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A ECONOMIA MUNDIAL DA SOJA: IMPACTOS NA CADEIA PRODUTIVA DA OLEAGINOSA NO RIO GRANDE DO SUL 1970-2000 AUTORES: Argemiro Luís Brum CPF: 279.295.580-53 E-mail: [email protected] Cláudia Regina Heck CPF: 951.809.071-87 E-mail: [email protected] Cristiano da Luz Lemes CPF: 001.382.030-32 E-mail: [email protected] Patrícia Kettenhuber Müller CPF: 004.158.260-80 E-mail: [email protected] Endereço: Rua do Comércio, 3000. Campus Universitário Cx. Postal 560 DECon/UNIJUI Campus UNIJUI 98700-000 Ijui/RS ÁREA TEMÁTICA 1 COMERCIALIZAÇÃO, MERCADOS E PREÇOS AGRÍCOLAS. APRESENTAÇÃO COM PRESIDENTE DA SESSÃO E PRESENÇA DE UM DEBATEDOR. 1

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A ECONOMIA MUNDIAL DA SOJA: IMPACTOS NA CADEIA PRODUTIVA DA OLEAGINOSA NO RIO GRANDE DO SUL 1970-2000

AUTORES: Argemiro Luís Brum CPF: 279.295.580-53 E-mail: [email protected] Cláudia Regina Heck CPF: 951.809.071-87 E-mail: [email protected] Cristiano da Luz Lemes CPF: 001.382.030-32 E-mail: [email protected] Patrícia Kettenhuber Müller CPF: 004.158.260-80 E-mail: [email protected] Endereço: Rua do Comércio, 3000. Campus Universitário Cx. Postal 560 DECon/UNIJUI Campus UNIJUI 98700-000 Ijui/RS ÁREA TEMÁTICA N° 1 – COMERCIALIZAÇÃO, MERCADOS E PREÇOS AGRÍCOLAS. APRESENTAÇÃO COM PRESIDENTE DA SESSÃO E PRESENÇA DE UM DEBATEDOR.

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A ECONOMIA MUNDIAL DA SOJA: IMPACTOS NA CADEIA PRODUTIVA DA OLEAGINOSA NO RIO GRANDE DO SUL 1970-20001

RESUMO Este artigo analisa o comportamento do mercado da soja nos últimos 30 anos do século XX, com ênfase na produção e no mercado do produto, e seus efeitos sobre a economia da oleaginosa no Noroeste do Rio Grande do Sul. Para tanto, em sua primeira parte, o mesmo traz um estudo sobre o mercado internacional da soja, com destaque aos principais países produtores, consumidores e exportadores desta oleaginosa. Na segunda parte, se evidencia o período recente, compreendido entre os anos de 1990 e 2000, onde se destaca a crescente participação brasileira neste mercado. Enfim, a terceira parte destaca os efeitos desta evolução sobre o Noroeste gaúcho, região precursora da soja no Brasil, através da análise dos resultados de pesquisa obtidos junto aos produtores rurais, cooperativas e indústrias moageiras da oleaginosa presentes nesta região. PALAVRAS-CHAVE Produção, mercado, soja INTRODUÇÃO A soja é a principal oleaginosa produzida e consumida no mundo. Sua importância reside no fato de, ao ser triturada, resultar em farelo e óleo. O primeiro subproduto, por ser rico em proteína, é destinado principalmente ao consumo animal, através de rações elaboradas. O segundo subproduto se destina especialmente ao consumo humano. O Brasil, nestes 30 anos como produtor de soja (1970-2000), se consolidou como o segundo maior produtor mundial da oleaginosa e, hoje, o segundo maior exportador de farelo e grão de soja no mundo, após ter sido o primeiro exportador mundial de farelo por longos anos. A produção brasileira, que bateu recordes consecutivos nos últimos anos da década de 1990, é uma das principais riquezas do Centro-Sul do Brasil. A mesma nasceu na região Noroeste do Rio Grande do Sul e, com o tempo, se alastrou para o Sul, Centro, Norte e Nordeste do país. No entanto, nestes 30 anos de vida econômica da soja no Brasil o processo de desenvolvimento da mesma no país, e particularmente na região Noroeste gaúcha, provocou mudanças consideráveis nas relações econômicas e na vida dos agentes econômicos que participam desta cadeia produtiva. Se ainda hoje a região depende da economia da soja, a oleaginosa já não é mais uma fonte de renda isolada e muito menos a redenção econômica para a maioria dos pequenos e médios produtores, base da economia agrícola de boa parte do sul brasileiro e particularmente do Noroeste gaúcho. Além disso, houve uma forte reestruturação das cooperativas agrícolas ligadas a esta produção assim como uma forte concentração das indústrias que processam o grão.

1 Este trabalho contou igualmente com a participação dos alunos bolsistas Aline Nast de Lima (Fapergs) e Lisandro Franco Pires (PIBIC/CNPq).

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É neste contexto que desenvolvemos esta pesquisa que ora apresenta seus resultados concretos. Nosso desafio foi o de procurar mostrar a evolução da economia da soja e sua nova realidade na região berço da oleaginosa no Brasil, seus efeitos sobre as propriedades rurais, cooperativas e indústrias moageiras, e as novas exigências do seu processo produtivo e comercial. Neste sentido, dividimos o trabalho em cinco grandes partes. A primeira analisa a economia mundial da soja no século XX. Nela, procuramos destacar as principais regiões produtoras e consumidoras no mundo, suas relações e evoluções. Através deste estudo conseguimos identificar cinco grandes fases da economia mundial da soja neste último século. A segunda parte destaca o período recente da economia da soja, ou seja, a década de 1990 a 2000, com ênfase nas questões brasileiras relacionadas a mesma. A idéia central foi a de relativizar as questões conjunturais de preço e destacar os elementos de fundo em torno da economia que movimenta o mercado da soja. A terceira parte se concentra na análise dos efeitos da evolução da economia da soja, nos últimos 30 anos do século XX, sobre os produtores de soja do Rio Grande do Sul e particularmente do Noroeste gaúcho. Para tanto, utilizamos o instrumento da pesquisa de campo que nos permitiu obter uma fotografia clara da realidade da economia da soja, seus impactos e problemas. A quarta parte destaca o comportamento junto às indústrias moageiras, onde se verifica um processo de concentração importante no Brasil e no Rio Grande do Sul. Enfim, a quinta parte traz os resultados relativos aos efeitos da evolução da economia da soja junto às cooperativas agrícolas do Estado gaúcho. Para tanto, uma pesquisa de campo igualmente foi aqui realizada, obtendo um conjunto de informações de relevância para se compreender a economia da soja nos 30 anos considerados.

