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Julho/Agosto de 2005 • Número 301 Jornal da ABI Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa O PODER SUFOCA A ABI BASTA À CORRUPÇÃO Presidente da ABI por mais de um mandato, o jornalista Fernando Segismundo fez 90 anos e recu- sou qualquer homenagem pesso- al. A ABI decidiu então reveren- ciar quatro de seus pilares: um de- les, o próprio Segismundo. Páginas 27 e 28 Justiça livra Ancelmo de ilegalidade Páginas 22 e 23 Segismundo, um pilar de 90 anos A ABI está travando uma dura batalha contra órgãos do Governo Federal, que a estão sufocando com a imposição de uma dívida absurda e ile- gal. São o Conselho Nacional de Assistência Social e o INSS, que ameaçam reduzir à impo- tência a mais antiga institui- ção de defesa da liberdade de imprensa no Brasil. Páginas 18, 19, 20, e 21 e Editorial na página 2 Você sabe o que é uma linotipo? Com capacidade para mais de 600 pessoas, o principal audi- tório da ABI ficou tão superlo- tado que a direção da Casa propôs que o ato programado fosse encerrado logo: era a ma- nifestação contra a corrupção convocada por partidos polí- ticos e organizações da socie- dade civil, que expressaram sua indignação diante do fes- tival de imoralidades que as- sola o País. Página 13 Segismundo (com Geraldo Meneses): mais de 70 anos de dedicação à ABI. Infográfico dá algo mais à informação A linotipo é essa máquina ao lado, com aparên- cia de geringonça. Foi, porém, um colosso tecnológico, ao permitir a fusão em bloco de cada linha de caracteres tipográficos, tornan- do a imprensa veloz. Ela pode ser vista no mu- seu de imprensa de Niterói. Páginas 11 e 12 Jornais, revistas e noticiosos da televisão e online usam cada vez mais os recursos dos infográficos, uma técnica que amplia e aprofunda a infor- mação. Páginas 3, 4, 5 e 6 Texto integral da conferên- cia A Amazônia Que os Brasi- leiros Desconhecem, proferida na ABI pelo General-de-Exér- cito Cláudio Barbosa de Figueiredo, Comandante Militar da Amazônia. ESPECIAL: SUPLEMENTO AMAZÔNIA

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Julho/Agosto de 2005 • Número 301

Jornal da ABIÓrgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa

O PODER SUFOCA A ABI

BASTA À CORRUPÇÃO

Presidente da ABI por mais de ummandato, o jornalista FernandoSegismundo fez 90 anos e recu-sou qualquer homenagem pesso-al. A ABI decidiu então reveren-ciar quatro de seus pilares: um de-les, o próprio Segismundo.

Páginas 27 e 28

Justiça livra Ancelmo de ilegalidadePáginas 22 e 23

Segismundo,um pilar de90 anos

A ABI está travando umadura batalha contra órgãos doGoverno Federal, que a estãosufocando com a imposiçãode uma dívida absurda e ile-gal. São o Conselho Nacionalde Assistência Social e o INSS,que ameaçam reduzir à impo-tência a mais antiga institui-ção de defesa da liberdade deimprensa no Brasil.

Páginas 18, 19, 20, e 21e Editorial na página 2

Você sabe o que éuma linotipo?

Com capacidade para mais de600 pessoas, o principal audi-tório da ABI ficou tão superlo-tado que a direção da Casapropôs que o ato programadofosse encerrado logo: era a ma-nifestação contra a corrupção

convocada por partidos polí-ticos e organizações da socie-dade civil, que expressaramsua indignação diante do fes-tival de imoralidades que as-sola o País.

Página 13

Segismundo (com Geraldo Meneses):mais de 70 anos de dedicação à ABI.

Infográficodá algo maisà informação

A linotipo é essa máquina ao lado, com aparên-cia de geringonça. Foi, porém, um colossotecnológico, ao permitir a fusão em bloco decada linha de caracteres tipográficos, tornan-do a imprensa veloz. Ela pode ser vista no mu-seu de imprensa de Niterói. Páginas 11 e 12

Jornais, revistas e noticiososda televisão e online usamcada vez mais os recursos dosinfográficos, uma técnica queamplia e aprofunda a infor-mação.

Páginas 3, 4, 5 e 6

Texto integral da conferên-cia A Amazônia Que os Brasi-leiros Desconhecem, proferidana ABI pelo General-de-Exér-cito Cláudio Barbosa deFigueiredo, ComandanteMilitar da Amazônia.

ESPECIAL:SUPLEMENTO

AMAZÔNIA

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Jornal da ABI

2 Julho/Agosto de 2005

NESTA EDIÇÃO

Jornal da ABI

Associação Brasileira de Imprensa

Na mira dos piratas

EDITORIAL

Rua Araújo Porto Alegre, 71, 7º andarTelefone: (21) 2220-3222/2282-1292 Cep: 22.030-012Rio de Janeiro - RJ ([email protected])

Editores: Francisco Ucha, Joseti Marques e Maurício AzêdoProjeto gráfico, diagramação eeditoração eletrônica: Francisco UchaDiretor responsável: Maurício AzêdoImpressão: Gráfica LanceRua Santa Maria, 47 - Cidade Nova - Rio de Janeiro, RJ.

As reportagens e artigos assinados não refletemnecessariamente a opinião do Jornal da ABI.

DIRETORIA – MANDATO 2004/2007Presidente: Maurício AzêdoVice-Presidente: Audálio DantasDiretora Administrativa: Ana Maria Costábile SoibelmanDiretor Econômico-Financeiro: Domingos MeirellesDiretor de Cultura e Lazer: Jesus ChediakDiretor de Assistência Social: Paulo Jerônimo de Souza (Pajê)Diretora de Jornalismo: Joseti Marques

CONSELHO CONSULTIVOChico Caruso, Ferreira Gullar, José Aparecido de Oliveira,Miro Teixeira, Teixeira Heizer, Ziraldo e Zuenir Ventura

CONSELHO FISCALJesus Antunes – Presidente, Miro Lopes – Secretário,Adriano Barbosa, Hélio Mathias, Henrique João Cordeiro Filho,Jorge Saldanha e Luiz Carlos Oliveira Chester

CONSELHO DELIBERATIVO (2004-2005)Presidente: Ivan Cavalcanti Proença1º Secretário: Carlos Arthur Pitombeira2º Secretário: Domingos Xisto da Cunha

Conselheiros efetivos (2005-2008)Alberto Dines, Amicucci Gallo, Ana Maria Costábile, AraquémMoura Rouliex, Arthur José Poerner, Audálio Dantas, CarlosArthur Pitombeira, Conrado Pereira, Ely Moreira, FernandoBarbosa Lima, Joseti Marques, Mário Barata, Maurício Azêdo,Milton Coelho da Graça e Ricardo Kotscho

Conselheiros efetivos (2004-2007)Antonieta Vieira dos Santos, Arthur da Távola, Cid Benjamin,Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Héris Arnt, Irene Cristina Gurgel doAmaral, Ivan Cavalcanti Proença, José Gomes Talarico, JoséRezende, Marceu Vieira, Paulo Jerônimo, Roberto M. Moura,Sérgio Cabral e Teresinha Santos

Conselheiros efetivos (2003-2006)Antonio Roberto da Cunha, Aristélio Travassos de Andrade,Arnaldo César Ricci Jacob, Carlos Alberto Caó Oliveira dosSantos, Domingos João Meirelles, Fichel Davit Chargel, GlóriaSueli Alvarez Campos, João Máximo, Jorge Roberto Martins,Lênin Novaes de Araújo, Moacir Andrade, Nilo Marques Braga,Octávio Costa, Vitor Iorio e Yolanda Stein

Conselheiros suplentes (2005-2008)Anísio Félix dos Santos, Edgard Catoira, Francisco de PaulaFreitas, Geraldo Lopes, Itamar Guerreiro, Jarbas Domingos Vaz,José Amaral Argolo, José Pereira da Silva, Lêda Acquarone,Manolo Epelbaum, Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Pedrodo Coutto, Sidney Rezende, Sílvio Paixão e Wilson S. J.Magalhães

Conselheiros suplentes (2004-2007)Adalberto Diniz, Aluísio Maranhão, Ancelmo Gois,André Louzeiro, Jesus Chediak, José Silvestre Gorgulho,José Louzeiro, Lílian Nabuco, Luarlindo Ernesto,Marcos de Castro, Mário Augusto Jakobskind,Marlene Custódio, Maurílio Ferreira e Yaci Nunes

Conselheiros suplentes (2003-2006)Antônio Avellar C. Albuquerque, Antônio Calegari, AntônioHenrique Lago, Antonio Roberto Salgado da Cunha, DomingosAugusto G. Xisto da Cunha, Hildeberto Lopes Aleluia, JoséCarlos Rego, Lorimar Macedo Ferreira, Luiz Carlos de Souza,Marco Aurélio B. Guimarães, Marcus Antônio M. de Miranda,Mauro dos Santos Vianna, Pery de Araújo Cotta, RogérioMarques Gomes, Rosângela Soares de Oliveira e RubemMauro Machado

COMISSÃO DE SINDICÂNCIAEly Moreira – Presidente, Jarbas Domingos Vaz, José ErnestoVianna, Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Maurílio CândidoFerreira

COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃOAlberto Dines, Artur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan AlvesFilho e Paulo Totti

COMISSÃO DE LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOSArthur Cantalice, Arthur Nery Cabral, Daniel de Castro,Germando Oliveira Gonçalves, Gilberto Magalhães, Lucy MaryCarneiro, Maria Cecília Ribas Carneiro, Mário AugustoJakobskind, Martha Arruda de Paiva, Orpheu Santos Salles,Wilson de Carvalho, Wilson S. J. Magalhães e Yaci Nunes

Os infográficos sem segredos 3

Tudo começou com ele: Hipólito José da Costa 7

Testemunha da História: Murilo Melo Filho 8

Nosso museu fica ali do outro lado da Baía 11

Um basta à corrupção 13

Poerner, Benemérito 14

Pajê e Chediak na Diretoria 15

A ABI sob cerco 18

Denúncia de trabalho escravo demite jornalista 21

Ancelmo livre 22

A ABI protesta e apela 23

Acionistas do BB fazem denúncia 23

Estado paga reparação a vítimas da ditadura 24

Tributo a Carlos Galhardo 25

Alagoas contra a transposição das águas do São Francisco 26

Segismundo, 90 anos 27

Um páreo para a ABI no Jockey 29

Avelar campeão 29

Livros 30

Vidas/Reinaldo Santos, João Ribeiro, Léo Guanabara 31

Imprensa decasségui: um negócio movido a dólares

e a muita saudade 32

A ABI está travando uma desgastante batalha junto a órgãos da União – oConselho Nacional de Assistência Social e o Instituto Nacional do SeguroSocial – para restabelecer direitos que lhe foram subtraídos com uma fun-damentação que não resiste ao crivo do mínimo de racionalidade e de bomsenso, virtudes que inexistem principalmente no Conselho Nacional de As-sistência Social.Por inspiração não se sabe de que demônios, na crista de uma hipócrita onda

moralóide que infestou o Governo Fernando Henrique Cardoso, o ConselhoNacional de Assistência Social decidiu negar à ABI a renovação do registro edo certificado de entidade beneficente de assistência social, status que a enti-dade sempre manteve, sob o argumento extravagante de que para ser qualifi-cada como tal a Casa teria que atender a todas as pessoas em “situação devulnerabilidade” que recorressem aos seus serviços. Num país com dezenasde milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, esta pérola deirracionalidade significaria que a ABI teria de atender a uns bons milhões decarentes radicados no território fluminense, onde a entidade tem sede. Pre-tenderia e pretende o Conselho Nacional de Assistência Social que a ABI, emtroca de uma isenção de pífio valor, promova aquilo que nem a União, nem osEstados e nem os Municípios asseguram aos desvalidos deste triste País.Além de absurdo, irracional, ilegal e inconstitucional, pois colide com ju-

risprudência claríssima fixada a respeito pelo Superior Tribunal de Justiça,esse entendimento do Conselho Nacional de Assistência Social ensejou umaação voraz do INSS contra a ABI, que viu lançado em seu lombo o passivode contribuição previdenciária patronal retroativo a cinco anos, num mon-tante de cerca de R$ 2,5 milhões. Com essa ação conjugada, o CNAS e oINSS buscam justificar, através de penhora para liquidação dessa supostadívida, o assalto ao patrimônio da ABI, construído e mantido a duras penaspor quatro gerações de jornalistas – nesse patrimônio, uma jóia da arquite-tura contemporânea brasileira, o Edifício Herbert Moses, concebido em 1936pelos jovens irmãos Mílton e Marcelo Roberto e ainda hoje objeto de admi-ração em países de arquitetura avançada.Esta edição do Jornal da ABI está publicando o texto integral da petição

que a Casa dirigiu ao Conselho Nacional de Assistência Social, com a espe-rança de barrar a ação pirata tramada contra o seu patrimônio. Espera aCasa que, com a revisão da decisão esdrúxula em que se acumpliciam oCNAS e o INSS, o Estado nacional deixe de sufocar, como vem fazendo hámais de dois anos, a mais antiga instituição de defesa da liberdade de im-prensa, das liberdades públicas e dos direitos humanos no Brasil

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Jornal da ABI

����� Rodrigo CaixetaTÉCNICA

Quem nunca se rendeu a leruma reportagem ao ver o in-fográfico que a ilustra? Cada

vez mais utilizada pelos veículos de co-municação para criar o aspecto visualda informação, a infografia envolve umconceito moderno, em que se aliamimagem e texto para oferecer ao leitormelhor percepção do assunto tratado.

O termo infográfico vem do inglêsinformational graphics e o seu uso re-volucionou o leiaute das páginas de jor-nais, revistas e sites. É uma forma derepresentar informações técnicas comonúmeros, mecanismos e/ou estatísti-cas, que devem ser sobretudo atrativose transmitidos ao leitor em pouco tem-

OS INFOGRÁFICOSSEM SEGREDOS

Especialistas nessa técnica mostram como a aplicam na rotina das Redaçõese sua importância como fonte de informações para os leitores.

po e espaço. Normalmente utilizadoem cadernos de Saúde ou Ciência eTecnologia, em que dados técnicos es-tão mais presentes, o infográfico vematender a uma nova geração de leito-res, que é predominantemente visuale quer entender tudo de forma práticae rápida. Segundo pesquisas, a primei-ra coisa que se lê num jornal são os tí-tulos, seguidos pelos infográficos, que,muitas vezes, são a única coisa consul-tada na matéria.

“Decoração”, nãoSe o infográfico não convida o lei-

tor para a reportagem ou se não é pos-sível entendê-lo em poucos segundos,

sua função não se cumpre. CláudioPrudente, chefe da Diagramação de OGlobo, diz que a infografia já existe hámuito tempo nos jornais brasileiros,“mas foi no fim dos anos 80 que pas-sou a ser utilizada de uma forma maisconsciente como recurso poderoso deinformação”.

— As redações passaram a entenderque certos assuntos são mais bem-aprofundados se mostrados visualmen-te. Há muito o que se dizer num textosobre um acidente de avião, mas semostrarmos em um infográfico a loca-lização, o tipo de aparelho, o que acon-teceu, comparar números etc., a infor-mação fica muito mais precisa e clara.

Cláudio diz que a infografia já estáincorporada na cultura das redações,embora algumas incompreensões ain-da sobrevivam: — Não é raro algunseditores optarem por recursos de info-grafia quando querem “ilustrar” umapágina, por não terem fotos disponí-veis para o assunto. Este me parece oerro mais freqüente, resultado da idéiaequivocada de “decoração” da infor-mação visual. Mas esta é uma atitudeque aos poucos está desaparecendo.

Ainda que cada um trabalhe de for-ma diferente, o editor de texto e o dearte opinam igualmente sobre a utili-zação do recurso. Diz Cláudio: — Osinfografistas tendem a ver melhor nos

Com mais recursos gráficos, com que podem assumir visual de enciclopédia, as revistas produzem requintados infográficos: este assegurou um prêmio à revista Superinteressante.

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Jornal da ABI

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assuntos do dia o que maisse presta para ser trabalha-do graficamente. Ter repre-sentantes da infografia nasreuniões de pauta é funda-mental — e prática comumem várias redações.

Desde as cavernasFormado em Jornalismo,

o editor de arte do Globo,Léo Tavejnhansky, contaque o design de jornal, a quese dedica há mais de 20anos, foi sua opção desdeque o descobriu na faculda-de: — A infografia tem umalonga trajetória. É uma so-ma de disciplinas que incluio desenho arquitetônico e ode anatomia, os gráficos es-tatísticos e a cartografia.Exemplos desses grafismosse perdem no tempo. Paraencurtar a história, pode-mos dizer que as inscriçõesnas cavernas eram infográ-ficos, pois os desenhos con-tavam histórias.

Léo lembra que o primeiro exemplode infográfico usado em jornais datade 1702, no The Daily Courant, primei-ro diário inglês, e que o TheTimes, de Londres, estreouum infográfico na primeirapágina em 1806, mostran-do o passo a passo de umassassinato. — Era tecnica-mente perfeito e faria su-cesso mesmo nos dias dehoje. Revistas, como a Time,usam infografias desde osanos 1930. O próprio Globopublicou um infográ-ficona primeira página da edi-ção número 1, em 1925,mostrando o aumento dosautomóveis no Rio de Janeiro de umano para outro.

Em meados da década de 70, diz Léo,O Globo, como a maioria dos grandesjornais, já contava com profissionais

especializadosem gráficos e ma-pas e os departa-mentos de Artecomeçaram a serestruturados. Noentanto, apenasna década seguin-te a infografiapassou a chamargrande atenção,com o lançamen-to, em 1982, doUSA Today, querevolucionou odesign dos jor-nais no mundointeiro com seuuso da infografiae da cor.

— A maior expansão da técnica, po-rém, aconteceu em 1985, com a che-gada do Macintosh. A infografia dei-

xou de ser artesanal, industrializou-see se espalhou pelo mundo. Hoje, ela esuas derivações são fundamentais no

bom jornalismo, quer emmomentos em que apresen-tam a notícia de maneirarápida e de fácil compreen-são, quer elucidando acon-tecimentos intrincados, ouainda aprofundando a in-formação com toques enci-clopédicos. A verdade é queas pessoas entendem me-lhor certos fatos quandomostrados visualmente.

No Globo os editores en-tendem a infografia comoimprescindível para uma

boa edição e até o repórter já sabe quedeve trazer informações visuais paravalorizar sua matéria. — Na maioriados casos – diz Léo –, a idéiada infografia nasce com a pau-ta. As rotinas diárias já inclu-em a infografia como opçãojornalística, da mesma formaque a fotografia. A partir dapauta e do espaço, os editoresfazem seus pedidos. O maiscomum é a Arte sugerir idéiaspara ocasiões especiais, quan-do os trabalhos podem ser ela-borados com mais tempo,mas há casos como o da que-da do helicóptero no ColégioBennet, em que, no momen-to em que a TV deu o flashcom as primeiras informa-ções, já se começava a vascu-lhar a internet em busca demapas da área e do modelo daaeronave. Quando a EditoriaRio fez o pedido, já tínhamosa localização do acidente e umprimeiro esboço da infografia.Porém, no caso dos depoimen-

tos nas CPIs, que se prolon-gam pelo dia inteiro, a Arteprecisa aguardar a chegadado texto compilado pelaEditoria com os pontos im-portantes e o espaço dispo-nível na página.

Na visão de Léo, o info-gráfico deve ir além do tex-to. Pode ser o principal dapágina, quando a informa-ção é mais visual do que tex-tual, ou enriquecer a maté-ria com informações visuaiscomplementares, permitin-do três opções de leitura, “deacordo com o interesse ou otempo do leitor: só o texto,só o infográfico, ou os dois”.Manter o equilíbrio da pá-gina e evitar que as ilustra-ções tenham mais destaqueque o texto é um desafio diá-rio da edição: — Se a fototem mais informação que ográfico, ela deverá ser o ele-mento dominante da pági-na. É importante tambémque o infográfico não seja re-

dundante, quer dizer, não repita exa-tamente o que a matéria está dizen-do. Um bom infográfico, além de serbem-produzido, deve responder às tra-dicionais perguntas: o quê, quem,quando, como, onde e por quê.

A “Folha”, pioneiraMassimo Gentile, editor de Arte da

Folha de S. Paulo, diz que o recurso doinfográfico é tradicional na cultura dojornal que foi o primeiro no País a usá-lo. Coordenador de uma equipe denove infografistas, ele ressalta que “háuma relação dialética entre os edito-res de arte e texto, que pode ser ami-gável ou não”.

— As idéias de uso da infografiavêm de ambos, mas não existe regra,há a prática diária, que começa com acoleta de notícias. Depois, define-se o

que o infográfico vai mostrar. Obser-vamos como ele fica dentro da pági-na, discutimos com os editores de tex-to a quantidade de informações, faze-mos um esboço da página, que passapela conferência e, então, avaliamos asua legibilidade. Pensa-se no conjuntoda página, em que o infográfico deveocupar espaço coerente.

Fábio Marra, infografista da Folha,lembra que os primeiros Macintoshcom softwares gráficos só chegaram àredação no fim dos anos 80: — Até en-tão, tudo era construído com habili-dade manual, nanquim e letraset.Com os computadores, ficou mais fá-cil fazer. Ainda há editores que acre-ditam que jornal deve ser feito commuito texto, mas não concordo, umavez que as pessoas lêem cada vez maisem menos tempo. Ou seja, a informa-ção visual tornou-se uma necessida-de. Além disso, segundo pesquisa doPoynter Institute, infográficos, qua-dros e artes são os primeiros a serempercebidos pelo leitor quando ele fo-lheia o jornal.

IntegraçãoHá oito anos no Jornal do Brasil, o

editor de Arte Renato Dalcin diz queum bom infográfico deve integrar-seà matéria, compor um texto. — Tudono jornal tende a se complementar,então é necessário que a situação pre-cise de uma explicação qualquer quesó o infográfico pode dar. O atentadoem Madri, em 2004, é uma situaçãoperfeita: na foto vêem-se os destroços,o estado dos trilhos, mas o infográficomostra que o trem “x” estava vindodo lugar “y”, explodiu às tantas ho-ras, na estação tal etc.

A utilização das cores numinfográfico, diz Renato, não é proble-ma. — Se a página virar preta e bran-ca, depois de o infográfico ter sido tra-balhado todo na cor, basta que ele te-nha criado com contrastes suficientespara que estes sejam mantidos na es-

cala de tons de cinza. O in-verso dá mais trabalho.

O infografista deve estarantenado nos acontecimen-tos diários e entender a edi-ção do jornal. — Acompanhoo noticiário geral e procurover se há alguma coisa demuito importante acontecen-do que possa gerar arte – dizRenato –. Somos treinados

Uma criação de O Globo com a descrição detalhada da queda de um avião.

Tavejnhansky, de OGlobo: A infografia é

uma soma de disciplinas.

Francisco Ferreira da Silva, do Jornal do Brasil: Os recursos gráficosdevem ser usados de forma criativa.

Cláudio Prudente,também de O Globo:

Infográfico não édecoração, como

alguns imaginam.

AGÊN

CIA O

GLO

BO

AGÊN

CIA O

GLO

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AGÊNCIA JB

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5Julho/Agosto de 2005

Jornal da ABI

para ter uma solução rápida. Mui-tas vezes, porém, a solução ideal de-manda mais tempo.

Designer e ilustradora do jornal,Fernanda Fontenelle compara a pro-dução de um bom infográfico como ato de cozinhar: — É necessária autilização de ingredientes básicos,texto e ilustração, e um bom tem-pero. Nada em falta ou em exces-so. E tem que haver um atrativovisual para “apetecer” ao leitor. Ostemperos podem ser uma fonte di-ferente, um alinhamento não con-vencional, a boa combinação decores e outras coisas mais.

No JB há 15 anos, seu colegaFrancisco Ferreira da Silva achaque os recursos gráficos estãosendo usados de forma maiscriteriosa. — No início, gasta-vam-se páginas inteiras com in-fográficos que não queriam di-zer muita coisa. A primeira coi-sa que temos que usar é a imagi-nação. Produzi um infográficosobre a dragagem que o estalei-ro Brasfels deverá fazer no marde Angra e Parati. Como a reti-rada de lama prevista será de520 mil metros cúbicos, resol-vi criar o fundo da página fei-to de lama, sobre a qual esta-ria escrito com o dedo “SOSParaty”. Fiz essa arte no quin-tal da minha casa e fotografeipara finalizar no Photoshop.

Mais seletividadeAry Moraes, editor de Infografia e

Ilustração de O Estado de Minas, con-corda em que a utilização de infográ-ficos está mais comedida. — Hoje, es-tamos mais seletivos quanto aos as-suntos que realmente devem ser apre-sentados por meio de infográficos. Istose deve tanto à necessidade de se eco-nomizar papel como à experiência.Aprendemos que o recurso só deve serusado quando o assunto é complexodemais para ser entendido apenas atra-vés do texto.

Ary explica que O Estado de Minasvive uma fase de reformulação nessaárea: — O departamento fazia coisasque não lhe competiam e que rouba-vam tempo na produção do que deve-ria ser priorizado. Ministrei um treina-mento para a Redação ao mesmo tem-po em que fazia uma espécie de “inten-sivão” para a turma da infografia. Hoje,aumentou o número de editores de tex-to que entendem os critérios para a uti-lização dos infográficos e que passarama ter participação mais ativa na sua cria-ção, muitas vezes até se antecipando aosartistas.

Segundo Ary, o desafio é combinaro poder da imagem com o texto: — Osdois precisam “conversar” sobre o mes-mo assunto e no mesmo tom, sem queum fale mais alto que o outro. Come-çamos discutindo a pauta, sem esque-cer que trabalhamos em equipe. Nãodeve existir aquela coisa de “a imagem

dática facilita a compreensãodas matérias. Usamos, porexemplo, muitos infos naEditoria de Economia, paraque todos possam ter acessoa informações que nem sem-pre são fáceis de assimilar. Jáem caso de grandes acidentes,é comum mandarmos uminfografista para o local jun-tamente com os repórteres efotógrafos.

