1história geral livro

347
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA HISTÒRIA CAPITULO 1 – HISTÓRIA 1. O TERMO HISTÓRIA: O termo História é antigo os gregos foram os primeiros a utilizá-lo por influência de Heródoto, que deu o título de Histórias ao resultado de suas viagens pesquisas acerca das Guerras Médicas: historia, originalmente, significava aquele que apreende pelo olhar, (aquele que sabe, o testemunho, aquele que testemunhou com seus próprios olhos os acontecimentos.). “História” (“his” + “oren”) significava apreender pelo olhar aquilo que se sucede de modo dinâmico, ou seja, testemunhar os acontecimentos, os fato. O termo assumiu o sentido particular de busca do conhecimento das coisas humanas, do saber histórico. História passou a significar busca, pesquisa e também os resultados compilados na obra histórica. Realidade histórica: conjunto dos fenômenos pelos quais se manifestou, se manifesta ou 1

Upload: centauro2222

Post on 27-Jun-2015

3.433 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: 1história geral livro

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA HISTÒRIA

CAPITULO 1 – HISTÓRIA

1. O TERMO HISTÓRIA:

O termo História é antigo os gregos foram os primeiros a utilizá-lo por influência de Heródoto, que deu o título de Histórias ao resultado de suas viagens pesquisas acerca das Guerras Médicas: historia, originalmente, significava aquele que apreende pelo olhar, (aquele que sabe, o testemunho, aquele que testemunhou com seus próprios olhos os acontecimentos.). “História” (“his” + “oren”) significava apreender pelo olhar aquilo que se sucede de modo dinâmico, ou seja, testemunhar os acontecimentos, os fato. O termo assumiu o sentido particular de busca do conhecimento das coisas humanas, do saber histórico. História passou a significar busca, pesquisa e também os resultados compilados na obra histórica. Realidade histórica: conjunto dos fenômenos pelos quais se manifestou, se manifesta ou se manifestará a vida da humanidade a realidade objetiva do movimento do mundo e das coisas.

2. CONCEITO DE HISTÓRIA:

Como vimos anteriormente o que o historiador procura estudar não é o passado enquanto tal, mas ações humanas, fatos sociais ou políticos analisados através do tempo: estuda o que os homens fizeram, pensaram ou sentiram enquanto seres sociais. História é vida, é movimento, é História é vida, é movimento, é transformação.transformação. No entanto a compreensão do presente e o estudo do passado não se relacionam entre si de forma mecânica, estreita e determinista. A História,

1

Page 2: 1história geral livro

como as outras formas de conhecimento da realidade, está sempre se constituindo: o conhecimento que ela produz nunca é perfeito ou acabado. È importante lembrar também que o historiador não é homem neutro, imparcial e isolado de sua época. O mundo de hoje contagia de alguma maneira nos afazeres do historiador, refletindo-se na reconstrução que ele elabora do passado.

3. O AGENTE DA HISTÓRIA:

O agente da História é o Homem. O Homem produz cultura e faz história, produz objetos e idéias de acordo com suas necessidades de sobrevivência.

4. CULTURA:

Cultura é a maneira de manifestar vida de um grupo humano. É o conjunto das diversas formas naturais e espirituais com que os indivíduos de um grupo convivem, nas quais atuam e se comunicam e cuja experiência coletiva pode ser transmitida através de vias simbólicas para a geração seguinte.

2

A forma de vivermos em comunidade e uma das estruturas de nossa cultura

Page 3: 1história geral livro

5. FONTES HISTÓRICAS:

Fontes são vestígios (documento) que permitem a reconstituição do passado eles podem ser: Arqueológicos: restos de animais, utensílios, fósseis, ruínas de templos, palácios e túmulos, esculturas, pinturas, cerâmicas, moedas, medalhas, armas, etc. Escritos: códigos, decretos, tratados, constituições, leis, editais, relatórios, registros civis, memórias, crônicas, etc. Orais: tradições, lendas, mitos, fábulas, narrações poéticas, canções populares, etc.

6. FATO HISTÓRICO:O fato histórico é o objeto de estudo da História. É um acontecimento determinante para a compreensão história e objeto de estudo do historiador.

3

Também as caricaturas podem ser uma FONTE Histórica

Page 4: 1história geral livro

7. PERIODIZAÇÃO HISTÓRICA:

No mundo Ocidental ficou caracterizada uma periodização tradicional herança dos historiadores franceses, No entanto esta divisão tradicional da História é hoje bastante contestável porque uniformiza os vários períodos quanto a sua importância, conduz à idéia de hierarquia nos vários acontecimentos, leva em consideração apenas a civilização ocidental e demonstra a fragilidade desta compartimentação, relegando fatos históricos também considerados importantes e que ocorreram no Oriente.

A Periodização Tradicional:

Não é possível determinar quando os homens começaram a medir o tempo. Certamente a primeira medida de tempo foi o Dia, espaço de tempo entre o nascer e o por do sol. Posteriormente se organizou os dias em meses e os meses em anos. Usamos a idéia de ano, sobretudo em ralação ao nosso nascimento: Tenho 12 anos de vida, tenho 15 anos. Mas, quando começou a contagem do tempo em anos? Quando começou o ano 1? Entre os cristãos, o ano um é o nascimento de Cristo. O tempo anterior ao nascimento de Cristo é escrito assim: a.C (antes de Cristo) e posterior é escrito d.C. (depois de cristo) ou sem indicação, por exemplo: 1975. Porèm nem todos os povos adotam o calendário cristão (calendário gregoriano, instituído pela Igreja Católica no séc. XVI, para adequar o anterior (Juliano romano) às suas festividades religiosas). Muçulmanos, judeus e os chineses, por exemplo, têm sistemas próprios de demarcação de tempo.

A contagem dos Séculos Por convenção os anos são escritos com algarismos arábicos (1966,1996,2001 etc...) e os séculos com algarismos romanos (XV,XVI,XVII etc...). Para saber a que século pertence um ano especifico existe um truque: some o número 1 ao numero formado pelos dois primeiros algarismos do ano,

4

Page 5: 1história geral livro

ou ao primeiro se o ano tiver apenas três. Nos anos terminados em 00, o século correspondente ao número que antecede os dois zeros finais: 1500: século XV.

Nos séculos anteriores a Cristo contam-se em sentido inverso. Assim:

Do ano 300 ao 201: século III a.C Do ano 200 ao 101: Século II a.C.

Para facilitar e tornar didático o estudo da história costuma-se dividi-la em grandes períodos e em períodos menores. Geralmente um grande acontecimento para a evolução Humana ou um acontecimento político marca a divisão entre um período e outro.

Veja no quadro a seguir como os historiadores dividiram a História e a Pré-História:

8. CIÊNCIAS AUXILIARES DA HISTÓRIA

Quem nos responde é um dos maiores historiadores Ingleses :

5

“As relações entre a história e as outras ciências sociais (sociologia,antropologia,economia....) são necessárias e valiosas: o historiador pode beneficiar-se dos métodos com que os cientistas sociais estudam seus problemas no presente.” Prof. Edward H. Carr

Nem todos os historiadores concordam com a periodização tradicional da História baseada na história política. existem outras propostas de divisões inspiradas, por exemplo, no enfoque econômico (modo de produção), tecnológico-científico, etc.

Page 6: 1história geral livro

CIÊNCIAS AUXILIARES DA HISTÓRIAEconomia estuda os fenômenos relativos a

produção.Sociologia estuda o homem em sociedade.Geografia estuda a superfície da terra no seu

aspecto físico e humano.Antropologia estuda o homem no aspecto

biológico e culturalArqueologia estuda as culturas extintasPaleontologia estuda os fósseis.Paleografia estudo das escritas antigas.Epigrafia escritos antigos em materiais

pesados.Heráldica brasões, escudos e insígniasNumismática Estudo das medalhas e moedas.

6

Page 7: 1história geral livro

2 CAPITULO – A PRÉ-HISTÓRIA

A FORMAÇÃO DA VIDA NA TERRA

Chama-se Pré-História ao extenso período que se estende desde o aparecimento do homem sobre a Terra até à invenção da escrita, cerca de 4000 a.C. venha comigo em mais uma viagem, vamos mergulhar e acompanhar o surgimento do homem e seu processo civilizador.

A PRÉ-HISTÓRIA: O Início da escalada do Homem

O homem é uma criatura singular. Possui um conjunto de dons que o torna único entre os animais: diferente deste, não é apenas uma peça na paisagem, mas um agente que a transforma. Este animal que esta em toda parte, usando seu corpo e sua mente na averiguação da natureza estabeleceu seu lar em todos os continentes, mas de fato, não pertence a nenhum lugar determinado.

A cronologia aproximada do aparecimento do homem sobre a Terra é cada vez mais recuada: achados recentes na África admitem a existência de seres humanos há três milhões de anos. Sobre este problema existem duas teses contraditórias:

7

Page 8: 1história geral livro

Corrente: Conceito:MONOGENISTAS O aparecimento do homem

ter-se-ia processado numa área do globo bem localizada antes de se espalhar a outras regiões.

POLIGENISTAS O homem teria surgido simultaneamente em zonas distintas do planeta.

De acordo com a teoria da evolução, o desenvolvimento do homem começou há mais de cinco milhões de anos atrás, (entre 25 e 5 milhões de anos). Nesta época, o clima era muito mais quente e úmido do que hoje e, portanto, grandes extensões da áfrica, da Ásia e da Europa encontravam-se cobertas por selvas tropicais. Nestas matas espessas viviam muitas espécies de primatas, incluindo aquela que foi o antepassado do homem atual.

No final do Plioceno, as temperaturas começaram a abaixar em todo o mundo, formaram-se as calotas polares e o clima tornou-se mais seco. A área das selvas tropicais foi diminuindo, dando lugar a florestas pouco densas e planícies verdes. Na África Oriental, os hominídeos primitivos (a família dos primatas a que pertence o antepassado mais direto do homem atual) ficaram encurralados em zonas de florestas cada vez mais reduzidas.

8

Page 9: 1história geral livro

Relação evolução do homem e o clima

(Oficinas de história: ed. dimensão ltda)

Como você pode observar no gráfico acima a três milhões de anos, estas espécies já tinham evoluído até chegar a dois ramos divergentes os “robustos”, com dentes e mandíbulas muito fortes e os “ligeiros”, de quem o homem descende, que tinham os dentes e os maxilares mais pequenos. O tamanho do seu cérebro era semelhante ao do atual chimpanzé, ou seja, um

9

Page 10: 1história geral livro

terço do cérebro do homem atual e tal como os chipanzés utilizam pedras e paus como ferramentas rudimentares. Eram desconhecidos os instrumentos que fabricavam, mas utensílios líticos foram encontrados em muitos países da Europa, África e Ásia. Os primeiros grupos alimentavam-se de vegetais e de carnes de animais mortos.

A descoberta do Pitecantropo marcou época no progresso das idéias a respeito da evolução da humanidade. O primeiro crânio de Pitecantropo foi encontrado em 1891 pelo pesquisador de origem holandesa, Eugen Dubois, em Java.

Em 1924, na África do Sul, foi descoberto um crânio de um hominídeo muito remoto, que recebeu o nome de austrolopiteco, as suas características o aproximavam do homem arcaico, como, por exemplo, testa deprimida, os dentes bem unidos, os caninos pouco desenvolvidos, seu índice cefálico oscilava entre 500 a 600 cm3.

As primeiras espécies humanas desenvolveram-se a partir deste tipo a cerca de 2,4 milhões de anos, com o surgimento do o Homo habilis (homem hábil) na cadeia evolutiva, o cérebro já era metade do cérebro do homem atual foi apelidado de por ser capaz de fabricar instrumentos rudimentares de pedra. Centenas de milhares de anos depois, o homo habilis deu ascendência a uma nova espécie, o Homo Erectus, com locomoção bípede, porem ainda eram muito primitivos, em relação aos homens atuais.

No meio do caminho entre o Homo Erectus, de quem possui algumas características arcaicas, e o Homo Sapiens existiram varias espécies entre estas, a mais célebre é o Homem de Neanderthal (Homo Sapiens Neanderthalensis). Descoberto na Europa, Ásia e África. Suas características são: perfil do crânio mostra uma fronte baixa, arcadas espessas e caixa craniana alongada, de tamanho variável.

A tendência atual é, aliais, a de classifica-lo no gênero Sapiens, sob o nome de Homo Sapiens Neandretalensis. Os primeiros restos fósseis que podem ser atribuídos com relativa segurança à nossa espécie, Homo Sapiens, têm mais de 400.00 anos.

PERIODIZAÇÃO CLÁSSICA DA PRÉ-HISTÓRIA:

10

Page 11: 1história geral livro

Como já referimos, conhecemos os homem pré-histórico devido aos seus restos fósseis e aos achados arqueológicos e ao processo de fabrico de utensílios dos homens pré-históricos.

Costuma dividir-se a Pré-História em três idades, definidas de acordo com o tipo de material que nelas foi preferencialmente utilizado: Idade da pedra. Idade do bronze e Idade do ferro. Os poucos conhecimentos que hoje temos destes períodos derivam, com efeito, do estudo de elementos não escritos: jazidas arqueológicas, artefatos, desenhos ou pinturas rupestres.

11

Os homens "os únicos objetos da história - de uma história que não se interessa por um qualquer homem abstrato, eterno, imutável e perpetuamente idêntico a si próprio - os homens, analisados sempre no quadro

das sociedades de que são membros. Os homens, membros dessas sociedades, numa época bem

determinada do seu desenvolvimento - os homem, dotados de múltiplas funções, de atividades diversas,

com preocupações e atitudes diferentes, que se misturam, se chocam, se contradizem, acabando por firmar uma paz de compromisso, um modus vivendi a

que se chama Vida." Lucien Febvre, 'Combates pela História'

Page 12: 1história geral livro

A IDADE DA PEDRAA IDADE DA PEDRA

Subdivide-se em três períodos: o paleolítico. O mesolítico e o neolítico.

O paleolítico ou idade da pedra lascada

O período chamado de paleolítico, ou Idade da Pedra Lascada, começou com as primeiras criaturas semelhantes ao homem, que vivam na África oriental ha cerca de três milhões de anos, e terminou há 10000 anos, quando o homem descobriu os tecnologia da agricultura. Nossos ancestrais paleolíticos viviam como caçadores e coletores de alimentos. Como não sabiam cultivar a terra, nunca estabeleciam aldeamentos durável, eles eram nômades. Portanto os homens do paleolítico são obrigados a constantes deslocações como forma de sobrevivência, iniciando-se o processo de sedentarização cerca de 8000 a.C.

O homem desta época trava uma luta invariável contra dois inimigos mortais: o frio e a fome. Quando seu aprovisionamento de víveres começava a faltar, abandonavam as cavernas ou os abrigos s e buscavam novos locais para se abrigar.

O desenvolvimento social humano foi condicionado por essa experiência de três milhões de anos de caçada e coleta de alimentos. Para continuar a viver, grupos de famílias constituíram grupos de aproximadamente de 30 pessoas, nos quais os componentes aprendiam a planejar, preparar, colaborar, e partilhar. Os caçadores ajudavam-se reciprocamente na localização da caça, já que os empenhos cooperativos resultavam mais funcionais que as ações individuais. Dividindo a caça, e levando um pouco da carne, para o resto do grupo, eles fortaleciam o elo social. Assim também agiam as mulheres, encarregadas da coleta de castanhas, sementes e frutas para o grupo. Os bandos que não cooperavam na caça e na coleta ou repartição de alimentos tinham poucas chances de resistir e sobreviver.

As cavernas, bem como a descoberta do fogo. Asseguram-lhe amparos contra o frio. Armas talhadas em sílex ou outra pedra cortante, rudimentares na época do Pitecantropo e do Sinantropo (paleolítico inferior), mais

12

Page 13: 1história geral livro

aperfeiçoadas com o homem de Neanderthal (paleolítico médio) e ainda mais com o homem de Cromagnon (paleolítico superior) permitem vincular a caça e a pesca aos produtos da colheita e representam já um importante arsenal utilitário.

Embora o progresso humano tenha sido muito vagaroso durante alongados Séculos, algumas realizações desse período influíram fortemente no Paleolítico.

A Arte Rupestre

A arte pré histórica é inseparável da magia e da religião. Acredita-se que as pinturas rupestres seriam destinadas a facilitar as caçadas (magia simpática). Entre treze e doze mil anos atrás, esses povos buscaram a segurança e o silencioso no interior das cavernas — que eles possivelmente consideravam santuários — e, à luz de tochas, pintaram nas paredes figuras de animais que revelam notável habilidade e esperteza. Ao desenhar um animal com uma lança no flanco, é provável que os artistas pré-históricos acreditassem que isso lhes traria sucesso na caçada; ao desenhar uma manada de animais, provavelmente acreditavam que assim a caça seria farta. Então com certeza poderíamos afirmar que as pinturas rupestres faziam parte ao mesmo tempo de um ritual sagrado e de uma representação do cotidiano do homem pré-histórico. Aventurando mais ainda em nossa argumentação, poderíamos dizer que as pinturas rupestres serviam como primeiras escolas informando aos jovens caçadores como deveria ser sua o seu procedimento na caça.

13

Page 14: 1história geral livro

(pinturas rupestres em Altamira, Espanha).

A Religião no paleolítico

Foram os povos do paleolítico também que deram início à prática de sepultar os mortos — às vezes com oferendas, o que sugere uma crença na vida após a morte.

NEOLÍTICO:

Há cerca de dez mil anos, teve início no Oriente Próximo a Idade da Pedra Polida, ou período neolítico. Nessa época, o homem descobriu como cultivar a terra domesticou animais, estabeleceu aldeamentos, poliu ferramentas de pedra, fez cerâmica e aprendeu a tecer. Tão importantes foram

14

Page 15: 1história geral livro

essas realizações que são chamadas de Revolução Neolítica. A Revolução Neolítica esta baseada na agricultura e a domesticação de animais e realmente elas transformaram a vida na a pré-história. Enquanto os caçadores e coletores do paleolítico eram compelidos a utilizar qualquer recurso que a natureza colocasse à sua disposição, os agricultores do neolítico modificavam o meio em que viviam de modo a atender a suas necessidades. Em vez de gastar tempo à busca de grãos, raízes e frutos, as mulheres e crianças cultivavam. Homens podiam abater os animais domesticados. A agricultura deu origem a um novo tipo de sociedade ao favorecer o surgimento de povoados permanentes, uma vez que os agricultores tinham de viver próximo dos campos que cultivavam e podiam armazenar alimentos para os tempos de carestia. As aldeias alteraram os padrões de vida do homem do neolítico. O excedente de alimentos permitiu que alguns indivíduos dedicassem parte de seu tempo ao refinamento de suas habilidades corno produtor de cesto ou instrumentos. A necessidades de matérias-primas e as criações de artesãos habilidosos fomentaram as trocas. Muitas vezes através de longas distâncias e estimularam a formação de povoamentos de comércio. Começa então a emergir a noção de propriedade privada. Os caçadores haviam acumulado poucos bens. Já que os pertences representavam um fardo quando tinham de se deslocar de um lugar a outro. Já os homens sedentarizados tinham a noção e a posse de propriedades e pretendiam protege-las de qualquer um que queira toma-la, e que por acaso atacassem a aldeia. Portanto é nos grupamentos agrícolas, que surge uma elite governante possuidora de possui riqueza e domina o poder. Os povos neolíticos fizeram grandes avanços na tecnologia. Modelando e cozinhando o barro, construíram recipientes de cerâmica para cozinhar e armazenar alimentos e Água. A invenção da roda do ceramista permitiu a fabricação mais rápida e precisa de cuias e pratos. Amolando a pedra na rocha, obtiveram instrumentos afiados para diversos fins. A descoberta da roda e da vela melhorou o transporte e promoveu o comércio; o desenvolvimento do arado e a atrelagem dos bois facilitaram aos agricultores a tarefa de cultivar a terra. Durante o neolítico, o provimento de alimentos tornou-se mais regular, a

15

Page 16: 1história geral livro

vida nos aldeamentos melhorou e a população cresceu. As famílias que adquiriram riqueza passaram a ter uma posição social mais elevada e assumiram a liderança da aldeia A religião tornou-se mais formal e estruturada; os espíritos naturais foram convertidos em deuses, cada qual com poderes específicos sobre a natureza ou a vida humana. Foram construídos altares em sua honra, e realizaram-se cerimônias conduzidas por sacerdotes cujo poder e riqueza aumentavam com as oferendas feitas pelo povo aos deuses. A sociedade neolítica tornava-se mais organizada e complexa; estava no limiar da civilização.

Idade dos Metais O período neolítico marca também o inicio do uso dos metais. O cobre, que era facilmente transformado em instrumentos e armas, foi o primeiro metal a ser utilizado. As ferramentas e armas fabricadas com ele duravam mais tempo do que as feitas de pedra e pederneira. E podiam ser refundidas e consertadas, quando se quebravam. Com o tempo, descobriu-se como fazer o bronze, combinando o cobre e o estanho em proporções adequadas. O bronze era mais duro que o cobre o que permitia dar-se um gume mais afiado aos instrumentos.

16

Page 17: 1história geral livro

UNIDADE II – As Civilizações Antigas do Oriente

Introdução unidade

Na Unidade II, você vai trabalhar as civilizações antigas e os conceitos necessários a apreensão do conhecimento sobre elas, civilizações que em muito contribuíram para nossa cultura, as civilizações do oriente próximo são até os dias de hoje estudadas pelos historiadores. O surgimento da Civilização não foi um acontecimento inevitável, mas sim um ato da criatividade humana. As primeiras civilizações surgiram há cerca de cinco mil anos, nos vales dos rios da Mesopotâmia e do Egito. Ali, os seres humanos estabeleceram cidades e estados, inventaram a escrita, desenvolveram religiões organizadas e construíram grandes edifícios e monu-mentos — tudo o que caracteriza a vida civilizada. A ascensão do homem à civilização foi longa e penosa. Cerca da história humana se desenrolou antes do surgimento da civilização, ao longo das extensas eras pré-históricas

17

Page 18: 1história geral livro

Cap 1 O Crescente fértil

Introdução

A região do crescente fértil

18

Page 19: 1história geral livro

Egito

A Localização e a Importância do Nilo para o Egito.

Há mais 10000 anos, quando os primeiros habitantes pré-históricos se estabeleceram na região nordeste da África, devido a profundas alterações climáticas que ocorriam na área saariana, depararam-se com um ambiente impar. Um poderoso rio, que hoje conhecemos como Nilo, com margens férteis, cruzava uma extensa área desértica seguindo seu curso por mais de 950 quilômetros. Ao Sul o Nilo vencia as regiões rochosas, que proporcionavam-lhe um aspecto filiforme ( que tem forma de fio) ; já ao Norte dilatava-se, ramificando-se em uma série de canais que desaguavam no Mediterrâneo. Os egípcios históricos denominavam estas regiões distintas de “as duas terras”: o Alto e Baixo Egito. O Alto Egito compreende toda porção do vale, enquanto que o Baixo Egito é formado pela região do Delta.

A área fértil junto ao rio, com verdejantes pastagens, bosques de papiros e árvores de pequeno porte, contrastava com a aridez avermelhada dos desertos da Líbia á Oeste e Arábico à Leste. A terra fértil era chamada pelos egípcios de Kemet, literalmente “a negra”. Já o deserto era denominado Desheret, ou “a vermelha” em egípcio. Os antigos egípcios se autodenominavam de “remet ne Kemet”, cuja tradução é “povo do Egito”, de certa forma se conectando a terra fértil habitável, enquanto que ao deserto associavam idéias de limites, terras distantes, cemitérios, em suma, todas as áreas fora de seu ambiente quotidiano. Mas as regiões desérticas também serviam de barreira contra eventuais ataques de povos estrangeiros, embora não impedissem a circulação de caravanas que partiam a procura de matérias primas minerais ou viajavam para realizar trocas comerciais.

O Nilo é para o Egito a fonte de toda vida, o próprio historiador grego Heródoto já havia afirmado, por volta de 450 a.C., que “o Egito é uma dádiva do Nilo”. Sua cheia anual dava início à estação akhet, ou da inundação. A cheia trazia consigo sedimentos aluviais que garantiam a fertilidade dos campos.

19

Page 20: 1história geral livro

No período seguinte, a estação peret ou da lavra, que corresponde aos meses de novembro a março, os campos eram preparados para o cultivo do trigo, da cevada e do linho. Para garantir o crescimento e a vida das plantações, canais de irrigação eram escavados próximos ao rio. O abastecimento de água era feito com o shaduf (nome árabe do artefato) que contém um recipiente para água em uma extremidade, e na outra um contrapeso que serve para elevá-la.

Na última estação chamada shemu, período correspondente aos meses de março a junho, era efetuada a colheita. Mas um rio que trazia benefícios também representava perigo. Animais como crocodilos e hipopótamos estavam presentes em todas as regiões e eram responsáveis pela morte de adultos e crianças.

O Nilo foi também a principal via de comunicação do Egito, unindo seus habitantes. Barcos navegavam para o Norte seguindo a corrente e para o Sul aproveitando os ventos durante o ano todo. Tal como a agricultura, a pecuária também foi importante para a economia egípcia, criava-se o gado vacum, o caprino, o ovino e o suíno.

As aves, a exemplo de patos e gansos, eram também criados ou capturados nos pântanos. Entre os animais de estimação estavam os cães, os gatos e macacos. Os cavalos só foram introduzidos no Egito com a chegada dos Hicsos – entre 1640 e 1532 a. C.

Egito e sua periodização histórica

O PERÍODO PRÉ-DINÁSTICO (5000-3200 ªC.):

O Pré-dinástico Primitivo, implica na instalação definitiva do modo de vida neolítico no Vale do Nilo, no sexto milênio (5500-4000 a.C). Os primeiros grupos sedentários se estabeleceram no Delta do nesta época o Baixo Egito experimentou um excepcional desenvolvimento que desencadeou na metade do milênio V a.C, o surgimento dos primeiros assentamentos urbanos. Estes centros urbanos se organizaram em organização territorial chamada Nomos.

20

Page 21: 1história geral livro

No final do Período Pré-dinástico (entre o V milênio e o 3200 a.C.) destacaram vários centros - Nagada, hieracómpolis, Tinis - em conflito permanente entre eles. Levado a formação de dois Paises O alto e o Baixo Nilo. Como já vimos o fator geográfico também influenciava nesta divisão. Antigos relatos egípcios, foi um rei do Alto Egito, chamado Menes, o primeiro a unificar os “dois reinos”. Desde aquele momento os reis egípcios poderiam governar o Alto Egito e o Baixo Egito e um dos muitos nomes usados para o país foi "os dois paises", referindo-se a dualidade original do Egito. A unificação promovida por Menes ou Narmer (3.300-3.100 a.C), pos fim ao período Pré-dinástico e deu inicio ao período Dinástico propriamente dito.

O PERÍODO DINÁSTICO:

O ANTIGO IMPÉRIO (3200-2300 ªC.):

O Fundador da 1ª Dinastia I foi Aha, filho de Menes também fundador da cidade de Menfis. Neste período o faraó passa a ser considerado um ser divino identificado com Horus, o deus falcão. Está sobre a protecão da deusa do Norte (Nekhbet, a deusa abutre) e a do sul (Uadjet, a deusa cobra). Durante as primeiras dinastias observamos um desenvolvimento urbanístico e arquitetônico bastante grandes. As casas e as tumbas são de pedra,maiores e mais sofisticadas que as do período pré- dinástico. A pesar da unificação, a dualidade continuou vigente durante toda a historia antiga do Egito, sobre todo na Administração, onde cada reino seguia sue chefe. A escritura Hieroglífica se desenvolveu, desde do uso de figuras de animais expressando conceitos materiais, para passar a expressar sons e sílabas alem dos ideogramas. Desde a Antigüidade, os egípcios dividiam o ano em três estações, cada estação quatro meses e cada mês três semanas de 10 dias. Isto fazia que o ano tivesse um total de 360 dias. Mas tarde acrescentaram 5 dias que simbolizava os dias de nascimento de cinco de suas grandes divindades: Osiris, Isis, Seth, Neftis y Horus. Grandes Obras Hidráulicas são realizadas e a população participava ativamente destas

21

Page 22: 1história geral livro

empreitadas. A construção das grandes pirâmides (túmulos): Quéops, Quéfren e Miquerinos foram realizadas no Antigo império e demonstram o conhecimento arquitetônico e organizacional muito grande . Entre as causas que levaram ao fim do Antigo Império se encontram os excessivos impostos para a manutenção do culto funerário e do crescente poder dos sacerdotes e da nobreza, os diretos individuais, e as normas reais tinham que satisfazer a um numero maior de interesses. Este período de caos administrativo os egiptólogos chamam de 1º período intermediário. O MÉDIO IMPÉRIO EGÍPCIO (2000-1580 ªC.):

O Médio Império se conhece também com o nome de Império Tebano, já que a capital passou a ser Tebas. Foi formado pelas dinastias XI-XVII. O faraó Mentuhotep II conseguiu reunificar o Egito. O deus de Tebas, Amón, se convertera no deus nacional. A religião se democratiza mediante o culto ao deus Osíris, cuja suposta tumba na cidade de Abydos se converteu em um lugar de peregrinação. As classes servis obtiveram privilégios da realeza. Os faraós mais notáveis foram os da XII dinastia, submeteram os príncipes e monarcas restabelecendo a unidade, eles que criaram as bases sociais necessárias para estender a influenciam egípcia a todo o oriente próximo. Depois da morte de Amenemhat III, o poder absoluto dos faraós tebanos se debilitou progressivamente, o país se submergiu em um novo caos e na desbordem, o que favoreceu a invasão dos hicsos. Hicsos é uma palavra que em Egito antigo significa regente de um pais estrangeiro, invasores que irromperam no Egito em tono de 1730 a.C. , são definidos como reis pastores e reis estrangeiros , é possível que se trate de um povo de origem asiática, utilizaram cavalos, que os egípcios não conheciam, em sua conquista. Tendo sido o primeiro povo a conquistar o Egito.

O NOVO IMPÉRIO EGÍPCIO (1580-525 ªC.):

O faraó Amosis expulsou os hicsos iniciou o Período do Novo Império reunificando o Alto e o baixo Egito. Seus sucessores começaram a expansão até o noroeste, chegando em varias campanhas até os rios Jordão e Eufrates,

22

Page 23: 1história geral livro

Amenofis I Iniciou a construção do templo de Karnak, deste período vários faraós são nossos conhecidos como a Rainha Hatsepsut (provavelmente a primeira mulher a reinar no Egito), Amenofis IV (conhecido por ser o faraó herege Ahkenatón que levou a Egito do politeísmo ao monoteísmo reconhecendo um único culto ao deus Aton), o famoso Tutankhamon. Na a XIX Dinastia. Temos o faraó mais famosos graças aas suas construções espanhadas por todo o Egito, Ramsés II, que depois de derrotar os Hititas na batalha de Kadech, fortaleceu-se no império reinando durante 66 anos. Depois de Ramsés III o Egito se enfraqueceu et por volta de 670 a.C. , os assírios invadiram e dominaram o pais , seu domínio durou pouco porem o Egito e novamente conquistado pelos persas após a batalha de é ser conquistado pelos persas comandados pelo rei Cambises, transformado o Egito em uma colônia do império persa.

Sociedade e cultura do Egito antigo

A sociedade egípcia era Teocrática o faraó se identificava como um Deus, no entanto a estratificação social era possível

Escrita A palavra hieroglyphica tem origem grega significando “as (letras) sagradas esculpidas”, daí derivam “hieroglífica” e “hieróglifos”. O Estudo da escrita egípcia está longe de ser concluído,e seu surgimento e debatido alguns estudos recentes apontam-na como uma invenção autóctone, já outros pesquisadores insistem na influência ou na importação da Mesopotâmia. Para os egípcios a escrita era uma invenção do deus Toth, o qual decidiu ensiná-la aos homens contrariando a uma ordem de Ra.

Os primeiros hieróglifos a aparecerem são na maioria legendas, escritas sobre artefatos variados, incluindo nomes de personagens históricos. No Período Tardio os egípcios empregavam duas escritas distintas, na realidade derivados cursivos da Hieroglífica, respectivamente a Hierática e a Demótica. Estas três escritas deixaram de existir com a conquista romana, sendo substituídas pelo Copta - o qual baseia-se no alfabeto grego. Com o

23

Page 24: 1história geral livro

advento do cristianismo o sistema egípcio de escrita, considerado pagão, caiu em completo desuso.

A escrita egípcia é formada por três tipos de sinais (ideográficos,), cada um com um valor gramatical diferente. Os sinais ideográficos representam uma palavra completa. Os sinais fonéticos representam um som específico .

24

A PEDRA DE ROSETA E A DECIFRAÇÃO DOS HIERÓGLIFOS

Entre as peças descobertas pela campanha de Napoleão a mais célebre é, sem dúvida a “Pedra de Roseta”. Esta foi encontrada em 15 de julho de 1799 próxima a cidade costeira de Roseta, a moderna Rashid, no delta do Nilo por um grupo de soldados que cavavam os alicerces de um fortim sob o comando do oficial Pierre Bouchard. A pedra de Roseta trás 14 linhas de hieróglifos (na parte superior), 32 linhas escritas em demótico (ao centro) e 54 linhas em grego (na parte inferior). A importância deste documento foi percebida pelos franceses antes mesmo de sua transferência para o Cairo, pois a escrita grega poderia ser comparada com a egípcia. Tal fato impulsionou a pesquisa de inúmeros estudiosos europeus da época, que trabalharam a partir de cópia impressas das inscrições. Dentre os estudiosos que deram os primeiros passos para a decifração, em 1802, destacam-se Sylvestre de Sacy e Johan Akherblad. Ambos conseguiram identificar os nomes gregos e em seguida isolaram seus equivalentes na escrita demótica O hieróglifos persistiram enigmáticos até 1814, ano que o inglês Thomas Young (1773-1829) iniciou seus estudos. Com o mesmo procedimento dos estudiosos supracitados ele isolou os grupos grego e demótico, percebendo então que o sistema de escrita demótica deveria ser semelhante a hieroglífica e que este sistema era uma mescla de caracteres

O processo da decifração foi completado pelo francês Jean-François Champollion (1790-1832), o qual seguiu quase os mesmos passos de Young. Em seus estudos Champollion sabia que eram necessário comparar várias inscrições que tivessem os mesmos hieróglifos. No princípio de 1822 ele conseguiu uma cópia de uma inscrição, que provinha de um obelisco de Philae, onde estavam escritos os nomes de Ptolomeu e Cleópatra em hieróglifos e grego. Ele conseguiu isolar cada valor dos sinais que compunham os dois nomes e comparou-os em seguida. Este procedimento foi aplicado para outros nomes identificáveis. Ao término de 1822, Champollion publicou Letre à M. Dacier relative à l’Alphabet des Hiéroglyphes phonétiques a qual mencionava que os sinais fonéticos possuíam diversas aplicações. Seu trabalho culminou com a obra Precís du système hiéroglyphique, escrita em 1824, onde toda a lógica da língua foi exposta. Tal obra marcou o nascimento de uma nova ciência: a Egiptologia.

