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2 Caracterização dos Solos Residuais: Gênese, Composição e Comportamento observado Entende-se por solo residual ao material derivado dos processos de alteração e decomposição in situ de maciços rochosos, que não tem sido transportado do seu local original. O mesmo acontece na natureza em perfis de alteração, com uma gradação continua desde a rocha sã não alterada, passando por estágios de rocha branda e solo rijo conservando a estrutura da rocha de origem, até os solos de decomposição contendo depósitos secundários e sem mais semelhança direta com as características da rocha parental (Blight, 1997). Fruto de uma gênese diferenciada, os solos residuais são compostos não apenas de grãos, mais de agregados e cristais de minerais alterados, pontes estabelecidas por cimentos depositados, grumos de argilominerais e partículas de resistência variada, com uma tendência à quebra e desarranjo quando submetidos a carregamentos. Por isto, um conhecimento aprofundado da gênese e composição de solo residual se faz necessário para uma cabal compreensão do seu comportamento mecânico. No que se segue, os aspectos relacionados aos processos de gênese, mineralogia e estrutura são abordados com o objetivo de esclarecer a história formativa destes solos, o que facilitará a compreensão do comportamento observado, que será discutido posteriormente. 2.1. Gênese dos solos residuais Os processos de alteração e decomposição que os maciços rochosos sofrem quando expostos às condições atmosféricas - reunidos sob o nome de intemperismo - são responsáveis diretos pela gênese dos solos residuais que destes se derivam. O estudo, pois, deste fenômeno é inerente a um adequado entendimento da constituição e comportamento destes solos. 2.1.1. Os processos intempéricos Por intemperismo entende-se o conjunto dos processos de alteração ambiental atuantes no meio geológico, isto é, os diferentes fenômenos presentes na superfície terrestre responsáveis pela transformação das rochas em solos. Esta

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Page 1: 2 Caracterização dos Solos Residuais: Gênese, Composição e

2 Caracterização dos Solos Residuais: Gênese, Composição e Comportamento observado

Entende-se por solo residual ao material derivado dos processos de alteração

e decomposição in situ de maciços rochosos, que não tem sido transportado do seu

local original. O mesmo acontece na natureza em perfis de alteração, com uma

gradação continua desde a rocha sã não alterada, passando por estágios de rocha

branda e solo rijo conservando a estrutura da rocha de origem, até os solos de

decomposição contendo depósitos secundários e sem mais semelhança direta com

as características da rocha parental (Blight, 1997).

Fruto de uma gênese diferenciada, os solos residuais são compostos não

apenas de grãos, mais de agregados e cristais de minerais alterados, pontes

estabelecidas por cimentos depositados, grumos de argilominerais e partículas de

resistência variada, com uma tendência à quebra e desarranjo quando submetidos

a carregamentos. Por isto, um conhecimento aprofundado da gênese e composição

de solo residual se faz necessário para uma cabal compreensão do seu

comportamento mecânico. No que se segue, os aspectos relacionados aos

processos de gênese, mineralogia e estrutura são abordados com o objetivo de

esclarecer a história formativa destes solos, o que facilitará a compreensão do

comportamento observado, que será discutido posteriormente.

2.1. Gênese dos solos residuais

Os processos de alteração e decomposição que os maciços rochosos sofrem

quando expostos às condições atmosféricas - reunidos sob o nome de

intemperismo - são responsáveis diretos pela gênese dos solos residuais que destes

se derivam. O estudo, pois, deste fenômeno é inerente a um adequado

entendimento da constituição e comportamento destes solos.

2.1.1. Os processos intempéricos

Por intemperismo entende-se o conjunto dos processos de alteração

ambiental atuantes no meio geológico, isto é, os diferentes fenômenos presentes

na superfície terrestre responsáveis pela transformação das rochas em solos. Esta

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alteração devém da exposição das rochas, formadas sob determinadas condições

termodinâmicas no interior da crosta terrestre, às condições atmosféricas bem

diferentes daquelas, o que provoca um reajuste termodinâmico na massa rochosa

na procura por uma nova configuração de equilíbrio. Neste processo, energia

interna é liberada na medida que os minerais são decompostos, produzindo-se

como resultado substancias de menor energia interna, e por isso mais estáveis

(Ollier, 1984; Polivanov, 1998).

Natureza do intemperismo Os processos intempéricos podem ser agrupados de acordo com a sua

natureza em três classes básicas (Mitchell, 1976):

• Os físicos, que conduzem à desagregação da rocha por diversos mecanismos

como ser o alívio de tensões, fadiga e ruptura mecânica, acarretando a

fragmentação dos seus componentes minerais sem envolver alteração

química. Desta forma a rocha vai-se transformando paulatinamente em uma

massa incoerente composta por grãos poliédricos com arestas vivas.

• Os químicos, tendo nas soluções aquosas que percolam o maciço o principal

agente, alteram os minerais da rocha original nas superfícies expostas e no

interior das fissuras existentes - via reações químicas, especialmente

hidrólise - para formar como subprodutos os argilominerais mais estáveis.

• Os biológicos, levados a cabo por elementos vivos, podendo ter

características de intemperismo físico (ação radicular e animal) ou químico

(ação bacteriana e radicular).

Condicionantes do intemperismo A presença e grau de atuação destes três tipos de processos intempéricos

depende de quatro fatores modificadores, a saber:

a) Características climáticas locais.

Temperatura, umidade ambiente e nível de precipitações influem de forma

conjunta para o desenvolvimento das características particulares de intemperismo

em cada região. De uma forma geral, o intemperismo físico será proeminente em

climas secos e o intemperismo químico em ambientes úmidos e quentes.

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A figura 2.1 apresenta a distribuição destes três fatores climáticos no

mundo. A combinação deles em cada região controla a natureza, potencia e

velocidade do intemperismo, com os seguintes efeitos (Strakhov, 1967):

Figura 2.1: Influência do clima na formação de perfis residuais: a) Climas úmidos e desérticos no mundo; b) Regiões quentes e temperadas no mundo; c) Características dos perfis residuais para cada região climática (Strakhov, 1967).

(b)

(c)

(a)

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- Deserto polar e tundra. Umidade e temperatura baixas retardam o

intemperismo e a decomposição da matéria orgânica; baixas precipitações e

permafrost inibem a lixiviação dos constituintes móveis.

- Taiga. Abundantes precipitações promovem lixiviação intensa; baixas

temperaturas resultam num intemperismo lento e baixas taxas de

decomposição da matéria orgânica.

- Deserto e semi-deserto. Altas temperaturas favorecem o intemperismo

químico; baixas umidades inibem vegetação, crescimento de matéria

orgânica e lixiviação dos constituintes móveis.

- Savana e floresta tropical. Elevadas temperaturas e umidades promovem

um rápido intemperismo e lixiviação dos constituintes móveis.

Estes fatores climáticos também influem nos produtos de alteração. No

gráfico da figura 2.2 se mostra um esquema orientador desta influência (variações

locais acontecem por causa da topografia) proposto por Uehara (1982). Perto do

equador, altas temperaturas e precipitações ao longo do ano favorecem a formação

de caulinita e óxidos de baixa atividade. Nas regiões que se aproximam dos

trópicos as precipitações diminuem e predominam as argilas ativas da classe das

esmectitas. As zonas temperadas e frias, finalmente, favorecem a formação de

outras classes, como vermiculitas, illitas e cloritas.

Zona fria illita, clorita

Zona temperada vermiculita, outros AGM

Zona tropical com estação seca esmectita

Zona equatorial caulinita

e tropical úmida gibsita

Zona tropical com estação seca esmectita

Zona temperada vermiculita, outros AGM

Zona fria illita, clorita

Figura 2.2: Influência do clima global na formação de argilominerais (Uehara, 1982).

b) Condições de relevo.

As topografias local e regional influem de maneira marcante no

desenvolvimento do perfil residual, pelo controle que exercem sobre:

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- A taxa de infiltração e de run-off das águas precipitadas, em função das

características da superfície topográfica e do tipo de vegetação ali existente.

Zonas de encosta favorecem o run-off superficial das águas enquanto que

relevos planos e vales favorecem a infiltração.

- O regime hidráulico do maciço, isto é, a presença e nível do lençol freático,

as características da zona não saturada (zona de areação), a direção do fluxo

subterrâneo, as condições de drenagem interna e a taxa de lixiviação.

Van der Merwe (1965), baseado em análises de solos residuais de encostas e

vales, aponta que em zonas com elevado run-off e boa drenagem interna

desenvolvem-se argilominerais do tipo caulinita e vermiculita. Locais planos com

boa drenagem mostram uma seqüência de alteração de argilominerais formada por

clorita, vermiculita, montmorillonita e caulinita. Já em locais planos com

drenagem ruim a seqüência não se completa predominando os argilominerais do

tipo montmorillonítico.

Sob boas condições de drenagem, o relevo exerce controle também sobre a

taxa de lixiviação. Brink & Kantey (1961) verificaram para perfis residuais de

granito um crescimento quase linear do índice de vazios do solo com o nível de

precipitação anual, o que mostra a correspondência direta entre precipitação,

intensidade do intemperismo químico e a taxa de lixiviação.

c) Nível de fraturamento.