Diz André que um bominfográfico deve ir além doque o texto expõe: — Ele devefazer que o leitor realmentevisualize os fatos ocorridos.Muitos infos são lindos, masdifíceis de entender e caren-tes de informação. Infográfi-co não é ilustração. Sua fun-ção é, antes de tudo, infor-mar. Ele deve ser atraente,mas de fácil leitura.

Começo, meio e fimLuiz Iria, editor de Arte da

Superinteressante, diz que narevista todos pensam info-graficamente: — A infogra-fia já se tornou nossa marcaregistrada. Até os repórteres,muitas vezes, chegam daapuração com um esboço de-senhado.

está tirando espaço da minhamatéria” e vice-versa.

Indo além do textoAndré Hippertt, editor-

executivo de Arte de O Dia,diz que hoje, numa redação,todos vêem a infografia co-mo uma poderosa aliada norepasse da informação ao lei-tor: — Como O Dia é um jor-nal popular, com ênfase nasclasses B, C e D, trabalhamosmuito com infográ-ficos,pois sua linguagem mais di-

Na morte de João Paulo II, a Folha fez uma página dupla caprichada, com fotos em seqüência e infográfico em cada extremo das páginas.

Ary Moraes, do Estado deMinas: Agora há mais

contenção no uso de infos.

O ESTAD

O D

E MIN

AS

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Jornal da ABI

6 Julho/Agosto de 2005

Para a internet, o profissional deve criar peçasrealmente interativas, que ultrapassem a imobili-dade dos impressos. Mas não basta se limitar aosefeitos da computação gráfica. Luciana Faria, ge-rente de Interface do Uol e responsável pela Editoriade Arte, diz que no portal o número de textos pu-blicados diariamente é muito grande: — Diferente-mente da mídia impressa, na internet, primeiramen-te, a notícia é publicada e só depois é que as even-tuais ilustrações são desenvolvidas pela equipe dearte. Claro que isto muda em coberturas especiais,como na Copa do Mundo,quando muito antes do co-meço da competição os jor-nalistas e designers envolvi-dos no projeto fazem reu-niões e discutem o melhorformato para cada tipo depágina e/ou informação.

Ela resume as etapas deprodução de um infográficopara o site: — Depois queos dados são enviados peloeditor, a equipe de arte osanalisa, define a melhorimagem para representar ainformação e se inicia apesquisa de referências. Opróximo passo é criar umasegunda imagem, em que serão inseridos os dados.Animações e hiperlinks são recursos muito utiliza-dos, mas o que define o nível de sofisticação do tra-balho é principalmente o tempo disponível para suaexecução.

Dominar a linguagem de cores e formatos tam-bém é fundamental: — É da combinação entre es-ses dois elementos que surgem os mais belos e com-petentes trabalhos. A criação não é um dom, é algo

Os infos nos sites Brasil se reflete nos infográficos, hoje não mais ba-nalizados. — Na internet, por exemplo, o segredo éexplorar a interatividade e os recursos de animação,áudio e vídeo e a maior preocupação fica por contado peso dos arquivos. A evolução no País na últimadécada foi muito grande. Os profissionais brasilei-ros se aprimoraram, abriram os olhos para o que jávinha sendo desenvolvido em países como EUA eEspanha e o aprendizado foi fundamental. Ajuda-mos também os editores de texto a compreender quesem conteúdo não adianta um desenho bonito.

Sobre a produção dos gráficos, ele diz: — Namaioria dos casos, fazemos um rascunho da idéia,tentando alinhavar a estrutura do infográfico. Al-gumas vezes, vai-se a campo para recolher mais in-

formações, detalhes importantes que darão rique-za ao trabalho. Em outros casos, usam-se fotogra-fias como referências para ajudar na representação.Daí em diante, é tudo no computador, especialmen-te na hora de inserir o conteúdo em texto, editaráudios, vídeos etc. A web tem linguagem própria,dá possibilidade ao leitor de interagir com o con-teúdo e experimentar sensações — e o leitor gostade se sentir participativo.

adquirido através de muito estudo e trabalho.Luciana lembra que, na web, o infografista deve

estar atento também à questão do peso em kbytes:— Não adianta fazer uma imagem deslumbrantese a página ficar pesada a ponto de o internautadesistir de vê-la pela demora em baixá-la.

Trabalhando com uma equipe de seis designerscontratados, um estagiário e dois free lancers,Luciana dá dicas aos interessados em atuar nessesegmento: — Fique atento às inovações tecnoló-gicas, navegue muito, estude conceitos de pratici-

dade e arquitetura de informação, mas não se es-queça de que a internet é uma mídia nova e emconstante transformação — portanto, nenhum con-ceito é regra definitiva.

Maturidade profissionalDaniel Chaves, editor de Arte do Globo Online,

diz que o excelente grau de maturidade alcançadopor artistas gráficos e designers há alguns anos no

gráficos, enquanto umamatéria de interesse me-nor pode propiciar exce-lente material.

Atualmente dirigindoempresa própria, a MabuyaDesign, direcionada para omercado editorial de livrose revistas, Mário já foi in-fografista do JB, da Gaze-ta do Espírito Santo, do Jor-nal do Commercio e doGlobo.com e diz: — Umbom gráfico deve respeitaro lide como qualquer ma-téria. O processo se iniciana apuração das informa-ções. Deve-se priorizar omais relevante, o que é in-formação de suporte. Émuito semelhante ao es-quema da pirâmide inver-tida: quanto maior a im-portância da informação,mais espaço ela ocupará nacomposição da área do

gráfico. Por isso é preciso ter um bomentendimento de teoria e técnicas tan-to artísticas quanto jornalísticas.

O infográfico nos informativos online: neste, do Globo Online, a ilustração mostra a evolução da marca dos 100 metros nado livre.

Ele diz que se engana quem pensaque o texto perde sua importânciadentro de um infográfico: — Quan-do texto e imagem se integram, ge-ram informação imediata. O cuidado

Luiz Iria, da revistaSuperinteressante, e

Mário Leite, que foi de ODia e Lance!: Pelo respeito

ao texto e ao lide.maior que se deve ter num infográficoé o excesso na “decoração”. Nada podeser mais importante do que a informa-ção, que deve vir numa seqüência con-tínua, com começo, meio e fim. É im-

portante destacar umaimagem principal, quemostre o ponto inicial deleitura, desperte emoção evalorize e embeleza o info-gráfico. Os textos nuncadevem estar espremidosnos espaços ou invadir asimagens; também não de-vem ser longos e cansati-vos. Ao mesmo tempo, asimagens não podem ocupartodo o espaço da página.

Respeito ao lideMário Guilherme Leite

começou a carreira noDia, onde conheceu a in-fografia, mas só passou aatuar nessa área quandoingressou no Lance!. Se-gundo ele, o ponto chavede qualquer discussão pas-sa pelo uso ou não da téc-nica: — Muitas vezes osmotivos que levam ao usodeste recurso não são os corretos. Nãonecessariamente o assunto mais im-portante da pauta gera ou pede bons

Info de O Diacompara

seleções defutebol do

Brasil e Japão.

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7Julho/Agosto de 2005

Jornal da ABI

Em 13 de agosto foi come-morado o Dia do Patronoda Imprensa Brasileira, emhomenagem a HipólitoJosé da Costa Pereira Fur-

tado de Mendonça, que iniciou a suacarreira jornalística em Lisboa, em1801, quando assumiu o cargo de Di-retor Literário da Imprensa Régia Lu-sitana. Sete anos depois, em 1º de ju-nho de 1808, ele fundava em Londreso jornal Correio Braziliense, que circu-lou clandestinamente no Brasil e nacapital inglesa até 1822. Nascido naColônia de Sacramento, atual Repú-blica do Uruguai, em 13 de agosto de1774, Hipólito José da Costa foi cria-do em Porto Alegre, Rio Grande do Sul,onde fez os cursos preparatórios parasua formação em Direito e Filosofiana Universidade de Coimbra, que con-cluiu em 1798.

PIONEIRISMOEm 2000, por projeto aprovado pelo

Congresso Nacional e sancionado peloentão Presidente da República Fernan-do Henrique Cardoso, Hipólito José daCosta foi consagrado oficialmente Pa-trono da Imprensa Brasileira e tevesuas cinzas transportadas da Inglater-ra para o Brasil. A urna foi depositadano Museu Nacional da Imprensa deBrasília, em cerimônia que contoucom a presença do Vice-PresidenteMarco Maciel.

Na opinião de alguns pesquisadores,como o professor da Escola de Comu-nicação e Artes da USP José Marquesde Melo, apesar da linha editorial es-sencialmente política do jornal, com olançamento do Correio Braziliense Hi-pólito José da Costa também abriu es-paço para o jornalismo científico noBrasil, por meio da divulgação dos fa-tos e idéias gerados no continente eu-ropeu que ele considerava relevantespara aplicação no Brasil, quando esteainda era uma colônia de Portugal.

Esta vocação ele desenvolveu no sé-culo XVIII, quando foi destacado peloMinistro português D. Rodrigo deSouza Coutinho para fazer uma via-gem aos Estados Unidos, a fim de es-tudar as questões econômicas daque-le país. Durante a missão, o jovem re-pórter fez um importante registro dasinovações científicas e tecnológicasque a florescente nação norte-ameri-cana começava a desenvolver — opúblico, no entanto, só teve acesso aeste estudo em 1955, quando foi pu-blicado o Diário de Minha Viagem àFiladélfia.

CLANDESTINOEm 1801, já de volta a Portugal e

pelas mãos do mesmo D. RodrigoCoutinho, Hipólito foi nomeado Di-retor da Casa Literária do Arco doCego. Um ano depois, embarcou paraLondres, em nova missão oficial, para

����� José Reinaldo MarquesMEMÓRIA

Por lei, Hipólito José da Costa éo Patrono da Imprensa Brasileira e tem

seu dia oficial: 13 de agosto

aquisição de material gráfico para aImprensa Régia e livros para o acervoda Real Biblioteca.

Suas relações com a Maçonaria por-tuguesa, porém, provocaram a perse-guição do Santo Ofício, o que acabouresultando em dois anos e meio deprisão em Lisboa. Em agosto de 1805,ajudado por amigos maçons, Hipólito

José da Costa conseguiu fugir e refu-giar-se na Inglaterra.

Em Londres, Hipólito José da Cos-ta foi beneficiado pela cidadania bri-tânica e conseguiu imunidade contraas tentativas da Coroa portuguesa deconter suas críticas à política esta-belecida no Brasil, veiculadas sem cen-sura nas páginas do Correio Braziliense,

Retrato deHipólito Joséda Costa em

litografia feitaem 1811, emLondres, por

H.R. Cook

que também destacavam seu ponto devista favorável ao processo de indepen-dência da Colônia.

O Correio Braziliense, de circulaçãomensal, é considerado por destacadosestudiosos o pioneiro da imprensa bra-sileira, por seu caráter noticioso e in-dependente. Era editado em Londrese transportado clandestinamente denavio para o Brasil, onde vigorava aproibição de veiculação de qualquermaterial impresso que não fosse ofici-al do Governo. Com um mínimo de72 e máximo de 140 páginas, seu pro-jeto gráfico, moderno para a época,compreendia seções de Política, Ciên-cias, Comércio, Artes e Literatura euma coluna que funcionava como es-paço para o leitor.

JUSTIÇAApesar de a imprensa ter florescido

na América hispânica no período co-lonial, no Brasil a atividade só pôdeacontecer no início do século XIX,quando a Coroa portuguesa, fugindoda ocupação napoleônica na Penínsu-la Ibérica, se transferiu para o Rio deJaneiro e aqui instalou o Reino Unidode Portugal. Nessa ocasião começarama ser instalados no País os primeirosprelos e tipografias. Foi quando, se-gundo relato do Professor Marques deMelo, entrou em circulação na Amé-rica o primeiro jornal de língua portu-guesa, a Gazeta do Rio de Janeiro, edi-tada pelo frei Tibúrcio José da Rocha.

A edição da Gazeta, veículo oficialda Coroa portuguesa, gerou a contro-vérsia de quem teria sido o verdadeirofundador do jornalismo brasileiro. Aconfusão aumentou quando o Presi-dente Getúlio Vargas oficializou a ce-lebração do Dia da Imprensa na datade lançamento da Gazeta, que acon-teceu no dia 10 de setembro de 1808.

O problema só foi resolvido em 2000,quando o Congresso Nacional aprovouprojeto de lei consagrando Hipólito daCosta como Patrono da Imprensa Bra-sileira, levando-se em consideração queo Correio Braziliense foi fundado em 1ºde junho, data em que se comemora oDia Nacional da Imprensa.

Hipólito José da Costa é também opatrono da cadeira nº 17 da AcademiaBrasileira de Letras. Nos registros daABL, o Correio Braziliense consta como“a mais completa tribuna de análise ecrítica da situação portuguesa e brasi-leira, formando uma estante de 29grossos tomos, os quais se estendemdesde 1802 a 1822, ano em que a in-dependência do Brasil estava transfor-mada numa radiosa vitória”.

Com a consumação da Independên-cia do Brasil, Hipólito José da Costaconsiderou que seu dever estava cum-prido e encerrou a publicação do jor-nal. Morreu em 1823, sem saber quetinha sido nomeado Cônsul do Impé-rio do Brasil em Londres.

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Jornal da ABI

8 Julho/Agosto de 2005

DEPOIMENTO

Repórter políticopor mais de 50 anos,ele acompanhou eviveu na intimidadeos mais importantesfatos políticos doBrasil na segundametade doséculo 20.

Jornal da ABI — Fale sobre sua infânciae sua família.Murilo Melo Filho — Nasci em Natal,Rio Grande de Norte, filho de Hermíniae Murilo Melo, telegrafista de quem her-dei não apenas o nome, mas tambémum legado de muito trabalho e honra-dez. Minha infância foi pobre, ao ladode seis irmãos mais moços. Estudei noColégio Marista de Natal, com a im-plantação em mim de um sentimentode dignidade e gratidão que tem nor-teado toda a minha vida.

Jornal da ABI — Que lembranças Vocêtem desse período?Murilo — Lembro-me bem da revolu-ção em Natal, em 23 de novembro de1935, quando pela primeira vez uma re-pública comunista se instalou na Amé-rica Latina. Os revolucionários, lideradospor um sargento, um músico e um sapa-teiro, dominaram a cidade durante qua-tro dias e chegaram a imprimir uma úni-ca edição do jornal A Liberdade, antes deserem sufocados pelas tropas do Exérci-to que acorreram do Ceará e da Paraíba.

Jornal da ABI — Você estreou cedo no jor-nalismo, aos 12 anos de idade. Como issoaconteceu?Murilo — Comecei no Diário de Natal,quando ainda usava calças curtas, comDjalma Maranhão, escrevendo um co-mentário esportivo e ganhando um sa-lário de 50 mil réis por mês. Depois, fuitrabalhar no jornal A Ordem, com OtoGuerra, Ulisses de Góes e José Nazarenode Aguiar, e em A República, com Luísda Câmara Cascudo. Ainda na minhacidade, trabalhei também nas RádiosEducadora e Poti.

Jornal da ABI — Quando completou 18anos, Você se mudou para o Rio de Janei-ro. Por quê?

Murilo — Vim para o Rio convicto deque em Natal, onde não havia entãouma só faculdade, não existiam maio-res horizontes para um jovem dispostoa enfrentar os perigosos desafios da vida.

Jornal da ABI — Chegando ao Rio, Vocêfoi logo trabalhar como jornalista?Murilo — Não. Comecei a trabalharnum escritório de advocacia e me inscrevina Faculdade de Direito, que ficava naRua do Catete. Achava que advocacia ejornalismo eram duas profissões que secompletavam, porque ambas eram fala-das e dependiam muito das relações hu-manas. Depois de formado, percebi quenão seria nem um bom advogado e nemum bom jornalista se quisesse ser as duascoisas ao mesmo tempo.

Jornal da ABI — E depois?Murilo — Assim que cheguei ao Rio, eume inscrevi no Dasp (DepartamentoAdministrativo do Serviço Público, jáextinto), para fazer um concurso de da-tilógrafo do Ministério da Marinha; fuiaprovado e em seguida passei tambémpara um concurso do IBGE (atual Fun-dação Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística). Ao mesmo tempo, comeceia me oferecer em todos os jornais cario-cas para que me testassem e soubessemse eu prestava ou não. Apesar de existi-rem então mais de 30 periódicos, somen-te o Correio da Noite me deu uma opor-tunidade na reportagem marítima.

Jornal da ABI — Você sentiu muita dife-rença entre o trabalho no Rio e o que ha-via feito em Natal?Murilo — Sim, claro, o impacto foimuito grande. Eu vinha de uma provín-cia com muitas limitações e poucos re-cursos para enfrentar um jornalismomoderno e adiantado no Rio, que na-quela época tinha 33 jornais. Tive quefazer um esforço enorme para me

Repórter obstinado,Murilo Melo Filhoentrevistou algumas dasmais importantespersonalidades do nossotempo, como Eisenhower,Kennedy, Nixon, Reagan —quando presidentes dosEstados Unidos —, DeGaulle e Giscard d´Estaing.Também fez reportagenscom Fidel Castro, CheGuevara, Perón e Evita, ocientista Albert Sabin e, emmeio à cobertura da guerrado Vietnã, Ho-Chi-Min.

Murilo gosta de lembrarque foi testemunha degrandes e decisivosmomentos da História doPaís, como participante dacobertura de muitosepisódios que transformarama vida nacional, como adeposição de Getúlio Vargas,a construção de Brasília, arenúncia de Jânio Quadros ea proscrição de JuscelinoKubitschek.

Nesta entrevista a JoséReinaldo Marques, MuriloMelo Filho fala de suacarreira desde o início emNatal, Rio Grande do Norte,aos 12 anos de idade, até seuingresso na AcademiaBrasileira de Letras, maisde meio século depois.Suas palavras sãotestemunho precioso deum período complexo daHistória do Brasil.

readaptar e enfrentar a rivalidade e aconcorrência, que era feroz.

Jornal da ABI — Do Correio da NoiteVocê foi parar na Tribuna da Imprensa,com Carlos Lacerda.Murilo — O Lacerda ligou para mim,dizendo que havia lido minhas reporta-gens e que gostaria que eu fosse traba-lhar com ele. Estive na Tribuna de 1952a 1959 e me envolvi naquelas campa-nhas todas dele: contra o Mendes deMorais, contra o lenocínio no Mangue,contra o jogo do bicho e até contra ojornal Última Hora e Getúlio Vargas.

Jornal da ABI — Você trabalhou no Jor-nal do Commercio, com San Tiago Dan-tas e Assis Chateaubriand; e no Estadão,com Julio de Mesquita Filho e Prudentede Moraes, neto. Quais foram os seusmelhores momentos nesses jornais?Murilo — Houve momentos gratifican-tes, mas também vivi outros traumati-zantes, como o suicídio de Vargas, apóslongo processo de crise política e militar.Às oito da manhã daquele dia, aquelesque lutavam contra ele se consideravamvitoriosos com o seu pedido de licença.Meia hora depois, porém, passaram devitoriosos a grandes derrotados.

Jornal da ABI — Em que ano Você foipara a revista Manchete?Murilo — Trabalhei lá durante 47 anos,desde a fundação, em abril de 1952, atéo seu fechamento em 1999, quando fa-liu. Foi uma grande escola de jornalismoe cultura. Dez membros da ABL passa-ram pelos quadros profissionais da Man-chete: Josué Montello, Raimundo Maga-lhães Júnior, Antônio Houaiss, Ledo Ivo,Oto Lara Resende, Arnaldo Niskier,Carlos Heitor Cony, Afonso Arinos, filho,Cícero Sandroni e eu, além de outros qua-tro que não foram acadêmicos simples-mente porque não quiseram: Fernando

ACERVO

MU

RILO

MELO

FILHO

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9Julho/Agosto de 2005

Jornal da ABI

Sabino, Rubem Braga, Henrique Pongettie Paulo Mendes Campos.

Jornal da ABI — Você também dirigiu asucursal da revista em Brasília.Murilo — Como diretor da sucursal deManchete, fui para Brasília no início desua construção, em 1957, com minhamulher Norma e um filhinho de trêsmeses. Não havia praticamente nada lá,comemos o pão que o diabo amassou,não gosto nem de me lembrar. Soumembro do Clube do Candango, que atéhoje reúne os fundadores da cidade.

Jornal da ABI — Mas nessa época Vocêainda trabalhava na Tribuna da Im-prensa.Murilo — Eu já era repórter político daManchete e chefe da seção política daTribuna da Imprensa quando o Juscelinofoi pela segunda vez a Brasília e me con-vidou para ir também. Apesar da posi-ção do jornal e do Lacerda, que lhe mo-viam uma guerra implacável, ele sem-pre me tratou com muita deferência.

Jornal da ABI — Então Você acompanhoude perto o sonho de JK de instalar a capi-tal do País no Planalto Central?Murilo — Sim. Eu via o entusiasmodele. No dia seguinte à nossa chegada,às quatro da manhã ele já estava baten-do na porta dos nossos quartos para ir-mos ver as obras. Apontava e dizia:“Aqui vai ser a Câmara, ali vai ser o pré-dio do Supremo Tribunal Federal...”

Jornal da ABI — Qual foi a sua reação?Murilo — Voltei para o Rio, reuni osBloch — o Adolfo, os sobrinhos todos— e disse: “Vamos entrar nessa, porqueo homem é doido e vai construirBrasília”. Dois meses depois, comecei air a Brasília para acompanhar a constru-ção da Capital e a publicar na Manche-te, toda semana, uma reportagem sobreas obras. O Adolfo comprou máquinasnovas e a revista começou a crescer, au-mentando a tiragem.

Jornal da ABI — Você era amigo pessoaldo Presidente Juscelino?Murilo — Guardo desse homem ótimasrecordações. Ele fez um Governo de li-berdade e de respeito. Não gostava doLacerda porque este queria derrubá-lo,mas respeitava o seu direito de escrever

contra ele o que bem quisesse. JK diziasempre: “Deus poupou-me o sentimen-to do medo. Mas poupou-me tambémo sentimento da vingança.”

Jornal da ABI — Você também deu au-las de Jornalismo na Universidade deBrasília..Murilo — Foram cinco anos muitoinstigantes, durante os quais, a convitede Oscar Niemeyer, lecionei Técnica deJornalismo, com Pompeu de Souza, naminha primeira e última experiênciacomo professor. Até recebi um manifes-to dos estudantes para ficar.

Jornal da ABI — Você trabalhou na ex-tinta TV Rio, no programa “Congresso emrevista”. Foi uma boa experiência traba-lhar em televisão?Murilo — Comecei a trabalhar no Ca-nal 13 uma semana depois de ele entrarno ar. Dos três blocos do programa demeia hora, um chamava-se O assunto dasemana e o outro, Os ausentes da semana,com base na freqüência dos deputadospublicada no Diário Oficial. Havia aindaum terceiro bloco, O parlamentar da se-mana, com entrevistas com deputados esenadores que tivessem se destacado.

Jornal da ABI — Falando de sua intimi-dade com políticos, Você escreveu no Jor-nal do Commercio sobre uma viagem aCuba, acompanhando Jânio Quadros,que renunciou pouco depois. Que histó-ria foi essa?Murilo — Quando Jânio ainda era can-didato, o Embaixador Vasco Leitão daCunha ofereceu-lhe uma recepção naEmbaixada Brasileira em Havana, reple-ta de refugiados políticos. Fidel Castrochegou de Sierra Maestra com Guevarae os dois começaram a contar para oJânio várias histórias. Presenciei toda aconversa do princípio ao fim e ouvi oFidel dizer o seguinte: “Imagine, Dr.Jânio, que quando nós entramos aquina cidade, há seis meses, queríamos na-cionalizar uma empresa norte-america-na e o Dr. Manuel Urrútia, que nós ha-víamos designado para Presidente daRepública, era contra; queríamosencampar um banco estrangeiro, e elese opunha. O senhor sabe o que eu fiz,Dr. Jânio? Renunciei ao meu posto dePrimeiro-Ministro. No que renunciei, opovo veio para esta praça, na frente des-ta Embaixada, acampando aqui três diase três noites, exigindo a minha volta”.

Jornal da ABI — E qual foi a reação deJânio?Murilo — Na viagem de volta ele era

outro Jânio. Chamou-me no últimobanco do avião, com um copo de uís-que sem gelo entre as duas mãos, e fa-lou: “Murilo, você viu o que o Primeiro-Ministro fez? Ele renunciou e o povofoi para a rua exigir a sua volta.”

Jornal da ABI — Você acha que isso tevealguma influência no episódio da renún-cia dele?Murilo — Olha, hoje eu tenho absolu-ta certeza de que aquilo ficou martelan-do na cabeça do Jânio e influenciou asua decisão. Quando renunciou, ele vi-nha de Brasília e, ao chegar no aeropor-to de Cumbica, indagava aos berros den-tro do avião: “E o povo? Onde é que estáo povo que não veio me buscar?”

Jornal da ABI — Como jornalista políti-co, Você privou da intimidade de muitospresidentes brasileiros. Como foi sua re-lação com os militares?Murilo — Com muito afastamento,neutralidade e alguma desconfiança. Euos julgava com muita severidade, con-siderando as perseguições injustas e ascassações que eles promoveram — so-bretudo Juscelino e outros tantos líde-res que não mereciam ser cassados.

Jornal da ABI — Mesmo estando emBrasília no primeiro ano do golpe, o se-

Murilo fez sua iniciação na cobertura internacionalmuito jovem, como visível na foto, em que ele

cumprimenta Nelson Rockefeller, então Governador deNova York e figura influente do Partido Republicano.

