2 corÍntios 12 e o misticismo judaico (os quatro que

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2 CORÍNTIOS 12 E O MISTICISMO JUDAICO (OS QUATRO QUE ENTRARAM NO PARDES) Sebastiana M. Silva Nogueira * Resumo A proposta apresentada por alguns estudiosos de que a história rabínica dos Quatro que entraram no Pardes esteja relacionada ou indique o background na tradição mística judaica do arrebatamento de Paulo ao paraíso, recontada em 2 Cor12, tem sido contestada por outros estudiosos que discordam que possa existir evidência de uma raiz comum entre os dois textos. Este artigo traz uma comparação de 2 Cor 12,1-10 com a narrativa rabínica do Pardes, e discute a influência das tradições associadas com o misticismo de merkavah e seus predecessores na experiência e pensamento de Paulo. Palavras-Chave: Misticismo de Merkavah; Pardes; Terceiro Céu/Paraíso; Paulo; Ascensão; Literatura de Hekhalot. Abstract The proposal presented by some scholars that the rabbinic story of Four men who entered Pardes is connected, or indicates the background in Jewish mystical tradition of Paul’s rapture into paradise, recounted in 2 Cor. 12, has been challenged by other scholars who disagree that could exist evidence of common root between the two texts. This article comes to a comparison of 2 Cor 12,1-10 with the rabbinic Pardes narrative, and discusses the influence of traditions * Mestre e doutoranda em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Bolsista FAPESP. ORACULA 8.13 (2012) ISSN: 1807-8222

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Page 1: 2 CORÍNTIOS 12 E O MISTICISMO JUDAICO (OS QUATRO QUE

2 CORÍNTIOS 12 E O MISTICISMO JUDAICO (OS QUATRO QUE

ENTRARAM NO PARDES)

Sebastiana M. Silva Nogueira*

Resumo

A proposta apresentada por alguns estudiosos de que a história rabínica dos

Quatro que entraram no Pardes esteja relacionada ou indique o background na

tradição mística judaica do arrebatamento de Paulo ao paraíso, recontada em 2

Cor12, tem sido contestada por outros estudiosos que discordam que possa existir

evidência de uma raiz comum entre os dois textos. Este artigo traz uma

comparação de 2 Cor 12,1-10 com a narrativa rabínica do Pardes, e discute a

influência das tradições associadas com o misticismo de merkavah e seus

predecessores na experiência e pensamento de Paulo.

Palavras-Chave: Misticismo de Merkavah; Pardes; Terceiro Céu/Paraíso; Paulo;

Ascensão; Literatura de Hekhalot.

Abstract

The proposal presented by some scholars that the rabbinic story of Four

men who entered Pardes is connected, or indicates the background in Jewish

mystical tradition of Paul’s rapture into paradise, recounted in 2 Cor. 12, has been

challenged by other scholars who disagree that could exist evidence of common

root between the two texts. This article comes to a comparison of 2 Cor 12,1-10

with the rabbinic Pardes narrative, and discusses the influence of traditions

* Mestre e doutoranda em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Bolsista FAPESP.

ORACULA 8.13 (2012)

ISSN: 1807-8222

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associated with merkavah mysticism and its predecessors on the experience and

thought of Paul.

Keywords: Merkavah mysticism; Pardes; Third Heaven/Paradise; Paul; Ascent;

Hekhalot literature.

Introdução

As últimas cinco décadas têm testemunhado um notável ressurgimento do

interesse no estudo e prática da espiritualidade cristã. Embora a religião tenha

sido marginalizada pelo secularismo do mundo moderno, um significativo corpo

literário tem sido devotado ao estudo do misticismo desde o século passado. Do

lado teológico, por sua vez, poucas são as apresentações sobre o tema, a realidade,

no entanto, chama para um conhecimento mais completo e crítico do misticismo

cristão e a avaliação teológica do fenômeno.

As palavras “misticismo” ou “místico” derivam da raiz grega myein, que

significa “fechar os olhos”; dessa forma mystikos é alguém que fecha seus olhos a

fim de excluir o mundo comum e experimentar outras realidades. O derivativo

myeó significa “iniciar nos mistérios”, e mais freqüentemente o passivo myeomai,

“ser iniciado”. Mais especificamente, o mystes, aquele que é iniciado nos cultos

gregos de mistério e que participavam de rituais sagrados que dramatizavam

certos mitos (tais como o culto de mistério de Eleusis, em torno do sétimo século

antes de Cristo. Mystikos ou mystés estão conectados com os “mistérios” dos cultos

de mistério, adquirindo, assim o colorido do segredo e privacidade1. É certo que o

específico sentido de iniciação nos cultos de mistérios não se constitui um

denominador comum nas recentes compreensões de misticismo, o que não

acontece com a noção de “segredo” e “mistério” que permanecem um importante

aspecto do fenômeno.

Não existe algo que seja universalmente conhecido como uma definição de

misticismo, embora possamos encontrar tantas definições do mesmo quanto sejam

1 SCHÄFER, Peter. The Origins of Jewish Mysticism. Tübingen: Mohr Siebeck, 2009, p. 1.

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os autores. Trata-se de um conceito fenomenológico cunhado pelos acadêmicos

ocidentais, um termo técnico introduzido no estudo da religião. Embora não exista

misticismo per si, Alexander2 está convencido de que é possível isolar um número

de idéias abstratas que parecem ser compartilhadas pelas tradições místicas,

concretas e diferentes. Entre as mais importantes estão: 1. O misticismo procede

da experiência religiosa, a experiência de uma presença divina transcendente a

qual se encontra atrás do mundo material e visível; 2, O místico, tornando-se

consciente da presença transcendente, torna-se cheio de um desejo por um

relacionamento próximo com isso. Em um sistema teísta, por exemplo, consciente

de um intransponível abismo entre o Criador e a criatura, isto é descrito como

comunhão, e, em sistemas panteístas união; 3. Misticismo sempre requer uma via

mística, um caminho pelo qual o místico parte para uma tentativa de

união/comunhão com o divino. Esta prática mística é definida em uma variedade

desorientada de formas que se estendem desde o mágico e teúrgico de um lado até

o puramente noético e contemplativo do outro.