As descontinuidades dos maciços rochosos são também elementos que

exercem influência sobre as características e intensidade do intemperismo, já que:

- Constituem os macro-caminhos de acesso para soluções aquosas, agentes do

intemperismo químico.

- Facilitam a ação de elementos vivos, vegetação e animais, agentes de

intemperismo biológico.

- Produzem um aumento da superfície exposta, deixando o maciço mais

susceptível de ser alterado.

d) Características da rocha.

A caracterização da rocha origem marca a condição inicial a partir da qual

acontecem os processos de alteração, e tem incidência direta na evolução e nas

características do resultado final do intemperismo. Os aspectos que influem são:

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- Composição mineralógica. As diferentes fases que compõem as rochas

apresentam comportamentos (resistência mecânica, potencial REDOX, etc.)

não uniformes, pelo que a alteração acontecerá com diferentes velocidades

dentro da massa rochosa. Haverá também diferenciação nos produtos finais

de alteração, dando lugar a solos arenosos, siltosos ou argilosos em função

dos minerais parentais.

- Permeabilidade e porosidade. Estas duas propriedades controlam a

acessibilidade e movimentação dos agentes de intemperismo químico nos

núcleos rochosos, marcando assim o ritmo de alteração dos mesmos.

2.1.2. Intemperismo físico

No intemperismo físico distinguem-se claramente dois fenômenos atuantes

paralelamente, o interno, isto é o processo de relaxação das tensões residuais

existentes no maciço, e o externo, incluindo o conjunto de agentes que operam

desde a superfície para o interior do maciço.

O fenômeno interno

Refere-se à relaxação das tensões residuais existentes no maciço rochoso,

decorrentes da sua história geológica. Menezes Filho (1993) explica este processo

em quatro tópicos seqüenciais detalhados a seguir:

a) Cristalização e deformação

Estes dois processos atuantes nos estágios iniciais da formação dos maciços

rochosos têm efeitos contrários sobre a rede mineralógica resultante (Spray,

1969). Pela cristalização são formados novos minerais e outros presentes são

transformados, dando lugar a uma rede termodinamicamente estável, adaptada às

condições locais. Já durante os processos de deformação os cristais sofrem

alongamentos e fraturas, pelo que a rede cristalina se descompensa

energeticamente dando lugar ao surgimento de tensões residuais.

b) Campo de tensões não uniforme

Em virtude da estrutura não homogênea em termos de rigidezes, resultante

dos processos citados acima, as pressões de confinamento produzem no maciço

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um mapa de tensões complexo, não uniforme, com armazenamento desigual da

energia de deformação nos diferentes minerais constituintes.

c) Mudança de ambiente e relaxamento

O estado tensional do maciço tende ao equilíbrio caso persistam as

condições de pressão e temperatura elevadas próprias das grandes profundidades.

A mudança das condições de pressão e temperatura pelo soerguimento do maciço

até a superfície ou pela remoção das camadas superiores, porém, bloqueia este

reajuste. As novas condições em superfície obrigam a uma redistribuição das

tensões residuais no interior do maciço, mais, havendo incompatibilidade de

deformação nos contatos entre grãos, acontece acumulo de energia nesses pontos

desequilibrados até se atingir a ruptura por fissuração. Desta forma acontece a

progressiva relaxação das tensões e a homogeneização do meio (De Mello, 1979).

d) Alívio de tensões e expansão

Como resultado deste processo surgem as fraturas de alívio, fruto da

remoção das camadas superiores. O descarregamento conduz à conseqüente

aparição de fraturas tipo “casca de cebola” acompanhando o relevo. A liberação

dos contatos mais desequilibrados por fissuração produz um aumento de volume,

o que altera as propriedades físicas (porosidade e peso específico) do meio.

O fenômeno externo

Incluem-se aqui os agentes intempéricos que atuam desde a superfície para

o interior do maciço. Cabe citar:

a) Ciclos térmicos

Em regiões de acentuada amplitude térmica as rochas podem sofrer grandes

variações diárias de temperatura. O aquecimento diurno pela radiação solar

produz um gradiente de temperatura na superfície dos maciços e a conseqüente

dilatação, governada pelos coeficientes de dilatação térmica de cada mineral

constituinte. A expansão assim sofrida não é uniforme, o que gera tensões internas

na massa rochosa. Com o esfriamento noturno o fenômeno se inverte acontecendo

contração, pelo que após o ciclo térmico ficam na superfície do maciço tensões e

deformações residuais.

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A repetição deste ciclo leva ao progressivo fendilhamento e desagregação

dos minerais constituintes por fadiga. Adicionalmente, por diferenças na

condutividade térmica da superfície rochosa respeito à massa interior mais

protegida, se produzem tensões laterais que favorecem a esfoliação superficial.

b) Ciclos de gelo-degelo

Em regiões frias, a água de infiltração que penetra e preenche as cavidades e

fissuras da rocha pode sofrer congelamento, aumentando o seu volume e

funcionando como alavanca para abrir e expandir ditas fissuras e cavidades.

c) Ação radicular

Da mesma forma, as raízes vegetais podem penetrar nas fraturas do maciço

e ao aumentarem o diâmetro e cumprimento tendem a propagá-las. No caso das

árvores, quando submetidos a esforços de tração pela ação do vento, transmitem

ao maciço esforços elevados, capazes de desestabilizar blocos de rocha.

d) Cristalização de sais

Em regiões marinhas principalmente, soluções salinas podem alcançar os

vazios e fissuras do maciço rochoso. Sob evaporação da água, cristais de sais

precipitam formando depósitos salinos de volume maior. As pressões derivadas

desta cristalização podem provocar a quebra e desagregação dos minerais.

2.1.3. Intemperismo químico

Os principais agentes do intemperismo químico o constituem a água de

infiltração e os gases atmosféricos nela dissolvidos (especialmente 02 e CO2).

Estes percolam a rede de fissuras do maciço e reagem com os minerais (primários)

expostos produzindo a transformação destes em novos minerais (secundários), ou

dissolvem-nos para uma migração por lixiviação ou para a neoformação de

minerais por recristalização no próprio local (Polivanov, 1998).

Há dois fatores que controlam o tipo de reação química que acontece nas

interfaces entre minerais de rocha e soluções aquosas, a saber:

- pH (medida do nível de acidez).

- potencial REDOX (medida da tendência a ceder o ganhar elétrons).

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Diversos processos químicos podem acontecer ou não de forma simultânea,

ou até de forma seqüencial, sendo detalhados a seguir (CEDEX, 2001):

a) Hidratação

Reação básica pela qual há fixação de moléculas de água nos minerais de

rocha com aumento de volume, o que pela condição confinada do mineral produz

uma pressão localizada que tende a abrir micro-fissuras.

b) Dissolução e hidrólise

Consiste na solubilização dos elementos que compõem os minerais pelo

contato com as soluções aquosas que percolam o maciço rochoso, cuja intensidade

depende da quantidade de solução circulante e da solubilidade dos diferentes

minerais. Cátions metálicos são removidos mais rapidamente do que os íons de

silício, ferro e alumínio. Os silicatos, porém, serão removidos principalmente por

hidrólise (reação do tipo sal + água � ácido + base), pela associação dos íons H+

e OH- da água com os silicatos e os cátions metálicos respectivamente, havendo

assim uma substituição de íons.

Os minerais removidos são aqueles situados nas esquinas dos blocos

rochosos, mais expostos, o que produz o arredondamento dos blocos característico

em solos residuais. Os íons liberados são lixiviados, podendo também participar

na neoformação ou transformação de outros minerais.

c) Reações REDOX

Envolvem ganho ou perda de elétrons (do tipo forma oxidada + noelétrons

� forma reduzida), segundo o potencial REDOX dos minerais presentes. Em

ambientes com disponibilidade de oxigênio (condição aeróbia, especialmente a

zona não saturada), este se combina com compostos ferrosos e manganosos para

oxidá-los, dando a cor avermelhada dos solos tropicais. Já em ambientes redutores

(condição anaeróbia, em zonas inundadas), o hidrogênio atua como agente redutor

gerando minerais que dão aos solos cores cinzentas, azuladas e esverdeadas.

d) Carbonatação

Consiste na atuação do anidrido carbônico dissolvido na água para

transformar óxidos em carbonatos e carbonatos em bicarbonatos, para sua

posterior re-precipitação como tais, podendo liberar também água e gás carbônico.

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2.1.4. Perfil de intemperismo

Os maciços rochosos intemperizados apresentam em geral uma seqüência de

camadas que mostram o avanço da alteração em profundidade. Deere & Patton

(1971) propuseram um perfil sumarizado em quatro camadas representativas (ver

figura 2.3) para o caso de granito e gnaisse. Estas camadas correspondem a:

- Rocha sã. Setores do maciço ainda não atingidos pelo intemperismo. Os

minerais apresentam-se com brilho e sem sinais evidentes de alteração.

