[2] rodrigo brito - sobre o de sectis de galeno e o...

18
Sképsis: Revista de Filosofia ISSN 1981-4194 Vol. IX, n. 17, 2018, p. 8-25 Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empírico: Tradução de Galeno, Das seitas médicas para os iniciantes, 1.64.1- 1.69.5, bilíngue, com introdução. On Galen’s De Sectis and Sextus Empiricus’ empiricism: Greek/Portuguese translation of Galen, On the Medical Sects for Beginners, 1.64.1- 1.69.5, bilingual, with introduction. Rodrigo Pinto de Brito Universidade Federal de Sergipe (UFS) E-mail: [email protected] | ufs-br.academia.edu/RodrigoPintodeBrito Resumo: Galeno (129-216 d.C.) foi um autor prolífico e de suma importância para o desenvolvimento da medicina. Contudo, tem sido pouco estudado na lusofonia. Aqui nosso objetivo é fornecer uma versão de Das seitas médicas para os iniciantes, 1.64.1- 1.69.5 em vernáculo, com introdução e seguida por texto grego. Na introdução argumentamos pelo valor do estudo de Das seitas médicas como fonte externa para a compreensão do Empirismo de Sexto Empírico. Ademais, em um apêndice oferecemos uma tábua cronológica dos médicos mencionados em pseudo-Galeno, Introductio seu medicus 14.683.5-14.684.5. Palavras-chave: Medicina antiga; Galeno; Pirronismo; Sexto Empírico; Empirismo. Abstract: Galen (129-216 A.D.) was a prolific writer, mostly important for the development of medicine. However he is not receiving the deserved attention by researchers in Lusophonic world. Here we aim to display a Portuguese translation of On the Medical Sects for Beginners 1.64.1- 1.69.5, with introduction and Greek text. At the introduction we dissert on why studying Galen’s On the Medical Sects is useful as an external source for comprehending Sextus Empiricus and his empiricism. Furthermore, with an appendix we display a chronology of the physicians mentioned in pseudo-Galen, Introductio seu medicus 14.683.5- 14.684.5. Keywords: Ancient Medicine; Galen; Pyrrhonism; Sextus Empiricus; Empiricism. i- O médico/filósofo Galeno, nascido em Pérgamo em torno em 129 d.C., foi um dos mais ilustres e influentes pensadores de escrita e língua grega, tendo estruturado os fundamentos de uma medicina que perdurou por cerca de 1500 anos. Foi um escritor prolífico, tendo dele sobrevivido quase cento e cinquenta obras. Seus interesses temáticos variavam entre história das ciências e da filosofia, lógica, epistemologia, ética e metafísica, bem como, evidentemente, medicina: anatomia, fisiologia, diagnóstico, nosologia, terapêutica, farmacologia e etc. Seguindo a fixação textual de Künh 1 , a breve tradução que se seguirá compreende os passos 1.64.1 até 1.69.5 de Das seitas médicas para os iniciantes, pois, apesar de Galeno merecer por si só ser mais estudado, este texto apresenta uma discussão aparentemente acirrada entre três 1 KÜNH, 1819-33.

Upload: others

Post on 29-Jun-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: [2] Rodrigo Brito - Sobre o De Sectis de Galeno e o ...philosophicalskepticism.org/wp-content/uploads/... · Galeno (129-216 d.C.) foi um autor prolífico e de suma importância para

Skeacutepsis Revista de Filosofia ISSN 1981-4194 Vol IX n 17 2018 p 8-25

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo On Galenrsquos De Sectis and Sextus Empiricusrsquo empiricism GreekPortuguese translation of Galen On the Medical Sects for Beginners 1641- 1695 bilingual with introduction Rodrigo Pinto de Brito Universidade Federal de Sergipe (UFS) E-mail wwwrodrigobritogmailcom | ufs-bracademiaeduRodrigoPintodeBrito Resumo Galeno (129-216 dC) foi um autor proliacutefico e de suma importacircncia para o desenvolvimento da medicina Contudo tem sido pouco estudado na lusofonia Aqui nosso objetivo eacute fornecer uma versatildeo de Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 em vernaacuteculo com introduccedilatildeo e seguida por texto grego Na introduccedilatildeo argumentamos pelo valor do estudo de Das seitas meacutedicas como fonte externa para a compreensatildeo do Empirismo de Sexto Empiacuterico Ademais em um apecircndice oferecemos uma taacutebua cronoloacutegica dos meacutedicos mencionados em pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-146845 Palavras-chave Medicina antiga Galeno Pirronismo Sexto Empiacuterico Empirismo Abstract Galen (129-216 AD) was a prolific writer mostly important for the development of medicine However he is not receiving the deserved attention by researchers in Lusophonic world Here we aim to display a Portuguese translation of On the Medical Sects for Beginners 1641- 1695 with introduction and Greek text At the introduction we dissert on why studying Galenrsquos On the Medical Sects is useful as an external source for comprehending Sextus Empiricus and his empiricism Furthermore with an appendix we display a chronology of the physicians mentioned in pseudo-Galen Introductio seu medicus 146835-146845 Keywords Ancient Medicine Galen Pyrrhonism Sextus Empiricus Empiricism i- O meacutedicofiloacutesofo Galeno nascido em Peacutergamo em torno em 129 dC foi um dos mais ilustres e influentes pensadores de escrita e liacutengua grega tendo estruturado os fundamentos de uma medicina que perdurou por cerca de 1500 anos Foi um escritor proliacutefico tendo dele sobrevivido quase cento e cinquenta obras Seus interesses temaacuteticos variavam entre histoacuteria das ciecircncias e da filosofia loacutegica epistemologia eacutetica e metafiacutesica bem como evidentemente medicina anatomia fisiologia diagnoacutestico nosologia terapecircutica farmacologia e etc

Seguindo a fixaccedilatildeo textual de Kuumlnh1 a breve traduccedilatildeo que se seguiraacute compreende os passos 1641 ateacute 1695 de Das seitas meacutedicas para os iniciantes pois apesar de Galeno merecer por si soacute ser mais estudado este texto apresenta uma discussatildeo aparentemente acirrada entre trecircs

1 KUumlNH 1819-33

Rodrigo Pinto de Brito

9 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

importantes seitas meacutedicas Empiristas Racionalistas e Metoacutedicos travada principalmente entre os integrantes das duas primeiras supramencionadas seitas Galeno ao nos narrar as querelas tambeacutem nos apresenta muito didaticamente os fundamentos epistemoloacutegicos e as abordagens praacuteticas de cada uma destas seitas Assim sendo meu interesse imediato eacute usar a apresentaccedilatildeo inicial da seita dos Empiristas para compreender outro pensador Sexto Empiacuterico que ainda que tenha nos deixado uma obra extensa e de importacircncia iacutempar desconcerta-nos com a ausecircncia quase que total de informaccedilotildees a seu respeito ao contraacuterio de Galeno cuja biografia se conhece bastante bem

Em suma mesmo que Galeno faccedila jus a uma investigaccedilatildeo independente o objetivo do presente trabalho eacute usaacute-lo como peccedila de outro quebra-cabeccedila quem foi Sexto Empiacuterico Assim oferecerei ao leitor a introduccedilatildeo do proacuteprio Galeno agrave seita dos Empiristas em vernaacuteculo suscitando a possibilidade de comparar com passos metodoloacutegicos que considero proeminentes na abordagem que Sexto Empiacuterico faz do conhecimento das artes e dos ofiacutecios e da vida comum Antes de prosseguir demonstrando como Galeno pode ser uacutetil para compreensatildeo do ceticismo sextiano (e tambeacutem os problemas decorrentes disso) algumas palavras devem ser ditas sobre Das seitas meacutedicas

ii-

Como dito mais acima o texto em questatildeo trata de uma contenda teoacuterica entre trecircs seitas meacutedicas Empiristas Racionalistas e Metoacutedicos principalmente as duas primeiras Segundo a breve histoacuteria das seitas fornecida por pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-1468452

A seita Racionalista foi liderada por Hipoacutecrates de Cos que foi tambeacutem seu fundador e aquele que primeiro estabeleceu a seita Racionalista entatildeo apoacutes ele Diocles de Caristo Praxaacutegoras de Cos Heroacutefilo da Calcedocircnia Erasiacutestrato de Quiacuteos Mnesitheo de Atenas e Asclepiacuteades de Cian na Bitiacutenia que tambeacutem eacute chamada de Prusias

A seita Empirista foi liderada por Filino de Cos quem primeiramente rompeu com a seita Racionalista buscando ocasiotildees para disputar com Heroacutefilo de quem foi aprendiz Desejando liderar sua proacutepria seita que natildeo obstante seria mais antiga do que a seita Racionalista pois afirmaram que ela fora fundada por Aacutecron de Agrigento Apoacutes Filino houve Seraacutepion de Alexandria entatildeo os dois Apolocircnios pai e filho e Antiacuteoco Apoacutes estes houve Menodoto e Sexto [Empiacuterico] que levou [a seita] agrave perfeiccedilatildeo

O Metodismo foi fundado por Themison da Laodiceacuteia siacuteria que adquiriu com Asclepiacuteades o Racionalista o que precisava para inventar a seita Metodista Foi entatildeo aperfeiccediloada por Teacutessalo de Trales Apoacutes estes houve Mnaseas Dioniacutesio Proclo e Antiacutepatro Formando sua proacutepria facccedilatildeo [dentro dos Metoacutedicos] houve Olimpiacos de Mileacutesia Menemacos de

2 Para uma cronologia ver o apecircndice

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

10 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Afrodiacutesias e Sorano de Eacutefeso Ademais alguns como Leocircnidas de Alexandria juntaram as seitas enquanto outros eram ecleacuteticos como Arquiguenes da Apameacuteia siacuteria3

Tomando o pseudo-Galeno acima podemos dizer que a rixa que propiciou o surgimento da seita dos Empiristas entre Heroacutefilo (considerado o fundador da anatomia) e Filino de Cos ocorreu em meados do seacutec III aC Por sua vez se tomarmos Galeno Das seitas meacutedicas podemos afirmar que as disputas perduraram ateacute seu tempo ou seja meados do seacutec II a iniacutecio de III dC

Em questatildeo estavam toacutepicos como a natureza do conhecimento meacutedico se a medicina era uma ciecircncia (ἐπιστήmicroη) ndash o que a tornaria sobretudo um aporte teoacuterico ndash ou um ofiacutecio (τέχνη) ndash fazendo-a sobretudo um aporte praacutetico ndash consequentemente como deve o meacutedico se comportar em termos de diagnoacutestico e terapecircutica seguindo a natureza do conhecimento meacutedico e o aporte que defende e adere

Claro da ruptura entre Heroacutefilo e Filino ateacute Galeno cerca de 500 anos se passaram As duas seitas amadureceram suas posiccedilotildees o debate se tornou mais refinado e chegou mesmo a propiciar o surgimento dos Metoacutedicos Mas esse amadurecimento recorreu constantemente ao feacutertil campo dos argumentos originados em outras querelas que eclodiram tambeacutem na passagem do seacutec IV ao III aC entre ceacuteticos estoicos e epicuristas platocircnicos e aristoteacutelicos perdurando ateacute pelo menos a tardo-Antiguidade E assim como vemos surgir na filosofia o fenocircmeno do ecletismo consistindo na adoccedilatildeo parcial de doutrinas filosoacuteficas de diferentes escolas igualmente ocorre na medicina como exemplificado nos escritos e na posiccedilatildeo do proacuteprio Galeno (cf De libr prop I SM II p95)

Assim

Galeno tem uma tendecircncia a olhar para todo um conjunto de questotildees que ocuparam os filoacutesofos por um longo tempo e em torno das quais eles tombaram em diferentes campos como questotildees que natildeo podem ser resolvidas mas somente especuladas Galeno estava determinado a natildeo perder seu tempo com tais especulaccedilotildees Assim ele pensa que natildeo haacute sentido em tentar tomar posiccedilatildeo acerca de questotildees como a natureza de Deus a substacircncia da alma sua corporeidade e imortalidade a eternidade do mundo o nuacutemero de mundos ou se o mundo existe no vazio (Plac Hipp et Plat IX 619-9 9 CMG V 41 21576-00 In Hipp de morb ac comm I 2 CMG V 9 1 p 125 De subst nat fac Kuhn IV 762 =De sent 151 Quod animi mores 3 SM II p 36 De sent 2 Nutton) Natildeo eacute soacute que ele pensa que natildeo se pode ter total confianccedila nos pontos de vista de algueacutem sobre esses temas Ele recusa adotar qualquer ponto de vista sobre eles Uma vez que eacute exatamente em torno de questotildees desse tipo que as escolas de filosofia satildeo divididas a atitude de Galeno para com essas questotildees de algum modo explica sua recusa em identificar-se com qualquer uma das escolas

3 A traduccedilatildeo eacute de WALBRIDGE 2014 p 208

Rodrigo Pinto de Brito

11 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Sem duacutevida essa atitude eacute o resultado da influecircncia do ceticismo Mas () Galeno era bastante impressionado pelas ciecircncias matemaacuteticas para desprezar a habilidade da razatildeo com relaccedilatildeo a verdades teoreacuteticas De modo que estava tambeacutem convencido de que grandes aacutereas da filosofia eram imunes agrave seacuteria duacutevida ceacutetica suficientemente a ponto de ser capaz de desenvolver uma loacutegica uma teoria fiacutesica (no sentido de uma teoria da natureza em geral) e uma teoria moral4

iii-

Eacute chegado o momento de argumentar pela utilidade de Galeno para a compreensatildeo do ceticismo de Sexto Empiacuterico e tambeacutem de demonstrar alguns problemas em torno dessa hipoacutetese

Basicamente a utilidade de outra fonte primaacuteria para referecircncia cruzada externa agrave obra de Sexto eacute que considerando a lacuna que haacute acerca de Sexto poderiacuteamos compreender melhor o impacto causado por sua obra ndash vasta quando comparada com o estado fragmentaacuterio das obras de outros filoacutesofos do mesmo periacuteodo ndash e a motivaccedilatildeo subjacente agrave sua escrita Para tal poderiacuteamos usar o pseudo-Galeno supracitado As epiacutetomes alexandrinas a Galeno ou Dioacutegenes Laeacutercio que explicitamente mencionam Sexto algo que Galeno natildeo faz

Contudo pseudo-Galeno por ser um autor desconhecido e que natildeo possui todo um corpus escrito pode ser muito difiacutecil de situar agravando ainda mais o estado aporeacutetico de coisas As epiacutetomes alexandrinas por sua vez satildeo um resumo que sobrepotildee o galecircnico Das seitas meacutedicas ao pseudo-galecircnico Introductio seu medicus e se argumentamos que pseudo-Galeno natildeo nos esclareceria com relaccedilatildeo agraves Epiacutetomes alexandrinas resta o outro material primaacuterio que foi utilizado pelo epitomista cristatildeo de liacutengua aacuterabe Hunayn ibn Ishaq (809-873) Das seitas meacutedicas de Galeno

Finalmente resta a duvidosa cronologia oferecida por Dioacutegenes Laeacutercio (DL IX 116) Mas o contexto literaacuterio interno agrave DL eacute quase que totalmente filosoacutefico biograacutefico e anedoacutetico quase nunca meacutedico e apesar de Dioacutegenes nos confirmar a ligaccedilatildeo de Sexto com a seita Empirista de medicina assim como fazem pseudo-Galeno e Hunayn ibn Ishaq natildeo nos diz nada sobre o que seria tal seita meacutedica seus fundamentos teoacutericos e procedimentos metodoloacutegicos

Desse modo ainda que natildeo mencione Sexto Empiacuterico Das seitas meacutedicas segue sendo uma das melhores obras para se entender a seita Empirista5 a qual Sexto se liga conforme atestado pelas trecircs outras fontes pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-146845 DL IX 116 As epiacutetomes alexandrinas a Galeno De Sectis 4

O principal problema da hipoacutetese de que se deve usar Das seitas meacutedicas para se entender melhor a obra de Sexto especificamente as partes aqui traduzidas e que versam sobre a seita dos Empiristas eacute que as evidecircncias internas a esta obra desqualificam a ligaccedilatildeo de Sexto com os

4 FREDE 1985 p xviii 5 Ao lado de De experientia medica e Esboccedilo de empirismo (esta existente somente em sua versatildeo latina)

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

12 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Empiristas Ou seja o proacuteprio Sexto explicitamente rejeita a ligaccedilatildeo entre sua versatildeo do pirronismo e os Empiristas (PH I 236-241) De fato segundo Sexto o Metodismo aproximar-se-ia muito mais do pirronismo por sua postura natildeo-assertoacuterica na medida em que os Empiristas asseririam a inapreensibilidade do natildeo-evidente Os Empiristas satildeo assim criticados pela mesma razatildeo que Sexto critica os acadecircmicos na ceacutelebre distinccedilatildeo entre o comportamento do ceacutetico o dos dogmaacuteticos e o dos acadecircmicos em PH I1 ao passo que os dogmaacuteticos pensam que descobriram a verdade acadecircmicos rejeitam que ela possa ser descoberta o ceacutetico por seu turno continua investigando

Mas talvez as criacuteticas de Sexto aos Empiristas sejam mais do que um quebra-cabeccedilas desconcertante pois podem ser tratadas como evidecircncias bastante elucidativas assim

1- Sexto critica os Empiristas por seu dogmatismo negativo que os faz parecerem acadecircmicos ao inveacutes de pirrocircnicos Isso natildeo seria problemaacutetico se natildeo fosse um certo tipo de ldquodeserccedilatildeordquo dos Empiristas com relaccedilatildeo ao pirronismo Interpretaccedilatildeo que corroboraria a hipoacutetese de que apoacutes o revival do pirronismo com Enesidemo houve uma espeacutecie de desenvolvimento simbioacutetico do neopirronismo e do Empirismo

2- Eacute precisamente por caminharem mais ou menos paralelamente que a posiccedilatildeo dos pirrocircnicos foi confundida com a posiccedilatildeo dogmaacutetica negativa dos Empiristas propiciando as criacuteticas contra o pirronismo de que este conduziria a uma vida impossiacutevel de ser vivida na praacutetica e mais tarde a necessidade de Sexto de claramente demarcar as diferenccedilas entre a postura do pirrocircnico e a dogmaacutetico-negativa dos acadecircmicos e Empiristas

3- Os debates constantes dos Empiristas contra os Racionalistas fizeram com que os primeiros recaiacutessem numa postura radicalmente anti-teoreacutetica autocontraditoacuteria e que em uacuteltima instacircncia impedia o proacuteprio avanccedilo da medicina Enquanto isso apesar da simbiose com os Empiristas o pirronismo seguiu desenvolvendo-se como uma possibilidade coerente de abordagem da filosofia

4- Ainda que tenha sido treinado meacutedico entre Empiristas sob Menodoto eacute devido ao seu comportamento ceacutetico e natildeo-assertoacuterico que Sexto foi capaz de elaborar uma criacutetica aberta agrave proacutepria seita Empirista E vindo a ser o sucessor de Menodoto na lideranccedila da seita teria conseguido alinhaacute-la melhor ao pirronismo evitando os passos dogmaacutetico-negativos que seu mestre havia dado em direccedilatildeo agrave rejeiccedilatildeo da possibilidade racional da nosologia por exemplo Eacute neste sentido que se deve entender a afirmaccedilatildeo de pseudo-Galeno de que Sexto levou a seita Empirista agrave perfeiccedilatildeo pois a ela deu a coerecircncia que faltava sob Menodoto assim como fez com o pirronismo

iv-

Os quatro argumentos dispostos logo acima tratam a dyacutenamis ceacutetica e a medicina como dois tipos de atividades que podem ser exercidas sem contradizerem-se Mas isso natildeo eacute auto-evidente e precisa ser argumentado Ademais o problema pode ser ainda mais agravado pelo fato de que o alinhamento que Sexto faz entre medicina e pirronismo poder gerar uma espeacutecie de terapecircutica ceacutetica fazendo assim emergir a seguinte questatildeo

Rodrigo Pinto de Brito

13 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ldquopode o ceacutetico prescrever o ceticismo assim como se indicaria abdominais um copo de aacutegua ou a rememoraccedilatildeo noturna antes de dormirrdquo

Nas linhas seguintes vou tentar lidar com as duas questotildees a- a do alinhamento entre pirronismo e medicina em Sexto b- a de um alinhamento tal que gere uma terapecircutica ceacutetica Considero que a questatildeo lsquobrsquo seja um desenvolvimento da lsquoarsquo mas por questotildees internas agrave minha argumentaccedilatildeo comeccedilarei pela lsquobrsquo

v-

Para Sexto o problema central do comportamento dogmaacutetico eacute o compromisso assertoacuterico ou seja a necessidade de emitir proferimentos que afirmem algo (como fizeram estoicos peripateacuteticos ou os Racionalistas de seu tempo ao afirmarem por exemplo a apreensibilidade κατάληψις) bem como proferimentos que rejeitem algo (como fizeram os acadecircmicos e os Empiristas de seu tempo ao rejeitarem por exemplo a possibilidade da apreensatildeo ἀκαταληψία)

O ceacutetico por seu turno possuiria um uso dos termos e da linguagem de modo natildeo-dogmaacutetico (ἀδόξαστος) e com sentido indiferente (ἀδιάφορος) Isto significa que o ceacutetico joga um jogo de linguagem diferente em que pode evitar fazer com que seu discurso pareccedila conter asserccedilotildees peremptoacuterias sobre toacutepicos como verdadefalsidade ou apreensibilidadeinapreensibilidade Este jogo eacute o da ἀφασία ceacutetica ou natildeo-asserccedilatildeo

Assim Sexto se expressa acerca da questatildeo Sobre a ἀφασία dizemos o seguinte o termo asserccedilatildeo (φάσις) tem dois sentidos um geral e outro especiacutefico usado no sentido geral indica afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo () no sentido especial indica somente afirmaccedilatildeo () A ἀφασία entatildeo eacute a evitaccedilatildeo da asserccedilatildeo no sentido geral no qual eacute dito incluiacuterem-se tanto a afirmaccedilatildeo quanto a negaccedilatildeo entatildeo a ἀφασία eacute um πάθος (afecccedilatildeo) nosso por meio do qual recusamos tanto afirmar quanto negar (PH I 192)

Sexto enfatiza que a natildeo-asserccedilatildeo natildeo eacute resultado do modo como as coisas satildeo em si mesmas ie ela natildeo revela uma indeterminaccedilatildeo que estaria nas proacuteprias coisas mas ela exprime o πάθος proacuteprio do ceacutetico Ele enfatiza tambeacutem que o escopo da natildeo-asserccedilatildeo satildeo proferimentos dogmaacuteticos acerca do natildeo-evidente6

Mas por outro lado sem se importar com o valor de verdadefalsidade das asserccedilotildees

lto ceacuteticogt entrega-se agraves coisas que nos movem de acordo com o paacutethos e que nos levam necessariamente (ἀναγκαστικῶς =

6 Mais tarde voltarei a este ponto porque eacute preciso explicar melhor o que isto significa pois dizer que ldquose evitam proferimentos dogmaacuteticosrdquo pode incluir ou natildeo proferimentos dogmaacuteticos que natildeo sejam exclusivamente concernentes agraves filosofias ou agraves teacutechnai

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

14 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

compulsoriamente coercitivamente) ao assentimento (PH I 193)

E para deixar claro seu descompromisso assertoacuterico o ceacutetico usa uma seacuterie de foacutermulas como ldquonatildeo maisrdquo (οὐ microᾶλλον) ldquotalvezrdquo (τάχα) ldquopossivelmenterdquo (ἔξεστι) ldquonada determinordquo (οὐδὲν ὁρίζω) e principalmente ldquome parece querdquo ou ldquoparece-nosrdquo (φαίνεσθαι ἡmicroῖν) Assim em vez de estar constatando como as coisas satildeo ou natildeo o ceacutetico estaacute declarando como as coisas aparecem por isso Sexto diz que os ceacuteticos ἀπαγγέλλοmicroεν (ou seja declaram anunciam) como as coisas a eles se apresentam (PH I 4)

Agora voltando agrave pergunta inicial (lsquobrsquo) sobre se o ceacutetico prescreve o ceticismo me parece que Sexto Empiacuterico sendo meacutedico estaria apto a dizer que sim pois ldquoo ceacutetico sendo filantropo quer curar pelo discurso a arrogacircncia e a precipitaccedilatildeo dos dogmaacuteticosrdquo (PH III 280) E claramente nos eacute dito em seguida que os argumentos ceacuteticos satildeo como remeacutedios uns fortes ndash para os fortemente enfermos ndash outros brandos para aqueles cuja enfermidade eacute branda

Isso faz emergir uma pergunta o ceacutetico toma por ponto de partida que o dogmatismo eacute ruim em si e por isso deve ser curado No momento natildeo tenho uma resposta para isso ainda mais tendo em vista a ausecircncia de exemplos onde poderia haver um tratamento da questatildeo nos termos em que se coloca Assim nesse ponto natildeo tenho como rejeitar que possa haver um dogmatismo impliacutecito na declaraccedilatildeo sextiana de que os dogmaacuteticos sofrem Mas este dogmatismo somente haveria se entendermos que em alguma instacircncia haacute uma afirmaccedilatildeo ou seja que a declaraccedilatildeo aqui porta-se como uma asserccedilatildeo

Outra pergunta que pode surgir agora que argumentei que o ceacutetico pode indicar e mesmo ministrar doses de ceticismo eacute se ele natildeo estaria sendo dogmaacutetico ao fazecirc-lo A resposta eacute que natildeo necessariamente pois posso dizer ldquome parece querdquo ou ldquotalvezrdquo ldquoabdominais um copo de aacutegua ou a rememoraccedilatildeo noturna faccedilam bemrdquo e isto eacute totalmente diferente de asserir ldquorealmenterdquo ldquoeacute verdade querdquo ldquoabdominais copos drsquoaacutegua e rememoraccedilatildeo noturna faratildeo bemrdquo ou ainda ldquorealmenterdquo ldquoeacute verdade querdquo ldquoabdominais copos drsquoaacutegua e rememoraccedilatildeo noturna natildeo faratildeo bemrdquo

O ceacutetico entatildeo poderia dizer ldquome parece que talvez neste caso de acordo com a minha experiecircncia dever-se-ia adotar uma conduta X para chegar a Yrdquo E isso natildeo eacute dogmatizar pois eacute oposto a dizer por exemplo ldquode fato dever-se-ia necessariamente agir de acordo com o criteacuterio X para derradeiramente operar de acordo com uma conduta que o faccedila atingir αrdquo (onde X pode ser ldquosentidosrdquo ou ldquorazatildeordquo e α pode ser ldquoexcelecircnciardquo ou ldquosabedoriardquo)

Faccedilamos uma recapitulaccedilatildeo A pergunta que nos direcionou nesta seccedilatildeo do texto foi sobre a possibilidade de se indicar o ceticismo enquanto terapia Para responder passamos por analogias meacutedicas primeiramente a apresentada a partir de PH I 236 Isto por sua vez nos permitiu pensar o dogmatismo enquanto postura assertoacuterica (positiva ou negativa) e sobre o significado da ἀφασία no ceticismo sextiano

Rodrigo Pinto de Brito

15 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Depois passamos agraves analogias meacutedicas presentes em PH III 280 o que nos levou ao problema do possiacutevel dogmatismo impliacutecito em uma eventual assunccedilatildeo de um mal dogmaacutetico (para o qual natildeo ofereci resposta) e tambeacutem ao problema do dogmatismo impliacutecito no proacuteprio receituaacuterio de argumentos ceacuteticos problema este que foi sanado atraveacutes justamente da concepccedilatildeo sextiana de ἀφασία que reduz o caraacuteter assertoacuterico do proferimento ceacutetico de modo que o ceacutetico pode aconselhar algo que pareccedila curar sem que isto recaia em um proferimento dogmaacutetico ndash aquele que tem compromisso com a verdadefalsidade

Mas isso nos leva a outra questatildeo o ceticismo eacute uma teacutechne ou seja uma arte da vida Esta pergunta por sua vez faz com que nos voltemos para a parte eacutetica da filosofia que eacute tratada por Sexto Empiacuterico em Adv Eth (ou M XI) e tambeacutem PHIII 168 que se relaciona diretamente com Adv Eth Especialmente importante eacute a discussatildeo que se segue apoacutes PH III 188 em que Sexto remete-se agrave noccedilatildeo de τέχνη περὶ βίον (ou lsquoarte acerca da vidarsquo)

O argumento sextiano dirige-se 1) agrave definiccedilatildeo estoica de τέχνη como ldquosistema composto por apreensotildees exercidas em conjuntordquo 2) agrave concepccedilatildeo estoica de apreensatildeo 3) agrave concepccedilatildeo estoica de alma que eacute contraposta agrave concepccedilatildeo platocircnica

Mas essas trecircs supracitadas etapas da argumentaccedilatildeo sextiana satildeo complexas por si soacutes e para serem devidamente tratadas seria necessaacuterio outro texto7 O que me interessa de fato eacute a argumentaccedilatildeo que vem depois que comeccedila em PH III 190 e que objeta que natildeo parece haver algo que seja naturalmente bom e que seja entatildeo um τέλος moral

Do mesmo modo natildeo parece haver um mal e nem indiferentes tendo em vista as divergecircncias sobre isto existentes entre filoacutesofos mas tambeacutem entre pessoas ordinaacuterias em seus costumes e convenccedilotildees Por exemplo diz-nos Sexto ldquoentre noacutes a sodomia eacute considerada vergonhosa ou mesmo ilegal mas entre os germacircnios8 eacute vista natildeo somente como natildeo vergonhosa mas mesmo como habitualrdquo (PH III 199)

7 AO peer reviewer deste texto a quem sou muito grato sugeriu que aqui eu fizesse uma nota explicando ou ao menos explicitando as etapas (1) (2) e (3) da exposiccedilatildeo sextiana que menciono no paraacutegrafo imediatamente acima Concordo plenamente que tal explicaccedilatildeo deva ser dada mas penso que seja inoportuno fazecirc-lo aqui tanto no corpo do texto quanto numa nota de rodapeacute O motivo eacute simples trata-se de uma discussatildeo muito cara natildeo somente para estudiosos do ceticismo mas tambeacutem para os estoicos pois nos permite entender (a) o desenvolvimento da Stoaacute enquanto sistema em geral e (b) enquanto fundamentaccedilatildeo teoacuterica para seis das sete artes que viriam a compor na Idade Meacutedia o trivium e o quadrivium gramaacutetica retoacuterica geometria aritmeacutetica astrologia e muacutesica (cf Adv Math I a VI) Assim sendo penso que se as etapas da exposiccedilatildeo sextiana sobre as definiccedilotildees estoicas de τέχνη apreensatildeo e alma devem ser omitidas do presente texto para natildeo entramos em uma digressatildeo que somente nos atrapalharia Mas tambeacutem acho que essas etapas natildeo devem aparecer em uma nota de rodapeacute considerando que a importacircncia de (a) e (b) acima tenha sido compreendida Assim com o maacuteximo respeito pelao peer reviwer reitero que elucidarei as etapas (1) (2) e (3) em outro artigo 8 Tribo persa

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

16 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Ou ldquofazer sexo com uma mulher em puacuteblico embora seja por noacutes considerado vergonhoso natildeo eacute considerado vergonhoso por alguns indianosrdquo (PH III 200) E aqui Sexto se lembra do Casal Crates e Hipaacuterquia em sua κυνογάmicroια

E tambeacutem ldquopara noacutes a tatuagem eacute considerada vergonhosa mas muitos egiacutepcios e saacutermatas tatuam a prolerdquo (PH III 203)

Entatildeo considerando tal diafonia nos costumes o ceacutetico ldquosuspende o juiacutezo quanto agrave existecircncia de algo bom ou mal por naturezardquo (PH III 235) e observa ἀδόξαστος a vida ordinaacuteria

Anteriormente foi dito que o escopo da natildeo-asserccedilatildeo ceacutetica satildeo proferimentos dogmaacuteticos acerca do natildeo-evidente agora eacute hora de explicar melhor o que isto significa pois ao dizer que ldquoalgueacutem evita proferimentos dogmaacuteticosrdquo isto pode incluir proferimentos dogmaacuteticos que natildeo sejam exclusivamente concernentes agraves filosofias ou agraves teacutechnai ou natildeo Ou seja haacute asserccedilotildees ou proferimentos dogmaacuteticos na vida comum

Considerando a supracitada argumentaccedilatildeo de Sexto acerca das διαφωνίαι que emergem da comparaccedilatildeo entre costumes me parece evidente que sim haacute asserccedilotildees na vida ordinaacuteria elas tambeacutem satildeo alvo da suspensatildeo ceacutetica de juiacutezo Mas isso natildeo compromete a vida pois o ceacutetico tomaria por guia as afecccedilotildees relatando o que aparece e sem a este relato conferir peso assertoacuterico Para corroborar esta argumentaccedilatildeo (que de fato eacute uma meacutedia entre a versatildeo urbana e a ruacutestica do ceticismo)9 uso um tropo de Agripa o da διαφωνία cuja descriccedilatildeo cito ldquoo baseado na diafonia eacute aquele de acordo com o qual quanto a questatildeo em discussatildeo tenha ela surgido na vida ordinaacuteria ou entre os filoacutesofos nos encontramos em um estado de indeterminaccedilatildeordquo (PH I 165)

Entatildeo a observacircncia da vida comum significa agir como agem as pessoas comuns tendo a natureza por guia sendo constrangido pelas afecccedilotildees sendo ativo em algum ofiacutecio e respeitando leis e costumes (os quatro pilares da vida ceacutetica) Contudo diferentemente dos homens comuns e tambeacutem dos filoacutesofos o ceacutetico natildeo se compromete com asserccedilotildees pois elas todas podem ser suspensas

O retorno ceacutetico agrave vida comum eacute o retorno agrave observacircncia externa de instacircncias dessa vida mas seu estado mental eacute diferente pois ele passou por um exerciacutecio participou de uma atividade (διάθεσις) dispotildee de uma capacidade (δύναmicroις) porque em algum momento adotou uma conduta uma ἀγωγή

Esta conduta pode ser reconstruiacuteda a partir da leitura do livro I das PH notadamente atraveacutes dos passos 1 4 7 12 25-31 e tambeacutem eacute apresentada ordenadamente em Contra os gramaacuteticos 6 Ela funciona do seguinte modo

1ordm- comeccedila-se com a pesquisa ζήτησις ou o exame σκέψις

9 Ver lsquoBRITO R P Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os retoacutericosrsquo In Revista Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

Rodrigo Pinto de Brito

17 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

2ordm- durante a pesquisa percebe-se um conflito (microάχη) entre asserccedilotildees 3ordm- este conflito se daacute por causa da equipolecircncia (ἰσοσθένεια) destas asserccedilotildees 4ordm- emerge a aporia 5ordm- a aporia leva a suspensatildeo do juiacutezo ou retenccedilatildeo do assentimento (ἐποχή) 6ordm- que por um acaso faz surgir a imperturbabilidade (ἀταραξία) Apoacutes a suspensatildeo estando imperturbaacutevel o ceacutetico observa natildeo-dogmaticamente e natildeo-assertoricamente a vida ordinaacuteria como dissemos alhures

vi-

Agora para finalizar gostaria de falar mais sobre no que consiste esta observaccedilatildeoobservacircncia da vida ordinaacuteria e isto nos permitiraacute voltar ao ponto do alinhamento entre pirronismo e medicina em Sexto (que chamei de lsquoarsquo mais acima) lanccedilando uma nova luz sobre o tema

Para falar desta observaccedilatildeoobservacircncia Sexto usa o verbo τηρέω que significa fazer τήρησις palavra que inicialmente possui um uso poliacutetico como por exemplo em Aristoacuteteles Pol 1308a30 significando ldquovigilacircnciardquo ldquocustoacutediardquo e ldquopreservaccedilatildeordquo

Em Sexto Empiacuterico esta semacircntica persiste assim o ceacutetico sextiano eacute marcado pela observacircncia dos costumes (daiacute os quatro pilares da vida ceacutetica que aparecem em PH I 23)

Mas tambeacutem haacute em Sexto outra semacircntica a da observaccedilatildeo enquanto componente da abordagem dos meacutedicos Empiristas conforme atestado por Galeno em Das seitas meacutedicas para os iniciantes como se poderaacute verificar na leitura da traduccedilatildeo que ofereccedilo mais abaixo Corroborando essa interpretaccedilatildeo haacute em Sexto uma breve e curiosa passagem de Contra os astroacutelogos em que ele diz que ao contraacuterio do meacutetodo Caldaico de observaccedilotildees celestes e assunccedilotildees de efeitos por conta de uma relaccedilatildeo causal natildeo-evidente entre a disposiccedilatildeo dos astros e o comportamento humano por outro lado ldquona medicina observamos que um ferimento no coraccedilatildeo eacute mortal tendo sido observada natildeo somente a morte de Diacuteon mas tambeacutem de Theacuteon e Soacutecrates e muitos outrosrdquo (Adv Ast 104 = M V 104) Vale a pena enfatizar que a ocorrecircncia do verbo τηρέω na 1ordf pessoa do plural do aoristo indicativo ativo (ἐτηρήσαmicroεν) indica que tambeacutem Sexto na medicina adotava o meacutetodo observativo

Assim a ldquoobservaccedilatildeordquo constitui uma etapa da metodologia dos Empiristas os usos locais satildeo observados e tambeacutem a evoluccedilatildeo das doenccedilas

E esta observaccedilatildeo dos usos locais para tratamentos de doenccedilas que tambeacutem pode ser entendida como observacircncia dos usos a τήρησις eacute quase inoacutecua se natildeo for acompanhada da transiccedilatildeo para o semelhante τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

18 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Pois eacute esta transiccedilatildeo que permite que algo que foi observado como eficiente em um caso X possa ser aproveitado em um caso Y desde que X e Y pareccedilam semelhantes

Entatildeo pensemos em Sexto o fato de ser cognominado Empiacuterico denota sua adesatildeo inicial agrave seita dos meacutedicos Empiristas Mas Sexto nos informa que esta seita tornara-se dogmaacutetico-negativa porque rejeitou assertivamente a possibilidade do conhecimento (como faziam os acadecircmicos) Sexto entatildeo tendo pesquisado e examinado outros grupos como os meacutedicos Racionalistas (que estavam enveredados em pesquisas sobre as etiologias natildeo-evidentes das doenccedilas e asseriam a possibilidade de conhececirc-las) deu ouvidos agraves criacuteticas feitas ao comportamento assertoacuterico negativo dos proacuteprios Empiristas que gerava uma autocontradiccedilatildeo Assim ao tornar-se liacuteder dos Empiristas alinhou a seita ainda mais explicitamente ao pirronismo evitando proferimentos dogmaacutetico-negativos e investindo em toacutepicos como lsquoobservaccedilatildeoobservacircncia dos costumesrsquo lsquonatildeo-asserccedilatildeorsquo lsquotransiccedilatildeo para o semelhantersquo Conceitos que satildeo basilares para a compreensatildeo dos modi operandi dos ceacuteticos pirrocircnicos e dos meacutedicos Empiristas ambos aperfeiccediloados por Sexto

vii- Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641-1695

De Galeno sobre as seitas10 [meacutedicas] para os iniciantes

(1641) O escopo da arte11 meacutedica eacute a sauacutede e seu fim a sua posse Eacute necessaacuterio ser sabido pelos meacutedicos como fazer a sauacutede advir quando ausente ou mantecirc-la quando presente Chama-se de (1645) medicamentos e de remeacutedios o que suscita a sauacutede quando estaacute ausente e de dietas saudaacuteveis o que manteacutem [a sauacutede] quando presente Eis porque o antigo relato12 diz que a medicina eacute a ciecircncia das coisas saudaacuteveis e das nocivas sendo chamadas saudaacuteveis as que mantecircm a sauacutede quando presente (1651) e as que a restauram quando arruinada e [sendo chamadas de] nocivas as diametralmente opostas a essas Pois o meacutedico precisa de ambos os conhecimentos para capturar uma e escapar da outra Mas natildeo haacute acordo entre todos sobre onde se encontraria (1655) o conhecimento de tais coisas mas uns dizem que somente a experiecircncia eacute suficiente para a arte outros acham que a razatildeo natildeo pouco contribui Aqueles satildeo chamados de Empiristas13 por partirem somente da

10αἵρεσις uma adesatildeo inclinaccedilatildeo ou escolha Denota partido ou grupo a seita dos que escolhem uma determinada coisa em detrimento de outra 11 τέχνη arte ou teacutecnica recorrentes como traduccedilotildees para o vocaacutebulo me parecem insuficientes e por isso prefiro lsquoofiacuteciorsquo por em uma uacutenica palavra conter semacircnticas tais como artesanato arte teacutecnica todos enquanto manejo de uma conhecimento e de uma praacutetica Contudo verti τέχνη por arte em todo o texto por questotildees estiliacutesticas Assim evitei que frases que ocorrem como ldquoo escopo da arte meacutedica eacuterdquo ocorressem como ldquoo escopo do ofiacutecio da medicina eacuterdquo por exemplo 12 Natildeo se trata aqui de λόγος enquanto razatildeo enquanto portanto mola-mestra do procedimento da seita dos Racionalistas (como se haacute de ver) mas sim simplesmente de lsquoaccountrsquo 13 Optei por grafar os nomes das seitas com maiuacutesculas ao longo de todo o texto

Rodrigo Pinto de Brito

19 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

experiecircncia14 sendo parocircnimos15 do mesmo modo os que [partem] da razatildeo (16510) de Racionalistas16 e estas satildeo as duas seitas primaacuterias da medicina A primeira parte de experimentos17 para a descoberta de medicamentos a segunda [parte da] indicaccedilatildeo E assim eles deram os nomes de Empirista e de Racionalista agraves [suas] seitas Mas usualmente a Empirista tambeacutem eacute chamada de (16515) Observante18 e de Memorativa19 e a Racionalista de Dogmaacutetica20 e de Analogiacutestica21 e semelhantemente agraves seitas os homens que escolheram22 a experiecircncia satildeo chamados de Empiristas Observantes e Memorativos dos fenocircmenos os que admitiram a razatildeo de (16520) Racionalistas Dogmaacuteticos e Analogiacutesticos

(1661) Os Empiristas dizem que a arte eacute organizada do seguinte modo Uma vez observou-se que muitas das afecccedilotildees humanas se datildeo espontaneamente tanto nos doentes quanto nos saudaacuteveis como o sangramento (1665) nasal ou a sudorese a diarreia ou outra coisa assim que trouxe dano ou vantagem de modo algum tendo uma causa produtiva23 perceptiacutevel24 Quanto agraves outras [afecccedilotildees] a causa eacute manifesta natildeo advindo por escolha nossa mas por acaso como quando ocorre que algueacutem caiu ou foi golpeado ou (16610) ferido de algum outro modo o sangue fluiu e quando na doenccedila bebeu aacutegua fria vinho ou outra coisa assim satisfazendo seu apetite cada um destes terminando em benefiacutecio

14 Apesar de ter vertido ἐmicroπειρικοί por Empiristas (e natildeo Empiacutericos) natildeo optei por verter ἐmicroπειρία por empiria mas simplesmente optei pelo proacuteprio significado da palavra Assim lsquoexperiecircnciarsquo 15 Houaiss 2001 ldquoadjsm (1858 cf MS) gram ling 1 diz-se de ou cada um dos dois ou mais vocaacutebulos que satildeo quase homocircnimos diferenciando-se ligeiramente na grafia e na pronuacutencia 11 diz-se de ou palavra cujos fonemas podem confundir-se com os de outra(s) por razotildees etimoloacutegicas ou simplesmente tocircnicas (pex deferir diferir descriccedilatildeo discriccedilatildeo emigrar imigrar etc) 12 na paronomaacutesia diz-se de cada uma das palavras fonicamente parecidas que se colocam proacuteximas uma da outra num texto Uso neste dicionaacuterio incluiacutemos entre os parocircnimos (rubrica par) os vocaacutebulos que se escrevem com as mesmas letras mas que diferem quanto agrave acentuaccedilatildeo graacutefica e ao timbre (papeacuteis [pl papel] e papeis [v papar]) para os quais tb se usa a denominaccedilatildeo de homoacutegrafos imperfeitos Etim gr parocircnumososon que tem nome parecido que deriva de outro nome ou palavra sobrenome ver par(a)- e -ocircnimo fhist 1858 paroacutenymo 1899 paroacutenimo Col paronimia paroniacutemiardquo 16 Assim como ἐmicroπειρικοί eacute vertido por Empiristas e natildeo Empiacutericos tambeacutem λογικοί eacute vertido por Racionalistas e natildeo Racionais 17 πεῖρα tentativa Mas uma vez que se trata de um meacutetodo dos Empiristas uma abordagem que pode envolver ldquotentativa-errordquo sendo essa abordagem uma espeacutecie experimento resolvi assim traduzir o vocaacutebulo ao longo de todo o texto 18 τηρητικός que parte da τήρησις (observaccedilatildeoobservacircncia) ou seja lsquoObservantersquo 19 microνηmicroονευτικός que parte da microνήmicroη (memoacuteriarememoraccedilatildeo) ou seja lsquoMemorativarsquo 20 δογmicroατικός diz-se de quem adota princiacutepios gerais teoacutericos acerca de algo contrapondo-se a uma abordagem experimental como se veraacute 21 ἀναλογιστικός diz-se de quem opera por um meacutetodo analoacutegico como se veraacute 22 Terceira pessoa do plural do aoristo indicativo meacutedio de αἱρέω escolher Daiacute o livro tratar-se de uma apresentaccedilatildeo das diferentes αἱρέσεις (escolhas adesotildees) meacutedicas 23 ποιῆσαν αἴτιον 24 αἰσθητός sensiacutevel

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

20 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ou dano [entatildeo] ao primeiro tipo de coisa beneacutefica ou danosa chamaram de natural ao segundo de casual (16615) mas em ambos os casos chama-se de incidecircncia25 a primeira visatildeo [das coisas beneacuteficas ou danosas] dando esse nome por algo incidir sobre as circunstacircncias involuntariamente Tal entatildeo eacute o tipo de experiecircncia incidental Mas haacute a impremeditada26 quando (1671) deliberadamente se tenta algo ou compelido por sonhos ou por quaisquer outras suposiccedilotildees E haacute um terceiro tipo de experiecircncia a imitativa27 quando algo beneacutefico ou danoso tanto naturalmente quanto casualmente ou (1675) impremeditadamente eacute experimentado recursivamente nas mesmas afecccedilotildees E eacute principalmente este [tipo] que constituiu sua arte pois tendo imitado natildeo somente duas ou trecircs mas muitas vezes o que causou benefiacutecio anteriormente em seguida descobriram que na maioria dos casos (16710) o produto era o mesmo nas mesmas afecccedilotildees ndash e a tal rememoraccedilatildeo28 chamaram de teorema29 jaacute considerada confiaacutevel e parte da arte Assim tendo-se coletado muitos desses teoremas por eles a totalidade da coletacircnea eacute a medicina e o coletor o meacutedico Tal coletacircnea foi chamada por eles de autoacutepsia30 sendo um tipo de rememoraccedilatildeo (16715) do que foi visto muitas vezes e do mesmo modo Mas tambeacutem chamaram essa mesma coisa de experiecircncia e a sua divulgaccedilatildeo de histoacuteria31 pois para o observador [a rememoraccedilatildeo] eacute autoacutepsia por outro lado eacute histoacuteria para quem aprende o que foi observado (1681) Mas uma vez que se deparavam com algumas doenccedilas que natildeo haviam sido vistas anteriormente ou com outras que eram conhecidas em locais nos quais natildeo havia provisatildeo de medicamentos observados por meio de experimentos criaram um instrumento para (1685) descobrir remeacutedios a transiccedilatildeo para o semelhante com ajuda da qual amiuacutede transferem o mesmo remeacutedio de afecccedilatildeo agrave afecccedilatildeo de lugar a lugar [afetado] e de um remeacutedio previamente conhecido vatildeo para um parecido De afecccedilatildeo a afecccedilatildeo (16810) como se passassem da erisipela agrave herpes de lugar a lugar [afetado] como do braccedilo agrave coxa de remeacutedio a remeacutedio como na diarreia da maccedilatilde agrave necircspera Toda essa transiccedilatildeo eacute um caminho para a descoberta mas a descoberta nunca (16815) antecede o experimento Uma vez que se colocou em experimento aquilo que se esperava jaacute eacute confiaacutevel sendo confirmado por esse [experimento] natildeo menos do que se tivesse sido observado amiuacutede e do mesmo modo A este experimento que acompanha a transiccedilatildeo para o (1691) semelhante chamam de praacutetico porque eacute preciso ser praacutetico na arte caso se pretenda descobrir algo desse modo Todos os experimentos que antecedem a experiecircncia dos quais a arte necessitava para a sua constituiccedilatildeo podem ser criados (1695) pelas pessoas comuns Tal eacute o caminho atraveacutes do experimento para [alcanccedilar] o fim da arte

25 περίπτωσις encontro 26 αὐτοσχέδιος espontacircneo improvisado 27 Ou mimeacutetica 28 microνήmicroη 29 θεώρηmicroα teoria especulaccedilatildeo intuiccedilatildeo ou algo sujeito agrave investigaccedilatildeo 30 αὐτοψία visatildeo ou percepccedilatildeo de si mesmo 31 ἱστορία investigaccedilatildeo observaccedilatildeo cientiacutefica informaccedilatildeo ou relato

Rodrigo Pinto de Brito

21 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ΓΑΛΗΝΟΥ ΠΕΡΙ ΑΙΡΕΣΕΩΝ ΤΟΙΣ ΕΙΣΑΓΟΜΕΝΟΙΣ (1641) Τῆς ἰατρικῆς τέχνης σκοπὸς microὲν ἡ ὑγίεια τέλος δ ἡ κτῆσις αὐτῆς ἐξ ὧν δ ἄν τις ἢ microὴ παροῦσαν ὑγίειαν ἐργάζοιτ ἢ παροῦσαν διαφυλάττοι γιγνώσκεσθαι microὲν ἀναγκαῖον τοῖς ἰατροῖς καλεῖται δὲ (1645) τὰ microὲν ἐργαζόmicroενα τὴν microὴ οὖσαν ὑγίειαν ἰάmicroατά τε καὶ βοηθήmicroατα τὰ δὲ φυλάττοντα τὴν οὖσαν [ὑγίειαν] ὑγιεινὰ διαιτήmicroατα ταῦτ ἄρα καὶ αὐτὴν τὴν ἰατρικὴν ἐπιστήmicroην ὑγιεινῶν καὶ νοσερῶν ὁ παλαιὸς λόγος φησίν ὑγιεινὰ microὲν καλῶν τά τε φυλάττοντα τὴν οὖσαν (1651) ὑγίειαν καὶ τὰ τὴν διεφθαρmicroένην ἀνασώζοντα νοσερὰ δὲ τἀναντία τούτων δεῖται γὰρ ἀmicroφοῖν ὁ ἰατρὸς τῆς γνώσεως ὑπὲρ τοῦ τὰ microὲν ἑλέσθαι τὰ δὲ φυγεῖν ὅθεν δ ltἂνgt τὴν τούτων ἐπιστήmicroην ἐκπορίσαιτο οὐκέθ (1655) [ὁmicroοίως] ὁmicroολογεῖται παρὰ πᾶσιν ἀλλ οἱ microὲν τὴν ἐmicroπειρίαν microόνην φασὶν ἀρκεῖν τῇ τέχνῃ τοῖς δὲ καὶ ὁ λόγος οὐ σmicroικρὰ δοκεῖ συντελεῖν ὀνοmicroάζονται δ οἱ microὲν ἀπὸ τῆς ἐmicroπειρίας microόνης ὁρmicroώmicroενοι παρωνύmicroως ἐκείνης ἐmicroπειρικοί ὁmicroοίως δὲ καὶ οἱ ἀπὸ τοῦ λόγου (16510) λογικοὶ καὶ δύο εἰσὶν αὗται πρῶται τῆς ἰατρικῆς αἱρέσεις ἡ microὲν ἑτέρα διὰ πείρας ἰοῦσα πρὸς τὴν τῶν ἰαmicroάτων εὕρεσιν ἡ δ ἑτέρα δι ἐνδείξεως καὶ ὀνόmicroατά γε ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικήν τε καὶ λογικήν καλεῖν δ εἰσὶν εἰθισmicroένοι τὴν microὲν ἐmicroπειρικὴν (16515) τηρητικήν τε καὶ microνηmicroονευτικήν τὴν δὲ λογικὴν δογmicroατικήν τε καὶ ἀναλογιστικήν καὶ τοὺς ἄνδρας ὁmicroοίως ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικοὺς microὲν καὶ τηρητικοὺς καὶ microνηmicroονευτικοὺς τῶν φαινοmicroένων ὅσοι τὴν ἐmicroπειρίαν εἵλοντο λογικοὺς δὲ καὶ δογmicroατικοὺς καὶ ἀναλογιστικούς (16520) ὅσοι τὸν λόγον προσήκαντο (1661) Συστήσασθαι δὲ τὴν τέχνην οἱ microὲν ἐmicroπειρικοὶ τόνδε τὸν τρόπον φασίν ἐπειδὴ πολλὰ τοῖς ἀνθρώποις ἑώρων πάθη τὰ microὲν ἀπὸ ταὐτοmicroάτου γιγνόmicroενα νοσοῦσί τε καὶ ὑγιαίνουσιν οἷον αἵmicroατος ῥύσιν (1665) ἐκ ῥινῶν ἢ ἱδρῶτας ἢ διαρροίας ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο βλάβην ἢ ὠφέλειαν φέρον οὐ microὴν τό γε ποιῆσαν αἴτιον αἰσθητὸν ἔχον ἕτερα δ ὧν τὸ microὲν αἴτιον ἐφαίνετ οὐ microὴν ἐκ προαιρέσεως ἡmicroετέρας ἀλλὰ κατά τινα συντυχίαν οἷον συνέβη πεσόντος τινὸς ἢ πληγέντος ἢ (16610) ἄλλως πως τρωθέντος αἷmicroα ῥυῆναι καὶ πιεῖν ἐν νόσῳ χαρισάmicroενον τῇ ἐπιθυmicroίᾳ ψυχρὸν ὕδωρ ἢ οἶνον ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο ὧν ἕκαστον εἰς ὠφέλειαν ἢ βλάβην ἐτελεύτα τὸ microὲν [οὖν] πρότερον εἶδος τῶν ὠφελούντων ἢ βλαπτόντων ἐκάλουν φυσικόν τὸ δὲ δεύτερον τυχικόν (16615) ἑκατέρου δ αὐτῶν τὴν πρώτην θέαν περίπτωσιν ὠνόmicroαζον ἀπὸ τοῦ περιπίπτειν ἀβουλήτως τοῖς πράγmicroασι τοὔνοmicroα θέmicroενοι τὸ microὲν οὖν περιπτωτικὸν εἶδος τῆς ἐmicroπειρίας τοιόνδε τί ἐστι τὸ δ αὐτοσχέδιον ὅταν (1671) ἑκόντες ἐπὶ τὸ πειράζειν ἀφίκωνται ἢ ὑπ ὀνειράτων προτραπέντες ἢ ἄλλως πως δοξάζοντες ἀλλὰ καὶ τρίτον τῆς ἐmicroπειρίας εἶδός ἐστι τὸ microιmicroητικόν ὅταν τῶν ὠφελησάντων ἢ βλαψάντων ὁτιοῦν ἢ φύσει ἢ τύχῃ ἢ (1675) αὐτοσχεδίως ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν αὖθις εἰς πεῖραν ἄγηται καὶ τοῦτ ἐστὶ τὸ microάλιστα τὴν τέχνην αὐτῶν συστησάmicroενον οὐ γὰρ δὶς microόνον ἢ τρὶς ἀλλὰ καὶ πλειστάκις microιmicroησάmicroενοι τὸ πρόσθεν ὠφελῆσαν εἶτ ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν τὸ αὐτὸ ποιοῦν εὑρίσκοντες

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

22 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ὡς ἐπὶ τὸ (16710) πολὺ τὴν τοιαύτην microνήmicroην θεώρηmicroα καλέσαντες ἤδη πιστὸν ἡγοῦνται καὶ microέρος τῆς τέχνης ὡς δὲ πολλὰ θεωρήmicroατα τοιαῦτ ἠθροίζετ αὐτοῖς ἰατρικὴ microὲν ἦν τὸ σύmicroπαν ἄθροισmicroα καὶ ὁ ἀθροίσας ἰατρός ἐκλήθη δ ὑπ αὐτῶν αὐτοψία τὸ τοιοῦτον ἄθροισmicroα microνήmicroη τις (16715) οὖσα τῶν πολλάκις καὶ ὡσαύτως ὀφθέντων ὠνόmicroαζον δ αὐτὸ τοῦτο καὶ ἐmicroπειρίαν ἱστορίαν δὲ τὴν ἐπαγγελίαν αὐτοῦ τὸ γὰρ αὐτὸ τοῦτο τῷ microὲν τηρήσαντι αὐτοψία τῷ δὲ microαθόντι τὸ τετηρηmicroένον ἱστορία ἐστίν (1681) Ἐπεὶ δὲ καὶ νοσήmicroασί τισιν ἐνετύγχανον ἔστιν ὅτε πρόσθεν οὐχ ἑωραmicroένοις ἤ τισιν ἐγνωσmicroένοις microὲν ἀλλ ἐν χωρίοις ἐν οἷς οὐκ ἦν ἰαmicroάτων εὐπορία τῶν διὰ τῆς πείρας τετηρηmicroένων ὄργανόν τι βοηθηmicroάτων εὑρετικὸν (1685) ἐποιήσαντο τὴν τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν ᾧ χρώmicroενοι πολλάκις καὶ ἀπὸ πάθους ἐπὶ πάθος [ὅmicroοιον] τὸ αὐτὸ βοήθηmicroα microεταφέρουσι καὶ ἀπὸ τόπου ἐπὶ τόπον καὶ ἀπὸ τοῦ πρόσθεν ἐγνωσmicroένου βοηθήmicroατος ἐπὶ τὸ παραπλήσιον ἔρχονται ἀπὸ microὲν πάθους ἐπὶ πάθος (16810) ὡς εἰ ἀπ ἐρυσιπέλατος ἐφ ἕρπητα microεταβαίνοιεν ἀπὸ δὲ τόπου ἐπὶ τόπον ὡς ἀπὸ βραχίονος ἐπὶ microηρόν ἀπὸ δὲ βοηθήmicroατος ἐπὶ βοήθηmicroα ὡς ἐν διαρροίαις ἀπὸ microήλου ἐπὶ microέσπιλον ἅπασα δ ἡ τοιαύτη microετάβασις ὁδὸς microέν ἐστιν ἐπὶ τὴν εὕρεσιν εὕρεσις δ οὐδέπω πρὸ (16815) τῆς πείρας ἀλλ ἡνίκ ἂν τὸ ἐλπισθὲν εἰς πεῖραν ἀχθῇ πιστὸν ἤδη τὸ microαρτυρηθὲν ὑπ αὐτῆς ἐστιν οὐδὲν ἧττον ἢ εἰ πλειστάκις καὶ ὡσαύτως ἔχον ἐτετήρητο τὴν δὲ πεῖραν ταύτην τὴν ἑποmicroένην τῇ τοῦ ὁmicroοίου (1691) microεταβάσει τριβικὴν καλοῦσιν ὅτι χρὴ τετρῖφθαι κατὰ τὴν τέχνην τὸν microέλλοντά τι οὕτως εὑρήσειν αἱ δ ἔmicroπροσθεν ἅπασαι πεῖραι αἱ πρὸ τῆς ἐmicroπειρίας ὧν εἰς σύστασιν ἐδεῖθ ἡ τέχνη καὶ περὶ τὸν τυχόντα δύνανται (1695) γενέσθαι τοιαύτη microὲν ἡ διὰ τῆς πείρας πρὸς τὸ τέλος τῆς τέχνης ὁδός

Rodrigo Pinto de Brito

23 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

viii- APEcircNDICE As trecircs seitas meacutedicas e seus principais liacutederes segundo por pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-146845

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

24 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ix- Referecircncias bibliograacuteficas BARNES J SCHOFIELD M BURNYEAT M (eds) Doubt and Dogmatism

Studies in Hellenistic Epistemology Oxford Clarendon Press 1980 BARNES J The Beliefs of a Pyrrhonist In Proceedings of the Cambridge

Philological Society ndeg28 Cambridge 1982 Pp 1-29 BOLZANI R Acadecircmicos versus Pirrocircnicos Satildeo Paulo Alameda Editorial

2013 BRITO R P de Quadros conceituais do ceticismo anterior a Sexto Empiacuterico

In Prometeus ndash Filosofia em Revista Ano 06 ndeg 12 p 121-136 2013 ____ Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua

aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os Retoacutericos In Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

____ DINUCCI A L Traduccedilatildeo e Apresentaccedilatildeo da Diatribe de Epicteto 15 In Revista de Filosofia Antiga (USP Ed portuguecircs) v 08 p 116-132 2014

BURNYEAT M F FREDE M (eds) The Original Sceptics Cambridge Hackett Publishing Company 1998

BURNYEAT M F Can the Sceptic Live his Scepticism In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 205-235

____ The Sceptic in His Place and Time In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 316-345

____ Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012

DIOacuteGENES LAEacuteRCIO Lives of eminent philosophers HICKS R D (trans) Londres William Heinemann 1975

FREDE M WALZER R (trad amp ed) Three Treatises on the Nature of Science On the Sects for Beginners An Outline of Empiricism On Medical Experience Indianapolis Hackett Publishing Company 1985

FREDE M The Skepticrsquos Beliefs In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 179-200

____ The Scepticrsquos Two Kinds of Assent and the Question of the Possibility of Knowledge In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 201-225

____ Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989

HANKINSON R J The Sceptics (the arguments of the philosophers) Londres Routledge 1995

____ (ed) The Cambridge Companion to Galen Cambridge Cambridge University Press 2008

LIDELL H G SCOTT R A Greek-English Lexicon revised and augmented throughout by Sir Henry Stuart Jones with the assistance of Roderick McKenzie Oxford Clarendon Press 1940

MARCONDES de Souza Filho D Finding Onersquos Way About High Windows Narrow Chimneys and Open Doors Wittgensteinrsquos ldquoScepticismrdquo and Philosophical Method In POPKIN R H (ed) Scepticism in the History of Philosophy Amsterdam Kluwer Academic Publishers 1996 Pp 167-179

Rodrigo Pinto de Brito

25 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

____ A ldquoFelicidaderdquo do Discurso Ceacutetico o Problema da Auto-refutaccedilatildeo do Ceticismo In O Que Nos Faz Pensar ndeg 8 1994 Pp 131-144

MATES B The Skeptic Way Sextus Empiricuss Outlines of Pyrrhonism Oxford Oxford University Press 1996

NUSSBAUM M Skeptic Purgatives Therapeutic Arguments in Ancient Skepticism In Journal of History of Philosophy volume 29 ndeg 4 1991 Pp 521-557

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os retoacutericos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2013

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os gramaacuteticos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2015

SEXTO EMPIacuteRICO Complete Works of 4 vols BURY R G (trans) In Loeb Classical Library Harvard Harvard University Press 2006

SEXTO EMPIacuteRICO Outlines of Scepticism ANNAS J BARNES J (eds) Cambridge Cambridge University Press 2000

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Ethicists BETT R (trans) Oxford Clarendon Press 1997

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Grammarians BLANK D L (trans) Oxford Clarendon Press 1998

SMITH P J Terapia e Vida Comum In Skeacutepsis ndeg 1 2007 Pp 43-67 WALBRIDGE J (trad amp ed) The Alexandrian Epitomes of Galen vol 1 On

the Medical Sects for Beginners The Small art of Medicine On the Elements According to the Opinion of Hippocrates A parallel English-Arabic text translated introduced and annotated by john Walbridge In Islamic Translation Series Utah Brigham Young University Press 2014

Page 2: [2] Rodrigo Brito - Sobre o De Sectis de Galeno e o ...philosophicalskepticism.org/wp-content/uploads/... · Galeno (129-216 d.C.) foi um autor prolífico e de suma importância para

Rodrigo Pinto de Brito

9 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

importantes seitas meacutedicas Empiristas Racionalistas e Metoacutedicos travada principalmente entre os integrantes das duas primeiras supramencionadas seitas Galeno ao nos narrar as querelas tambeacutem nos apresenta muito didaticamente os fundamentos epistemoloacutegicos e as abordagens praacuteticas de cada uma destas seitas Assim sendo meu interesse imediato eacute usar a apresentaccedilatildeo inicial da seita dos Empiristas para compreender outro pensador Sexto Empiacuterico que ainda que tenha nos deixado uma obra extensa e de importacircncia iacutempar desconcerta-nos com a ausecircncia quase que total de informaccedilotildees a seu respeito ao contraacuterio de Galeno cuja biografia se conhece bastante bem

Em suma mesmo que Galeno faccedila jus a uma investigaccedilatildeo independente o objetivo do presente trabalho eacute usaacute-lo como peccedila de outro quebra-cabeccedila quem foi Sexto Empiacuterico Assim oferecerei ao leitor a introduccedilatildeo do proacuteprio Galeno agrave seita dos Empiristas em vernaacuteculo suscitando a possibilidade de comparar com passos metodoloacutegicos que considero proeminentes na abordagem que Sexto Empiacuterico faz do conhecimento das artes e dos ofiacutecios e da vida comum Antes de prosseguir demonstrando como Galeno pode ser uacutetil para compreensatildeo do ceticismo sextiano (e tambeacutem os problemas decorrentes disso) algumas palavras devem ser ditas sobre Das seitas meacutedicas

ii-

Como dito mais acima o texto em questatildeo trata de uma contenda teoacuterica entre trecircs seitas meacutedicas Empiristas Racionalistas e Metoacutedicos principalmente as duas primeiras Segundo a breve histoacuteria das seitas fornecida por pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-1468452

A seita Racionalista foi liderada por Hipoacutecrates de Cos que foi tambeacutem seu fundador e aquele que primeiro estabeleceu a seita Racionalista entatildeo apoacutes ele Diocles de Caristo Praxaacutegoras de Cos Heroacutefilo da Calcedocircnia Erasiacutestrato de Quiacuteos Mnesitheo de Atenas e Asclepiacuteades de Cian na Bitiacutenia que tambeacutem eacute chamada de Prusias

A seita Empirista foi liderada por Filino de Cos quem primeiramente rompeu com a seita Racionalista buscando ocasiotildees para disputar com Heroacutefilo de quem foi aprendiz Desejando liderar sua proacutepria seita que natildeo obstante seria mais antiga do que a seita Racionalista pois afirmaram que ela fora fundada por Aacutecron de Agrigento Apoacutes Filino houve Seraacutepion de Alexandria entatildeo os dois Apolocircnios pai e filho e Antiacuteoco Apoacutes estes houve Menodoto e Sexto [Empiacuterico] que levou [a seita] agrave perfeiccedilatildeo

O Metodismo foi fundado por Themison da Laodiceacuteia siacuteria que adquiriu com Asclepiacuteades o Racionalista o que precisava para inventar a seita Metodista Foi entatildeo aperfeiccediloada por Teacutessalo de Trales Apoacutes estes houve Mnaseas Dioniacutesio Proclo e Antiacutepatro Formando sua proacutepria facccedilatildeo [dentro dos Metoacutedicos] houve Olimpiacos de Mileacutesia Menemacos de

2 Para uma cronologia ver o apecircndice

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

10 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Afrodiacutesias e Sorano de Eacutefeso Ademais alguns como Leocircnidas de Alexandria juntaram as seitas enquanto outros eram ecleacuteticos como Arquiguenes da Apameacuteia siacuteria3

Tomando o pseudo-Galeno acima podemos dizer que a rixa que propiciou o surgimento da seita dos Empiristas entre Heroacutefilo (considerado o fundador da anatomia) e Filino de Cos ocorreu em meados do seacutec III aC Por sua vez se tomarmos Galeno Das seitas meacutedicas podemos afirmar que as disputas perduraram ateacute seu tempo ou seja meados do seacutec II a iniacutecio de III dC

Em questatildeo estavam toacutepicos como a natureza do conhecimento meacutedico se a medicina era uma ciecircncia (ἐπιστήmicroη) ndash o que a tornaria sobretudo um aporte teoacuterico ndash ou um ofiacutecio (τέχνη) ndash fazendo-a sobretudo um aporte praacutetico ndash consequentemente como deve o meacutedico se comportar em termos de diagnoacutestico e terapecircutica seguindo a natureza do conhecimento meacutedico e o aporte que defende e adere

Claro da ruptura entre Heroacutefilo e Filino ateacute Galeno cerca de 500 anos se passaram As duas seitas amadureceram suas posiccedilotildees o debate se tornou mais refinado e chegou mesmo a propiciar o surgimento dos Metoacutedicos Mas esse amadurecimento recorreu constantemente ao feacutertil campo dos argumentos originados em outras querelas que eclodiram tambeacutem na passagem do seacutec IV ao III aC entre ceacuteticos estoicos e epicuristas platocircnicos e aristoteacutelicos perdurando ateacute pelo menos a tardo-Antiguidade E assim como vemos surgir na filosofia o fenocircmeno do ecletismo consistindo na adoccedilatildeo parcial de doutrinas filosoacuteficas de diferentes escolas igualmente ocorre na medicina como exemplificado nos escritos e na posiccedilatildeo do proacuteprio Galeno (cf De libr prop I SM II p95)

Assim

Galeno tem uma tendecircncia a olhar para todo um conjunto de questotildees que ocuparam os filoacutesofos por um longo tempo e em torno das quais eles tombaram em diferentes campos como questotildees que natildeo podem ser resolvidas mas somente especuladas Galeno estava determinado a natildeo perder seu tempo com tais especulaccedilotildees Assim ele pensa que natildeo haacute sentido em tentar tomar posiccedilatildeo acerca de questotildees como a natureza de Deus a substacircncia da alma sua corporeidade e imortalidade a eternidade do mundo o nuacutemero de mundos ou se o mundo existe no vazio (Plac Hipp et Plat IX 619-9 9 CMG V 41 21576-00 In Hipp de morb ac comm I 2 CMG V 9 1 p 125 De subst nat fac Kuhn IV 762 =De sent 151 Quod animi mores 3 SM II p 36 De sent 2 Nutton) Natildeo eacute soacute que ele pensa que natildeo se pode ter total confianccedila nos pontos de vista de algueacutem sobre esses temas Ele recusa adotar qualquer ponto de vista sobre eles Uma vez que eacute exatamente em torno de questotildees desse tipo que as escolas de filosofia satildeo divididas a atitude de Galeno para com essas questotildees de algum modo explica sua recusa em identificar-se com qualquer uma das escolas