O misticismo judaico é uma subseção do misticismo. Suas raízes

permanecem obscuras, parecendo ter emergido durante o antigo período do

Segundo Templo ou até mesmo do Exílio. Isso parece emanar através do

cristianismo em seu processo formativo, trazendo luz a alguns dos seus maiores

temas. O cerne da tradição é a percepção de verdades que extrapolam o alcance da

sabedoria humana comum e a crença de que Deus e suas manifestações podem ser

diretamente experimentados aqui neste mundo e não somente em uma dimensão

escatológica. Os apocalipses antigos testemunham isto em suas buscas para revelar

coisas ocultas sobre Deus, mistérios dos céus em todas as suas diversidades, e o

mundo criado. Para Rowland e Morray-Jones3, há uma convicção de que existe uma

dimensão divina para a existência humana, e essa apreensão da sabedoria divina

por meio de visões e revelações descreve bem a religião dos apocalipses do

judaísmo e cristianismo, e provêem certa compreensão da história e de suas

convicções teológicas.

2 ALEXANDER, Philip. Mystical Texts: Songs of the Sabbath Sacrifice and Related Manuscripts.London/New York: T&T Clark International, 2006, p. 8. 3 ROWLAND, Christopher; MORRAY-JONES, Christopher R. A. The Mystery of God. Early Jewish Mysticism and the New Testament. Leiden/Boston: Brill, 2009, p. 5 (Compendia Rerum Iudaicarum ad Novum Testamentum).

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Nos escritos antigos dos visionários judeus, sua literatura apocalíptica, os

visionários estavam preocupados com aquilo que estava além das observações

empíricas e dependiam da revelação de Deus para responder estas questões. Esses

escritos descreviam como seus heróis ascendiam ao céu e recebiam revelações dos

mistérios divinos através de visões, sonhos ou de qualquer outra forma que

trouxesse a revelação dos mistérios celestiais. Alguns dessas ascensões, não todas,

envolviam visões da merkavah4 de Ezequiel. Nos primeiros séculos da era cristã a

“obra da carruagem” (ma‘seh merkabah) era o tema central da literatura mística

rabínica, conhecida como misticismo da merkavah. Scholem5 realmente usou este

misticismo para produzir a chave das histórias de ascensão celestial presentes nos

apocalipses dos últimos dois séculos a.C. e dos primeiros dois séculos d.C. Foi

Scholem, na verdade, quem iniciou a discussão acadêmica dos místicos judaicos em

seu livro Major Trends in Jewish Myticism, em 1941.

Na discussão sobre o misticismo de merkavah, Scholem procurou

demonstrar que a tradição mística existiu e se estendeu dos escritos apocalípticos

ao hassidismo6. Para ele, o apocalipsismo é de fato um predecessor do misticismo

de merkavah. Os textos dos manuscritos do Mar Morto, da Cova 4 e 11, conhecidos

como os Cânticos do Sacrifício Sabático tem dado considerável suporte ao

argumento de Scholem. A descoberta dos Cânticos marcou uma mudança

fundamental no estudo do misticismo judaico e na contextualização de seu

desenvolvimento7. Para Rowlandt8, o fragmento de merkabah de Qumran (4Q405

20ii 20-22) é um testemunho marcante de um interesse no mundo celestial que

excede todos os textos apocalípticos existentes e é uma contrapartida próxima dos

relatos celestiais dos tratados de Hekhalot9. Para Scholem10, esses fragmentos não

4 Trono-carruagem de Deus presente em Ezequiel 1. 5 SCHOLEM, Gershom G. Jewish Gnosticism, Merkabah Mysticism, and Talmudic Tradition. New York: The Jewish Theological Seminary of America, 1965. 6 Movimento dentro do judaísmo que visa o ensino de grandes grupos judaicos no espírito de um moralismo místico, de um verdadeiro temor e amor a Deus. 7ELIOR, Rachel. The Emergence of the Mystical Traditions of the Merkavah. In: DECONICK, April D. (Ed.). Paradise Now: Essays on Early Jewish and Christian Mysticism. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2006, p. 88. 8 ROWLAND, Christopher; GIBBONS, Patricia; DOBRORUKA, Vicente. Visionary Experience in Ancient Judaism and Christianity. In: DECONICK, April D. (Ed.). Paradise Now: Essays on Early Jewish and Christian Mysticism. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2006, p. 47. 9“Pal|cios” ou “templos”, o corpo liter|rio dos períodos rabínicos e pós-rabínicos que dão instrução em como ascender aos palácios ou a merkavah, o trono-carruagem de Deus. Revelam a ascensão do místico ao santuário interior para a visualização do trono divino.

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deixam dúvidas da conexão entre os textos mais antigos da merkavah hebraica

preservada em Qumran e o desenvolvimento subseqüente do misticismo de

merkavah preservados nos textos de Hekhalot.

Scholem construiu seu argumento seguindo os passos que foram

primeiramente trilhados por um estudioso do século XI, Hai Gaon, que usou

Hekhalot para elucidar um misterioso relato talmúdico que foi objeto de estudo

para Scholem e que continua sendo para a pesquisa contemporânea, os quatros

rabis que entraram em um misterioso “jardim”.11 O capítulo III da obra de Scholem,

Jewish Gnosticism, Merkavah Mysticism and Talmudic Tradition, trata

especificamente deste assunto. O autor chama a atenção para a antiguidade da

tradição preservada na literatura de Hekhalot que leva não apenas a considerar os

muitos pontos de contato entre esses textos e seus paralelos na literatura

helenística e na cristã primitiva, mas também ajuda a pontuar o período de

algumas dessas tradições de Hekhalot.

