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20 anos da Ordem dos Médicos Cabo-Verdianos

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20 anos da Ordem dos Médicos Cabo-Verdianos

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Depois de anos de um afi ncado trabalho de mobilização e organização, a Ordem dos Médicos Cabo-Verdianos (OMC) foi criada em 1998, pelo que, em janeiro próximo, ela completará 20 anos de existência.

Ao período inicial de instalação, seguiu--se o de criação de condições de normal funcionamento, afi rmando-se a OMC, paulatinamente, como instrumento incontornável de defesa da dignidade da classe médica e de uma medicina de qualidade, sempre ao serviço do desenvolvimento do sistema nacional de saúde.

Pesem embora os desafi os revelados pela análise do presente, é inquestionável que há um legado sobre o qual importa refl etir e que é preciso projetar o futuro de forma realista.

Quando se comemoram os 20 anos da Ordem, parece ser lógico que se valorize esse legado e que nos debrucemos sobre os novos tempos, de forma a vislumbrar novas oportunidades para a Medicina e a Saúde em Cabo Verde.

Daí a escolha do lema “Um legado, novas oportunidades” signo das atividades realizadas em todo o território nacional para assinalar o 20º aniversário da Ordem dos médicos, que terá como ponto alto o Congresso Internacional, a ser realizado na Praia, a coincidir em parte com o Dia Nacional do Médico.

Em um período que chegará aos 90 dias (de 2 de novembro a 31 de janeiro), tem-se visto um leque alargado de programação, englobando atividades científi cas, sociais e culturais.

20 anos da Ordem dos Médicos Cabo-Verdianos

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Para um efetivo cumprimento da programação e o brilho que se pretende, tem sido importante o amplo envolvimento dos órgãos nacionais, regionais e outros da Ordem, bem como das estruturas de saúde, das centrais e sobretudo dos hospitais centrais e das delegacias de saúde.

É, pois, sob o signo do “legado” e das “novas oportunidades” que celebramos os 20 anos da organização profi ssional da nossa classe. Não vamos descurar a herança e não deixaremos nada obnubilar a esperança que as novas oportunidades nos trazem.

Os objetivos são simples e claros. Queremos celebrar o percurso da Ordem dos Médicos, intensifi car o diálogo com nossos colegas, parceiros e a sociedade que devemos servir e, fi nalmente, contribuir para uma maior dignidade e um maior prestígio da classe médica cabo-verdiana.

Bem haja a Ordem dos Médicos Cabo-Verdianos!

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Conselhos de Medicina do Brasil comemoram 60 anos

Os médicos brasileiros Celmo Celeno Porto, Gabriel Wolf Oselka, Iaperi Araújo, José Almir Santana e Roberto Figueira Santos foram homenageados, em dezembro, pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), durante solenidade que condecorou profi ssionais que se destacaram por suas carreiras e trajetórias pessoais. A cerimônia também foi palco para as comemorações dos 60 anos da autarquia.

O presidente em exercício do CFM, Mauro Ribeiro, mencionou a Lei nº 3.268/1957, que criou o Conselho Federal e os conselhos regionais de medicina (CRMs), e que, segundo ele, mantém-se atual. “Nessas últimas seis décadas, temos tomado

decisões importantes, regulamentando, estabelecendo diretrizes ético-profi ssionais e atuando contra o vilipêndio da medicina pelos últimos governos”, disse, ressaltando ainda que, com as falhas de gestão, “se o SUS ainda funciona, é pelos profi ssionais que ali trabalham. Somos os últimos bastiões”.

Homenagens – A homenagem aos cinco médicos aconteceu no âmbito da entrega das Comendas CFM 2017. Seus nomes foram selecionados dentre outros 25 candidatos de excelente currículo, indicados pelos CRMs dos estados onde atuam. O reconhecimento extravasa o âmbito local e alcança proporção nacional, dada à projeção do trabalho executado.

Os homenageados são donos de trajetórias únicas, que incluem publicações de livros e trabalhos científi cos, exercício de cargos políticos, institucionais e de docência e compromisso com a ética e com a defesa dos interesses da profi ssão, dos colegas, da sociedade e dos pacientes em cinco eixos temáticos: ensino médico, humanidades, literatura e arte, responsabilidade social e saúde pública.

É a sétima vez consecutiva que o Conselho Federal de Medicina homenageia publicamente grandes médicos brasileiros que se destacaram pelo compromisso político, técnico, ético e social. Por meio da Resolução nº 2.022/2013, foram criadas cinco comendas entregues anualmente a personalidades médicas com destacada atuação em diferentes campos da vida em sociedade.

As comendas são outorgadas como parte das comemorações do Dia do Médico no Brasil (18 de outubro), sendo a materialização de homenagem permanente a importantes fi guras da medicina brasileira que lhes emprestam o nome.

Personalidades – Como parte das comemorações dos 60 anos do CFM, a autarquia também homenageou personalidades e instituições. A jornalista Vera Souto, do programa Fantástico (Rede Globo de Televisão), recebeu do conselheiro Hermann von Tiesenhausen uma placa em reconhecimento a seu trabalho, marcado pelas excelentes atividades de informação e divulgação de temas nas áreas de saúde e medicina.