3 A traduccedilatildeo eacute de WALBRIDGE 2014 p 208

Rodrigo Pinto de Brito

11 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Sem duacutevida essa atitude eacute o resultado da influecircncia do ceticismo Mas () Galeno era bastante impressionado pelas ciecircncias matemaacuteticas para desprezar a habilidade da razatildeo com relaccedilatildeo a verdades teoreacuteticas De modo que estava tambeacutem convencido de que grandes aacutereas da filosofia eram imunes agrave seacuteria duacutevida ceacutetica suficientemente a ponto de ser capaz de desenvolver uma loacutegica uma teoria fiacutesica (no sentido de uma teoria da natureza em geral) e uma teoria moral4

iii-

Eacute chegado o momento de argumentar pela utilidade de Galeno para a compreensatildeo do ceticismo de Sexto Empiacuterico e tambeacutem de demonstrar alguns problemas em torno dessa hipoacutetese

Basicamente a utilidade de outra fonte primaacuteria para referecircncia cruzada externa agrave obra de Sexto eacute que considerando a lacuna que haacute acerca de Sexto poderiacuteamos compreender melhor o impacto causado por sua obra ndash vasta quando comparada com o estado fragmentaacuterio das obras de outros filoacutesofos do mesmo periacuteodo ndash e a motivaccedilatildeo subjacente agrave sua escrita Para tal poderiacuteamos usar o pseudo-Galeno supracitado As epiacutetomes alexandrinas a Galeno ou Dioacutegenes Laeacutercio que explicitamente mencionam Sexto algo que Galeno natildeo faz

Contudo pseudo-Galeno por ser um autor desconhecido e que natildeo possui todo um corpus escrito pode ser muito difiacutecil de situar agravando ainda mais o estado aporeacutetico de coisas As epiacutetomes alexandrinas por sua vez satildeo um resumo que sobrepotildee o galecircnico Das seitas meacutedicas ao pseudo-galecircnico Introductio seu medicus e se argumentamos que pseudo-Galeno natildeo nos esclareceria com relaccedilatildeo agraves Epiacutetomes alexandrinas resta o outro material primaacuterio que foi utilizado pelo epitomista cristatildeo de liacutengua aacuterabe Hunayn ibn Ishaq (809-873) Das seitas meacutedicas de Galeno

Finalmente resta a duvidosa cronologia oferecida por Dioacutegenes Laeacutercio (DL IX 116) Mas o contexto literaacuterio interno agrave DL eacute quase que totalmente filosoacutefico biograacutefico e anedoacutetico quase nunca meacutedico e apesar de Dioacutegenes nos confirmar a ligaccedilatildeo de Sexto com a seita Empirista de medicina assim como fazem pseudo-Galeno e Hunayn ibn Ishaq natildeo nos diz nada sobre o que seria tal seita meacutedica seus fundamentos teoacutericos e procedimentos metodoloacutegicos

Desse modo ainda que natildeo mencione Sexto Empiacuterico Das seitas meacutedicas segue sendo uma das melhores obras para se entender a seita Empirista5 a qual Sexto se liga conforme atestado pelas trecircs outras fontes pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-146845 DL IX 116 As epiacutetomes alexandrinas a Galeno De Sectis 4

O principal problema da hipoacutetese de que se deve usar Das seitas meacutedicas para se entender melhor a obra de Sexto especificamente as partes aqui traduzidas e que versam sobre a seita dos Empiristas eacute que as evidecircncias internas a esta obra desqualificam a ligaccedilatildeo de Sexto com os

4 FREDE 1985 p xviii 5 Ao lado de De experientia medica e Esboccedilo de empirismo (esta existente somente em sua versatildeo latina)

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

12 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Empiristas Ou seja o proacuteprio Sexto explicitamente rejeita a ligaccedilatildeo entre sua versatildeo do pirronismo e os Empiristas (PH I 236-241) De fato segundo Sexto o Metodismo aproximar-se-ia muito mais do pirronismo por sua postura natildeo-assertoacuterica na medida em que os Empiristas asseririam a inapreensibilidade do natildeo-evidente Os Empiristas satildeo assim criticados pela mesma razatildeo que Sexto critica os acadecircmicos na ceacutelebre distinccedilatildeo entre o comportamento do ceacutetico o dos dogmaacuteticos e o dos acadecircmicos em PH I1 ao passo que os dogmaacuteticos pensam que descobriram a verdade acadecircmicos rejeitam que ela possa ser descoberta o ceacutetico por seu turno continua investigando

Mas talvez as criacuteticas de Sexto aos Empiristas sejam mais do que um quebra-cabeccedilas desconcertante pois podem ser tratadas como evidecircncias bastante elucidativas assim

1- Sexto critica os Empiristas por seu dogmatismo negativo que os faz parecerem acadecircmicos ao inveacutes de pirrocircnicos Isso natildeo seria problemaacutetico se natildeo fosse um certo tipo de ldquodeserccedilatildeordquo dos Empiristas com relaccedilatildeo ao pirronismo Interpretaccedilatildeo que corroboraria a hipoacutetese de que apoacutes o revival do pirronismo com Enesidemo houve uma espeacutecie de desenvolvimento simbioacutetico do neopirronismo e do Empirismo

2- Eacute precisamente por caminharem mais ou menos paralelamente que a posiccedilatildeo dos pirrocircnicos foi confundida com a posiccedilatildeo dogmaacutetica negativa dos Empiristas propiciando as criacuteticas contra o pirronismo de que este conduziria a uma vida impossiacutevel de ser vivida na praacutetica e mais tarde a necessidade de Sexto de claramente demarcar as diferenccedilas entre a postura do pirrocircnico e a dogmaacutetico-negativa dos acadecircmicos e Empiristas

3- Os debates constantes dos Empiristas contra os Racionalistas fizeram com que os primeiros recaiacutessem numa postura radicalmente anti-teoreacutetica autocontraditoacuteria e que em uacuteltima instacircncia impedia o proacuteprio avanccedilo da medicina Enquanto isso apesar da simbiose com os Empiristas o pirronismo seguiu desenvolvendo-se como uma possibilidade coerente de abordagem da filosofia

4- Ainda que tenha sido treinado meacutedico entre Empiristas sob Menodoto eacute devido ao seu comportamento ceacutetico e natildeo-assertoacuterico que Sexto foi capaz de elaborar uma criacutetica aberta agrave proacutepria seita Empirista E vindo a ser o sucessor de Menodoto na lideranccedila da seita teria conseguido alinhaacute-la melhor ao pirronismo evitando os passos dogmaacutetico-negativos que seu mestre havia dado em direccedilatildeo agrave rejeiccedilatildeo da possibilidade racional da nosologia por exemplo Eacute neste sentido que se deve entender a afirmaccedilatildeo de pseudo-Galeno de que Sexto levou a seita Empirista agrave perfeiccedilatildeo pois a ela deu a coerecircncia que faltava sob Menodoto assim como fez com o pirronismo

iv-

Os quatro argumentos dispostos logo acima tratam a dyacutenamis ceacutetica e a medicina como dois tipos de atividades que podem ser exercidas sem contradizerem-se Mas isso natildeo eacute auto-evidente e precisa ser argumentado Ademais o problema pode ser ainda mais agravado pelo fato de que o alinhamento que Sexto faz entre medicina e pirronismo poder gerar uma espeacutecie de terapecircutica ceacutetica fazendo assim emergir a seguinte questatildeo

Rodrigo Pinto de Brito

13 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ldquopode o ceacutetico prescrever o ceticismo assim como se indicaria abdominais um copo de aacutegua ou a rememoraccedilatildeo noturna antes de dormirrdquo

Nas linhas seguintes vou tentar lidar com as duas questotildees a- a do alinhamento entre pirronismo e medicina em Sexto b- a de um alinhamento tal que gere uma terapecircutica ceacutetica Considero que a questatildeo lsquobrsquo seja um desenvolvimento da lsquoarsquo mas por questotildees internas agrave minha argumentaccedilatildeo comeccedilarei pela lsquobrsquo

v-

Para Sexto o problema central do comportamento dogmaacutetico eacute o compromisso assertoacuterico ou seja a necessidade de emitir proferimentos que afirmem algo (como fizeram estoicos peripateacuteticos ou os Racionalistas de seu tempo ao afirmarem por exemplo a apreensibilidade κατάληψις) bem como proferimentos que rejeitem algo (como fizeram os acadecircmicos e os Empiristas de seu tempo ao rejeitarem por exemplo a possibilidade da apreensatildeo ἀκαταληψία)

O ceacutetico por seu turno possuiria um uso dos termos e da linguagem de modo natildeo-dogmaacutetico (ἀδόξαστος) e com sentido indiferente (ἀδιάφορος) Isto significa que o ceacutetico joga um jogo de linguagem diferente em que pode evitar fazer com que seu discurso pareccedila conter asserccedilotildees peremptoacuterias sobre toacutepicos como verdadefalsidade ou apreensibilidadeinapreensibilidade Este jogo eacute o da ἀφασία ceacutetica ou natildeo-asserccedilatildeo

Assim Sexto se expressa acerca da questatildeo Sobre a ἀφασία dizemos o seguinte o termo asserccedilatildeo (φάσις) tem dois sentidos um geral e outro especiacutefico usado no sentido geral indica afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo () no sentido especial indica somente afirmaccedilatildeo () A ἀφασία entatildeo eacute a evitaccedilatildeo da asserccedilatildeo no sentido geral no qual eacute dito incluiacuterem-se tanto a afirmaccedilatildeo quanto a negaccedilatildeo entatildeo a ἀφασία eacute um πάθος (afecccedilatildeo) nosso por meio do qual recusamos tanto afirmar quanto negar (PH I 192)

Sexto enfatiza que a natildeo-asserccedilatildeo natildeo eacute resultado do modo como as coisas satildeo em si mesmas ie ela natildeo revela uma indeterminaccedilatildeo que estaria nas proacuteprias coisas mas ela exprime o πάθος proacuteprio do ceacutetico Ele enfatiza tambeacutem que o escopo da natildeo-asserccedilatildeo satildeo proferimentos dogmaacuteticos acerca do natildeo-evidente6

Mas por outro lado sem se importar com o valor de verdadefalsidade das asserccedilotildees

lto ceacuteticogt entrega-se agraves coisas que nos movem de acordo com o paacutethos e que nos levam necessariamente (ἀναγκαστικῶς =

6 Mais tarde voltarei a este ponto porque eacute preciso explicar melhor o que isto significa pois dizer que ldquose evitam proferimentos dogmaacuteticosrdquo pode incluir ou natildeo proferimentos dogmaacuteticos que natildeo sejam exclusivamente concernentes agraves filosofias ou agraves teacutechnai

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

14 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

compulsoriamente coercitivamente) ao assentimento (PH I 193)

E para deixar claro seu descompromisso assertoacuterico o ceacutetico usa uma seacuterie de foacutermulas como ldquonatildeo maisrdquo (οὐ microᾶλλον) ldquotalvezrdquo (τάχα) ldquopossivelmenterdquo (ἔξεστι) ldquonada determinordquo (οὐδὲν ὁρίζω) e principalmente ldquome parece querdquo ou ldquoparece-nosrdquo (φαίνεσθαι ἡmicroῖν) Assim em vez de estar constatando como as coisas satildeo ou natildeo o ceacutetico estaacute declarando como as coisas aparecem por isso Sexto diz que os ceacuteticos ἀπαγγέλλοmicroεν (ou seja declaram anunciam) como as coisas a eles se apresentam (PH I 4)

Agora voltando agrave pergunta inicial (lsquobrsquo) sobre se o ceacutetico prescreve o ceticismo me parece que Sexto Empiacuterico sendo meacutedico estaria apto a dizer que sim pois ldquoo ceacutetico sendo filantropo quer curar pelo discurso a arrogacircncia e a precipitaccedilatildeo dos dogmaacuteticosrdquo (PH III 280) E claramente nos eacute dito em seguida que os argumentos ceacuteticos satildeo como remeacutedios uns fortes ndash para os fortemente enfermos ndash outros brandos para aqueles cuja enfermidade eacute branda

Isso faz emergir uma pergunta o ceacutetico toma por ponto de partida que o dogmatismo eacute ruim em si e por isso deve ser curado No momento natildeo tenho uma resposta para isso ainda mais tendo em vista a ausecircncia de exemplos onde poderia haver um tratamento da questatildeo nos termos em que se coloca Assim nesse ponto natildeo tenho como rejeitar que possa haver um dogmatismo impliacutecito na declaraccedilatildeo sextiana de que os dogmaacuteticos sofrem Mas este dogmatismo somente haveria se entendermos que em alguma instacircncia haacute uma afirmaccedilatildeo ou seja que a declaraccedilatildeo aqui porta-se como uma asserccedilatildeo

Outra pergunta que pode surgir agora que argumentei que o ceacutetico pode indicar e mesmo ministrar doses de ceticismo eacute se ele natildeo estaria sendo dogmaacutetico ao fazecirc-lo A resposta eacute que natildeo necessariamente pois posso dizer ldquome parece querdquo ou ldquotalvezrdquo ldquoabdominais um copo de aacutegua ou a rememoraccedilatildeo noturna faccedilam bemrdquo e isto eacute totalmente diferente de asserir ldquorealmenterdquo ldquoeacute verdade querdquo ldquoabdominais copos drsquoaacutegua e rememoraccedilatildeo noturna faratildeo bemrdquo ou ainda ldquorealmenterdquo ldquoeacute verdade querdquo ldquoabdominais copos drsquoaacutegua e rememoraccedilatildeo noturna natildeo faratildeo bemrdquo

O ceacutetico entatildeo poderia dizer ldquome parece que talvez neste caso de acordo com a minha experiecircncia dever-se-ia adotar uma conduta X para chegar a Yrdquo E isso natildeo eacute dogmatizar pois eacute oposto a dizer por exemplo ldquode fato dever-se-ia necessariamente agir de acordo com o criteacuterio X para derradeiramente operar de acordo com uma conduta que o faccedila atingir αrdquo (onde X pode ser ldquosentidosrdquo ou ldquorazatildeordquo e α pode ser ldquoexcelecircnciardquo ou ldquosabedoriardquo)

Faccedilamos uma recapitulaccedilatildeo A pergunta que nos direcionou nesta seccedilatildeo do texto foi sobre a possibilidade de se indicar o ceticismo enquanto terapia Para responder passamos por analogias meacutedicas primeiramente a apresentada a partir de PH I 236 Isto por sua vez nos permitiu pensar o dogmatismo enquanto postura assertoacuterica (positiva ou negativa) e sobre o significado da ἀφασία no ceticismo sextiano

Rodrigo Pinto de Brito

15 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Depois passamos agraves analogias meacutedicas presentes em PH III 280 o que nos levou ao problema do possiacutevel dogmatismo impliacutecito em uma eventual assunccedilatildeo de um mal dogmaacutetico (para o qual natildeo ofereci resposta) e tambeacutem ao problema do dogmatismo impliacutecito no proacuteprio receituaacuterio de argumentos ceacuteticos problema este que foi sanado atraveacutes justamente da concepccedilatildeo sextiana de ἀφασία que reduz o caraacuteter assertoacuterico do proferimento ceacutetico de modo que o ceacutetico pode aconselhar algo que pareccedila curar sem que isto recaia em um proferimento dogmaacutetico ndash aquele que tem compromisso com a verdadefalsidade

Mas isso nos leva a outra questatildeo o ceticismo eacute uma teacutechne ou seja uma arte da vida Esta pergunta por sua vez faz com que nos voltemos para a parte eacutetica da filosofia que eacute tratada por Sexto Empiacuterico em Adv Eth (ou M XI) e tambeacutem PHIII 168 que se relaciona diretamente com Adv Eth Especialmente importante eacute a discussatildeo que se segue apoacutes PH III 188 em que Sexto remete-se agrave noccedilatildeo de τέχνη περὶ βίον (ou lsquoarte acerca da vidarsquo)

O argumento sextiano dirige-se 1) agrave definiccedilatildeo estoica de τέχνη como ldquosistema composto por apreensotildees exercidas em conjuntordquo 2) agrave concepccedilatildeo estoica de apreensatildeo 3) agrave concepccedilatildeo estoica de alma que eacute contraposta agrave concepccedilatildeo platocircnica

Mas essas trecircs supracitadas etapas da argumentaccedilatildeo sextiana satildeo complexas por si soacutes e para serem devidamente tratadas seria necessaacuterio outro texto7 O que me interessa de fato eacute a argumentaccedilatildeo que vem depois que comeccedila em PH III 190 e que objeta que natildeo parece haver algo que seja naturalmente bom e que seja entatildeo um τέλος moral

Do mesmo modo natildeo parece haver um mal e nem indiferentes tendo em vista as divergecircncias sobre isto existentes entre filoacutesofos mas tambeacutem entre pessoas ordinaacuterias em seus costumes e convenccedilotildees Por exemplo diz-nos Sexto ldquoentre noacutes a sodomia eacute considerada vergonhosa ou mesmo ilegal mas entre os germacircnios8 eacute vista natildeo somente como natildeo vergonhosa mas mesmo como habitualrdquo (PH III 199)

7 AO peer reviewer deste texto a quem sou muito grato sugeriu que aqui eu fizesse uma nota explicando ou ao menos explicitando as etapas (1) (2) e (3) da exposiccedilatildeo sextiana que menciono no paraacutegrafo imediatamente acima Concordo plenamente que tal explicaccedilatildeo deva ser dada mas penso que seja inoportuno fazecirc-lo aqui tanto no corpo do texto quanto numa nota de rodapeacute O motivo eacute simples trata-se de uma discussatildeo muito cara natildeo somente para estudiosos do ceticismo mas tambeacutem para os estoicos pois nos permite entender (a) o desenvolvimento da Stoaacute enquanto sistema em geral e (b) enquanto fundamentaccedilatildeo teoacuterica para seis das sete artes que viriam a compor na Idade Meacutedia o trivium e o quadrivium gramaacutetica retoacuterica geometria aritmeacutetica astrologia e muacutesica (cf Adv Math I a VI) Assim sendo penso que se as etapas da exposiccedilatildeo sextiana sobre as definiccedilotildees estoicas de τέχνη apreensatildeo e alma devem ser omitidas do presente texto para natildeo entramos em uma digressatildeo que somente nos atrapalharia Mas tambeacutem acho que essas etapas natildeo devem aparecer em uma nota de rodapeacute considerando que a importacircncia de (a) e (b) acima tenha sido compreendida Assim com o maacuteximo respeito pelao peer reviwer reitero que elucidarei as etapas (1) (2) e (3) em outro artigo 8 Tribo persa

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

16 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Ou ldquofazer sexo com uma mulher em puacuteblico embora seja por noacutes considerado vergonhoso natildeo eacute considerado vergonhoso por alguns indianosrdquo (PH III 200) E aqui Sexto se lembra do Casal Crates e Hipaacuterquia em sua κυνογάmicroια

E tambeacutem ldquopara noacutes a tatuagem eacute considerada vergonhosa mas muitos egiacutepcios e saacutermatas tatuam a prolerdquo (PH III 203)

Entatildeo considerando tal diafonia nos costumes o ceacutetico ldquosuspende o juiacutezo quanto agrave existecircncia de algo bom ou mal por naturezardquo (PH III 235) e observa ἀδόξαστος a vida ordinaacuteria

Anteriormente foi dito que o escopo da natildeo-asserccedilatildeo ceacutetica satildeo proferimentos dogmaacuteticos acerca do natildeo-evidente agora eacute hora de explicar melhor o que isto significa pois ao dizer que ldquoalgueacutem evita proferimentos dogmaacuteticosrdquo isto pode incluir proferimentos dogmaacuteticos que natildeo sejam exclusivamente concernentes agraves filosofias ou agraves teacutechnai ou natildeo Ou seja haacute asserccedilotildees ou proferimentos dogmaacuteticos na vida comum

Considerando a supracitada argumentaccedilatildeo de Sexto acerca das διαφωνίαι que emergem da comparaccedilatildeo entre costumes me parece evidente que sim haacute asserccedilotildees na vida ordinaacuteria elas tambeacutem satildeo alvo da suspensatildeo ceacutetica de juiacutezo Mas isso natildeo compromete a vida pois o ceacutetico tomaria por guia as afecccedilotildees relatando o que aparece e sem a este relato conferir peso assertoacuterico Para corroborar esta argumentaccedilatildeo (que de fato eacute uma meacutedia entre a versatildeo urbana e a ruacutestica do ceticismo)9 uso um tropo de Agripa o da διαφωνία cuja descriccedilatildeo cito ldquoo baseado na diafonia eacute aquele de acordo com o qual quanto a questatildeo em discussatildeo tenha ela surgido na vida ordinaacuteria ou entre os filoacutesofos nos encontramos em um estado de indeterminaccedilatildeordquo (PH I 165)

Entatildeo a observacircncia da vida comum significa agir como agem as pessoas comuns tendo a natureza por guia sendo constrangido pelas afecccedilotildees sendo ativo em algum ofiacutecio e respeitando leis e costumes (os quatro pilares da vida ceacutetica) Contudo diferentemente dos homens comuns e tambeacutem dos filoacutesofos o ceacutetico natildeo se compromete com asserccedilotildees pois elas todas podem ser suspensas

O retorno ceacutetico agrave vida comum eacute o retorno agrave observacircncia externa de instacircncias dessa vida mas seu estado mental eacute diferente pois ele passou por um exerciacutecio participou de uma atividade (διάθεσις) dispotildee de uma capacidade (δύναmicroις) porque em algum momento adotou uma conduta uma ἀγωγή

Esta conduta pode ser reconstruiacuteda a partir da leitura do livro I das PH notadamente atraveacutes dos passos 1 4 7 12 25-31 e tambeacutem eacute apresentada ordenadamente em Contra os gramaacuteticos 6 Ela funciona do seguinte modo

1ordm- comeccedila-se com a pesquisa ζήτησις ou o exame σκέψις

9 Ver lsquoBRITO R P Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os retoacutericosrsquo In Revista Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

Rodrigo Pinto de Brito

17 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

2ordm- durante a pesquisa percebe-se um conflito (microάχη) entre asserccedilotildees 3ordm- este conflito se daacute por causa da equipolecircncia (ἰσοσθένεια) destas asserccedilotildees 4ordm- emerge a aporia 5ordm- a aporia leva a suspensatildeo do juiacutezo ou retenccedilatildeo do assentimento (ἐποχή) 6ordm- que por um acaso faz surgir a imperturbabilidade (ἀταραξία) Apoacutes a suspensatildeo estando imperturbaacutevel o ceacutetico observa natildeo-dogmaticamente e natildeo-assertoricamente a vida ordinaacuteria como dissemos alhures

vi-

Agora para finalizar gostaria de falar mais sobre no que consiste esta observaccedilatildeoobservacircncia da vida ordinaacuteria e isto nos permitiraacute voltar ao ponto do alinhamento entre pirronismo e medicina em Sexto (que chamei de lsquoarsquo mais acima) lanccedilando uma nova luz sobre o tema

Para falar desta observaccedilatildeoobservacircncia Sexto usa o verbo τηρέω que significa fazer τήρησις palavra que inicialmente possui um uso poliacutetico como por exemplo em Aristoacuteteles Pol 1308a30 significando ldquovigilacircnciardquo ldquocustoacutediardquo e ldquopreservaccedilatildeordquo

Em Sexto Empiacuterico esta semacircntica persiste assim o ceacutetico sextiano eacute marcado pela observacircncia dos costumes (daiacute os quatro pilares da vida ceacutetica que aparecem em PH I 23)

Mas tambeacutem haacute em Sexto outra semacircntica a da observaccedilatildeo enquanto componente da abordagem dos meacutedicos Empiristas conforme atestado por Galeno em Das seitas meacutedicas para os iniciantes como se poderaacute verificar na leitura da traduccedilatildeo que ofereccedilo mais abaixo Corroborando essa interpretaccedilatildeo haacute em Sexto uma breve e curiosa passagem de Contra os astroacutelogos em que ele diz que ao contraacuterio do meacutetodo Caldaico de observaccedilotildees celestes e assunccedilotildees de efeitos por conta de uma relaccedilatildeo causal natildeo-evidente entre a disposiccedilatildeo dos astros e o comportamento humano por outro lado ldquona medicina observamos que um ferimento no coraccedilatildeo eacute mortal tendo sido observada natildeo somente a morte de Diacuteon mas tambeacutem de Theacuteon e Soacutecrates e muitos outrosrdquo (Adv Ast 104 = M V 104) Vale a pena enfatizar que a ocorrecircncia do verbo τηρέω na 1ordf pessoa do plural do aoristo indicativo ativo (ἐτηρήσαmicroεν) indica que tambeacutem Sexto na medicina adotava o meacutetodo observativo

Assim a ldquoobservaccedilatildeordquo constitui uma etapa da metodologia dos Empiristas os usos locais satildeo observados e tambeacutem a evoluccedilatildeo das doenccedilas

E esta observaccedilatildeo dos usos locais para tratamentos de doenccedilas que tambeacutem pode ser entendida como observacircncia dos usos a τήρησις eacute quase inoacutecua se natildeo for acompanhada da transiccedilatildeo para o semelhante τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

18 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Pois eacute esta transiccedilatildeo que permite que algo que foi observado como eficiente em um caso X possa ser aproveitado em um caso Y desde que X e Y pareccedilam semelhantes

Entatildeo pensemos em Sexto o fato de ser cognominado Empiacuterico denota sua adesatildeo inicial agrave seita dos meacutedicos Empiristas Mas Sexto nos informa que esta seita tornara-se dogmaacutetico-negativa porque rejeitou assertivamente a possibilidade do conhecimento (como faziam os acadecircmicos) Sexto entatildeo tendo pesquisado e examinado outros grupos como os meacutedicos Racionalistas (que estavam enveredados em pesquisas sobre as etiologias natildeo-evidentes das doenccedilas e asseriam a possibilidade de conhececirc-las) deu ouvidos agraves criacuteticas feitas ao comportamento assertoacuterico negativo dos proacuteprios Empiristas que gerava uma autocontradiccedilatildeo Assim ao tornar-se liacuteder dos Empiristas alinhou a seita ainda mais explicitamente ao pirronismo evitando proferimentos dogmaacutetico-negativos e investindo em toacutepicos como lsquoobservaccedilatildeoobservacircncia dos costumesrsquo lsquonatildeo-asserccedilatildeorsquo lsquotransiccedilatildeo para o semelhantersquo Conceitos que satildeo basilares para a compreensatildeo dos modi operandi dos ceacuteticos pirrocircnicos e dos meacutedicos Empiristas ambos aperfeiccediloados por Sexto

vii- Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641-1695

De Galeno sobre as seitas10 [meacutedicas] para os iniciantes

(1641) O escopo da arte11 meacutedica eacute a sauacutede e seu fim a sua posse Eacute necessaacuterio ser sabido pelos meacutedicos como fazer a sauacutede advir quando ausente ou mantecirc-la quando presente Chama-se de (1645) medicamentos e de remeacutedios o que suscita a sauacutede quando estaacute ausente e de dietas saudaacuteveis o que manteacutem [a sauacutede] quando presente Eis porque o antigo relato12 diz que a medicina eacute a ciecircncia das coisas saudaacuteveis e das nocivas sendo chamadas saudaacuteveis as que mantecircm a sauacutede quando presente (1651) e as que a restauram quando arruinada e [sendo chamadas de] nocivas as diametralmente opostas a essas Pois o meacutedico precisa de ambos os conhecimentos para capturar uma e escapar da outra Mas natildeo haacute acordo entre todos sobre onde se encontraria (1655) o conhecimento de tais coisas mas uns dizem que somente a experiecircncia eacute suficiente para a arte outros acham que a razatildeo natildeo pouco contribui Aqueles satildeo chamados de Empiristas13 por partirem somente da

10αἵρεσις uma adesatildeo inclinaccedilatildeo ou escolha Denota partido ou grupo a seita dos que escolhem uma determinada coisa em detrimento de outra 11 τέχνη arte ou teacutecnica recorrentes como traduccedilotildees para o vocaacutebulo me parecem insuficientes e por isso prefiro lsquoofiacuteciorsquo por em uma uacutenica palavra conter semacircnticas tais como artesanato arte teacutecnica todos enquanto manejo de uma conhecimento e de uma praacutetica Contudo verti τέχνη por arte em todo o texto por questotildees estiliacutesticas Assim evitei que frases que ocorrem como ldquoo escopo da arte meacutedica eacuterdquo ocorressem como ldquoo escopo do ofiacutecio da medicina eacuterdquo por exemplo 12 Natildeo se trata aqui de λόγος enquanto razatildeo enquanto portanto mola-mestra do procedimento da seita dos Racionalistas (como se haacute de ver) mas sim simplesmente de lsquoaccountrsquo 13 Optei por grafar os nomes das seitas com maiuacutesculas ao longo de todo o texto

Rodrigo Pinto de Brito

19 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

experiecircncia14 sendo parocircnimos15 do mesmo modo os que [partem] da razatildeo (16510) de Racionalistas16 e estas satildeo as duas seitas primaacuterias da medicina A primeira parte de experimentos17 para a descoberta de medicamentos a segunda [parte da] indicaccedilatildeo E assim eles deram os nomes de Empirista e de Racionalista agraves [suas] seitas Mas usualmente a Empirista tambeacutem eacute chamada de (16515) Observante18 e de Memorativa19 e a Racionalista de Dogmaacutetica20 e de Analogiacutestica21 e semelhantemente agraves seitas os homens que escolheram22 a experiecircncia satildeo chamados de Empiristas Observantes e Memorativos dos fenocircmenos os que admitiram a razatildeo de (16520) Racionalistas Dogmaacuteticos e Analogiacutesticos

(1661) Os Empiristas dizem que a arte eacute organizada do seguinte modo Uma vez observou-se que muitas das afecccedilotildees humanas se datildeo espontaneamente tanto nos doentes quanto nos saudaacuteveis como o sangramento (1665) nasal ou a sudorese a diarreia ou outra coisa assim que trouxe dano ou vantagem de modo algum tendo uma causa produtiva23 perceptiacutevel24 Quanto agraves outras [afecccedilotildees] a causa eacute manifesta natildeo advindo por escolha nossa mas por acaso como quando ocorre que algueacutem caiu ou foi golpeado ou (16610) ferido de algum outro modo o sangue fluiu e quando na doenccedila bebeu aacutegua fria vinho ou outra coisa assim satisfazendo seu apetite cada um destes terminando em benefiacutecio

14 Apesar de ter vertido ἐmicroπειρικοί por Empiristas (e natildeo Empiacutericos) natildeo optei por verter ἐmicroπειρία por empiria mas simplesmente optei pelo proacuteprio significado da palavra Assim lsquoexperiecircnciarsquo 15 Houaiss 2001 ldquoadjsm (1858 cf MS) gram ling 1 diz-se de ou cada um dos dois ou mais vocaacutebulos que satildeo quase homocircnimos diferenciando-se ligeiramente na grafia e na pronuacutencia 11 diz-se de ou palavra cujos fonemas podem confundir-se com os de outra(s) por razotildees etimoloacutegicas ou simplesmente tocircnicas (pex deferir diferir descriccedilatildeo discriccedilatildeo emigrar imigrar etc) 12 na paronomaacutesia diz-se de cada uma das palavras fonicamente parecidas que se colocam proacuteximas uma da outra num texto Uso neste dicionaacuterio incluiacutemos entre os parocircnimos (rubrica par) os vocaacutebulos que se escrevem com as mesmas letras mas que diferem quanto agrave acentuaccedilatildeo graacutefica e ao timbre (papeacuteis [pl papel] e papeis [v papar]) para os quais tb se usa a denominaccedilatildeo de homoacutegrafos imperfeitos Etim gr parocircnumososon que tem nome parecido que deriva de outro nome ou palavra sobrenome ver par(a)- e -ocircnimo fhist 1858 paroacutenymo 1899 paroacutenimo Col paronimia paroniacutemiardquo 16 Assim como ἐmicroπειρικοί eacute vertido por Empiristas e natildeo Empiacutericos tambeacutem λογικοί eacute vertido por Racionalistas e natildeo Racionais 17 πεῖρα tentativa Mas uma vez que se trata de um meacutetodo dos Empiristas uma abordagem que pode envolver ldquotentativa-errordquo sendo essa abordagem uma espeacutecie experimento resolvi assim traduzir o vocaacutebulo ao longo de todo o texto 18 τηρητικός que parte da τήρησις (observaccedilatildeoobservacircncia) ou seja lsquoObservantersquo 19 microνηmicroονευτικός que parte da microνήmicroη (memoacuteriarememoraccedilatildeo) ou seja lsquoMemorativarsquo 20 δογmicroατικός diz-se de quem adota princiacutepios gerais teoacutericos acerca de algo contrapondo-se a uma abordagem experimental como se veraacute 21 ἀναλογιστικός diz-se de quem opera por um meacutetodo analoacutegico como se veraacute 22 Terceira pessoa do plural do aoristo indicativo meacutedio de αἱρέω escolher Daiacute o livro tratar-se de uma apresentaccedilatildeo das diferentes αἱρέσεις (escolhas adesotildees) meacutedicas 23 ποιῆσαν αἴτιον 24 αἰσθητός sensiacutevel

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

20 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ou dano [entatildeo] ao primeiro tipo de coisa beneacutefica ou danosa chamaram de natural ao segundo de casual (16615) mas em ambos os casos chama-se de incidecircncia25 a primeira visatildeo [das coisas beneacuteficas ou danosas] dando esse nome por algo incidir sobre as circunstacircncias involuntariamente Tal entatildeo eacute o tipo de experiecircncia incidental Mas haacute a impremeditada26 quando (1671) deliberadamente se tenta algo ou compelido por sonhos ou por quaisquer outras suposiccedilotildees E haacute um terceiro tipo de experiecircncia a imitativa27 quando algo beneacutefico ou danoso tanto naturalmente quanto casualmente ou (1675) impremeditadamente eacute experimentado recursivamente nas mesmas afecccedilotildees E eacute principalmente este [tipo] que constituiu sua arte pois tendo imitado natildeo somente duas ou trecircs mas muitas vezes o que causou benefiacutecio anteriormente em seguida descobriram que na maioria dos casos (16710) o produto era o mesmo nas mesmas afecccedilotildees ndash e a tal rememoraccedilatildeo28 chamaram de teorema29 jaacute considerada confiaacutevel e parte da arte Assim tendo-se coletado muitos desses teoremas por eles a totalidade da coletacircnea eacute a medicina e o coletor o meacutedico Tal coletacircnea foi chamada por eles de autoacutepsia30 sendo um tipo de rememoraccedilatildeo (16715) do que foi visto muitas vezes e do mesmo modo Mas tambeacutem chamaram essa mesma coisa de experiecircncia e a sua divulgaccedilatildeo de histoacuteria31 pois para o observador [a rememoraccedilatildeo] eacute autoacutepsia por outro lado eacute histoacuteria para quem aprende o que foi observado (1681) Mas uma vez que se deparavam com algumas doenccedilas que natildeo haviam sido vistas anteriormente ou com outras que eram conhecidas em locais nos quais natildeo havia provisatildeo de medicamentos observados por meio de experimentos criaram um instrumento para (1685) descobrir remeacutedios a transiccedilatildeo para o semelhante com ajuda da qual amiuacutede transferem o mesmo remeacutedio de afecccedilatildeo agrave afecccedilatildeo de lugar a lugar [afetado] e de um remeacutedio previamente conhecido vatildeo para um parecido De afecccedilatildeo a afecccedilatildeo (16810) como se passassem da erisipela agrave herpes de lugar a lugar [afetado] como do braccedilo agrave coxa de remeacutedio a remeacutedio como na diarreia da maccedilatilde agrave necircspera Toda essa transiccedilatildeo eacute um caminho para a descoberta mas a descoberta nunca (16815) antecede o experimento Uma vez que se colocou em experimento aquilo que se esperava jaacute eacute confiaacutevel sendo confirmado por esse [experimento] natildeo menos do que se tivesse sido observado amiuacutede e do mesmo modo A este experimento que acompanha a transiccedilatildeo para o (1691) semelhante chamam de praacutetico porque eacute preciso ser praacutetico na arte caso se pretenda descobrir algo desse modo Todos os experimentos que antecedem a experiecircncia dos quais a arte necessitava para a sua constituiccedilatildeo podem ser criados (1695) pelas pessoas comuns Tal eacute o caminho atraveacutes do experimento para [alcanccedilar] o fim da arte

25 περίπτωσις encontro 26 αὐτοσχέδιος espontacircneo improvisado 27 Ou mimeacutetica 28 microνήmicroη 29 θεώρηmicroα teoria especulaccedilatildeo intuiccedilatildeo ou algo sujeito agrave investigaccedilatildeo 30 αὐτοψία visatildeo ou percepccedilatildeo de si mesmo 31 ἱστορία investigaccedilatildeo observaccedilatildeo cientiacutefica informaccedilatildeo ou relato

Rodrigo Pinto de Brito

21 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ΓΑΛΗΝΟΥ ΠΕΡΙ ΑΙΡΕΣΕΩΝ ΤΟΙΣ ΕΙΣΑΓΟΜΕΝΟΙΣ (1641) Τῆς ἰατρικῆς τέχνης σκοπὸς microὲν ἡ ὑγίεια τέλος δ ἡ κτῆσις αὐτῆς ἐξ ὧν δ ἄν τις ἢ microὴ παροῦσαν ὑγίειαν ἐργάζοιτ ἢ παροῦσαν διαφυλάττοι γιγνώσκεσθαι microὲν ἀναγκαῖον τοῖς ἰατροῖς καλεῖται δὲ (1645) τὰ microὲν ἐργαζόmicroενα τὴν microὴ οὖσαν ὑγίειαν ἰάmicroατά τε καὶ βοηθήmicroατα τὰ δὲ φυλάττοντα τὴν οὖσαν [ὑγίειαν] ὑγιεινὰ διαιτήmicroατα ταῦτ ἄρα καὶ αὐτὴν τὴν ἰατρικὴν ἐπιστήmicroην ὑγιεινῶν καὶ νοσερῶν ὁ παλαιὸς λόγος φησίν ὑγιεινὰ microὲν καλῶν τά τε φυλάττοντα τὴν οὖσαν (1651) ὑγίειαν καὶ τὰ τὴν διεφθαρmicroένην ἀνασώζοντα νοσερὰ δὲ τἀναντία τούτων δεῖται γὰρ ἀmicroφοῖν ὁ ἰατρὸς τῆς γνώσεως ὑπὲρ τοῦ τὰ microὲν ἑλέσθαι τὰ δὲ φυγεῖν ὅθεν δ ltἂνgt τὴν τούτων ἐπιστήmicroην ἐκπορίσαιτο οὐκέθ (1655) [ὁmicroοίως] ὁmicroολογεῖται παρὰ πᾶσιν ἀλλ οἱ microὲν τὴν ἐmicroπειρίαν microόνην φασὶν ἀρκεῖν τῇ τέχνῃ τοῖς δὲ καὶ ὁ λόγος οὐ σmicroικρὰ δοκεῖ συντελεῖν ὀνοmicroάζονται δ οἱ microὲν ἀπὸ τῆς ἐmicroπειρίας microόνης ὁρmicroώmicroενοι παρωνύmicroως ἐκείνης ἐmicroπειρικοί ὁmicroοίως δὲ καὶ οἱ ἀπὸ τοῦ λόγου (16510) λογικοὶ καὶ δύο εἰσὶν αὗται πρῶται τῆς ἰατρικῆς αἱρέσεις ἡ microὲν ἑτέρα διὰ πείρας ἰοῦσα πρὸς τὴν τῶν ἰαmicroάτων εὕρεσιν ἡ δ ἑτέρα δι ἐνδείξεως καὶ ὀνόmicroατά γε ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικήν τε καὶ λογικήν καλεῖν δ εἰσὶν εἰθισmicroένοι τὴν microὲν ἐmicroπειρικὴν (16515) τηρητικήν τε καὶ microνηmicroονευτικήν τὴν δὲ λογικὴν δογmicroατικήν τε καὶ ἀναλογιστικήν καὶ τοὺς ἄνδρας ὁmicroοίως ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικοὺς microὲν καὶ τηρητικοὺς καὶ microνηmicroονευτικοὺς τῶν φαινοmicroένων ὅσοι τὴν ἐmicroπειρίαν εἵλοντο λογικοὺς δὲ καὶ δογmicroατικοὺς καὶ ἀναλογιστικούς (16520) ὅσοι τὸν λόγον προσήκαντο (1661) Συστήσασθαι δὲ τὴν τέχνην οἱ microὲν ἐmicroπειρικοὶ τόνδε τὸν τρόπον φασίν ἐπειδὴ πολλὰ τοῖς ἀνθρώποις ἑώρων πάθη τὰ microὲν ἀπὸ ταὐτοmicroάτου γιγνόmicroενα νοσοῦσί τε καὶ ὑγιαίνουσιν οἷον αἵmicroατος ῥύσιν (1665) ἐκ ῥινῶν ἢ ἱδρῶτας ἢ διαρροίας ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο βλάβην ἢ ὠφέλειαν φέρον οὐ microὴν τό γε ποιῆσαν αἴτιον αἰσθητὸν ἔχον ἕτερα δ ὧν τὸ microὲν αἴτιον ἐφαίνετ οὐ microὴν ἐκ προαιρέσεως ἡmicroετέρας ἀλλὰ κατά τινα συντυχίαν οἷον συνέβη πεσόντος τινὸς ἢ πληγέντος ἢ (16610) ἄλλως πως τρωθέντος αἷmicroα ῥυῆναι καὶ πιεῖν ἐν νόσῳ χαρισάmicroενον τῇ ἐπιθυmicroίᾳ ψυχρὸν ὕδωρ ἢ οἶνον ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο ὧν ἕκαστον εἰς ὠφέλειαν ἢ βλάβην ἐτελεύτα τὸ microὲν [οὖν] πρότερον εἶδος τῶν ὠφελούντων ἢ βλαπτόντων ἐκάλουν φυσικόν τὸ δὲ δεύτερον τυχικόν (16615) ἑκατέρου δ αὐτῶν τὴν πρώτην θέαν περίπτωσιν ὠνόmicroαζον ἀπὸ τοῦ περιπίπτειν ἀβουλήτως τοῖς πράγmicroασι τοὔνοmicroα θέmicroενοι τὸ microὲν οὖν περιπτωτικὸν εἶδος τῆς ἐmicroπειρίας τοιόνδε τί ἐστι τὸ δ αὐτοσχέδιον ὅταν (1671) ἑκόντες ἐπὶ τὸ πειράζειν ἀφίκωνται ἢ ὑπ ὀνειράτων προτραπέντες ἢ ἄλλως πως δοξάζοντες ἀλλὰ καὶ τρίτον τῆς ἐmicroπειρίας εἶδός ἐστι τὸ microιmicroητικόν ὅταν τῶν ὠφελησάντων ἢ βλαψάντων ὁτιοῦν ἢ φύσει ἢ τύχῃ ἢ (1675) αὐτοσχεδίως ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν αὖθις εἰς πεῖραν ἄγηται καὶ τοῦτ ἐστὶ τὸ microάλιστα τὴν τέχνην αὐτῶν συστησάmicroενον οὐ γὰρ δὶς microόνον ἢ τρὶς ἀλλὰ καὶ πλειστάκις microιmicroησάmicroενοι τὸ πρόσθεν ὠφελῆσαν εἶτ ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν τὸ αὐτὸ ποιοῦν εὑρίσκοντες

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

22 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ὡς ἐπὶ τὸ (16710) πολὺ τὴν τοιαύτην microνήmicroην θεώρηmicroα καλέσαντες ἤδη πιστὸν ἡγοῦνται καὶ microέρος τῆς τέχνης ὡς δὲ πολλὰ θεωρήmicroατα τοιαῦτ ἠθροίζετ αὐτοῖς ἰατρικὴ microὲν ἦν τὸ σύmicroπαν ἄθροισmicroα καὶ ὁ ἀθροίσας ἰατρός ἐκλήθη δ ὑπ αὐτῶν αὐτοψία τὸ τοιοῦτον ἄθροισmicroα microνήmicroη τις (16715) οὖσα τῶν πολλάκις καὶ ὡσαύτως ὀφθέντων ὠνόmicroαζον δ αὐτὸ τοῦτο καὶ ἐmicroπειρίαν ἱστορίαν δὲ τὴν ἐπαγγελίαν αὐτοῦ τὸ γὰρ αὐτὸ τοῦτο τῷ microὲν τηρήσαντι αὐτοψία τῷ δὲ microαθόντι τὸ τετηρηmicroένον ἱστορία ἐστίν (1681) Ἐπεὶ δὲ καὶ νοσήmicroασί τισιν ἐνετύγχανον ἔστιν ὅτε πρόσθεν οὐχ ἑωραmicroένοις ἤ τισιν ἐγνωσmicroένοις microὲν ἀλλ ἐν χωρίοις ἐν οἷς οὐκ ἦν ἰαmicroάτων εὐπορία τῶν διὰ τῆς πείρας τετηρηmicroένων ὄργανόν τι βοηθηmicroάτων εὑρετικὸν (1685) ἐποιήσαντο τὴν τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν ᾧ χρώmicroενοι πολλάκις καὶ ἀπὸ πάθους ἐπὶ πάθος [ὅmicroοιον] τὸ αὐτὸ βοήθηmicroα microεταφέρουσι καὶ ἀπὸ τόπου ἐπὶ τόπον καὶ ἀπὸ τοῦ πρόσθεν ἐγνωσmicroένου βοηθήmicroατος ἐπὶ τὸ παραπλήσιον ἔρχονται ἀπὸ microὲν πάθους ἐπὶ πάθος (16810) ὡς εἰ ἀπ ἐρυσιπέλατος ἐφ ἕρπητα microεταβαίνοιεν ἀπὸ δὲ τόπου ἐπὶ τόπον ὡς ἀπὸ βραχίονος ἐπὶ microηρόν ἀπὸ δὲ βοηθήmicroατος ἐπὶ βοήθηmicroα ὡς ἐν διαρροίαις ἀπὸ microήλου ἐπὶ microέσπιλον ἅπασα δ ἡ τοιαύτη microετάβασις ὁδὸς microέν ἐστιν ἐπὶ τὴν εὕρεσιν εὕρεσις δ οὐδέπω πρὸ (16815) τῆς πείρας ἀλλ ἡνίκ ἂν τὸ ἐλπισθὲν εἰς πεῖραν ἀχθῇ πιστὸν ἤδη τὸ microαρτυρηθὲν ὑπ αὐτῆς ἐστιν οὐδὲν ἧττον ἢ εἰ πλειστάκις καὶ ὡσαύτως ἔχον ἐτετήρητο τὴν δὲ πεῖραν ταύτην τὴν ἑποmicroένην τῇ τοῦ ὁmicroοίου (1691) microεταβάσει τριβικὴν καλοῦσιν ὅτι χρὴ τετρῖφθαι κατὰ τὴν τέχνην τὸν microέλλοντά τι οὕτως εὑρήσειν αἱ δ ἔmicroπροσθεν ἅπασαι πεῖραι αἱ πρὸ τῆς ἐmicroπειρίας ὧν εἰς σύστασιν ἐδεῖθ ἡ τέχνη καὶ περὶ τὸν τυχόντα δύνανται (1695) γενέσθαι τοιαύτη microὲν ἡ διὰ τῆς πείρας πρὸς τὸ τέλος τῆς τέχνης ὁδός

Rodrigo Pinto de Brito

23 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

viii- APEcircNDICE As trecircs seitas meacutedicas e seus principais liacutederes segundo por pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-146845

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

24 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ix- Referecircncias bibliograacuteficas BARNES J SCHOFIELD M BURNYEAT M (eds) Doubt and Dogmatism

Studies in Hellenistic Epistemology Oxford Clarendon Press 1980 BARNES J The Beliefs of a Pyrrhonist In Proceedings of the Cambridge

Philological Society ndeg28 Cambridge 1982 Pp 1-29 BOLZANI R Acadecircmicos versus Pirrocircnicos Satildeo Paulo Alameda Editorial

2013 BRITO R P de Quadros conceituais do ceticismo anterior a Sexto Empiacuterico

In Prometeus ndash Filosofia em Revista Ano 06 ndeg 12 p 121-136 2013 ____ Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua

aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os Retoacutericos In Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

____ DINUCCI A L Traduccedilatildeo e Apresentaccedilatildeo da Diatribe de Epicteto 15 In Revista de Filosofia Antiga (USP Ed portuguecircs) v 08 p 116-132 2014

BURNYEAT M F FREDE M (eds) The Original Sceptics Cambridge Hackett Publishing Company 1998

BURNYEAT M F Can the Sceptic Live his Scepticism In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 205-235

____ The Sceptic in His Place and Time In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 316-345

____ Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012

DIOacuteGENES LAEacuteRCIO Lives of eminent philosophers HICKS R D (trans) Londres William Heinemann 1975

FREDE M WALZER R (trad amp ed) Three Treatises on the Nature of Science On the Sects for Beginners An Outline of Empiricism On Medical Experience Indianapolis Hackett Publishing Company 1985

FREDE M The Skepticrsquos Beliefs In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 179-200

____ The Scepticrsquos Two Kinds of Assent and the Question of the Possibility of Knowledge In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 201-225

____ Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989

HANKINSON R J The Sceptics (the arguments of the philosophers) Londres Routledge 1995

____ (ed) The Cambridge Companion to Galen Cambridge Cambridge University Press 2008

LIDELL H G SCOTT R A Greek-English Lexicon revised and augmented throughout by Sir Henry Stuart Jones with the assistance of Roderick McKenzie Oxford Clarendon Press 1940

MARCONDES de Souza Filho D Finding Onersquos Way About High Windows Narrow Chimneys and Open Doors Wittgensteinrsquos ldquoScepticismrdquo and Philosophical Method In POPKIN R H (ed) Scepticism in the History of Philosophy Amsterdam Kluwer Academic Publishers 1996 Pp 167-179

Rodrigo Pinto de Brito

25 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

____ A ldquoFelicidaderdquo do Discurso Ceacutetico o Problema da Auto-refutaccedilatildeo do Ceticismo In O Que Nos Faz Pensar ndeg 8 1994 Pp 131-144

MATES B The Skeptic Way Sextus Empiricuss Outlines of Pyrrhonism Oxford Oxford University Press 1996

NUSSBAUM M Skeptic Purgatives Therapeutic Arguments in Ancient Skepticism In Journal of History of Philosophy volume 29 ndeg 4 1991 Pp 521-557

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os retoacutericos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2013

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os gramaacuteticos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2015

SEXTO EMPIacuteRICO Complete Works of 4 vols BURY R G (trans) In Loeb Classical Library Harvard Harvard University Press 2006

SEXTO EMPIacuteRICO Outlines of Scepticism ANNAS J BARNES J (eds) Cambridge Cambridge University Press 2000

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Ethicists BETT R (trans) Oxford Clarendon Press 1997

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Grammarians BLANK D L (trans) Oxford Clarendon Press 1998

SMITH P J Terapia e Vida Comum In Skeacutepsis ndeg 1 2007 Pp 43-67 WALBRIDGE J (trad amp ed) The Alexandrian Epitomes of Galen vol 1 On

the Medical Sects for Beginners The Small art of Medicine On the Elements According to the Opinion of Hippocrates A parallel English-Arabic text translated introduced and annotated by john Walbridge In Islamic Translation Series Utah Brigham Young University Press 2014

Page 3: [2] Rodrigo Brito - Sobre o De Sectis de Galeno e o ...philosophicalskepticism.org/wp-content/uploads/... · Galeno (129-216 d.C.) foi um autor prolífico e de suma importância para

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

10 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Afrodiacutesias e Sorano de Eacutefeso Ademais alguns como Leocircnidas de Alexandria juntaram as seitas enquanto outros eram ecleacuteticos como Arquiguenes da Apameacuteia siacuteria3

Tomando o pseudo-Galeno acima podemos dizer que a rixa que propiciou o surgimento da seita dos Empiristas entre Heroacutefilo (considerado o fundador da anatomia) e Filino de Cos ocorreu em meados do seacutec III aC Por sua vez se tomarmos Galeno Das seitas meacutedicas podemos afirmar que as disputas perduraram ateacute seu tempo ou seja meados do seacutec II a iniacutecio de III dC

Em questatildeo estavam toacutepicos como a natureza do conhecimento meacutedico se a medicina era uma ciecircncia (ἐπιστήmicroη) ndash o que a tornaria sobretudo um aporte teoacuterico ndash ou um ofiacutecio (τέχνη) ndash fazendo-a sobretudo um aporte praacutetico ndash consequentemente como deve o meacutedico se comportar em termos de diagnoacutestico e terapecircutica seguindo a natureza do conhecimento meacutedico e o aporte que defende e adere

Claro da ruptura entre Heroacutefilo e Filino ateacute Galeno cerca de 500 anos se passaram As duas seitas amadureceram suas posiccedilotildees o debate se tornou mais refinado e chegou mesmo a propiciar o surgimento dos Metoacutedicos Mas esse amadurecimento recorreu constantemente ao feacutertil campo dos argumentos originados em outras querelas que eclodiram tambeacutem na passagem do seacutec IV ao III aC entre ceacuteticos estoicos e epicuristas platocircnicos e aristoteacutelicos perdurando ateacute pelo menos a tardo-Antiguidade E assim como vemos surgir na filosofia o fenocircmeno do ecletismo consistindo na adoccedilatildeo parcial de doutrinas filosoacuteficas de diferentes escolas igualmente ocorre na medicina como exemplificado nos escritos e na posiccedilatildeo do proacuteprio Galeno (cf De libr prop I SM II p95)

Assim

Galeno tem uma tendecircncia a olhar para todo um conjunto de questotildees que ocuparam os filoacutesofos por um longo tempo e em torno das quais eles tombaram em diferentes campos como questotildees que natildeo podem ser resolvidas mas somente especuladas Galeno estava determinado a natildeo perder seu tempo com tais especulaccedilotildees Assim ele pensa que natildeo haacute sentido em tentar tomar posiccedilatildeo acerca de questotildees como a natureza de Deus a substacircncia da alma sua corporeidade e imortalidade a eternidade do mundo o nuacutemero de mundos ou se o mundo existe no vazio (Plac Hipp et Plat IX 619-9 9 CMG V 41 21576-00 In Hipp de morb ac comm I 2 CMG V 9 1 p 125 De subst nat fac Kuhn IV 762 =De sent 151 Quod animi mores 3 SM II p 36 De sent 2 Nutton) Natildeo eacute soacute que ele pensa que natildeo se pode ter total confianccedila nos pontos de vista de algueacutem sobre esses temas Ele recusa adotar qualquer ponto de vista sobre eles Uma vez que eacute exatamente em torno de questotildees desse tipo que as escolas de filosofia satildeo divididas a atitude de Galeno para com essas questotildees de algum modo explica sua recusa em identificar-se com qualquer uma das escolas

3 A traduccedilatildeo eacute de WALBRIDGE 2014 p 208

Rodrigo Pinto de Brito

11 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Sem duacutevida essa atitude eacute o resultado da influecircncia do ceticismo Mas () Galeno era bastante impressionado pelas ciecircncias matemaacuteticas para desprezar a habilidade da razatildeo com relaccedilatildeo a verdades teoreacuteticas De modo que estava tambeacutem convencido de que grandes aacutereas da filosofia eram imunes agrave seacuteria duacutevida ceacutetica suficientemente a ponto de ser capaz de desenvolver uma loacutegica uma teoria fiacutesica (no sentido de uma teoria da natureza em geral) e uma teoria moral4

iii-

Eacute chegado o momento de argumentar pela utilidade de Galeno para a compreensatildeo do ceticismo de Sexto Empiacuterico e tambeacutem de demonstrar alguns problemas em torno dessa hipoacutetese

Basicamente a utilidade de outra fonte primaacuteria para referecircncia cruzada externa agrave obra de Sexto eacute que considerando a lacuna que haacute acerca de Sexto poderiacuteamos compreender melhor o impacto causado por sua obra ndash vasta quando comparada com o estado fragmentaacuterio das obras de outros filoacutesofos do mesmo periacuteodo ndash e a motivaccedilatildeo subjacente agrave sua escrita Para tal poderiacuteamos usar o pseudo-Galeno supracitado As epiacutetomes alexandrinas a Galeno ou Dioacutegenes Laeacutercio que explicitamente mencionam Sexto algo que Galeno natildeo faz

Contudo pseudo-Galeno por ser um autor desconhecido e que natildeo possui todo um corpus escrito pode ser muito difiacutecil de situar agravando ainda mais o estado aporeacutetico de coisas As epiacutetomes alexandrinas por sua vez satildeo um resumo que sobrepotildee o galecircnico Das seitas meacutedicas ao pseudo-galecircnico Introductio seu medicus e se argumentamos que pseudo-Galeno natildeo nos esclareceria com relaccedilatildeo agraves Epiacutetomes alexandrinas resta o outro material primaacuterio que foi utilizado pelo epitomista cristatildeo de liacutengua aacuterabe Hunayn ibn Ishaq (809-873) Das seitas meacutedicas de Galeno

Finalmente resta a duvidosa cronologia oferecida por Dioacutegenes Laeacutercio (DL IX 116) Mas o contexto literaacuterio interno agrave DL eacute quase que totalmente filosoacutefico biograacutefico e anedoacutetico quase nunca meacutedico e apesar de Dioacutegenes nos confirmar a ligaccedilatildeo de Sexto com a seita Empirista de medicina assim como fazem pseudo-Galeno e Hunayn ibn Ishaq natildeo nos diz nada sobre o que seria tal seita meacutedica seus fundamentos teoacutericos e procedimentos metodoloacutegicos

Desse modo ainda que natildeo mencione Sexto Empiacuterico Das seitas meacutedicas segue sendo uma das melhores obras para se entender a seita Empirista5 a qual Sexto se liga conforme atestado pelas trecircs outras fontes pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-146845 DL IX 116 As epiacutetomes alexandrinas a Galeno De Sectis 4

O principal problema da hipoacutetese de que se deve usar Das seitas meacutedicas para se entender melhor a obra de Sexto especificamente as partes aqui traduzidas e que versam sobre a seita dos Empiristas eacute que as evidecircncias internas a esta obra desqualificam a ligaccedilatildeo de Sexto com os

4 FREDE 1985 p xviii 5 Ao lado de De experientia medica e Esboccedilo de empirismo (esta existente somente em sua versatildeo latina)

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

12 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Empiristas Ou seja o proacuteprio Sexto explicitamente rejeita a ligaccedilatildeo entre sua versatildeo do pirronismo e os Empiristas (PH I 236-241) De fato segundo Sexto o Metodismo aproximar-se-ia muito mais do pirronismo por sua postura natildeo-assertoacuterica na medida em que os Empiristas asseririam a inapreensibilidade do natildeo-evidente Os Empiristas satildeo assim criticados pela mesma razatildeo que Sexto critica os acadecircmicos na ceacutelebre distinccedilatildeo entre o comportamento do ceacutetico o dos dogmaacuteticos e o dos acadecircmicos em PH I1 ao passo que os dogmaacuteticos pensam que descobriram a verdade acadecircmicos rejeitam que ela possa ser descoberta o ceacutetico por seu turno continua investigando

Mas talvez as criacuteticas de Sexto aos Empiristas sejam mais do que um quebra-cabeccedilas desconcertante pois podem ser tratadas como evidecircncias bastante elucidativas assim

1- Sexto critica os Empiristas por seu dogmatismo negativo que os faz parecerem acadecircmicos ao inveacutes de pirrocircnicos Isso natildeo seria problemaacutetico se natildeo fosse um certo tipo de ldquodeserccedilatildeordquo dos Empiristas com relaccedilatildeo ao pirronismo Interpretaccedilatildeo que corroboraria a hipoacutetese de que apoacutes o revival do pirronismo com Enesidemo houve uma espeacutecie de desenvolvimento simbioacutetico do neopirronismo e do Empirismo

2- Eacute precisamente por caminharem mais ou menos paralelamente que a posiccedilatildeo dos pirrocircnicos foi confundida com a posiccedilatildeo dogmaacutetica negativa dos Empiristas propiciando as criacuteticas contra o pirronismo de que este conduziria a uma vida impossiacutevel de ser vivida na praacutetica e mais tarde a necessidade de Sexto de claramente demarcar as diferenccedilas entre a postura do pirrocircnico e a dogmaacutetico-negativa dos acadecircmicos e Empiristas

3- Os debates constantes dos Empiristas contra os Racionalistas fizeram com que os primeiros recaiacutessem numa postura radicalmente anti-teoreacutetica autocontraditoacuteria e que em uacuteltima instacircncia impedia o proacuteprio avanccedilo da medicina Enquanto isso apesar da simbiose com os Empiristas o pirronismo seguiu desenvolvendo-se como uma possibilidade coerente de abordagem da filosofia

4- Ainda que tenha sido treinado meacutedico entre Empiristas sob Menodoto eacute devido ao seu comportamento ceacutetico e natildeo-assertoacuterico que Sexto foi capaz de elaborar uma criacutetica aberta agrave proacutepria seita Empirista E vindo a ser o sucessor de Menodoto na lideranccedila da seita teria conseguido alinhaacute-la melhor ao pirronismo evitando os passos dogmaacutetico-negativos que seu mestre havia dado em direccedilatildeo agrave rejeiccedilatildeo da possibilidade racional da nosologia por exemplo Eacute neste sentido que se deve entender a afirmaccedilatildeo de pseudo-Galeno de que Sexto levou a seita Empirista agrave perfeiccedilatildeo pois a ela deu a coerecircncia que faltava sob Menodoto assim como fez com o pirronismo

iv-

Os quatro argumentos dispostos logo acima tratam a dyacutenamis ceacutetica e a medicina como dois tipos de atividades que podem ser exercidas sem contradizerem-se Mas isso natildeo eacute auto-evidente e precisa ser argumentado Ademais o problema pode ser ainda mais agravado pelo fato de que o alinhamento que Sexto faz entre medicina e pirronismo poder gerar uma espeacutecie de terapecircutica ceacutetica fazendo assim emergir a seguinte questatildeo

Rodrigo Pinto de Brito

13 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ldquopode o ceacutetico prescrever o ceticismo assim como se indicaria abdominais um copo de aacutegua ou a rememoraccedilatildeo noturna antes de dormirrdquo

Nas linhas seguintes vou tentar lidar com as duas questotildees a- a do alinhamento entre pirronismo e medicina em Sexto b- a de um alinhamento tal que gere uma terapecircutica ceacutetica Considero que a questatildeo lsquobrsquo seja um desenvolvimento da lsquoarsquo mas por questotildees internas agrave minha argumentaccedilatildeo comeccedilarei pela lsquobrsquo

v-

Para Sexto o problema central do comportamento dogmaacutetico eacute o compromisso assertoacuterico ou seja a necessidade de emitir proferimentos que afirmem algo (como fizeram estoicos peripateacuteticos ou os Racionalistas de seu tempo ao afirmarem por exemplo a apreensibilidade κατάληψις) bem como proferimentos que rejeitem algo (como fizeram os acadecircmicos e os Empiristas de seu tempo ao rejeitarem por exemplo a possibilidade da apreensatildeo ἀκαταληψία)

O ceacutetico por seu turno possuiria um uso dos termos e da linguagem de modo natildeo-dogmaacutetico (ἀδόξαστος) e com sentido indiferente (ἀδιάφορος) Isto significa que o ceacutetico joga um jogo de linguagem diferente em que pode evitar fazer com que seu discurso pareccedila conter asserccedilotildees peremptoacuterias sobre toacutepicos como verdadefalsidade ou apreensibilidadeinapreensibilidade Este jogo eacute o da ἀφασία ceacutetica ou natildeo-asserccedilatildeo

Assim Sexto se expressa acerca da questatildeo Sobre a ἀφασία dizemos o seguinte o termo asserccedilatildeo (φάσις) tem dois sentidos um geral e outro especiacutefico usado no sentido geral indica afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo () no sentido especial indica somente afirmaccedilatildeo () A ἀφασία entatildeo eacute a evitaccedilatildeo da asserccedilatildeo no sentido geral no qual eacute dito incluiacuterem-se tanto a afirmaccedilatildeo quanto a negaccedilatildeo entatildeo a ἀφασία eacute um πάθος (afecccedilatildeo) nosso por meio do qual recusamos tanto afirmar quanto negar (PH I 192)

Sexto enfatiza que a natildeo-asserccedilatildeo natildeo eacute resultado do modo como as coisas satildeo em si mesmas ie ela natildeo revela uma indeterminaccedilatildeo que estaria nas proacuteprias coisas mas ela exprime o πάθος proacuteprio do ceacutetico Ele enfatiza tambeacutem que o escopo da natildeo-asserccedilatildeo satildeo proferimentos dogmaacuteticos acerca do natildeo-evidente6

Mas por outro lado sem se importar com o valor de verdadefalsidade das asserccedilotildees

lto ceacuteticogt entrega-se agraves coisas que nos movem de acordo com o paacutethos e que nos levam necessariamente (ἀναγκαστικῶς =

6 Mais tarde voltarei a este ponto porque eacute preciso explicar melhor o que isto significa pois dizer que ldquose evitam proferimentos dogmaacuteticosrdquo pode incluir ou natildeo proferimentos dogmaacuteticos que natildeo sejam exclusivamente concernentes agraves filosofias ou agraves teacutechnai

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

14 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

compulsoriamente coercitivamente) ao assentimento (PH I 193)

E para deixar claro seu descompromisso assertoacuterico o ceacutetico usa uma seacuterie de foacutermulas como ldquonatildeo maisrdquo (οὐ microᾶλλον) ldquotalvezrdquo (τάχα) ldquopossivelmenterdquo (ἔξεστι) ldquonada determinordquo (οὐδὲν ὁρίζω) e principalmente ldquome parece querdquo ou ldquoparece-nosrdquo (φαίνεσθαι ἡmicroῖν) Assim em vez de estar constatando como as coisas satildeo ou natildeo o ceacutetico estaacute declarando como as coisas aparecem por isso Sexto diz que os ceacuteticos ἀπαγγέλλοmicroεν (ou seja declaram anunciam) como as coisas a eles se apresentam (PH I 4)

Agora voltando agrave pergunta inicial (lsquobrsquo) sobre se o ceacutetico prescreve o ceticismo me parece que Sexto Empiacuterico sendo meacutedico estaria apto a dizer que sim pois ldquoo ceacutetico sendo filantropo quer curar pelo discurso a arrogacircncia e a precipitaccedilatildeo dos dogmaacuteticosrdquo (PH III 280) E claramente nos eacute dito em seguida que os argumentos ceacuteticos satildeo como remeacutedios uns fortes ndash para os fortemente enfermos ndash outros brandos para aqueles cuja enfermidade eacute branda

Isso faz emergir uma pergunta o ceacutetico toma por ponto de partida que o dogmatismo eacute ruim em si e por isso deve ser curado No momento natildeo tenho uma resposta para isso ainda mais tendo em vista a ausecircncia de exemplos onde poderia haver um tratamento da questatildeo nos termos em que se coloca Assim nesse ponto natildeo tenho como rejeitar que possa haver um dogmatismo impliacutecito na declaraccedilatildeo sextiana de que os dogmaacuteticos sofrem Mas este dogmatismo somente haveria se entendermos que em alguma instacircncia haacute uma afirmaccedilatildeo ou seja que a declaraccedilatildeo aqui porta-se como uma asserccedilatildeo

Outra pergunta que pode surgir agora que argumentei que o ceacutetico pode indicar e mesmo ministrar doses de ceticismo eacute se ele natildeo estaria sendo dogmaacutetico ao fazecirc-lo A resposta eacute que natildeo necessariamente pois posso dizer ldquome parece querdquo ou ldquotalvezrdquo ldquoabdominais um copo de aacutegua ou a rememoraccedilatildeo noturna faccedilam bemrdquo e isto eacute totalmente diferente de asserir ldquorealmenterdquo ldquoeacute verdade querdquo ldquoabdominais copos drsquoaacutegua e rememoraccedilatildeo noturna faratildeo bemrdquo ou ainda ldquorealmenterdquo ldquoeacute verdade querdquo ldquoabdominais copos drsquoaacutegua e rememoraccedilatildeo noturna natildeo faratildeo bemrdquo

O ceacutetico entatildeo poderia dizer ldquome parece que talvez neste caso de acordo com a minha experiecircncia dever-se-ia adotar uma conduta X para chegar a Yrdquo E isso natildeo eacute dogmatizar pois eacute oposto a dizer por exemplo ldquode fato dever-se-ia necessariamente agir de acordo com o criteacuterio X para derradeiramente operar de acordo com uma conduta que o faccedila atingir αrdquo (onde X pode ser ldquosentidosrdquo ou ldquorazatildeordquo e α pode ser ldquoexcelecircnciardquo ou ldquosabedoriardquo)

Faccedilamos uma recapitulaccedilatildeo A pergunta que nos direcionou nesta seccedilatildeo do texto foi sobre a possibilidade de se indicar o ceticismo enquanto terapia Para responder passamos por analogias meacutedicas primeiramente a apresentada a partir de PH I 236 Isto por sua vez nos permitiu pensar o dogmatismo enquanto postura assertoacuterica (positiva ou negativa) e sobre o significado da ἀφασία no ceticismo sextiano

Rodrigo Pinto de Brito

15 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Depois passamos agraves analogias meacutedicas presentes em PH III 280 o que nos levou ao problema do possiacutevel dogmatismo impliacutecito em uma eventual assunccedilatildeo de um mal dogmaacutetico (para o qual natildeo ofereci resposta) e tambeacutem ao problema do dogmatismo impliacutecito no proacuteprio receituaacuterio de argumentos ceacuteticos problema este que foi sanado atraveacutes justamente da concepccedilatildeo sextiana de ἀφασία que reduz o caraacuteter assertoacuterico do proferimento ceacutetico de modo que o ceacutetico pode aconselhar algo que pareccedila curar sem que isto recaia em um proferimento dogmaacutetico ndash aquele que tem compromisso com a verdadefalsidade