Murilo Melo Filho com um companheiro degrandes coberturas: o repórter-fotográfico

Jáder Neves, fortemente equipado.

OutroPresidente

dos EstadosUnidos que

Murilo pôdeconhecer eentrevistar:

RichardNixon, eleito

(1968),reeleito

(1972) ederrubado

peloescândalo do

Watergate(1973).

Como repórter qualificado da revista Manchete,Murilo Melo Filho entrevistou destacadas

personalidades, como o Presidente John Kennedy (àesquerda; com eles o Embaixador Roberto Campos) e

Ernesto Che Guevara (a seu lado, Paulo de TarsoSantos, mais tarde Ministro da Educação).

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Jornal da ABI

10 Julho/Agosto de 2005

nhor conseguia manter distância dos go-vernantes militares?Murilo — Eu tinha um princípio: elespassam e eu fico como jornalista. Porque é que eu vou fazer o jogo deles?

Jornal da ABI — Na sua opinião, qualPresidente brasileiro soube usar melhor amídia e foi hábil no trato com os repórteres?Murilo — Sem dúvida o Juscelino, nãosó pela sua obra, que fez o Brasil pro-gredir 50 anos em cinco, mas tambémpela empatia pessoal. JK era um homemjovial e dinâmico, que deu ao País no-vos padrões de desenvolvimento.

Jornal da ABI — Somente há pouco, comdois anos e meio de Governo, o PresidenteLula concedeu sua primeira coletiva.Como Você analisa a relação dele com osveículos de comunicação?Murilo — Eu nem sei por que ele adioutanto esse primeiro contato. Por sua lon-ga trajetória no movimento sindical, Lulasabia de sua habilidade para tratar os jor-nalistas. Não perdeu nada e saiu-se bemna primeira coletiva. Só espero que esteêxito estimule maior freqüência.

Jornal da ABI — Você pertence a umageração de jornalistas — da qual tambémfazem parte Carlos Castelo Branco e Vi-las-Bôas Corrêa, entre outros — que é con-siderada uma das mais importantes do jor-nalismo político brasileiro. Por quê?Murilo — Porque fomos testemunhaspresentes e atuantes do período de 1950a 1960, quando a Câmara dos Deputa-dos se reunia no Palácio Tiradentes.Com a construção de Brasília, tudo setransformou.

Jornal da ABI — Quefato marcante o senhorpoderia destacar da-quela época?Murilo — Nós quefazíamos a cobertu-ra da Câmara pre-senciamos os viru-lentos discursos deVieira de Melo con-tra Carlos Lacerda e

os ataques de Afonso Arinos con-tra Getúlio. Foi um período de grande ta-lento oratório. Depois aconteceram o sui-cídio de Getúlio Vargas, a eleição de Jus-celino e sua trepidante atuação na Presi-dência. Havia também a violenta oposi-ção da UDN, que radicalizava e não per-doava falhas do Governo.

Jornal da ABI — Qual o discurso quemais lhe chamou a atenção?Murilo — Um de Afonso Arinos, emque ele dizia: “Como homem, falo aohomem Getúlio Vargas. Falo ao cidadãopara que não hesite um só momento emdeixar o Governoque ele não soubehonrar”. Mais tar-de o Afonso Ari-nos fez questão deque o seu discur-so nunca mais fos-se lembrado. Dezdias depois o Ge-túlio se suicidou eele achava que asua fala contribu-íra para o gestodesesperado doPresidente.

Jornal da ABI — Você também foi cor-respondente de guerra, no Vietnã e noCamboja. Qual a imagem que mais omarcou nesse período?Murilo — O que vi foi a mais estúpidadas situações. Homens miúdos levan-do pesados morteiros nas costas, cami-nhando grandes distâncias debaixo daterra e respirando por canudos de bam-bu. De repente, lançavam os seus mor-teiros contra os tanques norte-ameri-canos e assim destruíram a maior má-

quina de guerra do mundo.

Jornal da ABI — Em 1999, Você se ele-geu para a cadeira número 20 da Acade-mia Brasileira de Letras. Foi o jornalis-mo que lhe abriu as portas da Academia?Murilo — Entre as benesses que o jor-nalismo me proporcionou está o ingres-so na Academia Brasileira de Letras. Eucostumava freqüentar as reuniões dosacadêmicos com seus fardões, junta-mente com os companheiros DeolindoCouto e Gilberto Amado. Um dia eu dis-se para o Mauritônio Meira, tambémjornalista e recém-chegado do Mara-nhão: “Quem sabe se algum dia eu nãovou chegar aqui?” Cinqüenta anos de-pois, aqui estou eu.

Jornal da ABI — Qual a sua relação coma ABI?Murilo — Eu pertencia ao ConselhoDeliberativo, no qual tive a alegria de

conviver com muitos colegas jornalis-tas com os quais fiz amizade. Eram óti-mas companhias.

Jornal da ABI — Em que estágio se en-contra o jornalismo brasileiro?Murilo — Está ingressando numa erainteiramente nova, mais investigativa.Há um material vastíssimo a explorar eas revistas estão investindo mais nessavertente, a exemplo da IstoÉ e da CartaCapital.

Jornal da ABI — Você considera que anova geração está dando conta do recado?Murilo — Não há dúvida de que os jo-vens repórteres estão empenhados em seafirmar e têm pela frente ambientes pro-pícios para isso. O fato de as própriasempresas de comunicação criarem cur-sos de capacitação de pessoal recém-for-mado mostra que elas estão se consoli-dando e aponta na direção do sucesso.

Incumbido dacobertura da obra de

construção deBrasília, Murilo

conquistou o respeitodo Presidente

Juscelino Kubitschek(ao alto, com o

Deputado RanieriMazzili entre os dois).

Foto à esquerda:Murilo e Norma, suamulher, com Drault

Ernany e o jovemTancredo Neves.

Murilo com os PresidentesItamar Franco e Fernando

Henrique Cardoso, estenum encontro social de

que participaram suamulher, Norma, e o

jornalista Carlos Chagas,que então chefiava a

Representação da ABI emBrasília.

Numabrincadeira com

o jornalistaMauritônio

Meira, Muriloaventou a

hipótese de umdia chegar à

AcademiaBrasileira de

Letras.Chegou: ei-lo

paramentado defardão, com a

mulher e Niskier,outro ás da

Manchetetornado imortal.

Murilo com doiscompanheiros da

Manchete: Arnaldo Niskier,Diretor de Jornalismo, e Luiz

Fernando Cascudo.

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11Julho/Agosto de 2005

Jornal da ABI

Oúnico museu destinado a guar-dar e pesquisar a História daImprensa no Brasil está fun-

cionando desde 4 de abril de 2002 numsalão de 600 metros quadrados no an-dar térreo da Imprensa Oficial do Es-tado do Rio, em Niterói, idealizado edirigido por jornalistas, professores,historiadores e advogados.

Lá é possível encontrar exemplaresde jornais com manchetes históricasdos séculos XIX e XX; recortes dos fa-tos ligados ao setor e registrados du-rante 50 anos pelo Lux Jornal, empre-sa especializada em leitura e forneci-mento de recortes de jornais; livros,álbuns e cadernos especiais comemo-rativos de datas históricas dejornais; uma réplica da “Im-pressora de Gutenberg”, lino-tipos, clichês, tipos móveis,máquinas gráficas de escreverou fotográficas; etc. Mastambém a “modernidade”dos anos 70 do século XX,marcada pela introdução dosistema ofsete de impressãoe início da fase de informati-zação dos meios de impren-sa – desde “composers” ele-trônicas com computadoresXT –, está lá, entre painéisilustrados e com textos que“falam” de história das gráfi-cas, jornais, revistas e emis-soras de rádio e de tevê.

O começoA idéia da criação do mu-

seu foi plantada oficialmen-te no dia 3 de outubro de1989 por Jourdan Amora,veterano repórter e diretorde jornal ao se despedir dapresidência da AssociaçãoBrasileira de Jornais do In-terior-Abrajori. Aproveitan-

�����Pereira da Silva (Pereirinha)PRECIOSIDADES

Criado pelo idealismo do jorCriado pelo idealismo do jorCriado pelo idealismo do jorCriado pelo idealismo do jorCriado pelo idealismo do jornalista Jonalista Jonalista Jonalista Jonalista Jouuuuurdan Amora erdan Amora erdan Amora erdan Amora erdan Amora e

mantido pela sua obstinação, o Centro de Pmantido pela sua obstinação, o Centro de Pmantido pela sua obstinação, o Centro de Pmantido pela sua obstinação, o Centro de Pmantido pela sua obstinação, o Centro de Pesquisa eesquisa eesquisa eesquisa eesquisa e

PPPPPreserreserreserreserreservação da Memória da Imprensa Brasileira, sediadovação da Memória da Imprensa Brasileira, sediadovação da Memória da Imprensa Brasileira, sediadovação da Memória da Imprensa Brasileira, sediadovação da Memória da Imprensa Brasileira, sediado

em Niterói, tem um acerem Niterói, tem um acerem Niterói, tem um acerem Niterói, tem um acerem Niterói, tem um acervo invejável sobre a evoluçãovo invejável sobre a evoluçãovo invejável sobre a evoluçãovo invejável sobre a evoluçãovo invejável sobre a evolução

editorial e tecnológica dos veículos impressos no Peditorial e tecnológica dos veículos impressos no Peditorial e tecnológica dos veículos impressos no Peditorial e tecnológica dos veículos impressos no Peditorial e tecnológica dos veículos impressos no País.aís.aís.aís.aís.

do o encontro em Niterói de 300 dire-tores de empresas jornalísticas, ele mo-bilizou representantes de 13 Estadospara criar o “Centro de Pesquisa e Pre-servação da Memória da ImprensaBrasileira”, como entidade destinadaa encontrar espaço para implantar omuseu, como “depósito de memóriade veículos de comunicação social edos jornalistas”.

Após entendimentos com a Prefei-tura de Niterói, o Governo do Estadoe a Universidade Federal Fluminense,13 anos depois, no fim do GovernoAnthony Garotinho, Jordan Amoraconseguiu um espaço com a Impren-sa Oficial do Estado, que ali também

preserva os seus 74 anos de história.O órgão público dá seu apoio cedendouma museóloga e dois estagiários,além de manter a limpeza, ceder umramal telefônico e não cobrar os gas-tos com luz.

À inauguração, quando presidia aImprensa Oficial o atual DeputadoAdroaldo Peixoto Garani, comparece-ram 300 pessoas, o que transformouo ato num acontecimento nacional,graças à cobertura dada por emissorase jornais de audiência e circulação emvários Estados.

O presidente do Museu da Impren-sa do Porto, Portugal, encantou-se coma “forma didática e pedagógica” do bem

montado museu, que mere-ceu visitas como a da direto-ra da Biblioteca do Congres-so dos Estados Unidos e edi-tores de sites europeus.

PromoçõesEmpenhando-se em co-

memorar datas como o Diada Imprensa, do Repórter-Fotográfico, dos Gráficos etc.e ser palco de lançamentos delivros sobre comunicação so-cial, o museu tem promoçõesdestacadas como a mostra“Humor no Museu”, que reú-ne cartunistas de vários Es-tados.

Voltado para servir aospesquisadores e aos estudan-tes, promovendo visitas gui-adas, o museu tem sido alvode produções de equipes decursos de Jornalismo e pon-to de referência para elabo-ração de teses e monografias.

Este ano, o Dia da Impren-sa teve como palestrante oPresidente da ABI, MaurícioAzêdo. Seguiram-se noite de

autógrafos do livro Alberto Cavalcanti,cineasta do mundo, de autoria do jorna-lista Sergio Caldieri; exposição de car-tuns de Mário Carias (foto acima), queatua na imprensa niteroiense, e recep-ção de documentos, exemplares e pe-ças para enriquecer seu já rico acervo.

O Festival de Humor teve sua segun-da edição em agosto; para setembro foiprogramada exposição em homenagemao fotógrafo francês Cartier Bresson nodécimo aniversário de sua morte.

ApeloO presidente Jordan Amora consi-

dera que o museu ainda tem grandesdeveres a cumprir, mas para o cum-primento dos seus objetivos precisaque os veículos de comunicação, osjornalistas, os professores de Jornalis-mo e autores de livros entendam quea entidade é destinada a eles e estáaberta à participação. O museu é im-portante fonte de pesquisa sobre aimprensa e sobre os que a fazem – osjornalistas..

— Já temos biografias, principal-mente de falecidos, de mil jornalistase temos apelado aos coleguinhas paraque nos remetam suas histórias pes-soais e o que possam contar de histó-rias de vida de outros profissionais, acujos dados pessoais tenham acesso –diz Jordan.

Igualmente o museu gostaria de re-ceber os primeiros números de jornaisem circulação e livros editados por jor-nalistas ou abordando temas e fatos dosetor. O museu também pretende terum representante em cada Estado eestá à disposição dos que se disponhama assumir tão relevante missão.

Os sóciosO Museu da Imprensa pode bater

um recorde digno do Guinness Book:é o de menor custo financeiro. Sem se

Um dos tesouros do museu fluminense: uma réplica da “Impressorade Gutenberg”, que deu início à revolução do livro e do jornal. �

ACERVO JOURDAN AMORA

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Jornal da ABI

12 Julho/Agosto de 2005

beneficiar de verbas ou patrocínios,vive de doações para o seu acervo e decolaborações para a promoção dos seuseventos. Como exemplo, em cadaevento os convites são produzidos gra-tuitamente pelas gráficas da cidade. Osassociados pagam R$ 15,00 por mês.

Considerado o sétimo melhor domundo, entre os dedicados ao jorna-lismo, e o segundo mais visitado en-tre os sete da cidade de Niterói, o mu-seu desperta o interesse de um núme-ro muito grande de estudantes, jorna-listas e professores. Entretanto, ape-sar de convidadas para todos os even-tos, poucas autoridades públicas, nostrês níveis de governo, o visitaram.

O museu funciona de segunda asexta-feira das 10 às 17 horas, comentrada franca. Visitas guiadas podemser agendadas através do ramal 211 dotelefone 2620-1122. O seu endereço:Rua Marquês de Olinda, Centro, sededa Imprensa Oficial do Estado do Riode Janeiro. Para quem chegar de bar-ca ou catamarã, o museu está a milmetros da estação de desembarque,com acesso pela Rua Dr. Celestino.Quem chega da Ponte Rio—Niteróientra na Avenida Amaral Peixoto atéà Praça da República e segue duas qua-dras da Rua Dr. Celestino. Placas deorientação indicam o caminho.

� Um dos diretores do museu, Luís Antônio Pimentel, com94 anos de idade, ainda está em atividade profissional e éa memória viva do jornalismo fluminense.� O museu nasceu com o acervo reunido por Jordan Amoraem seus 50 anos de jornalismo e equipamentos doados pelojornal A Tribuna e guardados pela empresa em cada fase datradição tecnológica (da tipografia à fase inicial do ofsete e dainformática).� O seu espaço é aberto para programações alusivas ao setor,com solenidades programadas por empresas, entidades eescolas de Comunicação, ou para lançamento de livros, etc.� Empresas que produzem equipamentos, peças ouinsumos para jornais podem ali depositar suas histórias.� O museu tem uma biblioteca especializada emcomunicação social, com mais de 400 volumes.� Seu Conselho Deliberativo é integrado, entre outros, pelospresidentes dos Sindicatos dos Jornalistas Profissionais e dasEmpresas Jornalísticas do Estado do Rio de Janeiro com sedeem Niterói e diretores de Sindicatos dos Gráficos, da IndústriaGráfica e dos Publicitários.

Pereirinha é repórter político de A Tribuna, presi-dente do Centro Comunitário, Social e Culturalda Trindade, com sede no bairro Trindade, Mu-nicípio de São Gonçalo, diretor da União dasAssociações de Moradores de São Gonçalo-Unibairros, membro suplente do ConselhoDeliberativo da ABI e membro dos ConselhosMunicipais de Comunicação e de Segurança Pú-blica de São Gonçalo, RJ.

Por dentro do museu

As novas gerações de jornalistas não sabem o que é uma linotipo,máquina fantástica que revolucionou a imprensa e a vida.

Um equipamento gráfico hoje em desuso na imprensa: a produtora defotolitos, que há 30 anos era um must, um assombro nas oficinas de jornal.

O jornalista Jourdan Amora (terceiro à esquerda) e sua mulher, Eva (à direita), ciceroneiamvisitantes estrangeiros que querem conhecer todas as dependências do museu.

VISITA

A Associação dos ex-Combatentesdo Brasil, Seção Rio de Janeiro, con-cedeu ao Presidente de Honra da Aca-demia Luso-Brasileira de Letras,Kepler Alves Borges, a Medalha Jubi-leu de Ouro, pelos relevantes serviçosprestados à classe — Kepler é capitãoreformado do Exército e participou da2ª Guerra Mundial como terceiro-sar-gento, no teatro de operações da Itá-lia”, na 3ª Seção do Estado-Maior da1ª Divisão de Infantaria Expedicioná-ria, sob a chefia do então Tenente-Coronel Humberto de Alencar Cas-telo Branco.

Autor do livro O Brasil na guerra(1947), registrado na Biblioteca doImperial War Museum, de Londres,por solicitação de seu Diretor, advo-gado, jornalista e sócio da ABI há 58anos, Kepler é atualmente assessorde imprensa da Real Sociedade Clu-be Ginástico Português (Grande Be-nemérito) e auditor do Superior Tri-bunal de Justiça Desportiva da Con-federação Brasileira de Remo (Bene-mérito).

Medalha paraKepler Borges

O jornalista espanhol Juan Anto-nio Sacaluga Luengo (foto) esteve noBrasil fazendouma matéria so-bre os mil dias deLuiz Inácio Lulada Silva na Presi-dência, para exibi-ção na TelevisiónEspañola SA em12 de outubro.Entre os represen-tantes de diferen-tes setores da vidacultural e empre-sarial brasileira,Luengo entrevis-tou o Presidente da ABI, de quem quissaber, entre outras coisas, como é o re-lacionamento do Governo Lula com osmeios de comunicação.

Sacaluga veio de Madri especial-mente para este trabalho e lamentouque, devido à crise política no País, nãotenha conseguido confirmar a entre-vista que pretendia fazer com Lula.Apesar das dificuldades encontradaspara falar com o Presidente, ele man-teve as esperanças de resolver o pro-blema, ainda que tivesse que prolon-gar sua permanência no Brasil.

Depois que chegou à Espanha,Sacaluga, muito cavalheiresco, man-dou um e-mail à ABI confirmando odia de exibição da reportagem.

Governo Lula,tema da TVespanhola

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Jornal da ABI

AABI foi cenário no dia 28 dejulho de vigoroso ato públicode repúdio à corrupção, con-vocado por um conjunto de

partidos políticos – PDT, PPS, P-Sol,PSTU, PCB – e apoiado por dezenasde entidades representativas da socie-dade civil. A adesão à manifestação ad-quiriu tanta dimensão que, ao declararaberto o ato, o Presidente da ABI pe-diu que a sessão não se prolongassemuito, porque a superlotação do Audi-tório Oscar Guanabarino, com capaci-dade para 600 pessoas, e de seu saguãode acesso, amplo hall no nono andardo Edifício Herbert Moses, impunhacuidados especiais de segurança.

Na entrevista coletiva que de-ram antes do ato público, os presiden-tes do PDT, Carlos Lupi; do PPS,Roberto Freire; do P-Sol, Heloísa He-lena; do PSTU, José Maria; e do PCB,Zuleide Faria de Melo, afirmaram quea mobilização que estão promovendocontra a corrupção é também ummanifesto contra o atual modelo eco-nômico. — O PDT abraçou este atoem nome da democracia brasileira,para buscar demonstrar à populaçãoque há caminhos diferentes do que ostomados pelo PT. Por isso seremos in-transigentes contra a corrupção e omodelo econômico extorsivo que vemachatando os salários dos trabalhado-res — disse Carlos Lupi.

O Presidente do PDT disse tambémque o desejo do partido e de seus alia-dos é mostrar que há caminhos dife-rentes para a esquerda brasileira: — Oque nos interessa neste momento é umprojeto para o País e configurar umaaliança que se coloque à esquerda doPT, para não ficar essa falsa polariza-ção, parecendo que o Brasil está entreo Valério do PT ou o Valério do PSDB.

Para a Presidente do PCB, a partici-pação do seu partido no ato representao fortalecimento de um debate nacio-nal sobre a ética na política. ZuleideFaria de Melo se disse decepcionadacom o Governo: — Apoiamos o Lulaporque ele era um candidato que repre-sentava os anseios do trabalhador bra-sileiro. Nós, que somos defensores daclasse operária, esperávamos dele umcomportamento que não aconteceu.Por isso estamos hoje aqui, para falarde ética, de justiça e de transformaçõesque ajudem todo trabalhador a usufruirdos resultados do seu trabalho.

O Presidente do PSTU, José Maria,justificou a adesão do seu partido aoato com a crença na tese de que a atualcrise política só poderá ser consertadase houver envolvimento da população:— Não acreditamos que a solução es-teja no Congresso, pois o Poder Legis-

UM BASTA À CORRUPÇÃOA sociedade civil expressa em ato na ABI sua exigência de honestidade na vida pública

lativo é controlado pelo poder econô-mico. É importante que a manifesta-ção venha das ruas. Também vamos lu-tar por uma apuração rigorosa da cor-rupção e pela prisão de todos os envol-vidos. Semana que vem, daremos en-trada no Ministério Público Federalnum pedido de investigação do Lula edo envolvimento dele no processo.

O Deputado Roberto Freire ressal-tou que os escândalos de corrupção quelevaram à atual crise política provoca-ram uma grande frustração nos eleito-res de Lula e em toda a nação. E de-monstrou discordar da posição do Pre-sidente do PSTU de que a solução dacrise está fora do Congresso: — Aindanão temos unidade, mas precisamoslutar pelo Congresso Nacional, mesmoque nele haja membros envolvidos nasdenúncias. Devemos acreditar no Con-gresso como um instrumento democrá-tico que possa dar solução à crise.

O Presidente do PPS fez dura críticaao PT, dizendo que o partido do Go-verno falhou em sua proposta de cons-trução de um novo modelo de socieda-de: — Havia um pensamento de fra-casso da esquerda e diziam que nóssocialistas é que falhamos por não ter-mos construído um mundo novo. O PTé que é uma grande fraude histórica,porque não tentou nada. Lamentavel-mente, é uma profunda decepção.

A Senadora Heloísa Helena, por suavez, justificou a participação do P-Solno ato contra a corrupção: — Não es-tamos aqui para um tributo de modis-mo de pequenos burgueses. Viemos aquipara dizer não ao modelo econômicoque beneficia a elite, que nunca se ale-grou tanto como neste momento.

Heloísa Helena disse também queneste momento todos os partidos es-tão fazendo concessões, “não ideoló-gicas ou éticas”, para que se possa

construir uma alternativa de mobili-zação popular, mas que não compar-tilha com esta “manobra para desviaras atenções do cerne da crise”.

Sobre a possibilidade de impeachment,ela respondeu: — Se o Presidente daRepública responderá por infrações fe-derais, os resultados das apurações dasCPIs é que vão indicar. Devemos seguiro que manda a Constituição do País, maso impeachment seria a última alternati-va. Defendemos a penalização de quemrasga o Código Eleitoral. Não aceitamoso caixa dois. Crimes contra a adminis-tração pública devem dar cadeia.

Carlos Lupi também afirmou queo PDT trabalha para preservar a Cons-tituição: — Se as denúncias, infeliz-mente, atingirem o Presidente Lula,que se cumpra o que está previsto naConstituição, sem medo.

A proposta de acordo entre os par-tidos políticos feita pelo Presidente doSupremo Tribunal Federal, MinistroNelson Jobim, para evitar que o Paíscorra riscos de chegar a uma criseinstitucional, foi muito criticada pe-los presidentes dos partidos presentesà coletiva.

— O Ministro Nelson Jobim atuoucomo um líder do Governo no Con-gresso. Não compete a ele julgar osrecursos. Sua intervenção foi inopor-tuna, indevida, e ele deveria se resguar-dar, pois poderá ser convocado paratomar algumas decisões importantespara o País — disse Roberto Freire.

Para a Presidente do PCB, Zuleide Fa-ria de Melo, o Ministro Nelson Jobimnão deveria dar opiniões pessoais sobrea crise política: — Esse não é o seu pa-pel como representante do Judiciário.

Primeiro orador do ato, o Governa-dor de Alagoas, Ronaldo Lessa, alertouque a luta contra a corrupção deve serfeita com prudência e responsabilida-

de. Segundo ele, é possível promovertransformações sem criar uma criseinstitucional: — É preciso a apuraçãode todos esses escândalos. O País nãoagüenta mais tanto sofrimento.

Zuleide Faria de Melo, Presidentedo PCB, discursou sobre o quadro dedegeneração do Governo: — É precisodenunciar e pedir a punição dos quetraíram o povo brasileiro. Mas tam-bém é preciso reforçar que o Congres-so não tem legitimidade para aprovaro impeachment de Lula.

Martiniano Cavalcante, membro daExecutiva Nacional Provisória do P-Sol,representou a Senadora Heloísa Hele-na — que teve que se ausentar após acoletiva concedida antes do ato por pro-blemas pessoais, da mesma forma quea Deputada federal Denise Frossard(PPS–RJ) — e falou sobre o apodreci-mento de um regime político: — Gover-nabilidade para quem e para quê? Paraatender às classes dominantes? O Go-verno se aliou às elites. A esquerda doPT tem que assumir uma postura decombate à corrupção.

O Presidente da ABI leu um textoenviado pelo Deputado federal ChicoAlencar e pelo Deputado estadualAlessandro Molon, em que eles decla-raram seu apoio à voz coletiva dosmanifestantes na luta contra a corrup-ção e afirmando que o Brasil não estáà venda. A mensagem não agradou aosparticipantes, que a vaiaram durantea leitura, pela vinculação partidária deambos.