- Rocha alterada. Camada onde os minerais exibem sinais evidentes de

alteração (perda de brilho e cor), especialmente ao longo das juntas e falhas.

- Solo residual jovem. Camada de solo constituído por minerais primários e

secundários, que ainda guarda características herdadas da rocha original

(estrutura reliquiar). Pode conter alguns blocos rochosos na sua massa.

- Solo maduro. Constituído por minerais secundários (transformados e

neoformados) e primários que resistiram o intemperismo, de granulação

variável dependendo do tipo de rocha de origem. Trata-se geralmente de um

solo homogêneo e com estrutura porosa.

Figura 2.3: Perfil de intemperismo: a) rocha metamórfica; b) rocha ígnea intrusiva. (adaptado de Deere & Patton, 1971).

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A ISRM (1981) também propôs uma seqüência para descrever perfis de

alteração, discriminando seis estágios (ver figura 2.4) correspondentes a:

- (I) rocha sã

- (II) levemente alterada

- (III) moderadamente alterada

- (IV) altamente alterada

- (V) completamente alterada

- (VI) solo residual

Desta classificação, a zona I-II corresponde a rocha, a zona V-VI corresponde a

solo, e a zona intermédia III-IV corresponde a material de alteração denominado

de saprolito (rocha decomposta).

Figura 2.4: Classificação da ISRM para um perfil de alteração (Little, 1969; ISRM, 1981).

saprolito

rocha

solo

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2.1.5. Grau de intemperismo

Vários tipos de índices têm sido propostos para a quantificação do avanço

do intemperismo, objetivando a identificação e comparação dos estágios

intermediários situados entre a condição inicial (rocha sã) e final (solo maduro).

Falcão (1984) e Souza Almeida (1987) apresentam em detalhe estes índices,

baseados nas propriedades físicas, químicas e mecânicas do material em estudo:

- Índices físicos. Baseados nas propriedades-índice da rocha, que vão

mudando com o avanço do intemperismo. Os mais utilizados são o índice de

alteração, índice ultrassônico, a porosidade, peso específico, dureza e

resistência de ponta.

- Índices químicos. Baseados em relações molares entre os diferentes

elementos químicos presentes que evoluem com os processos de alteração.

Podemos citar os índices molares como ser sílica/alumina, sílica/óxido de

ferro e bases/alumina, fator de lixiviação β e índices de intemperismo

baseados na quantidade de sílica ou alcalinos.

- Índices petrográficos. Formulados a partir do uso de técnicas de

microscopia que permitem determinar a fábrica da rocha, os minerais

primários e secundários presentes e as micro-fissuras. O índice

micropetrografico calcula a proporção entre minerais primários e

secundários, o índice de Lumb compara o peso específico de quartzo e

feldspato, havendo também os índices de alteração do plagioclásio e dos

feldspatos e o índice de microfraturas.

- Índices mecânicos. Baseados nas propriedades mecânicas para diferentes

estados de alteração, definindo índices em função do módulo de

elasticidade, resistência à compressão simples e resistência ao cisalhamento.

Estes índices podem apresentar resultados dispares dependendo do tipo de

rocha analisada, o qual é reflexo da grande variabilidade do processo a ser

quantificado. Em todo caso, a experiência acumulada no emprego destes índices

oferece um critério de escolha dos índices mais adequado para cada tipo de rocha.

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2.2. Composição dos solos residuais

Os solos residuais representam uma grande família, com uma ampla árvore

genealógica caracterizada pela variedade das composições e matizes. Estes, ao

derivar-se de rochas parentais, levam em si mesmos o DNA mineralógico que

herdam delas. Mas também levam sobre si, de forma reliquiar, o caráter estrutural

possuído pelos maciços rochosos dos quais procedem. Com o avanço do

intemperismo estes solos jovens vão se alterando, de forma que sua composição

mineralógica e estrutura sofrem grandes transformações até atingirem a

maturidade. A variedade de rochas de origem e das influencias ambientais produz

um amplo espectro de solos resultantes. A figura 2.5 destaca este processo.

Esta variedade de solos, no entanto, apresenta certas características básicas

comuns que governam o comportamento frente às solicitações, e constituem o

objeto do nosso estudo. Estas características são determinadas pela mineralogia e

estrutura, dois fatores fundamentais para a cabal compreensão destes solos.

Figura 2.5: Processo de formação dos solos residuais.

A mineralogia do solo residual se deriva dos minerais que formam a rocha

de origem (primários), que sob intemperismo sofrem diferentes decomposições e

transformações para configurações mais estáveis, denominadas de minerais

secundários. Granulometria, tipo e porcentagem de argilominerais, presença de

materiais cimentantes e resistência dos grãos são influenciados diretamente pelas

características mineralógicas.

A estrutura se refere à disposição física dos minerais na massa de solo. Isto

inclui o arranjo dos grãos ou fábrica, a agregação e a cimentação destes, a

distribuição e tamanho dos poros, e as feições reliquiares como ser foliações,

fissuras ou bandas de cisalhamento.

ROCHA DE

ORIGEM

CODIGO GENETICO

(mineralogia)

CARATER (estrutura)

SOLO RESIDUAL MADURO

SOLO RESIDUAL JOVEM

PROCESSOS DE ALTERAÇÃO NO TEMPO

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2.2.1. Mineralogia dos solos residuais

A evolução mineralógica dos minerais primários pode ser descrita pelos

processos de decomposição, lixiviação e re-deposição, de intensidade variável

segundo as condições locais de clima e drenagem (Carvalho & Simmons, 1997).

A susceptibilidade dos minerais à ação intempérica está estreitamente ligada

à energia interna associada aos mesmos, o que se deriva do processo de

cristalização sofrido. Bowen (1928) analisou estes processos e propôs series de

cristalização dos minerais, começando desde os que cristalizam primeiro, com

temperaturas mais elevadas até os últimos a cristalizar a temperaturas mais baixas.

Os primeiros apresentam energia interna mais elevada, sendo por isso os mais

instáveis frente ao ataque químico. Esta relação foi comprovada por Arnold

(1984) para o caso da alteração de uma andesita, como mostrado na figura 2.6.

Figura 2.6: Cristalização e alteração para uma andesita (Bowen, 1928 & Arnold, 1984).

Lumb (1962) aponta quatro estágios na decomposição dos solos residuais de

granito, durante as quais acontece alteração dos minerais feldspáticos e micáceos

pela água, o que contrasta com a relativa inalterabilidade dos minerais quartzosos.

A reação de alteração do feldspato potássico é apresentada de forma simplificada

a seguir:

Série de cristalização de Bowen

Série de alteração de

Arnold

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KOHSiOOHSiOOAlOHOHOAlOK 242.2.36.. 2223222322 ++→+

FELDSPATO POTÁSSICO ÁGUA CAULINITA SILICA HID. POTÁSSIO

onde a sílica e o potássio são liberados na forma de colóides que podem ser

removidos por lixiviação, resultando numa perda de massa.

Os estágios de alteração apresentam as seguintes particularidades:

• Estágio 1. Os processos acontecem nas superfícies expostas, alterando

levemente feldspatos e micas mediante reações de hidratação e hidrólise,

acontecendo expansão volumétrica.

• Estágio 2. A periferia dos blocos rochosos continua a ser decomposta,

acontecendo a rápida alteração dos feldspatos e micas, restando inalterados

os minerais de quartzo. Aumenta a porosidade pela lixiviação dos colóides.

A gradação é pobre no inicio (areia e pouca argila), favorecendo a erosão

interna dos argilominerais formados, até a formação de grãos de areia fina e

silte pela alteração dos grãos maiores de feldspato, o que melhora a

gradação e cria um filtro natural contra a erosão interna. Os grãos de quartzo

permanecem intactos e preservam a estrutura e feições da rocha original.

• Estágio 3. A massa rochosa passa a ser uma matriz areio-siltosa composta

de grãos de quartzo, feldspato, mica, além de produtos de alteração. No

meio a matriz ainda existem blocos rochosos sendo alterados.

• Estágio 4. Os últimos blocos já foram decompostos, no entanto a textura

original da rocha e suas descontinuidades ainda podem ser reconhecidas, se

bem que trata-se agora de uma massa altamente incoerente.

Já os processos de lixiviação e re-deposição envolvem a remoção de

minerais de sílica e alcalinos, acontecendo a conseqüente acumulação de óxidos,

hidróxidos e sesquióxidos. Os minerais lixiviados são transportados e re-

depositados mais tarde, dependendo das condições de fluxo interno. A laterização

responde a este processo, onde minerais lixiviados e re-depositados dão lugar à

camadas de solos cimentados de alta resistência mecânica perto da superfície.

2.2.2. Formação da estrutura residual

A estrutura residual dos maciços intemperizados é produto da alteração da

estrutura da rocha original. Inicialmente a rocha sã apresenta uma estrutura de

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fábrica mais fechada, compacta, com baixo índice de vazios, e cruzada por

famílias de descontinuidades, além de redes de micro-fissuras e outras feições

particulares como ser orientações preferenciais e planos de debilidade.