Mas isso nos leva a outra questatildeo o ceticismo eacute uma teacutechne ou seja uma arte da vida Esta pergunta por sua vez faz com que nos voltemos para a parte eacutetica da filosofia que eacute tratada por Sexto Empiacuterico em Adv Eth (ou M XI) e tambeacutem PHIII 168 que se relaciona diretamente com Adv Eth Especialmente importante eacute a discussatildeo que se segue apoacutes PH III 188 em que Sexto remete-se agrave noccedilatildeo de τέχνη περὶ βίον (ou lsquoarte acerca da vidarsquo)

O argumento sextiano dirige-se 1) agrave definiccedilatildeo estoica de τέχνη como ldquosistema composto por apreensotildees exercidas em conjuntordquo 2) agrave concepccedilatildeo estoica de apreensatildeo 3) agrave concepccedilatildeo estoica de alma que eacute contraposta agrave concepccedilatildeo platocircnica

Mas essas trecircs supracitadas etapas da argumentaccedilatildeo sextiana satildeo complexas por si soacutes e para serem devidamente tratadas seria necessaacuterio outro texto7 O que me interessa de fato eacute a argumentaccedilatildeo que vem depois que comeccedila em PH III 190 e que objeta que natildeo parece haver algo que seja naturalmente bom e que seja entatildeo um τέλος moral

Do mesmo modo natildeo parece haver um mal e nem indiferentes tendo em vista as divergecircncias sobre isto existentes entre filoacutesofos mas tambeacutem entre pessoas ordinaacuterias em seus costumes e convenccedilotildees Por exemplo diz-nos Sexto ldquoentre noacutes a sodomia eacute considerada vergonhosa ou mesmo ilegal mas entre os germacircnios8 eacute vista natildeo somente como natildeo vergonhosa mas mesmo como habitualrdquo (PH III 199)

7 AO peer reviewer deste texto a quem sou muito grato sugeriu que aqui eu fizesse uma nota explicando ou ao menos explicitando as etapas (1) (2) e (3) da exposiccedilatildeo sextiana que menciono no paraacutegrafo imediatamente acima Concordo plenamente que tal explicaccedilatildeo deva ser dada mas penso que seja inoportuno fazecirc-lo aqui tanto no corpo do texto quanto numa nota de rodapeacute O motivo eacute simples trata-se de uma discussatildeo muito cara natildeo somente para estudiosos do ceticismo mas tambeacutem para os estoicos pois nos permite entender (a) o desenvolvimento da Stoaacute enquanto sistema em geral e (b) enquanto fundamentaccedilatildeo teoacuterica para seis das sete artes que viriam a compor na Idade Meacutedia o trivium e o quadrivium gramaacutetica retoacuterica geometria aritmeacutetica astrologia e muacutesica (cf Adv Math I a VI) Assim sendo penso que se as etapas da exposiccedilatildeo sextiana sobre as definiccedilotildees estoicas de τέχνη apreensatildeo e alma devem ser omitidas do presente texto para natildeo entramos em uma digressatildeo que somente nos atrapalharia Mas tambeacutem acho que essas etapas natildeo devem aparecer em uma nota de rodapeacute considerando que a importacircncia de (a) e (b) acima tenha sido compreendida Assim com o maacuteximo respeito pelao peer reviwer reitero que elucidarei as etapas (1) (2) e (3) em outro artigo 8 Tribo persa

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

16 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Ou ldquofazer sexo com uma mulher em puacuteblico embora seja por noacutes considerado vergonhoso natildeo eacute considerado vergonhoso por alguns indianosrdquo (PH III 200) E aqui Sexto se lembra do Casal Crates e Hipaacuterquia em sua κυνογάmicroια

E tambeacutem ldquopara noacutes a tatuagem eacute considerada vergonhosa mas muitos egiacutepcios e saacutermatas tatuam a prolerdquo (PH III 203)

Entatildeo considerando tal diafonia nos costumes o ceacutetico ldquosuspende o juiacutezo quanto agrave existecircncia de algo bom ou mal por naturezardquo (PH III 235) e observa ἀδόξαστος a vida ordinaacuteria

Anteriormente foi dito que o escopo da natildeo-asserccedilatildeo ceacutetica satildeo proferimentos dogmaacuteticos acerca do natildeo-evidente agora eacute hora de explicar melhor o que isto significa pois ao dizer que ldquoalgueacutem evita proferimentos dogmaacuteticosrdquo isto pode incluir proferimentos dogmaacuteticos que natildeo sejam exclusivamente concernentes agraves filosofias ou agraves teacutechnai ou natildeo Ou seja haacute asserccedilotildees ou proferimentos dogmaacuteticos na vida comum

Considerando a supracitada argumentaccedilatildeo de Sexto acerca das διαφωνίαι que emergem da comparaccedilatildeo entre costumes me parece evidente que sim haacute asserccedilotildees na vida ordinaacuteria elas tambeacutem satildeo alvo da suspensatildeo ceacutetica de juiacutezo Mas isso natildeo compromete a vida pois o ceacutetico tomaria por guia as afecccedilotildees relatando o que aparece e sem a este relato conferir peso assertoacuterico Para corroborar esta argumentaccedilatildeo (que de fato eacute uma meacutedia entre a versatildeo urbana e a ruacutestica do ceticismo)9 uso um tropo de Agripa o da διαφωνία cuja descriccedilatildeo cito ldquoo baseado na diafonia eacute aquele de acordo com o qual quanto a questatildeo em discussatildeo tenha ela surgido na vida ordinaacuteria ou entre os filoacutesofos nos encontramos em um estado de indeterminaccedilatildeordquo (PH I 165)

Entatildeo a observacircncia da vida comum significa agir como agem as pessoas comuns tendo a natureza por guia sendo constrangido pelas afecccedilotildees sendo ativo em algum ofiacutecio e respeitando leis e costumes (os quatro pilares da vida ceacutetica) Contudo diferentemente dos homens comuns e tambeacutem dos filoacutesofos o ceacutetico natildeo se compromete com asserccedilotildees pois elas todas podem ser suspensas

O retorno ceacutetico agrave vida comum eacute o retorno agrave observacircncia externa de instacircncias dessa vida mas seu estado mental eacute diferente pois ele passou por um exerciacutecio participou de uma atividade (διάθεσις) dispotildee de uma capacidade (δύναmicroις) porque em algum momento adotou uma conduta uma ἀγωγή

Esta conduta pode ser reconstruiacuteda a partir da leitura do livro I das PH notadamente atraveacutes dos passos 1 4 7 12 25-31 e tambeacutem eacute apresentada ordenadamente em Contra os gramaacuteticos 6 Ela funciona do seguinte modo

1ordm- comeccedila-se com a pesquisa ζήτησις ou o exame σκέψις

9 Ver lsquoBRITO R P Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os retoacutericosrsquo In Revista Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

Rodrigo Pinto de Brito

17 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

2ordm- durante a pesquisa percebe-se um conflito (microάχη) entre asserccedilotildees 3ordm- este conflito se daacute por causa da equipolecircncia (ἰσοσθένεια) destas asserccedilotildees 4ordm- emerge a aporia 5ordm- a aporia leva a suspensatildeo do juiacutezo ou retenccedilatildeo do assentimento (ἐποχή) 6ordm- que por um acaso faz surgir a imperturbabilidade (ἀταραξία) Apoacutes a suspensatildeo estando imperturbaacutevel o ceacutetico observa natildeo-dogmaticamente e natildeo-assertoricamente a vida ordinaacuteria como dissemos alhures

vi-

Agora para finalizar gostaria de falar mais sobre no que consiste esta observaccedilatildeoobservacircncia da vida ordinaacuteria e isto nos permitiraacute voltar ao ponto do alinhamento entre pirronismo e medicina em Sexto (que chamei de lsquoarsquo mais acima) lanccedilando uma nova luz sobre o tema

Para falar desta observaccedilatildeoobservacircncia Sexto usa o verbo τηρέω que significa fazer τήρησις palavra que inicialmente possui um uso poliacutetico como por exemplo em Aristoacuteteles Pol 1308a30 significando ldquovigilacircnciardquo ldquocustoacutediardquo e ldquopreservaccedilatildeordquo

Em Sexto Empiacuterico esta semacircntica persiste assim o ceacutetico sextiano eacute marcado pela observacircncia dos costumes (daiacute os quatro pilares da vida ceacutetica que aparecem em PH I 23)

Mas tambeacutem haacute em Sexto outra semacircntica a da observaccedilatildeo enquanto componente da abordagem dos meacutedicos Empiristas conforme atestado por Galeno em Das seitas meacutedicas para os iniciantes como se poderaacute verificar na leitura da traduccedilatildeo que ofereccedilo mais abaixo Corroborando essa interpretaccedilatildeo haacute em Sexto uma breve e curiosa passagem de Contra os astroacutelogos em que ele diz que ao contraacuterio do meacutetodo Caldaico de observaccedilotildees celestes e assunccedilotildees de efeitos por conta de uma relaccedilatildeo causal natildeo-evidente entre a disposiccedilatildeo dos astros e o comportamento humano por outro lado ldquona medicina observamos que um ferimento no coraccedilatildeo eacute mortal tendo sido observada natildeo somente a morte de Diacuteon mas tambeacutem de Theacuteon e Soacutecrates e muitos outrosrdquo (Adv Ast 104 = M V 104) Vale a pena enfatizar que a ocorrecircncia do verbo τηρέω na 1ordf pessoa do plural do aoristo indicativo ativo (ἐτηρήσαmicroεν) indica que tambeacutem Sexto na medicina adotava o meacutetodo observativo

Assim a ldquoobservaccedilatildeordquo constitui uma etapa da metodologia dos Empiristas os usos locais satildeo observados e tambeacutem a evoluccedilatildeo das doenccedilas

E esta observaccedilatildeo dos usos locais para tratamentos de doenccedilas que tambeacutem pode ser entendida como observacircncia dos usos a τήρησις eacute quase inoacutecua se natildeo for acompanhada da transiccedilatildeo para o semelhante τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

18 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Pois eacute esta transiccedilatildeo que permite que algo que foi observado como eficiente em um caso X possa ser aproveitado em um caso Y desde que X e Y pareccedilam semelhantes

Entatildeo pensemos em Sexto o fato de ser cognominado Empiacuterico denota sua adesatildeo inicial agrave seita dos meacutedicos Empiristas Mas Sexto nos informa que esta seita tornara-se dogmaacutetico-negativa porque rejeitou assertivamente a possibilidade do conhecimento (como faziam os acadecircmicos) Sexto entatildeo tendo pesquisado e examinado outros grupos como os meacutedicos Racionalistas (que estavam enveredados em pesquisas sobre as etiologias natildeo-evidentes das doenccedilas e asseriam a possibilidade de conhececirc-las) deu ouvidos agraves criacuteticas feitas ao comportamento assertoacuterico negativo dos proacuteprios Empiristas que gerava uma autocontradiccedilatildeo Assim ao tornar-se liacuteder dos Empiristas alinhou a seita ainda mais explicitamente ao pirronismo evitando proferimentos dogmaacutetico-negativos e investindo em toacutepicos como lsquoobservaccedilatildeoobservacircncia dos costumesrsquo lsquonatildeo-asserccedilatildeorsquo lsquotransiccedilatildeo para o semelhantersquo Conceitos que satildeo basilares para a compreensatildeo dos modi operandi dos ceacuteticos pirrocircnicos e dos meacutedicos Empiristas ambos aperfeiccediloados por Sexto

vii- Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641-1695

De Galeno sobre as seitas10 [meacutedicas] para os iniciantes

(1641) O escopo da arte11 meacutedica eacute a sauacutede e seu fim a sua posse Eacute necessaacuterio ser sabido pelos meacutedicos como fazer a sauacutede advir quando ausente ou mantecirc-la quando presente Chama-se de (1645) medicamentos e de remeacutedios o que suscita a sauacutede quando estaacute ausente e de dietas saudaacuteveis o que manteacutem [a sauacutede] quando presente Eis porque o antigo relato12 diz que a medicina eacute a ciecircncia das coisas saudaacuteveis e das nocivas sendo chamadas saudaacuteveis as que mantecircm a sauacutede quando presente (1651) e as que a restauram quando arruinada e [sendo chamadas de] nocivas as diametralmente opostas a essas Pois o meacutedico precisa de ambos os conhecimentos para capturar uma e escapar da outra Mas natildeo haacute acordo entre todos sobre onde se encontraria (1655) o conhecimento de tais coisas mas uns dizem que somente a experiecircncia eacute suficiente para a arte outros acham que a razatildeo natildeo pouco contribui Aqueles satildeo chamados de Empiristas13 por partirem somente da

10αἵρεσις uma adesatildeo inclinaccedilatildeo ou escolha Denota partido ou grupo a seita dos que escolhem uma determinada coisa em detrimento de outra 11 τέχνη arte ou teacutecnica recorrentes como traduccedilotildees para o vocaacutebulo me parecem insuficientes e por isso prefiro lsquoofiacuteciorsquo por em uma uacutenica palavra conter semacircnticas tais como artesanato arte teacutecnica todos enquanto manejo de uma conhecimento e de uma praacutetica Contudo verti τέχνη por arte em todo o texto por questotildees estiliacutesticas Assim evitei que frases que ocorrem como ldquoo escopo da arte meacutedica eacuterdquo ocorressem como ldquoo escopo do ofiacutecio da medicina eacuterdquo por exemplo 12 Natildeo se trata aqui de λόγος enquanto razatildeo enquanto portanto mola-mestra do procedimento da seita dos Racionalistas (como se haacute de ver) mas sim simplesmente de lsquoaccountrsquo 13 Optei por grafar os nomes das seitas com maiuacutesculas ao longo de todo o texto

Rodrigo Pinto de Brito

19 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

experiecircncia14 sendo parocircnimos15 do mesmo modo os que [partem] da razatildeo (16510) de Racionalistas16 e estas satildeo as duas seitas primaacuterias da medicina A primeira parte de experimentos17 para a descoberta de medicamentos a segunda [parte da] indicaccedilatildeo E assim eles deram os nomes de Empirista e de Racionalista agraves [suas] seitas Mas usualmente a Empirista tambeacutem eacute chamada de (16515) Observante18 e de Memorativa19 e a Racionalista de Dogmaacutetica20 e de Analogiacutestica21 e semelhantemente agraves seitas os homens que escolheram22 a experiecircncia satildeo chamados de Empiristas Observantes e Memorativos dos fenocircmenos os que admitiram a razatildeo de (16520) Racionalistas Dogmaacuteticos e Analogiacutesticos

(1661) Os Empiristas dizem que a arte eacute organizada do seguinte modo Uma vez observou-se que muitas das afecccedilotildees humanas se datildeo espontaneamente tanto nos doentes quanto nos saudaacuteveis como o sangramento (1665) nasal ou a sudorese a diarreia ou outra coisa assim que trouxe dano ou vantagem de modo algum tendo uma causa produtiva23 perceptiacutevel24 Quanto agraves outras [afecccedilotildees] a causa eacute manifesta natildeo advindo por escolha nossa mas por acaso como quando ocorre que algueacutem caiu ou foi golpeado ou (16610) ferido de algum outro modo o sangue fluiu e quando na doenccedila bebeu aacutegua fria vinho ou outra coisa assim satisfazendo seu apetite cada um destes terminando em benefiacutecio

14 Apesar de ter vertido ἐmicroπειρικοί por Empiristas (e natildeo Empiacutericos) natildeo optei por verter ἐmicroπειρία por empiria mas simplesmente optei pelo proacuteprio significado da palavra Assim lsquoexperiecircnciarsquo 15 Houaiss 2001 ldquoadjsm (1858 cf MS) gram ling 1 diz-se de ou cada um dos dois ou mais vocaacutebulos que satildeo quase homocircnimos diferenciando-se ligeiramente na grafia e na pronuacutencia 11 diz-se de ou palavra cujos fonemas podem confundir-se com os de outra(s) por razotildees etimoloacutegicas ou simplesmente tocircnicas (pex deferir diferir descriccedilatildeo discriccedilatildeo emigrar imigrar etc) 12 na paronomaacutesia diz-se de cada uma das palavras fonicamente parecidas que se colocam proacuteximas uma da outra num texto Uso neste dicionaacuterio incluiacutemos entre os parocircnimos (rubrica par) os vocaacutebulos que se escrevem com as mesmas letras mas que diferem quanto agrave acentuaccedilatildeo graacutefica e ao timbre (papeacuteis [pl papel] e papeis [v papar]) para os quais tb se usa a denominaccedilatildeo de homoacutegrafos imperfeitos Etim gr parocircnumososon que tem nome parecido que deriva de outro nome ou palavra sobrenome ver par(a)- e -ocircnimo fhist 1858 paroacutenymo 1899 paroacutenimo Col paronimia paroniacutemiardquo 16 Assim como ἐmicroπειρικοί eacute vertido por Empiristas e natildeo Empiacutericos tambeacutem λογικοί eacute vertido por Racionalistas e natildeo Racionais 17 πεῖρα tentativa Mas uma vez que se trata de um meacutetodo dos Empiristas uma abordagem que pode envolver ldquotentativa-errordquo sendo essa abordagem uma espeacutecie experimento resolvi assim traduzir o vocaacutebulo ao longo de todo o texto 18 τηρητικός que parte da τήρησις (observaccedilatildeoobservacircncia) ou seja lsquoObservantersquo 19 microνηmicroονευτικός que parte da microνήmicroη (memoacuteriarememoraccedilatildeo) ou seja lsquoMemorativarsquo 20 δογmicroατικός diz-se de quem adota princiacutepios gerais teoacutericos acerca de algo contrapondo-se a uma abordagem experimental como se veraacute 21 ἀναλογιστικός diz-se de quem opera por um meacutetodo analoacutegico como se veraacute 22 Terceira pessoa do plural do aoristo indicativo meacutedio de αἱρέω escolher Daiacute o livro tratar-se de uma apresentaccedilatildeo das diferentes αἱρέσεις (escolhas adesotildees) meacutedicas 23 ποιῆσαν αἴτιον 24 αἰσθητός sensiacutevel

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

20 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ou dano [entatildeo] ao primeiro tipo de coisa beneacutefica ou danosa chamaram de natural ao segundo de casual (16615) mas em ambos os casos chama-se de incidecircncia25 a primeira visatildeo [das coisas beneacuteficas ou danosas] dando esse nome por algo incidir sobre as circunstacircncias involuntariamente Tal entatildeo eacute o tipo de experiecircncia incidental Mas haacute a impremeditada26 quando (1671) deliberadamente se tenta algo ou compelido por sonhos ou por quaisquer outras suposiccedilotildees E haacute um terceiro tipo de experiecircncia a imitativa27 quando algo beneacutefico ou danoso tanto naturalmente quanto casualmente ou (1675) impremeditadamente eacute experimentado recursivamente nas mesmas afecccedilotildees E eacute principalmente este [tipo] que constituiu sua arte pois tendo imitado natildeo somente duas ou trecircs mas muitas vezes o que causou benefiacutecio anteriormente em seguida descobriram que na maioria dos casos (16710) o produto era o mesmo nas mesmas afecccedilotildees ndash e a tal rememoraccedilatildeo28 chamaram de teorema29 jaacute considerada confiaacutevel e parte da arte Assim tendo-se coletado muitos desses teoremas por eles a totalidade da coletacircnea eacute a medicina e o coletor o meacutedico Tal coletacircnea foi chamada por eles de autoacutepsia30 sendo um tipo de rememoraccedilatildeo (16715) do que foi visto muitas vezes e do mesmo modo Mas tambeacutem chamaram essa mesma coisa de experiecircncia e a sua divulgaccedilatildeo de histoacuteria31 pois para o observador [a rememoraccedilatildeo] eacute autoacutepsia por outro lado eacute histoacuteria para quem aprende o que foi observado (1681) Mas uma vez que se deparavam com algumas doenccedilas que natildeo haviam sido vistas anteriormente ou com outras que eram conhecidas em locais nos quais natildeo havia provisatildeo de medicamentos observados por meio de experimentos criaram um instrumento para (1685) descobrir remeacutedios a transiccedilatildeo para o semelhante com ajuda da qual amiuacutede transferem o mesmo remeacutedio de afecccedilatildeo agrave afecccedilatildeo de lugar a lugar [afetado] e de um remeacutedio previamente conhecido vatildeo para um parecido De afecccedilatildeo a afecccedilatildeo (16810) como se passassem da erisipela agrave herpes de lugar a lugar [afetado] como do braccedilo agrave coxa de remeacutedio a remeacutedio como na diarreia da maccedilatilde agrave necircspera Toda essa transiccedilatildeo eacute um caminho para a descoberta mas a descoberta nunca (16815) antecede o experimento Uma vez que se colocou em experimento aquilo que se esperava jaacute eacute confiaacutevel sendo confirmado por esse [experimento] natildeo menos do que se tivesse sido observado amiuacutede e do mesmo modo A este experimento que acompanha a transiccedilatildeo para o (1691) semelhante chamam de praacutetico porque eacute preciso ser praacutetico na arte caso se pretenda descobrir algo desse modo Todos os experimentos que antecedem a experiecircncia dos quais a arte necessitava para a sua constituiccedilatildeo podem ser criados (1695) pelas pessoas comuns Tal eacute o caminho atraveacutes do experimento para [alcanccedilar] o fim da arte

25 περίπτωσις encontro 26 αὐτοσχέδιος espontacircneo improvisado 27 Ou mimeacutetica 28 microνήmicroη 29 θεώρηmicroα teoria especulaccedilatildeo intuiccedilatildeo ou algo sujeito agrave investigaccedilatildeo 30 αὐτοψία visatildeo ou percepccedilatildeo de si mesmo 31 ἱστορία investigaccedilatildeo observaccedilatildeo cientiacutefica informaccedilatildeo ou relato

Rodrigo Pinto de Brito

21 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ΓΑΛΗΝΟΥ ΠΕΡΙ ΑΙΡΕΣΕΩΝ ΤΟΙΣ ΕΙΣΑΓΟΜΕΝΟΙΣ (1641) Τῆς ἰατρικῆς τέχνης σκοπὸς microὲν ἡ ὑγίεια τέλος δ ἡ κτῆσις αὐτῆς ἐξ ὧν δ ἄν τις ἢ microὴ παροῦσαν ὑγίειαν ἐργάζοιτ ἢ παροῦσαν διαφυλάττοι γιγνώσκεσθαι microὲν ἀναγκαῖον τοῖς ἰατροῖς καλεῖται δὲ (1645) τὰ microὲν ἐργαζόmicroενα τὴν microὴ οὖσαν ὑγίειαν ἰάmicroατά τε καὶ βοηθήmicroατα τὰ δὲ φυλάττοντα τὴν οὖσαν [ὑγίειαν] ὑγιεινὰ διαιτήmicroατα ταῦτ ἄρα καὶ αὐτὴν τὴν ἰατρικὴν ἐπιστήmicroην ὑγιεινῶν καὶ νοσερῶν ὁ παλαιὸς λόγος φησίν ὑγιεινὰ microὲν καλῶν τά τε φυλάττοντα τὴν οὖσαν (1651) ὑγίειαν καὶ τὰ τὴν διεφθαρmicroένην ἀνασώζοντα νοσερὰ δὲ τἀναντία τούτων δεῖται γὰρ ἀmicroφοῖν ὁ ἰατρὸς τῆς γνώσεως ὑπὲρ τοῦ τὰ microὲν ἑλέσθαι τὰ δὲ φυγεῖν ὅθεν δ ltἂνgt τὴν τούτων ἐπιστήmicroην ἐκπορίσαιτο οὐκέθ (1655) [ὁmicroοίως] ὁmicroολογεῖται παρὰ πᾶσιν ἀλλ οἱ microὲν τὴν ἐmicroπειρίαν microόνην φασὶν ἀρκεῖν τῇ τέχνῃ τοῖς δὲ καὶ ὁ λόγος οὐ σmicroικρὰ δοκεῖ συντελεῖν ὀνοmicroάζονται δ οἱ microὲν ἀπὸ τῆς ἐmicroπειρίας microόνης ὁρmicroώmicroενοι παρωνύmicroως ἐκείνης ἐmicroπειρικοί ὁmicroοίως δὲ καὶ οἱ ἀπὸ τοῦ λόγου (16510) λογικοὶ καὶ δύο εἰσὶν αὗται πρῶται τῆς ἰατρικῆς αἱρέσεις ἡ microὲν ἑτέρα διὰ πείρας ἰοῦσα πρὸς τὴν τῶν ἰαmicroάτων εὕρεσιν ἡ δ ἑτέρα δι ἐνδείξεως καὶ ὀνόmicroατά γε ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικήν τε καὶ λογικήν καλεῖν δ εἰσὶν εἰθισmicroένοι τὴν microὲν ἐmicroπειρικὴν (16515) τηρητικήν τε καὶ microνηmicroονευτικήν τὴν δὲ λογικὴν δογmicroατικήν τε καὶ ἀναλογιστικήν καὶ τοὺς ἄνδρας ὁmicroοίως ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικοὺς microὲν καὶ τηρητικοὺς καὶ microνηmicroονευτικοὺς τῶν φαινοmicroένων ὅσοι τὴν ἐmicroπειρίαν εἵλοντο λογικοὺς δὲ καὶ δογmicroατικοὺς καὶ ἀναλογιστικούς (16520) ὅσοι τὸν λόγον προσήκαντο (1661) Συστήσασθαι δὲ τὴν τέχνην οἱ microὲν ἐmicroπειρικοὶ τόνδε τὸν τρόπον φασίν ἐπειδὴ πολλὰ τοῖς ἀνθρώποις ἑώρων πάθη τὰ microὲν ἀπὸ ταὐτοmicroάτου γιγνόmicroενα νοσοῦσί τε καὶ ὑγιαίνουσιν οἷον αἵmicroατος ῥύσιν (1665) ἐκ ῥινῶν ἢ ἱδρῶτας ἢ διαρροίας ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο βλάβην ἢ ὠφέλειαν φέρον οὐ microὴν τό γε ποιῆσαν αἴτιον αἰσθητὸν ἔχον ἕτερα δ ὧν τὸ microὲν αἴτιον ἐφαίνετ οὐ microὴν ἐκ προαιρέσεως ἡmicroετέρας ἀλλὰ κατά τινα συντυχίαν οἷον συνέβη πεσόντος τινὸς ἢ πληγέντος ἢ (16610) ἄλλως πως τρωθέντος αἷmicroα ῥυῆναι καὶ πιεῖν ἐν νόσῳ χαρισάmicroενον τῇ ἐπιθυmicroίᾳ ψυχρὸν ὕδωρ ἢ οἶνον ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο ὧν ἕκαστον εἰς ὠφέλειαν ἢ βλάβην ἐτελεύτα τὸ microὲν [οὖν] πρότερον εἶδος τῶν ὠφελούντων ἢ βλαπτόντων ἐκάλουν φυσικόν τὸ δὲ δεύτερον τυχικόν (16615) ἑκατέρου δ αὐτῶν τὴν πρώτην θέαν περίπτωσιν ὠνόmicroαζον ἀπὸ τοῦ περιπίπτειν ἀβουλήτως τοῖς πράγmicroασι τοὔνοmicroα θέmicroενοι τὸ microὲν οὖν περιπτωτικὸν εἶδος τῆς ἐmicroπειρίας τοιόνδε τί ἐστι τὸ δ αὐτοσχέδιον ὅταν (1671) ἑκόντες ἐπὶ τὸ πειράζειν ἀφίκωνται ἢ ὑπ ὀνειράτων προτραπέντες ἢ ἄλλως πως δοξάζοντες ἀλλὰ καὶ τρίτον τῆς ἐmicroπειρίας εἶδός ἐστι τὸ microιmicroητικόν ὅταν τῶν ὠφελησάντων ἢ βλαψάντων ὁτιοῦν ἢ φύσει ἢ τύχῃ ἢ (1675) αὐτοσχεδίως ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν αὖθις εἰς πεῖραν ἄγηται καὶ τοῦτ ἐστὶ τὸ microάλιστα τὴν τέχνην αὐτῶν συστησάmicroενον οὐ γὰρ δὶς microόνον ἢ τρὶς ἀλλὰ καὶ πλειστάκις microιmicroησάmicroενοι τὸ πρόσθεν ὠφελῆσαν εἶτ ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν τὸ αὐτὸ ποιοῦν εὑρίσκοντες

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

22 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ὡς ἐπὶ τὸ (16710) πολὺ τὴν τοιαύτην microνήmicroην θεώρηmicroα καλέσαντες ἤδη πιστὸν ἡγοῦνται καὶ microέρος τῆς τέχνης ὡς δὲ πολλὰ θεωρήmicroατα τοιαῦτ ἠθροίζετ αὐτοῖς ἰατρικὴ microὲν ἦν τὸ σύmicroπαν ἄθροισmicroα καὶ ὁ ἀθροίσας ἰατρός ἐκλήθη δ ὑπ αὐτῶν αὐτοψία τὸ τοιοῦτον ἄθροισmicroα microνήmicroη τις (16715) οὖσα τῶν πολλάκις καὶ ὡσαύτως ὀφθέντων ὠνόmicroαζον δ αὐτὸ τοῦτο καὶ ἐmicroπειρίαν ἱστορίαν δὲ τὴν ἐπαγγελίαν αὐτοῦ τὸ γὰρ αὐτὸ τοῦτο τῷ microὲν τηρήσαντι αὐτοψία τῷ δὲ microαθόντι τὸ τετηρηmicroένον ἱστορία ἐστίν (1681) Ἐπεὶ δὲ καὶ νοσήmicroασί τισιν ἐνετύγχανον ἔστιν ὅτε πρόσθεν οὐχ ἑωραmicroένοις ἤ τισιν ἐγνωσmicroένοις microὲν ἀλλ ἐν χωρίοις ἐν οἷς οὐκ ἦν ἰαmicroάτων εὐπορία τῶν διὰ τῆς πείρας τετηρηmicroένων ὄργανόν τι βοηθηmicroάτων εὑρετικὸν (1685) ἐποιήσαντο τὴν τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν ᾧ χρώmicroενοι πολλάκις καὶ ἀπὸ πάθους ἐπὶ πάθος [ὅmicroοιον] τὸ αὐτὸ βοήθηmicroα microεταφέρουσι καὶ ἀπὸ τόπου ἐπὶ τόπον καὶ ἀπὸ τοῦ πρόσθεν ἐγνωσmicroένου βοηθήmicroατος ἐπὶ τὸ παραπλήσιον ἔρχονται ἀπὸ microὲν πάθους ἐπὶ πάθος (16810) ὡς εἰ ἀπ ἐρυσιπέλατος ἐφ ἕρπητα microεταβαίνοιεν ἀπὸ δὲ τόπου ἐπὶ τόπον ὡς ἀπὸ βραχίονος ἐπὶ microηρόν ἀπὸ δὲ βοηθήmicroατος ἐπὶ βοήθηmicroα ὡς ἐν διαρροίαις ἀπὸ microήλου ἐπὶ microέσπιλον ἅπασα δ ἡ τοιαύτη microετάβασις ὁδὸς microέν ἐστιν ἐπὶ τὴν εὕρεσιν εὕρεσις δ οὐδέπω πρὸ (16815) τῆς πείρας ἀλλ ἡνίκ ἂν τὸ ἐλπισθὲν εἰς πεῖραν ἀχθῇ πιστὸν ἤδη τὸ microαρτυρηθὲν ὑπ αὐτῆς ἐστιν οὐδὲν ἧττον ἢ εἰ πλειστάκις καὶ ὡσαύτως ἔχον ἐτετήρητο τὴν δὲ πεῖραν ταύτην τὴν ἑποmicroένην τῇ τοῦ ὁmicroοίου (1691) microεταβάσει τριβικὴν καλοῦσιν ὅτι χρὴ τετρῖφθαι κατὰ τὴν τέχνην τὸν microέλλοντά τι οὕτως εὑρήσειν αἱ δ ἔmicroπροσθεν ἅπασαι πεῖραι αἱ πρὸ τῆς ἐmicroπειρίας ὧν εἰς σύστασιν ἐδεῖθ ἡ τέχνη καὶ περὶ τὸν τυχόντα δύνανται (1695) γενέσθαι τοιαύτη microὲν ἡ διὰ τῆς πείρας πρὸς τὸ τέλος τῆς τέχνης ὁδός

Rodrigo Pinto de Brito

23 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

viii- APEcircNDICE As trecircs seitas meacutedicas e seus principais liacutederes segundo por pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-146845

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

24 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ix- Referecircncias bibliograacuteficas BARNES J SCHOFIELD M BURNYEAT M (eds) Doubt and Dogmatism

Studies in Hellenistic Epistemology Oxford Clarendon Press 1980 BARNES J The Beliefs of a Pyrrhonist In Proceedings of the Cambridge

Philological Society ndeg28 Cambridge 1982 Pp 1-29 BOLZANI R Acadecircmicos versus Pirrocircnicos Satildeo Paulo Alameda Editorial

2013 BRITO R P de Quadros conceituais do ceticismo anterior a Sexto Empiacuterico

In Prometeus ndash Filosofia em Revista Ano 06 ndeg 12 p 121-136 2013 ____ Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua

aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os Retoacutericos In Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

____ DINUCCI A L Traduccedilatildeo e Apresentaccedilatildeo da Diatribe de Epicteto 15 In Revista de Filosofia Antiga (USP Ed portuguecircs) v 08 p 116-132 2014

BURNYEAT M F FREDE M (eds) The Original Sceptics Cambridge Hackett Publishing Company 1998

BURNYEAT M F Can the Sceptic Live his Scepticism In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 205-235

____ The Sceptic in His Place and Time In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 316-345

____ Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012

DIOacuteGENES LAEacuteRCIO Lives of eminent philosophers HICKS R D (trans) Londres William Heinemann 1975

FREDE M WALZER R (trad amp ed) Three Treatises on the Nature of Science On the Sects for Beginners An Outline of Empiricism On Medical Experience Indianapolis Hackett Publishing Company 1985

FREDE M The Skepticrsquos Beliefs In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 179-200

____ The Scepticrsquos Two Kinds of Assent and the Question of the Possibility of Knowledge In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 201-225

____ Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989

HANKINSON R J The Sceptics (the arguments of the philosophers) Londres Routledge 1995

____ (ed) The Cambridge Companion to Galen Cambridge Cambridge University Press 2008

LIDELL H G SCOTT R A Greek-English Lexicon revised and augmented throughout by Sir Henry Stuart Jones with the assistance of Roderick McKenzie Oxford Clarendon Press 1940

MARCONDES de Souza Filho D Finding Onersquos Way About High Windows Narrow Chimneys and Open Doors Wittgensteinrsquos ldquoScepticismrdquo and Philosophical Method In POPKIN R H (ed) Scepticism in the History of Philosophy Amsterdam Kluwer Academic Publishers 1996 Pp 167-179

Rodrigo Pinto de Brito

25 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

____ A ldquoFelicidaderdquo do Discurso Ceacutetico o Problema da Auto-refutaccedilatildeo do Ceticismo In O Que Nos Faz Pensar ndeg 8 1994 Pp 131-144

MATES B The Skeptic Way Sextus Empiricuss Outlines of Pyrrhonism Oxford Oxford University Press 1996

NUSSBAUM M Skeptic Purgatives Therapeutic Arguments in Ancient Skepticism In Journal of History of Philosophy volume 29 ndeg 4 1991 Pp 521-557

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os retoacutericos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2013

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os gramaacuteticos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2015

SEXTO EMPIacuteRICO Complete Works of 4 vols BURY R G (trans) In Loeb Classical Library Harvard Harvard University Press 2006

SEXTO EMPIacuteRICO Outlines of Scepticism ANNAS J BARNES J (eds) Cambridge Cambridge University Press 2000

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Ethicists BETT R (trans) Oxford Clarendon Press 1997

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Grammarians BLANK D L (trans) Oxford Clarendon Press 1998

SMITH P J Terapia e Vida Comum In Skeacutepsis ndeg 1 2007 Pp 43-67 WALBRIDGE J (trad amp ed) The Alexandrian Epitomes of Galen vol 1 On

the Medical Sects for Beginners The Small art of Medicine On the Elements According to the Opinion of Hippocrates A parallel English-Arabic text translated introduced and annotated by john Walbridge In Islamic Translation Series Utah Brigham Young University Press 2014

Page 4: [2] Rodrigo Brito - Sobre o De Sectis de Galeno e o ...philosophicalskepticism.org/wp-content/uploads/... · Galeno (129-216 d.C.) foi um autor prolífico e de suma importância para

Rodrigo Pinto de Brito

11 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Sem duacutevida essa atitude eacute o resultado da influecircncia do ceticismo Mas () Galeno era bastante impressionado pelas ciecircncias matemaacuteticas para desprezar a habilidade da razatildeo com relaccedilatildeo a verdades teoreacuteticas De modo que estava tambeacutem convencido de que grandes aacutereas da filosofia eram imunes agrave seacuteria duacutevida ceacutetica suficientemente a ponto de ser capaz de desenvolver uma loacutegica uma teoria fiacutesica (no sentido de uma teoria da natureza em geral) e uma teoria moral4

iii-

Eacute chegado o momento de argumentar pela utilidade de Galeno para a compreensatildeo do ceticismo de Sexto Empiacuterico e tambeacutem de demonstrar alguns problemas em torno dessa hipoacutetese

Basicamente a utilidade de outra fonte primaacuteria para referecircncia cruzada externa agrave obra de Sexto eacute que considerando a lacuna que haacute acerca de Sexto poderiacuteamos compreender melhor o impacto causado por sua obra ndash vasta quando comparada com o estado fragmentaacuterio das obras de outros filoacutesofos do mesmo periacuteodo ndash e a motivaccedilatildeo subjacente agrave sua escrita Para tal poderiacuteamos usar o pseudo-Galeno supracitado As epiacutetomes alexandrinas a Galeno ou Dioacutegenes Laeacutercio que explicitamente mencionam Sexto algo que Galeno natildeo faz

Contudo pseudo-Galeno por ser um autor desconhecido e que natildeo possui todo um corpus escrito pode ser muito difiacutecil de situar agravando ainda mais o estado aporeacutetico de coisas As epiacutetomes alexandrinas por sua vez satildeo um resumo que sobrepotildee o galecircnico Das seitas meacutedicas ao pseudo-galecircnico Introductio seu medicus e se argumentamos que pseudo-Galeno natildeo nos esclareceria com relaccedilatildeo agraves Epiacutetomes alexandrinas resta o outro material primaacuterio que foi utilizado pelo epitomista cristatildeo de liacutengua aacuterabe Hunayn ibn Ishaq (809-873) Das seitas meacutedicas de Galeno

Finalmente resta a duvidosa cronologia oferecida por Dioacutegenes Laeacutercio (DL IX 116) Mas o contexto literaacuterio interno agrave DL eacute quase que totalmente filosoacutefico biograacutefico e anedoacutetico quase nunca meacutedico e apesar de Dioacutegenes nos confirmar a ligaccedilatildeo de Sexto com a seita Empirista de medicina assim como fazem pseudo-Galeno e Hunayn ibn Ishaq natildeo nos diz nada sobre o que seria tal seita meacutedica seus fundamentos teoacutericos e procedimentos metodoloacutegicos

Desse modo ainda que natildeo mencione Sexto Empiacuterico Das seitas meacutedicas segue sendo uma das melhores obras para se entender a seita Empirista5 a qual Sexto se liga conforme atestado pelas trecircs outras fontes pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-146845 DL IX 116 As epiacutetomes alexandrinas a Galeno De Sectis 4

O principal problema da hipoacutetese de que se deve usar Das seitas meacutedicas para se entender melhor a obra de Sexto especificamente as partes aqui traduzidas e que versam sobre a seita dos Empiristas eacute que as evidecircncias internas a esta obra desqualificam a ligaccedilatildeo de Sexto com os

4 FREDE 1985 p xviii 5 Ao lado de De experientia medica e Esboccedilo de empirismo (esta existente somente em sua versatildeo latina)

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

12 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Empiristas Ou seja o proacuteprio Sexto explicitamente rejeita a ligaccedilatildeo entre sua versatildeo do pirronismo e os Empiristas (PH I 236-241) De fato segundo Sexto o Metodismo aproximar-se-ia muito mais do pirronismo por sua postura natildeo-assertoacuterica na medida em que os Empiristas asseririam a inapreensibilidade do natildeo-evidente Os Empiristas satildeo assim criticados pela mesma razatildeo que Sexto critica os acadecircmicos na ceacutelebre distinccedilatildeo entre o comportamento do ceacutetico o dos dogmaacuteticos e o dos acadecircmicos em PH I1 ao passo que os dogmaacuteticos pensam que descobriram a verdade acadecircmicos rejeitam que ela possa ser descoberta o ceacutetico por seu turno continua investigando

Mas talvez as criacuteticas de Sexto aos Empiristas sejam mais do que um quebra-cabeccedilas desconcertante pois podem ser tratadas como evidecircncias bastante elucidativas assim

1- Sexto critica os Empiristas por seu dogmatismo negativo que os faz parecerem acadecircmicos ao inveacutes de pirrocircnicos Isso natildeo seria problemaacutetico se natildeo fosse um certo tipo de ldquodeserccedilatildeordquo dos Empiristas com relaccedilatildeo ao pirronismo Interpretaccedilatildeo que corroboraria a hipoacutetese de que apoacutes o revival do pirronismo com Enesidemo houve uma espeacutecie de desenvolvimento simbioacutetico do neopirronismo e do Empirismo

2- Eacute precisamente por caminharem mais ou menos paralelamente que a posiccedilatildeo dos pirrocircnicos foi confundida com a posiccedilatildeo dogmaacutetica negativa dos Empiristas propiciando as criacuteticas contra o pirronismo de que este conduziria a uma vida impossiacutevel de ser vivida na praacutetica e mais tarde a necessidade de Sexto de claramente demarcar as diferenccedilas entre a postura do pirrocircnico e a dogmaacutetico-negativa dos acadecircmicos e Empiristas

3- Os debates constantes dos Empiristas contra os Racionalistas fizeram com que os primeiros recaiacutessem numa postura radicalmente anti-teoreacutetica autocontraditoacuteria e que em uacuteltima instacircncia impedia o proacuteprio avanccedilo da medicina Enquanto isso apesar da simbiose com os Empiristas o pirronismo seguiu desenvolvendo-se como uma possibilidade coerente de abordagem da filosofia

4- Ainda que tenha sido treinado meacutedico entre Empiristas sob Menodoto eacute devido ao seu comportamento ceacutetico e natildeo-assertoacuterico que Sexto foi capaz de elaborar uma criacutetica aberta agrave proacutepria seita Empirista E vindo a ser o sucessor de Menodoto na lideranccedila da seita teria conseguido alinhaacute-la melhor ao pirronismo evitando os passos dogmaacutetico-negativos que seu mestre havia dado em direccedilatildeo agrave rejeiccedilatildeo da possibilidade racional da nosologia por exemplo Eacute neste sentido que se deve entender a afirmaccedilatildeo de pseudo-Galeno de que Sexto levou a seita Empirista agrave perfeiccedilatildeo pois a ela deu a coerecircncia que faltava sob Menodoto assim como fez com o pirronismo

iv-

Os quatro argumentos dispostos logo acima tratam a dyacutenamis ceacutetica e a medicina como dois tipos de atividades que podem ser exercidas sem contradizerem-se Mas isso natildeo eacute auto-evidente e precisa ser argumentado Ademais o problema pode ser ainda mais agravado pelo fato de que o alinhamento que Sexto faz entre medicina e pirronismo poder gerar uma espeacutecie de terapecircutica ceacutetica fazendo assim emergir a seguinte questatildeo

Rodrigo Pinto de Brito

13 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ldquopode o ceacutetico prescrever o ceticismo assim como se indicaria abdominais um copo de aacutegua ou a rememoraccedilatildeo noturna antes de dormirrdquo

Nas linhas seguintes vou tentar lidar com as duas questotildees a- a do alinhamento entre pirronismo e medicina em Sexto b- a de um alinhamento tal que gere uma terapecircutica ceacutetica Considero que a questatildeo lsquobrsquo seja um desenvolvimento da lsquoarsquo mas por questotildees internas agrave minha argumentaccedilatildeo comeccedilarei pela lsquobrsquo

v-

Para Sexto o problema central do comportamento dogmaacutetico eacute o compromisso assertoacuterico ou seja a necessidade de emitir proferimentos que afirmem algo (como fizeram estoicos peripateacuteticos ou os Racionalistas de seu tempo ao afirmarem por exemplo a apreensibilidade κατάληψις) bem como proferimentos que rejeitem algo (como fizeram os acadecircmicos e os Empiristas de seu tempo ao rejeitarem por exemplo a possibilidade da apreensatildeo ἀκαταληψία)

O ceacutetico por seu turno possuiria um uso dos termos e da linguagem de modo natildeo-dogmaacutetico (ἀδόξαστος) e com sentido indiferente (ἀδιάφορος) Isto significa que o ceacutetico joga um jogo de linguagem diferente em que pode evitar fazer com que seu discurso pareccedila conter asserccedilotildees peremptoacuterias sobre toacutepicos como verdadefalsidade ou apreensibilidadeinapreensibilidade Este jogo eacute o da ἀφασία ceacutetica ou natildeo-asserccedilatildeo

Assim Sexto se expressa acerca da questatildeo Sobre a ἀφασία dizemos o seguinte o termo asserccedilatildeo (φάσις) tem dois sentidos um geral e outro especiacutefico usado no sentido geral indica afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo () no sentido especial indica somente afirmaccedilatildeo () A ἀφασία entatildeo eacute a evitaccedilatildeo da asserccedilatildeo no sentido geral no qual eacute dito incluiacuterem-se tanto a afirmaccedilatildeo quanto a negaccedilatildeo entatildeo a ἀφασία eacute um πάθος (afecccedilatildeo) nosso por meio do qual recusamos tanto afirmar quanto negar (PH I 192)

Sexto enfatiza que a natildeo-asserccedilatildeo natildeo eacute resultado do modo como as coisas satildeo em si mesmas ie ela natildeo revela uma indeterminaccedilatildeo que estaria nas proacuteprias coisas mas ela exprime o πάθος proacuteprio do ceacutetico Ele enfatiza tambeacutem que o escopo da natildeo-asserccedilatildeo satildeo proferimentos dogmaacuteticos acerca do natildeo-evidente6

Mas por outro lado sem se importar com o valor de verdadefalsidade das asserccedilotildees

lto ceacuteticogt entrega-se agraves coisas que nos movem de acordo com o paacutethos e que nos levam necessariamente (ἀναγκαστικῶς =

6 Mais tarde voltarei a este ponto porque eacute preciso explicar melhor o que isto significa pois dizer que ldquose evitam proferimentos dogmaacuteticosrdquo pode incluir ou natildeo proferimentos dogmaacuteticos que natildeo sejam exclusivamente concernentes agraves filosofias ou agraves teacutechnai

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

14 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

compulsoriamente coercitivamente) ao assentimento (PH I 193)

E para deixar claro seu descompromisso assertoacuterico o ceacutetico usa uma seacuterie de foacutermulas como ldquonatildeo maisrdquo (οὐ microᾶλλον) ldquotalvezrdquo (τάχα) ldquopossivelmenterdquo (ἔξεστι) ldquonada determinordquo (οὐδὲν ὁρίζω) e principalmente ldquome parece querdquo ou ldquoparece-nosrdquo (φαίνεσθαι ἡmicroῖν) Assim em vez de estar constatando como as coisas satildeo ou natildeo o ceacutetico estaacute declarando como as coisas aparecem por isso Sexto diz que os ceacuteticos ἀπαγγέλλοmicroεν (ou seja declaram anunciam) como as coisas a eles se apresentam (PH I 4)

Agora voltando agrave pergunta inicial (lsquobrsquo) sobre se o ceacutetico prescreve o ceticismo me parece que Sexto Empiacuterico sendo meacutedico estaria apto a dizer que sim pois ldquoo ceacutetico sendo filantropo quer curar pelo discurso a arrogacircncia e a precipitaccedilatildeo dos dogmaacuteticosrdquo (PH III 280) E claramente nos eacute dito em seguida que os argumentos ceacuteticos satildeo como remeacutedios uns fortes ndash para os fortemente enfermos ndash outros brandos para aqueles cuja enfermidade eacute branda

Isso faz emergir uma pergunta o ceacutetico toma por ponto de partida que o dogmatismo eacute ruim em si e por isso deve ser curado No momento natildeo tenho uma resposta para isso ainda mais tendo em vista a ausecircncia de exemplos onde poderia haver um tratamento da questatildeo nos termos em que se coloca Assim nesse ponto natildeo tenho como rejeitar que possa haver um dogmatismo impliacutecito na declaraccedilatildeo sextiana de que os dogmaacuteticos sofrem Mas este dogmatismo somente haveria se entendermos que em alguma instacircncia haacute uma afirmaccedilatildeo ou seja que a declaraccedilatildeo aqui porta-se como uma asserccedilatildeo

Outra pergunta que pode surgir agora que argumentei que o ceacutetico pode indicar e mesmo ministrar doses de ceticismo eacute se ele natildeo estaria sendo dogmaacutetico ao fazecirc-lo A resposta eacute que natildeo necessariamente pois posso dizer ldquome parece querdquo ou ldquotalvezrdquo ldquoabdominais um copo de aacutegua ou a rememoraccedilatildeo noturna faccedilam bemrdquo e isto eacute totalmente diferente de asserir ldquorealmenterdquo ldquoeacute verdade querdquo ldquoabdominais copos drsquoaacutegua e rememoraccedilatildeo noturna faratildeo bemrdquo ou ainda ldquorealmenterdquo ldquoeacute verdade querdquo ldquoabdominais copos drsquoaacutegua e rememoraccedilatildeo noturna natildeo faratildeo bemrdquo

O ceacutetico entatildeo poderia dizer ldquome parece que talvez neste caso de acordo com a minha experiecircncia dever-se-ia adotar uma conduta X para chegar a Yrdquo E isso natildeo eacute dogmatizar pois eacute oposto a dizer por exemplo ldquode fato dever-se-ia necessariamente agir de acordo com o criteacuterio X para derradeiramente operar de acordo com uma conduta que o faccedila atingir αrdquo (onde X pode ser ldquosentidosrdquo ou ldquorazatildeordquo e α pode ser ldquoexcelecircnciardquo ou ldquosabedoriardquo)

Faccedilamos uma recapitulaccedilatildeo A pergunta que nos direcionou nesta seccedilatildeo do texto foi sobre a possibilidade de se indicar o ceticismo enquanto terapia Para responder passamos por analogias meacutedicas primeiramente a apresentada a partir de PH I 236 Isto por sua vez nos permitiu pensar o dogmatismo enquanto postura assertoacuterica (positiva ou negativa) e sobre o significado da ἀφασία no ceticismo sextiano

Rodrigo Pinto de Brito

15 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Depois passamos agraves analogias meacutedicas presentes em PH III 280 o que nos levou ao problema do possiacutevel dogmatismo impliacutecito em uma eventual assunccedilatildeo de um mal dogmaacutetico (para o qual natildeo ofereci resposta) e tambeacutem ao problema do dogmatismo impliacutecito no proacuteprio receituaacuterio de argumentos ceacuteticos problema este que foi sanado atraveacutes justamente da concepccedilatildeo sextiana de ἀφασία que reduz o caraacuteter assertoacuterico do proferimento ceacutetico de modo que o ceacutetico pode aconselhar algo que pareccedila curar sem que isto recaia em um proferimento dogmaacutetico ndash aquele que tem compromisso com a verdadefalsidade

Mas isso nos leva a outra questatildeo o ceticismo eacute uma teacutechne ou seja uma arte da vida Esta pergunta por sua vez faz com que nos voltemos para a parte eacutetica da filosofia que eacute tratada por Sexto Empiacuterico em Adv Eth (ou M XI) e tambeacutem PHIII 168 que se relaciona diretamente com Adv Eth Especialmente importante eacute a discussatildeo que se segue apoacutes PH III 188 em que Sexto remete-se agrave noccedilatildeo de τέχνη περὶ βίον (ou lsquoarte acerca da vidarsquo)

O argumento sextiano dirige-se 1) agrave definiccedilatildeo estoica de τέχνη como ldquosistema composto por apreensotildees exercidas em conjuntordquo 2) agrave concepccedilatildeo estoica de apreensatildeo 3) agrave concepccedilatildeo estoica de alma que eacute contraposta agrave concepccedilatildeo platocircnica

Mas essas trecircs supracitadas etapas da argumentaccedilatildeo sextiana satildeo complexas por si soacutes e para serem devidamente tratadas seria necessaacuterio outro texto7 O que me interessa de fato eacute a argumentaccedilatildeo que vem depois que comeccedila em PH III 190 e que objeta que natildeo parece haver algo que seja naturalmente bom e que seja entatildeo um τέλος moral

Do mesmo modo natildeo parece haver um mal e nem indiferentes tendo em vista as divergecircncias sobre isto existentes entre filoacutesofos mas tambeacutem entre pessoas ordinaacuterias em seus costumes e convenccedilotildees Por exemplo diz-nos Sexto ldquoentre noacutes a sodomia eacute considerada vergonhosa ou mesmo ilegal mas entre os germacircnios8 eacute vista natildeo somente como natildeo vergonhosa mas mesmo como habitualrdquo (PH III 199)

7 AO peer reviewer deste texto a quem sou muito grato sugeriu que aqui eu fizesse uma nota explicando ou ao menos explicitando as etapas (1) (2) e (3) da exposiccedilatildeo sextiana que menciono no paraacutegrafo imediatamente acima Concordo plenamente que tal explicaccedilatildeo deva ser dada mas penso que seja inoportuno fazecirc-lo aqui tanto no corpo do texto quanto numa nota de rodapeacute O motivo eacute simples trata-se de uma discussatildeo muito cara natildeo somente para estudiosos do ceticismo mas tambeacutem para os estoicos pois nos permite entender (a) o desenvolvimento da Stoaacute enquanto sistema em geral e (b) enquanto fundamentaccedilatildeo teoacuterica para seis das sete artes que viriam a compor na Idade Meacutedia o trivium e o quadrivium gramaacutetica retoacuterica geometria aritmeacutetica astrologia e muacutesica (cf Adv Math I a VI) Assim sendo penso que se as etapas da exposiccedilatildeo sextiana sobre as definiccedilotildees estoicas de τέχνη apreensatildeo e alma devem ser omitidas do presente texto para natildeo entramos em uma digressatildeo que somente nos atrapalharia Mas tambeacutem acho que essas etapas natildeo devem aparecer em uma nota de rodapeacute considerando que a importacircncia de (a) e (b) acima tenha sido compreendida Assim com o maacuteximo respeito pelao peer reviwer reitero que elucidarei as etapas (1) (2) e (3) em outro artigo 8 Tribo persa

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

16 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Ou ldquofazer sexo com uma mulher em puacuteblico embora seja por noacutes considerado vergonhoso natildeo eacute considerado vergonhoso por alguns indianosrdquo (PH III 200) E aqui Sexto se lembra do Casal Crates e Hipaacuterquia em sua κυνογάmicroια

E tambeacutem ldquopara noacutes a tatuagem eacute considerada vergonhosa mas muitos egiacutepcios e saacutermatas tatuam a prolerdquo (PH III 203)

Entatildeo considerando tal diafonia nos costumes o ceacutetico ldquosuspende o juiacutezo quanto agrave existecircncia de algo bom ou mal por naturezardquo (PH III 235) e observa ἀδόξαστος a vida ordinaacuteria

Anteriormente foi dito que o escopo da natildeo-asserccedilatildeo ceacutetica satildeo proferimentos dogmaacuteticos acerca do natildeo-evidente agora eacute hora de explicar melhor o que isto significa pois ao dizer que ldquoalgueacutem evita proferimentos dogmaacuteticosrdquo isto pode incluir proferimentos dogmaacuteticos que natildeo sejam exclusivamente concernentes agraves filosofias ou agraves teacutechnai ou natildeo Ou seja haacute asserccedilotildees ou proferimentos dogmaacuteticos na vida comum

Considerando a supracitada argumentaccedilatildeo de Sexto acerca das διαφωνίαι que emergem da comparaccedilatildeo entre costumes me parece evidente que sim haacute asserccedilotildees na vida ordinaacuteria elas tambeacutem satildeo alvo da suspensatildeo ceacutetica de juiacutezo Mas isso natildeo compromete a vida pois o ceacutetico tomaria por guia as afecccedilotildees relatando o que aparece e sem a este relato conferir peso assertoacuterico Para corroborar esta argumentaccedilatildeo (que de fato eacute uma meacutedia entre a versatildeo urbana e a ruacutestica do ceticismo)9 uso um tropo de Agripa o da διαφωνία cuja descriccedilatildeo cito ldquoo baseado na diafonia eacute aquele de acordo com o qual quanto a questatildeo em discussatildeo tenha ela surgido na vida ordinaacuteria ou entre os filoacutesofos nos encontramos em um estado de indeterminaccedilatildeordquo (PH I 165)

Entatildeo a observacircncia da vida comum significa agir como agem as pessoas comuns tendo a natureza por guia sendo constrangido pelas afecccedilotildees sendo ativo em algum ofiacutecio e respeitando leis e costumes (os quatro pilares da vida ceacutetica) Contudo diferentemente dos homens comuns e tambeacutem dos filoacutesofos o ceacutetico natildeo se compromete com asserccedilotildees pois elas todas podem ser suspensas

O retorno ceacutetico agrave vida comum eacute o retorno agrave observacircncia externa de instacircncias dessa vida mas seu estado mental eacute diferente pois ele passou por um exerciacutecio participou de uma atividade (διάθεσις) dispotildee de uma capacidade (δύναmicroις) porque em algum momento adotou uma conduta uma ἀγωγή

Esta conduta pode ser reconstruiacuteda a partir da leitura do livro I das PH notadamente atraveacutes dos passos 1 4 7 12 25-31 e tambeacutem eacute apresentada ordenadamente em Contra os gramaacuteticos 6 Ela funciona do seguinte modo

1ordm- comeccedila-se com a pesquisa ζήτησις ou o exame σκέψις

9 Ver lsquoBRITO R P Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os retoacutericosrsquo In Revista Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

Rodrigo Pinto de Brito

17 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

2ordm- durante a pesquisa percebe-se um conflito (microάχη) entre asserccedilotildees 3ordm- este conflito se daacute por causa da equipolecircncia (ἰσοσθένεια) destas asserccedilotildees 4ordm- emerge a aporia 5ordm- a aporia leva a suspensatildeo do juiacutezo ou retenccedilatildeo do assentimento (ἐποχή) 6ordm- que por um acaso faz surgir a imperturbabilidade (ἀταραξία) Apoacutes a suspensatildeo estando imperturbaacutevel o ceacutetico observa natildeo-dogmaticamente e natildeo-assertoricamente a vida ordinaacuteria como dissemos alhures

vi-

Agora para finalizar gostaria de falar mais sobre no que consiste esta observaccedilatildeoobservacircncia da vida ordinaacuteria e isto nos permitiraacute voltar ao ponto do alinhamento entre pirronismo e medicina em Sexto (que chamei de lsquoarsquo mais acima) lanccedilando uma nova luz sobre o tema

Para falar desta observaccedilatildeoobservacircncia Sexto usa o verbo τηρέω que significa fazer τήρησις palavra que inicialmente possui um uso poliacutetico como por exemplo em Aristoacuteteles Pol 1308a30 significando ldquovigilacircnciardquo ldquocustoacutediardquo e ldquopreservaccedilatildeordquo

Em Sexto Empiacuterico esta semacircntica persiste assim o ceacutetico sextiano eacute marcado pela observacircncia dos costumes (daiacute os quatro pilares da vida ceacutetica que aparecem em PH I 23)

Mas tambeacutem haacute em Sexto outra semacircntica a da observaccedilatildeo enquanto componente da abordagem dos meacutedicos Empiristas conforme atestado por Galeno em Das seitas meacutedicas para os iniciantes como se poderaacute verificar na leitura da traduccedilatildeo que ofereccedilo mais abaixo Corroborando essa interpretaccedilatildeo haacute em Sexto uma breve e curiosa passagem de Contra os astroacutelogos em que ele diz que ao contraacuterio do meacutetodo Caldaico de observaccedilotildees celestes e assunccedilotildees de efeitos por conta de uma relaccedilatildeo causal natildeo-evidente entre a disposiccedilatildeo dos astros e o comportamento humano por outro lado ldquona medicina observamos que um ferimento no coraccedilatildeo eacute mortal tendo sido observada natildeo somente a morte de Diacuteon mas tambeacutem de Theacuteon e Soacutecrates e muitos outrosrdquo (Adv Ast 104 = M V 104) Vale a pena enfatizar que a ocorrecircncia do verbo τηρέω na 1ordf pessoa do plural do aoristo indicativo ativo (ἐτηρήσαmicroεν) indica que tambeacutem Sexto na medicina adotava o meacutetodo observativo

Assim a ldquoobservaccedilatildeordquo constitui uma etapa da metodologia dos Empiristas os usos locais satildeo observados e tambeacutem a evoluccedilatildeo das doenccedilas

E esta observaccedilatildeo dos usos locais para tratamentos de doenccedilas que tambeacutem pode ser entendida como observacircncia dos usos a τήρησις eacute quase inoacutecua se natildeo for acompanhada da transiccedilatildeo para o semelhante τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

18 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Pois eacute esta transiccedilatildeo que permite que algo que foi observado como eficiente em um caso X possa ser aproveitado em um caso Y desde que X e Y pareccedilam semelhantes

Entatildeo pensemos em Sexto o fato de ser cognominado Empiacuterico denota sua adesatildeo inicial agrave seita dos meacutedicos Empiristas Mas Sexto nos informa que esta seita tornara-se dogmaacutetico-negativa porque rejeitou assertivamente a possibilidade do conhecimento (como faziam os acadecircmicos) Sexto entatildeo tendo pesquisado e examinado outros grupos como os meacutedicos Racionalistas (que estavam enveredados em pesquisas sobre as etiologias natildeo-evidentes das doenccedilas e asseriam a possibilidade de conhececirc-las) deu ouvidos agraves criacuteticas feitas ao comportamento assertoacuterico negativo dos proacuteprios Empiristas que gerava uma autocontradiccedilatildeo Assim ao tornar-se liacuteder dos Empiristas alinhou a seita ainda mais explicitamente ao pirronismo evitando proferimentos dogmaacutetico-negativos e investindo em toacutepicos como lsquoobservaccedilatildeoobservacircncia dos costumesrsquo lsquonatildeo-asserccedilatildeorsquo lsquotransiccedilatildeo para o semelhantersquo Conceitos que satildeo basilares para a compreensatildeo dos modi operandi dos ceacuteticos pirrocircnicos e dos meacutedicos Empiristas ambos aperfeiccediloados por Sexto

vii- Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641-1695

De Galeno sobre as seitas10 [meacutedicas] para os iniciantes

(1641) O escopo da arte11 meacutedica eacute a sauacutede e seu fim a sua posse Eacute necessaacuterio ser sabido pelos meacutedicos como fazer a sauacutede advir quando ausente ou mantecirc-la quando presente Chama-se de (1645) medicamentos e de remeacutedios o que suscita a sauacutede quando estaacute ausente e de dietas saudaacuteveis o que manteacutem [a sauacutede] quando presente Eis porque o antigo relato12 diz que a medicina eacute a ciecircncia das coisas saudaacuteveis e das nocivas sendo chamadas saudaacuteveis as que mantecircm a sauacutede quando presente (1651) e as que a restauram quando arruinada e [sendo chamadas de] nocivas as diametralmente opostas a essas Pois o meacutedico precisa de ambos os conhecimentos para capturar uma e escapar da outra Mas natildeo haacute acordo entre todos sobre onde se encontraria (1655) o conhecimento de tais coisas mas uns dizem que somente a experiecircncia eacute suficiente para a arte outros acham que a razatildeo natildeo pouco contribui Aqueles satildeo chamados de Empiristas13 por partirem somente da

10αἵρεσις uma adesatildeo inclinaccedilatildeo ou escolha Denota partido ou grupo a seita dos que escolhem uma determinada coisa em detrimento de outra 11 τέχνη arte ou teacutecnica recorrentes como traduccedilotildees para o vocaacutebulo me parecem insuficientes e por isso prefiro lsquoofiacuteciorsquo por em uma uacutenica palavra conter semacircnticas tais como artesanato arte teacutecnica todos enquanto manejo de uma conhecimento e de uma praacutetica Contudo verti τέχνη por arte em todo o texto por questotildees estiliacutesticas Assim evitei que frases que ocorrem como ldquoo escopo da arte meacutedica eacuterdquo ocorressem como ldquoo escopo do ofiacutecio da medicina eacuterdquo por exemplo 12 Natildeo se trata aqui de λόγος enquanto razatildeo enquanto portanto mola-mestra do procedimento da seita dos Racionalistas (como se haacute de ver) mas sim simplesmente de lsquoaccountrsquo 13 Optei por grafar os nomes das seitas com maiuacutesculas ao longo de todo o texto

Rodrigo Pinto de Brito

19 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

experiecircncia14 sendo parocircnimos15 do mesmo modo os que [partem] da razatildeo (16510) de Racionalistas16 e estas satildeo as duas seitas primaacuterias da medicina A primeira parte de experimentos17 para a descoberta de medicamentos a segunda [parte da] indicaccedilatildeo E assim eles deram os nomes de Empirista e de Racionalista agraves [suas] seitas Mas usualmente a Empirista tambeacutem eacute chamada de (16515) Observante18 e de Memorativa19 e a Racionalista de Dogmaacutetica20 e de Analogiacutestica21 e semelhantemente agraves seitas os homens que escolheram22 a experiecircncia satildeo chamados de Empiristas Observantes e Memorativos dos fenocircmenos os que admitiram a razatildeo de (16520) Racionalistas Dogmaacuteticos e Analogiacutesticos

(1661) Os Empiristas dizem que a arte eacute organizada do seguinte modo Uma vez observou-se que muitas das afecccedilotildees humanas se datildeo espontaneamente tanto nos doentes quanto nos saudaacuteveis como o sangramento (1665) nasal ou a sudorese a diarreia ou outra coisa assim que trouxe dano ou vantagem de modo algum tendo uma causa produtiva23 perceptiacutevel24 Quanto agraves outras [afecccedilotildees] a causa eacute manifesta natildeo advindo por escolha nossa mas por acaso como quando ocorre que algueacutem caiu ou foi golpeado ou (16610) ferido de algum outro modo o sangue fluiu e quando na doenccedila bebeu aacutegua fria vinho ou outra coisa assim satisfazendo seu apetite cada um destes terminando em benefiacutecio

14 Apesar de ter vertido ἐmicroπειρικοί por Empiristas (e natildeo Empiacutericos) natildeo optei por verter ἐmicroπειρία por empiria mas simplesmente optei pelo proacuteprio significado da palavra Assim lsquoexperiecircnciarsquo 15 Houaiss 2001 ldquoadjsm (1858 cf MS) gram ling 1 diz-se de ou cada um dos dois ou mais vocaacutebulos que satildeo quase homocircnimos diferenciando-se ligeiramente na grafia e na pronuacutencia 11 diz-se de ou palavra cujos fonemas podem confundir-se com os de outra(s) por razotildees etimoloacutegicas ou simplesmente tocircnicas (pex deferir diferir descriccedilatildeo discriccedilatildeo emigrar imigrar etc) 12 na paronomaacutesia diz-se de cada uma das palavras fonicamente parecidas que se colocam proacuteximas uma da outra num texto Uso neste dicionaacuterio incluiacutemos entre os parocircnimos (rubrica par) os vocaacutebulos que se escrevem com as mesmas letras mas que diferem quanto agrave acentuaccedilatildeo graacutefica e ao timbre (papeacuteis [pl papel] e papeis [v papar]) para os quais tb se usa a denominaccedilatildeo de homoacutegrafos imperfeitos Etim gr parocircnumososon que tem nome parecido que deriva de outro nome ou palavra sobrenome ver par(a)- e -ocircnimo fhist 1858 paroacutenymo 1899 paroacutenimo Col paronimia paroniacutemiardquo 16 Assim como ἐmicroπειρικοί eacute vertido por Empiristas e natildeo Empiacutericos tambeacutem λογικοί eacute vertido por Racionalistas e natildeo Racionais 17 πεῖρα tentativa Mas uma vez que se trata de um meacutetodo dos Empiristas uma abordagem que pode envolver ldquotentativa-errordquo sendo essa abordagem uma espeacutecie experimento resolvi assim traduzir o vocaacutebulo ao longo de todo o texto 18 τηρητικός que parte da τήρησις (observaccedilatildeoobservacircncia) ou seja lsquoObservantersquo 19 microνηmicroονευτικός que parte da microνήmicroη (memoacuteriarememoraccedilatildeo) ou seja lsquoMemorativarsquo 20 δογmicroατικός diz-se de quem adota princiacutepios gerais teoacutericos acerca de algo contrapondo-se a uma abordagem experimental como se veraacute 21 ἀναλογιστικός diz-se de quem opera por um meacutetodo analoacutegico como se veraacute 22 Terceira pessoa do plural do aoristo indicativo meacutedio de αἱρέω escolher Daiacute o livro tratar-se de uma apresentaccedilatildeo das diferentes αἱρέσεις (escolhas adesotildees) meacutedicas 23 ποιῆσαν αἴτιον 24 αἰσθητός sensiacutevel