O Senador Juvêncio Fonseca (PDT-MS) afirmou que é necessário promo-ver manifestações de rua antes que oBrasil entre numa crise moral irrever-sível. A Deputada federal LucianaGenro (P-Sol – RS) também falou daimportância de mobilizar a sociedade:— Nós do P-Sol nos recusamos a con-cordar com a prática do sindicalismodentro de qualquer governo. Não te-mos medo de uma crise institucional.É fundamental confiar na luta dospobres e trabalhadores.

Estiveram presentes ao ato, entreoutros, os Deputados federais Babá (P-Sol) e Severiano Alves (PDT); os ex-deputados Clemir Ramos (PDT) e JoãoSampaio (PDT), ex-prefeito de Nite-rói; os Deputados estaduais José Boni-fácio (PDT), Paulo Ramos (PDT) e An-dré Correia (PPS); o ex-Vereador Améri-co Camargo, representando o VereadorSami Jorge (PDT); os Vereadores Elio-mar Coelho (PT) e Brizola Neto (PDT);Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, pre-sidente da Força Sindical; militantes devários partidos e representantes dosdiretórios acadêmicos das principaisuniversidades do Rio de Janeiro.

De tão grande, a assistência ocupou até o palco do ato pluripartidário pela ética.

CLAMOR

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Jornal da ABI

14 Julho/Agosto de 2005

HOMENAGEM

O jornalista Arthur José Poerner re-cebeu em 12 de agosto do DeputadoCarlos Minc o tttulo de Beneméritodo Estado do Rio de Janeiro. O eventoaconteceu no Auditório OscarGuanabarino, no 9º andar do EdifícioHerbert Moses, sede da ABI, institui-ção a que Poerner é filiado desde 1964e da qual é membro efetivo do Conse-lho Deliberativo.

Antes da cerimônia, Poerner se dis-se satisfeito com a homenagem, porser um reconhecimento pelo trabalhoque realizou — no seu caso, no jorna-lismo, na literatura e na música, comoletrista.— Quando recebemos essestítulos, pensamos em toda a gente queconhecemos e que lutou para tornareste País mais democrático. Quandotive meus direitos políticos suspensospor uma década, tinha apenas 26 anos;fui a pessoa mais jovem do Brasil a terseus direitos cassados. Fiquei quase 14anos exilado e vejo que não passei pelavida sem deixar alguma coisa.

Lisonjeado, agradeceu a iniciativada Carlos Minc: — Já tenho a maiorhomenagem do Município, a MedalhaPedro Ernesto e agora recebo o maiortítulo do Estado.

COM CANDEIANo saguão do auditório foi monta-

da uma exposição de fotos do jorna-lista em momentos importantes daHistória, com personalidades como oGovernador Leonel Brizola, ao lado deregistros de sua conhecida paixão pelofutebol e o samba.— Minha antigapaixão pela Portela nasceu da minhaamizade com Candeia, um dos maio-res nomes do samba do Brasil, comquem fiz duas músicas. Inclusive,quando estava exilado em Londres,acertamos um samba por telefone. Jáo Flamengo está representado nestafesta, agora, na presença de WalterOaquim, membro do ConselhoDeliberativo do clube e meu compa-nheiro de faculdade.

Sobre o livro O Poder Jovem: Histó-ria da Participação Política dos Estudan-tes Brasileiros, proibido pela ditadura,Poerner orgulha-se de estar esgotadaa quinta edição, lançada no ano pas-sado na ABI.

— É um dos meus 12 livros publi-cados e me trouxe grandes alegrias

mo ele, uma chance de poder reno-var esperanças e valores tão necessá-rios nos tempos sombrios que es-tamos vivendo.

A homenagem, revelou o Deputa-do, era pensada há algum tempo.—Um grupo de jovens que lançou aCartilha do Movimento Estudantilreforçou essa idéia.

Assembléia Legislativa do Estado do Rioconfere honraria ao autor de O Poder Jovem.

depois de ter sido lançado em julho de1968 e em dezembro do mesmo anoter ficado entre os 20 títulos proibi-dos pelo AI-5.

O Deputado Carlos Minc disse quea homenagem foi, na verdade, à nossaHistória, porque Poerner, ao escreversobre a juventude e suas grandes lu-tas, as imortalizou.— Ele faz com quea gente reflita. Quando homenagea-mos um jornalista importante comoele, num momento de crise como oque vivemos, serve de alento, é umacoisa necessária para o País.

Amigo de longa data do jornalis-ta, Minc recorda que o conheceu emLisboa, quando Poerner ainda estavaexilado na Europa.— É um orgulhopoder conviver com uma pessoa co-

Poerner,Benemérito

“EMBAIXADOR”O Presidente da ABI abriu a cerimô-

nia chamando para compor a mesa,com Minc e o homenageado, WalterOaquim e Leonardo Giordano, Subse-cretário de Meio Ambiente de Niterói.Em seguida, convidou para discursarum antigo companheiro de Redação dePoerner, Sérgio Cabral, que apontou

como justa a homenagem ao jor-nalista. Poerner, disse, tem impor-tante papel intelectual ao ajudara humanidade com seu talento.—Eu me orgulho duplamente pelaentrega desta medalha. Primeiro,pelo nascimento; segundo, pelaconsagração pelo Estado.

Em seu discurso, Cabral, bem-humorado, lembrou ainda dostempos em que ele e Poerner atu-aram juntos na sala de imprensado Itamarati.— Ele era do Correioda Manhã e eu, da Folha de S. Pau-lo. Naquela época, Poerner já eraum dos mais brilhantes. Depoistrabalhamos juntos na Folha daSemana, onde ele assumiu a dire-ção. Azêdo, que foi nosso colega

nessa época, costumava chamá-lo de“Embaixador”. Com o livro O PoderJovem, Poerner explodiu como intelec-tual. É uma pessoa que preserva suaintegridade e seu talento e é bom terentre nós essa figura.

O compositor Dalmo Castelo emo-cionou-se ao falar do amigo. – Ele égrande parceiro, grande confrade.Uma pessoa com quem convivi duran-te muito tempo e que sempre me deualento nos piores momentos.

O ex-Deputado federal VladimirPalmeira disse que o livro de Poernerdecretou uma mudança sociológica aoinstituir a categorização da juventu-de. — Ele trata da História do movi-mento estudantil. Na nossa época,éramos chamados para mudar o mun-do. Hoje, há uma mudança de valo-

Momentos de Poerner: com Brizola, a quem ele conheceu também no exílio; na Ala dosCompositores da Portela, sua escola, e com a camisa de sua paixão, o Flamengo.

Ao lado do Deputado Carlos Minc, que o conheceu no exílio, em Lisboa, no final dos anos 70,Poerner exibe com orgulho o diploma de Benemérito do Estado do Rio de Janeiro.

ACERVO

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15Julho/Agosto de 2005

Jornal da ABI

Escritor, jornalista, professor ecompositor de música popular,Arthur José Poerner começou a car-reira jornalística como repórter doJornal do Commercio, em 1962. Maistarde, foi redator da Standard Pro-paganda e do Correio da Manhã; di-retor da Folha da Semana e articu-lista da Revista Civilização Brasilei-ra. Após a suspensão dos seus di-reitos políticos, em 1966, e a prisão,em 1970, exilou-se na Alemanha,onde foi redator e locutor da rádioVoz da Alemanha e corresponden-te da Tribuna da Imprensa, do sema-nário Pasquim e da revista IstoÉ.

CONSELHO

Pajê e Chediakna Diretoria

res, a participação política dos jo-vens é menor. Quando é necessá-rio, porém, a juventude do Brasilse levanta e participa.

ATO DE CORAGEMWalter Oaquim lembrou que

Poerner lhe disse uma vez quequando perdia uma utopia logocriava outra. — Nossa luta nãotermina nunca. Quando não con-sigo alcançar uma coisa, recom-pensa-me olhar para trás e verque construí uma estrada de jus-tiça social, como sempre defen-demos.

Antes de entregar o título aPoerner, Minc disse que fez umaviagem no tempo ao ver as fotosda exposição, em que muitas ve-zes aparecia ao lado do amigo emmomentos importantes, como numencontro em Lisboa. — Esta não é umahomenagem ao jornalista e escritor,amante da música e do futebol. É umahomenagem especial que nos orgulhade sermos cariocas e brasileiros.

Leonardo Giordano falou sobre aimportância de prestar uma homena-gem a alguém que escreveu uma obrapara a juventude.— Os jovens devem

se aliar àqueles que tiveram participa-ção ativa nas lutas nacionais. A juven-tude não está ausente, mas é precisocontinuar se organizando e lutandopara se ter dignidade.

Ao agradecer, Poerner disse não tero talento de oradores como Brizola ouFidel Castro, mas que queria expressarsua felicidade com a iniciativa de CarlosMinc: — Sempre me preocupei com ademocracia. É muito bom receber estahomenagem nesta Casa, da qual souassociado desde 1964 e que é atualmen-te presidida pelo meu amigo MaurícioAzêdo, que preserva desde os temposda Folha da Semana a mesma tenacida-de na luta por justiça.

Ao fim do evento, encerrado com ohino Cidade Maravilhosa, Maurício dis-se que se sensibilizou ao relembrar ostempos em que compartilhava a reda-ção da Folha da Semana com Poerner, oque era considerado um ato de ousadianaqueles idos de setembro de 1965-de-zembro de 1966, quando o jornal foiproibido por uma portaria do entãoMinistro da Justiça Carlos Medeiros eSilva.— Era um ato extremado de co-ragem produzir um jornal do PartidoComunista Brasileiro naquele momen-to difícil que o Brasil vivia.

Trabalho, exílio, prisãoDepois da volta ao Brasil, em

1984, foi editor de Cultura da TVGlobo e escreveu para a revista Ca-dernos do Terceiro Mundo e para osjornais O Estado de S. Paulo e Jornaldo Brasil. De 1987 a 1990, presidiuo Sindicato dos Escritores do Esta-do do Rio de Janeiro e, de 1991 a1994, a Fundação Museu da Ima-gem e do Som do Rio de Janeiro.

Entre outros livros, publicouArgélia, o caminho da independência,Nas profundas do inferno, Identida-de cultural na era da globalização eNossa paixão era inventar um novotempo.

Ellen de Lima, uma das Cantoras do Rádio,levou seu abraço a Poerner.

Poerner com Walter Oaquim, Diretor do Flamengo:Utopia não se perde, troca-se.

Jesus Chediak (ao alto) retorna ao setorde cultura da ABI. Pajé traz para a Casa

densa experiência.

Em sua reunião de agosto, o Conse-lho Deliberativo da ABI promoveu opreenchimento de cargos da Diretoriaque estavam vagos desde abril, em con-seqüência da renúncia de diretores.

Para a Diretoria Econômico-Finan-ceira foi designado o Conselheiro Do-mingos Meirelles, que já vinha exer-cendo o cargo interinamente e, paraassumi-lo em caráter efetivo, renun-ciou à Diretoria de Assistência Social.Para esta foi indicado e aprovado oConselheiro Paulo Jerônimo de Souza,conhecido no meio profissional comoPajé; para a Diretoria de Cultura eLazer, o associado Jesus Chediak

Dois caminhos, dois vencedoresChediak e Pajé cumpriram trajetó-

rias distintas no campo da comuni-cação, o primeiro empenhado na cri-ação e implantação de programas cul-turais, o segundo voltado para o cam-po estrito do jornalismo, seja em veí-culos de comunicação, seja em insti-tuições de caráter público.

Por mais que buscasse dedicar-seapenas a jornais e revistas, sua paixãodesde moço, Pajê foi sempre atraídopara a vida pública. Após participar daassessoria do candidato FranciscoNegrão de Lima ao Governo do anti-go Estado da Guanabara em 1965, Pajênão pôde negar-se a uma missão queNegrão cordialmente lhe impôs comovitorioso: participar de sua assessoriade imprensa. Pajê foi depois assessorde imprensa de mais dois governado-res, Moreira Franco e Marcelo Alencar,que o chamou para a campanha elei-toral e, depois, vitorioso, para a asses-soria de imprensa do Governo do Es-tado. Trabalhou também, e muitotempo, na comunicação do BNDES,no qual ingressou em 1979.

Ao contrário de Pajê, paulista deMococa que começou em 1963 na Su-cursal de São Paulo do Boletim Cambi-al, pela mão do jornalista AristótelesAndrade, e que se profissionalizoumesmo, nesse ano, no Jornal do Dia,de Belém do Pará, tentativa de SamuelWainer de implantar a então florescen-te Rede Última Hora no Norte do País,Chediak fez sua iniciação perto decasa, na adolescência, como freqüen-tador habitual do Correio da Manhã,de que um dos seus tios era editorialis-ta. Ele criou gosto pelo jornalismo, tra-balhou na revista Jóia, da Bloch Edito-res, colaborou no Jornal de Letras dos

irmãos Conde, editou o periódicoInterartes, órgão da Rioarte, institui-ção cultural da Prefeitura do Rio, masqueria era promover realizações naárea cultural.

Conseguiu e as promoveu na pró-pria ABI, de que foi Diretor das Ati-vidades Culturais em 1980, tendocomo parceiro de iniciativas um sau-doso companheiro, o jornalista e pro-fessor José Nilo Tavares. Desde en-tão Chediak acumulou realizaçõesmarcantes, como o recorde de fre-qüência de 430 mil espectadorespagantes em um ano a um teatro pú-blico, o João Caetano do Rio, de quefoi Diretor no segundo Governo Leo-nel Brizola.

Embora muitos companheiros pen-sem que seu apelido teria surgido nojornalismo, Paulo Jerônimo de Souzatraz o Pajê da atividade esportiva, emque se iniciou muito cedo, na infân-cia. Como seu prenome era duplo econsiderado muito extenso, os com-panheiros de piscinas e de quadras re-solveram abreviar a forma de chamá-lo, que pegou até hoje. É com orgulhoque Pajê relembra essas origens: alémde jogador de basquete, modalidadeem que chegou a integrar as seletasequipes do Banespa, foi tricampeãopaulista de natação e ouviu muitasvezes o grito de “dá-lhe, Pajê!”

Aprovada por unanimidadea indicação dos dois, quecompletaram a Diretoria.

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Jornal da ABI

18 Julho/Agosto de 2005

DENÚNCIA

A ABI SOB CERCOO Conselho Nacional de Assistência Social e o INSS conluiaram-se para,

em nome de suposta dívida, se apossar do patrimônio da ABI.

ILUSTRÍSSIMA SENHORA DOUTORA MÁR-CIA MARIA BIONDI PINHEIRO,

DIGNÍSSIMA PRESIDENTE DO CONSELHONACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCI-AL E COMBATE À FOME

Referência: Processo nº 71010.000795/2004-17

1. A Associação Brasileira de Imprensa, jáqualificada nos autos do processo em epígrafe,vem, tempestivamente, ingressar nesse Egré-gio Conselho com

PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO DOINDEFERIMENTOdo pedido contido no processo citado, conformeadmitido no caput do art. 39 da Resolução nº 177do CNAS, de 8 de dezembro de 2004, e informadono Ofício MDS/CNAS/Pres/Nº 221, de 20 de maiopassado, no qual Vossa Senhoria deu ciência dessadecisão denegatória, fundada no entendimento deque “a matéria de isenção de cota patronal não écompetência do CNAS”.

1.1. A tempestividade do presente Pedido deReconsideração decorre do fato de que, embora da-tado de 20 de maio, o expediente dessa Presidênciafoi postado somente no dia 12 de junho seguinte,conforme reprodução do envelope da correspondên-cia dirigida a esta Associação (Documento 1). Aindaque a comunicação tenha sido remetida por via pos-tal como registrado urgente, evidencia-se que elanão chegou ao destinatário antes de 13 de junhopassado. Daí, pois, a comprovação da tempestividadedeste Pedido de Reconsideração.

1.2. Antes da sustentação das razões que a le-vam a postular desse Egrégio Conselho a revisão dadecisão de indeferimento de seu pleito, objetivandonão a concessão de isenção da contribuiçãoprevidenciária patronal ao Instituto Nacional do Se-guro Social-INSS, como referido no mencionadoOfício MDS/CNAS/Pres/Nº 221, mas sim a conces-são de Recadastramento do Registro e a expedi-ção do Certificado de Entidade Beneficente deAssistência Social, o qual assegura o acesso à ob-tenção posterior da isenção da contribuiçãoprevidenciária patronal, a Requerente considera ne-cessário formular preliminares de caráter fático econstitucional acerca do tratamento que tem mere-cido do Poder Público e, agora, do Conselho Nacio-nal de Assistência Social. É o que fará a seguir.

2. PRIMEIRA PRELIMINAR, DE CARÁTERFÁTICO:

O DESCONHECIMENTO DA TRAJETÓRIA EDO PAPEL DA ABI NA VIDA NACIONAL

2.1. No Ofício CNAS/MDS/PRES/Nº 3071/05, de1º de junho de 2005, em que desenvolve mais exten-samente a comunicação acerca do indeferimento doProcesso nº 71010.000795/2004-17, essa ilustrada Pre-sidência repete a informação de que o indeferimentodo pleito da ABI foi motivado pelo fato de “abordarmatéria de competência exclusiva do INSS (isençãode cota patronal)”. Diz ainda Vossa Senhoria que, “ob-servando o trâmite dos processos da Associação Bra-sileira de Imprensa”, verificou que “há um desvirtua-mento entre os objetivos da entidade e os da Lei Or-gânica de Assistência Social-LOAS, motivo prepon-derante nos indeferimentos de pedidos anterio-res de concessão de Registro e Certificado deEntidade Beneficente de Assistência Social-CEAS” (grifo nosso, ABI).

2.1.1. Há aí o reconhecimento, primeiro, de queo que a ABI tem pleiteado e ainda agora pleiteia noprocesso em epígrafe não é a isenção de cota patro-nal, mas a concessão dos documentos que lhe per-mitirão o acesso à isenção –– o Registro e Certifica-do de Entidade Beneficente de Assistência Social;segundo, de que há outros motivos para odesacolhimento de seu pleito, pois se o alegado des-virtuamento é o motivo preponderante doindeferimento, este é determinado também por ou-tras razões sobre as quais este motivo prepondera.

2.1.2. Entre esses outros motivos que levam oConselho à decisão de indeferimento figura por cer-to o desconhecimento acerca do que é a ABI, que étratada com profundo desrespeito nos procedimen-tos contra ela adotados por esse Conselho e peloInstituto Nacional do Seguro Social, que ignoram anatureza da entidade, sua trajetória em quase umséculo de existência e seu papel na vida nacional. AABI é tratada como se postulasse benefício indevidoe destituído de qualquer fundamento constitucio-nal, legal e ético, o que já em si constitui uma ofen-sa à mais antiga e representativa entidade dos jor-nalistas e dos profissionais de comunicação do País.

2.1.3. Uma prova desse desapreço é constituídapela própria tramitação do Processo nº71.010.000795/2004-17, que foi formado no princí-pio de 2004 e permaneceu cerca de um ano sem qual-quer despacho, instrução, opinamento ou eventoprocessual de qualquer natureza e só suscitou a aten-ção desse Egrégio Conselho porque um diligente pro-fissional contratado pela Casa para outros fins, oContador Sérgio Barbosa, se interessou pelo proces-so, foi a Brasília por conta própria e, aí na capital,buscou informar-se sobre a tramitação do pedido daABI. Só então o processo passou a andar, mereceuparecer e foi incluído em pauta, para o julgamentoque, sem qualquer diligência, culminou com ofuzilamento da pretensão da ABI.

om base no esdrúxuloentendimento de que umaentidade beneficente deassistência social deve

atender todas as pessoas em “situaçãode vulnerabilidade” – num país em quemais de 40 milhões de pessoas seencontram abaixo da linha de pobreza—, o Conselho Nacional de AssistênciaSocial, órgão do Ministério doDesenvolvimento Social e do Combateà Fome, está sonegando à ABI arenovação do Registro e do Certificadode Entidade Beneficente de AssistênciaSocial, decisão que levou o InstitutoNacional do Seguro Social-INSS alançar contra a ABI a cobrança de cincoanos de contribuição previdenciáriapatronal, num montante que em 3l dedezembro de 2004 superava mais de 2,6milhões de reais.

Com isso, o Conselho Nacional deAssistência Social e o INSS colocarame mantêm a ABI sob um cercoimplacável, com o qual pretendem seapossar do patrimônio da entidade eespecialmente do Edifício HerbertMoses, sede da instituição desde julhode 1938, construída e mantida peloesforço de nada menos de quatrogerações de jornalistas, à frente opróprio Moses, que dá nome ao prédio,primeiro marco da arquiteturacontemporânea brasileira.

Contra essa agressão a ABI ingressouno Conselho Nacional de AssistênciaSocial com um Pedido deReconsideração de Indeferimento, natentativa de reverter uma seqüênciade hostilidades desfechada no GovernoFernando Henrique Cardoso econtinuada sob o atual Governo, que,tal como seu antecessor, ignora que aABI foi declarada de utilidade públicapor um decreto-lei editado peloCongresso Nacional e sancionado em1917 pelo então Presidente VenceslauBrás. Aqui, a íntegra da petição da ABI.

O DOCUMENTOC

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2.1.4. A ABI, Senhora Presidente, foi fundada em7 de abril de 1908 e desde então tem-se colocado navida nacional não como entidade meramentecorporativista, voltada exclusivamente para a defe-sa de interesses específicos dos jornalistas, mas comouma instituição destinada à defesa dos interessesmaiores do País e do seu povo em inúmeros campos.Se hoje a Petróleo Brasileiro S.A.-Petrobrás pode alar-dear com legítimo orgulho que até o ano de 2010procederá à aplicação de US$ 53 bilhões em investi-mentos no setor de petróleo, isto se deve à luta degerações e gerações de brasileiros que sustentaramcom discernimento e heroísmo a idéia da criação domonopólio estatal do petróleo, no fim dos anos 40 ecomeço dos anos 50, até à aprovação da Lei nº 2.004,de 3 de outubro de 1953, que instituiu esse mono-pólio e criou a Petrobrás. Em recinto fechado, Se-nhora Presidente, o cenário principal e mais freqüen-te dessa memorável campanha cívica foi o Auditó-rio Oscar Guanabarino da Associação Brasileira deImprensa, situado no nono andar do Edifício HerbertMoses, sede da ABI, o qual abrigou também outrascampanhas patrióticas, como, entre outras, a lutaem defesa das riquezas minerais do País.

2.1.5. Mais recentemente, em momento maispróximo da nossa História atual, a ABI teve papeldestacado na regeneração dos costumes políticos doPaís, infelizmente ainda inconcluída, por sua parti-cipação na revolução ética que resultou noimpeachment do Presidente Fernando Collor deMello. O primeiro signatário da petição apresenta-da à Câmara dos Deputados com esse fim foi o Pre-sidente da ABI, jornalista, escritor, professor e aca-dêmico Barbosa Lima Sobrinho, símbolo debrasilidade e de limpidez na vida pública.

2.1.6. No campo político-institucional, SenhoraPresidente, a Associação Brasileira de Imprensa tempapel inigualado, que só encontra símile na atuaçãodo Egrégio Conselho Federal da Ordem dos Advoga-dos do Brasil-OAB a partir da inesquecível gestão doadvogado José Ribeiro de Castro Filho, que, no co-meço dos anos 70, colocou a entidade dos advoga-dos brasileiros na primeira estacada da luta pelo res-peito às liberdades civis e aos direitos humanos epelo estabelecimento do Estado Democrático de Di-reito no Brasil, que inexistia entre nós mesmo sob oimpério da Constituição de 18 de setembro de 1946,rasgada pelo golpe militar-civil de 1° de abril de 1964.

2.1.6.1. Foi na ABI, Senhora Presidente, que oGeneral-de-Exército Pery Constant Bevilacqua, apósafastar-se do serviço ativo, como membro do ExcelsoSuperior Tribunal Militar, lançou a Campanha Na-cional pela Anistia, bandeira desfraldada pioneira ecorajosamente pela ABI em abril de 1965, na pri-meira Assembléia-Geral Anual que realizou após aderrubada do Governo constitucional do PresidenteJoão Goulart. Coube à ABI aglutinar nessa iniciati-va, cuja presidência foi confiada ao honrado Gene-ral Pery Bevilacqua, a ação dos Comitês Pró-Anistiaconstituídos em diferentes pontos do País pelo idea-lismo de desprendidos cidadãos e cidadãs, como, emSão Paulo, a admirável Dra. Terezinha Zerbini. Foigraças a essa luta que ascenderam na vida públicaos antigos perseguidos pelo regime militar, que ago-ra assistem inermes e passivos à agressão que se efe-tiva à ABI.

2.1.6.2. Foi também a ABI, Senhora Presidente,ao lado de instituições como o já referido ConselhoFederal da OAB e da Conferência Nacional dos Bis-pos do Brasil-CNBB, uma das instituições que maispugnaram pela implantação do Estado Democráticode Direito consagrado pela Constituição de 5 de ou-tubro de 1988, com o conteúdo social insculpido noseu Capítulo II e na extensa enunciação contida nosarts. 6 a 11 do texto constitucional. Entre esses direi-

tos figuram os que integram a política de assistênciasocial do País, de que esse Egrégio Conselho é guardião.Precisamente por essa atuação da ABI não pode esseConselho insistir em desconhecer o papel que estaCasa do Jornalismo teve e tem na definição e insti-tuição de políticas de amparo à gente brasileira, comoaquelas em curso no campo da assistência social.