O intemperismo físico atua basicamente na ampliação e abertura destas

macro e micro-descontinuidades, fomentando a desagregação da rocha e provendo

novos caminhos para o ingresso dos agentes de intemperismo químico. Esta ação

resulta em um aumento do volume aparente e da porosidade, assim como na

queda da resistência da massa rochosa.

O intemperismo químico, por sua vez, ataca a integridade mineralógica da

rocha avançando de maneira diferencial desde as superfícies expostas até os

núcleos. Os minerais primários se transformam em novos minerais ou são

dissolvidos e migram sob a forma de solução, ou ainda precipitam como novos

minerais. Estes processos induzem o aumento da porosidade, o enfraquecimento e

diminuição de tamanho dos grãos, e a formação de argilominerais. A gestação de

uma neo-cimentação secundária por precipitação é também comum.

Assim, a estrutura residual pode ser concebida como um esqueleto poroso

de minerais parentais e agregados de partículas com cimentação variável (a

macroestrutura) preenchido parcialmente por um plasma poroso formado pelos

minerais secundários com estrutura própria (microestrutura).

2.2.3. Estrutura dupla dos solos residuais

Os solos residuais são comprovadamente possuidores de uma dupla

estrutura. Carvalho & Simmons (1997) destacam estes dois níveis estruturais, a

macroestrutura formada pelos diversos grãos e pacotes de partículas com os

vazios intergranulares, e a microestrutura dos próprios pacotes e os seus vazios

internos. Chin & Sew (2001) sublinham a importância da micro e macro-fábrica

como controladoras das características de resistência e permeabilidade.

O conceito de dupla estrutura, ou dupla porosidade, foi inicialmente

introduzido para explicar os níveis de micro e macro-estrutura dos solos argilosos,

no intuito de fornecer uma formulação para os fenômenos de contração e

inchamento destes (Gens & Alonso, 1992). Estudos diversos sobre a fábrica dos

solos argilosos (Villar 2000, Cui et al 2001, Lloret et al, 2003) revelaram nestes

uma marcante dupla estrutura. A figura 2.7 mostra os resultados de uma

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porosimetria por intrusão de mercúrio na qual pode-se observar uma clara

distribuição bimodal do tamanho de poros, que reflete os tamanhos dominantes

associados aos dois níveis básicos de estrutura.

Figura 2.7: a) Distribuição do volume de poros de duas amostras de bentonita compactada (Lloret et al, 2003); b) Representação dos dois níveis estruturais.

Collins (1985) indica diferentes tipos observados para cada nível estrutural

nos solos residuais (ver figura 2.8). No nível microestrutural, os minerais de argila

podem se agrupar:

- de forma dispersa com orientação aleatória;

- de forma paralela com orientação preferencial;

- constituindo grumos que se vinculam em forma de anéis vazados;

Entretanto, as partículas de tamanho silte e areia constituem arranjos básicos com

contatos limpos ou com a presença de pontes de argila.

No nível de ensamble ou macroestrutural, Collins (1985) distingue três

formas básicas com nível de complexidade crescente:

- Arranjo tipo matriz. O arranjo elementar se faz extensivo a toda a massa de

solo residual, formando uma matriz homogênea no macro-nível.

- Arranjo tipo Agregação. Os arranjos elementares se agrupam em pacotes

que formam um esqueleto aberto de estrutura discreta.

- Arranjo tipo Conexão. Os arranjos elementares de argilominerais atuam

como pontes materializando ligações entre os grãos de maior tamanho.

Os solos residuais em cada caso poderão apresentar alguma destas

tipologias como principal, ou então uma mistura delas, podendo estes arranjos dar

lugar a características heterogêneas e anisotrópicas. Estes aspectos estruturais e os

mineralógicos são dinâmicos e evoluem junto aos processos de alteração.

(b) (a)

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Figura 2.8: Arranjos micro e macro-estruturais (Collins, 1985).

Macroestrutura

A macroestrutura dos solos residuais, pois, apresentará de uma maneira

geral as seguintes características:

- Feições reliquiares. Fissuras, fraturas, bandeamentos, xistosidades, e

demais características estruturais da rocha original permanecendo de forma

reliquiar, como cicatrizes do passado que condicionam as características da

fábrica do solo em formação, transmitindo-lhe heterogeneidade, anisotropia,

planos de debilidade e orientações preferenciais dos grãos.

- Partículas de composição variada. Uma distribuição granulométrica

variada, combinando minerais primários e secundários em proporções que

evoluem com o grau de intemperismo alcançado. Estas partículas variam

desde cristais de quartzo não alterado, grãos de feldspato de baixa

resistência em processo de alteração, acumulações orientadas de micas se

alterando, até grumos e pacotes compressíveis de argilominerais.

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- Grãos quebradiços. Grãos não transportados e sob alteração, de resistência

variável, sendo comuns os grãos fracos que se quebram ante pequenos

esforços, gerando novas partículas de menor tamanho e maior resistência.

- Cimentação. Óxidos e minerais secundários fixados nos contatos entre

partículas constituindo ligações fracas ou fortes segundo a sua origem,

conferindo rigidez adicional à estrutura residual. Vaughan (1988) assinala

que estes cimentos podem ter sua origem na deposição de carbonatos,

hidróxidos ou matéria orgânica, na precipitação de silicatos anteriormente

dissolvidos, ser um subproduto da alteração química de certos minerais, ou

até fruto da soldagem fria dos contatos sob pressões elevadas.

- Rede de macro-poros. Como parte do esqueleto poroso, formando uma rede

de macro-vazios conectados.

- Não saturação. Água preenchendo parcialmente os macrovazios na forma

de meniscos nos contatos entre grãos, e armazenada nos pacotes e grumos

de argilominerais.

Microestrutura

A microestrutura residual, por sua vez, se caracterizará por:

- Agregação de argilominerais. Grumos de argilominerais, presentes como

grãos na macroestrutura, mas possuindo eles mesmos uma estrutura interna

formada pelos minerais tamanho silte e argila, e a correspondente rede de

micro-poros.

- Rede de micro-poros. Somada a rede de macro-poros, constituem uma

estrutura de dupla porosidade, e serve para a estocagem de água.

- Saturação. Dentro destes grumos prevalece a condição saturada, a diferença

do restante da massa do solo em que permanece na condição não saturada.

Isto, porém, pode não se verificar algum solos, especialmente em zonas

áridas.

- Compressibilidade e estocagem de água. Estes agregados ou grumos se

diferenciam dos outros grãos da macroestrutura por serem altamente

compressíveis e pela sua capacidade de estocagem de água, pelo que

constituem micro-reservatórios que captarão ou cederão água à rede de

macro-poros segundo as condições hidro-mecânicas imperantes.

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48

2.3. Comportamento dos solos residuais

As características de resistência, compressibilidade e deformabilidade de um

solo residual associam-se aos diversos aspectos de constituição e estado presentes

na sua massa, cujas influências se vinculam para dar uma resposta global. Entre os

aspectos constitutivos se incluem a estrutura residual, anisotropia e resistência dos

grãos, entanto que os aspectos de estado são a compacidade, grau de saturação e

grau de alteração (Brenner et al, 1997).

2.3.1. Influência da estrutura residual

Para um melhor entendimento da influência comportamental da estrutura

residual, convém analisá-la nos seus aspectos micro e macro separadamente. A

figura 2.9 ilustra a dupla escala da estrutura residual.

= +

Figura 2.9: Representação esquemática dos níveis estruturais.

Microestrutura

Para modelar o comportamento de solos explicitando ambos os níveis

estruturais, Alonso et al (1994) utilizaram o modelo BBM (Alonso et al, 1990)

como modelo para a macroestrutura, e incluíram nele uma formulação específica

para a microestrutura baseada nas seguintes assunções:

• Os fenômenos físico-químicos são reversíveis.

• A micro-fábrica não tem orientação preferencial (é isotrópica).

• As deformações na micro-estrutura são apenas volumétricas e elásticas.

• Os agregados de argila permanecem no estado saturado, o que se

verifica para os níveis de sucção comuns em geotécnia.

• O princípio das tensões efetivas é válido, dada a condição de saturação.

Meio poroso argiloso

Matriz argilosa (microestrutura)

Macroestrutura porosa

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No modelo micro-estrutural, o comportamento volumétrico é governado

pela tensão volumétrica efetiva )( sp + , onde p é a tensão volumétrica total e s a

sucção mátrica. Define-se também uma linha neutra )( ctesp =+ no plano p-s

(ver figura 2.10), tal que para trajetórias que seguem esta linha não acontecem

deformações na microestrutura. Duas linhas neutras, SI (incremento de sucção) e

SD (decremento de sucção), atuam como superfícies de escoamento micro-

estruturais, definindo entre elas uma região elástica. Para trajetórias de tensão que

atingem alguma destas superfícies acontece expansão da mesma e verificam-se

deformações plásticas. Assim, haverá deformações irreversíveis de contração se

atingir a linha SI, ou de inchamento caso atinja a linha SD. O endurecimento é

definido cinemático e, portanto, não haverá expansão do domínio elástico inicial

durante o escoamento plástico, e sim uma translação do mesmo.

