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História de Israel 1 SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

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História de Israel

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

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História de Israel

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

SUMÁRIO:

CONCEITO GERAL DA HISTÓRIA DE ISRAEL

INTRODUÇÃO

1 - A OCUPAÇÃO DE CANAÃ.

1.1. Era de conquistas

1.1.1. A conquista

1.1.2. A divisão de Canaã

1.2. Análise moral da conquista de Canaã

1.2.1. Devido à degradante religião de Canaã

1.2.2. Devido à sua cultura corrompida

1.2.3. Devido às admoestações e paciência de Deus

1.2.4. Devido à comissão divina de Israel

1.2.5. Devido às promessas da aliança feita por Deus

2 - CONDIÇÕES RELIGIOSAS, POLÍTICAS E SOCIAIS

2.1. Tempo de transição sob a liderança de Eli e Samuel

2.2. O primeiro rei de Israel

2.3. A união de Israel sob Davi e Salomão

2.3.1. União e expansão Davídicas

2.4. O rei de Judá

2.5. Pecado na família real

2.5.1. Pecado de Davi com Bate-Seba

2.6. Tragédia dos Filhos de Davi

2.7. A Era Áurea de Salomão

2.8. Estabelecimento do Trono

2.9. Organização do reino

2.10. A construção do templo

2.10.1. Dedicação do Templo

2.11. A apostasia e suas conseqüências

2.12. A monarquia unida

2.12.1. O reinado de Salomão marca o apogeu e declínio da monarquia israelita

2.12.2. A monarquia dividida

2.14. O reino do Sul

2.15. O papel dos profetas

2.16. O cativeiro

2.17. O período interbíblico

2.18. O fim do período do AT e o início do período Persa

2.19. O período grego

2.20. A palestina sob o domínio dos Ptolomeus (período egípcio)

2.21. Antíoco e a revolta Macabéia

2.22. O período romano

2.23. O império Grego

2.24. O império Romano

2.25. Evangelho – Boas novas

CONCLUSÃO

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO MARCOS BATISTA - Curso Básico em Teologia

CONCEITO GERAL DA HISTÓRIA DE ISRAEL

INTRODUÇÃO

3000 (+ ou -) – Nasce Noé, que acha graça diante de Deus e foi escolhido para

construir a arca que subsistiria ao dilúvio. Filho de Matusalém, o homem que mais

viveu, segundo a Bíblia, que viveu cerca de 969 anos. Noé viveu 600 anos e então veio

o diluvio que durou 375 dias. De Noé saíram Sem, Cão e Jafé. Os judeus são

descendência de Sem.

2160 – Nasce Abrão em Ur dos Caldeus, na Mesopotâmia, que viria a ser o

patriarca do povo judeu, possuídos da promessa feita por Deus. O Senhor o chamou e

disse para que seguisse no deserto a caminho de uma terra desconhecida. Levando

seu sobrinho Ló consigo chegou a Canaã prometida passando mais tarde para o Egito

por causa da fome. Separaram-se Abraão e Ló e Deus lhe promete um Filho, apesar

de sua idade avançada.

2060 – Isaque nasce (Gn 21.1-7). Como havia prometido Deus a Abraão, seria

ele o primogênito de toda uma nação sendo um tipo de Cristo. Isaque casa-se com

Rebeca e continua a genealogia de Jesus (Gn 24).

2000 – Nascem Jacó e Esaú, Jacó usurpa a bênção da progenitura de Esaú (Gn

27.1-45). Esaú ira-se contra Jacó e este foge em direção a Betel onde teve o sonho da

escada com anjos. Jacó casa-se com Raquel, depois de ter sido enganado por Labão.

Jacó e Esaú se reencontra. Jacó luta com Deus no Jaboque e tem o nome mudado

para Israel Jacó teve doze Filhos que vieram a ser os doze patriarcas da tribo de Israel,

e uma Filha, Diná.

1889 – Nasce José, o filho preferido de Jacó que foi vendido ao Egito por seus

irmãos. No Egito prosperou pela mão do Senhor e se tornou ministro. Nesse tempo os

Hicsos tinham o poder sobre o Egito por ocasião da queda da XIII dinastia egípcia.

1870 – Jacó e seus filhos descem para o Egito por causa da fome, José apesar

de humilhado recebeu-os e cuidou deles (Gn 46). Os hebreus permanecem no Egito

por 430 anos.

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1580 – Nesse período os Hicsos são expulsos. A Síria e a Palestina tornaram-se

tributárias de Egito. A terra é devolvida à coroa e os hebreus são escravizados.

1520 - Nasce Moisés. Totmés I governa o Egito. Moisés é colocado nas águas e

encontrado pela Filha de faraó (Êx 2).

1497 – Totmés I morre e é substituído por Totmés II que reina só quatro anos.

1493 – HATSHEPSUT, que resgatou Moisés das águas torna-se rainha do

Egito.

1480 – Moisés comete um homicídio e foge para Midiã, onde se casa com

Zípora, filha de Jetro.

1448 – Moisés é chamado por Deus e volta ao Egito para livrar o povo (Êx 3.1 –

4.31). Depois de contatar com Faraó e prevalecer através de sinais e prodígios, entre

eles as dez pragas (Êx 5.1 – 11.10) e celebrar a páscoa (Êx 12.1-13.19) o Senhor livra

o povo através de Moisés depois de 430 anos assim como havia prometido a Abraão

Isaque e Jacó (Êx 2.24).

1440 – O povo sai do Egito e vai em direção a terra prometida depois de verem

os inimigos se afogarem no mar vermelho (Êx 14). No deserto as águas do mar se

tornam doces (Êx 15) há provisão de cordonizes, maná (Êx 16.1-36) e água da rocha

(Êx 17.1-7), depois disso surgem os problemas domésticos e externos, como a visita

de Jetro e a batalha contra os amalequitas (Êx 17.8-16) e (Êx 18.1-27). Deus faz

chamada ao pacto (Êx 19.1-25) e dá o decálogo (Êx 20.1-21) e as leis litúrgicas (Êx

20.21-26), também as leis civis e criminais (Êx 21.1-22.17) e as leis morais e religiosas

(Êx 22.18–23.19), Deus dá ordenanças a respeito do tabernáculo (Êx 24.15-31.18),

que é cumprida mais adiante (Êx 35.1-40.38). É feito um recenseamento (Nm 1.1-46) e

Moisés envia espias à terra prometida (Nm 33.50-34.29).

1400 – Morre Moisés ao avistar a terra prometida do cume de Pisga, no monte

Nebo, nas campinas de Moabe (Dt 34.1-12).

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1 - A OCUPAÇÃO DE CANAÃ.

2.13. O reino do Norte (924 a 722 a.C.) Chegara o dia há muito esperado.

Tendo morrido Moisés, Josué foi comissionado a conduzir a nação de Israel na

conquista da Palestina. Séculos se tinham passado desde que aos patriarcas fora

prometido que seus descendentes herdariam a terra de Canaã. Neste ínterim, cada

geração sucessiva das populações da Palestina fora influenciada por vários povos

provenientes do Crescente Fértil. Motivados por interesses econômicos e militares,

eles atravessavam a terra de Canaã de quando em vez.

O povo de Canaã não foi organizado em fortes unidades políticas. Fatores

geográficos, tanto quanto a pressão de nações circunvizinhas, no Crescente Fértil, que

se utilizavam de Canaã como território tampão, explicam o fato de que os Cananeus

jamais foram um império forte e integrado. Numerosas cidades-estados controlavam

tanto o território quanto possível, com a cidade bem fortificada de forma a resistir a

possíveis ataques inimigos, quando Canaã era atravessada por exércitos. Essas

cidades com freqüência evitavam ser atacadas mediante o pagamento de um tributo.

Entretanto, quando algum povo vinha ocupar a terra, como Israel fez sob Josué, essas

cidades-estados formavam ligas e se uniam para resistir ao invasor. Isso é bem

ilustrado no livro de Josué.

A localização da Palestina dentro do Crescente Fértil, e a configuração

geográfica da própria terra, com freqüência afetou seus desenvolvimentos culturais e

políticos. Na palestina aluvial dos rios Tigre e Eufrates, bem como nos vales do Nilo,

Numerosas cidades-estados vassalas e pequenos principados ou distritos por mais de

uma vez se uniram, formando uma só grande nação. Isso não era facilmente realizado

na Síria-Palestina, porquanto a topografia não se moldava a tais amálgamas. Em

resultado disso, Canaã se achava em condições mais débil, já que nenhuma das

cidades-estados se equiparavam em forças às tropas invasoras que vinham de reinos

poderosos ao longo do Nilo ou do Eufrates.

Ao mesmo tempo, Canaã era um prêmio cobiçado por essas nações mais fortes.

Estando localizada entre os dois grandes centros da civilização, Canaã, com seus

vales férteis, por muitas vezes esteve sujeita a invasões de potências maiores. Reinos

minúsculos, sem forças suficientes para resistir a forças invasoras, achavam ser

expediente humilhar-se momentaneamente, pagando tributos a algum reino, como o

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Egito. Contudo, com freqüência, quando o invasor se retirava, os “presentes” eram

interrompidos. Embora essas cidades-estados pudessem ser facilmente conquistadas,

era difícil para os vitoriosos conservarem-nas como possessões permanentes.

A religião de Canaã era politeísta. El era reputado como principal divindade

cananéia. Simbolizando como um touro entre um rebanho de vacas, o povo se referia a

ele como “pai touro”, considerando-o criador. Asera era a esposa de El. Nos dias de

Elias, Jesebel patrocinava a quatrocentos profetas de Asera (veja 1Rs 18.19). O rei

Manassés erigiu a imagem dela no templo de Jerusalém (veja 2Rs 21.7). O primeiro

dentre os setenta deuses e deusas que eram tidos como prole de El e Asera era

Hadade, mais comumente conhecido pelo nome de Baal, que quer dizer “senhor”.

Como monarca reinante dos deuses, ele controlaria os céus e a terra. Por ser deus da

chuva e da tempestade, ele era o responsável pela vegetação e pela fertilidade. Anate,

a deusa amante da guerra, era sua irmã e consorte. No século IX a.C., Astarte, deusa

da estrela vespertina, era adorada como sua esposa. Mote, deus da morte, era o

principal adversário de Baal. Iom, deus do mar, foi derrotado por Baal. Esses e muitos

outros deuses são os primeiros a figurarem no catálogo do panteão cananeu.

Visto que as divindades dos Cananeus não teriam caráter moral, não é de

surpreender que a moralidade daquele povo fosse extremamente baixa. A brutalidade

e imoralidade que se destacam nas narrativas sobre esses deuses é algo muito pior

que qualquer outra coisa vista no Oriente Próximo. E, posto que isso se refletia na

sociedade cananéia, os Cananeus, nos dias de Josué, praticavam sacrifícios de

crianças, a prostituição sagrada e adoração à serpente com seus ritos e cerimonias

religiosas. Naturalmente, a civilização deles se degenerou debaixo dessa influência

desmoralizadora.

As Escrituras testificam sobre essa sórdida condição, mediante Numerosas

proibições que foram dadas como advertências aos israelitas. Essa degradante

influência religiosa já se evidenciava nos dias de Abraão (veja Gn 15.16 e 19.5).

Séculos mais tarde, Moisés encarregou solenemente o seu povo de destruir os

Cananeus – não somente para puni-los por causa de sua iniqüidade, mas também para

impedir a contaminação do povo escolhido por Deus (veja Lv 18.24-28; 20.33; Dt 12.31

e 20.17,l8).

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1.1. Era de conquistas

A experiência e o treinamento haviam preparado Josué para a exaustiva tarefa

de conquistar Canaã. Em Refidim, ele dirigiu o exército israelita na derrota imposta a

Amaleque. Tendo sido espia, ele obtivera conhecimento em primeira mão sobre as

condições vigentes na Palestina (veja um 13-14).

Sob a tutela de Moisés, Josué foi treinado para a liderança, tendo sido

preparado para dirigir a conquista e a ocupação da terra prometida.

Tal qual a narrativa sobre a peregrinação no deserto, o registro das atividades

de Josué é incompleto. Não se faz qualquer menção à conquista da área de Siquém,

entre o monte Ebal e o monte Gerizim, mas foi ali que Josué reuniu o povo inteiro de

Israel para ouvir a leitura da Lei de Moisés (veja Js 8.30-35). Mui provavelmente,

muitas outras áreas e locais foram conquistadas e ocupadas, embora isso não seja

aludido no livro de Josué. Durante o período da vida de Josué a terra de Canaã foi

tomada pelos israelitas, mas de modo algum foram expulsos todos os seus habitantes.

Dessa maneira, o livro de Josué precisava ser considerado como relato apenas parcial

dos empreendimentos de Josué.

1.1.1. A conquista

Acampado em Gilgal, o povo de Israel foi realisticamente preparado para viver

em Canaã, como nação escolhida por Deus. Durante quarenta anos, enquanto a

geração incrédula morria no deserto, a circuncisão, que servia de sinal de relação de

pacto (veja Gn 17.1-27), não fora observada. Por meio desse rito, a nova geração foi

dolorosamente relembrada do pacto e da promessa de Deus de que os introduziria na

terra que “fluía leite e mel”. A entrada na terra também foi assinalada pela observância

da Páscoa e pela cessão da provisão do maná. O povo remido, doravante, consumiria

os frutos da terra.

O próprio Josué fora preparado para a conquista, mediante uma experiência

similar àquela que tivera Moisés, quando Deus o convocou (veja Êx 3). Mediante uma

teofonia, Deus insuflou em Josué a consciência de que a conquista da terra não

dependia somente dele, mas que ele fora divinamente comissionado e dotado. Embora

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fosse o líder responsável por Israel, Josué era apenas um servo, sujeito ao comando

do exército do Senhor (veja Js 5.13-15).

A conquista de Jericó foi uma vitória que serviu de exemplo. Israel não atacou a

cidade de acordo com a estratégia militar regular, mas simplesmente segui as

instruções dadas pelo Senhor. Uma vez por dia, durante seis dias, os israelitas

marchavam ao redor da cidade. No sétimo dia, quando marchavam ao redor das

muralhas por sete vezes, estas ruíram, e eles puderam entrar e tomar conta da cidade.

Mas aos israelitas não foi permitido se apropriarem de qualquer parte dos despojos.

Aquilo que não foi destruído - objetos metálicos - foi depositado no tesouro do Senhor.

Excetuando Raabe e a casa de seu pai, os habitantes de Jericó foram extintos. A

miraculosa conquista de Jericó foi demonstração convincente, para os israelitas, de

que seus inimigos poderiam ser dominados.

Ai, era o próximo alvo a ser conquistado. Seguindo o conselho de sua dupla de

reconhecimento Josué enviou um exército de três mil homens, que sofreram severa

derrota. Uma investigação regada por oração, feita por Josué e pelos anciãos, revelou

o fato que Acã pecara durante a conquista de Jericó, ao apropriar-se de uma atrativa

capa de origem mesopotâmica, além de alguma prata e ouro. Devido a seu deliberado

ato de desafio contra a ordem de devotar todos os despojos ao Senhor. Acã e seus

familiares foram apedrejados no vale de Acor. Sendo-lhe garantido o sucesso, Josué

renovou seus planos para conquistar Ai. De modo contrário ao procedimento anterior,

os israelitas poderiam apossar-se do gado vivo e de outras propriedades

transportáveis. As forças inimigas foram atraídas ao campo aberto, para que os trinta

mil homens que haviam sido postados à noite por detrás da cidade, pudessem atacar

Ai pela retaguarda, a fim de incendiá-la. Os defensores foram aniquilados, seu rei foi

enforcado, e o sítio foi reduzido a escombros.Quando se espalharam por Canaã as

notícias da conquista de Jericó e Ai, o povo de várias localidades organizou resistência

contra a ocupação israelita (veja Js 9.1,2).

Os habitantes de Gibeom, cidade localizada a doze quilômetros e meio ao norte

de Jerusalém, traçaram astutamente um plano de engodo. Fingindo ter vindo de um

país distante, o que era patenteado por suas roupas surradas e por seu alimento

estragado, chegaram ao acampamento Israelita de Gilgal, expressando seu temor de

Deus de Israel, oferecendo-se para ser servo, se Jeová entrasse em aliança com eles.

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Visto não terem buscado orientação divina, os líderes de Israel foram vítimas da ficção,

negociando um tratado de paz com os gibeonitas. Três dias mais tarde, porém,

descobriu-se que Gibeom e três aldeias satélites eram próximas. Embora os israelitas

houvessem murmurado contra seus líderes, o tratado não foi violado. Ao invés disso,

os gibeonitas foram encarregados de suprir lenha e água o acampamento israelita.

Gibeom era uma grande cidade da Palestina. Quando ela capitulou ante Israel, o

rei de Jerusalém ficou profundamente alarmado. Em resposta a seu apelo, outros reis

Amorreus, de Hebrom, Jarmute, Laquis e Eglom, aliaram-se com ele, a fim de

atacarem a cidade de Gibeom. Havendo firmado acordo com Israel, a cidade

assediada imediatamente despachou mensageiros para que rogassem por ajuda

daquele quadrante. Mediante a marcha de uma noite inteira, desde Gilgal, Josué

apareceu inesperadamente em Gibeom, onde derrotou e pôs em fuga desordenada o

inimigo, através do passo de Bete-Horom (também conhecido como o vale de Aijalom),

até Azeca e Maquedá.

A ajuda sobrenatural nessa batalha resultou em vitória esmagadora para os

israelitas. Além do elemento de surpresa e do pânico lançado no campo inimigo, a

saraiva que caiu fez maior número de vítimas entre os Amorreus do que o tinham feito

os soldados combatentes de Israel (veja Js 10.11). Outrossim, um longo dia foi

outorgado aos israelitas quando perseguiam os inimigos. A ambigüidade da linguagem

a respeito desse longo dia de Josué tem dado margem a diversas interpretações. A

linguagem usada seria poética? Josué pedira mais luz do sol ou alívio do calor do dia?

Se se trata de linguagem poética, então ter-se-ia tratado de mero apelo, da parte de

Josué, por ajuda e força. Em resultado, os israelitas foram de tal modo revigorados que

o trabalho de um dia foi realizado em meio dia. Mas, se aceitarmos que houve

prolongamento das horas do dia, esse foi um milagre em que o sol ou a lua e a terra

estacaram. Se o sol e lua prosseguiram em seus cursos regulares, pode ter-se dado

um milagre de refração ou um milagre sobrenatural dada, que prolongou a luz do dia,

de tal modo que o sol e a lua apareciam fora de seus cursos regulares. O apelo de

Josué pelo auxílio divino pode ter sido um pedido de alívio do calor escaldante do sol,

tendo ordenado que o sol ficasse silente ou mudo, isto é, deixasse de brilhar. Em

resposta, Deus enviou a saraiva, que trouxe tanto alívio do calor solar como a

destruição para as hostes inimigas. Os soldados, sentido-se refrigerados, fizeram a

marcha de um dia em apenas meio dia, desde Gibeom a Maquadá, uma distância de

quase 50 Km, e pareceu-lhes ter passado um dia inteiro, quando na verdade, o dia

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ainda ia pela metade. Embora o relato do livro de Josué não nos forneça os detalhes

de como isso sucedeu, é evidente que Deus interveio em favor de Israel, e a liga dos

Amorreus foi completamente derrotada.

Em Laquedá, os cinco reis da liga dos Amorreus foram encurralados em uma

caverna, tendo sido em seguida mortos por Josué. Com a conquista de Maquedá e

Libna, estando esta última localizada na estrada do vale de Elá, onde Davi

posteriormente feriu Golias, os reis dessas duas cidades, por igual modo, foram

executados. Josué, então assediou a bem fortificada cidade de Laquis (moderna Tell-

ed-Duweir), e no segundo dia do assédio esse baluarte foi derrubado. Quando o rei de

Gezer tentou socorrer Laquis, também pereceu ele com sua força; entretanto,

nenhuma reivindicação é feita acerca da conquista de Gezer. Ato contínuo, Israel se

lançou vitoriosamente na tomada de Eglom, que atualmente é com a moderna Tell-el-

Hesi. Dali as tropas atacaram para o sul, entrando na região montanhosa e assediando

Hebrom, que não foi facilmente defendida. Então, dirigindo-se para o sudoeste,

assaltaram e tomaram Debir, ou Quiriater-sefer. Embora as fortes cidades-estados de

Gezer e Jerusalém não tivessem sido conquistadas, foram isoladas por meio dessa

campanha, de tal maneira que toda a área sulista, de Gibeom a Cades-Barnéia e

Gaza, ficou sob o controle de Israel, quando Josué reconduziu seus guerreiros afeitos

às batalhas ao acampamento de Gilgal.

A conquista e a ocupação da porção norte de Canaã é descrita de modo bem

abreviado. A oposição foi organizada e liderada por Jabim, rei de Hazor, que tinha a

seu dispor Nm erosos carros de guerra. Grande batalha teve lugar perto das águas de

Merom, cujo resultado foi que cananéia foi totalmente derrotada por Josué. Os cavalos

e os carros foram destruídos, e a cidade de Hazor foi incendiada até o chão. Não há

qualquer menção sobre a destruição de outras cidades na Galiléia.