2.1.7. A ABI, Senhora Presidente, não é umaentidadezinha que possa ser continuadamenteespezinhada, como está sendo, por freqüentes co-municações, intimações, notificações e outros pro-cedimentos intimidatórios que a desviam da trilhada sua destinação principal, que é a defesa da liber-dade de imprensa, para acudir a emergências dita-das por uma legislação de circustância, imprecisa ecapciosa e redigida em jargão palavroso e oco quenão enaltece seus autores. A ABI está cansada disso,dessa coação exercida por servidores que, emboraqualificados e atendendo às obrigações legais de seuofício, não podem ser o braço burocrático de baixahierarquia de impulsão da ação totalitária de que aABI agora é vítima.

2.1.7.1. A Associação Brasileira de Imprensa,Senhora Presidente, é uma instituição de prestígiointernacional, expresso em inúmeros episódios desua existência longeva, como a visita que o Presi-dente dos Estados Unidos Harry Truman fez à suasede no fim dos anos 40; o costume adotado peloItamarati, quando sediado no Rio de Janeiro, de fa-zer da ABI o cenário das entrevistas coletivas conce-didas à imprensa brasileira por ilustres visitantes detodas as áreas, desde agentes do Estado a personali-dades do mundo artístico e cultural; o desejo mani-festado por líderes políticos de expressão internaci-onal de visitá-la, como fez o Senador Robert Kennedydurante sua visita ao Brasil no fim dos anos 60, pou-co antes de ser morto pelas balas da intolerância.Essa tradição, Senhora Presidente, só foi interrom-pida porque, com sua atuação em defesa das liber-dades e dos direitos humanos, a ABI foi colocadapela ditadura no índex, no rol dos adversários do sis-tema repressivo instalado no País entre 1964 e 1985.

2.1.8. Desde logo, Senhora Presidente, a ABImanifesta a sua disposição de, paralelamente à for-mulação deste Pedido de Reconsideração, represen-tar à Comissão Interamericana de Direitos Huma-nos contra o Estado e o Governo brasileiros por agi-rem para sufocar, com base numa legislação especi-osa, a mais antiga instituição do Brasil de defesa daliberdade de imprensa.

2.1.9. Por todo o exposto anteriormente, fica cla-ro, Senhora Presidente, que a ABI é credora do reco-nhecimento nacional. O Estado nacional muito lhedeve, pela contribuição por ela prestada no campoda difusão de conhecimentos, no campo do aperfei-çoamento dos costumes políticos, no campo da edu-cação e, também, como já assinalado, no campo daassistência social.

2.1.9.1. Mais que o reconhecimento nacional, aABI reclama respeito, que lhe tem sido sonegado peloPoder Público e por esse Egrégio Conselho.

3. SEGUNDA PRELIMINAR, DE NATURE-

“A ABI foi fundada em 7 de abril de 1908 e desde então tem-secolocado na vida nacional não como entidade meramentecorporativista, voltada exclusivamente para a defesa deinteresses específicos dos jornalistas, mas como uma instituiçãodestinada à defesa dos interesses maiores do País e do seu povo.”

ZA CONSTITUCIONAL: A VIOLAÇÃO DOSDIREITOS ADQUIRIDOS DA ABI

3.1. A Associação Brasileira de Imprensa, Senho-ra Presidente, foi considerada de utilidade públicahá quase 90 anos –– há exatamente 88 anos, com-pletados, coincidentemente, neste dia 11 de julho –– por um diploma legal que reuniu a vontade de doisPoderes da República, o Legislativo e o Executivo, eque apresentou a singularidade de, sendo Ato doPoder Legislativo, ter assumido a forma de decreto,forma hoje típica das atribuições do Poder Executi-vo, e de ter recebido a sanção do Presidente da Re-pública, então, na grafia antiga, Wenceslau Braz Pe-reira Gomes, com a assistência, hoje desnecessária,de seu eminente Ministro da Justiça, o celebradojurista Carlos Maximiliano (Carlos MaximilianoPereira dos Santos).

3.1.1. Publicado no Diário Oficial da União em14 de julho de 1917, como já referido, o Decreto n°3.997/17 não deixava margem, como não deixa atéhoje, a qualquer névoa de dúvida sobre a determi-

nação do Poder Público de conferir à ABI, assim comoàs associações brasileiras de escoteiros, onde quer quese situassem no território nacional, o status de enti-dade de utilidade pública. Diz o citado texto legal,jamais revogado e, portanto, plenamente em vigor:

DECRETO Nº 3.997DE 11 DE JULHO DE 1917Considera de utilidade pública as associações

brasileiras de escoteiros, com sede no País, e deImprensa, com sede na Capital Federal.

O Presidente dos Estados Unidos do Brasil:Faço saber que o Congresso Nacional decre-

tou e eu sanciono a resolução seguinte:Art. 1º - São consideradas de utilidade públi-

ca, para todos os efeitos, as associações brasi-leiras de escoteiros, com sede no País (grifo nos-so, ABI).

Art. 2º - É, outrossim, considerada de utilida-de pública a Associação Brasileira de Imprensa,com sede na Capital da República.

Art. 3º- Revogam-se as disposições em con-trário.

Rio de Janeiro, 11 de julho de 1917, 96º daIndependência e 20º da República.

WENCESLAU BRAZ P. GOMESCarlos Maximiliano Pereira dos Santos.

3.1.2. Grifamos as expressões para todos os efei-tos porque têm estas a abrangência que esse EgrégioConselho e o Instituto Nacional de Seguro Socialagora pretendem negar e estão a negar. Não admiti-am os Poderes da República que houvesse qualquerrestrição ou condicionamento à largueza de benefí-cios de toda natureza que concediam às múltiplasinstituições destinatárias da norma legal –– a ABI eincontáveis associações de escoteiros constituídaspelo País afora. O reconhecimento do caráter já en-tão benemerente da ABI era visível no fato de o ato

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incluí-la num ato legal que con-templava também as associaçõesde escoteiros, fundadas, pela ins-piração de seu criador, BadenPowell, para servir ao próximo,para servir à comunidade, indivi-dual e coletivamente.

3.1.2.1. Esse ato há de pre-valecer com a amplitude comque foi concebido e instituído,porquanto jamais foi revogadoou sequer parcialmente alterado.Se o Conselho Nacional de As-sistência Social deseja ignorá-loou descumpri-lo, fundamentando decisões do INSSnocivas à ABI, tem que propor ao Presidente da Re-pública que encaminhe ao Congresso Nacional pro-jeto de lei com esse fim e tem que atuar junto à Câ-mara dos Deputados e ao Senado Federal para queaprovem a proposição, para sua submissão à sançãodo Presidente da República. Enquanto isto não forfeito, gerando novo diploma legal, cassatório dos di-reitos da ABI, e se ambos persistirem no procedi-mento que vêm adotando, o Conselho Nacional deAssistência Social e o INSS estarão cometendo, comojá cometem, uma grosseira violação da Constitui-ção da República em disposição de seu capítulodefinidor do Estado Democrático de Direito por elainstituído, o Capítulo I – Dos Direitos e Deveres In-dividuais e Coletivos, que abre o Título II – Dos Di-reitos e Garantias Fundamentais. Trata-se do art. 5°,inciso XXXVI, que estatui:

Art. 5° - Todos são iguais perante a lei, sem dis-tinção de qualquer natureza, garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no País ainviolabilidade do direito à liberdade, à igualdade, àsegurança e à propriedade, nos termos seguintes:

XXXVI – a lei não prejudicará o direito ad-quirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;

3.1.2.2. Contra essa afirmação poder-se-á obje-tar que a ABI atendeu, em diferentes momentos, aprescrições contidas em também diferentes decre-tos que impuseram condições para a obtenção doRegistro e Certificação de Entidade Beneficente deAssistência Social, o que indicaria uma renúncia aodireito que lhe foi conferido pelo Decreto n° 3.997/17. Com isso, a entidade estaria reconhecendo a le-gitimidade da imposição de obrigações instituídaspela legislação posterior, tanto decretos como leis.

3.1.2.2.1. É verdade que a ABI cumpriu exigên-cias para se habilitar à obtenção do Registro e doCertificado citados, como se poderá alegar, mas ofez não como uma renúncia ao direito que o Decre-to n° 3.997/17 lhe assegurou, mas sim como pre-sunção de que esse atendimento poderia proporcio-nar-lhe outros benefícios ou vantagens que o siste-ma de assistência social pudesse criar e partilharentre as entidades com atuação no campo da assis-tência social. Foi um mau vaticínio da ABI: em vezde obter qualquer benefício, entregou-se à silencio-sa ferocidade com que esse Egrégio Conselho e oINSS tentam sugar-lhe a carótida.

4. TERCEIRA PRELIMINAR, DE NATURE-ZA CONSTITUCIONAL: O CARÁTER DIS-CRIMINATÓRIO DO TRATAMENTO QUE OCNAS DÁ À ABI

4.1. No Ofício n° 3071/05, folha 2, terceiro pará-grafo, Vossa Senhoria imputa à ABI o delito ou in-suficiência de desenvolver “suas atividades para umgrupo específico envolvendo a classe jornalística deacordo com finalidade estabelecida em seu estatu-

to”, este reproduzido de forma truncada e sem indi-cação de qual, já que a ABI tinha um estatuto quevigorou até à edição do novo Código Civil e passoua contar com outro após a Assembléia que procedeuà adaptação da antiga lei interna às disposições ino-vadoras da Lei Civil Magna. A transcrição feita, ali-ás, peca não apenas pelo truncamento, mas pela in-felicidade redacional da tentativa de reprodução deforma sintética de disposições relacionadas com afinalidade e as atividades da ABI. Após essa trans-crição, diz o mesmo parágrafo do Ofício n° 3071/05:

“No nosso entendimento, para entidade ser con-siderada como beneficente de assistência social ha-veria necessidade de adaptações nos estatutos e naárea de atuação, visando o acesso da população emsituação de vulnerabilidade aos serviços da ABI” (gri-fo nosso, ABI).

4.1.1. Neste ponto vemo-nos diante de uma ine-xatidão, para não dizer inverdade, pois a ABI atendeem seus serviços de assistência social não apenas “aclasse jornalística”, como referido, mas a jornalistas,publicitários e trabalhadores, qualquer que seja a suaatividade ou qualificação profissional, das empresasde comunicação e de publicidade. A esse universosoma-se aquele atendido pelos serviços da instituiçãoMédicos Solidários, à qual, mediante convênio, a ABIproporciona a base para atendimento de milhares depessoas carentes de assistência médica. Se a premissautilizada por Vossa Senhoria é incorreta, igualmenteincorreta é a conclusão nela baseada.

4.1.2. O essencial nesse passo da fundamenta-ção do Conselho para negar à ABI o Registro e oCertificado requeridos é que, como sublinhado natranscrição que fizemos de trecho do Ofício n° 3071/05, o CNAS, ou sua Presidente, pretende cobrar daABI comportamento que não exige nem pode exigirdas entidades de assistência social, qual seja o deproporcionar “o acesso da população em situação devulnerabilidade” aos serviços da entidade reconhe-cidas como de assistência social. Isto não ocorre, nempode ocorrer, pelo absurdo contido nessa exigência.Num país em que há mais de 40 milhões de pessoasem situação de vulnerabilidade, como registrado noslevantamentos, pesquisas e relatórios oficiais, só al-guém ou uma instituição desinformada e alienadapode supor que uma entidade de assistência socialpossa escancarar suas portas para o atendimento dequalquer pessoa e da multidão de pessoas que bate-rem à sua soleira. É extremamente infeliz e distan-ciada da realidade a Senhora Presidente do CNASquando esgrime como condição para o reconheci-mento da ABI como entidade beneficente de assis-tência social a obrigação de atender aos milhões dedesvalidos da Cidade e do Estado do Rio de Janeiro,onde tem sede, pois é a milhões que montam aque-les em “situação de vulnerabilidade” no territóriocarioca e no território fluminense.

4.1.2.1. Para não irmos longe, é inimaginável queo Conselho Nacional de Assistência Social tenha fei-to tal exigência, com êxito, a nobres e destacadas ins-tituições que integram o seu Plenário como represen-

tantes da sociedade civil, como,para citar apenas algumas, aUnião Social Camiliana, a Insti-tuição Adventista Central Brasi-leira de Educação e AssistênciaSocial, a Instituição Sinodal deAssistência, Educação e Cultura,a Federação Brasileira de Entida-des de e para Cegos, a Obra Soci-al Santa Isabel, dentre as muitasque compõem e dignificam o Ple-nário do Conselho Nacional deAssistência Social.

4.1.3. Ao fazer tão absurda edescabida exigência à ABI, a Senhora Presidente doCNAS está cometendo contra a Casa do Jornalistauma discriminação que agride o caput do art. 5° daConstituição da República, já reproduzido nestapetição e que é relevante transcrever mais uma vez:

“Art. 5° - Todos são iguais perante a lei, sem dis-tinção de qualquer natureza, garantindo-se aos bra-sileiros e aos estrangeiros residentes no País ainviolabilidade do direito à liberdade, à igualdade, àsegurança e à propriedade, nos termos seguintes:”

4.1.4. A ABI reclama o cumprimento dessa dis-posição constitucional: não quer ser tratada semigualdade, como está sendo.

5. DO MÉRITO: O DIREITO DA ABI ÀOBTENÇÃO DO REGISTRO E CERTIFICADODE ENTIDADE BENEFICENTE DE ASSISTÊN-CIA SOCIAL

5.1. A longa sustentação e exposição feita atéagora dispensam a ABI de se estender por demais nadefesa do mérito de sua pretensão, que se arrimanum direito, o instituído pelo Decreto n° 3.997, de11 de julho de 1917, de que é detentora não desdeontem ou anteontem, mas desde 1917, há precisa-mente 88 anos.

5.2. Decorre também o direito da ABI do cum-primento que faz de disposições da Resolução n° 31do CNAS, de 24 de fevereiro de 1999, como expres-so no art. 2°, que assegura o registro no CNAS deentidades que, sem fins lucrativos, promovam “a pro-teção à família, à infância, à maternidade, à adoles-cência e à velhice” (inciso I), a assistência educacio-nal ou de saúde (inciso V) e o desenvolvimento dacultura (inciso VI).

5.3. Ainda que não entendido assim pela Senho-ra Presidente do CNAS, o direito da ABI decorreigualmente, ao contrário do sustentado no Ofício3071/05, do atendimento pela Casa do disposto noinciso I do art. 2° da Lei Orgânica da PrevidênciaSocial, que inclui entre os objetivos da assistênciasocial “a proteção à família, à maternidade, à infân-cia, à adolescência e à velhice”.

5.3.1. Através dos programas executados por suaDiretoria de Assistência Social, a ABI cuida da pro-teção à família e, ao cuidar desta, da maternidade,da infância e da adolescência e desenvolve especial-mente um trabalho de proteção à velhice, termo quetanto a Resolução n° 31/99 do CNAS como a LeiOrgânica da Previdência Social utilizam com abso-luta inadequação, já que, por respeito a esses pa-trícios, a linguagem corrente, inclusive a agora ado-tada em textos legislativos, prefere as expressões “ter-ceira idade” ou “idosos”, em vez de um termo (ve-lhice) que indica fragilidade, decadência, caquexia,quando a proteção e a atenção devidas aos idosos háde fazer-se sempre, independentemente de seu es-tado de saúde ou de sua fragilidade.

5.3.1.1. Embora empenhada na atração para oquadro social dos jovens e da gente madura que tra-balham no mundo da comunicação em todo o País,

“Num país em que há mais de 40 milhões de pessoas emsituação de vulnerabilidade, como registrado noslevantamentos, pesquisas e relatórios oficiais, só alguémou uma instituição desinformada e alienada pode suporque uma entidade de assistência social possa escancararsuas portas para o atendimento de qualquer pessoa eda multidão de pessoas que baterem à sua soleira.”

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ingresso que oxigenaria a instituição e asseguraria,como certamente assegurará, sua existência atuan-te por muitas décadas após a comemoração do seucentenário no próximo ano de 2008, a ABI não podedeixar de reconhecer que a larga maioria dos seusassociados, por sua prolongada fidelidade e seu en-raizado amor à instituição, se situa na faixa etáriaque a Resolução n°31/99 e a Lei Orgânica da Assis-tência Social definem como velhice. Tal tem de serreconhecido também pelo Conselho Nacional deAssistência Social.

5.3.2. Se persistir na negativa de conceder à ABIo Registro e o Certificado que ela postula, invia-bilizando a existência e atividade da Casa do Jorna-lista, o Conselho Nacional de Assistência Social es-tará assestando fulminante petardo contra o univer-so de cidadãos que lhe cabe proteger, contra o pri-meiro e abrangente objetivo da assistência social ado-tada no País: a proteção à família.

6. DO PEDIDO

6.1. Com fundamento no exposto e sustentado,vem a Associação Brasileira de Imprensa, SenhoraPresidente, requerer o que se segue:

6.1.1. a concessão do Registro e Certificado deEntidade Beneficente de Assistência Social, qualida-de adquirida pela ABI com a edição do Decreto n°3.997, de 11 de julho de 1917, ato legislativo aindaem vigor e insuscetível de ser acrescido de exigênci-as nele não contidas;

6.1.2. que o Registro e Certificado concedidostenham vigência para o período de 1 de janeiro de

funcionamento e o cerceamento de fato de sua exis-tência. Implicará também a apropriação pelo Esta-do, pela penhora para liquidação da suposta dívida,do patrimônio construído por mais de quatro gera-ções de jornalistas, o Edíficio Herbert Moses, espé-cime pioneiro da arquitetura brasileira contempo-rânea, concebido em 1936 pelos jovens irmãos ar-quitetos Marcelo e Milton Roberto, vitoriosos emconcurso público nacional, e construído sob a lide-rança dinâmica do jornalista Herbert Moses, que oinaugurou há exatos 67 anos, em 10 de julho de 1938.

7.3. À ABI restará o consolo de poder, desde já,denunciar à Comissão Interamericana de DireitosHumanos e aos organismos internacionais de jor-nalistas e de órgãos de imprensa o crime que se estáa cometer contra a liberdade de imprensa e a liber-dade de associação no Brasil.

Senhora Presidente,Que o bom senso ilumine Vossa Senhoria e seus

dignos pares no Conselho Nacional de AssistênciaSocial na hora da decisão.

Termos em que pede deferimento.

Rio de Janeiro, 11 de julho de 2005.

Maurício AzêdoPresidente da ABI

cc. Ministra Dilma RousseffMinistro Celso AmorimMinistro Luiz Gushiken

1995 a 31 de dezembro de 1997 e sejam objeto dedeclaração expressa de renovação para os triênios1998-2000, 2001-2003 e 2004-2006, para o fim deassegurar à ABI, através de procedimento junto aoINSS, órgão competente para tal, a isenção da con-tribuição previdenciária patronal relativa a essesperíodos:

6.1.3. a emissão de declaração de que o ConselhoNacional de Assistência Social reconhece que o De-creto 3.997/17 dispensa a ABI, doravante, da neces-sidade de renovar periodicamente Registro e Certi-ficado referidos.

7. EXORTAÇÃO FINAL

7.1. É nosso dever acrescentar, Senhora Presiden-te, ainda que essa informação já possa ser conheci-da pelo CNAS, que o Instituto Nacional do SeguroSocial, com base na negativa da concessão à ABI doRegistro e Certificado de Entidade Beneficente deAssistência Social, decidiu lançar retroativamente a1 de janeiro de 1995 o montante da contribuiçãoprevidenciária patronal que considera imputável àABI, o qual alcançava em 31 de dezembro de 2004 ovalor de R$ 2.602.817,51. Em valor dolarizado, cal-culado pela taxa média de R$ 2,50 por dólar da cota-ção das últimas semanas, isto significa o lançamen-to sobre o lombo da ABI de uma dívida superior a 1milhão de dólares norte-americanos.

7.2. A persistirem o entendimento e a negativado Conselho Nacional de Assistência Social, o mon-tante citado significará o sufocamento da Associa-ção Brasileira de Imprensa, a inviabilização de seu

LIBERDADE DE IMPRENSA

Em carta enviada à ABI, o Presiden-te da Associação Tocantinense de Im-prensa, Edivaldo de Souza Rodrigues,denunciou que o Deputado estadualFábio Martins, em 17 de agosto, “agre-diu covardemente o jornalista EdsonRodrigues na sala de reuniões da As-sembléia Legislativa do Estado deTocantins”. Edson é Diretor-presiden-te do jornal O Paralelo 13 e Diretor deRelações Públicas da ATI.

No texto, Edivaldo de Souza pediuque a ABI tome as providências ne-cessárias para que o deputado se sub-meta “às penas que a lei penal e admi-nistrativa determinar”.

Em resposta, a ABI pediu mais de-talhes sobre o caso e prestou voto desolidariedade ao jornalista agredido. AABI enviou ofício ao Presidente da As-sembléia Legislativa do Estado do To-cantins, Deputado César Halum, emque pediu uma apuração rigorosa doepisódio, que ” viola os princípios daliberdade de imprensa e é passível desanções penais”.

� Em mensagem enviada à ABI por e-mail, a cidadã Fátima Álvares Emediato reclamouque o Correio Braziliense e o Jornal de Brasília não publicam informações sobre a CPIda Educação na Câmara Legislativa do Distrito Federal, que investiga irregularidades naSecretaria de Educação, sob suspeita de superfaturamento em contratos para prestaçãode serviços de transporte escolar e de contratação ilegal de professores. Informou aleitora que “no início dos trabalhos da CPI o jornal Correio Braziliense chegou a publicarmatérias; depois silenciou e só publicava alguma coisa sem muitos detalhes na suapágina na Internet”. Fátima diz ainda que “no Jornal de Brasília o silêncio é total”.

O jornalista pernambucano CíceroBelmar, editor-executivo do Jornal doCommercio do Recife, foi demitido doemprego porque autorizou a publica-ção de uma matéria que noticiavauma ação do Ministério do Trabalhode que resultou a libertação de 1.200lavradores que trabalhavam em regi-me de escravidão na Fazenda Game-leira, localizada no Município de Con-freza e de propriedade do empresárioEduardo Queiroz Monteiro, que tam-bém é dono do jornal Folha de Per-nambuco.

A matéria, distribuída pela Agên-cia Folha, foi publicada com exclusi-vidade pelo Jornal do Commercio na edi-ção de 18 de junho e no mesmo diasaiu em O Globo, Folha de S. Paulo eCorreio Braziliense. A Rádio CBN co-mentou o assunto, os portais Uol e iGtambém publicaram a reportagem,que no dia seguinte à publicação noJC saiu na revista Época

Cícero Belmar confirmou que doisdias depois foi chamado pelo diretor deRedação Ivanildo Sampaio, que lhe co-municou que a reportagem havia de-sagradado a direção do jornal. O moti-vo seria o fato de João Carlos Paes Men-donça, dono do Jornal do Commercio, seramigo de Eduardo Queiroz Monteiro,

que teria ficado insatisfeito com aveiculação da notícia.

– O Ivanildo Sampaio disse que se-ria obrigado a me demitir porque a re-portagem sobre a libertação dos tra-balhadores escravos foi consideradauma campanha difamatória contra ojornal Folha de Pernambuco, cujo donoé amigo pessoal do proprietário do Sis-tema Jornal do Commercio de Pernam-buco – contou Cícero Belmar.

Procurado para se manifestar sobreo assunto, Ivanildo Sampaio, muitoexaltado e gritando ao telefone, disseo seguinte:

– Será que eu não posso tirar umcara da minha equipe de confiança?Todo mundo está me enchendo o sacocom isso. Eu tirei porque tirei – ber-rou o diretor de Redação desligando

rispidamente o telefone sem dar chan-ce ao repórter de lhe dirigir qualqueroutra pergunta.

Cícero Belmar trabalhava há 12anos no Jornal do Commercio e há noveocupava a editoria-executiva do jornal.Ele revelou preocupação com a sua si-tuação, pois em Pernambuco o mer-cado de trabalho para jornalistas naimprensa se restringe a três veículos:o JC, de que foi demitido, a Folha dePernambuco, que motivou a sua con-denação, e o Diário de Pernambuco.

A ABI denunciou a demissão de Cí-cero Belmar como mais um golpe con-tra a liberdade de imprensa e de expres-são, prática que vem sendo adotada con-tra jornalistas em diferentes pontos doPaís, e manifestou seu repúdio à censu-ra imposta ao jornalista pernambucano.

Denúncia de trabalho escravo demite jorDenúncia de trabalho escravo demite jorDenúncia de trabalho escravo demite jorDenúncia de trabalho escravo demite jorDenúncia de trabalho escravo demite jornalistanalistanalistanalistanalista

Leitora do DF denuncia autocensura

Deputado doTocantins agridejornalista

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Jornal da ABI

22 Julho/Agosto de 2005

elo voto de desempate deseu Presidente, Desembar-gador Moacir Pessoa, e ado-tando o voto do relator, De-sembargador Carmine Sa-vino Filho, a 6ª Câmara

Criminal do Tribunal de Justiça do Es-tado do Rio de Janeiro determinou em11 de agosto o trancamento da ação pe-nal instaurada contra Ancelmo Gois.A denúncia contra o jornalista deveu-se à divulgação, em sua coluna em OGlobo, do resultado de um julgamentoem que um desembargador foi conde-nado por dano moral a uma juíza deDireito a quem dera voz de prisão eacusara de crime de prevaricação.

Por dois votos a um, foi vencido oDesembargador Luiz Leite de Araújo,que votou pela continuação da açãopenal por entender que o mérito doprocesso não podia ser examinado noâmbito de um pedido de habeas corpus.A 6ª Câmara Criminal, porém, enten-deu que o processo contrariava oinciso 4º do artigo 5º da Constituiçãoda República, que assegura aos jorna-listas o direito de preservar suas fon-tes de informação.