O cardeal Dom Raymundo Damasceno Assis, representante da Conferência

Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), foi reconhecido por sua atuação no fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e em importantes ações de prevenção em saúde. A placa foi entregue pelo conselheiro paraibano Dalvélio Madruga.

Ainda como parte dessas comemorações, o diretor-geral do Supremo Tribunal Federal (STF), Eduardo Toledo, recebeu, do conselheiro José Fernando Maia Vinagre, uma placa em reconhecimento pela ativa atuação em debates e análises de temas de forte impacto para a saúde e medicina no País.

Como parte da quarta homenagem do dia, o conselheiro decano do CFM, Cláudio Balduino Franzen, repassou a Paulo Octávio Alves Pereira, membro do conselho curador do Memorial JK, uma placa em homenagem póstuma ao presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, responsável pela sanção da Lei nº 3.268, de 1957, que criou o sistema dos conselhos de medicina no País. “Juscelino Kubitschek não foi um visionário apenas ao construir Brasília, mas em todos os aspectos. Graças a ele, hoje o Brasil é um dos poucos países que têm uma entidade de posição marcante como o CFM para assuntos de ética médica”, disse, em referência à Lei nº 3.268/1957.

A solenidade comemorativa dos 60 anos do CFM também lembrou a trajetória da autarquia celebrando o papel dos que atuaram como presidentes entre os anos de 1984 e 2009. Gabriel Wolf Oselka, Francisco Álvaro Barbosa Costa, Ivan de Araújo Moura Fé, Waldir Paiva Mesquita, Edson de Oliveira Andrade e Roberto Luiz d’Avila receberam placas comemorativas.

Projeto Visão Guiné

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Missão

O projeto Visão Guiné é um movimento de cariz solidário realizado no âmbito da oftalmologia e que tem como zona de ação a Guiné-Bissau. O projeto visa dar assistência oftalmológica às pessoas mais carenciadas e promover a cooperação e o desenvolvimento da oftalmologia neste país africano de língua ofi cial portuguesa.

Enquadramento

Em Guiné-Bissau, um dos países mais pobres do mundo, e onde a assistência médica tem carências profundas, não só pela falta de recursos e subdesenvolvimento, mas também pela instabilidade política que tem difi cultado a intervenção de diversas entidades internacionais.

A história deste projeto

O projeto Visão Guiné iniciou-se em 2010 com um pedido de apoio formulado pelaFundação João XXIII, uma EPSS sem recursos próprios que desenvolve há mais de 20 anos diversos projetos na Guiné-Bissau. A instituição é constituída por um grupo de pessoas que começou por realizar férias solidárias na Guiné-Bissau e, progressivamente, foi instalando no terreno diversas iniciativas de apoio humanitário. Sem grandes fundos, a entidade mantém sua atividade por meio de donativos, bazares ou jantares solidários.

A 1ª Missão Visão Guiné - 2011

A 1ª Missão Visão Guiné realizou-se em 2011 e envolveu 31 voluntários, entre os quais 5 oftalmologistas e 5 outros especialistas de diferentes áreas, numa operação logística de dimensão considerável. A atividade desenvolvida é apresentada no quadro anexo.

Projeto Visão Guiné

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Esta missão revelou-se uma importante experiência, pois permitiu conhecer de perto a realidade e as carências existentes e deixar na Guiné laços que têm facilitado o desenvolvimento do projeto, orientando-o para uma ação sustentada que promova a oftalmologia. Dos contactos estabelecidos, salienta-se a plena cooperação com o dr. Meno Nabicassa, responsável pela oftalmologia na Guiné, e a cooperação estabelecida com o hospital de Cumura, administrado por padres franciscanos e localizado a cerca de 15 km de Bissau. Inicialmente, o hospital foi destinado ao apoio e tratamento de pacientes com lepra. Hoje é um centro com diversas outras vertentes na área da saúde, incluindo a assistência materno-infantil ou a assistência a doentes com sida, tuberculose multirresistente, paludismo etc., possuindo também um bloco operatório. Tornou-se, assim, dentro das infraestruturas existentes na Guiné, aquela que oferecia maiores condições de organização e segurança para lançar um projeto consistente.

A continuidade do projeto

Perante as prementes necessidades da população e as defi cientes condições assistenciais, pretendeu dar-se continuidade ao projeto e lançaram-se as bases para uma ação mais sustentada, onde, a par da ação de cariz humanitário, se implementou, em simultâneo, um conjunto de estratégias com uma forte componente formativa, destinadas aos médicos e técnicos da área da oftalmologia. Assim, numa fase inicial, a meta principal foi dotar o hospital de Cumura com os meios técnicos necessários para poder ser um centro de formação e assistência oftalmológica de referência na Guiné-Bissau, e para onde, periodicamente, se possam deslocar equipas de voluntários para realizar cirurgias oftalmológicas nesta população tão carenciada e formar técnicos locais, promovendo a autossufi ciência.

