagens que abalaram o Brasil. Rio de Janeiro: Bloch, 1973. Org. Joel Silveira [et. al...].– CALVINO, Ítalo. O visconde parO visconde parO visconde parO visconde parO visconde partido ao meio. tido ao meio. tido ao meio. tido ao meio. tido ao meio. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura,1970. Trad. Joel Silveira.

Como referido nos textos publicados após o seu passamento, JoelSilveira publicou cerca de 40

obras, entre reportagens, crônicas, tradu-ções, artigos e textos em colaboração comoutros autores, como Jefferson Ribeirode Andrade, que contou com sua parti-cipação numa obra considerada antoló-gica ou clássica: Um jornal assassinado:a última batalha do Correio da Manhã. Suabibliografia completa não foi levantadapelas publicações que o homenagearamapós a sua morte, ainda que um ou outrojornal citasse grande número de títulos.

No acervo da Biblioteca da ABI (Bibli-oteca Bastos Tigre) ele aparece com 14títulos, o mais antigo editado em 1945, pro-duzido em colaboração com Francisco deAssis Barbosa e lançado pela Editora Leitu-ra; o mais recente de 2004, quando a Com-panhia das Letras reeditou A feijoada quederrubou o Governo, lançado originaria-mente pela Editora Civilização Brasileira.

Sem uma política de aquisição de obrasdurante muitos anos, a BBT ressente-se daausência de títulos clássicos de Joel, comoA milésima segunda noite da Avenida Pau-lista, que reúne brilhantes reportagens quefez, como esta que relata com acidez e ir-reverência, sob esse título, a opulência e

o desperdício da festa de casamento de umadas herdeiras do Grupo Matarazzo.

Não conta igualmente a BibliotecaBastos Tigre com Na fogueira – Memóri-as, excepcional testemunho dele sobre suatrajetória profissional, suas aventurasamorosas na mocidade – ele veio muitojovem de Sergipe para tentar a vida no Rio,nos anos 30 —, o quadro político do Paísnos anos 30 e 40 e sua saborosa descrição

do Rio de Janeiro e da vida na cidade na-queles anos. Editado pela Editora Mauadem 1998, o livro assegurou a Joel nesse ano,pelo conjunto de sua obra, o Prêmio Ma-chado de Assis, a maior distinção literáriada Academia Brasileira de Letras. Mais re-centemente Joel lançou em colaboraçãocom o jornalista e escritor Geneton de Mo-raes Neto obras que também não estão nasestantes da Biblioteca da Casa. (MA)

Além de correspondente de guerra na Itália, Joel fez muitas coberturas internacionais, equipadocom uma máquina de escrever portátil que ele, exímio datilógrafo, tratava com o maior carinho.

Murilo Melo Filho: Joel se destacou nacobertura da Câmara, no Rio, nos anos 40.

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Com a morte do jornalista SebastiãoMoretson, mais conhecido como TiãoCopeba, o samba carioca deu adeus a umdos seus mais importantes cronistas.Copeba faleceu na madrugada do dia 9de julho, no Hospital de Bonsucesso, ondeestava internado para tratamento de umainfecção generalizada.

Copeba, que nasceu em Minas Gerais,em 1º de janeiro de 1920, ostentava nomede embaixador na documentação pesso-al e teve uma vida de luta, àspera: ultima-mente, estava vivendo no Retiro dosArtistas, para onde se mudou em fevereirodeste ano, por iniciativa do VereadorStepan Necerssian, que atendeu a pedi-dos de amigos.

Integrante do grupo de fundadores daEscola de Samba Império Serrano e doBloco da Imprensa, Copeba era torcedordo Fluminense e foi, segundo o amigoCelso Rosa de Jesus, bicampeão do títu-lo de Cidadão Samba, na década de 60: –Convivi cerca de 50 anos com ele e oconheci em suas passagens pelas redaçõesdos jornais Luta Democrática e Diário deNotícias. Trabalhamos juntos no Correioda Manhã e mais tarde, nos anos 80, nojornal O Povo. Copeba foi um granderepórter da área musical e excelente cro-nista das escolas de samba.

O produtor cultural e comentarista daTV Globo Haroldo Costa diz que Cope-ba representava a alma do Carnaval do Rio:– Ele foi um legítimo representante dessafesta carioca. Apesar de não ter dirigidouma escola, foi assíduo participante desuas histórias e um dos primeiros jorna-listas a manter uma coluna permanentesobre samba. Era uma figura muitoimportante para a imprensa e o nossoCarnaval.

