1º encontro modernidade, racionalização desencantamento e reencantamento do mundo

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04/05/2014 1 Universidade Paulista Programa de Pós-Graduação em Comunicação Grupo de Pesquisa Mídia e Estudos do Imaginário Seminário de Estudos Avançados Tecnologia como Religião: Imaginário Tecnológico e Reencantamento do Mundo Professor Dr. Jorge Miklos Endereço para acessar CV: http://lattes.cnpq.br/5573271976478452 Objetivos O seminário pretende promover um espaço crítico de reflexão acerca dos elementos que influem na criação de um imaginário religioso tecnológico crescente na contemporaneidade. Tecnorreligiosidade No imaginário social midiatizado, a técnica é sacralizada, ou seja, é percebida como um ente autônomo. Com uma força sobrenatural capaz de interferir no destino humano. Hipótese

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  • 04/05/2014

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    Universidade Paulista Programa de Ps-Graduao em Comunicao

    Grupo de Pesquisa Mdia e Estudos do Imaginrio

    Seminrio de Estudos Avanados

    Tecnologia como Religio: Imaginrio Tecnolgico e

    Reencantamento do Mundo

    Professor Dr. Jorge Miklos Endereo para acessar CV: http://lattes.cnpq.br/5573271976478452

    Objetivos

    O seminrio pretende promover um espao crtico de reflexo acerca dos elementos que influem na criao de um imaginrio religioso tecnolgico crescente na contemporaneidade.

    Tecnorreligiosidade

    No imaginrio social midiatizado, a tcnica sacralizada, ou seja, percebida como um ente autnomo.

    Com uma fora sobrenatural capaz de interferir no destino humano.

    Hiptese

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    Tecnologia

    Fetiche

    Hipostasiamento

    poiesis

    Sacralizao

    Cronograma

    Primeiro Encontro (5/5) A Revanche do Sagrado: desencantamento e reencantamento do mundo

    Segundo Encontro (12/5)

    O Capitalismo como Religio

    Terceiro Encontro (19/5) Hipostasia e Fetichizao da tecnologia

    Quarto Encontro (26/ 5) Remitifizao e a Sacralizao da Tecnologia

    Quinto Encontro (02/06) Uma Religio chamada Apple

    A Revanche do Sagrado

    desencantamento e reencantamento do mundo

    1 Encontro

    05/05/2014

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    Max Weber

    Modernidade = Ocidente Contnuo Processo de Racionalizao

    Valorizao da Cincia e da Tcnica em detrimento do pensamento mgico.

    Otimismo radical no potencial emancipador da razo, da tcnica e do progresso Desencantamento do Mundo.

    um processo crescente de intelectualizao com elaborao de

    princpios, regras, critrios que pretendem ter validade universal e

    coerncia, interna, num projeto

    prximo ao do matemtico. A leitura

    matemtica da natureza e a cincia

    moderna (que se submete a imperativos de coerncia lgica e ao

    teste emprico) so especificidades da

    cultura ocidental.

    A crescente intelectualizao e racionalizao indicam que no h foras

    misteriosas incalculveis, mas que

    podemos, em princpio, dominar todas as coisas pelo clculo. Isto significa que o

    mundo foi desencantado. J no

    precisamos recorrer aos meios mgicos

    para dominar ou implorar aos espritos. (...)

    Os meios tcnicos e os clculos realizam o servio. Isto, acima de tudo, o que

    significa a intelectualizao.

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    Desmagicizao e perda do sentido;

    O mundo despojado de seus

    aspectos msticos, sagrados e profticos;

    O real torna-se mecnico, repetitivo,

    causal;

    O mundo assim desencantado deixa

    um imenso vazio na alma.

    essa racionalizao poderia transformar a sociedade moderna em

    priso, uma jaula de ferro.

    Aufklrung. Emancipao da humanidade, isto , a libertao das tutelas prprias da infncia.

    Libertao da tutela do Mito e o uso extensivo e ilimitado da razo.

    Vid

    a fic

    tc

    ia

    Pobreza essencial

    Infncia do pensamento

    Fo

    me

    nta

    do

    r do

    erro

    Falsific

    a

    o

    Iluso

    Degradao do Saber Frias da Razo

    Pecado contra do esprito lgico

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    Os Profetas da Morte de Deus e da Religio

    Quando percorremos nossas bibliotecas,

    convencidos destes princpios, que destruio temos

    de fazer? Se tomarmos em nossas mos qualquer

    volume, seja de teologia, seja de metafsica

    escolstica, por exemplo, pergun-temo-nos: ser

    que ele contm qualquer raciocnio abstrato relativo

    quantidade e ao nmero? No. Ser que ele

    contm raciocnios experimentais que digam

    respeito a matrias de fato e existncia? No

    Ento, lanai-o s chamas, pois ele no pode conter coisa alguma a no ser sofismas e iluses. (David Hume).