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A ECONOMIA MUNDIAL DA SOJA: IMPACTOS NA CADEIA PRODUTIVA DA OLEAGINOSA NO RIO GRANDE DO SUL 1970-2000

1 - A Economia da Soja no Contexto do Século XX No início do século o grande produtor e exportador mundial de soja era a China. Sua produção chegava em torno de 2,5 milhões de toneladas e o comércio era bastante reduzido em volume, haja vista que este país consumia boa parte do que produzia. Será a partir de 1919, com a criação da American Soybean Association (ASA), que esta oleaginosa passa a ser desenvolvida nos EUA. Este país começa a produzir de fato em 1923 (data em que as primeiras estatísticas aparecem). Nos anos 30, a China exportava 2,4 milhões de toneladas de soja, sendo que 1,4 milhão era destinado à Europa Ocidental e 700.000 toneladas ao Japão, desde então dois grandes importadores do produto e seus derivados (farelo e óleo). Os EUA reforçam o seu mercado interno, com o desenvolvimento da produção, um consumo importante do grão, através da instalação de indústrias trituradoras, e um consumo significativo de farelo e óleo, graças ao aumento na demanda de leite, carne de suíno e de frango, e ovos. Além disso, o óleo de soja passou a substituir a gordura animal junto ao consumidor final. Nesta época, o mercado mundial era principalmente dominado por 5 produtos oleaginosos (coprah, amendoim, palma-palmiste, linhaça e soja) junto a 8 países produtores/exportadores (Filipinas, Indonésia, Malásia, Índia, China, Senegal, Nigéria e Argentina). Os países subdesenvolvidos de então detinham 87% das exportações mundiais de oleaginosas. A partir dos anos 40 e em especial após a Segunda Guerra Mundial, encerrada em 1945, ocorrem mudanças profundas na economia mundial da soja e das demais oleaginosas. Os EUA avançam ainda mais na produção, se constituindo no maior produtor mundial de soja, e passam a “exportar” o seu modelo agroalimentar para o mundo. O mesmo dará origem a Revolução Verde que, por sua vez, irá provocar o processo de modernização da agricultura no Planalto Gaúcho, região que compreende parte do Noroeste do Rio Grande do Sul. Além disso, os países subdesenvolvidos em geral reduzem sua participação nas exportações mundiais para 41%. O surgimento do Mercado Comum Europeu (rebatizado posteriormente de Comunidade Econômica Européia e atualmente inserido na União Européia) estimulou a adoção do modelo agroalimentar norte-americano, pelo qual a nutrição animal devia se concentrar nos cereais como fonte de energia e nas oleaginosas, em especial a soja, como fonte de proteína nas rações. A então CEE passou a ser um forte importador mundial de grãos e farelo de soja. Com isto, acordos internacionais bilaterais se desenvolvem ao mesmo tempo que um processo protecionista junto à agropecuária se solidifica. O mercado estabelece então uma dinâmica Norte-Norte. Este processo acaba durando até o início dos anos 70. No final desta fase, o Brasil passa a desenvolver de forma conseqüente a produção de soja, estimulado pela demanda internacional (leia-se da CEE, URSS e Japão). Entre 1960 e 1990 o mercado de gorduras vegetais e animais é aberto e atinge mais de 1/3 da produção mundial. Passa a existir uma forte correlação entre a elevação do nível de vida, nascido no pós-guerra, e o consumo de gorduras. Em 1960, dois países forneciam 40% do total de gorduras animais e vegetais ao mundo: EUA e a Comunidade Econômica Européia. Em 1990, a participação dos mesmos, nesta produção, havia recuado para 28%.

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Mais precisamente, entre 1963 e 1993 a demanda por gorduras vegetais e animais passa de 32 milhões de toneladas para 86 milhões de toneladas. Este crescimento de quase 170% consolidou igualmente uma outra tendência: uma maior procura por gorduras de origem vegetal em relação as de origem animal. No conjunto, a gordura de origem vegetal representava 60% do consumo total mundial em 1963, chegando a 80% em 1993. Dentro das grandes evoluções deste período, a manteiga se destaca. Em 1963 a manteiga era a gordura mais consumida no mundo. 30 anos depois, sua participação no mercado havia caído para 7%, muito atrás dos óleos vegetais. Vale salientar que, neste período, a banha de porco no sul do Brasil perde completamente seu mercado para o óleo de soja e outros óleos vegetais, tipo o de milho, arroz, canola (colza), girassol e mesmo o de oliva (estes dois últimos, importados da Argentina). Outra grande tendência é o forte aumento na participação do óleo de palma. De 4% do consumo mundial, o mesmo chega a 10% em 1985 e 16% em 1993. Enquanto isto, o óleo de soja, ainda o óleo mais consumido no mundo, passa a sofrer o “ataque” do óleo de palma. Sua parte de mercado estagna em 21% desde 1983. Ao mesmo tempo, os óleos de colza e girassol, juntos, após forte expansão nos anos 80, alcançam 20% do mercado mundial, se estabilizando neste patamar a partir de então. Os óleos vegetais, pela suas qualidades, podem ser divididos como segue: em primeiro lugar, o óleo de oliva; em segundo a canola, seguido do girassol, posteriormente apenas temos o óleo de soja e por fim o óleo de palma. Por questões de marketing, os produtores de óleo de palma (Malásia e Indonésia sobretudo) fazem forte campanha mundial em defesa deste óleo, afirmando inclusive suas qualidades em relação ao colesterol e doenças do coração. De fato, são as técnicas de transformação, associadas ao preço final do produto, que definem o mercado e a substituição de um óleo pelo outro. Neste sentido, os óleos mais caros (oliva, canola, girassol, milho e mesmo arroz) têm sido consumidos pelos países mais ricos (exceção aos produtores destes óleos). Já o óleo de soja e de palma são produtos de forte consumo junto aos países do Terceiro Mundo. Um mercado de pouco dinheiro, que olha primeiro o preço do produto e depois a qualidade do mesmo. Neste sentido, o aumento tendencial do consumo se sustenta sobre dois eixos: melhoria do nível de vida das populações e crescimento demográfico. Entre 1963 e 1993 o consumo de gorduras por habitante aumentou 57%, na esteira sobretudo do aumento de renda junto aos países desenvolvidos nos anos 60 e pelo crescimento demográfico junto aos países subdesenvolvidos (Ásia, Américas Central e do Sul e África). Nos anos 60, o consumo aumentou em 22% na Europa Ocidental; 19% nos EUA e 65% no Japão frente a uma taxa média mundial de 15%. Entre 1980 e 1993 coube a China puxar o mercado, com um consumo por habitante em crescimento de 65% no período e um consumo total que dobrou em dez anos. Além disso, os óleos vegetais passaram a ser consumidos para fins industriais igualmente, ou seja, um escoamento não-alimentar. Esta é uma tendência para o futuro.