Adaptado texto Prof. Moacir Elias Santos (Egiptólogo)

Page 25: 1história geral livro

A religião egípcia

A religião egípcia pode se dizer que seja a más completa das religiões antigas. Homens e mulheres adoravam a muitos deuses e buscavam a proteção divina em todos os aspectos da vida cotidiana. Também os corpos celestes e os fenômenos cósmicos podiam assumir aspecto de divindades. O povo egípcio não tinha um conceito transcendente dos deuses; supunham que o cosmo a natureza (o vento, a chuva, as cheias do Nilo... etc) eram os resultados de uma ação divina. O estudo do fenômeno religioso no Antigo Egito requer a analise das crenças de diferentes regiões e cidades. Os habitantes pré-históricos do vale do Nilo provavelmente praticaram um fetichismo totêmico. Una serie de novas divindades ocuparam o lugar das primitivas crenças e entre o ano 3000 a.C., e o séc IV da era cristã prevalecendo o politeísmo. Neste processo os deuses maiores absorveram as divindades menores. Conhece-se mais sobre a forma dos deuses doque sobre as crenças associadas a estas divindades. Os deuses do antigo Egito revelam variedade e complexidade, assim como formas estranhas. No Egito se adoravam as divindades que tinham a faculdade de mostrasse com aspecto humano ou com aspecto de animal ou ambos (humano-animal), portanto a religião egípcia é antropozoomorfica. Há deuses antropomorfos, zoomorfos e híbridos. A composição das imagens divinas com corpo humano e cabeça de um determinado animal exprime uma mistura entre o pensamento antropomorfo (abstrato), e as aparências animais (força natural). As imagens não representam sua forma real, apenas refletem uma idéia do divino.

Certamente para cada deus era prestado um culto local, mas alguns transcenderam estes limites, sendo adorados em regiões vizinhas. Isto pode ser associado ao crescimento do poder político de determinada localidade. Alguns deuses adquiriram proeminência nacional, um bom exemplo é Amon,

25

Page 26: 1história geral livro

primeiramente adorado em Hermópolis e posteriormente, através de seu sincretismo com Ra, tornou-se Amon-Ra garantindo sua ascensão a deus nacional, permanecendo assim até o final da história egípcia. Culto aos mortos era popular entre os egípcios: a alma descia ao mundo subterrâneo para ser julgada por Osíris. A parte material do homem, seu corpo o “khat” devia mumificasse e alcançar a imortalidade. O “ka” era o duble da pessoa que deixa o corpo quando morre. Os egípcios faziam um imagem do morto, e a colocavam na tumba e a proviam de bebida e alimentos para evitar que sofresse fome.

Um aparte na história religiosa egípcia “A revolução Monoteísta”

     O rompimento entre Amenófis IV, Faraó do Egito (1364-1347 a.C.), e o Clero de Amon em Tebas no quarto ano de governo desse Faraó se deu em circunstâncias nebulosas, como já vimos, mas o fato é que, depois disso, o Faraó, virou o Rei apóstata que fez cair todos os deuses de seu pedestal passando do politeísmo ao monoteísmo. Só um Deus: O Disco solar Aton. A historia de Egito se pode dividir entre dois momentos: antes de Amenófis IV e depois de Amenófis IV. O próprio Monarca mudou seu nome para Akhenaton (“É

Benéfico a Aton”) e, a partir dessa data, iniciou a maior revolução teológica do Egito até então. Procurou uma região distante que não teria sido consagrada a nenhum deus onde fundou uma nova capital para o Egito: Akhetaton, “O Horizonte de Aton”. .Mas não só uma revolução religiosa, as estruturas religiosas,

sociais e artísticas mudaram radicalmente, esta reforma artística é notada principalmente nas representações das próprias características físicas

do Faraó representado de forma mais simples dentro de características de um homem normal sem

grandes atributos e músculos desenvolvidos.

O Faraó Akenaton

26

Page 27: 1história geral livro

Mitologia egípcia

Representação Deus

Amon: um homem com uma

barba curva, coroado com

duas plumas. Seu nome

significa “oculto”, daí sua

associação com os ventos. À

princípio era deus integrante

da Ogdoáda, junto com sua

esposa Amaunet e

posteriormente deus

padroeiro de Tebas. Associa-

se com Min e Ra. Os animais

à ele consagrados eram o

carneiro e o ganso.

27

Trecho do Hino a Aton Composto por Akenaton

“O calor para que te sintam a ti.Fizeste o céu distante para ali te elevar,

e para abarcar tudo o que fizeste.No tempo em que estavas só,

Surgindo na tua forma Aton vivente,Aparecendo brilhando, recuanto ou

aproximando.”(100 textos de história antiga. São Paulo:

contexto, 1988. P 56-9.)

Page 28: 1história geral livro

Anúbis: um homem com

cabeça de chacal, ou um

chacal deitado. Era filho de

Osíris e Néftis. Deus dos

mortos e do

embalsamamento. Protetor

das necrópoles e das múmias.

Bastet: uma mulher com

cabeça de gato segurando um

sistro. Associada a Sekhmet e

Tefnut. Representa os poderes

benéficos do sol. O animal a

ela consagrado era o gato.

Bes: um anão com feições

leoninas. Às vezes é

representado portando facas e

instrumentos musicais,

destinados a afastar o mal.

Estritamente doméstico

protegia os lares, partos, e

crianças.

28

Page 29: 1história geral livro

Hórus: um homem com

cabeça de falcão com a coroa

do Alto e Baixo Egito, ou um

falcão. Filho de Ísis e Osíris.

Dentre as várias formas de

Hórus podemos citar:

Horakhti, “Hórus dos dois

horizontes”, identifica-se com

Ra, chamado então de Ra-

Horakhti, o sol do meio dia;

Ísis: mulher que traz um

hieróglifo em forma de trono

sobre a cabeça. Era a mãe

simbólica do rei e senhora da

magia. Esposa de Osíris e

mãe de Hórus. Identifica-se

com a deusa Hátor.

29

Page 30: 1história geral livro

Osíris: homem com barba

curva, portando a coroa

branca com os cetros do

Alto e Baixo Egito, ou

mumiforme com os

referidos paramentos.

Adorado primeiramente

como deus ctônico e da

vegetação, posteriormente

tornou-se juiz e rei dos

mortos, estritamente ligado

ao culto funerário.

Ptah: homem enfaixado,

como uma múmia,

portando um cetro formado

por vários amuletos. Deus

protetor dos artesãos e

criador do mundo em seu

mito cosmogônico.

30

Page 31: 1história geral livro

Ra: homem com cabeça de

falcão coroado com o disco

solar circundado pela serpente

Uraeus. É o deus-sol em seu

explendor. Possui numerosas

associações (Kepri, Atum,

Amon e Hórus)

Sekhmet: mulher com cabeça

de leão coroada com o disco

solar. Seu nome significa “A

Poderosa”. Personifica os

poderes destrutivos do sol.

Associa-se a Bastet e Mut.

Seth: homem com cabeça de

um animal desconhecido, ou

este animal. Primeiramente o

deus que defendia Ra contra a

serpente Apópis, elevado a

deus nacional durante o

Segundo Período

Intermediário, e

posteriormente associado às

forças caóticas. Personifica as

tempestades e trovões.

31

Page 32: 1história geral livro

Toth: homem com cabeça de

íbis, segurando os

instrumento da escrita, ou um

íbis e ainda um babuíno. Deus

da escrita, das ciências e do

conhecimento.

(Adaptado texto prof Moacir Elias Santos (Egiptólogo))

32

Page 33: 1história geral livro

33

O MITO DE OSÍRISO MITO DE OSÍRIS

“ Osíris e Ísis foram os responsáveis pelos conhecimentos dos antigos egípcios; os ensinaram a agricultura, as leis, a confecção de artefatos, em suma tiraram o povo da barbárie. Ao civilizar os egípcios Osíris resolveu partir, continuando sua missão na terra.

Osíris era invejado por Seth, devido a seus atos. Aproveitando-se da ausência de Osíris, Seth decide tomar o trono e resolve conspirar contra ele: ordenou que construíssem uma arca esplêndida com as medidas de Osíris. Ao regresso do irmão, Seth homenageia-o com um banquete. Durante a festa Seth exibiu a arca, e esta seria um presente para o convidado que nela coubesse. Quando Osíris entrou na arca, suas medidas ajustaram-se perfeitamente, foi então quando Seth ordenou a seus conjurados que a lacrassem. Em seguida a arca foi jogada no Nilo, chegando, posteriormente ao mar.

O mito então descreve a agonia de Ísis e suas peregrinações em busca do corpo de Osíris. A deusa acaba chegando a Bíblos, onde transforma-se em uma jovem e descobre o local para onde a arca havia sido levada. Ao retornar ao Egito, de pose do corpo de Osíris, Ísis decidiu escondê-lo em um pântano do Delta. Em seguida Ísis viaja, e Seth acaba encontrando o cadáver, enquanto caçava. Tomado pelo ódio, Seth partiu o corpo de Osíris em quatorze partes e as espalhou pelo Egito. A deusa Ísis, auxiliada por outras divindades, percorre o país na busca pelos restos de seu marido. Treze partes foram recuperadas, e novamente unidas. Através dos conhecimentos de Anúbis, Osíris foi mumificado. Ísis utilizando-se de sua magia, conseguiu despertar Osíris para uma nova vida e por um instante o casal concebe Hórus. Outros mitos concluem esta história, a qual resume-se nas lutas de Hórus e Seth pelo trono do Egito. Depois de uma disputa de mais de oitenta anos, o poder é conferido a Hórus, o qual torna-se rei do céu e da terra, enquanto quer seu pai partiu para governar o outro mundo.

Se analisarmos os mitos supracitados veremos que estes justificam o mito do rei divino, na qual o faraó era descendente dos deuses, e conseqüentemente dono de todo universo ordenado. O faraó enquanto governava era identificado com Hórus, depois de morto se equiparava a Osíris. Outra grande influência do mito de Osíris refere-se ao costume da mumificação. Osíris havia sido o primeiro ser submetido a este processo, conseguindo assim, passar à uma nova vida. Tal como Osíris toda pessoa que seguisse os rituais prescritos, e tivesse seu corpo mumificado se equiparava ao deus, podendo viver eternamente. Os mortos são freqüentemente referidos nos textos como “Osíris Fulano”, expressão que significa “o falecido fulano”.”“.

Adaptado texto Prof. Moacir Elias Santos (Egiptólogo)

Page 34: 1história geral livro

AS CIVILIZAÇÕES DA MESOPOTAMIA

Mesopotámia é uma palavra grega que significa “terra entre rios”. Foi ali, nos vales do Tigre e do Eufrates, que teve início a primeira civilização. O primeiro povo a desenvolver uma civilização urbana na Mesopotâmia (atual Iraque) foram os sumérios, ao colonizar os pantanais do Baixo Eufrates — que, somando-se ao Tigre. deságua no golfo Pérsico.

Pelo trabalho constante e pela imaginação, os sumérios transformaram os pantanos em campos de cevada e pequenos bosques de tamareiras. Por volta de 3000 a.C., suas aldeias de cabanas desenvolveram-se gradualmente em doze cidades-Estado independentes, cada uma consistindo numa cidade e nas terras que a circundavam. As realizações dos sumérios são impressionantes: um sistema de escrita com simbolos em tabletes de argila (cuneiforme), para representar idéias; casas, palácios e templos sofisticados, feitos de tijolos; ferramentas e armas de bronze; obras de irrigação; comércio com outros povos; uma forma primitiva de dinheiro; instituições religiosas e políticas; escolas; literatura religiosa e secular; formas variadas de arte; códigos de leis; drogas medicinais e um calendário lunar.A história da Mesopotâmia é marcada por uma sucessão de conquistas.

Ao norte da Suméria havia uma cidade semita chamada Akkad. Por volta do ano 2350 a.C., os ácades, liderados por Sargão, o Grande, o rei guerreiro, conquistaram as cidades sumérias. Sargão construiu o primeiro império do mundo, que se estendia do golfo Pérsico ao Mediterrâneo. Os ácades adotaram as formas culturais sumetianas e as difundiram para além das fronteiras da Mesopotâmia, com as suas conquistas. A religião mesopotâmica tornou-se uma mistura de elementos dos dois povos.Nos séculos que se seguiram, as cidades sumerianas foram anexadas a varios remos e impérios. A língua suméria, substituida por uma língua

34

Page 35: 1história geral livro

semítica, tornou-se obscura, conhecida apenas dos sacerdotes, e os sumérios desapareceram gradualmente como um povo distinto. Mas suas realizações culturais perduraram. Ácades, babilônios, elamitas e outros adotaram as formas de religião, arte, leis e literatura sumérias. O legado sumeriano serviu de base a uma civilização mesopotâmica que manteve um estilo peculiar durante três mil anos.

1. AS INFLUÊNCIAS DO MEIO FÍSICO-GEOGRÁFICO:

Na Mesopotâmia, a faixa de terra fértil entre os rios Tigre e Eufrates, e nas zonas adjacentes - onde hoje se erguem Bagdá, Basra e outras cidades iraquianas -, floresceram sucessivamente os reinos de Sumérios, Acádios, Amoritas, Hitititas, Cassitas, Assírios e Caldeus. Nesses territórios, entre muitos outros povos, se originou o mito do dilúvio universal e se criou uma das primeiras formas de escrita, a cuneiforme.

2. POVOAMENTO DA MESOPOTÂMIA (“terra entre rios”):

Sumérios

Os sumérios, de origem desconhecida, ocuparam o Sul do vale no início do terceiro milênio antes de Cristo. A história deste povo está envolta em muitas lendas – o que parece certo é que os sumérios nos tempos pré-históricos, já utilizavam formas primitivas de irrigação. Pacíficos, desempenharam relevante sistema de escrita chamada ''cuneiforme'' e elaboram leis. Construíram casas de tijolos cozidos ao sol, aplicando o princípio do arco. Fundaram bibliotecas, escolas e cidades-estados, também se dedicaram à agricultura, à indústria e ao comércio. Eram baixos, atarracados, com barba e cabelo raspados.

As mais extraordinárias cidades-estados fundadas pelos sumérios foram: Ur, Uruk e Lagash. Estas cidades, grandes centros mercantis, eram governadas por déspotas locais denominados ''patésis'', mas auxiliado pela

35

Page 36: 1história geral livro

aristocracia (sacerdotes e burocratas). Estavam em freqüentes lutas pela imposição da supremacia. A mais importante de todas era Ur, opulenta e orgulhosa de seu poderio econômico. Com o declínio de Ur, Lagash tornou-se a cidade hegemônica. O progresso das cidades sumerianas foi interrompido pelas invasões de tribos seminômades, procedentes do deserto da Síria, entre as quais destaca-se a dos acádios.

Acádios

Os acádios, semitas, estabeleceram-se ao Norte da Caldéia. Fundaram as cidades de Agadê, Sippar e, mais tarde, Babilônia. Com isso dividiu-se a Mesopotâmia: ao Norte, o país de Acad, ao Sul, o país de Sumer. Começam então as lutas pela hegemonia entre as cidades sumérias e acádias, principalmente Ur e Agadê. Triunfou esta última.

O grande rei acádio, guerreiro e conquistador, Sargão I, ''soberano dos quatro cantos da terra'', foi primeiro monarca da história da Mesopotâmia. O poderio de Agadê é obra sua, mas com sua morte novas invasões e batalhas pela hegemonia da região voltam a ocorrer. Sua dinastia iria chegar até o seu bisneto, e durante esse período os semitas absorvem a cultura dos sumérios, a sua religião e a sua cultura.

As cidades sumérias revoltaram-se. Lagash, sob o comando de Gudea, reconquistou o poder. Outros povos semitas atacaram a região: os Guti. Semitas e sumérios se confundem facilitando a restauração do poderio dos sumérios, que iria durar pouco tempo.

OS AMORITAS Primeiro Império Babilônico

36

Page 37: 1história geral livro

Babilônia era a capital dos amoritas, e de uma pequena cidade do Eufrates se tornou à sede do poderoso império e grande centro comercial. Hamurabi (1792 a 1750 a.C.) - O mais famoso soberano de Babilônia, foi o verdadeiro fundador do Império. Fortificou a capital, cercando-a com muralhas, pois os territórios da Mesopotâmia foram cenários de incontáveis batalhas. A Babilônia também é o berço de algumas das primeiras manifestações literárias: os épicos, as lamentações e as disputas. Estendeu suas conquistas e realizou grandes obras públicas. Em torno de 1775 A.C., o rei babilônio Hamurabi redigiu o famoso código legal com penas para os delitos e transgressões, mas também com disposições de proteção para as mulheres. O Domínio Cassita, no começo do II milênio, sacudiu o poderio babilônico por invasões de povos indo-europeus, provenientes da Ásia Central. Essas tribos bárbaras possuíam o cavalo e usavam o ferro. Destacaram-se os hititas, cassitas e militanos. Os cassitas estabeleceram-se nos encostas do Tigre. O cavalo por eles introduzido na região era chamado pelo povo ''animal das montanhas''. Babilônia caiu em seu poder e entrou em declínio. Com a decadência de Babilônia, um povo começou a erguer-se nos arredores de Assur: os assírios.

Império Assírio

37

Page 38: 1história geral livro

Os assírios eram semitas, nômades, pastores e caçadores, foram vassalos dos babilônios por muito tempo. As lutas contra os indo-europeus favoreceram a sua ascensão. Formaram um pequeno reino com sede em Assur transferida, mais tarde, para Nínive. A belicosidade do povo, a arides do solo e a explosão demográfica contribuíram para as conquistas assírias e a formação de um poderoso império. Os soberanos assírios que mais se destacaram na luta pela expansão foram: Teglatfalazar, conquistador de Babilônia, A Sagrão II, fundador da dinastia dos sargônidas, Senaqueribe e Assurbanipal.Sagrão II (722 a 705 a.C.) apoderou-se do trono pela violência. Destruiu Samaria, capital do Reino de Israel. Conquistou a Síria e fez do exército assírio notável instrumento de conquista. Seu filho, Senaqueribe, estabeleceu a capital em Nínive e continuou as conquistas militares.

Durante séculos, babilônios e assírios - tendo como centro as cidades de Nínive e Ashur - disputaram o território e se alternaram em sua primazia. Aproximadamente em 670 A.C., o rei assírio Assurbanipal recopilou a primeira grande biblioteca da Antigüidade, muito antes da mais famosa em Alexandria, no Egito.

38

Page 39: 1história geral livro

Muitos foram os fatores que contribuíram para o declínio do Império Assírio, destacando-se o tratamento cruel e sanguinário aos vencidos, que eram cegados e esfolados vivos; pouco interesse pelas atividades econômicas; revoltas dos povos dominados; expedições militares dispendiosas; intrigas palacianas. Nabopolassar, de Babilônia, aliado aos medos, sitiou a odiada Nínive que caiu em 612 a.C. Surgiu o Segundo Império Babilônico.

OS CALDEUS Segundo Império Babilônico

Com a queda de Nínive, o poder retornou a Babilônia, que se tornou a mais notável cidade do Oriente. O extraordinário progresso econômico permitiu o seu embelezamento: templos, palácios, muralhas e os famosos ''Jardins Suspensos''. No centro da cidade, erguia-se o ''Zigurat'', a grande torre do templo, onde os sacerdotes caldeus observavam os astros. Nabucodonosor (604 a 561 a.C.) - Foi o mais célebre soberano dos caldeus. Estendeu as fronteiras do Império até o Egito. Aniquilou os fenícios. Subjugou os hebreus, levando-os como cativos para Babilônia. No seu reinado, Babilônia recebeu o título de ''Rainha da Ásia''. Depois da sua morte o Império Caldeu declinou.Os sucessores de Nabucodonosor, déspotas sanguinários, viviam no luxo e no esplendor. Eram freqüentes as lutas internas. Estavam abertas então as portas ao domínio estrangeiro. O Império Caldeu foi conquistado por Ciro, o Grande, rei persa, em 539 a.C. Mais tarde, chegaram os gregos, os romanos e os árabes.

Organização Política

A forma de governo dos assírios e caldeus era monarquia absoluta. O poder centralizava-se nas mãos do rei, chefe militar, administrador, legislador supremo, sacerdote máximo e supervisor das atividades comerciais. Não era

39

Page 40: 1história geral livro

considerado um ser divino, como no Egito. Mas um cerimonial minuciosos o separava dos mortais comuns.

Organização Social

A sociedade estava dividida em nobres, sacerdotes versados em ciências e respeitados, comerciantes, pequenos proprietários e escravos.

Religião e Mitos

A riqueza da região não se esgota, no entanto, em seu legado histórico, legal e cultural, mas também abarca a originalidade de seus antiqüíssimos mitos, que foram reinterpretados por sucessivas civilizações até se incorporarem ao patrimônio da humanidade.

O mito do dilúvio pode ter-se originado na Suméria com uma inundação na confluência dos dois grandes rios aproximadamente no ano de 2900 A.C.. O episódio teve tal impacto que a Lista Suméria de Reis divide a história em antes e depois da inundação (os oito reis anteriores são conhecidos como "antediluvianos"). Um dos posteriores ao dilúvio é Gilgamesh, que viveu aproximadamente em 2600 A.C. e que com o tempo ganhou estatura de lenda.

A arca de Noé tem seu antecessor no mito sumério de Ziusudra, a quem um deus protetor salvou do dilúvio instruindo-o para que construísse uma arca.

Moisés tem um antecedente em Sargon, o rei dos acádios, em 2350 A.C. aproximadamente, colocado por sua mãe em uma cesta lançada ao rio, e que foi resgatado e criado por estranhos.

Segundo o historiador H.W.F. Saggs, por seus contatos com a Assíria, os persas foram os herdeiros definitivos do império assírio e transmitiram muitas

40

Page 41: 1história geral livro

das características da cultura assíria e babilônica aos gregos - e, por intermédio destes, ao mundo inteiro. Os sumerianos eram politeísta e não acreditavam em recompensas após a morte. Visavam apenas a obter, através da religião, dádivas materiais e imediatas. Acreditavam que Marduk, depois de lutar contra os deuses invejosos, criou o mundo e o homem de barro com sangue de dragão. Conheciam o mito do dilúvio, mandado pelos deuses para castigar a humanidade. A religião dos babilônios tinha as seguintes características: politeísmo, desprezo pela vida além-túmulo, crença em gênios, demônios, heróis, adivinhações e magia. Seus deuses eram numerosos com qualidades e defeitos, sentimentos e paixões, imortais, despóticos e sanguinários. Anu, deus do céu; Enlil, deus do ar, Ea, deusa das águas, Sin, deusa da lua, Shamash, deus do sol e da justiça, Istar, deusa do amor e da guerra. Os sacerdotes se esforçam por agrupar os deuses em famílias ou ''tríades''. Cada divindade era uma força da natureza e do dono da sua cidade. Marduk, deus de Babilônia, o cabeça de todos, tornou-se deus do Império, durante o reinado de Hamurábi. Foi substituído por Assur, durante o domínio dos assírios. Voltou ao posto com Nabucodonosor.Os gênios bons ajudavam os deuses a defender-se contra os demônios, contra as divindades perversas, contra as enfermidades, contra a morte. Os homens procuravam conhecer a vontade dos deuses manifestada em sonhos, eclipses, movimento doas astros. Essas observações feitas pelos sacerdotes deram origem à astrologia.

41

Page 42: 1história geral livro

Economia

A agricultura era a base econômica dos babilônios. A construção de canais era controlada pelo Estado. Cultivavam trigo, cevada, árvores frutíferas, legumes. Usavam o arado semeador, a grade e carros de rodas. O artesanato também era bastante desenvolvido era. Os artesãos fabricavam tecidos, ferramentas, armas, jóias, brinquedos e cerâmica. O comércio era influenciado pela situação geográfica, e pela pobreza de matérias-primas, fatores que favoreceram os empreendimentos mercantis. As caravanas de mercadores iam vender seus produtos e buscar o marfim da Índia, o cobre de Chipre e o estanho do Cáucaso. As transações comerciais eram feitas na base de troca, usando-se também barras de ouro e de prata. Usavam recibos, escritas, cartas de crédito.

Artes

A arquitetura era a mais desenvolvida das artes, porém não era tão notável quanto a egípcia. Caracterizou-se pelo exibicionismo e luxo. Construíam

42

Page 43: 1história geral livro

templos e palácios de tijolos, por ser escassa a pedra na região. Já a escultura era pobre, representada pelo baixo-relevo. A pintura mural existia em função da Arquitetura.

Ciências

A astronomia foi a principal ciência entre os babilônios. Notáveis eram os conhecimentos dos sacerdotes no campo do Astronomia. A torres dos templos serviam de observatórios. Previram eclipses. Distinguiram os movimentos dos planetas. Dividiram o ano em meses, os meses em semanas e as semanas em sete dias, os dias em doze horas, as horas em sessenta minutos e os minutos em sessenta segundos. A matemática alcançou grande progresso entre os caldeus. São considerados os inventores da álgebra. Elaboraram tábuas correspondentes às tábuas de logaritmos atuais. Calcularam a hipotenusa. Inventaram medidas de comprimento, superfícies e capacidade de peso.

Letras

A literatura era pobre. Destacam-se apenas o ''Mito da Criação'' e a ''Epopéia de Guilgamesh''. A escrita ''cuneiforme'', grande realização sumeriana, usada pelos sírios, hebreus e persas mais tarde, foi decifrada por vários investigadores, destacando-se Grotefend e Rawlison. O código de Hamurábi não é original. É uma compilação de leis sumerianas mescladas com tradições semitas. Contém 282 leis, abrangendo os mais variados assuntos. Suas principais características são: pena de talião , isto é, ''olho por olho, dente por dente'', desigualdade perante a lei, divisão da sociedade em classes, igualdade de filiação na distribuição da herança.

O Império Persa

43

Page 44: 1história geral livro

Não havia existido até então um império tão grande. Abrangia um território que ia desde o mar mediterrâneo até as margem do rio Indo.. Era uma potencia mundial para o mundo conhecido até então, nos Séculos VI ao Século IV a.C. Portanto não podemos estranhar que o soberano do Império persa se denominava “ o rei dos reis”. Formado por dois povos os Medos e os Persas , povos de origem indo européias, provenientes de algumas tribos nômades que emigraram no século XIX a.C. do Cáucaso para golfo pérsico. Mil anos depois haviam se estabelecido na parte ocidental do atual Iran.

Os Medos e os persas Foram os medos os primeiros a prosperar, se expandiram pelo oeste até a mesopotâmia e Ásia menor e a leste até o atual Afeganistão. Os persas tinham seu próprio fundador Aquemenes, figura lendária, chefe de um clã tribal. Construiu seu Império e o manteve unido mesmo após uma série de invasões de diversos povos, todas repelidas. No inicio do século VI a.C. , o rei medo Astiages

organizou as bodas de casamento de sua filha com o monarca Canbises I dos persas. O filhos desta união Ciro foi o unificador dos dois impérios. Ciro não só fundou um império admirável por sua envergadura com também uma bem estruturada organização, Parte vital da organização deste novo império era o grande grau de autonomia que desfrutavam as nações conquistadas. A organização administrativa facilitou o crescimento do Império com construção de vias e cobranças organizada de Impostos e tributos. Existia liberdade de culto , embora o Zoroastrismo fosse divulgado.

44

Page 45: 1história geral livro

O filho de Ciro, Cambises II, de índole violenta e conquistou o Egito aumentando assim o império.

45

Page 46: 1história geral livro

46

A civilização chinesa “O Império do Centro”

Apesar das influências estrangeiras da época, os chineses instruídos do Período

Han achavam fácil ver o seu país como centro do mundo e sede da verdadeira civilização. Sem

dúvida esta convicção intelectual explica em grande parte a sua indiferença ao que acontecia em

outros lugares. Mas outros fatores podem ter contribuído. Por exemplo, a enorme distância

geográfica sempre foi um destes fatores: qualquer lugar que pudesse ter exercido um estímulo

dinâmico (falando em termos culturais) ficava muito longe, e isto tanto manteve a distância

forças potencialmente demolidoras como limitou as chances de experiências da China, o que

poderia ter aguçado a curiosidade dos seus governantes em relação ao mundo exterior. A China

também era auto-suficiente, tanto sob o ponto de vista econômico quanto tecnológico. Possuía

vastos recursos naturais e capazes de os explorar com sucesso.

A era Han também trouxe outros refinamentos e invenções. Os cientistas

criaram a primeira bússola magnética com mostrador e ponteiro, o primeiro

sistema de cartografia, máquinas para registrar terremotos e calibradores com

graduações decimais para artesãos. No entanto, fazendo-se uma retrospectiva, de

todas as inovações do período a mais surpreendente é a descoberta do fabrico do

papel.

Os transportes, e portanto as comunicações, também melhoraram no Período

Han. O leme ligado à popa do navio, em oposição ao grande remo pendurado de

um dos lados, apareceu no século I a.C.; os navios europeus precisaram esperar

por isso cerca de 1.200 anos. Também no tempo da dinastia Han foi desenvolvido

um arreio para cavalos; com isto, cargas muito mais pesadas.

Grande parte da cultura Han se dissipou ou foi destruída nos séculos IV e V,

Page 47: 1história geral livro

Império Persa O apogeu do império persa

Se Ciro foi o grande conquistador do Império Dario foi o responsável por dotar a Pérsia de instituições importantes e base de instituições que chegam até ao nosso dia; o quadro abaixo mostra como a organização do império persa foi feita por Darío.

Organização do Império Persa Satrápias Dario dividiu o território em 23

regiões administrativas, as satrápias. Confiou a sua chefia a pessoas de confiança, que tinham o titulo de Satrapas.

Funcionários reais Trabalhavam nas satrápias era formada por um general e por secretário de estado junto do satrapa eram responsáveis pela alta hierarquia local, e deviam ordem somente ao rei.

Correio Dario estabeleceu o primeiro sistema de correio do mundo, constavam de mensageiros, utilizavam caminhos organizados

47

Page 48: 1história geral livro

com pousadas a cada 15 Km, o que permitia a comunicação entre todo o império em poucos dias.

Moeda Dario cunhou uma moeda de ouro o dárico, para simplificar o pagamento de tributos. A cunhagem de moedas era uma raridade. Esta idéia foi copiada dos lídios.

48

Zoroastrismo

Religião monoteísta originária da Pérsia, cujos conceitos fundamentais,

em sua maioria, encontram paralelos na filosofia da Grécia antiga, e

acredita-se que influenciaram elementos (principalmente o DUALISMO)

da filosofia grega e as teoLogias do JUDAÍSMO, do CRISTIANISMO e

do ISLÃ. Foi fundada pelo sacerdote e filósofo Zaratustra (ou Zoroastro,

na forma grega), que tradicionalmente se considera ter vivido por volta de

600 a.C., mas hoje se acredita ter vivido por volta de 1000 a.C. ou poucos

séculos antes. O zoroastrismo foi a religião oficial da Pérsia durante um

milênio, mas foi quase extinta após a ascensão e o predomínio do islã no

século VII d.C. e hoje sobrevive principalmente na India, entre os descen-

dentes dos imigrantes chamados pársis (que significa “persas”).

Zaratustra rejeitava os cultos PANTEÍSTAS de sua época e

proclamou um deus único, Ahura Mazda (“Sábio Senhor”), a essência da

VERDADE e da justiça, que criou o mundo e seus habitantes. Ele e seus

anjos-guerreiros (ahuras) enfrentam a oposição de Angra Manyu (ou

Ahriman, “Espírito Maligno”), o criador da maldade e da destruição, e

suas legiões de demônios (daevas). O mundo é um campo de batalha onde

as forças do bem e do mal lutam pela supremacia. Zaratustra pregava que

o mundo logo terminaria em um grande holocausto, no qual somente os

bons sobreviveriam. Mas tarde, a cosmologia zoroástrica reviu essa

previsão e dividiu a história do mundo em quatro períodos de 3.000 anos,

o

último dos quais começou com o nascimento de Zaratustra. Nesse período,

surgirão três salvadores sucessivos. O último deles supervisionará a última

batalha, a derrota de Angra Manyu e o Juízo Final, quando os mortos

ressuscitarão e serão recompensados no Céu ou castigados no Inferno (cf.

ESCATOLOOIA). Os seres humanos receberam o livre arbítrio para

escolher o bem ou o mal, e essa escolha enfraquece ou fortalece Angra

Manyu. Escolher o bem resulta na preservação e na perpetuação da vida,

isto é, ter uma ocupação útil e constituir família.

A principal escritura zoroastrista é o Avesta, que contém 17 hinos, os

Gathas, atnbuídos a Zaratustra. Esses hinos são o núcleo da liturgia do

yasna, a cerimônia de purificação realizada diariamente por dois

sacerdotes; concentra-se na reverência ao fogo, considerado o

ELEMENTO principal e associado à vida e à verdade. Para evitar a

corrupção dos elementos da “boa criação”, fogo, água e terra, os mortos

Page 49: 1história geral livro

49

Page 50: 1história geral livro

Israel

Os israelitas, antepassados do povo judeu, instalaram-se em Canaã, o país da bíblia, provavelmente no séc. XII a.c. embora não fosse tão poderoso como n seus vizinhos, o antigo reino de Israel teve uma grande influência na história da humanidade. ao contrário dos seus vizinhos, os israelitas adoravam um deus único: Jeová, e a sua religião exerceram uma grande influência tanto no cristianismo como no islamismo.

A história da fundação do povo judeu é contada na Bíblia, que situa as suas origens na Mesopotâmia, descreve a sua antiga diáspora pelo Crescente Fértil. Segundo a Bíblia, os israelitas sofreram um longo período de cativeiro no Egito, onde foram conduzidos por Moisés, através do deserto do Sinai, para entrar na “terra prometida” de Canaã. Sob a chefia de Josué, subjugaram a maioria dos povos nativos de Canaã.