A interação entre ambos os níveis estruturais acontece na lei de

endurecimento (lei de expansão) da superfície de escoamento LC (loading-

collapse) para a macroestrutura, onde são incluídas as deformações da micro-

estrutura para acoplar as mudanças micro-estruturais na macro-estrutura. Isto se

vê na figura 2.10, onde uma trajetória de secagem na micro-estrutura gera um

endurecimento na macro-estrutura (deslocamento da LC).

s

p

Figura 2.10: Comportamento do modelo de dupla estrutura no plano p-s.

A matriz argilosa que constitui a microestrutura dos solos residuais tem

influência marcante no seu comportamento mecânico, dada suas características de

alta compressibilidade e saturação, que contrasta com o esqueleto rígido e não

saturado da macroestrutura. A presença e influência da matriz argilosa no solo

residual crescem com o grau de intemperismo alcançado.

SI

SD

região elástica

Evolução das superfícies de escoamento durante secagem (contração) do solo.

LC

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Maccarini (1980) e Sandroni & Maccarini (1981) apresentam resultados de

ensaios de cisalhamento direto e triaxiais convencionais em amostras

indeformadas de uma ocorrência de solo residual gnáissico jovem do campo

experimental da PUC-Rio. Blocos para a confecção das amostras foram retirados

de cinco profundidades de um poço e cinco níveis de um talude. A resposta dos

ensaios triaxiais apresentou basicamente dois tipos de comportamento, os quais

são sumarizados na figura 2.11.

Figura 2.11: Comportamento observado de solos residuais no ensaio triaxial: a) solo jovem; b) solo maduro (Sandroni & Maccarini, 1981).

O comportamento mostrado na figura 2.11a caracteriza-se por uma relação

linear entre tensão e deformação ate atingir o pico de resistência para uma

deformação axial não superior ao 5%, ao qual se segue uma curva de

amolecimento. As deformações volumétricas variam de contrações moderadas ate

dilatações. Este tipo de comportamento verificou-se nos solos jovens ou com

baixo nível de confinamento. Já o comportamento da figura 2.11b caracteriza-se

por uma relação não linear entre tensão e deformação que atinge o seu valor

máximo para deformações axiais maiores do que 10%. As deformações

volumétricas são francamente contrativas. Este tipo de comportamento verificou-

se nos solos maduros ou com alto nível de confinamento.

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A influencia da matriz argilosa, pouco presente no solo jovem e de ampla

ocorrência no solo maduro, está assim relacionada com a mudança

comportamental observada, de maneira que a microestrutura pode ser considerada

a principal responsável pela perda de rigidez e o aumento na deformabilidade.

Futai (2002) e Futai et al (2004) analisaram também a resistência ao

cisalhamento não saturada de um perfil de solo residual de gnaisse da região de

Ouro Preto - MG. Foram estudados dois horizontes no perfil, um saprolito ou solo

jovem (profundidade de 5 metros) e uma laterita ou solo maduro (profundidade

de 1 metro). As características físicas e a curva de retenção de água são mostradas

na figura 2.12. A analise comparativa destes solos permite visualizar a seqüência

formativa da microestrutura no perfil de alteração. No solo jovem prevalecem as

frações areia e silte, com pouca presença de argila. Já no solo maduro

predominam as frações areia e argila, com pouco silte. Assim, enquanto o quartzo

permaneceu inalterado como areia, os minerais alteráveis passam gradativamente

da fração silte para argila. Este fenômeno reflete-se na curva característica, onde o

caráter bimodal no solo maduro indica a ausência da fração silte.

a) b)

Figura 2.12: a) Características físicas de solo laterítico (1m) e saprolítico (5m); b) Curva característica dos solos (Futai et al, 2004).

O efeito da microestrutura também se pode apreciar nas curvas de

resistência ao cisalhamento. A figura 2.13 mostra a resposta de ensaios triaxiais

com sucção controlada (100kPa) para diferentes tensões de confinamento. No

caso do solo maduro a matriz argilosa controlou o comportamento do solo,

caracterizado pela ausência de pico na resistência e pela contração verificada nas

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deformações volumétricas. Já no solo jovem os efeitos da microestrutura são

atenuados, pelo que se observa uma maior resistência com formação de pico,

juntamente com uma maior tendência dilatante. Desta forma, a microestrutura

aparece atrelada ao amolecimento da massa de solo o que redunda em uma queda

da resistência e rigidez, assim como um aumento da deformabilidade.

a) b)

Figura 2.13: Ensaio triaxial com sucção controlada: a) solo jovem; b) solo maduro (Futai et al, 2004).

Macroestrutura A influência da macro-estruturação do solo sobre a resistência,

deformabilidade e compressibilidade pode ser entendida como a conjunção de

dois efeitos principais, devidos à fábrica e à cimentação (Burland, 1990):

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• Fábrica. Arranjo intrincado das partículas na massa residual numa

organização fechada que produz um maior atrito (ver figura 2.14a).

• Cimentação. Ligações entre os grãos que conferem ao solo uma rigidez

adicional contra as deformações (ver figura 2.14b).

Num sentido geral o conceito de estrutura está associado à variação

observada no comportamento de um material no seu estado natural, intacto, em

comparação com o mesmo material reconstituído, mantendo iguais os valores de

porosidade, saturação e estado de tensão. A presença de estrutura neste sentido

tem sido identificada também em solos transportados e rochas brandas, tratando-

se sempre de processos naturais. Nesta secção, apenas os aspectos isotrópicos da

estrutura são considerados, abordando-se a influência da anisotropia no item 2.3.2.

Leroueil & Vaughan (1990) fazem uma distinção oportuna com respeito à

estrutura que pode ser induzida por efeito de tensões, através do conceito de dano.

No caso de estruturação devido às tensões, a mesma pode ser restituída após ser

danificada por uma nova aplicação de tensões, enquanto que a estrutura natural,

uma vez danificada plastifica, sem poder ser reconstituída novamente.

A pesquisa sobre os efeitos da estrutura de solos tem-se desenvolvido

basicamente através da comparação de amostras intactas (estruturadas) e

reconstituidas (desestruturadas), assim como também de ensaios de amostras

artificialmente cimentadas, variando quantidade e qualidade do cimento.

Figura 2.14: Imagem de microscopia eletrônica de uma areia cimentada: a) Arranjo dos grãos e incrustações cimentíceas; b) Detalhe de cimentação (Cuccovillo & Coop, 1997).

grão

grão

cimento

vazio

vazio

(a) (b)

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Coop & Atkinson (1993) e Cuccovillo & Coop (1993) analisaram a

influência da resistência das ligações variando a quantidade de cimento

adicionado a uma areia carbonática artificialmente cimentada. Sob compressão

isotrópica observou-se que o cimento tornava o solo inicialmente mais rígido e

elástico (ver figura 2.15). Desta forma, o comportamento elasto-plástico

observado no mesmo solo não cimentado, com um escoamento gradual derivado

da quebra de grãos, foi substituído por um comportamento elástico e mais rígido

pela presença do cimento. Uma vez quebradas as ligações, o efeito da cimentação

caiu rapidamente e o solo tendeu naturalmente para a linha de compressão

isotrópica intrínseca correspondente ao solo não cimentado.

O efeito da cimentação pode então ser entendido, no marco da teoria do

estado crítico, como uma tensão virtual de pré-adensamendo equivalente à

resistência das ligações, que define uma superfície de escoamento inicial em cujo

interior o solo se comporta elasticamente (Vaughan, 1988).

Figura 2.15: Esquema de compressão simples de solo fraca e altamente cimentado.

Sob cisalhamento, este comportamento é mostrado na figura 2.16, onde o

tipo de resposta depende do confinamento inicial. Na trajetória 1 com baixo

confinamento, menor do que a resistência das ligações, o comportamento é rígido-

elástico até uma ruptura de pico definida, seguida de amolecimento plástico pós-

pico para atingir o estado crítico a grandes deformações. Na trajetória 2, para

confinamentos intermédios, o escoamento acontece antes de se atingir a linha de

estado crítico, pelo que não acontece pico e o atrito controla a ruptura. Na

trajetória 3 o confinamento é maior do que a resistência das ligações, que são

quebradas. Assim, o comportamento é dúctil, sem influência da cimentação.

Linha de compressão isotrópica

solo não cimentado

solo altamente cimentado

solo fracamente cimentado

Ln p

e

Tensão virtual de pré-adensamento

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Coop & Atkinson (1993) apontam que a quebra das ligações induze uma

plastificação do material, o que também acontece quando há quebra de grãos. A

figura 2.17 mostra este efeito no cisalhamento de uma calcarenita natural, onde

também podem ser observados os modos de cisalhamento em função do

confinamento esquematizado na figura 2.16.

Figura 2.16: Esquema dos modos de cisalhamento de solos estruturados.