Dessa forma, para Scholem, a história talmúdica dos Quatro homens que

entraram no Pardes (jardim, paraíso) pode ser usada para a compreensão do

arrebatamento de Paulo ao paraíso recontado em 2 Coríntios 12. Esse ponto de

vista de Scholem tem sido um dos maiores pontos de disputa entre os estudiosos

do misticismo de merkavah, e tem sido assumido por vários acadêmicos

modernos12, como também veementemente criticado por outros13. Este debate é

de grande importância para a compreensão das bases que fundamentaram a

experiência e pensamento do apóstolo Paulo. Isso pontua o propósito deste

10 SCHOLEM, Jewish Gnosticism, Merkabah Mysticism, and Talmudic Tradition, p. 128. 11 HALPERIN, David J. The Faces of the Chariot: Early Jewish Responses to Ezekiel’s Vision. Tübingen: J. C. B. Mohr, 1988, p. 7. 12 GRUENWALD, I. Apocalyptic and Merkavah Mysticism. Leiden: Brill, 1980 (Arbeiten zur Gecshichte des Antiken Judentums und des Urchristentums 14); Idem, From Apocalypticism to Gnosticism: Studies in Apocalypticism, Merkavah Mysticism and Gnosticism. Frankfurt/Main: Verlage Peter Lang, 1988 (Beiträge zur Erforschung des Alten Testaments und des antiken Judentums, 14); SEGAL, Alan F. Paul the Convert: The Apostolate and Apostasy of Saul the Pharisee. New Haven/London: Yale University Press, 1990; ELIOR, Rachel. The Three Temples: On the Emergence of Jewish Mysticism. Oxford: Littman Library of Jewish Civilization, 2004; ROWLAND, Christopher; MORRAY-JONES, Christopher R. A. The Mystery God. Early Jewish Mysticism and New Testament. Leiden/Boston: Brill, 2009. 13 HALPERIN, The Faces of the Chariot; IDEL, Moshe. Kabbalah: New Perspectives. New Haven: Yale University Press, 1988; SCHÄFER, Peter. New Testament and Hekhalot Literature: The Journey into Heaven in Paul and Merkavah Mysticism. In: Journal of Jewish Studies 35 (1984): 19-35; Idem, The Origins of Jewish Mysticism. Tübingen: Mohr Siebeck, 2009, p. 337.

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trabalho que é perscrutar a existência de uma possível conexão entre o notório

relato da ascensão de Paulo ao Paraíso registrado em 2 Cor 12, e a história

talmúdica dos quatro rabis que entraram no Pardes.

2 Coríntios 12 e o relato talmúdico dos Quatro que entraram no Pardes

O acadêmico que estabeleceu o misticismo de merkavah como background

de Paulo foi Alan Segal14, rotulando o apóstolo de “O Místico”. Não foi o primeiro a

reivindicar tal background, pois em 1901, Wilhelm Bousset15 já identificara a

ascensão de Paulo relatada em 2 Coríntios como um exemplo de merkavah, e desde

então muitos outros têm apontado este contato, entre eles Scholem16, Segal17,

Morray-Jones18, Tabor19, Scott20, Thrall21, e outros.

É incontestável o fato de que um significativo número de textos judaicos do

período do Segundo Templo reporta-se a visões e revelações baseado na

experiência de seus autores. O testemunho da viagem de Paulo ao paraíso,

registrada em 2 Cor 12, é a melhor evidência dessa prática. Excluindo Gal 1,12-16,

2 Cor 12 é a tradição mais ligada com o misticismo judaico. Paulo demonstra ter

tido acesso segredos divinos que constituem pilares de sua teologia e que

constituem também o objetivo de todo místico. Morris-Jones22 comentando 2 Cor

14 SEGAL, Paul the Convert. 15 BOUSET, Wilhelm. Die Himmelsreise der Seele. In:Archiv für Religionswissenschaft 4 (1901): 139-69, 229-73 apud SHANTZ, Colleen. Paul in Ecstasy: The Neurobiology of the Apostle’s Life and Thought. New York: Cambridge University Press, 2009, p. 58. 16 SCHOLEM, Jewish Gnosticism, Merkabah Mysticism, and Talmudic Tradition. 17 SEGAL, Paul the Convert; Idem. Paul and the Beginning of Jewish Mysticism. In: COLLINS, John; FISHBANE, Michael (Eds.) . Death, Ecstasy and Other Worldly Journeys. Albany: State University of New York, 1995, p. 93-120. 18 MORRAY-JONES, Christopher R. A. Paradise Revisited (2 Cor 12:1-12): The Mystical Background of Paul Apostolate. Part 1: The Jewish Sources. In: Harvard Theological Review 86 (1993): 177-217; Idem. Paradise Revisited (2 Cor 12:1-12): The Mystical Background of Paul Apostolate. Part 2: Paul Heavenly Ascent and its Significance. In: Harvard Theological Review 86 (1993): 256-92; MORRAY-JONES; ROWLAND, The Mystery God. 19 TABOR, James D. Things Unutterable. Paul’s Ascent to Paradise in its Greco-Roman, Judaic, and Early Christian Contexts. Lanham/New York/London: University Press of America, 1986. 20 SCOTT, James M. The Triumph of God in 2 Cor 2:14: Additional Evidence of Merkabah Mysticism in Paul. In: New Testament Studies 42 (1996): 260-81. 21 THRALL, Margaret E. Paul’s Journey to Paradise. In: BIERINGER, R. (ed.). The Corinthian Correspondence. Leuven: Leuven University Press, 1996 (Bibliotheca ephemeridum theologicarum lovaniensium), p. 347-63. 22 MORRAY-JONES, Paradise Revisited (Part 2), p. 283.

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12 conclui que Paulo está descrevendo uma ascensão ao templo celestial e uma

visão da merkabah do entronizado e “glorificado” Cristo. Para o autor, “Merkabah

Mysticism” foi uma característica central da experiência de Paulo. No entanto,

praticando merkavah o apóstolo recebia a visão do Cristo glorificado e não a

esperada visão de alguém sentado na carruagem.

Morray-Jones é o acadêmico que tem feito da literatura talmúdica dos

“Quatro que entraram no Pardes” o background para a ascensão de Paulo relatada

em 2 Coríntios 12. Na linha desenvolvida por Scholem, ele tenta demonstrar,

através de um exame minucioso do texto, que tradições dentro do misticismo de

merkavah podem ser datadas de um período mais antigo. Como para Scholem, ele

defende que a tradição mística existiu e se estendeu dos escritos apocalípticos ao

hassidismo, sendo o apocalipsismo, de fato, um predecessor do misticismo de

merkavah. Dessa forma, a história talmúdica dos quatros homens que entraram no

Pardes (jardim, paraíso) pode ser usada para a compreensão do arrebatamento de

Paulo ao Paraíso recontado em 2 Cor 12. Em seu artigo23 e, mais recentemente, em

sua obra conjunta com Rowland24, Morray-Jones inicia uma aventura para

comparar em detalhes a história dos Quatro que entraram no Pardes com o texto

paulino. Para a comparação dos dois relatos pelo autor é tomado como referência o

capítulo 13 de sua recente obra.