Dados da Missão Visão Guiné 2011

• 142 cirurgias oftalmológicas

• 650 consultas de oftalmologia

• Cerca de 1.000 observações de despiste

• 56 extrações de lipomas

• Cerca de 400 consultas médicas

• Cerca de 40 tratamentos de feridas

• Outras ações de apoio humanitário

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Ao longo das 7 missões já realizadas, e tendo em conta os objetivos traçados, fomos construindo laços de amizade e cooperação com as pessoas do Hospital de Cumura como base fundamental para lançar o futuro. Foram instalados equipamentos de oftalmologia no bloco operatório e equipamos um gabinete para consultas. As verbas necessárias para esta fase resultaram da submissão do projeto, em 2011, a um programa internacional: eXcellence in Ophtalmology Vision Award – XOVA. Entre mais de uma centena de iniciativas humanitárias de vários países do mundo, o projeto Visão Guiné se sagrou vencedor.Atualmente vão-se realizando as missões à medida que se conseguem apoios para os materiais médicos; as viagens e despesas individuais fi cam a cargo de cada um dos voluntários.

No somatório das atividades desenvolvidas até a data, durante os períodos de missão, contabilizam-se cerca de 1.500 consultas e cerca de 550 cirurgias (as cirurgias oftalmológicas privilegiaram em particular pacientes com cataratas bilaterais em fasesmuito evoluídas e, por conseguinte, que se encontravam num estado de cegueira).

Foram organizadas diversas palestras para profi ssionais de saúde que incluíram a projeção de vídeos e a abordagem de temas como a anatomia e fi siologia do olho, as novas técnicas de cirurgia da catarata por microincisão, a oftalmologia pediátrica e a prevenção do tracoma. No bloco operatório estão presentes, habitualmente, elementos locais que se vão formando nestas técnicas. Foi realizada uma campanha contra o tracoma, que se concretizou com a distribuição de folhetos e pósteres em escolas, centros de saúde etc. Outra iniciativa constou da realização, em Portugal, de um curso intensivo de microcirurgia ocular. Proporcionamos a 5 técnicos da Guiné-Bissau a possibilidade de praticarem, durante 3 dias, em olhos de animais, os métodos mais modernos da cirurgia da catarata.

Dr. Luís GonçalvesMédico oftalmologista do Hospital de Guimarães, Portugal

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A Guiné-Bissau, país incluído na CPLP, é um dos países mais pobres do mundo e, como tal, possui um sistema de saúde profundamente defi citário e precário. Na área da saúde renal, falta tudo, inclusive diálise. Num país em que quase todos os (escassos) recursos de saúde estão dirigidos para a doença aguda, nomeadamente infeções, e para a saúde materno-infantil, a doença crónica (nomeadamente a doença cardiovascular e a doença renal crónica [DRC]) passa praticamente despercebida.

Neste contexto, e como nefrologista, preocupava-me essencialmente a identifi cação de fatores de risco de DRC, quer na vertente epidemiológica (não há dados sobre doença cardiovascular naGuiné-Bissau) quer na vertente clínica, no

sentido de promover o diagnóstico, a educação e o controlo dos ditos fatores de risco na população. Numa iniciativa individual, mas com apoio da Diaverum Portugal (empresa de cuidados renais), delineei um programa de rastreio que teve como objetivo identifi car na comunidade, em vários pontos do país, fatores/patologias que aumentam o risco de doença renal crónica, nomeadamente a hipertensão arterial (HTA) e a diabetes (DM), sobretudo quando não tratadas. Ainda em Portugal, os primeiros contactos foram estabelecidos com a Missão Católica de Cumura, que se situa a escassos quilómetros de Bissau e inclui um hospital com vertente médico-cirúrgica, bem organizado, e que recebe frequentemente missões médicas portuguesas e italianas (essencialmente nas área cirúrgicas de

Doença Renal Crónica

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oftalmologia, cirurgia geral e ginecologia/obstetrícia). A colaboração com Cumura foi essencial ao bom desenrolar de todo o projeto, desde a ajuda na receção e desalfandegamento do material como nos primeiros rastreios, quer no hospital quer nas tabancas (aldeias).

Os rastreios foram realizados em colaboração com as unidades de saúde locais, e incluíram não só o Hospital de Cumura, mas também o Hospital de São Domingos e as direções regionais de saúde de Quinara e Bolama. Participavam sempre, para além de mim, como médica nefrologista (portuguesa), um enfermeiro ou assistente operacional, que colaborava no rastreio e auxiliava a comunicação com a população. Foram muitas vezes, sempre que possível, envolvidos os agentes de saúde comunitária das tabancas rastreadas, de forma a passarem a mensagem da importância do controlo destas patologias e do risco de doença cardiovascular e renal a elas associado.

Foram rastreados 1.023 adultos no período entre 15 de fevereiro e 17 de março de 2017. Foram identifi cadas 363 pessoas (35,5%) com HTA (TA sist > 140mmHg e/ou TA diastólica > 90mmHg), sendo que no grupo de doentes com > 50 anos, a percentagem foi de 59%. 43 doentes (4,2%) tiveram o diagnóstico de DM. 10,8% dos doentes eram obesos. 27 doentes apresentaram proteinuria > ++ na tira-teste urinária.