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

20 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ou dano [entatildeo] ao primeiro tipo de coisa beneacutefica ou danosa chamaram de natural ao segundo de casual (16615) mas em ambos os casos chama-se de incidecircncia25 a primeira visatildeo [das coisas beneacuteficas ou danosas] dando esse nome por algo incidir sobre as circunstacircncias involuntariamente Tal entatildeo eacute o tipo de experiecircncia incidental Mas haacute a impremeditada26 quando (1671) deliberadamente se tenta algo ou compelido por sonhos ou por quaisquer outras suposiccedilotildees E haacute um terceiro tipo de experiecircncia a imitativa27 quando algo beneacutefico ou danoso tanto naturalmente quanto casualmente ou (1675) impremeditadamente eacute experimentado recursivamente nas mesmas afecccedilotildees E eacute principalmente este [tipo] que constituiu sua arte pois tendo imitado natildeo somente duas ou trecircs mas muitas vezes o que causou benefiacutecio anteriormente em seguida descobriram que na maioria dos casos (16710) o produto era o mesmo nas mesmas afecccedilotildees ndash e a tal rememoraccedilatildeo28 chamaram de teorema29 jaacute considerada confiaacutevel e parte da arte Assim tendo-se coletado muitos desses teoremas por eles a totalidade da coletacircnea eacute a medicina e o coletor o meacutedico Tal coletacircnea foi chamada por eles de autoacutepsia30 sendo um tipo de rememoraccedilatildeo (16715) do que foi visto muitas vezes e do mesmo modo Mas tambeacutem chamaram essa mesma coisa de experiecircncia e a sua divulgaccedilatildeo de histoacuteria31 pois para o observador [a rememoraccedilatildeo] eacute autoacutepsia por outro lado eacute histoacuteria para quem aprende o que foi observado (1681) Mas uma vez que se deparavam com algumas doenccedilas que natildeo haviam sido vistas anteriormente ou com outras que eram conhecidas em locais nos quais natildeo havia provisatildeo de medicamentos observados por meio de experimentos criaram um instrumento para (1685) descobrir remeacutedios a transiccedilatildeo para o semelhante com ajuda da qual amiuacutede transferem o mesmo remeacutedio de afecccedilatildeo agrave afecccedilatildeo de lugar a lugar [afetado] e de um remeacutedio previamente conhecido vatildeo para um parecido De afecccedilatildeo a afecccedilatildeo (16810) como se passassem da erisipela agrave herpes de lugar a lugar [afetado] como do braccedilo agrave coxa de remeacutedio a remeacutedio como na diarreia da maccedilatilde agrave necircspera Toda essa transiccedilatildeo eacute um caminho para a descoberta mas a descoberta nunca (16815) antecede o experimento Uma vez que se colocou em experimento aquilo que se esperava jaacute eacute confiaacutevel sendo confirmado por esse [experimento] natildeo menos do que se tivesse sido observado amiuacutede e do mesmo modo A este experimento que acompanha a transiccedilatildeo para o (1691) semelhante chamam de praacutetico porque eacute preciso ser praacutetico na arte caso se pretenda descobrir algo desse modo Todos os experimentos que antecedem a experiecircncia dos quais a arte necessitava para a sua constituiccedilatildeo podem ser criados (1695) pelas pessoas comuns Tal eacute o caminho atraveacutes do experimento para [alcanccedilar] o fim da arte

25 περίπτωσις encontro 26 αὐτοσχέδιος espontacircneo improvisado 27 Ou mimeacutetica 28 microνήmicroη 29 θεώρηmicroα teoria especulaccedilatildeo intuiccedilatildeo ou algo sujeito agrave investigaccedilatildeo 30 αὐτοψία visatildeo ou percepccedilatildeo de si mesmo 31 ἱστορία investigaccedilatildeo observaccedilatildeo cientiacutefica informaccedilatildeo ou relato

Rodrigo Pinto de Brito

21 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ΓΑΛΗΝΟΥ ΠΕΡΙ ΑΙΡΕΣΕΩΝ ΤΟΙΣ ΕΙΣΑΓΟΜΕΝΟΙΣ (1641) Τῆς ἰατρικῆς τέχνης σκοπὸς microὲν ἡ ὑγίεια τέλος δ ἡ κτῆσις αὐτῆς ἐξ ὧν δ ἄν τις ἢ microὴ παροῦσαν ὑγίειαν ἐργάζοιτ ἢ παροῦσαν διαφυλάττοι γιγνώσκεσθαι microὲν ἀναγκαῖον τοῖς ἰατροῖς καλεῖται δὲ (1645) τὰ microὲν ἐργαζόmicroενα τὴν microὴ οὖσαν ὑγίειαν ἰάmicroατά τε καὶ βοηθήmicroατα τὰ δὲ φυλάττοντα τὴν οὖσαν [ὑγίειαν] ὑγιεινὰ διαιτήmicroατα ταῦτ ἄρα καὶ αὐτὴν τὴν ἰατρικὴν ἐπιστήmicroην ὑγιεινῶν καὶ νοσερῶν ὁ παλαιὸς λόγος φησίν ὑγιεινὰ microὲν καλῶν τά τε φυλάττοντα τὴν οὖσαν (1651) ὑγίειαν καὶ τὰ τὴν διεφθαρmicroένην ἀνασώζοντα νοσερὰ δὲ τἀναντία τούτων δεῖται γὰρ ἀmicroφοῖν ὁ ἰατρὸς τῆς γνώσεως ὑπὲρ τοῦ τὰ microὲν ἑλέσθαι τὰ δὲ φυγεῖν ὅθεν δ ltἂνgt τὴν τούτων ἐπιστήmicroην ἐκπορίσαιτο οὐκέθ (1655) [ὁmicroοίως] ὁmicroολογεῖται παρὰ πᾶσιν ἀλλ οἱ microὲν τὴν ἐmicroπειρίαν microόνην φασὶν ἀρκεῖν τῇ τέχνῃ τοῖς δὲ καὶ ὁ λόγος οὐ σmicroικρὰ δοκεῖ συντελεῖν ὀνοmicroάζονται δ οἱ microὲν ἀπὸ τῆς ἐmicroπειρίας microόνης ὁρmicroώmicroενοι παρωνύmicroως ἐκείνης ἐmicroπειρικοί ὁmicroοίως δὲ καὶ οἱ ἀπὸ τοῦ λόγου (16510) λογικοὶ καὶ δύο εἰσὶν αὗται πρῶται τῆς ἰατρικῆς αἱρέσεις ἡ microὲν ἑτέρα διὰ πείρας ἰοῦσα πρὸς τὴν τῶν ἰαmicroάτων εὕρεσιν ἡ δ ἑτέρα δι ἐνδείξεως καὶ ὀνόmicroατά γε ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικήν τε καὶ λογικήν καλεῖν δ εἰσὶν εἰθισmicroένοι τὴν microὲν ἐmicroπειρικὴν (16515) τηρητικήν τε καὶ microνηmicroονευτικήν τὴν δὲ λογικὴν δογmicroατικήν τε καὶ ἀναλογιστικήν καὶ τοὺς ἄνδρας ὁmicroοίως ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικοὺς microὲν καὶ τηρητικοὺς καὶ microνηmicroονευτικοὺς τῶν φαινοmicroένων ὅσοι τὴν ἐmicroπειρίαν εἵλοντο λογικοὺς δὲ καὶ δογmicroατικοὺς καὶ ἀναλογιστικούς (16520) ὅσοι τὸν λόγον προσήκαντο (1661) Συστήσασθαι δὲ τὴν τέχνην οἱ microὲν ἐmicroπειρικοὶ τόνδε τὸν τρόπον φασίν ἐπειδὴ πολλὰ τοῖς ἀνθρώποις ἑώρων πάθη τὰ microὲν ἀπὸ ταὐτοmicroάτου γιγνόmicroενα νοσοῦσί τε καὶ ὑγιαίνουσιν οἷον αἵmicroατος ῥύσιν (1665) ἐκ ῥινῶν ἢ ἱδρῶτας ἢ διαρροίας ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο βλάβην ἢ ὠφέλειαν φέρον οὐ microὴν τό γε ποιῆσαν αἴτιον αἰσθητὸν ἔχον ἕτερα δ ὧν τὸ microὲν αἴτιον ἐφαίνετ οὐ microὴν ἐκ προαιρέσεως ἡmicroετέρας ἀλλὰ κατά τινα συντυχίαν οἷον συνέβη πεσόντος τινὸς ἢ πληγέντος ἢ (16610) ἄλλως πως τρωθέντος αἷmicroα ῥυῆναι καὶ πιεῖν ἐν νόσῳ χαρισάmicroενον τῇ ἐπιθυmicroίᾳ ψυχρὸν ὕδωρ ἢ οἶνον ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο ὧν ἕκαστον εἰς ὠφέλειαν ἢ βλάβην ἐτελεύτα τὸ microὲν [οὖν] πρότερον εἶδος τῶν ὠφελούντων ἢ βλαπτόντων ἐκάλουν φυσικόν τὸ δὲ δεύτερον τυχικόν (16615) ἑκατέρου δ αὐτῶν τὴν πρώτην θέαν περίπτωσιν ὠνόmicroαζον ἀπὸ τοῦ περιπίπτειν ἀβουλήτως τοῖς πράγmicroασι τοὔνοmicroα θέmicroενοι τὸ microὲν οὖν περιπτωτικὸν εἶδος τῆς ἐmicroπειρίας τοιόνδε τί ἐστι τὸ δ αὐτοσχέδιον ὅταν (1671) ἑκόντες ἐπὶ τὸ πειράζειν ἀφίκωνται ἢ ὑπ ὀνειράτων προτραπέντες ἢ ἄλλως πως δοξάζοντες ἀλλὰ καὶ τρίτον τῆς ἐmicroπειρίας εἶδός ἐστι τὸ microιmicroητικόν ὅταν τῶν ὠφελησάντων ἢ βλαψάντων ὁτιοῦν ἢ φύσει ἢ τύχῃ ἢ (1675) αὐτοσχεδίως ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν αὖθις εἰς πεῖραν ἄγηται καὶ τοῦτ ἐστὶ τὸ microάλιστα τὴν τέχνην αὐτῶν συστησάmicroενον οὐ γὰρ δὶς microόνον ἢ τρὶς ἀλλὰ καὶ πλειστάκις microιmicroησάmicroενοι τὸ πρόσθεν ὠφελῆσαν εἶτ ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν τὸ αὐτὸ ποιοῦν εὑρίσκοντες

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

22 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ὡς ἐπὶ τὸ (16710) πολὺ τὴν τοιαύτην microνήmicroην θεώρηmicroα καλέσαντες ἤδη πιστὸν ἡγοῦνται καὶ microέρος τῆς τέχνης ὡς δὲ πολλὰ θεωρήmicroατα τοιαῦτ ἠθροίζετ αὐτοῖς ἰατρικὴ microὲν ἦν τὸ σύmicroπαν ἄθροισmicroα καὶ ὁ ἀθροίσας ἰατρός ἐκλήθη δ ὑπ αὐτῶν αὐτοψία τὸ τοιοῦτον ἄθροισmicroα microνήmicroη τις (16715) οὖσα τῶν πολλάκις καὶ ὡσαύτως ὀφθέντων ὠνόmicroαζον δ αὐτὸ τοῦτο καὶ ἐmicroπειρίαν ἱστορίαν δὲ τὴν ἐπαγγελίαν αὐτοῦ τὸ γὰρ αὐτὸ τοῦτο τῷ microὲν τηρήσαντι αὐτοψία τῷ δὲ microαθόντι τὸ τετηρηmicroένον ἱστορία ἐστίν (1681) Ἐπεὶ δὲ καὶ νοσήmicroασί τισιν ἐνετύγχανον ἔστιν ὅτε πρόσθεν οὐχ ἑωραmicroένοις ἤ τισιν ἐγνωσmicroένοις microὲν ἀλλ ἐν χωρίοις ἐν οἷς οὐκ ἦν ἰαmicroάτων εὐπορία τῶν διὰ τῆς πείρας τετηρηmicroένων ὄργανόν τι βοηθηmicroάτων εὑρετικὸν (1685) ἐποιήσαντο τὴν τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν ᾧ χρώmicroενοι πολλάκις καὶ ἀπὸ πάθους ἐπὶ πάθος [ὅmicroοιον] τὸ αὐτὸ βοήθηmicroα microεταφέρουσι καὶ ἀπὸ τόπου ἐπὶ τόπον καὶ ἀπὸ τοῦ πρόσθεν ἐγνωσmicroένου βοηθήmicroατος ἐπὶ τὸ παραπλήσιον ἔρχονται ἀπὸ microὲν πάθους ἐπὶ πάθος (16810) ὡς εἰ ἀπ ἐρυσιπέλατος ἐφ ἕρπητα microεταβαίνοιεν ἀπὸ δὲ τόπου ἐπὶ τόπον ὡς ἀπὸ βραχίονος ἐπὶ microηρόν ἀπὸ δὲ βοηθήmicroατος ἐπὶ βοήθηmicroα ὡς ἐν διαρροίαις ἀπὸ microήλου ἐπὶ microέσπιλον ἅπασα δ ἡ τοιαύτη microετάβασις ὁδὸς microέν ἐστιν ἐπὶ τὴν εὕρεσιν εὕρεσις δ οὐδέπω πρὸ (16815) τῆς πείρας ἀλλ ἡνίκ ἂν τὸ ἐλπισθὲν εἰς πεῖραν ἀχθῇ πιστὸν ἤδη τὸ microαρτυρηθὲν ὑπ αὐτῆς ἐστιν οὐδὲν ἧττον ἢ εἰ πλειστάκις καὶ ὡσαύτως ἔχον ἐτετήρητο τὴν δὲ πεῖραν ταύτην τὴν ἑποmicroένην τῇ τοῦ ὁmicroοίου (1691) microεταβάσει τριβικὴν καλοῦσιν ὅτι χρὴ τετρῖφθαι κατὰ τὴν τέχνην τὸν microέλλοντά τι οὕτως εὑρήσειν αἱ δ ἔmicroπροσθεν ἅπασαι πεῖραι αἱ πρὸ τῆς ἐmicroπειρίας ὧν εἰς σύστασιν ἐδεῖθ ἡ τέχνη καὶ περὶ τὸν τυχόντα δύνανται (1695) γενέσθαι τοιαύτη microὲν ἡ διὰ τῆς πείρας πρὸς τὸ τέλος τῆς τέχνης ὁδός

Rodrigo Pinto de Brito

23 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

viii- APEcircNDICE As trecircs seitas meacutedicas e seus principais liacutederes segundo por pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-146845

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

24 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ix- Referecircncias bibliograacuteficas BARNES J SCHOFIELD M BURNYEAT M (eds) Doubt and Dogmatism

Studies in Hellenistic Epistemology Oxford Clarendon Press 1980 BARNES J The Beliefs of a Pyrrhonist In Proceedings of the Cambridge

Philological Society ndeg28 Cambridge 1982 Pp 1-29 BOLZANI R Acadecircmicos versus Pirrocircnicos Satildeo Paulo Alameda Editorial

2013 BRITO R P de Quadros conceituais do ceticismo anterior a Sexto Empiacuterico

In Prometeus ndash Filosofia em Revista Ano 06 ndeg 12 p 121-136 2013 ____ Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua

aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os Retoacutericos In Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

____ DINUCCI A L Traduccedilatildeo e Apresentaccedilatildeo da Diatribe de Epicteto 15 In Revista de Filosofia Antiga (USP Ed portuguecircs) v 08 p 116-132 2014

BURNYEAT M F FREDE M (eds) The Original Sceptics Cambridge Hackett Publishing Company 1998

BURNYEAT M F Can the Sceptic Live his Scepticism In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 205-235

____ The Sceptic in His Place and Time In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 316-345

____ Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012

DIOacuteGENES LAEacuteRCIO Lives of eminent philosophers HICKS R D (trans) Londres William Heinemann 1975

FREDE M WALZER R (trad amp ed) Three Treatises on the Nature of Science On the Sects for Beginners An Outline of Empiricism On Medical Experience Indianapolis Hackett Publishing Company 1985

FREDE M The Skepticrsquos Beliefs In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 179-200

____ The Scepticrsquos Two Kinds of Assent and the Question of the Possibility of Knowledge In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 201-225

____ Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989

HANKINSON R J The Sceptics (the arguments of the philosophers) Londres Routledge 1995

____ (ed) The Cambridge Companion to Galen Cambridge Cambridge University Press 2008

LIDELL H G SCOTT R A Greek-English Lexicon revised and augmented throughout by Sir Henry Stuart Jones with the assistance of Roderick McKenzie Oxford Clarendon Press 1940

MARCONDES de Souza Filho D Finding Onersquos Way About High Windows Narrow Chimneys and Open Doors Wittgensteinrsquos ldquoScepticismrdquo and Philosophical Method In POPKIN R H (ed) Scepticism in the History of Philosophy Amsterdam Kluwer Academic Publishers 1996 Pp 167-179

Rodrigo Pinto de Brito

25 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

____ A ldquoFelicidaderdquo do Discurso Ceacutetico o Problema da Auto-refutaccedilatildeo do Ceticismo In O Que Nos Faz Pensar ndeg 8 1994 Pp 131-144

MATES B The Skeptic Way Sextus Empiricuss Outlines of Pyrrhonism Oxford Oxford University Press 1996

NUSSBAUM M Skeptic Purgatives Therapeutic Arguments in Ancient Skepticism In Journal of History of Philosophy volume 29 ndeg 4 1991 Pp 521-557

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os retoacutericos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2013

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os gramaacuteticos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2015

SEXTO EMPIacuteRICO Complete Works of 4 vols BURY R G (trans) In Loeb Classical Library Harvard Harvard University Press 2006

SEXTO EMPIacuteRICO Outlines of Scepticism ANNAS J BARNES J (eds) Cambridge Cambridge University Press 2000

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Ethicists BETT R (trans) Oxford Clarendon Press 1997

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Grammarians BLANK D L (trans) Oxford Clarendon Press 1998

SMITH P J Terapia e Vida Comum In Skeacutepsis ndeg 1 2007 Pp 43-67 WALBRIDGE J (trad amp ed) The Alexandrian Epitomes of Galen vol 1 On

the Medical Sects for Beginners The Small art of Medicine On the Elements According to the Opinion of Hippocrates A parallel English-Arabic text translated introduced and annotated by john Walbridge In Islamic Translation Series Utah Brigham Young University Press 2014

Page 5: [2] Rodrigo Brito - Sobre o De Sectis de Galeno e o ...philosophicalskepticism.org/wp-content/uploads/... · Galeno (129-216 d.C.) foi um autor prolífico e de suma importância para

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

12 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Empiristas Ou seja o proacuteprio Sexto explicitamente rejeita a ligaccedilatildeo entre sua versatildeo do pirronismo e os Empiristas (PH I 236-241) De fato segundo Sexto o Metodismo aproximar-se-ia muito mais do pirronismo por sua postura natildeo-assertoacuterica na medida em que os Empiristas asseririam a inapreensibilidade do natildeo-evidente Os Empiristas satildeo assim criticados pela mesma razatildeo que Sexto critica os acadecircmicos na ceacutelebre distinccedilatildeo entre o comportamento do ceacutetico o dos dogmaacuteticos e o dos acadecircmicos em PH I1 ao passo que os dogmaacuteticos pensam que descobriram a verdade acadecircmicos rejeitam que ela possa ser descoberta o ceacutetico por seu turno continua investigando

Mas talvez as criacuteticas de Sexto aos Empiristas sejam mais do que um quebra-cabeccedilas desconcertante pois podem ser tratadas como evidecircncias bastante elucidativas assim

1- Sexto critica os Empiristas por seu dogmatismo negativo que os faz parecerem acadecircmicos ao inveacutes de pirrocircnicos Isso natildeo seria problemaacutetico se natildeo fosse um certo tipo de ldquodeserccedilatildeordquo dos Empiristas com relaccedilatildeo ao pirronismo Interpretaccedilatildeo que corroboraria a hipoacutetese de que apoacutes o revival do pirronismo com Enesidemo houve uma espeacutecie de desenvolvimento simbioacutetico do neopirronismo e do Empirismo

2- Eacute precisamente por caminharem mais ou menos paralelamente que a posiccedilatildeo dos pirrocircnicos foi confundida com a posiccedilatildeo dogmaacutetica negativa dos Empiristas propiciando as criacuteticas contra o pirronismo de que este conduziria a uma vida impossiacutevel de ser vivida na praacutetica e mais tarde a necessidade de Sexto de claramente demarcar as diferenccedilas entre a postura do pirrocircnico e a dogmaacutetico-negativa dos acadecircmicos e Empiristas

3- Os debates constantes dos Empiristas contra os Racionalistas fizeram com que os primeiros recaiacutessem numa postura radicalmente anti-teoreacutetica autocontraditoacuteria e que em uacuteltima instacircncia impedia o proacuteprio avanccedilo da medicina Enquanto isso apesar da simbiose com os Empiristas o pirronismo seguiu desenvolvendo-se como uma possibilidade coerente de abordagem da filosofia

4- Ainda que tenha sido treinado meacutedico entre Empiristas sob Menodoto eacute devido ao seu comportamento ceacutetico e natildeo-assertoacuterico que Sexto foi capaz de elaborar uma criacutetica aberta agrave proacutepria seita Empirista E vindo a ser o sucessor de Menodoto na lideranccedila da seita teria conseguido alinhaacute-la melhor ao pirronismo evitando os passos dogmaacutetico-negativos que seu mestre havia dado em direccedilatildeo agrave rejeiccedilatildeo da possibilidade racional da nosologia por exemplo Eacute neste sentido que se deve entender a afirmaccedilatildeo de pseudo-Galeno de que Sexto levou a seita Empirista agrave perfeiccedilatildeo pois a ela deu a coerecircncia que faltava sob Menodoto assim como fez com o pirronismo

iv-

Os quatro argumentos dispostos logo acima tratam a dyacutenamis ceacutetica e a medicina como dois tipos de atividades que podem ser exercidas sem contradizerem-se Mas isso natildeo eacute auto-evidente e precisa ser argumentado Ademais o problema pode ser ainda mais agravado pelo fato de que o alinhamento que Sexto faz entre medicina e pirronismo poder gerar uma espeacutecie de terapecircutica ceacutetica fazendo assim emergir a seguinte questatildeo

Rodrigo Pinto de Brito

13 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ldquopode o ceacutetico prescrever o ceticismo assim como se indicaria abdominais um copo de aacutegua ou a rememoraccedilatildeo noturna antes de dormirrdquo

Nas linhas seguintes vou tentar lidar com as duas questotildees a- a do alinhamento entre pirronismo e medicina em Sexto b- a de um alinhamento tal que gere uma terapecircutica ceacutetica Considero que a questatildeo lsquobrsquo seja um desenvolvimento da lsquoarsquo mas por questotildees internas agrave minha argumentaccedilatildeo comeccedilarei pela lsquobrsquo

v-

Para Sexto o problema central do comportamento dogmaacutetico eacute o compromisso assertoacuterico ou seja a necessidade de emitir proferimentos que afirmem algo (como fizeram estoicos peripateacuteticos ou os Racionalistas de seu tempo ao afirmarem por exemplo a apreensibilidade κατάληψις) bem como proferimentos que rejeitem algo (como fizeram os acadecircmicos e os Empiristas de seu tempo ao rejeitarem por exemplo a possibilidade da apreensatildeo ἀκαταληψία)

O ceacutetico por seu turno possuiria um uso dos termos e da linguagem de modo natildeo-dogmaacutetico (ἀδόξαστος) e com sentido indiferente (ἀδιάφορος) Isto significa que o ceacutetico joga um jogo de linguagem diferente em que pode evitar fazer com que seu discurso pareccedila conter asserccedilotildees peremptoacuterias sobre toacutepicos como verdadefalsidade ou apreensibilidadeinapreensibilidade Este jogo eacute o da ἀφασία ceacutetica ou natildeo-asserccedilatildeo

Assim Sexto se expressa acerca da questatildeo Sobre a ἀφασία dizemos o seguinte o termo asserccedilatildeo (φάσις) tem dois sentidos um geral e outro especiacutefico usado no sentido geral indica afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo () no sentido especial indica somente afirmaccedilatildeo () A ἀφασία entatildeo eacute a evitaccedilatildeo da asserccedilatildeo no sentido geral no qual eacute dito incluiacuterem-se tanto a afirmaccedilatildeo quanto a negaccedilatildeo entatildeo a ἀφασία eacute um πάθος (afecccedilatildeo) nosso por meio do qual recusamos tanto afirmar quanto negar (PH I 192)

Sexto enfatiza que a natildeo-asserccedilatildeo natildeo eacute resultado do modo como as coisas satildeo em si mesmas ie ela natildeo revela uma indeterminaccedilatildeo que estaria nas proacuteprias coisas mas ela exprime o πάθος proacuteprio do ceacutetico Ele enfatiza tambeacutem que o escopo da natildeo-asserccedilatildeo satildeo proferimentos dogmaacuteticos acerca do natildeo-evidente6

Mas por outro lado sem se importar com o valor de verdadefalsidade das asserccedilotildees

lto ceacuteticogt entrega-se agraves coisas que nos movem de acordo com o paacutethos e que nos levam necessariamente (ἀναγκαστικῶς =

6 Mais tarde voltarei a este ponto porque eacute preciso explicar melhor o que isto significa pois dizer que ldquose evitam proferimentos dogmaacuteticosrdquo pode incluir ou natildeo proferimentos dogmaacuteticos que natildeo sejam exclusivamente concernentes agraves filosofias ou agraves teacutechnai

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

14 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

compulsoriamente coercitivamente) ao assentimento (PH I 193)

E para deixar claro seu descompromisso assertoacuterico o ceacutetico usa uma seacuterie de foacutermulas como ldquonatildeo maisrdquo (οὐ microᾶλλον) ldquotalvezrdquo (τάχα) ldquopossivelmenterdquo (ἔξεστι) ldquonada determinordquo (οὐδὲν ὁρίζω) e principalmente ldquome parece querdquo ou ldquoparece-nosrdquo (φαίνεσθαι ἡmicroῖν) Assim em vez de estar constatando como as coisas satildeo ou natildeo o ceacutetico estaacute declarando como as coisas aparecem por isso Sexto diz que os ceacuteticos ἀπαγγέλλοmicroεν (ou seja declaram anunciam) como as coisas a eles se apresentam (PH I 4)

Agora voltando agrave pergunta inicial (lsquobrsquo) sobre se o ceacutetico prescreve o ceticismo me parece que Sexto Empiacuterico sendo meacutedico estaria apto a dizer que sim pois ldquoo ceacutetico sendo filantropo quer curar pelo discurso a arrogacircncia e a precipitaccedilatildeo dos dogmaacuteticosrdquo (PH III 280) E claramente nos eacute dito em seguida que os argumentos ceacuteticos satildeo como remeacutedios uns fortes ndash para os fortemente enfermos ndash outros brandos para aqueles cuja enfermidade eacute branda

Isso faz emergir uma pergunta o ceacutetico toma por ponto de partida que o dogmatismo eacute ruim em si e por isso deve ser curado No momento natildeo tenho uma resposta para isso ainda mais tendo em vista a ausecircncia de exemplos onde poderia haver um tratamento da questatildeo nos termos em que se coloca Assim nesse ponto natildeo tenho como rejeitar que possa haver um dogmatismo impliacutecito na declaraccedilatildeo sextiana de que os dogmaacuteticos sofrem Mas este dogmatismo somente haveria se entendermos que em alguma instacircncia haacute uma afirmaccedilatildeo ou seja que a declaraccedilatildeo aqui porta-se como uma asserccedilatildeo

Outra pergunta que pode surgir agora que argumentei que o ceacutetico pode indicar e mesmo ministrar doses de ceticismo eacute se ele natildeo estaria sendo dogmaacutetico ao fazecirc-lo A resposta eacute que natildeo necessariamente pois posso dizer ldquome parece querdquo ou ldquotalvezrdquo ldquoabdominais um copo de aacutegua ou a rememoraccedilatildeo noturna faccedilam bemrdquo e isto eacute totalmente diferente de asserir ldquorealmenterdquo ldquoeacute verdade querdquo ldquoabdominais copos drsquoaacutegua e rememoraccedilatildeo noturna faratildeo bemrdquo ou ainda ldquorealmenterdquo ldquoeacute verdade querdquo ldquoabdominais copos drsquoaacutegua e rememoraccedilatildeo noturna natildeo faratildeo bemrdquo

O ceacutetico entatildeo poderia dizer ldquome parece que talvez neste caso de acordo com a minha experiecircncia dever-se-ia adotar uma conduta X para chegar a Yrdquo E isso natildeo eacute dogmatizar pois eacute oposto a dizer por exemplo ldquode fato dever-se-ia necessariamente agir de acordo com o criteacuterio X para derradeiramente operar de acordo com uma conduta que o faccedila atingir αrdquo (onde X pode ser ldquosentidosrdquo ou ldquorazatildeordquo e α pode ser ldquoexcelecircnciardquo ou ldquosabedoriardquo)

Faccedilamos uma recapitulaccedilatildeo A pergunta que nos direcionou nesta seccedilatildeo do texto foi sobre a possibilidade de se indicar o ceticismo enquanto terapia Para responder passamos por analogias meacutedicas primeiramente a apresentada a partir de PH I 236 Isto por sua vez nos permitiu pensar o dogmatismo enquanto postura assertoacuterica (positiva ou negativa) e sobre o significado da ἀφασία no ceticismo sextiano

Rodrigo Pinto de Brito

15 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Depois passamos agraves analogias meacutedicas presentes em PH III 280 o que nos levou ao problema do possiacutevel dogmatismo impliacutecito em uma eventual assunccedilatildeo de um mal dogmaacutetico (para o qual natildeo ofereci resposta) e tambeacutem ao problema do dogmatismo impliacutecito no proacuteprio receituaacuterio de argumentos ceacuteticos problema este que foi sanado atraveacutes justamente da concepccedilatildeo sextiana de ἀφασία que reduz o caraacuteter assertoacuterico do proferimento ceacutetico de modo que o ceacutetico pode aconselhar algo que pareccedila curar sem que isto recaia em um proferimento dogmaacutetico ndash aquele que tem compromisso com a verdadefalsidade

Mas isso nos leva a outra questatildeo o ceticismo eacute uma teacutechne ou seja uma arte da vida Esta pergunta por sua vez faz com que nos voltemos para a parte eacutetica da filosofia que eacute tratada por Sexto Empiacuterico em Adv Eth (ou M XI) e tambeacutem PHIII 168 que se relaciona diretamente com Adv Eth Especialmente importante eacute a discussatildeo que se segue apoacutes PH III 188 em que Sexto remete-se agrave noccedilatildeo de τέχνη περὶ βίον (ou lsquoarte acerca da vidarsquo)

O argumento sextiano dirige-se 1) agrave definiccedilatildeo estoica de τέχνη como ldquosistema composto por apreensotildees exercidas em conjuntordquo 2) agrave concepccedilatildeo estoica de apreensatildeo 3) agrave concepccedilatildeo estoica de alma que eacute contraposta agrave concepccedilatildeo platocircnica

Mas essas trecircs supracitadas etapas da argumentaccedilatildeo sextiana satildeo complexas por si soacutes e para serem devidamente tratadas seria necessaacuterio outro texto7 O que me interessa de fato eacute a argumentaccedilatildeo que vem depois que comeccedila em PH III 190 e que objeta que natildeo parece haver algo que seja naturalmente bom e que seja entatildeo um τέλος moral

Do mesmo modo natildeo parece haver um mal e nem indiferentes tendo em vista as divergecircncias sobre isto existentes entre filoacutesofos mas tambeacutem entre pessoas ordinaacuterias em seus costumes e convenccedilotildees Por exemplo diz-nos Sexto ldquoentre noacutes a sodomia eacute considerada vergonhosa ou mesmo ilegal mas entre os germacircnios8 eacute vista natildeo somente como natildeo vergonhosa mas mesmo como habitualrdquo (PH III 199)

7 AO peer reviewer deste texto a quem sou muito grato sugeriu que aqui eu fizesse uma nota explicando ou ao menos explicitando as etapas (1) (2) e (3) da exposiccedilatildeo sextiana que menciono no paraacutegrafo imediatamente acima Concordo plenamente que tal explicaccedilatildeo deva ser dada mas penso que seja inoportuno fazecirc-lo aqui tanto no corpo do texto quanto numa nota de rodapeacute O motivo eacute simples trata-se de uma discussatildeo muito cara natildeo somente para estudiosos do ceticismo mas tambeacutem para os estoicos pois nos permite entender (a) o desenvolvimento da Stoaacute enquanto sistema em geral e (b) enquanto fundamentaccedilatildeo teoacuterica para seis das sete artes que viriam a compor na Idade Meacutedia o trivium e o quadrivium gramaacutetica retoacuterica geometria aritmeacutetica astrologia e muacutesica (cf Adv Math I a VI) Assim sendo penso que se as etapas da exposiccedilatildeo sextiana sobre as definiccedilotildees estoicas de τέχνη apreensatildeo e alma devem ser omitidas do presente texto para natildeo entramos em uma digressatildeo que somente nos atrapalharia Mas tambeacutem acho que essas etapas natildeo devem aparecer em uma nota de rodapeacute considerando que a importacircncia de (a) e (b) acima tenha sido compreendida Assim com o maacuteximo respeito pelao peer reviwer reitero que elucidarei as etapas (1) (2) e (3) em outro artigo 8 Tribo persa

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

16 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Ou ldquofazer sexo com uma mulher em puacuteblico embora seja por noacutes considerado vergonhoso natildeo eacute considerado vergonhoso por alguns indianosrdquo (PH III 200) E aqui Sexto se lembra do Casal Crates e Hipaacuterquia em sua κυνογάmicroια

E tambeacutem ldquopara noacutes a tatuagem eacute considerada vergonhosa mas muitos egiacutepcios e saacutermatas tatuam a prolerdquo (PH III 203)

Entatildeo considerando tal diafonia nos costumes o ceacutetico ldquosuspende o juiacutezo quanto agrave existecircncia de algo bom ou mal por naturezardquo (PH III 235) e observa ἀδόξαστος a vida ordinaacuteria

Anteriormente foi dito que o escopo da natildeo-asserccedilatildeo ceacutetica satildeo proferimentos dogmaacuteticos acerca do natildeo-evidente agora eacute hora de explicar melhor o que isto significa pois ao dizer que ldquoalgueacutem evita proferimentos dogmaacuteticosrdquo isto pode incluir proferimentos dogmaacuteticos que natildeo sejam exclusivamente concernentes agraves filosofias ou agraves teacutechnai ou natildeo Ou seja haacute asserccedilotildees ou proferimentos dogmaacuteticos na vida comum

Considerando a supracitada argumentaccedilatildeo de Sexto acerca das διαφωνίαι que emergem da comparaccedilatildeo entre costumes me parece evidente que sim haacute asserccedilotildees na vida ordinaacuteria elas tambeacutem satildeo alvo da suspensatildeo ceacutetica de juiacutezo Mas isso natildeo compromete a vida pois o ceacutetico tomaria por guia as afecccedilotildees relatando o que aparece e sem a este relato conferir peso assertoacuterico Para corroborar esta argumentaccedilatildeo (que de fato eacute uma meacutedia entre a versatildeo urbana e a ruacutestica do ceticismo)9 uso um tropo de Agripa o da διαφωνία cuja descriccedilatildeo cito ldquoo baseado na diafonia eacute aquele de acordo com o qual quanto a questatildeo em discussatildeo tenha ela surgido na vida ordinaacuteria ou entre os filoacutesofos nos encontramos em um estado de indeterminaccedilatildeordquo (PH I 165)

Entatildeo a observacircncia da vida comum significa agir como agem as pessoas comuns tendo a natureza por guia sendo constrangido pelas afecccedilotildees sendo ativo em algum ofiacutecio e respeitando leis e costumes (os quatro pilares da vida ceacutetica) Contudo diferentemente dos homens comuns e tambeacutem dos filoacutesofos o ceacutetico natildeo se compromete com asserccedilotildees pois elas todas podem ser suspensas

O retorno ceacutetico agrave vida comum eacute o retorno agrave observacircncia externa de instacircncias dessa vida mas seu estado mental eacute diferente pois ele passou por um exerciacutecio participou de uma atividade (διάθεσις) dispotildee de uma capacidade (δύναmicroις) porque em algum momento adotou uma conduta uma ἀγωγή

Esta conduta pode ser reconstruiacuteda a partir da leitura do livro I das PH notadamente atraveacutes dos passos 1 4 7 12 25-31 e tambeacutem eacute apresentada ordenadamente em Contra os gramaacuteticos 6 Ela funciona do seguinte modo

1ordm- comeccedila-se com a pesquisa ζήτησις ou o exame σκέψις

9 Ver lsquoBRITO R P Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os retoacutericosrsquo In Revista Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

Rodrigo Pinto de Brito

17 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

2ordm- durante a pesquisa percebe-se um conflito (microάχη) entre asserccedilotildees 3ordm- este conflito se daacute por causa da equipolecircncia (ἰσοσθένεια) destas asserccedilotildees 4ordm- emerge a aporia 5ordm- a aporia leva a suspensatildeo do juiacutezo ou retenccedilatildeo do assentimento (ἐποχή) 6ordm- que por um acaso faz surgir a imperturbabilidade (ἀταραξία) Apoacutes a suspensatildeo estando imperturbaacutevel o ceacutetico observa natildeo-dogmaticamente e natildeo-assertoricamente a vida ordinaacuteria como dissemos alhures

vi-

Agora para finalizar gostaria de falar mais sobre no que consiste esta observaccedilatildeoobservacircncia da vida ordinaacuteria e isto nos permitiraacute voltar ao ponto do alinhamento entre pirronismo e medicina em Sexto (que chamei de lsquoarsquo mais acima) lanccedilando uma nova luz sobre o tema

Para falar desta observaccedilatildeoobservacircncia Sexto usa o verbo τηρέω que significa fazer τήρησις palavra que inicialmente possui um uso poliacutetico como por exemplo em Aristoacuteteles Pol 1308a30 significando ldquovigilacircnciardquo ldquocustoacutediardquo e ldquopreservaccedilatildeordquo

Em Sexto Empiacuterico esta semacircntica persiste assim o ceacutetico sextiano eacute marcado pela observacircncia dos costumes (daiacute os quatro pilares da vida ceacutetica que aparecem em PH I 23)

Mas tambeacutem haacute em Sexto outra semacircntica a da observaccedilatildeo enquanto componente da abordagem dos meacutedicos Empiristas conforme atestado por Galeno em Das seitas meacutedicas para os iniciantes como se poderaacute verificar na leitura da traduccedilatildeo que ofereccedilo mais abaixo Corroborando essa interpretaccedilatildeo haacute em Sexto uma breve e curiosa passagem de Contra os astroacutelogos em que ele diz que ao contraacuterio do meacutetodo Caldaico de observaccedilotildees celestes e assunccedilotildees de efeitos por conta de uma relaccedilatildeo causal natildeo-evidente entre a disposiccedilatildeo dos astros e o comportamento humano por outro lado ldquona medicina observamos que um ferimento no coraccedilatildeo eacute mortal tendo sido observada natildeo somente a morte de Diacuteon mas tambeacutem de Theacuteon e Soacutecrates e muitos outrosrdquo (Adv Ast 104 = M V 104) Vale a pena enfatizar que a ocorrecircncia do verbo τηρέω na 1ordf pessoa do plural do aoristo indicativo ativo (ἐτηρήσαmicroεν) indica que tambeacutem Sexto na medicina adotava o meacutetodo observativo

Assim a ldquoobservaccedilatildeordquo constitui uma etapa da metodologia dos Empiristas os usos locais satildeo observados e tambeacutem a evoluccedilatildeo das doenccedilas

E esta observaccedilatildeo dos usos locais para tratamentos de doenccedilas que tambeacutem pode ser entendida como observacircncia dos usos a τήρησις eacute quase inoacutecua se natildeo for acompanhada da transiccedilatildeo para o semelhante τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

18 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Pois eacute esta transiccedilatildeo que permite que algo que foi observado como eficiente em um caso X possa ser aproveitado em um caso Y desde que X e Y pareccedilam semelhantes

Entatildeo pensemos em Sexto o fato de ser cognominado Empiacuterico denota sua adesatildeo inicial agrave seita dos meacutedicos Empiristas Mas Sexto nos informa que esta seita tornara-se dogmaacutetico-negativa porque rejeitou assertivamente a possibilidade do conhecimento (como faziam os acadecircmicos) Sexto entatildeo tendo pesquisado e examinado outros grupos como os meacutedicos Racionalistas (que estavam enveredados em pesquisas sobre as etiologias natildeo-evidentes das doenccedilas e asseriam a possibilidade de conhececirc-las) deu ouvidos agraves criacuteticas feitas ao comportamento assertoacuterico negativo dos proacuteprios Empiristas que gerava uma autocontradiccedilatildeo Assim ao tornar-se liacuteder dos Empiristas alinhou a seita ainda mais explicitamente ao pirronismo evitando proferimentos dogmaacutetico-negativos e investindo em toacutepicos como lsquoobservaccedilatildeoobservacircncia dos costumesrsquo lsquonatildeo-asserccedilatildeorsquo lsquotransiccedilatildeo para o semelhantersquo Conceitos que satildeo basilares para a compreensatildeo dos modi operandi dos ceacuteticos pirrocircnicos e dos meacutedicos Empiristas ambos aperfeiccediloados por Sexto

vii- Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641-1695

De Galeno sobre as seitas10 [meacutedicas] para os iniciantes

(1641) O escopo da arte11 meacutedica eacute a sauacutede e seu fim a sua posse Eacute necessaacuterio ser sabido pelos meacutedicos como fazer a sauacutede advir quando ausente ou mantecirc-la quando presente Chama-se de (1645) medicamentos e de remeacutedios o que suscita a sauacutede quando estaacute ausente e de dietas saudaacuteveis o que manteacutem [a sauacutede] quando presente Eis porque o antigo relato12 diz que a medicina eacute a ciecircncia das coisas saudaacuteveis e das nocivas sendo chamadas saudaacuteveis as que mantecircm a sauacutede quando presente (1651) e as que a restauram quando arruinada e [sendo chamadas de] nocivas as diametralmente opostas a essas Pois o meacutedico precisa de ambos os conhecimentos para capturar uma e escapar da outra Mas natildeo haacute acordo entre todos sobre onde se encontraria (1655) o conhecimento de tais coisas mas uns dizem que somente a experiecircncia eacute suficiente para a arte outros acham que a razatildeo natildeo pouco contribui Aqueles satildeo chamados de Empiristas13 por partirem somente da

10αἵρεσις uma adesatildeo inclinaccedilatildeo ou escolha Denota partido ou grupo a seita dos que escolhem uma determinada coisa em detrimento de outra 11 τέχνη arte ou teacutecnica recorrentes como traduccedilotildees para o vocaacutebulo me parecem insuficientes e por isso prefiro lsquoofiacuteciorsquo por em uma uacutenica palavra conter semacircnticas tais como artesanato arte teacutecnica todos enquanto manejo de uma conhecimento e de uma praacutetica Contudo verti τέχνη por arte em todo o texto por questotildees estiliacutesticas Assim evitei que frases que ocorrem como ldquoo escopo da arte meacutedica eacuterdquo ocorressem como ldquoo escopo do ofiacutecio da medicina eacuterdquo por exemplo 12 Natildeo se trata aqui de λόγος enquanto razatildeo enquanto portanto mola-mestra do procedimento da seita dos Racionalistas (como se haacute de ver) mas sim simplesmente de lsquoaccountrsquo 13 Optei por grafar os nomes das seitas com maiuacutesculas ao longo de todo o texto

Rodrigo Pinto de Brito

19 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

experiecircncia14 sendo parocircnimos15 do mesmo modo os que [partem] da razatildeo (16510) de Racionalistas16 e estas satildeo as duas seitas primaacuterias da medicina A primeira parte de experimentos17 para a descoberta de medicamentos a segunda [parte da] indicaccedilatildeo E assim eles deram os nomes de Empirista e de Racionalista agraves [suas] seitas Mas usualmente a Empirista tambeacutem eacute chamada de (16515) Observante18 e de Memorativa19 e a Racionalista de Dogmaacutetica20 e de Analogiacutestica21 e semelhantemente agraves seitas os homens que escolheram22 a experiecircncia satildeo chamados de Empiristas Observantes e Memorativos dos fenocircmenos os que admitiram a razatildeo de (16520) Racionalistas Dogmaacuteticos e Analogiacutesticos

(1661) Os Empiristas dizem que a arte eacute organizada do seguinte modo Uma vez observou-se que muitas das afecccedilotildees humanas se datildeo espontaneamente tanto nos doentes quanto nos saudaacuteveis como o sangramento (1665) nasal ou a sudorese a diarreia ou outra coisa assim que trouxe dano ou vantagem de modo algum tendo uma causa produtiva23 perceptiacutevel24 Quanto agraves outras [afecccedilotildees] a causa eacute manifesta natildeo advindo por escolha nossa mas por acaso como quando ocorre que algueacutem caiu ou foi golpeado ou (16610) ferido de algum outro modo o sangue fluiu e quando na doenccedila bebeu aacutegua fria vinho ou outra coisa assim satisfazendo seu apetite cada um destes terminando em benefiacutecio

14 Apesar de ter vertido ἐmicroπειρικοί por Empiristas (e natildeo Empiacutericos) natildeo optei por verter ἐmicroπειρία por empiria mas simplesmente optei pelo proacuteprio significado da palavra Assim lsquoexperiecircnciarsquo 15 Houaiss 2001 ldquoadjsm (1858 cf MS) gram ling 1 diz-se de ou cada um dos dois ou mais vocaacutebulos que satildeo quase homocircnimos diferenciando-se ligeiramente na grafia e na pronuacutencia 11 diz-se de ou palavra cujos fonemas podem confundir-se com os de outra(s) por razotildees etimoloacutegicas ou simplesmente tocircnicas (pex deferir diferir descriccedilatildeo discriccedilatildeo emigrar imigrar etc) 12 na paronomaacutesia diz-se de cada uma das palavras fonicamente parecidas que se colocam proacuteximas uma da outra num texto Uso neste dicionaacuterio incluiacutemos entre os parocircnimos (rubrica par) os vocaacutebulos que se escrevem com as mesmas letras mas que diferem quanto agrave acentuaccedilatildeo graacutefica e ao timbre (papeacuteis [pl papel] e papeis [v papar]) para os quais tb se usa a denominaccedilatildeo de homoacutegrafos imperfeitos Etim gr parocircnumososon que tem nome parecido que deriva de outro nome ou palavra sobrenome ver par(a)- e -ocircnimo fhist 1858 paroacutenymo 1899 paroacutenimo Col paronimia paroniacutemiardquo 16 Assim como ἐmicroπειρικοί eacute vertido por Empiristas e natildeo Empiacutericos tambeacutem λογικοί eacute vertido por Racionalistas e natildeo Racionais 17 πεῖρα tentativa Mas uma vez que se trata de um meacutetodo dos Empiristas uma abordagem que pode envolver ldquotentativa-errordquo sendo essa abordagem uma espeacutecie experimento resolvi assim traduzir o vocaacutebulo ao longo de todo o texto 18 τηρητικός que parte da τήρησις (observaccedilatildeoobservacircncia) ou seja lsquoObservantersquo 19 microνηmicroονευτικός que parte da microνήmicroη (memoacuteriarememoraccedilatildeo) ou seja lsquoMemorativarsquo 20 δογmicroατικός diz-se de quem adota princiacutepios gerais teoacutericos acerca de algo contrapondo-se a uma abordagem experimental como se veraacute 21 ἀναλογιστικός diz-se de quem opera por um meacutetodo analoacutegico como se veraacute 22 Terceira pessoa do plural do aoristo indicativo meacutedio de αἱρέω escolher Daiacute o livro tratar-se de uma apresentaccedilatildeo das diferentes αἱρέσεις (escolhas adesotildees) meacutedicas 23 ποιῆσαν αἴτιον 24 αἰσθητός sensiacutevel

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

20 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ou dano [entatildeo] ao primeiro tipo de coisa beneacutefica ou danosa chamaram de natural ao segundo de casual (16615) mas em ambos os casos chama-se de incidecircncia25 a primeira visatildeo [das coisas beneacuteficas ou danosas] dando esse nome por algo incidir sobre as circunstacircncias involuntariamente Tal entatildeo eacute o tipo de experiecircncia incidental Mas haacute a impremeditada26 quando (1671) deliberadamente se tenta algo ou compelido por sonhos ou por quaisquer outras suposiccedilotildees E haacute um terceiro tipo de experiecircncia a imitativa27 quando algo beneacutefico ou danoso tanto naturalmente quanto casualmente ou (1675) impremeditadamente eacute experimentado recursivamente nas mesmas afecccedilotildees E eacute principalmente este [tipo] que constituiu sua arte pois tendo imitado natildeo somente duas ou trecircs mas muitas vezes o que causou benefiacutecio anteriormente em seguida descobriram que na maioria dos casos (16710) o produto era o mesmo nas mesmas afecccedilotildees ndash e a tal rememoraccedilatildeo28 chamaram de teorema29 jaacute considerada confiaacutevel e parte da arte Assim tendo-se coletado muitos desses teoremas por eles a totalidade da coletacircnea eacute a medicina e o coletor o meacutedico Tal coletacircnea foi chamada por eles de autoacutepsia30 sendo um tipo de rememoraccedilatildeo (16715) do que foi visto muitas vezes e do mesmo modo Mas tambeacutem chamaram essa mesma coisa de experiecircncia e a sua divulgaccedilatildeo de histoacuteria31 pois para o observador [a rememoraccedilatildeo] eacute autoacutepsia por outro lado eacute histoacuteria para quem aprende o que foi observado (1681) Mas uma vez que se deparavam com algumas doenccedilas que natildeo haviam sido vistas anteriormente ou com outras que eram conhecidas em locais nos quais natildeo havia provisatildeo de medicamentos observados por meio de experimentos criaram um instrumento para (1685) descobrir remeacutedios a transiccedilatildeo para o semelhante com ajuda da qual amiuacutede transferem o mesmo remeacutedio de afecccedilatildeo agrave afecccedilatildeo de lugar a lugar [afetado] e de um remeacutedio previamente conhecido vatildeo para um parecido De afecccedilatildeo a afecccedilatildeo (16810) como se passassem da erisipela agrave herpes de lugar a lugar [afetado] como do braccedilo agrave coxa de remeacutedio a remeacutedio como na diarreia da maccedilatilde agrave necircspera Toda essa transiccedilatildeo eacute um caminho para a descoberta mas a descoberta nunca (16815) antecede o experimento Uma vez que se colocou em experimento aquilo que se esperava jaacute eacute confiaacutevel sendo confirmado por esse [experimento] natildeo menos do que se tivesse sido observado amiuacutede e do mesmo modo A este experimento que acompanha a transiccedilatildeo para o (1691) semelhante chamam de praacutetico porque eacute preciso ser praacutetico na arte caso se pretenda descobrir algo desse modo Todos os experimentos que antecedem a experiecircncia dos quais a arte necessitava para a sua constituiccedilatildeo podem ser criados (1695) pelas pessoas comuns Tal eacute o caminho atraveacutes do experimento para [alcanccedilar] o fim da arte

25 περίπτωσις encontro 26 αὐτοσχέδιος espontacircneo improvisado 27 Ou mimeacutetica 28 microνήmicroη 29 θεώρηmicroα teoria especulaccedilatildeo intuiccedilatildeo ou algo sujeito agrave investigaccedilatildeo 30 αὐτοψία visatildeo ou percepccedilatildeo de si mesmo 31 ἱστορία investigaccedilatildeo observaccedilatildeo cientiacutefica informaccedilatildeo ou relato

Rodrigo Pinto de Brito

21 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ΓΑΛΗΝΟΥ ΠΕΡΙ ΑΙΡΕΣΕΩΝ ΤΟΙΣ ΕΙΣΑΓΟΜΕΝΟΙΣ (1641) Τῆς ἰατρικῆς τέχνης σκοπὸς microὲν ἡ ὑγίεια τέλος δ ἡ κτῆσις αὐτῆς ἐξ ὧν δ ἄν τις ἢ microὴ παροῦσαν ὑγίειαν ἐργάζοιτ ἢ παροῦσαν διαφυλάττοι γιγνώσκεσθαι microὲν ἀναγκαῖον τοῖς ἰατροῖς καλεῖται δὲ (1645) τὰ microὲν ἐργαζόmicroενα τὴν microὴ οὖσαν ὑγίειαν ἰάmicroατά τε καὶ βοηθήmicroατα τὰ δὲ φυλάττοντα τὴν οὖσαν [ὑγίειαν] ὑγιεινὰ διαιτήmicroατα ταῦτ ἄρα καὶ αὐτὴν τὴν ἰατρικὴν ἐπιστήmicroην ὑγιεινῶν καὶ νοσερῶν ὁ παλαιὸς λόγος φησίν ὑγιεινὰ microὲν καλῶν τά τε φυλάττοντα τὴν οὖσαν (1651) ὑγίειαν καὶ τὰ τὴν διεφθαρmicroένην ἀνασώζοντα νοσερὰ δὲ τἀναντία τούτων δεῖται γὰρ ἀmicroφοῖν ὁ ἰατρὸς τῆς γνώσεως ὑπὲρ τοῦ τὰ microὲν ἑλέσθαι τὰ δὲ φυγεῖν ὅθεν δ ltἂνgt τὴν τούτων ἐπιστήmicroην ἐκπορίσαιτο οὐκέθ (1655) [ὁmicroοίως] ὁmicroολογεῖται παρὰ πᾶσιν ἀλλ οἱ microὲν τὴν ἐmicroπειρίαν microόνην φασὶν ἀρκεῖν τῇ τέχνῃ τοῖς δὲ καὶ ὁ λόγος οὐ σmicroικρὰ δοκεῖ συντελεῖν ὀνοmicroάζονται δ οἱ microὲν ἀπὸ τῆς ἐmicroπειρίας microόνης ὁρmicroώmicroενοι παρωνύmicroως ἐκείνης ἐmicroπειρικοί ὁmicroοίως δὲ καὶ οἱ ἀπὸ τοῦ λόγου (16510) λογικοὶ καὶ δύο εἰσὶν αὗται πρῶται τῆς ἰατρικῆς αἱρέσεις ἡ microὲν ἑτέρα διὰ πείρας ἰοῦσα πρὸς τὴν τῶν ἰαmicroάτων εὕρεσιν ἡ δ ἑτέρα δι ἐνδείξεως καὶ ὀνόmicroατά γε ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικήν τε καὶ λογικήν καλεῖν δ εἰσὶν εἰθισmicroένοι τὴν microὲν ἐmicroπειρικὴν (16515) τηρητικήν τε καὶ microνηmicroονευτικήν τὴν δὲ λογικὴν δογmicroατικήν τε καὶ ἀναλογιστικήν καὶ τοὺς ἄνδρας ὁmicroοίως ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικοὺς microὲν καὶ τηρητικοὺς καὶ microνηmicroονευτικοὺς τῶν φαινοmicroένων ὅσοι τὴν ἐmicroπειρίαν εἵλοντο λογικοὺς δὲ καὶ δογmicroατικοὺς καὶ ἀναλογιστικούς (16520) ὅσοι τὸν λόγον προσήκαντο (1661) Συστήσασθαι δὲ τὴν τέχνην οἱ microὲν ἐmicroπειρικοὶ τόνδε τὸν τρόπον φασίν ἐπειδὴ πολλὰ τοῖς ἀνθρώποις ἑώρων πάθη τὰ microὲν ἀπὸ ταὐτοmicroάτου γιγνόmicroενα νοσοῦσί τε καὶ ὑγιαίνουσιν οἷον αἵmicroατος ῥύσιν (1665) ἐκ ῥινῶν ἢ ἱδρῶτας ἢ διαρροίας ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο βλάβην ἢ ὠφέλειαν φέρον οὐ microὴν τό γε ποιῆσαν αἴτιον αἰσθητὸν ἔχον ἕτερα δ ὧν τὸ microὲν αἴτιον ἐφαίνετ οὐ microὴν ἐκ προαιρέσεως ἡmicroετέρας ἀλλὰ κατά τινα συντυχίαν οἷον συνέβη πεσόντος τινὸς ἢ πληγέντος ἢ (16610) ἄλλως πως τρωθέντος αἷmicroα ῥυῆναι καὶ πιεῖν ἐν νόσῳ χαρισάmicroενον τῇ ἐπιθυmicroίᾳ ψυχρὸν ὕδωρ ἢ οἶνον ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο ὧν ἕκαστον εἰς ὠφέλειαν ἢ βλάβην ἐτελεύτα τὸ microὲν [οὖν] πρότερον εἶδος τῶν ὠφελούντων ἢ βλαπτόντων ἐκάλουν φυσικόν τὸ δὲ δεύτερον τυχικόν (16615) ἑκατέρου δ αὐτῶν τὴν πρώτην θέαν περίπτωσιν ὠνόmicroαζον ἀπὸ τοῦ περιπίπτειν ἀβουλήτως τοῖς πράγmicroασι τοὔνοmicroα θέmicroενοι τὸ microὲν οὖν περιπτωτικὸν εἶδος τῆς ἐmicroπειρίας τοιόνδε τί ἐστι τὸ δ αὐτοσχέδιον ὅταν (1671) ἑκόντες ἐπὶ τὸ πειράζειν ἀφίκωνται ἢ ὑπ ὀνειράτων προτραπέντες ἢ ἄλλως πως δοξάζοντες ἀλλὰ καὶ τρίτον τῆς ἐmicroπειρίας εἶδός ἐστι τὸ microιmicroητικόν ὅταν τῶν ὠφελησάντων ἢ βλαψάντων ὁτιοῦν ἢ φύσει ἢ τύχῃ ἢ (1675) αὐτοσχεδίως ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν αὖθις εἰς πεῖραν ἄγηται καὶ τοῦτ ἐστὶ τὸ microάλιστα τὴν τέχνην αὐτῶν συστησάmicroενον οὐ γὰρ δὶς microόνον ἢ τρὶς ἀλλὰ καὶ πλειστάκις microιmicroησάmicroενοι τὸ πρόσθεν ὠφελῆσαν εἶτ ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν τὸ αὐτὸ ποιοῦν εὑρίσκοντες

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

22 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ὡς ἐπὶ τὸ (16710) πολὺ τὴν τοιαύτην microνήmicroην θεώρηmicroα καλέσαντες ἤδη πιστὸν ἡγοῦνται καὶ microέρος τῆς τέχνης ὡς δὲ πολλὰ θεωρήmicroατα τοιαῦτ ἠθροίζετ αὐτοῖς ἰατρικὴ microὲν ἦν τὸ σύmicroπαν ἄθροισmicroα καὶ ὁ ἀθροίσας ἰατρός ἐκλήθη δ ὑπ αὐτῶν αὐτοψία τὸ τοιοῦτον ἄθροισmicroα microνήmicroη τις (16715) οὖσα τῶν πολλάκις καὶ ὡσαύτως ὀφθέντων ὠνόmicroαζον δ αὐτὸ τοῦτο καὶ ἐmicroπειρίαν ἱστορίαν δὲ τὴν ἐπαγγελίαν αὐτοῦ τὸ γὰρ αὐτὸ τοῦτο τῷ microὲν τηρήσαντι αὐτοψία τῷ δὲ microαθόντι τὸ τετηρηmicroένον ἱστορία ἐστίν (1681) Ἐπεὶ δὲ καὶ νοσήmicroασί τισιν ἐνετύγχανον ἔστιν ὅτε πρόσθεν οὐχ ἑωραmicroένοις ἤ τισιν ἐγνωσmicroένοις microὲν ἀλλ ἐν χωρίοις ἐν οἷς οὐκ ἦν ἰαmicroάτων εὐπορία τῶν διὰ τῆς πείρας τετηρηmicroένων ὄργανόν τι βοηθηmicroάτων εὑρετικὸν (1685) ἐποιήσαντο τὴν τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν ᾧ χρώmicroενοι πολλάκις καὶ ἀπὸ πάθους ἐπὶ πάθος [ὅmicroοιον] τὸ αὐτὸ βοήθηmicroα microεταφέρουσι καὶ ἀπὸ τόπου ἐπὶ τόπον καὶ ἀπὸ τοῦ πρόσθεν ἐγνωσmicroένου βοηθήmicroατος ἐπὶ τὸ παραπλήσιον ἔρχονται ἀπὸ microὲν πάθους ἐπὶ πάθος (16810) ὡς εἰ ἀπ ἐρυσιπέλατος ἐφ ἕρπητα microεταβαίνοιεν ἀπὸ δὲ τόπου ἐπὶ τόπον ὡς ἀπὸ βραχίονος ἐπὶ microηρόν ἀπὸ δὲ βοηθήmicroατος ἐπὶ βοήθηmicroα ὡς ἐν διαρροίαις ἀπὸ microήλου ἐπὶ microέσπιλον ἅπασα δ ἡ τοιαύτη microετάβασις ὁδὸς microέν ἐστιν ἐπὶ τὴν εὕρεσιν εὕρεσις δ οὐδέπω πρὸ (16815) τῆς πείρας ἀλλ ἡνίκ ἂν τὸ ἐλπισθὲν εἰς πεῖραν ἀχθῇ πιστὸν ἤδη τὸ microαρτυρηθὲν ὑπ αὐτῆς ἐστιν οὐδὲν ἧττον ἢ εἰ πλειστάκις καὶ ὡσαύτως ἔχον ἐτετήρητο τὴν δὲ πεῖραν ταύτην τὴν ἑποmicroένην τῇ τοῦ ὁmicroοίου (1691) microεταβάσει τριβικὴν καλοῦσιν ὅτι χρὴ τετρῖφθαι κατὰ τὴν τέχνην τὸν microέλλοντά τι οὕτως εὑρήσειν αἱ δ ἔmicroπροσθεν ἅπασαι πεῖραι αἱ πρὸ τῆς ἐmicroπειρίας ὧν εἰς σύστασιν ἐδεῖθ ἡ τέχνη καὶ περὶ τὸν τυχόντα δύνανται (1695) γενέσθαι τοιαύτη microὲν ἡ διὰ τῆς πείρας πρὸς τὸ τέλος τῆς τέχνης ὁδός

Rodrigo Pinto de Brito

23 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

viii- APEcircNDICE As trecircs seitas meacutedicas e seus principais liacutederes segundo por pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-146845

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

24 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ix- Referecircncias bibliograacuteficas BARNES J SCHOFIELD M BURNYEAT M (eds) Doubt and Dogmatism

Studies in Hellenistic Epistemology Oxford Clarendon Press 1980 BARNES J The Beliefs of a Pyrrhonist In Proceedings of the Cambridge

Philological Society ndeg28 Cambridge 1982 Pp 1-29 BOLZANI R Acadecircmicos versus Pirrocircnicos Satildeo Paulo Alameda Editorial

2013 BRITO R P de Quadros conceituais do ceticismo anterior a Sexto Empiacuterico

In Prometeus ndash Filosofia em Revista Ano 06 ndeg 12 p 121-136 2013 ____ Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua

aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os Retoacutericos In Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

____ DINUCCI A L Traduccedilatildeo e Apresentaccedilatildeo da Diatribe de Epicteto 15 In Revista de Filosofia Antiga (USP Ed portuguecircs) v 08 p 116-132 2014

BURNYEAT M F FREDE M (eds) The Original Sceptics Cambridge Hackett Publishing Company 1998

BURNYEAT M F Can the Sceptic Live his Scepticism In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 205-235

____ The Sceptic in His Place and Time In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 316-345

____ Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012

DIOacuteGENES LAEacuteRCIO Lives of eminent philosophers HICKS R D (trans) Londres William Heinemann 1975

FREDE M WALZER R (trad amp ed) Three Treatises on the Nature of Science On the Sects for Beginners An Outline of Empiricism On Medical Experience Indianapolis Hackett Publishing Company 1985

FREDE M The Skepticrsquos Beliefs In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 179-200

____ The Scepticrsquos Two Kinds of Assent and the Question of the Possibility of Knowledge In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 201-225

____ Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989

HANKINSON R J The Sceptics (the arguments of the philosophers) Londres Routledge 1995

____ (ed) The Cambridge Companion to Galen Cambridge Cambridge University Press 2008

LIDELL H G SCOTT R A Greek-English Lexicon revised and augmented throughout by Sir Henry Stuart Jones with the assistance of Roderick McKenzie Oxford Clarendon Press 1940

MARCONDES de Souza Filho D Finding Onersquos Way About High Windows Narrow Chimneys and Open Doors Wittgensteinrsquos ldquoScepticismrdquo and Philosophical Method In POPKIN R H (ed) Scepticism in the History of Philosophy Amsterdam Kluwer Academic Publishers 1996 Pp 167-179

Rodrigo Pinto de Brito

25 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

____ A ldquoFelicidaderdquo do Discurso Ceacutetico o Problema da Auto-refutaccedilatildeo do Ceticismo In O Que Nos Faz Pensar ndeg 8 1994 Pp 131-144

MATES B The Skeptic Way Sextus Empiricuss Outlines of Pyrrhonism Oxford Oxford University Press 1996

NUSSBAUM M Skeptic Purgatives Therapeutic Arguments in Ancient Skepticism In Journal of History of Philosophy volume 29 ndeg 4 1991 Pp 521-557

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os retoacutericos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2013

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os gramaacuteticos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2015

SEXTO EMPIacuteRICO Complete Works of 4 vols BURY R G (trans) In Loeb Classical Library Harvard Harvard University Press 2006

SEXTO EMPIacuteRICO Outlines of Scepticism ANNAS J BARNES J (eds) Cambridge Cambridge University Press 2000

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Ethicists BETT R (trans) Oxford Clarendon Press 1997

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Grammarians BLANK D L (trans) Oxford Clarendon Press 1998

SMITH P J Terapia e Vida Comum In Skeacutepsis ndeg 1 2007 Pp 43-67 WALBRIDGE J (trad amp ed) The Alexandrian Epitomes of Galen vol 1 On

the Medical Sects for Beginners The Small art of Medicine On the Elements According to the Opinion of Hippocrates A parallel English-Arabic text translated introduced and annotated by john Walbridge In Islamic Translation Series Utah Brigham Young University Press 2014

Page 6: [2] Rodrigo Brito - Sobre o De Sectis de Galeno e o ...philosophicalskepticism.org/wp-content/uploads/... · Galeno (129-216 d.C.) foi um autor prolífico e de suma importância para

Rodrigo Pinto de Brito

13 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ldquopode o ceacutetico prescrever o ceticismo assim como se indicaria abdominais um copo de aacutegua ou a rememoraccedilatildeo noturna antes de dormirrdquo

Nas linhas seguintes vou tentar lidar com as duas questotildees a- a do alinhamento entre pirronismo e medicina em Sexto b- a de um alinhamento tal que gere uma terapecircutica ceacutetica Considero que a questatildeo lsquobrsquo seja um desenvolvimento da lsquoarsquo mas por questotildees internas agrave minha argumentaccedilatildeo comeccedilarei pela lsquobrsquo

v-

Para Sexto o problema central do comportamento dogmaacutetico eacute o compromisso assertoacuterico ou seja a necessidade de emitir proferimentos que afirmem algo (como fizeram estoicos peripateacuteticos ou os Racionalistas de seu tempo ao afirmarem por exemplo a apreensibilidade κατάληψις) bem como proferimentos que rejeitem algo (como fizeram os acadecircmicos e os Empiristas de seu tempo ao rejeitarem por exemplo a possibilidade da apreensatildeo ἀκαταληψία)

O ceacutetico por seu turno possuiria um uso dos termos e da linguagem de modo natildeo-dogmaacutetico (ἀδόξαστος) e com sentido indiferente (ἀδιάφορος) Isto significa que o ceacutetico joga um jogo de linguagem diferente em que pode evitar fazer com que seu discurso pareccedila conter asserccedilotildees peremptoacuterias sobre toacutepicos como verdadefalsidade ou apreensibilidadeinapreensibilidade Este jogo eacute o da ἀφασία ceacutetica ou natildeo-asserccedilatildeo

Assim Sexto se expressa acerca da questatildeo Sobre a ἀφασία dizemos o seguinte o termo asserccedilatildeo (φάσις) tem dois sentidos um geral e outro especiacutefico usado no sentido geral indica afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo () no sentido especial indica somente afirmaccedilatildeo () A ἀφασία entatildeo eacute a evitaccedilatildeo da asserccedilatildeo no sentido geral no qual eacute dito incluiacuterem-se tanto a afirmaccedilatildeo quanto a negaccedilatildeo entatildeo a ἀφασία eacute um πάθος (afecccedilatildeo) nosso por meio do qual recusamos tanto afirmar quanto negar (PH I 192)

Sexto enfatiza que a natildeo-asserccedilatildeo natildeo eacute resultado do modo como as coisas satildeo em si mesmas ie ela natildeo revela uma indeterminaccedilatildeo que estaria nas proacuteprias coisas mas ela exprime o πάθος proacuteprio do ceacutetico Ele enfatiza tambeacutem que o escopo da natildeo-asserccedilatildeo satildeo proferimentos dogmaacuteticos acerca do natildeo-evidente6

Mas por outro lado sem se importar com o valor de verdadefalsidade das asserccedilotildees

lto ceacuteticogt entrega-se agraves coisas que nos movem de acordo com o paacutethos e que nos levam necessariamente (ἀναγκαστικῶς =

6 Mais tarde voltarei a este ponto porque eacute preciso explicar melhor o que isto significa pois dizer que ldquose evitam proferimentos dogmaacuteticosrdquo pode incluir ou natildeo proferimentos dogmaacuteticos que natildeo sejam exclusivamente concernentes agraves filosofias ou agraves teacutechnai

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

14 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

compulsoriamente coercitivamente) ao assentimento (PH I 193)

E para deixar claro seu descompromisso assertoacuterico o ceacutetico usa uma seacuterie de foacutermulas como ldquonatildeo maisrdquo (οὐ microᾶλλον) ldquotalvezrdquo (τάχα) ldquopossivelmenterdquo (ἔξεστι) ldquonada determinordquo (οὐδὲν ὁρίζω) e principalmente ldquome parece querdquo ou ldquoparece-nosrdquo (φαίνεσθαι ἡmicroῖν) Assim em vez de estar constatando como as coisas satildeo ou natildeo o ceacutetico estaacute declarando como as coisas aparecem por isso Sexto diz que os ceacuteticos ἀπαγγέλλοmicroεν (ou seja declaram anunciam) como as coisas a eles se apresentam (PH I 4)

Agora voltando agrave pergunta inicial (lsquobrsquo) sobre se o ceacutetico prescreve o ceticismo me parece que Sexto Empiacuterico sendo meacutedico estaria apto a dizer que sim pois ldquoo ceacutetico sendo filantropo quer curar pelo discurso a arrogacircncia e a precipitaccedilatildeo dos dogmaacuteticosrdquo (PH III 280) E claramente nos eacute dito em seguida que os argumentos ceacuteticos satildeo como remeacutedios uns fortes ndash para os fortemente enfermos ndash outros brandos para aqueles cuja enfermidade eacute branda

Isso faz emergir uma pergunta o ceacutetico toma por ponto de partida que o dogmatismo eacute ruim em si e por isso deve ser curado No momento natildeo tenho uma resposta para isso ainda mais tendo em vista a ausecircncia de exemplos onde poderia haver um tratamento da questatildeo nos termos em que se coloca Assim nesse ponto natildeo tenho como rejeitar que possa haver um dogmatismo impliacutecito na declaraccedilatildeo sextiana de que os dogmaacuteticos sofrem Mas este dogmatismo somente haveria se entendermos que em alguma instacircncia haacute uma afirmaccedilatildeo ou seja que a declaraccedilatildeo aqui porta-se como uma asserccedilatildeo