Biógrafo do economista,ministro e senador Roberto deOliveira Campos, Olavo Luzdefinia com modéstia seu livroRoberto Campos: um retrato poucofalado, que para ele seria “umareportagem perfil, destituída depretensões biográficas”. Jornalistade Economia, Olavo Luz foiassessor e amigo de RobertoCampos por vários anos, até suamorte. Neste convívio recolheu omaterial do livro, pontilhado depassagens inéditas e no qual oeconomista é mostrado naverdadeira dimensão de suapersonalidade: firme nas

Copeba: nome deembaixador e vida de luta

Olavo Luz, biógrafo de Campos

Gaúcho que se radicara no Rioapós o golpe militar de 1º de abrilde 1964, o jornalista Ismar Cardonamorreu em 20 de julho em Brasília,para onde se mudara há anos. Suavinculação com o Rio não sealterou: seu corpo foi velado naCapela 1 do Memorial do Carmo,no Caju, onde foi cremado.

Ismar chegou ao Rio depois desofrer perseguição política daditadura militar, em 1965. Aquiingressou no jornalismo e, entreoutras funções, foi assessor deimprensa da patrocinadora dofamoso noticiário Repórter Esso.Trabalhou também na Economia dasucursal carioca de Veja e em 1971foi convidado pelo então Diretor deRedação de O Globo, EvandroCarlos de Andrade, para assumir amesma editoria no jornal, ondepermaneceu por mais de dez anos.

Depois desse período, passou a sededicar à cobertura da áreaagropecuária e criou o jornalIndicador Rural, ao qual se dedicoupor cerca de 15 anos. Foi ainda oresponsável pelo lançamento, em1985, do primeiro programajornalístico rural da TV, batizadocom o nome de sua publicação. Oprograma ia ao ar na Bandeirantes edeu origem ao Globo rural, até hojeum sucesso.

Quando se afastou dojornalismo diário, Ismar recebeuvários convites para ser assessor deimprensa em Brasília. Trabalhoucom o ex-Presidente do SupremoTribunal Federal Nélson Jobim,eatual Ministro da Defesa.Ultimamente, trabalhava noMinistério da Agricultura.— No Rio, o Ismar participou devários movimentos contra aditadura. Devido à militânciapolítica, sofreu perseguições dasquais sou testemunha, porqueesteve sempre na defesa dademocracia e da liberdade deimprensa. Sua trajetória nojornalismo e na área política,participando de diversosmovimentos sociais, foi muitobonita — comentou PauloJerônimo de Souza (Pagê), Diretorde Assistência Social da ABI.

Cardona,do Esso ao

pioneirismo dacobertura rural Copeba ainda trabalhava no Correio da

Manhã quando participou da iniciativa doscronistas carnavalescos de criar, em 1943,a Associação dos Cronistas Carnavales-cos (ACC), que funcionou num prédio naAvenida Presidente Vargas (Centro doRio). Entre os companheiros dessa em-preitada estavam Ednoel Silva, do Jornaldo Commercio, e Aroldo Bonifácio e IrênioDelgado, do jornal A Manhã.

Para o jornalista, escritor e pesquisa-dor Sérgio Cabral membro do ConselhoDeliberativo da ABI, uma das principaiscaracterísticas de Copeba era a sua inti-midade com a cultura oriunda dos mor-ros e subúrbios carioca: – Ele foi jorna-lista e também Cidadão Samba, ou seja,era um legítimo representante dessa nossacultura. Era o tipo de repórter que deixa-va a gente em dúvida se era o criador oua criatura, pela forma como se mistura-va com o material que usava para escre-ver suas reportagens. Por isso eu o con-sidero um legítimo jornalista da cober-tura de samba.

O jornalista Rubem Confete diz quedois fatores foram importantes para fa-zer de Tião Copeba uma personalidadede destaque no meio cultural carioca: seuprofissionalismo e sua forte vocação parao “recreativismo”.

– Copeba tinha um vasto conheci-mento da cultura carioca e do samba eaparecia como um elo entre os jornalis-tas policiais que faziam a cobertura dacidade e as manifestações culturais dacomunidade negra, como as escolas desamba. Ele foi coordenador de desfilesquando estes aconteciam na Avenida RioBranco, com uma grande vantagem, poisconhecia todo mundo nas agremiações.Esta sua desenvoltura fez com que ele

conseguisse, com o então GovernadorNegrão de Lima, a quadra da ImpérioSerrano, até hoje no terreno onde jáfuncionou o Mercado de Madureira.

A capacidade de se relacionar com aspessoas foi também marca registrada deCopeba, como atesta o jornalista MárioSaladini, que o conheceu nos anos 40: –Eu era Diretor de Turismo do Estado doRio e ele, membro da antiga Associaçãodos Cronistas de Carnavalescos (ACC).Era uma pessoa muito simpática e sem-pre cordial. Tenho dele as melhores lem-branças.