A defesa de Ancelmo Gois foi feitapelo advogado Alcyone Vieira PintoBarretto, que declarou na abertura desua intervenção que, mais do que de-fender o jornalista, estava defenden-do a liberdade de imprensa, gravemen-te ofendida pela denúncia contra seucliente. Barretto ressaltou que váriasanomalias marcaram a tramitação doprocesso, como o sumiço nos autos dotexto de um dos dois depoimentosprestados pelo jornalista durante a in-vestigação policial e o fato de ter ocor-rido em segredo de Justiça, com viola-ção das disposições legais, o que foicorrigido em segunda instância peloDesembargador Fonseca Passos, querevogou o tratamento sigiloso.

A representante do Ministério Pú-blico, Rosangela Canellas, manifestou-se pela concessão de habeas corpus paratrancamento da ação penal, apresen-tando, entre outros motivos, o fato deque o litígio entre o desembargador ea juíza, ainda que tivesse tramitadoinicialmente em segredo de Justiça, eraconhecido por todos os freqüentadoreshabituais do Tribunal. Ancelmo Gois,portanto, não havia cometido qual-quer violação de sigilo funcional, uma

LIBERDADE DE IMPRENSA

ANCELMO LIVRECâmara Criminal derruba sentença que condenara o jornalista

a mais de dois anos de prisão por negar a revelação de sua fonte.

vez que a informação divulgada emsua coluna era pública e notória.

O Desembargador Moacir Pessoa,que proferiu o voto de desempate, dis-cordou do colega Luiz Leite de Araújoem sua invocação da recente conde-nação da jornalista norte-americanaque não revelou a fonte de informa-ção. Moacir Pessoa disse não conhe-cer a legislação dos Estados Unidos

Em resposta a expedienteque lhe foi enviado pela ABI,o Procurador-Geral de Justiçado Estado do Rio de Janeiro,Marfan Martins Vieira,considerou descabida a denúnciacontra o jornalista AncelmoGois, por divulgar o resultadode uma ação judicial em queeram partes adversas umdesembargador e uma juízade direito, e informou que oMinistério Público estadualse manifestaria nos autos doprocesso pelo arquivamentodo feito e trancamento da açãopenal proposta.

Tal como sustentou a ABI,em declaração emitida em 30 dejunho, e também o advogado deAncelmo, Alcyone Vieira PintoBarreto, o Procurador-GeralMarfan Martins Vieira consideraque faltou fundamento jurídicopara o enquadramento dojornalista no artigo 325,parágrafo 2º do Código Penal,que pune violação de sigiloprofissional, uma vez que ojornalista não é funcionáriopúblico e, portanto, não poderiaser denunciado como se o fosse.

O Procurador Marfanassinalou também que Ancelmofoi enquadrado como co-autordo delito alegado, sem que ainvestigação policial tivesseidentificado o serventuário daJustiça que teria sido o principalagente da ação criminosa.

Além da ABI, expressaramsua solidariedade a AncelmoGois o Sindicato dos JornalistasProfissionais do Município doRio de Janeiro e a AssociaçãoBrasileira de JornalismoInvestigativo-Abraji, quedenunciaram o caráterinconstitucional do processomovido contra ele.

acerca da questão, certamente diver-gente do Direito brasileiro nesse pon-to: “A Constituição Federal”, afirmou,“assegura aos jornalistas o direito denão revelar suas fontes.”

O julgamento foi acompanhadopelo Presidente da ABI, Maurício Azê-do, e pelo Assessor-Chefe de Comuni-cação Social do Tribunal de Justiça, jor-nalista José Carlos Tedesco.

P

Ancelmo viu na denúncia contra ele grave ameaça ao acesso à informação.

A DENÚNCIAÉ DESCABIDA,DIZ MARFAN

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23Julho/Agosto de 2005

Jornal da ABI

Acionada pelo próprio AncelmoGóis e pelo advogado Alcyone VieiraPinto Barretto, a ABI emitiu declara-ção de protesto denunciando a incons-titucionalidade da sentença de conde-nação do jornalista e apelou ao Procu-rador-Geral de Justiça do Estado, Mar-fan Martins Vieira, para que o Minis-tério Público, no julgamento em se-gunda instância, opinasse pelo tran-camento da ação penal contra Ancel-mo. Ofício do mesmo teor foi dirigidopela ABI ao Presidente do Tribunal deJustiça do Estado do Rio, Desembarga-dor Sérgio Cavalieri Filho.

A DECLARAÇÃO DE PROTESTO“A Associação Brasileira de Impren-

sa vem a público expressar vigorosoprotesto contra mais uma restriçãoimposta por órgão do Poder Judiciárioao exercício da liberdade de informa-ção, desta feita no Estado do Rio deJaneiro, que repete com esse episódioviolações semelhantes do texto cons-titucional cometidas pela Justiça deoutros Estados da Federação.

Agora a vítima de uma decisão ju-dicial que colide com as disposiçõesconstitucionais é o jornalista AncelmoGois, titular de uma das mais presti-giadas colunas da imprensa do País eprofissional que exerce a sua ativida-de jornalística com alto sentido éticoe respeito ao direito da sociedade deser informada. Por decisão do juiz da25ª. Vara Criminal da capital, foi aco-lhida denúncia do Ministério Públicocontra Ancelmo Gois por ter noticia-do em sua coluna o desfecho desfavo-rável a um desembargador de umaação indenizatória contra ele movidapor uma juíza de Direito a quem deravoz de prisão e acusara de prevarica-ção. Ancelmo foi considerado co-au-tor de crime capitulado no artigo 325,parágrafo 2°, do Código Penal, quepune a violação do sigilo funcional,sem que a investigação policial efetua-da tenha identificado o agente prin-cipal, o serventuário da Justiça que te-ria fornecido ao jornalista a informa-ção por este divulgada. Pretende o Mi-nistério Público que Ancelmo Góis sejacondenado à pesada pena prevista pa-ra esse delito: dois a seis anos de re-clusão.

Embora a defesa de Ancelmo Goisesteja confiada a profissional compe-tente, o advogado Alcyone Vieira Pin-to Barretto, que ajuizou pedido dehábeas-corpus para trancamento des-sa esdrúxula ação penal e certamen-te merecerá acolhimento na instân-cia a que recorreu, a Associação Brasi-leira de Imprensa não pode deixarsem reparo nem censura um proces-so judicial eivado de anomalias, comoa sua tramitação em segredo de justi-ça sem que se configurem os pressu-

A ABI PROTESTA E APELAmas também pelo Minis-tério Público do Estado doRio de Janeiro através deum dos seus membros,que, ao promover a de-núncia contra AncelmoGois, ignorou que umadas mais recentes campa-nhas cívicas em que seempenhou o MinistérioPúblico, tanto no âmbitoregional como no planonacional, foi exatamenteem defesa do direito deseus integrantes de não sedeixarem amordaçar, co-mo faz ou pretende fazercom Ancelmo Góis essaextravagante ação penal.

Dada a relevância dobem constitucional vulne-rado por esse processo ju-dicial – a liberdade de im-prensa, que tem entre seuselementos essenciais a li-

berdade de informação – , a ABI daráciência desta sua manifestação ao dig-no Presidente do Tribunal de Justiçado Estado, Desembargador Sérgio Ca-valieri, e ao eminente Procurador-Ge-ral de Justiça do Estado, ProcuradorMarfan Martins Vieira, os quais têma responsabilidade de zelar pelo res-peito à Constituição pelos membrosdas instituições que dirigem e desem-penham esse múnus com extremadaexação.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2005.”

Ancelmo recebe prêmio das mãos do Senador EduardoSuplicy: além de ético, é competente.

“A Associação Brasileira de Impren-sa cumpre o dever de lhe dar ciência dadeclaração que emitiu acerca do pro-cesso criminal em curso na 25a. VaraCriminal da Comarca da Capital con-tra o jornalista Ancelmo Góis, ao qualse imputa o delito capitulado no art.325, § 2º, do Código Penal, em razãode notícia por ele publicada em suaprestigiosa coluna no jornal O Globo.

À parte aspectos censuráveis doprocesso citado, como salientado pelopatrono de Ancelmo Góis, advogadoAlcyone Vieira Pinto Barretto, na pe-tição de hábeas-corpus que ajuizou emfavor desse profissional, não pode aABI deixar de assinalar que o procedi-mento em causa fere tanto o jornalis-ta como o bem maior inscrito naConstituição da República, a liberda-de de imprensa, com danos que ultra-passam o profissional e alcançam todoo conjunto da sociedade. Esse aspectocausa especial preocupação à ABI, pois

postos estabelecidos para tal pelo Có-digo de Processo Civil, apenas paraatender a reprovável corporativismono Poder Judiciário, a incriminaçãoem delito típico de funcionário públi-co de quem funcionário público nãoé e, mais grave, a violação da liberda-de de informação assegurada pelo ar-tigo 220, parágrafo 1°, da Constitui-ção Federal.

Lamenta a ABI que esses procedi-mentos tenham sido acolhidos nãoapenas por órgão do Poder Judiciário,

A Associação dos AcionistasMinoritários das EmpresasEstatais (Amest), entidade comsede em Porto Alegre, RS, estáreclamando o prosseguimentodo inquérito policial requisitadopelo Ministério Público Federalà Polícia Federal de Brasília, em17 de dezembro de 2003, pormeio do ProcedimentoAdministrativo nº1.16.000.001523/2003-17, paraapurar uma denúncia de crimecontra o sistema financeiro,envolvendo o Banco do Brasil ea Secretaria do TesouroNacional.

A Amest encaminhou à ABIcópia do e-mail que enviou aoInternational Consortium OfInvestigative Journalists(Consórcio Internacional deJornalistas Investigativos), noqual aponta uma série de itensque deveriam ser alvo deinvestigação e noticiário. Deacordo com a Amest, em 1996 oBB apresentou um prejuízocontábil de quase R$12 bilhões,quando havia paridade entre amoeda brasileira e o dólar.“Foram milhares os acionistaslesados naquela oportunidade.O prejuízo sofrido pelo Bancodo Brasil ainda é o maiorprejuízo corporativo acontecidono mundo todo”, diz a nota.

No texto do comunicadoencaminhado à ABI, oPresidente da Amest, LuizAfonso Barnewitz, questionouo fato de o inquérito policialainda não ter sido instaurado eas pessoas envolvidas nãoterem sido convocadas a prestardepoimento. Também lamentouque a imprensa não tenhanoticiado o caso. Barnewitzlembrou que, no ano passado,um relatório do Departamentode Estado norte-americanoelogiou o Brasil no combate aotráfico e à corrupção, em açõesdesenvolvidas pela PolíciaFederal em convênio com o FBI,que, além de disponibilizarverbas, mantém um escritóriono País. Em sua opinião, “o FBIdeveria pressionar a PF parainstaurar o inquéritorequisitado pelo MinistérioPúblico Federal”.

APELO

Acionistasdo BB fazemdenúncia

O APELO AO PROCURADORrepete violações de franquias consti-tucionais cometidas pela Justiça deoutros Estados da Federação e repre-senta grave ofensa ao Estado de Di-reito Democrático que a Nação insti-tuiu após a longa e malfadada ditadu-ra militar.

Ao fazer estas considerações, dig-no Procurador-Geral Marfan MartinsVieira, a ABI entende que não promo-ve nenhuma impertinência, pois elasestão sintonizadas com os princípiosque Vossa Excelência expôs em seuadmirável discurso de posse, há pou-co meses, e reafirmou em julho passa-do na cerimônia de posse coletiva dosnovos promotores de justiça.

No ensejo, Senhor Procurador-Ge-ral, renovo as expressões do nosso ele-vado apreço e da nossa justificada ad-miração.

CordialmenteMaurício AzêdoPresidente.”

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Jornal da ABI

24 Julho/Agosto de 2005

DIREITOS HUMANOS

Em sua reunião de agosto, aComissão Especial de Reparaçãoda Secretaria de Direitos Humanosdo Estado do Rio deferiu mais 41processos de indenização a títulode reparação moral a vítimas deprisão e tortura durante o regimemilitar, das quais seis já falecidas.A Comissão indeferiu oito dosprocessos apreciados, colocou umem diligência e adiou o exame deoutro para a reunião de setembro.

Entre as indenizações aprovadasestá a da jornalista AntonietaVieira dos Santos, integrante doConselho Deliberativo da ABI. Narelação de processos apreciados ouexaminados, figuraram quatrorelatados pelo representante daAssociação Brasileira de Imprensa,Maurício Azêdo. Foram estes osprocessos examinados:

DeferidosAilton Benedito de SouzaAlencar Thomaz Gonçalves(falecido)

Amaro Correa de Andrade (falecido)Antonieta Vieira dos SantosArno VogelBelmiro Moraes de AguiarCarlos Eduardo Fayal de LyraClaudio Maya MonteiroCleto José Praia FiuzaDegenildo da Silva Pinto (falecido)Dimas MoreiraDomingos FernandesEdwiges José VenâncioEtevaldo Justino de OliveiraFausto Machado FreireFrancisco José Medeiros ScliarGenesio Pereira dos SantosJoão Batista MoreiraJorge BorgesJosé Dalmo Guimarães Lins(falecido)José Luiz de Araujo SaboyaOseas Martins de AguiarLuiz Carlos de Oliveira SilvaLuiz Carlos de Sousa SantosMaria da Glória Araújo FerreiraMaria da Glória IungMaria Abigail Rodrigues GonçalvesMartha Mota Lima Alvarez

Mais 50 vítimas de prisão etorturas físicas ou psicológicas emdependências do Governo doEstado do Rio durante o regimemilitar receberam em 18 deagosto, em cerimônia realizada noPalácio Guanabara, indenização atítulo de reparação moralinstituída pela legislação estadual.Diretamente ou, no caso dosfalecidos, através de seusdescendentes ou herdeiros, cadauma das vítimas recebeu R$ 20mil, valor uniforme fixado peloGoverno do Estado ao dispor sobrea aplicação da Lei da ReparaçãoMoral. Desde o início desseprograma, foram efetuados 140pagamentos — 50 em novembro de2004, 40 em março e 50 em agosto.

O ato, presidido pelaGovernadora Rosinha Garotinho,contou com presença dosSecretários de Estado de DireitosHumanos, Jorge da Silva, e deAdministração Penitenciária,Astério Pereira dos Santos; doPresidente da Comissão deDireitos Humanos da AssembléiaLegislativa do Estado, DeputadoGeraldo Moreira; do DefensorPúblico Geral do Estado, MarceloBustamante; da representante do

Mais indenizações aprovadasNelson NahonNelson QuintinoPaulo César Azevedo RibeiroPaulo Cezar FarahPaulo Maurício Monteiro de BarrosPerly CiprianoPrimo Alfredo BrandimillerRicardo Soares PaniagoRoberto PintoRoberto Senra PessanhaRomeu Bianchi JuniorSebastião Medeiros FilhoVanísio Bernardino de Melo Ferreira

IndeferidosAristótelis de Miranda Mello(falecido)Benedito Ferreira de Lima (falecido)Dauta Jobert Barreto (falecida)José Luiz Gonçalves CananoManoel de Oliveira LimaNestor Cozetti MarinhoNorton de Moraes Sarmento FilhoPedro Henrique de Moura Ferreira

Em diligênciaCarlos Ignácio de Amorim

EEEEESSSSSTTTTTADADADADADO PO PO PO PO PAAAAAGGGGGA RA RA RA RA REEEEEPPPPPARARARARARAAAAAÇÃOÇÃOÇÃOÇÃOÇÃOA VÍTA VÍTA VÍTA VÍTA VÍTIIIIIMAMAMAMAMAS S S S S DDDDDA A A A A DDDDDIIIIITTTTTADADADADADUUUUURRRRRAAAAA

Alberico Alucio de Alcantara VelhoBarrettoAlberto César Romeu MarchesiniAlmir Dutton FerreiraAmauri Augusto de LimaAntônio Jorge XavierAntônio Leite da SilvaArchimedes de Souza VieiraAry Gomes da CunhaBerenício Ferreira PessoaDarci Rodrigues de SouzaDjalma Cosmo da CostaEfigênia Maria de OliveiraElyseu de OliveiraEledir Josino Silva de AraújoEustáquio Pinto de Oliveira

Fernando HenriquesGraça Maria Martins CâmaraGuido Afonso Duque de NorieHelio da SilvaInacio Guaracy Souza de LemosIvan AlkminIvo Alves de SouzaJane de AlencarJesu RiguetoJoacy Pereira de MagalhãesJoão da PenhaJoão Joaquim de SantanaJosé Aguinaldo MarinhoJosé Benedito de FreitasJosé Ferreira Lima FilhoJosé Grigolato SobrinhoJosé Jorge Diaz HortaJosé Vieira dos SantosLéo Barbosa de CarvalhoLeonardo de A. CarneiroLincoln GusmanMaria Helena C. AzevedoMaria Lúcia Barreli da SilvaMiguel Batista dos SantosNilton RegoOberland SilvaPaulo Antônio M. ManceboRaimundo Nonato de AbreuRoberto da Silva VieiraSaulo GomesTelines Basilio do NascimentoWaldir TavaresWashington Vicente Ferreira

Por proposta aprovada pela suaComissão de Defesa da Liberdadede Imprensa e Direitos Humanos nareunião de agosto, o Conselho Deli-berativo da ABI aprovou, por unani-midade, o envio de moção ao Con-sulado e à Embaixada dos EstadosUnidos pleiteando que se cumpra adecisão de dar novo julgamento acinco presos políticos cubanos.

Eles estão cumprindo pena nosEstados Unidos desde 1998; dois fo-ram condenados à prisão perpétua.Recentemente, a Justiça norte-ame-ricana decidiu que outro julgamen-to deveria ser realizado em tribunalisento fora de Miami, onde os cincoforam condenados sob a acusaçãode espionagem.

Após mais de um mês da decisãojudicial, no entanto, a determinaçãonão foi cumprida e os cinco presoscontinuam na mesma situação, inclu-sive impedidos de receber visitas.

Procurador-Geral de Justiça,Promotora Mônica di Piero; e dorepresentante da ABI, MaurícioAzêdo, os quais tiveram assento àmesa. Entre os presentes estava oPresidente de Honra da Comissãode Liberdade de Imprensa eDireitos Humanos da ABI, JoséGomes Talarico.

Após a entrega de chequessimbólicos a três das vítimasda ditadura pela GovernadoraRosinha Garotinho, receberama indenização:Abdias José dos SantosAdemario Renaux Leite

Um apelo porcubanos presosnos EUA

A Governadora Rosinha Garotinho entrega o cheque dareparação moral a uma das vítimas da ditadura.

ASCOM

RJ

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25Julho/Agosto de 2005

Jornal da ABI

ACONTECEU NA ABI

O evento Nós queremos uma valsa— Tributo a Carlos Galhardo, organi-zado pela Casa de Cultura VicenteCelestino, aconteceu no AuditórioOscar Guanabarino, no 9º andar doEdifício Herbert Moses. De acordocom os organizadores, a ABI foi olocal escolhido para a homenagem,entre outros motivos, por ter de-monstrado sua vocação de promo-tora da música popular brasileira emdiversas ocasiões.

Compareceram à ABI vários ami-gos do cantor, como Jorge Goularte Bob Nelson, que comentou: —Sinto-me honrado com o convite,

Tributoa CarlosGalhardo

mas ao mesmo tempo há um pou-co de tristeza pela falta que ele faz.Além de termos sido colegas naRádio Mayrink Veiga, ele gravouuma composição minha, chamada400 primaveras.

Orlando Aguiar, cantor e ator deradioteatro, também falou do ami-go: — Ele era o rei da valsa, o maiorcantor brasileiro do gênero. No es-petáculo terei a grata missão de in-terpretar um de seus grandes suces-

sos, Eu sonhei que tu estavas tão lin-da, mas estou longe de ser um in-térprete como ele foi.

A Presidente da Casa de CulturaVicente Celestino, Vera Castro, con-tou que a mentora do programa dotributo prestado a Galhardo nos 20anos da morte do cantor foi sua bió-grafa, Norma Hauer. Além das apre-sentações musicais, foram exibidosdois vídeos sobre a vida do home-nageado, que, filho de italianos, aos

A voz de veludo fora da barbeariaDono de uma voz aveludada,

uma das mais maviosas da músicapopular brasileira, Carlos Galhardoseria um alfaiate ou um barbeirose não tivesse encontrado na vidaduas pessoas que o desviaram dasprofissões que começou a trilharmuito menino, a primeira, e mui-to jovem, a segunda.

Nascido em 26 de abril de 1913em Buenos Aires, onde seus pais,italianos, tentavam melhor sortena vida após curta passagem peloBrasil, aos 15 anos o moço CatelloCarlos Guagliardi já era oficial al-faiate e seguiria nas agulhas e naslinhas se um companheiro de ofí-cio, o alfaiate e barítono SalvadorGrimaldi, não o fizesse parceiroem duetos de óperas, estimulan-do-o na arte do canto.

oito anos, após o falecimento damãe, foi viver no Estácio com umparente que lhe ensinou o ofício dealfaiate. Apesar de não gostar mui-to da profissão, Carlos Galhardo tra-balhou em diversas alfaiatarias e nu-ma delas conheceu o barítono Sal-vador Grimaldi, com quem passoua ensaiar duetos de ópera.

O caminho para a fama comocantor, porém, só se abriu numa fes-ta na casa de um irmão, em que es-tavam presentes Mário Reis, Lamar-tine Babo e Francisco Alves, de cujorepertório Galhardo interpretouDeusa. Incentivado a tentar carrei-ra no rádio, ele foi levado pelo com-positor Bororó à Rádio Educadora doBrasil, onde se apresentou cantan-do Destino. No dia seguinte, foi pro-curado para fazer um teste na RCAVictor e entrou para o coro da gra-vadora.

Ao lado de Orlando Silva, Fran-cisco Alves e Sílvio Caldas, CarlosGalhardo foi um dos grandes can-tores da época áurea do rádio brasi-leiro, com passagens pelas emisso-ras Mayrink Veiga, Rádio Clube,Tupi, Nacional e Mundial. A músi-ca mais marcante de seu repertórioserá, para sempre, Fascinação, masele também gravou marchas carna-valescas. Na década de 50, recebeuos títulos de “Rei do Disco” e “Reida Valsa” — este último dado peloapresentador Blota Júnior, que oanunciava como “o cantor que dis-pensa adjetivos”.

Carlos Galhardo morreu no dia 25de julho de 1985, aos 72 anos. Suaúltima apresentação foi na SalaSidney Miller, da Funarte, em 1983,num espetáculo de Ricardo CravoAlbin dedicado ao compositorNássara.

Órfão de mãe aos oito anos,Catello foi amparado por paren-tes que moravam no bairro doEstácio, que o criaram e iniciaramna profissão em que logo se tor-nou perito. Mais tarde, já encami-nhado em novo ofício, o de bar-beiro, Catello seguiu o conselho deuma companheira do salão ondetrabalhava, a manicura portugue-sa Maria Fernanda, ela própriacantora, que, admirando sua voze seu talento, recomendou que eletentasse um lugar no rádio, quecomeçava a se firmar naquele anode 1932 e a lançar cantores, con-juntos musicais e compositores.

Foi assim que começou a fecun-da e prolongada carreira desse ar-tista que a ABI homenageou no es-petáculo Nós queremos uma valsa,

evocando sua trajetória no vigési-mo aniversário do seu desapareci-mento. Catello, celebrizado namúsica popular brasileira com onome artístico de Carlos Galhar-

do, deixou criações inesquecíveis,dentre suas 570 gravações em 78rotações por minuto, como o se-gundo cantor que mais fez grava-ções do gênero, após Francisco Al-ves, o Rei da Voz.

Popularizado como o Rei da Val-sa, Galhardo interpretou não ape-nas o gênero romântico, mas tam-bém a canção carnavalesca (Alá-lá-ô, de Haroldo Lobo e Nássara,sucesso no Carnaval de 1941, foicriação dele), a música natalina(lançou o gênero em 1933, comBoas Festas, de Assis Valente) e atépela Bossa Nova (em 1969, já namaturidade, gravou Viola enluara-da, dos jovens Marcos e Paulo Sér-gio Vale). Vinte anos depois, eletinha que ser lembrado. Foi o quefez a ABI.

Os 20 anos da morte docantor foram lembradosna ABI, num eventoorganizado pela Casa deCultura Vicente Celestino.

Uma noiteevoca o cantor,20 anos após oseu passamento

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Jornal da ABI

26 Julho/Agosto de 2005

PRONUNCIAMENTO

A Assembléia Legislativa de Alagoas encaminhou um manifesto à ABIem que se pronuncia como instituição contra a transposição das águasdo Rio São Francisco por parte do Governo federal, “em obras que nãoreúnem qualquer justificativa de relação custo/benefício”.

O documento teve como base uma proposta do Deputado Sergio Toledoe foi enviado à ABI pelo também Deputado Francisco Tenório, no exercí-

Alagoas contra a transposiçãodas águas do São Francisco

“Alagoas não aceita a transposição! Revitalização já!”A Assembléia Legislativa de Alagoas,

neste manifesto representada por seus de-putados, dirige-se à opinião pública nacio-nal para explicitar sua contrariedade emrelação ao polêmico Projeto de Transposi-ção das Águas do Rio São Francisco.

Ao adotar esta posição, os deputados edeputadas alagoanos expressam não so-mente os sentimentos da maioria do povode Alagoas, como também cumprem odever de se posicionar claramente contraum projeto que, sob os mais diversos as-pectos, mostra-se desnecessário, inoportu-no e completamente dissociado das reaisnecessidades do povo nordestino.

Embora apoiados por poderoso esque-ma de promoção publicitária, os ideali-zadores e defensores do Projeto da Trans-posição não conseguem convencer o Paíse a comunidade técnico-científica nacionalde sua justeza como solução sustentávelpara os problemas da escassez hídrica queatinge as populações do semi-árido doNordeste Setentrional.