Outra pergunta que pode surgir agora que argumentei que o ceacutetico pode indicar e mesmo ministrar doses de ceticismo eacute se ele natildeo estaria sendo dogmaacutetico ao fazecirc-lo A resposta eacute que natildeo necessariamente pois posso dizer ldquome parece querdquo ou ldquotalvezrdquo ldquoabdominais um copo de aacutegua ou a rememoraccedilatildeo noturna faccedilam bemrdquo e isto eacute totalmente diferente de asserir ldquorealmenterdquo ldquoeacute verdade querdquo ldquoabdominais copos drsquoaacutegua e rememoraccedilatildeo noturna faratildeo bemrdquo ou ainda ldquorealmenterdquo ldquoeacute verdade querdquo ldquoabdominais copos drsquoaacutegua e rememoraccedilatildeo noturna natildeo faratildeo bemrdquo

O ceacutetico entatildeo poderia dizer ldquome parece que talvez neste caso de acordo com a minha experiecircncia dever-se-ia adotar uma conduta X para chegar a Yrdquo E isso natildeo eacute dogmatizar pois eacute oposto a dizer por exemplo ldquode fato dever-se-ia necessariamente agir de acordo com o criteacuterio X para derradeiramente operar de acordo com uma conduta que o faccedila atingir αrdquo (onde X pode ser ldquosentidosrdquo ou ldquorazatildeordquo e α pode ser ldquoexcelecircnciardquo ou ldquosabedoriardquo)

Faccedilamos uma recapitulaccedilatildeo A pergunta que nos direcionou nesta seccedilatildeo do texto foi sobre a possibilidade de se indicar o ceticismo enquanto terapia Para responder passamos por analogias meacutedicas primeiramente a apresentada a partir de PH I 236 Isto por sua vez nos permitiu pensar o dogmatismo enquanto postura assertoacuterica (positiva ou negativa) e sobre o significado da ἀφασία no ceticismo sextiano

Rodrigo Pinto de Brito

15 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Depois passamos agraves analogias meacutedicas presentes em PH III 280 o que nos levou ao problema do possiacutevel dogmatismo impliacutecito em uma eventual assunccedilatildeo de um mal dogmaacutetico (para o qual natildeo ofereci resposta) e tambeacutem ao problema do dogmatismo impliacutecito no proacuteprio receituaacuterio de argumentos ceacuteticos problema este que foi sanado atraveacutes justamente da concepccedilatildeo sextiana de ἀφασία que reduz o caraacuteter assertoacuterico do proferimento ceacutetico de modo que o ceacutetico pode aconselhar algo que pareccedila curar sem que isto recaia em um proferimento dogmaacutetico ndash aquele que tem compromisso com a verdadefalsidade

Mas isso nos leva a outra questatildeo o ceticismo eacute uma teacutechne ou seja uma arte da vida Esta pergunta por sua vez faz com que nos voltemos para a parte eacutetica da filosofia que eacute tratada por Sexto Empiacuterico em Adv Eth (ou M XI) e tambeacutem PHIII 168 que se relaciona diretamente com Adv Eth Especialmente importante eacute a discussatildeo que se segue apoacutes PH III 188 em que Sexto remete-se agrave noccedilatildeo de τέχνη περὶ βίον (ou lsquoarte acerca da vidarsquo)

O argumento sextiano dirige-se 1) agrave definiccedilatildeo estoica de τέχνη como ldquosistema composto por apreensotildees exercidas em conjuntordquo 2) agrave concepccedilatildeo estoica de apreensatildeo 3) agrave concepccedilatildeo estoica de alma que eacute contraposta agrave concepccedilatildeo platocircnica

Mas essas trecircs supracitadas etapas da argumentaccedilatildeo sextiana satildeo complexas por si soacutes e para serem devidamente tratadas seria necessaacuterio outro texto7 O que me interessa de fato eacute a argumentaccedilatildeo que vem depois que comeccedila em PH III 190 e que objeta que natildeo parece haver algo que seja naturalmente bom e que seja entatildeo um τέλος moral

Do mesmo modo natildeo parece haver um mal e nem indiferentes tendo em vista as divergecircncias sobre isto existentes entre filoacutesofos mas tambeacutem entre pessoas ordinaacuterias em seus costumes e convenccedilotildees Por exemplo diz-nos Sexto ldquoentre noacutes a sodomia eacute considerada vergonhosa ou mesmo ilegal mas entre os germacircnios8 eacute vista natildeo somente como natildeo vergonhosa mas mesmo como habitualrdquo (PH III 199)

7 AO peer reviewer deste texto a quem sou muito grato sugeriu que aqui eu fizesse uma nota explicando ou ao menos explicitando as etapas (1) (2) e (3) da exposiccedilatildeo sextiana que menciono no paraacutegrafo imediatamente acima Concordo plenamente que tal explicaccedilatildeo deva ser dada mas penso que seja inoportuno fazecirc-lo aqui tanto no corpo do texto quanto numa nota de rodapeacute O motivo eacute simples trata-se de uma discussatildeo muito cara natildeo somente para estudiosos do ceticismo mas tambeacutem para os estoicos pois nos permite entender (a) o desenvolvimento da Stoaacute enquanto sistema em geral e (b) enquanto fundamentaccedilatildeo teoacuterica para seis das sete artes que viriam a compor na Idade Meacutedia o trivium e o quadrivium gramaacutetica retoacuterica geometria aritmeacutetica astrologia e muacutesica (cf Adv Math I a VI) Assim sendo penso que se as etapas da exposiccedilatildeo sextiana sobre as definiccedilotildees estoicas de τέχνη apreensatildeo e alma devem ser omitidas do presente texto para natildeo entramos em uma digressatildeo que somente nos atrapalharia Mas tambeacutem acho que essas etapas natildeo devem aparecer em uma nota de rodapeacute considerando que a importacircncia de (a) e (b) acima tenha sido compreendida Assim com o maacuteximo respeito pelao peer reviwer reitero que elucidarei as etapas (1) (2) e (3) em outro artigo 8 Tribo persa

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

16 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Ou ldquofazer sexo com uma mulher em puacuteblico embora seja por noacutes considerado vergonhoso natildeo eacute considerado vergonhoso por alguns indianosrdquo (PH III 200) E aqui Sexto se lembra do Casal Crates e Hipaacuterquia em sua κυνογάmicroια

E tambeacutem ldquopara noacutes a tatuagem eacute considerada vergonhosa mas muitos egiacutepcios e saacutermatas tatuam a prolerdquo (PH III 203)

Entatildeo considerando tal diafonia nos costumes o ceacutetico ldquosuspende o juiacutezo quanto agrave existecircncia de algo bom ou mal por naturezardquo (PH III 235) e observa ἀδόξαστος a vida ordinaacuteria

Anteriormente foi dito que o escopo da natildeo-asserccedilatildeo ceacutetica satildeo proferimentos dogmaacuteticos acerca do natildeo-evidente agora eacute hora de explicar melhor o que isto significa pois ao dizer que ldquoalgueacutem evita proferimentos dogmaacuteticosrdquo isto pode incluir proferimentos dogmaacuteticos que natildeo sejam exclusivamente concernentes agraves filosofias ou agraves teacutechnai ou natildeo Ou seja haacute asserccedilotildees ou proferimentos dogmaacuteticos na vida comum

Considerando a supracitada argumentaccedilatildeo de Sexto acerca das διαφωνίαι que emergem da comparaccedilatildeo entre costumes me parece evidente que sim haacute asserccedilotildees na vida ordinaacuteria elas tambeacutem satildeo alvo da suspensatildeo ceacutetica de juiacutezo Mas isso natildeo compromete a vida pois o ceacutetico tomaria por guia as afecccedilotildees relatando o que aparece e sem a este relato conferir peso assertoacuterico Para corroborar esta argumentaccedilatildeo (que de fato eacute uma meacutedia entre a versatildeo urbana e a ruacutestica do ceticismo)9 uso um tropo de Agripa o da διαφωνία cuja descriccedilatildeo cito ldquoo baseado na diafonia eacute aquele de acordo com o qual quanto a questatildeo em discussatildeo tenha ela surgido na vida ordinaacuteria ou entre os filoacutesofos nos encontramos em um estado de indeterminaccedilatildeordquo (PH I 165)

Entatildeo a observacircncia da vida comum significa agir como agem as pessoas comuns tendo a natureza por guia sendo constrangido pelas afecccedilotildees sendo ativo em algum ofiacutecio e respeitando leis e costumes (os quatro pilares da vida ceacutetica) Contudo diferentemente dos homens comuns e tambeacutem dos filoacutesofos o ceacutetico natildeo se compromete com asserccedilotildees pois elas todas podem ser suspensas

O retorno ceacutetico agrave vida comum eacute o retorno agrave observacircncia externa de instacircncias dessa vida mas seu estado mental eacute diferente pois ele passou por um exerciacutecio participou de uma atividade (διάθεσις) dispotildee de uma capacidade (δύναmicroις) porque em algum momento adotou uma conduta uma ἀγωγή

Esta conduta pode ser reconstruiacuteda a partir da leitura do livro I das PH notadamente atraveacutes dos passos 1 4 7 12 25-31 e tambeacutem eacute apresentada ordenadamente em Contra os gramaacuteticos 6 Ela funciona do seguinte modo

1ordm- comeccedila-se com a pesquisa ζήτησις ou o exame σκέψις

9 Ver lsquoBRITO R P Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os retoacutericosrsquo In Revista Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

Rodrigo Pinto de Brito

17 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

2ordm- durante a pesquisa percebe-se um conflito (microάχη) entre asserccedilotildees 3ordm- este conflito se daacute por causa da equipolecircncia (ἰσοσθένεια) destas asserccedilotildees 4ordm- emerge a aporia 5ordm- a aporia leva a suspensatildeo do juiacutezo ou retenccedilatildeo do assentimento (ἐποχή) 6ordm- que por um acaso faz surgir a imperturbabilidade (ἀταραξία) Apoacutes a suspensatildeo estando imperturbaacutevel o ceacutetico observa natildeo-dogmaticamente e natildeo-assertoricamente a vida ordinaacuteria como dissemos alhures

vi-

Agora para finalizar gostaria de falar mais sobre no que consiste esta observaccedilatildeoobservacircncia da vida ordinaacuteria e isto nos permitiraacute voltar ao ponto do alinhamento entre pirronismo e medicina em Sexto (que chamei de lsquoarsquo mais acima) lanccedilando uma nova luz sobre o tema

Para falar desta observaccedilatildeoobservacircncia Sexto usa o verbo τηρέω que significa fazer τήρησις palavra que inicialmente possui um uso poliacutetico como por exemplo em Aristoacuteteles Pol 1308a30 significando ldquovigilacircnciardquo ldquocustoacutediardquo e ldquopreservaccedilatildeordquo

Em Sexto Empiacuterico esta semacircntica persiste assim o ceacutetico sextiano eacute marcado pela observacircncia dos costumes (daiacute os quatro pilares da vida ceacutetica que aparecem em PH I 23)

Mas tambeacutem haacute em Sexto outra semacircntica a da observaccedilatildeo enquanto componente da abordagem dos meacutedicos Empiristas conforme atestado por Galeno em Das seitas meacutedicas para os iniciantes como se poderaacute verificar na leitura da traduccedilatildeo que ofereccedilo mais abaixo Corroborando essa interpretaccedilatildeo haacute em Sexto uma breve e curiosa passagem de Contra os astroacutelogos em que ele diz que ao contraacuterio do meacutetodo Caldaico de observaccedilotildees celestes e assunccedilotildees de efeitos por conta de uma relaccedilatildeo causal natildeo-evidente entre a disposiccedilatildeo dos astros e o comportamento humano por outro lado ldquona medicina observamos que um ferimento no coraccedilatildeo eacute mortal tendo sido observada natildeo somente a morte de Diacuteon mas tambeacutem de Theacuteon e Soacutecrates e muitos outrosrdquo (Adv Ast 104 = M V 104) Vale a pena enfatizar que a ocorrecircncia do verbo τηρέω na 1ordf pessoa do plural do aoristo indicativo ativo (ἐτηρήσαmicroεν) indica que tambeacutem Sexto na medicina adotava o meacutetodo observativo

Assim a ldquoobservaccedilatildeordquo constitui uma etapa da metodologia dos Empiristas os usos locais satildeo observados e tambeacutem a evoluccedilatildeo das doenccedilas

E esta observaccedilatildeo dos usos locais para tratamentos de doenccedilas que tambeacutem pode ser entendida como observacircncia dos usos a τήρησις eacute quase inoacutecua se natildeo for acompanhada da transiccedilatildeo para o semelhante τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

18 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Pois eacute esta transiccedilatildeo que permite que algo que foi observado como eficiente em um caso X possa ser aproveitado em um caso Y desde que X e Y pareccedilam semelhantes

Entatildeo pensemos em Sexto o fato de ser cognominado Empiacuterico denota sua adesatildeo inicial agrave seita dos meacutedicos Empiristas Mas Sexto nos informa que esta seita tornara-se dogmaacutetico-negativa porque rejeitou assertivamente a possibilidade do conhecimento (como faziam os acadecircmicos) Sexto entatildeo tendo pesquisado e examinado outros grupos como os meacutedicos Racionalistas (que estavam enveredados em pesquisas sobre as etiologias natildeo-evidentes das doenccedilas e asseriam a possibilidade de conhececirc-las) deu ouvidos agraves criacuteticas feitas ao comportamento assertoacuterico negativo dos proacuteprios Empiristas que gerava uma autocontradiccedilatildeo Assim ao tornar-se liacuteder dos Empiristas alinhou a seita ainda mais explicitamente ao pirronismo evitando proferimentos dogmaacutetico-negativos e investindo em toacutepicos como lsquoobservaccedilatildeoobservacircncia dos costumesrsquo lsquonatildeo-asserccedilatildeorsquo lsquotransiccedilatildeo para o semelhantersquo Conceitos que satildeo basilares para a compreensatildeo dos modi operandi dos ceacuteticos pirrocircnicos e dos meacutedicos Empiristas ambos aperfeiccediloados por Sexto

vii- Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641-1695

De Galeno sobre as seitas10 [meacutedicas] para os iniciantes

(1641) O escopo da arte11 meacutedica eacute a sauacutede e seu fim a sua posse Eacute necessaacuterio ser sabido pelos meacutedicos como fazer a sauacutede advir quando ausente ou mantecirc-la quando presente Chama-se de (1645) medicamentos e de remeacutedios o que suscita a sauacutede quando estaacute ausente e de dietas saudaacuteveis o que manteacutem [a sauacutede] quando presente Eis porque o antigo relato12 diz que a medicina eacute a ciecircncia das coisas saudaacuteveis e das nocivas sendo chamadas saudaacuteveis as que mantecircm a sauacutede quando presente (1651) e as que a restauram quando arruinada e [sendo chamadas de] nocivas as diametralmente opostas a essas Pois o meacutedico precisa de ambos os conhecimentos para capturar uma e escapar da outra Mas natildeo haacute acordo entre todos sobre onde se encontraria (1655) o conhecimento de tais coisas mas uns dizem que somente a experiecircncia eacute suficiente para a arte outros acham que a razatildeo natildeo pouco contribui Aqueles satildeo chamados de Empiristas13 por partirem somente da

10αἵρεσις uma adesatildeo inclinaccedilatildeo ou escolha Denota partido ou grupo a seita dos que escolhem uma determinada coisa em detrimento de outra 11 τέχνη arte ou teacutecnica recorrentes como traduccedilotildees para o vocaacutebulo me parecem insuficientes e por isso prefiro lsquoofiacuteciorsquo por em uma uacutenica palavra conter semacircnticas tais como artesanato arte teacutecnica todos enquanto manejo de uma conhecimento e de uma praacutetica Contudo verti τέχνη por arte em todo o texto por questotildees estiliacutesticas Assim evitei que frases que ocorrem como ldquoo escopo da arte meacutedica eacuterdquo ocorressem como ldquoo escopo do ofiacutecio da medicina eacuterdquo por exemplo 12 Natildeo se trata aqui de λόγος enquanto razatildeo enquanto portanto mola-mestra do procedimento da seita dos Racionalistas (como se haacute de ver) mas sim simplesmente de lsquoaccountrsquo 13 Optei por grafar os nomes das seitas com maiuacutesculas ao longo de todo o texto

Rodrigo Pinto de Brito

19 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

experiecircncia14 sendo parocircnimos15 do mesmo modo os que [partem] da razatildeo (16510) de Racionalistas16 e estas satildeo as duas seitas primaacuterias da medicina A primeira parte de experimentos17 para a descoberta de medicamentos a segunda [parte da] indicaccedilatildeo E assim eles deram os nomes de Empirista e de Racionalista agraves [suas] seitas Mas usualmente a Empirista tambeacutem eacute chamada de (16515) Observante18 e de Memorativa19 e a Racionalista de Dogmaacutetica20 e de Analogiacutestica21 e semelhantemente agraves seitas os homens que escolheram22 a experiecircncia satildeo chamados de Empiristas Observantes e Memorativos dos fenocircmenos os que admitiram a razatildeo de (16520) Racionalistas Dogmaacuteticos e Analogiacutesticos

(1661) Os Empiristas dizem que a arte eacute organizada do seguinte modo Uma vez observou-se que muitas das afecccedilotildees humanas se datildeo espontaneamente tanto nos doentes quanto nos saudaacuteveis como o sangramento (1665) nasal ou a sudorese a diarreia ou outra coisa assim que trouxe dano ou vantagem de modo algum tendo uma causa produtiva23 perceptiacutevel24 Quanto agraves outras [afecccedilotildees] a causa eacute manifesta natildeo advindo por escolha nossa mas por acaso como quando ocorre que algueacutem caiu ou foi golpeado ou (16610) ferido de algum outro modo o sangue fluiu e quando na doenccedila bebeu aacutegua fria vinho ou outra coisa assim satisfazendo seu apetite cada um destes terminando em benefiacutecio

14 Apesar de ter vertido ἐmicroπειρικοί por Empiristas (e natildeo Empiacutericos) natildeo optei por verter ἐmicroπειρία por empiria mas simplesmente optei pelo proacuteprio significado da palavra Assim lsquoexperiecircnciarsquo 15 Houaiss 2001 ldquoadjsm (1858 cf MS) gram ling 1 diz-se de ou cada um dos dois ou mais vocaacutebulos que satildeo quase homocircnimos diferenciando-se ligeiramente na grafia e na pronuacutencia 11 diz-se de ou palavra cujos fonemas podem confundir-se com os de outra(s) por razotildees etimoloacutegicas ou simplesmente tocircnicas (pex deferir diferir descriccedilatildeo discriccedilatildeo emigrar imigrar etc) 12 na paronomaacutesia diz-se de cada uma das palavras fonicamente parecidas que se colocam proacuteximas uma da outra num texto Uso neste dicionaacuterio incluiacutemos entre os parocircnimos (rubrica par) os vocaacutebulos que se escrevem com as mesmas letras mas que diferem quanto agrave acentuaccedilatildeo graacutefica e ao timbre (papeacuteis [pl papel] e papeis [v papar]) para os quais tb se usa a denominaccedilatildeo de homoacutegrafos imperfeitos Etim gr parocircnumososon que tem nome parecido que deriva de outro nome ou palavra sobrenome ver par(a)- e -ocircnimo fhist 1858 paroacutenymo 1899 paroacutenimo Col paronimia paroniacutemiardquo 16 Assim como ἐmicroπειρικοί eacute vertido por Empiristas e natildeo Empiacutericos tambeacutem λογικοί eacute vertido por Racionalistas e natildeo Racionais 17 πεῖρα tentativa Mas uma vez que se trata de um meacutetodo dos Empiristas uma abordagem que pode envolver ldquotentativa-errordquo sendo essa abordagem uma espeacutecie experimento resolvi assim traduzir o vocaacutebulo ao longo de todo o texto 18 τηρητικός que parte da τήρησις (observaccedilatildeoobservacircncia) ou seja lsquoObservantersquo 19 microνηmicroονευτικός que parte da microνήmicroη (memoacuteriarememoraccedilatildeo) ou seja lsquoMemorativarsquo 20 δογmicroατικός diz-se de quem adota princiacutepios gerais teoacutericos acerca de algo contrapondo-se a uma abordagem experimental como se veraacute 21 ἀναλογιστικός diz-se de quem opera por um meacutetodo analoacutegico como se veraacute 22 Terceira pessoa do plural do aoristo indicativo meacutedio de αἱρέω escolher Daiacute o livro tratar-se de uma apresentaccedilatildeo das diferentes αἱρέσεις (escolhas adesotildees) meacutedicas 23 ποιῆσαν αἴτιον 24 αἰσθητός sensiacutevel

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

20 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ou dano [entatildeo] ao primeiro tipo de coisa beneacutefica ou danosa chamaram de natural ao segundo de casual (16615) mas em ambos os casos chama-se de incidecircncia25 a primeira visatildeo [das coisas beneacuteficas ou danosas] dando esse nome por algo incidir sobre as circunstacircncias involuntariamente Tal entatildeo eacute o tipo de experiecircncia incidental Mas haacute a impremeditada26 quando (1671) deliberadamente se tenta algo ou compelido por sonhos ou por quaisquer outras suposiccedilotildees E haacute um terceiro tipo de experiecircncia a imitativa27 quando algo beneacutefico ou danoso tanto naturalmente quanto casualmente ou (1675) impremeditadamente eacute experimentado recursivamente nas mesmas afecccedilotildees E eacute principalmente este [tipo] que constituiu sua arte pois tendo imitado natildeo somente duas ou trecircs mas muitas vezes o que causou benefiacutecio anteriormente em seguida descobriram que na maioria dos casos (16710) o produto era o mesmo nas mesmas afecccedilotildees ndash e a tal rememoraccedilatildeo28 chamaram de teorema29 jaacute considerada confiaacutevel e parte da arte Assim tendo-se coletado muitos desses teoremas por eles a totalidade da coletacircnea eacute a medicina e o coletor o meacutedico Tal coletacircnea foi chamada por eles de autoacutepsia30 sendo um tipo de rememoraccedilatildeo (16715) do que foi visto muitas vezes e do mesmo modo Mas tambeacutem chamaram essa mesma coisa de experiecircncia e a sua divulgaccedilatildeo de histoacuteria31 pois para o observador [a rememoraccedilatildeo] eacute autoacutepsia por outro lado eacute histoacuteria para quem aprende o que foi observado (1681) Mas uma vez que se deparavam com algumas doenccedilas que natildeo haviam sido vistas anteriormente ou com outras que eram conhecidas em locais nos quais natildeo havia provisatildeo de medicamentos observados por meio de experimentos criaram um instrumento para (1685) descobrir remeacutedios a transiccedilatildeo para o semelhante com ajuda da qual amiuacutede transferem o mesmo remeacutedio de afecccedilatildeo agrave afecccedilatildeo de lugar a lugar [afetado] e de um remeacutedio previamente conhecido vatildeo para um parecido De afecccedilatildeo a afecccedilatildeo (16810) como se passassem da erisipela agrave herpes de lugar a lugar [afetado] como do braccedilo agrave coxa de remeacutedio a remeacutedio como na diarreia da maccedilatilde agrave necircspera Toda essa transiccedilatildeo eacute um caminho para a descoberta mas a descoberta nunca (16815) antecede o experimento Uma vez que se colocou em experimento aquilo que se esperava jaacute eacute confiaacutevel sendo confirmado por esse [experimento] natildeo menos do que se tivesse sido observado amiuacutede e do mesmo modo A este experimento que acompanha a transiccedilatildeo para o (1691) semelhante chamam de praacutetico porque eacute preciso ser praacutetico na arte caso se pretenda descobrir algo desse modo Todos os experimentos que antecedem a experiecircncia dos quais a arte necessitava para a sua constituiccedilatildeo podem ser criados (1695) pelas pessoas comuns Tal eacute o caminho atraveacutes do experimento para [alcanccedilar] o fim da arte

25 περίπτωσις encontro 26 αὐτοσχέδιος espontacircneo improvisado 27 Ou mimeacutetica 28 microνήmicroη 29 θεώρηmicroα teoria especulaccedilatildeo intuiccedilatildeo ou algo sujeito agrave investigaccedilatildeo 30 αὐτοψία visatildeo ou percepccedilatildeo de si mesmo 31 ἱστορία investigaccedilatildeo observaccedilatildeo cientiacutefica informaccedilatildeo ou relato

Rodrigo Pinto de Brito

21 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ΓΑΛΗΝΟΥ ΠΕΡΙ ΑΙΡΕΣΕΩΝ ΤΟΙΣ ΕΙΣΑΓΟΜΕΝΟΙΣ (1641) Τῆς ἰατρικῆς τέχνης σκοπὸς microὲν ἡ ὑγίεια τέλος δ ἡ κτῆσις αὐτῆς ἐξ ὧν δ ἄν τις ἢ microὴ παροῦσαν ὑγίειαν ἐργάζοιτ ἢ παροῦσαν διαφυλάττοι γιγνώσκεσθαι microὲν ἀναγκαῖον τοῖς ἰατροῖς καλεῖται δὲ (1645) τὰ microὲν ἐργαζόmicroενα τὴν microὴ οὖσαν ὑγίειαν ἰάmicroατά τε καὶ βοηθήmicroατα τὰ δὲ φυλάττοντα τὴν οὖσαν [ὑγίειαν] ὑγιεινὰ διαιτήmicroατα ταῦτ ἄρα καὶ αὐτὴν τὴν ἰατρικὴν ἐπιστήmicroην ὑγιεινῶν καὶ νοσερῶν ὁ παλαιὸς λόγος φησίν ὑγιεινὰ microὲν καλῶν τά τε φυλάττοντα τὴν οὖσαν (1651) ὑγίειαν καὶ τὰ τὴν διεφθαρmicroένην ἀνασώζοντα νοσερὰ δὲ τἀναντία τούτων δεῖται γὰρ ἀmicroφοῖν ὁ ἰατρὸς τῆς γνώσεως ὑπὲρ τοῦ τὰ microὲν ἑλέσθαι τὰ δὲ φυγεῖν ὅθεν δ ltἂνgt τὴν τούτων ἐπιστήmicroην ἐκπορίσαιτο οὐκέθ (1655) [ὁmicroοίως] ὁmicroολογεῖται παρὰ πᾶσιν ἀλλ οἱ microὲν τὴν ἐmicroπειρίαν microόνην φασὶν ἀρκεῖν τῇ τέχνῃ τοῖς δὲ καὶ ὁ λόγος οὐ σmicroικρὰ δοκεῖ συντελεῖν ὀνοmicroάζονται δ οἱ microὲν ἀπὸ τῆς ἐmicroπειρίας microόνης ὁρmicroώmicroενοι παρωνύmicroως ἐκείνης ἐmicroπειρικοί ὁmicroοίως δὲ καὶ οἱ ἀπὸ τοῦ λόγου (16510) λογικοὶ καὶ δύο εἰσὶν αὗται πρῶται τῆς ἰατρικῆς αἱρέσεις ἡ microὲν ἑτέρα διὰ πείρας ἰοῦσα πρὸς τὴν τῶν ἰαmicroάτων εὕρεσιν ἡ δ ἑτέρα δι ἐνδείξεως καὶ ὀνόmicroατά γε ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικήν τε καὶ λογικήν καλεῖν δ εἰσὶν εἰθισmicroένοι τὴν microὲν ἐmicroπειρικὴν (16515) τηρητικήν τε καὶ microνηmicroονευτικήν τὴν δὲ λογικὴν δογmicroατικήν τε καὶ ἀναλογιστικήν καὶ τοὺς ἄνδρας ὁmicroοίως ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικοὺς microὲν καὶ τηρητικοὺς καὶ microνηmicroονευτικοὺς τῶν φαινοmicroένων ὅσοι τὴν ἐmicroπειρίαν εἵλοντο λογικοὺς δὲ καὶ δογmicroατικοὺς καὶ ἀναλογιστικούς (16520) ὅσοι τὸν λόγον προσήκαντο (1661) Συστήσασθαι δὲ τὴν τέχνην οἱ microὲν ἐmicroπειρικοὶ τόνδε τὸν τρόπον φασίν ἐπειδὴ πολλὰ τοῖς ἀνθρώποις ἑώρων πάθη τὰ microὲν ἀπὸ ταὐτοmicroάτου γιγνόmicroενα νοσοῦσί τε καὶ ὑγιαίνουσιν οἷον αἵmicroατος ῥύσιν (1665) ἐκ ῥινῶν ἢ ἱδρῶτας ἢ διαρροίας ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο βλάβην ἢ ὠφέλειαν φέρον οὐ microὴν τό γε ποιῆσαν αἴτιον αἰσθητὸν ἔχον ἕτερα δ ὧν τὸ microὲν αἴτιον ἐφαίνετ οὐ microὴν ἐκ προαιρέσεως ἡmicroετέρας ἀλλὰ κατά τινα συντυχίαν οἷον συνέβη πεσόντος τινὸς ἢ πληγέντος ἢ (16610) ἄλλως πως τρωθέντος αἷmicroα ῥυῆναι καὶ πιεῖν ἐν νόσῳ χαρισάmicroενον τῇ ἐπιθυmicroίᾳ ψυχρὸν ὕδωρ ἢ οἶνον ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο ὧν ἕκαστον εἰς ὠφέλειαν ἢ βλάβην ἐτελεύτα τὸ microὲν [οὖν] πρότερον εἶδος τῶν ὠφελούντων ἢ βλαπτόντων ἐκάλουν φυσικόν τὸ δὲ δεύτερον τυχικόν (16615) ἑκατέρου δ αὐτῶν τὴν πρώτην θέαν περίπτωσιν ὠνόmicroαζον ἀπὸ τοῦ περιπίπτειν ἀβουλήτως τοῖς πράγmicroασι τοὔνοmicroα θέmicroενοι τὸ microὲν οὖν περιπτωτικὸν εἶδος τῆς ἐmicroπειρίας τοιόνδε τί ἐστι τὸ δ αὐτοσχέδιον ὅταν (1671) ἑκόντες ἐπὶ τὸ πειράζειν ἀφίκωνται ἢ ὑπ ὀνειράτων προτραπέντες ἢ ἄλλως πως δοξάζοντες ἀλλὰ καὶ τρίτον τῆς ἐmicroπειρίας εἶδός ἐστι τὸ microιmicroητικόν ὅταν τῶν ὠφελησάντων ἢ βλαψάντων ὁτιοῦν ἢ φύσει ἢ τύχῃ ἢ (1675) αὐτοσχεδίως ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν αὖθις εἰς πεῖραν ἄγηται καὶ τοῦτ ἐστὶ τὸ microάλιστα τὴν τέχνην αὐτῶν συστησάmicroενον οὐ γὰρ δὶς microόνον ἢ τρὶς ἀλλὰ καὶ πλειστάκις microιmicroησάmicroενοι τὸ πρόσθεν ὠφελῆσαν εἶτ ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν τὸ αὐτὸ ποιοῦν εὑρίσκοντες

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

22 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ὡς ἐπὶ τὸ (16710) πολὺ τὴν τοιαύτην microνήmicroην θεώρηmicroα καλέσαντες ἤδη πιστὸν ἡγοῦνται καὶ microέρος τῆς τέχνης ὡς δὲ πολλὰ θεωρήmicroατα τοιαῦτ ἠθροίζετ αὐτοῖς ἰατρικὴ microὲν ἦν τὸ σύmicroπαν ἄθροισmicroα καὶ ὁ ἀθροίσας ἰατρός ἐκλήθη δ ὑπ αὐτῶν αὐτοψία τὸ τοιοῦτον ἄθροισmicroα microνήmicroη τις (16715) οὖσα τῶν πολλάκις καὶ ὡσαύτως ὀφθέντων ὠνόmicroαζον δ αὐτὸ τοῦτο καὶ ἐmicroπειρίαν ἱστορίαν δὲ τὴν ἐπαγγελίαν αὐτοῦ τὸ γὰρ αὐτὸ τοῦτο τῷ microὲν τηρήσαντι αὐτοψία τῷ δὲ microαθόντι τὸ τετηρηmicroένον ἱστορία ἐστίν (1681) Ἐπεὶ δὲ καὶ νοσήmicroασί τισιν ἐνετύγχανον ἔστιν ὅτε πρόσθεν οὐχ ἑωραmicroένοις ἤ τισιν ἐγνωσmicroένοις microὲν ἀλλ ἐν χωρίοις ἐν οἷς οὐκ ἦν ἰαmicroάτων εὐπορία τῶν διὰ τῆς πείρας τετηρηmicroένων ὄργανόν τι βοηθηmicroάτων εὑρετικὸν (1685) ἐποιήσαντο τὴν τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν ᾧ χρώmicroενοι πολλάκις καὶ ἀπὸ πάθους ἐπὶ πάθος [ὅmicroοιον] τὸ αὐτὸ βοήθηmicroα microεταφέρουσι καὶ ἀπὸ τόπου ἐπὶ τόπον καὶ ἀπὸ τοῦ πρόσθεν ἐγνωσmicroένου βοηθήmicroατος ἐπὶ τὸ παραπλήσιον ἔρχονται ἀπὸ microὲν πάθους ἐπὶ πάθος (16810) ὡς εἰ ἀπ ἐρυσιπέλατος ἐφ ἕρπητα microεταβαίνοιεν ἀπὸ δὲ τόπου ἐπὶ τόπον ὡς ἀπὸ βραχίονος ἐπὶ microηρόν ἀπὸ δὲ βοηθήmicroατος ἐπὶ βοήθηmicroα ὡς ἐν διαρροίαις ἀπὸ microήλου ἐπὶ microέσπιλον ἅπασα δ ἡ τοιαύτη microετάβασις ὁδὸς microέν ἐστιν ἐπὶ τὴν εὕρεσιν εὕρεσις δ οὐδέπω πρὸ (16815) τῆς πείρας ἀλλ ἡνίκ ἂν τὸ ἐλπισθὲν εἰς πεῖραν ἀχθῇ πιστὸν ἤδη τὸ microαρτυρηθὲν ὑπ αὐτῆς ἐστιν οὐδὲν ἧττον ἢ εἰ πλειστάκις καὶ ὡσαύτως ἔχον ἐτετήρητο τὴν δὲ πεῖραν ταύτην τὴν ἑποmicroένην τῇ τοῦ ὁmicroοίου (1691) microεταβάσει τριβικὴν καλοῦσιν ὅτι χρὴ τετρῖφθαι κατὰ τὴν τέχνην τὸν microέλλοντά τι οὕτως εὑρήσειν αἱ δ ἔmicroπροσθεν ἅπασαι πεῖραι αἱ πρὸ τῆς ἐmicroπειρίας ὧν εἰς σύστασιν ἐδεῖθ ἡ τέχνη καὶ περὶ τὸν τυχόντα δύνανται (1695) γενέσθαι τοιαύτη microὲν ἡ διὰ τῆς πείρας πρὸς τὸ τέλος τῆς τέχνης ὁδός

Rodrigo Pinto de Brito

23 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

viii- APEcircNDICE As trecircs seitas meacutedicas e seus principais liacutederes segundo por pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-146845

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

24 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ix- Referecircncias bibliograacuteficas BARNES J SCHOFIELD M BURNYEAT M (eds) Doubt and Dogmatism

Studies in Hellenistic Epistemology Oxford Clarendon Press 1980 BARNES J The Beliefs of a Pyrrhonist In Proceedings of the Cambridge

Philological Society ndeg28 Cambridge 1982 Pp 1-29 BOLZANI R Acadecircmicos versus Pirrocircnicos Satildeo Paulo Alameda Editorial

2013 BRITO R P de Quadros conceituais do ceticismo anterior a Sexto Empiacuterico

In Prometeus ndash Filosofia em Revista Ano 06 ndeg 12 p 121-136 2013 ____ Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua

aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os Retoacutericos In Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

____ DINUCCI A L Traduccedilatildeo e Apresentaccedilatildeo da Diatribe de Epicteto 15 In Revista de Filosofia Antiga (USP Ed portuguecircs) v 08 p 116-132 2014

BURNYEAT M F FREDE M (eds) The Original Sceptics Cambridge Hackett Publishing Company 1998

BURNYEAT M F Can the Sceptic Live his Scepticism In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 205-235

____ The Sceptic in His Place and Time In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 316-345

____ Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012

DIOacuteGENES LAEacuteRCIO Lives of eminent philosophers HICKS R D (trans) Londres William Heinemann 1975

FREDE M WALZER R (trad amp ed) Three Treatises on the Nature of Science On the Sects for Beginners An Outline of Empiricism On Medical Experience Indianapolis Hackett Publishing Company 1985

FREDE M The Skepticrsquos Beliefs In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 179-200

____ The Scepticrsquos Two Kinds of Assent and the Question of the Possibility of Knowledge In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 201-225

____ Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989

HANKINSON R J The Sceptics (the arguments of the philosophers) Londres Routledge 1995

____ (ed) The Cambridge Companion to Galen Cambridge Cambridge University Press 2008

LIDELL H G SCOTT R A Greek-English Lexicon revised and augmented throughout by Sir Henry Stuart Jones with the assistance of Roderick McKenzie Oxford Clarendon Press 1940

MARCONDES de Souza Filho D Finding Onersquos Way About High Windows Narrow Chimneys and Open Doors Wittgensteinrsquos ldquoScepticismrdquo and Philosophical Method In POPKIN R H (ed) Scepticism in the History of Philosophy Amsterdam Kluwer Academic Publishers 1996 Pp 167-179

Rodrigo Pinto de Brito

25 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

____ A ldquoFelicidaderdquo do Discurso Ceacutetico o Problema da Auto-refutaccedilatildeo do Ceticismo In O Que Nos Faz Pensar ndeg 8 1994 Pp 131-144

MATES B The Skeptic Way Sextus Empiricuss Outlines of Pyrrhonism Oxford Oxford University Press 1996

NUSSBAUM M Skeptic Purgatives Therapeutic Arguments in Ancient Skepticism In Journal of History of Philosophy volume 29 ndeg 4 1991 Pp 521-557

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os retoacutericos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2013

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os gramaacuteticos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2015

SEXTO EMPIacuteRICO Complete Works of 4 vols BURY R G (trans) In Loeb Classical Library Harvard Harvard University Press 2006

SEXTO EMPIacuteRICO Outlines of Scepticism ANNAS J BARNES J (eds) Cambridge Cambridge University Press 2000

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Ethicists BETT R (trans) Oxford Clarendon Press 1997

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Grammarians BLANK D L (trans) Oxford Clarendon Press 1998

SMITH P J Terapia e Vida Comum In Skeacutepsis ndeg 1 2007 Pp 43-67 WALBRIDGE J (trad amp ed) The Alexandrian Epitomes of Galen vol 1 On

the Medical Sects for Beginners The Small art of Medicine On the Elements According to the Opinion of Hippocrates A parallel English-Arabic text translated introduced and annotated by john Walbridge In Islamic Translation Series Utah Brigham Young University Press 2014

Page 7: [2] Rodrigo Brito - Sobre o De Sectis de Galeno e o ...philosophicalskepticism.org/wp-content/uploads/... · Galeno (129-216 d.C.) foi um autor prolífico e de suma importância para

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

14 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

compulsoriamente coercitivamente) ao assentimento (PH I 193)

E para deixar claro seu descompromisso assertoacuterico o ceacutetico usa uma seacuterie de foacutermulas como ldquonatildeo maisrdquo (οὐ microᾶλλον) ldquotalvezrdquo (τάχα) ldquopossivelmenterdquo (ἔξεστι) ldquonada determinordquo (οὐδὲν ὁρίζω) e principalmente ldquome parece querdquo ou ldquoparece-nosrdquo (φαίνεσθαι ἡmicroῖν) Assim em vez de estar constatando como as coisas satildeo ou natildeo o ceacutetico estaacute declarando como as coisas aparecem por isso Sexto diz que os ceacuteticos ἀπαγγέλλοmicroεν (ou seja declaram anunciam) como as coisas a eles se apresentam (PH I 4)

Agora voltando agrave pergunta inicial (lsquobrsquo) sobre se o ceacutetico prescreve o ceticismo me parece que Sexto Empiacuterico sendo meacutedico estaria apto a dizer que sim pois ldquoo ceacutetico sendo filantropo quer curar pelo discurso a arrogacircncia e a precipitaccedilatildeo dos dogmaacuteticosrdquo (PH III 280) E claramente nos eacute dito em seguida que os argumentos ceacuteticos satildeo como remeacutedios uns fortes ndash para os fortemente enfermos ndash outros brandos para aqueles cuja enfermidade eacute branda

Isso faz emergir uma pergunta o ceacutetico toma por ponto de partida que o dogmatismo eacute ruim em si e por isso deve ser curado No momento natildeo tenho uma resposta para isso ainda mais tendo em vista a ausecircncia de exemplos onde poderia haver um tratamento da questatildeo nos termos em que se coloca Assim nesse ponto natildeo tenho como rejeitar que possa haver um dogmatismo impliacutecito na declaraccedilatildeo sextiana de que os dogmaacuteticos sofrem Mas este dogmatismo somente haveria se entendermos que em alguma instacircncia haacute uma afirmaccedilatildeo ou seja que a declaraccedilatildeo aqui porta-se como uma asserccedilatildeo

Outra pergunta que pode surgir agora que argumentei que o ceacutetico pode indicar e mesmo ministrar doses de ceticismo eacute se ele natildeo estaria sendo dogmaacutetico ao fazecirc-lo A resposta eacute que natildeo necessariamente pois posso dizer ldquome parece querdquo ou ldquotalvezrdquo ldquoabdominais um copo de aacutegua ou a rememoraccedilatildeo noturna faccedilam bemrdquo e isto eacute totalmente diferente de asserir ldquorealmenterdquo ldquoeacute verdade querdquo ldquoabdominais copos drsquoaacutegua e rememoraccedilatildeo noturna faratildeo bemrdquo ou ainda ldquorealmenterdquo ldquoeacute verdade querdquo ldquoabdominais copos drsquoaacutegua e rememoraccedilatildeo noturna natildeo faratildeo bemrdquo

O ceacutetico entatildeo poderia dizer ldquome parece que talvez neste caso de acordo com a minha experiecircncia dever-se-ia adotar uma conduta X para chegar a Yrdquo E isso natildeo eacute dogmatizar pois eacute oposto a dizer por exemplo ldquode fato dever-se-ia necessariamente agir de acordo com o criteacuterio X para derradeiramente operar de acordo com uma conduta que o faccedila atingir αrdquo (onde X pode ser ldquosentidosrdquo ou ldquorazatildeordquo e α pode ser ldquoexcelecircnciardquo ou ldquosabedoriardquo)

Faccedilamos uma recapitulaccedilatildeo A pergunta que nos direcionou nesta seccedilatildeo do texto foi sobre a possibilidade de se indicar o ceticismo enquanto terapia Para responder passamos por analogias meacutedicas primeiramente a apresentada a partir de PH I 236 Isto por sua vez nos permitiu pensar o dogmatismo enquanto postura assertoacuterica (positiva ou negativa) e sobre o significado da ἀφασία no ceticismo sextiano

Rodrigo Pinto de Brito

15 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Depois passamos agraves analogias meacutedicas presentes em PH III 280 o que nos levou ao problema do possiacutevel dogmatismo impliacutecito em uma eventual assunccedilatildeo de um mal dogmaacutetico (para o qual natildeo ofereci resposta) e tambeacutem ao problema do dogmatismo impliacutecito no proacuteprio receituaacuterio de argumentos ceacuteticos problema este que foi sanado atraveacutes justamente da concepccedilatildeo sextiana de ἀφασία que reduz o caraacuteter assertoacuterico do proferimento ceacutetico de modo que o ceacutetico pode aconselhar algo que pareccedila curar sem que isto recaia em um proferimento dogmaacutetico ndash aquele que tem compromisso com a verdadefalsidade

Mas isso nos leva a outra questatildeo o ceticismo eacute uma teacutechne ou seja uma arte da vida Esta pergunta por sua vez faz com que nos voltemos para a parte eacutetica da filosofia que eacute tratada por Sexto Empiacuterico em Adv Eth (ou M XI) e tambeacutem PHIII 168 que se relaciona diretamente com Adv Eth Especialmente importante eacute a discussatildeo que se segue apoacutes PH III 188 em que Sexto remete-se agrave noccedilatildeo de τέχνη περὶ βίον (ou lsquoarte acerca da vidarsquo)

O argumento sextiano dirige-se 1) agrave definiccedilatildeo estoica de τέχνη como ldquosistema composto por apreensotildees exercidas em conjuntordquo 2) agrave concepccedilatildeo estoica de apreensatildeo 3) agrave concepccedilatildeo estoica de alma que eacute contraposta agrave concepccedilatildeo platocircnica

Mas essas trecircs supracitadas etapas da argumentaccedilatildeo sextiana satildeo complexas por si soacutes e para serem devidamente tratadas seria necessaacuterio outro texto7 O que me interessa de fato eacute a argumentaccedilatildeo que vem depois que comeccedila em PH III 190 e que objeta que natildeo parece haver algo que seja naturalmente bom e que seja entatildeo um τέλος moral

Do mesmo modo natildeo parece haver um mal e nem indiferentes tendo em vista as divergecircncias sobre isto existentes entre filoacutesofos mas tambeacutem entre pessoas ordinaacuterias em seus costumes e convenccedilotildees Por exemplo diz-nos Sexto ldquoentre noacutes a sodomia eacute considerada vergonhosa ou mesmo ilegal mas entre os germacircnios8 eacute vista natildeo somente como natildeo vergonhosa mas mesmo como habitualrdquo (PH III 199)

7 AO peer reviewer deste texto a quem sou muito grato sugeriu que aqui eu fizesse uma nota explicando ou ao menos explicitando as etapas (1) (2) e (3) da exposiccedilatildeo sextiana que menciono no paraacutegrafo imediatamente acima Concordo plenamente que tal explicaccedilatildeo deva ser dada mas penso que seja inoportuno fazecirc-lo aqui tanto no corpo do texto quanto numa nota de rodapeacute O motivo eacute simples trata-se de uma discussatildeo muito cara natildeo somente para estudiosos do ceticismo mas tambeacutem para os estoicos pois nos permite entender (a) o desenvolvimento da Stoaacute enquanto sistema em geral e (b) enquanto fundamentaccedilatildeo teoacuterica para seis das sete artes que viriam a compor na Idade Meacutedia o trivium e o quadrivium gramaacutetica retoacuterica geometria aritmeacutetica astrologia e muacutesica (cf Adv Math I a VI) Assim sendo penso que se as etapas da exposiccedilatildeo sextiana sobre as definiccedilotildees estoicas de τέχνη apreensatildeo e alma devem ser omitidas do presente texto para natildeo entramos em uma digressatildeo que somente nos atrapalharia Mas tambeacutem acho que essas etapas natildeo devem aparecer em uma nota de rodapeacute considerando que a importacircncia de (a) e (b) acima tenha sido compreendida Assim com o maacuteximo respeito pelao peer reviwer reitero que elucidarei as etapas (1) (2) e (3) em outro artigo 8 Tribo persa

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

16 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Ou ldquofazer sexo com uma mulher em puacuteblico embora seja por noacutes considerado vergonhoso natildeo eacute considerado vergonhoso por alguns indianosrdquo (PH III 200) E aqui Sexto se lembra do Casal Crates e Hipaacuterquia em sua κυνογάmicroια

E tambeacutem ldquopara noacutes a tatuagem eacute considerada vergonhosa mas muitos egiacutepcios e saacutermatas tatuam a prolerdquo (PH III 203)

Entatildeo considerando tal diafonia nos costumes o ceacutetico ldquosuspende o juiacutezo quanto agrave existecircncia de algo bom ou mal por naturezardquo (PH III 235) e observa ἀδόξαστος a vida ordinaacuteria

Anteriormente foi dito que o escopo da natildeo-asserccedilatildeo ceacutetica satildeo proferimentos dogmaacuteticos acerca do natildeo-evidente agora eacute hora de explicar melhor o que isto significa pois ao dizer que ldquoalgueacutem evita proferimentos dogmaacuteticosrdquo isto pode incluir proferimentos dogmaacuteticos que natildeo sejam exclusivamente concernentes agraves filosofias ou agraves teacutechnai ou natildeo Ou seja haacute asserccedilotildees ou proferimentos dogmaacuteticos na vida comum

Considerando a supracitada argumentaccedilatildeo de Sexto acerca das διαφωνίαι que emergem da comparaccedilatildeo entre costumes me parece evidente que sim haacute asserccedilotildees na vida ordinaacuteria elas tambeacutem satildeo alvo da suspensatildeo ceacutetica de juiacutezo Mas isso natildeo compromete a vida pois o ceacutetico tomaria por guia as afecccedilotildees relatando o que aparece e sem a este relato conferir peso assertoacuterico Para corroborar esta argumentaccedilatildeo (que de fato eacute uma meacutedia entre a versatildeo urbana e a ruacutestica do ceticismo)9 uso um tropo de Agripa o da διαφωνία cuja descriccedilatildeo cito ldquoo baseado na diafonia eacute aquele de acordo com o qual quanto a questatildeo em discussatildeo tenha ela surgido na vida ordinaacuteria ou entre os filoacutesofos nos encontramos em um estado de indeterminaccedilatildeordquo (PH I 165)

Entatildeo a observacircncia da vida comum significa agir como agem as pessoas comuns tendo a natureza por guia sendo constrangido pelas afecccedilotildees sendo ativo em algum ofiacutecio e respeitando leis e costumes (os quatro pilares da vida ceacutetica) Contudo diferentemente dos homens comuns e tambeacutem dos filoacutesofos o ceacutetico natildeo se compromete com asserccedilotildees pois elas todas podem ser suspensas

O retorno ceacutetico agrave vida comum eacute o retorno agrave observacircncia externa de instacircncias dessa vida mas seu estado mental eacute diferente pois ele passou por um exerciacutecio participou de uma atividade (διάθεσις) dispotildee de uma capacidade (δύναmicroις) porque em algum momento adotou uma conduta uma ἀγωγή

Esta conduta pode ser reconstruiacuteda a partir da leitura do livro I das PH notadamente atraveacutes dos passos 1 4 7 12 25-31 e tambeacutem eacute apresentada ordenadamente em Contra os gramaacuteticos 6 Ela funciona do seguinte modo

1ordm- comeccedila-se com a pesquisa ζήτησις ou o exame σκέψις

9 Ver lsquoBRITO R P Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os retoacutericosrsquo In Revista Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

Rodrigo Pinto de Brito

17 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

2ordm- durante a pesquisa percebe-se um conflito (microάχη) entre asserccedilotildees 3ordm- este conflito se daacute por causa da equipolecircncia (ἰσοσθένεια) destas asserccedilotildees 4ordm- emerge a aporia 5ordm- a aporia leva a suspensatildeo do juiacutezo ou retenccedilatildeo do assentimento (ἐποχή) 6ordm- que por um acaso faz surgir a imperturbabilidade (ἀταραξία) Apoacutes a suspensatildeo estando imperturbaacutevel o ceacutetico observa natildeo-dogmaticamente e natildeo-assertoricamente a vida ordinaacuteria como dissemos alhures

vi-

Agora para finalizar gostaria de falar mais sobre no que consiste esta observaccedilatildeoobservacircncia da vida ordinaacuteria e isto nos permitiraacute voltar ao ponto do alinhamento entre pirronismo e medicina em Sexto (que chamei de lsquoarsquo mais acima) lanccedilando uma nova luz sobre o tema

Para falar desta observaccedilatildeoobservacircncia Sexto usa o verbo τηρέω que significa fazer τήρησις palavra que inicialmente possui um uso poliacutetico como por exemplo em Aristoacuteteles Pol 1308a30 significando ldquovigilacircnciardquo ldquocustoacutediardquo e ldquopreservaccedilatildeordquo

Em Sexto Empiacuterico esta semacircntica persiste assim o ceacutetico sextiano eacute marcado pela observacircncia dos costumes (daiacute os quatro pilares da vida ceacutetica que aparecem em PH I 23)

Mas tambeacutem haacute em Sexto outra semacircntica a da observaccedilatildeo enquanto componente da abordagem dos meacutedicos Empiristas conforme atestado por Galeno em Das seitas meacutedicas para os iniciantes como se poderaacute verificar na leitura da traduccedilatildeo que ofereccedilo mais abaixo Corroborando essa interpretaccedilatildeo haacute em Sexto uma breve e curiosa passagem de Contra os astroacutelogos em que ele diz que ao contraacuterio do meacutetodo Caldaico de observaccedilotildees celestes e assunccedilotildees de efeitos por conta de uma relaccedilatildeo causal natildeo-evidente entre a disposiccedilatildeo dos astros e o comportamento humano por outro lado ldquona medicina observamos que um ferimento no coraccedilatildeo eacute mortal tendo sido observada natildeo somente a morte de Diacuteon mas tambeacutem de Theacuteon e Soacutecrates e muitos outrosrdquo (Adv Ast 104 = M V 104) Vale a pena enfatizar que a ocorrecircncia do verbo τηρέω na 1ordf pessoa do plural do aoristo indicativo ativo (ἐτηρήσαmicroεν) indica que tambeacutem Sexto na medicina adotava o meacutetodo observativo

Assim a ldquoobservaccedilatildeordquo constitui uma etapa da metodologia dos Empiristas os usos locais satildeo observados e tambeacutem a evoluccedilatildeo das doenccedilas

E esta observaccedilatildeo dos usos locais para tratamentos de doenccedilas que tambeacutem pode ser entendida como observacircncia dos usos a τήρησις eacute quase inoacutecua se natildeo for acompanhada da transiccedilatildeo para o semelhante τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

18 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Pois eacute esta transiccedilatildeo que permite que algo que foi observado como eficiente em um caso X possa ser aproveitado em um caso Y desde que X e Y pareccedilam semelhantes

Entatildeo pensemos em Sexto o fato de ser cognominado Empiacuterico denota sua adesatildeo inicial agrave seita dos meacutedicos Empiristas Mas Sexto nos informa que esta seita tornara-se dogmaacutetico-negativa porque rejeitou assertivamente a possibilidade do conhecimento (como faziam os acadecircmicos) Sexto entatildeo tendo pesquisado e examinado outros grupos como os meacutedicos Racionalistas (que estavam enveredados em pesquisas sobre as etiologias natildeo-evidentes das doenccedilas e asseriam a possibilidade de conhececirc-las) deu ouvidos agraves criacuteticas feitas ao comportamento assertoacuterico negativo dos proacuteprios Empiristas que gerava uma autocontradiccedilatildeo Assim ao tornar-se liacuteder dos Empiristas alinhou a seita ainda mais explicitamente ao pirronismo evitando proferimentos dogmaacutetico-negativos e investindo em toacutepicos como lsquoobservaccedilatildeoobservacircncia dos costumesrsquo lsquonatildeo-asserccedilatildeorsquo lsquotransiccedilatildeo para o semelhantersquo Conceitos que satildeo basilares para a compreensatildeo dos modi operandi dos ceacuteticos pirrocircnicos e dos meacutedicos Empiristas ambos aperfeiccediloados por Sexto

vii- Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641-1695

De Galeno sobre as seitas10 [meacutedicas] para os iniciantes

(1641) O escopo da arte11 meacutedica eacute a sauacutede e seu fim a sua posse Eacute necessaacuterio ser sabido pelos meacutedicos como fazer a sauacutede advir quando ausente ou mantecirc-la quando presente Chama-se de (1645) medicamentos e de remeacutedios o que suscita a sauacutede quando estaacute ausente e de dietas saudaacuteveis o que manteacutem [a sauacutede] quando presente Eis porque o antigo relato12 diz que a medicina eacute a ciecircncia das coisas saudaacuteveis e das nocivas sendo chamadas saudaacuteveis as que mantecircm a sauacutede quando presente (1651) e as que a restauram quando arruinada e [sendo chamadas de] nocivas as diametralmente opostas a essas Pois o meacutedico precisa de ambos os conhecimentos para capturar uma e escapar da outra Mas natildeo haacute acordo entre todos sobre onde se encontraria (1655) o conhecimento de tais coisas mas uns dizem que somente a experiecircncia eacute suficiente para a arte outros acham que a razatildeo natildeo pouco contribui Aqueles satildeo chamados de Empiristas13 por partirem somente da

10αἵρεσις uma adesatildeo inclinaccedilatildeo ou escolha Denota partido ou grupo a seita dos que escolhem uma determinada coisa em detrimento de outra 11 τέχνη arte ou teacutecnica recorrentes como traduccedilotildees para o vocaacutebulo me parecem insuficientes e por isso prefiro lsquoofiacuteciorsquo por em uma uacutenica palavra conter semacircnticas tais como artesanato arte teacutecnica todos enquanto manejo de uma conhecimento e de uma praacutetica Contudo verti τέχνη por arte em todo o texto por questotildees estiliacutesticas Assim evitei que frases que ocorrem como ldquoo escopo da arte meacutedica eacuterdquo ocorressem como ldquoo escopo do ofiacutecio da medicina eacuterdquo por exemplo 12 Natildeo se trata aqui de λόγος enquanto razatildeo enquanto portanto mola-mestra do procedimento da seita dos Racionalistas (como se haacute de ver) mas sim simplesmente de lsquoaccountrsquo 13 Optei por grafar os nomes das seitas com maiuacutesculas ao longo de todo o texto

Rodrigo Pinto de Brito

19 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

experiecircncia14 sendo parocircnimos15 do mesmo modo os que [partem] da razatildeo (16510) de Racionalistas16 e estas satildeo as duas seitas primaacuterias da medicina A primeira parte de experimentos17 para a descoberta de medicamentos a segunda [parte da] indicaccedilatildeo E assim eles deram os nomes de Empirista e de Racionalista agraves [suas] seitas Mas usualmente a Empirista tambeacutem eacute chamada de (16515) Observante18 e de Memorativa19 e a Racionalista de Dogmaacutetica20 e de Analogiacutestica21 e semelhantemente agraves seitas os homens que escolheram22 a experiecircncia satildeo chamados de Empiristas Observantes e Memorativos dos fenocircmenos os que admitiram a razatildeo de (16520) Racionalistas Dogmaacuteticos e Analogiacutesticos

(1661) Os Empiristas dizem que a arte eacute organizada do seguinte modo Uma vez observou-se que muitas das afecccedilotildees humanas se datildeo espontaneamente tanto nos doentes quanto nos saudaacuteveis como o sangramento (1665) nasal ou a sudorese a diarreia ou outra coisa assim que trouxe dano ou vantagem de modo algum tendo uma causa produtiva23 perceptiacutevel24 Quanto agraves outras [afecccedilotildees] a causa eacute manifesta natildeo advindo por escolha nossa mas por acaso como quando ocorre que algueacutem caiu ou foi golpeado ou (16610) ferido de algum outro modo o sangue fluiu e quando na doenccedila bebeu aacutegua fria vinho ou outra coisa assim satisfazendo seu apetite cada um destes terminando em benefiacutecio

14 Apesar de ter vertido ἐmicroπειρικοί por Empiristas (e natildeo Empiacutericos) natildeo optei por verter ἐmicroπειρία por empiria mas simplesmente optei pelo proacuteprio significado da palavra Assim lsquoexperiecircnciarsquo 15 Houaiss 2001 ldquoadjsm (1858 cf MS) gram ling 1 diz-se de ou cada um dos dois ou mais vocaacutebulos que satildeo quase homocircnimos diferenciando-se ligeiramente na grafia e na pronuacutencia 11 diz-se de ou palavra cujos fonemas podem confundir-se com os de outra(s) por razotildees etimoloacutegicas ou simplesmente tocircnicas (pex deferir diferir descriccedilatildeo discriccedilatildeo emigrar imigrar etc) 12 na paronomaacutesia diz-se de cada uma das palavras fonicamente parecidas que se colocam proacuteximas uma da outra num texto Uso neste dicionaacuterio incluiacutemos entre os parocircnimos (rubrica par) os vocaacutebulos que se escrevem com as mesmas letras mas que diferem quanto agrave acentuaccedilatildeo graacutefica e ao timbre (papeacuteis [pl papel] e papeis [v papar]) para os quais tb se usa a denominaccedilatildeo de homoacutegrafos imperfeitos Etim gr parocircnumososon que tem nome parecido que deriva de outro nome ou palavra sobrenome ver par(a)- e -ocircnimo fhist 1858 paroacutenymo 1899 paroacutenimo Col paronimia paroniacutemiardquo 16 Assim como ἐmicroπειρικοί eacute vertido por Empiristas e natildeo Empiacutericos tambeacutem λογικοί eacute vertido por Racionalistas e natildeo Racionais 17 πεῖρα tentativa Mas uma vez que se trata de um meacutetodo dos Empiristas uma abordagem que pode envolver ldquotentativa-errordquo sendo essa abordagem uma espeacutecie experimento resolvi assim traduzir o vocaacutebulo ao longo de todo o texto 18 τηρητικός que parte da τήρησις (observaccedilatildeoobservacircncia) ou seja lsquoObservantersquo 19 microνηmicroονευτικός que parte da microνήmicroη (memoacuteriarememoraccedilatildeo) ou seja lsquoMemorativarsquo 20 δογmicroατικός diz-se de quem adota princiacutepios gerais teoacutericos acerca de algo contrapondo-se a uma abordagem experimental como se veraacute 21 ἀναλογιστικός diz-se de quem opera por um meacutetodo analoacutegico como se veraacute 22 Terceira pessoa do plural do aoristo indicativo meacutedio de αἱρέω escolher Daiacute o livro tratar-se de uma apresentaccedilatildeo das diferentes αἱρέσεις (escolhas adesotildees) meacutedicas 23 ποιῆσαν αἴτιον 24 αἰσθητός sensiacutevel

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

20 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ou dano [entatildeo] ao primeiro tipo de coisa beneacutefica ou danosa chamaram de natural ao segundo de casual (16615) mas em ambos os casos chama-se de incidecircncia25 a primeira visatildeo [das coisas beneacuteficas ou danosas] dando esse nome por algo incidir sobre as circunstacircncias involuntariamente Tal entatildeo eacute o tipo de experiecircncia incidental Mas haacute a impremeditada26 quando (1671) deliberadamente se tenta algo ou compelido por sonhos ou por quaisquer outras suposiccedilotildees E haacute um terceiro tipo de experiecircncia a imitativa27 quando algo beneacutefico ou danoso tanto naturalmente quanto casualmente ou (1675) impremeditadamente eacute experimentado recursivamente nas mesmas afecccedilotildees E eacute principalmente este [tipo] que constituiu sua arte pois tendo imitado natildeo somente duas ou trecircs mas muitas vezes o que causou benefiacutecio anteriormente em seguida descobriram que na maioria dos casos (16710) o produto era o mesmo nas mesmas afecccedilotildees ndash e a tal rememoraccedilatildeo28 chamaram de teorema29 jaacute considerada confiaacutevel e parte da arte Assim tendo-se coletado muitos desses teoremas por eles a totalidade da coletacircnea eacute a medicina e o coletor o meacutedico Tal coletacircnea foi chamada por eles de autoacutepsia30 sendo um tipo de rememoraccedilatildeo (16715) do que foi visto muitas vezes e do mesmo modo Mas tambeacutem chamaram essa mesma coisa de experiecircncia e a sua divulgaccedilatildeo de histoacuteria31 pois para o observador [a rememoraccedilatildeo] eacute autoacutepsia por outro lado eacute histoacuteria para quem aprende o que foi observado (1681) Mas uma vez que se deparavam com algumas doenccedilas que natildeo haviam sido vistas anteriormente ou com outras que eram conhecidas em locais nos quais natildeo havia provisatildeo de medicamentos observados por meio de experimentos criaram um instrumento para (1685) descobrir remeacutedios a transiccedilatildeo para o semelhante com ajuda da qual amiuacutede transferem o mesmo remeacutedio de afecccedilatildeo agrave afecccedilatildeo de lugar a lugar [afetado] e de um remeacutedio previamente conhecido vatildeo para um parecido De afecccedilatildeo a afecccedilatildeo (16810) como se passassem da erisipela agrave herpes de lugar a lugar [afetado] como do braccedilo agrave coxa de remeacutedio a remeacutedio como na diarreia da maccedilatilde agrave necircspera Toda essa transiccedilatildeo eacute um caminho para a descoberta mas a descoberta nunca (16815) antecede o experimento Uma vez que se colocou em experimento aquilo que se esperava jaacute eacute confiaacutevel sendo confirmado por esse [experimento] natildeo menos do que se tivesse sido observado amiuacutede e do mesmo modo A este experimento que acompanha a transiccedilatildeo para o (1691) semelhante chamam de praacutetico porque eacute preciso ser praacutetico na arte caso se pretenda descobrir algo desse modo Todos os experimentos que antecedem a experiecircncia dos quais a arte necessitava para a sua constituiccedilatildeo podem ser criados (1695) pelas pessoas comuns Tal eacute o caminho atraveacutes do experimento para [alcanccedilar] o fim da arte

25 περίπτωσις encontro 26 αὐτοσχέδιος espontacircneo improvisado 27 Ou mimeacutetica 28 microνήmicroη 29 θεώρηmicroα teoria especulaccedilatildeo intuiccedilatildeo ou algo sujeito agrave investigaccedilatildeo 30 αὐτοψία visatildeo ou percepccedilatildeo de si mesmo 31 ἱστορία investigaccedilatildeo observaccedilatildeo cientiacutefica informaccedilatildeo ou relato

Rodrigo Pinto de Brito

21 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ΓΑΛΗΝΟΥ ΠΕΡΙ ΑΙΡΕΣΕΩΝ ΤΟΙΣ ΕΙΣΑΓΟΜΕΝΟΙΣ (1641) Τῆς ἰατρικῆς τέχνης σκοπὸς microὲν ἡ ὑγίεια τέλος δ ἡ κτῆσις αὐτῆς ἐξ ὧν δ ἄν τις ἢ microὴ παροῦσαν ὑγίειαν ἐργάζοιτ ἢ παροῦσαν διαφυλάττοι γιγνώσκεσθαι microὲν ἀναγκαῖον τοῖς ἰατροῖς καλεῖται δὲ (1645) τὰ microὲν ἐργαζόmicroενα τὴν microὴ οὖσαν ὑγίειαν ἰάmicroατά τε καὶ βοηθήmicroατα τὰ δὲ φυλάττοντα τὴν οὖσαν [ὑγίειαν] ὑγιεινὰ διαιτήmicroατα ταῦτ ἄρα καὶ αὐτὴν τὴν ἰατρικὴν ἐπιστήmicroην ὑγιεινῶν καὶ νοσερῶν ὁ παλαιὸς λόγος φησίν ὑγιεινὰ microὲν καλῶν τά τε φυλάττοντα τὴν οὖσαν (1651) ὑγίειαν καὶ τὰ τὴν διεφθαρmicroένην ἀνασώζοντα νοσερὰ δὲ τἀναντία τούτων δεῖται γὰρ ἀmicroφοῖν ὁ ἰατρὸς τῆς γνώσεως ὑπὲρ τοῦ τὰ microὲν ἑλέσθαι τὰ δὲ φυγεῖν ὅθεν δ ltἂνgt τὴν τούτων ἐπιστήmicroην ἐκπορίσαιτο οὐκέθ (1655) [ὁmicroοίως] ὁmicroολογεῖται παρὰ πᾶσιν ἀλλ οἱ microὲν τὴν ἐmicroπειρίαν microόνην φασὶν ἀρκεῖν τῇ τέχνῃ τοῖς δὲ καὶ ὁ λόγος οὐ σmicroικρὰ δοκεῖ συντελεῖν ὀνοmicroάζονται δ οἱ microὲν ἀπὸ τῆς ἐmicroπειρίας microόνης ὁρmicroώmicroενοι παρωνύmicroως ἐκείνης ἐmicroπειρικοί ὁmicroοίως δὲ καὶ οἱ ἀπὸ τοῦ λόγου (16510) λογικοὶ καὶ δύο εἰσὶν αὗται πρῶται τῆς ἰατρικῆς αἱρέσεις ἡ microὲν ἑτέρα διὰ πείρας ἰοῦσα πρὸς τὴν τῶν ἰαmicroάτων εὕρεσιν ἡ δ ἑτέρα δι ἐνδείξεως καὶ ὀνόmicroατά γε ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικήν τε καὶ λογικήν καλεῖν δ εἰσὶν εἰθισmicroένοι τὴν microὲν ἐmicroπειρικὴν (16515) τηρητικήν τε καὶ microνηmicroονευτικήν τὴν δὲ λογικὴν δογmicroατικήν τε καὶ ἀναλογιστικήν καὶ τοὺς ἄνδρας ὁmicroοίως ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικοὺς microὲν καὶ τηρητικοὺς καὶ microνηmicroονευτικοὺς τῶν φαινοmicroένων ὅσοι τὴν ἐmicroπειρίαν εἵλοντο λογικοὺς δὲ καὶ δογmicroατικοὺς καὶ ἀναλογιστικούς (16520) ὅσοι τὸν λόγον προσήκαντο (1661) Συστήσασθαι δὲ τὴν τέχνην οἱ microὲν ἐmicroπειρικοὶ τόνδε τὸν τρόπον φασίν ἐπειδὴ πολλὰ τοῖς ἀνθρώποις ἑώρων πάθη τὰ microὲν ἀπὸ ταὐτοmicroάτου γιγνόmicroενα νοσοῦσί τε καὶ ὑγιαίνουσιν οἷον αἵmicroατος ῥύσιν (1665) ἐκ ῥινῶν ἢ ἱδρῶτας ἢ διαρροίας ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο βλάβην ἢ ὠφέλειαν φέρον οὐ microὴν τό γε ποιῆσαν αἴτιον αἰσθητὸν ἔχον ἕτερα δ ὧν τὸ microὲν αἴτιον ἐφαίνετ οὐ microὴν ἐκ προαιρέσεως ἡmicroετέρας ἀλλὰ κατά τινα συντυχίαν οἷον συνέβη πεσόντος τινὸς ἢ πληγέντος ἢ (16610) ἄλλως πως τρωθέντος αἷmicroα ῥυῆναι καὶ πιεῖν ἐν νόσῳ χαρισάmicroενον τῇ ἐπιθυmicroίᾳ ψυχρὸν ὕδωρ ἢ οἶνον ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο ὧν ἕκαστον εἰς ὠφέλειαν ἢ βλάβην ἐτελεύτα τὸ microὲν [οὖν] πρότερον εἶδος τῶν ὠφελούντων ἢ βλαπτόντων ἐκάλουν φυσικόν τὸ δὲ δεύτερον τυχικόν (16615) ἑκατέρου δ αὐτῶν τὴν πρώτην θέαν περίπτωσιν ὠνόmicroαζον ἀπὸ τοῦ περιπίπτειν ἀβουλήτως τοῖς πράγmicroασι τοὔνοmicroα θέmicroενοι τὸ microὲν οὖν περιπτωτικὸν εἶδος τῆς ἐmicroπειρίας τοιόνδε τί ἐστι τὸ δ αὐτοσχέδιον ὅταν (1671) ἑκόντες ἐπὶ τὸ πειράζειν ἀφίκωνται ἢ ὑπ ὀνειράτων προτραπέντες ἢ ἄλλως πως δοξάζοντες ἀλλὰ καὶ τρίτον τῆς ἐmicroπειρίας εἶδός ἐστι τὸ microιmicroητικόν ὅταν τῶν ὠφελησάντων ἢ βλαψάντων ὁτιοῦν ἢ φύσει ἢ τύχῃ ἢ (1675) αὐτοσχεδίως ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν αὖθις εἰς πεῖραν ἄγηται καὶ τοῦτ ἐστὶ τὸ microάλιστα τὴν τέχνην αὐτῶν συστησάmicroενον οὐ γὰρ δὶς microόνον ἢ τρὶς ἀλλὰ καὶ πλειστάκις microιmicroησάmicroενοι τὸ πρόσθεν ὠφελῆσαν εἶτ ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν τὸ αὐτὸ ποιοῦν εὑρίσκοντες