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Mais precisamente, entre 1972 e 1992 ocorre uma reconquista do mercado pelos países subdesenvolvidos. Neste contexto, o mercado Sul-Sul se fortalece. 4 países, juntamente com os EUA e a Europa, passam a dominar o cenário internacional: Malásia, Indonésia, Brasil e Argentina. Os dois primeiros graças ao óleo de palma, o Brasil com a soja e a Argentina com a soja e o girassol. Assim, três produtos ocupam o cenário internacional nesta época: o óleo de palma, a soja (grão, farelo e óleo) e o girassol (grão e óleo). A colza, na sua versão canola, se desenvolve no Canadá e na CEE, se restringindo principalmente ao consumo destas duas regiões. A participação dos países subdesenvolvidos no mercado mundial da soja passa de 21% em 1972 para 43% em 1992. No mercado de óleo de palma a mesma cresce ainda mais no período, passando de 25% em 1972 para 70% em 1992. No total das oleaginosas, tal participação passa de 19% a 45% no mesmo período. Entre 1992/93 e 1998/99 o mercado internacional da soja evoluiu da seguinte maneira: a produção mundial chegou a 156 milhões de toneladas no ano comercial 1998/99, após 158,1 milhões no ano anterior (recorde histórico); o volume produzido se concentrando nos EUA (74,1 milhões de toneladas), Brasil (30,7 milhões de toneladas), Argentina (18,8 milhões de toneladas) e China (13,2 milhões de toneladas); o esmagamento de soja alcançava um total mundial de 133,4 milhões de toneladas, onde os EUA participam com 33,5%, Brasil com 15,9%, Argentina com 12,3%, União Européia com 12% e China com 8%. Assim, o maior importador de grãos de soja continuou sendo a União Européia (16 milhões de toneladas), seguida de longe pelo Japão (4,69 milhões de toneladas), China (3,8 milhões de toneladas) e México (3,5 milhões de toneladas). Por sua vez, a produção de farelo de soja subia a 105,5 milhões de toneladas, concentrada nos EUA, Brasil, Argentina e União Européia. O maior consumo era da União Européia, com 28,4 milhões de toneladas, seguido pelos EUA (27,5 milhões) e China (10,8 milhões). O Brasil consumia apenas 5,9 milhões de toneladas, confirmando uma constância dos últimos 10 anos. O maior importador de farelo de soja se confirmou como sendo a União Européia, com 17,2 milhões de toneladas, ou seja, 47% do comércio mundial do produto. Por fim, a produção de óleo de soja se manteve estacionada em torno de 24 milhões de toneladas, onde o maior produtor era os EUA (8,4 milhões de toneladas), o Brasil (4,0 milhões) e Argentina (2,9 milhões de toneladas). As importações mundiais ficavam em apenas 7,6 milhões de toneladas, com o maior importador sendo a China (1,0 milhão de toneladas). Neste ponto, o óleo de palma assumiu uma liderança incontestável, com 18,8 milhões de toneladas produzidas e 12,3 milhões de toneladas consumidas no mundo inteiro. Paralelamente, os estoques finais de grãos oleaginosos deram um salto, passando de 31,1 milhões de toneladas em 1992/93 para 37,8 milhões em 1998/99. No mesmo período, os estoques finais de soja aumentaram de 25 milhões para 30,8 milhões de toneladas. Este fator levou a um recuo dos preços da soja no período, cortado por um breve momento de alta, registrado entre 1995 e 1997. Assim, o mundo passa de um relativo período de equilíbrio no mercado de oleaginosas, entre 1963 e 1973, fato que estimula o conhecido “boom” da soja no sul do Brasil, para um período de excedente a partir de então. Na verdade, os altos preços no início dos anos 70, estimularam um aumento na produção mundial de oleaginosas, em especial a da soja. Isto levou a um crescimento dos estoques. Como resultado, uma tendência baixista nos preços se instala aos poucos, porém, de forma estrutural. Esta tendência irá se cristalizar a partir de 1984, definindo uma nova realidade de mercado, com preços médios mais baixos. Assim, nos últimos 15 anos (1984 a 1999), apenas no ano de 1988/89 e no período de 1995 a 1997, os preços mundiais estiveram largamente acima da média histórica.

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Este novo patamar de preços se instala diante de um mercado que produz cada vez mais volumes enquanto o consumo estagna relativamente. Tal situação piora o quadro já difícil da sojicultura brasileira, em especial dos pequenos produtores do sul do país, apontando para a necessidade de mudanças no modelo de produção local.

2 - O Período Recente: 1990-2000

A economia da soja assumiu um papel de extrema importância no cenário agrícola brasileiro ao influir nas discussões sobre pesquisa, tecnologia, agroindústria, cadeias produtivas e infra-estrutura. Em virtude disso, ela pode ser confundida com o próprio processo de modernização da agricultura brasileira, justamente por sua expansão ser responsável por um sem-número de novos processos que foram se desenvolvendo. Neste sentido, a mecanização, seja de plantio, colheita ou processamento de grãos têm a soja como grande indutor. Da mesma forma, estruturas de armazenagem, processamento, transporte e exportação foram bastante ampliadas a partir do significativo aumento da produção e expandiram-se fora das regiões tradicionais para seguir os passos desta cultura desbravadora. Igualmente, os setores agroindustriais, especialmente na área de carnes, ampliaram as suas atividades, assim como as cooperativas e traders também o fizeram, calcadas na oferta interna de grãos e na facilidade de comércio desta commodity, tanto no mercado interno como no externo. Em relação à produção de soja pode-se dizer que foi uma das principais responsáveis pela introdução do conceito de agronegócio no país, não só pelo volume físico e financeiro envolvido, mas também pela necessidade da visão empresarial de administração da atividade por parte dos produtores, fornecedores de insumos, processadores da matéria-prima e negociantes. Baseado num contexto de mundialização da economia e liberalização dos mercados, onde a formação de blocos econômicos ganha forças irreversíveis, a agricultura, destacando aqui a economia da soja, se vê confrontada a novos desafios, já que a competição tende a crescer e o processo, não sendo assimilado, é fortemente excludente, gerando importantes desafios sociais e econômicos ao Brasil e especialmente ao Estado do Rio Grande do Sul . Assim, neste capítulo pretende-se traçar um perfil do complexo agroindustrial da soja em nível mundial, e seus impactos sobre a produção brasileira e regional no período que compreende a década de 1990, procurando apontar as perspectivas, oportunidades e riscos dos seus diversos setores. Para uma melhor compreensão do estudo, dividiu-se em três pontos principais: mercado mundial; o Brasil e a evolução recente da cultura da soja; e o perfil da produção da soja no Rio Grande do Sul. 2.1 - O Mercado

Ao analisar-se em termos regionais, é significativo o crescimento da produção e da produtividade no Mato Grosso, que assumiu, na safra de 1995/96, a posição de segundo maior produtor brasileiro de soja e, em 1996/97, foi detentor da maior produtividade nacional, com

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2.730 Kg/ha, em média, frente a uma média nacional de 2.406Kg/há, passando a liderança nacional na produção no final da década. Tecnologia, terras planas e regularidade climática explicam a liderança na produtividade e o crescimento da produção. A tal ponto que em 2000, este Estado já era o maior produtor de soja do Brasil, seguido do Paraná e do Rio Grande do Sul. O Estado berço da cultura da soja, Rio Grande do Sul, apresenta grandes variações de produção e produtividade em razão das flutuações climáticas prejudiciais à cultura. Em função das frustrações de safra, a área plantada tem diminuído e o Estado apresenta a mais baixa produtividade média entre os produtores do país.

O Paraná, atual segundo produtor brasileiro, após um período de estagnação na década de 80, apresentou, nos anos 90, um vigoroso crescimento, tanto na área como de produtividade, fruto de investimento em pesquisa e tecnologia de entidades governamentais e institutos privados de pesquisa. Já na Bahia, o crescimento da produção é decorrente da implantação e desenvolvimento do pólo agroindustrial de Barreiras, onde se localiza praticamente toda a produção de soja do Estado. Esta, a partir de 1987, mantém um crescimento médio de 12,7% ao ano. O movimento de implantação de novas áreas de cultura se dá quase que em sua totalidade em regiões do Cerrado, seja do Mato Grosso, na Bahia, em Goiás, na região de Balsas, no Maranhão, e mais recentemente no Piauí. Os Estados do Centro-Oeste, que em 1980 tinham 14% da área brasileira ocupada com soja, contra 77% da região Sul, em 1998 passaram a 36%, enquanto que a região Sul diminuiu sua área para apenas 48%. Por sua vez, a soja do Cerrado, que representava 16% da área total em 1980, passou a ocupar 45% em 1998. Na verdade, esta análise das características da produção dos Estados brasileiros demonstra o dinamismo do Mato Grosso, do Paraná, de Goiás e da Bahia, que apresentam crescimentos constantes, enquanto que o Rio Grande Sul e Mato Grosso do Sul mostram variações significativas de produção entre safras. Neste contexto, a soja tem sido o elemento indutor do desenvolvimento da região do Cerrado, não só ocupando áreas antes improdutivas e avançando sobre regiões de bovinocultura extensiva, mas também fixando atividades ligadas à produção, comercialização e industrialização da oleaginosa. Acompanhando seu desenvolvimento, outras culturas têm se expandido consideravelmente, sobretudo a safrinha de milho. A “safrinha” de milho foi de 4,1 milhões de toneladas em 1997, representando 11,8% da safra deste cereal e cerca de 5% de toda a safra brasileira de grãos. Em relação aos custos de produção, verifica-se que as diferenças entre o Cerrado (Rio Verde, em Goiás, e Itiquira, no Mato Grosso), não são tão grandes. Os custos podem variar na faixa de US$ 9,98 a US$ 10,92 por saca, para uma produtividade de 2.700 quilos/ha. Isso ocorre em virtude da compensação de custos: enquanto o Paraná tem custos menores de insumos, no Cerrado o custo de mão-de-obra e remuneração da terra são mais baixos.