Na literatura talmúdica, a história do Pardes está incluída na chamada

“Mystical Collection”, e preservada em três documentos diferentes, na Tosefta, na

Yerushalmi (Jerusalem Talmud), e no Bavli (Babylonian Talmud). As três versões

concordam em seu formato e nos detalhes essenciais. A única exceção é

encontrada no Babylonian Talmud o qual contém uma passagem não contida nas

outras versões da literatura rabínica, provavelmente um acréscimo posterior.

Serão apresentadas neste estudo as três versões da história.

23 MORRAY-JONES, Paradise Revisited (Part 1), p. 177-217; MORRAY-JONES, Paradise Revisited (Part 2), p. 256-92. 24. ROWLAND; MORRAY-JONES, The Mystery God.

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Tosefa25

Quatro homens entraram no pardes: ben Azzai and ben Zoma, Aher e R.

Akiva. Um olhou e morreu; um olhou e foi golpeado; um olhou e cut the shoots

(young plants); um subiu em paz e desceu em paz26.

Ben Azzai olhou e morreu. Dele, a Escritura diz: ‘Precioso aos olhos do

Senhor é a morte dos seus santos’ (Sl 116:15). Ben Zoma olhou e foi golpeado. Dele,

a Escritura diz: ‘Encontraste mel? Coma o que é suficiente para ti...’ (Pv 25:16).

Elisha olhou e cut the shoots. Dele, a Escritura diz: Não deixe sua boca conduzir a

sua carne ao pecado... R. Akiva subiu em paz27. E desceu em paz. Dele, a Escritura

diz: ‘Atrai-me após ti! Apressemo-nos... (Ct1:4a)’ etc.

Yerushalmi (Jerusalem Talmud)28

Quatro homens entraram no pardes: Um olhou e morreu; um olhou e foi

golpeado; um olhou e cut the shoots; um entrou em paz e saiu em paz. Ben Azzai

olhou e foi golpeado. Dele, a Escritura diz: Encontraste mel? Coma o que é

suficiente para ti...’ (Pv 25:16). Ben Zoma olhou e morreu. Dele, a Escritura diz:

‘Precioso aos olhos do Senhor é a morte dos seus santos’ (Sl 116:15). Aher cut the

shoots. Quem é Aher? Elisha ben Avuya, que costumava matar os mestres da Tora

[material adicional sobre Elisha] Dele, a Escritura diz: ‘Não deixe sua boca conduzir

a sua carne ao pecado ...,’ etc. (Ec 5:5) – que ele arruinou a obra de suas próprias

mãos. [material adicional sobre Elisha] R. Akiva subiu em paz e saiu em paz. Dele, a

Escritura diz: ‘Atrai-me após ti! Apressemo-nos... (Ct1:4a)’etc.

Bavli (Babylonian Talmud)29

Nossos rabis ensinaram: Quatro homens entraram no pardes e estes eram

eles: ben Azzai, ben Zoma, Aher, e R. Akiva. R. Akiva disse a eles: Quando te

25 Tradução literal do inglês. 26 De acordo com Ms. Viena, ausente em outros manuscritos. 27 De acordo com Ms. Viena, outros documentos contém a expressão “entrou e saiu”. 28 Tradução literal do inglês. 29 Tradução literal do inglês.

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aproximares das pedras de puro m|rmore não diz ‘Água! Água!’ – de acordo com o

que est| escrito: ‘O que fala mentiras não permanece diante dos meus olhos.’ ben

Azzai olhou e morreu. Dele, a Escritura diz: ‘Precioso aos olhos do Senhor é a morte

dos seus santos’ (Sl 116:15). Ben Zoma olhou e foi golpeado, e dele a Escritura diz:

‘Encontraste mel? Coma o que é suficiente para ti..., (Pv 25:16), para evitar que te

enchas disso e vomite’. Aher cut the shoots R. Akiva saiu em paz [Material adicional

sobre B. Zoma] Aher cut the shoots. Dele, a Escritura diz: ‘Não deixe sua boca

conduzir sua carne ao pecado...’ (Ec 5:5) [Material adicional sobre Elisha] R. Akiva

subiu em paz e desceu em paz. Dele, a Escritura diz: ‘Atrai-me após ti! Apressemo-

nos! (Ct1:4a)’.

Uma redação detalhada da história Os quarto que entraram no Pardes, sua

procedência, questões textuais e interpretações estão contidas em artigos e obras

de vários autores30. Alguns pontos, entretanto merecem destaque. A questão da

citação da passagem adicional na versão Babilonian Talmud, por exemplo, está,

segundo Shäfer31, fora de lugar tanto no que se refere à forma como ao conteúdo,

conduzindo à suposição de tratar-se de uma adição. A tradução deve ter procedido

principalmente das versões Tosefta e Jerusalem Talmud.

Uma terminologia importante é a expressão comum em todas as versões de

que os quatro “entraram no Pardes”, inclusive R. Akiba. A versão do Ms. Viena usa a

expressão “subiu e desceu” para o personagem. É uma terminologia importante

uma vez que ela permite assegurar tratar ou não de uma experiência extática ao

Paraíso. Trata-se de um problema que, segundo Shäfer, não pode ser resolvido com

base no que, presumivelmente, seja a redação final do texto, ou do valor dos seus

respectivos manuscritos32. Shäfer declara uma clara preferência pela expressão

“entrou e saiu” que se enquadra com a introdução, ao invés de “subiu e desceu”

defendido por Morray-Jones que utiliza o Ms. Viena.