Conclusões: a HTA é uma patologia muito prevalente, principalmente nas faixas etárias mais avançadas, e largamente subdiagnosticada. A dieta é pobre e exageradamente condimentada para melhorar o paladar. Não há (in)formação na população. As difi culdades económicas limitam a adesão à medicação. Nota-se, no entanto, um interesse no conhecimento dos problemas e na tentativa de melhoria. A adesão aos rastreios foi extraordinária em quase todos os locais; e só não o foi em todos por falta de aviso prévio às comunidades. Chegamos a ser “requisitados” para voltar a algumas das tabancas. O empenho dos enfermeiros e dos agentes de saúde comunitária, bem como dos motoristas, foi impressionante. E os resultados confi rmam que este tipo de projectos/iniciativas, nestes países, são urgentemente necessários.

Dra. Catarina CarvalhoNefrologista

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Muito tem-se escrito sobre a Venezuela nestes últimos anos. Muitas vezes, os textos têm por base opiniões pessoais, pelo que tentarei, neste caso, expor dados baseados nas cifras ofi ciais do ministério da saúde (Ministerio del Poder Popular para la Salud), registradas no “boletin epidemiológico” publicado pelo governo.

Utilizarei dois dos indicadores mais representativos da situação da saúde de um país: mortalidade materna e mortalidade infantil.

Mortalidade materna

Os dados indicam que no ano 2016, comparado com o ano de 2015,

aumentou em 65,8% a mortalidade materna. Comparado com os dados de 2006, o núme-ro de mortes em 2016 mais que duplica. Importante assinalar que a tendência mun-dial da mortalidade materna é sem duvida a da diminuição progressiva. Conforme infor-mação da Organização Mundial de Saúde (OMS), a mortalidade materna diminuiu no mundo em 44% entre 1990 e 2015.

Se analisarmos as taxas de mortalidade materna, os dados indicam que a taxa em 2016 (de janeiro a maio) foi de 130,7 mortes a cada 100.000 nascidos vivos, um núme-ro 79% maior que em 2009 segundo dados da Human Right Watch baseados em infor-mações do ministério da saúde venezuelano.

Situação do Sistema de Saúde na Venezuela

Ricardo J Bello, José J Damas, Francisco J Marco, Julio S Castro. Venezuela’s health-care crisis. The Lancet, Volume 390, Issue 10094, 5 – 11 August. 2017, Page 551.

Dr. Juan MarquesPresidente da Associação de Médicos Luso-Venezuelanos

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Mortalidade infantil

No que diz respeito à mortalidade infantil, a situação não é melhor. Ao comparar 2016 com 2015, o número aumenta em 29,5%. Em comparação com 2006, o indicador de 2016 aumentou em 87%. De 1990 a 2015, conforme a OMS, a mortalidade infantil no mundo diminuiu 46,5%.

Se analisarmos as taxas de mortalidade infantil, os dados indicam que a taxa em 2016 foi de 18,61 mortes a cada 1.000 nascidos vivos, número 21% maior que em 2015 e 45% maior que em 2013 segundo dados da Human Right Watch baseados em informações do ministério da saúde venezuelano.

Os médicos veem com profunda preocupação esta situação que evidencia uma crise do sistema de saúde. Sem dúvida, é preciso que todas as partes relacionadas com as políticas de saúde trabalhem em conjunto para desenvolver iniciativas que melhorem um sistema que hoje tem indicadores do século passado.

A Comunidade Médica de Língua Portuguesa é uma enorme oportunidade para ouvir sobre a experiência que tem sido vivida por outros países e como tem sido o processo de resolução dos problemas.

Leituras adicionaisBarbara Fraser, Data reveal state of Venezuelan health system. The Lancet, Volume 389, Issue 10084, 27 May – 2 June 2017, Pages 2095.

https://www.hrw.org/es/report/2016/10/24/crisis-humanitaria-en-venezuela/la-inadecuada-y-represiva-respuesta-del-gobierno

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A ideia de um espaço lusófono de saúde parece uma utopia que, mais cedo do que esperamos, passará para um desafi o alcançado e vencido. A aproximação entre os médicos falantes do português é cada vez mais real, amistosa e rotineira.

Essa aproximação entende-se num contexto mais amplo de saúde, que nos levará consequentemente a um bom porto na criação de um espaço lusófono de saúde, como já é debate da classe na nossa comunidade.

Foi à luz desta visão que eu decidi tomar a oportunidade de realizar um estágio profi ssional clínico no Hospital Santa Maria, em Lisboa, como forma de complementar as competências que por limitações conjunturais não as posso adquirir durante a minha residência médica em Maputo.

A escolha de Portugal para este estágio não foi mero acaso, foi motivada por razões socioculturais que facilitam a minha aprendizagem. Aprender medicina num idioma que temos o domínio vai para além do agradável, prático e fi ável.

A caminhada por um espaço lusófono de saúde: o olhar de um médico moçambicano em uma janela de Lisboa

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As ligações históricas que temos entre nossos países, as semelhanças e o ambiente de fraternidade entre nós – obviamente, reconhecendo os preconceitos e receios mútuos – são, na verdade, âncoras que servem para nos unir, e não separar, enquanto que comunidade lusófona.

A experiência em estagiar num hospital central e de referência na região de Lisboa, que funciona com meios humanos e materiais de elevadíssima diferenciação, possibilita a oportunidade única de aprendizagem e de aquisição de bagagem técnica e científi ca.

Aqui também se aprende um outro factor determinante na atenção de saúde dos pacientes: a abordagem de saúde como direito humano, consolidado nas bases do respeito pelos direitos dos pacientes e princípios deontológicos e profi ssionais.