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O custo do frete no Paraná, em 1998, passou a ter um forte adicional dos pedágios

implantados nas rodovias do Estado. Mas, uma medida do governo paranaense isentou a safra do Paraná do pedágio, gerando uma vantagem deste Estado em relação aos demais. O preço do frete (normalmente rodoviário) faz grande pressão sobre os custos, que chegam a valores superiores a R$ 60 por tonelada (Mato Grosso - Paranaguá), representando um aumento de custo, neste caso, superior a 25%. Esse valor acaba sendo imputado ao produtor, diminuindo, assim, a rentabilidade da cultura. Em termos de área plantada no território nacional, os Estados do Sul, representavam mais de 90% no começo dos anos 60. Eles mantêm hoje uma participação de 40%. Nesse mesmo período emergiu o Centro-Oeste, hoje o primeiro produtor, com 45% da área plantada, taxa que ao que tudo indica ainda tem muito a crescer. A região Sudeste nunca superou o percentual de 10%, aparente marca de seu limite.

Espera-se, com o tempo, uma redução da área plantada com soja em todos os Estados das regiões Sul e Sudeste, onde deve haver cessão de área para a lavoura de milho. Embora tal decisão seja conjuntural, ano a ano conforme os preços. No Centro-Oeste deve-se manter relativa estabilidade nos Estados de Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal e crescimento de área apenas no Mato Grosso. Também devem crescer as áreas de soja em Tocantins, Maranhão, Piauí e Bahia. Certamente o plantio, após atingir mais de 13 milhões de hectares, no final dos anos 90, tende a crescer mais nos anos seguintes (para a safra 2001/02 o mesmo chegava a mais de 15 milhões de hectares). No entanto, em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Bahia, uma parcela das áreas mais nobres plantadas com soja podem migrar para culturas de milho e algodão, que são mais rentáveis por área que a soja. O grande limitador da expansão dessas lavouras nos Cerrados é a baixa liquidez que, no entanto, melhorou bastante nos últimos anos, em especial para o milho. Na verdade, a região do cerrado central, no Centro-Oeste, e setentrional, no Norte e Nordeste brasileiro, tem cerca de 40 milhões de hectares próprios para a produção de grãos. Com a abertura e exploração de metade da área será possível obter 50 milhões de toneladas de soja, igualando-se à produção norte-americana atual. Nesta região, na composição do custo está a mão-de-obra barata, fertilidade do solo, clima favorável, variedades de soja adaptadas pela pesquisa ao cerrado e o preço barato da terra na região. Conforme o gráfico 1, constata-se que ao longo da década de 1990 as regiões brasileiras demonstraram uma trajetória crescente de aumento de sua produção. Entretanto, a região que apresentou um maior salto de produção foi a Centro-Oeste. Já a região Sul passou por pontos altos e baixos. Com relação às regiões Norte, Nordeste e Sudeste, percebe-se que estas não demonstraram significativos aumentos, podendo-se até dizer que a produção nestas regiões praticamente permaneceu estável.

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Gráfico 1 - Evolução das Regiões Produtoras de Soja (1990-2000) -1000T

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Fonte: CONAB

3 - As Cooperativas Agrícolas Gaúchas Diante da Evolução da Economia da Soja Esta parte traduz as informações obtidas e analisadas com base em pesquisa realizada junto às cooperativas agrícolas, recebedoras de soja, do Estado do Rio Grande do Sul. De um universo escolhido de 63 cooperativas em operação, resultou uma amostra de 21 cooperativas entrevistadas. Isto corresponde a 33% do universo. 3.1 - Aumenta a Capacidade de Armazenamento Nos últimos 30 anos a capacidade de armazenamento das cooperativas cresceu de forma relativa. Na década de 1970, um total de 78% das mesmas possuía até 100.000 toneladas de capacidade armazenadora. Deste total, 45% possuía entre 51.000 e 100.000 toneladas de capacidade armazenadora. Por sua vez, nos anos de 1980, um total de 76% das cooperativas passou a ter entre 11.000 e 500.000 toneladas, sendo que 69% destas ficavam entre 51.000 e 500.000 toneladas. O número de cooperativas na faixa de 101.000 a 500.000 toneladas de capacidade armazenadora mais do que dobra entre as décadas de 1970 e 1980. Por fim, na década de 1990, um total de 85% das cooperativas passou a possuir entre 11.000 e 500.000 toneladas de capacidade armazenadora. Deste total, 70% ficavam entre 51.000 e 500.000 toneladas. O número de empresas com capacidade de armazenagem entre 101.000 e 500.000 toneladas cresceu 80%, consolidando esta faixa como a de maior presença de empresas no total geral. 3.2 - Aumenta a Capacidade de Armazenamento em Soja Quanto ao volume armazenado em soja, as cooperativas agrícolas entrevistadas informaram que, na década de 1970, praticamente a totalidade armazenava até 100.000