De forma sumária, o trecho de Js 11.16-12.24 relata a conquista de toda a terra

de Canaã por parte de Israel. O território coberto pelas forças de ocupação se

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espraiou desde Cades-Barnéia, ou seja, nos extremos do Neguebe, até ao norte

quanto o vale do Líbano, abaixo do monte Hermom. No lado oriental da fenda do

Jordão, a área que previamente fora conquistada sob Moisés se estendia desde o

monte Hermom, no norte, até o vale do rio Arnom, a leste do mar Morto.

Trinta e um reis são listados entre os derrotados por Josué. Havendo tantas

cidades-estados, cada qual com seu próprio rei, um país tão pequeno, foi possível a

Josué e aos israelitas derrotarem esses governantes locais em pequenas federações.

Embora os reis tivessem sido derrotados, nem todas as cidades foram realmente

capturadas ou ocupadas. Por intermédio dessa conquista Josué subjugou os

habitantes até ao ponto em que, durante o período imediato de paz os israelitas

puderam estabelecer-se na terra prometida.

1.1.2. A divisão de Canaã

Apesar dos principais reis terem sido derrotados e que então prevaleceu um

período de paz, restaram ainda muitas áreas não-ocupadas na terra (veja Js 13.1-7),

Josué foi divinamente comissionado para dividir o território conquistado entre as nove

tribos e meia. Rúben, Gade e metade da tribo de Manassés, tinham recebido seus

quinhões a leste do rio Jordão, sob Moisés e Elezar (veja Js 13.8-33 e Nm 32).

Durante o período da conquista o acampamento de Israel ficava localizado em

Gilgal, ligeiramente para nordeste de Jericó, perto do Jordão. Sob a supervisão de

Josué e Eleazar foram distribuídos os quinhões de algumas das tribos, enquanto Israel

ainda estava acampado ali. Calebe, que demonstrara fé incomum quarenta e cinco

anos antes, quando os doze espias tinham sido enviados a Canaã (veja Nm 13-14),

agora recebeu consideração especial, tendo-lhe sido dada como prêmio a cidade de

Hebrom, para ser sua herança (veja Js 14.6-15).

A tribo de Judá se apropriou da área entre o mar Morto e o mar Mediterrâneo,

incluindo a cidade de Belém. Efraim e a outra metade da tribo de Manasses receberam

a maior parte da área a oeste do rio Jordão, entre o mar da Galiléia e o mar Morto (veja

Js 16.1-17.18).

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Siló foi estabelecida como centro religioso de Israel (veja Js 18.1). Foi ali que as

demais tribos foram desafiadas a tomar posse de seus territórios respectivos.

Enquanto a Simeão foi dada a região ao sul de Judá, as tribos de Benjamim e

Dã receberam seu quinhão imediatamente ao norte de Judá. Ao norte de Manasses,

começando com o vale de Megido e com o monte Carmelo, receberam suas

possessões Issacar, Zebulom, Aser e Naftali.

Cidades de refúgio foram selecionadas por toda a extensão do pais (veja Js

10.1-9). A oeste do Jordão essas cidades eram Cades, em Naftali, Siquem, em Efraim,

e Hebrom em Judá. A leste do Jordão, em cada uma das áreas tribais, havia as

cidades seguintes. Bezer, em Rúben, Ramote, em Gileade, dentro das fronteiras de

Gade e Golã, em Basã, na área de Manassés. Para essas cidades qualquer indivíduo

poderia fugir para estar livre de vinganças de sangue, no caso de ter-se tornado

homicida involuntário.

A tribo de Levi não recebeu quinhão na forma de território, porquanto eram

responsáveis pelos serviços religiosos por toda a nação. As diversas tribos foram

encarregadas da obrigação de selecionarem cidades para os levitas. Terras de pasto,

em redor de cada uma das quarenta e oito cidades, foram igualmente providas, pelo

que os levitas podiam dar pasto a seu gado.

Elogiando o serviço fiel delas e admoestando-as a permanecerem leais a Deus,

Josué despediu as tribos transjordanianas que haviam servido junto com o resto da

nação, sob suas ordens, para conquistar o território a oeste do Jordão. Quando

retornam à Transjordânia, erigiram um altar ação essa que alarmou os israelitas que se

tinham estabelecido na própria terra de Canaã. Finéias, filho do sumo sacerdote, foi

enviado de Siló para avaliar a situação. Sua investigação assegurou-lhe que o altar na

terra de Gileade servia ao propósito de manter a adoração apropriada a Deus.

Por quanto tempo ainda viveu Josué, após suas campanhas militares, não é

esclarecido na Bíblia. Uma interferência, com base em Js 14.6-12, é que a conquista

de Ca naã foi realizada em um período de cerca de sete anos. Josué pode ter pouco

depois disso, ou pode ter continuado vivo durante uns vinte ou trinta anos no máximo.

Antes de morrer, com a idade de cento e dez anos, reuniu o povo de Israel em Siquém

e advertiu-os severamente para que temessem a Deus. Relembrou-lhes o fato de que

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Deus chamara a Abraão para que não servissem a ídolos e cumprira o pacto

estabelecido com os patriarcas, introduzindo Israel na terra prometida. Um

compromisso público foi feito, mediante o qual os líderes asseguraram a Josué de que

serviram ao Senhor. Após a morte de Josué Israel cumpriu essa promessa somente

enquanto vivia a geração mais idosa.

1.2. Análise moral da conquista de Canaã

O livro salienta uma questão ética crucial: como se justificaria que um povo

escolhido por Deus se apossasse de Canaã, massacrando a população, tomando a

sua terra e riquezas? Defrontamo-nos com esse problema moral em outros livros,

como Números e 1 e 2 Samuel, onde Israel impõe armas contra os pagãos em vez de

pregar a Palavra. Por que não foram enviados a Canaã como evangelistas em vez de

carrascos? Diversas razões importantes devem ser observadas a partir do cenário

histórico:

1.2.1. Devido à degradante religião de Canaã

A religião de Canaã tinha-se tornado tremendamente abominável aos olhos de

Deus e da própria moralidade. Escavações mostraram a extrema obscenidade da

religião que tinha um panteão de deuses: El, o deus principal, é orgulhosamente

apresentado como sendo inteiramente sensual, sórdido e sanguinário até consigo

mesmo: as três deusas cananéias, enroladas em serpentes, são apresentadas em

posturas vis e sensuais. O sistema prestava homenagem a serpente, eram totalmente

depravado e estava fadado à destruição.

1.2.2. Devido à sua cultura corrompida

A adoração ao sexo demoníaco e aos ídolos de guerra refletiam uma sociedade

permeada da mais grosseira imoralidade e violência. Escavações arqueológicas

revelaram que os seus templos eram centros de vícios com sacerdotes sodomitas e

sacerdotisas prostitutas. Queimar crianças vivas nos altares se tinha tornado ritual

comum. A baixeza da idolatria de Canaã formava contraste com a idolatria do Egito e

da Mesopotâmia, cuja moralidade não tinha caído em tão profunda vulgaridade e

brutalidade. A cultura estava fadada à destruição (Levítico 18.25)

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1.2.3. Devido às admoestações e paciência de Deus

O texto declara muitas vezes que o Senhor era o verdadeiro dono da terra de

Canaã e podia dá-la ou negá-la a quem quisesse, por razões nem sempre evidentes

aos homens. O seu plano de cessão e período de experiência é observado diversas

vezes muito antes de Moisés e Josué.

a) Através de Noé, Deus profetizou julgamento para os Cananeus pela sua

obscenidade (Gênesis 9.22-27);

b) Para Abraão e os seus descendentes o Senhor prometeu a terra de Canaã, a qual

eles receberiam depois de cheia a medida da iniqüidade dos Amorreus (Gênesis

15.13-16);

c) Justamente como aconteceu com os habitantes de Sodoma antes da sua

destruição, o Senhor deu aos Cananeus muitas oportunidades de arrependimento

(Gênesis 18.25; Romanos 1.18-22). Deus esperou 400 anos.

1.2.4. Devido à comissão divina de Israel

Israel não foi designado para ser uma organização religiosa, mas um governo

civil com obrigações da aliança perante o Senhor. Como tal, sua primeira missão era

executar o julgamento de uma sociedade corrupta e violenta de acordo com a aliança

noéica (Gênesis 9.6). Apesar de sempre reticente na execução daquele sórdido dever,

Israel estava sob o comando específico do Senhor para tomar a terra, destruir os

Cananeus e receber a sua riqueza (Números 31.7; Deuteronômio 9.3; Josué 1.1-7). Na

realidade, os ataques de Israel eram quase sempre respostas aos ataques iniciais dos

Cananeus (Números 21.1;23-24,33; Josué 9.1-2; 10.1-4; 11.1-5).

1.2.5. Devido às promessas da aliança feita por Deus

Conforme o Senhor declarou a Abraão e a Israel, a ocupação final da Palestina

por Israel estender-se-á desde o Egito até o Eufrates (Gênesis 15.8; Deuteronômio 1.7-

8; 30.5). Antes daquela futura ocupação final, entretanto, o Senhor novamente limpará

a terra da violência e brutalidade introduzida por um sistema religioso inspirado por

Satanás (Apocalipse 14.16 e ss; 19.15).

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Os eventos registrados no livro de Juízes são intimamente relacionados aos

acontecimentos dos dias de Josué. Visto que os Cananeus não haviam sido

plenamente desalojados, e que a ocupação por Israel não se completara, condições

similares continuaram por todo o período dos Juízes. Em conseqüência disso,

prosseguiam as guerras, enquanto áreas ou cidades locais eram reocupadas no

decurso do tempo. Referências diversas, como Jz 1.1; 2.6-10 e 20.26-28, parecem

indicar que os acontecimentos dos livros de Josué e Juízes estão bem relacionados

cronologicamente, e que talvez sejam até simultâneos.

É difícil precisar a cronologia desse período. O fato de que quarenta a cinqüenta

métodos diferentes tem sido sugeridos para explanar a era dos juízes indica quão

grande é o problema.

É óbvio que qualquer esquema cronológico proposto para essa era dos juízes

apenas uma solução sugerida. Os informes das Escrituras são insuficientes para que

se estabeleça uma cronologia absoluta. Parece bastante certo que os autores dos

livros de Josué e Juízes não tiveram o intuito de apresentar um relato que se

encaixasse com exatidão dentro de uma cronologia completa relativa ao período. A

fidelidade às tradições que figuram em 1Rs 6.1 e Js 11.23, requer a cronologia mais

dilatada.

Israel não contava com qualquer capital política nos dias dos juízes. Siló, que

fora estabelecida como centro religioso, no dias de Josué (veja Js 18.1), continuou

nessa categoria nos dia de Eli (veja 1Sm 1.3). Visto que Israel não tinha rei (veja Jz

17.6; 18.1; 19.1 e 21.25), não havia localidade central de onde um juiz pudesse oficiar.

Esses juízes subiram à liderança conforme exigiam as condições locais ou nacionais. A

influência e reconhecimento de muitos deles se limitava às suas comunidades ou tribos

locais. Alguns deles foram líderes militares, que livraram os israelitas de algum inimigo

opressor, ao passo que outros dentre eles foram reconhecidos como magistrados, para

os quais o povo olhava, esperando decisões legais e políticas. Não tendo governo

central e nem capital, as tribos de Israel eram governadas irregularmente, sem

sucessão imediata quando do falecimento de qualquer dos juízes. Visto que alguns dos

juízes agiam em áreas locais restritas, também é razoável pensarmos que várias das

judicaturas tiveram lugar justapostas.

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Apesar de que Josué derrotara as principais forças opositoras, ao introduzir

Israel na terra de Canaã e dividi-las entre as várias tribos, muitas localidades

permaneceram nas mãos dos Cananeus e outros habitantes. Em seu recado final aos

israelitas Josué advertiu o povo para que não se mesclasse e nem entrassem em

relações de matrimônio com os habitantes locais que permanecessem, mas

admoestou-os para que expulsassem esses povos idólatras e ocupassem suas terras.

Novas tentativas foram feitas para desalojar aquela gente, mas o registro sagrado

indica com clareza que os israelitas mostraram-se obedientes apenas em parte.

A despeito de terem sido conquistadas algumas áreas, certas cidades

fortemente armadas, como Taanaque e Megido. Continuaram na posse dos Cananeus.

Quando Israel se tornasse suficientemente poderosa, deveria sujeitar esses povos,

impondo-lhes o trabalho forçado e o pagamento de taxas; mas os israelitas

fracassaram na comissão recebida de expeli-los da terra. Consequentemente, os

Amorreus, Cananeus e outros permaneceram na terra que fora dada a Israel, para que

a conquistasse completamente e ocupasse. Pareceria perfeitamente natural que

quando Israel ainda era débil, esses povos tenham reconquistado cidades e aldeias

antes tomadas pelos israelitas (cf. Jz 1.34).

A ocupação parcial da terra deixou Israel em contínuas dificuldades. O ciclo de

acontecimentos se repetia interminavelmente. Mediante a confraternização com os

habitantes locais os israelitas vieram a participar da adoração a Baal, esquecendo-se

da adoração a Deus. Os povos particularmente mencionados, que fizeram Israel

afastar-se de Deus, foram os Cananeus, os Hititas, os Amorreus, os Perizeus, os

Heveus e os Jebuseus. Durante esse período de apostasia, os casamentos mistos

empurraram os israelitas à maior negligência ainda no serviço e na devoção a Deus.

No curso de uma geração a multidão de Israel se tornou tão idólatra que foram

retiradas as bênçãos divinas, prometidas por intermédio de Moisés e Josué. Ao

adorarem a Baal os israelitas quebravam o primeiro mandamento do decálogo.

O arrependimento era parte seguinte do ciclo. Quando os israelitas perdiam sua

independência e serviam aos opressores, reconheciam então que sofriam as

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conseqüências da desobediência a Deus. Quando tomavam consciência de seus

pecados voltavam-se penitentes para Deus. E seu apelo não era feito em vão.

O livramento ocorria por meio de campeões que Deus levantava para

desafiarem aos opressores. Os líderes militares que encabeçaram os israelitas no

ataque contra nações inimigas foram Otniel, Eúde, Sangar, Débora e Baraque, Gideão,

Jefté e Sansão. Especialmente dotado de capacidades divinas, esses líderes repeliam

os adversários, e Israel, uma vez mais, desfrutou de um período de descanso.

2 - CONDIÇÕES RELIGIOSAS, POLÍTICAS E SOCIAIS

Os capítulos finais dos livros de Juízes e Rute descrevem as condições

reinantes nos dias de líderes heróicos como Débora, Gideão e Sansão. Sem

referências cruzadas às atividades de qualquer dos juízes particulares nomeados nos

capítulos anteriores, é difícil datar esses acontecimentos de modo específico. Os

rabinos associaram a narrativa de Mica e da migração danita à época de Otoniel; mas,

devido à ausência de detalhes históricos é impossível certificarmo-nos de quão dignas

de confiança são essa e outras tradições rabínicas similares. O máximo que se pode

fazer é limitar esses eventos aos dias “... em que julgavam os juízes ...”e nos quais

“....não havia rei em Israel” (Rt 1.1 e Jz 21.25).

Mica e seu santuário servem de exemplo da apostasia religiosa que prevalecia

nos dias dos juízes. Quando Mica, um efraimita, devolveu 1.160 siclos furtados de sua

mãe, ela deu 200 siclos a um ourives, o qual fez uma imagem de escultura, esculpida

em madeira e recoberta de prata, bem como outra imagem fundida feita inteiramente

de prata. Com esses símbolos idólatras Mica estabeleceu um santuário, ao qual

acrescentou uma estola sacerdotal e ídolos do lar, tendo nomeado ainda sacerdote a

um de seus filhos. Quando um levita de Belém por acaso fez parada nessa capela,

sobre o monte Efraim, Mica firmou com ele um acordo, contratando-o como seu

sacerdote oficial, na esperança de que o Senhor faria prosperar o seu

empreendimento.

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Cinco danitas, enviados como grupo de reconhecimento para localizar mais

terras para sua tribo, pararam no santuário de Mica afim de pedir conselhos de seu

levita. Após ser-lhes assegurado o sucesso, prosseguiram caminho e encontraram

condições favoráveis para conquista de mais territórios em Laís, cidade localizada nas

vizinhanças das cabeceiras do rio Jordão. Em resultado disso, seiscentos danitas

migraram para o norte. A caminho, convenceram ao levita de que lhe era melhor servir

de sacerdote para uma tribo do que para um só indivíduo. Quando Mica e seus

vizinhos fizeram objeção, os danitas, sendo mais Nm erosos, simplesmente levaram os

levitas e os deuses de Mica para Laís, ao norte, que daí por diante foi denominada Dã.

Ali Jônatas, que sem dúvida era o nome do levita, estabeleceu um santuário para os

danitas, em substituição a Siló. Se nenhuma omissão ocorre na genealogia (veja Jz

18.30) desse Jônatas, é perfeitamente possível que a imigração teve lugar nos

primeiros dias dos juízes.

O crime sexual em Gibeá e os acontecimentos que se seguiram provocaram

guerra civil em Israel. Um levita da região montanhosa de Efraim e sua concubina, ao

retornarem de uma visita aos pais da mulher, em Belém, pararam em Gibeá para

passar a noite. Tinham passado além de Jebus, na esperança de receber melhor

hospitalidade em Gibá, que era uma cidade benjamita. Durante a noite, os homens de

Gibeá reclamaram e então se apossaram da concubina do levita. Pela manhã, ela foi

encontrada morta à entrada da casa. O levita tomou o cadáver ao interior da casa e

cortou em doze pedaços, que ele enviou por toda a terra. O povo inteiro de Israel, de

Dã e Berseba, ficou tão chocado diante dessa atrocidade que se reuniram aos homens

de Mispa. Ali diante de um ajuntamento de 400 mil homens, o levita narrou o quanto

fora maltratado pelos benjamitas.

Quando a tribo de Benjamin se recusou a entregar os homens de Gibá que

haviam cometido esse crime, estourou a guerra civil. Os benjamitas reuniram um força

combatente de 26 mil homens, incluindo uma divisão de 700 homens que atiravam com

funda. O resto de Israel, então reuniu-se em Betel, onde estava localizada a arca do

Senhor, a fim de receber instruções de guerra da parte de Finéias, o sumo sacerdote.

Por duas vezes as forças israelitas foram derrotadas em seu ataque contra Gibeá. Da

terceira vez, entretanto, conquistaram e incendiaram a cidade, matando a todos os

benjamitas, com exceção de seiscentos homens que fugiram e se refugiaram na penha

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Rimom. A destruição e devastação em Benjamim foi bastante extensa, de tal modo que

a tribo se viu muito reduzida à desgraça.

Após quatro meses houve reconciliação com os 600 homens restantes. Então

providenciaram a restauração e o casamento daqueles homens, a fim de que os

benjamitas fossem reintegrados como uma das tribos da nação de Israel.

A história de Rute, nos provê um vislumbre Nm a era mais pacífica dos dias em

que governavam os juízes. Essa narrativa fala da migração de uma família israelita

inteira - Elimeleque, Noemi e seus dois filhos - para Moabe, quando houve fome em

Judá. Ali os dois filhos se casaram com mulheres moabitas, Rute e Orfa. Após a morte

de seu marido e de ambos os filhos, Noemi retornou a Belém, acompanhada por Rute.

Com a passagem do tempo Rute contraiu núpcias com Boaz e, subseqüentemente,

figurou na linhagem davídica, da família real de Israel.

2.1. Tempo de transição sob a liderança de Eli e Samuel

Os tempos de Eli e Samuel assinalam a era de transição da liderança

intermitente dos juízes para o levantamento da monarquia Israelita. Os dois homens

não são mencionados no livro de Juízes, mas receberam atenção nos capítulos iniciais

de 1 Samuel 1.1-8,22, como introdução da narrativa acerca do primeiro monarca de

Israel.

A história de Eli serve de pano de fundo do ministério de Samuel. Na posição de

sumo sacerdote, Eli estava encarregado da adoração e dos sacrifícios no tabernáculo

de Siló. Os israelitas esperavam dele a liderança e a orientação, nas questões

religiosas e civis.

A religião de Israel se encontrava no nível mais baixo que já existira, nos dias de

Eli. Ele falhou, não ensinando seus próprios filhos a reverenciarem a Deus: “... não se

importavam com o Senhor” (1Sm 2.12). Sob sua jurisdição, eles assumiram

responsabilidade sacerdotais, abusando das pessoas que vinham oferecer sacrifícios e

adorar. Não somente furtavam de Deus, exigindo a porção sacerdotal antes dos

sacrifícios serem feitos, mas também se comportavam de tal modo que o povo

abominou a idéia de levar seus sacrifícios a Siló. Também profanaram o santuário com

a vileza e o deboche comuns à religião dos Cananeus. Conforme já seria de esperar,

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recusavam-se a dar ouvidos às reprimendas amargas de seu pai contra a conduta

deles. Não é de surpreender que Israel tivesse continuado a degenerar-se, caindo em

práticas religiosas crescentemente corruptas.