Cuccovillo & Coop (1997, 1999) estudaram no aparelho triaxial a influência

da fábrica e a cimentação em areias de forma separada. Para isto empregaram uma

areia carbonática cimentada com carbonato de cálcio (calcarenita), de fábrica

fraca e cimentação forte, e uma areia de silício cimentada com óxido de ferro

(arenito), com uma forte fábrica e fraca cimentação. Paralelamente, também foram

estudadas amostras reconstituídas desses mesmos materiais. O comportamento

observado está sumarizado nas conclusões deste apartado.

Figura 2.17: Ensaio triaxial de calcarenita natural (Coop & Atkinson, 1993).

Plastificação por quebra das

ligações

σ3 = 450 kPa

σ3 = 1000 kPa σ3 = 72000 kPa

σ3 = 2200 kPa

σ3 = 1670 kPa

quebra das ligações já aconteceu no adensamento

p

q

1

3 2b 2a

Envoltória de pico

Linha de estado crítico

Sup. escoamento da cimentação

q/p

M

εa

estado crítico

1

3 2b

2a

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A presença de estrutura é comum em solos residuais, reconhecida e

pesquisada por vários autores, entre os quais cabe citar Vargas (1953), Sandroni

(1981), Vaughan (1985), Maccarini (1987), Martins (1994), Aleixo (1998) e

Martins (2001). Nestes casos um fator adicional de análise é a ação intempérica

operando nos dois sentidos: provocando o surgimento de ligações por deposição

de agentes cimentantes ou bem alterando ligações existentes. Nestas análises os

solos acompanharam a tendência comportamental geral apontada nas pesquisas

com areias natural e artificialmente cimentadas antes citadas.

Colapso Vaughan et al (1988) ainda mostraram que solos residuais podem, em

virtude da cimentação, manter uma estrutura metaestable, em estados situados

fora da superfície de estado correspondente ao mesmo solo reconstituído. No caso

de remoção ou quebra das ligações estes solos sofrem colapso reduzindo

dramaticamente o seu volume. O fenômeno de colapso é abordado também no

item 2.3.5. para o caso de ocorrência por saturação súbita da massa de solo.

Barksdale & Blight (1997) apontam a ocorrência de colapso em dois tipos

de solos residuais:

- Solos silto-arenosos fracamente cimentados nos contatos;

- Solos com forte lixiviação e elevada porcentagem de quartzo, constituídos

por areias argilosas ou siltosas com estrutura metaestável e porosa;

Knight (1961) propôs um esquema para explicar o mecanismo de colapso

das areias colapsíveis (ver figura 2.18). A estrutura inicialmente é composta por

grãos de areia interconectados por pontes silto-argilosos, formando anéis vazados

cujo interior é preenchido parcialmente por argilominerais não consolidados.

Figura 2.18: Mecanismo de colapso para areias metaestáveis (Knight, 1961).

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Sob carregamento, os anéis entram em carga até que as pontes são

progressivamente quebradas ou cisalhadas e o anel começa a transferir carga para

o interior. O material do interior consolida para a carga a que é submetido,

provocando novas deformações que são acompanhadas pelos anéis, que se voltam

ainda mais ineficazes no suporte da carga, aumentando a transferência de carga

para o interior e repetindo o ciclo até o fechamento dos anéis. Após o colapso dos

anéis o solo passa a possuir uma estrutura densa que controlará o posterior

comportamento mecânico do solo. As deformações envolvidas no processo podem

ser em certos casos catastróficas.

Conclusões

As diferentes pesquisas citadas mostraram resultados que, além das

variações relacionadas aos valores de porosidade, distribuição granulométrica,

grau de saturação e resistência dos grãos, apresentaram um padrão de conduta

consistente, o que permite a elaboração das seguintes conclusões de caráter geral:

• A estrutura residual pode ser entendida como a soma de três fenômenos, a

atividade micro-estrutural nos bolsões argilosos, e a cimentação e fábrica da

macro-estrutura.

• Os pacotes argilosos da micro-estrutura são compressíveis e saturados, e sob

carregamento geram deformações volumétricas elasto-plásticas, além de

ceder água à macro-estrutura. Isto torna o solo menos rígido e resistente

assim como mais deformável.

• As deformações contrativas da matriz argilosa (micro-estrutura) se refletem

em um endurecimento da massa do solo (macro-estrutura), aumentando a

sua resistência.

• A cimentação contribui no estágio inicial do carregamento, enquanto não

acontece escoamento plástico (quebra paulatina das ligações), conferindo ao

solo comportamento elástico cuja rigidez independe do confinamento. A

resistência é do tipo coesiva, até atingir o pico de resistência quando

acontece ruptura frágil.

• A fábrica confere ao solo um forte mecanismo de resistência por atrito,

induzindo o comportamento dilatante que acompanha a degradação da

fábrica e que controla o amolecimento pós-pico.

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• O efeito da estrutura se dá de forma seqüencial, onde a cimentação governa

o comportamento inicial do solo até que acontece a sua degradação e a

fábrica passa a controlar as características do escoamento plástico.

• O escoamento plástico do solo fortemente cimentado é marcado por uma

rápida queda na rigidez e progressiva deterioração das ligações, passando o

atrito a governar o comportamento pós-pico.

• No escoamento plástico do solo com forte fábrica, no entanto, o efeito da

estrutura sobre a rigidez persiste mesmo com a degradação da cimentação.

• A cimentação é alvo dos processos intempéricos nos estágios mais

avançados, pelo qual tende a se enfraquecer e até mesmo se desintegrar ao

se atingir a maturidade do solo.

• A rigidez ao cisalhamento é maior nas amostras estruturadas do que nas

amostras reconstituídas.

• Em solos com estrutura metaestável a susceptibilidade da cimentação frente

a variações de umidade, esforços, deslocamentos ou vibrações, dá lugar a

fenômenos de colapso, consistentes em uma rápida desestruturação da

massa de solo e a conseqüente contração volumétrica.

2.3.2. Influência da anisotropia

A anisotropia inerente à própria estrutura residual dos solos influi na sua

resposta, especialmente nos solos procedentes de rochas metamórficas, e em

aqueles onde os minerais de mica tem forte presença. O estudo da anisotropia e

dos seus efeitos no comportamento observado em solos residuais tem a ver

principalmente com a análise da macroestrutura (Costa Filho e Campos, 1991).

Destacam-se os seguintes fatores:

� Anisotropia estrutural associada à fábrica da rocha de origem,

principalmente no caso de rochas metamórficas e sedimentares.

� Feições reliquiares herdadas do maciço originário, como ser planos de

fraqueza, bandas de cisalhamento e veios de permeabilidade diferenciada.

� Descontinuidades polidas ou não, como ser as juntas e fissuras.

� Presença de furos e dutos formados por erosão interna ou atividade animal.

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Estas feições anisotrópicas são mais marcantes nos solos residuais jovens,

perdendo expressão em solos maduros, onde a condição isotrópica prevalece.

Diversos estudos de laboratório foram realizados para analisar as características

anisotrópicas dos solos residuais, de gnaisse especialmente, assim como os efeitos

na resistência ao cisalhamento, deformabilidade e permeabilidade, sendo

apontados a seguir alguns deles.

Maccarini (1980) analisou um solo residual jovem de gnaisse do campo

experimental da PUC-Rio mediante ensaios de cisalhamento direto para umidade

natural do solo e diferentes ângulos β entre o plano de ruptura e o plano de

xistosidade. Os resultados mostraram pouca variação nos parâmetros de

resistência, coesão e ângulo de atrito, maior tendência dilatante para o45=β , e

menor deformação de ruptura para o0=β .

Costa Filho e Campos (1991) analisaram um solo residual jovem de gnaisse

da região de Chapéu d´Uvas - MG mediante ensaios oedométricos e de

cisalhamento direto em condição saturada e para umidade natural, e corpos de

prova moldados com o seus eixos normal e paralelos ao plano de xistosidade.

Também executaram-se ensaios triaxiais na condição saturada e com o plano de

xistosidade horizontal e a 45o, assim como ensaios de permeabilidade. Os

resultados dos ensaios oedométricos e de permeabilidade não mostraram efeitos

de anisotropia, e nos ensaios de cisalhamento direto e triaxial foi obtida uma

variação não significativa dos parâmetros de resistência, coesão e ângulo de atrito.

Assim sendo, os autores concluíram que a anisotropia estrutural não é um fator

predominante em solos com avançado estágio de intemperismo (>50% de finos).

Maciel (1991) estudou um solo residual jovem de gnaisse facoidal da região

de Costa Brava, município do Rio de Janeiro, executando ensaios de cisalhamento

direto e triaxial com amostras indeformadas talhadas com o eixo normal e paralelo

à xistosidade. Os resultados enquanto à resistência do solo não mostraram indícios

de anisotropia, o que foi atribuído a destriução dos contatos entre grãos no

micronível pelo intemperismo, onde a presença de uma matriz ferro-argilosa nas

interfaces dos grãos tende a anular o efeito da anisotropia da macroestrutura.

Por outro lado, houve diferenciação nas características de deformabilidade

nos ensaios triaxiais, onde as amostras com a tensão principal maior normal à

xistosidade apresentaram menor deformação de ruptura, maior tendência dilatante

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e maiores módulos de deformação a 2%. Efeito anisotrópico na permeabilidade

só foi detectado nas amostras de solos mais jovens, onde a permeabilidade na

direção da xistosidade foi 3 a 4 vezes maior do que na direção normal.