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toneladas do produto anualmente. Sendo que 67% do total geral indicavam uma armazenagem entre 11.000 e 100.000 toneladas de soja. Por sua vez, na década de 1980 a armazenagem de soja das cooperativas se concentrava em 81% em até 100.000 toneladas, sendo que destas, 38,5% armazenavam até 10.000 toneladas; outros 38,5% armazenavam entre 11.000 e 50.000 toneladas de soja; e 23% armazenavam entre 51.000 e 100.000 toneladas da oleaginosa anualmente. Já na década de 1990 esta armazenagem se manteve importante nas três faixas consideradas, com 26% em até 10.000 toneladas; 32% entre 11.000 e 50.000 toneladas; 16% entre 51.000 e 100.000 toneladas. O fato novo foi o aumento de cooperativas armazenando entre 101.000 e 500.000 toneladas de soja. Sua participação no total alcança, nesta década, 21% contra 12% apenas na década de 1980 e nenhuma na década de 1970. 3.3 - Cooperativas com até 5.000 Associados são Maioria Nas três décadas, a maioria das cooperativas registrou um número de até 5.000 associados. Poucas são aquelas que ultrapassam este número. Assim, na década de 1970 encontramos 25% das cooperativas nas seguintes faixas: com até 1.000 associados; entre 1.001 e 2.500 associados; entre 2.501 e 5.000 associados. Registra-se que 12,5% das cooperativas entrevistas possuíam acima de 10.000 associados. Por sua vez, na década de 1980, encontramos 67% das cooperativas com até 5.000 associados. Destas, 28% possuíam até 1.000 associados; 11% tinham entre 1.001 e 2.500 associados; e 28% novamente registravam um número 2.501 e 5.000 associados. Nota-se que o número de cooperativas com mais de 10.000 associados dobrou em relação a década anterior, chegando a 22% do total das cooperativas nos anos de 1980. Nos anos de 1990 o maior percentual de cooperativas (75%) registra um total máximo de até 5.000 associados. Deste total, 25% tinham até 1.000 produtores associados; 20% possuíam entre 1.001 e 2.500 associados; e 30% tinham entre 2.501 e 5.000 associados. Nesta década, cai para 15% o número de cooperativas que possuíam mais de 10.000 associados. 3.4 - Os Produtores de Soja são Maioria Dentre os Associados Na década de 1970, 66% das cooperativas entrevistas indicavam que os sojicultores se constituíam na maioria do seu quadro social. 20% das mesmas possuíam entre 61 e 80% dos associados sendo produtores de soja. Um total de 46% das cooperativas registrava um quadro social composto entre 81 e 100% de produtores de soja. Registra-se que 20% das cooperativas tinham somente 20% de seus associados como produtores de soja. Nos anos de 1980, nota-se que 60% das cooperativas possuíam entre 61% e 100% de seus associados como sendo produtores de soja. Este percentual é um pouco menor do que o registrado na década anterior. Ainda se evidenciou que 11% das cooperativas tinham até 20% de associados produtores de soja, com queda de nove pontos percentuais em relação a década de 1970. Enfim, 27% das cooperativas tinham entre 21% e 60% de associados produtores de soja. Já na década de 1990, aumenta novamente o percentual de cooperativas que possuem a maioria de seus associados como sendo produtores de soja. O mesmo alcança 70% das

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empresas. Nestas, entre 61% e 100% dos produtores são os de soja. Deste total, 50% das cooperativas possuem entre 81% e 100% de seus associados como sendo produtores da oleaginosa. Destaca-se ainda que os outros 30% das cooperativas possuem como associados, em até 60%, os produtores de soja. Deste total, 15% das empresas têm, do total de associados, entre 21% e 40% como sendo produtores de soja. Ou seja, os produtores de soja se mantêm como sendo a maioria dos associados das cooperativas, mesmo no final do século XX, quando o processo de diversificação agrícola aumentou. 3.5 - Cresce o Latifúndio na Região da Soja O minifúndio na região produtora de soja, considerado aqui como as propriedades possuindo até 50 hectares, recua significativamente nas três décadas de desenvolvimento da soja no Rio Grande do Sul. Assim, na década de 1970, as propriedades rurais produtoras da oleaginosa, com até 50 hectares, representavam 76,1% do total. As médias propriedades (entre 51 e 100 hectares) ficavam com 9,6% do total. O restante cabia às grandes propriedades (acima de 100 hectares), existindo 4,27% das mesmas com mais de 500 hectares. Por sua vez, na década de 1980, o percentual de propriedades abaixo de 50 hectares recuou para 67%. Enquanto isto, aumentou o número das médias propriedades, o qual passa a representar 15,2% do total junto a região produtora de soja no Estado. Igualmente as grandes propriedades aumentam, passando a representar 5,6% do conjunto. Enfim, na década de 1990, o recuo das propriedades menores (de até 50 hectares) continua. As mesmas representam “apenas” 59,5% do total, confirmando uma queda de quase 17 pontos percentuais. Já as médias propriedades (entre 51 e 100 hectares) diminuem igualmente nesta década, passando a representar 12,8% do total. O dado significativo é o aumento expressivo das grandes propriedades na região, as quais chegam a 7,2% do total. Isto representa um crescimento de três pontos percentuais em 30 anos. Este comportamento está dentro da lógica que a soja exige. Ou seja, um aumento de escala de produção horizontal, isto é, via aumento da área cultivada. Ao mesmo tempo, o mesmo indica que a região tendeu a se especializar na produção de grãos, apesar da introdução da diversificação agropecuária. O recuo significativo do minifúndio atesta esta realidade. 3.6 - Concentração no Faturamento Quanto ao faturamento encontrado junto às cooperativas de soja, temos que, nos anos de 1970, havia uma grande maioria (50%) que registrava um total anual faturado de até US$ 5 milhões. Deste grupo, cerca de 66,7% ficavam na faixa entre US$ 1 e US$ 5 milhões. Na época, encontrava-se igualmente 33% das cooperativas com um faturamento entre US$ 10 e US$ 50 milhões, e 16,7% do total com um faturamento expressivo, superior a US$ 100 milhões. Na década seguinte o quadro se altera. Encontra-se 46% das empresas com um faturamento entre US$ 10 e US$ 50 milhões. Por outro lado, 30,7% das cooperativas registravam um faturamento total anual de até US$ 5 milhões, sendo que deste, 75% ficavam na faixa entre US$ 1 e US$ 5 milhões faturados. Neste período, encontra-se 7,7% das

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cooperativas com faturamento na faixa de US$ 50 a US$ 100 milhões e 15,3% na faixa acima de US$ 100 milhões. Já na década de 1990, as cooperativas em torno de um faturamento entre US$ 10 e US$ 50 milhões representam 43,7% do total. Por sua vez, outros 31,2% ficam com até US$ 10 milhões de faturamento. O grupo acima de US$ 100 milhões passa a representar 18,7% do total. Nota-se igualmente uma concentração das cooperativas, com as de menor faturamento cedendo espaço para as maiores, porém, em um ritmo menos acelerado do que o verificado no contexto da estrutura fundiária. 3.7 - Cai a Participação da Soja no Faturamento Neste faturamento anual, a soja tem uma participação importante, porém, em queda. De fato, nos anos de 1970, temos que 68,7% das cooperativas tinham a soja como razão de um faturamento entre 41% e 60% do total da empresa. Este recua para 38,9% nos anos de 1980 e para 30% na década de 1990. Enquanto isto, a soja representava até 40% do faturamento para um total de 18,7% das cooperativas, na década de 1970. Nos anos de 1980 este percentual passa para 55,5% das cooperativas nesta faixa de faturamento. Já nos anos de 1990, o mesmo cresce para 65% das cooperativas. Destas, 50% tem na soja a razão de um faturamento entre 21% e 40%. Por outro lado, 12,5% das cooperativas registravam uma participação da soja, no faturamento global, entre 61% e 80% na década de 1970. Nos anos de 1980 este percentual cai para apenas 5,5%, mantendo-se neste patamar na década de 1990. Nota-se, portanto, que apesar da concentração da área rural em propriedades maiores e do aumento de produtores de soja associados nas cooperativas, grande parte do faturamento provém de outras atividades, sobretudo na última década. Ou seja, a soja representava uma participação menor no faturamento bruto total das cooperativas, nos anos de 1990, em relação às duas décadas anteriores. Isto se explica pela diversificação da produção agropecuária no Estado e particularmente na região produtora da soja, assim como o recuo dos preços médios da oleaginosa na última década. A diversificação, apoiada diretamente pelas cooperativas, pode ser comercializada pela estrutura destas empresas, facilitando sua penetração. 3.8 - Um Custo de Armazenagem Relativamente Elevado Dentre as respostas obtidas, verificou-se que, na década de 1970, 33% das cooperativas possuíam um custo de armazenagem de até US$ 1,00/tonelada. Na década seguinte, este percentual subiu para 40%, chegando a 46% nos anos de 1990. Por sua vez, nos anos de 1970, encontrava-se 22,2% das cooperativas com um custo entre US$ 1,10 e US$ 4,00 por tonelada. Este percentual fica em 20% na década de 1980, chegando a 23% nos anos de 1990. Nota-se ainda que havia 22,2% de cooperativas, nos anos de 1970, com um custo acima de US$ 10,10 por tonelada. Já nos anos de 1980 havia 30% de empresas com um custo acima de US$ 8,10, sendo que 10% ficavam com um custo superior a US$ 10,10 por tonelada.