Foi nessa atmosfera abominável que Samuel foi criado na infância, sob os

cuidados de Eli como fora entregue. Consagrado a Deus e encorajado por sua piedosa

mãe, Samuel cresceu no meio ambiente do tabernáculo, impermeável para a ímpia

influência dos filhos de Eli. Um profeta cujo nome não é dado repreendeu a Eli porque

ele honrava mais a seus filhos do que a Deus (veja 1Sm 2.27 ss). Sua lassidão

provocara o juízo de Deus; por conseguinte, seus filhos perderiam a vida e um

sacerdote fiel haveria de ministrar em lugar deles. A reiteração desse decreto foi

revelada a Samuel, quando Deus falou com ele durante a noite (veja 1Sm 3.1-18).

Súbita e rapidamente essas palavras proféticas tiveram cumprimento. Quando

os assustados israelitas perceberam que estavam sendo derrotados em um encontro

com os filisteus, conseguiram convencer os filhos de Eli para que trouxesse a arca da

aliança, objeto mais sagrado de Israel, ao campo de batalha. A religião chegara a um

nível tão baixo que o povo acreditava que a arca que representava a própria presença

de Deus, poderia salvá-los da derrota. Contudo, não puderam forçar Deus a servi-los.

A derrota dos israelitas foi esmagadora. O inimigo capturou a arca, matando os filhos

de Eli. Não admira que quando Eli ouviu as chocantes notícias de que a arca caíra em

mãos filistéias tivesse desmaiado e morrido!

Aquele foi um dia fatal para Israel. Embora a Bíblia nada diga sobre a destruição

de Siló, as outras evidências que dão a entender que, nessa ocasião, os filisteus

reduziram a ruína o santuário central que havia conservado as tribos unidas.

Quatro séculos mais tarde Jeremias advertiu os moradores de Jerusalém para

que não pusessem sua confiança no templo (veja Jr 7.12-24 e 26.6-9). Assim como os

israelitas haviam confiado na arca para sua segurança, por semelhante modo, a

geração de Jeremias supôs que Jerusalém na qualidade de lugar da habitação de

Deus, não poderia cair nas mãos das nações gentílicas. Jeremias sugeriu que

considerassem as ruínas de Siló e tirassem proveito desse exemplo histórico. As

escavações arqueológicas mostraram que Siló fora reduzida a cinzas no século XI a.C.

Sua destruição, nesse tempo, explica o fato de que pouco depois os sacerdotes

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oficiavam em Nobe (veja 1Sm 21.1). Também é digno de nota, nessa conexão, que

Israel em ocasião alguma, tentou trazer a arca de volta para Siló.

A vitória dos Filisteus desmoralizou eficazmente os israelitas. Quando a nora de

Eli deu à luz a um filho, mui apropriadamente lhe deu o nome de “Icabode”, porquanto

ela sentia profundamente que a benção divina fora retirada de Israel (veja 1Sm 4.19-

22). O nome dessa criança significa “onde está a glória?”, ao mesmo tempo que talvez

demonstre que a religião cananéia já conseguira penetrar no pensamento israelita,

porque para os devotos de Baal, tal nome seria uma alusão à morte do deus da

fertilidade.

O lugar na história de Israel, é singular. Sendo o último dos juízes, ele exercia

jurisdição civil por toda a terra de Israel. Outrossim, ele obteve o reconhecimento de

ser o maior profeta de Israel desde os tempos mosaicos. E ele também oficiava como

principal sacerdote, embora não fosse da linhagem de Arão, à qual pertenciam as

responsabilidade do sumo sacerdócio.

A Bíblia preserva comparativamente pouco acerca do ministério real desse

grande líder. Quando Eli faleceu e a ameaça da opressão filistéia tornou-se mais

pronunciada, mui naturalmente os israelitas se voltaram para Samuel esperando

liderança. Depois de haver escapado do despojamento do santuário de Siló, Samuel

estabeleceu morada em Ramá, onde erigiu um altar. Não há qualquer indicação,

todavia, de que Ramá se tenha tornado o centro religioso ou civil da nação. O

tabernáculo, que de acordo com Sl 78.60 fora abandonado por Deus, não é jamais

mencionado em conexão com Samuel. Israel retomou a arca das mão dos filisteus

(veja 1Sm 5.1-7.2), mas esta foi conservada em Quiriate Jearim, na casa particular de

Abinadabe, até aos dias de Davi.

Deve se lançar no crédito de Samuel que ele se impôs sobre os israelitas para

que expurgassem a adoração nos moldes do culto cananeu, em suas fileiras (veja 1Sm

7.3 ss.). Em Mispa, o povo se reuniu penitente para orar, jejuar e oferecer sacrifícios. A

palavra de convocação chegou aos ouvidos dos filisteus, que em vista disso se

aproveitaram da situação para lançar um ataque. Em meio à refrega, severa

tempestade lançou o termo nos corações dos mercenários filisteus, provocando

confusão e pondo-os em fuga. Evidentemente a trovoada adquiriu

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significado portentoso para os filisteus, pois nunca mais tentou engajar os israelitas em

batalha, enquanto Samuel esteve no comando das tribos.

Eventualmente, os líderes tribais sentiram que deveriam fomentar sua

resistência à agressão dos filisteus; de acordo com isso, clamavam por um rei. Como

justificativa para o estabelecimento da monarquia salientaram que Samuel era homem

idoso e que seus filhos eram moralmente ineptos para assumir o lugar dele.

Astutamente Samuel rejeitou a proposta deles, implorando-lhes com eloqüência que

“não impusessem a si mesmos uma instituição cananéia estranha à própria maneira de

vida deles”. Quando, a despeito disso, eles persistiram em suas existências, Samuel

aquiesceu, embora só o tivesse feito após intervenção divina (veja 1Sm 8).

Quando Samuel, com relutância, consentiu ante a invocação de um reinado, não

fazia idéia sobre quem Deus escolheria. Um dia, quando oficiava em um sacrifício,

veio-lhe ao encontro um benjamita que viera consultá-lo acerca da localização de

alguns asnos de seu pai que se tinham extraviado. Avisado de antemão sobre a

chegada dele, Samuel entendeu que Saul era o escolhido de Deus para seu primeiro

rei de Israel. Não somente Samuel entreteve Saul como seu convidado de honra,

quando da festividade de sacrifício, mas também o ungiu em particular, como “capitão

sobre sua herança”, dessa forma dando a conhecer que sua posição real era uma

incumbência sagrada. Quando retornava a Gibeá, Saul testemunhou o cumprimento

das palavras preditivas de Samuel em confirmação de haver sido selecionado para

aquela responsabilidade. Em convocação subsequente em Mispa, Saul foi

publicamente escolhido e entusiasticamente apoiado pela maioria, em meio às

aclamações populares: “Viva o rei!” à sua cidade natal de Gibeá, em Benjamim.

2.2. O primeiro rei de Israel

Saul desfrutou de apoio entusiasta por parte de seu povo, depois de uma vitória

inicial sobre os Amonitas, em Jabes de Gileade. É verdade que nem todos encararam

sua ascensão ao trono com satisfação fingida, mas aqueles obstinados não podiam

tolerar sua avassaladora popularidade (veja 1Sm 10.27 e 11.12). No entanto, através

de desobediência deliberada, Saul não tardou a arruinar suas oportunidades de

sucesso. Devido às suspeitas e ao ódio, seus esforços tornaram-

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se tão dispersivos e as forças nacionais foram tão dissipadas que o seu reinado

terminou em fracasso completo.

Saul foi um guerreiro que conduziu sua nação a inúmeras vitórias militares. Em

uma localidade estratégica, em uma colina, a quase cinco quilômetros ao norte de

Jerusalém, Saul fortificou Gibeá a fim de contrabalançar a superioridade militar dos

filisteus. Aproveitando-se do bem sucedido ataque que fora lançado por seu filho,

Jônatas, Saul pôs os filisteus em fuga, na batalha de Micmás (veja 1Sm 13-14). Entre

outras nações derrotadas por Saul (veja 1Sm 14.47, 48), figuravam os amalequitas

(veja 1Sm 15.1-9).

O sucesso inicial do primeiro rei de Israel não obscureceu suas fraquezas

pessoais. O rei de Israel ocupava uma posição singular entre os dirigentes

contemporâneos, tendo a responsabilidade de reconhecer pessoalmente o profeta, que

era o representante de Deus. Quanto a esse particular, Saul falhou duas vezes.

Aguardando impacientemente pela chegada de Samuel em Gilgal, Saul oficiou

pessoalmente o sacrifício (veja 1Sm 13.8,9). Em sua vitória sobre os amalequitas ele

cedeu ante à pressão do povo, ao invés de por em execução as instruções de Samuel.

Solenemente o profeta advertiu-o de que Deus não se agrada com sacrifícios que

visem a substituir a obediência. Com essa escaldante reprimenda Samuel deixou o rei

Saul entregue aos seus próprios recursos. Por causa da desobediência, Saul perdeu

seu reinado.

A unção de Davi, por Samuel, em cerimônia particular, era algo que Saul

desconhecia. Devido a ter posto fim a Golias, Davi subiu para o centro de atenção na

nação. Quando foi enviado por seu pai a fim de levar suprimentos a seus irmãos, que

serviam no exército israelita, acampado defronte dos filisteus, Davi ouvia as ameaças

blasfemas de Golias. Davi raciocinou que Deus, que o ajudara a matar ursos e leões,

também lhe daria capacidade para matar aquele inimigo que desafiava os exércitos de

Israel. Quando os filisteus perceberam que Golias, o gigante de Gate, fora morto,

fugiram de diante de Israel. O reconhecimento nacional conferido ao heróico Davi foi

subseqüentemente expresso na declaração popular: “Saul feriu os seus milhares,

porém Davi os seus dez milhares “.

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Abandonado a seus próprios recursos, Saul tornou-se suspeitoso e extremamente

invejoso de Davi. Por Nm erosos e sutis esquemas Saul procurou remover esse jovem

herói nacional. Exposto aos arremessos de lança de Saul ou aos perigos da batalha,

Davi consegui escapar com êxito a toda manobra que visava sua ruína. Mesmo quando

Saul pessoalmente se dirigiu a Naiote, onde Davi se refugiara em companhia de

Samuel, ele foi influenciado pelo espírito dos profetas de modo tal que não foi capaz de

prejudicar ou de deter Davi. Por diversas vezes Davi teve a oportunidade pessoal de

tirar a vida do rei de Israel. Mas cada vez ele se recusou a isso, reconhecendo que

Saul era o ungido do Senhor. Embora Saul tenha ficado profundamente comovido,

admitindo temporariamente suas atitudes aberrantes, não demorou para que

reiniciasse suas hostilidades.

Davi temia que algum dia Saul pudesse apanhá-lo desprevenido. A fim de

resguardar a si mesmo e seu grupo de mais de seiscentos homens, além de mulheres

e crianças, ele pediu e obteve permissão de Aquis para residir na cidade filistéia de

Ziclaque. Ali ele ficou durante, aproximadamente, o ano e meio que ainda restou do

reinado de Saul. Perto do final desse período Davi acompanhou os filisteus a Afeque,

para combater contra Israel. Porém, foi-lhe negada a participação na batalha. Retornou

a Ziclague em tempo de recuperar suas possessões que tinham sido tomadas em um

ataque dos amalequitas.

Os exércitos israelitas se acamparam no monte Gilboa para combater contra os

filisteus. Algo mais do que o temor do inimigo, a quem já derrotara em oportunidade

anteriores, perturbava ao rei de Israel nessa época. Samuel, desde há muito ignorado

por Saul, não podia mais ser entrevistado. Saul voltou-se para Deus, mas não obteve

resposta por meio de sonhos, de Urim ou dos profetas, ficou aterrorizado. Em

desespero, apelou para médiuns espíritas, que ele mesmo banira no passado.

Localizando em Endor uma mulher que era possessa de um espírito de adivinhação e

pede-lhe para ver a Samuel. Sem importar-se com o poder que essa mulher possuía,

buscou uma intervenção da parte dela. Uma vez mais é lembrado pelo “pseudo

Samuel” que, por causa de sua própria desobediência, ele perdera o reino. Em sua

mensagem a Saul o “pseudo profeta” predisse a morte do rei e de seus três filhos, bem

como a derrota de Israel.

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De coração oprimido e com a idéia dos trágicos acontecimentos que o esperavam,

Saul retornou ao acampamento naquela noite lúgubre. Durante a batalha que houve na

planície de Jezreel as forças israelitas foram postas em fuga, retirando-se para o monte

Gilboa. No decurso da peregrinação os filisteus tiraram as vidas dos três filhos do rei. O

próprio Saul foi ferido por arqueiros inimigos. A fim de evitar tratamento brutal nas

mãos do inimigo, ele caiu sobre a própria espada, pondo fim à própria vida. Os filisteus

obtiveram uma vitória decisiva, conseguindo um controle indisputável sobre o fértil vale,

desde a costa até o rio Jordão. Também ocuparam muitas cidades, de onde os

israelitas foram forçados a fugir. Os corpos de Saul e de seus filhos foram mutilados e

enforcados na fortaleza de Bete-Seã, pertencente aos filisteus. Mas os cidadãos de

Jabes de Gileade resgataram-nos afim de dar-lhes sepultura. Posteriormente, Davi

providenciou a transferência dos restos mortais para a propriedade da família de Saul,

em Zela, na tribo de Benjamim (veja 2Sm 21.14).

Verdadeiramente trágico foi o final do reinado de Saul, que foi o primeiro rei de

Israel. Embora escolhido por Deus e ungido mediante a oração do profeta Samuel, ele

não percebeu que a obediência era essencial para a incumbência sagrada e singular

que lhe foi proporcionada por Deus - para ser “capitão sobre sua herança”.

2.3. A união de Israel sob Davi e Salomão

O período áureo de Davi e Salomão nunca foi duplicado nos tempos do Antigo

Testamento. A Expansão territorial e os ideais religiosos, conforme são contemplados

por Moisés, se concretizaram em grau maior do que jamais antes ou depois, na história

de Israel. Nos séculos seguintes, as esperanças proféticas acerca da restauração da

sorte de Israel são repetidamente alusivas ao reino davídico como um ideal.

2.3.1. União e expansão Davídicas

Os empreendimentos políticos de Davi foram assinalados pelo sucesso. Em

menos de uma década, depois da morte de Saul, todo o Israel se juntou em apoio a

Davi, o qual dera início a seu reinado somente com o pequeno reino de Judá. Por meio

de sucessos militares e de gestos de amizade em breve ele controlava o território que

vai desde o rio do Egito e o golfo de Ácaba até as costas fenícias e a terra de Hamate.

O respeito internacional e o reconhecimento obtidos por Davi para

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Israel continuaram intocados pelas potências estrangeiras até aos anos finais do

reino de Salomão.

O novo rei também se distinguiu como líder religioso. Embora lhe fosse

negado o privilégio de construir o templo, ele fez laboriosos preparativos para sua

edificação, por seu filho, Salomão. Através da liderança de Davi, os sacerdotes e

levitas, foram profundamente organizados para que participassem eficazmente nas

atividades religiosas da nação inteira.

O livro de 2 Samuel retrata o reinado de Davi com grande detalhes. Uma

longa seção (11-20) nos proporciona o relato exclusivo do passado, crime e rebeldia

que houve na família real. A transferência do trono para Salomão e o falecimento de

Davi são narrados nos capítulos iniciais de 1 Reis. O livro de 1 Crônicas, que

igualmente conta a história do período de Davi, representa uma unidade

independente, que focaliza a atenção como o primeiro monarca de uma anistia

contínua. À guisa de introdução ao estabelecimento do trono davídico, o cronista

apresenta o pano-de-fundo genealógico das doze tribos sobre as quais Davi

governava. Saul é escassamente mencionado, após o que Davi é apresentado

como rei de toda a nação de Israel. A organização de Israel, política e

religiosamente falando, é exposta de forma mais elaborada, e a supremacia de Davi

sobre nações circunvizinhas recebe maior ênfase. Antes de chegar à conclusão,

com a morte de Davi, os últimos oito capítulos do livro apresentam extensas

descrições de sua preparação para a construção do templo. Conseqüentemente, 1

Crônicas é um valioso complemento ao registro de 2 Samuel.

2.4. O rei de Judá

Nascido em tempo turbulentos, Davi foi sujeitado a um duro período de

treinamento, a fim de prepará-lo para ser o rei de Israel. Foi requisitado pelo rei,

para o serviço militar, depois que matou Golias, tendo ganho valiosa experiência

militar em seus feitos heróicos contra os filisteus. Depois que foi forçado a

abandonar a corte, dirigiu um bando de fugitivos e se tornou simpático para os

proprietários de terras e de ovelhas que havia no sul de Israel, provendo-lhes

proteção. Ao mesmo tempo, negociava bem sucedidas relações diplomáticas com

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os filisteus e moabitas, ao mesmo tempo que era considerado um fora da lei de

Israel.

Davi se encontrava em território filisteu quando o exército de Saul foi

decisivamente derrotado no monte Gilboa. Pouco depois que Davi resgatara suas

esposas e recuperara os despojos que haviam sido tomados pelos assaltantes

amalequitas, um mensageiro lhe deu notícias sobre os importantíssimos eventos

que tinham ocorrido em Israel. Dominado pela tristeza, Davi prestou tributo imortal a

Saul e Jônatas, em um dos maiores panegíricos que há no Antigo Testamento. Não

somente Israel perdera seu rei, mas Davi também sentiu agudamente a perda de

seu amigo mais chegado, Jônatas. Quando o portador da notícia, um amalequita,

antecipava uma recompensa por ter reivindicado crédito pela morte de Saul, Davi

ordenou sua execução por haver tocado no ungido do Senhor.

Após ter-se certificado da aprovação divina Davi retornou à terra de Israel.

Em Hebrom os líderes de sua própria tribo (Judá) ungiram-no e aclamaram-no seu

rei. Ele era bem conhecido dos clãs da região, tendo protegido aos proprietários de

terras e tendo compartilhado com eles dos despojos obtidos nos ataques contra

seus inimigos (veja 1Sm 30.20-31). Na qualidade de rei de Judá, Davi enviou uma

mensagem elogiosa, aos homens de Jabes, por terem conferido ao rei Saul um

sepultamento condigno. Não há que duvidar que esse gesto amigável e grandioso

também teve reflexos políticos, porquanto Davi estava solicitando o apoio deles.

Israel se viu em tribulação séria quando terminou o reinado de Saul. A capital em

Gibeá, ou foi destruída ou gradualmente caiu em ruínas. Eventualmente, Abner,

comandante do exército israelita, foi capaz de restaurar a ordem suficiente para que

Is-Bosete (Isbaal) fosse ungido rei. A entronização teve lugar em Gileade, porque os

filisteus controlavam as terras a leste do rio Jordão. Visto que o filho de Saul reinou

sobre as tribos nortistas apenas por dois anos (veja 2Sm 2.10), Durante os sete

anos e meio em que Davi governou Israel em Hebrom, parece que o problema

filisteu adiou a subida ao trono do novo rei por cerca de cinco anos.

Dessa maneira o povo de Judá prometeu lealdade a Davi, ao passo que os

demais israelitas permaneceram leais à dinastia de Saul sob a liderança de Abner e

Is-Bosete. Em resultado disso, irrompeu-se a guerra civil. Após ter sido

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severamente repreendido por Is-Bosete, Abner voltou-se para Davi e lhe ofereceu o

apoio de todo o povo de Israel. De conformidade com o pedido de Davi, Mical, filha

de Saul, lhe foi devolvida como esposa. Isso foi realizado sobre supervisão de

Abner, com o consentimento de Isbonete. Dessa maneira foi publicamente expresso

a Israel que Davi não cultivava animosidade contra a dinastia de Saul. O próprio

Abner se dirigiu a Hebrom, onde prometeu a Davi a lealdade de todo o povo. Depois

que essa aliança fora firmada, Abner foi morto por Joabe, querendo ele vingar-se de

seu irmão, Asael, a quem Abner matara durante a guerra civil. A morte de Abner

deixou Israel sem liderança forte. Não demorou muito tempo para que Is-Bosete

fosse assassinado por dois homens da tribo de Benjamim. Quando os assassinos

apareceram diante de Davi, foram imediatamente executados. Ele desaprovou o

fato de terem morto uma pessoa justa. Sem malícia e sem vinganças Davi obteve o

reconhecimento de todo o Israel, ao passo que a dinastia foi eliminada da liderança

política.

Não há indicação de que os filisteus tivessem interferido com a ascensão de

Davi como rei de Hebrom. É possível que eles simplesmente tivessem-no

considerado um vassalo enquanto o resto de Israel, dividido pela guerra civil, não

oferecesse resistência unificada.