Estudos utilizando o aparelho triaxial cúbico também foram levados a cabo

recentemente em solos residuais de gnaisse, sendo este equipamento mais

adequado para pesquisa de anisotropia em solos porquanto permite o controle

independente das três tensões principais.

Reis (1998) estudou o comportamento anisotrópico de um solo residual de

gnaisse da região de Viçosa - MG, mediante ensaios de carregamentos nas três

direções para umidade natural, além de ensaios de compressão hidrostática. Os

resultados mostraram um comportamento isotrópico do solo em resistência, mas

anisotrópico na deformabilidade, com valores dos módulos de deformação

variando para cada direção do carregamento.

Aleixo (1998) analisou também o solo residual de Costa Brava, no

município do Rio de Janeiro, com o equipamento triaxial cúbico, além de ensaios

de compressão confinada e hidrostática. Os efeitos de anisotropia se mostraram na

deformabilidade do solo residual jovem, com uma rigidez 30% maior na direção

normal à xistosidade, enquanto que o solo maduro comportou-se isotropicamente.

Os resultados de resistência apresentaram em todos os casos variações menores do

que 10%, não se percebendo um efeito marcante de anisotropia.

Conclusões

Estes resultados marcam tendências de comportamento dos solos residuais

que são apontadas a seguir:

• Os efeitos de anisotropia no solo residual diminuem na medida que aumenta

o grau de intemperismo, sendo insignificantes para o solo maduro.

• A ação intempérica nos contatos e fissuras da macroestrutura provoca a

formação de uma matriz de argilominerais que desarticula as feições

anisotrópicas (aumentando os graus de liberdade das partículas menos

alteradas) levando a um comportamento global mais isotrópico.

• A anisotropia estrutural não influi marcadamente no valor da resistência ao

cisalhamento, onde as variações não ultrapassam o 10%. É de se esperar, no

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entanto, maiores variações em solos residuais de rochas com foliação mais

intensa, para baixos estágios de intemperismo.

• Efeitos anisotrópicos manifestam-se na deformabilidade do solo residual

jovem, onde as rigidezes são maiores no caso de carregamento normal ao

plano de xistosidade, junto com uma menor deformação em ruptura e uma

maior tendência dilatante.

• Feições reliquiares como ser planos de fraqueza e fissuras condicionam a

resposta do solo, induzindo uma direção preferencial de ruptura.

• A permeabilidade pode variar em solos residuais jovens, com baixa

porcentagem de finos, onde se favorece o fluxo na direção da foliação e das

fissuras com paredes pouco intemperizadas.

2.3.3. Influência da resistência dos grãos

Nas massas residuais é característica a presença de grãos e pacotes de grãos

de resistência mecânica variada, produto da alteração de minerais primários com

dispar resistência à alteração química (Blight, 1997). Assim sendo, é comum que

aconteça a quebra dos grãos e pacotes fracos durante carregamento. Esta quebra

de grãos provoca uma mudança na distribuição granulométrica do solo, havendo

um corrimento da mesma para os finos, e uma tendência ao rearranjo das

partículas com diminuição de volume (Hardin, 1985).

Vaughan et al (1988), analisando a composição interna de solos residuais,

apontam o fato de que as partículas se apresentam geralmente amalgamadas em

pequenos bolsões, e que grãos maiores podem se apresentar debilitados pela

presença de micro-fissuras. Sob carregamento é comum a quebra destes grãos e

agregados, o que gera um aumento na compressibilidade do solo.

Hardin (1985) quantificou a quebra de grãos num solo residual de granito

pelo índice B, definido como a área encerrada entre as curvas granulométricas do

solo antes e depois da quebra. A pesquisa mostrou que, em virtude da quebra

acontecer pela ação das forças de contato, o valor de B é fortemente influenciado

pela distribuição granulométrica, o índice de vazios inicial, a forma das partículas

e a tensão aplicada. Verificou-se também uma relação única e de crescimento

monotônico entre B e a tensão isotrópica p no estado crítico, que independe da

trajetória de tensão seguida (ver figura 2.19). A separação das partículas

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amalgamadas e o rompimento de grãos fissurados foram apontados como os

principais mecanismos responsáveis pela contração plástica volumétrica durante

uma compressão isotrópica ou cisalhamento (Lee & Coop, 1995).

Coop (1990) e Coop & Lee (1993), analisando areias carbonáticas e silíceas,

indicaram a quebra de grãos como responsável pela deformação plástica sob

compressão volumétrica para grandes tensões, devido ao elevado número de

contatos em arranjos fechados. Neste caso são partículas inteiras sendo quebradas

ao atingir seu limite de resistência.

Figura 2.19: Índice B em função da tensão isotrópica p no estado crítico para um solo residual de granito (Lee & Coop, 1995).

Conclusões A influência da resistência dos grãos pode ser sumarizada como segue:

• A quebra de grãos é governada pelas forças nos contatos.

• Em solos residuais a quebra se dá pela desagregação de amalgamas de

partículas e o rompimento de grãos micro-fissurados.

• A quebra de grãos provoca uma mudança para os finos na curva de

distribuição granulométrica do solo.

• A quebra de grãos provoca contração volumétrica plástica.

• Grãos com pontas angulosas são mais susceptíveis de quebra do que grãos

arredondados.

• A quebra de grãos cresce com a tensão de confinamento.

• Arranjos fechados e fábrica intrincada favorecem a quebra de grãos.

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• A quebra de grãos provoca um aumento na compacidade do solo, o que

resulta num endurecimento da massa do solo e o conseqüente aumento na

resistência mecânica pós-quebra.

2.3.4. Influência da compacidade

A compacidade, mensurada pela densidade ou índice de vazios, é fator com

forte influencia no comportamento do solo, especialmente para casos de

cimentação fraca (Brenner at al, 1997). A resistência ao cisalhamento cresce com

a compacidade do solo, que diminui com o avanço do intemperismo, por causa da

perda de massa. De igual forma, a compacidade tem incidência direta na

magnitude das deformações volumétricas experimentadas sob carregamento.

Solos residuais jovens e maduros apresentam em geral índices de vazios

elevados por causa da perda de massa, fruto dos processos de alteração e

lixiviação. Conseqüentemente, contrações volumétricas devem ser esperadas sob

carregamento, inclusive fenômenos de colapso se o solo é fracamente cimentado.

Howatt (1988), pesquisando solos residuais de andesita com cimentação

fraca, encontrou que a resistência ao cisalhamento cresce com a densidade (ou

diminuição do índice de vazios), como mostra a figura 2.20.

Figura 2.20: Relação entre a densidade do solo e a resistência ao cisalhamento, para um solo residual de andesita (Howatt, 1988).

Lumb (1962) explica a influência da compacidade analisando um solo

residual de granito nos estados solto e denso. No estado solto, a fração grossa

(areia) forma a estrutura principal do solo, com a fração fina (silte e argila)

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ocupando, em estado fofo, parte dos vazios da macroestrutura. Este arranjo com

alto índice de vazios, e apenas a fração grossa suportando carga, tem baixa

resistência. No estado denso, porém, tem-se um arranjo fechado que combina

ambas as frações, de baixo índice de vazios, produzindo elevados valores de

resistência.

Conclusões Sobre a incidência da densidade dos solos pode-se concluir:

• A resistência do solo aumenta com a diminuição do índice de vazios.

• O índice de vazios em solos residuais é variável e desconexo da história de

tensões.

• O índice de vazios controla a magnitude das deformações volumétricas.

• Solos residuais jovens e maduros apresentam geralmente uma estrutura

porosa devido à perda de massa por alteração e lixiviação.

• A magnitude do colapso potencial aumenta com o índice de vazios.

• No colapso acontece uma dramática redução do índice de vazios, pelo que o

solo passa a estar num estado denso e a comportar-se como tal.

2.3.5. Influência do grau de saturação

O estado de não saturação tem uma incidência amplamente estudada no

comportamento mecânico dos solos. A presença de meniscos nos contatos

intergranulares submete à massa de solo a um estado de poro-pressão negativa –

sucção – que exerce influencia na tensão efetiva, resistência e rigidez. Sem

embargo, sucção e grau de saturação não guardam uma relação linear, mas que

depende da distribuição de tamanho dos poros. No caso de solos com distribuição

bimodal de poros, esta relação se torna mais complexa ainda (figura 2.22).

Segundo Khogo et al (1993), os mecanismos básicos pelos quais a sucção

interfere no comportamento tensão–deformação–resistência podem ser entendidos

a partir do estado de tensões nos contatos entre partículas de solos não saturados

(figura 2.21). O menisco de água formado tem uma diferença de pressão com

respeito à pressão no ar (sucção), que se equilibra com as tensões geradas na

superfície do menisco funcionando como membrana à tração, tomando como

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T

apóio as partículas de solo, e gerando nelas uma força de reação que, pela

axisimetria do menisco, dá lugar a uma força resultante normal ao plano do

contato entre as partículas (Ncapilar), cujos efeitos são:

- um incremento nas tensões efetivas do solo;

- uma rigidez adicional no esqueleto sólido contra as forças T, que dificulta os

deslocamentos relativos entre partículas;

N

N = Nforças externas + Ncapilar

T = Tforças externas

Menisco capilar

Figura 2.21: Influência da sucção no contato entre grãos de solo.