Aliás, o projeto já começa distorcido apartir de sua própria concepção, uma vezque pretende resolver a questão hídrica daporção do semi-árido que fica fora da Ba-cia Hidrográfica do São Francisco, sem le-var em consideração que mais da metadedo território da própria Bacia — ou seja,53,8% de sua área, algo equivalente a343.784 quilômetros quadrados — encon-tra-se incluída no Polígono das Secas, semqualquer projeto de grande porte para asolução dos problemas de sua população,que abrange um contingente de mais de 5milhões e 680 mil pessoas!

Inspirado na cultura das obras megalô-manas que custaram muito caro ao povobrasileiro em período recente, o Projeto daTransposição constitui-se, de fato, em em-preendimento cujo principal objetivo é ofe-recer segurança hídrica para os produtorese exportadores de camarão, algodão e fru-tas tropicais estabelecidos principalmentenos Estados do Ceará e do Rio Grande doNorte.

Afirmar, como fazem os defensores doprojeto, que a Transposição será feita paramatar a sede de 12 milhões de sertanejosé um escárnio contra a população do semi-árido nordestino. Com uma capacidade deacumulação de águas equivalente a 32 bi-lhões de metros cúbicos — quase igual àdo lago de Sobradinho, um dos maioreslagos artificiais do mundo —, os Estados do

mente não engrandecem o solene com-promisso democrático assumido por SuaExcelência o Presidente da República.

Por ainda acreditar nesse compromissoé que a Assembléia Legislativa de Alagoasreitera ao Presidente Luiz Inácio Lula da Sil-va a solicitação para que receba em audi-ência os governadores, os parlamentares, asociedade civil dos Estados que compõema Bacia Hidrográfica do São Francisco, bemcomo a diretoria do Comitê daquela Bacia,para que, juntos, possamos superar oimpasse criado pela Transposição e abrircaminho para um outro Projeto que con-temple o semi-árido nordestino, bem comoretire do papel, em termos realmente efeti-vos, o Programa de Revitalização da Baciado São Francisco.

Vítima, juntamente com o Estado deSergipe, dos dramáticos impactos sócio-ambientais causados pelos barramentosexigidos pelo sistema hidrelétrico na re-gião do Baixo São Francisco, o Estado deAlagoas, que nada recebeu em termoscompensatórios pelo assoreamento do rio,a erosão de suas margens, a decadênciade suas cidades ribeirinhas, a morte desuas várzeas, a diminuição drástica de suabiodiversidade, o desaparecimento de suapesca, a perda de navegabilidade e aretração de culturas agrícolas, não assisti-rá de braços cruzados a que uma novaonda de megaimpactos negativos inviabi-lize geopoliticamente o seu futuro, consi-derando-se que, literalmente, quase ametade dos seus Municípios está na áreada Bacia Hidrográfica do São Francisco.

Alagoas não aceita a Transposição! Nãoaceita que sua segurança hídrica futura sejaposta em risco por um projeto cujo arranjoinstitucional não está claro e cujos efeitosdesencadearão inevitavelmente uma enor-me balbúrdia no sistema de outorgas daBacia Hidrográfica. Alagoas quer ser respei-tada e ouvida em questões que afetam pro-fundamente o Pacto Federativo. Alagoas exi-ge que a Lei Nacional dos Recursos Hídricosseja respeitada pelo Governo federal e quese devolvam ao Comitê da Bacia Hidrográ-fica do São Francisco as amplas prerrogati-vas legais que lhe cabem como o grande“parlamento das águas” e como o espaçoideal para a negociação justa da gestão daságuas do São Francisco.

Maceió, 17 de maio de 2005Assembléia Legislativa de Alagoas

Ceará, do Rio Grande do Norte, da Paraíbae de Pernambuco têm hoje água suficientepara matar a sede dos irmãos sertanejosde sua parte semi-árida.

Se não o fazem é porque falta políticade distribuição democrática da água já exis-tente em suas centenas de açudes, umavez que, passados 60 anos da criação doDnocs (Departamento Nacional de ObrasContra as Secas), a destinação das águasdos grandes açudes continua a serprioritariamente destinada à irrigação degrande e médio portes e ao uso urbanoindustrial, em detrimento absurdo das po-pulações dispersas na região sertaneja.

Em semelhante contexto, as obras daTransposição não reúnem qualquer justifi-cativa do ponto de vista da equação custo/beneficio, razão pela qual suscita tantas crí-ticas e restrições. E de fato é totalmenteestranho que o Governo federal se dispo-nha a despender tanto dinheiro público naconstrução dos túneis, aquedutos e canaisfaraônicos da Transposição no exato mo-mento em que nega dinheiro para a recu-peração das centenas de açudes destruídospelas enchentes do ano passado no Ceará,na Paraíba, no Rio Grande do Norte e emPernambuco, bem como nega dinheiro parao socorro dos Municípios atingidos por re-cente estiagem, inclusive em Alagoas.

Mais estranho ainda é constatar o em-penho dos defensores da Transposição nadefesa de obras que vão propiciar a irriga-ção de terras no Nordeste Setentrional aum custo totalmente proibitivo, tendo emvista principalmente que obras equivalen-tes a milhares de perímetros de irrigaçãoencontram-se paralisadas em plena Baciado São Francisco. Neste sentido, é impor-tante ressaltar que pelo menos 3 milhõesde hectares de terras da Bacia esperam porirrigação a um custo incomparavelmentemenor do que aquele que pretendem pra-ticar no Ceará!

Não bastassem todas essas incongruên-cias de ordem econômico-social, incluídosaqui os inconcebíveis gastos energéticosque serão demandados pelo Projeto, aTransposição das Águas do São Franciscorepresentará impacto de grande repercus-são na destinação das águas disponíveispara usos múltiplos na Bacia.

Contrariamente à leviandade dos defen-sores do Projeto, que espalham País aforaque a Transposição vai utilizar apenas 1%das águas do São Francisco, a verdade é

que, considerado o potencial efetivamentedisponível de 360 metros cúbicos por se-gundo, a Transposição poderá absorver até47% dessa disponibilidade, o que porá emrisco os interesses estratégicos dos Estadosda Bacia Hidrográfica do São Francisco, pre-nunciando um futuro de desordem hídricana Bacia e de grave conflito federativo emfuturo não distante.

E essas são razões suficientes que de-veriam levar o Governo do Presidente Lulaa refletir mais sobre a conveniência ou nãode um projeto que, ao invés de unir o povonordestino, semeia tanta discórdia e poderedundar em problemas geopolíticospreocupantes para a Região Nordeste. Tal-vez, reconhecendo esses fatores tão nega-tivos, tenha chegado a hora de o Presiden-te da República ouvir a voz dos críticos daTransposição e procurar construir com to-dos os Estados e populações do Nordesteuma política de integração regional quecontemple soluções verdadeiramente sus-tentáveis, não somente para a questãohídrica, como também para a questãoenergética e de geração de renda no con-texto do semi-árido como um todo.

Dispostos como sempre ao diálogo, aobom senso e à negociação legítima, osalagoanos não aceitam, porém, o processoimpositivo que vem marcando a conduçãodo Projeto da Transposição há vários anose sob a tutela de vários governos. Sendoassim, condenam em termos veementesos métodos utilizados pelos Ministérios daIntegração Nacional e Meio Ambiente, queredundaram no completo desrespeito àautonomia e às decisões do Comitê daBacia Hidrográfica do São Francisco, cujoPlano Decenal de Recursos Hídricos des-carta expressamente a transposição daságuas para usos que não sejam estritamen-te destinados ao abastecimento humano eà “dessedentação” animal, em situações dereconhecida escassez hídrica.

Como representantes do PoderLegislativo, fere-nos profundamente a sen-sibilidade democrática presenciar os atosde autoritarismo praticados por titulares erepresentantes dos citados Ministérios du-rante os infelizes procedimentos para for-çar o Conselho Nacional de RecursosHídricos e o Ibama a procederem a toquede caixa e sob pressão ilegítima à outorgae ao licenciamento ambiental das obras daTransposição. Esses caminhos utilizadospelos agentes do Governo federal certa-

cio da Presidência da Assembléia Legislativa de Alagoas.No manifesto, os representantes do Poder Legislativo de Alagoas con-

denam “os métodos utilizados pelos Ministérios da Integração Nacionale Meio Ambiente, que redundaram no completo desrespeito à autono-mia e às decisões do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco”.

A seguir, a íntegra do manifesto, com seu título original.

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27Julho/Agosto de 2005

Jornal da ABI

Com a sessão comemorativaQuatro Pilares da ABI, a Casahomenageou no dia 5 de julho

seu ex-Presidente Fernando Segismun-do, que completou 90 anos, e mais trêsex-Presidentes da entidade. A celebra-ção aconteceu no Auditório OscarGuanabarino, no 9º andar do EdifícioHerbert Moses, e exaltou três outrosPresidentes da ABI: Barbosa Lima So-brinho, Herbert Moses e Pru-dente de Moraes, neto.

A cerimônia foi presididapor Domingos Meirelles, Dire-tor de Assistência Social da ABI,que representou o PresidenteMaurício Azêdo, ausente devi-do a problemas de saúde.

Convocada por Domingos,a mesa que conduziu a sessãofoi formada por FernandoSegismundo; o ConselheiroJosé Gomes Talarico; a Dire-tora de Jornalismo, JosetiMarques; o acadêmico CíceroSandroni; a historiadora Ma-ria Cecília Ribas Carneiro; ajornalista Ana Arruda Calla-do; o poeta Geraldo Meneses;a Presidente da União Brasi-leira de Escritores, EstelaLeonardos; e a pintora MariaEmília Paladino, ex-Diretorado Colégio Pedro II, onde foicolega de Segismundo.

Domingos explicou que asugestão de homenagear ou-tros ex-Presidentes da Casa nodia de seu aniversário partiudo próprio Fernando Segis-mundo, que justificou assim sua deci-são: “Gosto de comemorar e de home-nagear, mas fico sem graça quando eumesmo sou o homenageado.”

MOMENTO DE HONRAMuito festejado por amigos e três

gerações de parentes que o acompanha-ram à ABI, Segismundo agradeceu aspalavras de carinho que recebeu. —Estou muito honrado com este mo-mento, não somente por motivos pes-soais, mas porque encontrei confradesque admiro e acompanhei nesta Casa,que considero de utilidade pública. Poiseste é o ambiente da liberdade e do pro-gresso, que agasalha o povo brasileironas suas aspirações democráticas.

Segismundo falou também de suaadmiração por Herbert Moses, de quemrelembrou a obstinação e a capacidadede administrar e escolher assessores,

como o poeta e jornalista OrígenesLessa. — Moses era um homem extra-ordinário, que sabia o que queria.Quando o conheci na ABI, ele já so-nhava com a nova sede. E tinha bomsenso ao escolher e cultivar assessoresque levaram adiante os seus projetos.

Ele ressaltou o prestígio de queMoses desfrutava com o PresidenteGetúlio Vargas — e que acabou resul-

tando na realização de um an-tigo sonho: a doação financei-ra para a obra de construçãodo edifício-sede da Casa.

“CORTE HISTÓRICO”Em sua evocação, o acadê-

mico Cícero Sandroni falouda trajetória de Barbosa LimaSobrinho, que considera o de-cano dos jornalistas brasilei-ros. Ele destacou sua compe-tência e determinação em de-fender a democracia e impe-dir o cerceamento da impren-sa, com a firme postura decombater tudo o que conside-rava errado na política. — Eleé eterno pelas palavras quedeixou escritas, muito melho-res do que eu poderia fazer.Lembro que uma vez o ques-tionei pela sua jornada de tra-balho, por causa de sua ida-de, e ele me disse: “O tempoque perdemos na ABI ganha-mos pelo Brasil.

Domingos Meirelles, porsua vez, recordou que em1978 foi pedir-lhe que aceitas-

se o convite para presidir a ABI. — Vi-víamos um momento de tensão. Coma morte de Prudente de Moraes, neto,a Associação se encontrava dividida eprecisava de um Presidente que tives-se a capacidade de desarmar os espíri-tos. O nome de Barbosa Lima Sobri-nho surgiu no calor dos debates sobreo futuro do País e da própria Casa.

Ao se pronunciar sobre os ex-Presi-dentes Prudente de Moraes, neto eFernando Segismundo, o historiadorMário Barata disse que, ao escolher osquatro homenageados como seus pi-lares, a ABI estava vivendo um mo-mento muito importante. — Estamosfazendo um corte histórico para o co-nhecimento da Associação Brasileirade Imprensa pelas futuras gerações.Esses Presidentes conduziram a Casacom muito esforço e criatividade, aserviço da comunidade brasileira.

RECONHECIMENTO

SEGISMUNDO,90 ANOS

Ele recusou qualquer homenagemindividualizada. Por isso, para festejá-lo,

a Casa programou o ato QuatroPilares da ABI: Moses, Barbosa Lima,

Prudente e ele, Segismundo.

Segismundo com a mulher, filhos e netos. A bengala é seqüela de uma queda no metrô quando entoava a Traviatapara a mulher e não percebeu que a escada-rolante terminava.

Cícero Sandroni, com Mário Barata e Domingos Meirelles: coube-lhe o perfil deBarbosa, de quem foi companheiro na Diretoria da ABI e na Academia. �

EDIM

ILSON

S. FERR

EIRA

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Jornal da ABI

28 Julho/Agosto de 2005

“Por muitos anos, talvez por déca-das, Alexandre José Barbosa Lima So-brinho foi o decano dos jornalistasbrasileiros e o jornalista mais velho domundo em atividade. (...) Ingressou naABI em 1922, levado por Raul Peder-neiras, seu colega no Jornal do Brasil.

Quatro anos depois, em 1926, aos28 anos de idade, tornou-se o mais jo-vem Presidente da entidade, reeleitoem 1930. Veio a ser também o maisvelho, eleito pela terceira vez em 1978,e assim sucessivamente a cada doisanos até o seu falecimento. (...)

Sólido, íntegro, coerente e infatigá-vel, depois da campanha anticandida-tura à Presidência, ao lado de UlissesGuimarães em pregação cívica peloBrasil, em 1974, quando contestou aindicação do General Ernesto Geiselcomo candidato da Arena, BarbosaLima Sobrinho estava então no vigordos seus anos, idade em que a maioriaabsoluta dos que lá chegam já estãoaposentados há muito tempo. (...)

No honroso convívio quase diáriocom Barbosa Lima Sobrinho na ABI, en-contrei nele a personificação do idealmens sana in corpore sano. Aos 101 anosde idade, ele já não era mais capaz deir a pé do Recife a Goiana, numa ca-minhada de 40 quilômetros, como fezna juventude, na companhia de seuamigo Múcio Leão, mas até o fim dos

“É interessante verificar que, ao es-colhermos os quatro pilares da ABI apedido de Fernando Segismundo, quenão desejava ser homenageado sozi-nho, estamos fazendo um corte histó-rico de muito interesse para a conti-nuidade de conhecimento da ABI. (...)Para a geração da maior parte do sécu-lo passado e deste início do século XXI,a ABI será lembrada pelas atividadesde grandes presidentes — e Prudentede Moraes, neto está entre eles — querealmente se destacaram e a conduzi-ram com esforço e criatividade, colo-cando-a a serviço da comunidade bra-sileira (...)

A gestão de Prudente é interessan-te e ele está destacado nas históriasregistradas por Fernando Segismundopor um aspecto fundamental que olevou a ficar na memória e na grati-dão de todos nós, conselheiros, sóciose diretores. Falo do episódio da mortedo jornalista Vladimir Herzog, que olevou a São Paulo. Ali ele mostrou noque a ABI pode contribuir para a socie-dade. (...) As posições tomadas por elee outros grandes nomes da Associaçãoficaram marcadas no tempo. (...)

Prudente era neto de um Presiden-te da República. Nasceu em 1904 e fa-leceu em 1977. Formou-se pela antigaFaculdade de Direito do Rio de Janei-ro, da Rua do Catete, cujo prédio vaiabrigar o Centro Público de Cultura eDireitos Humanos e a Biblioteca Bar-bosa Lima Sobrinho. (...) Foi ligado aoDiário de Notícias, fez também traba-lhos para o Diário Carioca e, sobretu-do, trabalhou como chefe da SucursalRio de O Estado de S. Paulo, conhecidocomo Estadão no jargão jornalístico oupopular. (...) Outro detalhe que deveser ressaltado na trajetória de Pruden-te de Moraes, neto: o lançamento, comSérgio Buarque de Hollanda, da revis-ta Estética, em 1924. Era uma publica-ção de alto valor e que os vinculou aoModernismo nascido na Semana de22, realizada em São Paulo. (...)”

seus dias manteve a saúde centenáriaem boas condições: pressão de garoto,oito por doze, de causar inveja a tan-tos de nós, tranqüilidade perene e pazde espírito que transmitia aos compa-nheiros de Diretoria da ABI — só seirritava quando o seu Fluminense per-dia no futebol. (...) A higidez física emental estruturava a base orgânicapara o exercício diuturno da bravuracívica, da coragem moral e da capaci-dade de refletir com independênciasobre o Brasil. (...)

A ABI constitui hoje patrimôniomoral indestrutível, que nos momen-tos cruciais da História contemporâ-nea agiu de forma pronta e corajosa,em defesa dos interesses nacionais. Eassim continua. Atingida por bombas,ameaças e ataques dos que não acei-tam o nosso inconformismo respon-sável, a nossa Casa jamais abdicou doseu direito de protestar. E nunca serádemais lembrar que foi na sua condi-ção de Presidente da ABI que, nummomento histórico recente, depois deobter aprovação unânime do Conse-lho Administrativo, o Dr. Barbosa bran-diu a espada da justiça para, ao ladode outros homens admiráveis, Evan-dro Lins e Silva, Raimundo Faoro e Cló-vis Ramalhete, mudar o curso da nos-sa História, pedindo o impeachment deum Presidente da República.”

Quatro Pilares da ABI

Barbosa Lima POR SANDRONI

Barbosa (1º à esquerda) promoveu a unificação das entidades de jornalistas, consolidada por Moses (ao lado). Prudente (3º) e Segismundo honraram a herança de ambos.

POR BARATAPrudente

A homenagem a Segismundo foi proposta e or-ganizada pelo associado Mário Barata, membrodo Conselho Deliberativo da ABI e companheirodele no Diário de Notícias.

“O aniversário de FernandoSegismundo é o ponto de partida des-ta celebração da Casa. Nosso home-nageado de hoje tem uma vocação dejornalista, historiador e educador ex-tremamente forte. Ele escreveu algunslivros sobre História do Brasil e temainda uns seis livros fundamentais dememórias e história do Jornalismo.(...) Entre os seus trabalhos, cito os li-vros Imprensa brasileira, vultos e pro-blemas, ABI — 80 anos, ABI — sem-pre, Jornais e jornalistas’ e Barbosa LimaSobrinho: o dever de utilidade, em queanalisa a posição básica deste outrogrande nome da Casa. (...)

Fernando Segismundo foi um dosPresidentes da ABI que nos deu contri-buição decisiva para abrir caminho pa-ra um outro tipo de concepção da enti-dade, que, com Herbert Moses, já ti-nha entrado no plano de uma grande-za especial. (...) Muitos detalhes da vidahistórica da ABI foram marcados peloPresidente Fernando Segismundo emmais de 30 anos. Ele nos deixa um ma-terial que, para os futuros pesquisa-dores, servirá como elemento maior decompreensão do que foi a nossa gran-de Associação. (...)

Segismundo escreveu que a ABIteve momentos de ouro ao ser presi-

dida por dois grandes brasileiros:Herbert Moses e Barbosa Lima Sobri-nho. (...) A Casa participou de gran-des campanhas, como a entrada doBrasil na Segunda Guerra Mundial; acriação da Petrobrás, com o apoio deHenrique Miranda, antigo dirigente danossa Associação; e contra a cessão dabase militar de Alcântara para os Es-tados Unidos. (...)

Ressalto que os elementos de com-posição da força da ABI se situam naépoca das presidências de FernandoSegismundo, Prudente de Moraes, ne-to, Barbosa Lima Sobrinho e HerbertMoses.”

Segismundo POR BARATA

“Herbert Moses nasceu em 1884 noRio de Janeiro e aí faleceu em 1972,aos 88 anos. Foi advogado militante,após ter servido ao Barão do Rio Bran-co. Ajudou Irineu Marinho a fundar emanter O Globo, do qual foi diretor-tesoureiro. (...)

Paralelamente aos 34 anos em quepresidiu a ABI, foi diretor da Compa-nhia de Cigarros Souza Cruz, semnunca ter fumado. Poliglota, viajouvárias vezes ao estrangeiro, sobretu-do aos Estados Unidos da América, aserviço daquela e de outras empresas.Promoveu congressos de imprensa noRio de Janeiro e nos Estados. RobertoMarinho, herdeiro de O Globo, só ochamava de Dr. Moses, tal o respeitoque lhe tinha. (...)

Moses logrou alcançar a possível har-monia entre patrões e empregados,cada grupo empenhado em manter eampliar suas prerrogativas. Nem sem-pre foi entendido em seus propósitos,mas seu papel foi relevante. De quan-do em vez, jornalistas impulsivos e seminclinações diplomáticas xingavam-no,tentando desacreditá-lo. Moses nãorevidava, tendo até ajudado alguns fi-nanceira e discretamente. (...)

Em seu tempo, a ABI constituiu-sena ante-sala do Rio de Janeiro. Dela va-lia-se o Itamarati para bem recepcionarestrangeiros e autoridades em trânsito.”

Moses POR SEGISMUNDO

ACER

VO A

BI

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29Julho/Agosto de 2005

Jornal da ABI

O associado Antônio Avelar,colunista do ABI Online, foi o ven-cedor da disputa interna do ITorneio Aberto de SinucaMaestro Vila-Lobos, realiza-do no salão do 11º andar doEdifício Herbert Moses, queteve entre os seus habituês ocriador das Bachianas Brasilei-ras. Na tarde de 30 de junho,Avelar venceu três partidasseguidas contra Augusto Ban-deira e se sagrou campeão daSérie Jornalistas.

Emocionado, Avelar, queficou em primeiro lugar nasquatro chaves que disputou,disse que não participou dotorneio pensando na premia-ção. — Achei que meu adver-sário fosse me dar mais tra-balho, pois joga muito bem.Mas a sinuca não é uma ciên-cia exata, depende do estadode espírito do jogador.

A final da Série Craques,iniciada mais tarde, foi emo-cionante — especialmente naúltima das nove partidas dis-putadas por Esquerdinha eJairzinho. Esquerdinha come-çou o jogo vencendo — o pla-car marcou 3 a 1 —, mas Jair-zinho encostou e os dois che-garam a 4 a 4. Com belas ta-

cadas, as nove partidas dos craquesfizeram vibrar os espectadores. Acada jogada certeira, ninguém es-condia a emoção. Antônio Avelarcomentou. — Está muito bom. Éum jogo de alto nível.

Os espectadores estavam tensos. Anona partida, que definiu Esquer-

ACONTECEU NA ABI

Avelar campeãoBom na sinuca,ele venceu tudoo que disputou.

1º Campeonato de Sinuca na ABI...Agitação sensacional se desenrola:Simbólica abertura com Paulinho da ViolaJogando com Toquinho e esquentandoO ambiente, para os expoentes da atualidadeRelembrarem celebridades como Lincoln, Carne FritaArtistas com tamanha habilidadeQue pareciam subverter a lei da gravidade!

Atenção! Silêncio... a cada jogada mais bonitaA plateia se empolga, se agita...Palmas! Vibração com sentido de realização!...Foi tanta emoção, como poucas vezes se viu:A pressão do Meireles foi às alturas!A do sobrio Mesquita também subiu...E em tal agitação quem se segura?Calma! Qual anjo da guarda, deteminaA preocupada enfermeira Cristina!

Palmas, então, também ao Zezé CordeiroPor reviver o tempo dos “ilustres passageiros”Que de bonde iam ao “Vermelhinho”Brindar idéias e esticando o burburinhoSubiam a esta sede que éLocal de gente que agitava, por certo:Bastos Tigre, Bororó, Barão de Itararé,Agripino Grieco, Mário Lago, Paulo Roberto!

O Onze foi a mil

dinha como vencedor do torneio naSérie Craques, durou pouco mais deuma hora, tempo suficiente para queo coração de todos batesse acelerado.E não eram poucos os sócios e convi-dados que acompanharam o final dacompetição no salão do 11º andar daABI – o conhecido Onze, glosado no

desenho e nos versos do cartu-nista Adail —, onde estão ins-taladas as mesas de sinuca.

Batizado em homenagemao ilustre freqüentador dasmesas de bilhar da ABI – elejogava bilhar- francês, contouMonarco, que foi contínuo daABI na juventude, em depoi-mento recente —, que morouem frente ao Edifício HerbertMoses, o I Torneio Aberto deSinuca Maestro Vila-Lobos,promovido pela Casa, foi dis-putado em duas séries: umapara jornalistas e associadosda Casa, outra para craquesdo jogo.

Aos vencedores de ambasas séries foram atribuídos co-mo prêmios passagens aérease três diárias em hotel, comdireito a acompanhante. O se-gundo e o terceiro colocados,também das duas séries, rece-beram tacos de luxo. O certa-me, como relatado na ediçãonúmero 300 do Jornal da ABI,foi aberto com uma partidatira-teima entre Toquinho ePaulinho da Viola, na qualToquinho mais uma vez levouvantagem.

O cavalo Montpellier, montadopelo jóquei Dalto Duarte, ganhou natarde do domingo, 24 de julho, o Prê-mio Associação Brasileira de Impren-sa, instituído pelo Jockey Club Brasi-leiro em homenagem à ABI, seguindoa tradição adotada pelo hipódromo nasduas semanas que antecedem ao Gran-de Prêmio Brasil, programado para 7de agosto. Nos 300 metros finais, apósa curva de chegada, Montpellier atro-pelou Union de Merit, montado porJ. Ricardo, sobre o qual livrou meiocorpo de vantagem. Montpellier é depropriedade do criador Raul Régis, doRio Grande do Sul, e é treinado porLeandro Guignoni. Após o páreo, nadistância de 1.900 metros, o Presiden-te da ABI, Maurício Azêdo, cumpri-mentou o jóquei e o treinador vitori-osos, aos quais a ABI entregará umaplaca alusiva à corrida.