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Enfim, na década de 1990, havia 23% das cooperativas com um custo acima de US$ 8,10 por tonelada, sendo que 7,7% destas registravam um custo acima de US$ 10,10 por tonelada. Assim, nota-se que houve um crescimento no número de cooperativas que reduziram seus custos de armazenagem nos 30 anos considerados. No entanto, um número ainda elevado fica com um custo importante até o final do período considerado, sugerindo perda de competitividade. 3.9 - Pequena Capacidade Industrial A pesquisa igualmente indicou que a grande maioria das cooperativas (85%) não possui indústria de trituração. Nas duas primeiras décadas estudadas apenas 15% das cooperativas indicaram a posse de indústria, sendo que nem todas processavam soja. Nos anos de 1990 este percentual passa para 20%. As indústrias das cooperativas estavam em funcionamento no período considerado. Apenas verifica-se que nos anos de 1990 uma empresa, das quatro existentes, deixa de operar. A capacidade de esmagamento se mostra muito variada. Das cooperativas que possuíam indústria, duas apenas responderam a pesquisa. Destas, para os anos de 1970 e 1980, encontrou-se uma com até 500 toneladas de capacidade instalada anual e outra acima de 10.000 toneladas anuais. Já na década de 1990 a pesquisa registrou uma cooperativa com indústria moageira entre 501 e 1.000 toneladas anuais de moagem e outra com uma capacidade instalada entre 1.001 e 5.000 toneladas. Verifica-se que as cooperativas, de forma isolada, nunca tiveram um parque industrial importante. A opção pela agregação de valor foi feita através de centrais e uniões de cooperativas nestes 30 anos. No caso da soja, o exemplo mais concreto foi o da Centralsul e da Unicoop. No entanto, nos dois casos, a crise levou ao fechamento destas empresas. 3.10 - Comercialização Concentrada no Mercado Interno A comercialização de soja, por parte das cooperativas, se manteve bastante difusa nas três décadas estudadas. No que diz respeito ao mercado interno, na década de 1970, havia 23% das empresas que comercializavam até 5.000 toneladas anuais, outros 23% ficavam entre 25.001 e 50.000 toneladas e ainda outros 23% entre 50.001 e 100.000 toneladas. Na década de 1980, havia 28,5% das cooperativas que comercializavam entre 5.001 e 10.000 toneladas anuais. Outros 21,5% foram encontrados na faixa entre 50.001 e 100.000, e também na faixa acima de 100.000 toneladas. Nos anos de 1990, já havia 23,5% comercializando no mercado interno acima de 100.000 toneladas de soja anuais. Por outro lado, encontrava-se 17,6% vendendo até 5.000 toneladas; outros 17,6% comercializando entre 5.001 e 10.000 toneladas; e mais 17,6% vendendo entre 25.001 e 50.000 toneladas de soja. Quanto às vendas para o exterior, apenas duas cooperativas trabalhavam neste mercado diretamente nos anos de 1970. Este número aumenta para quatro empresas na década

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seguinte e para 5 cooperativas na década de 1990. Neste último caso, 40% comercializava um total de até 5.000 toneladas no exterior e outros 40% comercializavam entre 10.001 e 25.000 toneladas. 3.11 - O Preço do Dia é o Instrumento Mais Utilizado O principal mecanismo de comercialização da soja entre o produtor rural e sua cooperativa é o negócio direto, ao preço do dia. Ou seja, o produtor, com base em informações gerais, obtidas no balcão, por telefone e pela imprensa em geral, vende o seu produto ao preço do dia (preço da pedra) à cooperativa. Este sistema, que era praticado por 37,5% das cooperativas na década de 1970, passou a ser usado por 47,6% das empresas nos anos de 1990, após ter alcançado 52,9% nos anos de 1980. Nota-se que o contrato futuro evoluiu nos 30 anos considerados, representando 23,8% dos negócios entre a cooperativa e o produtor na década de 1990. O sistema de venda por lotes, que beneficia sobretudo os maiores produtores, igualmente cresceu, passando de 12,5% nos anos de 1970 para 19% na década de 1990. Chama a atenção o desaparecimento completo dos negócios a preço médio. Os mesmos chegaram a ser praticados por 31,2% das cooperativas nos anos de 1970. Diante da crise financeira do Estado e a redução dos recursos ao setor primário, o sistema troca-troca igualmente ganhou espaço entre as cooperativas. O mesmo, que nos anos de 1970 era praticado por 12,5% das cooperativas, chega a 23,8% das mesmas na década de 1990. Registra-se ainda uma pequena prática, nos anos de 1990, em torno de negócios com soja verde; compra a prazo; e compra com preço a fixar. Quanto aos negócios entre as cooperativas e exportadores, poucas são as empresas cooperativas que exportam diretamente. Neste contexto, na década de 1990, 16,6% das mesmas indicam o uso de corretoras para este tipo de negócio. Outro tanto, indica a prática do preço futuro para com os exportadores. Cita-se ainda, com certa relevância, a prática do preço do dia; fixação de preços na Bolsa de Chicago, no mês de exportação; e venda em lotes. Nas duas décadas anteriores, as práticas mais usadas eram o preço do dia e a venda através de corretoras. No que tange às vendas das cooperativas para as indústrias moageiras, nota-se que nos anos de 1970 a maior prática se dava via preço do dia, com 29,4%. Esta diminui com o passar dos anos, chegando a 23,8% das empresas na década de 1990. Outra prática importante é a comercialização pelo preço futuro. A mesma sai de 17,6% das cooperativas nos anos de 1970 para 19% na década de 1990. Nesta fase da comercialização, três mecanismos eram os mais utilizados, especialmente nas décadas de 1980 e 1990. São eles: contratos; as vendas diretas por telefone; e o uso de corretoras. O conjunto destes três mecanismos era usado por 29,4% do total das cooperativas nos anos de 1970. Já na década de 1990 encontramos 47,6% das empresas usando estes instrumentos. 3.12 - Maior Dificuldade: Vender no Auge da Safra