Os israelitas organizavam-se em sociedades tribais, chefiadas por líderes intitulados “juizes”. Eram inimigos dos filisteus, povo guerreiro que vivia na zona de Gaza, na planície costeira meridional e resolveram fazer-lhes frente, unindo-se sob um único líder. Escolheram, assim, Saul para seu rei (1020-1006 a.C.). O seu sucessor, David (1006-965 a.C.), derrotou os filisteus . A última praça forte conquistada em Canaã foi Jerusalém, que se tomou a capital do rei David. Existem provas arqueológicas que apóiam a exatidão do relato da conquista de Canaã e da fundação do reino de Saul. No Tocante aos feitos militares de David, podem dever-se, em parte, ao fato do Egito e da Mesopotâmia estarem, nessa época, envolvidos com problemas internos, não podendo, por isso, deter os avanços de David.

Sucedeu ao rei David o seu filho Salomão (965-928 a.C.), que teve um reinado pacífico, o que lhe permitiu concentrar a sua atividade em projetos de construção. O mais importante foi a edificação do templo de Jerusalém, para guardar a Arca da Aliança, que continha as leis sagradas entregues a Moisés por Jeová no monte Sinai.

DIVISÃO

50

Page 51: 1história geral livro

Apos a morte de Salomão, as tribos do Norte de Israel queixaram-se do modo como eram tratadas pelo seu sucessor, Reboão (928-911 a.C.). Quando este se recusou a ouvi-los, desencadeou-se uma revolta que terminou com a divisão do reino em duas partes independentes: Israel no norte e Judá no sul.

ASSÍRIA E BABILÓNIA

Durante os séc. IX e VII a.C., a principal ameaça para os israelitas foi a Assíria, que era, naquele tempo, a potência mais forte do Médio Oriente. Tanto Israel como Judá se viram obrigados a tornar-se estados vassalos. Houve algumas rebeliões que foram fortemente reprimidas e grande número de cativos foram deportados para a Assíria.

Quando a Assíria entra em decadência. em 612 a.C., a Babilônia ascende de imediato ao poder. Em 597 a.C.. Nabucodonosor II, rei da Babilônia, reprimiu a rebelião de Judá. Jerusalém foi saqueada, o templo de Salomão destruído e os seus tesouros pilhados. Milhares de judeus foram deportados para a Babilônia.

Durante estes anos de exílio, os judeus apenas tiveram como consolo o apoio da sua religião, que os ajudou a conservar a esperança na recriação de sua terra.

Os Fenícios

Instalados nas costas mediterrânicas, entre as civilizações mesopotâmia e egípcias, os Fenícios são essencialmente um povo de marinheiros e comerciantes. Ugarit, Biblo, Sídon e Tiro são centros comerciais muito ativos, que disputam entre si uma concorrência permanente.

Os Fenícios, igualmente bons agricultores, trabalham as terras férteis; mas as colheitas não chegam para alimentar toda a população, pelo que exploram a madeira de cedro do Líbano, não só para consumo próprio mas

51

Page 52: 1história geral livro

também para comerciarem com regiões que possuam as matérias-primas que lhes faltam: para os Fenícios, exportação e importação são noções familiares.

Excelentes marinheiros, fundam numerosas feitorias costeiras, autênticas colônias, em Chipre, na Sicília, na Sardenha, na Espanha meridional e na África do Norte, onde a sua principal colônia é Cartago. As suas importações são principalmente de metais, marfim, perfumes, papiros, trigo e escravos.

Sua forma de governo era a Talassocracia, isto é governo exercido por homens que realizam atividades marítimas.

Como o comércio exigia um sistema eficaz de registro escrito, os Fenícios inventaram um, mais simples do que a escrita cuneiforme da Mesopotâmia e do que os hieróglifos do Egito. O alfabeto fenício compõe-se de vinte e dois sinais, que correspondem às vinte e duas consoantes fenícias.

52

Page 53: 1história geral livro

UNIDADE DIDÁTICA III –

CIVILIZAÇÕES DO EXTREMO ORIENTE

INTRODUÇÃO

A China a Índia e o Japão , apesar de serem vistos como um território de bárbaros em geral pelos europeus, estava longe de ser atrasada nos aspectos que os europeus tanto se vangloriavam. Com uma história muito mais antiga que a Europa, estas nações possuíam uma sociedade muito avançada em grandes aspectos tanto políticos, como culturais e sociais.

O comércio era mais avançado, e possuíam rotas (marítimas e terrestres) usadas até os dias de hoje. A sociedade era muito mais disciplinada, e devido à falta da ostentação apresentadas pelos ocidentais, tornava-se muito mais regrada e produtiva, sempre voltada muito mais para o mercado interno. A elite chinesa também em nada perdia para a famosa nobreza ocidental, eram cultos e dedicados as artes, adoravam música e teatro e também eram excelentes comerciantes quando necessário.

53

Page 54: 1história geral livro

A ÍNDIA A Cultura e os produtos da Índia sempre estiveram presentes na

História do Brasil, tendo em vista que, a frota de Pedro Álvares Cabral, que descobriu o Brasil em 1500 estava em busca das especiarias deste fantástico país, nos dias atuais a Yoga ( Ginástica e filosofia), dança e vestimentas indianas são apreciadas em nosso País. A Índia existe uma rica história, religiosa e cultural, com soluções e renovações que muito contribuíram para a avanços culturais na Humanidade.

A ÍNDIA HINDU

Inicialmente os primeiros registros sobre a História da Índia se encontram em vários relatos. Incialmente em importância é uma série de invasões, organizada por vários povos distintos a partir do noroeste durante o século III a.C.. Destes povos invasores, um dos mais significantes foi o de Kushan, que migrara das fronteiras da China e sempre parece ter tido o seu principal foco de interesse na Ásia Central, mas governou um império que em certa época se estendeu desde as estepes até Benares, no Ganges. O povo de Kushan era entusiasta do budismo. Foi na sua época que se começou a esculpir imagens de Buda (muitas vezes num estilo que mostra influência grega). Isto ilustrava como o budismo caminhava para ser uma religião como as outras.

Num determinado momento o povo de Kushan falhou e a Índia se dissolveu numa mistura de reinos. A unidade política só reapareceu em 320 d.C., com a fundação de um novo império: o gupta. Antes disto, ainda no apogeu do Império Romano, pode-se distinguir na confusão dos séculos uma contínua perturbação causada por povos provenientes do noroeste. Estes recém-chegados trouxeram novas influências (é provável que o cristianismo tenha aparecido ali no século 1 d.C.), mas nunca suplantaram a contínua e crescente força da tradição indiana. Na verdade, os invasores também não penetraram no sul. Mantinha os seus próprios governantes drávidas, não arianos, e em muitos aspectos era um mundo à parte do norte da Índia hinduísta, apesar de compartilharem formalmente religião e crença. De qualquer maneira, no norte e no sul os padrões gerais da vida indiana

54

Page 55: 1história geral livro

continuaram sem ser perturbados com as idas e vindas de governantes. Na época a maioria dos indianos vivia em aldeias mais ou menos auto-suficientes e não afetadas por fatores externos.

Os guptasO primeiro imperador gupta, como os seus antecessores da Dinastia Mauria, estabeleceu a capital em Patna e a sua dinastia governou o norte da Índia unido a partir do Vale do Ganges. A paz e a certeza de estarem livres de invasões, sentimentos propiciados pela era gupta, mais tarde levariam muitos indianos a considerá-la uma época áurea de paz e bom governo, um período clássico durante o qual muitas artes puderam ser apreciadas pela primeira vez. Da era gupta sobrevivem os primeiros dos numerosos templos de pedra ricamente decorados com esculturas, tão importantes para a história da arte e da arquitetura da Índia quanto as catedrais góticas da Idade Média para o desenvolvimento da arte européia. A literatura floresceu; durante o reinado dos guptas começou a longa tradição do drama popular indiano com base em histórias contidas nos grandes épicos sânscritos. Também foi uma época de avanços do conhecimento e da filosofia. No século V, matemáticos indianos inventaram o sistema decimal, de enorme importância para a humanidade, que chegou mais tarde ao Ocidente por meio dos árabes.

Alguns dos mais importantes progressos dos guptas nada tiveram a ver com a dinastia: foram continuações do hinduísmo clássico. Desde o tempo dos guptas estão em vigor o complicado sistema hindu de estruturas sociais e as crenças a ele associadas. As raízes do hinduísmo retrocedem muito no passado, talvez antes das invasões, pois já nas civilizações do Vale do Indo eram venerados deuses que podem ter sido precursores do Shiva hindu.

Crença e sociedadeA base da sociedade hinduísta da Índia era o sistema de castas, na época já proveniente da antiga divisão da sociedade védica em quatro classes. Se

55

Page 56: 1história geral livro

existe um princípio prático fundamental no hinduísmo, é viver a vida de acordo com o lugar de cada um no esquema das coisas. Existiam cultos mais generalizados, a deuses ou deusas maiores, como Shiva e Krishna. No entanto existia também um hinduísmo puramente filosófico, bem distante da crueldade dos sacrifícios de animais e da veneração de imagens que ocorriam em nível. Sua forma mais desenvolvida era chamada de Vedanta,. Ela ensina

56

Page 57: 1história geral livro

que os homens precisavam se desvencilhar deste mundo, conquistando um verdadeiro conhecimento da realidade, ou brahma.

57

O SISTEMA DE CASTAS

Sistema de estratificação social da Índia. É o sistema mais rígido, mais imutável e talvez o mais antigo de hierarquia social, sancionado pelas leis HINDUS e imposto pela tradição; por extensão, qualquer estrutura de CLASSES rigidamente imposta. A palavra “casta” significa “linhagem” ou ““RAÇA”, proveniente do latim castus, “puro”. O sistema baseia-se em quatro divisões (varnas) hereditárias principais que indicam ocupação, status social e grau de pureza ritual definido há mais de 2.000 anos: brâmanes, ou sacerdotes; xátrias, nobres e guerreiros; vaixás, comerciantes e agricultores; e sudras, servos e escravos. Em um outro grupo, os Panchamas (“quinta divisão”), comumente conhecidos como intocáveis ou párias, estão os excluídos pela sociedade, julgados tão impuros que a sua própria sombra é considerada poluição.

Atualmente existem cerca de 3.000 subcastas (jati), classificadas segundo o grau de pureza ou poluição associada à sua ocupação tradicional. A lei das castas designa um posto fixo e predestinado a cada membro da sociedade; restringe o relacionamento social e proíbe o casamento fora da casta, e limita a escolha de profissão. A estrutura é mantida pelas autoridades religiosas, que a consideram a ordem natural das coisas. O conceito hindu do CARMA, por exemplo, afirma que a situação atual do indivíduo é determinada por seu comportamento em uma vida anterior. Apesar das oposições periódicas (o BUDISMO e o SIQUISMO foram instituídos, em parte, para se oporem), o sistema de castas sobrevive até os dias de hoje, embora a pressão dos reformadores modernos tenha amenizado algumas restrições. Mahatma GANDHI criticava com veemência o tratamento dado aos intocáveis, a quem ele chamava de Harijan (filhos de Deus), e hoje a intocabilidade é oficialmente ilegal na India, embora ainda persista. Rohmann, Chris, O livro das Idéias ed Campus.

Page 58: 1história geral livro

No que se refere à doutrina, o hinduísmo tinha algo para atender a todas as necessidades. Mas a maneira pela qual funcionava na vida diária tendeu a torná-lo mais rígido e estrito. Nos séculos V e VI o casamento infantil e a introdução de uma prática chamada de sati (que forçava as viúvas a se deixarem queimar nas piras funerárias junto com os restos mortais dos seus maridos) acompanham muitos outros sinais de que as mulheres tiveram de aceitar um lugar muito inferior na sociedade com o passar do tempo. No início, os brâmanes permitiam que as mulheres tivessem acesso ao conhecimento das escrituras védicas, mas isto acabou.

O budismo

58

Page 59: 1história geral livro

O mais importante dos sistemas inovadores, no entanto, foi o ensinamento de Buda, “o Iluminado”, ou “Sábio”, como se pode traduzir o seu nome. O seu fundador, Siddharta Gautama, não era um brâmane, mas príncipe de uma classe guerreira do início do século VI a.C. Depois de receber uma educação aprimorada e cavalheiresca, achou sua vida insatisfatória e saiu de casa. Passou, então, sete anos de ascetismo, antes de começar a pregar e a ensinar. Estabeleceu uma doutrina austera e ética, cujo objetivo era o de conquistar a libertação do sofrimento conseguindo acesso a estágios mais elevados de consciência. Buda ensinou aos seus discípulos a se disciplinarem e a repelirem os desejos, para que nada impedisse a alma de conseguir o estado do Nirvana, uma união com a realidade final ou com a bondade que ele acreditava existir além da vida. Pela anulação pessoal, os homens poderiam conseguir se libertar do círculo infindável de renascimento e transmigração, que era o padrão da existência ensinado pela religião do seu tempo e posteriormente pelo hinduísmo. Buda parece ter tido

59

Page 60: 1história geral livro

grande habilidade prática e de organização, inquestionável integridade ética e uma personalidade que rapidamente o tornou um mestre popular e bem-sucedido. Evitou se opor ao bramanismo. O surgimento de comunidades de monges budistas deu à sua obra um cenário institucional que sobreviveria a ele. Buda também ofereceu um papel aos insatisfeitos com a prática tradicional, em particular às mulheres e aos seguidores de castas inferiores, pois aos seus olhos a casta era irrelevante. No entanto, o que ficou conhecido como budismo, a religião desenvolvida pelos seus seguidores a partir dos seus ensinamentos, talvez não expresse verdadeiramente os seus pontos de vista, isentos de características ritualísticas, simples e ateístas. Assim como todas as grandes religiões, a doutrina de Buda assimilou muitas crenças e práticas preexistentes. Depois da morte de Buda ( 483 a.C.), esta flexibilidade ajudou ao budismo obter grande popularidade para se tornar à religião mais difundida na Ásia e uma força poderosa na História mundial.

Outros invasores

Por volta do ano 500 a Índia voltou a se dissolver em pequenos principados. Em breve seria novamente devastada por invasores vindos do noroeste O mesmo aconteceu com os árabes que vieram a seguir e conquistaram o Punjab num certo período do século VIII. Sua chegada, no entanto, inaugura a história do islamismo na Índia. Com o islamismo também vieram outras influências. A partir de então, as culturas das Cortes indianas foram fortemente marcadas pelo estilo e pela moda dos persas.

Os portugueses foram os primeiros europeus a chegar à costa de Malabar pouco antes de 1500, e lentamente contornaram a Baía de Bengala na segunda metade do século XVI, ali estabelecendo entrepostos comerciais. Akbar pediu a alguns deles que enviassem à sua Corte missionários letrados na fé para debaterem com os sacerdotes muçulmanos, e três deles chegaram em 1580. Os ingleses chegariam na índia em 31 de dezembro de 1600, último dia do século XVI, alguns súditos da Rainha Elizabeth I fundaram em Londres a primeira Companhia das Índias Orientais inglesa. Passaram-se mais três anos antes que os primeiros emissários ingleses chegassem à Corte de Akbar, mas isto foi um marco tanto na História indiana quanto na inglesa. Daí em diante os europeus chegariam em número crescente e a Índia.

60

Page 61: 1história geral livro

A CHINA “O Império do centro do Mundo”

O mundo descobriu a China. Cada vez se torna mais fácil encontrar notícias deste grande país asiático, e até mesmo ler previsões de como se espera que em alguns anos a China se torne o país mais influente no cenário mundial globalizado – “cargo” hoje ocupado pelos Estados Unidos da América. Mas nem sempre foi assim, ainda mais quando o aspecto a ser analisado se encontra em um tempo remoto ao que vivemos, como é o caso deste trabalho.

A China, exatamente como a maioria dos países do extremo oriente, teve um grande período de isolamento. Exatamente por isso que nossa historiografia ocidental é muito escassa da história oriental dos séculos passados, e quando se aventura a analisá-la tende a tentar aproximá-la de uma visão ocidental de mundo, o que muitas vezes empobrece o estudo devido as características marcantes e distintas que os povos orientais apresentam de nossa sociedade. Mas com a aproximação deste oriente (a partir da segunda guerra mundial – iniciada principalmente pelo Japão) do cenário mundial, abriram-se as portas para estudos mais detalhados e menos tendenciosos nesta direção, e é exatamente nesta nova tentativa que este trabalho se insere, pois mesmo usando fontes – visões de mundo – ocidentais , o resultado final espera-se ser uma análise desprovida de preconceitos deste “mundo novo”.

A base do trabalho serão as impressões de dois viajantes europeus que visitaram a China em um período praticamente contemporâneo – a diferença da viagem dos dois é de apenas aproximadamente 2 anos. Um destes é o famoso veneziano e cristão, Marco Polo, com seu “O Livro das Maravilhas”, já visto e revisto pela historiografia tradicional, e que partiu para a China aproximadamente em 1272. O segundo é o já não tão famoso assim Jacob D’Ancona, judeu criado em Florença, que parte para a China aproximadamente em 1270, e deixa seu relato em “Cidade de Luz”.

Durante todo o trabalho iremos discutir as principais diferenças e semelhanças entre as visões dos dois autores, mas nesta introdução irei tecer apenas uma contextualização das duas realidades tão diferentes que iremos encontrar pela frente: a européia e a asiática.

61

Page 62: 1história geral livro

Durante séculos, sua cultura foi protegida pelo seu isolamento. A China mantivera com os povos da Ásia Central um relacionamento próximo porém complicado; contudo, depois de unificada, durante muitos séculos não teve nas suas fronteiras nenhum grande Estado com que precisasse se relacionar.

Com isto a China permaneceria distante e inacessível à maioria das correntes que mudavam outras partes das terras européias, e bem distante das fontes de distúrbios de outras grandes civilizações. Até mesmo o islamismo, ao chegar lá, influiu muito menos do que em outros lugares. A China também era dotada de grande capacidade de absorver as influências estrangeiras que chegassem. Sua capacidade de assimilação se apoiava na cultura de uma elite administrativa que sobreviveu às dinastias e aos impérios e que a manteve num mesmo curso. Deve-se muito do conhecimento atual sobre a China aos escribas, que mantinham registros escritos desde tempos muito remotos, e que fornecem incomparável documentação, repleta de fatos muitas vezes confiáveis. Essas histórias enfatizam a continuidade e o tranqüilo curso dos acontecimentos. Devido às necessidades de administração de um país tão grande, isto é perfeitamente compreensível: a uniformidade e a regularidade deviam ser claramente desejadas. A narrativa oficial é um pouco mais fácil de se estabelecer. A História da China, findo o período dos Estados Combatentes, tem uma espinha dorsal de várias classes alternando períodos de crescimento e decadência de dinastias. Uma dinastia poderia levar décadas para tornar realidade o seu poder sobre todo o império, e ainda mais tempo para perdê-lo. No entanto, feita esta ressalva, o estudo dinástico é útil: ele fornece as principais divisões da História chinesa até o século XX. Os primeiros períodos com que precisamos nos preocupar são o Ch’in e o Han.

Os Ch’in Os Ch’in vieram de uma região à oeste, por volta do século IV a.C.. Os Ch’in prosperaram, em parte talvez devido a uma radical reorganização levada a efeito, por volta de 356 a.C.; talvez também porque os seus soldados usassem armas de ferro. O auge do sucesso Ch’in foi derrotar o seu último opositor, em 221 a.C., e unificar a China pela primeira vez como império dirigido por uma dinastia que daria o nome ao país. Foi um grande feito. A partir disto a China pode ser considerada como a sede de uma civilização única e centralizada. A unidade política conseguida pela conquista Ch’in

62

Page 63: 1história geral livro

durante um século foi, em certo sentido, o desencadeamento lógico de uma unificação cultural já em andamento. O sentido de nacionalidade chinesa já podia ser discernido antes de 221 a.C.; e foi um fator de facilitação da unificação e da conquista. No entanto, menos de vinte anos depois os Ch’in seriam depostos.

Os Han

Traçar no mapa as fronteiras do Império Han é um assunto bastante teórico; certamente não havia controle sobre toda a área deste império no mesmo sentido com que Roma governava o seu império na época. Nem a civilização chinesa permeava o que hoje se considera como China. A escrita chinesa só fora padronizada no reinado Ch’in (pouco antes do Período Han).

Contudo, os imperadores Han estenderam as reivindicações de dominação política da China ainda mais longe do que qualquer dos seus antecessores. Pelo menos na teoria, o Império Han era na extensão máxima tão grande quanto o romano. O Imperador Wu Ti, ou “Imperador Marcial”, que reinou de 141 a 87 a.C., foi especialmente ganancioso: anexou ao império uma grande área da Ásia Central.

A expansão aumentou os contatos da China com outras partes do mundo. Com o Mediterrâneo permaneceram apenas indiretos, porque grande parte do comércio da China era feito por terra. A mercadoria mais desejada da sua produção era a seda, que a partir do ano 100 a.C. era enviada em caravanas ao Ocidente, ao longo da Rota da Seda da Asia Central. Talvez os novos contatos desta época com cavaleiros nômades dos desertos expliquem o surgimento dos belos cavalos de bronze que começaram a ser fundidos na era Han.

A religião na China

63

Page 64: 1história geral livro

Apesar desses amplos contatos, a China permaneceu notavelmente isolada de grandes influências externas. O islamismo penetrara no Turquestão e em outros quadrantes do império, e florescera sem contudo se aprofundar. O único possível desafio à tradição foi o budismo, que parece ter aberto caminho na China durante o século I d.C., através das estradas de comércio da Ásia Central. A idéia confortadora de um Buda salvador, em cuja ajuda o fiel podia confiar, deve ter parecido muito atraente numa época de revoltas e de desintegração social.

Aos poucos o budismo se infiltrou na sociedade. Estudantes e monges começaram a circular entre a China e a Índia em busca da instrução budista.. Surgiram na china movimentos espirados no budismo entre eles um movimento de meditação mais tarde conhecido como Zen, seu nome em japonês.

O Estado também contribuiu para regulamentar o budismo, notadamente ao limitar o número de monges e de mosteiros, medidas de difícil execução e que provocaram explosões ocasionais de perseguição. Isto aconteceu quando o confucionismo recuperava sua antiga importância entre os eruditos, e marcou o começo do declínio do budismo na China. O budismo não chegou a refazer a civilização chinesa, mas trouxe-lhe algumas contribuições.

Sem ser muito dogmática, a tradição chinesa só enfatizava que as próprias pessoas deveriam efetuar os rituais de sacrifício e que os antepassados deveriam ser venerados. O confucionismo reforçou isto, o que resultou na notável tolerância dos chineses instruídos. Posteriormente, no Período T’ang um imperador editou um decreto permitindo a pregação do cristianismo que chegara à China por meio dos missionários Jesuítas. Como a China imperial talvez não mostrasse muita resistência a novas idéias religiosas vindas do exterior, pareceria provável que elas prosperassem, mas não foi assim. Embora o colapso de grande parte da sociedade tradicional durante os problemas do declínio dos Han, e suas conseqüências, fizessem com que as pessoas procurassem novos cultos e crenças, os beneficiários foram cultos populares e o desenvolvimento do taoísmo.

T’ang

64

Page 65: 1história geral livro

Com os T’ang não se pode separar os aspectos institucionais e culturais da civilização chinesa. Os chineses buscavam a autoridade na família e no Estado, instituições que não podiam ser desafiadas, pois na China não havia entidades como a Igreja. Todas as características essenciais do Estado chinês também já estavam estabelecidas no Período T’ang e durariam até o século XX. A expansão territorial requeria mais administradores. Uma burocracia maior sobreviveria a muitos períodos de desunião e permaneceu até o fim como uma das instituições mais surpreendentes e características da China imperial. Foi provavelmente a chave para o surgimento do sucesso da China, a partir de uma era em que as dinastias decadentes foram substituídas por Estados locais competitivos e insignificantes, que quebraram a unidade já conseguida. Os funcionários civis, treinados e examinados à luz dos clássicos de Confúcio, asseguravam que a instrução e a cultura política se unissem na China como em nenhum outro lugar.

Assim, a sociedade chinesa mudou muito lentamente. Com todas as importantes inovações culturais e administrativas, a vida da maioria dos chineses se alterou pouco em estilo e aparência ao longo dos séculos. As idas e vindas das dinastias foram responsáveis pela noção de mandato celestial. No entanto, houve lentas mudanças, como o contínuo crescimento do comércio e das cidades, que facilitou complementar com impostos o serviço obrigatório do camponês, pois assim o governo poderia extrair novos recursos. A obra dos Ch’in na Grande Muralha foi continuada pelas dinastias posteriores, que a estenderam e às vezes reconstruíram partes. Também, pou-co antes da ascensão dos T’ang, foi completado um grande sistema de canais ligando o Vale do Yang-Tzé ao do Rio Amarelo, ao norte, o Wuhan ao sul. Milhões de trabalhadores foram empregados neste e em outros importantes esquemas de irrigação.

À medida que o número de habitantes cresceu gradualmente, toda a terra cultivável passou a ser ocupada e cultivada com mais intensidade em perímetros cada vez menores. Cada vez mais camponeses ficaram sem terra. A influência T’ang sobre eles enfraqueceu quando a Ásia Central sucumbiu ao islamismo. Como com os seus antecessores romanos, os subseqüentes imperadores T’ang descobriram que confiar nos soldados podia ser perigoso. Centenas de rebeliões militares ocorreram no Período T’ang, e qualquer rebelião, mesmo que de curta duração, tinha um efeito multiplicador, ten-

65

Page 66: 1história geral livro

dendo a prejudicar a administração e danificar os sistemas de irrigação dos quais dependia a comida (e, portanto, a paz interna).No final, incapazes de policiar eficazmente suas fronteiras, e com problemas internos, os T’ang sucumbiram no século X e a China entrou mais uma vez num caos político. Durante este período a continuidade e o poder de recuperação da burocracia, assim como das instituições sociais, mantiveram a China funcionando. Depois de cada mudança dinástica os herdeiros do poder, mesmo estrangeiros, em geral recorriam aos poucos funcionários que ocupavam os cargos e que punham a serviço de cada novo governo os valores imutáveis do sistema de Confúcio. Os ensinamentos de Confúcio facilitavam a mudança de dinastias sem comprometer os valores mais profundos e a estrutura da sociedade.

A HISTÓRIA DINÁSTICA MAIS RECENTE

Em 618 a civilização chinesa entrou numa fase nova e madura, tendo a seu favor impressionantes realizações. Nos mil anos seguintes, assim como nos oitocentos anteriores, pode-se estabelecer mais facilmente a moldura formal da sua evolução como uma seqüência dinástica. Depois dos Han, a desordem dividiu a China por mais de 350 anos. Então, um general de sangue mestiço de chinês e bárbaro reunificou o país em 581. A Dinastia Sui que ele fundou durou apenas perto de trinta anos quando outro general (também de ascendência mestiça) tomou o trono e inaugurou a Dinastia T’ang, com a qual a China foi novamente uma unidade por aproximadamente três séculos e meio. Seguiu-se outro período de desordem, mas desta vez durou apenas cinqüenta anos antes que os Sung ascendessem ao trono imperial em 960. Embora perdessem o controle do norte da China para povos da Manchúria no século XI, os Sung se mantiveram no sul até 1279. Neste ano, Kubilai Khan, neto de Gêngis Khan, completou a conquista mongol da China. Adotou o nome dinástico chinês de Yuan, e os seus sucessores governaram a China até 1368, a partir da nova capital, em Pequim, quando foram substituídos pela, a Dinastia Ming, que durou até 1644.

Sung

66

Page 67: 1história geral livro

A dramática transformação da economia pode ser atribuída em parte às inovações tecnológicas a pólvora, o tipo móvel e o cadaste de popa, tudo isto pode ser localizado na era Sung, sendo a causa de um surto de atividade econômica entre os séculos X e XII, que resultou no deslocamento para o sul do centro de gravidade da economia da China e ao surgimento de novos portos, como Cantão e Fu-chou. Uma evolução também ocorreu na agricultura com a descoberta e a adoção de uma variedade de arroz que permitia duas colheitas por ano nas terras bem irrigadas e uma no solo montanhoso, só irrigado na primavera. A produção têxtil também sofreu rápido desenvolvimento e é possível se falar de uma “industrialização” Sung.

Sem dúvida houve um verdadeiro impulso na economia durante o período Sung, por meio de investimentos governamentais em obras públicas e nas comunicações. Somado a insto a expansão dos mercados e o incremento da economia.

Os marinheiros chineses do Período Sung já possuíam a bússola magnética, mas, apesar de enviaram expedições navais à Indonésia, ao Golfo Pérsico e ao leste da África, no século XV, o seu objetivo era o de impressionar estes locais com o poderio chinês e não acumular informação e experiência para frituras viagens de exploração e descoberta. Os contatos com o Ocidente também se multiplicaram sob o domínio mongol. Mas a tolerância formal nunca permitiu muita receptividade na cultura chinesa.

67

Page 68: 1história geral livro

68

Page 69: 1história geral livro

A China mongol

A dinastia dos mongóis foi pequena (durou menos de um século – quando a comparamos com as outras – que duravam inúmeros séculos). As

69

Page 70: 1história geral livro

características desta dinastia que a ajudaram a ser tão curta foram a desorganização do aparelho administrativo, inflação do papel-moeda, e grande oposição das elites locais chinesas. No fim do século XII toda a China fora invadida pelos mongóis e estes, como os primitivos invasores, demonstraram o contínuo poder de sedução que a China exercia sobre os seus conquistadores, mais de um quarto de toda a população da China em 1200, pode ter perdido a vida com a invasão. No entanto, com Kubilai Khan, o Império Mongol deslocou o seu centro das estepes para Pequim. A partir desta época a Kubilai adotou um título dinástico em 1271. Rompeu com o antigo costume nômade mongol. Passaria quase toda a vida na China, embora o seu conhecimento do chinês fosse fraco a China mudou os mongóis mais do que os mongóis mudaram a China, e o resultado foi a esplendor relatada per Marco Polo.

. Mais do que chineses, sempre que possível os mongóis empregavam estrangeiros na administração, durante três anos o italiao, Marco Polo fora funcionário do Grande Khan. Além disto, por alguns anos o tradicional sistema de exames foi suspenso. Parte da persistente hostilidade chinesa aos mongóis, especialmente no sul, pode ser explicada por estes fatos.

Contudo, as realizações mongóis foram muito impressionantes. Uma vez unida, a China mais uma vez demonstraria o seu grande potencial diplomático e militar. Com a conquistar do sul os Sung em 1279 os recursos de Kubilai mais do que dobraram. Ele reuniu uma grande esquadra e começou a reconstruir a esfera de influência da China na Ásia. No sul o Vietnã foi invadido e Hanói a capital foi capturada e Burma foi ocupada.

O regime mongol não foi duradouro porem muito do que ocorrer durante este período, foi positivo e realizado em pouco mais de um século. O comércio exterior floresceu como nunca. Marco Polo relata que os pobres se alimentavam da liberalidade do Grande Khan e que Pequim se tratava de uma grande cidade. O taoísmo e o budismo foram positivamente encorajados, com a liberação de Impostos aos mosteiros budistas . No entanto, no século XIV a presença mongol já era insustentável e rebeliões constantemente ocorriam no campo e nas cidades. Sociedades secretas recomeçaram a surgir; uma delas, a dos Turbantes Vermelhos, atraiu o apoio da pequena nobreza e dos funcionários públicos. Um dos seus líderes, um monge chamado ChuYuan-Chang, tomou Nanquim em 1356. Doze anos depois expulsou os

70

Page 71: 1história geral livro

mongóis de Pequim e inaugurou a era Ming.

Os Ming

Chu Yuan-Chang gradualmente se tornou um defensor da ordem tradicional. A dinastia que ele fundou, embora presidisse um grande florescimento cultural e conseguisse manter a unidade política da China, só confirmou o conservadorismo e o isolamento do país. No início do século XV, um decreto imperial proibia os navios chineses de se afastarem além das águas costeiras e os indivíduos de viajarem para o exterior. Logo os estaleiros chineses perderam a capacidade de construir os grandes juncos que atravessavam o oceano. Nem mesmo guardaram as especificações destas embarcações. As grandes viagens do eunuco Cheng Ho, que poderia ter sido um Vasco da Gama chinês, foram quase esquecidas. Ao mesmo tempo, os mercadores que haviam prosperado no período mongol entraram em decadencia.

Neste meio tempo a Dinastia Ming se enfraquecia, com imperadores literalmente confinados aos seus palácios, longe dos reais problemas da china enquanto funcionários imperiais disputavam a posse das propriedades Públicas. Os Ming não conseguiram manter as fronteiras do império chinês. No século seguinte os Ming foram ameaçados por um povo vindo do norte da Grande Muralha, os manchus, que viviam numa província que mais tarde teria o seu nome: Manchúria. Quando ficaram suficiente forte derrotaram a Dinastia Ming. Em 1644, uma dinastia manchu, a Ch’ing, subiu ao trono, onde os seus imperadores se manteriam até o século XX.

O JAPAO

Como o Japão é uma ilha, o mar o protegeu , nunca foi invadido com sucesso e ajudou a alimentar o seu povo sendo a alimentação básica população japonesa a pesca responsável pelo volume de proteínas consumido pelos japoneses. Foi também o mar que fez dos japoneses marinheiros, embora por um longo tempo isto tenha se revelado mais na pesca litorânea do que em outras experiências arriscadas em mares distantes.

71

Page 72: 1história geral livro

A Coréia é a terra do continente asiático mais próxima do Japão, e os japoneses sempre foram muito sensíveis com relação àquele país. Numa certa época, no século VIII d.C., governantes japoneses mantiveram um território ali, e por grande parte do século XX o dominaram. Mas a China foi durante muito mais tempo a soberana nominal da Coréia e sempre foi o poder estrangeiro cujo comportamento importava mais do que qualquer outro para o Japão. Desde tempos muito remotos a China influenciou profundamente o Japão. Embora seus idiomas sejam diferentes, tanto japoneses como chineses são de origem mongol . Nos tempos pré-históricos a tecnologia do bronze parece ter passado da China para o Japão. Posteriormente, depois do colapso dos Han, quando os japoneses começaram a demonstrar muito mais interesse pela Coréia, multiplicaram-se rapidamente os contatos com a grande civilização continental. O título de imperador dado ao governante do Japão, junto com o confucionismo, com o budismo, com o conhecimento do trabalho em ferro, tudo passou da China para o Japão. Os ceramistas chineses influenciaram os ceramistas do Japão em data muito remota. A escrita chinesa foi adaptada para escrever a língua japonesa e o governo também começou a mostrar traços da influência chinesa. Nos séculos VI e VII, quando a influência chinesa estava no auge, políticos japoneses reformadores lutaram para estabelecer um governo centralizado, nos moldes chineses, baseado no mérito e não na origem, e com um imperador que fosse um legitimo governante e não apenas o chefe do clã mais respeitado.