O respeito à vida e à dignidade humana constitui um passo primordial na prestação de cuidados de saúde, refl ectido nos reduzidos tempos de espera para aceder aos serviços de saúde (consulta médica, exames auxiliares de diagnóstico, cirurgias etc.), no número de profi ssionais diferenciados por pacientes e na qualidade de serviços prestados.

É impressionante observar que Portugal, apesar da recente crise económica e

fi nanceira, mantém um sistema de saúde robusto e de qualidade funcional invejável.

É esse caminho que muitos dos nossos países devem seguir, respeitando as especifi cidades de cada um, mas caminhando num sentido de criação de um sistema de saúde que responda de forma satisfatória às necessidades de saúde dos povos.

Aí se centra o papel de um espaço lusófono de saúde, que permita a mobilidade de conhecimento, a mobilidade de profi ssionais e, quiçá um dia, a mobilidade de pacientes que precisem de assistência de saúde diferenciada que não se ofereça no seu país de origem. Progresso nesse sentido já foi dado pela Comunidade Médica de Língua Portuguesa, com as suas iniciativas de cooperação, que permitem a mobilidade dos médicos na aquisição de competências e conhecimentos, bem como no providenciar assistência médica aos que a necessitem.

A abertura de Portugal, assinando os protocolos de formação médica em regime de reciprocidade, inicialmente com Moçambique e Angola e posteriormente alargando para todos os países falantes da língua portuguesa, é o concretizar de um anseio nessa caminhada de saúde lusófona.

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Este espaço tem a vantagem da proximidade histórica, cultural e linguística, facilidades essas tanto para os prestadores de cuidados de saúde quanto para os pacientes benefi ciários desses cuidados.

A facilidade de comunicação e percepção das queixas e inquietações dos pacientes, pelo entendimento do idioma e pelo conhecimento do meio cultural em que estão inseridos, são oportunidades únicas para o bem proceder.

Esse caminho é passível de ser percorrido, as oportunidades estão aqui, à nossa frente. Cabe a nós, esta nova geração de médicos, tomar essas oportunidades e fazer delas desafi os para o bem do cidadão do espaço lusófono.

Ainda que seja uma comunidade pequena no contexto das nações, e com os recursos escassos, devemos maximizar as nossas potencialidades, tomando proveito da irmandade e fraternidade consolidada em nossa língua.

O caminho se faz andando.

Dr, Nelson Joel Feliciano TchamoMédico-residente em urologia no Hospital Central de Maputo (Moçambique) e membro do Conselho dos Jovens Médicos da CMLP

Sistema público para superar desafios globais em saúde

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Representantes do Brasil, Moçambique e Portugal conduziram uma sessão de apresentações e debates sobre os desafi os globais da saúde nos países que compõem a Comunidade Médica de Língua Portuguesa (CMLP). Foram abordadas as infecções viróticas emergentes e reemergentes, as doenças crônicas, as emergências em saúde pública e as tecnologias em saúde.

Ao comentarem sobre infecções viróticas, doenças crônicas e emergências, os palestrantes enfatizaram o papel dos sistemas de saúde em países em desenvolvimento como o Brasil. O professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e médico especialista em infectologia e alergia e imunologia, Dirceu Greco, apontou a necessidade, ante as ameaças de epidemias globais e desassistência, de informação e educação, vontade política em contextos de recursos

escassos e ambiente social adequado – além de um SUS fortalecido, no caso do Brasil. Para ele, infelizmente, a mudança do ambiente social é um item “raramente discutido”. “Necessitamos de modifi cações globais para diminuir as obscenas disparidades”, disse o professor.

Para o professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), Milton de Arruda Martins, os países precisam identifi car e quantifi car o peso de cada doença – para além dos tradicionais padrões de incidência, prevalência e mortalidade – para traçarem seus processos de decisão e planejamento em saúde. Um exemplo é o grupo multinacional Global Burden of Disease. Os estudos desse grupo chamam atenção para fatores como violência interpessoal e acidentes de trânsito, considerando-os gravíssimos problemas de saúde no Brasil, com forte impacto sobre os indivíduos afetados.

Sistema público para superar desafios globais em saúde

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Essas demandas geradas pela violência urbana e pelos acidentes impactam gravemente o SUS, como aponta o 1º vice-presidente do CFM e professor da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp), Mauro Luiz de Britto Ribeiro. Ele usa sua experiência como cirurgião-geral da Santa Casa de Campo Grande e emergencista do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul para apontar os enormes desafi os do SUS, sem deixar de mencionar importantes conquistas, como o Samu. “O Samu foi uma importante conquista, mas faltaram medidas estruturantes”, diz.

O conselheiro aponta ainda que falhas nos três níveis de atenção acabam impactando o sistema hospitalar. Mesmo na Rede de Atenção às Urgências, que prevê componentes e interfaces (de promoção e prevenção, sala de estabilização, Força Nacional do SUS, Samu, UPA 24h, hospital e atenção domiciliar), muitas lacunas acabam sobrecarregando os hospitais, que “não têm estrutura física, profi ssionais, leitos e centros cirúrgicos, por exemplo, para atender à demanda que explode em suas portas, e os pacientes acabam morrendo por causas evitáveis”.