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As cooperativas detectam diversos problemas nos seus processos de comercialização. Os três mais importantes, que ainda se faziam presentes no final da década de 1990, eram: a necessidade que os produtores associados têm em vender seu produto no auge da safra, geralmente alcançando preços menores devido à pressão da oferta (31,5%); a concorrência com empresas locais privadas, levando o produtor a vender parte de sua produção fora da cooperativa (21%); e um conjunto de problemas que se constituem num só, relacionado diretamente a própria comercialização, a saber: falta de informação; falta de estrutura de armazenagem e frete; e falta de controle sobre os preços (47,1%). Chama a atenção o fato de que apenas 15,7% das cooperativas entrevistas levantaram o tema “falta de informação” como um problema importante. Isto porque se sabe que a maioria dos produtores rurais, historicamente, enfrenta esta situação no que tange a obtenção e análise de informações econômicas e de mercado. Outros problemas citados foram: grande dificuldade dos produtores em entenderem o mercado (apesar de estarem há 30 anos produzindo soja); grande volatilidade da soja e do câmbio; descapitalização dos produtores e, as vezes, das próprias cooperativas; falta de volume suficiente para realizar uma comercialização interessante; concorrência do mercado externo; falta de recursos oficiais; dificuldade para controlar os custos de produção em relação a produtividade; preços agrícolas geralmente baixos. Destaca-se, ainda, o fato de que 10,5% das cooperativas entrevistadas informaram que não existem dificuldades na comercialização da soja por parte de seus associados. 3.13 - Frete é o Maior Problema das Cooperativas Por sua vez, as cooperativas, como empresas, enfrentam problemas bastante específicos quanto a sua prática de comercialização da soja. Os três principais problemas indicados, são: deficiência no sistema de transporte associado à má conservação das estradas, fato que eleva sobremaneira os custos do frete (40%); a concentração dos negócios na mão de poucas empresas privadas (30%); e dificuldades com armazenagem e oscilação dos preços (20% para cada um destes pontos). Observa-se, portanto, que passados mais de 30 anos do início da produção comercial da soja, os problemas mais importantes continuam sendo ligados diretamente à ação de comercializar. Este fato retira boa parte da competitividade do setor, enfraquecendo os ganhos do conjunto da cadeia e se transformando no principal gargalo da mesma. Além disso, foram destacados outros aspectos por parte das cooperativas, os quais se somam aos problemas de gerenciamento empresarial. Dentre eles, temos: dificuldade na formação de lotes com volumes significativos; falta de capital de giro; pequena margem de lucro (a qual está associada aos problemas anteriores); falta de cooperação entre as cooperativas (o que é um paradoxo lamentável); perda de mercado com a produção de soja transgênica (o que está longe ainda de ser comprovado); e crédito à exportação. Por outro lado, 44,4% das cooperativas entrevistas destacaram que a grande diferença entre a comercialização da soja hoje, em relação aos anos passados, está na maior disponibilidade e velocidade das informações. Como em todos os setores econômicos e da vida humana, o acesso à informação em tempo real transformou as relações empresariais e sociais na agropecuária. Isto requer uma grande agilidade dos responsáveis pelos negócios a

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qual, por sua vez, exige uma importante formação (conhecimento) dos mesmos em torno dos temas de sua competência. Para tanto, criam-se cada vez mais equipes de trabalho que, através de banco de dados, municiam os tomadores de decisões. O setor primário em geral, e as cooperativas em particular, estão confrontados a este desafio. 3.14 - Fusão Possibilita Maior Poder de Barganha A grande maioria das cooperativas defende que a fusão das mesmas pode proporcionar maiores ganhos no processo de comercialização. Dentre estes ganhos, destacam-se: a possibilidade de maior poder de barganha , tanto para a compra de insumos como para a venda dos produtos de seus associados (47,6%); maior competitividade nos preços através de maior volume comercializado (38%); e redução de custos operacionais e com pessoal (33%). No entanto, apesar desta consciência, as práticas executadas pelo sistema cooperativista agropecuário do Rio Grande do Sul não resultaram em sucesso permanente. Infelizmente, houve mais fracassos do que acertos e isto levou a desmobilização das cooperativas. Mesmo diante de crises econômico-financeiras importantes o setor não conseguiu estabelecer a contento um processo de fusão e associação, com honrosas exceções, que garantisse um avanço constante na competitividade de suas empresas membros. Estamos diante de um claro exemplo de impotência política do setor, em definir uma forma de organização econômica, que o permita ganhar espaços de mercado e se consolidar nos novos tempos econômicos. Ou seja, todos parecem saber o que fazer, porém, ninguém consegue fazê-lo, fato que freia o avanço do setor. 3.15 - Setor é Favorável à Soja Transgênica Por fim, a pesquisa detectou que 75% das empresas cooperativas entrevistadas se posicionaram favoráveis à soja transgênica. Outras 15% se mostraram sem opinião, enquanto apenas 10% se posicionaram contra esta nova semente. Dentre as principais justificativas em favor da soja transgênica, acompanhando o raciocínio visto com os produtores rurais, está a redução dos custos de produção (53,3%). Outros 26,6% indicam a tendência tecnológica como justificativa importante para a defesa desta semente. Dito isto, evidentemente muitos resguardam o fato de que se torna fundamental haver respostas claras da ciência quanto à segurança do novo produto.

CONCLUSÃO A pesquisa que desenvolvemos partiu de três hipóteses básicas. A primeira diz respeito ao fato de que o modelo de produção de grãos no Noroeste gaúcho, centrado especialmente na soja, não permite mais a sobrevivência econômica dos produtores rurais que trabalham até 50 hectares de terra. Estes produtores são obrigados a uma reconversão do processo produtivo sob pena de serem excluídos do mesmo. Por extensão, tal realidade estaria no cerne da crise das cooperativas agrícolas da região em questão. A segunda hipótese gira em torno da idéia de que a soja continua sendo o motor econômico regional, inclusive das pequenas e médias propriedades familiares. Em não havendo uma política de reconversão promovida pelo Estado, partir para outras atividades não

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seria possível sem os recursos gerados pela oleaginosa. Ou seja, a política de diversificação optada pela região somente se viabiliza graças aos recursos levantados com a produção e comercialização da soja. Enfim, a terceira hipótese considera que as mudanças na economia mundial da soja correspondem a uma nova fase histórica que inviabiliza uma produção regional nascida graças aos subsídios do Estado. Assim, o atual cenário da economia mundial da soja coloca em xeque o sistema de produção no Noroeste do Rio Grande do Sul, provocando uma estagnação do modelo produtivo/comercial anterior. A maioria dos agentes econômicos nacionais e regionais, envolvidos com a economia da soja, não estando preparada para esta mudança, acabou sofrendo alterações consideráveis em seu perfil, fato que atingiu as bases do crescimento econômico do Noroeste gaúcho. Os resultados que obtivemos, quando da conclusão da pesquisa que ora apresentamos, nos remetem a lições importantes. Em primeiro lugar, temos a confirmação de que as propriedades rurais com menos de 50 hectares se encontram em situação bastante difícil e não conseguem mais se manter unicamente com a renda da soja. A crise na produção complementar do trigo colocou definitivamente o modelo soja/trigo em xeque na região e inviabilizou as pequenas e médias propriedades. No entanto, se é verdade que boa parte das propriedades acabaram abandonando a produção de trigo, pelo menos em escala comercial, igualmente é verdade que estas propriedades jamais abandonaram a soja. Assim, surgiu um modelo alternativo que favoreceu efetivamente a diversificação das atividades na propriedade rural, porém, sempre mantendo a soja como um dos elementos econômicos centrais. Isto confirma que a soja é um elemento ainda decisivo no conjunto da renda destas propriedades menores e que a mesma deve ser vista, hoje, não mais como uma atividade única e central mas sim como fonte importante de renda no contexto de uma visão sistêmica da propriedade rural. A segunda lição nos remete a segunda hipótese. Ou seja, a soja continua sendo o motor econômico regional, porém, não permite a sobrevivência das pequenas e médias propriedades rurais quando vista isoladamente. Os altos custos de produção, a estagnação em baixa dos preços internacionais da oleaginosa, e a incapacidade destes produtores em assimilarem novas técnicas de comercialização, os obriga a modificarem seu sistema de produção. A diversificação se impôs. Porém, na falta de subsídios oficiais consistentes, ela busca na renda da soja o financiamento para se concretizar. Em outras palavras, a mudança de modelo econômico regional se dá graças à renda proporcionada pela soja. Esta constatação gera uma nova hipótese: tal realidade não favoreceu diretamente os pequenos e médios produtores mas sim suas cooperativas. Foi através delas, graças à constante renda da soja, que a diversificação da produção agropecuária regional pôde se desenvolver e manter um maior número de produtores no campo. A terceira lição é de que as mudanças na economia mundial da soja, por mais importantes que tenham sido, não chegaram a colocar diretamente em xeque a produção regional. Ou seja, a terceira hipótese, sob este ângulo, se confirma apenas parcialmente em nosso entender. Dito de outra forma, a perda de competitividade de grande parte dos pequenos e médios produtores de soja, na região Noroeste do Rio Grande do Sul, se deu muito mais pela retirada dos altos subsídios oficiais e pela perda de espaço sofrida pelo trigo, cultura complementar na geração de renda e cobertura de custos, junto às propriedades rurais da região. Dito isto, fica evidente que a economia mundial da soja se modificou, exigindo maior escala de produção e, especialmente, maior conhecimento mercadológico por parte dos