As primeiras crônicas japonesas (compiladas no século VIII) explicam como a terra e o povo do Japão foram feitos pelos deuses, mas a mais antiga e segura cronologia provém de fontes chinesas e coreanas de três séculos antes. Mostra que no início do século VII governo já era centrado num imperador. Supunha-se que ele fosse descendente de uma deusa-sol e exercesse uma chefia geral sobre a família nacional japonesa, a partir dos seus domínios ancestrais, situados no que mais tarde seria a província de Yamato. Esta família nacional era organizada em clãs, principais unidades da sociedade japonesa. De tempos em tempos um clã conseguia poder maior do que os outros, em geral influenciando ou mesmo controlando os imperadores.

Entre 500 e 1500 houve dois importantes períodos, onde clãs individuais dominaram o Japão. No século VIII os Fujiwara chegaram ao topo. Nos dois ou três séculos seguintes eles efetivamente controlaram os imperadores por

72

Page 73: 1história geral livro

meio de alianças matrimoniais e relacionamentos que se seguiram. No Período Fujiwara, a capital imperial era Heian, atual Kioto. Mas o poder dos Fujiwara decaiu. Houve uma luta entre alguns clãs, e um general, Minamoto Yoritomo, assumiu o poder em 1185; foi o início da ascendência dos. Os próprios Minamoto abdicaram no século XV, e o Japão se dissolveu em violentas e sangrentas guerras civis até o século XVI.

O xogunato

O xogunato foi uma época em que o Japão teve o poder descentralizado. No final do período Fujiwara, o poder imperial diminuiu e permaneceu nas mãos dos nobres. As funções se tornaram hereditárias, e o direito de arrecadar impostos imperiais foi garantido aos que desfrutavam dos favores dos Fujiwara. Este eclipse dos imperadores se completou no Período Kamakura (de 1185 a 1333), quando o governo efetivo passou para o “xogum” (Chefe militar) Minamoto, que governava em nome do imperador, mas que de fato era Independente e acompanhava os interesses do seu próprio clã. No entanto, a fraqueza do poder do imperador acabou resultando no desmoronamento de qualquer idéia centralização.

Tudo isto teria sido muito perigoso sem a proteção do mar, contra invasões, tendo em vista que as guerras internas tinham enfraquecido o Japão .

73

Page 74: 1história geral livro

Outra importante tendência nestes séculos dirigiu-se a uma sociedade muito mais militarizada, em que as virtudes marciais de lealdade, resistência e bravura passaram a ser tidas em grande conceito. A importância da figura do Samurai surge neste período, a mais respeitada classe abaixo da grande nobreza, cujos ideais cavalheirescos. Em parte isto aconteceu porque a pequena nobreza e os fidalgos rurais se tornaram mais independentes à medida que a era Fujiwara chegava ao fim. As guerras civis em que os guerreiros se empenhavam para servir aos seus senhores como criados fortaleceu ainda mais o espírito militar.

A admiração japonesa pelo guerreiro continuou com um crescente senso

74

Page 75: 1história geral livro

de superioridade e invencibilidade militar, que muito se deveu à resistência bem-sucedida a duas tentativas de invasão mongol, a primeira em 1274 e a segunda em 1281. Houve enormes combates, com expedições bem. Na segunda tentativa a frota mongol foi efetivamente destruída e afundou numa tempestade — o Kamikaze, ou “vento divino”, visto como intervenção celestial em favor do Japão.

75

Xintoísmo (ou xintó)Religião nativa do Japão, oriunda das antigas religiões populares e que assimila elementos do BUDISMO e do CONFUCIONISMO. O xintoísmo não tem teologia, doutrina, culto congregacional nem escritura formal. Sua mitologia fundamental écontada em dois textos escritos no início do século VIII, o Kojiki e o Nihongi (Nihon Shoki), que atribuem origens divinas ao Japão e à sua linhagem de imperadores, que se diz serem descendentes da deusa do Sol, Amaterasu-Omikami. O nome “xintó”, do chinês shin tao, ou “caminho dos poderes divinos” (kami-no-michi em japonês), foi criado mais ou menos na mesma época, para distinguir a tradição nativa do budismo, que recém-chegara à Coréia.

A crença do xintoísmo gira em torno de kami, as divindades criadoras e protetoras da natureza associadas com a Terra (especialmente certos locais sagrados), bem como os imperadores, que também eram considerados divindades, ou “kami manifestos” e seres humanos poderosíssimos. Os kami concedem vida, cujo objetivo é alcançar o objetivo divino em pureza de espírito e devoção à família, à comunidade e à nação. O xintoísmo, portanto, põe ênfase nesta vida, e não na próxima, embora seus adeptos cultuem os espíritos ancestrais e imaginem um submundo onde residem os mortos. As preces e os ritos cerimoniais, no lar ou em templos, presididos pelo sacerdócio hereditário, concentram-se na purificação da corrupção espiritual e nas súplicas de complacência e proteção do kami.

Page 76: 1história geral livro

CULTURA E ECONOMIA

Por um longo tempo a economia não avançou muito: tecnicamente, a agricultura permaneceu o que sempre fora e não houve crescimento urbano como na China. O Japão conseguiu aos poucos produzir mais alimentos, mas principalmente com o aumento gradual do tamanho das propriedades, e portanto das áreas cultiváveis. O camponês pagava pesados impostos, em geral ao seu senhor, a quem o xogunato concedia o direito de cobrar, e cuidava das plantações de arroz que forneciam a maior parte da alimentação dos japoneses.

A primeira literatura japonesa e o drama nô— combinação de poesia, mímica e música, levada a efeito com elaborados figurinos e mascaras. Os artistas japoneses sempre enfatizaram a proporção, a habilidade manual, e demonstraram isto nas cerâmicas, na pintura, nos trabalhos em laca, na tecelagem em seda, bem como em artes muito mais caracteristicamente japonesas, como os arranjos florais, o paisagismo e as belas espadas produzidas pelos armeiros.

Alguns dos belos objetos produzidos pelos japoneses eventualmente começaram a ser vendidos nos mercados externos. No século XV a China era um importante comprador, e os monges budistas desempenharam importante papel no comércio com o Japão.

Os primeiros europeus a chegarem no japão foram os portugueses, provavelmente em 1543. Na época, as condições internas do Japão não impediam o avanço dos estrangeiros. Nagasaki, uma pequena aldeia, foi aberta aos portugueses em 1570, que lá fundaram uma feitoria. No entanto, além da fé os intrusos também trouxeram armas de fogo, cujo primeiro impacto na sociedade japonesa seria inflamar ainda mais as lutas internas. UNIDADE DIDÁTICA IV – CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS

INTRODUÇÃO

76

Page 77: 1história geral livro

O hemisfério ocidental depois do contato europeu tem sido chamado com freqüência de “Novo Mundo”, mas os povos os indígenas que criaram as sociedades americanas não parecem tê-lo visto desta maneira. Em vez disso, os grupos funcionavam dentro de mundos já bastante estruturados, conjuntos inteiros de práticas sociais, culturais e tecnológicas, que deram forma e cor a tudo o que fizeram. Durante quase 2000 anos, floresceu na América central uma sofisticada civilização. Constituiriam-se pirâmides de pedra ligadas a rituais religiosos e desenvolvesse a escrita, Tenochititlan era maior e mais rica do que qualquer cidade européia do Séc. XV, nos Andes os incas foram os criadores do ultimo grande império da América pré-colombiana, que se estendia pelos Andes, desde o equador até ao centro do Chile , e era percorrido por uma rede de estradas e fontes suspensas.

DO HOMEM AMERICANO

Índio é, naturalmente, um nome equivocado para os povos encontrados na América pré-colombiana a designação originou-se de uma concepção geográfica errônea por parte do próprio Colombo, que se imaginava próximos das Índias. No entanto na América muitos grupos nada sabiam da existência um dos outros, e poucos grupos estavam em contado. Então estilo de vida e unidade política, era desconhecido um conceito na cultura indígena que distinguisse os habitantes da América o hemisfério ocidental dos habitantes de outros continentes. No entanto os primitivos habitantes do Novo Mundo deixaram numerosos vestígios, que os especialistas costumam dividir em dois grupos: antropológicos e arqueológicos. Foram vários grupos que chegaram a América e se aceita que existiram três grandes rotas de imigração para a América. Conforme mapa abaixo:

A chave da formação cultural das grandes civilizações Pré-colombianos é o relativo isolamento. De todos os grandes ramos etno-geográficos da humanidade, e com certeza entre todos os que tinham agricultura, cidades e

77

Page 78: 1história geral livro

grandes unidades políticas, Os primitivos habitantes da América eram os mais isolados dos grandes centros culturais da Europa e da Ásia. Povos, técnicas e cultura constantemente eram trocados entre povos do eixo Europa-Ásia-África durante séculos até os tempos modernos, enquanto os povos americanos pré-colombianos, ainda que tenha havido algum contato eventual, ficaram por alguns milhares de anos sem contato contínuo com o resto do mundo habitado.. Apesar de todas as diferenças de histórico e de status a eles conferido, em alguns aspectos os ibéricos e africanos eram, no Novo Mundo, um único grupo invasor, com alguns traços importantes em comum não compartilhados pelos índios. Em tecnologia, europeus e africanos sabiam, por exemplo, fabricar e usar armas de aço, e bastava isso para lhes dar total superioridade militar no Novo Mundo, pois, embora alguns grupos tivessem construído grandes cidades, pirâmides, impérios e comércio de longa distância, nenhum tinha ferro e aço. Assim, a América era um conjunto de civilizações em vários estágios e em grande variedade de sociedades, de bandos de caçadores e coletores a agricultores de base urbana

Milhares de anos de história estendem-se desde o tempo das supostas migrações da Ásia e do estágio de grandes caçadas por toda a extensão e largura de ambos os continentes ocidentais. A Agricultura remonta a milênios no continente americano assim como a vida sedentária e as artes da cerâmica e da tecelagem. O primeiro milênio d.C. viu o crescimento de cidades e de grandes unidades políticas, assim como conquistas nas artes aplicadas que igualavam ou ultrapassavam tudo o que existia quando os europeus chegaram..

Ainda não se determinou com certeza se algumas inovações básicas foram ou não trazidas de fora do hemisfério. O que importa é que, na época do contato com a Europa, tudo nos sistemas de vida dos primitivos habitantes da América havia passado por longos processos de evolução independente e apresentava sua própria característica. As inovações sociais e tecnológicas do hemisfério ocidental tendiam a centrar-se em duas áreas, a Mesoamérica e o centro dos Andes, e a espalhar-se para outras regiões a partir daí. No entanto, a variedade da geografia americana impediu o desenvolvimento de quaisquer tentativas centralizadora por parte das grandes civilizações.. A posse, pelos povos centrais, de

78

Page 79: 1história geral livro

agricultura intensiva permanente, cidades e aldeias estáveis, mecanismos rígidos de tributação e população densa coloca-os, em muitos aspectos, na mesma categoria da maioria dos povos da Europa em 1500.

Vestígios arqueológicos do Homem na América :

No Brasil merece especial atenção aos vestígios achados na Lagoa Santa, em Minas Gerais, nessa região, são encontrados então numerosos sinais da presença do homem na América. No entanto vestígios da presença do homem são encontrados em todas as regiões da América , são encontrados esparsos, ( restos de objetos de pedra ou de osso ou, ainda, de barro, como o caso da cerâmica marajoara), ou sob a forma de habitações ou aldeias (“pueblos”, estearias) como também em montículos de resíduos. Sambaquis são elevações do terreno formadas por conchas ou carapaças de moluscos, que foram depositadas pelo homem e aglomeraram-se com o tempo, e no meio das quais encontramos, muitas vezes exemplares de instrumentos produzidos pelo homem na pré história, restos de ossadas de animais e restos de sepultamentos.

VESTÍGIOS PRÉ-HISTÓRICOS

CARACTERÍSTICAS

sambaquis Encontrados nos Estados Unidos (shell-mounds), nas ilhas do Atlântico e do Pacífico e são das mais variadas dimensões e formas. Dificilmente datados, devem ser muito anteriores ao descobrimento da América. No Brasil são encontrados, principalmente na zona litorânea, no vale amazônico, nos litorais do Pará e do Maranhão, na Bahia no Rio de Janeiro e no Paraná e em quase todo o litoral do Sul do Brasil. Neles, juntamente com machados de pedra, discos, vasos, ornatos, e outras mostras da produção primitiva humana, encontram ossos de

79

Page 80: 1história geral livro

animais e de homens, de tal forma característicos que chegou a estabelecer-se uma “raça dos sambaquis”, muito semelhante à dos selvagens brasileiros, como os botocudos e outros.

Paraderos Achados principalmente na Patagônia,( região da Argentina) apresentam vestígios da indústria lítica e da cerâmica, de mistura com restos humanos. de época bem anterior à descoberta da América

habitações nas escarpas São aldeias de pedra construídas nas montanhas pelos índios do sudoeste dos Estados Unidos (Colorado, Arizona, Utah, etc.). Denotam grande desenvolvimento dos construtores, que já deviam praticar a irrigação artificial, a agricultura, a arte da fortificação, sabiam preparar a renovação do ar e aquecimento em suas habitações. Trabalhavam na pedra e no barro, do que deixaram numerosas e excelentes amostras, tais como machados, vasos, braçaletes, colares, etc.

pueblos, Os detalhes de construção são quase os mesmos, eram casas elevadas sobre muralhas de pedra ou barro. Algumas vezes têm vários andares, e são encontrados também no Colorado e no Arizona. Os mais famosos são o Pueblo Bonito “e o “Pueblo Pintado”.

Estearias As encontradas no Maranhão (lagos Cajari, Caboclo e outros), pertencem ao tipo das casas sobre estacas, e nelas, de permeio com objetos de pedra, encontramos magníficos trabalhos de barro, apresentando os mais diferentes desenhos com a utilização de elementos geométricos. provável que os habitantes das estearias sejam

80

Page 81: 1história geral livro

os mesmos que fabricaram a cerâmica de Marajó.

CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS CULTURAS INDÍGENAS

Podemos dividir os Habitantes da América pré-colombiana em Três categorias. A primeira categoria era a dos Nômades ou os “semi-sedentários”, sempre a procura da “terra sem mal”, eram caçadores e coletores e tinham uma população reduzida praticavam uma primitiva agricultura, e povoavam quase toda a América. Estes povos podiam compartilhar muitos componentes de língua, religião e visão de mundo com grupos sedentários No entanto, dentro deste território os povos não-sedentários migravam com freqüência num ciclo sazonal de caça e coleta.

Sem agricultura, tinham acampamentos em vez de aldeias; a unidade social normal eram pequenos bandos, os tributos eram simbólicos ou inexistentes e a densidade populacional era extremamente baixa. Esses povos existiam em partes de todas as grandes regiões mas, acima de tudo, naquelas áreas mais inóspitas para a vida sedentária então conhecida: nas mais secas ou mais úmidas, nas planícies ou nas florestas mais fechadas. As partes secas do norte do México, os pampas argentinos e boa parte do interior da Amazônia são regiões assim.

A Segunda categoria é a de Estes povos também tinham agricultura e aldeias, mas, no decorrer de alguns anos, as plantações e povoados mudavam-se de um lugar para outro; a caça ainda era vital, e a população, embora pudesse ser bem numerosa, era, menos densa do que as grandes culturas centrais.

81

Page 82: 1história geral livro

Esses povos eram encontrados em toda a periferia dos territórios dos povos totalmente sedentários, em regiões dos atuais Chile, Colômbia, norte do México e na Amazônia . A terceira categoria são as das grandes culturas, incas maias e astecas que estudaremos a seguir.

Em vez de estágios do desenvolvimento humano, as três categorias representam principalmente adaptações a determinados ambientes, dada a tecnologia existente. Nesta estrutura, cada um dos sistemas era tão capaz de manterem-se quanto os outros, tão complexo na totalidade de suas relações com o meio ambiente quanto os outros. Nenhum povo era totalmente sedentário ou totalmente nômade. Vários dos grupos maias, cujas cidades, governos provinciais e sistemas de tributação parecem situá-los completamente na categoria de povos centrais, praticavam ao mesmo tempo a agricultura rotativa em vez da permanente. Uma combinação de traços como esta é um pouco incomum, mas não representa nenhuma anomalia no espectro multidimensional da realidade do hemisfério ocidental.

As civilizações da América pré-colombiana

POVOS SEDENTÁRIOS

Existe uma correlação entre império e sedentarismo, no sentido que estamos dando a esta palavra; nenhum povo responde melhor à descrição de grupo sedentário do que os habitantes da região central do México e dos Andes, respectivamente os impérios asteca e inca.. Mais do que criar sedentarismo, os grandes regimes tributários que foram chamados de impérios se alimentavam dele; suas fronteiras paravam de forma abrupta nas fronteiras da vida sedentária.

As características distintivas dos povos sedentários começam no nível da família e do aldeamento. A agricultura intensiva era à base daquela vida; isso quase sempre significava cultivo de milho, (se plantava batatas e cereais).

82

Page 83: 1história geral livro

Os MAIAS E OS ASTECAS

As origens da civilização na América Central assentam na adoção da cultura do milho, por volta de 2700

a.C. As chuvas regulares e o clima quente ao longo de todo o ano permitiam fazer quatro colheitas anuais nas férteis

planícies fluviais do sudeste do México. Em 1250 a.C., surgiram sociedades tribais e

pequenos estados entre os quais os Olmecas, que construíam grandes centros cerimoniais com

túmulos de terra em forma de pirâmide e monumentais esculturas de pedra; posteriormente

criaram o primeiro calendário astronômico. Também entre os povos Zapotecas do vale do

México formaram complexas sociedades. A escrita mais antiga da América, à base de grifos (símbolos

pictóricos), apareceu nesta região, por volta de 800 a.C. e floresceu entre 400 a.C. e 700 d.C. .

Os maias apareceram nas terras altas da Guatemala. Por volta de 1000 a.C., começaram a expandir-se pelas

terras baixas da península de Yucatán, onde, para cultivar a terra, abriram canais que se

destinavam a drenar os pântanos. No séc. VII a.C., construíram pirâmides monumentais com templos e começaram

a aparecer as cidades-estado. E provável que tenham adotado a escrita dos olmecas e zapotecas, assim como o uso do calendário astronômico e o jogo sagrado da bola.

A guerra era necessária para conseguir prisioneiros para os sacrifícios humanos, que se celebravam em certas datas ou para comemorar acontecimentos. As vítimas eram torturadas e mutiladas, antes de lhes arrancarem o coração.

83

Page 84: 1história geral livro

Os maias utilizavam um complexo calendário, muito elaborado e baseado em observações astronômicas muito precisas. Posteriormente produziram livros sagrados, feitos de casca de árvore, que ilustravam com pinturas complicadas. São estas pinturas que, juntamente com as suas pedras trabalhadas, nos permitem conhecer a violência do seu mundo e o poder dos seus deuses.

As guerras e a fome, provocada pelo cultivo excessivo da terra, devem ter sido o motivo do rápido colapso e abandono das cidades maias das terras baixas, a partir do ano 800. Em princípios do séc. X, os toltecas, grupos de povos que tinham emigrado para o México Central ergueram a sua capital em Tula. A partir dela expandiram a sua influência pelo vale do México. Um grupo de aventureiros toltecas invadiu Yucatán por volta de 987, fundando uma dinastia que governou a cidade maia de Chichén Itzá durante 200 anos; muitas das suas construções inspiravam-se nas de luta. Em finais do séc. XLI, Tula foi destruída e o povo tolteca desmembrou-se. Os seus únicos vestígios são grandes pirâmides com templos e guerreiros de pedra.

OS ASTECAS

A grande Civilização da América Central foi a Asteca. Os astecas afirmavam que eram descendentes dos toltecas,

84

SACRIFÍCIOS HUMANOS Os sacrifícios humanos faziam parte da religião asteca. No Grande Templo de Tenochtitlán, os sacerdotes ofereciam sacrifícios diários ao deus da guerra, Huitzilopochtli. Se o não fizessem, não poderiam combater as trevas e, no dia seguinte, o sol não apareceria. Havia também outros deuses que exigiam terríveis sacrifícios. Para honrar Xipe Totec, deus da primavera, os prisioneiros eram assassinados em guerras simuladas por guerreiros astecas. Depois de esfolados, a sua pele era usada pelos vencedores que se cobriam com ela para invocar a descasca do milho.

Page 85: 1história geral livro

que consideravam sobre-humanos por terem construído monumentos de pedra de grande estruturas. Adotaram muitos aspectos da cultura tolteca, incluindo a adoração de muitos deuses, entre eles Quetzalcóatl, a serpente emplumada. Na realidade, os astecas tinham-se instalado no vale do México após a decadência do Império Tolteca. Em 1325, fundaram a grade cidade de Tenochtitlán, numa ilha do lago Texcoco, servindo como mercenários aos estados vizinhos até estabelecerem um império militar no vale do México, durante o reinado de Itzcóatl (reinado 1427-1440). Com os seus sucessores, o império cresceu, atingindo a sua máxima expansão durante o reinado de Montezuma II (reinado 1502--1520). Os astecas, como os maias, tinham necessidade de estar sempre em guerra, para obterem prisioneiros para os sacrifícios humanos.

Os astecas tinham um complexo sistema de classes, que era bem definido: o estatuto social de cada pessoa conhecia-se

através do penteado e de alguns pormenores do seu traje. No nível superior estava o rei, cujo título oficial era “grande orador”. Abaixo dele havia uma elite de nobres que afirmavam descender do primeiro rei asteca. O povo comum pertencia por nascimento a um dos vinte clãs, que viviam nos diferentes bairros de tenochtitlán,

85

Page 86: 1história geral livro

com os seus próprios templos e escolas. Os membros do clã eram proprietários e cultivadores da terra em regime comunitário e, em tempo de guerra, os homens do clã lutavam juntos. Os guerreiros podiam obter prestígio e fama fazendo prisioneiros. Nenhum homem era considerado adulto até fazer um prisioneiro em combate. Abaixo do povo comum, havia uma classe constituída pelos povos conquistados, que trabalhavam a soldo ou como arrendatários agrícolas. Havia também escravos (prisioneiros de guerra) e uma classe de comerciantes que, apesar de serem muito ricos, não podiam exibir as suas riquezas.

O IMPÉRIO INCA

Os incas herdaram tradições culturais que remontam às primeiras comunidades de pescadores e agricultores, surgidas por volta de 1800 aC,. nas terras baixas da costa do atual Peru. Os Historiadores e arqueólogos identificaram nestes locais uma série de culturas que se sucederam, cuja arte, com imagens de estranhos animais-deuses, foi encontrada dispersa pelo norte e centro do Peru. Por volta de 100 a.C., os mochicas começaram a construir um poderoso estado no litoral. Eram governados por guerreiros-sacerdotes e criaram belíssimos objetos de ouro com pedras semi-preciosas, cerâmicas e tecidos. Por volta de 600 d.C. foram conquistados pelos huari, que tinham derrubado outros estados, como Nazca, para construir um império nas terras altas dos Andes.

ORIGENS DOS INCAS

Sabe-se muito pouco sobre o início da história dos incas. Segundo a lenda, Manco Cápac tê-los-ia trazido das cavernas montes para os instalar em Cuzco, num fértil vale dos Andes. Mas não sabemos se Manco Cápac realmente existiu; se assim foi, provavelmente terá vivido por volta de 1200.

86

Page 87: 1história geral livro

Durante a época do imperador Pachacutec (reinado 1438--1471) e do seu irmão Tupac Yupanqui (reinado 1471-1493), os incas mal se distinguiam dos outros estados primitivos dos Andes. Os dois irmãos, experientes soldados, lutaram quase ininterruptamente para engrandecer o Império Inca. Quando Tupac Yupanqui morreu, o império tinha alcançado a máxima extensão possível, embora Huayna Cápac (reinado 1493-1525) lhe tenha acrescentado algumas conquistas menores. A economia inca baseava-se na cultura intensiva de batatas e milho.

O ESTADO INCA

A sociedade inca era altamente organizada. O imperador (o inca) afirmava que descendia do deus do sol Inti e tinha um poder incontestável; acreditava-se que a sua capital, Cuzco, era o centro da Terra. Abaixo dele estavam os governadores dos “quatro quartos”, as principais divisões territoriais do império, seguidos de outras categorias de funcionários, que iam baixando até à categoria de capataz; cada capataz era responsável pela supervisão de dez famílias. As terras de cultivo estavam divididas em três partes: uma para sustentar o estado, outra para os deuses e outra para o povo. Todos os homens e mulheres incas pagavam “impostos”, trabalhando as terras correspondentes ao estado e aos deuses. Os homens saudáveis tinham que trabalhar também nas obras públicas, a chamada mita (estradas, fortalezas, canais de rega, etc.). Este sistema permitiu aos incas manterem ativo um grande exército, com dedicação exclusiva, durante longos períodos, o que lhes dava vantagem sobre os seus inimigos. As mulheres tinham que se dedicar a trabalhos artesanais como, por exemplo, a tecelagem: os tecidos finos eram mais apreciados do que o ouro. Este complexo sistema de tributação funcionava sem o auxílio da escrita. Os registros eram feitos por meio de um complicado sistema de cordas com nós, a que se chamava de quipus.

A rede inca de estradas, de aproximadamente 20 000 kms, permitia aos

87

Page 88: 1história geral livro

exércitos e aos mensageiros viajar rapidamente todos os pontos do império. Os desfiladeiros eram cruzados por pontes suspensas. Havia pequenos túneis para ultrapassar morros e as rochas. Na ausência da roda. As cargas eram transportadas no dorso de lamas e de havia pousadas para que os viajantes descansassem durante a noite.

Os povos conquistados viam-se obrigados a adotar costumes incas e também a sua língua, o quéchua que ainda hoje se fala em parte dos Andes A religião inca conentravase na adoração do deus Inti. O seu templo em Cuzco era coberto de ouro , símbolo do sol. Mama cocha ( mãe terra), deusa da fertilidade e da colheita e Viracocha também eram adorados.

Unidade didática V- O Mundo Grego

Introdução

A historia da antiga Grécia se desenvolve em um cenário de difícil definição, porque não se tratava de uma nação no sentido moderno do termo, que tem, em conseqüência, uma fronteira bem definida, ainda porque, no entanto, nem sequer possuia uma unidade étnica bem definida, a consciência do povo grego como tal foi também um resultado deste processo histórico. Podemos dizer que, em cada período da história grega, os cenários variam de acordo com movimentos expansivos e ocupacionais exteriores, de tal modo que um dos dados para marcar uma periodização ajustada poderia consistir em assinalar os territórios ocupados pelos gregos de maneira sucessiva.

As civilizações cretense e creco-micenicas

88

Page 89: 1história geral livro

A época dos palacios heroicos, especialmente, o de Agamenon em Micenas constituíe o primeriro período da historia grega, a discurção sobre a validade histórica dos poemas homéricos pode ser infinita. Porem foi sua leitura que abiu as portas aos achados arqueológicos gregos em Itaca, no Peloponeso e em Tróia acompanhados e guiados pela leitura dos mesmos poemas. As ruínas achadas em Tróia as diversas recostruçôes detectadas, assim como os achados micénicos organizados a partir das primeiras tumbas reais, foram um impulso para mais profundos estudos. Palácios, templos e sepultamentos permitem descobrir um tipo de sociedade Hierarquizada, com uma realeza e um aparato estatal capaz de controlar populações coletivamente.

89

Page 90: 1história geral livro

A economia primitiva da Grécia mediterrânea

A situação da Europa mediterrânea surgida da crise do fim do Século II a.C. conduz a um redirecionamento dos interesses econômicos. Novas direções econômicas se definem através de dois parâmetros: especialização e intensificação da produção agrária; paralelamente. No plano agrícola, o modelo econômico se articulou no desenvolvimento da base econômica mediterrânea, baseada, na produção de cereais, azeite e vinho. A base pastoril como foco de matérias primas do setor alimentício; também e um fator econômico importante. A presença dos primeiros produtos de ferro no Mediterrâneo é muito antiga. Não obstante, quando a tecnologia foi controlada, os produtos em ferro se generalizarão, devido, sem duvida a abundancia deste mineral frente aos filões conhecidos de cobre e estanho, que haviam sido até o momento a base dos produtos metalúrgicos.

90

Page 91: 1história geral livro

Os tempos homéricos (do século XII ao século VIII a.C)

Os dórios o último povo indo-europeu a migrar para a Grécia eram essencialmente guerreiros. Ao que parece, foram eles os responsáveis pela destruição da civilização micênica e pelo conseqüente deslocamento de grupos humanos da Grécia continental para diversas ilhas do Egeu e para a costa da Ásia Menor. Esse processo de dispersão éconhecido pelo nome de primeira diáspora.

Após o esplendor da civilização micenica, seguiu-se um período em que as cidades foram saqueadas, a escrita desapareceu e a vida política e econômica enfraqueceu, caracterizando um processo de regressão da Grécia a uma fase primitiva e rural. Desse período (séculos XII a.C. a VIII a.C.), que foi à base da civilização grega, não se tem registro, exceto os poemas Ilíada e Odisséia atribuídos a Homero, que, tendo vivido no século VI a.C., teria recolhido histórias transmitidas oralmente durante os séculos anteriores. Por essa razão, esse período, posterior à invasão dórica, ficou conhecido como tempos homericos. Em decorrência, o período anterior a 1200 a.C., caracterizado pela imigração de povos indo-europeus e pela formação da cultura creto-micênica, recebeu a denominação de tempos pré-homéricos.

91

Page 92: 1história geral livro

afresco da era micenica

Para compreendermos a evolução política da Grécia antiga, é necessário retrocedermos aos tempos pré-homéricos, quando os povos indo-europeus ali se fixaram. já nessa época, esses grupos humanos encontravam-se divididos em genos, famílias coletivas constituídas por um grande número de pessoas sob a liderança de um patriarca. Após as invasões dos dórios, os genos passaram a constituir a forma predominante de organização social. Assim, podemos afirmar que o período homérico foi também o período das comunidades gentilicas.

92

Page 93: 1história geral livro

As comunidades gentílicas existiram durante quase todo o período homérico. Apenas por volta do século VIII a.C., iniciou-se o processo de desintegração dos genos, evoluindo mais rapidamente em algumas regiões do que em outras. Diversos fatores contribuíram para a dissolução dos genos no final dos tempos homéricos, entre eles o crescimento populacional e o aumento do consumo. Entretanto, a produção continuava limitada, pois havia poucas terras férteis e as técnicas de produção eram bastante rudimentares. A luta pela sobrevivência, que dependia basicamente da terra, desencadeou uma série de guerras entre genos. Para enfrentar um inimigo comum, alguns deles se uniram, formando uma fratria. Reunidas, as fratrias constituíam uma tribo, a qual se submetia àautoridade do filobasileu, o supremo coman-dante do exército. A união de várias tribos deu origem ao demos (“povo”, “povoado”), que reconhecia como seu líder supremo o baliseu.

A crise da sociedade gentílica alterou profundamente a estrutura interna dos genos. Aos poucos, a terra deixou de constituir propriedade coletiva,

93

Os Genos :Cada geno constituía uma unidade econômica, social,

política e religiosa da sociedade grega. De fato, esses pequenos

agrupamentos humanos conseguiam, isoladamente, assegurar sua

sobrevivência com uma economia natural e coletivista. Os meios de

produção (terra, sementes), assim como os bens produzidos

(alimentos, objetos), pertenciam a todos os indivíduos, ou seja, a

propriedade não tinha caráter particular. Na organização hierárquica

dos genos, o patriarca, ou pater, era a autoridade máxima,

exercendo as funções de juiz, chefe religioso e militar. O critério

que definia a posição dos indivíduos na comunidade era o seu grau

de parentesco com o pater.

Page 94: 1história geral livro

sendo dividida, de modo desigual, entre os membros dos genos. As melhores parcelas de terra foram tomadas pelos parentes mais próximos do pater, e por esse motivo, passaram a ser chamados de eupátridas (“bem-nascidos”). O restante das terras foi dividido entre os georgóis (“agricultores”), parentes mais distantes do patriarca. Nesse processo de divisão, os mais prejudicados foram os thetas (“marginais”), para os quais nada restou.

Com a crise das comunidades gentílicas, a Grécia continental se transformou em palco de inúmeros conflitos e tensões sociais, que resultaram em uma nova dispersão do povo grego — a segunda diáspora. Os principais fatores que provocaram esse novo deslocamento foram o crescimento demográfico e a escassez de terras cultiváveis na Grécia continental, em grande parte conseqüência da concentração da propriedade nas mãos de uma pequena parcela da população.

Desse modo, boa parte da população excedente, constituída, principalmente, pelos menos beneficiados na partilha das terras, emigrou para regiões do Mediterrâneo ocidental, ali fundando diversas colônias. Assim surgiram cidades como Tarento e Siracusa, no sul da Itália, região que se desenvolveu muito graças ao cultivo de cereais e que ficou conhecida como Magna Grécia.

Nesse período de instabilidade, por questões de segurança, várias tribos se uniram formando comunidades independentes, que deram origem as pólis ou cidades-estados.

Os tempos arcaicos (do século VIII a.C. ao século VI a.C.)