30 MORRAY-JONES, Paradise Revisited (Part 1), p. 177-217; MORRAY-JONES, Paradise Revisited (Part 2), p. 256-92; ROWLAND; MORRAY-JONES, The Mystery God. HALPERIN, The Faces of the Chariot; SCHÄFER, New Testament and Hekhalot Literature, p. 19-35; Idem, The Origins of Jewish Mysticism. Tübingen: Mohr Siebeck, 2009. 31SCHÄFER, New Testament and Hekhalot Literature, p. 25. 32SCHÄFER, New Testament and Hekhalot Literature, p. 25.

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No que se refere ao termo Pardes, aqueles que defendem uma interpretação

mística o identificam com o Paraíso, embora seja improvável. Segundo Schäfer, se

for considerado que os quatro não subiram, mas entraram no Pardes, e que Akiba

não desceu, mas saiu ileso, a compreensão técnica de Pardes no sentido de Paraíso

perde sua sustentação. Para o autor, é mais provável que Pardes signifique

simplesmente “jardim”, ou “jardim real”, onde o “entrar” e “sair” parece condizer

melhor do que “subir” e “descer”.33

Não é revelado nas diferentes versões o propósito do Pardes, nem o que os

rabis viram neste jardim, embora haja interpretações de que se trata de visões de

Merkavah, o que parece tratar-se de uma associação sem provas. É possível tratar-

se de uma alegoria cuja interpretação nada tenha a ver com o misticismo de

Merkavah, ainda que no sentido extático, ou disciplina exegética. Para Schäfer, a

versão do Babylonian Talmud, através de sua inserção, mostra claramente o desejo

de ser compreendida como uma descrição de uma ascensão extática ao pardes

(neste caso “Paraíso” no céu)34.

2 Coríntios 12.1-1035

1 É necessário gloriar, não é proveitoso, eu passarei para as visões e revelações do Senhor. 2 Eu conheço um homem em Cristo (que) catorze anos atrás se no corpo eu não sei, ou fora do corpo eu não sei, Deus sabe, tal homem foi arrebatado ao terceiro céu. 3 E eu conheço tal homem, se no corpo ou à parte (separado) do corpo, eu não sei, Deus sabe, 4 porque ele foi arrebatado para dentro do paraíso e ouviu palavras inefáveis que não são permitidas ao homem falar. 5 Em nome de tal pessoa eu gloriarei, mas em meu nome eu não gloriarei exceto nas fraquezas, 6 Pois se eu quiser gloriar, eu não serei tolo (néscio, bobo, ridículo), eu direi a verdade; mas eu me abstenho, a fim de que ninguém possa pensar sobre mim além do que ele vê de mim ou ouve de mim 7 por causa da qualidade das revelações. Portanto a fim de que eu não me exaltasse, um espinho foi-me dado na carne, um anjo de satanás, a fim de me esbofetear a fim de que eu não me exalte. 8 Por causa disso eu pedi ao Senhor três vezes que ele o removesse de mim.9E Ele me disse, “minha graça é suficiente para ti, pois o poder é completado (se completa) na fraqueza. Portanto eu me gloriarei mais prazerosamente nas minhas fraquezas, de forma que o poder de Cristo possa habitar (viver) em mim. 10 portanto eu estou

33 SCHÄFER, New Testament and Hekhalot Literature, p. 26. 34 SCHÄFER, New Testament and Hekhalot Literature, p. 28. 35 Novum Testamentum Graece 27. Revidierte Auflage, 2001 (Tradução da autora).

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contente em fraquezas, em maltrato, em perigos, em perseguições e angústias em nome de Cristo; pois sempre que eu sou fraco, então é que eu sou forte.

No relato de 2 Cor 12,1-10, Paulo está engajado na defesa de sua autoridade

apostólica tema que se inicia no capítulo 10, provavelmente devido ao fato de que

oponentes emergem como uma proeminente força na comunidade e servem como

o objeto dos mais ferrenhos ataques por parte do apóstolo. Paulo inicia o texto

descrevendo uma viagem feita por uma pessoa em Cristo ao reino celestial. A

identidade do visionário não é, todavia, clara. Paulo muda da 1ª pessoa (v.1) para a

3ª (vv 2-4) e depois volta novamente para a 1ª(vv.5-7). Trata-se de um texto que

discute uma ascensão ao céu. O relato é extremamente breve, bem diferente dos

apocalipses da época. Refere-se a uma experiência da qual ele não demonstra

nenhum interesse de falar ou escrever. Nenhum detalhe é dado sobre o método da

ascensão nem do objetivo ou resultado da mesma.

Paulo não identifica quem são esses oponentes nem os seus ensinos, o que

tem gerado aquecidas disputas entre os estudiosos do Novo Testamento.

Classificar esses oponentes se torna difícil pela escassez de evidências. Essa

classificação varia entre judaizantes (Gl 6), pneumáticos, gnósticos cristãos, judeu-

cristãos helenísticos e outros. Essa questão dos oponentes é importante para a

compreensão do texto. Paulo inicia o capítulo falando da necessidade de “gloriar-

se” Kauca/sqai, o que está em conexão com seu confronto com os adversários no

capítulo 11. O fato de ele reivindicar uma experiência extática como credencial

diante dos adversários pode, de alguma forma, apontar para um grupo de judeu-

cristãos (2 Cor 11,22) que reivindica experiências extáticas fazendo um jogo contra

a autoridade do apóstolo.

O motivo do gloriar-se repousa nas “visões” e “revelações” do Senhor. São

visões ext|ticas e experiências audíveis que são descritas como “extraordin|rias”,

que “excedem” (12,7), e que ele reivindica como evidência de sua autoridade sobre

seus oponentes em Corinto. Em 2 Cor 11,18 Paulo acusa os seus oponentes de

gloriarem-se “de acordo com a carne”. O apóstolo faz uma assombrosa declaração

“e posto que muitos se gloriam segundo a carne, também eu me gloriarei” , ainda

que isso seja “sem sentido”(1 Cor 12,1). Seus convertidos o deixaram sem opção.