O Prêmio ABI abriu a programaçãodessa tarde do hipódromo da Gávea,constante de dez páreos, dedicados ahomenagens a órgãos de comunica-ção, a instituições da imprensa e a umjornalista especialmente escolhido.Este ano o homenageado foi o jorna-lista Renato Machado, da Rede Glo-bo de Televisão, que chegou ao hipó-dromo com grande antecedência — opáreo em sua homenagem estava pro-gramado para as 15h55, mas já às 14hele se fez presente. À entrada Macha-do foi recepcionado pelo assessor deimprensa do Jockey, jornalista Uruba-tan Medeiros.

Também foram agraciados com a de-nominação de páreos a Associação dosCronistas de Turfe do Rio de Janeiro, aKey TV Comunicações, o Jornal dosSports, o jornalista Arlindo Mannes, arevista Turfe Espetacular, a TV Turfe ea Rádio Mundial AM. Ao vencedor doClássico Imprensa, sexto páreo da pro-gramação, foi oferecida a Taça Teophilode Vasconcellos, instituída em home-nagem ao famoso narrador das corri-das do hipódromo da Gávea.

Um páreopara a ABIno Jockey

Dalto Duarte e Montpellier: vitóriasobre J. Ricardo e Union de Merit.

CORRIDA

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Jornal da ABI

30 Julho/Agosto de 2005

LIVROS

� MÉDICOSBernardino Capell Ferreira lan-

çou Abaixo de Deus, meus médicos emlocal especialmente escolhido peloautor por ser o ambiente dos home-nageados: o Auditório C do Colé-gio Brasileiro de Cirurgiões, no 1ºandar do edifício-sede da institui-ção (Rua Visconde Silva, 52, Botafo-go, Rio de Janeiro,RJ).

Capell, 84 anos, diz que a inspi-ração do livro é o bom atendimen-to de profissionais que o mantêmvivo e com lucidez e que acabaramvirando seus grandes amigos.

Lançado pela Editora do Poeta,Abaixo de Deus é o sétimo livro deCapell e levoudois anos pa-ra ser concluí-do. Segundoele, trata-sede uma narra-tiva em queos cirurgiõesdos quais foipaciente rela-tam porme-nores das suas vidas particulares eepisódios marcantes ocorridos noexercício da profissão.

� BOTAFOGOO jornalista esportivo Roberto

Porto lançou em 12 de agosto, pelaEditora Revan, Botafogo: 101 anos dehistórias, mitos e superstições”. A noi-te de autógrafos foi na Dantes Livra-ria, no segundo andar do CineOdeon BR (Cinelândia, Centro doRio). No livro, Robertão, como é cha-mado pelos amigos, conta históriasde jogadores, técnicos, dirigentes etorcedores do Botafogo de Futebol eRegatas e também de companheirosde Redação em diversos jornais, comoJoão Saldanha, Sandro Moreyra eOldemário Touguinhó.

Veterano na cobertura de Espor-tes, o jornalista assina a coluna Golde letra no Jornal dos Sports e inte-gra a mesa de debates do programaLoucos por futebol da ESPN Brasil.

� ESTUDANTESNa Assembléia Legislativa de

Santa Catarina, em Florianópolis, ojornalista e ex-militante políticoCaê de Castro lançou em 11 de agos-to Da cor amarela. Escrito na primei-ra pessoa, o livro pretende recupe-rar a memória do movimento estu-dantil catarinense, restaurando econtextualizando a vida universitá-ria na primeira metade da décadade 80 e mostrando a luta pela rede-mocratização do País, especialmen-te a campanha das Diretas Já.

O recém-lançado Capoeiragem noRio de Janeiro, no Brasil e no mundo, dojornalista e capoeirista André Luiz LacéLopes, constitui na verdade a segundaedição — ampliada e ilustrada — dolivreto em que o autor conta um pou-co da trajetória da capoeira no Brasil eno mundo em versos de cordel.

André Luiz, 67 anos, há 50 come-çou a aprender capoeira e, em seguida,criou um programa de entrevistas naRádio Roquette-Pinto, de que partici-pavam mestres capoeiristas do Rio deJaneiro, historiadores e folcloristas,como Edison Carneiro. Segundo o jor-nalista, há semelhanças entre os mes-tres da capoeira, com sua cantoria, e oscordelistas:

— Ambossão contadoresde histórias enoticiaristas. Overdadeiro can-tador de capo-eira, além de ri-talista, é tam-bém um jorna-lista, cronistasocial, pregador, menestrel, enfim umcordelista ao som de berimbau. Nostempos da Roquette-Pinto, cheguei apromover um torneio, o primeiro dogênero no Rio, entre o poeta repentistaparaibano Zé Duda e o mestre de ca-poeira Zé Pedro.

Para ele, Capoeiragem no Rio de Ja-neiro, no Brasil e no mundo é um veículoque ajuda a repensar a capoeira comoum fenômeno afro-brasileiro, cuja ori-gem musical, gestual e oral está naÁfrica, mas que no Brasil — principal-mente na Bahia — ganhou forma pró-pria de expressão, inclusive com a in-trodução do berimbau. André Luiz dizque começou a escrever sobre capoei-ra primeiramente pela vocação jorna-lística; depois, porque o tema é muitofascinante:

— É uma pena que a capoeira ain-da não garanta a sobrevivência dosseus mestres, ainda que já não sofratanto preconceito como antigamente,quando era citada no Código Penal aolado do termo vadiagem. Atualmen-te, os problemas que ela enfrenta sãoos mesmos que afetam outras moda-lidades esportivas. E o mestre de ca-poeira, como o professor de educaçãofísica, atua num mercado que não dádinheiro.

A segunda edição de Capoeiragem noRio de Janeiro, no Brasil e no mundo estáà venda na Toca do Vinícius (RuaVinícius de Moraes, 61) e na loja doMuseu do Folclore Edison Carneiro(Rua do Catete, 179 e 181), no Rio.

O jornalista Audálio Dantas, Vice-Presidente da ABI, lançou seu novolivro, A infância de Mauricio de Sousa,texto dirigido ao público infanto-ju-venil e que conta a infância de umadas maiores personalida-des do mundo das histó-rias em quadrinhos, Mau-ricio de Sousa, criador daTurma da Mônica. A pu-blicação faz parte da co-leção A infância de ...., doInstituto Callis, para aqual Audálio Dantas es-creveu também A infânciade Graciliano Ramos.

Nas sessões de lançamento, Môni-ca e Cebolinha, dois dos principais per-sonagens de Mauricio, são representa-

Maurício de SouzaMaurício de SouzaMaurício de SouzaMaurício de SouzaMaurício de Souzaem obra de Aem obra de Aem obra de Aem obra de Aem obra de Audálioudálioudálioudálioudálio

Capoeiraem cordel,por Lacé

Capell, Robertãoe Caê tambémlançam obras

Membro suplente do Conselho Deliberativo da ABI, o jornalista José Argolo,Diretor da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro,informou que já se encontra em fase de impressão o livro que escreveu sobreLuiz Carlos Sarmento, que atuou na imprensa do Rio de Janeiro entre os anos60 e 80, destacou-se como um dos maiores repórteres de sua geração e teveum fim trágico. O objetivo da obra, disse Argolo, “é fixar o perfil profissional deSarmento, as histórias que protagonizou e os textos jornalísticos que escreveu”.

Sarmento, por Argolo

dos por atores caracterizados e tambémautografam o livro. O grupo S/Arau-tos, autor de músicas sobre as criaçõesdo quadrinista, apresenta canções com-postas a partir da obra de Audálio.

Ao contar a história domenino Mauricio, o Vice-Presidente da ABI reencon-tra um amigo da juventu-de. Os dois trabalhavam naFolha da Manhã (hoje Folhade S. Paulo) no final dosanos 50, quando Mauricio,que começara como repór-ter de Polícia, passou a de-dicar-se à sua verdadeira

paixão: desenhar — a publicação daprimeira tira, com Bidu e Franjinha,aconteceu em 1959.

O jornalista Aluízio Palmar progra-mou para 6 de dezembro, em eventono Arquivo Nacional (Praça da Repú-blica, Centro do Rio, RJ), o lançamen-to de seu livro Onde foi que vocês enter-raram os nossos mortos?, em que contacomo foram as últimas horas de vidade seis desaparecidos políticos quemorreram no sudoeste do Paraná, nosanos 60. Trata-se de um trabalho dejornalismo investigativo, que duroucerca de 26 anos de apuração, sobrecomo foram mortos e enterradosOnofre Pinto, José Lavéchia, VictorCarlos Ramos, o argentino EnriqueErnesto Ruggia e os irmãos Daniel Joséde Carvalho e Joel José de Carvalho,todos ligados à Vanguarda PopularRevolucionária (VPR).

O livro traz informações inéditassobre as mortes dos seis guerrilheiros,que desapareceram quando vinham daArgentina para o Brasil, para promo-ver ações armadas no Sul do País.Aluízio Palmar confirma a denúnciade que eles foram atraídos para umaemboscada armada pelos agentes dosórgãos de repressão da ditadura mili-tar, fato que ficou evidenciado nos

documentos pesquisados, nas entre-vistas com pessoas ligadas aos agen-tes que organizaram a caçada aos ho-mens e no depoimento de uma teste-munha ocular dos crimes.

Além de contribuir para a elucidaçãodas mortes dos militantes da VPR,Palmar — que também pertenceu àorganização e ao Movimento Revolu-cionário 8 de Outubro (MR-8) — traznovas informações sobre a formação daguerrilha armada na Tríplice Fronteira(Brasil, Argentina e Paraguai) e com-prova a participação da ItaipuBinacional na Operação Condor.

Aluízio Palmar nasceu em SãoFidélis, no Estado do Rio, estudou Ci-ências Sociais na Universidade Fede-ral Fluminense (UFF), foi preso e exi-lado do País. Com a anistia, retornouao Brasil e foi viver em Foz do Iguaçu,Paraná, onde começou a trabalhar nojornal Hoje Foz. Em 1980, criou o se-manário Nosso Tempo, conhecido porsua linha editorial, considerada rebel-de. Foi ainda Secretário de Comunica-ção e de Meio Ambiente de Foz deIguaçu, onde atualmente é Chefe deGabinete da Câmara Municipal.

Palmar narra a morte deseis militantes da VPR

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31Julho/Agosto de 2005

Jornal da ABI

VIDAS

O cabelo ralo cortado com apuro ebem penteado, o bigode fino sempreaparado, o colarinho bem abotoado ecom um laço de gravata perfeito, tudodava a Léo Guanabara uma aparênciade austeridade que ele sabia manter nosmomentos necessários – por exemplo,numa entrevista com uma autoridademais cerimoniosa. Fora desses momen-tos, porém, Léo não dissimulava seutemperamento. Era bem humorado,ainda que cáustico quando necessário;irreverente; irônico. Fazia a crítica maiscontundente ou contava a boutade maisinspirada sem franzer a testa ou o lá-bio, o que desconcertava, se presente,o alvo ou destinatário de seu sarcasmo.

Formado muito moço na escola dejornalismo da Imprensa Popular, o diá-rio que o Partido Comunista Brasileiro-PCB manteve no Rio por cerca de umadécada, nos anos 40 e 50 do século XX,Léo trabalhou nos principais jornais

Apaixonado pelo Direito, quemuitas vezes o levou a sacrificar aatividade profissional de jornalista,Reinaldo Santos – Reinaldo BastosSantos o seu nome completo –pôde prestar nesse campo umainestimável contribuição aos seuscompanheiros da imprensa: comrigor de pesquisa, disciplina epreocupação permanente deatualidade, ele organizou o VadeMecum da Comunicação, em quereuniu os principaisordenamentos legais relativos aimprensa, rádio, televisão,publicidade, propaganda, cinema,artes e espetáculos. A partir desua primeira edição, que abriu, em1972, uma série de muitas outras,o Vade Mecum da Comunicaçãocontribuiu para consolidar adisciplina Legislação dos Meios deComunicação, então de recenteintrodução no currículo dasfaculdades de Comunicação Social.

Advogado, professoruniversitário e assistente jurídicodo Ministério do Trabalho,Reinaldo Santos deixou copiosaobra no campo da organização delegislação de diferentes áreas,abrangendo não apenas a áreatrabalhista, mas vários outrossetores do Direito, incluindo-seentre estes o Direito Comercial, oDireito Processual Civil e o DireitoPrevidenciário. No campotrabalhista foi fecunda a suacolaboração com o eminenteadvogado Benedito CalheirosBonfim, especialista em Direito doTrabalho e criador das EdiçõesTrabalhistas, que editou grandeparte das suas obras.

Reinaldo, nascido em 11 deoutubro de 1918, teve intensaparticipação nas atividades doSindicato dos JornalistasProfissionais do Município do Riode Janeiro e na ABI, na qual atuouem inúmeras comissões detrabalho e colaborou comoconsultor jurídico. Ele obteveregistro profissional em 1941 eingressou na ABI em 1944: em 5 dejunho completara 61 anos devinculação à Casa. Enquanto pôde,marcou presença nas atividades daABI, à qual compareceu comgrande esforço na eleição de abrilde 2004. Faleceu em 23 de agostodeste ano.

Léo Guanabara,mestre nairreverência ena formaçãode repórteres

Manchetes sob medida, a arte de João Ribeiro

Reinaldo,o jurista

o Estado pensava resolver ou diminuiro problema da mendicância na antigaGuanabara afogando os indigentes noRio da Guarda, um dos afluentes do RioGuandu, que abastece o Rio de águapotável.

Quando o regime militar, pela voz doentão Comandante do IV Exército,sediado no Recife, Pernambuco, Gene-ral Joaquim Justino Alves Bastos, deci-diu prorrogar o mandato do ditadorHumberto de Alencar Castelo Branco,nomeado Presidente da República numavotação viciada do Congresso Nacional,para assim sepultar as aspirações doscandidatos Juscelino Kubitschek eCarlos Lacerda, Parpagnoli desenhouuma primeira página cuja mancheteconstituía um desafio aparentementeinsuperável.

– Três linhas de seis batidas – disseParpagnoli.

João matou a pau o desafio. Sem co-mer laudas, foi preciso:

NEM JKNEM CLNEM 65.João Ribeiro era sócio da ABI desde

26 de setembro de 1972. Faleceu emprincípio de julho, pouco depois de fa-zer 78 anos. Ele era tricolor roxo, aman-te de uma rodinha de pôquer, desde quecom nível baixo de aposta, para secompatibilizar com o salário, e apaixo-nado pela Estação Primeira de Manguei-ra, cujo nome foi reduzido originalmen-te por ele, há quatro décadas, com seupoder de síntese e seu amor pela escolade samba de Cartola:

– E a nossa Manga, como está?

Ele contestava que fosse procedenteessa versão, mas seus companheiros,vendo-o trabalhar com tanta paixão,davam-na como favas contadas, verda-de indiscutível. O jornalista João Ribei-ro da Silva, conhecido pela forma abre-viada João Ribeiro, sacrificou seu casa-mento porque, chamado a dar mais tem-po à casa do que ao trabalho, não vaci-lou: entre a casa e a Redação da ÚltimaHora de São Paulo, de Samuel Wainer,ele pensou, pensou e decidiu seu cami-nho – ficou com Samuel. Aliás, comSamuca, como ele se referia ao chefe elíder – pelas costas, na ausência de SW,por quem tinha veneração e respeito.

– O João é vidrado no Samuel – dizi-am seus companheiros, arrematando ahistória – ou a lenda.

Maranhense de São Luís, onde nas-ceu em 23 de junho de 1927, João Ri-beiro teve uma iniciação precoce no jor-nalismo, pois já em 1948, com 21 anos,obteve o registro profissional em seuEstado, o de número 74. Ele começounuma Redação lá mesmo no Maranhão,mas a sua grande escola foi a ÚltimaHora, tanto a de São Paulo, que se tor-nou o principal jornal popular da capi-tal paulista na primeira metade dos anos60, como a de Porto Alegre, pela qualteve breve passagem, e a do Rio. NestaJoão Ribeiro chegou ao clímax de suaqualificação profissional, como editordas capas do segundo caderno, a cha-mada UH Revista, editor da principalpágina de Polícia, na última capa do pri-meiro caderno, e editor da primeira pá-gina da primeira edição, a chamadamatutina, que, depois de impressa, era

atualizada na madrugada e nas primei-ras horas da manhã, para adquirir umaaparência diferente, por uma equipe li-derada por Flávio Brito e integrada, en-tre outros, por Genílson Gonzaga, Má-rio Curvelo e Anderson Campos.

Sob o comando de Samuel, que se exi-laria após o golpe militar de 1° de abril de1964, e, depois, de Moacir Werneck deCastro e Jorge Miranda Jordão, João Ri-beiro montava com o diagramador argen-tino Mário Parpagnoli ou, posteriormen-te, com o diagramador Xavier, apelidode Walter de Araújo Machado, nome quepoucos conheciam, uma primeira pági-na que era um primor de concepção grá-fica, no leiaute-padrão do jornal, de har-monia na titulação e exatidão no textodas chamadas. O esquema gráfico e edi-torial era definido no começo da noiteem reunião de João com Moacir Wer-neck e Miranda Jordão e até o fecha-mento da página, às 22 horas em pon-to, João suava para conceber os títuloscom a economia de letras ou toques (dí-gitos, diz-se agora) que o diagrama im-punha. João colocava laudas e mais lau-das na máquina de escrever, uma Oli-vetti Lexington de porte médio, amas-sava algumas com os dentes antes dejogá-las na cesta de lixo, mordendo deraiva o insucesso, mas acabava por en-contrar o título procurado.

João era capaz de achados que se in-corporavam à história e ao dia-a-dia dojornal e à vida política: foi dele a idéiade apelidar o Governador Carlos Lacer-da de mata-mendigos quando se desco-briu, em reportagem de Amado Ribei-ro, ás da reportagem policial de UH, que

diários do Rio, nos quais fez uma car-reira marcada pelo ecletismo: foi repór-ter no setor sindical, redatorcopidesque, editor, chefe de reporta-gem, chefe de Redação. A extrema com-petência profissional lhe permitia co-mandar uma equipe de Geral, comochefe da sucursal do Diário de São Paulono Rio de Janeiro, ou coordenar umaequipe especializada em economia,como secretário de Redação, nos anos60, da sucursal carioca da Gazeta Mer-cantil de São Paulo. Ele podia estar pre-sente na equipe que sob a liderança dojornalista Luís Paulistano modernizouo Jornal do Commercio do Rio depois queo Deputado San Tiago Dantas adquiriuo centenário jornal, em meados dosanos 50, ou no comando de uma agên-cia noticiosa dotada de poucos recur-

sos mas empenhada na batalha da in-formação, como a sucursal da agênciacubana Prensa Latina no Rio de Janei-ro, no começo dos anos 60. Em todasessas funções Léo Guanabara revelou-se um mestre da irreverência e da for-mação de quadros jornalísticos.

Associado da ABI desde 20 de maiode 1969, quando ingressou na Casa porproposta do jornalista Aor Seixas Ribei-ro, Léo Guanabara nasceu em 13 de agos-to de 1928. Nos últimos anos, após apo-sentar-se, decidiu fixar residência noMunicípio de Nova Friburgo, na regiãoserrana fluminense, onde pôde desfru-tar do carinho da esposa, a artista plás-tica Maria de Lourdes Araújo Guanabara.Ele faleceu lá em Nova Friburgo no dia 7de julho, quando faltava pouco mais deum mês para completar 77 anos.

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IMPRENSADECASSÉGUI

Um negócio movidoa dólares e a muita

saudade

����� Alessandro Rocha FonsecaDESBRAVADORES

uase um século depois deo navio Kassato Maru tra-zer as primeiras famíliasjaponesas ao Brasil, osventos mudaram e agora

os brasileiros fazem o caminho in-verso rumo ao país do sol nascen-te. Somente uma pequena parceladesses brasileiros — estabelecidosem sua maioria em colônias — sabeler ou escrever japonês. Mesmo en-tre os que conseguem falar, a difi-culdade persiste devido à comple-xidade do idioma, que se divide emtrês sistemas de ideogramas: o hira-gana, usado para escrever palavrasnativas; o katakana, usado para pa-lavras estrangeiras; e o kanji, maiscomplexo, para descrever o restan-te da língua.

A colônia brasileira atingiu taisdimensões que tornou essencial acriação de uma imprensa em portu-guês, voltada para esses imigrantesconhecidos como decasséguis. Des-de a década de 90, dois grandes gru-pos controlam a imprensa decas-ségui no Japão: International PressCorporation Group (IPC Group) eJapan Brazil Communication (JBC).

Seu público básico tem leve pre-dominância masculina, está na fai-xa de 20 a 45 anos e 55% deles têmrendimentos equivalentes à médiada população japonesa — entre US$2 mil e US$ 3 mil por mês, sendometade da quantia usada no consu-mo imediato e o restante poupadopara a compra de bens duráveis oupara remessa ao Brasil.

Aqui está justamente o outro mer-cado do IPC Group e da JBC: o dosparentes e amigos dos decasséguis,que recebem entre US$ 600 milhõese US$ 2 bilhões anuais por meio deremessas bancárias e anseiam por no-tícias sobre os familiares eo cotidiano no Japão.

O IPC Group — tam-bém responsável pela repre-sentação exclusiva, no Ja-pão, dos chocolates Garoto,dos sucos de fruta Tial e dasmassas e biscoitos Piraquê,através da NambeibussanCorporation — é integradopor três empresas de comu-nicação: a IPC World, Inc.,retransmissora dos canaisGlobo Internacional, RecordInternacional e da TelevisiónEspañola; a Digital BridgeCommunications Corpora-tion, maior fonte de informa-

Os rendosos jornais editados em português noJapão para informar os brasileiros lá radicados

ções via celular para estrangeiros noJapão, através do site www.poke-bras.com, e a International PressJapan Company, que edita livros,guias e dois jornais semanais — umem português, outro em inglês e ta-galog (voltado para os filipinos) —,além de importar livros e revistas doBrasil, do Peru, da Colômbia e da Ar-gentina.

A International Press Japan Com-pany (IPJC) foi fundada pelo imi-grante japonês Yoshio Muranaga,radicado no Pará. Percebendo as di-ficuldades dos decasséguis com oidioma e a ansiedade das famíliasdeixadas no Brasil, ele criou os jor-nais Nippo-Brasil (NB) e InternationalPress (IP). Este é vendido em lojasde produtos brasileiros, quiosquesde estações de trem e livrarias, alémde ter alguns de seus textos pu-blicados diariamente no sitewww.nippobrasil.com e semanal-mente no NB.

Segundo a editora Fátima Kamata,o pioneiro IP circula no Japão desde15 de setembro de 1991 e é líder no

ções em Tóquio e São Paulo, onde aMade in Japan é impressa simulta-neamente, graças à internet. Masa-kazu Shoji, Diretor-presidente dogrupo, diz que a tecnologia minimi-zou as barreiras impostas pela dis-tância entre os dois países:

— Passei 75 dias num navio emminha primeira viagem ao Brasil e acomunicação era só por carta. Hoje,em menos de 24 horas viaja-se en-tre São Paulo e Tóquio num dosmuitos vôos diários que fazem essarota. Além do telefone, temos infor-mações em tempo real, em questãode segundos, pela internet. Atravésda revista Made in Japan e do Jornal

Tudo Bem, um nomeque conquistou a sim-patia dos brasileirosque vivem no Japão, aJBC encurtou essasdistâncias e conquis-tou mais que um mer-cado. Conquistou suarazão de ser, cumprin-do a sua finalidade deinformar ao leitor.

Além de ter sido re-ferência para os leito-res na Copa do Mun-do de 2002, que acon-teceu simultanea-mente no Japão e naCoréia, o Tudo Bem foide grande auxílio aoItamaraty em janeirode 1995, após o terre-moto na cidade de Ko-be, publicando diaria-mente a lista dos so-breviventes.

Mesmo diante dosinúmeros campos de atuação dosdois grupos, o mercado ainda nãoestá saturado: 40% dos decasséguisnão são alcançados pelas publica-ções do IPC Group e da JBC, repre-sentando um vasto campo editoriala ser conquistado não só no Japão,mas junto à colônia japonesa noBrasil.

Mangá é o nome dado às histó-rias em quadrinhos de origem japo-nesa. Impressos em papel jornal efeitos totalmente em preto e bran-co, são baratos e muito popularesno Japão.

Para quem se interessar em apren-der japonês, a Sociedade Brasileira deBugei, fundada em 2002, ensina gra-tuitamente o idioma na comodida-de da internet (www.bugei.com.br/japones/monji.asp).

mercado, com tiragem de 60 milexemplares. Seus nove jornalistas —oito brasileiros e um japonês — tra-balham entre a redação em Tóquioe quatro sucursais e também utili-zam os serviços de várias agênciasde notícias.

A Japan Brazil Communication(JBC) é o outro grande grupo quecontrola a imprensa em portuguêsno Japão, em parceria com algumasdas principais empresas de comuni-cação daquele país. Além de publi-car a revista Made in Japan e o Jor-nal Tudo Bem, a JBC é a única edito-ra especializada em temas japone-ses (aproximadamente 30 livros) ea maior responsável pelo lançamen-to de mangás no Brasil.

Pode-se dizer que a JBC funcionaininterruptamente, pois tem reda-

Q

Mangás produzidos pela JBC: cada edição tempelo menos 200 páginas, com histórias

completas e aprofundadas. Man significa“involuntário” e gá, “imagem”

Muragana, um imigrante no Pará, percebeu o dilema da faltade notícias e criou jornais para brasileiros no Japão