O período arcaico é um período de ricos sucessos culturais e de transformações sociais e politicas. As cidades, através sua posição econômica, militar e politica, se afirmam como lugares de atuacão dos propietários de terras, dos soldados defensores do território, dos que se achavam em condições de disfrutar da política e dos direitos de cidadania. A comunidade se amplía consideralemente, mas existe grandes conflitos internos na transformação do sistema aristocrático, herdero da antiga realeza, em um sistema predominantemente oligárquico, em alguns casos tendencialmente participativo. Simultameamente, durante o período arcaico temos um aumento do mundo grego, ampliando geográficamente através

94

Page 95: 1história geral livro

da Expanção Colonial. (fenômeno vinculado por meio de laços diversos com trocas mercantis com a polis em formação até o ponto que ela se sustente sozinha) A Expanção Colonial grega se transforma em fator influente sobre o modo em que se configura o período arcaico. A historia da Grecia arcaica com toda sua extenção geográfica teve como matriz cultural duas cidades, Esparta Atenas, porque pelas abundancia de fontes e por sua influencia política foram as mais importantes de todo mundo grego.

POLIS A CIDADE-ESTADO GREGA

A Criação da Polis vem a ser um efeito do processo de transformacão qualitativa e comerciais que sofreram as relações entre os homens. Através do sinecismo se reforça a solidaridade dos propietários das unidades económicas conhecidas como Oikos (fazendas) que assim controlavam o poder em uma escala maior. O novo sistema produtivo, consolidado em oikos, permite, no mesmo tempo, um aumento da capacidade coletiva para colonizar novas terras em áreas baldías, de modo que aumenta o territorio e se amplia o cultivo. As cidades que se forman por sinecismo na época arcaica viraram ao mesmo tempo centro de poder, e são igualmente centro de cultura, o que permite que, a polis se transforme em grande centro urbano. No entanto a estrutura de cidadania na polis ocorre proporcionalmente ao desenvolvimento colonial , elemento promotos de novas formas de intercambio e conseqüentemente novas atividades comerciais. A polis permite um grande fortalecimento comercial. Os camponeses tendem a ficar submetido às leis e aos mercados existentes na polis mais próxima e as familhas aristocráticas tendem a diversificar suas atividades, através de comercialização e transporte de mercadorias, a polis permite tanto a diversificação da produção como de suas atividades politicas. O acesso a territorios distantes permite aumentar a obtencão de bens para consolidar o poder social e a obtencão de mão de obra servil, com o objetivo de aumentar seu rendimentos. Paralelamente, o aumento das atividades auxiliares dentro da polis permite que esta se converta em um lugar privilegiado para a atividade dos thetas homens livres que alugam ocasionalmente seu trabalho em troca de

95

Page 96: 1história geral livro

pagamento, o que aos poucos transforma e desenvolve as estruturas econômicas de distribuição soicial.

Esparta

A região da lacônia, centro do poder espartano ficava situada à sudeste do Peloponeso, esta situação geográfica, bem estratégia, fez dela uma potencia militar, a lacônia inicialmente foi invadida pelos Aqueus, posteriormente os Dórios, superiores em organização e armamentos, os dórios fundarão na lacônia um pequeno estado que tinha como centro peincipal da polis de Esparta. Esparta conquistou suas cidades vizinhas, inclusive Messênia, no século VIII a.C. Em lugar de vender os messênios no estrangeiro, tradicional método grego de tratar um inimigo derrotado, os espartanos conservaram-nos como

96

Page 97: 1história geral livro

servos do estado, ou hilotas A organização social e política de Esparta é inconfundível, quando a comparamos com as instituições das outras cidades-estado gregas. Profundamente conservadora atribuía suas leis e formação social a um Legislador lendário Licurgo, a quem consideravam divino, Apolo encarnado (Apolo Licurgo), as leis eram imutáveis tendo em vista ser feita por um elemento divino, no entanto a legislação espartana legada a um só homem é puro mito, os historiadores acreditam que as leis espartanas não foram feitas por uma só pessoa mem em uma só época. Organização política:A organização politicamde Esparta oferece aspecto original, em relação a outras cidades gregas:

.Instituições Características Monarquia Dual Dois reis governavam Esparta , em caso

de guerra um ficava na cidade e outro comandava o exercito, no entanto as funções dos Reis eram muito reduzidas, senpre vigiados pelos eforos.

Gerusia A realeza de Esparta mantém-se apenas como uma tradição. O poder residia de fato na Gerusia, presidida pelos reis. Era formado por 28 anciãos, com mais de 60 anos de idade, escolhidos por aclamação popular.

Apela A assembléia popular, era formada por todos os Espartanos com mais de 30 anos, e que tivessem recebido educação militar.

Os eforos os eforos eram cinco magistrados eleitos por um anos dentre todos os cidadãos, exerciam autoridade absoluta sobre todos os habitantes, na guerra vigiavam os reis.

Organização Militar:

97

Page 98: 1história geral livro

Famosos por sua estrutura militar, Esparta, a rigidez das leis espartanas é a responsável pela complexidade de sua formação, as crianças ao nascer eram apresentadas ao conselho dos anciões, para que estes verificassem se apresentavam à robustez e resistência necessárias a vida militar. As fracas ou com algum defeito físico eram mortas, as fortes ficavam aos cuidados da mãe até os sete anos de idade, apartir de então os jovens espartanos começavam a aprendizagem militar em comum, sob a direção de mestres escolhidos pelo estado eles se exercitavam, treinavam, competiam e suportavam provações físicas. A cultura física desempenhava grande papel na educação, aos 20 anos estava terminada a formação do jovem espartanol, mas como todo o espartano continuava como soldado até os 60 anos.

Organização política;

Espartanos

periecos

Hilotas

Os espartanos com extraordinária determinação, disciplina e lealdade,transformaram sua sociedade numa vasta caserna. Nessa sociedade, o trabalho agrícola era desempenhado pelos hilotas, e o comércio e os ofícios ficavam a cargo dos períoikoi (periecos), gregos conquistados que eram livres mas não tinham direitos políticos. Os espartanos aprendiam um único ofício, o militar, e lhes era inculcada uma única concepção de excelência: morrer em batalha por sua cidade.

98

Page 99: 1história geral livro

Atenas

As cidades-estados gregas, de modo geral, passaram por quatro estágios:

governo de um rei (monarquia), Durante a monarquia, o rei, cujo poder emanava dos deuses, comandava o exército e julgava as causas civis.

governo de aristocratas agrários (oligarquia), governo de um só homem que tomou o poder (tirania) governo do povo (democracia).

Nos primeriros séculos do período arcaico, em Atenas o crescimento da atividade marítima foi muito amplo, tendo sido encontrada vestígios da cerâmica atenienseque , que era utilizada como troca, em portos distantes de Atenas. A expansão maritima ateniense facilitava os contatos, pelo menos por parte de alguns setores da população, com outras cidades.

A oligarquia, foi instituído em Atenas durante o século VIII a.C., quando os aristocratas usurparam o poder dos monarcas hereditários (aristocracia, em grego, significa “governo dos melhores”). No século seguinte, os regimes aristocráticos passaram por uma crise social. Os camponeses que tomavam dinheiro emprestado da aristocracia, dando as terras como garantia, perderam suas propriedades e chegaram a tornarem-se escravos por não conseguirem pagar suas dívidas. Em Atenas, os camponeses exigiram e receberam, em 621 a.C., uma concessão dos aristocratas, que designaram Drácon para redigir um código de leisescritas ( as Leis Draconianas). Embora o código de Drácon tenha permitido aos pobres conhecer a lei, reduzindo as possibilidades de que os juizes aristocráticos julgassem arbitrariamente, as sentenças eram extremamente rigorosas, e o código não trouxe alívio para as aflições econômicas dos camponeses. Atenas caminhava para a guerra civil, pois os pobres começavam a organizar-se e a exigir o perdão das dívidas e a redistribuição de terras.

99

Page 100: 1história geral livro

As leis de Dracon muito duras foram reformadas por Sólon, o reformatlor. Em 594 a.C. os aristocratas nomearam Sólon (c. 640-5 59 a.C.) chefe do Executivo. Homem sábio, Sólon sustentava que os ricos proprietários de terras, com sua cobiça, haviam destruído a vida da co-munidade, levando Atenas às portas da guerra civil. Ele sustentava que a lei escrita devia estar em harmonia com o princípio de justiça. Além disso, Sólon queria instigar nos atenienses de todas as classes o senso de trabalhar pelo bem comum da cidade.

Sólon ara alcançar esse objetivo, libertou os atenienses escravizados por dívidas, mas recusou-se a confiscar e redistribuir a terra dos nobres. Permitiu que todas as classes de homens livres, até mesmo os mais pobres, participassem da Assembléia, que elegia os magistrados e aceitava ou rejeitava a legislação proposta pelo novo Conselho dos Quatrocentos. Também abriu os postos mais altos do Estado aos abastados homens do povo, que anteriormente haviam sido excluídos dessas posições por não terem nascido em berço nobre. Assim, Sólon enfraqueceu os direitos tradicionais da aristocracia hereditária e deu início à transformação de Atenas de uma oligarquia aristocrática para uma democracia.

Sólon também promoveu engenhosas reformas econômicas. Ao reconhecer que o solo pobre da África não era favorável à cultura de cereais, insistiu no cultivo de uvas para a produção de vinho e na plantação de oliveiras, cujo óleo podia ser exportado. Para encorajar a expansão industrial, ordenou que todos os pais ensinassem a seus filhos a atividade do comércio e concedeu cidadania aos artesãos estrangeiros que migrassem para Atenas. Em virtude dessas medidas e da alta qualidade do seu barro marrom-avermelhado, Atenas tornou-se a principal produtora exportadora de cerâmica. A política econômica de Sólon convertera Atenas num grande centro comercial. Mas

100

Page 101: 1história geral livro

suas reformas não eliminaram as disputas sectárias entre os clãs aristocráticos nem diminuíram todo o descontentamento dos pobres.

Pisístrato, o tirano Em 546 a.C., Pisístrato (c. 605-527 a.C.), um aristocrata, tirou partido da instabilidade geral para tornar-se governante absoluto, mandando para o exílio aqueles que se opunham a ele. Assim a tirania substituiu a oligarquia. A tirania era muito comum nas cidades-estados gregas. Quase sempre aristocratas, os tiranos geralmente apareciam como defensores dos pobres na sua luta contra a aristocracia. A fim de conquistar o apoio do povo, Pisístrato mandou que se instalassem canalizações para aumentar o abastecimento de água em Atenas, distribuiu as terras confiscadas aos aristocratas exilados entre os camponeses pobres e concedeu empréstimos estatais aos pequenos agricultores.

Clístenes, o democrata Após a morte de Pisístrato, uma facção chefiada por Clístenes, um aristocrata simpático à democracia, assumiu a liderança. Através de um engenhoso método de redistribuição, Clístenes pôs fim à tradicional prática de competição entre os clãs aristocráticos pelos principais cargos do Estado, que tanta divisão e amargura havia provocado em Atenas. Clistenes substituiu essas práticas, arraigadas na tradição e na autoridade, por um sistema novo, concebido para garantir que a fidelidade histórica à tribo ou ao clã fosse substituída pela lealdade à cidade.

Clístenes esperava fazer da democracia a forma permanente de governo em Atenas. Para proteger a cidade contra a tirania, introduziu a prática do ostracismo. Uma vez por ano, concedia-se aos atenienses a oportunidade de inscreverem num caco de barro (óstrakon) o nome de qualquer pessoa que, segundo eles, representasse perigo para o Estado. O indivíduo contra o qual se apurasse um número suficiente de votos era ostracizado, isto é, forçado a deixar Atenas por dez anos.

Clístenes consolidara firmemente a democracia em Atenas. A Assembléia, que Sólon franqueara a todos os cidadãos do sexo masculino, estava em vias de tornar-se a suprema autoridade do Estado. Mas o período da grandeza de Atenas ainda estava por vir; os atenienses tinham primeiro de vencer uma guerra de sobrevivência contra o Império Persa.

101

Page 102: 1história geral livro

O amadurecimento da democracia ateniense

O imperalismo de Atenas foi uma das conseqüências das Guerras Persas; a outra foi o florescimento da democracia e da cultura atenienses. O Estado ateniense era uma democracia direta em que as leis eram feitas pelos próprios cidadãos e não por representantes eleitos. Na Assembléia, de que podiam participar todos os cidadãos adultos do sexo masculino e que se reunia mais ou menos quarenta vezes por ano, os atenienses discutiam e votavam os principais problemas da Estado, declaravam guerra, firmavam tratados e decidiam onde aplicar os recursos públicos. O mais humilde sapateiro, bem como o mais rico aristocrata, tinha oportunidade de expressar sua opinião na Assembléia, votar e exercer um cargo. Em meados do século V a.C., à vontade do povo, conforme expressa na Assembléia, era soberana.

O Conselho dos Quinhentos (introduzido por Clístenes para substituir o Conselho dos Quatrocentos de Sólon) controlava os portos, as instalações militares e outras propriedades do Estado, além de preparar a ordem do dia da Assembléia. Como seus membros eram escolhidos anualmente por sorteio e não podiam servir mais de duas vezes na vida, o Conselho jamais podia suplantar a Assembléia. Cerca de trezentos e cinqüenta magistrados, também escolhidos por sorteio, desempenhavam funções administrativas: cobrar multas, policiar a cidade, consertar as ruas, inspecionar os mercados etc. Os dez generais, em razão dos conhecimentos especializados exigidos por seus cargos, não eram escolhidos por sorteio, mas eleitos pela Assembléia.

A democracia ateniense sem dúvida tinha limitações e fraquezas. Os críticos modernos mostram que os estrangeiros residentes eram quase totalmente excluídos da cidadania e, portanto, da participação política. Os escravos, que constituíam aproximadamente um quarto da população ateniense, não desfrutavam de nenhuma das liberdades que os atenienses tinham em tão alta conta. Os gregos consideravam a escravidão uma precondição necessária à vida civilizada; segundo acreditavam, para que uns fossem livres e prósperos, outros tinham de ser escravizados. Os escravos geralmente eram prisioneiros de guerra ou indivíduos capturados por piratas. Alguns escravos atenienses eram gregos, mas a maioria deles era constituída de estrangeiros. De modo geral, os escravos realizavam os mesmos trabalhos que os cidadãos atenienses: agricultura,

102

Page 103: 1história geral livro

comércio, manufatura e tarefas domésticas.

As Guerras Persas ou Guerras Médicas

Em 499 a.C., os jônios gregos da Ásia Menor revoltaram-se contra os seus senhores persas. Solidária com a causa jônia, Atenas enviou vinte navios para ajudar os revoltosos. Ávido de vingança, Dano I, rei da Pérsia, enviou um pequeno destacamento à Ática. Em 490 a.C., na planície de Maratona, o exército de Atenas, composto de cidadãos, derrotou os persas — para os atenienses, um dos mais gloriosos momentos da sua história. Dez anos mais tarde, Xerxes, filho de Dario, organizou uma enorme força invasora , com cerca de 250 mil homens e mais de quinhentos navios, com o objetivo de converter a Grécia numa província persa. A maior parte das cidades-estados, esquecendo-se dos seus instintos separatistas, uniu-se para defender sua independência e liberdade.

Os persas atravessaram as águas do Helesponto (estreito de Dardanelos) e dirigiram-se para o norte da Grécia. Heródoto descreve a luta dos persas no desfiladeiro das Termópilas com trezentos espartanos, que não desmereceram seu treinamento e seu ideal, chefiados por Leônidas.

Quando tudo indicava que o ânimo dos gregos se aquebrantara, o estadista e general ateniense Temístocles, demonstrando em questões militares a mesma racionalidade que Clístenes revelara na vida política, atraiu a esquadra persa para os estreitos da baía de Salamina. Impossibilitada de manobrar seus navios, numericamente superiores, nesse restrito espaço, a esquadra persa foi destruída pelas gregas. Em 479 a.C., um ano após a vitória naval ateniense em Salamina, os espartanos derrotaram os persas na batalha terrestre de Platéias. A inteligência inventiva com que os gregos planejaram suas operações militares e o desejo intenso de preservar sua liberdade permitiram-lhes derrotar a maior força militar do mundo mediterrâneo.

As Guerras Persas foram decisivas para a história do Ocidente. A confiança e o orgulho provenientes dessa vitória levaram Atenas a uma idade de ouro e suscitaram entre os atenienses o desejo de dominar a Grécia. As Guerras Persas marcaram o início do imperialismo ateniense, que teve drásticas conseqüências para o futuro da Grécia. Imediatamente após o término das guerras, mais de 150 cidades-estados organizaram uma confederação — a Liga de Delos (assim

103

Page 104: 1história geral livro

chamada porque seu tesouro encontrava-se na ilha de Delos) — para se protegerem de um novo confronto com a Pérsia. Graças a sua riqueza, sua poderosa armada e a irrequieta energia de seus cidadãos, Atenas assumiu a liderança da Liga. De maneira consciente, os atenienses manipularam a Liga em favor de seus próprios interesses econômicos, ignorando toda e qualquer contradição entre imperialismo e democracia. Atenas proibiu os estados membros de desertarem, instalou guarnições no território dos estados confederados e usou o tesouro da Liga para financiar suas obras públicas.

O declínio das cidades-estados

Embora os gregos compartilhassem a mesma língua e a mesma cultura, permaneciam politicamente divididos. A determinação de preservar a soberania da cidade-estado impedia os gregos de formarem um grupo político maior, o que poderia ter limitado as guerras que acabaram por custar à cidade-estado a sua vitalidade e independência. Mas a criação de uma união pan-helênica teria exigido uma transformação radical do caráter grego, o qual por centenas de anos considerou a cidade-estado independente como o único sistema político adequado.

A Guerra do Peloponeso

O controle de Atenas sobre a Liga de Delos assustava os espartanos e seus aliados da Liga do Peloponeso. Esparta e os estados do Peloponeso decidiram-se pela guerra porque sentiam sua independência ameaçada pela dinâmica e imperialista de Atenas, O que estava em jogo para Atenas era sua hegemonia na Liga de Delos, que lhe concedia poder político e contribuía para sua prosperidade economica. Nem Atenas nem Esparta previram as conseqüências catastróficas que a guerra traria para a civilização grega.

A guerra iniciou-se em 431 a.C. e terminou em 404 a.C. Quando Atenas, assediada, com a marinha dizimada e uma quantidade de víveres cada vez menor, finalmente rendeu-se, Esparta dissolveu a Liga de Delos e obrigou os atenienses a demolir suas altas muralhas, fortificações destinadas a proteger a cidade contra as armas de assédio.

A Guerra do Peloponeso foi a grande crise da história helênica. As cidades-

104

Page 105: 1história geral livro

estados jamais se recuperaram. As cidades-estados em litígio instituíram novos sistemas de alianças e persistiram em seus ruinosos conflitos. Enquanto as cidades gregas estavam imersas numa guerra fratricida, emergia ao norte uma nova potência, a Macedônia. Para os gregos, os macedônios, um povo selvagem das montanhas que falava um dialeto grego e adquiria um verniz de cultura helênica, pouco diferiam das outras populações não-helênicas, a quem davam o nome de bárbaros. Em 359 a.C., aos 23 anos de idade, Filipe 11(382-336 a.C.) tornou-se rei da Macedônia. Convertendo a Macedônia numa potência militar de primeira ordem, ele deu início à conquista da Grécia.

Por não avaliarem corretamente a força de Filipe, os gregos tardaram em organizar uma coalizão contra a Macedônia. Em 338 a.C., em Queronéia, Filipe infligiu contundente derrota aos gregos, e toda a Grécia passou a ser sua. As cidades-estados não deixaram de existir, mas perderam a independênciaAlexandre tomou-se rei da Macedónia aos 18 anos, após o assassinato de seu pai, Filipe II, em 336 a.C. Teve uma excelente educação ,o seu tutor foi o filósofo grego Aristóteles.. Ainda rapaz, já sonhava realizar os feitos dos heróis gregos Hércules e Aquiles, antepassados lendários da dinastia mace-dónia. Ainda bem jovem, já tinha mostrado grande habilidade para lutar no exército de seu pai..

A expansão de Alexandre

Quando morreu, Filipe II estava em vias de iniciar a invasão do império persa. Há 150 anos que os persas tinham tentado sem êxito a sua última invasão da Grécia e, durante esse período, o seu império tinha enfraquecido bastante. No entanto, o atual rei persa, Dano III, era bem mais rico do que Alexandre e podia recrutar enormes exércitos no seu vasto império, que ia do Mediterrâneo às margens do rio Indo.

A vastidão do império nem sempre era uma vantagem. Os mensageiros podiam demorar semanas a chegar de um extremo ao outro e os soldados levavam meses a chegarem das várias províncias para se juntarem ao exército real. Os exércitos persas, com um elevadíssimo número de soldados, eram muito difíceis de controlar em combate. Pelo contrário, o exército de

105

Page 106: 1história geral livro

Alexandre estava bem armado e treinado. Alexandre era um general brilhante e inspirado, enquanto que Dano era tímido e pouco imaginativo.

Em 334 a.C., Alexandre invadiu e conquistou a Anatólia, libertando as cidades costeiras gregas do jugo persa. Alexandre era generoso com as cidades e províncias que, sabendo que ele não iria aumentar os impostos nem permitir o saque por parte dos soldados, se submetiam voluntariamente ao seu poder. A cidade de Tiro, principal porto fenício, foi uma das poucas terras que se negou a render-se, Alexandre cercou a cidade durante Oito meses, até que os seus soldados conseguiram entrar na cidade.

Graças à proteção garantida com a conquista de Tiro, Alexandre pôde avançar e conquistar o Egito, em 332 a.C.. Num este templo egípcio, o oráculo revelou que ele não era filho de Filipe II, mas do próprio Zeus. Por causa dos seus êxitos, muitos acreditavam que ele era, realmente, um deus.

Em 331 a.C., Alexandre deixou o Egipto para invadir o coração do império persa. Em Gaugamela, Assíria, derrotou Dario em combate pela segunda vez, antes de se dirigir para a conquista de Babilónia. Pouco depois, Alexandre entrava em Persépolis, capital do império persa.

As ÚLTIMAS CAMPANHAS

três anos subseqüentes, o exército de Alexandre concluiu a conquista do império persa, no ano de 327 a.C.. Em seguida, Alexandre resolveu invadir o Norte da Índia. Em 326 a.C., venceu em combate um rei indiano, nas margens do rio Hidaspes. Porém, os seus soldados estavam cansados e Alexandre teve que permitir o seu regresso a casa. Nessa viagem, seguiram o curso do no Indo até ao mar Arábico, tendo, em seguida, feito uma penosa travessia do deserto, até chegarem a Babilônia, em 324 a.C.. as conquistas de Alexandre difundiram a civilização grega pela Ásia, até ao vale do Indo, junto à base dos Himalaias. Milhares e milhares de gregos emigraram para as novas cidades fundadas nas terras recém conquistadas, muitas das quais receberam o nome do conquistador. Esta época de predomínio cultural grego no Mediterrâneo e no Médio Oriente é conhecida por período helenístico (de “helenos”, que significa “gregos”)

106

Page 107: 1história geral livro

Enquanto planejava uma nova campanha na Arábia, Alexandre morreu , em 323 a.C.. por não ter Herdeiros, seu império foi dividido em reinos os reinos de maior sucesso e mais longa duração foram os fundados por Ptolomeu, no Egipto, e por Seleuco, na Síria. O mundo helenístico foi superado pelo poderio crescente de Roma. A Grécia e a Macedônia foram conquistadas em mmdos do séc. II a.C.. Os remos selêucida e ptolomaico sobreviveram ainda muito tempo, mas também caíram sob o jugo de Roma, em 30 a.C.. Os romanos admiravam a civilização grega e adotaram muitas das suas características, incluindo a arquitetura, a ciência, a literatura e a mitologia.

UNIDADE DIADTICA VI-O MUNDO ROMANO

INTRODUÇÃO

107

Page 108: 1história geral livro

De acordo com os arqueólogos, o povoamento da cidade de Roma iniciou-se no séc. X a.C., por agricultores da Idade do Ferro. A vida urbana foi-se desenvolvendo em meados do séc. VII a.C. e a cidade foi crescendo até se tornar na maior de toda a Itália. Os romanos eram apenas um dos muitos povos diferentes que viviam na península itálica naquela época. Foram dominando os seus vizinhos, através da sua habilidade política e bélica e, em meados do séc. III a.C., quase toda a Itália se encontrava sob o seu controle.

A ITÁLIA PRÉ-ROMANA

Antes do nascimento da civilização romana, o povo mais poderoso da Itália era o etrusco, originário da atual Toscânia. Por volta de 800 a.C.,já se desenvolvia a primeira civilização urbana da Europa Ocidental. Navegadores e comerciantes, tinham estabelecido estreitas relações culturais com os gregos, cujo alfabeto adotaram. Quase tudo o que se sabe dos etruscos provém dos seus túmulos, construções subterrâneas semelhantes a casas, que eram ricamente mobiliadas com objetos funerários e pintadas com cenas de banquetes.

108

Page 109: 1história geral livro

O centro da península era ocupado pelos itálicos, grupo formado por vários povos, entre os quais se contavam os latinos, os sabinos e os samnitas. Até 500 a.C., a maioria deles tinha uma organização tribal, embora entre os latinos se tivessem desenvolvido já as cidades-estado, uma das quais era Roma. Quando Roma alcançou o predomínio cultural e político da península, perderam-se os conhecimentos sobre as outras línguas e culturas italianas.

109

Lenda da criação de RomaSegundo a lenda, quando os gregos tomaram Tróia, Enéias - nascido da união do pastor Anquises com a deusa Vênus - conseguiu fugir da cidade e foi se estabelecer na península Itálica, onde desposou a filha do rei do Lácio. Oito gerações depois, seu descendente Numitor subiu ao trono de Alba Longa, a capital do reino, mas foi deposto pelo irmão, Amúlio. Para que Numitor não tivesse herdeiros, assassinaram seus filhos e fizeram de sua filha Réia Sílvia uma vestal (sacerdotisa da deusa Vesta). Réia, porém, foi fecundada por Marte, deus da guerra, e deu à luz os gêmeos Rômulo e Remo. Amúlio mandou afogá-los no Tibre, mas, miraculosamente, eles se salvaram e ...levados pela corrente até os pés do monte Palatino, foram ali amamentados por uma loba e depois recolhidos pelo pastor Fáustolo, que os educou. Quando descobriram sua origem, os gêmeos, já adolescentes, depuseram Amúlio e restituiu o trono a Numitor, seu avô. Depois, com alguns habitantes de Alba Longa, fundaram, em 21 de abril de 753 a.C., uma cidade exatamente no local onde a loba os havia encontrado. Interpretando o vôo dos pássaros como um vaticínio, Rômulo concluiu que fora designado rei da nova cidade e traçou com um arado o sulco que marcaria os limites de seu território ... Remo, indignado, cruzou a divisa e foi assassinado pelo irmão. Rômulo tornou-se, desse modo, o primeiro rei de Roma.

Page 110: 1história geral livro

A Monarquia (das origens até 509 a.C.)

Durante este período, o rei acumulava as funções executiva, judicial e religiosa, embora seus poderes fossem limitados na área legislativa, já que Senado, ou Conselho dos Anciãos, tinha o direito de veto e sanção das leis apresentadas pelo rei. A ratificação dessas leis era feita pela Assembléia ou Cúria, composta por todos os cidadãos em idade militar. Na fase final da monarquia, a partir do fim do séc. XII a.C., Roma conheceu um período de domínio etrusco, que coincidiu como início de sua expansão comercial.

110

Page 111: 1história geral livro

A sociedade durante a MonarquiaA sociedade durante a Monarquia Patrícios: cidadãos de Roma, possuidores de terra e gado, que

constituíam a aristocracia Plebeus: a maioria da população, correspondiam aos pequenos

agricultores, pastores, comerciantes e artesãos. Clientes: indivíduos subordinados a alguma família patrícia, cumpridores

de diversas obrigações econômicas, morais e religiosas. O patrício era seu patrono, um “protetor” econômico, político e jurídico; em troca os clientes seguiam as decisões políticas de seus patronos, cumprindo o obsequium (submissão política), além de dedicar jornadas de trabalho para o seu senhor. Eram, enfim, os dependentes, alguns de origem estrangeira, outros de origem plebéia que, para sobreviver, buscavam a proteção dos abastados e poderosos patrícios.

Escravos: normalmente, prisioneiros de guerra. Durante a Monarquia, o escravismo não possuiu grande significação, ganhando importância somente com a expansão do período Republicano.

Alguns elementos ricos, fora da classe patrícia, formavam a classe dos equites... Equites (cavaleiros): homens que podiam equipar-se com armas e um

cavalo (equus) e servir na cavalaria...Res Publica ou ‘coisa pública’ (509 a 27 a.C.)

Não se sabe direito se a República foi, de fato, estabelecida após um levante popular que levou à expulsão de Tarquínio, o Soberbo, ou se resultou de um lento processo evolutivo que restringiu progressivamente a autoridade monárquica em favor dos chefes das gentes. De qualquer modo, o poder passou às mãos dos patrícios, que substituíram o rei por dois cônsules eleitos anualmente. Sua função abrangia o comando do exército e a supervisão das atividades judiciárias. Além de possuir a totalidade das terras e monopolizar a vida religiosa, a aristocracia patrícia detinha o poder político: o Senado era a autoridade permanente, encarregada de controlar os magistrados, ocupantes temporários de cargos executivos. Os patrícios dominavam também a Assembléia Curiata, que perdeu gradativamente suas prerrogativas para a Assembléia Centuriata (comitia centuriata). Mas esta também era dominada pelos patrícios e equites.

111

Page 112: 1história geral livro

O principal factor da ascensão de Roma ao poder foi o seu sistema de gover-no, único naquele tempo. A cidade era governada por funcionários eleitos, chamados magistrados. Estes governavam com a ajuda do Senado, assembleia de antigos magistrados, que decidia a política do governo. Embora as classes superiores, os chamados “patrícios”, dominassem o governo, pessoas talentosas das classes inferiores, os plebeus, podiam chegar a ser magistrados ou senadores. As decisões políticas do governo eram votadas por uma assembleia formada por todos os cidadãos romanos. Embora na assembleia o sistema de votação estivesse organizado de forma a favorecer as classes mais privilegiadas, os plebeus tinham a sua própria assembleia independente e elegiam os seus próprios dirigentes, os tnbunos da plebe. Na prática, os tnbunos eram ricos e usavam o seu cargo para ascender a posições melhores. Este sistema governamental facilitou a Roma uma sólida liderança, que garantia o apoio público à política de governo e tornava os romanos um povo unido.

Patrícios e Plebeus: uma luta de classes 494 a.C. Uma multidão de plebeus armados retirou-se para o Monte

Sagrado (Aventino) e decidiu não voltar ao trabalho ou combater no exército a menos que obtivesse algumas concessões dos patrícios. Temendo um levante da plebe, o Senado concordou com a criação da Assembléia da Plebe (Concilium Plebis), que elegeria os edis e os tribunos da plebe (dois no início e dez em meados do séc. V a.C.). O tribuno podia deter, com a palavra veto (“eu proíbo”) toda ação que julgasse prejudicial à plebe. Sua pessoa era intocável e sua casa inviolável. As portas estavam abertas dia e noite a qualquer cidadão que ali fosse pedir abrigo (direito de santuário ou de asilo).

450 a.C. Uma comissão de dez homens - os decemviri -, liderados por Apio Cláudio, transformou as velhas leis romanas, baseadas nos costumes, na Lei das Doze Tábuas. O código abrangia direito privado, penal, governamental e religioso e assegurou aos plebeus paridade jurídica com os patrícios.

445 a.C. Pela Lei Canuléia foi abolida a proibição de casamentos entre patrícios e plebeus.

112

Page 113: 1história geral livro

367 a.C. Os tribunos Licínio e Sextio propuseram que os juros já pagos fossem deduzidos do principal (quantia emprestada pelo credor); que nenhum homem pudesse deter mais de 500 jugera (cerca de 120 hectares) de terra ou empregar em suas culturas mais escravos que trabalhadores livres: que um dos cônsules fosse recrutado na plebe. Durante um ano o Senado resistiu, mas acabou por acatar essas propostas, que se transformaram nas Leis Licínias.

356 a.C. A plebe teve acesso ao cargo de censor. 326 a.C. Foi abolida a lei que estabelecia o direito do credor de escravizar

seu devedor. O julgamento tornou-se obrigatório nos casos de dívidas. 300 a.C. O sacerdócio foi franqueado aos plebeus. 287 a.C. Pela Lei Hortênsia, as decisões da Assembléia da Plebe

tornaram-se obrigatórias para todos os cidadãos romanos. Esse episódio foi o último da longa disputa entre plebeus e patrícios, da qual os plebeus ricos foram os principais beneficiados. Como o acesso aos cargos públicos era muito caro, os plebeus afastavam-se deles automaticamente.

S.P.Q.R.: o Senado e o Povo RomanoNotas: mesmo nas Assembléias da Plebe, a força dos patrícios exercia-se através dos seus clientes, que votavam a seu favor.Os cônsules eram eleitos pela Assembléia Centuriata, mas seus nomes deveriam ser confirmados pelo Senado. As decisões do Senado abrangiam não só a política exterior como a administração interna. Em caso de perigo, podiam até nomear um ditador, governante com poderes absolutos.S.P.Q.R., a sigla oficial de Roma, queria dizer O Senado e O Povo Romano, como se o poder emanasse da união do Senado e do conjunto das Assembléias de cidadãos...

Roma em guerra: a expansãoRoma em guerra: a expansão

SOLDADOS E CIDADÃOS

113

Page 114: 1história geral livro

A guerra foi igualmente um factor relevante para o êxito de Roma: aos ricos, conferia prestígio e poder político; aos pobres, o saque e terras. Só os cidadãos romanos podiam lutar no exército. De início, também se exigia que fossem proprietários de terras, mas esta exigência foi abolida em 195 a.C.. Consequentemente, os romanos foram a primeira sociedade do mundo a dispor de um exército profissional.

O conceito romano de cidadania seria postenormente um factor de peso para o seu sucesso. Na Grécia, a cidadania dependia do local de nascimento e era um privilégio zelosamente conservado, sendo, por isso, reduzido o número de cidadãos. Em contrapartida, no caso dos romanos, só era exigido que vivessem em Roma. Os imigrantes eram recebidos como cidadãos e até os escravos libertados podiam adquirir a cidadania. Consequentemente, o número de cidadãos romanos cresceu com rapidez e, com isso, o número de potenciais soldados para o exército romano. Mais tarde, os romanos irão conceder a cidadania e os seus privilégios aos povos conquistados, pelo que a cidadania deixou de se limitar a quem vivia em Roma. Desta forma, os anti -gos inimigos passavam a fazer parte do sistema de governo.