Ficaram alarmados, porém, quando Davi foi aceito pela nação toda. Um

ataque desfechado pelos filisteus (veja 2Sm 5.17-25 e 1Cr 14.8-17) mui

provavelmente teve lugar antes da conquista e ocupação de Sião. Por duas vezes

Davi os derrotou, assim impedindo a interferência deles na unificação de Israel sob

o novo monarca. Não se duvida que a própria ameaça filistéia foi um fator unificador

de Israel.

Ao procurar uma localização central para servir de capital da nação unificada

de Israel, Davi voltou sua atenção para Jerusalém. Estava ela em local estratégico,

sendo menos vulnerável a ataques. Sendo uma fortaleza cananéia, ocupada pelos

Jebus eus, resistia com êxito à conquista e à ocupação israelita. No Egito, registros

tão remotos quanto os de 1900 a.C. alude a essa cidade com o nome de Jerusalém.

Quando Davi desafiou seus homens para que conquistassem a cidade e

expulsassem aos Jebuseus, Joabe aceitou o desafio e recebeu como recompensa a

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nomeação de chefe do quadro de pessoal militar de Israel. Com a ocupação dessa

fortaleza por Davi, ela veio a tornar-se conhecida como “cidade de Davi” (1Cr 11.7).

Quando Davi assumiu o reino sobre as doze tribos, selecionou Jerusalém

para ser sua capital política. Durante os dias em que foi tido como fora da lei, era

seguido por centenas de homens. Esses foram bem organizados sob suas ordens,

em Ziclaque, e, posteriormente, em Hebrom (veja 1Cr 11.20-12.22). Esses homens

se tinham destacado de tal modo em feitos militares que foram nomeados príncipes

e líderes. Quando todo o Israel se unificou em apoio a Davi, a organização foi

ampliada a fim de incluir a nação toda, tendo Jerusalém como centro (veja 1Cr

12.23-40). Firmando um contrato com os fenícios, um magnificente palácio foi

erigido para Davi, o rei (veja 2Sm 5.11,12).

Ao mesmo tempo, Jerusalém tornou-se o centro religioso da nação inteira

(veja 1Cr 13.1-17.27 e 2Sm 6.1-7.29). Quando Davi tentou mudar a arca da aliança

da casa de Abinadabe, em Quiriate-Jearim, por meio de um carro, ao invés de fazê-

la transportar pelos sacerdotes (veja Nm 4), Uzá subitamente caiu morto. Ao invés

de levar a arca para Jerusalém, Davi guardou-a na casa de Obede-Edom, em

Gibeá. Quando sentiu que o Senhor estava abençoando aquele lar, imediatamente

Davi transferiu a arca para Jerusalém, para que fosse abrigada em uma tenda ou

tabernáculo. Uma adoração apropriada foi dessa forma restaurada a Israel, em

escala nacional.

Renovando seus interesses pela religião de Israel, Davi desejou construir

uma casa de adoração que fosse mais permanente. Quando expôs seu plano a

Natã, o profeta, obteve a imediata aprovação deste. Na noite seguinte, entretanto,

Deus comissionou Natã para que informasse ao rei de que a edificação do templo

seria adiada até que o filho de Davi fosse estabelecido no trono. Isso serviu de

garantia divina, dada a Davi, de que seu filho o sucederia, e de que ele mesmo não

seria sujeitado a uma sorte calamitosa como aquela que sobreveio ao rei Saul. A

magnitude dessa promessa feita a Deus, todavia, se estendeu para muito além do

tempo e do escopo do reinado salomônico. A descendência de Davi incluía mais do

que Salomão, visto que a promessa divina claramente afirmava que o trono davídico

seria firmado para sempre. Mesmo que a iniquidade e o pecado prevalecessem

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entre os pósteros de Davi, Deus julgaria e puniria aos mesmos temporariamente,

mas não neutralizaria Sua promessa e nem retiraria indefinidamente a Sua

misericórdia.

Nenhum reino ou dinastia terrenos jamais tiveram duração eterna - tanto

quanto os céus e a terra. Nem mesmo o trono terreno de Davi - se não ligarmos sua

linhagem com Jesus, o qual é especificamente identificado como Filho de Davi, no

Novo Testamento. Essa certeza, dada a Davi por intermédio do profeta Natã,

constitui outro vínculo na série de promessas messiânicas, dadas nos tempos do

Antigo Testamento. Deus vinha desdobrando gradualmente sua promessa inicial de

que a vitória final seria realizada mediante o descendente da mulher (veja Gn 3.15).

Uma revelação mais plena sobre o Messias e Seu reino eterno foi dada pelos

profetas de séculos subseqüentes.

Na posição de rei do império israelita, Davi não deixou de reconhecer que

Deus era quem outorgava vitórias militares e prosperidade material a Israel. Em um

Salmos de ação de graças (veja 2Sm 22.1-51), Davi expressou seu louvor ao

Onipotente, pelo livramento de Israel das mãos inimigas, bem como das nações

pagãs. Esse Salmos também está registrado em Salmos s 18. Representa apenas

um exemplo dentre os muitos Salmos s que Davi compôs em diversas ocasiões

durante sua movimentada carreira como menino pastor, servo na corte real, fora da

lei em Israel e, finalmente, arquiteto e edificador do mais vasto império de Israel.

2.5. Pecado na família real

As imperfeições de caráter, de qualquer membro da família real, não são

minimizadas nas Escrituras hebraicas. Um rei de Israel que caiu em pecado não

poderia mesmo esperar escapar ao juízo de Deus. Ao mesmo tempo Davi, como

pecador verdadeiramente penitente, que reconheceu sua iniqüidade qualificou-se

assim como homem que agradava a Deus (veja 1Sm 13.14).

Davi tornara-se polígamo (veja 2Sm e 11.27). Embora isso seja

definitivamente proibido na revelação mais completa do Novo Testamento, foi

tolerado nos tempos vetero-testamentários por causa da dureza de coração do povo

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israelita. E também era livremente praticado pelas nações circunvizinhas. Um harém

na corte era algo perfeitamente natural. Embora advertido acerca da multiplicidade

de esposas na lei mosaica (veja Dt 17.17), Davi adquiriu muitas delas. Alguns

desses casamentos sem dúvida alguma tiveram implicações políticas, tal como seu

matrimônio com Mical, filha de Saul, e com Maaca, filha de Talmai, rei de Gesur.

Tal como sucedeu com outro, Davi teve de sofrer as conseqüências, como os

crimes de incesto, homicídio e rebeldia, que passaram a suceder na sua vida

doméstica.

2.5.1. Pecado de Davi com Bate-Seba

Esse “caso” no auge do reinado de Davi tornou-se um divisor de águas em

sua vida. É o ponto que faz a divisão entre os seus triunfos e as suas dificuldades.

O pecado em si aconteceu quase acidentalmente. O fato de olhar por acaso para a

esposa do vizinho conduziu-o à cobiça e o arrastou ao adultério. Isso levou-o à

falsidade e ao disfarce, ao roubo da esposa de um dos seus oficiais, e ao

assassínio, Nm a conspiração contra um dos homens mais nobres do seu exército.

Esse assassínio foi disfarçado elegantemente como uma triste conseqüência da

guerra. Contudo, a poderosa parábola do profeta Natã expôs o sórdido

acontecimento. Quatro foram as conseqüências desse pecado, duas condenatórias

e duas compassivas:

1) A primeira delas foi o julgamento que atingiu o coração de Davi e a perda do

filho recém-nascido;

2) A segunda foi o perdão do Senhor, quando Davi confessou o seu pecado (2Sm

12.13);

3) A terceira foi a colheita do julgamento que Davi ceifou em sua família. Um

escândalo sexual o atingiu pesadamente quando o seu filho mais velho Amnom

seduziu sua filha (de Davi) Tamar. Davi colheu também o que semeara quando dois

dos seus filhos foram assassinados por outros dois dos seus filhos. Colheu as

conseqüências do roubo da esposa de um homem quando Absalão usurpou o

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reinado e envergonhou as suas concubinas em público. Apesar de ter recebido

perdão imediato após suas confissões, as conseqüências humanas dos seus crimes

renderam-lhe um alto preço a ser pago pelo resto da sua vida;

4) A quarta conseqüência foi a graça de Deus para com Davi depois do seu

profundo arrependimento, permitindo que Bate-Seba tivesse de Davi outro filho a

quem o trono seria dado. Os Salmos s 32 e 51 revelam a grandeza de Davi ao

confessar-se e humilhar-se, e a grandeza da sua reintegração ao serviço eficiente

para o Senhor.

2.6. Tragédia dos Filhos de Davi

Ele teve doze esposas (estão registrados os nomes de oito) e pelo menos

dez concubinas, vinte e um filhos e uma filha (2Sm 3.2-5, 5.13-16; 1Cr 3.1-9; 14.3-7;

2Cr 11.18). Três dos seus filhos mais velhos sofreram o golpe de morte violenta

(Amnom, Absalão e Adonias), quando cada um era herdeiro em potencial do trono.

O Senhor atribuiu parte da culpa por essas mortes violentas a Davi, pela maneira

compassiva com que conduzia seus filhos (1 Reis 1.6). Essas tragédias na família

piedosa de Davi são difíceis de explicar, mas lembram-nos de uma anomalia

estranha nas famílias de quatro homens preeminentes de 1 e 2 Samuel. Está

registrado que os três homens preeminentes de Deus (Eli, Samuel e Davi) deixaram

de disciplinar os seus filhos e por esse motivo perderam o governo (Davi

temporariamente). Todavia, o rei Saul, que não era piedoso, teve um filho que

dentre os homens foi o mais nobre: Jônatas. Essa estranha anomalia também será

vista muitas vezes na família de reis posteriores.

2.7. A Era Áurea de Salomão

O reinado de Salomão se caracterizou por paz e prosperidade. Davi

estabelecera o reino - agora Salomão haveria de colher os benefícios dos labores

de seu pai.

A narrativa sobre essa era é brevemente contada em 1Rs 1.1-11.43 e 2Cr

1.1-9.31. O ponto focal de ambos os livros é a construção e dedicação do templo, o

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que recebe muito maior consideração do que qualquer outro aspecto do reinado de

Salomão. Outros projetos de construção, negócios e comércios, progresso industrial

e sábia administração do reino, são mencionados apenas de passagem. Muitas

dessas atividades, escassamente mencionadas no registro bíblico, tem sido

iluminadas mediante as escavações arqueológicas que tem havido nas três últimas

décadas. Excetuando a edificação do templo, que é atribuída à primeira década de

seu reinado, e a construção de seu palácio, o qual foi completado treze anos mais

tarde, quanto ao resto há pouca informação que possa ser utilizada para servir de

base de uma análise cronológica do reinado de Salomão.

2.8. Estabelecimento do Trono

A ascensão de Salomão ao trono de seu pai não ocorreu sem oposição.

Enquanto Salomão não fora publicamente coroado, Adonias fomentou a ambição de

ser o sucessor de Davi. Em certo sentido ele estava justificado disso. Amnom e

Absalão haviam sido mortos. Quileabe, o terceiro filho mais velho de Davi,

aparentemente falecera, pois não é mencionado; e Adonias era o próximo na linha

de sucessão. Por outro lado, a fraqueza inerente de Davi quanto aos problemas

domésticos se evidenciou na falta de disciplina entre seus familiares (veja 1Rs 1.6).

É claro que Adonias não fora ensinado a respeitar o fato divinamente revelado

de que Salomão seria o herdeiro do trono de Davi (veja 2Sm 7.12 e 1Rs 1.17).

Seguindo o exemplo de Absalão, seu irmão, Adonias adquiriu uma escolta de

cinqüenta homens, dotada de cavalos e carros, conseguiu o apoio de Joabe,

convidou Abiatar, o sacerdote em Jerusalém, e providenciou para que ele mesmo

fosse ungido rei. Esse acontecimento teve lugar nos jardins reais de En-Rogel, ao

sul de Jerusalém. Conspicuamente ausentes nessa reunião de oficiais do governo e

da família real estavam Natã, o profeta, Benaia, o comandante do exército pessoal

de Davi, Zadoque, o sacerdote oficiante em Gibeá, e Salomão com sua mãe, Bate-

Seba.

Quando chegaram ao palácio as notícias dessa reunião festiva, Natã e Bate-

Seba imediatamente fizeram um apelo a Davi. Em resultado, Salomão montou a

mula do rei Davi, em Gibeom, escoltado por Benaia e pelo exército real. Ali, nas

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vertentes orientais do monte Ofel, Zadoque ungiu a Salomão, e assim ele foi

publicamente declarado rei e Israel. A população de Jerusalém se juntou na

aclamação pública: “Viva o rei Salomão!” Quando o ruído da coroação ressoou por

todo o vale de Cedrom, Adonias e seus adeptos ficaram profundamente

perturbados. Cessou de pronto a celebração, o povo se dispersou, e Adonias

buscou refúgio nos chifres do altar do tabernáculo, em Jerusalém. Somente depois

que Salomão garantiu-lhe a vida, sob a condição de boa conduta, é que Adonias

deixou esse abrigo.

Em solenidade subseqüente, Salomão foi oficialmente coroado e reconhecido

(veja 1Cr 28.1 ss). Com a presença de oficiais e estadistas vindo de todos os

rincões da nação, Davi incumbiu o povo de certa tarefa, esboçado a

responsabilidade deles para com Salomão, o rei escolhido por Deus.

Em incumbência imposta particularmente a Salomão (veja 1Rs 2.1-12), Davi

relembrou seu filho de sua responsabilidade de obedecer à lei de Moisés. Nas

palavras finais de sua vida, Davi impressionou Salomão com o fato de que fora

derramado sangue inocente por Joabe, por haver mortos a Abner e Amasa, e

também com o fato de que Simei desrespeitara a Davi, quando este fugiu de

Jerusalém, e também com o fato da hospitalidade que fora dada ao rei por Barzilai,

o gileadita, nos dias da rebelião de Absalão.

Após a morte de Davi, Salomão fortaleceu sua reivindicação ao trono, ao

eliminar todo possível conspirador. O pedido de Adonias de casar-se com Abisague,

a donzela sunamita, foi interpretado por Salomão como traição. Adonias foi

executado. Abiatar foi removido do lugar de honra que mantivera sob Davi e foi

banido para Anatote. Visto que ele pertencia à linguagem de Eli (veja 1Sm 14.3-4), a

deposição de Abiatar assinalou o cumprimento das solenes palavras que haviam

sido ditas a Eli, por um profeta cujo nome não é dado, que viera à Siló (veja 1Sm

2.27-36). Embora Joabe se tivesse tornado culpado de conduta traiçoeira, quando

deu seu apoio a Adonias, foi executado primariamente pelos crimes por ele

cometidos durante o reinado de Davi. Simei, que estava sob livramento condicional,

não observou as restrições que lhe tinham sido impostas, e, por igual modo, sofreu

a pena de morte.

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Salomão assumiu a liderança de Israel em seus verdes anos. Por certo ele

tinha menos de trinta anos, talvez cerca de vinte anos de idade. Sentindo a

necessidade que tinha de sabedoria divina, ele reuniu os israelitas em Gibeom,

onde estavam localizados o tabernáculo e o altar de cobre, e ofereceu ali grande

sacrifício. Por meio de um sonho ele recebeu a certeza, divinamente conferida, de

que lhe seria conferido seu pedido de sabedoria. Em adição a uma mente de grande

discernimento, Deus também o dotaria de riqueza, honrarias e vida longa, tudo sob

a condição de obediência (veja 1Rs 3.14).

A sagacidade de Salomão tornou-se motivo de profunda admiração. A

decisão dada pelo rei, quando duas mulheres contendiam por um único filho vivo

(veja 1Rs 3.16-28), sem dúvida alguma representa apenas um exemplo dentre os

casos que demonstraram a sua sabedoria. Quando essa e outras notícias passaram

a circular por toda a nação, os israelitas reconheceram que a oração do rei, pedindo

sabedoria, lhe fora respondida.

2.9. Organização do reino

Comparativamente pouca é a informação dada acerca da organização do

vasto império de Salomão. Aparentemente ela foi simples no começo, mas não se

dúvida que foi assumindo complexidade crescente com a passagem dos anos e

com o aumento da responsabilidade. O próprio rei constituía o tribunal supremo,

conforme é exemplificado no caso das duas mulheres contendoras. Em 1Rs 4.1-6

são mencionadas nomeações para os ofícios seguintes: três sacerdotes, dois

escribas ou secretários, um chanceler, um supervisor de funcionários, um sacerdote

da corte, um superintendente do palácio, um oficial encarregado do trabalho

forçado, e um comandante do exército. Isso representa apenas uma pequena

expansão além dos ofícios instituídos por Davi.

Para propósitos de cobrança de impostos, a nação foi dividida em doze

distritos (veja 1Rs 4.7-19). O oficial incumbido de cada distrito tinha de suprir

provisões para o governo central durante um mês de cada ano. Durante os demais

onze meses do ano ele teria de coletar e armazenar provisões nos armazéns

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existentes em seu distrito. O suprimento diário do rei e sua corte, com militares e

pessoal de construção consistia de 11 toneladas de farinha de trigo, de mais de 25

toneladas de carne, de dez reses cevadas, de 20 vacas engordadas no pasto, de

100 ovelhas, sem falar noutras caças e aves (veja 1Rs 4.22,23). Isso exigia intensa

organização em cada distrito.

Salomão mantinha Numerosa força armada (veja 1Rs 4.24-28). Em adição à

organização do exército, segundo fora estabelecido por Davi, Salomão também

empregava uma força de combate de 1400 carros de guerra e 12 mil cavaleiros, que

ele postou em Jerusalém e noutras cidades de toda a nação (veja 2Cr 1.14-17). Isso

acrescia à carga de impostos, exigindo um suprimento diário de cevada e feno.

Organização eficiente e administração sábia eram essenciais para a manutenção de

um estado de prosperidade e progresso.

2.10. A construção do templo

De máxima importância, no vasto e extenso programa de edificações de

Salomão, figurava o templo. Enquanto outros projetos de construção são

meramente mencionados, aproximadamente cinqüenta por cento da narrativa

bíblica sobre o reinado de Salomão são dedicados à construção e consagração

desse centro focal da religião de Israel. Isso assinalou o cumprimento do desejo

sincero de Davi, expresso na primeira metade de seu reinado em Jerusalém -

estabeleceu um lugar central de adoração.

2.10.1. Dedicação do Templo

Visto que o templo foi contemplado no oitavo mês do décimo primeiro ano

(veja 1Rs 6.37,38), é bastante provável que as cerimônias consagratórias tivessem

sido efetuadas no sétimo mês do décimo segundo ano, e não um mês antes de

haver sido terminado. Isso teria dado tempo para o elaborado planejamento para

esse grande evento histórico (veja 1Rs 8.1-9 e 2Cr 5.2-7.22). Para essa ocasião,

todo o Israel se fez presente, representado por anciões e líderes.

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Salomão foi a figura chave das cerimônias de consagração. Sua posição

como rei de Israel era singular. Sob o pacto, todos os israelitas eram servos de

Deus (veja Lv 25.41,44; Jr 30.10 e outros trechos bíblicos), sendo reputados reino

de sacerdotes para Deus (veja Êx 19.6). Durante todo o decurso dos cultos de

consagração Salomão tomou a posição de servo de Deus, representando a nação

escolhida por Deus para ser Seu povo. Esse relacionamento com Deus era comum

para os profetas, sacerdotes e leigos, incluindo o próprio monarca, sendo

verdadeiramente reconhecida a dignidade do homem. Nessa capacidade, Salomão

ofereceu orações, fez o sermão de consagração e oficiou nas oferendas sacrificiais.

Na história de Israel, a consagração de templos foi o mais significativo evento

desde que o povo deixou a região do Sinai. A súbita transformação que os tirou da

servidão no Egito para serem uma nação independente no deserto serviu de

importantíssima demonstração do poder de Deus em favor de Seu povo. Naquela

oportunidade o tabernáculo foi erigido para ajudá-los a reconhecer a Deus e a servi-

lo. Agora o templo fora construído por direção de Salomão.

Isso constituiu a confirmação do estabelecimento do trono davídico em Israel.

Assim como a presença de Deus se tornou visivelmente manifesta na coluna de

nuvens sobre o tabernáculo, assim também a glória de Deus pairou sobre o templo

e deu a entender a bênção e a graça de Deus. Isso confirmou divinamente o

estabelecimento do reino, conforme fora antecipado por Moisés (veja Dt 17.14-20).

2.11. A apostasia e suas conseqüências

O capítulo final do reinado de Salomão é trágico (veja 1Rs 11). Por qual

razão o rei de Israel, que chegou ao zênite do sucesso nos campos da sabedoria,

da riqueza, da fama e da aclamação internacional sob a bênção divina, teria

terminado seu reinado de quarenta anos sob augúrios de fracasso, é algo que

realmente nos deixa perplexos! Em conseqüência, alguns tem considerado o

registro bíblico a respeito como indigno de confiança e contraditório, buscando

outras explicações. A verdade da questão é que Salomão, que desempenhou o

liderante papel de consagrar o templo, afastou-se de uma total dedicação a Deus -

experiência essa paralela à do povo de Israel, no deserto, depois da construção do

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tabernáculo. Salomão desobedeceu justamente ao primeiro mandamento, com sua

norma inclusivista que permitiu a adoração aos ídolos em Jerusalém.