    "O homem s ser livre quando o

    ltimo rei for enforcado nas tripas do

    ltimo padre Voltaire

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    "O sofrimento religioso , ao mesmo

    tempo, expresso de um sofrimento

    real e protesto contra um sofrimento

    real. As Flores Sobre As Correntes. Suspiro da criatura oprimida, corao

    de um mundo sem corao, esprito

    de uma situao sem esprito: a

    religio o pio do povo." (K. Marx)

    A religio um sonho de mente humana.... A conscincia de Deus autoconscincia, conhecimento de Deus

    autoconhecimento. A religio o solene desvelar dos tesouros ocultos do

    homem, a revelao dos seus

    pensa-mentos ntimos, a confisso aberta

    dos seus segredos de amor.(...) "O segredo da religio o atesmo".

    Assim, a religio seria a neurose obsessiva universal

    da humanidade. (...) tal como a neurose obsessiva

    das crianas, ela surgiu do complexo de dipo, do

    relacionamento com o pai. (...) Se, por um lado, a religio traz consigo restries obsessivas,

    exatamente como, num indivduo, faz a neurose

    obsessiva, por outro, ela abrange um sistema de

    iluses plenas (...)Um homem que est livre da

    religio tem uma oportunidade melhor de viver uma vida mais normal e completa. Sigmund Freud

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    Sculo XX

    Teoria Crtica

    Convivncia de uma Racionalidade sistmica

    com uma irracionalidade destrutiva

    A terra totalmente esclarecida resplandece sob o signo

    de uma calamidade

    triunfal.

    Racionalidade e Irracionalidade Antinomias Complementares

    Racionalidade Irracionalidade

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    A "revanche do sagrado

    sobre a cultura profana

    Leszek Kolakowski

    Secularizao X Religio

    Na contramo do discurso que atestava o enfraquecimento e at

    mesmo o fim da religio, a religio

    ganha fora nas dinmicas

    socioculturais.

    No houve excluso, houve interao.

    Qual a relao disso

    tudo com a

    Comunicao e com

    a Mdia?

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    Jess Martin-Barbero

    Os meios de comunicao o operam, pois

    no so mero fenmeno comercial, mas

    um fenmeno antropolgico e cultural, por meio dos quais cada vez mais pessoas

    vivem ... a constituio do sentido de sua vida. (....) ... os meios de comunicao tambm so reencantadores do mundo,

    que pelos meios de comunicao passam

    uma forma de devolver magia experincia cotidiana das pessoas...

    Jess Martin-Barbero

    Nestes meios h sinais de rito, de

    celebrao comunitria, como

    novos meios de juntar as pessoas.

    A TV e o rdio (como o

    demonstra a igreja eletrnica)

    tornam-se uma mediao

    fundamental da experincia

    religiosa, devolvendo magia s

    religies que se haviam

    intelectualizado (desencantado),

    devolvendo magia s

    experincias cotidianas (como shows de rock e os Jogos

    Olmpicos). Mas como se d esse

    efeito reencantador? Pela

    supresso do tempo e da

    distncia, que consiste na

    eliminao da distncia entre

    sagrado e profano.

    Jess Martin-Barbero

    A forma como a magia tecnolgica reencanta o lavar, o

    esfregar, o limpar, o passar, tudo

    isso s nos mostra a zona mais

    opaca, mais humilhante, da vida

    cotidiana. E digo ateno porque esse reencantamento cada vez

    mais o efeito da magia

    tecnolgica da capacidade do dispositivo tecnolgico de

    transfigurar, de poetizar, de tornar

    transcendente o que aparentemente incuo, tolo,

    repetitivo. Pensem na capacidade

    da publicidade para fazer mgica

    uma garrafa de Coca Cola e fazer

    brotar da garrafa energia, beleza,

    sabedoria, etc. [...]

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    Diante da promessa moderna, ilustrada de desaparecimento da religio, o que encontraramos que a religio se modernizou. A religio apropriou-se da modernidade. Foi capaz de fagocitar a modernidade e de alguma maneira transform-la em alimento e em elemento de seu prprio projeto. Ao que assistiramos ento no um enfrentamento entre religiosidade e modernidade, mas para uma definio moderna das religies, e esse moderno estaria profundamente ligado aos meios de comunicao, s novas tecnologias comunicativas.