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

22 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ὡς ἐπὶ τὸ (16710) πολὺ τὴν τοιαύτην microνήmicroην θεώρηmicroα καλέσαντες ἤδη πιστὸν ἡγοῦνται καὶ microέρος τῆς τέχνης ὡς δὲ πολλὰ θεωρήmicroατα τοιαῦτ ἠθροίζετ αὐτοῖς ἰατρικὴ microὲν ἦν τὸ σύmicroπαν ἄθροισmicroα καὶ ὁ ἀθροίσας ἰατρός ἐκλήθη δ ὑπ αὐτῶν αὐτοψία τὸ τοιοῦτον ἄθροισmicroα microνήmicroη τις (16715) οὖσα τῶν πολλάκις καὶ ὡσαύτως ὀφθέντων ὠνόmicroαζον δ αὐτὸ τοῦτο καὶ ἐmicroπειρίαν ἱστορίαν δὲ τὴν ἐπαγγελίαν αὐτοῦ τὸ γὰρ αὐτὸ τοῦτο τῷ microὲν τηρήσαντι αὐτοψία τῷ δὲ microαθόντι τὸ τετηρηmicroένον ἱστορία ἐστίν (1681) Ἐπεὶ δὲ καὶ νοσήmicroασί τισιν ἐνετύγχανον ἔστιν ὅτε πρόσθεν οὐχ ἑωραmicroένοις ἤ τισιν ἐγνωσmicroένοις microὲν ἀλλ ἐν χωρίοις ἐν οἷς οὐκ ἦν ἰαmicroάτων εὐπορία τῶν διὰ τῆς πείρας τετηρηmicroένων ὄργανόν τι βοηθηmicroάτων εὑρετικὸν (1685) ἐποιήσαντο τὴν τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν ᾧ χρώmicroενοι πολλάκις καὶ ἀπὸ πάθους ἐπὶ πάθος [ὅmicroοιον] τὸ αὐτὸ βοήθηmicroα microεταφέρουσι καὶ ἀπὸ τόπου ἐπὶ τόπον καὶ ἀπὸ τοῦ πρόσθεν ἐγνωσmicroένου βοηθήmicroατος ἐπὶ τὸ παραπλήσιον ἔρχονται ἀπὸ microὲν πάθους ἐπὶ πάθος (16810) ὡς εἰ ἀπ ἐρυσιπέλατος ἐφ ἕρπητα microεταβαίνοιεν ἀπὸ δὲ τόπου ἐπὶ τόπον ὡς ἀπὸ βραχίονος ἐπὶ microηρόν ἀπὸ δὲ βοηθήmicroατος ἐπὶ βοήθηmicroα ὡς ἐν διαρροίαις ἀπὸ microήλου ἐπὶ microέσπιλον ἅπασα δ ἡ τοιαύτη microετάβασις ὁδὸς microέν ἐστιν ἐπὶ τὴν εὕρεσιν εὕρεσις δ οὐδέπω πρὸ (16815) τῆς πείρας ἀλλ ἡνίκ ἂν τὸ ἐλπισθὲν εἰς πεῖραν ἀχθῇ πιστὸν ἤδη τὸ microαρτυρηθὲν ὑπ αὐτῆς ἐστιν οὐδὲν ἧττον ἢ εἰ πλειστάκις καὶ ὡσαύτως ἔχον ἐτετήρητο τὴν δὲ πεῖραν ταύτην τὴν ἑποmicroένην τῇ τοῦ ὁmicroοίου (1691) microεταβάσει τριβικὴν καλοῦσιν ὅτι χρὴ τετρῖφθαι κατὰ τὴν τέχνην τὸν microέλλοντά τι οὕτως εὑρήσειν αἱ δ ἔmicroπροσθεν ἅπασαι πεῖραι αἱ πρὸ τῆς ἐmicroπειρίας ὧν εἰς σύστασιν ἐδεῖθ ἡ τέχνη καὶ περὶ τὸν τυχόντα δύνανται (1695) γενέσθαι τοιαύτη microὲν ἡ διὰ τῆς πείρας πρὸς τὸ τέλος τῆς τέχνης ὁδός

Rodrigo Pinto de Brito

23 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

viii- APEcircNDICE As trecircs seitas meacutedicas e seus principais liacutederes segundo por pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-146845

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

24 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ix- Referecircncias bibliograacuteficas BARNES J SCHOFIELD M BURNYEAT M (eds) Doubt and Dogmatism

Studies in Hellenistic Epistemology Oxford Clarendon Press 1980 BARNES J The Beliefs of a Pyrrhonist In Proceedings of the Cambridge

Philological Society ndeg28 Cambridge 1982 Pp 1-29 BOLZANI R Acadecircmicos versus Pirrocircnicos Satildeo Paulo Alameda Editorial

2013 BRITO R P de Quadros conceituais do ceticismo anterior a Sexto Empiacuterico

In Prometeus ndash Filosofia em Revista Ano 06 ndeg 12 p 121-136 2013 ____ Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua

aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os Retoacutericos In Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

____ DINUCCI A L Traduccedilatildeo e Apresentaccedilatildeo da Diatribe de Epicteto 15 In Revista de Filosofia Antiga (USP Ed portuguecircs) v 08 p 116-132 2014

BURNYEAT M F FREDE M (eds) The Original Sceptics Cambridge Hackett Publishing Company 1998

BURNYEAT M F Can the Sceptic Live his Scepticism In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 205-235

____ The Sceptic in His Place and Time In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 316-345

____ Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012

DIOacuteGENES LAEacuteRCIO Lives of eminent philosophers HICKS R D (trans) Londres William Heinemann 1975

FREDE M WALZER R (trad amp ed) Three Treatises on the Nature of Science On the Sects for Beginners An Outline of Empiricism On Medical Experience Indianapolis Hackett Publishing Company 1985

FREDE M The Skepticrsquos Beliefs In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 179-200

____ The Scepticrsquos Two Kinds of Assent and the Question of the Possibility of Knowledge In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 201-225

____ Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989

HANKINSON R J The Sceptics (the arguments of the philosophers) Londres Routledge 1995

____ (ed) The Cambridge Companion to Galen Cambridge Cambridge University Press 2008

LIDELL H G SCOTT R A Greek-English Lexicon revised and augmented throughout by Sir Henry Stuart Jones with the assistance of Roderick McKenzie Oxford Clarendon Press 1940

MARCONDES de Souza Filho D Finding Onersquos Way About High Windows Narrow Chimneys and Open Doors Wittgensteinrsquos ldquoScepticismrdquo and Philosophical Method In POPKIN R H (ed) Scepticism in the History of Philosophy Amsterdam Kluwer Academic Publishers 1996 Pp 167-179

Rodrigo Pinto de Brito

25 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

____ A ldquoFelicidaderdquo do Discurso Ceacutetico o Problema da Auto-refutaccedilatildeo do Ceticismo In O Que Nos Faz Pensar ndeg 8 1994 Pp 131-144

MATES B The Skeptic Way Sextus Empiricuss Outlines of Pyrrhonism Oxford Oxford University Press 1996

NUSSBAUM M Skeptic Purgatives Therapeutic Arguments in Ancient Skepticism In Journal of History of Philosophy volume 29 ndeg 4 1991 Pp 521-557

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os retoacutericos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2013

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os gramaacuteticos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2015

SEXTO EMPIacuteRICO Complete Works of 4 vols BURY R G (trans) In Loeb Classical Library Harvard Harvard University Press 2006

SEXTO EMPIacuteRICO Outlines of Scepticism ANNAS J BARNES J (eds) Cambridge Cambridge University Press 2000

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Ethicists BETT R (trans) Oxford Clarendon Press 1997

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Grammarians BLANK D L (trans) Oxford Clarendon Press 1998

SMITH P J Terapia e Vida Comum In Skeacutepsis ndeg 1 2007 Pp 43-67 WALBRIDGE J (trad amp ed) The Alexandrian Epitomes of Galen vol 1 On

the Medical Sects for Beginners The Small art of Medicine On the Elements According to the Opinion of Hippocrates A parallel English-Arabic text translated introduced and annotated by john Walbridge In Islamic Translation Series Utah Brigham Young University Press 2014

Page 8: [2] Rodrigo Brito - Sobre o De Sectis de Galeno e o ...philosophicalskepticism.org/wp-content/uploads/... · Galeno (129-216 d.C.) foi um autor prolífico e de suma importância para

Rodrigo Pinto de Brito

15 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Depois passamos agraves analogias meacutedicas presentes em PH III 280 o que nos levou ao problema do possiacutevel dogmatismo impliacutecito em uma eventual assunccedilatildeo de um mal dogmaacutetico (para o qual natildeo ofereci resposta) e tambeacutem ao problema do dogmatismo impliacutecito no proacuteprio receituaacuterio de argumentos ceacuteticos problema este que foi sanado atraveacutes justamente da concepccedilatildeo sextiana de ἀφασία que reduz o caraacuteter assertoacuterico do proferimento ceacutetico de modo que o ceacutetico pode aconselhar algo que pareccedila curar sem que isto recaia em um proferimento dogmaacutetico ndash aquele que tem compromisso com a verdadefalsidade

Mas isso nos leva a outra questatildeo o ceticismo eacute uma teacutechne ou seja uma arte da vida Esta pergunta por sua vez faz com que nos voltemos para a parte eacutetica da filosofia que eacute tratada por Sexto Empiacuterico em Adv Eth (ou M XI) e tambeacutem PHIII 168 que se relaciona diretamente com Adv Eth Especialmente importante eacute a discussatildeo que se segue apoacutes PH III 188 em que Sexto remete-se agrave noccedilatildeo de τέχνη περὶ βίον (ou lsquoarte acerca da vidarsquo)

O argumento sextiano dirige-se 1) agrave definiccedilatildeo estoica de τέχνη como ldquosistema composto por apreensotildees exercidas em conjuntordquo 2) agrave concepccedilatildeo estoica de apreensatildeo 3) agrave concepccedilatildeo estoica de alma que eacute contraposta agrave concepccedilatildeo platocircnica

Mas essas trecircs supracitadas etapas da argumentaccedilatildeo sextiana satildeo complexas por si soacutes e para serem devidamente tratadas seria necessaacuterio outro texto7 O que me interessa de fato eacute a argumentaccedilatildeo que vem depois que comeccedila em PH III 190 e que objeta que natildeo parece haver algo que seja naturalmente bom e que seja entatildeo um τέλος moral

Do mesmo modo natildeo parece haver um mal e nem indiferentes tendo em vista as divergecircncias sobre isto existentes entre filoacutesofos mas tambeacutem entre pessoas ordinaacuterias em seus costumes e convenccedilotildees Por exemplo diz-nos Sexto ldquoentre noacutes a sodomia eacute considerada vergonhosa ou mesmo ilegal mas entre os germacircnios8 eacute vista natildeo somente como natildeo vergonhosa mas mesmo como habitualrdquo (PH III 199)

7 AO peer reviewer deste texto a quem sou muito grato sugeriu que aqui eu fizesse uma nota explicando ou ao menos explicitando as etapas (1) (2) e (3) da exposiccedilatildeo sextiana que menciono no paraacutegrafo imediatamente acima Concordo plenamente que tal explicaccedilatildeo deva ser dada mas penso que seja inoportuno fazecirc-lo aqui tanto no corpo do texto quanto numa nota de rodapeacute O motivo eacute simples trata-se de uma discussatildeo muito cara natildeo somente para estudiosos do ceticismo mas tambeacutem para os estoicos pois nos permite entender (a) o desenvolvimento da Stoaacute enquanto sistema em geral e (b) enquanto fundamentaccedilatildeo teoacuterica para seis das sete artes que viriam a compor na Idade Meacutedia o trivium e o quadrivium gramaacutetica retoacuterica geometria aritmeacutetica astrologia e muacutesica (cf Adv Math I a VI) Assim sendo penso que se as etapas da exposiccedilatildeo sextiana sobre as definiccedilotildees estoicas de τέχνη apreensatildeo e alma devem ser omitidas do presente texto para natildeo entramos em uma digressatildeo que somente nos atrapalharia Mas tambeacutem acho que essas etapas natildeo devem aparecer em uma nota de rodapeacute considerando que a importacircncia de (a) e (b) acima tenha sido compreendida Assim com o maacuteximo respeito pelao peer reviwer reitero que elucidarei as etapas (1) (2) e (3) em outro artigo 8 Tribo persa

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

16 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Ou ldquofazer sexo com uma mulher em puacuteblico embora seja por noacutes considerado vergonhoso natildeo eacute considerado vergonhoso por alguns indianosrdquo (PH III 200) E aqui Sexto se lembra do Casal Crates e Hipaacuterquia em sua κυνογάmicroια

E tambeacutem ldquopara noacutes a tatuagem eacute considerada vergonhosa mas muitos egiacutepcios e saacutermatas tatuam a prolerdquo (PH III 203)

Entatildeo considerando tal diafonia nos costumes o ceacutetico ldquosuspende o juiacutezo quanto agrave existecircncia de algo bom ou mal por naturezardquo (PH III 235) e observa ἀδόξαστος a vida ordinaacuteria

Anteriormente foi dito que o escopo da natildeo-asserccedilatildeo ceacutetica satildeo proferimentos dogmaacuteticos acerca do natildeo-evidente agora eacute hora de explicar melhor o que isto significa pois ao dizer que ldquoalgueacutem evita proferimentos dogmaacuteticosrdquo isto pode incluir proferimentos dogmaacuteticos que natildeo sejam exclusivamente concernentes agraves filosofias ou agraves teacutechnai ou natildeo Ou seja haacute asserccedilotildees ou proferimentos dogmaacuteticos na vida comum

Considerando a supracitada argumentaccedilatildeo de Sexto acerca das διαφωνίαι que emergem da comparaccedilatildeo entre costumes me parece evidente que sim haacute asserccedilotildees na vida ordinaacuteria elas tambeacutem satildeo alvo da suspensatildeo ceacutetica de juiacutezo Mas isso natildeo compromete a vida pois o ceacutetico tomaria por guia as afecccedilotildees relatando o que aparece e sem a este relato conferir peso assertoacuterico Para corroborar esta argumentaccedilatildeo (que de fato eacute uma meacutedia entre a versatildeo urbana e a ruacutestica do ceticismo)9 uso um tropo de Agripa o da διαφωνία cuja descriccedilatildeo cito ldquoo baseado na diafonia eacute aquele de acordo com o qual quanto a questatildeo em discussatildeo tenha ela surgido na vida ordinaacuteria ou entre os filoacutesofos nos encontramos em um estado de indeterminaccedilatildeordquo (PH I 165)

Entatildeo a observacircncia da vida comum significa agir como agem as pessoas comuns tendo a natureza por guia sendo constrangido pelas afecccedilotildees sendo ativo em algum ofiacutecio e respeitando leis e costumes (os quatro pilares da vida ceacutetica) Contudo diferentemente dos homens comuns e tambeacutem dos filoacutesofos o ceacutetico natildeo se compromete com asserccedilotildees pois elas todas podem ser suspensas

O retorno ceacutetico agrave vida comum eacute o retorno agrave observacircncia externa de instacircncias dessa vida mas seu estado mental eacute diferente pois ele passou por um exerciacutecio participou de uma atividade (διάθεσις) dispotildee de uma capacidade (δύναmicroις) porque em algum momento adotou uma conduta uma ἀγωγή

Esta conduta pode ser reconstruiacuteda a partir da leitura do livro I das PH notadamente atraveacutes dos passos 1 4 7 12 25-31 e tambeacutem eacute apresentada ordenadamente em Contra os gramaacuteticos 6 Ela funciona do seguinte modo

1ordm- comeccedila-se com a pesquisa ζήτησις ou o exame σκέψις

9 Ver lsquoBRITO R P Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os retoacutericosrsquo In Revista Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

Rodrigo Pinto de Brito

17 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

2ordm- durante a pesquisa percebe-se um conflito (microάχη) entre asserccedilotildees 3ordm- este conflito se daacute por causa da equipolecircncia (ἰσοσθένεια) destas asserccedilotildees 4ordm- emerge a aporia 5ordm- a aporia leva a suspensatildeo do juiacutezo ou retenccedilatildeo do assentimento (ἐποχή) 6ordm- que por um acaso faz surgir a imperturbabilidade (ἀταραξία) Apoacutes a suspensatildeo estando imperturbaacutevel o ceacutetico observa natildeo-dogmaticamente e natildeo-assertoricamente a vida ordinaacuteria como dissemos alhures

vi-

Agora para finalizar gostaria de falar mais sobre no que consiste esta observaccedilatildeoobservacircncia da vida ordinaacuteria e isto nos permitiraacute voltar ao ponto do alinhamento entre pirronismo e medicina em Sexto (que chamei de lsquoarsquo mais acima) lanccedilando uma nova luz sobre o tema

Para falar desta observaccedilatildeoobservacircncia Sexto usa o verbo τηρέω que significa fazer τήρησις palavra que inicialmente possui um uso poliacutetico como por exemplo em Aristoacuteteles Pol 1308a30 significando ldquovigilacircnciardquo ldquocustoacutediardquo e ldquopreservaccedilatildeordquo

Em Sexto Empiacuterico esta semacircntica persiste assim o ceacutetico sextiano eacute marcado pela observacircncia dos costumes (daiacute os quatro pilares da vida ceacutetica que aparecem em PH I 23)

Mas tambeacutem haacute em Sexto outra semacircntica a da observaccedilatildeo enquanto componente da abordagem dos meacutedicos Empiristas conforme atestado por Galeno em Das seitas meacutedicas para os iniciantes como se poderaacute verificar na leitura da traduccedilatildeo que ofereccedilo mais abaixo Corroborando essa interpretaccedilatildeo haacute em Sexto uma breve e curiosa passagem de Contra os astroacutelogos em que ele diz que ao contraacuterio do meacutetodo Caldaico de observaccedilotildees celestes e assunccedilotildees de efeitos por conta de uma relaccedilatildeo causal natildeo-evidente entre a disposiccedilatildeo dos astros e o comportamento humano por outro lado ldquona medicina observamos que um ferimento no coraccedilatildeo eacute mortal tendo sido observada natildeo somente a morte de Diacuteon mas tambeacutem de Theacuteon e Soacutecrates e muitos outrosrdquo (Adv Ast 104 = M V 104) Vale a pena enfatizar que a ocorrecircncia do verbo τηρέω na 1ordf pessoa do plural do aoristo indicativo ativo (ἐτηρήσαmicroεν) indica que tambeacutem Sexto na medicina adotava o meacutetodo observativo

Assim a ldquoobservaccedilatildeordquo constitui uma etapa da metodologia dos Empiristas os usos locais satildeo observados e tambeacutem a evoluccedilatildeo das doenccedilas

E esta observaccedilatildeo dos usos locais para tratamentos de doenccedilas que tambeacutem pode ser entendida como observacircncia dos usos a τήρησις eacute quase inoacutecua se natildeo for acompanhada da transiccedilatildeo para o semelhante τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

18 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Pois eacute esta transiccedilatildeo que permite que algo que foi observado como eficiente em um caso X possa ser aproveitado em um caso Y desde que X e Y pareccedilam semelhantes

Entatildeo pensemos em Sexto o fato de ser cognominado Empiacuterico denota sua adesatildeo inicial agrave seita dos meacutedicos Empiristas Mas Sexto nos informa que esta seita tornara-se dogmaacutetico-negativa porque rejeitou assertivamente a possibilidade do conhecimento (como faziam os acadecircmicos) Sexto entatildeo tendo pesquisado e examinado outros grupos como os meacutedicos Racionalistas (que estavam enveredados em pesquisas sobre as etiologias natildeo-evidentes das doenccedilas e asseriam a possibilidade de conhececirc-las) deu ouvidos agraves criacuteticas feitas ao comportamento assertoacuterico negativo dos proacuteprios Empiristas que gerava uma autocontradiccedilatildeo Assim ao tornar-se liacuteder dos Empiristas alinhou a seita ainda mais explicitamente ao pirronismo evitando proferimentos dogmaacutetico-negativos e investindo em toacutepicos como lsquoobservaccedilatildeoobservacircncia dos costumesrsquo lsquonatildeo-asserccedilatildeorsquo lsquotransiccedilatildeo para o semelhantersquo Conceitos que satildeo basilares para a compreensatildeo dos modi operandi dos ceacuteticos pirrocircnicos e dos meacutedicos Empiristas ambos aperfeiccediloados por Sexto

vii- Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641-1695

De Galeno sobre as seitas10 [meacutedicas] para os iniciantes

(1641) O escopo da arte11 meacutedica eacute a sauacutede e seu fim a sua posse Eacute necessaacuterio ser sabido pelos meacutedicos como fazer a sauacutede advir quando ausente ou mantecirc-la quando presente Chama-se de (1645) medicamentos e de remeacutedios o que suscita a sauacutede quando estaacute ausente e de dietas saudaacuteveis o que manteacutem [a sauacutede] quando presente Eis porque o antigo relato12 diz que a medicina eacute a ciecircncia das coisas saudaacuteveis e das nocivas sendo chamadas saudaacuteveis as que mantecircm a sauacutede quando presente (1651) e as que a restauram quando arruinada e [sendo chamadas de] nocivas as diametralmente opostas a essas Pois o meacutedico precisa de ambos os conhecimentos para capturar uma e escapar da outra Mas natildeo haacute acordo entre todos sobre onde se encontraria (1655) o conhecimento de tais coisas mas uns dizem que somente a experiecircncia eacute suficiente para a arte outros acham que a razatildeo natildeo pouco contribui Aqueles satildeo chamados de Empiristas13 por partirem somente da

10αἵρεσις uma adesatildeo inclinaccedilatildeo ou escolha Denota partido ou grupo a seita dos que escolhem uma determinada coisa em detrimento de outra 11 τέχνη arte ou teacutecnica recorrentes como traduccedilotildees para o vocaacutebulo me parecem insuficientes e por isso prefiro lsquoofiacuteciorsquo por em uma uacutenica palavra conter semacircnticas tais como artesanato arte teacutecnica todos enquanto manejo de uma conhecimento e de uma praacutetica Contudo verti τέχνη por arte em todo o texto por questotildees estiliacutesticas Assim evitei que frases que ocorrem como ldquoo escopo da arte meacutedica eacuterdquo ocorressem como ldquoo escopo do ofiacutecio da medicina eacuterdquo por exemplo 12 Natildeo se trata aqui de λόγος enquanto razatildeo enquanto portanto mola-mestra do procedimento da seita dos Racionalistas (como se haacute de ver) mas sim simplesmente de lsquoaccountrsquo 13 Optei por grafar os nomes das seitas com maiuacutesculas ao longo de todo o texto

Rodrigo Pinto de Brito

19 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

experiecircncia14 sendo parocircnimos15 do mesmo modo os que [partem] da razatildeo (16510) de Racionalistas16 e estas satildeo as duas seitas primaacuterias da medicina A primeira parte de experimentos17 para a descoberta de medicamentos a segunda [parte da] indicaccedilatildeo E assim eles deram os nomes de Empirista e de Racionalista agraves [suas] seitas Mas usualmente a Empirista tambeacutem eacute chamada de (16515) Observante18 e de Memorativa19 e a Racionalista de Dogmaacutetica20 e de Analogiacutestica21 e semelhantemente agraves seitas os homens que escolheram22 a experiecircncia satildeo chamados de Empiristas Observantes e Memorativos dos fenocircmenos os que admitiram a razatildeo de (16520) Racionalistas Dogmaacuteticos e Analogiacutesticos

(1661) Os Empiristas dizem que a arte eacute organizada do seguinte modo Uma vez observou-se que muitas das afecccedilotildees humanas se datildeo espontaneamente tanto nos doentes quanto nos saudaacuteveis como o sangramento (1665) nasal ou a sudorese a diarreia ou outra coisa assim que trouxe dano ou vantagem de modo algum tendo uma causa produtiva23 perceptiacutevel24 Quanto agraves outras [afecccedilotildees] a causa eacute manifesta natildeo advindo por escolha nossa mas por acaso como quando ocorre que algueacutem caiu ou foi golpeado ou (16610) ferido de algum outro modo o sangue fluiu e quando na doenccedila bebeu aacutegua fria vinho ou outra coisa assim satisfazendo seu apetite cada um destes terminando em benefiacutecio

14 Apesar de ter vertido ἐmicroπειρικοί por Empiristas (e natildeo Empiacutericos) natildeo optei por verter ἐmicroπειρία por empiria mas simplesmente optei pelo proacuteprio significado da palavra Assim lsquoexperiecircnciarsquo 15 Houaiss 2001 ldquoadjsm (1858 cf MS) gram ling 1 diz-se de ou cada um dos dois ou mais vocaacutebulos que satildeo quase homocircnimos diferenciando-se ligeiramente na grafia e na pronuacutencia 11 diz-se de ou palavra cujos fonemas podem confundir-se com os de outra(s) por razotildees etimoloacutegicas ou simplesmente tocircnicas (pex deferir diferir descriccedilatildeo discriccedilatildeo emigrar imigrar etc) 12 na paronomaacutesia diz-se de cada uma das palavras fonicamente parecidas que se colocam proacuteximas uma da outra num texto Uso neste dicionaacuterio incluiacutemos entre os parocircnimos (rubrica par) os vocaacutebulos que se escrevem com as mesmas letras mas que diferem quanto agrave acentuaccedilatildeo graacutefica e ao timbre (papeacuteis [pl papel] e papeis [v papar]) para os quais tb se usa a denominaccedilatildeo de homoacutegrafos imperfeitos Etim gr parocircnumososon que tem nome parecido que deriva de outro nome ou palavra sobrenome ver par(a)- e -ocircnimo fhist 1858 paroacutenymo 1899 paroacutenimo Col paronimia paroniacutemiardquo 16 Assim como ἐmicroπειρικοί eacute vertido por Empiristas e natildeo Empiacutericos tambeacutem λογικοί eacute vertido por Racionalistas e natildeo Racionais 17 πεῖρα tentativa Mas uma vez que se trata de um meacutetodo dos Empiristas uma abordagem que pode envolver ldquotentativa-errordquo sendo essa abordagem uma espeacutecie experimento resolvi assim traduzir o vocaacutebulo ao longo de todo o texto 18 τηρητικός que parte da τήρησις (observaccedilatildeoobservacircncia) ou seja lsquoObservantersquo 19 microνηmicroονευτικός que parte da microνήmicroη (memoacuteriarememoraccedilatildeo) ou seja lsquoMemorativarsquo 20 δογmicroατικός diz-se de quem adota princiacutepios gerais teoacutericos acerca de algo contrapondo-se a uma abordagem experimental como se veraacute 21 ἀναλογιστικός diz-se de quem opera por um meacutetodo analoacutegico como se veraacute 22 Terceira pessoa do plural do aoristo indicativo meacutedio de αἱρέω escolher Daiacute o livro tratar-se de uma apresentaccedilatildeo das diferentes αἱρέσεις (escolhas adesotildees) meacutedicas 23 ποιῆσαν αἴτιον 24 αἰσθητός sensiacutevel

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

20 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ou dano [entatildeo] ao primeiro tipo de coisa beneacutefica ou danosa chamaram de natural ao segundo de casual (16615) mas em ambos os casos chama-se de incidecircncia25 a primeira visatildeo [das coisas beneacuteficas ou danosas] dando esse nome por algo incidir sobre as circunstacircncias involuntariamente Tal entatildeo eacute o tipo de experiecircncia incidental Mas haacute a impremeditada26 quando (1671) deliberadamente se tenta algo ou compelido por sonhos ou por quaisquer outras suposiccedilotildees E haacute um terceiro tipo de experiecircncia a imitativa27 quando algo beneacutefico ou danoso tanto naturalmente quanto casualmente ou (1675) impremeditadamente eacute experimentado recursivamente nas mesmas afecccedilotildees E eacute principalmente este [tipo] que constituiu sua arte pois tendo imitado natildeo somente duas ou trecircs mas muitas vezes o que causou benefiacutecio anteriormente em seguida descobriram que na maioria dos casos (16710) o produto era o mesmo nas mesmas afecccedilotildees ndash e a tal rememoraccedilatildeo28 chamaram de teorema29 jaacute considerada confiaacutevel e parte da arte Assim tendo-se coletado muitos desses teoremas por eles a totalidade da coletacircnea eacute a medicina e o coletor o meacutedico Tal coletacircnea foi chamada por eles de autoacutepsia30 sendo um tipo de rememoraccedilatildeo (16715) do que foi visto muitas vezes e do mesmo modo Mas tambeacutem chamaram essa mesma coisa de experiecircncia e a sua divulgaccedilatildeo de histoacuteria31 pois para o observador [a rememoraccedilatildeo] eacute autoacutepsia por outro lado eacute histoacuteria para quem aprende o que foi observado (1681) Mas uma vez que se deparavam com algumas doenccedilas que natildeo haviam sido vistas anteriormente ou com outras que eram conhecidas em locais nos quais natildeo havia provisatildeo de medicamentos observados por meio de experimentos criaram um instrumento para (1685) descobrir remeacutedios a transiccedilatildeo para o semelhante com ajuda da qual amiuacutede transferem o mesmo remeacutedio de afecccedilatildeo agrave afecccedilatildeo de lugar a lugar [afetado] e de um remeacutedio previamente conhecido vatildeo para um parecido De afecccedilatildeo a afecccedilatildeo (16810) como se passassem da erisipela agrave herpes de lugar a lugar [afetado] como do braccedilo agrave coxa de remeacutedio a remeacutedio como na diarreia da maccedilatilde agrave necircspera Toda essa transiccedilatildeo eacute um caminho para a descoberta mas a descoberta nunca (16815) antecede o experimento Uma vez que se colocou em experimento aquilo que se esperava jaacute eacute confiaacutevel sendo confirmado por esse [experimento] natildeo menos do que se tivesse sido observado amiuacutede e do mesmo modo A este experimento que acompanha a transiccedilatildeo para o (1691) semelhante chamam de praacutetico porque eacute preciso ser praacutetico na arte caso se pretenda descobrir algo desse modo Todos os experimentos que antecedem a experiecircncia dos quais a arte necessitava para a sua constituiccedilatildeo podem ser criados (1695) pelas pessoas comuns Tal eacute o caminho atraveacutes do experimento para [alcanccedilar] o fim da arte

25 περίπτωσις encontro 26 αὐτοσχέδιος espontacircneo improvisado 27 Ou mimeacutetica 28 microνήmicroη 29 θεώρηmicroα teoria especulaccedilatildeo intuiccedilatildeo ou algo sujeito agrave investigaccedilatildeo 30 αὐτοψία visatildeo ou percepccedilatildeo de si mesmo 31 ἱστορία investigaccedilatildeo observaccedilatildeo cientiacutefica informaccedilatildeo ou relato

Rodrigo Pinto de Brito

21 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ΓΑΛΗΝΟΥ ΠΕΡΙ ΑΙΡΕΣΕΩΝ ΤΟΙΣ ΕΙΣΑΓΟΜΕΝΟΙΣ (1641) Τῆς ἰατρικῆς τέχνης σκοπὸς microὲν ἡ ὑγίεια τέλος δ ἡ κτῆσις αὐτῆς ἐξ ὧν δ ἄν τις ἢ microὴ παροῦσαν ὑγίειαν ἐργάζοιτ ἢ παροῦσαν διαφυλάττοι γιγνώσκεσθαι microὲν ἀναγκαῖον τοῖς ἰατροῖς καλεῖται δὲ (1645) τὰ microὲν ἐργαζόmicroενα τὴν microὴ οὖσαν ὑγίειαν ἰάmicroατά τε καὶ βοηθήmicroατα τὰ δὲ φυλάττοντα τὴν οὖσαν [ὑγίειαν] ὑγιεινὰ διαιτήmicroατα ταῦτ ἄρα καὶ αὐτὴν τὴν ἰατρικὴν ἐπιστήmicroην ὑγιεινῶν καὶ νοσερῶν ὁ παλαιὸς λόγος φησίν ὑγιεινὰ microὲν καλῶν τά τε φυλάττοντα τὴν οὖσαν (1651) ὑγίειαν καὶ τὰ τὴν διεφθαρmicroένην ἀνασώζοντα νοσερὰ δὲ τἀναντία τούτων δεῖται γὰρ ἀmicroφοῖν ὁ ἰατρὸς τῆς γνώσεως ὑπὲρ τοῦ τὰ microὲν ἑλέσθαι τὰ δὲ φυγεῖν ὅθεν δ ltἂνgt τὴν τούτων ἐπιστήmicroην ἐκπορίσαιτο οὐκέθ (1655) [ὁmicroοίως] ὁmicroολογεῖται παρὰ πᾶσιν ἀλλ οἱ microὲν τὴν ἐmicroπειρίαν microόνην φασὶν ἀρκεῖν τῇ τέχνῃ τοῖς δὲ καὶ ὁ λόγος οὐ σmicroικρὰ δοκεῖ συντελεῖν ὀνοmicroάζονται δ οἱ microὲν ἀπὸ τῆς ἐmicroπειρίας microόνης ὁρmicroώmicroενοι παρωνύmicroως ἐκείνης ἐmicroπειρικοί ὁmicroοίως δὲ καὶ οἱ ἀπὸ τοῦ λόγου (16510) λογικοὶ καὶ δύο εἰσὶν αὗται πρῶται τῆς ἰατρικῆς αἱρέσεις ἡ microὲν ἑτέρα διὰ πείρας ἰοῦσα πρὸς τὴν τῶν ἰαmicroάτων εὕρεσιν ἡ δ ἑτέρα δι ἐνδείξεως καὶ ὀνόmicroατά γε ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικήν τε καὶ λογικήν καλεῖν δ εἰσὶν εἰθισmicroένοι τὴν microὲν ἐmicroπειρικὴν (16515) τηρητικήν τε καὶ microνηmicroονευτικήν τὴν δὲ λογικὴν δογmicroατικήν τε καὶ ἀναλογιστικήν καὶ τοὺς ἄνδρας ὁmicroοίως ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικοὺς microὲν καὶ τηρητικοὺς καὶ microνηmicroονευτικοὺς τῶν φαινοmicroένων ὅσοι τὴν ἐmicroπειρίαν εἵλοντο λογικοὺς δὲ καὶ δογmicroατικοὺς καὶ ἀναλογιστικούς (16520) ὅσοι τὸν λόγον προσήκαντο (1661) Συστήσασθαι δὲ τὴν τέχνην οἱ microὲν ἐmicroπειρικοὶ τόνδε τὸν τρόπον φασίν ἐπειδὴ πολλὰ τοῖς ἀνθρώποις ἑώρων πάθη τὰ microὲν ἀπὸ ταὐτοmicroάτου γιγνόmicroενα νοσοῦσί τε καὶ ὑγιαίνουσιν οἷον αἵmicroατος ῥύσιν (1665) ἐκ ῥινῶν ἢ ἱδρῶτας ἢ διαρροίας ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο βλάβην ἢ ὠφέλειαν φέρον οὐ microὴν τό γε ποιῆσαν αἴτιον αἰσθητὸν ἔχον ἕτερα δ ὧν τὸ microὲν αἴτιον ἐφαίνετ οὐ microὴν ἐκ προαιρέσεως ἡmicroετέρας ἀλλὰ κατά τινα συντυχίαν οἷον συνέβη πεσόντος τινὸς ἢ πληγέντος ἢ (16610) ἄλλως πως τρωθέντος αἷmicroα ῥυῆναι καὶ πιεῖν ἐν νόσῳ χαρισάmicroενον τῇ ἐπιθυmicroίᾳ ψυχρὸν ὕδωρ ἢ οἶνον ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο ὧν ἕκαστον εἰς ὠφέλειαν ἢ βλάβην ἐτελεύτα τὸ microὲν [οὖν] πρότερον εἶδος τῶν ὠφελούντων ἢ βλαπτόντων ἐκάλουν φυσικόν τὸ δὲ δεύτερον τυχικόν (16615) ἑκατέρου δ αὐτῶν τὴν πρώτην θέαν περίπτωσιν ὠνόmicroαζον ἀπὸ τοῦ περιπίπτειν ἀβουλήτως τοῖς πράγmicroασι τοὔνοmicroα θέmicroενοι τὸ microὲν οὖν περιπτωτικὸν εἶδος τῆς ἐmicroπειρίας τοιόνδε τί ἐστι τὸ δ αὐτοσχέδιον ὅταν (1671) ἑκόντες ἐπὶ τὸ πειράζειν ἀφίκωνται ἢ ὑπ ὀνειράτων προτραπέντες ἢ ἄλλως πως δοξάζοντες ἀλλὰ καὶ τρίτον τῆς ἐmicroπειρίας εἶδός ἐστι τὸ microιmicroητικόν ὅταν τῶν ὠφελησάντων ἢ βλαψάντων ὁτιοῦν ἢ φύσει ἢ τύχῃ ἢ (1675) αὐτοσχεδίως ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν αὖθις εἰς πεῖραν ἄγηται καὶ τοῦτ ἐστὶ τὸ microάλιστα τὴν τέχνην αὐτῶν συστησάmicroενον οὐ γὰρ δὶς microόνον ἢ τρὶς ἀλλὰ καὶ πλειστάκις microιmicroησάmicroενοι τὸ πρόσθεν ὠφελῆσαν εἶτ ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν τὸ αὐτὸ ποιοῦν εὑρίσκοντες

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

22 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ὡς ἐπὶ τὸ (16710) πολὺ τὴν τοιαύτην microνήmicroην θεώρηmicroα καλέσαντες ἤδη πιστὸν ἡγοῦνται καὶ microέρος τῆς τέχνης ὡς δὲ πολλὰ θεωρήmicroατα τοιαῦτ ἠθροίζετ αὐτοῖς ἰατρικὴ microὲν ἦν τὸ σύmicroπαν ἄθροισmicroα καὶ ὁ ἀθροίσας ἰατρός ἐκλήθη δ ὑπ αὐτῶν αὐτοψία τὸ τοιοῦτον ἄθροισmicroα microνήmicroη τις (16715) οὖσα τῶν πολλάκις καὶ ὡσαύτως ὀφθέντων ὠνόmicroαζον δ αὐτὸ τοῦτο καὶ ἐmicroπειρίαν ἱστορίαν δὲ τὴν ἐπαγγελίαν αὐτοῦ τὸ γὰρ αὐτὸ τοῦτο τῷ microὲν τηρήσαντι αὐτοψία τῷ δὲ microαθόντι τὸ τετηρηmicroένον ἱστορία ἐστίν (1681) Ἐπεὶ δὲ καὶ νοσήmicroασί τισιν ἐνετύγχανον ἔστιν ὅτε πρόσθεν οὐχ ἑωραmicroένοις ἤ τισιν ἐγνωσmicroένοις microὲν ἀλλ ἐν χωρίοις ἐν οἷς οὐκ ἦν ἰαmicroάτων εὐπορία τῶν διὰ τῆς πείρας τετηρηmicroένων ὄργανόν τι βοηθηmicroάτων εὑρετικὸν (1685) ἐποιήσαντο τὴν τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν ᾧ χρώmicroενοι πολλάκις καὶ ἀπὸ πάθους ἐπὶ πάθος [ὅmicroοιον] τὸ αὐτὸ βοήθηmicroα microεταφέρουσι καὶ ἀπὸ τόπου ἐπὶ τόπον καὶ ἀπὸ τοῦ πρόσθεν ἐγνωσmicroένου βοηθήmicroατος ἐπὶ τὸ παραπλήσιον ἔρχονται ἀπὸ microὲν πάθους ἐπὶ πάθος (16810) ὡς εἰ ἀπ ἐρυσιπέλατος ἐφ ἕρπητα microεταβαίνοιεν ἀπὸ δὲ τόπου ἐπὶ τόπον ὡς ἀπὸ βραχίονος ἐπὶ microηρόν ἀπὸ δὲ βοηθήmicroατος ἐπὶ βοήθηmicroα ὡς ἐν διαρροίαις ἀπὸ microήλου ἐπὶ microέσπιλον ἅπασα δ ἡ τοιαύτη microετάβασις ὁδὸς microέν ἐστιν ἐπὶ τὴν εὕρεσιν εὕρεσις δ οὐδέπω πρὸ (16815) τῆς πείρας ἀλλ ἡνίκ ἂν τὸ ἐλπισθὲν εἰς πεῖραν ἀχθῇ πιστὸν ἤδη τὸ microαρτυρηθὲν ὑπ αὐτῆς ἐστιν οὐδὲν ἧττον ἢ εἰ πλειστάκις καὶ ὡσαύτως ἔχον ἐτετήρητο τὴν δὲ πεῖραν ταύτην τὴν ἑποmicroένην τῇ τοῦ ὁmicroοίου (1691) microεταβάσει τριβικὴν καλοῦσιν ὅτι χρὴ τετρῖφθαι κατὰ τὴν τέχνην τὸν microέλλοντά τι οὕτως εὑρήσειν αἱ δ ἔmicroπροσθεν ἅπασαι πεῖραι αἱ πρὸ τῆς ἐmicroπειρίας ὧν εἰς σύστασιν ἐδεῖθ ἡ τέχνη καὶ περὶ τὸν τυχόντα δύνανται (1695) γενέσθαι τοιαύτη microὲν ἡ διὰ τῆς πείρας πρὸς τὸ τέλος τῆς τέχνης ὁδός

Rodrigo Pinto de Brito

23 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

viii- APEcircNDICE As trecircs seitas meacutedicas e seus principais liacutederes segundo por pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-146845

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

24 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ix- Referecircncias bibliograacuteficas BARNES J SCHOFIELD M BURNYEAT M (eds) Doubt and Dogmatism

Studies in Hellenistic Epistemology Oxford Clarendon Press 1980 BARNES J The Beliefs of a Pyrrhonist In Proceedings of the Cambridge

Philological Society ndeg28 Cambridge 1982 Pp 1-29 BOLZANI R Acadecircmicos versus Pirrocircnicos Satildeo Paulo Alameda Editorial

2013 BRITO R P de Quadros conceituais do ceticismo anterior a Sexto Empiacuterico

In Prometeus ndash Filosofia em Revista Ano 06 ndeg 12 p 121-136 2013 ____ Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua

aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os Retoacutericos In Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

____ DINUCCI A L Traduccedilatildeo e Apresentaccedilatildeo da Diatribe de Epicteto 15 In Revista de Filosofia Antiga (USP Ed portuguecircs) v 08 p 116-132 2014

BURNYEAT M F FREDE M (eds) The Original Sceptics Cambridge Hackett Publishing Company 1998

BURNYEAT M F Can the Sceptic Live his Scepticism In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 205-235

____ The Sceptic in His Place and Time In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 316-345

____ Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012

DIOacuteGENES LAEacuteRCIO Lives of eminent philosophers HICKS R D (trans) Londres William Heinemann 1975

FREDE M WALZER R (trad amp ed) Three Treatises on the Nature of Science On the Sects for Beginners An Outline of Empiricism On Medical Experience Indianapolis Hackett Publishing Company 1985

FREDE M The Skepticrsquos Beliefs In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 179-200

____ The Scepticrsquos Two Kinds of Assent and the Question of the Possibility of Knowledge In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 201-225

____ Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989

HANKINSON R J The Sceptics (the arguments of the philosophers) Londres Routledge 1995

____ (ed) The Cambridge Companion to Galen Cambridge Cambridge University Press 2008

LIDELL H G SCOTT R A Greek-English Lexicon revised and augmented throughout by Sir Henry Stuart Jones with the assistance of Roderick McKenzie Oxford Clarendon Press 1940

MARCONDES de Souza Filho D Finding Onersquos Way About High Windows Narrow Chimneys and Open Doors Wittgensteinrsquos ldquoScepticismrdquo and Philosophical Method In POPKIN R H (ed) Scepticism in the History of Philosophy Amsterdam Kluwer Academic Publishers 1996 Pp 167-179

Rodrigo Pinto de Brito

25 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

____ A ldquoFelicidaderdquo do Discurso Ceacutetico o Problema da Auto-refutaccedilatildeo do Ceticismo In O Que Nos Faz Pensar ndeg 8 1994 Pp 131-144

MATES B The Skeptic Way Sextus Empiricuss Outlines of Pyrrhonism Oxford Oxford University Press 1996

NUSSBAUM M Skeptic Purgatives Therapeutic Arguments in Ancient Skepticism In Journal of History of Philosophy volume 29 ndeg 4 1991 Pp 521-557

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os retoacutericos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2013

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os gramaacuteticos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2015

SEXTO EMPIacuteRICO Complete Works of 4 vols BURY R G (trans) In Loeb Classical Library Harvard Harvard University Press 2006

SEXTO EMPIacuteRICO Outlines of Scepticism ANNAS J BARNES J (eds) Cambridge Cambridge University Press 2000

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Ethicists BETT R (trans) Oxford Clarendon Press 1997

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Grammarians BLANK D L (trans) Oxford Clarendon Press 1998

SMITH P J Terapia e Vida Comum In Skeacutepsis ndeg 1 2007 Pp 43-67 WALBRIDGE J (trad amp ed) The Alexandrian Epitomes of Galen vol 1 On

the Medical Sects for Beginners The Small art of Medicine On the Elements According to the Opinion of Hippocrates A parallel English-Arabic text translated introduced and annotated by john Walbridge In Islamic Translation Series Utah Brigham Young University Press 2014

Page 9: [2] Rodrigo Brito - Sobre o De Sectis de Galeno e o ...philosophicalskepticism.org/wp-content/uploads/... · Galeno (129-216 d.C.) foi um autor prolífico e de suma importância para

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

16 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Ou ldquofazer sexo com uma mulher em puacuteblico embora seja por noacutes considerado vergonhoso natildeo eacute considerado vergonhoso por alguns indianosrdquo (PH III 200) E aqui Sexto se lembra do Casal Crates e Hipaacuterquia em sua κυνογάmicroια

E tambeacutem ldquopara noacutes a tatuagem eacute considerada vergonhosa mas muitos egiacutepcios e saacutermatas tatuam a prolerdquo (PH III 203)

Entatildeo considerando tal diafonia nos costumes o ceacutetico ldquosuspende o juiacutezo quanto agrave existecircncia de algo bom ou mal por naturezardquo (PH III 235) e observa ἀδόξαστος a vida ordinaacuteria

Anteriormente foi dito que o escopo da natildeo-asserccedilatildeo ceacutetica satildeo proferimentos dogmaacuteticos acerca do natildeo-evidente agora eacute hora de explicar melhor o que isto significa pois ao dizer que ldquoalgueacutem evita proferimentos dogmaacuteticosrdquo isto pode incluir proferimentos dogmaacuteticos que natildeo sejam exclusivamente concernentes agraves filosofias ou agraves teacutechnai ou natildeo Ou seja haacute asserccedilotildees ou proferimentos dogmaacuteticos na vida comum

Considerando a supracitada argumentaccedilatildeo de Sexto acerca das διαφωνίαι que emergem da comparaccedilatildeo entre costumes me parece evidente que sim haacute asserccedilotildees na vida ordinaacuteria elas tambeacutem satildeo alvo da suspensatildeo ceacutetica de juiacutezo Mas isso natildeo compromete a vida pois o ceacutetico tomaria por guia as afecccedilotildees relatando o que aparece e sem a este relato conferir peso assertoacuterico Para corroborar esta argumentaccedilatildeo (que de fato eacute uma meacutedia entre a versatildeo urbana e a ruacutestica do ceticismo)9 uso um tropo de Agripa o da διαφωνία cuja descriccedilatildeo cito ldquoo baseado na diafonia eacute aquele de acordo com o qual quanto a questatildeo em discussatildeo tenha ela surgido na vida ordinaacuteria ou entre os filoacutesofos nos encontramos em um estado de indeterminaccedilatildeordquo (PH I 165)

Entatildeo a observacircncia da vida comum significa agir como agem as pessoas comuns tendo a natureza por guia sendo constrangido pelas afecccedilotildees sendo ativo em algum ofiacutecio e respeitando leis e costumes (os quatro pilares da vida ceacutetica) Contudo diferentemente dos homens comuns e tambeacutem dos filoacutesofos o ceacutetico natildeo se compromete com asserccedilotildees pois elas todas podem ser suspensas

O retorno ceacutetico agrave vida comum eacute o retorno agrave observacircncia externa de instacircncias dessa vida mas seu estado mental eacute diferente pois ele passou por um exerciacutecio participou de uma atividade (διάθεσις) dispotildee de uma capacidade (δύναmicroις) porque em algum momento adotou uma conduta uma ἀγωγή

Esta conduta pode ser reconstruiacuteda a partir da leitura do livro I das PH notadamente atraveacutes dos passos 1 4 7 12 25-31 e tambeacutem eacute apresentada ordenadamente em Contra os gramaacuteticos 6 Ela funciona do seguinte modo

1ordm- comeccedila-se com a pesquisa ζήτησις ou o exame σκέψις

9 Ver lsquoBRITO R P Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os retoacutericosrsquo In Revista Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

Rodrigo Pinto de Brito

17 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

2ordm- durante a pesquisa percebe-se um conflito (microάχη) entre asserccedilotildees 3ordm- este conflito se daacute por causa da equipolecircncia (ἰσοσθένεια) destas asserccedilotildees 4ordm- emerge a aporia 5ordm- a aporia leva a suspensatildeo do juiacutezo ou retenccedilatildeo do assentimento (ἐποχή) 6ordm- que por um acaso faz surgir a imperturbabilidade (ἀταραξία) Apoacutes a suspensatildeo estando imperturbaacutevel o ceacutetico observa natildeo-dogmaticamente e natildeo-assertoricamente a vida ordinaacuteria como dissemos alhures

vi-

Agora para finalizar gostaria de falar mais sobre no que consiste esta observaccedilatildeoobservacircncia da vida ordinaacuteria e isto nos permitiraacute voltar ao ponto do alinhamento entre pirronismo e medicina em Sexto (que chamei de lsquoarsquo mais acima) lanccedilando uma nova luz sobre o tema

Para falar desta observaccedilatildeoobservacircncia Sexto usa o verbo τηρέω que significa fazer τήρησις palavra que inicialmente possui um uso poliacutetico como por exemplo em Aristoacuteteles Pol 1308a30 significando ldquovigilacircnciardquo ldquocustoacutediardquo e ldquopreservaccedilatildeordquo

Em Sexto Empiacuterico esta semacircntica persiste assim o ceacutetico sextiano eacute marcado pela observacircncia dos costumes (daiacute os quatro pilares da vida ceacutetica que aparecem em PH I 23)

Mas tambeacutem haacute em Sexto outra semacircntica a da observaccedilatildeo enquanto componente da abordagem dos meacutedicos Empiristas conforme atestado por Galeno em Das seitas meacutedicas para os iniciantes como se poderaacute verificar na leitura da traduccedilatildeo que ofereccedilo mais abaixo Corroborando essa interpretaccedilatildeo haacute em Sexto uma breve e curiosa passagem de Contra os astroacutelogos em que ele diz que ao contraacuterio do meacutetodo Caldaico de observaccedilotildees celestes e assunccedilotildees de efeitos por conta de uma relaccedilatildeo causal natildeo-evidente entre a disposiccedilatildeo dos astros e o comportamento humano por outro lado ldquona medicina observamos que um ferimento no coraccedilatildeo eacute mortal tendo sido observada natildeo somente a morte de Diacuteon mas tambeacutem de Theacuteon e Soacutecrates e muitos outrosrdquo (Adv Ast 104 = M V 104) Vale a pena enfatizar que a ocorrecircncia do verbo τηρέω na 1ordf pessoa do plural do aoristo indicativo ativo (ἐτηρήσαmicroεν) indica que tambeacutem Sexto na medicina adotava o meacutetodo observativo

Assim a ldquoobservaccedilatildeordquo constitui uma etapa da metodologia dos Empiristas os usos locais satildeo observados e tambeacutem a evoluccedilatildeo das doenccedilas

E esta observaccedilatildeo dos usos locais para tratamentos de doenccedilas que tambeacutem pode ser entendida como observacircncia dos usos a τήρησις eacute quase inoacutecua se natildeo for acompanhada da transiccedilatildeo para o semelhante τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

18 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Pois eacute esta transiccedilatildeo que permite que algo que foi observado como eficiente em um caso X possa ser aproveitado em um caso Y desde que X e Y pareccedilam semelhantes

Entatildeo pensemos em Sexto o fato de ser cognominado Empiacuterico denota sua adesatildeo inicial agrave seita dos meacutedicos Empiristas Mas Sexto nos informa que esta seita tornara-se dogmaacutetico-negativa porque rejeitou assertivamente a possibilidade do conhecimento (como faziam os acadecircmicos) Sexto entatildeo tendo pesquisado e examinado outros grupos como os meacutedicos Racionalistas (que estavam enveredados em pesquisas sobre as etiologias natildeo-evidentes das doenccedilas e asseriam a possibilidade de conhececirc-las) deu ouvidos agraves criacuteticas feitas ao comportamento assertoacuterico negativo dos proacuteprios Empiristas que gerava uma autocontradiccedilatildeo Assim ao tornar-se liacuteder dos Empiristas alinhou a seita ainda mais explicitamente ao pirronismo evitando proferimentos dogmaacutetico-negativos e investindo em toacutepicos como lsquoobservaccedilatildeoobservacircncia dos costumesrsquo lsquonatildeo-asserccedilatildeorsquo lsquotransiccedilatildeo para o semelhantersquo Conceitos que satildeo basilares para a compreensatildeo dos modi operandi dos ceacuteticos pirrocircnicos e dos meacutedicos Empiristas ambos aperfeiccediloados por Sexto

vii- Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641-1695

De Galeno sobre as seitas10 [meacutedicas] para os iniciantes

(1641) O escopo da arte11 meacutedica eacute a sauacutede e seu fim a sua posse Eacute necessaacuterio ser sabido pelos meacutedicos como fazer a sauacutede advir quando ausente ou mantecirc-la quando presente Chama-se de (1645) medicamentos e de remeacutedios o que suscita a sauacutede quando estaacute ausente e de dietas saudaacuteveis o que manteacutem [a sauacutede] quando presente Eis porque o antigo relato12 diz que a medicina eacute a ciecircncia das coisas saudaacuteveis e das nocivas sendo chamadas saudaacuteveis as que mantecircm a sauacutede quando presente (1651) e as que a restauram quando arruinada e [sendo chamadas de] nocivas as diametralmente opostas a essas Pois o meacutedico precisa de ambos os conhecimentos para capturar uma e escapar da outra Mas natildeo haacute acordo entre todos sobre onde se encontraria (1655) o conhecimento de tais coisas mas uns dizem que somente a experiecircncia eacute suficiente para a arte outros acham que a razatildeo natildeo pouco contribui Aqueles satildeo chamados de Empiristas13 por partirem somente da

10αἵρεσις uma adesatildeo inclinaccedilatildeo ou escolha Denota partido ou grupo a seita dos que escolhem uma determinada coisa em detrimento de outra 11 τέχνη arte ou teacutecnica recorrentes como traduccedilotildees para o vocaacutebulo me parecem insuficientes e por isso prefiro lsquoofiacuteciorsquo por em uma uacutenica palavra conter semacircnticas tais como artesanato arte teacutecnica todos enquanto manejo de uma conhecimento e de uma praacutetica Contudo verti τέχνη por arte em todo o texto por questotildees estiliacutesticas Assim evitei que frases que ocorrem como ldquoo escopo da arte meacutedica eacuterdquo ocorressem como ldquoo escopo do ofiacutecio da medicina eacuterdquo por exemplo 12 Natildeo se trata aqui de λόγος enquanto razatildeo enquanto portanto mola-mestra do procedimento da seita dos Racionalistas (como se haacute de ver) mas sim simplesmente de lsquoaccountrsquo 13 Optei por grafar os nomes das seitas com maiuacutesculas ao longo de todo o texto

Rodrigo Pinto de Brito

19 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

experiecircncia14 sendo parocircnimos15 do mesmo modo os que [partem] da razatildeo (16510) de Racionalistas16 e estas satildeo as duas seitas primaacuterias da medicina A primeira parte de experimentos17 para a descoberta de medicamentos a segunda [parte da] indicaccedilatildeo E assim eles deram os nomes de Empirista e de Racionalista agraves [suas] seitas Mas usualmente a Empirista tambeacutem eacute chamada de (16515) Observante18 e de Memorativa19 e a Racionalista de Dogmaacutetica20 e de Analogiacutestica21 e semelhantemente agraves seitas os homens que escolheram22 a experiecircncia satildeo chamados de Empiristas Observantes e Memorativos dos fenocircmenos os que admitiram a razatildeo de (16520) Racionalistas Dogmaacuteticos e Analogiacutesticos

(1661) Os Empiristas dizem que a arte eacute organizada do seguinte modo Uma vez observou-se que muitas das afecccedilotildees humanas se datildeo espontaneamente tanto nos doentes quanto nos saudaacuteveis como o sangramento (1665) nasal ou a sudorese a diarreia ou outra coisa assim que trouxe dano ou vantagem de modo algum tendo uma causa produtiva23 perceptiacutevel24 Quanto agraves outras [afecccedilotildees] a causa eacute manifesta natildeo advindo por escolha nossa mas por acaso como quando ocorre que algueacutem caiu ou foi golpeado ou (16610) ferido de algum outro modo o sangue fluiu e quando na doenccedila bebeu aacutegua fria vinho ou outra coisa assim satisfazendo seu apetite cada um destes terminando em benefiacutecio

14 Apesar de ter vertido ἐmicroπειρικοί por Empiristas (e natildeo Empiacutericos) natildeo optei por verter ἐmicroπειρία por empiria mas simplesmente optei pelo proacuteprio significado da palavra Assim lsquoexperiecircnciarsquo 15 Houaiss 2001 ldquoadjsm (1858 cf MS) gram ling 1 diz-se de ou cada um dos dois ou mais vocaacutebulos que satildeo quase homocircnimos diferenciando-se ligeiramente na grafia e na pronuacutencia 11 diz-se de ou palavra cujos fonemas podem confundir-se com os de outra(s) por razotildees etimoloacutegicas ou simplesmente tocircnicas (pex deferir diferir descriccedilatildeo discriccedilatildeo emigrar imigrar etc) 12 na paronomaacutesia diz-se de cada uma das palavras fonicamente parecidas que se colocam proacuteximas uma da outra num texto Uso neste dicionaacuterio incluiacutemos entre os parocircnimos (rubrica par) os vocaacutebulos que se escrevem com as mesmas letras mas que diferem quanto agrave acentuaccedilatildeo graacutefica e ao timbre (papeacuteis [pl papel] e papeis [v papar]) para os quais tb se usa a denominaccedilatildeo de homoacutegrafos imperfeitos Etim gr parocircnumososon que tem nome parecido que deriva de outro nome ou palavra sobrenome ver par(a)- e -ocircnimo fhist 1858 paroacutenymo 1899 paroacutenimo Col paronimia paroniacutemiardquo 16 Assim como ἐmicroπειρικοί eacute vertido por Empiristas e natildeo Empiacutericos tambeacutem λογικοί eacute vertido por Racionalistas e natildeo Racionais 17 πεῖρα tentativa Mas uma vez que se trata de um meacutetodo dos Empiristas uma abordagem que pode envolver ldquotentativa-errordquo sendo essa abordagem uma espeacutecie experimento resolvi assim traduzir o vocaacutebulo ao longo de todo o texto 18 τηρητικός que parte da τήρησις (observaccedilatildeoobservacircncia) ou seja lsquoObservantersquo 19 microνηmicroονευτικός que parte da microνήmicroη (memoacuteriarememoraccedilatildeo) ou seja lsquoMemorativarsquo 20 δογmicroατικός diz-se de quem adota princiacutepios gerais teoacutericos acerca de algo contrapondo-se a uma abordagem experimental como se veraacute 21 ἀναλογιστικός diz-se de quem opera por um meacutetodo analoacutegico como se veraacute 22 Terceira pessoa do plural do aoristo indicativo meacutedio de αἱρέω escolher Daiacute o livro tratar-se de uma apresentaccedilatildeo das diferentes αἱρέσεις (escolhas adesotildees) meacutedicas 23 ποιῆσαν αἴτιον 24 αἰσθητός sensiacutevel

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

20 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ou dano [entatildeo] ao primeiro tipo de coisa beneacutefica ou danosa chamaram de natural ao segundo de casual (16615) mas em ambos os casos chama-se de incidecircncia25 a primeira visatildeo [das coisas beneacuteficas ou danosas] dando esse nome por algo incidir sobre as circunstacircncias involuntariamente Tal entatildeo eacute o tipo de experiecircncia incidental Mas haacute a impremeditada26 quando (1671) deliberadamente se tenta algo ou compelido por sonhos ou por quaisquer outras suposiccedilotildees E haacute um terceiro tipo de experiecircncia a imitativa27 quando algo beneacutefico ou danoso tanto naturalmente quanto casualmente ou (1675) impremeditadamente eacute experimentado recursivamente nas mesmas afecccedilotildees E eacute principalmente este [tipo] que constituiu sua arte pois tendo imitado natildeo somente duas ou trecircs mas muitas vezes o que causou benefiacutecio anteriormente em seguida descobriram que na maioria dos casos (16710) o produto era o mesmo nas mesmas afecccedilotildees ndash e a tal rememoraccedilatildeo28 chamaram de teorema29 jaacute considerada confiaacutevel e parte da arte Assim tendo-se coletado muitos desses teoremas por eles a totalidade da coletacircnea eacute a medicina e o coletor o meacutedico Tal coletacircnea foi chamada por eles de autoacutepsia30 sendo um tipo de rememoraccedilatildeo (16715) do que foi visto muitas vezes e do mesmo modo Mas tambeacutem chamaram essa mesma coisa de experiecircncia e a sua divulgaccedilatildeo de histoacuteria31 pois para o observador [a rememoraccedilatildeo] eacute autoacutepsia por outro lado eacute histoacuteria para quem aprende o que foi observado (1681) Mas uma vez que se deparavam com algumas doenccedilas que natildeo haviam sido vistas anteriormente ou com outras que eram conhecidas em locais nos quais natildeo havia provisatildeo de medicamentos observados por meio de experimentos criaram um instrumento para (1685) descobrir remeacutedios a transiccedilatildeo para o semelhante com ajuda da qual amiuacutede transferem o mesmo remeacutedio de afecccedilatildeo agrave afecccedilatildeo de lugar a lugar [afetado] e de um remeacutedio previamente conhecido vatildeo para um parecido De afecccedilatildeo a afecccedilatildeo (16810) como se passassem da erisipela agrave herpes de lugar a lugar [afetado] como do braccedilo agrave coxa de remeacutedio a remeacutedio como na diarreia da maccedilatilde agrave necircspera Toda essa transiccedilatildeo eacute um caminho para a descoberta mas a descoberta nunca (16815) antecede o experimento Uma vez que se colocou em experimento aquilo que se esperava jaacute eacute confiaacutevel sendo confirmado por esse [experimento] natildeo menos do que se tivesse sido observado amiuacutede e do mesmo modo A este experimento que acompanha a transiccedilatildeo para o (1691) semelhante chamam de praacutetico porque eacute preciso ser praacutetico na arte caso se pretenda descobrir algo desse modo Todos os experimentos que antecedem a experiecircncia dos quais a arte necessitava para a sua constituiccedilatildeo podem ser criados (1695) pelas pessoas comuns Tal eacute o caminho atraveacutes do experimento para [alcanccedilar] o fim da arte

25 περίπτωσις encontro 26 αὐτοσχέδιος espontacircneo improvisado 27 Ou mimeacutetica 28 microνήmicroη 29 θεώρηmicroα teoria especulaccedilatildeo intuiccedilatildeo ou algo sujeito agrave investigaccedilatildeo 30 αὐτοψία visatildeo ou percepccedilatildeo de si mesmo 31 ἱστορία investigaccedilatildeo observaccedilatildeo cientiacutefica informaccedilatildeo ou relato

Rodrigo Pinto de Brito

21 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ΓΑΛΗΝΟΥ ΠΕΡΙ ΑΙΡΕΣΕΩΝ ΤΟΙΣ ΕΙΣΑΓΟΜΕΝΟΙΣ (1641) Τῆς ἰατρικῆς τέχνης σκοπὸς microὲν ἡ ὑγίεια τέλος δ ἡ κτῆσις αὐτῆς ἐξ ὧν δ ἄν τις ἢ microὴ παροῦσαν ὑγίειαν ἐργάζοιτ ἢ παροῦσαν διαφυλάττοι γιγνώσκεσθαι microὲν ἀναγκαῖον τοῖς ἰατροῖς καλεῖται δὲ (1645) τὰ microὲν ἐργαζόmicroενα τὴν microὴ οὖσαν ὑγίειαν ἰάmicroατά τε καὶ βοηθήmicroατα τὰ δὲ φυλάττοντα τὴν οὖσαν [ὑγίειαν] ὑγιεινὰ διαιτήmicroατα ταῦτ ἄρα καὶ αὐτὴν τὴν ἰατρικὴν ἐπιστήmicroην ὑγιεινῶν καὶ νοσερῶν ὁ παλαιὸς λόγος φησίν ὑγιεινὰ microὲν καλῶν τά τε φυλάττοντα τὴν οὖσαν (1651) ὑγίειαν καὶ τὰ τὴν διεφθαρmicroένην ἀνασώζοντα νοσερὰ δὲ τἀναντία τούτων δεῖται γὰρ ἀmicroφοῖν ὁ ἰατρὸς τῆς γνώσεως ὑπὲρ τοῦ τὰ microὲν ἑλέσθαι τὰ δὲ φυγεῖν ὅθεν δ ltἂνgt τὴν τούτων ἐπιστήmicroην ἐκπορίσαιτο οὐκέθ (1655) [ὁmicroοίως] ὁmicroολογεῖται παρὰ πᾶσιν ἀλλ οἱ microὲν τὴν ἐmicroπειρίαν microόνην φασὶν ἀρκεῖν τῇ τέχνῃ τοῖς δὲ καὶ ὁ λόγος οὐ σmicroικρὰ δοκεῖ συντελεῖν ὀνοmicroάζονται δ οἱ microὲν ἀπὸ τῆς ἐmicroπειρίας microόνης ὁρmicroώmicroενοι παρωνύmicroως ἐκείνης ἐmicroπειρικοί ὁmicroοίως δὲ καὶ οἱ ἀπὸ τοῦ λόγου (16510) λογικοὶ καὶ δύο εἰσὶν αὗται πρῶται τῆς ἰατρικῆς αἱρέσεις ἡ microὲν ἑτέρα διὰ πείρας ἰοῦσα πρὸς τὴν τῶν ἰαmicroάτων εὕρεσιν ἡ δ ἑτέρα δι ἐνδείξεως καὶ ὀνόmicroατά γε ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικήν τε καὶ λογικήν καλεῖν δ εἰσὶν εἰθισmicroένοι τὴν microὲν ἐmicroπειρικὴν (16515) τηρητικήν τε καὶ microνηmicroονευτικήν τὴν δὲ λογικὴν δογmicroατικήν τε καὶ ἀναλογιστικήν καὶ τοὺς ἄνδρας ὁmicroοίως ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικοὺς microὲν καὶ τηρητικοὺς καὶ microνηmicroονευτικοὺς τῶν φαινοmicroένων ὅσοι τὴν ἐmicroπειρίαν εἵλοντο λογικοὺς δὲ καὶ δογmicroατικοὺς καὶ ἀναλογιστικούς (16520) ὅσοι τὸν λόγον προσήκαντο (1661) Συστήσασθαι δὲ τὴν τέχνην οἱ microὲν ἐmicroπειρικοὶ τόνδε τὸν τρόπον φασίν ἐπειδὴ πολλὰ τοῖς ἀνθρώποις ἑώρων πάθη τὰ microὲν ἀπὸ ταὐτοmicroάτου γιγνόmicroενα νοσοῦσί τε καὶ ὑγιαίνουσιν οἷον αἵmicroατος ῥύσιν (1665) ἐκ ῥινῶν ἢ ἱδρῶτας ἢ διαρροίας ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο βλάβην ἢ ὠφέλειαν φέρον οὐ microὴν τό γε ποιῆσαν αἴτιον αἰσθητὸν ἔχον ἕτερα δ ὧν τὸ microὲν αἴτιον ἐφαίνετ οὐ microὴν ἐκ προαιρέσεως ἡmicroετέρας ἀλλὰ κατά τινα συντυχίαν οἷον συνέβη πεσόντος τινὸς ἢ πληγέντος ἢ (16610) ἄλλως πως τρωθέντος αἷmicroα ῥυῆναι καὶ πιεῖν ἐν νόσῳ χαρισάmicroενον τῇ ἐπιθυmicroίᾳ ψυχρὸν ὕδωρ ἢ οἶνον ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο ὧν ἕκαστον εἰς ὠφέλειαν ἢ βλάβην ἐτελεύτα τὸ microὲν [οὖν] πρότερον εἶδος τῶν ὠφελούντων ἢ βλαπτόντων ἐκάλουν φυσικόν τὸ δὲ δεύτερον τυχικόν (16615) ἑκατέρου δ αὐτῶν τὴν πρώτην θέαν περίπτωσιν ὠνόmicroαζον ἀπὸ τοῦ περιπίπτειν ἀβουλήτως τοῖς πράγmicroασι τοὔνοmicroα θέmicroενοι τὸ microὲν οὖν περιπτωτικὸν εἶδος τῆς ἐmicroπειρίας τοιόνδε τί ἐστι τὸ δ αὐτοσχέδιον ὅταν (1671) ἑκόντες ἐπὶ τὸ πειράζειν ἀφίκωνται ἢ ὑπ ὀνειράτων προτραπέντες ἢ ἄλλως πως δοξάζοντες ἀλλὰ καὶ τρίτον τῆς ἐmicroπειρίας εἶδός ἐστι τὸ microιmicroητικόν ὅταν τῶν ὠφελησάντων ἢ βλαψάντων ὁτιοῦν ἢ φύσει ἢ τύχῃ ἢ (1675) αὐτοσχεδίως ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν αὖθις εἰς πεῖραν ἄγηται καὶ τοῦτ ἐστὶ τὸ microάλιστα τὴν τέχνην αὐτῶν συστησάmicroενον οὐ γὰρ δὶς microόνον ἢ τρὶς ἀλλὰ καὶ πλειστάκις microιmicroησάmicroενοι τὸ πρόσθεν ὠφελῆσαν εἶτ ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν τὸ αὐτὸ ποιοῦν εὑρίσκοντες