Os casamentos mistos entre as famílias reais era prática comum no Oriente

Próximo. No começo de seu reinado, Salomão firmou aliança com Faraó, aceitando

a filha deste em matrimônio. Embora ele a tivesse trazido para Jerusalém, não há

indicação de que ela recebera permissão para trazer consigo a sua idolatria (veja

1Rs 3.1). No auge de seu sucesso, Salomão obteve esposas entre os Moabitas,

Amonitas, Edomitas, Sidônios e Hititas. Além disso, adquiriu um harém de

setecentas esposas e princesas, além de trezentas concubinas. Não é declarado se

isso foi motivado por expedientes diplomáticos e políticos, para assegurar a paz e a

segurança, ou foi motivado pela tentativa de ultrapassar soberanos de outras

nações, cujo luxo era expresso por meio de grandes haréns. Não obstante, isso era

contra a ordem expressa de Deus (veja Dt 17.17). Salomão permitiu a multiplicação

de esposas para sua própria ruína, permitindo que seu coração se desviasse de

Deus.

Salomão não apenas tolerou a idolatria, mas ele mesmo prestou honrarias a

Astarote, a deusa fenícia da fertilidade, que era conhecida pelo nome de Astarte

entre os gregos e Istar entre os babilônios. Para veneração de Milcom ou Moloque,

o deus dos Amonitas, e de Camos, o deus dos Moabitas, Salomão erigiu um lugar

elevado em um monte a leste de Jerusalém. Esse lugar alto não foi removido

durante três séculos e meio, mas continuou sendo uma abominação nas

proximidades do templo de Jerusalém até aos dias de Josias (veja 2Rs 23.13).

Salomão também erigiu altares a outras divindades estrangeiras que não são

mencionadas por nome (veja 1Rs 11.8).

A idolatria, que era violação das palavras iniciais do decálogo (veja Êx 20),

não podia ser tolerada. A repressão divina (veja 1Rs 11.9-13) provavelmente foi

feita a Salomão por intermédio do profeta Aías, que figura mais adiante naquele

capítulo. A dinastia davídica continuaria governando sobre uma parte do reino, por

amor a Davi, com quem Deus estabelecera um pacto, e por causa de Jerusalém,

que Deus escolhera. Deus não quebrantaria Sua promessa de pacto, embora

Salomão houvesse perdido suas bênçãos e Seu favor, ficando temporariamente

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suspenso o juízo. Além disso, por amor a Davi, o reino não seria dividido durante os

dias de Salomão, embora viessem a levantar-se adversários que ameaçariam a paz

e a segurança, antes do término do seu reinado.

Conforme as coisas ocorreram, um dos próprios homens de Salomão,

Jeroboão, filho de Nebate, mostrou ser o verdadeiro fator de perturbação em Israel.

Sendo homem muito capaz, ele fora responsabilizado pela unidade de trabalho

forçado que reparava as muralhas de Jerusalém. Ele usou essa oportunidade para

sua própria vantagem política, tendo conseguido um bom número de adeptos. Um

dia, o profeta, encontrou-se com ele e despedaçou sua capa nova em doze

pedaços, entregando-os para ele.

Por intermédio desse ato simbólico, ele informou Jeroboão de que o reino de

Salomão seria dividido, deixando apenas duas tribos com a dinastia davídica, ao

passo que dez tribos constituiriam o seu reino. Sob a condição de obediência de

todo o coração, Jeroboão recebeu a certeza de que seu reino seria

permanentemente estabelecido, tanto quanto o de Davi.

Aparentemente Jeroboão não estava disposto a esperar acontecimentos; fica

subentendido que ele indicou abertamente a sua oposição ao rei. Seja como for,

Salomão suspeitou de uma insurreição e procurou tirar a vida de Jeroboão.

Conseqüentemente, Jeroboão fugiu para o Egito, onde achou asilo na corte de

Sisaque até que Salomão morreu.

Embora o reino tivesse continuado de pé, não sendo dividido senão após a

sua morte, Salomão foi sujeitado à angústia da rebelião em casa e a secessão em

várias porções de seu reinado. Em resultado de sua falha pessoal, não obedecendo

e servindo a Deus de todo coração, o bem estar geral e a prosperidade pacífica de

seu reino foram ameaçados.

2.12. A monarquia unida

A monarquia hebraica teve início com a ascensão de Saul, terminando com a

queda de Jerusalém. A data desse último acontecimento é definitivamente

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determinada por muitos testemunhos decorridos como sendo entre 588 e 586 a.C.,

o décimo nono ano de reinado de Nabucodonozor. Para estabelecer desse período

uma cronologia coerente, lembremos aqui que no hebraico se conta só uma parte

como um ano inteiro.

Saul, o primeiro governante, tinha pela frente um caminho difícil a percorrer.

E muitas surpresas o aguardavam. Depois de organizar o governo, criar planos de

administração e reorganizar a defesa dos territórios, teria de partir para expulsão do

inimigo das áreas invadidas e consolidar as posições de defesa. Esse objetivo o rei

alcançou em grande parte, com as vitórias sobre os Amonitas e sobre os Filisteus

(1Sm 11.8-11 e 14.6-23). Mas enquanto Saul batia-se contra o inimigo e obtinha

grandes vitórias, no plano interno havia descontentamento. Samuel já não se

entendia com Saul. O poder espiritual e a monarquia entravam em choque, em

conseqüência de erros cometidos pelo rei, que mereceram a reprovação por parte

de Samuel. Este retirou seu apoio ao rei e afastou-se para sua morada em Ramá

(1Sm 15.34). Saul terminou suicidando-se em conseqüência da derrota sofrida em

combate contra tropas inimigas.

Após sua morte Davi tornou-se rei de Judá e Israel. Ao assumir o trono, Davi

elaborou um plano de governo de largas realizações e a primeira preocupação foi

marchar sobre Jerusalém, de onde poderia melhor conceber e elaborar seus planos

com vista à formação de um Governo forte para construir uma pátria soberana e

livre. Preparou seu exército, marchou disposto a combater os Jebuseus e expulsá-

los de Jerusalém. Ocupou a cidade e instituiu Jerusalém como capital do reino de

Israel (2Sm 5.5-9).

Davi passou fases difíceis na sua vida, tanto particular como pública. Foi o

responsável pela morte de um seu oficial, de nome Urias, em campo de batalha,

com a finalidade de tomar por esposa a mulher do oficial morto, ação esta

condenada pelo profeta Natã, que fez previsões sombrias contra a casa real (2Sm

11). As previsões se confirmaram com a morte do filho Amnon, assassinado pelo

irmão, Absalão, e a rebelião deste contra Davi, seu Pai.

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A soma dos anos pesando sobre Davi e uma rebelde e incurável doença

retinha-lhe os passos, obrigando-o a se manter no leito de sofrimento. Para sua

sucessão tinha preferência por Salomão, mas manteve em segredo seu desejo até

que certo dia, o filho Adonias, sentindo o agravamento da saúde do pai, resolveu

proclamar-se como legítimo sucessor, pois era o primogênito da família.

Davi recebeu de Deus a promessa de que a sua descendência ocuparia o

trono de Israel para sempre. Nos seus últimos dias chamou Salomão, deu-lhe o

trono e fez suas últimas recomendações, chamando-o à atenção especialmente

para o cumprimento da lei de Moisés. Depois de dar os últimos conselhos ao jovem

rei, dormiu com seus pais, tendo reinado em Jerusalém 33 anos e 7 em Hebrom.

Tão pronto serenaram os ânimos palacianos, Salomão considerou o sonho

supremo de seu pai Davi, a construção do templo ao Senhor. O local não podia ser

melhor. O monte Moriá, Nm a sublime elevação, separado do monte Sião pelo vale

Tiropeon, uma ponte unindo os dois montes. A construção do templo é narrado em

1 Crônicas 22. A sua magnificência só pode ser comparada com o esplendor das

edificações antigas de que o Egito e Babilônica nos falam.

2.12.1. O reinado de Salomão marca o apogeu e declínio da

monarquia israelita

Segue-se um período de grande prosperidade no qual se destacam intensas

relações comerciais com a Fenícia, particularmente com Hiro, rei de tiro. Ao sul, no

Golfo de Ocaba, o porto de Eziam- Geber transformou-se no grande centro

comercial do Mar Vermelho. A política fiscal e tributária de Salomão fez o que

parecia mal aos olhos do Senhor, e não perseverou em seguir ao Senhor, como

Davi seu pai. Assim, o Senhor rasgou o reino de sua mão. Reinou Salomão em

Jerusalém 40 anos, e morreu. Após sua morte, a monarquia cinde-se em dois

reinos: o de Israel e o de Judá.

2.12.2. A monarquia dividida

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Os israelitas reunidos em Siquém para proclamarem Reoboão o novo rei,

apresentaram suas reivindicações. Mas Reoboão manteve-se insensível às

pretensões do povo. Em lugar de atender seus reclamos, respondeu com mão de

ferro. Eis sua resposta: “Se meu pai impôs-vos um jugo pesado, eu o tornarei ainda

mais pesado”. A resposta seca de Reoboão inflamou os ânimos do povo em injustas

pretensões e a contra-resposta veio de imediato. “Que parte temos nós com Davi?

Não há para nós herança no filho de Jessé. Às tuas tendas, ó Israel! Provê, agora à

tua casa, ó Davi. Então Israel se foi às suas tendas.” (1Rs 12.16).

Surpreendido com a reação, Reoboão retirou-se da cidade e regressou

apressadamente a Jerusalém. Sua intenção era empregar a força para obrigar o

povo a aceitar a sua decisão.

Jeroboão havia recebido de Deus a promessa de governar o reino de Israel,

mas logo que se deu a divisão do reino unificado das doze tribos, e foi proclamado

rei do novo Estado do Norte, afastou-se completamente do Templo de Jerusalém e

adotou a idolatria, instituindo a religião que lhe convinha. Assim o reino iniciado por

Jeroboão nunca ficou firme diante de Deus.

O reino do Norte teve, em sua existência, 19 reis (Jeroboão, Nadabe, Baasa,

Elá, Zirri, Onri, Acabe, Aczias, Jorão, Jeú, Jeoacaz, Jeoás, Jeroboão II, Zacarias,

Salum, Menaém, Pecaías, Peca e Oséias). Foi um reino que se desenvolveu um

clima de instabilidade pelas divergências constantes entre os políticos, resultado,

como conseqüência, a descontinuidade no seio da monarquia, que se caracterizou

pelas mudanças sucessivas na linha sucessora com dinastias diferentes.

Nunca o país chegou a se consolidar Nm a estrutura de governo capaz de

oferecer segurança e paz aos governantes, de modo a conduzir os problemas

nacionais livres de injunções prejudiciais ao progresso da nação. E se não havia

estabilidade na política interna também não era possível uma conexão segura,

desembaraçada e firme para resolver os intrincados problemas da política externa.

Devido à falta de entendimento entre os políticos, as crises se repetiam minando o

organismo nacional, as bases de segurança da nação. O problema religioso, que

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deveria ser um dos suportes de sustentação do regime monárquico do povo de

Israel, descia a ponto zero.

A consciência do povo minada por falsas idéias religiosas, ao sabor de uma

minoria influenciada por tradições estranhas, acrescida ainda de muitos fatores

negativos, envolvendo problemas de ordem moral, enriquecimento ilícito em

detrimento dos direitos do povo, assistência social deficiente, tudo isso acumulado,

apressava o desmoronamento da nação.

As pressões externas atuavam sempre mais violentas, ameaçando a

soberania nacional. E sob constante ameaça de invasão pelos Assírios, para os

quais despendia pesados tributos, o governo procurou ajuda com os Egípcios.

Salmanazar V, porém, o rei da Assíria, não era monarca para se amedrontar com

alianças ocidentais. Marchou contra Samaria e cercou-a durante três anos, para cair

em 722 nas mãos de Sargão II. O que se passou, então, dentro dos muros da

cidade de Onri está além de qualquer descrição. Vencidos pela fome e pela peste,

com os exércitos assírios em redor, entregaram-se, e os que não morreram foram

levados em cativeiro para as regiões da Assíria e Babilônia. O ano 722 marca o fim

do reino do Norte, o começo do cativeiro israelita e também o auge do Império

Assírio, que a este tempo dominava todas as cidades assírias, bem como grande

parte do Império Hiteu, estendendo os seus domínios para o sul, ameaçando a

existência de Jerusalém, que ainda resistiu mais tarde nas mãos dos babilônicos.

A destruição do reino de Israel foi a grande lição que Deus deu ao mundo.

Enquanto o povo se mantém fiel, há prosperidade e paz; quando o povo se esquece

de Deus, tudo desaparece. Esta tem sido a lição que a maioria dos povos não tem

querido aprender.

2.14. O reino do Sul

A dinastia davídica continuou com a instituição do Reino de Judá em 588

a.C. Eis a dinastia de Davi: Davi, Salomão, Reoboão, Abião, Asa, Jeosafá, Jeorão,

Acazias, Atália, Joás, Amazias, Uzias, Jotão, Acaz, Ezequias, Manassés, Amom,

Josias, Jeoacaz, Jeoiaquim, Joaquim (Jeconias) e Zedequias.

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Judá ficava enclausurada entre as suas altas montanhas, sem contato com a

vida grandiosa que ao longo se desenvolvia, especialmente nas costas

mediterrâneas e pelos confins da Síria e Assíria. Por isso, particularmente, é que a

sua sobrevivência ao Reino do Norte deve ser vista. O reino do Norte servia de

barreira contra o espírito avassalador dos Sírios, e depois, dos Assírios, situação

esta que gerou não pequenas crises em Judá e nos seus profetas. Jerusalém,

devido ao seu prestígio de centro de culto e da nacionalidade, dominava as outras

cidades e contribuiu para que as influências desintegradoras que minava outras

cidades do norte não atingissem o Sul.

Enquanto Jeroboão era puramente um grande político, pouco se dando a

religião, isto é apenas se servisse a fins políticos, Reoboão era religioso e a isso se

deve uma parte do seu esforço. Ante a ameaça constante que afetava diretamente

a segurança dos dois reinos de Israel e Judá, seus governantes recorriam ora a um

ora a outro, firmando aliança para garantir a defesa dos seus territórios, e por esse

meio, havia uma penetração das idéias pagãs, que não só se propagavam no meio

do povo, mas até mesmo entre sacerdotes e governantes.

Nos dias de Acaz, houve uma aliança entre Israel e a Síria e estes atacaram

Judá, fazendo com que Acaz pedisse socorro ao rei da Síria e foi atendido, tendo o

Rei Tiglate-Pileser atacado e ocupado a cidade de Damasco. Rezim, rei da Síria, foi

morto e toda população deportada para Quir, Judá, entretanto, teve de suportar

pesados ônus em conseqüência da ajuda recebida, ficando subordinado ao

pagamento de tributo ao rei da Assíria.

Nos dias de Ezequias, filho de Acaz, Senaqueribe ocupou o trono da Assíria.

Judá estava na mira do novo soberano que mobilizou seu exército e o enviou contra

as forças defesa do rei Ezequias. O país foi invadido e ocupadas todas as cidades

fortificadas. Objetivando conter o ímpeto do invasor, Ezequias enviou emissários

relatando sua disposição de submeter-se aos tributos que fossem impostos. Mas a

submissão tributária não satisfez o invasor. A pressão continuou com o envio de

tropas até as proximidades de Jerusalém, exigindo a rendição do país e

blasfemando do Deus de Israel. Jerusalém ficou isolada com as comunicações

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cortadas com o exterior, parecendo que estava por pouco tempo a queda da cidade.

Ezequias, envia seus servos a Isaías profeta de Deus, através desse envia resposta

consoladora ao rei Ezequias, que orando a Deus foi atendido. Deus enviou o seu

anjo e Nm a só noite foi destruído o exército assírio composto de 185.000 soldados.

Em Nínive pouco tempo depois, Senaqueribe, foi assassinado.

O pesadelo passou, caiu o cerco e Jerusalém voltou à normalidade.

Com Manassés e Amom o reino de Judá experimentou um período de

declínio espiritual, o qual terminou com a ascensão de Josias ao trono, o qual

implantou uma reforma, religiosa fazendo o que era reto diante dos olhos do

Senhor.

Como parte de seu plano de governo, Josias ampliou as fronteiras do país

ocupando parte do território do antigo reino de Israel. O reino de Judá passava por

uma fase de tranqüilidade. Essa foi interrompida pela movimentação de tropas do

Egito forçando passagem na direção de Carquêmis, marchando contra o império

assírio. Opondo-se à passagem dessas tropas pelo território de Judá, Josias

mobilizou seu exército e marchou em defesa da soberania nacional. Travou

combate com tropas de Faraó Neco e encontrou a morte no campo de batalha, na

planície de Megido.

Morre Josias e o povo de Israel sofre tremendo golpe. A grande reforma

empreendida por ele sofreu um impasse, porque viu-se estancada por uma série de

mudanças incompatíveis com o objetivo da reforma. Jeoacaz, filho de Josias,

assume o governo sob a tutela do Egito. Porém Faraó Neco o mandou prender em

Riba, em terra de Hamate, para que não reinasse em Jerusalém, e estabeleceu a

Jeoiaquim, também filho de Josias. Dominado o Egito pela Babilônia, passa Judá ao

seu domínio.

Jeoiaquim tentou resistir, mas morre em combate e Joaquim, seu filho, reinou em

seu lugar. Poucos meses depois é preso e exilado para a Babilônia, juntamente com

sua mãe, suas mulheres, seus eunucos, os poderosos da terra, os valentes até sete

mil, os carpinteiros e ferreiros até mil, e todos os varões destros na guerra.

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E o rei de Babilônia estabeleceu a Zedequias em lugar de Joaquim, e este

reinou 11 anos em Jerusalém, sendo o último rei do período dos reis de Israel.

No ano nono de seu reinado, no mês décimo, aos dez do mês,

Nabucodonozor, rei de Babilônia, veio contra Jerusalém, ele e todo o seu exército, e

se acampou contra ela, e levantaram contra ela tranqueiras em redor. E a cidade foi

sitiada até ao undécimo ano do rei Zedequias, aos nove do quarto mês, quando a

cidade se via apertada da fome, nem havia pão para o povo da terra. Os

sofrimentos do povo foram indescritíveis. As lamentações de Jeremias nos dão uma

idéia do que ocorreu dentro dos muros da Cidade Santa durante o cerco. Quando os

muros foram arrombados e os soldados caldeus invadiram a cidade, os famintos

foram passados espada, as mulheres foram presas, os nobres alguns foram mortos

outros amarrados e levados para a Babilônia. Alguns conseguiram fugir para os

montes, mas foram caçados como animais selvagens e, depois de torturados, uns

foram mortos, outros conduzidos amarrados para as planícies da Mesopotâmia. Os

cadáveres amontoavam-se pelas ruas; e os nobres eram amarrados, mão a mão, e

conduzidos ao suplício.

Nunca na história do mundo, o pecado produziu tão amargos resultados.

Além da destruição da Cidade Santa, da ruína das famílias e da juventude,

justamente os mais afetados, a vergonha e a humilhação sem igual puseram esta

infeliz gente ao ridículo, diante dos seus antigos inimigos Edomitas, Amonitas e

todos os povos seus vizinhos. O Templo foi queimado e a cidade arrasada,

carregando-se todas as riquezas para os tesouros da Babilônia.

Para que a terra não se despovoasse, Nabucodonozor deu ordem para que

um chefe nacional lá ficasse para tomar conta dos cativos. Esta escolha caiu em

Gedalias. Jeremias, o profeta, foi tratado com brandura, devido ao papel conciliador

que tinha tomado nas disputas entre o Egito e a Babilônia sobre Judá, e teve à

escolha ir para a Babilônia ou ficar na terra, escolhendo a segunda opção.

Juntamente com Gedalias, procurou aproveitar qualquer vantagem que ainda

pudesse restar, reunindo e encorajando o povo. O terror que havia caído sobre o

povo era aliviado por algumas vagas esperanças de salvação vindas do Egito e por

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isso prepararam uma traição, sendo Gedalias morto, após o que os revoltosos

carregaram Jeremias e fugiram para o Egito.

2.15. O papel dos profetas

Já mencionamos os profetas Isaías e Jeremias mas outros merecem entrar

no rol. Jeremias foi, sem dúvida o que teve a sorte de profetizar contra o seu povo e

contra a nação, visto como tanto os reis como o povo eram rebeldes a Deus. Diante

da situação internacional daqueles dias, só um poder podia livrar - o de Jeová. Os

líderes, porém, entendiam que mais valia um forte rei, que um grande Deus, e por

essa causa selaram a sorte da nação e da religião para aqueles dias. Habacuque

profetizou nos últimos dias de Jerusalém. Pouco se sabe sobre suas atividades,

senão que seria companheiro de Jeremias, e com ele compartilharia das amarguras

que a próxima queda da Cidade Santa iria sofrer. Obadias teria trabalhado também

nos últimos dias de Jerusalém, e sua profecia breve dirige-se aos Edomitas, para

mostrar que se o povo eleito ia sofrer por seus pecados, eles não seriam poupados,

mesmo que morassem nas cabeças das rochas. Naum, bem como Miquéias,

contemporâneos de Isaías tiveram o seu papel de conselheiros dos reis e do povo.