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Em 2 Cor 11,30, Paulo anuncia: “Se tenho de gloriar-me, gloriar-me-ei no

que diz respeito { minha fraqueza.”. Savage36 chama a atenção para a natureza

desta “fraqueza” que tem sido estabelecida pelo apóstolo em 11,23-29, na lista de

suas aflições pessoais. Gloriando-se por tais humilhações o apóstolo parecia estar

revelando sua desgraça. Gloriar-se de qualquer outra forma seria desonesto.

Gloriando nas suas fraquezas ele estava gloriando não nele mesmo, mas em Cristo

que é sua suficiência na fraqueza (12,9). Dessa forma, revela o autor, Paulo

mantém o padrão do Antigo Testamento de vangloria-se somente no Senhor (Jr

9.23-24). Dessa forma, o vangloriar-se de Paulo é tanto profundamente irônico

como honesto.

A incerteza de Paulo quanto ao status do seu corpo durante a experiência

extática conduz a diferentes interpretações. Há uma hipótese que está relacionada

ao fato de que ele não estava certo em como a comunidade interpretaria sua carta,

uma vez que seus ensinos neste assunto não estavam inteiramente consolidados.

Segundo Segal, uma confusão de Paulo sobre a natureza de sua viagem extática ao

céu provê uma rara percepção dentro do pensamento do primeiro século, uma vez

que isso demonstraria tanto um desacordo na comunidade ou mais provavelmente

uma inabilidade mística para distinguir entre viagem corporal e espiritual.37

Shantz38 considera que mesmo se essas duas hipóteses sugerissem explicações

razoáveis para a decisão de Paulo incluir esses comentários em sua carta, elas não

atentam para o fato de que Paulo é hábil para reportar de que ele realmente não

sabe o status do seu corpo, neste caso, o fato merece consideração. Para a autora,

existe alguma coisa no caráter da experiência em si que deve preceder a repetida

incerteza.

Paulo diz ter sido arrebatado ao terceiro céu. A cosmologia do texto tem

sido objeto de muita investigação. Muitos possíveis paralelos têm sido propostos

tanto em textos de tradição judaica como cristã. A passagem menciona que Paulo

foi arrebatado ao terceiro céu/ paraíso. Pelo paralelismo se entende tratarem-se

36 SAVAGE, Timothy B. Power through Weakness: Paul’s Understanding of the Christian Ministry in 2 Corinthians.Cambridge: University Press, 1996, p. 63. 37 SEGAL, Paul the Convert, p. 39. 38SHANTZ, Collen. Paul in Ecstasy: The Neurobiology of the Apostle’s Life and Thought. New York: Cambridge University Press, 2009, p. 91.

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do mesmo lugar. Paralelos a este tipo de concepção podem ser encontrados em 2

Enoque, literatura provavelmente do mesmo período. Em 2 Enoque tem-se: “E os

dois homens me colocaram ali e me carregaram para cima, ao terceiro céu e me

colocaram no meio do Paraíso, e um lugar desconhecido em bondade de

aparência”. Mais adiante este lugar é definido como “preparado para os justos”,

para o mundo por vir. Outro texto que comprova tal paralelismo é o Apocalipse de

Moisés ou a composição grega A Vida de Adão e Eva, “Em seguida Deus entrega

Adão para Miguel, e ordena que ele seja trazido ao Paraíso no Terceiro Céu (37.4-

5)”.39

O clímax da ascensão é revelado na frase a;rrhta r`h,mata “palavras

inef|veis” seguidas por a] ouvk evxo.n avnqrw,pw| lalh/saiÅ “que não é permitido para um

homem falar”. O que Paulo ouviu vem somente no fim da ascensão, quando se é

esperado que ele encontre a presença de Deus, o que faz sentido no background

judaico. No entanto, em nenhum lugar é dito que Paulo viu alguma coisa. O

conteúdo do que ele ouviu é, segundo ele, incomunicável, mas explicitamente

qualificado como algo que não é permitido ao homem falar. Na busca de

compreensão da expressão a;rrhta r`h,mata muitos comentaristas tem se utilizado

das religiões de mistério. A palavra a;rrhtoj é usada nas religiões gregas no sentido

de “proibido”, o que pode fazer algum significado para a comunidade de Corinto.

No entanto, fato de Paulo ter se utilizado de uma terminologia cúltica da religião de

mistério para se referir aos coríntios não parece ser exato. Nos textos das religiões

de mistério a palavra a;rrhtoj é usada sozinha diferente do uso que Paulo faz a;rrhta

r`h,mata. O texto sugere que a experiência de Paulo foi auditiva, independente de

qual seja o conteúdo de a;rrhta r̀h,mata.

Em 2 Cor 12,7b, Paulo diz: “... Portanto a fim de que eu não me exaltasse, um

espinho foi-me dado na carne, um anjo de satanás, a fim de me esbofetear a fim de

que eu não me exalte”. Muitas são as especulações no que se refere ao “espinho na

carne”. Segundo Thrall40, elas podem ser classificadas sob três categorias gerais: i)

um estado psicológico interno, no caso, tentação ou derrota; ii) oposição externa;

39 DEJONGE, Marinus; TROMP, Johanes. The Life of Adam and Eve and Related Literature. Sheffield: Sheffield Academic Press, 1997, p. 70.

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iii) doença física ou desabilidade. Algumas dessas posições têm atraído mais

defensores que outras, no entanto, longe está de uma delas ser universalmente

aceita. O fato de kolafi,zh| (kolafi,zw/esbofetear de forma aguda) estar no tempo

presente pode sugerir um ataque satânico contínuo e repetido, e não algo pontual

referente a uma particular experiência. O contexto parece indicar um problema

repetido com uma possível enfermidade.

Relação entre 2 Cor 12 e o relato rabínico dos Quatro que entraram no

Pardes

Para Morray-Jones o templo celestial é o tema central da literatura

apocalíptica judaica e das tradições místicas da merkavah preservadas nos escritos

de hekhalot dos períodos rabínico e imediatamente pós-rabínico. Nessas fontes, a

ascensão ao céu é imaginada como uma viagem através das cortes do templo

cósmico ao santuário mais interior, onde Deus está presente41. Dessa forma,

Morray-Jones propõe que em 2 Cor 12 Paulo está descrevendo uma ascensão ao

templo celestial e uma visão da merkabah do entronizado e “glorificado” Cristo. A

dupla incerteza de Paulo quanto ao status do seu corpo durante a ascensão é

proposta pelo autor como formas complementares e não opostas. Para Morray-

Jones42 “ascensão” ao céu dirigida externamente via as cortes do templo cósmico, e

a “descend” dirigida internamente ao templo do corpo representam duas formas

essencialmente complementares de conceituar o mesmo processo ao invés de

formas opostas. Paulo poderia estar dizendo que ele não sabe se sua ascensão ao

paraíso foi realizada internamente (“no corpo”) ou externamente (“fora do corpo”).