Outro problema que afeta os cuidados médicos é a comunicação em saúde, segundo a professora da Universidade do Porto, Daniela Seixas. Para ela, que é cofundadora do aplicativo Tonic App, os médicos querem melhorar a qualidade e a efi ciência dos cuidados, além de informar e educar. Ferramentas de comunicação são, “inclusive, instrumentos para potencializar sinergias da Comunidade Médica de Língua Portuguesa”, aponta. As novas ferramentas tecnológicas têm, assim, potencial de oferecer um ambiente colaborativo, de interação e troca de experiências.

Participaram ainda, como presidente e secretária da mesa, o bastonário da Ordem dos Médicos de Moçambique, António Eugénio Zacarias, e a diretora da Associação dos Médicos de Língua Portuguesa de Macau, Filomena Maria Alves Ribeiro Laia McGuire.

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As atividades do segundo dia do VIII Congresso da Comunidade Médica de Língua Portuguesa começaram com um debate sobre o impacto dos serviços de saúde na qualidade de vida da população. “Todos estamos de acordo que as más condições sanitárias interferem negativamente nas condições de vida sociais”, assinalou, no início das apresentações, o presidente da conferência, Daniel Silves Ferreira, representante da Ordem dos Médicos de Cabo Verde.

O primeiro palestrante foi o secretário de saúde do Ceará e secretário executivo do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Jurandi Frutuoso, que assinalou existir uma diferença grande entre o discurso e a prática. “O SUS, por exemplo, carrega, desde seu surgimento, uma contradição: está calcado num ideário social, mas com um

fi nanciamento frágil”, apontou. Para o gestor, o SUS sofre com falta de recursos e problemas na gestão e divisão de responsabilidades. “Os estados e municípios estão sobrecarregados. Investindo mais em saúde do que a União”, denunciou.

Frutuoso entende que o caminho hoje seria a regionalização dos serviços. “A municipalização já cumpriu seu papel”, argumentou. O secretário de saúde enfatizou a necessidade de se fortalecer a atenção básica e citou o exemplo de município de Santo Antônio do Monte (MG), em que investimentos nessa área reduziram os índices de mortalidade decorrentes de infartos e AVC e o número de amputações causadas por diabates.

O representante do Conass também propôs que a CMLP aprovasse duas cartas, uma destinada aos governantes e outra aos

Políticas para saúde e formação médica

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médicos, defendendo a necessidade de se promover a saúde, e não a doença. Também propôs que a CMLP pautasse sempre o tema das políticas de saúde em seus eventos. Durante as discussões, o presidente do Conselho Federal de Medicina e da CMLP, Carlos Vital, afi rmou que as sugestões seriam apreciadas na Assembleia da CMLP, marcada para o horário da tarde.

Opas – O conferencista seguinte, Roberto del Águila, coordenador técnico da Unidade de Doenças Crônicas Não Transmissíveis da Opas/OMS Brasil, apresentou as propostas da entidade para a promoção da saúde nas Américas. Para a OPAS, o maior desafi o do século XXI é reduzir a pobreza e a iniquidade. Para alcançar este objetivo, a entidade propõe a melhoria das condições de vida da população, com a implementação de políticas como a do pleno emprego e de sistemas de saúde universais; a luta contra a distribuição desigual do poder, do dinheiro e dos recursos, o que inclui o fi nanciamento público da saúde, e a medição, análise e avaliação dos impactos das intervenções. “Precisamos priorizar a saúde, fi nanciá-la adequadamente e ter sistemas de avaliação fortes para averiguar os resultados”, argumentou.

A necessidade de o médico entender o que paciente diz e também de comunicar a seus pares de forma adequada o conhecimento científi co adquirido foi o tema da conferência do pesquisador e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília, Simônides Bacelar, que está organizando um glossário médico. Membro da Comissão de

Revisão do Código de Ética Médica do CFM, Bacelar enfatizou a necessidade da utilização dos termos corretos nas publicações científi cas: “Um termo imperfeito não se torna perfeito se amplamente usado. Torna-se uma imperfeição amplamente usada”. Para o professor, se um médico é judicioso em seus procedimentos, diagnósticos e tratamentos, também deve se expressar em um português de primeira linha.

Formação médica – A última mesa de debate do encontro tratou sobre a qualidade do ensino médico nos diversos países lusófonos. O professor da Universidade de São Paulo (USP), Milton de Arruda Martins, apresentou as características do Sistema de Acreditação de Escolas Médicas (Saeme), oferecido pelo CFM e pela Associação Brasileira de Educação Médica (Abem). O processo teve início a pouco menos de dois anos e já credenciou 19 escolas.

“A avaliação externa dos cursos de medicina é um componente fundamental para aferir qualidade e desenvolver excelência na oferta de ensino. O modelo de avaliação exclusivamente estatal do Brasil é uma exceção no mundo desenvolvido”, destacou Arruda, que também é coordenador técnico da proposta brasileira.

Arruda explicou que para ser acreditada pelo Saeme, a instituição precisa cumprir uma série de etapas, que incluem desde o preenchimento de um questionário online até visitas in loco, envolvendo dirigentes, docentes, estudantes e técnicos da escola, representantes da comunidade, da rede de saúde local e equipe de avaliadores.