    A secularizao corroeu o poder da autoridade religiosa e, ao mesmo tempo, abriu

    espaos para a elaborao de novas formas religiosas baseadas na experincia pessoal.

    Um recuo na participao religiosa no representa um recuo das crenas.

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    A religio pode ser encontrada em

    espaos e formas que no possuem

    uma aparncia religiosa

    Michel Maffesoli

    um paganismo remanescente, baseado na

    fruio de prazeres, no frescor do instante, na

    intensidade do transitrio. Esse um

    paganismo que se insurge como uma

    impiedade contempornea contra a essncia

    cristalizada do cristianismo:

    O aspecto juvenil de sua efervescncia, o

    "frescor" de suas revoltas, a procura exacerbada

    do gozo, multiforme, no

    presente, tudo isso o conduz a ver o "mundo" antigo como sua ptria de origem. [...] Trata-se do

    regresso ao antigo, ao arcaico....

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    -NEOPAGANISMO -

    As novas formas de agregao, as tribos, compartilham de

    sentimentos religiosos. O que lhes funda o lao a religiosidade.

    Precisamente em tanto traduz uma espcie de legislao espiritual, uma lei interna de todo pertencimento...a religiosidade,

    os sincretismos religiosos ou filosficos....

    nas sociedades ps-modernas, essa fora de unio, esse man quotidiano, vivido aqui e agora, e encontra sua expresso em uma transcendncia imanente de colorao

    fortemente hedonista. Assim, o que prevalece no mais o indivduo, isolado na fortaleza da sua razo, mas o conjunto tribal, que se comunica ao redor de um conjunto de imagens que

    consome com voracidade.

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    Os novos meios de

    comunicao criam uma

    sociabilidade densa,

    elaborando um

    ...ambiente que pode qualificar-se de

    espiritual... pela unio que transcende

    o tempo e o espao. a Internet como ... uma

    boa ilustrao de

    um verdadeiro

    reencantamento do

    mundo. Uma forma contempornea de fundar

    o lao entre as pessoas e

    que possui um significado

    propriamente espiritual.

    A questo saber quais so as foras que se opem ao desencantamento;

    ou descobrir o que, no desencantamento, abre uma

    possibilidade de reencantamento num mundo racionalizado

    Fundamentalismos

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    Perda da Autoridade Religiosa

    Pluralismo Religioso

    Mercantilizao do Sagrado

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    Mercantilizao do Sagrado

    Espetacularizao

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    A Promoo do Capital Humano

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    Eisenhower entrou numa sala repleta de computadores e props s mquinas a

    seguinte questo: Existe um Deus? Todas comeam a funcionar, luzes se acendem,

    carretis giram e aps algum tempo um voz

    diz: Agora existe. (CAMPBELL, 1990, p. 32)

    Referncias

    ADORNO,Theodor; HORKHEIMER, Max. Dialtica do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.

    BARBERO, Jess-Martin. Secularizacin, desencanto y reencantamiento massmeditico. Disponvel em: www.dialogosfelafacs.net/dialogos_epoca/.../41-07JesusMartin.pdf. FEUERBACH, Ludwig. A Essncia do Cristianismo. Petrpolis: Vozes, 2007. FREUD, Sigmund. O Futuro de uma Iluso, O mal-estar na civilizao e outros trabalhos.

    Rio de Janeiro: Imago, 2007.

    HUME, David. Investigao acerca do entendimento humano. So Paulo: Nacional, 1972.

    KOLAKOWSKI, Leskek. A revanche do sagrado na cultura profana in Religio e Sociedade 1 (maio 1977) p. 153 -162.

    MAFFESOLI, Michel. El reencantamiento del mundo: una tica para nuestro tiempo. Buenos Aires: Dedalus, 2009.

    MARX, Karl. Sobre Ia Religion. Salamanca: Ediciones Sgueme, 1975. MIKLOS, Jorge. Ciber-religio: A Construo De Vnculos Religiosos Na Cibercultura. So

    Paulo: Idias e Letras, 2012. v. 1.

    PIERUCCI, Flvio. Desencantamento do mundo. Todos os passos do conceito de Max Weber. So Paulo: Ed. 34, 2003.

    WEBER, Max. A tica Protestante e o Esprito do Capitalismo. So Paulo: Cia das Letras, 2004.