A política expansionista da República romana teve inicialmente como objetivos a defesa frente a povos vizinhos e a obtenção de mais terras à agricultura e ao pastoreio, mas logo se revelou uma fonte valiosa de riquezas em metais preciosos, em escravos e tributos. Como resultado, em 5 séculos de guerras a dominação romana se estendeu a boa parte da Europa, da África e da Ásia.

EXPANSÃO ULTRAMARINA

A principal potência do Mediterrâneo ocidental era Cartago, rica cidade mercantil do Norte de Áfiica, fundada pelos fenícios. Após subjugar as antigas cidades gregas do sul da Itália, Roma enfrentou Cartago pela posse da Siciia, dando lugar às chamadas guerras púnicas (de poeni, em latim “fení-cios”). Ao ganhar a primeira guerra púnica (264-241 a.C.), Roma juntou às suas possessões a Sicília, a Sardenha e a Córsega. A guerra voltou a

114

Page 115: 1história geral livro

desencadear-se, desta vez por causa do controle da Espanha (segunda guerra púnica, 218-202 a.C.). O general AníbaI, a partir de Espanha e após atravessar a França e os Alpes, marchou sobre Roma. Contudo, apesar de uma série de vitórias, não conseguiu a rendição dos romanos. Entretanto um exército romano comandado por Cipião, o Africano, derrotou os exércitos cartagineses estacionados em Espanha e, em seguida, invadiu o Norte de Africa. Aníbal navegou de Itália para Cartago para defender a sua pátria, sendo derrotado na batalha de Zama, em 202 a.C. A própria cidade de Cartago foi invadida e destruída por Roma, em 146 a.C. Dominando agora o Mediterrâneo ocidental, sem competidores, Roma resolveu alargar a sua influência para o oriente. A Grécia, que em 197 a.C. tinha sido invadida paa~a vingar o apoio dado por Filipe Vda Macedónia a Cartago durante as guerras púnicas, tomou-se uma província de Roma em 146 a.C.. Em 133 a.C., Roma adquire a sua primeira possessão na Asia, quando oúltimo rei de Pérgamo deixa em testamento a cidade aos romanos. A pouco e pouco, Roma foi conquistando todos os remos fundados pelos sucessores de Alexandre Magno (vide pág. 48). Em 30 a.C., o último de todos, o Egipto, cai sob o controle directo de Roma, que passou a dominar todo o Mediterrâneo e o Médio Oriente.

Fim da República romanaFim da República romanaRoma crescera, tornara-se um império mundial. As instituições concebidas para o autogoverno de uma sociedade de pequenos proprietários agrícolas não funcionavam mais.As guerras constantes e o crescente número de escravos aumentavam a miséria dos pequenos agricultores e da plebe. As tentativas de reforma dos irmãos Tibério (133 a.C.) e Caio Graco (123 a.C.), fracassaram... Entre os anos 136 e 132 a.C., 200 mil escravos levantaram-se em armas. Chegaram a dominar a Sicília mas no final foram vencidos e duramente reprimidos pelas legiões romanas...Décadas mais tarde, entre 73 e 71 a.C., ocorreu a mais famosa rebelião de escravos da história romana, que mobilizou 80 mil escravos liderados pelo

115

Page 116: 1história geral livro

gladiador Spartacus. Após uma série de vitórias, os revoltosos foram vencidos e impiedosamente castigados.

Ditaduras e Triunviratos...Num clima de crescente instabilidade e crise generalizada, diversos chefes militares passaram a disputar o poder. Roma conheceu os governos autoritários dos generais Mário e Sila. Este último derrotou Mário e se tornou ditador vitalício, mas abdicou em 79 a.C., abrindo caminho para os triunviratos.O Primeiro Triunvirato (governo de três pessoas) foi composto por três políticos de prestígio: Pompeu, Crasso e Júlio César. Em 53 a.C., com a morte de Crasso, os senadores aproximaram-se de Pompeu e afastaram César do governo...

Alea jacta est (“A sorte está lançada”)A guerra civil desencadeada por essa crise permitiu a Júlio César e suas legiões a tomada do poder. O Senado não teve outra escolha senão conferir a César o título de Ditador Vitalício (46 a.C.)César assumiu os poderes de cônsul, tribuno, sumo sacerdote e supremo comandante do exército. Promoveu uma reforma político-administrativa, distribuiu terras entre os soldados, impulsionou a colonização das províncias, construiu obras públicas e reformulou o calendário...

“Até tu, Brutus...”Mas seus poderes despertaram a oposição de alguns senadores, que tramaram a sua morte. Em 44 a.C., o ditador foi assassinado, em pleno Senado, por uma conspiração liderada por Brutus e Cássio.Sua morte gerou uma grande revolta da população e nova guerra civil, fato habilmente explorado por Marco Antônio, um dos fortes generais de Júlio César que, juntamente com Otávio e Lépido, formou o Segundo Triunvirato.

O Segundo TriunviratoO Segundo TriunviratoApós eliminarem os opositores de César, os novos triúnviros iniciaram suas disputas internas. Otávio, aproveitando-se da ausência de Marco Antônio, que se encontrava no Egito, tentou ampliar seus poderes. Desconsiderou Lépido e

116

Page 117: 1história geral livro

declarou guerra Marco Antônio, o qual foi derrotado na batalha naval de Actium, em 31 a.C.Em seguida Otávio recebeu do Senado o título de princeps (primeiro cidadão), primeira etapa para obter o título de imperador (o supremo). Otávio tornou-se progressivamente senhor absoluto de Roma, recebendo, além dos dois títulos, o de Augustus (o divino), até então inédito entre os governantes romano. O ano: 27 a.C.

O FIM DA REPÚBLICA

A rápida expansão ultramarina enriqueceu Roma, mas, por outro lado, debilitou o seu sistema republicano de governo. A corrupção aumentou com os funcionários a tentarem enriquecer à custa das províncias. A expansão resultou num enorme fluxo de escravos para Itália, pelo que muitos romanos pobres perdiam o trabalho e as suas terras. O tribuno libério Graco, que tentou introduzir reformas no sistema, foi assassinado (113 a.C.).

Os generais ambiciosos queriam conquistar cada vez mais províncias para ennquecerem à custa dos despojos de guerra. Podiam, assim, utilizar as suas riquezas para comprar o apoio dos seus soldados, se quisessem conquistar o poder na metrópole. Esperava-se que oferecessem terras aos seus soldados quando eles deixassem o exército. Em breve se desencadearam guerras civis entre vários generais rivais e, em 44 a.C. , Júlio César, o general triunfante, derrotou os outros generais. Uma vez no poder, aboliu a república e instaurou a ditadura em Roma. Os republicanos, assustados, acabaram por assassiná-lo.

A morte de César desencadeou uma nova guerra civil, vencida pelo seu jovem sobrinho, Octávio. Em 31 a.C., este toma-se governante único de Roma e das suas províncias. Introduz uma nova forma de governo em 27 a.C., toma o nome de Augusto, “o venerado” e torna-se o comandante-chefe do exército, podendo ditar leis e recusar as decisões do Senado. Embora o seu título oficial fosse princeps (“primeiro cidadão”), Unha, na realidade, o poder de um rei. O governo de Octávio César Augusto restaurou a paz e a estabilidade no império romano. Sucedeu-lhe, em 14 d.C., o seu enteado

117

Page 118: 1história geral livro

Tibério. Este, como todos os governantes de Roma que lhe sucederam, utilizou o título de imperator (“comandante”), origem da palavra imperador

O Império Romano (27a.C. - 476)O Alto Império (27 a.C. - 235): a Pax Romana

Sob a orientação de Augusto, foi abandonada a política agressiva de conquistas e aperfeiçoada a administração das províncias. Esse novo curso contribuiu para que o império vivesse um período de tranqüilidade sem precedentes, que se tornou conhecido como pax romana, a paz romana, e se estendeu pelos dois primeiros séculos da era cristã. Roma atingiu o apogeu, ingressou num período de paz, prosperidade, estabilidade político-social e grandes realizações intelectuais: não por acaso, o primeiro século da era cristã ficou conhecido como “século de Augusto”.

Panem et circencesPanem et circencesProcurando reduzir as tensões sociais, Augusto promoveu a aliança entre a nobreza e os cavaleiros e apaziguou a plebe romana com a famosa política de “pão e circo”. Até hoje utilizada por vários governos (entre eles o do nosso país), esta política consistia na distribuição de trigo para a população carente associada à organização de grandes espetáculos públicos.Após a morte de Otávio Augusto, em 14 da era cristã, sucederam-se quatro dinastias de imperadores.

118

Page 119: 1história geral livro

A crise do Império RomanoO Baixo Império (séc.III a V)Um dos grandes orgulhos da Roma Imperial era a rapidez e eficiência de seus transportes. Navios de três cobertas transportavam de 250 a 1000 t de mercadorias. A uma velocidade média de 5 nós (cerca de 9 km/h), com ventos favoráveis, embarcações levando o máximo de carga percorriam 220 km por dia. Em quatro dias, ia-se de Óstia a Tarragona, na Espanha; em dois dias chegava-se em Cartago; em três, em Marselha; em nove dias atingia-se Alexandria, no Egito. De março a outubro, os mares eram cruzados por navios abarrotados de mercadorias destinadas a Roma e outras cidades italianas...

Um gigante com pés de barro...Alimentada pela própria expansão imperial, Roma tornava-se uma cidade exclusivamente consumidora. A mão-de-obra livre, necessária para arar a terra, para fazer funcionar a indústria e o comércio, era muito cara. E, devido aos longos decênios de paz e a derrota da pirataria, eram reduzidas as possibilidades de se conseguir escravos. O resultado é que os campos romanos retraíram-se: era mais conveniente deixar ao léu os latifúndios do

119

Page 120: 1história geral livro

que empregar dinheiro no pagamento dos trabalhadores da terra. Quanto aos produtos industriais, as províncias que se encarregassem de produzi-los, e os navios e caravanas de carros que tratassem de fazê-los chegar a Roma...

Mais gastos... mais impostos...Essa situação não poderia durar eternamente. A crise econômica instalada na Itália, centro nervoso do império, aos poucos iria se alastrando implacavelmente por todos os seus domínios.Para guarnecer as fronteiras e conservar o controle das províncias, os governos foram obrigados a manter grandes contigentes militares, o que gerou enormes despesas para o Estado. O desequilíbrio entre a receita e a despesa pública provocou a desvalorização da moeda, a alta dos preços e um violento processo inflacionário.

A crise do escravismo e o colonato...A crise se acentuou graças ao colapso do escravismo e sua gradual substituição pelo sistema de colonato: pessoas empobrecidas do campo e das cidades procuravam os grandes proprietários rurais e em troca de sobrevivência e proteção passavam a trabalhar em suas terras como colonos, numa prestação de serviços de vida inteira e hereditária, sem jamais poder deixar o lote recebido. Muitos proprietários preferiam libertar seus escravos – um luxo cada vez mais caro – e transformá-los em colonos, arrendando-lhes parte da terra. Ao mesmo tempo, as cidades se despovoavam, o comércio decaía, os metais preciosos escasseavam: receber salário em moeda tornava-se um sonho quase impossível.Crise político-administrativa...No plano político, as sucessivas lutas pelo poder entre os chefes militares e o Senado minaram a coesão político-militar do exército que, desarticulado, não conseguiu conter a pressão dos grupos bárbaros sobre as fronteiras.

Dividir para governar...Na busca de uma saída para a crise, o imperador Diocleciano introduziu uma reforma conhecida como tetrarquia. Haveria dois co-imperadores, os Augustos, que governariam as metades oriental e ocidental do Império Romano. Cada um teria seu auxiliar direto, que receberia o título de César e

120

Page 121: 1história geral livro

mais tarde se tornaria co-imperador. Na prática, era a divisão do império em duas porções diferenciadas: a ocidental, cada vez mais pobre, e a oriental, ainda viável...A divisão torna-se inevitável...O imperador Constantino, sucessor de Diocleciano, restabeleceu a unidade imperial. Mas, consciente de que a força do Império dependia cada vez mais das províncias do Oriente, estabeleceu em 330 sua capital na cidade de Constantinopla (atual Istambul, na Turquia), fundada por ele no estreito de Bósforo, limite entre a Europa e a Ásia, onde já existia a antiga colônia grega de Bizâncio.

Migrações e invasões...No século V tiveram início as chamadas grandes migrações dos povos bárbaros. Pressionados pelos hunos, os grupos germânicos dos godos e visigodos cruzaram as fronteiras do Danúbio e se estabeleceram no território do Império. De início, a penetração ocorreu pacificamente. Em 378, porém, a cavalaria dos visigodos esmagou as tropas imperiais na batalha de Adrianópolis...

“...Foi conquistada, essa cidade que conquistara o universo” (S. Jerónimo)O imperador Teodósio conseguiu pacificar os visigodos, cedendo-lhes territórios e colocando-os a serviço da defesa do Império. Sua última medida, no ano 395, foi a divisão do Império Romano em Império do Oriente, com capital em Constantinopla, e Império do Ocidente, com capital em Milão. Cem anos depois, o Império do Oriente se mantinha centralizado e forte, enquanto o Império do Ocidente – ruralizado, fragmentado em regiões política e economicamente isoladas, devastado por sucessivas invasões – desde 476 não existia mais. O imperialismo romano e as guerras civis internas foram responsáveis

pela ampliação do aparelho militar e burocrático, bem como pela instabilidade política. As sucessivas lutas pelo poder geraram corrupção, descontrole político, queda de valores tradicionais, desencadeando uma séria crise moral. No século III impôs-se a anarquia militar: as legiões entronavam e destronavam imperadores segundo interesses imediatos (de

121

Page 122: 1história geral livro

211 a 284, por exemplo, sucederam-se cerca de vinte Imperadores). Os soldados, que gozavam de grande prestígio, apoiavam irrestritamente os generais, que se apossavam, mesmo que por curtos períodos, de regiões provinciais, o que contribuía para o acirramento da crise.

A crise do escravismo, ocasionada pelo fim das guerras de conquistas e que fez escassear o número de prisioneiros, tornou-se um obstáculo à produção, baseada fundamentalmente na escravidão. Os proprietários foram então obrigados a arrendar suas terras a camponeses, que se sujeitavam a pagar quaisquer tributos que lhes fossem cobrados. Substituía-se o escravismo pela servidão rural.

O crescimento do cristianismo foi outro fator de desagregação do Império, pois se opunha à estrutura militar e escravocrata, sustentáculo do Império Romano.

A crise econômica, advinda da crise escravista, resultou na diminuição de receitas para cobrir os gastos com a manutenção da burocracia e do exército. Ao lado disso, houve uma nítida diminuição de áreas cultivadas, devido à falta de mão-de-obra, o que veio a encarecer os produtos. Ao mesmo tempo, o Estado desvalorizava a moeda, devido à diminuição de metais nobres, como ouro e prata, único meio de que dispunha para saldar seus compromissos. Houve, em conseqüência, uma inflação crescente, que resultou num caos monetário, no início do século III, e que acelerou a decadência econômica.

A volta para uma economia rural de subsistência fez com que a população rural se isolasse em vilas auto-suficientes e autônomas, para poder enfrentar a crise geral do Império.

Finalmente, as invasões bárbaras minaram as forças imperiais, já agonizantes, tomando pouco a pouco seus territórios e pondo fim ao Império Romano em 476.

O Cristianismo“Eu vos dou um novo mandamento: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei, para vós também mutuamente vos ameis...”

O Cristianismo surgiu na Galiléia, região conquistada e anexada pelos romanos em 40 a.C. Segundo os Evangelhos, baseava-se nos ensinamentos de

122

Page 123: 1história geral livro

Jesus, que nasceu em Belém de Judá durante o governo de Otávio Augusto (27 a.C. a 14 d.C.). Segundo a tradição judaica, anunciado pelos profetas, havia nascido o Messias, para anunciar o reino dos justos e a salvação da humanidade.Aos 30 anos, Jesus iniciou suas pregações e recrutou um grupo de seguidores, os apóstolos...

“Bem-aventurados os pobres: porque deles é o reino dos Céus...”

Suas palavras e atitudes desafiavam tanto a elite religiosa judaica quanto as autoridades romanos na Palestina ocupada. Embora Jesus afirmasse que o Reino de seu Pai não era desse mundo, foi visto como um rebelde e condenado à morte na cruz.Graças ao trabalho de seus seguidores, o cristianismo difundiu-se pelo Império Romano. Era uma religião das camadas populares, uma palavra de esperança para aqueles que, desalentados pela opressão e pelo sofrimento, esperavam a salvação após a morte...

“Bem-aventurados os que padecem perseguição por amor da justiça: porque deles é o Reino dos Céus.”

Durante o governo de Nero iniciou-se a perseguição aos cristãos, acusados de não cultuar os deuses romanos. Também lhes eram atribuídas a responsabilidade pelas calamidades e crises que se abatiam sobre o Império. A partir do séc. III, a intensificação dos problemas econômicos-sociais do mundo romano fez aumentar o número de adeptos do cristianismo.

123

Page 124: 1história geral livro

“... Escravos, obedecei ao vossos amos... com temor e respeito, e toda a retidão do coração, como a Cristo...” (S. Paulo, “Espítola aos Efesos)

Durante 250 anos os cristãos sofreram inúmeras perseguições até que, em 3l3, o Imperador Constantino publicou o Edito de Milão, que concedeu liberdade de culto a todas as pessoas. Mais tarde, no governo Teodósio, o cristianismo se tornou religião oficial do Estado...

“Se alguém ousar fazer dessas oferendas que, embora de pouco valor, fazem... injúria à religião (cristã), esse indivíduo, como culpado de violar a religião, será despojado da casa ou da propriedade onde se verifique que ele praticou alguma superstição gentílica.” (Edito imperial de 392, iniciando a perseguição aos pagãos.)

124

Page 125: 1história geral livro

UNIDADE DIDÁTICA VII - A IDADE MÉDIA NO ORIENTE

INTRODUÇÃO

Das ruínas do Império Romano surgiram três novas civilizações baseadas na religião: Bizâncio, o Islã e a Medieval. O Império Bizantino Nasceu na crise do Século III, deixou uma herança muito rica em r influencio a formação da religião do leste Europeu. Bizâncio com seu estivo de vida e divulgação da cultura foi o sustentáculo da cultura ocidental, quando os bárbaros invadiram a Europa. Por outro lado o Islã surgido no quintal do Império Bizantino se tornou em uma das mais importantes religiões do Mundo, com milhares de seguidores.

O Império Bizantino e o Oreinte medieval

O INICIO DE BIZÂNCIO

Império Romano, cujas bases Constantino estabeleceu em Constaninopla, sobreviveu a ele por 1.100 anos. Seus governantes sempre se consideraram “romanos”, como os inimigos em geral os chamavam. Presidiam metade da cristandade: o mundo cristão do Mediterrâneo e do Novo Oriente. Primeiro ocorrera a lenta mudança das preocupações do governo para o leste no século III d.C. e as grandes decisões de Constantino de que o império deveria ser cristão e que uma nova capital deveria ser construída no Bósforo, em Bizâncio. A primeira preocupação ajudou a tornar mais importante o leste e as províncias do império que falavam grego: elas abrigavam as maiores comunidades cristãs. A segunda fala por si mesma: o colapso do Império

125

Page 126: 1história geral livro

Ocidental no século V foi o próximo passo óbvio rumo à separação; depois disto não haveria mais retorno.

A construção do Império

Embora o Império Romano do Ocidente tivesse caído diante das tribos germânicas, as províncias do Oriente sobreviveram — por serem mais ricas, urbanizadas e populosas, e porque os invasores germânicos e hunos visavam principalmente ao oeste. Nas regiões orientais tomou forma a civilização bizantina. Sua religião era cristã; a língua e a cultura, gregas; e a máquina administrativa, romana. A capital, Constantinopla, era uma cidade fortificada, cuja localização dificultava ataques por mar e terra.Durante a Alta Idade Média, a civilização bizantina encontrava-se econômica e culturalmente muito mais adiantada que o Ocidente latino. Numa época em que poucos ocidentais (cristãos latinos) sabiam ler ou escrever, os eruditos bizantinos estudavam a literatura, filosofia, ciência e direito da Grécia e Roma antigas. Enquanto o comércio e a vida urbana haviam sofrido uma grande regressão no Ocidente, Constantinopla era uma cidade magnífica, com escolas, bibliotecas, praças abertas e mercados cheios. Com o passar dos séculos, desenvolveram-se muitas diferenças entre a Igreja bizantina e a Igreja romana. O papa resistia às tentativas de domínio do imperador bizantino, e os bizantinos não queriam aceitar o papa como o chefe de todos os cristãos. As duas igrejas discordavam em relação às cerimônias, dias santificados, adoração de imagens e direitos do clero. O rompimento final ocorreu em 1504. A Igreja cristã dividiu-se em Católica Romana, no Ocidente, e Ortodoxa Oriental (grega), no Oriente — divisão existente até hoje. Divergências políticas e culturais ampliaram a separação entre a cristandade latina e Bizâncio. No Império Bizantino, o grego era a língua da religião e da vida intelectual; na cristandade latina, predominava o latim. Os cristãos latinos recusavam-se a reconhecer os imperadores bizantinos como sucessores dos imperadores romanos. Os governantes bizantinos tinham poder absoluto e declaravam-se escolhidos por Deus para instituir a vontade divina na Terra. Em bizancio surgiu uma forma peculiar de governo o Cesaropapismo, onde o Impérador “ Basileu”, exercia o poder temporal e expiritual e que como

126

Page 127: 1história geral livro

sucessores dos imperadores romanos, reivindicavam domínio sobre todas as regiões que haviam pertencido ao Império Romano. Em seu apogeu, sob o governo do imperador Justiniano, o Império Bizantino incluía a Grécia, Asia Menor, Itália, sul da Espanha e partes do Oriente Próximo, África do Norte e Bálcãs. Ao longo dos séculos, os bi-zantinos sofreram ataques dos lombardos e visigodos germânicos, dos persas, árabes muçulmanos, turcos seljúcidas e cristãos latinos. O golpe mortal sobre o império foi desferido pelos turcos otomanos, originários da Asia central, que haviam adotado o islamismo como religião e iniciado a construção de um império. Eles avançaram sobre os bizantinos a partir da Ásia Menor e conquistaram grande parte dos Bá1cãs. Por volta do início do século XV, o Império Bizantino consistia apenas em dois pequenos territórios na Grécia e a cidade de Constantinopla. Em 1453, os turcos otomanos venceram as grandes muralhas de Constantinopla e saquearam a cidade. Depois de mais de dez séculos, o Império Bizantino chegava ao fim.Em sua história de mil anos, Bizâncio deixou uma marca significativa na his-tória do mundo. Primeiro, impediu que os árabes muçulmanos avançassem sobre a Europa ocidental. Se os árabes tivessem rompido as defesas bizantinas, grande parte da Europa poderia ter sido convertida à nova fé islâmica. Outro fato importante foi a codificação das leis da Roma antiga, durante o governo de Justiniano. Essa realização monumental, o CorpusJuris Civilis, preservou os princípios da razão e da justiça do direito romano. Os códigos jurídicos de hoje têm, em grande parte da Europa e da América Latina, raízes no direito romano preservado pelos juristas de Justiniano. Os bizantinos conservaram também a filosofia, ciência, matemática e literatura da Grécia antiga.

JUSTINIANO, O GRANDE

Justiniano (527-565), mais do que qualquer outro governante, foi o responsável pelo estabelecimento das formas definitivas do estilo da sociedade bizantina que Diocleciano e Constantino haviam fundado. A sua personalidade e o seu estilo de governo inspiraram e permitiram as grandes realizações levadas a cabo durante o seu longo reinado. Neste ponto de vista,

127

Page 128: 1história geral livro

o papel que desempenhou na história do seu tempo foi muito relevante. De origem camponesa, Justiniano recebeu, no entanto, excelente educação. No auge econômico do Império Justiniano decidiu reconstituir territorialmente o império, unificar as facções que dividiam a Igreja Cristã. Deste planejamento inesgotável de Justiniano (os súbditos chamavam-lhe o imperador que não dorme), decorreu a reconquista da maior parte do antigo território do antigo Império Romano do Ocidente. A sua esposa, a Imperatriz Teodora, era, talvez, de origem ainda mais modesta , todos afirmam que era de forte personalidade, não há dúvida que exercia certa influência sobre o imperador.. A sua atitude mais decisiva talvez tenha sido a intervenção no Conselho da corte quando este quis persuadir o imperador a abandonar Constantinopla durante a rebelião de Nika (532). Se Justiniano se tivesse decidido a partir, o seu reinado terminaria antes de concluídas as obras que o tornaram famoso.

Corte de jutiniano

As facções dos Azuis e Verdes do circo, que se

envolveram em desordem em Janeiro de 532, exerciam uma atividade de longa data familiar aos habitantes das cidades do império. Nos séculos IV e V a competição das duas mais importantes equipes do Hipódromo (Azuis e Verdes) tornou-se tão violenta que era acompanhada de arruaças. Embora as facções se guerreassem normalmente umas às outras, juntaram forças contra Justiniano e quase o depuseram durante a grande revolta de Nika,( que quer dizer vitória em grego), em 532. Foi durante estes acontecimentos que

128

Page 129: 1história geral livro

Teodora salvou o trono de Justiniano, forçando-o a lutar até ao fim. A rebelião, que destruiu uma grande parte do centro da cidade, foi finalmente sufocada num banho de sangue.(Teodosia)

As revoltas de Nika marcam um momento de virada no reinado de Justiniano. Depois de as haver sufocado, iniciou a conquista do Ocidente e a reconstrução da cidade, ao acabamento da codificação das leis. Apesar do colapso imperial no Ocidente ter sido completo, existiam certas condições favoráveis à reconquista bizantina. Para as populações o imperador de Constantinopla representava a personificação das instituições religiosas e da justiça. A invasão bizantina da península itálica foi grandemente facilitada pela

conjuntura política em que esta se encontrava. A invasão da Sicília em 535 marcou o início da reconquista da Itália, que durararia mais de duas décadas e devastaria a península. A dificuldade da campanha foram devidas à escassez dos braços e dos recursos financeiros que Justiniano pusera à disposição do general Belizário, seu chefe da campanha na Itália. A fraqueza das tropas de Belisário permitiu aos Godos manter uma demorada resistência e, freqüentemente, reconquistar terras e cidades aos bizantinos (Roma mudou de mãos cinco vezes). Explorando o isolamento diplomático dos seus inimigos no Ocidente, e

129

Page 130: 1história geral livro

assumindo uma atitude defensiva no Oriente, Justiniano conseguiu converter, mais uma vez, o Mediterrâneo em lago imperial e dar ao seu nome um brilho temporário, mercê da destruição dos reinos bárbaros. As concepções imperiais e cristãs levaram-no, além da ação política da reconquista, ao enorme embelezamento arquitetônico e artístico do império. A arte bizantina deveu muito ao gosto heleno-oriental da Anatólia, Síria e Egito, mas a obra resultante destes elementos não foi de modo algum uma copia.

A centralização e a Cidade de Constantinopla A centralização política, econômica e religiosa do império em Constantinopla foram decisivas para a arte bizantina, e o aparecimento de um monarca inspirado, servido que os arquitetos e artistas tivessem possibilidade de construir grandes monumentos e criou as condições favoráveis ao seu apogeu. De Constantinopla saiam, para as províncias, não só arquitetos mas também plantas de igrejas, de edifícios civis, de fortificações. A influência de Constantinopla estende-se aos mínimos detalhes. Constantinopla crescera tão rapidamente depois de 330 que, no século V, tiveram de ser construídas novas muralhas do lado da terra para proteger a metrópole, tão grandemente aumentada. Como os distúrbios de 532 haviam devastado grandes setores do bairro vizinho do palácio, incluindo Santa Sofia e os edifícios do Senado, Justiniano resolveu reconstruir a igreja magnificamente, para o que adquiriu as casas que tinham ficado de pé, para demolição. A nova igreja de Santa Sofia é o edifício mais significativo da arquitetura religiosa da Europa Ocidental e do Oriente Próximo. A evolução realizada durante os três séculos que decorreram da coroação de Diocleciano à morte de Justiniano suscitou mudanças dramáticas na sociedade mediterrânica. As instituições nascidas desta evolução conquistaram uniformidade política e econômica, mas, apesar dos esforços de Justiniano, não conseguiram alcançar homogeneidade religiosa e cultural.

A religião e o Estado

As principais características de Bizâncio foram o papel e o estilo especiais em relação à cristandade. O império se tornara ,segundo a ótica cristã, parte da engrenagem de salvação da humanidade, e isto se refletia em todas as suas

130

Page 131: 1história geral livro

realizações. Justiniano usou o cristianismo e os homens da Igreja como um ramo da diplomacia, servindo de padrinho de batismo para os filhos de príncipes bárbaros e mandando missionários para converter outros. A essência religiosa não mudou: permaneceu cristã, e isto de um modo especial, dentro da tradição chamada de ortodoxa. Desta tradição derivam não apenas as Igrejas atuais da Grécia e de Chipre, mas também as da Rússia, da Bulgária e de algumas outras terras eslavas. Em resumo, a “ortodoxia” foi em muitos aspectos diferente da cristandade católica que dominaria a Europa Ocidental. Nenhum clérigo ortodoxo tinha autoridade comparável à do Papa romano, por exemplo; o Patriarca de Constantinopla, reconhecido líder da Igreja oriental desde o século VII, era na verdade indicado pelo imperador e, em contrapartida, dava a bênção da Igreja à coroação Imperial. Os clérigos paroquiais comuns muitas vezes se casavam, embora o clero da Igreja ocidental viesse a ser celibatário, o que significava que os sacerdotes não constituíam uma sociedade à pane nos países ortodoxos, como na Europa Oci-dental.

A tradição ortodoxa grega também teve de lutar contra a disputa e o debate teológico em maior grau do que a Igreja Romana dos primeiros séculos. Isto em parte reflete a presença de diferentes tradições religiosas dentro do velho mundo helenístico. Constantinopla, Jerusalém, Antioquia e Alexandria, os quatros grandes “patriarcados” (ou bispados principais), todos representavam interesses locais e tradições culturais.

IsIã

A segunda civilização a emergir depois da queda de Roma baseava-se na nova e vigorosa religião do Islã, surgida no século VII na Arábia. Seu fundador foi Maomé (c. 570-632), um próspero mercador da cidade de Meca. Por volta de 40 anos de idade, Maomé acreditou ter sido visitado pelo anjo Gabriel, que lhe ordenou “recitar no nome do Senhor!”. Transformado por essa visão, Maomé convenceu-se de que fora escolhido para servir como profeta. Embora a maioria dos árabes do deserto venerassem deuses tribais, nas cidades e nos centros comerciais grande parte da população tomara conhecimento do judaísmo e do cristianismo, e alguns árabes já aceitavam a

131

Page 132: 1história geral livro

idéia de um Deus único. Rejeitando as divindades das religiões tribais, Maomé ofereceu aos árabes uma nova fé monoteísta, o Islã, que significa “render-se a Ala (Deus)”. Os padrões islâmicos de moralidade e as normas que regulam a vida cotidiana são fixados pelo Alcorão, que os muçulmanos acreditam conter a palavra de Ala, tal como revelada a Maomé. Para os muçulmanos, sua religião é a conclusão e o aperfeiçoamento do judaísmo e do cristianismo. Consideram os antigos profetas hebreus como mensageiros de Deus e valorizam sua mensagem de compaixão e a igualdade dos seres humanos. Também reconhecem Jesus como um grande profeta, mas não o consideram divino. Para eles, Maomé foi o último e maior dos profetas, mas era totalmente humano. Cultuam apenas a Alá, o criador e soberano do céu e da terra: Deus único e todo-poderoso, misericordioso, compassivo e justo. De acordo com o Alcorão, no Dia do Juízo os incrédulos e os iníquos serão arrastados a um lugar terrível de “ventos abrasadores e água escaldante” e os “pecadores comerão fruto amargo (...) beberão água fervente” ‘. Aos muçulmanos fiéis que vivem na virtude é prometidos o paraíso, um jardim de prazeres carnais e deleites espirituais. Em pouco mais de duas décadas, Maomé unificou as tribos árabes, envolvidas em constantes disputas, numa força poderosa dedicada a Má e à difusão da fé islâmica. Após sua morte, em 632, Maomé foi sucedido por seu amigo e sogro Abu Bakr, que se tornou califa. Considerado como o defensor da fé, cujo poder derivava de Alá o califa governava segundo a lei muçulmana, tal como definida no Alcorão. O Estado islâmico era uma teocracia, em que governo e religião eram inseparáveis; não podia haver nenhuma distinção entre autoridade secular e espiritual. Para os muçulmanos, Deus era a fonte de toda a autoridade legal e política, e o califa era seu representante na terra. A lei divina regulava todos os aspectos das relações humanas. O governante que não aplicasse a lei do Alcorão, falhava no cumprimento de suas obrigações. O islamismo era, portanto, mais que uma religião; constituía também um sistema de governo, sociedade e lei que, segundo acreditavam os muçulmanos, unia todos os seus adeptos numa única e abrangente comunidade. A idéia de uma sociedade governada pela lei do Alcorão permaneceu profundamente arraigada no espírito muçulmano.