Diz Saladini que Copeba se preocupavacom o rumo que as escolas de sambacomeçaram a tomar na década de 90: –Ele achava importantes os melhoramen-tos que as agremiações introduziam nosdesfiles, mas dizia que essa melhoria nãodevia desprezar as origens – e hoje asescolas viraram um bloco de puladores.No I Simpósio de Samba da Cidade do Riode Janeiro, realizado pela Riotur emnovembro de 1990, Copeba já pedia paraque as músicas fossem samba de roda enão marcha.

Na mesma época, lembra Saladini,também pedia respeito aos antigos sam-bistas, reclamando: – Parece que existeuma resistência contra a Velha Guarda,como chamavam os fundadores das es-colas. Hoje falam tanto a palavra “velho”quando se referem ao sambista maisantigo que eu pensei em propor que semudasse de Velha Guarda para Os Idosos.Minha pergunta é a seguinte: as VelhasGuardas representam uma correntecultural com unidade de pensamento ouapenas se constituem numa comunida-de de lazer, de reminiscência de históriasdo passado?

convicções, eloqüente nasargumentações, mordaz econsistente nas contestações e bem-humorado nas finas ironias.

Olavo Luz começou a vidaprofissional no Jornal do Brasil. Foichefe de Redação do Departamentode Relações Públicas da J. WalterThompson Publicidade e daassessoria de imprensa do Ministroda Agricultura Ivo Arzua e integrouo grupo que promoveu a reformagráfica e editorial da GazetaMercantil. Foi ainda editor e co-autor do livro 25 anos de imprensa noBrasil, feito com colegas de grandeexpressão, como Otto Lara Resende.

Dedicando-se à comunicaçãocorporativa, foi consultor da Varig,da Nissan Motors Co. e daSondotécnica. Em dezembro de2004, Olavo publicou em O Globo oartigo Destinos incertos, em quefalava da crise na aviação comercialem todo o mundo e criticava a saúdeoperacional e financeira dascompanhias aéreas brasileiras. Foium trabalho premonitório, comodemonstrou a evolução do setor.

Olavo faleceu em 24 de agosto eno mesmo dia foi sepultado noCemitério São João Batista, no Rio,sem tempo para que seus muitosamigos fossem avisados.

VidasVidas

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eleição do Cristo Redentor comouma das 7 Maravilhas do mun-do contemporâneo, divulgada no

dia 7 de julho, encheu de orgulho os bra-sileiros, principalmente a população do Riode Janeiro. A campanha Vote Cristo. Ele éuma maravilha foi criada pela agênciaAroldo Araújo Propaganda e as primeirasentidades a apoiá-la foram a Associação Co-mercial e a Arquidiocese do Rio de Janeiro.Para os coordenadores, o sucesso do proje-to se deveu, também, às adesões do tradeturístico e dos meios de comunicação.

O assessor de Comunicação da agên-cia, Lúcio Ricardo, disse que ganhar a sim-patia da mídia — inclusive dos correspon-dentes estrangeiros — para a campanhafoi resultado de uma ação estratégica. Nareta final, foram também contratadasempresas especializadas, que enviaram 22milhões de e-mails para os Estados Unidos,pedindo votos para o Cristo: — Só aí, maisde 300 jornalistas norte-americanos rece-beram informações sobre o Cristo. Asdemais ações via internet estão emwww.zambba.com/votecristo/vitoria.

Imprensa engajadaTodas as grandes emissoras de tv do Bra-

sil, bem como os canais de notícia por as-sinatura, apoiaram a votação no CristoRedentor. As rádios também tiveram umagrande participação — a Tupi, por exem-plo, criou um site especial para receberos votos: — Ouvimos também o Gover-nador Sérgio Cabral e empresários deturismo. Entramos de corpo inteiro nacampanha — diz Roberto Feres, gerentede Jornalismo da Rádio.

Os principais jornais que veicularammatérias sobre a eleição do Cristo foram

Uma agência de propaganda, a Aroldo Araújo,Uma agência de propaganda, a Aroldo Araújo,Uma agência de propaganda, a Aroldo Araújo,Uma agência de propaganda, a Aroldo Araújo,Uma agência de propaganda, a Aroldo Araújo,fez a promoção que, na reta final do concurso internacional,fez a promoção que, na reta final do concurso internacional,fez a promoção que, na reta final do concurso internacional,fez a promoção que, na reta final do concurso internacional,fez a promoção que, na reta final do concurso internacional,

resultou na inclusão do monumento do Cristo Redentorresultou na inclusão do monumento do Cristo Redentorresultou na inclusão do monumento do Cristo Redentorresultou na inclusão do monumento do Cristo Redentorresultou na inclusão do monumento do Cristo Redentorentre as 7 Maravilhas do mundo contemporâneo.entre as 7 Maravilhas do mundo contemporâneo.entre as 7 Maravilhas do mundo contemporâneo.entre as 7 Maravilhas do mundo contemporâneo.entre as 7 Maravilhas do mundo contemporâneo.