A incidência destes efeitos depende diretamente da distribuição das fases

água e ar no solo. Khogo et al (1993) distinguem três estados de não saturação:

• (a) Fase água descontínua. Com baixo grau de saturação, o solo é afetado

apenas pela presença das forças capilares.

• (b) Fases água e ar contínuas. Condição transiente onde o solo, dada a sua

distribuição irregular de poros, experimenta simultaneamente as três

condições - a, b e c - em sua massa, em função do tamanho de poros.

• (c) Fase ar descontínua. Com elevado grau de saturação, fase água contínua

e contendo apenas bolhas de ar isoladas, o solo pode ser descrito em termos

de tensões efetivas, semelhantemente ao caso saturado.

s

secagem

Sc umedecimento

Se

θ Figura 2.22: Curva característica do solo (sucção x umidade volumétrica).

Com base nesta discriminação de estados, Khogo et al (1993) justificam o

efeito da sucção no solo para cada condição (ver figura 2.22):

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- Para sucções menores à correspondente à entrada de ar Se (caso c) um

incremento na sucção produz apenas um aumento na tensão efetiva.

- Para sucções maiores à correspondente à entrada de ar Se (caso b) um

incremento na sucção contribui a um aumento da tensão de escoamento

assim como torna o esqueleto sólido mais rígido, além de produzir um

aumento na tensão efetiva.

- Para sucções muito maiores do que correspondente à entrada de ar Se,

atingindo o valor crítico Sc (caso a), um incremento na sucção contribui

apenas com um aumento na tensão de escoamento e rigidez do solo, sem

influir na tensão efetiva.

Envoltória de resistência não saturada. Uma tentativa de modelar

matemáticamemte este aumento na resistência ao cisalhamento com a sucção foi

proposta por (Frendlund et al, 1978), se baseando no critério de ruptura Mohr-

Coulomb, sem utilizar tensões efetivas mas variáveis de estado:

bwaa pppc φφστ tan)(tan)( −+−+′= (2.1)

onde pa representa a pressão do ar, pw a pressão da água nos poros do solo e φb um

parâmetro adicional que serve como constante de proporcionalidade entre o valor

da sucção (pa - pw) e o incremento na resistência do solo (ver figura 2.23). Os

efeitos da sucção se contabilizam no aumento da coesão, agora chamada de

aparente, composta pela parcela efetiva c´ e o acréscimo devido à sucção:

φσφτ tan)(]tan)([ abwa pppc −+−+′= (2.2)

ou φστ tan)( aap pc −+= (2.3)

Figura 2.23: Critério de ruptura de Mohr-Coulomb no espaço (τ, σ, s) modificado por Frendlund et al (1978).

σ

τ

s

Critério de Mohr-Coulomb (saturado)

φ

φb

Critério de Mohr-Coulomb (não saturado)

cap

c

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Escario e Sáez (1986), porém, mostraram que a linearidade entre sucção e

resistência, admitida nas relações citadas, não é verificada em alguns solos,

especialmente para baixas sucções. Esta observação experimental vem a respaldar

o efeito diferenciado da sucção sustentado por Khogo et al (1993).

Esta característica também foi confirmada por De Campos (1997) ao estudar

a resistência não saturada de solos residuais do Brasil. Os resultados da pesquisa

mostraram que o valor de bφ observado foi igual a φ para baixas sucções

(valendo o princípio das tensões efetivas), caindo até um valor residual para altas

sucções. Lopes et al (2007) também obtiveram uma evolução não linear, do tipo

hiperbólica, para o ganho na resistência por causa da sucção, para um solo

residual de filito de Belo Horizonte-MG. A figura 2.24 mostra o crescimento

hiperbólico da resistência não saturada, assim como a envoltória não linear obtida

para esse solo.

a)

b)

Figura 2.24: a) Evolução da coesão aparente com a sucção; b) Envoltória de resistência não linear para estados não saturados (Lopes et al, 2007).

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Futai et al (2004), estudando a resistência mecânica de solos lateríticos e

saprolíticos de gnaisse da região de Ouro Preto - MG, aponta similares resultados

enquanto ao crescimento hiperbólico da coesão aparente com a sucção.

É importante notar que Escario e Sáez (1986) acharam una variação do

ângulo de atrito com a sucção, o que é desprezado nos diversos modelos de

resistência para solos não saturados. Futai et al (2004) também salienta este

comportamento em um solo residual de gnaisse, onde φ cresce com a sucção até

se estabilizar para sucções mais elevadas. Também os resultados obtidos por

Lopes et al (2007) apontaram um suave crecimento no valor do ângulo de atrito

com a sucção.

A sucção tem também influencia sobre a compressibilidade do solo,

tornando a massa de solo mais rígida frente às forças externas, em virtude da

atração entre partículas produzida pelos meniscos. Isto se vê na menor inclinação

da linha de consolidação virgem, como mostra a figura 2.25, pelo que o solo

sofrerá deformações volumétricas menores do que na condição saturada. Por outro

lado, variações na sucção também induzirão deformações plásticas, e para alguns

solos, a saturação instantânea poderá provocar colapso ou inchamento do solo.

e

Saturado

colapso

inchamento

Não saturado

σ Figura 2.25: Fenômenos de inchamento e colapso sob umedecimento do solo.

Os solos não saturados tem sido estudados em laboratório por diversos

autores, mediante ensaios de compressão hidrostática, oedométricos, triaxiais e de

cisalhamento direto. Os valores de sucção empregados variam de zero (saturação)

até valores de 1500kPa em alguns casos. Alonso et al (1990) fazem um resumo

destas pesquisas apontando as principais características comportamentais

observadas.

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Conclusões Idéias conclusivas relativas à influência da sucção no comportamento de

solos são detalhadas a seguir:

• A sucção contribui para um aumento na rigidez do solo.

• Em solos com uma estrutura porosa, uma redução na sucção

(umedecimento) para uma dada tensão de confinamento poderá induzir uma

compressão volumétrica irreversível (colapso).

• A resposta volumétrica depende não somente dos valores de tensão e sucção

inicial e final, como também da trajetória de tensão seguida.

• Solos como areias, siltes, areias argilosas, argilas arenosas ou argilas de

baixa plasticidade, quando submetidos a processos de umedecimento,

tendem a expandir se a tensão de confinamento for baixa, ou a colapsar, se

esta for suficientemente elevada.

• Variações nos valores da sucção, como no caso de ciclos de umedecimento

e secagem, induzem deformações volumétricas irreversíveis.

• Um incremento na sucção resulta num incremento na coesão mas não afeta

maiormente o ângulo de atrito efetivo φ ′ no critério de ruptura de Mohr-

Coulomb. Este incremento na resistência do solo é não linear, com

tendência a alcançar um valor máximo estável para valores elevados de

sucção.

2.3.6. Influência do grau de intemperismo

A influência do grau de intemperismo sobre as propriedades índice,

distribuição granulométrica, estrutura, parâmetros de resistência, deformabilidade

e características de compressibilidade dos solos residuais tem sido estudada por

diversos autores: Lumb (1962), Falcão (1984), Souza Almeida (1987), Menezes

Filho (1993), Lee & Coop (1995), Aleixo (1998), Polivanov (1998).

A partir da análise experimental de solos residuais de diferentes origens,

uma ampla variedade de respostas comportamentais foi verificada, devido aos

muitos fatores atuantes que se entrelaçam para definir o tipo de resposta

observada. Entretanto, algumas tendências gerais podem ser traçadas, as quais são

detalhadas a seguir.

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Conclusões De todas as relações estudadas entre o grau de intemperismo e as

características geotécnicas e o comportamento mecânico dos solos residuais,

algumas conclusões gerais podem ser citadas:

• Verifica-se um aumento quase-linear da porosidade com o grau de

intemperismo, aumentando também a sua dispersão em torno do valor

médio.

• Acontece uma diminuição do módulo de elasticidade com o grau de

intemperismo.

• Acontece uma diminuição da resistência ao cisalhamento com o grau de

intemperismo.

• Há crescimento dos finos com o grau de intemperismo, levando à curva

granulométrica a uma translação paulatina para os finos.

• Verifica-se uma tendência ao enfraquecimento da estrutura com o grau de

intemperismo. A estrutura parental dá lugar à estrutura reliquiar, depois à

estrutura residual (neocimentação) e finalmente acontece perda de estrutura

uma vez atingida a maturidade.

• Acontece perda de massa com o aumento do intemperismo pela lixiviação,

com o conseqüente aumento da porosidade, e diminuição da resistência

mecânica e rigidez.

• Não se verifica uma correlação entre estrutura e história de tensões, sendo

os processos intempéricos os que governam a evolução de ambas.

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