132

Page 133: 1história geral livro

O Islã propiciou às tribos árabes unidade, disciplina e organização para vencerem suas guerras de conquista. Sob os quatro primeiros califas, que governaram de 632 a 661, os árabes rapidamente dominaram o Império Persa, tomaram algumas províncias de Bizâncio e invadiram a Europa. Os guerreiros muçulmanos acreditavam estar envolvida numa guerra santa (jihad), cuja finalidade era propagar o islamismo aos infiéis, e aqueles que morressem nessa guerra tinham um lugar garantido no paraíso. Outra razão que contribuiu para a expansão foi desejo de fugir à aridez do deserto árabe e explorar as prósperas terras bizantinas e persas. No leste, o território islâmico estendeu-se até a Índia e as fronteiras da China; no oeste, incorporou a África do Norte e a maior parte da Espanha. Nos séculos VIII e IX, sob os califas abássidas, a civilização muçulmana entrou na sua idade de ouro. Ela sintetizou, criativamente, as tradições culturais árabe, bizantina, persa e indiana. Durante a Alta Idade Média, quando o conhecimento estava em decadência na Europa ocidental, os muçulmanos forjaram uma civilização superior. A ciência, a filosofia e a matemática muçulmanas basearam-se, em grande parte, nas realizações dos gregos antigos. Os árabes adquiriram o conhecimento grego através das civilizações persa e bizantina, mais antigas, que mantiveram vivo o legado helênico. Traduzindo as obras gregas para o árabe e comentando-as, os eruditos muçulmanos realizaram a grande tarefa histórica de preservar a herança filosófica e científica da Grécia antiga. O conhecimento grego, suplementado pelas contribuições originais dos intelectuais e cientistas muçulmanos, foi então transferido à Europa cristã. O império árabe, estendendo-se desde a Espanha até a Índia, foi unificado por uma língua, uma fé e uma cultura comuns. Por volta do século XI, no entanto, os árabes começaram a perder seu domínio no mundo islâmico. Os turcos seljúcidas, que haviam tomado a Asia Menor dos bizantinos, conquistaram também os territórios árabes da Síria, Palestina e grande parte da Pérsia. Embora os califas abássidas tenham permanecido como líderes religiosos e culturais do Islã, o poder político passou a ser exercido pelos sultões seljúcidas. Nos séculos XI e XII, os muçulmanos perderam a Sicília e a maior parte da Espanha para os cavaleiros cristãos, e os cruzados europeus estabeleceram remos no Oriente Próximo. O Império Otomano atingiu seu apogeu no século XVI, com a conquista

133

Page 134: 1história geral livro

do Egito, África do Norte, Síria e litoral da Arábia. Os otomanos desenvolveram um sistema de administração eficiente, mas não conseguiram restaurar o esplendor cultural, o comércio florescente e nem tampouco a prosperidade que o mundo muçulmano conhecera sob o governo dos califas abássidas de Bagdá.

134

Page 135: 1história geral livro

UNIDADE DIDÁTICA VIII

A ALTA IDADE MÉDIA

INTRODUÇÃO

Separadas do Oriente, as províncics ocidentais do Império Romano, menos ricas, pior governadas, enfraquecidas pelas questões sociais e as dificuldades econômicas, abandonadas de agora em diante a seus próprios recursos e as suas próprias defesas, sofrem, ao longo de todo o século V, os repetidos assaltos dos bárbaros vindos do leste e do norte. O choque continuo, por vezes dramático, entre os povos romanos e os novos invasores provoca o que se chama a desintegração do Império romano. Esta desintegração, de fato, é somente um longo período de ajustamento a novos equilíbrios étnicos a outras estruturas políticas e sociais.

Migrações e invasões

As transformações ocasionadas pelas invasões bárbaras dizem respeito somente ao Ocidente: o Império romano se mantém no Oriente. Constantinopla permanece a capital de um mundo romano, por muito tempo, solidamente ligado a todas as tradições, à administração, ao direito, às hierarquias.

As invasões bárbaras dessa época desempenharam um papel determinante na evolução do mundo ocidental. Toda a história da Europa permanece seriamente marcada pelos ataques de povos hostis, que, constantemente, retornavam à carga pelos mesmos caminhos. Após um curto intervalo, no tempo dos primeiros carolíngios, os escandinavos retomaram, no século IX, as rotas seguidas quatrocentos anos antes pelos conquistadores saxões, pelos piratas da Frísia em direção à Inglaterra, às costas francesas do mar do Norte e da Mancha. No sul, na mesma época, os muçulmanos, como outrora os vândalos de Genserico, retêm o Mediterrâneo ocidental, as ilhas e as regiões do trigo. A leste, apesar das poderosas contra-ofensivas da cristandade, as vagas se sucedem quase ininterruptamente, ao longo de toda a Idade Média;

135

Page 136: 1história geral livro

aos germanos se sucedem primeiramente os eslavos, os húngaros e depois todos os povos turcos provenientes da Ásia Central.Além disso, essas incursões em direção ao Ocidente são apenas um aspecto. o menos importante sem dúvida, das grandes migrações de cavaleiros nômades da Ásia Central, que, no mesmo período, do século V ao XV, atacam ininterruptamente o Império chinês, onde, de 1260 a 1368, impuseram a dinastia mongol dos Yuan.

ORIGENS DAS MIGRAÇÕES

Não se pode, de um modo seguro, atribuir exclusivamente nem a uma degradação climática que tivesse afastado os pastores das planícies mais elevadas em direção a terras melhores, nem uma expansão demográfica, nem mesmo estruturas sociais particulares que provocassem a emigração de numerosos membros do clã em busca melhor qualidade de vida.

Para o romano, o bárbaro é antes de tudo um soldado. Freqüentemente atribuiu-se o êxito das invasões a uma indiscutível superioridade militar: cavalaria mais leve e rápida, domínio absoluto da então difícil arte de forjar as armas. De fato, esses bárbaros combatem, de uma maneira bem diferente dos romanos: arcos de cavaleiros hunos montados em cavalos rápidos, espadas longas e lanças de cavaleiros vândalos ou alamanos, gládios mais curtos dos francos. Essas armas são todas ofensivas: o machado de um só gume, o célebre Francisca, atirado de longe sobre o inimigo, a espada longa com dois gumes. Gládios e espadas demonstram uma desconcertante habilidade na arte de ligar os metais, de temperar o aço, de soldar peças cuidadosamente produzidas. Essas espadas e armas sobrepujam de longe as dos romanos, muito inferiores.

Com maior freqüência, os bárbaros introduzem-se no Império sem choques, à custa de acordos variados que lhes abriam pacificamente o limes( limites) de inicio portanto existiram infiltrações lentas e insensíveis, migrações mais que invasões. Roma, séculos após, recrutava mercenários bárbaros, para seus corpos auxiliares e a alguns de seus chefes confiava até mesmo comandos militares e a tarefa de repelir ataques de novos bárbaros, ainda estrangeiros. Nas fronteiras e, por vezes, no interior distante, instalava, para defender e repovoar os campos, colônias de guerreiros germânicos, de

136

Page 137: 1história geral livro

início submetidos a uma rigorosa disciplina militar e isolados das populações romanizadas. A anseio dos bárbaros era obter dos romanos a hospitalidade, que lhes assegurava terras em troca de serviços militares e do respeito às leis do Império. As tribos, populações ou povos inteiros, obtinham assim um foedus, tratado que precisava as condições de estabelecimento dos federados em terras abandonadas ou nos domínios de grandes proprietários romanos. Os guerreiros federados foram com freqüência aliados fiéis de Roma, ávidos a defender-lhe as fronteiras.

OS POVOS BÁRBAROS

Os gregos, depois os romanos, designavam pelo nome de bárbaros todos os povos declaradamente estrangeiros, rebeldes à sua civilização, seu modo de vida, suas estruturas econômicas e sociais, sua cultura, e mesmo à sua língua. De fato, o bárbaro, ao longo de todo o Império, é o homem das estepes ou das florestas, nômade mesmo nas cidadelas de agricultores, incapaz em todo caso de assimilar a civilização greco-romana. essencial-mente urbana. Por volta do século V, a palavra é usada para indicar todos os povos além das fronteiras. Mas vários grupos distintos invadiram o império romano, pode-se, entretanto, distinguir:

Os povos iranianos de raça branca, que, provenientes das altas planícies do Turquestão e do Khorassan na Ásia Central, se estabeleceram nas estepes às margens do Mar Negro;Os asiáticos nômades de raça amarela, que se podem qualificar como turcos, sucessivamente os hunos e os avaros.Mais numerosos, os germanos, vasto grupo étnico, na realidade muito heterogêneo, sem dúvida originário das províncias meridionais da Escandinávia e cujas primeiras migrações remontam ao segundo milênio antes de Cristo. Detidos longo tempo pelos celtas ( séculos V ao II), os germanos continuaram em seguida seu avanço em direção ao sul, chocando-se então com os romanos.

AS INVASOES GERMÂNICAS137

Page 138: 1história geral livro

Em 375, os hunos, provenientes da Ásia, deslocaram todos os seus inimigos em direção ao oeste e fundaram, no início do século V, na Europa Central, um vasto Estado nômade, de fronteiras incertas, dirigido por um rei todo-poderoso, hereditário. Átila ( O flagelo dos deuses) , rei em 434, conduz a princípio seus exércitos contra as fronteiras do Oriente e as cidades dos Bálcãs e, posteriormente, em 451, saqueia todo o norte da Gália: contido, porém, diante dos romanos e de seus aliados bárbaros, volta-se, no ano seguinte, contra a Itália, toma e pilha todas as cidades planície do vale do Pó. No entanto, a história das invasões bárbaras, do século IV ao VII, é, antes de tudo, para o Ocidente cristão, a das migrações germânicas.

Essas migrações atingem de início as províncias orientais do Império. Mal estabelecidos no Império, os visigodos (godos do oeste) são encarregados de restabelecer a ordem, de perseguir ou dizimar os bárbaros mais turbulentos, obtêm um território em 418 e um vasto reino na Espanha. Os ostrogodos (godos do leste), de início estabelecidos em um território (455) nas planícies do médio Danúbio, ameaçam constantemente os Bálcãs, tentando conquistar Constantinopla e, deslocados finalmente para o oeste pelos bizantinos, tomam o Itália, conduzidos por seu rei Teodorico (489-493). Na mesma época, outros povos bárbaros haviam atacado diretamente o limes ocidental. Os vândalos cruzam à força o Reno em 406, entram na Espanha , perseguidos e derrotados pelos visigodos, partem para a áfrica, conquistam as melhores províncias romanas. Os borgunios, que foram auxiliares do Império romano, estabelecem-se pacificamente em 413, fundando a seguir um poderoso reino, que tendo como eixo suas duas capitais, Lyon e Genebra. Nas fronteiras das províncias mais ocidentais, afirma-se, os francos, seu rei nascido por volta de 465, Clóvis tomou-se em 481, chefe dos francos e, conquistou ou reuniu num vasto reino todas as províncias da Gália.

Os primeiros reinos bárbaros da Europa mediterrânica

OS VÂNDALOS NA AFRICA

Nascido da conquista militar, o reino vândalo constitui-se, na África,

138

Page 139: 1história geral livro

num Estado guerreiro apoiado sobre um sólido exército, dividido pela região em grupos de mil homens. Este Estado exige também uma severa segregação entre vencedores e aristocratas romanos, que viram suas terras confiscadas; muitos fugirão para a Sicília ou Roma.

O rei vândalo Genserico (477) inflige rudes golpes no Mediterrâneo romano, onde destrói as comunicações e ameaça constantemente os comboios de trigo, ainda indispensáveis ao abastecimento de Roma.

OS OSTROGODOS NA ITÁLIA

A 4 de setembro de 476, o imperador infante Rômulo Augústulo era deposto pelo exército de Odoacro, chefe dos Érulos, pouco depois, reconhecido “patrício” pelo imperador Zenão de Constantinopla. Toma-se, de fato, o senhor de um exército composto por mercenários de origens muito diversas e de um verdadeiro reino bárbaro limitado à Itália e cujo centro vital situa-se na planície do Norte, entre Ravena, a capital. e Milão.

Em 489, porém, Teodorico, chefe dos ostrogodos, invade a península, e inflige a Odoacro uma derrota perto de Verona. O governo de Teodorico formara-se durante longas permanências na corte de Constantinopla. Mantém as antigas leis, deixa o nome do imperador nas moedas, conserva os magistrados e empregados nos cargos de outrora; sobretudo, sabe ganhar o apoio da classe senatorial, respeitando-lhe os privilégios, e o do povo de Roma, sempre alimentado e entretido. Restaura as termas, as lojas, os aquedutos e os esgotos da capital.

OS VISIGODOS NA ESPANHA

Os visigodos, mercenários do Império. haviam tomado e pilhado Roma em 410. O segundo reino visigótico, da Espanha, posteriormente independentes é, sem dúvida, O mais poderoso e o mais original de todos os remos bárbaros do Ocidente, dos séculos V ao VIII.

OS FRANCOS

139

Page 140: 1história geral livro

Dinastia merovingia Anteriormente a Clóvis, os francos, provenientes das margens inferiores do Reno, haviam conquistado todo o norte da Gália. Clóvis não abandona toda a herança política de Roma, recebe as tábuas consulares enviadas pelo imperador de Constantinopla e usa o diadema e a túnica púrpura dos imperadores. Instala sua capital em Paris, cidade onde permaneciam numerosos e influentes administradores romanos.

Toda a vida política repousa no poder absoluto do rei conquistador. O serviço do rei estabelece uma hierarquia precisa em favor de uma nobreza de corte formada por companheiros, fiéis ou da estima do soberano. Os outros homens livres, romanos ou guerreiros francos, perdem, seus direitos políticos e militares. Os francos continuam a ser temíveis guerreiros e obtêm por muito tempo êxitos decisivos sobre seus vizinhos. Após sua morte, em 511, os sucessores de Clóvis, que invocavam um ancestral legendário, Meroveu, e que os historiadores chamam de merovíngios, intervêm diversas vezes em direção leste.

Mas Clóvis, que considerava o poder real como uma espécie de propriedade pessoal, havia dividido seu reino entre seus quatro filhos a história dos filhos e dos netos de Clóvis, a partir de então, foi apenas a de unia seqüência inextricável de conflitos familiares, intrigas, assassinatos e guerras civis. Ensangüentaram e enfraqueceram todas as regiões francas. O poder real dissolve-se na medida em que se afirma o poder dos duques, comandantes dos exércitos, e sobretudo o dos membros do palácio. que formam uma verdadeira casta enriquecida com a posse de grandes domínios de terras e capaz de arrancar importantes concessões aos soberanos.

Os carolingios

A ascensão de uma nova dinastia franca, em 751, assinala o êxito dos prefeitos do palácio e o restabelecimento em seu proveito da autoridade real enfraquecida. O prefeito do passo Carlos Martel, liga a seu nome a batalha de Poitiers (732), onde os exércitos francos fizeram recuar os avanços dos muçulmanos, vindos da Espanha. Desde então, Carlos aparece como o defensor da cristandade diante do Islã.

140

Page 141: 1história geral livro

Após a morte de Carlos em 741, o reino dividiu-se entre seus dois filhos, Carlomano e Pepino; tanto um como outro selam solidamente a aliança com a Igreja. Em 747, Carlomano abdica e Pepino, o Breve, permanece como o único senhor; em 751, com o apoio do papa, foi proclamado rei. Pepino se liga a igreja católica apoiando a política papal na Europa. O papa instala-se a seguir no mosteiro de Saint-Denis, onde ele mesmo sagra o novo rei. A aliança com Roma assinala, a partir dai, sensivelmente, toda a política dos reis carolíngios. Consagrado Rei e principal protetor dos cristãos, ornado com o titulo de “patrício” dos romanos, Pepino reconhece em proveito do papa o governo da cidade de Roma e a possessão das províncias bizantinas da Itália central (754). Por duas vezes, o novo rei intervém na Itália, derrota os lombardos, que ameaçavam Roma ou a independência pontifical.

CARLOS MAGNO, REI DOS FRANCOS

Por ocasião de sua morte, em 768, porém, a unidade do reino parecia ainda incerta:seus dois filhos, Carlos e Carlomano II , dividem entre si as províncias. Carlomano II, porém, morre em 771.

Carlos, o Grande, prossegue então com êxito a política de seus antecessores, O rei franco, aliado do papa, protetor da Igreja, ataca todos os inimigos de Roma. A grande obra para a expansão do reino e da cristandade foi à conquista e a submissão dos povos pagãos do Norte e do Leste província, julgada por vezes irredutível, estava assim ganha em proveito da cristandade.

O RESTABELECIMENTO DO IMPËRIO DO OCIDENTE

A restauração imperial. no ano 800, aparece de inicio como a consagração dessas vitórias, a conseqüência da expansão do reino franco.

141

Page 142: 1história geral livro

É difícil precisar exatamente à qual idéia política ou a que sentimento coletivo corresponde à proclamação de um novo império romano no Ocidente. As análises históricas permitem o relacionamento com a noção de um império cristão, herdado do exemplo bizantino: um só reino no céu e um só chefe na terra. O Cristo só pode ter um único vigário. Ao reino de Cristo, criador do universo, corresponde o de Carlos, todo-poderoso, escolhido por Deus, representante de Cristo, intendente da Igreja. O rei deve defender e propagar a fé em toda a parte. Deve dar o exemplo, como faz o padre com seus sermões. educar e administrar os súditos do reino terrestre. A idéia da necessidade de um novo titulo, consagrando essa dignidade, afirmou-se no momento em que se estendiam as conquistas francas

A ADMINISTRAÇÃO IMPERIAL

Indubitavelmente a principal preocupação de Carlos Magno foi a de estabelecer uma administração visível e centralizada, em todas as regiões do Império. Ele tentou controlar as comunidades de homens livres, impôs, se não outros costumes políticos, ao menos um mesmo procedimento moral; desejou estender as instituições francas aos países estrangeiros conquistados. Em cada condado, o conde é o lugar-tenente do rei; administra, preside o tribunal , convoca e conduz o exército. O rei instituiu, acima dos condes, grandes governos provinciais confiados a um prefeito, duque. Nas fronteiras, são as marcas verdadeiros governos militares: marcas da Espanha, da Bretanha, da Dinamarca do norte, ávaras a leste, tem no marques o seu

142

Esta restauração imperial coloca aos conselheiros muitos problemas.

Chocou-se ela prontamente com a hostilidade de Bizâncio, pouco

disposta a abandonar suas prerrogativas. Uma mulher, Irene, reinava

então em Constantinopla e os conselheiros francos pensaram em

solucionar o conflito propondo um casamento politicamente os dois

soberanos. Irene, porém, foi deposta e somente em 812 um acordo

permitiu a proclamação de Carlos como imperador do Ocidente.

Page 143: 1história geral livro

administrador chefe. Carlos Magno, porém, mui freqüentemente, confiava essas funções a membros da nobreza local, os únicos capazes de serem obedecidos. Fortalecidos por importantes domínios territoriais, providos de numerosas clientelas, os condes, desde cedo, tornam-se independentes e transmitem seus cargos aos filhos. Do que resulta, para melhor supervisão e repressão dos abusos dessas dinastias provinciais, os célebres missi dominici, (enviados do senhor), para inspecionar seus domínios e seus encarregados.

Carlos Magno espera governar a Igreja do mesmo jeito: ele a dirige, protege, no interior do reino, contra os abusos e as heresias, e no exterior contra inimigos não cristãos.

O imperador, praticamente, decide a escolha de cada bispo e os emprega em seguida em toda espécie de funções, como simples funcionários. Condes e bispos são instruídos no próprio palácio. Desse modo afirma-se, na corte Imperial, um movimento intelectual e literário designado como a “renascença carolíngia” surgida na escola palatina sob Carlos Magno. Ao brilho das letras corresponde o luxo da arte oficial: mosaicos e mármores das capelas nos palácios imperiais ou episcopais; o luxo das miniaturas, suntuosas sobre fundo de ouro.

No domínio intelectual, entretanto, as ambições de Carlos limitavam-se à formação de bons administradores e de bons bispos. O essencial era dar-lhes instrumentos de trabalho, textos claros, principalmente jurídicos, aos quais deveriam dar forma. Isso limita singularmente a importância dessa “renascença carolíngia”. Desse modo, os sábios da corte esforçam-se em precisar as regras da gramática e se prendem, mais freqüentemente. a uma simples imitação, dos modelos antigos. Na escola palatina é que são copiadas por escribas, em vários exemplares, as Capitulárias de Carlos Magno (suas leis), as obras de Gregório, o Grande, e a dos santos padres da Igreja, o manual litúrgico romano, compilações de decretos e de direito canônico. Assim, sem originalidade, mais ocupados em citar do que em criar, os eruditos que se ligaram a Carlos Magno, ao menos conservaram fielmente uma parte importante da herança de Roma e dos primeiros tempos da Igreja.

A VIDA ECONÔMICA NO TEMPO DOS CAROLÍNGIOS

143

Page 144: 1história geral livro

As divisões do Império

LUÍS, O PIEDOSO

Carlos Magno, não obstante, em 806, dividiu ele seus Estados entre seus três filhos e somente a morte de dois deles permitiu a Luís, o Piedoso, reinar sobre o conjunto das províncias. Seu reinado (814-840) assinala de início, sob a influência de clérigos do palácio e dos bispos, um nítido reforço da idéia imperial. Em 817, Luís proclama a unidade indissolúvel do Império e designa seu filho mais velho, Lotário, como seu único sucessor; o Império deve constituir um “só corpo em Cristo”, os dois outros, Pepino e Luís, teriam somente reinos pequenos conquistados.

A PARTILHA DE VERDUN (843) . Após a morte de Luís, em 840, o Império franco mergulha então numa

anarquia total seus três filhos sobreviventes, Lotário, Luís e Carlos (Pepino morrera em 838) disputam a herança. Lotário reúne um certo número de fiéis e de clérigos ainda ligados à idéia de unidade. Em agosto de 843, Lotário, refugiado em Lyon, é obrigado a aceitar o tratado de Verdun, que consagra a divisão do Império e, durante séculos, determina o mapa político do Ocidente. Carlos, mais tarde intitulado o Calvo, recebe a parte ocidental. Luís, o Germânico, reina na Austrásia além do Reno e na Germânia. Lotário mantém, com o título imperial a zona central européia e a Itália.

144

Page 145: 1história geral livro

UNIDADE DIDÁTICA IX – A CIVILIZAÇÃO SENHORIAL CRISTÃ

INTRODUÇÃO

O desaparecimento do Império carolíngio agravou uma situação que tivera início com a queda do Império Romano: as cidades entraram em decadência, a população e os senhores dirigiram-se para a zona rural. Este fato teve influência determinante na Igreja, instituição fundamentalmente urbana, centralizada na pessoa do bispo e na igreja catedral, onde o bispo tinha sua sede e de onde dirigia toda a vida religiosa e eclesial da diocese. A autoridade central esfacelou-se e foi-se fragmentando, ao mesmo tempo em que se criava uma vasta rede de senhores e vassalos, de proprietários e servos, com freqüência em confronto entre si. O valor central era a terra, sua propriedade. Os reis e os Senhores entregavam terras em troca de fidelidade e vassalagem.

As estruturas feudais não aprofundam-se na sociedade de uma maneira tão intensa em todas as partes. O domínio geográfico onde se pode constatar um feudalismo, “clássico”, estudado, apresenta-se singularmente restrito. O termo “sociedade feudal” aplica-se perfeitamente apenas às regiões onde o destino social e político, onde o direito de comando o direito de convocação dos vassalos — repousam tanto sobre a exploração da terra quanto sobre o poder guerreiro. Estas são também as regiões onde, de início, tinham sido impostas as tradições de governo dos carolíngios: nobreza palatina, administrativa, amplos poderes confiados aos condes, multiplicação dos laços de recomendação e de vassalidade. Todas essas sociedades possuem, indubitavelmente, alguns traços comuns com o feudalismo “clássico”: dependência pessoal, recomendação, formação de clientelas,

O Sistema Feudal:

145

Page 146: 1história geral livro

O feudcilisnio na Europa ocidental

Desde o inicio do século XI, os costumes feudais mas regiões centrais da europa parecem bem estabelecidos como força política , determinam: O ato de submissão, ato material, reminiscência pagã, que consiste, para o

vassalo, em colocar as mãos junto com as do senhor, ajoelhando-se a seus pés. Quase sempre se acrescenta o beijo da paz. É a cerimônia tradicional da recomendação ou da “homenagem”. Pelo juramento prestado sobre relíquias de santos, o homem jurava fidelidade a seu senhor; em troca este procedia prontamente à investidura do “benefício” ou “feudo” pela cessão -simbólica de um quinhão de terra ou de uma bandeira.

A natureza dos deveres recíprocos. Em troca do beneficio e da proteção concedidos Pelo senhor, o vassalo promete primeiramente, e antes de tudo, não prejudicá-lo, ser-lhe fiel. Promessa fundamental em que se pode ver a origem de uma restauração da ordem baseada nas alianças. Além disso, deve-lhe a obrigação de comparecer na corte do senhor e em seu tribunal , mais a ajuda militar. Esta última é bem pesada, justifica o beneficio e a vida do vassalo, que se torna antes de tudo um cavaleiro. Implica em despesas muito pesadas: armadura de ferro, elmo, espada e lança, numa época em que toda peça de ferro é um objeto de luxo extremamente caro. O cavalo de combate, bastante pesado, custa também muito caro; sua alimentação exige prados de feno e campos de aveia. Decorre disso, nesse treinamento guerreiro, a importância dos torneios, verdadeiros combates, freqüentemente mortíferos. Enfim, a ajuda militar reforça os laços de linhagem da família; o combate não é completamente individual e anárquico como freqüentemente se afirmava, mas coletivo: os irmãos, primos e pais formam uma esquadra, na qual todos os membros se ajudam e se sustentam.

As bases territoriais das relações de vassalidade. Cada vez mais e mais a cessão do feudo, bens fundiários, domínios rurais, porções de terra, ou funções, cargos administrativos, rendas mesmo, torna-se condição necessária da vassalagem,

O vassalo só se liga assim em troca do feudo, cuja importância determina

146

Page 147: 1história geral livro

desde logo a de seu serviço militar. Desse feudo, sem dúvida, possui apenas o usufruto, a propriedade real, e não pode dispor dele• como uma propriedade pessoal. Mas o vassalo cede o feudo a seus herdeiros.

OBRIGAÇÕES SERVIS: relações de exploração e dependência senhores e servos.

corvéia: dias de trabalho semanal gratuito dos servos no manso senhorial a produção era do senhor feudal.

talha: divisão da produção servil no manso servil. banalidades: taxas pagas pelos servos pela utilização das

instalações do feudo (celeiro, moinho, forno). capitação: imposto pago por cada servo individualmente. tostão de Pedro: imposto pago para manter a capela. mão-morta: imposto pago para transferir o lote de um servo

falecido para seus herdeiros. formariage: taxa paga para se casar. albergagem: alojamento e produtos para os senhores em

viagem.

Este estabelecimento do vassalo numa terra enfraquece forçosamente a solidariedade feudal e rompe os estreitos laços que, pela prática de uma vida comum, de uma ajuda cotidiana, o ligava ao senhor. O homem casado pode assim tornar-se, em relação a terras ou funções diferentes, vassalo de vários senhores: fonte de conflitos de deveres .Essas práticas, assim fixadas pelo costume, entraram no século XI, na França , em toda a sociedade. Atingem também a Igreja e colocam-na então sob a dominação absoluta dos príncipes e dos senhores laicos. A função episcopal não é mais do que um benefício investido pelo soberano e o juramento vassálico determina as relações entre sacerdotes e bispos, monges e abades. A sociedade feudal alem apresenta, diante desse esquema, traços acentuadamente originais.

147

Page 148: 1história geral livro

A Igreja da Alta idade Média

Ao longo dos séculos a Igreja fica em poder dos leigos e estes se intrometem e a utilizam para seu interesse exclusivo. Esta ingerência dos leigos dá origem a uma situação anárquica, e sobretudo pouco eclesial, na qual os valores eclesiásticos e espirituais entram em extrema decadência.

De um lado, essa multiplicação de igrejas contribuiu para levar a Igreja até o mundo rural, antes muito abandonado. Mas, por outro lado, ocasionou a perda absoluta de liberdade e de disciplina. Essas igrejas próprias converteram-se, não raro, em paróquias, isto é, nelas se praticavam todos os ritos e sacramentos necessários para a vida espiritual, porém, desconhece-se a sua dependência com relação aos bispos e não existia, na realidade, um sentido de diocese, de igreja local dirigida pelo bispo. Precisamente no ano mil, a Igreja do Ocidente acolhe finalmente as antiqüíssimas crenças na presença dos mortos e na sua sobrevivência que, embora invisível, era pouco diferente da existência corporal. Eles habitam num espaço impreciso entre a

148

As expressões Idade média e Idade Moderna foram

criadas durante o Renascimento, No século XV. Demonstrando

repúdio ao mundo feudal, no entanto segundo “ As

características típicas da idade média não fizeram o homem

desse período nenos competente, pois a cultura medieval, se

comparada com a do mundo greco-romano, foi redefinida” a

ciência perdeu a vitalidade e a velha união com a filosofia se

dissolveu[...] A filosofia contraiu uma nova aliança com a

teologia.....Transferiram o pensamento especulativo da ciência

filosófica para a teologia-filosofica“.Bark,William Caroll.

Origens da Idade Média. 3ed. Rio de Janeiro,

Zahar,1974.p.102-3.

Page 149: 1história geral livro

terra e a cidade divina. Ali esperam de seus amigos e parentes orações e gestos litúrgicos que possam aliviar suas penas. Cluny regulou e expandiu a liturgia em favor dos defuntos.

Também os bispos acabaram fazendo parte dessa engrenagem feudal: eram vassalos dos reis e, por sua vez, senhores de outros vassalos, terminando por secularizar-se e agindo como um nobre senhor igual aos demais. A confusão sistemática entre os dois poderes danificou profundamente a Igreja.

A perda de prestígio pontifício favoreceu as pretensões de autonomia dos bispos e abades que se converteram em senhores feudais.

O papa já se intitulava Vigário de Cristo e mantinha não somente o controle sobre a direção dos assuntos eclesiásticos e espirituais, mas também a reserva de intervenção em não poucos casos relacionados com a esfera de poder dos imperadores e reis. Isto se devia ao fato de que podia tomar decisões espirituais que tivessem conseqüências políticas e, também se ocupar de assuntos temporais que tivessem derivação espiritual.

Entre 1123 e 1215 foram celebrados quatro concílio gerais na basílica de São João de Latrão, da qual receberam nome. São os primeiros celebrados no Ocidente e nele aparecerá com clareza o reconhecimento primacial do Romano Pontífice na Igreja latina.

149

Page 150: 1história geral livro

A ESCOLÁSTICA

O “creio porque é absurdo” de Tertuliano se transformará no “creio para entender” de Anselmo de Cantuária. A formação intelectual começava nas escolas e palacianas, e prosseguia depois nas diversas faculdades das universidades: Medicina, Direito e Teologia. A filosofia estava dividida nas sete artes liberais, enquadradas no Trivium, com a gramática, a retórica e a dialética e a arte de raciocinar, e o Quadrívíum, que incluía a geometria com a geografia, a aritmética, a astronomia e a música. E evidente que à aparição

150

A mulher na Idade Média

mulher na idade média vive muitas vezes a margem do poder e do universo masculino porém de forma nenhuma ela deixa de participar e de interferir

dentro deste universo, a qual esta subjugada politicamente a mulher poderia apoiar a parentalha em detrimento do seu marido porém o mais comum era

segundo Duby o contrário.A casa era considerada o santuário da vida privada. Para manter a pureza feminina era necessário evitar o estupro e o rapto. Existiam várias leis a

respeito deste delito. Nestes casos, quando não havia um consentimento, o casamento era um fato consumado ou ela podia tornar-se escrava. As

mulheres usavam sobre a túnica, um vestido até o calcanhar, erguido na frente com uma corrente para que pudessem andar. No inverno, usavam coletes de couro ou pele e um manto de lã. Os cabelos femininos não eram cortados e

eram presos com alfinetes. A nudez era considerada sagrada, uma afirmação da condição de uma criatura boa dependente de Deus e só era permitida

durante o banho e para dormir. A nudez adquiriu um caráter sexual e genital, a partir de então parou-se de fazer o batismo por imersão. A religião

contribuiu tanto para a privatização do corpo que se chegou a um ponto que, no século VI, os crucifixos que mostravam Cristo nu tiveram que ser recolhidos ou cobertos e recomendava-se que dormissem vestidos.

Texto prof Luciana de Abreu Curitiba - Paraná

Page 151: 1história geral livro

das universidades precedeu o grande movimento intelectual de, que surge sobretudo nos séculos XI e XII com pensadores do porte de Abelardo, Pedro Lombardo, São Bernardo, Santo Anselmo etc. Paralelamente o ensino é enriquecido com novas matérias de estudo e se aperfeiçoa e se define o método que se chamará escolástico.Já nos começos do século XII a fama de Abelardo converteu Paris no centro de instrução mais popular da França.

A tradução dos textos gregos principalmente, através da escola dos tradutores de Toledo, tornou-se decisiva, sobretudo quando entraram em contato com Aristóteles, não somente sua obra lógica, mas também a metafísica, a física e a biologia. O enorme interesse pela síntese entre o aristotelismo e o pensamento cristão reside não na sua perfeição lógica, mas no modo com que o pensamento da cristandade ocidental reconquistou o mundo clássico grego,

Santo Tomás de Aquino (1226-1274), discípulo de Santo Alberto Magno (1193-1280), foi provavelmente o filósofo e teólogo escolástico mais importante, capaz de descobrir novos métodos e de empregar novos sistemas de provas. Para Santo Tomás a teologia coroa o edifício do saber e determina os setores da competência das demais disciplinas. Admite-se assim a relativa autonomia das ciências profanas, a unidade do trabalho intelectual humano e a impossibilidade de uma contradição entre ciência e fé. Fazendo a junção do pensamento de Aristóteles com o do cristianismo são tomas de Aquino passa a ser considerado doutor da igreja católica.

A REFORMA ESPIRITUAL E A INDEPENDÊNCIADA IGREJA NOS SÊCULOS X E XI

Por muito tempo qualificou-se de Reforma gregoriano, do nome do papa Gregório VIL o grande movimento que introduz no Ocidente uma outra espiritualidade e afirma a independência temporal da Igreja diante dos poderes laicos.

Todos os cronistas e moralistas pintavam, antes dessa reforma, um quadro muito sombrio da vida religiosa, dos costumes do clero e dos leigos; quadro exagerado mas que pode mesmo assim ser admitido no seu todo. Deste modo, o clero, privado de toda independência, encontra-se estritamente

151

Page 152: 1história geral livro

submisso aos príncipes e aos senhores, cuja escolha recai freqüentemente em personagens indignos, animados por uma pobre vida espiritual.

ORIGENS DA QUESTÃO DAS INVESTIDURAS

Os dois aspectos da reforma religiosa, reflorescimento espiritual e libertação da tutela dos leigos, são indissociáveis. Esse clima religioso novo fornece ao papado um poder espiritual mais forte, capaz de desafiar o poder político dos soberanos.