O Dia, O Globo, Jornal do Brasil, Jornaldo Commercio, Folha, Estadão, Jornal daTarde, Panrotas e Brasilturis — estes últi-mos de circulação nacional para o setorturístico. O editor de Arte Renato Dalcimconta que o JB se envolveu na campanhalogo após seu lançamento: — Começouno ano passado, com duas matérias napágina central no caderno de domingo. Emseguida, fizemos uma campanha envol-vendo os leitores, que também rendeunoticiário especial sobre o assunto.

De Lisboa, falando ao ABI Online,ABI Online,ABI Online,ABI Online,ABI Online,que pôs em sua primeira página umbanner linkando para a votação, o publi-citário Aroldo Araújo — idealizador ecoordenador da campanha — contou queesperava um resultado positivo, mas foia primeira vez que se envolveu numtrabalho com tal repercussão e tamanhoapoio da imprensa:

— Trabalhamos um ano e meio paraque esse sonho se tornasse realidade. Obom da campanha Vote Cristo. Ele é umamaravilha foi ter conquistado o apoio daIgreja, do setor turístico e da im-prensa, que foi de grandeimportância. A adesãodos veículos de comuni-cação foi fundamental,porque manteve o assun-to em evidência. Em rela-ção ao resultado, eu, quetenho 42 anos de profissão,nunca pensei que ia viveruma emoção como esta. Di-ficilmente vai me aconte-cer coisa igual.

Aroldo evitou comentá-rios sobre o editorial do jor-nal espanhol El Mundo do dia

9 de julho, que diz que a eleição foi uma“farsa em escala global”: — É muito difí-cil não haver críticas. Mesmo no Brasil,durante a campanha, elas aconteceram.Houve até um comentário do grandemestre Oscar Niemeyer, dizendo que nãoacha o Cristo uma obra de arte. Pela mi-nha experiência, qualquer eleição desse tipoestá sujeita a receber críticas.

Os apoiosPatrocinada pela Bradesco Seguros e

Previdência e a Drufy do Brasil, a campa-nha foi lançada em 12 de outubro do anopassado, quando a estátua do CristoRedentor completava 75 anos e a AroldoAraújo Propaganda, 42: — E 75 menos 42é igual a 33, a idade de Cristo. Este foi omote que motivou a campanha.

Após tomar conhecimento da promo-ção numa reunião do Conselho de Turis-mo da Confederação Nacional do Comér-cio, Aroldo Araújo entusiasmou-se, reu-niu o pessoal de planejamento e criaçãode sua empresa e recomendou “uma cam-

panha com forte apelo, capaz de estimu-lar e motivar as pessoas a votarem noCristo”. Pronto o slogan, a primeira me-dida foi convencer o Presidente da Asso-ciação Comercial do Rio de Janeiro, Ola-vo Monteiro do Carvalho, da importân-cia de apoiar a idéia: — Também por issoera fundamental contar com o apoio daIgreja. Afinal, entre os 21 finalistas doconcurso, a estátua do Cristo era o únicosímbolo católico em votação. Com esseargumento, fomos à Arquidiocese do Riode Janeiro falar com o Cardeal Dom Eu-sébio Scheid, que abraçou a idéia.

Aroldo Araújo considera que a eleiçãodo Cristo vai favorecer o crescimento doturismo estrangeiro no Brasil, com refle-xos positivos em grande parte das ativida-des econômicas: — Todos os setores vãoganhar com isso. Acreditamos num incre-mento de 20% nos 5,4 milhões de turistasestrangeiros que entraram no Brasil em2006, dos quais 1,7 milhão visitaram o Riode Janeiro. Esta marca poderá crescer mais380 mil, gerando mais empregos e renda.

Os demaisO concurso para escolher as

novas maravilhas do mundo foilançado pela fundação suíçaNew Sevem Wonder e teve 100milhões de votos, recebidosatravés de mensagens pela inter-net e por telefone. Ao lado doCristo Redentor estão o Coliseu,na Itália, a Grande Muralha daChina, o Taj Mahal, na Índia, omonumento de Petra na Jordâ-nia, a cidade inca de MachuPicchu, no Peru, e a pirâmide deChichén Itzá, no México.

SUCESSO

A MÍDIA PÔS OCRISTO NO ALTO

A

Duas peças da campanhacriada pela Aroldo Araujo.

IVA

N G

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ITO

POR JOSÉ REINALDO MARQUES