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A qualidade do ensino médico também foi alvo de preocupação, abordada pelos expositores de Moçambique e Portugal. O representante da Associação Médica de Moçambique, Milton Tatia, fez uma refl exão sobre o estado atual da formação médica. Segundo ele, no ano 2000, o país contava com apenas uma escola de medicina e 50 profi ssionais. Hoje, Moçambique tem sete escolas em funcionamento e 200 médicos atendendo a população.

“Esse aumento, que deveria ser um ganho para a população, na verdade nos causa constrangimento. Não há como atestar a qualidade dos alunos, dos campos de estágio e dos professores. O que temos visto é um aumento nos gastos dos sistemas de saúde, com recursos desperdiçados e transferências desnecessárias, por exemplo”.

Nesse sentido, também é importante enaltecer o papel do Conselho dos Jovens Médicos da Comunidade Médica de Língua Portuguesa (CMLP), que tivemos a honra de representar em conjunto com os colegas Níveo Moreira e Naiara Balderramas. Foi discutida a atuação e importância da CMLP e deste Conselho no processo de integração – marcado por promoção de eventos e ações conjuntas – que leva a avanços signifi cativos na melhoria da medicina e da saúde das populações.

Saímos de Belém mais fortes do que chegamos, alinhados, e com a certeza de que a voz dos médicos jovens está no centro da agenda de nossas entidades representativas, seja no Brasil, em Portugal ou nos demais países lusófonos. Muitas mudanças nascem necessariamente de rupturas, devido às circunstâncias de cada tempo.

Porém, as mudanças graduais e sustentadas, avalizadas pelo consenso, são as mais perenes. É esse tipo de mudança que estamos a assistir com o objectivo comum de construir uma saúde lusófona.

Dr. Fernando Urberti MachadoMédico interno de psiquiatriaDr. Francisco PavãoMédico interno de saúde pública

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Entre os dias 23 e 24 do mês de agosto, realizou-se em Belém do Pará o II Fórum Nacional de Integração do Médico Jovem. O evento, organizado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), contou com palestras e debates envolvendo os grandes e actuais temas da medicina, especialmente aqueles de maior interesse para os médicos jovens: cuidados paliativos, vínculos e relações de trabalho, gestão de carreira, tecnologia e inovação em saúde, sistemas de saúde e modelos de formação médica.

Centenas de jovens médicos e estudantes de medicina estiveram presentes nos dois dias do evento, para além dos que assistiram via web. No fi nal, divulgou-se a chamada “Carta de Belém”, uma compilação de proposições derivadas do Fórum, a serem trabalhadas junto à sociedade e autoridades competentes.

Este II Fórum consolida a participação de jovens dentro das entidades médicas brasileiras, o que se traduz na criação da Comissão de Integração do Médico Jovem do CFM, um espaço específi co para ser elo entre o Conselho e profi ssionais mais jovens, uma instância para discussão, coleta de demandas e encaminhamento de ações para esse público que hoje já compõe cerca de 40% dos médicos brasileiros.

Jovens médicos brasileiros organizam encontro em Belém

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O presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Comunidade Médica de Língua Portuguesa (CMLP), Carlos Vital, participou em 26 de setembro, em Brasília, da IV Reunião Ordinária de Ministros da Saúde da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que teve como tema “CPLP e Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”.

Em sua fala, o presidente do CFM destacou a importância da cooperação internacional para melhorar a saúde da população dos países lusófonos. “Tenho certeza que ações conjuntas em saúde e educação médica são pontos fulcrais para a qualifi cação de recursos humanos, a racionalização dos recursos disponíveis e a profi laxia e a prevenção”, afi rmou.

Durante a solenidade, ministros da Saúde e embaixadores dos países de língua portuguesa assinaram várias resoluções que têm o objetivo de melhorar a saúde da população dos países lusófonos. Entre as deliberações, foi criada a Rede de Banco de Leite Humano da CPLP e um grupo de trabalho permanente em telemedicina e telessaúde.

O secretário-geral do CFM, Henrique Silva, que também participou da Reunião, afi rmou que o CFM “se dispõe a ajudar nos esforços da CPLP em ações de normatização, fi scalização e disciplina da prática médica”.Analisando as propostas apresentadas, Carlos Vital acredita que o Brasil, pela ampla experiência que possui, pode ajudar com recursos humanos para a formação da Rede de Banco de Leite Humano, já que cada país terá de ter seus próprios estoques. Quanto à telemedicina, o presidente do CFM argumenta que a entidade não abre mão da presença de um médico em cada uma das pontas, na realização do diagnóstico.

Estavam presentes representantes do Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Outras resoluções aprovadas dizem respeito à criação de grupos de trabalho para debater a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e de uma rede de pontos focais para reestruturação da Rede ePORTUGUÊSe.

Médicos em reunião com ministros da Saúde da CPLP

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O diretor de Cooperação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Manuel Clarote Lapão, reuniu-se com a Comunidade Médica de Língua Portuguesa (CMLP) no dia 18 de outubro de 2017, no Palácio Conde de Penafi el, em Lisboa.

A mobilidade médica no espaço da CPLP foi abordada na reunião, assim como foram apresentados os novos corpos sociais da CMLP – sendo o cargo da presidência ocupado atualmente pelo Conselho Federal de Medicina do Brasil – e o Conselho dos Jovens Médicos.