Não foi por falta de conselho e ajuda que a nação foi destruída. Deus não

descansava, mandando os seus profetas admoestar uns e outros; a rebeldia,

porém, podia mais que os conselhos sábios. A luta travada durante os longos anos

da existência dos reinos foi uma luta de religião contra paganismo, de Deus contra

idolatria. Nenhum já teve alguma vez tanta ajuda, e nenhum jamais teve um Deus

zeloso como o teve o povo de Israel.

2.16. O cativeiro

O cativeiro foi uma calamidade nacional e religiosa. A julgar pelo sentimento

dos povos daqueles dias, um povo assim arruinado dava prova de que o seu Deus

tinha sido impotente para o preservar. Jeová, pois teria sido julgado pelos

observadores, e mesmo historiadores, como um Deus igual aos dos outros povos.

Do ponto de vista nacional, a calamidade não foi menor, porque arruinou toda a

estrutura maravilhosa, construída à custa de tantos esforços e duros labores. Os

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dias dos juízes de Israel, as experiências de vida de Saul e Davi, o apogeu de

Salomão, tudo foi reduzido a nada. As maravilhosas promessas feitas, de que

nenhum povo seria tão glorioso quanto este, de pouco valeram. Entretanto, nem

tudo foi perdido. Os Judeus perderam a sua cidade, a sua terra e a sua importância

como nação, mas ganharam o que não tinham podido obter nos dias pacíficos. Os

seus profetas foram cuidadosamente estudados, os conselhos do pastor do

cativeiro, Ezequias foram ouvidos, a religião entrou Nm estágio espiritual, com a

fundação de escolas, sinagogas e tantos outros meios de que se valeram os

desterrados, nos dias de suas tristezas junto ao rio Quebar. Quando pois voltaram

para sua terra, vinham curados para sempre da idolatria e da apostasia. Os judeus

destes últimos vinte e cinco séculos podem ser acusados de muitas falhas, mas, de

idolatria e apostasia, não. Hoje, ainda espalhados pelo mundo por causa do pecado

da rejeição do Messias aguardam fielmente o cumprimento das promessas de Deus.

Passados 70 anos de cativeiro, veio a queda do império Babilônico sob os

medos e os persas. E no primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia, para que se cumprisse

a palavra do Senhor pela boca do profeta Jeremias, despertou o Senhor o espírito

de Ciro, o qual fez passar pregão por todo o seu reino, como também por escrito,

dizendo: “O Senhor, Deus dos céus, me deu todos os reinos da terra, e me

encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que está em Judá. Quem há

entre vós, de todo o seu povo, o Senhor seu Deus seja com ele, e suba” (2 Crônicas

36.22,23).

Estava concedida a liberdade aos judeus e terminado o cativeiro.

2.17. O período interbíblico

2.17.1 Definição

A. Trata de eventos que ocorreram entre o fim do AT., e o início do NT.

B. As datas são de 424 a.C., até 5 a.C.

Iniciaremos nossa contextualização pelo chamado "Período Interbíblico", a

fim de traçarmos a ligação histórica entre o Velho e o Novo Testamento. Tal exame

também possibilitará melhor compreensão dos fatores que construíram o cenário

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político, social e religioso encontrado por Cristo na Palestina. Ao lermos o Novo

Testamento, deparamos com muitos problemas cujos motivos se encontram no

período Interbíblico. Normalmente se faz referência a esse tempo como uma época

em que Deus esteve em silêncio para com o seu povo. Nenhum profeta de Deus se

manifestou ou, pelo menos, nenhum deixou escrito que tenham sido considerados

canônicos.

2.17.2 Porque estudar este período?

A. Históricas razões - explicam o fundo histórico do NT.;

B. Culturais - explica a origem e desenvolvimento dos costumes, instituições

e vida espiritual do povo judaico do período do NT.

C. Messiânico - demonstra como Deus preparou o mundo para o advento.

2.17.3 As divisões do período interbíblico

Entre as datas marcadas para nosso estudo, muitos eventos se passaram

que não teremos a oportunidade de reconhecer. Nós daremos atenção especial ao

fim do AT., os tempos de Alexandre, as guerras dos macabeus e Herodes.

1. Período Persa 536-331;

2. Período Grego 331-167;

a. Período Grego Próprio 331-323;

b. Período Egípcio 323-198;

c. Período Sírio 198-167;

3. Período Macabeu 167-63;

4. Período Romano 63-5.

2.18 O fim do período do AT e o início do período Persa

Depois de um longo período de apostasia, o Reino do Norte foi conquistado e

levado para o cativeiro pelos assírios em 721AC, lá desapareceu misturando-se.

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Igual tratamento recebeu o Reino do Sul nas mãos dos babilônios sob

Nabucodonosor em 586 AC.

Já em 597 AC. Nabucodonosor tinha colocado fim ao Estado judaico onde o

rei Joaquim e os principais tinham sido levados cativos 2Rs. 24:10-17.

Nabucodonosor nomeou Matanias, em lugar de Joaquim, seu tio, e lhe mudou o

nome para Zedequias. Judéia ficou como um reino tributário.

Em 590 Zedequias tenta aliar-se ao Egito, mas Nabucodonosor novamente

sitia a cidade até ser tomada totalmente e ser destruída, e o seu templo profanado

(Jr:39:4-10).

2.18.1 As restaurações

A queda da Babilônia deu-se aproximadamente em 538 AC. Ciro rei da

Pérsia tomou-a por meio do estratagema de afastar as águas do Eufrates que

passavam pela cidade.

Ciro publicou um decreto (536AC) que autorizava os judeus voltarem a sua

pátria com os despojos do seu templo e a sua reconstrução seria financiada pelo

tesouro real (Ed:6:1-5). Nesta primeira leva nem todos voltaram, alguns preferiram

ficar com os seus negócios. Cerca de 50.000 exilados voltaram, principalmente das

tribos de Judá, Benjamim e Leví sob a direção de Zorobabel. Começaram com a

reconstrução do templo e o povo que tinha ficado na terra fez oposição para retardar

a reconstrução (Ed:1:3,5-11 e 4:1-5). Nada mais se fez durante quase 20 anos

embora que tiveram prosperidade (Ag:1-4).

Sob a pregação de Ageu e Zacarias (Ed:5:1-2) a obra foi recomeçada,

havendo oposição, mas os judeus apelaram para Dario Ed:6:1-15 ficando pronto em

516 AC.

Há um período de quase 60 anos onde a história se conserva em silêncio a

respeito do estado dos judeus na Palestina. Em 495 AC (Ed:7:7) uma nova

migração deixou a Babilônia sob a direção de Esdras, esta segunda leva foi

absorvida pelo povo e nada aportou.

Em 446 AC (Ne:2:1) Neemias dirige-se ao rei ao ser informado da situação

das muralhas de Jerusalém (parece ter sido uma recente devastação e não algo

que ocorreu a um século meio antes).

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1. A participação de Neemias:

a) Em menos de dois meses foram feitas as reparações e as muralhas da

cidade levantadas (Ne:6:15-16);

b) Promoveu também reformas econômicas e sociais (Ne:5:1-12);

c) Foi renovado o conhecimento da lei sob a direção do escriba Esdras, que

leu e interpretou as Escrituras (Ne:8:2,7,8; 8:9,13-18);

d) Fazia aplicação rigorosa dos princípios da Lei. O culto do templo foi

renovado e as contribuições para o sustento foram exigidas. Os

casamentos mistos proibidos (Ne:10:30), a quebra do sábado condenada

(10:31) e foi estabelecida a administração regular dos dízimos (Ne:12:44);

e) Estas reformas deixaram efeitos perduráveis até o tempo dos Macabeus,

criando um povo fiel a Deus que resistiu ao paganismo;

f) Dois aspectos da vida judaica desapareceram durante o período persa e

grego: a monarquia e a função profética. As pretensões de independência

foram centralizadas no sacerdócio e a função profética findou com

Malaquias.

1. Cerca de 50.000 exilados no ano 536, foram permitidos por Ciro a voltar

para a Palestina com Zorobabel - Esdras 1.6.

2. Os eventos do livro de Ester passaram na Pérsia em c. 183 a.C.

3. Esdras, um escriba, chegou em Jerusalém c. 457, promoveu várias

reformas civis e religiosas. - Esdras 7.10.

4. Neemias e seus companheiros chegaram na Palestina c. 445 - Nee 1.2.

5. Malaquias dirigiu seu ministério num período de decadência espiritual c.

432-424. Ele marcou o fim do AT.

2.18.2 Características do período Persa

No final de Malaquias os judeus se achavam ainda sob o reinado persa e

permanecerem nessa situação durante praticamente sessenta anos da era

intertestamentária.

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A forma sacerdotal do governo judeu foi respeitada e sumo sacerdote

recebeu ainda maior poder civil além de seus ofícios religiosos, embora tivesse de,

naturalmente, prestar contas ao governador persa da Síria.

Em 2Reis 17:24-4, lemos que bem antes, em 721 AC, depois destruir o reino

das dez tribos de Israel e dispersar os israelitas através das cidades dos medos, o

rei da Assíria repovoou as cidades de Israel com um povo misto que veio a ser

chamado de “samaritanos”, seu território sendo conhecido como Samária, o nome

da cidade principal, ex-capital de Israel.

1. Decadência espiritual vista em Ageu e Malaquias;

2. Desenvolvimento do poder do sumo sacerdote;

a. Após Neemias, a Judéia foi incluída na província da Síria. Assim o

sumo sacerdote tornou-se governador da Judéia e autoridade da Síria.

3. Os inícios do escribismo com um interesse exagerado na letra da lei.

2.19 O período Grego

2.19.1 Os tempos e significância de Alexandre, o grande

A. A origem de Alexandre

1. Felipe de Macedom uniu os estados gregos para expulsar os persas da

Ásia Menor. Morreu assassinado durante uma festa - 337 a.C.

2. Alexandre seu filho, de grande capacidade de liderança, educado sob o

famoso Aristóteles, era devotado à cultura grega. Tirou sua inspiração de Ilíade de

Homero.

B. As conquistas de Alexandre.

1. Após o domínio da Grécia, penetrou a Pérsia, império 50 vezes maior, com

população 20 vezes a da Grécia.

2. Em 334 penetrou na Ásia Menor vencendo o exército persa no Rio

Grânico, perto de Trôade.

3. Em pouco tempo com apenas a idade de 22 anos, conquistou a Sardo

Mileto, Éfeso e Halicarnaso, estabelecendo em cada cidade a democracia grega.

4. Em 333 a.C., foi ao encontro de Dario na batalha de Isso, a qual ganhou.

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5. Dai foi sem grande resistência até o Egito que também dominou.

6. Em 332 cercou a Tiro, que tomou antes de descer ao Egito.

7. Venceu Dario decisivamente na batalha de Arbela em 331, dando fim ao

grande império persa.

8. Continuou suas conquistas até ao rio Indo.

9. Morreu com apenas 33 anos com suas forças dissipadas pelo álcool e

malária. No ano 323 morreu com a bebida (vinho).

C. A influência de Alexandre.

1. Sua influência foi muito grande por causa de sua extensão e permanência.

2. Estabeleceu centro de comércio e cultura em toda a extensão do seu

império.

3. Com a penetração da cultura grega, a superstição oriental cedeu à

liberdade do pensamento grego na filosofia, arquitetura, deuses, religião e atletismo.

Surgiram bibliotecas e Universidade em Alexandria e Tarso como em outros

lugares. Preparou-se assim o campo para religião universal.

4. De grande importância foi a disseminação da língua grega, criando a

possibilidade da pregação do evangelho numa língua universal e a criação duma

bíblia legível em toda a extensão da bacia do Mediterrâneo.

2.20 A palestina sob o domínio dos Ptolomeus (período egípcio)

No começo dominaram a Palestina durante 122 anos (320-198). Os judeus

gozaram de uma boa condição de vida. O sumo sacerdote era o governador e

aplicava as leis. O templo era o centro da vida nacional, a festa da Páscoa, das

Semanas e dos Tabernáculos eram realizadas no próprio templo. Mantinha-se o

estudo da lei e durante este período a interpretação da mesma se desenvolveu com

pormenores.

Foi sob o reinado de Ptolomeu Filadelfo que se realizou a versão do Antigo

Testamento para o grego. Esta ficou conhecida como Setuaginta (LXX). A obra foi

realizada no Egito (Alexandria), onde setenta e dois eruditos fizeram esta tradução.

Apesar das vantagens do povo judeu, este era um povo relativamente pobre,

pagava um imposto baixo, pois as guerras constantes tinham empobrecido a terra.

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2.21 Antíoco1 e a revolta Macabéia

A. Eventos relacionados com Alexandre e com Antíoco.

1. Após a morte de Alexandre, começou a luta para o controle do império.

2. Em 301 a.C., na batalha de Ipso a divisão efetuou-se em quatro partes.

3. Egito e Palestina ficaram com Ptolomeu Soter (Lagos), e a Síria do Norte

e Ásia Menor com Seleuco.

4. Os Ptolomeus dominaram a Palestina até 198 quando os sírios com

Seleuco anexaram a Terra Santa ao seu domínio.

5. Antíoco, o grande (III), que conquistou a Palestina morreu; foi seguido

pelo seu filho Seleuco Filopater (187-175), que foi envenenado abrindo

caminho para a sucessão de seu irmão Antíoco Epifânio (IV).

B. Os atos e Antíoco Epifânio IV 175-164 a.C.

1. Epifânio (nome que deu a si mesmo), significa “deus manifesto”.

2. O sumo sacerdote, Onias III, liderou os nacionalistas; Jasom, seu irmão

dirigiu os helenistas.

a. Joson ofereceu grande soma de dinheiro a Antíoco por ser apontado

sumo sacerdote no lugar de seu irmão. Prometeu também helenizar a

Jerusalém.

b. Quando assim foi apontado, tornou o povo cidadão da capital da Síria,

Antioquia, erigiu um ginásio grego logo em baixo do templo; os jovens judeus

começaram a tomar parte nos jogos gregos. Jason criou um altar, até

mandou ofertas às festas de Hércules em Tiro.

3. Os nacionalistas são os antecedentes dos Fariseus; helenistas dos

Saduceus.

1 No grego, opositor. Foi nome de treze reis da disnatia selêucida, de 280 d.C., em diante. Após a morte de

Alexandre, o Grande, em 323 a.C.

Os reis:

1. Antíoco I (Soter), 324-261 a.C.

2. Antíoco II (Theos), 286-246 a.C.

3. Antíoco III (o Grande), 242-187 a.C.

4. Antíoco IV (Epifânio), 170-169.

5. Antíoco V (Eupator), 173-162 a.C. etc.

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4. Antíoco fez várias expedições para o Egito. Numa delas ouve rumores de

sua morte que provocou grande regozijo entre os judeus. Ao ouvir isto,

Antíoco massacrou 40.000 judeus num só dia. Muitos judeus foram

escravizados e o templo roubado.

5. Numa campanha seguinte, os romanos forçaram sua desistência no Egito.

Na sua grande ira derramou-a sobre Jerusalém. Mandou erradicar a

religião judaica. Quem possuía cópia da lei ou tivesse circuncidado a

criança seria morto. Finalmente converteu o templo em templo de Zeus,

sacrificando um porco no altar no dia 25 ano 168.

6. Tudo isto consolidou a resistência dos judeus na revolta dos Macabeus.

2.21.1 a palestina sob o domínio dos Seleucidas (período sírio)

Houve constantes lutas até que a Palestina caiu sob o domínio da Síria, mas

o que mais importa para compreensão do Novo Testamento é a figura de Antíoco

Epifânio (176-164) e os seus atos. O seu nome significa “deus manifesto”.

Quando o rei anterior à Antíoco IV, chamado Antíoco III tinha derrotado os

egípcios (Ptolomeus), já os judeus estavam divididos em duas facões: A casa de

Onias (Pró-Egito) e a casa de Tobias (Pró-Siria). Quando subiu Antíoco IV, rei da

Siria, substituiu o sumo sacerdote judeu Onias III, pelo irmão deste Jasom,

helenizante, o qual planejava transformar Jerusalém em uma cidade grega.

Foi erigido um ginásio com pista de corrida. Ali se praticavam corridas

despidos, à moda grega, isto era um ultraje para os judeus piedosos. As

competições eram inauguradas com invocações feitas as divindades pagãs,

participando até sacerdotes judeus. A helenizarão incluía a frequência aos teatros

gregos, vestes ao estilo grego, a cirurgia que removia as marcas da circuncisão e a

mudança de nomes hebreus por gregos. Os que se opunham a esta paganização

eram os “hasidim” ou “os piedosos”, a grosso modo seriam os puritanos.

Jasom o sacerdote helenizante foi substituído por outro judeu helenizante

que parece não ter pertencido a uma família sacerdotal, este pagou um tributo mais

elevado (simonia), o nome desta era Melenau.

Antíoco tenta anexar o Egito ao seu domínio, mas termina falhando. Isto

chega aos ouvidos de Jasom de que Antíoco era morto. Jasom retornou a

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Jerusalém retirou Melenau do controle da cidade. Antíoco na sua volta interpretou

isto como uma revolta de Jasom e enviou seus soldados a reintegrarem Melenau e

saquearam a cidade e o templo de Jerusalém e passaram ao fio de espada os seus

habitantes.

Dois anos mais tarde (168 AC), Antíoco enviou seu general Apolonio com um

exército de 22 mil homens para coletar tributo, tornar ilegal o judaísmo e estabelecer

o paganismo à força e assim consolidar o seu império e refazer o seu tesouro. Os

soldados saquearam Jerusalém, incendiaram a cidade, os homens mortos e as

mulheres escravizadas.

Novas leis e Proibições: Ofensa capital é circuncidar-se; proibido observar o

sábado; celebrar festas judaicas, possuir copias do Antigo Testamento. Os

sacrifícios pagãos tornaram-se compulsórios. Foi erigido um altar consagrado a

Zeus, possivelmente no templo. Foram sacrificados animais imundos no altar e a

prostituição sagrada passou a ser praticada no templo de Jerusalém.

2.21.2 A revolta dos Macabeus (1a.Macabeus:2:23-28; 42ss)

Neste período houve em torno de oito guerras. Judas Macabeus morreu na

sétima luta sendo sucedido por Jônatas o quinto mais jovem filho de Matatias.

A revolta começou com Matatias, sacerdote de Modim (167). Após a sua

morte seu filho Judas (166-161) continuou a luta com seis mil homens. Quando

Antíoco mandou sessenta mil homens para subjugá-lo, Judas mandou os temerosos

para a casa. Com três mil homens derrotaram os sírios.

Em seguida Judas entrou em Jerusalém e reedificou o templo (25 de

dezembro de 166 AC). A festa da dedicação foi instituída no ano 164 (Cf.Jo:10:22).

O significado da opressão síria e a revolta dos macabeus: restaurou a nação

da decadência política e religiosa. Criou um espírito nacionalista, uniu a nação e

suscitou virilidade. Deu um novo impulso ao judaísmo, isto pode ser percebido na

purificação moral e espiritual do povo; na onda da literatura apocalíptica e numa

nova e intensa esperança messiânica.

Intensificou-se o desenvolvimento dos dois movimentos que se tornaram os

fariseus e os saduceus. Os primeiros surgiram do grupo purista e nacionalista e os

saduceus surgiram do grupo que se aliou com os helenistas.

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Houve um ímpeto maior da diáspora onde muitos judeus queriam ausentar-se

durante as perseguições de Antíoco.

A. A revolta começou com Matatias, sacerdote em Modim (167);

B. Após sua morte em 166, seu filho Judas (166-161), continuou a luta com

6.000 homens. Quando Antíoco mandou 60.000 homens para subjugá-lo,

Judas mandou os temerosos voltarem para casa. Com apenas 3.000

derrotaram os sírios.

C. Em seguida Judas entrou em Jerusalém e reedificou o templo, em 25 de

Dezembro de 166 a.C. a festa de Dedicação foi instituída no ano 164 (cf.

Jo 10.22).

D. Significância da opressão síria e revolta dos macabeus:

1. Restaurou a nação da decadência política e religiosa;

2. Criou um espírito nacionalista, uniu a nação e suscitou virilidade.

3. Deu novo impulso ao judaísmo

a. Percebe-se isto na purificação moral e espiritual;

b. Percebe-se isto numa onda de literatura apocalíptica;

c. Percebe-se isto numa nova e intensa esperança messiânica.

4. Intensificou o desenvolvimento dos dois movimentos que se tornaram

os Fariseus e os Saduceus.

a. Os Fariseus surgiram do grupo purista e nacionalista.

b. Os Saduceus surgiram do grupo que se aliou com os helenistas.

5. Deu maior ímpeto ao movimento da dispersão com muitos judeus

querendo se ausentar durante as terríveis perseguições de Antíoco.