Dessa forma parece estar dizendo que isso realmente não faz diferença, uma vez

que o santo dos santos (”paraíso”) no centro do templo corporal é misticamente

idêntico ao lugar do trono celestial da glória de Cristo. A imagem de Deus, que

Paulo identifica com Cristo, é encontrada nos dois lugares.

40 THRALL, Margaret E. A Critical and Exegetical Commentary on the Second Epistle to the Corinthians. Volume II. London/New York: T&T Clark International, 2004, p. 809. 41MORRAY-JONES, Christopher R. A. The Temple Within, p. 145. 42ROWLAND; MORRAY-JONES, The Mystery God, p. 390.

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Paulo afirma que foi removido até o Terceiro Céu/Paraíso. Por causa do

paralelismo, Schäfer considera um único e mesmo lugar, posição também

defendida por Scholem. Poucos paralelos confirmam isto, 2 Enoque e A Vida de

Adão e Eva. Segundo Schäfer Paulo pode ter se inspirado nisso. Para Morray-Jones,

as análises das fontes judaicas têm mostrado que pardes é um termo para o santo

dos santos celestial, e é identificado com o mais alto céu. A cosmologia dos sete

céus poderia conduzir a uma ascensão em dois estágios, primeiro ao terceiro céu, e

subseqüentemente ao paraíso no sétimo, ponto de vista defendido por Rowland43,

e Tabor44. Para Morray-Jones, entretanto, não há relato na literatura mística e

apocalíptica que possa comprovar isto.

Schäfer em seu artigo “New Testament and Hekhalot Literature: The

Journey into Heaven in Paul and Merkavah Mysticism.” não tece coment|rios sobre

o polemico tema que é “o espinho na carne”, ou o anjo de satanás reportado por

Paulo em 2 Cor 12,7b. Por outro lado, Morray-Jones dedicou espaço considerável

ao assunto, uma vez que isso se constitui um dos pilares de sua defesa de que a

literatura de Hekhalot está relacionada com a interpretação de 2 Cor 12. Utilizando

o argumento de Price45, ele refere-se ao “espinho na carne”, “anjo de satan|s”,

como um oponente angélico semelhante aos guardiões das tradições de Hekhalot,

cuja função é atacar e punir aqueles considerados não merecedores de ascender à

merkavah. Para o autor, essa teoria é consistente com a ênfase de Paulo em sua

“fraqueza”, e dependência do poder de Cristo46.

Para Morray-Jones, h| pouca dúvida de que esse “anjo de satan|s” seja

encontrado nessas tradições dos guardiões demoníacos do templo celestial, e

também chama a atenção para a história do Pardes, onde um dos quatro foi

golpeado. Para o autor, este é precisamente o significado do verbo kolafi,zw

(esbofetear), empregado por Paulo em 2 Cor 12,7b. Uma vez que essa

correspondência dificilmente seria coincidente, na posição do autor, o relato de

Paulo e a história de Pardes, a este ponto, se explicam. Para o autor, essa explicação

43 ROWLAND, Christopher. The Open Heaven. A Study of Apocalyptic in Judaism and Early Christianity. Eugene: Wipf and Stock Publishers, 2002, p. 380-82. 44 TABOR, Things Unutterable, p. 115; 120. 45 PRICE, R. M. Punished in Paradise. An Exegetical Theory on 2 Cor. 12.1-10. In: Journal for Study of the New Testament 7 (1980): 33-40. 46 ROWLAND; MORRAY-JONES, The Mystery God, p. 397.

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não é, de forma alguma, inconsistente com a teoria de uma desordem neurológica

provinda pela experiência extática de Paulo. Para Morray-Jones, na história do

Pardes ben Zoma foi golpeado, e ficou fora de si. O entendimento desta expressão,

que não é muito diferente daquela dos primeiros comentaristas cristãos de 2 Cor

12, e pode ser dita que sustenta a teoria de que Paulo foi golpeado por uma

enfermidade, a qual ele atribuiu a ataques do ‘anjo de Satan|s’47.

Segundo Morray Jones,48 o tema central desta passagem de 2 Coríntios é o

contraste de Paulo entre a sua própria fraqueza e o poder de Cristo. Este contraste

resolve a situação difícil na qual ele se encontra: se ele não se “gabar” (orgulhar,

gloriar) ele não tem resposta para reivindicar diante de seus oponentes, mas assim

fazendo ele comete o grande erro pelo qual ele os tem castigado (2 Co 10,12).

Advertências contra auto-exaltação no que diz respeito à experiência visionária era

muito comum na literatura de Hekhalot .

Reconhecendo que Paulo morreu bem antes do tempo de Akiva, impossibilitando,

assim, que a história do Pardes se constituísse fonte para o apóstolo ou o

influenciasse, Morray-Jones explica essa correspondência de detalhes concluindo

que tanto Paulo como o autor da história do Pardes usaram a linguagem de uma

tradição comum, a qual já era bem desenvolvida na metade do primeiro século

a.C.49

Schäfer começa seu artigo “New Testament and Hekhalot Literature: The

Journey into Heaven in Paul and Merkavah Mysticism”, com a seguinte declaração:

Novo Testamento e literatura de Hekhalot se constituem uma estranha

combinação. Recapitulando pontos da interpretação de Scholem, Schäfer pontua

certos itens importantes para a sua conclusão. Segundo o autor, Scholem depende

primariamente do uso comum do termo Pardes por Paulo e pela história rabínica,

ainda que para Scholem, a versão rabínica empregue o termo em um sentido

conjunto de “orchard” (jardim) e “Paraíso”, est| claro que o significado técnico de

“lugar de habitação dos justos” predomina50.