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

22 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ὡς ἐπὶ τὸ (16710) πολὺ τὴν τοιαύτην microνήmicroην θεώρηmicroα καλέσαντες ἤδη πιστὸν ἡγοῦνται καὶ microέρος τῆς τέχνης ὡς δὲ πολλὰ θεωρήmicroατα τοιαῦτ ἠθροίζετ αὐτοῖς ἰατρικὴ microὲν ἦν τὸ σύmicroπαν ἄθροισmicroα καὶ ὁ ἀθροίσας ἰατρός ἐκλήθη δ ὑπ αὐτῶν αὐτοψία τὸ τοιοῦτον ἄθροισmicroα microνήmicroη τις (16715) οὖσα τῶν πολλάκις καὶ ὡσαύτως ὀφθέντων ὠνόmicroαζον δ αὐτὸ τοῦτο καὶ ἐmicroπειρίαν ἱστορίαν δὲ τὴν ἐπαγγελίαν αὐτοῦ τὸ γὰρ αὐτὸ τοῦτο τῷ microὲν τηρήσαντι αὐτοψία τῷ δὲ microαθόντι τὸ τετηρηmicroένον ἱστορία ἐστίν (1681) Ἐπεὶ δὲ καὶ νοσήmicroασί τισιν ἐνετύγχανον ἔστιν ὅτε πρόσθεν οὐχ ἑωραmicroένοις ἤ τισιν ἐγνωσmicroένοις microὲν ἀλλ ἐν χωρίοις ἐν οἷς οὐκ ἦν ἰαmicroάτων εὐπορία τῶν διὰ τῆς πείρας τετηρηmicroένων ὄργανόν τι βοηθηmicroάτων εὑρετικὸν (1685) ἐποιήσαντο τὴν τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν ᾧ χρώmicroενοι πολλάκις καὶ ἀπὸ πάθους ἐπὶ πάθος [ὅmicroοιον] τὸ αὐτὸ βοήθηmicroα microεταφέρουσι καὶ ἀπὸ τόπου ἐπὶ τόπον καὶ ἀπὸ τοῦ πρόσθεν ἐγνωσmicroένου βοηθήmicroατος ἐπὶ τὸ παραπλήσιον ἔρχονται ἀπὸ microὲν πάθους ἐπὶ πάθος (16810) ὡς εἰ ἀπ ἐρυσιπέλατος ἐφ ἕρπητα microεταβαίνοιεν ἀπὸ δὲ τόπου ἐπὶ τόπον ὡς ἀπὸ βραχίονος ἐπὶ microηρόν ἀπὸ δὲ βοηθήmicroατος ἐπὶ βοήθηmicroα ὡς ἐν διαρροίαις ἀπὸ microήλου ἐπὶ microέσπιλον ἅπασα δ ἡ τοιαύτη microετάβασις ὁδὸς microέν ἐστιν ἐπὶ τὴν εὕρεσιν εὕρεσις δ οὐδέπω πρὸ (16815) τῆς πείρας ἀλλ ἡνίκ ἂν τὸ ἐλπισθὲν εἰς πεῖραν ἀχθῇ πιστὸν ἤδη τὸ microαρτυρηθὲν ὑπ αὐτῆς ἐστιν οὐδὲν ἧττον ἢ εἰ πλειστάκις καὶ ὡσαύτως ἔχον ἐτετήρητο τὴν δὲ πεῖραν ταύτην τὴν ἑποmicroένην τῇ τοῦ ὁmicroοίου (1691) microεταβάσει τριβικὴν καλοῦσιν ὅτι χρὴ τετρῖφθαι κατὰ τὴν τέχνην τὸν microέλλοντά τι οὕτως εὑρήσειν αἱ δ ἔmicroπροσθεν ἅπασαι πεῖραι αἱ πρὸ τῆς ἐmicroπειρίας ὧν εἰς σύστασιν ἐδεῖθ ἡ τέχνη καὶ περὶ τὸν τυχόντα δύνανται (1695) γενέσθαι τοιαύτη microὲν ἡ διὰ τῆς πείρας πρὸς τὸ τέλος τῆς τέχνης ὁδός

Rodrigo Pinto de Brito

23 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

viii- APEcircNDICE As trecircs seitas meacutedicas e seus principais liacutederes segundo por pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-146845

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

24 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ix- Referecircncias bibliograacuteficas BARNES J SCHOFIELD M BURNYEAT M (eds) Doubt and Dogmatism

Studies in Hellenistic Epistemology Oxford Clarendon Press 1980 BARNES J The Beliefs of a Pyrrhonist In Proceedings of the Cambridge

Philological Society ndeg28 Cambridge 1982 Pp 1-29 BOLZANI R Acadecircmicos versus Pirrocircnicos Satildeo Paulo Alameda Editorial

2013 BRITO R P de Quadros conceituais do ceticismo anterior a Sexto Empiacuterico

In Prometeus ndash Filosofia em Revista Ano 06 ndeg 12 p 121-136 2013 ____ Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua

aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os Retoacutericos In Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

____ DINUCCI A L Traduccedilatildeo e Apresentaccedilatildeo da Diatribe de Epicteto 15 In Revista de Filosofia Antiga (USP Ed portuguecircs) v 08 p 116-132 2014

BURNYEAT M F FREDE M (eds) The Original Sceptics Cambridge Hackett Publishing Company 1998

BURNYEAT M F Can the Sceptic Live his Scepticism In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 205-235

____ The Sceptic in His Place and Time In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 316-345

____ Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012

DIOacuteGENES LAEacuteRCIO Lives of eminent philosophers HICKS R D (trans) Londres William Heinemann 1975

FREDE M WALZER R (trad amp ed) Three Treatises on the Nature of Science On the Sects for Beginners An Outline of Empiricism On Medical Experience Indianapolis Hackett Publishing Company 1985

FREDE M The Skepticrsquos Beliefs In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 179-200

____ The Scepticrsquos Two Kinds of Assent and the Question of the Possibility of Knowledge In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 201-225

____ Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989

HANKINSON R J The Sceptics (the arguments of the philosophers) Londres Routledge 1995

____ (ed) The Cambridge Companion to Galen Cambridge Cambridge University Press 2008

LIDELL H G SCOTT R A Greek-English Lexicon revised and augmented throughout by Sir Henry Stuart Jones with the assistance of Roderick McKenzie Oxford Clarendon Press 1940

MARCONDES de Souza Filho D Finding Onersquos Way About High Windows Narrow Chimneys and Open Doors Wittgensteinrsquos ldquoScepticismrdquo and Philosophical Method In POPKIN R H (ed) Scepticism in the History of Philosophy Amsterdam Kluwer Academic Publishers 1996 Pp 167-179

Rodrigo Pinto de Brito

25 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

____ A ldquoFelicidaderdquo do Discurso Ceacutetico o Problema da Auto-refutaccedilatildeo do Ceticismo In O Que Nos Faz Pensar ndeg 8 1994 Pp 131-144

MATES B The Skeptic Way Sextus Empiricuss Outlines of Pyrrhonism Oxford Oxford University Press 1996

NUSSBAUM M Skeptic Purgatives Therapeutic Arguments in Ancient Skepticism In Journal of History of Philosophy volume 29 ndeg 4 1991 Pp 521-557

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os retoacutericos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2013

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os gramaacuteticos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2015

SEXTO EMPIacuteRICO Complete Works of 4 vols BURY R G (trans) In Loeb Classical Library Harvard Harvard University Press 2006

SEXTO EMPIacuteRICO Outlines of Scepticism ANNAS J BARNES J (eds) Cambridge Cambridge University Press 2000

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Ethicists BETT R (trans) Oxford Clarendon Press 1997

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Grammarians BLANK D L (trans) Oxford Clarendon Press 1998

SMITH P J Terapia e Vida Comum In Skeacutepsis ndeg 1 2007 Pp 43-67 WALBRIDGE J (trad amp ed) The Alexandrian Epitomes of Galen vol 1 On

the Medical Sects for Beginners The Small art of Medicine On the Elements According to the Opinion of Hippocrates A parallel English-Arabic text translated introduced and annotated by john Walbridge In Islamic Translation Series Utah Brigham Young University Press 2014

Page 10: [2] Rodrigo Brito - Sobre o De Sectis de Galeno e o ...philosophicalskepticism.org/wp-content/uploads/... · Galeno (129-216 d.C.) foi um autor prolífico e de suma importância para

Rodrigo Pinto de Brito

17 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

2ordm- durante a pesquisa percebe-se um conflito (microάχη) entre asserccedilotildees 3ordm- este conflito se daacute por causa da equipolecircncia (ἰσοσθένεια) destas asserccedilotildees 4ordm- emerge a aporia 5ordm- a aporia leva a suspensatildeo do juiacutezo ou retenccedilatildeo do assentimento (ἐποχή) 6ordm- que por um acaso faz surgir a imperturbabilidade (ἀταραξία) Apoacutes a suspensatildeo estando imperturbaacutevel o ceacutetico observa natildeo-dogmaticamente e natildeo-assertoricamente a vida ordinaacuteria como dissemos alhures

vi-

Agora para finalizar gostaria de falar mais sobre no que consiste esta observaccedilatildeoobservacircncia da vida ordinaacuteria e isto nos permitiraacute voltar ao ponto do alinhamento entre pirronismo e medicina em Sexto (que chamei de lsquoarsquo mais acima) lanccedilando uma nova luz sobre o tema

Para falar desta observaccedilatildeoobservacircncia Sexto usa o verbo τηρέω que significa fazer τήρησις palavra que inicialmente possui um uso poliacutetico como por exemplo em Aristoacuteteles Pol 1308a30 significando ldquovigilacircnciardquo ldquocustoacutediardquo e ldquopreservaccedilatildeordquo

Em Sexto Empiacuterico esta semacircntica persiste assim o ceacutetico sextiano eacute marcado pela observacircncia dos costumes (daiacute os quatro pilares da vida ceacutetica que aparecem em PH I 23)

Mas tambeacutem haacute em Sexto outra semacircntica a da observaccedilatildeo enquanto componente da abordagem dos meacutedicos Empiristas conforme atestado por Galeno em Das seitas meacutedicas para os iniciantes como se poderaacute verificar na leitura da traduccedilatildeo que ofereccedilo mais abaixo Corroborando essa interpretaccedilatildeo haacute em Sexto uma breve e curiosa passagem de Contra os astroacutelogos em que ele diz que ao contraacuterio do meacutetodo Caldaico de observaccedilotildees celestes e assunccedilotildees de efeitos por conta de uma relaccedilatildeo causal natildeo-evidente entre a disposiccedilatildeo dos astros e o comportamento humano por outro lado ldquona medicina observamos que um ferimento no coraccedilatildeo eacute mortal tendo sido observada natildeo somente a morte de Diacuteon mas tambeacutem de Theacuteon e Soacutecrates e muitos outrosrdquo (Adv Ast 104 = M V 104) Vale a pena enfatizar que a ocorrecircncia do verbo τηρέω na 1ordf pessoa do plural do aoristo indicativo ativo (ἐτηρήσαmicroεν) indica que tambeacutem Sexto na medicina adotava o meacutetodo observativo

Assim a ldquoobservaccedilatildeordquo constitui uma etapa da metodologia dos Empiristas os usos locais satildeo observados e tambeacutem a evoluccedilatildeo das doenccedilas

E esta observaccedilatildeo dos usos locais para tratamentos de doenccedilas que tambeacutem pode ser entendida como observacircncia dos usos a τήρησις eacute quase inoacutecua se natildeo for acompanhada da transiccedilatildeo para o semelhante τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

18 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Pois eacute esta transiccedilatildeo que permite que algo que foi observado como eficiente em um caso X possa ser aproveitado em um caso Y desde que X e Y pareccedilam semelhantes

Entatildeo pensemos em Sexto o fato de ser cognominado Empiacuterico denota sua adesatildeo inicial agrave seita dos meacutedicos Empiristas Mas Sexto nos informa que esta seita tornara-se dogmaacutetico-negativa porque rejeitou assertivamente a possibilidade do conhecimento (como faziam os acadecircmicos) Sexto entatildeo tendo pesquisado e examinado outros grupos como os meacutedicos Racionalistas (que estavam enveredados em pesquisas sobre as etiologias natildeo-evidentes das doenccedilas e asseriam a possibilidade de conhececirc-las) deu ouvidos agraves criacuteticas feitas ao comportamento assertoacuterico negativo dos proacuteprios Empiristas que gerava uma autocontradiccedilatildeo Assim ao tornar-se liacuteder dos Empiristas alinhou a seita ainda mais explicitamente ao pirronismo evitando proferimentos dogmaacutetico-negativos e investindo em toacutepicos como lsquoobservaccedilatildeoobservacircncia dos costumesrsquo lsquonatildeo-asserccedilatildeorsquo lsquotransiccedilatildeo para o semelhantersquo Conceitos que satildeo basilares para a compreensatildeo dos modi operandi dos ceacuteticos pirrocircnicos e dos meacutedicos Empiristas ambos aperfeiccediloados por Sexto

vii- Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641-1695

De Galeno sobre as seitas10 [meacutedicas] para os iniciantes

(1641) O escopo da arte11 meacutedica eacute a sauacutede e seu fim a sua posse Eacute necessaacuterio ser sabido pelos meacutedicos como fazer a sauacutede advir quando ausente ou mantecirc-la quando presente Chama-se de (1645) medicamentos e de remeacutedios o que suscita a sauacutede quando estaacute ausente e de dietas saudaacuteveis o que manteacutem [a sauacutede] quando presente Eis porque o antigo relato12 diz que a medicina eacute a ciecircncia das coisas saudaacuteveis e das nocivas sendo chamadas saudaacuteveis as que mantecircm a sauacutede quando presente (1651) e as que a restauram quando arruinada e [sendo chamadas de] nocivas as diametralmente opostas a essas Pois o meacutedico precisa de ambos os conhecimentos para capturar uma e escapar da outra Mas natildeo haacute acordo entre todos sobre onde se encontraria (1655) o conhecimento de tais coisas mas uns dizem que somente a experiecircncia eacute suficiente para a arte outros acham que a razatildeo natildeo pouco contribui Aqueles satildeo chamados de Empiristas13 por partirem somente da

10αἵρεσις uma adesatildeo inclinaccedilatildeo ou escolha Denota partido ou grupo a seita dos que escolhem uma determinada coisa em detrimento de outra 11 τέχνη arte ou teacutecnica recorrentes como traduccedilotildees para o vocaacutebulo me parecem insuficientes e por isso prefiro lsquoofiacuteciorsquo por em uma uacutenica palavra conter semacircnticas tais como artesanato arte teacutecnica todos enquanto manejo de uma conhecimento e de uma praacutetica Contudo verti τέχνη por arte em todo o texto por questotildees estiliacutesticas Assim evitei que frases que ocorrem como ldquoo escopo da arte meacutedica eacuterdquo ocorressem como ldquoo escopo do ofiacutecio da medicina eacuterdquo por exemplo 12 Natildeo se trata aqui de λόγος enquanto razatildeo enquanto portanto mola-mestra do procedimento da seita dos Racionalistas (como se haacute de ver) mas sim simplesmente de lsquoaccountrsquo 13 Optei por grafar os nomes das seitas com maiuacutesculas ao longo de todo o texto

Rodrigo Pinto de Brito

19 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

experiecircncia14 sendo parocircnimos15 do mesmo modo os que [partem] da razatildeo (16510) de Racionalistas16 e estas satildeo as duas seitas primaacuterias da medicina A primeira parte de experimentos17 para a descoberta de medicamentos a segunda [parte da] indicaccedilatildeo E assim eles deram os nomes de Empirista e de Racionalista agraves [suas] seitas Mas usualmente a Empirista tambeacutem eacute chamada de (16515) Observante18 e de Memorativa19 e a Racionalista de Dogmaacutetica20 e de Analogiacutestica21 e semelhantemente agraves seitas os homens que escolheram22 a experiecircncia satildeo chamados de Empiristas Observantes e Memorativos dos fenocircmenos os que admitiram a razatildeo de (16520) Racionalistas Dogmaacuteticos e Analogiacutesticos

(1661) Os Empiristas dizem que a arte eacute organizada do seguinte modo Uma vez observou-se que muitas das afecccedilotildees humanas se datildeo espontaneamente tanto nos doentes quanto nos saudaacuteveis como o sangramento (1665) nasal ou a sudorese a diarreia ou outra coisa assim que trouxe dano ou vantagem de modo algum tendo uma causa produtiva23 perceptiacutevel24 Quanto agraves outras [afecccedilotildees] a causa eacute manifesta natildeo advindo por escolha nossa mas por acaso como quando ocorre que algueacutem caiu ou foi golpeado ou (16610) ferido de algum outro modo o sangue fluiu e quando na doenccedila bebeu aacutegua fria vinho ou outra coisa assim satisfazendo seu apetite cada um destes terminando em benefiacutecio

14 Apesar de ter vertido ἐmicroπειρικοί por Empiristas (e natildeo Empiacutericos) natildeo optei por verter ἐmicroπειρία por empiria mas simplesmente optei pelo proacuteprio significado da palavra Assim lsquoexperiecircnciarsquo 15 Houaiss 2001 ldquoadjsm (1858 cf MS) gram ling 1 diz-se de ou cada um dos dois ou mais vocaacutebulos que satildeo quase homocircnimos diferenciando-se ligeiramente na grafia e na pronuacutencia 11 diz-se de ou palavra cujos fonemas podem confundir-se com os de outra(s) por razotildees etimoloacutegicas ou simplesmente tocircnicas (pex deferir diferir descriccedilatildeo discriccedilatildeo emigrar imigrar etc) 12 na paronomaacutesia diz-se de cada uma das palavras fonicamente parecidas que se colocam proacuteximas uma da outra num texto Uso neste dicionaacuterio incluiacutemos entre os parocircnimos (rubrica par) os vocaacutebulos que se escrevem com as mesmas letras mas que diferem quanto agrave acentuaccedilatildeo graacutefica e ao timbre (papeacuteis [pl papel] e papeis [v papar]) para os quais tb se usa a denominaccedilatildeo de homoacutegrafos imperfeitos Etim gr parocircnumososon que tem nome parecido que deriva de outro nome ou palavra sobrenome ver par(a)- e -ocircnimo fhist 1858 paroacutenymo 1899 paroacutenimo Col paronimia paroniacutemiardquo 16 Assim como ἐmicroπειρικοί eacute vertido por Empiristas e natildeo Empiacutericos tambeacutem λογικοί eacute vertido por Racionalistas e natildeo Racionais 17 πεῖρα tentativa Mas uma vez que se trata de um meacutetodo dos Empiristas uma abordagem que pode envolver ldquotentativa-errordquo sendo essa abordagem uma espeacutecie experimento resolvi assim traduzir o vocaacutebulo ao longo de todo o texto 18 τηρητικός que parte da τήρησις (observaccedilatildeoobservacircncia) ou seja lsquoObservantersquo 19 microνηmicroονευτικός que parte da microνήmicroη (memoacuteriarememoraccedilatildeo) ou seja lsquoMemorativarsquo 20 δογmicroατικός diz-se de quem adota princiacutepios gerais teoacutericos acerca de algo contrapondo-se a uma abordagem experimental como se veraacute 21 ἀναλογιστικός diz-se de quem opera por um meacutetodo analoacutegico como se veraacute 22 Terceira pessoa do plural do aoristo indicativo meacutedio de αἱρέω escolher Daiacute o livro tratar-se de uma apresentaccedilatildeo das diferentes αἱρέσεις (escolhas adesotildees) meacutedicas 23 ποιῆσαν αἴτιον 24 αἰσθητός sensiacutevel

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

20 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ou dano [entatildeo] ao primeiro tipo de coisa beneacutefica ou danosa chamaram de natural ao segundo de casual (16615) mas em ambos os casos chama-se de incidecircncia25 a primeira visatildeo [das coisas beneacuteficas ou danosas] dando esse nome por algo incidir sobre as circunstacircncias involuntariamente Tal entatildeo eacute o tipo de experiecircncia incidental Mas haacute a impremeditada26 quando (1671) deliberadamente se tenta algo ou compelido por sonhos ou por quaisquer outras suposiccedilotildees E haacute um terceiro tipo de experiecircncia a imitativa27 quando algo beneacutefico ou danoso tanto naturalmente quanto casualmente ou (1675) impremeditadamente eacute experimentado recursivamente nas mesmas afecccedilotildees E eacute principalmente este [tipo] que constituiu sua arte pois tendo imitado natildeo somente duas ou trecircs mas muitas vezes o que causou benefiacutecio anteriormente em seguida descobriram que na maioria dos casos (16710) o produto era o mesmo nas mesmas afecccedilotildees ndash e a tal rememoraccedilatildeo28 chamaram de teorema29 jaacute considerada confiaacutevel e parte da arte Assim tendo-se coletado muitos desses teoremas por eles a totalidade da coletacircnea eacute a medicina e o coletor o meacutedico Tal coletacircnea foi chamada por eles de autoacutepsia30 sendo um tipo de rememoraccedilatildeo (16715) do que foi visto muitas vezes e do mesmo modo Mas tambeacutem chamaram essa mesma coisa de experiecircncia e a sua divulgaccedilatildeo de histoacuteria31 pois para o observador [a rememoraccedilatildeo] eacute autoacutepsia por outro lado eacute histoacuteria para quem aprende o que foi observado (1681) Mas uma vez que se deparavam com algumas doenccedilas que natildeo haviam sido vistas anteriormente ou com outras que eram conhecidas em locais nos quais natildeo havia provisatildeo de medicamentos observados por meio de experimentos criaram um instrumento para (1685) descobrir remeacutedios a transiccedilatildeo para o semelhante com ajuda da qual amiuacutede transferem o mesmo remeacutedio de afecccedilatildeo agrave afecccedilatildeo de lugar a lugar [afetado] e de um remeacutedio previamente conhecido vatildeo para um parecido De afecccedilatildeo a afecccedilatildeo (16810) como se passassem da erisipela agrave herpes de lugar a lugar [afetado] como do braccedilo agrave coxa de remeacutedio a remeacutedio como na diarreia da maccedilatilde agrave necircspera Toda essa transiccedilatildeo eacute um caminho para a descoberta mas a descoberta nunca (16815) antecede o experimento Uma vez que se colocou em experimento aquilo que se esperava jaacute eacute confiaacutevel sendo confirmado por esse [experimento] natildeo menos do que se tivesse sido observado amiuacutede e do mesmo modo A este experimento que acompanha a transiccedilatildeo para o (1691) semelhante chamam de praacutetico porque eacute preciso ser praacutetico na arte caso se pretenda descobrir algo desse modo Todos os experimentos que antecedem a experiecircncia dos quais a arte necessitava para a sua constituiccedilatildeo podem ser criados (1695) pelas pessoas comuns Tal eacute o caminho atraveacutes do experimento para [alcanccedilar] o fim da arte

25 περίπτωσις encontro 26 αὐτοσχέδιος espontacircneo improvisado 27 Ou mimeacutetica 28 microνήmicroη 29 θεώρηmicroα teoria especulaccedilatildeo intuiccedilatildeo ou algo sujeito agrave investigaccedilatildeo 30 αὐτοψία visatildeo ou percepccedilatildeo de si mesmo 31 ἱστορία investigaccedilatildeo observaccedilatildeo cientiacutefica informaccedilatildeo ou relato

Rodrigo Pinto de Brito

21 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ΓΑΛΗΝΟΥ ΠΕΡΙ ΑΙΡΕΣΕΩΝ ΤΟΙΣ ΕΙΣΑΓΟΜΕΝΟΙΣ (1641) Τῆς ἰατρικῆς τέχνης σκοπὸς microὲν ἡ ὑγίεια τέλος δ ἡ κτῆσις αὐτῆς ἐξ ὧν δ ἄν τις ἢ microὴ παροῦσαν ὑγίειαν ἐργάζοιτ ἢ παροῦσαν διαφυλάττοι γιγνώσκεσθαι microὲν ἀναγκαῖον τοῖς ἰατροῖς καλεῖται δὲ (1645) τὰ microὲν ἐργαζόmicroενα τὴν microὴ οὖσαν ὑγίειαν ἰάmicroατά τε καὶ βοηθήmicroατα τὰ δὲ φυλάττοντα τὴν οὖσαν [ὑγίειαν] ὑγιεινὰ διαιτήmicroατα ταῦτ ἄρα καὶ αὐτὴν τὴν ἰατρικὴν ἐπιστήmicroην ὑγιεινῶν καὶ νοσερῶν ὁ παλαιὸς λόγος φησίν ὑγιεινὰ microὲν καλῶν τά τε φυλάττοντα τὴν οὖσαν (1651) ὑγίειαν καὶ τὰ τὴν διεφθαρmicroένην ἀνασώζοντα νοσερὰ δὲ τἀναντία τούτων δεῖται γὰρ ἀmicroφοῖν ὁ ἰατρὸς τῆς γνώσεως ὑπὲρ τοῦ τὰ microὲν ἑλέσθαι τὰ δὲ φυγεῖν ὅθεν δ ltἂνgt τὴν τούτων ἐπιστήmicroην ἐκπορίσαιτο οὐκέθ (1655) [ὁmicroοίως] ὁmicroολογεῖται παρὰ πᾶσιν ἀλλ οἱ microὲν τὴν ἐmicroπειρίαν microόνην φασὶν ἀρκεῖν τῇ τέχνῃ τοῖς δὲ καὶ ὁ λόγος οὐ σmicroικρὰ δοκεῖ συντελεῖν ὀνοmicroάζονται δ οἱ microὲν ἀπὸ τῆς ἐmicroπειρίας microόνης ὁρmicroώmicroενοι παρωνύmicroως ἐκείνης ἐmicroπειρικοί ὁmicroοίως δὲ καὶ οἱ ἀπὸ τοῦ λόγου (16510) λογικοὶ καὶ δύο εἰσὶν αὗται πρῶται τῆς ἰατρικῆς αἱρέσεις ἡ microὲν ἑτέρα διὰ πείρας ἰοῦσα πρὸς τὴν τῶν ἰαmicroάτων εὕρεσιν ἡ δ ἑτέρα δι ἐνδείξεως καὶ ὀνόmicroατά γε ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικήν τε καὶ λογικήν καλεῖν δ εἰσὶν εἰθισmicroένοι τὴν microὲν ἐmicroπειρικὴν (16515) τηρητικήν τε καὶ microνηmicroονευτικήν τὴν δὲ λογικὴν δογmicroατικήν τε καὶ ἀναλογιστικήν καὶ τοὺς ἄνδρας ὁmicroοίως ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικοὺς microὲν καὶ τηρητικοὺς καὶ microνηmicroονευτικοὺς τῶν φαινοmicroένων ὅσοι τὴν ἐmicroπειρίαν εἵλοντο λογικοὺς δὲ καὶ δογmicroατικοὺς καὶ ἀναλογιστικούς (16520) ὅσοι τὸν λόγον προσήκαντο (1661) Συστήσασθαι δὲ τὴν τέχνην οἱ microὲν ἐmicroπειρικοὶ τόνδε τὸν τρόπον φασίν ἐπειδὴ πολλὰ τοῖς ἀνθρώποις ἑώρων πάθη τὰ microὲν ἀπὸ ταὐτοmicroάτου γιγνόmicroενα νοσοῦσί τε καὶ ὑγιαίνουσιν οἷον αἵmicroατος ῥύσιν (1665) ἐκ ῥινῶν ἢ ἱδρῶτας ἢ διαρροίας ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο βλάβην ἢ ὠφέλειαν φέρον οὐ microὴν τό γε ποιῆσαν αἴτιον αἰσθητὸν ἔχον ἕτερα δ ὧν τὸ microὲν αἴτιον ἐφαίνετ οὐ microὴν ἐκ προαιρέσεως ἡmicroετέρας ἀλλὰ κατά τινα συντυχίαν οἷον συνέβη πεσόντος τινὸς ἢ πληγέντος ἢ (16610) ἄλλως πως τρωθέντος αἷmicroα ῥυῆναι καὶ πιεῖν ἐν νόσῳ χαρισάmicroενον τῇ ἐπιθυmicroίᾳ ψυχρὸν ὕδωρ ἢ οἶνον ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο ὧν ἕκαστον εἰς ὠφέλειαν ἢ βλάβην ἐτελεύτα τὸ microὲν [οὖν] πρότερον εἶδος τῶν ὠφελούντων ἢ βλαπτόντων ἐκάλουν φυσικόν τὸ δὲ δεύτερον τυχικόν (16615) ἑκατέρου δ αὐτῶν τὴν πρώτην θέαν περίπτωσιν ὠνόmicroαζον ἀπὸ τοῦ περιπίπτειν ἀβουλήτως τοῖς πράγmicroασι τοὔνοmicroα θέmicroενοι τὸ microὲν οὖν περιπτωτικὸν εἶδος τῆς ἐmicroπειρίας τοιόνδε τί ἐστι τὸ δ αὐτοσχέδιον ὅταν (1671) ἑκόντες ἐπὶ τὸ πειράζειν ἀφίκωνται ἢ ὑπ ὀνειράτων προτραπέντες ἢ ἄλλως πως δοξάζοντες ἀλλὰ καὶ τρίτον τῆς ἐmicroπειρίας εἶδός ἐστι τὸ microιmicroητικόν ὅταν τῶν ὠφελησάντων ἢ βλαψάντων ὁτιοῦν ἢ φύσει ἢ τύχῃ ἢ (1675) αὐτοσχεδίως ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν αὖθις εἰς πεῖραν ἄγηται καὶ τοῦτ ἐστὶ τὸ microάλιστα τὴν τέχνην αὐτῶν συστησάmicroενον οὐ γὰρ δὶς microόνον ἢ τρὶς ἀλλὰ καὶ πλειστάκις microιmicroησάmicroενοι τὸ πρόσθεν ὠφελῆσαν εἶτ ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν τὸ αὐτὸ ποιοῦν εὑρίσκοντες

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

22 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ὡς ἐπὶ τὸ (16710) πολὺ τὴν τοιαύτην microνήmicroην θεώρηmicroα καλέσαντες ἤδη πιστὸν ἡγοῦνται καὶ microέρος τῆς τέχνης ὡς δὲ πολλὰ θεωρήmicroατα τοιαῦτ ἠθροίζετ αὐτοῖς ἰατρικὴ microὲν ἦν τὸ σύmicroπαν ἄθροισmicroα καὶ ὁ ἀθροίσας ἰατρός ἐκλήθη δ ὑπ αὐτῶν αὐτοψία τὸ τοιοῦτον ἄθροισmicroα microνήmicroη τις (16715) οὖσα τῶν πολλάκις καὶ ὡσαύτως ὀφθέντων ὠνόmicroαζον δ αὐτὸ τοῦτο καὶ ἐmicroπειρίαν ἱστορίαν δὲ τὴν ἐπαγγελίαν αὐτοῦ τὸ γὰρ αὐτὸ τοῦτο τῷ microὲν τηρήσαντι αὐτοψία τῷ δὲ microαθόντι τὸ τετηρηmicroένον ἱστορία ἐστίν (1681) Ἐπεὶ δὲ καὶ νοσήmicroασί τισιν ἐνετύγχανον ἔστιν ὅτε πρόσθεν οὐχ ἑωραmicroένοις ἤ τισιν ἐγνωσmicroένοις microὲν ἀλλ ἐν χωρίοις ἐν οἷς οὐκ ἦν ἰαmicroάτων εὐπορία τῶν διὰ τῆς πείρας τετηρηmicroένων ὄργανόν τι βοηθηmicroάτων εὑρετικὸν (1685) ἐποιήσαντο τὴν τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν ᾧ χρώmicroενοι πολλάκις καὶ ἀπὸ πάθους ἐπὶ πάθος [ὅmicroοιον] τὸ αὐτὸ βοήθηmicroα microεταφέρουσι καὶ ἀπὸ τόπου ἐπὶ τόπον καὶ ἀπὸ τοῦ πρόσθεν ἐγνωσmicroένου βοηθήmicroατος ἐπὶ τὸ παραπλήσιον ἔρχονται ἀπὸ microὲν πάθους ἐπὶ πάθος (16810) ὡς εἰ ἀπ ἐρυσιπέλατος ἐφ ἕρπητα microεταβαίνοιεν ἀπὸ δὲ τόπου ἐπὶ τόπον ὡς ἀπὸ βραχίονος ἐπὶ microηρόν ἀπὸ δὲ βοηθήmicroατος ἐπὶ βοήθηmicroα ὡς ἐν διαρροίαις ἀπὸ microήλου ἐπὶ microέσπιλον ἅπασα δ ἡ τοιαύτη microετάβασις ὁδὸς microέν ἐστιν ἐπὶ τὴν εὕρεσιν εὕρεσις δ οὐδέπω πρὸ (16815) τῆς πείρας ἀλλ ἡνίκ ἂν τὸ ἐλπισθὲν εἰς πεῖραν ἀχθῇ πιστὸν ἤδη τὸ microαρτυρηθὲν ὑπ αὐτῆς ἐστιν οὐδὲν ἧττον ἢ εἰ πλειστάκις καὶ ὡσαύτως ἔχον ἐτετήρητο τὴν δὲ πεῖραν ταύτην τὴν ἑποmicroένην τῇ τοῦ ὁmicroοίου (1691) microεταβάσει τριβικὴν καλοῦσιν ὅτι χρὴ τετρῖφθαι κατὰ τὴν τέχνην τὸν microέλλοντά τι οὕτως εὑρήσειν αἱ δ ἔmicroπροσθεν ἅπασαι πεῖραι αἱ πρὸ τῆς ἐmicroπειρίας ὧν εἰς σύστασιν ἐδεῖθ ἡ τέχνη καὶ περὶ τὸν τυχόντα δύνανται (1695) γενέσθαι τοιαύτη microὲν ἡ διὰ τῆς πείρας πρὸς τὸ τέλος τῆς τέχνης ὁδός

Rodrigo Pinto de Brito

23 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

viii- APEcircNDICE As trecircs seitas meacutedicas e seus principais liacutederes segundo por pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-146845

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

24 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ix- Referecircncias bibliograacuteficas BARNES J SCHOFIELD M BURNYEAT M (eds) Doubt and Dogmatism

Studies in Hellenistic Epistemology Oxford Clarendon Press 1980 BARNES J The Beliefs of a Pyrrhonist In Proceedings of the Cambridge

Philological Society ndeg28 Cambridge 1982 Pp 1-29 BOLZANI R Acadecircmicos versus Pirrocircnicos Satildeo Paulo Alameda Editorial

2013 BRITO R P de Quadros conceituais do ceticismo anterior a Sexto Empiacuterico

In Prometeus ndash Filosofia em Revista Ano 06 ndeg 12 p 121-136 2013 ____ Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua

aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os Retoacutericos In Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

____ DINUCCI A L Traduccedilatildeo e Apresentaccedilatildeo da Diatribe de Epicteto 15 In Revista de Filosofia Antiga (USP Ed portuguecircs) v 08 p 116-132 2014

BURNYEAT M F FREDE M (eds) The Original Sceptics Cambridge Hackett Publishing Company 1998

BURNYEAT M F Can the Sceptic Live his Scepticism In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 205-235

____ The Sceptic in His Place and Time In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 316-345

____ Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012

DIOacuteGENES LAEacuteRCIO Lives of eminent philosophers HICKS R D (trans) Londres William Heinemann 1975

FREDE M WALZER R (trad amp ed) Three Treatises on the Nature of Science On the Sects for Beginners An Outline of Empiricism On Medical Experience Indianapolis Hackett Publishing Company 1985

FREDE M The Skepticrsquos Beliefs In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 179-200

____ The Scepticrsquos Two Kinds of Assent and the Question of the Possibility of Knowledge In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 201-225

____ Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989

HANKINSON R J The Sceptics (the arguments of the philosophers) Londres Routledge 1995

____ (ed) The Cambridge Companion to Galen Cambridge Cambridge University Press 2008

LIDELL H G SCOTT R A Greek-English Lexicon revised and augmented throughout by Sir Henry Stuart Jones with the assistance of Roderick McKenzie Oxford Clarendon Press 1940

MARCONDES de Souza Filho D Finding Onersquos Way About High Windows Narrow Chimneys and Open Doors Wittgensteinrsquos ldquoScepticismrdquo and Philosophical Method In POPKIN R H (ed) Scepticism in the History of Philosophy Amsterdam Kluwer Academic Publishers 1996 Pp 167-179

Rodrigo Pinto de Brito

25 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

____ A ldquoFelicidaderdquo do Discurso Ceacutetico o Problema da Auto-refutaccedilatildeo do Ceticismo In O Que Nos Faz Pensar ndeg 8 1994 Pp 131-144

MATES B The Skeptic Way Sextus Empiricuss Outlines of Pyrrhonism Oxford Oxford University Press 1996

NUSSBAUM M Skeptic Purgatives Therapeutic Arguments in Ancient Skepticism In Journal of History of Philosophy volume 29 ndeg 4 1991 Pp 521-557

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os retoacutericos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2013

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os gramaacuteticos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2015

SEXTO EMPIacuteRICO Complete Works of 4 vols BURY R G (trans) In Loeb Classical Library Harvard Harvard University Press 2006

SEXTO EMPIacuteRICO Outlines of Scepticism ANNAS J BARNES J (eds) Cambridge Cambridge University Press 2000

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Ethicists BETT R (trans) Oxford Clarendon Press 1997

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Grammarians BLANK D L (trans) Oxford Clarendon Press 1998

SMITH P J Terapia e Vida Comum In Skeacutepsis ndeg 1 2007 Pp 43-67 WALBRIDGE J (trad amp ed) The Alexandrian Epitomes of Galen vol 1 On

the Medical Sects for Beginners The Small art of Medicine On the Elements According to the Opinion of Hippocrates A parallel English-Arabic text translated introduced and annotated by john Walbridge In Islamic Translation Series Utah Brigham Young University Press 2014

Page 11: [2] Rodrigo Brito - Sobre o De Sectis de Galeno e o ...philosophicalskepticism.org/wp-content/uploads/... · Galeno (129-216 d.C.) foi um autor prolífico e de suma importância para

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

18 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

Pois eacute esta transiccedilatildeo que permite que algo que foi observado como eficiente em um caso X possa ser aproveitado em um caso Y desde que X e Y pareccedilam semelhantes

Entatildeo pensemos em Sexto o fato de ser cognominado Empiacuterico denota sua adesatildeo inicial agrave seita dos meacutedicos Empiristas Mas Sexto nos informa que esta seita tornara-se dogmaacutetico-negativa porque rejeitou assertivamente a possibilidade do conhecimento (como faziam os acadecircmicos) Sexto entatildeo tendo pesquisado e examinado outros grupos como os meacutedicos Racionalistas (que estavam enveredados em pesquisas sobre as etiologias natildeo-evidentes das doenccedilas e asseriam a possibilidade de conhececirc-las) deu ouvidos agraves criacuteticas feitas ao comportamento assertoacuterico negativo dos proacuteprios Empiristas que gerava uma autocontradiccedilatildeo Assim ao tornar-se liacuteder dos Empiristas alinhou a seita ainda mais explicitamente ao pirronismo evitando proferimentos dogmaacutetico-negativos e investindo em toacutepicos como lsquoobservaccedilatildeoobservacircncia dos costumesrsquo lsquonatildeo-asserccedilatildeorsquo lsquotransiccedilatildeo para o semelhantersquo Conceitos que satildeo basilares para a compreensatildeo dos modi operandi dos ceacuteticos pirrocircnicos e dos meacutedicos Empiristas ambos aperfeiccediloados por Sexto

vii- Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641-1695

De Galeno sobre as seitas10 [meacutedicas] para os iniciantes

(1641) O escopo da arte11 meacutedica eacute a sauacutede e seu fim a sua posse Eacute necessaacuterio ser sabido pelos meacutedicos como fazer a sauacutede advir quando ausente ou mantecirc-la quando presente Chama-se de (1645) medicamentos e de remeacutedios o que suscita a sauacutede quando estaacute ausente e de dietas saudaacuteveis o que manteacutem [a sauacutede] quando presente Eis porque o antigo relato12 diz que a medicina eacute a ciecircncia das coisas saudaacuteveis e das nocivas sendo chamadas saudaacuteveis as que mantecircm a sauacutede quando presente (1651) e as que a restauram quando arruinada e [sendo chamadas de] nocivas as diametralmente opostas a essas Pois o meacutedico precisa de ambos os conhecimentos para capturar uma e escapar da outra Mas natildeo haacute acordo entre todos sobre onde se encontraria (1655) o conhecimento de tais coisas mas uns dizem que somente a experiecircncia eacute suficiente para a arte outros acham que a razatildeo natildeo pouco contribui Aqueles satildeo chamados de Empiristas13 por partirem somente da

10αἵρεσις uma adesatildeo inclinaccedilatildeo ou escolha Denota partido ou grupo a seita dos que escolhem uma determinada coisa em detrimento de outra 11 τέχνη arte ou teacutecnica recorrentes como traduccedilotildees para o vocaacutebulo me parecem insuficientes e por isso prefiro lsquoofiacuteciorsquo por em uma uacutenica palavra conter semacircnticas tais como artesanato arte teacutecnica todos enquanto manejo de uma conhecimento e de uma praacutetica Contudo verti τέχνη por arte em todo o texto por questotildees estiliacutesticas Assim evitei que frases que ocorrem como ldquoo escopo da arte meacutedica eacuterdquo ocorressem como ldquoo escopo do ofiacutecio da medicina eacuterdquo por exemplo 12 Natildeo se trata aqui de λόγος enquanto razatildeo enquanto portanto mola-mestra do procedimento da seita dos Racionalistas (como se haacute de ver) mas sim simplesmente de lsquoaccountrsquo 13 Optei por grafar os nomes das seitas com maiuacutesculas ao longo de todo o texto

Rodrigo Pinto de Brito

19 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

experiecircncia14 sendo parocircnimos15 do mesmo modo os que [partem] da razatildeo (16510) de Racionalistas16 e estas satildeo as duas seitas primaacuterias da medicina A primeira parte de experimentos17 para a descoberta de medicamentos a segunda [parte da] indicaccedilatildeo E assim eles deram os nomes de Empirista e de Racionalista agraves [suas] seitas Mas usualmente a Empirista tambeacutem eacute chamada de (16515) Observante18 e de Memorativa19 e a Racionalista de Dogmaacutetica20 e de Analogiacutestica21 e semelhantemente agraves seitas os homens que escolheram22 a experiecircncia satildeo chamados de Empiristas Observantes e Memorativos dos fenocircmenos os que admitiram a razatildeo de (16520) Racionalistas Dogmaacuteticos e Analogiacutesticos

(1661) Os Empiristas dizem que a arte eacute organizada do seguinte modo Uma vez observou-se que muitas das afecccedilotildees humanas se datildeo espontaneamente tanto nos doentes quanto nos saudaacuteveis como o sangramento (1665) nasal ou a sudorese a diarreia ou outra coisa assim que trouxe dano ou vantagem de modo algum tendo uma causa produtiva23 perceptiacutevel24 Quanto agraves outras [afecccedilotildees] a causa eacute manifesta natildeo advindo por escolha nossa mas por acaso como quando ocorre que algueacutem caiu ou foi golpeado ou (16610) ferido de algum outro modo o sangue fluiu e quando na doenccedila bebeu aacutegua fria vinho ou outra coisa assim satisfazendo seu apetite cada um destes terminando em benefiacutecio

14 Apesar de ter vertido ἐmicroπειρικοί por Empiristas (e natildeo Empiacutericos) natildeo optei por verter ἐmicroπειρία por empiria mas simplesmente optei pelo proacuteprio significado da palavra Assim lsquoexperiecircnciarsquo 15 Houaiss 2001 ldquoadjsm (1858 cf MS) gram ling 1 diz-se de ou cada um dos dois ou mais vocaacutebulos que satildeo quase homocircnimos diferenciando-se ligeiramente na grafia e na pronuacutencia 11 diz-se de ou palavra cujos fonemas podem confundir-se com os de outra(s) por razotildees etimoloacutegicas ou simplesmente tocircnicas (pex deferir diferir descriccedilatildeo discriccedilatildeo emigrar imigrar etc) 12 na paronomaacutesia diz-se de cada uma das palavras fonicamente parecidas que se colocam proacuteximas uma da outra num texto Uso neste dicionaacuterio incluiacutemos entre os parocircnimos (rubrica par) os vocaacutebulos que se escrevem com as mesmas letras mas que diferem quanto agrave acentuaccedilatildeo graacutefica e ao timbre (papeacuteis [pl papel] e papeis [v papar]) para os quais tb se usa a denominaccedilatildeo de homoacutegrafos imperfeitos Etim gr parocircnumososon que tem nome parecido que deriva de outro nome ou palavra sobrenome ver par(a)- e -ocircnimo fhist 1858 paroacutenymo 1899 paroacutenimo Col paronimia paroniacutemiardquo 16 Assim como ἐmicroπειρικοί eacute vertido por Empiristas e natildeo Empiacutericos tambeacutem λογικοί eacute vertido por Racionalistas e natildeo Racionais 17 πεῖρα tentativa Mas uma vez que se trata de um meacutetodo dos Empiristas uma abordagem que pode envolver ldquotentativa-errordquo sendo essa abordagem uma espeacutecie experimento resolvi assim traduzir o vocaacutebulo ao longo de todo o texto 18 τηρητικός que parte da τήρησις (observaccedilatildeoobservacircncia) ou seja lsquoObservantersquo 19 microνηmicroονευτικός que parte da microνήmicroη (memoacuteriarememoraccedilatildeo) ou seja lsquoMemorativarsquo 20 δογmicroατικός diz-se de quem adota princiacutepios gerais teoacutericos acerca de algo contrapondo-se a uma abordagem experimental como se veraacute 21 ἀναλογιστικός diz-se de quem opera por um meacutetodo analoacutegico como se veraacute 22 Terceira pessoa do plural do aoristo indicativo meacutedio de αἱρέω escolher Daiacute o livro tratar-se de uma apresentaccedilatildeo das diferentes αἱρέσεις (escolhas adesotildees) meacutedicas 23 ποιῆσαν αἴτιον 24 αἰσθητός sensiacutevel

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

20 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ou dano [entatildeo] ao primeiro tipo de coisa beneacutefica ou danosa chamaram de natural ao segundo de casual (16615) mas em ambos os casos chama-se de incidecircncia25 a primeira visatildeo [das coisas beneacuteficas ou danosas] dando esse nome por algo incidir sobre as circunstacircncias involuntariamente Tal entatildeo eacute o tipo de experiecircncia incidental Mas haacute a impremeditada26 quando (1671) deliberadamente se tenta algo ou compelido por sonhos ou por quaisquer outras suposiccedilotildees E haacute um terceiro tipo de experiecircncia a imitativa27 quando algo beneacutefico ou danoso tanto naturalmente quanto casualmente ou (1675) impremeditadamente eacute experimentado recursivamente nas mesmas afecccedilotildees E eacute principalmente este [tipo] que constituiu sua arte pois tendo imitado natildeo somente duas ou trecircs mas muitas vezes o que causou benefiacutecio anteriormente em seguida descobriram que na maioria dos casos (16710) o produto era o mesmo nas mesmas afecccedilotildees ndash e a tal rememoraccedilatildeo28 chamaram de teorema29 jaacute considerada confiaacutevel e parte da arte Assim tendo-se coletado muitos desses teoremas por eles a totalidade da coletacircnea eacute a medicina e o coletor o meacutedico Tal coletacircnea foi chamada por eles de autoacutepsia30 sendo um tipo de rememoraccedilatildeo (16715) do que foi visto muitas vezes e do mesmo modo Mas tambeacutem chamaram essa mesma coisa de experiecircncia e a sua divulgaccedilatildeo de histoacuteria31 pois para o observador [a rememoraccedilatildeo] eacute autoacutepsia por outro lado eacute histoacuteria para quem aprende o que foi observado (1681) Mas uma vez que se deparavam com algumas doenccedilas que natildeo haviam sido vistas anteriormente ou com outras que eram conhecidas em locais nos quais natildeo havia provisatildeo de medicamentos observados por meio de experimentos criaram um instrumento para (1685) descobrir remeacutedios a transiccedilatildeo para o semelhante com ajuda da qual amiuacutede transferem o mesmo remeacutedio de afecccedilatildeo agrave afecccedilatildeo de lugar a lugar [afetado] e de um remeacutedio previamente conhecido vatildeo para um parecido De afecccedilatildeo a afecccedilatildeo (16810) como se passassem da erisipela agrave herpes de lugar a lugar [afetado] como do braccedilo agrave coxa de remeacutedio a remeacutedio como na diarreia da maccedilatilde agrave necircspera Toda essa transiccedilatildeo eacute um caminho para a descoberta mas a descoberta nunca (16815) antecede o experimento Uma vez que se colocou em experimento aquilo que se esperava jaacute eacute confiaacutevel sendo confirmado por esse [experimento] natildeo menos do que se tivesse sido observado amiuacutede e do mesmo modo A este experimento que acompanha a transiccedilatildeo para o (1691) semelhante chamam de praacutetico porque eacute preciso ser praacutetico na arte caso se pretenda descobrir algo desse modo Todos os experimentos que antecedem a experiecircncia dos quais a arte necessitava para a sua constituiccedilatildeo podem ser criados (1695) pelas pessoas comuns Tal eacute o caminho atraveacutes do experimento para [alcanccedilar] o fim da arte

25 περίπτωσις encontro 26 αὐτοσχέδιος espontacircneo improvisado 27 Ou mimeacutetica 28 microνήmicroη 29 θεώρηmicroα teoria especulaccedilatildeo intuiccedilatildeo ou algo sujeito agrave investigaccedilatildeo 30 αὐτοψία visatildeo ou percepccedilatildeo de si mesmo 31 ἱστορία investigaccedilatildeo observaccedilatildeo cientiacutefica informaccedilatildeo ou relato

Rodrigo Pinto de Brito

21 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ΓΑΛΗΝΟΥ ΠΕΡΙ ΑΙΡΕΣΕΩΝ ΤΟΙΣ ΕΙΣΑΓΟΜΕΝΟΙΣ (1641) Τῆς ἰατρικῆς τέχνης σκοπὸς microὲν ἡ ὑγίεια τέλος δ ἡ κτῆσις αὐτῆς ἐξ ὧν δ ἄν τις ἢ microὴ παροῦσαν ὑγίειαν ἐργάζοιτ ἢ παροῦσαν διαφυλάττοι γιγνώσκεσθαι microὲν ἀναγκαῖον τοῖς ἰατροῖς καλεῖται δὲ (1645) τὰ microὲν ἐργαζόmicroενα τὴν microὴ οὖσαν ὑγίειαν ἰάmicroατά τε καὶ βοηθήmicroατα τὰ δὲ φυλάττοντα τὴν οὖσαν [ὑγίειαν] ὑγιεινὰ διαιτήmicroατα ταῦτ ἄρα καὶ αὐτὴν τὴν ἰατρικὴν ἐπιστήmicroην ὑγιεινῶν καὶ νοσερῶν ὁ παλαιὸς λόγος φησίν ὑγιεινὰ microὲν καλῶν τά τε φυλάττοντα τὴν οὖσαν (1651) ὑγίειαν καὶ τὰ τὴν διεφθαρmicroένην ἀνασώζοντα νοσερὰ δὲ τἀναντία τούτων δεῖται γὰρ ἀmicroφοῖν ὁ ἰατρὸς τῆς γνώσεως ὑπὲρ τοῦ τὰ microὲν ἑλέσθαι τὰ δὲ φυγεῖν ὅθεν δ ltἂνgt τὴν τούτων ἐπιστήmicroην ἐκπορίσαιτο οὐκέθ (1655) [ὁmicroοίως] ὁmicroολογεῖται παρὰ πᾶσιν ἀλλ οἱ microὲν τὴν ἐmicroπειρίαν microόνην φασὶν ἀρκεῖν τῇ τέχνῃ τοῖς δὲ καὶ ὁ λόγος οὐ σmicroικρὰ δοκεῖ συντελεῖν ὀνοmicroάζονται δ οἱ microὲν ἀπὸ τῆς ἐmicroπειρίας microόνης ὁρmicroώmicroενοι παρωνύmicroως ἐκείνης ἐmicroπειρικοί ὁmicroοίως δὲ καὶ οἱ ἀπὸ τοῦ λόγου (16510) λογικοὶ καὶ δύο εἰσὶν αὗται πρῶται τῆς ἰατρικῆς αἱρέσεις ἡ microὲν ἑτέρα διὰ πείρας ἰοῦσα πρὸς τὴν τῶν ἰαmicroάτων εὕρεσιν ἡ δ ἑτέρα δι ἐνδείξεως καὶ ὀνόmicroατά γε ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικήν τε καὶ λογικήν καλεῖν δ εἰσὶν εἰθισmicroένοι τὴν microὲν ἐmicroπειρικὴν (16515) τηρητικήν τε καὶ microνηmicroονευτικήν τὴν δὲ λογικὴν δογmicroατικήν τε καὶ ἀναλογιστικήν καὶ τοὺς ἄνδρας ὁmicroοίως ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικοὺς microὲν καὶ τηρητικοὺς καὶ microνηmicroονευτικοὺς τῶν φαινοmicroένων ὅσοι τὴν ἐmicroπειρίαν εἵλοντο λογικοὺς δὲ καὶ δογmicroατικοὺς καὶ ἀναλογιστικούς (16520) ὅσοι τὸν λόγον προσήκαντο (1661) Συστήσασθαι δὲ τὴν τέχνην οἱ microὲν ἐmicroπειρικοὶ τόνδε τὸν τρόπον φασίν ἐπειδὴ πολλὰ τοῖς ἀνθρώποις ἑώρων πάθη τὰ microὲν ἀπὸ ταὐτοmicroάτου γιγνόmicroενα νοσοῦσί τε καὶ ὑγιαίνουσιν οἷον αἵmicroατος ῥύσιν (1665) ἐκ ῥινῶν ἢ ἱδρῶτας ἢ διαρροίας ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο βλάβην ἢ ὠφέλειαν φέρον οὐ microὴν τό γε ποιῆσαν αἴτιον αἰσθητὸν ἔχον ἕτερα δ ὧν τὸ microὲν αἴτιον ἐφαίνετ οὐ microὴν ἐκ προαιρέσεως ἡmicroετέρας ἀλλὰ κατά τινα συντυχίαν οἷον συνέβη πεσόντος τινὸς ἢ πληγέντος ἢ (16610) ἄλλως πως τρωθέντος αἷmicroα ῥυῆναι καὶ πιεῖν ἐν νόσῳ χαρισάmicroενον τῇ ἐπιθυmicroίᾳ ψυχρὸν ὕδωρ ἢ οἶνον ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο ὧν ἕκαστον εἰς ὠφέλειαν ἢ βλάβην ἐτελεύτα τὸ microὲν [οὖν] πρότερον εἶδος τῶν ὠφελούντων ἢ βλαπτόντων ἐκάλουν φυσικόν τὸ δὲ δεύτερον τυχικόν (16615) ἑκατέρου δ αὐτῶν τὴν πρώτην θέαν περίπτωσιν ὠνόmicroαζον ἀπὸ τοῦ περιπίπτειν ἀβουλήτως τοῖς πράγmicroασι τοὔνοmicroα θέmicroενοι τὸ microὲν οὖν περιπτωτικὸν εἶδος τῆς ἐmicroπειρίας τοιόνδε τί ἐστι τὸ δ αὐτοσχέδιον ὅταν (1671) ἑκόντες ἐπὶ τὸ πειράζειν ἀφίκωνται ἢ ὑπ ὀνειράτων προτραπέντες ἢ ἄλλως πως δοξάζοντες ἀλλὰ καὶ τρίτον τῆς ἐmicroπειρίας εἶδός ἐστι τὸ microιmicroητικόν ὅταν τῶν ὠφελησάντων ἢ βλαψάντων ὁτιοῦν ἢ φύσει ἢ τύχῃ ἢ (1675) αὐτοσχεδίως ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν αὖθις εἰς πεῖραν ἄγηται καὶ τοῦτ ἐστὶ τὸ microάλιστα τὴν τέχνην αὐτῶν συστησάmicroενον οὐ γὰρ δὶς microόνον ἢ τρὶς ἀλλὰ καὶ πλειστάκις microιmicroησάmicroενοι τὸ πρόσθεν ὠφελῆσαν εἶτ ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν τὸ αὐτὸ ποιοῦν εὑρίσκοντες

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

22 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ὡς ἐπὶ τὸ (16710) πολὺ τὴν τοιαύτην microνήmicroην θεώρηmicroα καλέσαντες ἤδη πιστὸν ἡγοῦνται καὶ microέρος τῆς τέχνης ὡς δὲ πολλὰ θεωρήmicroατα τοιαῦτ ἠθροίζετ αὐτοῖς ἰατρικὴ microὲν ἦν τὸ σύmicroπαν ἄθροισmicroα καὶ ὁ ἀθροίσας ἰατρός ἐκλήθη δ ὑπ αὐτῶν αὐτοψία τὸ τοιοῦτον ἄθροισmicroα microνήmicroη τις (16715) οὖσα τῶν πολλάκις καὶ ὡσαύτως ὀφθέντων ὠνόmicroαζον δ αὐτὸ τοῦτο καὶ ἐmicroπειρίαν ἱστορίαν δὲ τὴν ἐπαγγελίαν αὐτοῦ τὸ γὰρ αὐτὸ τοῦτο τῷ microὲν τηρήσαντι αὐτοψία τῷ δὲ microαθόντι τὸ τετηρηmicroένον ἱστορία ἐστίν (1681) Ἐπεὶ δὲ καὶ νοσήmicroασί τισιν ἐνετύγχανον ἔστιν ὅτε πρόσθεν οὐχ ἑωραmicroένοις ἤ τισιν ἐγνωσmicroένοις microὲν ἀλλ ἐν χωρίοις ἐν οἷς οὐκ ἦν ἰαmicroάτων εὐπορία τῶν διὰ τῆς πείρας τετηρηmicroένων ὄργανόν τι βοηθηmicroάτων εὑρετικὸν (1685) ἐποιήσαντο τὴν τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν ᾧ χρώmicroενοι πολλάκις καὶ ἀπὸ πάθους ἐπὶ πάθος [ὅmicroοιον] τὸ αὐτὸ βοήθηmicroα microεταφέρουσι καὶ ἀπὸ τόπου ἐπὶ τόπον καὶ ἀπὸ τοῦ πρόσθεν ἐγνωσmicroένου βοηθήmicroατος ἐπὶ τὸ παραπλήσιον ἔρχονται ἀπὸ microὲν πάθους ἐπὶ πάθος (16810) ὡς εἰ ἀπ ἐρυσιπέλατος ἐφ ἕρπητα microεταβαίνοιεν ἀπὸ δὲ τόπου ἐπὶ τόπον ὡς ἀπὸ βραχίονος ἐπὶ microηρόν ἀπὸ δὲ βοηθήmicroατος ἐπὶ βοήθηmicroα ὡς ἐν διαρροίαις ἀπὸ microήλου ἐπὶ microέσπιλον ἅπασα δ ἡ τοιαύτη microετάβασις ὁδὸς microέν ἐστιν ἐπὶ τὴν εὕρεσιν εὕρεσις δ οὐδέπω πρὸ (16815) τῆς πείρας ἀλλ ἡνίκ ἂν τὸ ἐλπισθὲν εἰς πεῖραν ἀχθῇ πιστὸν ἤδη τὸ microαρτυρηθὲν ὑπ αὐτῆς ἐστιν οὐδὲν ἧττον ἢ εἰ πλειστάκις καὶ ὡσαύτως ἔχον ἐτετήρητο τὴν δὲ πεῖραν ταύτην τὴν ἑποmicroένην τῇ τοῦ ὁmicroοίου (1691) microεταβάσει τριβικὴν καλοῦσιν ὅτι χρὴ τετρῖφθαι κατὰ τὴν τέχνην τὸν microέλλοντά τι οὕτως εὑρήσειν αἱ δ ἔmicroπροσθεν ἅπασαι πεῖραι αἱ πρὸ τῆς ἐmicroπειρίας ὧν εἰς σύστασιν ἐδεῖθ ἡ τέχνη καὶ περὶ τὸν τυχόντα δύνανται (1695) γενέσθαι τοιαύτη microὲν ἡ διὰ τῆς πείρας πρὸς τὸ τέλος τῆς τέχνης ὁδός

Rodrigo Pinto de Brito

23 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

viii- APEcircNDICE As trecircs seitas meacutedicas e seus principais liacutederes segundo por pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-146845

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

24 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ix- Referecircncias bibliograacuteficas BARNES J SCHOFIELD M BURNYEAT M (eds) Doubt and Dogmatism

Studies in Hellenistic Epistemology Oxford Clarendon Press 1980 BARNES J The Beliefs of a Pyrrhonist In Proceedings of the Cambridge

Philological Society ndeg28 Cambridge 1982 Pp 1-29 BOLZANI R Acadecircmicos versus Pirrocircnicos Satildeo Paulo Alameda Editorial

2013 BRITO R P de Quadros conceituais do ceticismo anterior a Sexto Empiacuterico

In Prometeus ndash Filosofia em Revista Ano 06 ndeg 12 p 121-136 2013 ____ Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua

aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os Retoacutericos In Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

____ DINUCCI A L Traduccedilatildeo e Apresentaccedilatildeo da Diatribe de Epicteto 15 In Revista de Filosofia Antiga (USP Ed portuguecircs) v 08 p 116-132 2014

BURNYEAT M F FREDE M (eds) The Original Sceptics Cambridge Hackett Publishing Company 1998

BURNYEAT M F Can the Sceptic Live his Scepticism In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 205-235

____ The Sceptic in His Place and Time In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 316-345

____ Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012

DIOacuteGENES LAEacuteRCIO Lives of eminent philosophers HICKS R D (trans) Londres William Heinemann 1975

FREDE M WALZER R (trad amp ed) Three Treatises on the Nature of Science On the Sects for Beginners An Outline of Empiricism On Medical Experience Indianapolis Hackett Publishing Company 1985

FREDE M The Skepticrsquos Beliefs In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 179-200

____ The Scepticrsquos Two Kinds of Assent and the Question of the Possibility of Knowledge In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 201-225

____ Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989

HANKINSON R J The Sceptics (the arguments of the philosophers) Londres Routledge 1995

____ (ed) The Cambridge Companion to Galen Cambridge Cambridge University Press 2008

LIDELL H G SCOTT R A Greek-English Lexicon revised and augmented throughout by Sir Henry Stuart Jones with the assistance of Roderick McKenzie Oxford Clarendon Press 1940

MARCONDES de Souza Filho D Finding Onersquos Way About High Windows Narrow Chimneys and Open Doors Wittgensteinrsquos ldquoScepticismrdquo and Philosophical Method In POPKIN R H (ed) Scepticism in the History of Philosophy Amsterdam Kluwer Academic Publishers 1996 Pp 167-179

Rodrigo Pinto de Brito

25 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

____ A ldquoFelicidaderdquo do Discurso Ceacutetico o Problema da Auto-refutaccedilatildeo do Ceticismo In O Que Nos Faz Pensar ndeg 8 1994 Pp 131-144

MATES B The Skeptic Way Sextus Empiricuss Outlines of Pyrrhonism Oxford Oxford University Press 1996

NUSSBAUM M Skeptic Purgatives Therapeutic Arguments in Ancient Skepticism In Journal of History of Philosophy volume 29 ndeg 4 1991 Pp 521-557

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os retoacutericos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2013

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os gramaacuteticos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2015

SEXTO EMPIacuteRICO Complete Works of 4 vols BURY R G (trans) In Loeb Classical Library Harvard Harvard University Press 2006

SEXTO EMPIacuteRICO Outlines of Scepticism ANNAS J BARNES J (eds) Cambridge Cambridge University Press 2000

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Ethicists BETT R (trans) Oxford Clarendon Press 1997

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Grammarians BLANK D L (trans) Oxford Clarendon Press 1998

SMITH P J Terapia e Vida Comum In Skeacutepsis ndeg 1 2007 Pp 43-67 WALBRIDGE J (trad amp ed) The Alexandrian Epitomes of Galen vol 1 On

the Medical Sects for Beginners The Small art of Medicine On the Elements According to the Opinion of Hippocrates A parallel English-Arabic text translated introduced and annotated by john Walbridge In Islamic Translation Series Utah Brigham Young University Press 2014

Page 12: [2] Rodrigo Brito - Sobre o De Sectis de Galeno e o ...philosophicalskepticism.org/wp-content/uploads/... · Galeno (129-216 d.C.) foi um autor prolífico e de suma importância para

Rodrigo Pinto de Brito

19 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

experiecircncia14 sendo parocircnimos15 do mesmo modo os que [partem] da razatildeo (16510) de Racionalistas16 e estas satildeo as duas seitas primaacuterias da medicina A primeira parte de experimentos17 para a descoberta de medicamentos a segunda [parte da] indicaccedilatildeo E assim eles deram os nomes de Empirista e de Racionalista agraves [suas] seitas Mas usualmente a Empirista tambeacutem eacute chamada de (16515) Observante18 e de Memorativa19 e a Racionalista de Dogmaacutetica20 e de Analogiacutestica21 e semelhantemente agraves seitas os homens que escolheram22 a experiecircncia satildeo chamados de Empiristas Observantes e Memorativos dos fenocircmenos os que admitiram a razatildeo de (16520) Racionalistas Dogmaacuteticos e Analogiacutesticos

(1661) Os Empiristas dizem que a arte eacute organizada do seguinte modo Uma vez observou-se que muitas das afecccedilotildees humanas se datildeo espontaneamente tanto nos doentes quanto nos saudaacuteveis como o sangramento (1665) nasal ou a sudorese a diarreia ou outra coisa assim que trouxe dano ou vantagem de modo algum tendo uma causa produtiva23 perceptiacutevel24 Quanto agraves outras [afecccedilotildees] a causa eacute manifesta natildeo advindo por escolha nossa mas por acaso como quando ocorre que algueacutem caiu ou foi golpeado ou (16610) ferido de algum outro modo o sangue fluiu e quando na doenccedila bebeu aacutegua fria vinho ou outra coisa assim satisfazendo seu apetite cada um destes terminando em benefiacutecio

14 Apesar de ter vertido ἐmicroπειρικοί por Empiristas (e natildeo Empiacutericos) natildeo optei por verter ἐmicroπειρία por empiria mas simplesmente optei pelo proacuteprio significado da palavra Assim lsquoexperiecircnciarsquo 15 Houaiss 2001 ldquoadjsm (1858 cf MS) gram ling 1 diz-se de ou cada um dos dois ou mais vocaacutebulos que satildeo quase homocircnimos diferenciando-se ligeiramente na grafia e na pronuacutencia 11 diz-se de ou palavra cujos fonemas podem confundir-se com os de outra(s) por razotildees etimoloacutegicas ou simplesmente tocircnicas (pex deferir diferir descriccedilatildeo discriccedilatildeo emigrar imigrar etc) 12 na paronomaacutesia diz-se de cada uma das palavras fonicamente parecidas que se colocam proacuteximas uma da outra num texto Uso neste dicionaacuterio incluiacutemos entre os parocircnimos (rubrica par) os vocaacutebulos que se escrevem com as mesmas letras mas que diferem quanto agrave acentuaccedilatildeo graacutefica e ao timbre (papeacuteis [pl papel] e papeis [v papar]) para os quais tb se usa a denominaccedilatildeo de homoacutegrafos imperfeitos Etim gr parocircnumososon que tem nome parecido que deriva de outro nome ou palavra sobrenome ver par(a)- e -ocircnimo fhist 1858 paroacutenymo 1899 paroacutenimo Col paronimia paroniacutemiardquo 16 Assim como ἐmicroπειρικοί eacute vertido por Empiristas e natildeo Empiacutericos tambeacutem λογικοί eacute vertido por Racionalistas e natildeo Racionais 17 πεῖρα tentativa Mas uma vez que se trata de um meacutetodo dos Empiristas uma abordagem que pode envolver ldquotentativa-errordquo sendo essa abordagem uma espeacutecie experimento resolvi assim traduzir o vocaacutebulo ao longo de todo o texto 18 τηρητικός que parte da τήρησις (observaccedilatildeoobservacircncia) ou seja lsquoObservantersquo 19 microνηmicroονευτικός que parte da microνήmicroη (memoacuteriarememoraccedilatildeo) ou seja lsquoMemorativarsquo 20 δογmicroατικός diz-se de quem adota princiacutepios gerais teoacutericos acerca de algo contrapondo-se a uma abordagem experimental como se veraacute 21 ἀναλογιστικός diz-se de quem opera por um meacutetodo analoacutegico como se veraacute 22 Terceira pessoa do plural do aoristo indicativo meacutedio de αἱρέω escolher Daiacute o livro tratar-se de uma apresentaccedilatildeo das diferentes αἱρέσεις (escolhas adesotildees) meacutedicas 23 ποιῆσαν αἴτιον 24 αἰσθητός sensiacutevel