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produtores. Neste ponto, por falta de condições para atuarem com os novos instrumentos de comercialização que surgiram, sobretudo a partir da segunda metade da década de 1990, os produtores têm apostado na redução de custos de produção. Isto explica o enorme espaço ganho pelo sistema de plantio direto assim como o crescente interesse dos produtores pela soja transgênica, embora sendo a mesma, até o momento, proibida no país. Esta posição é reforçada por suas cooperativas agrícolas na medida em que 75% das mesmas se dizem igualmente favoráveis a esta soja. Enfim, não há dúvida de que o perfil dos produtores mudou, não importando o tamanho de área que possuam. Não há dúvida igualmente de que a economia mundial da soja é, hoje, muito mais competitiva e exigente em termos comerciais. Isto provoca naturalmente uma seleção junto aos produtores rurais. Esta seleção somente não foi mais aguda nos últimos anos do século XX porque a renda da propriedade rural passou a depender menos da soja. Dito isto, a oleaginosa ainda continua sendo uma fonte essencial de renda, mesmo para os pequenos produtores regionais. Mas a manutenção da atividade rural não pode mais depender unicamente da soja, fato que o leva a buscar eficiência e profissionalização igualmente nas demais atividades que geram renda para o conjunto do seu sistema produtivo. Dito de outra forma, a soja é o produto essencial na geração de renda que alavanca as demais atividades da propriedade, porém, a pequena e média propriedade não podem mais depender exclusivamente dela para sobreviver. A realidade encontrada junto aos produtores rurais da região nos mostrou que a transição de um modelo para outro ainda se passa com dificuldades para muitos, mesmo tendo ela iniciado há cerca de 20 anos. Assim, um contingente elevado, em torno de 25% das pequenas e médias propriedades com até 50 hectares, não tem conseguido resultados suficientes para se manterem na produção de soja. Neste caso, ou tais produtores serão excluídos do processo produtivo rapidamente ou, paradoxalmente, outras atividades econômicas começarão a financiar a produção de soja em suas propriedades. À condição, evidentemente, que tais atividades gerem renda suficiente para tal exercício econômico. Em caso contrário, para estes produtores, a alternativa tende a ser o abandono da soja em favor de outras atividades mais rentáveis. Uma decisão culturalmente impensável ainda hoje para a grande maioria dos produtores regionais. No que tange às indústrias moageiras de soja, instaladas no Rio Grande do Sul, se constatou que nestes 30 anos de produção da oleaginosa, a capacidade ociosa diminuiu, porém, não desapareceu. Há mesma beirava os 30% no final dos anos de 1990. Esta redução se dá especialmente pela diminuição da capacidade instalada ativa. Além disso há, cada vez mais, uma concentração de poucas empresas nesta atividade. Isto não tem facilitado a comercialização da soja por parte dos produtores, que se vêem às voltas com muito poucos compradores. Igualmente, coloca as cooperativas como reféns de algumas empresas quando da comercialização da oleaginosa. A redução do poder de barganha das cooperativas se evidencia especialmente quando de uma safra “cheia”. Neste contexto, a pesquisa igualmente nos mostrou que as cooperativas aumentaram, no período estudado, suas capacidades de armazenamento. Este aumento se deu especialmente em torno do crescimento da participação da soja nesta armazenagem. Ou seja, se por um lado a região e o Estado assistem a uma relativa concentração da produção na mão de produtores maiores em área, por outro lado, as cooperativas foram obrigadas a aumentarem sua recepção do produto visando acompanhar o crescimento do volume global produzido até um determinado período (meados dos anos de 1990). Verificou-se igualmente que as cooperativas

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com até 5.000 associados correspondem a 75% do total, sendo que destas, 45% possuem até 2.500 associados. Destes associados, mesmo com o impulso da diversificação, os produtores de soja continuam sendo a maioria. Isto é, 70% das cooperativas têm entre 61% e 100% de seus associados como sendo produtores de soja. Destes 70%, cerca de 50% das cooperativas possuem no seu quadro associativo entre 81% e 100% dos produtores como sendo especializados em soja. Isto confirma que a soja continua sendo uma fonte de renda essencial para o setor primário regional e mesmo estadual num contexto em que o latifúndio cresce em torno desta atividade. Por outro lado, 50% das cooperativas possuem um faturamento relativamente baixo, chegando a um máximo de US$ 5 milhões anuais, com queda na participação da soja neste total. Ou seja, a diversificação não parece levar a um crescimento no faturamento da cooperativa na razão direta em que a soja perde seu espaço na sua região de atuação. Além disso, o estudo destaca que as cooperativas, com raras exceções, não possuem grande competitividade. Um bom número acusou um custo de armazenagem elevado, além de pouca capacidade industrial, fato que impede a agregação de valor aos produtos coletados. Neste sentido, dentre os principais problemas levantados pelas mesmas, destaca-se o fato de a maioria depender do mercado interno, ou seja, das poucas indústrias existentes no Estado. Afora isto, o preço do dia continua sendo o mecanismo de comercialização mais utilizado. Ora, o mesmo não deixa muitas margens para um ganho maior no processo de comercialização, na medida em que a maioria dos produtores ainda continua vendendo do auge da safra, quando os preços normalmente estão mais baixos. Soma-se a isto o fato de que o custo do transporte continua sendo um dos pontos mais importantes na formação dos preços da soja. Em 30 anos de vida, a atividade soja ainda não conseguiu superar este problema crônico. Muito, em função da característica do transporte brasileiro, centrado em caminhões e sobre estradas nem sempre adequadas. As ferrovias e hidrovias não sendo, ainda hoje, uma alternativa eficiente. Aliás, no caso das primeiras, a eficiência foi até maior na década de 1970 em relação ao final do século XX. Enfim, as cooperativas reconhecem as dificuldades empresariais que vêm enfrentando no mundo globalizado de hoje e defendem a idéia de que as fusões, entre si e até mesmo com a iniciativa privada, podem ser um encaminhamento para um ganho de competitividade e suas permanências no processo econômico atual. O interessante é que na prática pouco ou nada se consegue de significativo neste sentido. As razões políticas têm superado, de longe, as razões econômicas, impedindo maior agilidade deste setor e sacrificando parte do crescimento do setor primário estadual ligado à soja. 5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Livros: BRUM, A. L. O Brasil na História da Economia Mundial da Soja. Ijuí : Ed. UNIJUI, 1993. 52 p. ___________& BELARMINO, L. C. Sul do Rio Grande: economia e mercado agropecuário

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