2.22 O período romano

O General Pompeu subjuga a Palestina (63AC) e o período do Novo

Testamento fica sob o domínio do Império Romano.

Imperadores ligados às narrações do Novo Testamento:

• Augusto (27AC-14DC), sob quem ocorreram o nascimento de Cristo, o

recenseamento e os primórdios do culto ao Imperador.

• Tibério (14-37DC), ministério e morte de Jesus.

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• Calígula (37-41DC) exigiu que lhe prestassem culto e ordenou que sua

estátua fosse colocada no templo de Jerusalém, mas veio a falecer antes que

sua ordem fosse cumprida.

• Cláudio (41-54DC) expulsou de Roma os residentes judeus por distúrbios

civis, entre os quais estavam Aquila e Priscila.

• Nero (54-68DC) perseguiu os cristãos, embora provavelmente nas cercanias

de Roma, e sob quem Pedro e Paulo foram martirizados.

• Vespasiano (69-79DC), ainda general romano começou a esmagar uma

revolta dos judeus, tornou-se imperador e deixou o restante da tarefa ao seu

filho Tito, numa campanha que atingiu o seu clímax com a destruição de

Jerusalém e seu templo, em 70DC.

• Domiciano (81-96DC), cuja perseguição contra a Igreja provavelmente serviu

de pano-de-fundo para a escrita o Apocalipse, como encorajamento para os

cristãos oprimidos.

2.22.1 Herodes o grande

Os romanos permitiam a existência de governantes nativos vassalos de

Roma, na Palestina. Um deles foi Herodes o Grande, que governou o país sob os

romanos de 37-4AC. O senado aprovou o oficio real de Herodes, mas ele foi forçado

a obter o controle da Palestina mediante o poder das armas.

1. A Dinastia de Herodes

a) Arquelau tornou-se etnarca da Judéia, Samária e Idumeia;

b) Herodes Filipe, tetrarca da Itúreia, Traconites, Gaulanites, Auranites e

Bataneia;

c) Herodes Antipas, tetrarca da Galiléia e Pereia;

d) Herodes Agripa I, neto de Herodes o Grande, executou Tiago e também

encarcerou Pedro;

e) Herodes Agripa II, bisneto de Herodes o Grande, ouviu Paulo em sua

autodefesa.

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Antecedentes na vida de Herodes: mostrou grande zelo no seu governo,

erradicando os bandidos que tinham infiltrado a Galiléia. Os primeiros 12 anos (37-

25AC) foram gastos na luta pelo poder. Os segundo doze anos (25-13AC) foram os

seus melhores anos. Os últimos nove anos (13-4AC) se caracterizaram pela

crueldade e amargura.

Os sucessos de Herodes: usou de muito mais tato na sua tentativa de

helenizar os judeus, que Antíoco Epifanio. Com espetáculos, jogos, etc. ganhou a

lealdade dos jovens que se tornaram herodianos. Aumentou a fortaleza de

Jerusalém denominada “Antonia” (At:21:34). Edificou a Cesaréia (At:10:1); 23:23-

24). Reconstruiu o templo de Zorobabel, cuidando de não ofender os judeus.

Começou em 20AC. completando o santuário em 18 meses e o templo todo só em

64 DC (Cf.Jo:2:20).

2.22.2 O surgimento das sinagogas

A sinagoga veio em consequência da suspensão do serviço do templo em

586AC. Era o local para a adoração e instrução. Era uma das mais importantes

instituições na época de Cristo.

A sinagoga era dividida em duas partes. Numa parte ficava a arca com o livro

da lei. Diante desta seção estava o lugar para os adoradores. No centro do auditório

ficava o palco onde o leitor lia as Escrituras em pé e sentava-se para ensinar.

Assentos foram colocados em volta do palco - os homens dum lado e as mulheres

do outro.

Os líderes principais da sinagoga eram: o chefe da sinagoga com poderes de

excomungação, superintendência dos cultos e presidência sobre o colégio dos

anciãos. O Shaliach que oficiou nos cultos lendo as orações e a Lei. O Chazzan que

cuidou da sinagoga como zelador, abriu as portas, preparou a sala e auditório,

manteve a ordem e açoitou os condenados. O Methurgeman ou Targoman que

traduziu as escrituras lidas em hebraico para o aramaico. Daí surgiram os Targuns.

O Blatanim eram dez homens que assistiram todas as reuniões da congregação e

levantaram as esmolas.

O Culto na sinagoga: Oração e o hino (incluindo o Shema, Dt:6:4-9) sem

instrumentos. O Chazzan trazia a lei da arca. O Shaliach se levantava e lia a porção

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marcada num ciclo já previsto. O Methurgoman ou Targoman traduzia o trecho para

o aramaico. Em seguida havia a palavra de exortação dum ançião sentado. A lei

novamente era levada para a arca e orações eram feitas.

O surgimento das sinagogas é normalmente atribuído ao período do exílio

babilônico, quando os judeus deixaram de ter um templo para adorar e sacrificar. O

fato indiscutível é que nos dias do Novo Testamento, tais locais de oração, ensino e

administração civil eram muito valorizados. Em qualquer localidade onde houvesse

10 judeus, podia ser aberta uma sinagoga. Em cidades grandes poderia haver

várias, como era o caso de Jerusalém. A liderança da sinagoga era exercida pelo

rabi (mestre), o qual era eleito pelos membros daquela comunidade. Essa

autonomia de eleição do rabi favoreceu o surgimento de muitos mestres com idéias

religiosas distintas. Todos estudavam a lei e elaboravam seus ensinamentos com

interpretações e comentários acerca da Torá.

Assim surgiram as midrashs e as mishnas. Midrash era o comentário da lei. A

primeira surgiu no ano 4 a.C.. As mishnas eram os ensinamentos rabínicos. A

primeira surgiu em 5 a.C.. Tudo isso compunha a tradição, que passou a ser mais

utilizada do que a própria lei. A interpretação da lei era tão desenvolvida que

chegava ao extremo de contradizer o código original (Mt.15.1-6). Assim, os escribas

e fariseus, doutores da lei, ocupavam o lugar de Moisés (Mt.23.2). Devido a essa

posição dos rabis (mestres), Jesus orientou seus discípulos a não utilizarem esse

mesmo título (Mt.23.8).

2.22.3 O império Persa – final do v.t

O Velho Testamento termina com as palavras de Malaquias, o qual profetizou

entre 450 e 425 a.C.. Nesse tempo, a Palestina estava sob o domínio do Império

Persa, o qual se estendeu até o ano 331 a.C.. Embora o rei Ciro tenha autorizado os

judeus a retornarem do exílio, o domínio Persa continuava sobre eles. De volta à

Palestina, o povo judeu passou a ter um governo local exercido pelos sumos

sacerdotes, embora não houvesse independência política. Eram comuns as

disputas pelo poder.

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2.23 O império Grego – 335 a 323 a.C

Paralelamente ao Império Persa, crescia o poder de um rei macedônico,

Felipe, o qual empreendeu diversas conquistas na Ásia menor e ilhas do mar Egeu,

anexando a Grécia ao seu domínio. Desejando expandir seu território, entrou em

confronto com a Pérsia, o que lhe custou a vida. Foi sucedido por seu filho,

Alexandre Magno, que também ficou conhecido como Alexandre, o Grande, o qual

havia estudado com Aristóteles. A mitologia grega, com seus deuses e heróis

parece ter inspirado o novo conquistador. Alexandre tinha 20 anos quando começou

a governar. Seu ímpeto imperialista lhe levou a conquistar a Síria, a Palestina (332

a.C.) e o Egito. Notemos então que o território israelense passou do domínio persa

para o domínio grego.

No Egito, Alexandre construiu uma cidade em sua própria homenagem,

dando-lhe o nome de Alexandria, a qual se encontrava em local estratégico para o

comércio entre o Mediterrâneo, a Índia e o extremo Oriente. Essa cidade se tornou

também importante centro cultural, substituindo assim as cidades gregas. Entre

suas construções destacaram-se o farol e a biblioteca.

Em 331, Alexandre se dedicou a libertar algumas cidades gregas do domínio

da Pérsia. Seu sucesso militar foi tão grande que considerou se capaz de enfrentar

a própria capital do império. E assim conquistou a Pérsia. Contudo, nessa batalha,

que ficou conhecida como Arbela ou Gaugamela, as tropas gregas tiveram de

enfrentar um exército de elefantes, os quais foram usados pelo rei da Pérsia.

Alexandre venceu o combate, mas os elefantes foram motivo de grande desgaste

para seus soldados. Alexandre se denominou então "Rei da Ásia" e passou a exigir

para si o culto dos seus subordinados, de conformidade com as práticas

babilônicas.

Em 327 a.C., em suas batalhas de conquista rumo ao Oriente, Alexandre

encontra outro exército de elefantes, o que fez com que seus soldados se

amotinassem, recusando-se a prosseguir. Terminaram-se assim as conquistas de

Alexandre Magno. Em 323 a.C., foi acometido pela malária, a qual lhe encontrou

com o organismo debilitado pela bebida. Não resistiu à doença e morreu naquele

mesmo ano. Não deixou filhos, embora sua esposa, Roxane, estivesse grávida.

Quanto aos judeus, Alexandre os tratou bem e teve muitos deles em seu exército.

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Após a sua morte, o Império Grego foi divido entre os seus generais, dentre os

quais nos interessam Ptolomeu, a quem coube o governo do Egito, e Seleuco, que

passou a governar a Síria.

2.23.1 O governo dos Ptolomeus

A Palestina ficou sob o domínio do Egito. Os descendentes de Ptolomeu

foram chamados Ptolomeus. Eis os nomes que se sucederam enquanto a Palestina

esteve sob o seu governo (323 a 204 a.C.):

• Ptolomeu I (Sóter) - 323 a 285 a.C.

• Ptolomeu II (Filadelfo) - 285 a 246 a.C. – Durante o seu governo foi

elaborada, em Alexandria, a Septuaginta, tradução do Antigo Testamento

para o grego. Filadelfo foi amável com os judeus.

• Ptolomeu III (Evergetes) – 246 a 221 a.C.

• Ptolomeu IV (Filópater) - 221 a 203 a.C. - Ao voltar de uma batalha contra a

Síria, Filópater visitou Jerusalém e tentou entrar no Santo dos Santos.

Contudo, foi acometido de um pavor repentino que o fez desistir do seu

propósito. Foi um grande perseguidor dos judeus.

• Ptolomeu Epifânio – 203 a 181 a.C. – Tinha 5 anos de idade quando seu pai,

Filópater morreu. Aproveitando a situação, Antíoco - o Grande, rei da Síria,

toma o poder sobre a Palestina no ano 204.

2.23.2 O governo dos Selêucidas

Os reis da Síria, descendentes do general Seleuco, foram chamados

Selêucidas. De 204 a 166 a.C., a Palestina esteve sob o domínio da Síria. Eis a

relação dos selêucidas do período:

• Antíoco III - O Grande – 223 a 187 a.C.

• Seleuco IV (Filópater) – 187 a 175 a.C.

• Antíoco IV (Epifânio) - 175 a 163 a.C. - Em Israel, o governo local era

exercido por Onias, o sumo sacerdote. Contudo, Epifânio comercializou o

cargo sacerdotal, vendendo-o a Jasão por 360 talentos. Epifânio se esforçou

para impor a cultura e a religião grega em Israel, atraindo sobre si a inimizade

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dos judeus. Tendo ido ao Egito, divulgou-se o boato da morte de Epifânio,

motivo pelo qual os judeus realizaram uma grande festa. Ao tomar

conhecimento do fato, o rei da Síria promoveu um grande massacre,

matando 40 mil judeus.

• Em 168 a.C., Antíoco Epifânio sacrifica uma porca sobre o altar em

Jerusalém e entra no Santo dos Santos. Ordena que o templo dos judeus

seja dedicado a Zeus, o principal deus da mitologia grega, ao mesmo tempo

em que proíbe os sacrifícios judaicos, os cultos, a circuncisão e a

observância da lei mosaica.

• Segue-se então um período em que não houve sumo sacerdote em atividade

em Jerusalém (159 a 152 a.C.). Realiza-se então um processo de

helenização radical na Palestina.

• Vendo todos os seus valores nacionais sendo destruídos e profanados, os

judeus reagiram contra Epifânio.

2.23.3 O governo dos Macabeus – 167 a 37 a.C.

Surge no cenário judaico uma importante família da tribo de Levi: os

Macabeus. Em 167, o macabeu Matatias se recusa a oferecer sacrifício a Zeus.

Outro homem se ofereceu para sacrificar, mas foi morto por Matatias, o qual

organiza um grupo de judeus para oferecer resistência contra os selêucidas. Tal

movimento ficou conhecido como a Revolta dos Macabeus. A Palestina continuou

sob o domínio da Síria. Contudo, a Judéia voltou a possuir um governo local,

exercido pelos Macabeus. Ainda não se tratava de independência, mas já havia

alguma autonomia. A seguir, apresentamos os nomes dos governantes macabeus e

alguns de seus atos em destaque.

Matatias (167-166 a.C.)

Judas (filho de Matatias) (166-160 a.C.) - Purifica o templo, conquista

liberdade religiosa, restabelece o culto.

Jônatas (filho de Matatias) (160-142 a.C.) - Reinicia a atividade de sumo

sacerdote.

Simão (filho de Matatias) (142-135 a.C.) - Reforça o exército e consegue

isenção de impostos. Nesse momento a Síria se encontrava fraca, e a Judéia se

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torna independente. A independência durou entre 142 e 63 a.C.. Simão foi sumo

sacerdote e rei da Judéia. Pediu apoio de Roma contra a Síria.

João Hircano (filho de Simão) (135-104 a.C.) - Tinha tendência imperialista.

Conquistou a Iduméia e Samaria. Destruiu o templo samaritano e sofreu oposição

dos "hassidim", seita dos "santos".

Aristóbulo I – (104-103 a.C.) - prendeu a mãe e matou o irmão.

Alexandre Janeu (103-76 a.C.) - conquistou costas da Palestina – O território

de Israel chegou a ter extensão semelhante à que tinha nos dias do rei Davi. Janeu

sofreu a oposição dos fariseus.

Alexandra Salomé (esposa de Alexandre) (76-67 a.C.) - foi uma governante

pacífica.

Aristóbulo II - (67-63 a.C.) briga pelo poder com seu irmão, Hircano II.

Em 63 a.C., Aristóbulo provoca Roma. Pompeu invade Jerusalém, deporta

Aristóbulo e coloca Hircano II no poder.

Hircano II (63-40 a.C.)

Em Roma, o governo é exercido por Pompeu, Crasso e Júlio César,

formando o primeiro Triunvirato. Os três brigam entre si pelo poder. Júlio César

vence e torna-se Imperador Romano. Em seguida, nomeia Antípatro, idumeu, como

procurador sob as ordens de Hircano. Faselo e Herodes, filhos de Antípatro, são

nomeados governadores da Judéia e Galiléia.

Um ano depois, Antípatro morre envenenado. Passados 3 anos, o Imperador

Júlio César morre assassinado. Institui-se um novo triunvirato, formado por Otávio,

sobrinho de César, Marco Antônio e Lépido. Marco Antônio e Herodes eram amigos.

Herodes casa-se então com Mariana, neta de Hircano, vinculando-se assim à

família dos macabeus.

Na tentativa de tomar o poder, Antígono, filho de Aristóbulo II, corta as

orelhas de Hircano II, impossibilitando-o de continuar a exercer o sumo sacerdócio.

Antígono (40-37 a.C.) - Uma de suas ações foi perseguir Herodes, o qual

dirigiu-se a Roma, denunciou a desordem e foi nomeado rei da Judéia (37 d.C.).

Antígono foi morto pelos romanos.

Termina assim, a saga dos macabeus, cujo princípio foi brilhante nas lutas

contra a Síria. Entretanto, foram muitas as disputas pelo poder dentro da própria

família. Perderam então a grande oportunidade que os judeus tiveram de se

tornarem uma nação livre e forte. Acabaram caindo sob o jugo de Roma.

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2.24 O império Romano

Sendo nomeado por Roma como rei da Judéia, Herodes passou a governar

um grande território. Contudo, sua insegurança e medo de perder o poder o levaram

a matar Aristóbulo, irmão de Mariana, por afogamento. Depois, matou a própria

esposa e estrangulou os filhos.

A violência de Herodes provocou a revolta dos judeus. Para apaziguá-los, o

rei iniciou uma série de obras públicas, entre as quais a construção (reforma) do

templo, que passou a ser conhecido como Templo de Herodes.

O domínio direto do Império Romano sobre a Palestina iniciou-se no ano 37

a.C., estendendo-se por todo o período do Novo Testamento.

No tempo do nascimento de Cristo, o Imperador era Augusto, o qual instituiu

o culto a si mesmo por parte dos seus súditos.

Em algumas regiões havia a figura do rei. Naquele mesmo período o rei da

Palestina era Herodes. Esta região teve sua divisão política alterada diversas vezes,

sendo até governada por mais de um rei em determinados momentos. Além do rei,

havia em algumas épocas e lugares a figura do procurador, ou governador. Quando

Jesus nasceu, o procurador se chamava Copônio. Na seqüência aparecem os

publicanos, os quais não possuíam poder administrativo, mas tinham a função de

coletar impostos. Eram necessariamente nativos da província. Seu conhecimento da

terra, do povo, dos costumes e da língua tornava-os mais eficientes na coletoria do

que poderia ter sido um cidadão romano que fosse enviado para esse fim. Os

publicanos eram considerados por seus compatriotas como traidores, já que

cobravam impostos dos seus irmãos para entregar ao dominador inimigo. A palavra

publicano se tornou sinônimo de pecador.

Sob esse domínio se encontrava a província. Assim era chamada qualquer

região conquistada pelos romanos fora da Itália. As províncias que se encontravam

dentro desse modelo eram administradas mais diretamente pelo Imperador.

Tratava-se de regiões ainda não pacificadas, recém conquistadas, cuja população

ainda não se acomodara sob o jugo de Roma. Nessas terras havia a presença

constante das tropas romanas, as quais se dividiam principalmente em legiões (com

6000 homens), coortes (com 1000 homens) e centúrias (com 100 homens).

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Na província da Judéia havia uma instituição local chamada Sinédrio, o qual

era formado por 71 membros e presidido pelo sumo sacerdote. O Sinédrio era o

supremo tribunal local e tinha poderes para julgar questões civis e religiosas, uma

vez que as duas coisas eram tratadas pela mesma lei. Tais autoridades tinham até

mesmo a prerrogativa de aplicar a pena de morte contra crimes cometidos na

comunidade local. A polícia recebia ordens do Sinédrio.

Essa estrutura pode ser claramente observada nas páginas dos evangelhos,

principalmente nos relatos que tratam da prisão, julgamento e crucificação de Cristo,

o qual foi preso pela polícia do Sinédrio, e levado diante desse tribunal local. Os

integrantes do Sinédrio, embora tivessem poder para matá-lo, parecem ter vacilado

diante de tamanha responsabilidade. Levaram-no diante do Procurador da Judéia,

Pilatos, o qual encaminhou o para a presença de Herodes, o rei da Galiléia.

Ninguém queria assumir a responsabilidade pela crucificação. Contudo, Cristo é

devolvido a Pilatos, que considerou o lavar das mãos como ato suficiente para

isentá-lo da culpa de matar o Filho de Deus. (Mt.26.44,57,59; 27.2; Lc.23.7) Vemos

aí a hierarquia governamental em evidência. O imperador também foi lembrado

naquelas circunstâncias, mas apenas para uma menção rápida em João 19.12 para

pressionar o Procurador.

Havia ainda outro tipo de província. Eram aquelas conquistadas há mais

tempo e já pacificadas. Os habitantes desses lugares tinham cidadania romana. Era

o caso do apóstolo Paulo, que nasceu em Tarso, e tinha o direito de ser

considerado cidadão romano. Tal prerrogativa proporcionava diversos direitos,

principalmente tratamento respeitoso e especial nas questões jurídicas. Um cidadão

romano não podia, por exemplo, ser açoitado. Paulo foi submetido a açoites, mas

seus algozes ficaram atemorizados quando souberam que tinham espancado um

cidadão romano (Atos 16.37-38). Com base no mesmo direito, Paulo apelou para

César quando quis se defender das acusações que lhe eram feitas (Atos 25.10-12).

2.24.1 Cultura e Infra-estrutura

Nos dias de Cristo, embora o império fosse romano, a cultura predominante

continuava sendo grega. O extinto império de Alexandre Magno deixou um grande

legado: o helenismo, que significa a influência cultural grega entre os povos

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conquistados. Helenismo é derivado de Helas, outro nome da Grécia. Helenização é

o processo de propagação dessa cultura. Devido a essa difusão, a língua grega se

tornou de uso comum. Daí vem a expressão "grego koiné" (= comum). As cidades

gregas eram bem estruturadas. Contavam com teatros, banhos públicos, ginásios,

foros, amplas praças, hipódromos e academias. Assim, por onde quer que o

helenismo se expandisse iam surgindo cidades desse tipo. Algumas cidades antigas

se adaptavam e chegavam até a mudar de nome, adotando nomes gregos.