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

20 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ou dano [entatildeo] ao primeiro tipo de coisa beneacutefica ou danosa chamaram de natural ao segundo de casual (16615) mas em ambos os casos chama-se de incidecircncia25 a primeira visatildeo [das coisas beneacuteficas ou danosas] dando esse nome por algo incidir sobre as circunstacircncias involuntariamente Tal entatildeo eacute o tipo de experiecircncia incidental Mas haacute a impremeditada26 quando (1671) deliberadamente se tenta algo ou compelido por sonhos ou por quaisquer outras suposiccedilotildees E haacute um terceiro tipo de experiecircncia a imitativa27 quando algo beneacutefico ou danoso tanto naturalmente quanto casualmente ou (1675) impremeditadamente eacute experimentado recursivamente nas mesmas afecccedilotildees E eacute principalmente este [tipo] que constituiu sua arte pois tendo imitado natildeo somente duas ou trecircs mas muitas vezes o que causou benefiacutecio anteriormente em seguida descobriram que na maioria dos casos (16710) o produto era o mesmo nas mesmas afecccedilotildees ndash e a tal rememoraccedilatildeo28 chamaram de teorema29 jaacute considerada confiaacutevel e parte da arte Assim tendo-se coletado muitos desses teoremas por eles a totalidade da coletacircnea eacute a medicina e o coletor o meacutedico Tal coletacircnea foi chamada por eles de autoacutepsia30 sendo um tipo de rememoraccedilatildeo (16715) do que foi visto muitas vezes e do mesmo modo Mas tambeacutem chamaram essa mesma coisa de experiecircncia e a sua divulgaccedilatildeo de histoacuteria31 pois para o observador [a rememoraccedilatildeo] eacute autoacutepsia por outro lado eacute histoacuteria para quem aprende o que foi observado (1681) Mas uma vez que se deparavam com algumas doenccedilas que natildeo haviam sido vistas anteriormente ou com outras que eram conhecidas em locais nos quais natildeo havia provisatildeo de medicamentos observados por meio de experimentos criaram um instrumento para (1685) descobrir remeacutedios a transiccedilatildeo para o semelhante com ajuda da qual amiuacutede transferem o mesmo remeacutedio de afecccedilatildeo agrave afecccedilatildeo de lugar a lugar [afetado] e de um remeacutedio previamente conhecido vatildeo para um parecido De afecccedilatildeo a afecccedilatildeo (16810) como se passassem da erisipela agrave herpes de lugar a lugar [afetado] como do braccedilo agrave coxa de remeacutedio a remeacutedio como na diarreia da maccedilatilde agrave necircspera Toda essa transiccedilatildeo eacute um caminho para a descoberta mas a descoberta nunca (16815) antecede o experimento Uma vez que se colocou em experimento aquilo que se esperava jaacute eacute confiaacutevel sendo confirmado por esse [experimento] natildeo menos do que se tivesse sido observado amiuacutede e do mesmo modo A este experimento que acompanha a transiccedilatildeo para o (1691) semelhante chamam de praacutetico porque eacute preciso ser praacutetico na arte caso se pretenda descobrir algo desse modo Todos os experimentos que antecedem a experiecircncia dos quais a arte necessitava para a sua constituiccedilatildeo podem ser criados (1695) pelas pessoas comuns Tal eacute o caminho atraveacutes do experimento para [alcanccedilar] o fim da arte

25 περίπτωσις encontro 26 αὐτοσχέδιος espontacircneo improvisado 27 Ou mimeacutetica 28 microνήmicroη 29 θεώρηmicroα teoria especulaccedilatildeo intuiccedilatildeo ou algo sujeito agrave investigaccedilatildeo 30 αὐτοψία visatildeo ou percepccedilatildeo de si mesmo 31 ἱστορία investigaccedilatildeo observaccedilatildeo cientiacutefica informaccedilatildeo ou relato

Rodrigo Pinto de Brito

21 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ΓΑΛΗΝΟΥ ΠΕΡΙ ΑΙΡΕΣΕΩΝ ΤΟΙΣ ΕΙΣΑΓΟΜΕΝΟΙΣ (1641) Τῆς ἰατρικῆς τέχνης σκοπὸς microὲν ἡ ὑγίεια τέλος δ ἡ κτῆσις αὐτῆς ἐξ ὧν δ ἄν τις ἢ microὴ παροῦσαν ὑγίειαν ἐργάζοιτ ἢ παροῦσαν διαφυλάττοι γιγνώσκεσθαι microὲν ἀναγκαῖον τοῖς ἰατροῖς καλεῖται δὲ (1645) τὰ microὲν ἐργαζόmicroενα τὴν microὴ οὖσαν ὑγίειαν ἰάmicroατά τε καὶ βοηθήmicroατα τὰ δὲ φυλάττοντα τὴν οὖσαν [ὑγίειαν] ὑγιεινὰ διαιτήmicroατα ταῦτ ἄρα καὶ αὐτὴν τὴν ἰατρικὴν ἐπιστήmicroην ὑγιεινῶν καὶ νοσερῶν ὁ παλαιὸς λόγος φησίν ὑγιεινὰ microὲν καλῶν τά τε φυλάττοντα τὴν οὖσαν (1651) ὑγίειαν καὶ τὰ τὴν διεφθαρmicroένην ἀνασώζοντα νοσερὰ δὲ τἀναντία τούτων δεῖται γὰρ ἀmicroφοῖν ὁ ἰατρὸς τῆς γνώσεως ὑπὲρ τοῦ τὰ microὲν ἑλέσθαι τὰ δὲ φυγεῖν ὅθεν δ ltἂνgt τὴν τούτων ἐπιστήmicroην ἐκπορίσαιτο οὐκέθ (1655) [ὁmicroοίως] ὁmicroολογεῖται παρὰ πᾶσιν ἀλλ οἱ microὲν τὴν ἐmicroπειρίαν microόνην φασὶν ἀρκεῖν τῇ τέχνῃ τοῖς δὲ καὶ ὁ λόγος οὐ σmicroικρὰ δοκεῖ συντελεῖν ὀνοmicroάζονται δ οἱ microὲν ἀπὸ τῆς ἐmicroπειρίας microόνης ὁρmicroώmicroενοι παρωνύmicroως ἐκείνης ἐmicroπειρικοί ὁmicroοίως δὲ καὶ οἱ ἀπὸ τοῦ λόγου (16510) λογικοὶ καὶ δύο εἰσὶν αὗται πρῶται τῆς ἰατρικῆς αἱρέσεις ἡ microὲν ἑτέρα διὰ πείρας ἰοῦσα πρὸς τὴν τῶν ἰαmicroάτων εὕρεσιν ἡ δ ἑτέρα δι ἐνδείξεως καὶ ὀνόmicroατά γε ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικήν τε καὶ λογικήν καλεῖν δ εἰσὶν εἰθισmicroένοι τὴν microὲν ἐmicroπειρικὴν (16515) τηρητικήν τε καὶ microνηmicroονευτικήν τὴν δὲ λογικὴν δογmicroατικήν τε καὶ ἀναλογιστικήν καὶ τοὺς ἄνδρας ὁmicroοίως ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικοὺς microὲν καὶ τηρητικοὺς καὶ microνηmicroονευτικοὺς τῶν φαινοmicroένων ὅσοι τὴν ἐmicroπειρίαν εἵλοντο λογικοὺς δὲ καὶ δογmicroατικοὺς καὶ ἀναλογιστικούς (16520) ὅσοι τὸν λόγον προσήκαντο (1661) Συστήσασθαι δὲ τὴν τέχνην οἱ microὲν ἐmicroπειρικοὶ τόνδε τὸν τρόπον φασίν ἐπειδὴ πολλὰ τοῖς ἀνθρώποις ἑώρων πάθη τὰ microὲν ἀπὸ ταὐτοmicroάτου γιγνόmicroενα νοσοῦσί τε καὶ ὑγιαίνουσιν οἷον αἵmicroατος ῥύσιν (1665) ἐκ ῥινῶν ἢ ἱδρῶτας ἢ διαρροίας ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο βλάβην ἢ ὠφέλειαν φέρον οὐ microὴν τό γε ποιῆσαν αἴτιον αἰσθητὸν ἔχον ἕτερα δ ὧν τὸ microὲν αἴτιον ἐφαίνετ οὐ microὴν ἐκ προαιρέσεως ἡmicroετέρας ἀλλὰ κατά τινα συντυχίαν οἷον συνέβη πεσόντος τινὸς ἢ πληγέντος ἢ (16610) ἄλλως πως τρωθέντος αἷmicroα ῥυῆναι καὶ πιεῖν ἐν νόσῳ χαρισάmicroενον τῇ ἐπιθυmicroίᾳ ψυχρὸν ὕδωρ ἢ οἶνον ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο ὧν ἕκαστον εἰς ὠφέλειαν ἢ βλάβην ἐτελεύτα τὸ microὲν [οὖν] πρότερον εἶδος τῶν ὠφελούντων ἢ βλαπτόντων ἐκάλουν φυσικόν τὸ δὲ δεύτερον τυχικόν (16615) ἑκατέρου δ αὐτῶν τὴν πρώτην θέαν περίπτωσιν ὠνόmicroαζον ἀπὸ τοῦ περιπίπτειν ἀβουλήτως τοῖς πράγmicroασι τοὔνοmicroα θέmicroενοι τὸ microὲν οὖν περιπτωτικὸν εἶδος τῆς ἐmicroπειρίας τοιόνδε τί ἐστι τὸ δ αὐτοσχέδιον ὅταν (1671) ἑκόντες ἐπὶ τὸ πειράζειν ἀφίκωνται ἢ ὑπ ὀνειράτων προτραπέντες ἢ ἄλλως πως δοξάζοντες ἀλλὰ καὶ τρίτον τῆς ἐmicroπειρίας εἶδός ἐστι τὸ microιmicroητικόν ὅταν τῶν ὠφελησάντων ἢ βλαψάντων ὁτιοῦν ἢ φύσει ἢ τύχῃ ἢ (1675) αὐτοσχεδίως ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν αὖθις εἰς πεῖραν ἄγηται καὶ τοῦτ ἐστὶ τὸ microάλιστα τὴν τέχνην αὐτῶν συστησάmicroενον οὐ γὰρ δὶς microόνον ἢ τρὶς ἀλλὰ καὶ πλειστάκις microιmicroησάmicroενοι τὸ πρόσθεν ὠφελῆσαν εἶτ ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν τὸ αὐτὸ ποιοῦν εὑρίσκοντες

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

22 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ὡς ἐπὶ τὸ (16710) πολὺ τὴν τοιαύτην microνήmicroην θεώρηmicroα καλέσαντες ἤδη πιστὸν ἡγοῦνται καὶ microέρος τῆς τέχνης ὡς δὲ πολλὰ θεωρήmicroατα τοιαῦτ ἠθροίζετ αὐτοῖς ἰατρικὴ microὲν ἦν τὸ σύmicroπαν ἄθροισmicroα καὶ ὁ ἀθροίσας ἰατρός ἐκλήθη δ ὑπ αὐτῶν αὐτοψία τὸ τοιοῦτον ἄθροισmicroα microνήmicroη τις (16715) οὖσα τῶν πολλάκις καὶ ὡσαύτως ὀφθέντων ὠνόmicroαζον δ αὐτὸ τοῦτο καὶ ἐmicroπειρίαν ἱστορίαν δὲ τὴν ἐπαγγελίαν αὐτοῦ τὸ γὰρ αὐτὸ τοῦτο τῷ microὲν τηρήσαντι αὐτοψία τῷ δὲ microαθόντι τὸ τετηρηmicroένον ἱστορία ἐστίν (1681) Ἐπεὶ δὲ καὶ νοσήmicroασί τισιν ἐνετύγχανον ἔστιν ὅτε πρόσθεν οὐχ ἑωραmicroένοις ἤ τισιν ἐγνωσmicroένοις microὲν ἀλλ ἐν χωρίοις ἐν οἷς οὐκ ἦν ἰαmicroάτων εὐπορία τῶν διὰ τῆς πείρας τετηρηmicroένων ὄργανόν τι βοηθηmicroάτων εὑρετικὸν (1685) ἐποιήσαντο τὴν τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν ᾧ χρώmicroενοι πολλάκις καὶ ἀπὸ πάθους ἐπὶ πάθος [ὅmicroοιον] τὸ αὐτὸ βοήθηmicroα microεταφέρουσι καὶ ἀπὸ τόπου ἐπὶ τόπον καὶ ἀπὸ τοῦ πρόσθεν ἐγνωσmicroένου βοηθήmicroατος ἐπὶ τὸ παραπλήσιον ἔρχονται ἀπὸ microὲν πάθους ἐπὶ πάθος (16810) ὡς εἰ ἀπ ἐρυσιπέλατος ἐφ ἕρπητα microεταβαίνοιεν ἀπὸ δὲ τόπου ἐπὶ τόπον ὡς ἀπὸ βραχίονος ἐπὶ microηρόν ἀπὸ δὲ βοηθήmicroατος ἐπὶ βοήθηmicroα ὡς ἐν διαρροίαις ἀπὸ microήλου ἐπὶ microέσπιλον ἅπασα δ ἡ τοιαύτη microετάβασις ὁδὸς microέν ἐστιν ἐπὶ τὴν εὕρεσιν εὕρεσις δ οὐδέπω πρὸ (16815) τῆς πείρας ἀλλ ἡνίκ ἂν τὸ ἐλπισθὲν εἰς πεῖραν ἀχθῇ πιστὸν ἤδη τὸ microαρτυρηθὲν ὑπ αὐτῆς ἐστιν οὐδὲν ἧττον ἢ εἰ πλειστάκις καὶ ὡσαύτως ἔχον ἐτετήρητο τὴν δὲ πεῖραν ταύτην τὴν ἑποmicroένην τῇ τοῦ ὁmicroοίου (1691) microεταβάσει τριβικὴν καλοῦσιν ὅτι χρὴ τετρῖφθαι κατὰ τὴν τέχνην τὸν microέλλοντά τι οὕτως εὑρήσειν αἱ δ ἔmicroπροσθεν ἅπασαι πεῖραι αἱ πρὸ τῆς ἐmicroπειρίας ὧν εἰς σύστασιν ἐδεῖθ ἡ τέχνη καὶ περὶ τὸν τυχόντα δύνανται (1695) γενέσθαι τοιαύτη microὲν ἡ διὰ τῆς πείρας πρὸς τὸ τέλος τῆς τέχνης ὁδός

Rodrigo Pinto de Brito

23 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

viii- APEcircNDICE As trecircs seitas meacutedicas e seus principais liacutederes segundo por pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-146845

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

24 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ix- Referecircncias bibliograacuteficas BARNES J SCHOFIELD M BURNYEAT M (eds) Doubt and Dogmatism

Studies in Hellenistic Epistemology Oxford Clarendon Press 1980 BARNES J The Beliefs of a Pyrrhonist In Proceedings of the Cambridge

Philological Society ndeg28 Cambridge 1982 Pp 1-29 BOLZANI R Acadecircmicos versus Pirrocircnicos Satildeo Paulo Alameda Editorial

2013 BRITO R P de Quadros conceituais do ceticismo anterior a Sexto Empiacuterico

In Prometeus ndash Filosofia em Revista Ano 06 ndeg 12 p 121-136 2013 ____ Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua

aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os Retoacutericos In Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

____ DINUCCI A L Traduccedilatildeo e Apresentaccedilatildeo da Diatribe de Epicteto 15 In Revista de Filosofia Antiga (USP Ed portuguecircs) v 08 p 116-132 2014

BURNYEAT M F FREDE M (eds) The Original Sceptics Cambridge Hackett Publishing Company 1998

BURNYEAT M F Can the Sceptic Live his Scepticism In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 205-235

____ The Sceptic in His Place and Time In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 316-345

____ Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012

DIOacuteGENES LAEacuteRCIO Lives of eminent philosophers HICKS R D (trans) Londres William Heinemann 1975

FREDE M WALZER R (trad amp ed) Three Treatises on the Nature of Science On the Sects for Beginners An Outline of Empiricism On Medical Experience Indianapolis Hackett Publishing Company 1985

FREDE M The Skepticrsquos Beliefs In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 179-200

____ The Scepticrsquos Two Kinds of Assent and the Question of the Possibility of Knowledge In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 201-225

____ Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989

HANKINSON R J The Sceptics (the arguments of the philosophers) Londres Routledge 1995

____ (ed) The Cambridge Companion to Galen Cambridge Cambridge University Press 2008

LIDELL H G SCOTT R A Greek-English Lexicon revised and augmented throughout by Sir Henry Stuart Jones with the assistance of Roderick McKenzie Oxford Clarendon Press 1940

MARCONDES de Souza Filho D Finding Onersquos Way About High Windows Narrow Chimneys and Open Doors Wittgensteinrsquos ldquoScepticismrdquo and Philosophical Method In POPKIN R H (ed) Scepticism in the History of Philosophy Amsterdam Kluwer Academic Publishers 1996 Pp 167-179

Rodrigo Pinto de Brito

25 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

____ A ldquoFelicidaderdquo do Discurso Ceacutetico o Problema da Auto-refutaccedilatildeo do Ceticismo In O Que Nos Faz Pensar ndeg 8 1994 Pp 131-144

MATES B The Skeptic Way Sextus Empiricuss Outlines of Pyrrhonism Oxford Oxford University Press 1996

NUSSBAUM M Skeptic Purgatives Therapeutic Arguments in Ancient Skepticism In Journal of History of Philosophy volume 29 ndeg 4 1991 Pp 521-557

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os retoacutericos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2013

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os gramaacuteticos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2015

SEXTO EMPIacuteRICO Complete Works of 4 vols BURY R G (trans) In Loeb Classical Library Harvard Harvard University Press 2006

SEXTO EMPIacuteRICO Outlines of Scepticism ANNAS J BARNES J (eds) Cambridge Cambridge University Press 2000

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Ethicists BETT R (trans) Oxford Clarendon Press 1997

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Grammarians BLANK D L (trans) Oxford Clarendon Press 1998

SMITH P J Terapia e Vida Comum In Skeacutepsis ndeg 1 2007 Pp 43-67 WALBRIDGE J (trad amp ed) The Alexandrian Epitomes of Galen vol 1 On

the Medical Sects for Beginners The Small art of Medicine On the Elements According to the Opinion of Hippocrates A parallel English-Arabic text translated introduced and annotated by john Walbridge In Islamic Translation Series Utah Brigham Young University Press 2014

Page 13: [2] Rodrigo Brito - Sobre o De Sectis de Galeno e o ...philosophicalskepticism.org/wp-content/uploads/... · Galeno (129-216 d.C.) foi um autor prolífico e de suma importância para

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

20 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ou dano [entatildeo] ao primeiro tipo de coisa beneacutefica ou danosa chamaram de natural ao segundo de casual (16615) mas em ambos os casos chama-se de incidecircncia25 a primeira visatildeo [das coisas beneacuteficas ou danosas] dando esse nome por algo incidir sobre as circunstacircncias involuntariamente Tal entatildeo eacute o tipo de experiecircncia incidental Mas haacute a impremeditada26 quando (1671) deliberadamente se tenta algo ou compelido por sonhos ou por quaisquer outras suposiccedilotildees E haacute um terceiro tipo de experiecircncia a imitativa27 quando algo beneacutefico ou danoso tanto naturalmente quanto casualmente ou (1675) impremeditadamente eacute experimentado recursivamente nas mesmas afecccedilotildees E eacute principalmente este [tipo] que constituiu sua arte pois tendo imitado natildeo somente duas ou trecircs mas muitas vezes o que causou benefiacutecio anteriormente em seguida descobriram que na maioria dos casos (16710) o produto era o mesmo nas mesmas afecccedilotildees ndash e a tal rememoraccedilatildeo28 chamaram de teorema29 jaacute considerada confiaacutevel e parte da arte Assim tendo-se coletado muitos desses teoremas por eles a totalidade da coletacircnea eacute a medicina e o coletor o meacutedico Tal coletacircnea foi chamada por eles de autoacutepsia30 sendo um tipo de rememoraccedilatildeo (16715) do que foi visto muitas vezes e do mesmo modo Mas tambeacutem chamaram essa mesma coisa de experiecircncia e a sua divulgaccedilatildeo de histoacuteria31 pois para o observador [a rememoraccedilatildeo] eacute autoacutepsia por outro lado eacute histoacuteria para quem aprende o que foi observado (1681) Mas uma vez que se deparavam com algumas doenccedilas que natildeo haviam sido vistas anteriormente ou com outras que eram conhecidas em locais nos quais natildeo havia provisatildeo de medicamentos observados por meio de experimentos criaram um instrumento para (1685) descobrir remeacutedios a transiccedilatildeo para o semelhante com ajuda da qual amiuacutede transferem o mesmo remeacutedio de afecccedilatildeo agrave afecccedilatildeo de lugar a lugar [afetado] e de um remeacutedio previamente conhecido vatildeo para um parecido De afecccedilatildeo a afecccedilatildeo (16810) como se passassem da erisipela agrave herpes de lugar a lugar [afetado] como do braccedilo agrave coxa de remeacutedio a remeacutedio como na diarreia da maccedilatilde agrave necircspera Toda essa transiccedilatildeo eacute um caminho para a descoberta mas a descoberta nunca (16815) antecede o experimento Uma vez que se colocou em experimento aquilo que se esperava jaacute eacute confiaacutevel sendo confirmado por esse [experimento] natildeo menos do que se tivesse sido observado amiuacutede e do mesmo modo A este experimento que acompanha a transiccedilatildeo para o (1691) semelhante chamam de praacutetico porque eacute preciso ser praacutetico na arte caso se pretenda descobrir algo desse modo Todos os experimentos que antecedem a experiecircncia dos quais a arte necessitava para a sua constituiccedilatildeo podem ser criados (1695) pelas pessoas comuns Tal eacute o caminho atraveacutes do experimento para [alcanccedilar] o fim da arte

25 περίπτωσις encontro 26 αὐτοσχέδιος espontacircneo improvisado 27 Ou mimeacutetica 28 microνήmicroη 29 θεώρηmicroα teoria especulaccedilatildeo intuiccedilatildeo ou algo sujeito agrave investigaccedilatildeo 30 αὐτοψία visatildeo ou percepccedilatildeo de si mesmo 31 ἱστορία investigaccedilatildeo observaccedilatildeo cientiacutefica informaccedilatildeo ou relato

Rodrigo Pinto de Brito

21 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ΓΑΛΗΝΟΥ ΠΕΡΙ ΑΙΡΕΣΕΩΝ ΤΟΙΣ ΕΙΣΑΓΟΜΕΝΟΙΣ (1641) Τῆς ἰατρικῆς τέχνης σκοπὸς microὲν ἡ ὑγίεια τέλος δ ἡ κτῆσις αὐτῆς ἐξ ὧν δ ἄν τις ἢ microὴ παροῦσαν ὑγίειαν ἐργάζοιτ ἢ παροῦσαν διαφυλάττοι γιγνώσκεσθαι microὲν ἀναγκαῖον τοῖς ἰατροῖς καλεῖται δὲ (1645) τὰ microὲν ἐργαζόmicroενα τὴν microὴ οὖσαν ὑγίειαν ἰάmicroατά τε καὶ βοηθήmicroατα τὰ δὲ φυλάττοντα τὴν οὖσαν [ὑγίειαν] ὑγιεινὰ διαιτήmicroατα ταῦτ ἄρα καὶ αὐτὴν τὴν ἰατρικὴν ἐπιστήmicroην ὑγιεινῶν καὶ νοσερῶν ὁ παλαιὸς λόγος φησίν ὑγιεινὰ microὲν καλῶν τά τε φυλάττοντα τὴν οὖσαν (1651) ὑγίειαν καὶ τὰ τὴν διεφθαρmicroένην ἀνασώζοντα νοσερὰ δὲ τἀναντία τούτων δεῖται γὰρ ἀmicroφοῖν ὁ ἰατρὸς τῆς γνώσεως ὑπὲρ τοῦ τὰ microὲν ἑλέσθαι τὰ δὲ φυγεῖν ὅθεν δ ltἂνgt τὴν τούτων ἐπιστήmicroην ἐκπορίσαιτο οὐκέθ (1655) [ὁmicroοίως] ὁmicroολογεῖται παρὰ πᾶσιν ἀλλ οἱ microὲν τὴν ἐmicroπειρίαν microόνην φασὶν ἀρκεῖν τῇ τέχνῃ τοῖς δὲ καὶ ὁ λόγος οὐ σmicroικρὰ δοκεῖ συντελεῖν ὀνοmicroάζονται δ οἱ microὲν ἀπὸ τῆς ἐmicroπειρίας microόνης ὁρmicroώmicroενοι παρωνύmicroως ἐκείνης ἐmicroπειρικοί ὁmicroοίως δὲ καὶ οἱ ἀπὸ τοῦ λόγου (16510) λογικοὶ καὶ δύο εἰσὶν αὗται πρῶται τῆς ἰατρικῆς αἱρέσεις ἡ microὲν ἑτέρα διὰ πείρας ἰοῦσα πρὸς τὴν τῶν ἰαmicroάτων εὕρεσιν ἡ δ ἑτέρα δι ἐνδείξεως καὶ ὀνόmicroατά γε ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικήν τε καὶ λογικήν καλεῖν δ εἰσὶν εἰθισmicroένοι τὴν microὲν ἐmicroπειρικὴν (16515) τηρητικήν τε καὶ microνηmicroονευτικήν τὴν δὲ λογικὴν δογmicroατικήν τε καὶ ἀναλογιστικήν καὶ τοὺς ἄνδρας ὁmicroοίως ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικοὺς microὲν καὶ τηρητικοὺς καὶ microνηmicroονευτικοὺς τῶν φαινοmicroένων ὅσοι τὴν ἐmicroπειρίαν εἵλοντο λογικοὺς δὲ καὶ δογmicroατικοὺς καὶ ἀναλογιστικούς (16520) ὅσοι τὸν λόγον προσήκαντο (1661) Συστήσασθαι δὲ τὴν τέχνην οἱ microὲν ἐmicroπειρικοὶ τόνδε τὸν τρόπον φασίν ἐπειδὴ πολλὰ τοῖς ἀνθρώποις ἑώρων πάθη τὰ microὲν ἀπὸ ταὐτοmicroάτου γιγνόmicroενα νοσοῦσί τε καὶ ὑγιαίνουσιν οἷον αἵmicroατος ῥύσιν (1665) ἐκ ῥινῶν ἢ ἱδρῶτας ἢ διαρροίας ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο βλάβην ἢ ὠφέλειαν φέρον οὐ microὴν τό γε ποιῆσαν αἴτιον αἰσθητὸν ἔχον ἕτερα δ ὧν τὸ microὲν αἴτιον ἐφαίνετ οὐ microὴν ἐκ προαιρέσεως ἡmicroετέρας ἀλλὰ κατά τινα συντυχίαν οἷον συνέβη πεσόντος τινὸς ἢ πληγέντος ἢ (16610) ἄλλως πως τρωθέντος αἷmicroα ῥυῆναι καὶ πιεῖν ἐν νόσῳ χαρισάmicroενον τῇ ἐπιθυmicroίᾳ ψυχρὸν ὕδωρ ἢ οἶνον ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο ὧν ἕκαστον εἰς ὠφέλειαν ἢ βλάβην ἐτελεύτα τὸ microὲν [οὖν] πρότερον εἶδος τῶν ὠφελούντων ἢ βλαπτόντων ἐκάλουν φυσικόν τὸ δὲ δεύτερον τυχικόν (16615) ἑκατέρου δ αὐτῶν τὴν πρώτην θέαν περίπτωσιν ὠνόmicroαζον ἀπὸ τοῦ περιπίπτειν ἀβουλήτως τοῖς πράγmicroασι τοὔνοmicroα θέmicroενοι τὸ microὲν οὖν περιπτωτικὸν εἶδος τῆς ἐmicroπειρίας τοιόνδε τί ἐστι τὸ δ αὐτοσχέδιον ὅταν (1671) ἑκόντες ἐπὶ τὸ πειράζειν ἀφίκωνται ἢ ὑπ ὀνειράτων προτραπέντες ἢ ἄλλως πως δοξάζοντες ἀλλὰ καὶ τρίτον τῆς ἐmicroπειρίας εἶδός ἐστι τὸ microιmicroητικόν ὅταν τῶν ὠφελησάντων ἢ βλαψάντων ὁτιοῦν ἢ φύσει ἢ τύχῃ ἢ (1675) αὐτοσχεδίως ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν αὖθις εἰς πεῖραν ἄγηται καὶ τοῦτ ἐστὶ τὸ microάλιστα τὴν τέχνην αὐτῶν συστησάmicroενον οὐ γὰρ δὶς microόνον ἢ τρὶς ἀλλὰ καὶ πλειστάκις microιmicroησάmicroενοι τὸ πρόσθεν ὠφελῆσαν εἶτ ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν τὸ αὐτὸ ποιοῦν εὑρίσκοντες

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

22 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ὡς ἐπὶ τὸ (16710) πολὺ τὴν τοιαύτην microνήmicroην θεώρηmicroα καλέσαντες ἤδη πιστὸν ἡγοῦνται καὶ microέρος τῆς τέχνης ὡς δὲ πολλὰ θεωρήmicroατα τοιαῦτ ἠθροίζετ αὐτοῖς ἰατρικὴ microὲν ἦν τὸ σύmicroπαν ἄθροισmicroα καὶ ὁ ἀθροίσας ἰατρός ἐκλήθη δ ὑπ αὐτῶν αὐτοψία τὸ τοιοῦτον ἄθροισmicroα microνήmicroη τις (16715) οὖσα τῶν πολλάκις καὶ ὡσαύτως ὀφθέντων ὠνόmicroαζον δ αὐτὸ τοῦτο καὶ ἐmicroπειρίαν ἱστορίαν δὲ τὴν ἐπαγγελίαν αὐτοῦ τὸ γὰρ αὐτὸ τοῦτο τῷ microὲν τηρήσαντι αὐτοψία τῷ δὲ microαθόντι τὸ τετηρηmicroένον ἱστορία ἐστίν (1681) Ἐπεὶ δὲ καὶ νοσήmicroασί τισιν ἐνετύγχανον ἔστιν ὅτε πρόσθεν οὐχ ἑωραmicroένοις ἤ τισιν ἐγνωσmicroένοις microὲν ἀλλ ἐν χωρίοις ἐν οἷς οὐκ ἦν ἰαmicroάτων εὐπορία τῶν διὰ τῆς πείρας τετηρηmicroένων ὄργανόν τι βοηθηmicroάτων εὑρετικὸν (1685) ἐποιήσαντο τὴν τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν ᾧ χρώmicroενοι πολλάκις καὶ ἀπὸ πάθους ἐπὶ πάθος [ὅmicroοιον] τὸ αὐτὸ βοήθηmicroα microεταφέρουσι καὶ ἀπὸ τόπου ἐπὶ τόπον καὶ ἀπὸ τοῦ πρόσθεν ἐγνωσmicroένου βοηθήmicroατος ἐπὶ τὸ παραπλήσιον ἔρχονται ἀπὸ microὲν πάθους ἐπὶ πάθος (16810) ὡς εἰ ἀπ ἐρυσιπέλατος ἐφ ἕρπητα microεταβαίνοιεν ἀπὸ δὲ τόπου ἐπὶ τόπον ὡς ἀπὸ βραχίονος ἐπὶ microηρόν ἀπὸ δὲ βοηθήmicroατος ἐπὶ βοήθηmicroα ὡς ἐν διαρροίαις ἀπὸ microήλου ἐπὶ microέσπιλον ἅπασα δ ἡ τοιαύτη microετάβασις ὁδὸς microέν ἐστιν ἐπὶ τὴν εὕρεσιν εὕρεσις δ οὐδέπω πρὸ (16815) τῆς πείρας ἀλλ ἡνίκ ἂν τὸ ἐλπισθὲν εἰς πεῖραν ἀχθῇ πιστὸν ἤδη τὸ microαρτυρηθὲν ὑπ αὐτῆς ἐστιν οὐδὲν ἧττον ἢ εἰ πλειστάκις καὶ ὡσαύτως ἔχον ἐτετήρητο τὴν δὲ πεῖραν ταύτην τὴν ἑποmicroένην τῇ τοῦ ὁmicroοίου (1691) microεταβάσει τριβικὴν καλοῦσιν ὅτι χρὴ τετρῖφθαι κατὰ τὴν τέχνην τὸν microέλλοντά τι οὕτως εὑρήσειν αἱ δ ἔmicroπροσθεν ἅπασαι πεῖραι αἱ πρὸ τῆς ἐmicroπειρίας ὧν εἰς σύστασιν ἐδεῖθ ἡ τέχνη καὶ περὶ τὸν τυχόντα δύνανται (1695) γενέσθαι τοιαύτη microὲν ἡ διὰ τῆς πείρας πρὸς τὸ τέλος τῆς τέχνης ὁδός

Rodrigo Pinto de Brito

23 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

viii- APEcircNDICE As trecircs seitas meacutedicas e seus principais liacutederes segundo por pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-146845

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

24 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ix- Referecircncias bibliograacuteficas BARNES J SCHOFIELD M BURNYEAT M (eds) Doubt and Dogmatism

Studies in Hellenistic Epistemology Oxford Clarendon Press 1980 BARNES J The Beliefs of a Pyrrhonist In Proceedings of the Cambridge

Philological Society ndeg28 Cambridge 1982 Pp 1-29 BOLZANI R Acadecircmicos versus Pirrocircnicos Satildeo Paulo Alameda Editorial

2013 BRITO R P de Quadros conceituais do ceticismo anterior a Sexto Empiacuterico

In Prometeus ndash Filosofia em Revista Ano 06 ndeg 12 p 121-136 2013 ____ Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua

aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os Retoacutericos In Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

____ DINUCCI A L Traduccedilatildeo e Apresentaccedilatildeo da Diatribe de Epicteto 15 In Revista de Filosofia Antiga (USP Ed portuguecircs) v 08 p 116-132 2014

BURNYEAT M F FREDE M (eds) The Original Sceptics Cambridge Hackett Publishing Company 1998

BURNYEAT M F Can the Sceptic Live his Scepticism In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 205-235

____ The Sceptic in His Place and Time In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 316-345

____ Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012

DIOacuteGENES LAEacuteRCIO Lives of eminent philosophers HICKS R D (trans) Londres William Heinemann 1975

FREDE M WALZER R (trad amp ed) Three Treatises on the Nature of Science On the Sects for Beginners An Outline of Empiricism On Medical Experience Indianapolis Hackett Publishing Company 1985

FREDE M The Skepticrsquos Beliefs In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 179-200

____ The Scepticrsquos Two Kinds of Assent and the Question of the Possibility of Knowledge In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 201-225

____ Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989

HANKINSON R J The Sceptics (the arguments of the philosophers) Londres Routledge 1995

____ (ed) The Cambridge Companion to Galen Cambridge Cambridge University Press 2008

LIDELL H G SCOTT R A Greek-English Lexicon revised and augmented throughout by Sir Henry Stuart Jones with the assistance of Roderick McKenzie Oxford Clarendon Press 1940

MARCONDES de Souza Filho D Finding Onersquos Way About High Windows Narrow Chimneys and Open Doors Wittgensteinrsquos ldquoScepticismrdquo and Philosophical Method In POPKIN R H (ed) Scepticism in the History of Philosophy Amsterdam Kluwer Academic Publishers 1996 Pp 167-179

Rodrigo Pinto de Brito

25 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

____ A ldquoFelicidaderdquo do Discurso Ceacutetico o Problema da Auto-refutaccedilatildeo do Ceticismo In O Que Nos Faz Pensar ndeg 8 1994 Pp 131-144

MATES B The Skeptic Way Sextus Empiricuss Outlines of Pyrrhonism Oxford Oxford University Press 1996

NUSSBAUM M Skeptic Purgatives Therapeutic Arguments in Ancient Skepticism In Journal of History of Philosophy volume 29 ndeg 4 1991 Pp 521-557

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os retoacutericos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2013

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os gramaacuteticos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2015

SEXTO EMPIacuteRICO Complete Works of 4 vols BURY R G (trans) In Loeb Classical Library Harvard Harvard University Press 2006

SEXTO EMPIacuteRICO Outlines of Scepticism ANNAS J BARNES J (eds) Cambridge Cambridge University Press 2000

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Ethicists BETT R (trans) Oxford Clarendon Press 1997

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Grammarians BLANK D L (trans) Oxford Clarendon Press 1998

SMITH P J Terapia e Vida Comum In Skeacutepsis ndeg 1 2007 Pp 43-67 WALBRIDGE J (trad amp ed) The Alexandrian Epitomes of Galen vol 1 On

the Medical Sects for Beginners The Small art of Medicine On the Elements According to the Opinion of Hippocrates A parallel English-Arabic text translated introduced and annotated by john Walbridge In Islamic Translation Series Utah Brigham Young University Press 2014

Page 14: [2] Rodrigo Brito - Sobre o De Sectis de Galeno e o ...philosophicalskepticism.org/wp-content/uploads/... · Galeno (129-216 d.C.) foi um autor prolífico e de suma importância para

Rodrigo Pinto de Brito

21 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ΓΑΛΗΝΟΥ ΠΕΡΙ ΑΙΡΕΣΕΩΝ ΤΟΙΣ ΕΙΣΑΓΟΜΕΝΟΙΣ (1641) Τῆς ἰατρικῆς τέχνης σκοπὸς microὲν ἡ ὑγίεια τέλος δ ἡ κτῆσις αὐτῆς ἐξ ὧν δ ἄν τις ἢ microὴ παροῦσαν ὑγίειαν ἐργάζοιτ ἢ παροῦσαν διαφυλάττοι γιγνώσκεσθαι microὲν ἀναγκαῖον τοῖς ἰατροῖς καλεῖται δὲ (1645) τὰ microὲν ἐργαζόmicroενα τὴν microὴ οὖσαν ὑγίειαν ἰάmicroατά τε καὶ βοηθήmicroατα τὰ δὲ φυλάττοντα τὴν οὖσαν [ὑγίειαν] ὑγιεινὰ διαιτήmicroατα ταῦτ ἄρα καὶ αὐτὴν τὴν ἰατρικὴν ἐπιστήmicroην ὑγιεινῶν καὶ νοσερῶν ὁ παλαιὸς λόγος φησίν ὑγιεινὰ microὲν καλῶν τά τε φυλάττοντα τὴν οὖσαν (1651) ὑγίειαν καὶ τὰ τὴν διεφθαρmicroένην ἀνασώζοντα νοσερὰ δὲ τἀναντία τούτων δεῖται γὰρ ἀmicroφοῖν ὁ ἰατρὸς τῆς γνώσεως ὑπὲρ τοῦ τὰ microὲν ἑλέσθαι τὰ δὲ φυγεῖν ὅθεν δ ltἂνgt τὴν τούτων ἐπιστήmicroην ἐκπορίσαιτο οὐκέθ (1655) [ὁmicroοίως] ὁmicroολογεῖται παρὰ πᾶσιν ἀλλ οἱ microὲν τὴν ἐmicroπειρίαν microόνην φασὶν ἀρκεῖν τῇ τέχνῃ τοῖς δὲ καὶ ὁ λόγος οὐ σmicroικρὰ δοκεῖ συντελεῖν ὀνοmicroάζονται δ οἱ microὲν ἀπὸ τῆς ἐmicroπειρίας microόνης ὁρmicroώmicroενοι παρωνύmicroως ἐκείνης ἐmicroπειρικοί ὁmicroοίως δὲ καὶ οἱ ἀπὸ τοῦ λόγου (16510) λογικοὶ καὶ δύο εἰσὶν αὗται πρῶται τῆς ἰατρικῆς αἱρέσεις ἡ microὲν ἑτέρα διὰ πείρας ἰοῦσα πρὸς τὴν τῶν ἰαmicroάτων εὕρεσιν ἡ δ ἑτέρα δι ἐνδείξεως καὶ ὀνόmicroατά γε ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικήν τε καὶ λογικήν καλεῖν δ εἰσὶν εἰθισmicroένοι τὴν microὲν ἐmicroπειρικὴν (16515) τηρητικήν τε καὶ microνηmicroονευτικήν τὴν δὲ λογικὴν δογmicroατικήν τε καὶ ἀναλογιστικήν καὶ τοὺς ἄνδρας ὁmicroοίως ταῖς αἱρέσεσιν ἔθεντο ἐmicroπειρικοὺς microὲν καὶ τηρητικοὺς καὶ microνηmicroονευτικοὺς τῶν φαινοmicroένων ὅσοι τὴν ἐmicroπειρίαν εἵλοντο λογικοὺς δὲ καὶ δογmicroατικοὺς καὶ ἀναλογιστικούς (16520) ὅσοι τὸν λόγον προσήκαντο (1661) Συστήσασθαι δὲ τὴν τέχνην οἱ microὲν ἐmicroπειρικοὶ τόνδε τὸν τρόπον φασίν ἐπειδὴ πολλὰ τοῖς ἀνθρώποις ἑώρων πάθη τὰ microὲν ἀπὸ ταὐτοmicroάτου γιγνόmicroενα νοσοῦσί τε καὶ ὑγιαίνουσιν οἷον αἵmicroατος ῥύσιν (1665) ἐκ ῥινῶν ἢ ἱδρῶτας ἢ διαρροίας ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο βλάβην ἢ ὠφέλειαν φέρον οὐ microὴν τό γε ποιῆσαν αἴτιον αἰσθητὸν ἔχον ἕτερα δ ὧν τὸ microὲν αἴτιον ἐφαίνετ οὐ microὴν ἐκ προαιρέσεως ἡmicroετέρας ἀλλὰ κατά τινα συντυχίαν οἷον συνέβη πεσόντος τινὸς ἢ πληγέντος ἢ (16610) ἄλλως πως τρωθέντος αἷmicroα ῥυῆναι καὶ πιεῖν ἐν νόσῳ χαρισάmicroενον τῇ ἐπιθυmicroίᾳ ψυχρὸν ὕδωρ ἢ οἶνον ἤ τι τοιοῦτον ἄλλο ὧν ἕκαστον εἰς ὠφέλειαν ἢ βλάβην ἐτελεύτα τὸ microὲν [οὖν] πρότερον εἶδος τῶν ὠφελούντων ἢ βλαπτόντων ἐκάλουν φυσικόν τὸ δὲ δεύτερον τυχικόν (16615) ἑκατέρου δ αὐτῶν τὴν πρώτην θέαν περίπτωσιν ὠνόmicroαζον ἀπὸ τοῦ περιπίπτειν ἀβουλήτως τοῖς πράγmicroασι τοὔνοmicroα θέmicroενοι τὸ microὲν οὖν περιπτωτικὸν εἶδος τῆς ἐmicroπειρίας τοιόνδε τί ἐστι τὸ δ αὐτοσχέδιον ὅταν (1671) ἑκόντες ἐπὶ τὸ πειράζειν ἀφίκωνται ἢ ὑπ ὀνειράτων προτραπέντες ἢ ἄλλως πως δοξάζοντες ἀλλὰ καὶ τρίτον τῆς ἐmicroπειρίας εἶδός ἐστι τὸ microιmicroητικόν ὅταν τῶν ὠφελησάντων ἢ βλαψάντων ὁτιοῦν ἢ φύσει ἢ τύχῃ ἢ (1675) αὐτοσχεδίως ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν αὖθις εἰς πεῖραν ἄγηται καὶ τοῦτ ἐστὶ τὸ microάλιστα τὴν τέχνην αὐτῶν συστησάmicroενον οὐ γὰρ δὶς microόνον ἢ τρὶς ἀλλὰ καὶ πλειστάκις microιmicroησάmicroενοι τὸ πρόσθεν ὠφελῆσαν εἶτ ἐπὶ τῶν αὐτῶν παθῶν τὸ αὐτὸ ποιοῦν εὑρίσκοντες

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

22 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ὡς ἐπὶ τὸ (16710) πολὺ τὴν τοιαύτην microνήmicroην θεώρηmicroα καλέσαντες ἤδη πιστὸν ἡγοῦνται καὶ microέρος τῆς τέχνης ὡς δὲ πολλὰ θεωρήmicroατα τοιαῦτ ἠθροίζετ αὐτοῖς ἰατρικὴ microὲν ἦν τὸ σύmicroπαν ἄθροισmicroα καὶ ὁ ἀθροίσας ἰατρός ἐκλήθη δ ὑπ αὐτῶν αὐτοψία τὸ τοιοῦτον ἄθροισmicroα microνήmicroη τις (16715) οὖσα τῶν πολλάκις καὶ ὡσαύτως ὀφθέντων ὠνόmicroαζον δ αὐτὸ τοῦτο καὶ ἐmicroπειρίαν ἱστορίαν δὲ τὴν ἐπαγγελίαν αὐτοῦ τὸ γὰρ αὐτὸ τοῦτο τῷ microὲν τηρήσαντι αὐτοψία τῷ δὲ microαθόντι τὸ τετηρηmicroένον ἱστορία ἐστίν (1681) Ἐπεὶ δὲ καὶ νοσήmicroασί τισιν ἐνετύγχανον ἔστιν ὅτε πρόσθεν οὐχ ἑωραmicroένοις ἤ τισιν ἐγνωσmicroένοις microὲν ἀλλ ἐν χωρίοις ἐν οἷς οὐκ ἦν ἰαmicroάτων εὐπορία τῶν διὰ τῆς πείρας τετηρηmicroένων ὄργανόν τι βοηθηmicroάτων εὑρετικὸν (1685) ἐποιήσαντο τὴν τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν ᾧ χρώmicroενοι πολλάκις καὶ ἀπὸ πάθους ἐπὶ πάθος [ὅmicroοιον] τὸ αὐτὸ βοήθηmicroα microεταφέρουσι καὶ ἀπὸ τόπου ἐπὶ τόπον καὶ ἀπὸ τοῦ πρόσθεν ἐγνωσmicroένου βοηθήmicroατος ἐπὶ τὸ παραπλήσιον ἔρχονται ἀπὸ microὲν πάθους ἐπὶ πάθος (16810) ὡς εἰ ἀπ ἐρυσιπέλατος ἐφ ἕρπητα microεταβαίνοιεν ἀπὸ δὲ τόπου ἐπὶ τόπον ὡς ἀπὸ βραχίονος ἐπὶ microηρόν ἀπὸ δὲ βοηθήmicroατος ἐπὶ βοήθηmicroα ὡς ἐν διαρροίαις ἀπὸ microήλου ἐπὶ microέσπιλον ἅπασα δ ἡ τοιαύτη microετάβασις ὁδὸς microέν ἐστιν ἐπὶ τὴν εὕρεσιν εὕρεσις δ οὐδέπω πρὸ (16815) τῆς πείρας ἀλλ ἡνίκ ἂν τὸ ἐλπισθὲν εἰς πεῖραν ἀχθῇ πιστὸν ἤδη τὸ microαρτυρηθὲν ὑπ αὐτῆς ἐστιν οὐδὲν ἧττον ἢ εἰ πλειστάκις καὶ ὡσαύτως ἔχον ἐτετήρητο τὴν δὲ πεῖραν ταύτην τὴν ἑποmicroένην τῇ τοῦ ὁmicroοίου (1691) microεταβάσει τριβικὴν καλοῦσιν ὅτι χρὴ τετρῖφθαι κατὰ τὴν τέχνην τὸν microέλλοντά τι οὕτως εὑρήσειν αἱ δ ἔmicroπροσθεν ἅπασαι πεῖραι αἱ πρὸ τῆς ἐmicroπειρίας ὧν εἰς σύστασιν ἐδεῖθ ἡ τέχνη καὶ περὶ τὸν τυχόντα δύνανται (1695) γενέσθαι τοιαύτη microὲν ἡ διὰ τῆς πείρας πρὸς τὸ τέλος τῆς τέχνης ὁδός

Rodrigo Pinto de Brito

23 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

viii- APEcircNDICE As trecircs seitas meacutedicas e seus principais liacutederes segundo por pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-146845

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

24 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ix- Referecircncias bibliograacuteficas BARNES J SCHOFIELD M BURNYEAT M (eds) Doubt and Dogmatism

Studies in Hellenistic Epistemology Oxford Clarendon Press 1980 BARNES J The Beliefs of a Pyrrhonist In Proceedings of the Cambridge

Philological Society ndeg28 Cambridge 1982 Pp 1-29 BOLZANI R Acadecircmicos versus Pirrocircnicos Satildeo Paulo Alameda Editorial

2013 BRITO R P de Quadros conceituais do ceticismo anterior a Sexto Empiacuterico

In Prometeus ndash Filosofia em Revista Ano 06 ndeg 12 p 121-136 2013 ____ Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua

aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os Retoacutericos In Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

____ DINUCCI A L Traduccedilatildeo e Apresentaccedilatildeo da Diatribe de Epicteto 15 In Revista de Filosofia Antiga (USP Ed portuguecircs) v 08 p 116-132 2014

BURNYEAT M F FREDE M (eds) The Original Sceptics Cambridge Hackett Publishing Company 1998

BURNYEAT M F Can the Sceptic Live his Scepticism In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 205-235

____ The Sceptic in His Place and Time In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 316-345

____ Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012

DIOacuteGENES LAEacuteRCIO Lives of eminent philosophers HICKS R D (trans) Londres William Heinemann 1975

FREDE M WALZER R (trad amp ed) Three Treatises on the Nature of Science On the Sects for Beginners An Outline of Empiricism On Medical Experience Indianapolis Hackett Publishing Company 1985

FREDE M The Skepticrsquos Beliefs In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 179-200

____ The Scepticrsquos Two Kinds of Assent and the Question of the Possibility of Knowledge In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 201-225

____ Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989

HANKINSON R J The Sceptics (the arguments of the philosophers) Londres Routledge 1995

____ (ed) The Cambridge Companion to Galen Cambridge Cambridge University Press 2008

LIDELL H G SCOTT R A Greek-English Lexicon revised and augmented throughout by Sir Henry Stuart Jones with the assistance of Roderick McKenzie Oxford Clarendon Press 1940

MARCONDES de Souza Filho D Finding Onersquos Way About High Windows Narrow Chimneys and Open Doors Wittgensteinrsquos ldquoScepticismrdquo and Philosophical Method In POPKIN R H (ed) Scepticism in the History of Philosophy Amsterdam Kluwer Academic Publishers 1996 Pp 167-179

Rodrigo Pinto de Brito

25 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

____ A ldquoFelicidaderdquo do Discurso Ceacutetico o Problema da Auto-refutaccedilatildeo do Ceticismo In O Que Nos Faz Pensar ndeg 8 1994 Pp 131-144

MATES B The Skeptic Way Sextus Empiricuss Outlines of Pyrrhonism Oxford Oxford University Press 1996

NUSSBAUM M Skeptic Purgatives Therapeutic Arguments in Ancient Skepticism In Journal of History of Philosophy volume 29 ndeg 4 1991 Pp 521-557

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os retoacutericos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2013

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os gramaacuteticos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2015

SEXTO EMPIacuteRICO Complete Works of 4 vols BURY R G (trans) In Loeb Classical Library Harvard Harvard University Press 2006

SEXTO EMPIacuteRICO Outlines of Scepticism ANNAS J BARNES J (eds) Cambridge Cambridge University Press 2000

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Ethicists BETT R (trans) Oxford Clarendon Press 1997

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Grammarians BLANK D L (trans) Oxford Clarendon Press 1998

SMITH P J Terapia e Vida Comum In Skeacutepsis ndeg 1 2007 Pp 43-67 WALBRIDGE J (trad amp ed) The Alexandrian Epitomes of Galen vol 1 On

the Medical Sects for Beginners The Small art of Medicine On the Elements According to the Opinion of Hippocrates A parallel English-Arabic text translated introduced and annotated by john Walbridge In Islamic Translation Series Utah Brigham Young University Press 2014

Page 15: [2] Rodrigo Brito - Sobre o De Sectis de Galeno e o ...philosophicalskepticism.org/wp-content/uploads/... · Galeno (129-216 d.C.) foi um autor prolífico e de suma importância para

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

22 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ὡς ἐπὶ τὸ (16710) πολὺ τὴν τοιαύτην microνήmicroην θεώρηmicroα καλέσαντες ἤδη πιστὸν ἡγοῦνται καὶ microέρος τῆς τέχνης ὡς δὲ πολλὰ θεωρήmicroατα τοιαῦτ ἠθροίζετ αὐτοῖς ἰατρικὴ microὲν ἦν τὸ σύmicroπαν ἄθροισmicroα καὶ ὁ ἀθροίσας ἰατρός ἐκλήθη δ ὑπ αὐτῶν αὐτοψία τὸ τοιοῦτον ἄθροισmicroα microνήmicroη τις (16715) οὖσα τῶν πολλάκις καὶ ὡσαύτως ὀφθέντων ὠνόmicroαζον δ αὐτὸ τοῦτο καὶ ἐmicroπειρίαν ἱστορίαν δὲ τὴν ἐπαγγελίαν αὐτοῦ τὸ γὰρ αὐτὸ τοῦτο τῷ microὲν τηρήσαντι αὐτοψία τῷ δὲ microαθόντι τὸ τετηρηmicroένον ἱστορία ἐστίν (1681) Ἐπεὶ δὲ καὶ νοσήmicroασί τισιν ἐνετύγχανον ἔστιν ὅτε πρόσθεν οὐχ ἑωραmicroένοις ἤ τισιν ἐγνωσmicroένοις microὲν ἀλλ ἐν χωρίοις ἐν οἷς οὐκ ἦν ἰαmicroάτων εὐπορία τῶν διὰ τῆς πείρας τετηρηmicroένων ὄργανόν τι βοηθηmicroάτων εὑρετικὸν (1685) ἐποιήσαντο τὴν τοῦ ὁmicroοίου microετάβασιν ᾧ χρώmicroενοι πολλάκις καὶ ἀπὸ πάθους ἐπὶ πάθος [ὅmicroοιον] τὸ αὐτὸ βοήθηmicroα microεταφέρουσι καὶ ἀπὸ τόπου ἐπὶ τόπον καὶ ἀπὸ τοῦ πρόσθεν ἐγνωσmicroένου βοηθήmicroατος ἐπὶ τὸ παραπλήσιον ἔρχονται ἀπὸ microὲν πάθους ἐπὶ πάθος (16810) ὡς εἰ ἀπ ἐρυσιπέλατος ἐφ ἕρπητα microεταβαίνοιεν ἀπὸ δὲ τόπου ἐπὶ τόπον ὡς ἀπὸ βραχίονος ἐπὶ microηρόν ἀπὸ δὲ βοηθήmicroατος ἐπὶ βοήθηmicroα ὡς ἐν διαρροίαις ἀπὸ microήλου ἐπὶ microέσπιλον ἅπασα δ ἡ τοιαύτη microετάβασις ὁδὸς microέν ἐστιν ἐπὶ τὴν εὕρεσιν εὕρεσις δ οὐδέπω πρὸ (16815) τῆς πείρας ἀλλ ἡνίκ ἂν τὸ ἐλπισθὲν εἰς πεῖραν ἀχθῇ πιστὸν ἤδη τὸ microαρτυρηθὲν ὑπ αὐτῆς ἐστιν οὐδὲν ἧττον ἢ εἰ πλειστάκις καὶ ὡσαύτως ἔχον ἐτετήρητο τὴν δὲ πεῖραν ταύτην τὴν ἑποmicroένην τῇ τοῦ ὁmicroοίου (1691) microεταβάσει τριβικὴν καλοῦσιν ὅτι χρὴ τετρῖφθαι κατὰ τὴν τέχνην τὸν microέλλοντά τι οὕτως εὑρήσειν αἱ δ ἔmicroπροσθεν ἅπασαι πεῖραι αἱ πρὸ τῆς ἐmicroπειρίας ὧν εἰς σύστασιν ἐδεῖθ ἡ τέχνη καὶ περὶ τὸν τυχόντα δύνανται (1695) γενέσθαι τοιαύτη microὲν ἡ διὰ τῆς πείρας πρὸς τὸ τέλος τῆς τέχνης ὁδός

Rodrigo Pinto de Brito

23 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

viii- APEcircNDICE As trecircs seitas meacutedicas e seus principais liacutederes segundo por pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-146845

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

24 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ix- Referecircncias bibliograacuteficas BARNES J SCHOFIELD M BURNYEAT M (eds) Doubt and Dogmatism

Studies in Hellenistic Epistemology Oxford Clarendon Press 1980 BARNES J The Beliefs of a Pyrrhonist In Proceedings of the Cambridge

Philological Society ndeg28 Cambridge 1982 Pp 1-29 BOLZANI R Acadecircmicos versus Pirrocircnicos Satildeo Paulo Alameda Editorial

2013 BRITO R P de Quadros conceituais do ceticismo anterior a Sexto Empiacuterico

In Prometeus ndash Filosofia em Revista Ano 06 ndeg 12 p 121-136 2013 ____ Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua

aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os Retoacutericos In Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

____ DINUCCI A L Traduccedilatildeo e Apresentaccedilatildeo da Diatribe de Epicteto 15 In Revista de Filosofia Antiga (USP Ed portuguecircs) v 08 p 116-132 2014

BURNYEAT M F FREDE M (eds) The Original Sceptics Cambridge Hackett Publishing Company 1998

BURNYEAT M F Can the Sceptic Live his Scepticism In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 205-235

____ The Sceptic in His Place and Time In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 316-345

____ Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012

DIOacuteGENES LAEacuteRCIO Lives of eminent philosophers HICKS R D (trans) Londres William Heinemann 1975

FREDE M WALZER R (trad amp ed) Three Treatises on the Nature of Science On the Sects for Beginners An Outline of Empiricism On Medical Experience Indianapolis Hackett Publishing Company 1985

FREDE M The Skepticrsquos Beliefs In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 179-200

____ The Scepticrsquos Two Kinds of Assent and the Question of the Possibility of Knowledge In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 201-225

____ Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989

HANKINSON R J The Sceptics (the arguments of the philosophers) Londres Routledge 1995

____ (ed) The Cambridge Companion to Galen Cambridge Cambridge University Press 2008

LIDELL H G SCOTT R A Greek-English Lexicon revised and augmented throughout by Sir Henry Stuart Jones with the assistance of Roderick McKenzie Oxford Clarendon Press 1940

MARCONDES de Souza Filho D Finding Onersquos Way About High Windows Narrow Chimneys and Open Doors Wittgensteinrsquos ldquoScepticismrdquo and Philosophical Method In POPKIN R H (ed) Scepticism in the History of Philosophy Amsterdam Kluwer Academic Publishers 1996 Pp 167-179

Rodrigo Pinto de Brito

25 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

____ A ldquoFelicidaderdquo do Discurso Ceacutetico o Problema da Auto-refutaccedilatildeo do Ceticismo In O Que Nos Faz Pensar ndeg 8 1994 Pp 131-144

MATES B The Skeptic Way Sextus Empiricuss Outlines of Pyrrhonism Oxford Oxford University Press 1996

NUSSBAUM M Skeptic Purgatives Therapeutic Arguments in Ancient Skepticism In Journal of History of Philosophy volume 29 ndeg 4 1991 Pp 521-557

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os retoacutericos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2013

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os gramaacuteticos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2015

SEXTO EMPIacuteRICO Complete Works of 4 vols BURY R G (trans) In Loeb Classical Library Harvard Harvard University Press 2006

SEXTO EMPIacuteRICO Outlines of Scepticism ANNAS J BARNES J (eds) Cambridge Cambridge University Press 2000

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Ethicists BETT R (trans) Oxford Clarendon Press 1997

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Grammarians BLANK D L (trans) Oxford Clarendon Press 1998

SMITH P J Terapia e Vida Comum In Skeacutepsis ndeg 1 2007 Pp 43-67 WALBRIDGE J (trad amp ed) The Alexandrian Epitomes of Galen vol 1 On

the Medical Sects for Beginners The Small art of Medicine On the Elements According to the Opinion of Hippocrates A parallel English-Arabic text translated introduced and annotated by john Walbridge In Islamic Translation Series Utah Brigham Young University Press 2014

Page 16: [2] Rodrigo Brito - Sobre o De Sectis de Galeno e o ...philosophicalskepticism.org/wp-content/uploads/... · Galeno (129-216 d.C.) foi um autor prolífico e de suma importância para

Rodrigo Pinto de Brito

23 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

viii- APEcircNDICE As trecircs seitas meacutedicas e seus principais liacutederes segundo por pseudo-Galeno Introductio seu medicus 146835-146845

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

24 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ix- Referecircncias bibliograacuteficas BARNES J SCHOFIELD M BURNYEAT M (eds) Doubt and Dogmatism

Studies in Hellenistic Epistemology Oxford Clarendon Press 1980 BARNES J The Beliefs of a Pyrrhonist In Proceedings of the Cambridge

Philological Society ndeg28 Cambridge 1982 Pp 1-29 BOLZANI R Acadecircmicos versus Pirrocircnicos Satildeo Paulo Alameda Editorial

2013 BRITO R P de Quadros conceituais do ceticismo anterior a Sexto Empiacuterico

In Prometeus ndash Filosofia em Revista Ano 06 ndeg 12 p 121-136 2013 ____ Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua

aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os Retoacutericos In Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

____ DINUCCI A L Traduccedilatildeo e Apresentaccedilatildeo da Diatribe de Epicteto 15 In Revista de Filosofia Antiga (USP Ed portuguecircs) v 08 p 116-132 2014

BURNYEAT M F FREDE M (eds) The Original Sceptics Cambridge Hackett Publishing Company 1998

BURNYEAT M F Can the Sceptic Live his Scepticism In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 205-235

____ The Sceptic in His Place and Time In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 316-345

____ Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012

DIOacuteGENES LAEacuteRCIO Lives of eminent philosophers HICKS R D (trans) Londres William Heinemann 1975

FREDE M WALZER R (trad amp ed) Three Treatises on the Nature of Science On the Sects for Beginners An Outline of Empiricism On Medical Experience Indianapolis Hackett Publishing Company 1985

FREDE M The Skepticrsquos Beliefs In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 179-200

____ The Scepticrsquos Two Kinds of Assent and the Question of the Possibility of Knowledge In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 201-225

____ Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989

HANKINSON R J The Sceptics (the arguments of the philosophers) Londres Routledge 1995

____ (ed) The Cambridge Companion to Galen Cambridge Cambridge University Press 2008

LIDELL H G SCOTT R A Greek-English Lexicon revised and augmented throughout by Sir Henry Stuart Jones with the assistance of Roderick McKenzie Oxford Clarendon Press 1940

MARCONDES de Souza Filho D Finding Onersquos Way About High Windows Narrow Chimneys and Open Doors Wittgensteinrsquos ldquoScepticismrdquo and Philosophical Method In POPKIN R H (ed) Scepticism in the History of Philosophy Amsterdam Kluwer Academic Publishers 1996 Pp 167-179

Rodrigo Pinto de Brito

25 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

____ A ldquoFelicidaderdquo do Discurso Ceacutetico o Problema da Auto-refutaccedilatildeo do Ceticismo In O Que Nos Faz Pensar ndeg 8 1994 Pp 131-144

MATES B The Skeptic Way Sextus Empiricuss Outlines of Pyrrhonism Oxford Oxford University Press 1996

NUSSBAUM M Skeptic Purgatives Therapeutic Arguments in Ancient Skepticism In Journal of History of Philosophy volume 29 ndeg 4 1991 Pp 521-557

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os retoacutericos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2013

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os gramaacuteticos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2015

SEXTO EMPIacuteRICO Complete Works of 4 vols BURY R G (trans) In Loeb Classical Library Harvard Harvard University Press 2006

SEXTO EMPIacuteRICO Outlines of Scepticism ANNAS J BARNES J (eds) Cambridge Cambridge University Press 2000

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Ethicists BETT R (trans) Oxford Clarendon Press 1997

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Grammarians BLANK D L (trans) Oxford Clarendon Press 1998

SMITH P J Terapia e Vida Comum In Skeacutepsis ndeg 1 2007 Pp 43-67 WALBRIDGE J (trad amp ed) The Alexandrian Epitomes of Galen vol 1 On

the Medical Sects for Beginners The Small art of Medicine On the Elements According to the Opinion of Hippocrates A parallel English-Arabic text translated introduced and annotated by john Walbridge In Islamic Translation Series Utah Brigham Young University Press 2014

Page 17: [2] Rodrigo Brito - Sobre o De Sectis de Galeno e o ...philosophicalskepticism.org/wp-content/uploads/... · Galeno (129-216 d.C.) foi um autor prolífico e de suma importância para

Sobre o De Sectis de Galeno e o empirismo de Sexto Empiacuterico Traduccedilatildeo de Galeno Das seitas meacutedicas para os iniciantes 1641- 1695 biliacutengue com introduccedilatildeo

24 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

ix- Referecircncias bibliograacuteficas BARNES J SCHOFIELD M BURNYEAT M (eds) Doubt and Dogmatism

Studies in Hellenistic Epistemology Oxford Clarendon Press 1980 BARNES J The Beliefs of a Pyrrhonist In Proceedings of the Cambridge

Philological Society ndeg28 Cambridge 1982 Pp 1-29 BOLZANI R Acadecircmicos versus Pirrocircnicos Satildeo Paulo Alameda Editorial

2013 BRITO R P de Quadros conceituais do ceticismo anterior a Sexto Empiacuterico

In Prometeus ndash Filosofia em Revista Ano 06 ndeg 12 p 121-136 2013 ____ Uma via meacutedia interpretativa para o ceticismo sextiano e sua

aplicaccedilatildeo na anaacutelise de Contra os Retoacutericos In Skeacutepsis Ano VII Nordm 11 2014 p 33-69

____ DINUCCI A L Traduccedilatildeo e Apresentaccedilatildeo da Diatribe de Epicteto 15 In Revista de Filosofia Antiga (USP Ed portuguecircs) v 08 p 116-132 2014

BURNYEAT M F FREDE M (eds) The Original Sceptics Cambridge Hackett Publishing Company 1998

BURNYEAT M F Can the Sceptic Live his Scepticism In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 205-235

____ The Sceptic in His Place and Time In BURNYEAT M Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012 Pp 316-345

____ Explorations in Ancient and Modern Philosophy Vol I Cambridge Cambridge University Press 2012

DIOacuteGENES LAEacuteRCIO Lives of eminent philosophers HICKS R D (trans) Londres William Heinemann 1975

FREDE M WALZER R (trad amp ed) Three Treatises on the Nature of Science On the Sects for Beginners An Outline of Empiricism On Medical Experience Indianapolis Hackett Publishing Company 1985

FREDE M The Skepticrsquos Beliefs In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 179-200

____ The Scepticrsquos Two Kinds of Assent and the Question of the Possibility of Knowledge In FREDE M (ed) Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989 Pp 201-225

____ Essays in Ancient Philosophy Minnesota University of Minnesota Press 1989

HANKINSON R J The Sceptics (the arguments of the philosophers) Londres Routledge 1995

____ (ed) The Cambridge Companion to Galen Cambridge Cambridge University Press 2008

LIDELL H G SCOTT R A Greek-English Lexicon revised and augmented throughout by Sir Henry Stuart Jones with the assistance of Roderick McKenzie Oxford Clarendon Press 1940

MARCONDES de Souza Filho D Finding Onersquos Way About High Windows Narrow Chimneys and Open Doors Wittgensteinrsquos ldquoScepticismrdquo and Philosophical Method In POPKIN R H (ed) Scepticism in the History of Philosophy Amsterdam Kluwer Academic Publishers 1996 Pp 167-179

Rodrigo Pinto de Brito

25 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

____ A ldquoFelicidaderdquo do Discurso Ceacutetico o Problema da Auto-refutaccedilatildeo do Ceticismo In O Que Nos Faz Pensar ndeg 8 1994 Pp 131-144

MATES B The Skeptic Way Sextus Empiricuss Outlines of Pyrrhonism Oxford Oxford University Press 1996

NUSSBAUM M Skeptic Purgatives Therapeutic Arguments in Ancient Skepticism In Journal of History of Philosophy volume 29 ndeg 4 1991 Pp 521-557

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os retoacutericos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2013

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os gramaacuteticos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2015

SEXTO EMPIacuteRICO Complete Works of 4 vols BURY R G (trans) In Loeb Classical Library Harvard Harvard University Press 2006

SEXTO EMPIacuteRICO Outlines of Scepticism ANNAS J BARNES J (eds) Cambridge Cambridge University Press 2000

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Ethicists BETT R (trans) Oxford Clarendon Press 1997

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Grammarians BLANK D L (trans) Oxford Clarendon Press 1998

SMITH P J Terapia e Vida Comum In Skeacutepsis ndeg 1 2007 Pp 43-67 WALBRIDGE J (trad amp ed) The Alexandrian Epitomes of Galen vol 1 On

the Medical Sects for Beginners The Small art of Medicine On the Elements According to the Opinion of Hippocrates A parallel English-Arabic text translated introduced and annotated by john Walbridge In Islamic Translation Series Utah Brigham Young University Press 2014

Page 18: [2] Rodrigo Brito - Sobre o De Sectis de Galeno e o ...philosophicalskepticism.org/wp-content/uploads/... · Galeno (129-216 d.C.) foi um autor prolífico e de suma importância para

Rodrigo Pinto de Brito

25 Skeacutepsis Revista de Filosofia vol IX n 17 2018 p 8-25 - ISSN 1981-4194

____ A ldquoFelicidaderdquo do Discurso Ceacutetico o Problema da Auto-refutaccedilatildeo do Ceticismo In O Que Nos Faz Pensar ndeg 8 1994 Pp 131-144

MATES B The Skeptic Way Sextus Empiricuss Outlines of Pyrrhonism Oxford Oxford University Press 1996

NUSSBAUM M Skeptic Purgatives Therapeutic Arguments in Ancient Skepticism In Journal of History of Philosophy volume 29 ndeg 4 1991 Pp 521-557

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os retoacutericos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2013

SEXTO EMPIacuteRICO Contra os gramaacuteticos BRITO R P HUGUENIN R (trans) Satildeo Paulo EdUNESP 2015

SEXTO EMPIacuteRICO Complete Works of 4 vols BURY R G (trans) In Loeb Classical Library Harvard Harvard University Press 2006

SEXTO EMPIacuteRICO Outlines of Scepticism ANNAS J BARNES J (eds) Cambridge Cambridge University Press 2000

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Ethicists BETT R (trans) Oxford Clarendon Press 1997

SEXTO EMPIacuteRICO Against the Grammarians BLANK D L (trans) Oxford Clarendon Press 1998

SMITH P J Terapia e Vida Comum In Skeacutepsis ndeg 1 2007 Pp 43-67 WALBRIDGE J (trad amp ed) The Alexandrian Epitomes of Galen vol 1 On

the Medical Sects for Beginners The Small art of Medicine On the Elements According to the Opinion of Hippocrates A parallel English-Arabic text translated introduced and annotated by john Walbridge In Islamic Translation Series Utah Brigham Young University Press 2014