A categoria de Observador Consultivo foi atribuída na XII Reunião Ordinária do Conselho de Ministros da CPLP, que

decorreu no dia 2 de novembro de 2007, em Lisboa, Portugal.

A CMLP reúne a Ordem dos Médicos e associações médicas pertencentes à CPLP (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, com excepção da Guiné Equatorial), bem como as associações que representam médicos de língua portuguesa em Macau e na Venezuela.

Pela CMLP, estiveram presentes na reunião o secretário permanente, dr. José Manuel Pavão, e alguns representantes do Conselho dos Jovens Médicos, dr. Igor Caldas (Brasil), dr. Nelson Tchamo (Moçambique) e dr. Francisco Pavão (Portugal).

CPLP e CMLP em busca de cooperação

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“Não existe criatividade sem confronto”: esta foi uma das principais mensagens do 20º aniversário do European Health Forum Gastein (EHFG), e quem a refere é o dr. Clemens Martin Auer, novo presidente do fórum e diretor-geral do Ministério da Saúde da Áustria.

Centrado no tema “Saúde em todas as políticas – um melhor futuro para a Europa”, o EHFG é um espaço aberto para todos os parceiros do sector da saúde se envolverem de forma crítica e construtiva nos pontos determinantes da agenda, onde as grandes ideias e visões se transformam em realidade e em reformas estruturais. De facto, a Europa precisa de repensar e planear o seu futuro, e tem na saúde um pilar para sua sustentabilidade através da coesão social, da

igualdade, da solidariedade, do bem-estar e da resposta aos desafi os demográfi cos.

Saúde em todas políticas, sistemas de saúde, inovação e acesso a medicamentos, big data; seminários paralelos sobre o utente no centro da decisão, políticas municipais de saúde e cuidados efi cientes em oncologia e até workshops para aperfeiçoamento de conhecimentos e competências formaram o cardápio de mais um excelente evento, que juntou líderes, representantes de instituições governamentais e não governamentais, a academia e a indústria europeia.

Tendo a oportunidade de participar pela segunda vez como bolseiro Young Gasteiner nesta reunião, atempadamente lancei o desafi o à organização e direção do fórum em

Espaços Comuns V

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receber, nesta signifi cativa data de aniversário, um grupo representante de jovens da Comunidade Médica de Língua Portuguesa (CMLP). Pedido rapidamente bem acolhido, e que abriu portas ao diálogo e parcerias futuras.

Todavia, para além dos trabalhos normais do congresso, este ano um projeto paralelo às comemorações dos 20 anos tomou lugar de destaque. Neste, fazem-se previsões sobre o futuro da saúde na Europa, tendo como objetivo compreender as escolhas que temos de tomar para criar esse tempo vindouro. A partir das dimensões “O futuro é local”,

“A tua saúde, a tua responsabilidade” e “Tecnologias”, lançaram-se os prossupostos de que o futuro não é um lugar para onde vamos, mas sim um lugar que criamos.

O mesmo se refl ete com esta nossa comunidade, CMLP, que consagra na língua portuguesa o seu maior bem comum, e que está determinada a construir um futuro de mobilidade, cooperação técnica, assistência e educação, responsável e com valor, pela promoção de uma saúde lusófona.

Dr. Francisco Pavão, PortugalDr. Débora Silves, Cabo VerdeDr. Nivio Moreira, Brasil

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a coordenação dos médicos, para que a população conte com os serviços de saúde necessários para atingir um melhor nível de qualidade de vida e desenvolvimento humano.

No III Congresso Internacional da Ordem dos Médicos Cabo-Verdianos, que acontece em simultâneo ao Vll Congresso Médico Nacional, os participantes terão a chance de discutir as oportunidades que surgem a partir do legado deixado por gestores, profi ssionais e sociedade organizada.

Nesse processo, a Comunidade Médica de Língua Portuguesa (CMLP) se coloca à disposição dos colegas cabo-verdianos para contribuir com o desenvolvimento de estratégias, reforçando laços históricos, culturais, linguísticos e de solidariedade que unem os povos das diferentes nações que compõem essa organização.

Dr. Carlos Vital Tavares Corrêa LimaPresidente da Comunidade Médica de Língua Portuguesa (CMLP)

No ano em que a Ordem dos Médicos de Cabo Verde completa duas décadas de serviços prestados à sociedade local, o governo nacional anuncia uma série de medidas para reforçar a prevenção e o combate à malária no País.

Segundo dados do Programa Nacional de Luta contra o Paludismo (PNLP) de Cabo Verde, no ano de 2017 o País registrou 167 casos dessa doença (entre autóctones e importados). Trata-se do número mais alto registrado desde 1991, sendo constatada nas bases ofi ciais uma concentração da incidência na cidade de Praia, a capital cabo--verdiana.

O esforço anunciado objetiva, com o apoio de inúmeras instituições, eliminar criadouros de mosquitos transmissores de malária, uma iniciativa da mais alta relevância, dada a importância das medidas de prevenção para reduzir o surgimento de novos casos.

A situação vivenciada por Cabo Verde demonstra que ainda é possível juntar esforços de diferentes segmentos, sob

Incentivo à solidariedade