É por causa desse contexto que o Novo Testamento foi escrito em grego,

com exceção do evangelho de Mateus.

Além dos elementos helênicos, o cenário contava com estradas calçadas

construídas pelos romanos. Elas facilitavam a circulação das milícias entre as

províncias e a capital. Por essas vias transitavam também mensageiros,

comerciantes e viajantes em geral. Outro destaque da engenharia romana eram os

aquedutos: canais para levar água das montanhas para as cidades.

2.24.2 Atividades Econômicas

Com toda a importância das cidades, as construções eram constantes. Além

das casas, estradas e aquedutos, as muralhas também faziam parte dos projetos.

Em Jerusalém havia uma grande obra em andamento nos dias de Jesus: o templo

de Herodes, cuja construção ocorreu do ano 20 a.C. até 64 d.C..

Outras atividades importantes eram: transporte, agricultura, comércio, pesca,

metalurgia, cerâmica, perfumaria, couro, tecidos e armas. Em Israel, a pecuária,

além de atividade econômica, possuía status religioso por causa dos sacrifícios.

2.24.3 População e Religião

A DIÁSPORA

Nos dias do Novo Testamento, a população judaica encontrava-se dispersa

por vários lugares. Além da própria Palestina, havia inúmeros judeus em Roma,

Egito, Ásia Menor, etc. (Atos 2.9-11; Tiago 1.1; I Pedro 1.1). Tal dispersão, que

recebe o nome de Diáspora, tem razões diversas, começando pelos exílios para a

Assíria e Babilônia, e se completando por interesses comerciais dos judeus, e até

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mesmo em função das dificuldades que se verificavam em sua terra natal. Esse

quadro se apresenta como cumprimento claro dos avisos divinos acerca da

dispersão que viria como conseqüência do pecado de Israel (Dt.28.64).

Assim, o judaísmo acabou se dividindo em função da distribuição geográfica.

Havia o judaísmo de Jerusalém, mais ligado à ortodoxia, e o judaísmo da Diáspora,

ou seja, praticado pelos judeus residentes fora da Palestina. Estes últimos

encontravam-se distantes de suas origens. Se até na Palestina, os costumes gregos

se impunham, muito mais isso ocorria na vida dos judeus em outras regiões.

Estavam profundamente helenizados, embora não tivessem abandonado o

judaísmo. Isto fez com que eles se preocupassem com o futuro de suas tradições e

sua religião. Tomaram então providências para que o judaísmo não sucumbisse

diante do helenismo. Uma delas foi a tradução do Velho Testamento do hebraico

para o grego, chamada Septuaginta. Já que este idioma estava se tornando

universal, havia o risco de que, no futuro, as escrituras não pudessem mais ser

lidas, devido à possível extinção do hebraico. Outras obras literárias foram

produzidas, incluindo narrativas históricas, propaganda e apologia judaica, tudo

escrito em grego e com influências gregas. Destacaram-se nessa época os

escritores: Fílon de Alexandria e Flávio Josefo. Tais escritos não foram aceitos pela

comunidade de Jerusalém. Até a tradução bíblica foi rejeitada, uma vez que, para

eles, toda escritura sagrada devia ser produzida necessariamente em hebraico.

Essa obra no idioma grego foi vista pelos ortodoxos como uma descaracterização

do judaísmo.

Para muitos judeus conservadores, o judaísmo era propriedade nacional e

não devia ser propagado entre outros povos. Já os judeus da Diáspora se

dedicaram a conquistar gentios para a religião judaica. Tal fenômeno recebe o nome

de proselitismo. Os novos convertidos eram chamados prosélitos (Mateus 23.15

Atos 2.9-11; 6.5; 13.43). Essa prática difusora da religião também foi adotada por

judeus de Jerusalém, mas em escala bem menor.

Os judeus da diáspora cresciam em número e em poder econômico. Isso se

tornou incômodo para muitos cidadãos dos lugares onde residiam. A guarda do

sábado e a recusa em participar do culto ao Imperador tornaram-se também

elementos que atraíram a perseguição. Tendo, muitos deles, fugido da opressão na

Palestina, encontraram problemas semelhantes em outras terras.

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JUDAÍSMO DIVIDIDO

Nos dias de Cristo, a religião judaica encontrava-se dividida em seitas:

fariseus, saduceus, essênios e outras. Cada facção se considerava o remanescente

fiel a Deus e via os demais como relaxados. Entre os fatores que contribuíram para

essa divisão, podemos citar:

- Diáspora - A dispersão geográfica dificultou a manutenção de uma

religiosidade padronizada.

- Sinagogas - Significaram a descentralização da orientação religiosa. Muitos

rabis representaram muitas linhas de pensamento e prática divergentes.

- Linhagem - As misturas étnicas ocorridas no norte de Israel contribuíram

para a discriminação religiosa contra os samaritanos.

- Interpretação - Diferentes interpretações da lei conduziam a diferentes

crenças.

- Tradição - Esta era o resultado de muitos elementos: interpretação,

comentário da lei, influências estrangeiras (gregas, romanas e babilônicas).

- Política - Alguns judeus apoiavam Herodes e os romanos. Outros eram

radicalmente contra tais dominadores.

- Helenismo - Os judeus se dividiam também quanto ao apoio ou combate à

cultura grega que se expandia em todo o mundo. Tais costumes eram vistos como

os que hoje chamamos de "mundanismo". Muitos judeus se deixavam levar,

admirados com o pensamento grego e o sucesso de sua cultura.

DINASTIA HERODIANA (parcial)

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Apresentamos apenas parcialmente a dinastia herodiana porque nos

limitamos aos nomes mais próximos aos fatos do Novo Testamento. Nosso maior

interesse é apresentar a sucessão política na Palestina, principalmente na Judéia.

Herodes Magno, também conhecido como Herodes, o Grande, governava a Judéia

quando Jesus nasceu. Herodes teve 10 mulheres e 15 filhos, ou mais. Citamos 7

deles: Antípatro II, Aristóbulo I, Alexandre, Filipe I, Filipe II, Arquelau e Antipas II.

Herodes matou seus filhos Alexandre, Aristóbulo I e Antípatro II. Deserdou Filipe I,

que era casado com Herodias, a qual veio a adulterar com Antipas II (Mc.6.17).

Após a morte de Herodes Magno, seu reino foi dividido entre três de seus filhos:

Arquelau recebeu a Judéia, Samaria e Iduméia. Antipas II passou a governar a

Galiléia e a Peréia. Filipe II recebeu os territórios do Nordeste: Ituréia, Tracomites,

Gaulanites, Auranites e Batanéia.

Arquelau foi deposto pelos Romanos no ano 6 d.C.. A Judéia passou então a

ser governada por procuradores romanos. Um desses procuradores foi Pôncio

Pilatos (de 26 a 36 d.C.). Antipas II governou a Galiléia durante todo o ministério de

Cristo. Foi ele quem mandou degolar João Batista. À sua presença Jesus foi

encaminhado por Pilatos, já que este era procurador sobre a Judéia e foi-lhe dito

que Cristo era galileu, sendo, portanto, da jurisdição de Antipas.

Agripa I, filho de Aristóbulo e, portanto, neto de Herodes Magno, foi o

sucessor de Filipe II. Aos poucos foi herdando também os territórios dos outros tios.

Recebeu de volta dos romanos a administração da Judéia e Samaria, tornando-se

então rei de quase toda a Palestina. Foi ele quem mandou matar o apóstolo Tiago e

morreu comido por vermes (At.12). Seu filho, Agripa II, foi seu sucessor. Seu

território foi então ampliado por determinação do Imperador Cláudio e ainda mais

por Nero. Foi perante Agripa II que Paulo se apresentou (At.25.23). Com a

destruição de Jerusalém no ano 70, Agripa II mudou-se para Roma e lá esteve até o

ano de sua morte (100 d.C.). Os membros da dinastia herodiana são muitas vezes

mencionados no Novo Testamento. Todos eles possuíam o título de Herodes. Por

esta razão, muitas vezes pode-se imaginar que as diversas passagens se referem à

mesma pessoa, o que não é verdade. Pela observação dos quadros anteriores,

pode-se identificar cada "Herodes" nas passagens bíblicas em que são citados.

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História de Israel

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2.24.4 Imperadores romanos no período do novo testamento

César Augusto Otaviano - ano 27 a.C. a 14 d.C. - Nascimento de Jesus -

Início do culto ao Imperador. (Lc.2.1)

Tibério Júlio César Augusto - 14 a 27 - Ministério e Morte de Jesus. (Lc.3.1).

Gaio Júlio César Germânico Calígula - 37 a 41 - Quis sua estátua no templo

em Jerusalém. Morreu antes que sua ordem fosse cumprida.

Tibério Cláudio César Augusto Germânico - 41 a 54 - Expulsou os judeus de

Roma. (At.18.2).

Nero Cláudio César Augusto Germânico - 54 a 68 - Começa perseguição de

Roma contra os cristãos. Paulo e Pedro morrem (At. 25.10; 28.19).

Sérvio Galba César Augusto 68 - Cerco a Jerusalém.

Marcos Oto César Augusto - 69 – mantém o cerco a Jerusalém.

Aulus Vitélio Germânico Augusto - 69 - mantém o cerco a Jerusalém.

César Vespasiano Augusto - 69 a 79 – Tinha sido general de Nero. Coloca

seu filho Tito como general. No ano 70, determina a destruição de Jerusalém.

Tito César Vespasiano Augusto - 79-81.

César Domiciano Augusto Germânico - 81 a 96 - Exigia ser chamado Senhor

e Deus. Grande perseguição. O apóstolo João ainda vivia durante o governo de

Domiciano.

2.25 Evangelho – Boas novas

A palavra evangelho não foi criada por Jesus nem por seus discípulos. Era

uma palavra de uso comum nas comunidades antigas. As guerras entre os povos

eram constantes. As dificuldades de comunicação entre os guerreiros e suas

cidades de origem eram muito grandes. As famílias, principalmente, aguardavam

ansiosamente por notícias de seus filhos nos campos de batalha. O meio utilizado

para isso era o envio de mensageiros, os quais traziam notícias sobre o sucesso ou

fracasso dos soldados. A chegada do mensageiro era muito esperada. Quando ele

chegava com boas notícias, então recebia uma recompensa por seu esforço. Esse

presente era chamado "evangelho". Era também realizada uma festa comemorativa,

que também passou a ser chamada "evangelho".

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Jesus é o mensageiro de Deus que veio anunciar sua própria vitória sobre as

forças das trevas e a libertação do homem. Assim, no Novo Testamento, a palavra

evangelho adquire o significado de mensagem da salvação através da obra de

Cristo a favor do homem (Mt.4.23; 24.14). A tradição cristã estende esse significado,

usando a palavra evangelho para identificar cada um dos quatro primeiros livros do

Novo Testamento, os quais apresentam relatos sobre a vida de Cristo. Assim, surge

o uso plural da palavra. Nos tempos da igreja primitiva, isso seria considerado

absurdo, uma vez que, para os primeiros cristãos, o evangelho era único. Outro

evangelho seria considerado anátema. Como então poderia haver evangelhos?

Entretanto, tal designação para os quatro evangelhos se firmou e se tornou

definitiva.

2.25.1 Aspectos gerais dos quatro Evangelhos

Pluralidade – Poderíamos ter 1 evangelho nas Escrituras e isso poderia ser

satisfatório. Contudo, Deus quis que fossem quatro. Esta pluralidade tem sua razão

de ser e seu objetivo. Um dos motivos nos parece ser o valor do número de

testemunhas. A lei mosaica determinava que o testemunho contra alguém deveria

ser dado por duas ou três pessoas e nunca por uma só (Dt.17.6). O mesmo

princípio é utilizado por Cristo em Mt.18.16. O número de testemunhas é importante

na determinação da veracidade de um fato. Assim, era importante que duas ou três

testemunhas dessem testemunho sobre a vida, a morte e a ressurreição de Jesus.

Nos processos jurídicos as testemunhas continuam sendo muito importantes até

hoje. Em muitos casos não é possível a prova científica. Cabe então a prova

testemunhal. Todo testemunho deve ser registrado por escrito. Assim também

aconteceu com os relatos sobre Cristo. Alguns escritores dos evangelhos podem

não ter sido testemunhas oculares dos fatos ali narrados. Entretanto, escreveram o

que as testemunhas disseram. A pluralidade dos evangelhos é também valiosa por

nos apresentar a mesma história vista sob ângulos diferentes.

Objetividade – Os evangelhos foram escritos tendo-se em vista um objetivo

definido: anunciar as boas novas de salvação. Por esta causa, os escritores não se

dedicaram a registrar pormenores da vida de Cristo, sua infância, seus hábitos

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diários, seu trabalho na carpintaria, etc. Eles se limitaram a mencionar a origem de

Cristo (humana e divina), seu ministério (ensinamentos, milagres), sua morte,

ressurreição e ascensão. Uma grande parte de cada evangelho se dedica a narrar

os fatos da última semana do ministério de Cristo. (Veja João 21.25).

Unidade - Apesar de serem quatro os evangelhos, eles são harmônicos entre

si. É possível se construir um relato coerente reunindo os 4 evangelhos. Eles se

completam.

Diversidade – Apesar da unidade entre os evangelhos, eles não são iguais.

Se assim fosse, não faria sentido a existência de quatro. Bastaria um. Existem

diversas diferenças entre eles. Contudo, diferença não significa contradição. São

quatro relatos distintos sobre os mesmos fatos. Algumas narrativas ou

ensinamentos são apresentados exclusivamente por um escritor ou apenas por dois

ou por três ou pelos quatro. E mesmo entre narrativas do mesmo fato, existem

diferenças entre os detalhes. Por exemplo, autor diz que Jesus curou um cego em

Jericó. O outro diz que foram dois cegos. Um não contradiz o outro. Se Jesus curou

um cego, ele pode muito bem ter curado outro. A contradição haveria se um autor

negasse a afirmação do outro. As diferenças podem advir de várias causas. Duas

narrativas normalmente relacionadas podem, na verdade, ser referência a dois

episódios distintos. Uma outra possibilidade é a omissão de algum detalhe, já que

tais relatos foram, no princípio, transmitidos oralmente. Assim, algum ponto poderia

ser esquecido por um narrador, mas lembrado por outro. Nesse processo, o que

prevalece é a nossa fé no cuidado divino para que a essência do evangelho

chegasse a nós de forma íntegra. Entre os evangelhos, observa-se maior

semelhança entre Mateus, Marcos e Lucas. Por isso, são chamados sinóticos, ou

seja, possuidores da mesma ótica. Esse termo foi usado pela primeira vez por J.J.

Griesbach, em 1774. O evangelho de João, por sua vez, apresenta um estilo todo

particular.

Ordem – Os livros não se encontram dispostos em nossas Bíblias na mesma

ordem em que foram escritos. Além disso, os próprios fatos narrados não seguem

ordem cronológica, principalmente no livro de Mateus.

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Motivos – Os evangelhos foram escritos para responder aos questionamentos

da comunidade do primeiro século e também para combater as mentiras dos

inimigos a respeito de Jesus. Os apóstolos começavam a morrer e tornava-se então

imperioso que se registrassem suas memórias sobre o Salvador. Além disso,

existiram também os motivos particulares de cada escritor, conforme veremos no

estudo de cada livro.

2.25.2 Formação dos evangelhos sinóticos

Sobre a formação de todos os evangelhos podemos considerar a seguinte

equação:

Fonte oral + fonte escrita + testemunho pessoal (em alguns casos) =

evangelho

Sobre os evangelhos sinóticos, existem várias sugestões do processo de

formação. Isto se deve às semelhanças observadas entre Mateus, Marcos e Lucas,

o que leva a se supor que um tenha utilizado o escrito do outro, ou que tenham tido

acesso às mesmas fontes.

Uma das principais hipóteses das fontes apresenta o evangelho de Marcos

como o primeiro a ser escrito. Além deste, haveria também uma fonte denominada

"Q", contendo relatos sobre a vida de Cristo. Mateus e Lucas teriam então se

utilizado do evangelho de Marcos e da fonte "Q" para produzirem seus evangelhos.

Teriam também usado material exclusivo. Mateus teria tido acesso a uma fonte "M"

exclusiva e igualmente Lucas a uma fonte "L".

Assim, os relatos comuns entre Mateus, Marcos e Lucas, seriam material

original de Marcos. Os relatos comuns entre Mateus e Lucas e desconhecidos por

Marcos seriam o conteúdo da fonte "Q". O material exclusivo de Mateus seria da

fonte "M" e o material exclusivo de Lucas seria da fonte "L". Contudo, existem

muitas dúvidas sobre a existência dessas fontes (Q,M,L) e se elas seriam escritas

ou orais. Sobre a fonte "Q", por exemplo, existe a hipótese de que a mesma não

tenha existido, mas que todo esse material tenha sido transferido de Mateus para

Lucas ou vice-versa.

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Marcos possui 678 versículos.

Mateus possui 1071 no total. Destes, 600 versículos correspondem a 606 de

Marcos, ou seja, Mateus faz as mesmas narrativas de modo quase idêntico. Mateus

possui 300 versículos exclusivos (M). Os outros 171 podem ter vindo da fonte "Q" e

encontram semelhança com parte de Lucas.

Lucas possui 1151 no total. Destes, 380 versículos correspondem a 280 de

Marcos, ou seja, Lucas faz as mesmas narrativas de modo mais extenso. Lucas

possui 520 versículos exclusivos (L). Os outros 251 podem ter vindo da fonte "Q" e

encontram semelhança com parte de Mateus.

Isolando-se o material atribuído à fonte "Q", obtém-se um escrito semelhante

ao estilo profético do Velho Testamento. Seriam partes referentes a João Batista, o

batismo, a tentação, muitos ensinos, pouca narrativa, e nada sobre a morte de

Cristo.

2.25.3 Propagação do Evangelho e tipos de Evangelho

Motivo, conteúdo e objetivo estão interligados. Motivo é o elemento que

impulsiona alguém para determinada ação. Objetivo é o que se espera atingir ou

realizar. No caso dos evangelhos, os motivos foram as necessidades da

comunidade, a carência de registros fidedignos sobre Cristo. O objetivo maior é a

salvação das almas. O evangelho é o "poder de Deus para a salvação..." (Rm.1.16).

A preposição "para" determina o objetivo.

Precisamos questionar hoje os motivos que nos movem como pregadores do

evangelho. Nos dias de Paulo, foram observados motivos diversos (Fil.1.15-19):

inveja, contenda, boa mente e amor. Contudo, disse o apóstolo, importa que o

evangelho seja pregado. Isto porque, mesmo com motivos errados, o objetivo pode,

eventualmente, ser atingido, ou seja, mesmo que alguém pregue por inveja muitos

podem ser salvos, já que o evangelho é o poder de Deus. Não obstante, o mau

obreiro não ficará impune. Poderá até mesmo ser alguém que ajudou a construir a

arca mas não entrou nela, ou como uma placa que aponta o caminho mas não o

segue.

O problema torna-se maior quando aos motivos errados somam-se objetivos

estranhos ao evangelho. Então, o próprio conteúdo passa a ser deformado a fim de

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atingir propósitos escusos (II Pd.2.1-3). Observa-se então o surgimento de um

"evangelho comercial", onde as pessoas são estimuladas a fazerem negócios com

Deus. Desse pensamento surge o "evangelho da prosperidade", o qual deixa para

segundo plano a questão da salvação das almas e se dedica à salvação do

orçamento. Toda benção material sempre será bem-vinda. Contudo, não podemos

fazer disso o propósito do evangelho nem efeito essencial da sua eficácia. Zacarias

profetizou sobre Cristo, apresentando-o como um rei pobre, humilde e que vinha

montado em um jumentinho, quando o natural seria um rei rico montado num

elegante cavalo. Contudo, o profeta diz que o Messias é justo e salvador. Eis aí o

valor e o propósito do evangelho: justiça e salvação (Zc.9.9). Cai no mesmo erro a

Teologia da libertação, a qual interpreta a salvação e a libertação oferecidas por

Cristo como um rompimento das opressões sociais.

Cabe a cada um de nós o zelo pelo evangelho bíblico e por seu legítimo

objetivo. Que não sejamos mercadores da palavra de Deus. É legítimo o sustento

aos que trabalham na obra de Deus. O erro consiste em fazer do benefício pessoal

a causa da obra. Igreja não é empresa. Ministério não é profissão. Evangelho não é

negócio.

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Conclusão:

Deus prometeu a Israel a sua terra como podemos ler em Êx 23.29-31 e em

Dt 11.23-25.Para nós, cristãos, Jesus deixou um alerta: “Aprendei, pois a parábola

da figueira: quando já os seus ramos se renovam e as folhas brotam, sabeis que

está próximo o verão. Assim também vós quando virdes todas estas coisas, sabei

que está próximo, às portas” (Mt 24.32,33). Israel foi restaurado como nação. A

figueira brotou. Amém, vem Senhor Jesus!