47ROWLAND; MORRAY-JONES, The Mystery GodI,.p. 402. 48 MORRAY-JONES, Paradise Revisited (Part 2), p. 271. 49 ROWLAND; MORRAY-JONES, The Mystery GodI, p. 408. 50SCHÄFER, New Testament and Hekhalot Literature, p. 31.

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Utilizando referências do livro 2 Enoque e Vida de Adão e Eva (Apocalipse de

Moisés) Scholem afirma que a idéia familiar de que o estático vê em sua vida o que

outras pessoas vêem somente depois da morte é recorrente tanto em Paulo como

na viagem dos rabis ao céu. Ele admite a significante diferença entre Paulo e os

rabis citados; Paulo foi “arrebatado” ao paraíso enquanto os rabis “entraram” nele,

mas acredita que esta diferença é para ser remontada ao uso lingüístico metafórico

simultâneo da história rabínica. Dado que viagens celestiais extáticas aparecem

por toda a literatura apocalíptica desde os antigos apocalipses até os escritos da

literatura de Hekhalot, Scholem considera o testemunho de Paulo como um elo

entre esses textos judaicos mais antigos e a Gnose dos místicos da merkavah

tanaítica. Schäfer aponta para a fraqueza dessa “comparação”, condenando essa

escolha seletiva e arbitrária de um termo único, do qual conclusões abrangentes

são tiradas. Para o autor, está faltando completamente uma análise sólida e exata51.

Davila52, em seu ensaio que explora o relacionamento entre a literatura de

Hekhalot e os apocalipses judaicos, mostra que elementos da literatura de Hekhalot

podem ser mostrados tão cedo quanto o quinto ao sétimo século d.C., embora os

manuscritos sobreviventes fossem copiados e editados extensivamente na Idade

Média. E, uma vez que a literatura de Hekhalot e os apocalipses judaicos

compartilham um interesse em revelações do reino celestial, parece valer a pena

compará-los para que se possa aprender se e a que grau esses textos antigos

judaicos anteciparam padrões de idéias nos recentes textos de Hekhalot. Para

Morray-Jones a cristologia paulina foi profundamente influenciada por tais

tradições o que é agora largamente reconhecido.

Para Schäfer, entretanto, as comparações no plano verbal feitas por

Scholem revelam uma interpretação inadequada. Scholem menciona que Paulo fala

de ter sido “arrebatado”, enquanto os rabis falam de “entrar” no pardes, mas essas

diferenças são minimizadas por Scholem. Segundo Schäfer, não existe nem na

literatura clássica rabínica nem na literatura de Hekhalot um termo comparado a

a`rpa,zein (arrebatar) descrito por Paulo. Também se observa que nenhuma atenção

é dada à peculiaridade do uso lingüístico de Paulo. Outro ponto que Schäfer critica

51 SCHÄFER, New Testament and Hekhalot Literature, p. 32. 52 DAVILA, The Ancient Jewish Apocalypses and the Hekhalot Literature, p.105-126.

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na obra de Scholem é de não haver comentário sobre a experiência de Paulo focada

na ‘audição’, Paulo ouviu “palavras que não poderiam ser ditas”, enquanto os a

viagem celestial dos rabis é essencialmente focada no “ver”, “o rei em sua

majestade sobre o trono”. Os místicos da merkavah, certamente, ouviam também

alguma coisa em suas ascensões ao céu, sobretudo, cânticos, e hinos, mas não se

conhece nada do que Paulo ouviu53.

Considerações finais

O relato de primeira mão da ascensão do apóstolo Paulo recontada em 2 Cor

12, entre outros textos de suas epístolas, se destaca como uma prova

remanescente da participação e influência no recente misticismo cristão. O

relacionamento próximo, e o constante anseio pela comunhão por Cristo e a

transformação decorrente desta comunhão é expresso em sua fórmula “em Cristo”.

Seus escritos, sua linguagem da glória de Deus na face de Cristo (2 Cor 4,6) e sua

reivindicação de ter visto uma figura celestial (1 Cor 9,1; 15,8) tem sido comparado

a elementos da tradição de merkavah, e até certo ponto, nos habilitam a rotulá-lo

como um místico, no conceito moderno do termo.

No entanto, o trabalho meticuloso de Morray-Jones tentando estruturar os

ensinos de Scholem argumentando que a tradição rabínica dos Quatro que

entraram no Pardes, se torna o background para 2 Cor 12, não parece convencer.

Tanto no artigo, quanto na recente obra do autor, um vasto espaço é dedicado à

possível origem do texto rabínico, diferentes versões, interpretações exegéticas. No

entanto, no texto de Paulo as especulações deixam a desejar. Ainda que se esteja

lidando com um texto comum em seu contexto literário, metodologicamente, está

se lidando com diferentes escritos, colocar um em relação ao outro parece não

conduzir a correlações apropriadas.

Dessa forma, pelo o que foi analisado, a história rabínica dos Quatro que

entraram no Pardes, embora tendo um contexto literário comum com o texto

paulino, não provê o background para a experiência extática de Paulo relatada em

53 SCHÄFER, New Testament and Hekhalot Literature, p. 33.

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2 Cor 12. O Pardes rabínico não pode ser comparado sem uma análise mais

profunda com o Paraíso no Terceiro Céu relatado por Paulo.

Como um texto místico-apocalíptico, 2 Coríntios se diferencia da literatura

de Hekhalot. Embora o texto paulino se reporte a uma viagem a outro mundo, e

lide com questões paralelas às dos textos de Hekhalot, ele apresenta seu conteúdo

como relato e não como instruções. Portanto, comparações feitas entre os textos

parecem não serem apropriadas. Como Schäfer reconhece, o escrutínio da

literatura de Hekhalot está apenas começando. Reconhece-se o pioneirismo de

Scholem neste campo, e é seu mérito ter direcionado a atenção para este gênero da

literatura. Contudo, não se pode deixar de salientar que como um complexo isto

tem que ser submetido a uma análise interior sólida54.

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54 SCHÄFER, New Testament and Hekhalot Literature, p. 35.

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