A luta entre o papado e o Império, que se resume de uma maneira bastante arbitrária, mas cômoda, ao se falar de “questão das investiduras”, acendeu-se de maneira decisiva nos pontificados de Nicolau II (1059-1061) e de Gregório VII (1073-1085). Nicolau II faz promulgar os célebres decretos que confiam doravante a escolha do soberano pontífice aos cardeais da Igreja (bispos da Cúria romana, conselheiros do papa); essa escolha foi aclamada pelo povo de Roma e o imperador mantinha somente o direito de confirmação. Gregório VII, místico, inteiramente devotado à reforma espiritual do clero, já sustentáculo de vários papas, afirma prontamente após sua eleição a independência da Igreja. No espaço de dois anos, faz proclamar a queda de todos os prelados que havias obtido seus cargos em troca de dinheiro e condenar formalmente as investiduras episcopais s concedidas pelos leigos. Proclama pessoalmente o primado absoluto de Roma sobre a Igreja e o conjunto da cristandade. Esta atitude provoca vivas reações no Imperador Henrique IV e anuncia o início da questão das investiduras, na realidade a luta pela dominação do mundo ocidental.

A arte românica

Com a decadência da vida urbana de Roma em sua grande fronteira, após o século III quando começam as invasões bárbaras, por causa das construções das estradas que levavam diretamente ao centro da cidade, facilitando assim a penetração bárbara, na ausência da proteção que partia do Império. Surgiu uma nova visão religiosa, voltada ao imaginário popular com a idéia de uma cidade celestial, fazendo crescer o domínio da igreja sobre as pessoas, valorizando a fé, abrindo mão de seus bens, levantando questões como a doença física que se converte em saúde espiritual ( mostrando principalmente as dificuldades enfrentadas pela população). Pode-se dizer que o divino

152

Page 153: 1história geral livro

sobrepunha o humano. Com essa idéia o cristianismo impõe seus valores afim de diferenciar os homens de fé dos pagãos. Esses valores podem ser resumidos na caridade como lei fundamental de salvação. Porém, a perseguição religiosa que acontecera, se deveu a uma filosofia contrária a do imperador, fazendo crescer as reuniões em esconderijos, afim de converter os cristãos. Com isso surgem as catatumbas (cavernas no subsolo onde aconteciam essas reuniões), dando abrigo aos que mereciam, ou seja, que comungavam com eles. Um exemplo de aproveitamento de espaço foi em Metz, onde dentro de um anfiteatro surgia a primeira igreja cristã, mesmo sendo uma construção de origem pagã. Com a mesma idéia, afim de abrigar um número maior de fiéis, alguns edifícios romanos vão tornar-se igrejas, exemplo o Templo de Antônio e Faustina em Roma vai dar lugar a Igreja de São Lourenço, porém outras construções que tinham destino impuro não eram recomendadas a tais encontros. Com o avanços das invasões bárbaras a vida urbana torna-se um perigo constante, fazendo migrar para o campo, tornando-se uma micro região, onde terá um prédio central e em volta uma nova vida “urbana”, ou seja, um comércio gerando uma troca de mercadorias e uma possível troca de moeda. Tal modelo será a semente urbana do feudalismo medieval, e surgindo com isso a questão da segurança e o surgimento de uma nova concepção de cidade, podendo até tornar-se independente no seu sistema de governo, mas pertencendo ao poderio real. Talvez a questão levantada em uma estrutura feudal com imposição religiosa de fazer a caridade e com isso obter como resultado a salvação do homem, surgem as colônias monásticas com a idéia de acolher os pobres (esse tipo de trabalho era obrigação moral destas instituições).

A essa renascença espiritual, que penetra todos os meios, corresponde, na mesma época, um reflorescimento artístico, que encontra sua mais bela expressão nas grandes abadias românicas, em seus muros e abobadas de pedras talhadas, em seus extraordinários adornos de tímpanos e de capitéis esculpidos, ou em seus afrescos murais, na maior parte apenas descobertos depois do início desse século. “Arte românica”, pois, renovava algumas tradições antigas de Roma e, de qualquer maneira, talvez oposta, claramente distinta, das expressões artísticas próprias dos reinos bárbaros da alta Idade Média e da arte cristã do Oriente.

153

Page 154: 1história geral livro

UNIDADE DIDÁTICA X - A BAIXA IDADE MÉDIA

INTRODUÇÃO

As sociedades urbanas, nos séculos XIV e XV, adaptam-se a novas formas de atividade econômica: novos tipos de tráficos mercantis, novos itinerários, técnicas comerciais, financeiras e bancárias diferentes.

No século XV os soberanos do Ocidente lutam pela centralização de seus reinos. Entretanto, o governo dos príncipes e a centralização administrativa chocam-se, na principalmente, com a oposição dos Nobres e mesmo das Comunas que defendem seu direito de outorgar e de receber subsídios. A autoridade do rei defronta-se sempre com vivos sobressaltos de particularismo que se traduzem, seja por revoltas regionais, seja pela afirmação de verdadeiras autonomias provinciais. Os tempos em que papa e imperador lutavam pela dominação do mundo cristão do Ocidente terminaram. O soberano pontífice exerce seu poder temporal somente em pequenas províncias e o prestígio pontifical abalado por numerosas desordens e questões.

1 . AS CRUZADAS NO ORIENTE

A idéia de Cruzada

A resistência e a luta armadas contra os infiéis , os muçulmanos sobretudo, pesaram profundamente sobre a vida dos cristãos do Ocidente, desde o século IX e por vezes mesmo mais cedo. A vitória de Carlos Martel em Poitiers foi aclamada com entusiasmo.

No entanto a Cruzada na Terra Santa parece intimamente ligada ao dever de peregrinação ao santo sepulcro em Jerusalém. O interesse das cruzadas não estava somente nas aspirações políticas e nas expedições dos barões, mas também um imenso entusiasmo popular que lança nas direção de Jerusalém massas de homens. O primeiro grande empreendimento provocado pelas pregações de Urbano II, em 1095, reúne elementos pobres conduzidos por

154

Page 155: 1história geral livro

Pedro, o Eremita. Conseqüentemente, emprega-se a denominação de peregrino para designar os Cruzados do povo, e nas crônicas e relatos da época fala-se da santa viagem a Jerusalém. Na realidade a Cruzada renovava-se quase anualmente, na primavera, com a chegada dos navios de peregrinos; estes serviam algum tempo nos exércitos do reino e forneciam, para a construção dos castelos, uma ajuda indispensável. Alguns permaneciam no local: pequenos cavaleiros, domésticos, burgueses ou camponeses, mas todos armados.

A predicação dos eremitas atinge agora os pobres das zonas rurais e provoca impulsos de piedade. A Cruzada popular e a idéia de Cruzada nasceram desses impulsos místicos: serviço de Deus, procura da salvação pessoal pelas obras e a peregrinação às fontes do cristianismo, espera do Messias.

AS CRUZADAS E ESTADOS LATINOS NA TERRA SANTA

A PRÉ-CRUZADA (1096): (ou cruzada dos Mendingos) Cruzada popular, conduzida por Pedro, o Eremita, resulta num malogro dramático: os bandos de pobres, destituídos de recursos, cometem terríveis excessos ao longo de todo o percurso, pilham as aldeias, massacram os judeus nas cidades alemãs; quando passam para a Ásia, os mulçumanos os exterminam logo no primeiro combate.

A PRIMEIRA CRUZADA (1096-1099): (Cruzada dos nobres): Cruzadas dos barões, as diversas levas de guerreiros partidas do Norte da França, da Lorena, da Normandia e da Itália do Sul, progridem bem mais lentamente. Desde a chegada em Constantinopla, o imperador de Bizâncio exige, depois obtém, uma promessa de restituição das terras e das cidades retomadas aos muçulmanos. Mas, de fato, os êxitos militares dos cruzadas provocam o estabelecimento de quatro Estados latinos no Oriente: O principado de Antioquia. A cidade cai em 1098 após um longo cerco, os cruzados se recusam devolvê-la aos bizantinos. o Estado de Antioquia

155

Page 156: 1história geral livro

mantêm-se até 1268. O principado de Edessa confiado, a Balduíno I de Bolonha. O reino de Jerusalém. Conquistada em julho de 1099, após dura campanha e um cerco difícil, a cidade toma-se desde logo a capital política e religiosa dos latinos. Godofredo de Bulhões assume somente o título de “advogado do Santo Sepulcro”, mas por ocasião de sua morte, seu irmão Balduíno proclama-se rei (em 1100). Entretanto, os cristãos apenas definham a rota da cidade santa; a conquista das outras cidades foi freqüentemente penosa e longa: vinte anos de lutas obstinadas paro barrar aos egípcios a pista do Sul (construção de castelos fortificados) e investir, graças às frotas italianas, subjugar urna a uma, as cidades da costa. São João de Acre cai somente em 1104, Sídon e Beirute em 1110, Tiro somente em 1124. O condado de Trípoli ocupado em 1109 e dado a Raimundo de Saint-Gilles, conde de Toulouse. Em 1187, após urna crise de sucessão, esse condado se encontra reunido ao principado de Antioquia. Em 1176, o senhorio, vassalo do Reino de Jerusalém, é enfeudado a Reinaldo de Châtillon que dirige audaciosas campanhas contra as rotas e as cidades dos muçulmanos. Em 1182, lança no mar Vermelho navios fabricados no Mediterrâneo, em Ascalon, e transportados desmontados através do deserto. A expedição ataca os comboios de peregrinos e ameaça Meca. O reino de Jerusalém, enfraquecido pela morte do jovem rei leproso Balduino 1V (em 1185) ‘e pela de seu filho ainda criança. Balduino V, sofre a ofensiva de do chefe mulçumano Saladino, esta ofensiva ocorre igualmente. em toda parte, o recuo dos latinos e desordena o mapa político da Terra Santa. Batidos em Hatfin (1187), os francos perdem Jerusalém. São Jõão de Acre, toma-se então a capital de um segundo reino de Jerusalém, reduzido às cidades da costa.

A SEGUNDA CRUZADA (1147-1149) : As duas grandes expedições de reforço, lançadas do Ocidente no século XII, pouco modificaram a relação das forças e resultam ambas em insucesso. Em 1144, Luis VII E CONRADO III, DO Sacro Império deve abandonar o ataque a Damasco.

156

Page 157: 1história geral livro

A TERCEIRA CRUZADA (1189-1192) (a Cruzada dos Reis) : No mesmo momento, a Cruzada dos dois reis do Ocidente, Filipe Augusto e Ricardo Coração de Leão, retarda-se, comprometida pelas rivalidades que opõem os dois príncipes. Em 1190, Frederico Barba-Roxa, rei germânico, à frente de um poderoso exército , afoga-se quando tenta atravessar um rio. Filipe retorna muito rápido à França e, apesar de alguns grandes feitos de armas sem conseqüências, entre os quais a entrada em Jerusalém, Ricardo deve negociar com Saladino um acordo sobre as peregrinações na cidade santa (1192). Mais tarde, a expedição de Frederico II fica sendo sobretudo um empreendimento diplomático; certamente permite, em 1229, aos francos ocuparem Jerusalém, mas somente por algum tempo: a cidade cai de novo em 1244.

A QUARTA CRUZADA ( 1202-1204)- (o saque a Constantinopla):De fato, nem todos os empreendimentos dos cruzados no século XIII visam retomar as terras perdidos da Palestina, mas, mais do que isso, conquistar outros impérios, romper as forças vivas dos inimigos dos latinos, tanto bizantinos como muçulmanos. A expedição de 1202 que acaba com a tomada de Constantinopla foi freqüentemente apresentada como desvio da Cruzada do Oriente, que levou os. francos a tomarem uma cidade cristã mais do que a atacar as regiões do Islã. Explica-se ela facilmente porém pelo contexto político do momento; apresenta-se como o resultado inevitável de uma séria deterioração das relações entre gregos e latinos. Esta situação levou os cristãos a saquear Constantinopla e a fundarem o Reino Latino de Constantinopla, que durou até 1261.

CRUZADA DAS CRIANÇAS (1212). Um movimento extra-oficial originário na crença de que apenas almas puras poderiam libertar Jerusalém. Apesar da oposição de setores da Igreja e do próprio Papa Inocêncio III, a cruzada ocorreu mas as crianças foram capturadas pelos mulçumanos e vendidas como escravas.

157

Page 158: 1história geral livro

A QUINTA CRUZADA (1218-1221): idéia de atacar o Islã em suas cidades fortes, suas capitais políticas e militares, impunha-se desde há muito tempo. Dirigida por André II da Hungria, a quinta cruzada não teve o efeito esperado mas deixou as bases estratégicas para as ultimas cruzadas.

A SEXTA CRUZADA (1218-1221): Realizou acordos diplomáticos com os turcos, e foi comandada por Frederico II.

A SETIMA E OITAVA CRUZADA (1248 e 1270) : De fato, a primeira cruzada de São Luís (1248-1254), pelo espírito que anima o soberano e por seus objetivos políticos, insere-se ainda na tradição das cruzadas do século XIII. O ataque encontra-se, desta vez, voltado para o Egito. Mas, após o fracasso de tomar o Egito, o rei alcança a Terra Santa onde reside cerca de quatro anos, ocupado em fortificar a região e, mais ainda, em impor a paz às facções rivais. Tratava-se sempre de manter a dominação franca nas costas da Palestina e favorecer a peregrinação a Jerusalém. A segunda Cruzada de São Luís contra Tunes (1270), esta Cruzada insere-se simplesmente num ambicioso programa de conquista de uni vasto império mediterrânico, às custas dos muçulmanos de Tunes dos bizantinos. A cruzada francesa de 1270 é assim apenas um simples episódio dessa política de conquista, bastimte estranha ao espírito dos primeiros cruzados.

AS ORDENS MILITARES

Respondem também às necessidades de defesa. Não é lá uma criação perfeitamente originaL Em todas as regiões muçulmanas, combatentes da fé fechavam-se em conventos fortificados — os ribat — para defender as fronteiras e combater os infiéis.

Desde os inicias da conquista, as ordens da Terra Santa colocam-se a serviço dos peregrinos, asseguram seu alojamento e sua segurança. Em 1118, um cavaleiro da Champagne, Hugo de Payens, organiza uma força militar

158

Page 159: 1história geral livro

para guardar as estradas e os acampamentos; seus companheiros deveriam formar, mais tarde, a ordem dos Templários, nome derivado do Templo de Salomão, em Jerusalém. Os Hospitalários instalam-se no hospital São João, fundado outrora, em Jerusalém, para alimentar os pobres viajantes, e os hospedar daí seu nome. Os Templários constroem, na costa, ao sul de Haifa, o Castelo-Peregrino (Athiet), vasto campo de abrigo fortificado. Suas primeiras operações financeiras estiveram, também, ligadas às viagens na Terra Santa; eles entregavam aos peregrinos, em Paris e em outras cidades do Ocidente, títulos, espécie de letras de câmbio, pagáveis em Jerusalém; mais tarde forneceram-lhes empréstimos hipotecários.

Os estatutos dos Templários, inspirados por São Bernardo, apresentado no Concílio de Roma em 1128, foram aprovados por Inocêncio III, em 1139, que lhes concede, a mais, diferentes privilégios entre os quais a isenção episcopal. Os Hospitalários, em 1120, redigem sua regra, inspirada na de Santo Agostinho.

Formam cada uma um corpo sólido de 200 a 300 cavaleiros, possuindo cada um três cavalos, servidos por um escudeiro, bem armados (lança, escudo triangular, massa de armas), perfeitamente treinados e auxiliados por mercenários muçulmanos a soldo. O rei e os príncipes confiam-lhes a guarda dos principais castelos: Gibelin aos Hospitalários, Gaza aos Templários. No fim do século XII, toda a parte norte do condado de Trípoli os Templários mantêm aí 20 fortalezas, entre elas a de Saphet com 1 700 soldados. No principado de Antioquia, os Hospitalários possuem uma casa da ordem em cada cidade e numerosos feudos com castelos, abadias, aldeias e terras.

Seus êxitos e seu prestígio lhes valem, no Oriente e no Ocidente, fortunas consideráveis. Reúnem assim feudos e territórios imensos; vários milhares de castelos pertencem, na Europa, aos Templários. Enquanto na Terra Santa seu poder ultrapassa o dos barões, e sua autoridade a do patriarca de Jerusalém, no Ocidente, o Templo e o Hospital mantêm por longo tempo a idéia de cruzada e de ordem cavalheiresca.

2. O RENASCIMENTO COMERCIAL E URBANO

159

Page 160: 1história geral livro

O FIM DA IDADE MEDIA NO OCIDENTE: ECONOMIAS, SOCIEDADES, CIVILIZAÇÕES

Os dois últimos séculos da Idade Média haviam conhecido terríveis dificuldades, verdadeiras catástrofes demográficas, financeiras, econômicas. Seguia-se, após o período de euforia e de expansão dos séculos XI-XIIl, uma era de contração, de recessão geral. Portanto umas mudanças bem claras da conjuntura, que se situava, o mais freqüentemente, no último terço do século XIII. A “depressão” do século XIV não teve em toda parte nem a mesma amplitude nem a mesma duração, as Grandes Descobertas, a expansão marítima e colonial eram forçosamente a obra, não de regiões arruinadas e enfraquecidas, mas de regiões ricas em homens e em espírito de empreendimento. No Norte mesmo, pode-se também chamar a atenção para o desenvolvimento econômico da Inglaterra e da Holanda, para a espantosa prosperidade de algumas cidades alemãs.

AS TRANSFORMAÇÕES DA ÉPOCA

Na França, os infortúnios introduzidos pelas novas formas de guerra inglesa que, interrompida certamente por numerosas tréguas, eternizam-se e abandona as zonas rurais aos bandos de mercenários, companhias de assaltantes de estrada, de aventureiros. Derivam disso as pilhagens, os roubos, as destruições de aldeias. Disso também provém à fuga dos camponeses, as massas errantes nas estradas, a insegurança, o banditismo crônico. Bandos de fora-da-lei, antigos soldados desertores, contrabandistas e caçadores-ladrões, aldeões escapando do imposto ou do serviço militar real, tomam a floresta na Normandia e nas as terras incultas. Levam aí uma vida instável e precária, reúnem-se aos carvoeiros, catadores de madeira, lenhadores, e fazem pesar sobre as terras cultivadas, sobre as aldeias e mesmo sobre as cidades, uma ameaça constante. O folclore da época, as crônicas, as miniaturas e os afrescos mostram por toda parte cidades eriçadas de torres, aldeias em fogo e em ruínas, homens desolados pelas devastações da guerra.

160

Page 161: 1história geral livro

A GRANDE PESTE

Há fome em vastas regiões, em toda a França e mesmo nos países vizinhos; entretanto, esse esquema não pode aplicar-se ao conjunto do Ocidente. Porem a grande epidemia de 1348-1349, chamada freqüentemente de a Grande Peste ou a Peste Negra, foi, indubitavelmente a mais grave das catástrofes que conheceu o Ocidente cristão. Trazida do Oriente, por marinheiros genoveses, para a Sicília e a Toscana, abateu-se sobre populações mal preparadas para enfrentarem essa nova forma de doença e propagou-se rapidamente por toda a Europa, até a Inglaterra, a Alemanha e a Escandinávia. As epidemias antigas, as que, em intervalos regulares, atingiam outrora os países europeus, eram formas bubônicas da peste; transmitiam-se pelos ratos doentes e pelas picadas de pulgas. Em 1348, a peste apresenta, além disso, uma nova forma, ainda desconhecida, ao que parece, no Ocidente: infecção pulmonar que evolui muito mais depressa e se transmite bem mais rapidamente, pelo ar. Derivam disso os assustadores progressos do contágio e o número elevado de vítimas. De qualquer maneira, os homens não conheciam outro remédio a não ser o de isolar os núcleos contaminados e, posteriormente, o de fugir das cidades.

A brutalidade do ataque, o caráter inelutável da moléstia, interpretada logo como um castigo de Deus, e desenvolveram, entre o povo principalmente, um misticismo exacerbado ou mesmo algumas práticas supersticiosas. Chega o tempo das grandes procissões expiatórias; os Flagelantes, grupos de penitentes, numerosos sobretudo na Alemanha.

Ë impossível, naturalmente, calcular as perdas humanas para todo o Ocidente. Numerosos trabalhos permitem, entretanto, assinalar a gravidade bastante desigual da catástrofe. As cidades, sem dúvida, sofreram mais que as zonas rurais. Nas cidades, os bairros pobres, onde a densidade humana era a mais forte, a higiene mais primitiva, foram os mais castigados. Na zona rural, a peste atinge com mais freqüência às planícies povoadas do que as montanhas. Pode-se assim admitir que algumas regiões isoladas permaneceram completamente à margem do flagelo. No total, mais de um terço da população desapareceu.

Entretanto, a desaparecimento de um número considerável de homens provocou, freqüentemente, uma redistribuição das heranças e das fortunas:

161

Page 162: 1história geral livro

permitiu, para os sobreviventes, uma alimentação mais abundante. Por outro lado, eliminou os obstáculos econômicos e financeiros que, nas zonas rurais pobres se opunham aos casamentos precoces. Nos anos que se seguiram a 1348-1349, a taxa de matrimônios e de natalidade eleva-se muito rapidamente e as perdas foram, sem dúvida, depressa compensadas.

O importante é que esse retornos da peste jamais tiveram, do ponto de vista geográfico, a amplitude da epidemia de 1348. Grassou em regiões bem limitadas e, principalmente, de maneira bastante irregular. Nem todas as regiões foram atingidas tão amiúde nem tão gravemente. Segundo a freqüência e a intensidade desses retornos da epidemia a recuperação demográfica foi mais ou menos precoce e rápida. Mas não é facilmente mensurável.

OS NOVOS COMËRCIOS

O tráfico mercantil, então, não é mais “medieval”, no sentido corrente do termo, mas se organiza em outras bases e numa escala bem mais ampla. A evolução diz respeito inicialmente à natureza dos produtos transportados. Os mercadores da alta Idade Média, mais tarde aqueles ainda do tempo das Cruzadas, interessavam-se principalmente pelos produtos de luxo, que valiam fortunas num pequeno volume, capazes de absorver consideráveis custos e de proporcionar importantes benefícios. Nos Séculos XIV e XV ocupam-se de mercadorias pesadas, relativamente baratas. Se o comércio das especiarias e

162

Resumindo — A Grande Peste marcou, quase em toda parte, uma suspensão brutal

da expansão demográfica;— A segunda metade do século XIV conheceu, de uma maneira bem

desigual, forte contração demográfica e numerosos distúrbios econômicos;

— A recuperação, demográfica e econômica, se situa em data bem variável segundo os países.

Page 163: 1história geral livro

das sedas sempre se mantém, os produtos de pouco valor se constituem agora no essencial dos carregamentos e viagens de um extremo a outro do mundo conhecido. Os portos da Itália recebem trigo do mar Negro e das planícies da Alemanha do Norte. Os vinhos de Creta e da Andaluzia atingem Bruges e Londres. A Espanha despeja seus jarros de azeite no Oriente. As frotas de Dantzig, todo ano, vão abastecer-se de sal em Setúbal, em Portugal. Principalmente, o desenvolvimento da indústria de tecidos mais baratos provoca uma crescente demanda de matérias-primas: lãs da Espanha, algodão do Oriente, produtos de tinturaria.

Essa evolução é rica em conseqüências, as simples galeras mediterrânicas, movidas a remo, leves e rápidas, mas de pequena tonelagem, sucedem-se inicialmente as galeras mercantis com dois mastros que carregam cerca de 150 toneladas de mercadorias. posteriormente as grandes naves. Essas naves, de origem atlântica e introduzidas no Tirreno sem dúvida pelos bascos, atingem dimensões imponentes (um mastro central de 40 a 50 metros!) e podem carregar 1 000 toneladas ou mais. Desafiam as tempestades e os piratas, navegam facilmente em alto mar e, mesmo, graças aos seus três mastros e cio seu velame bastante diversificado, avançam com ventos contrários. Enquanto Florença, sempre muito ligada ao comércio das especiarias, arma apenas galeras, Genova, que se interessa pelos produtos pesados, só arma naves; Veneza utiliza as galeras para os tráficos antigos, de luxo, e as naves para o algodão ou os vinhos. A exploração desses grandes navios impõe novas restrições, pois representa, cada um, um capital

163

Burguesia: “Classe social composta dos proprietários do capital que vive dos rendimentos por eles gerados. Pertencem à burguesia os industriais, os comerciantes, os banqueiros, os empresários agrícolas e os donos de empresas de serviços”.Novíssimo dicionário de economia. Paulo Sandroni editora Best Seller.

Page 164: 1história geral livro

considerável. É necessário evitar as perdas de tempo e os riscos de naufrágios na proximidade das costas. Não se pode, como outrora, multiplicar as escalas e alcançar todos os portos. Deriva disso uma forte concentração do tráfico em proveito de algumas regiões marítimas, encruzilhadas mercantis, centros de entreposto e de redistribuição.

AS TËCNICAS. O CAPITALISMO

Pode-se afirmar que numerosos mercadores utilizam, no século XV, as técnicas e as formas de associações do capitalismo moderno. Este aparece bem antes do Renascimento, bem antes do comércio com as indias e do desenvolvimento de Antuérpia ou de Amsterdã. Sem dúvida, do ponto de vista jurídico e formal, essas técnicas diferem por vezes das utilizadas atualmente; mas sua eficácia é a mesma e correspondem a mentalidades claramente capitalistas.

As principais inovações dizem respeito principalmente:

Inovações CaracterísticasÀ contabilidade. As contas, públicas ou privadas, fazem-se,

agora por partidas dobradas, o que permite, a cada momento, fazer o balanço de uma operação em curso ou terminada, precisar o estado das dividas e dos créditos de um cliente.

A moeda. Diferentes procedimentos permitem evitar o manejo de peças metálicas e a perda de dinheiro. Parecem ser principalmente um remédio diante da penúria de metais preciosos e reduzem assim as desvalorizações monetárias. O uso do cheque e da letra de câmbio expande-se amplamente. A transmissão dos créditos é feita com facilidade seja pelas transferências de contas, seja pelo endosso de cheques, letras ou títulos.

164

Page 165: 1história geral livro

o banco. Os bancos privados, muito numerosos e controlando várias filiais nas regiões estrangeiras, recebem depósitos, concedem empréstimos, asseguram as operações de câmbio, efetuam transferências de contas para seus clientes. Controlam também importantes companhias de comércio, pois a atividade dos homens de negócio jamais é especializada. Na Itália, os bancos públicos, associações de credores do Estado, distribuem dividendos anuais, para cada título da divida pública

O crédito A prática de venda a prazo e com base em amostras estende-se a importantes comércios; da lã na Inglaterra, do açafrão em toda a Europa ocidental. Se o empréstimo sobre penhor continua sendo uma operação reprovada pela Igreja ,o empréstimo para negócios generaliza-se entre os mercadores.. A fim de contornar as proibições eclesiásticas, sempre em vigor contra a usura, os homens de negócio imaginam novos processos, destinados a diversos fins. O recâmbio consiste em reexpedir um câmbio a um curso diferente do válido no momento: esta diferença representa o beneficio do emprestador. Essa prática do recâmbio, muito divulgada na Itália no século XV, fez a fortuna das praças financeiras correspondentes, aonde eram enviadas as letras de câmbio (Bruges, Londres, Sevilha), depois das feiras de câmbio que conheceram, já no fim do século XV, uma atividade considerável.

As companhias de comércio

O comerciante empresário domina toda a indústria. Indubitavelmente, não encontramos, então, nas cidades do Ocidente e mesmo na Itália, qualquer fábrica. Mas os artesãos das

165

Page 166: 1história geral livro

pequenas oficinas de tecelagem, por exemplo, trabalham por peça e percebem somente um salário correspondente à sua produção; os que operam a domicilio e se dedicam a tarefas mais rudimentares (lavagem, fiação) dependem ainda mais do comerciante, capitão de indústria, capitalista, que possui todas as matérias-primas e distribui o trabalho em todos os estágios da fabricação.

EVOLUÇÃO DAS SOCIEDADES URBANAS

As cidades, no fim da Idade Média, acolhem numerosos imigrantes. Diversificam suas atividades, suas estruturas sociais e mesmo, por vezes, modificam as formas de seu governo. O desenvolvimento da indústria têxtil atrai, para as cidades da Itália, da Alemanha ou da França mesmo, homens provenientes das zonas rurais à procura de melhores salários ou, antes, de uma maior liberdade. A fuga para a cidade é, para os camponeses das cercanias, um meio de escapar as pressões senhoriais, de evitar a volta às antigas servidões. Mas esses recém-chegados, freqüentemente sem raízes, que abandonaram sua paróquia. sua comunidade aldeã, sua família, acham-se muito mal integrados na cidade. Não participam de forma alguma, durante anos, da vida política e social. Formam uma plebe instável, mal paga, que a menor crise econômica reduz ao desemprego e à miséria.

A revolução política do fim da Idade Média não se traduz forçosamente, nas cidades livres, por uma renovação da classe dominante. Estudos históricos demonstraram que as mesmas famílias detêm riqueza e poder durante gerações, sem interrupção, do século XIII ao XV. Entretanto, é necessário também salientar que essas famílias, que conservam certamente o mesmo nome, se enriquecem, por meio de alianças ou adoções, de contribuições novas, a sociedade urbana longe de se congelar em castas ou classes rígidas, mantém-se ainda como um mundo novo, ativo.

AS ALDEIAS ABANDONADAS

166

Page 167: 1história geral livro

O abandono das aldeias antigas parece, o mais das vezes, ser o aspecto mais espetacular das transformações da economia agrária, na Europa ocidental. Os camponeses fogem de suas terras, abandonam seus bens para correrem as estradas ou se refugiarem nas cidades. Os matagais e os espinhais, na Alemanha mesmo as florestas, tomam novamente conta dos campos cultivados, apagam os caminhos e os limites das parcelas de terreno. As casas e a igreja caem em ruínas. São agora apenas aldeias desertas, vazias de homens, largadas ao abandono.

De fato, quase em toda parte, os abandonos das aldeias foram mais provocados por uma severa reorganização da economia agrária. No Sul, seguem o desenvolvimento dos latifúndios. Esses grandes domínios, outorgados, por razões políticas, pelos soberanos a seus fiéis após as expedições da Reconquista ou das guerras civis, reúnem terras imensas e, bem depressa se especializam na criação de ovelhas ou gado. Daí a ruína das atividades agrícolas tradicionais, a extensão abusiva dos terrenos para pastagens, as devastações dos campos arados pelas tropas que descem das montanhas no inverno. Daí a fuga dos camponeses para as cidades ou seu agrupamento em grandes burgos fortificados, submissos à autoridade do barão. É então que desaparece a pequena propriedade.

Essas transformações da vida agrária e o abandono das aldeias não são sempre sinais de empobrecimento econômico. Na Inglaterra, a criação, sedentária aqui, provoca certamente o abandono de inúmeras aldeias mas enriquecem da mesma forma as zonas rurais. O reagrupamento dos habitantes em aldeias maiores, cercadas de bairros com campos compactos, sublinha então os progressos da economia de cereais.

DIFICULDADES ECONÓMICAS; A REAÇÃO SENHORIAL

É inexato dizer que, desde o fim do século XIII, os senhores dos grandes domínios tinham abandonado a exploração direta do solo, alugado ou cedido suas terras, e se contentavam em perceber rendas anuais. Importantes senhorios são mantidos sempre na França do Norte e do Sul; possuem grandes reservas, tropas, numerosos edifícios de exploração, granjas para suas colheitas; se deixam de exigir corvéias camponesas, empregam grupos de

167

Page 168: 1história geral livro

trabalhadores agrícolas. Os Nobres, proprietárias dos grandes domínios, aplicam à gestão de suas terras rigorosos métodos que lembram os da indústria e do comércio.

Mas este senhorio rural, na Europa ocidental, é vítima de um desequilíbrio financeiro. Inicialmente devido ao aumento considerável das despesas pois o estilo de vida dos senhores rurais evolui de urna maneira radical decisiva. As contas dos senhorios demonstra que os senhores compram muitos produtos importados principalmente para a alimentação: especiarias, óleo, frutas, amêndoas, azeitonas, até mesmo bois; as vestes de veludos, os costumes de belo tecido custam fortunas.

Na mesma época. as rendas habituais do senhorio diminuem. Os preços dos cereais e dos produtos agrícolas mantêm-se estacionários ou sobem mais lentamente que os dos utensílios, da madeira ou do ferro. Dessa forma esses senhores tentam compensar suas perdas e a escassez de suas rendas elevando mais as taxas pessoais sobre os camponeses. Tentam, também, na Inglaterra, impor, com o apoio do rei, um retomo aos antigos salários. Proíbem aos camponeses, desejosos de mudar para as cidades. o abandono de suas propriedades.

REVOLTAS SOCIAIS

A “reação senhorial” sobre os camponeses, suscita descontentamentos, agravados ainda pelo peso considerável do imposto real, pois esta nova imposição, sistemática e cega, atinge a todos em todas as épocas do ano. O aumento dos impostos dá o sinal para a revolta em homens já exasperados pelas tentativas do senhor de limitar seus direitos. Os grandes levantes rurais ocorrem portanto graças à fome e a miséria, de pobres e de deserdados, somado a isnto as revoltas de camponeses livres, afortunados, senhores de suas terras, que se rebelam contra os novos atentados à sua liberdade pessoal. Os chefes proclamam bem alto a igualdade dos homens e o respeito à dignidade humana. Isso explica o aspecto religioso, nitidarnente marcado, dessas sublevações agrárias e, por vezes, uma ligação estreita entre as revoltas populares nas zonas rurais e as heresias.

O desejo de retornar aos tempos melhores alimenta lendas tenazes: a que afirma que os primeiros povos eslavos levavam uma vida estritamente

168

Page 169: 1história geral livro

comunitária sem senhores, a que anuncia que o imperador Frederico II deve aparecer novamente, proteger o povo, combater seus inimigos. Todas essas sublevações populares parecem profundamente marcadas por uro vivo sentimento messiânico: a espera do fim do mundo, do Apocalipse e de um messias que viria salvar os homens.

INFLUËNCIA DAS CIDADES: ASPECTOS SOCIAIS

Desde o século XIV, os burgueses compram terras e mesmo direitos aos antigos mestres. Na Inglaterra, comerciantes de Londres, marcineiros, ferreiros, mais ainda homens da lei, tomam-se compradores de propriedades senhoriais inteiras. Na Alemanha também, cidades de todas as categorias estendem sua influência às zonas rurais vizinhas. Esta influência, entretanto, parece ser muito forte sobretudo nas regiões mediterrânicas, nas quais a separação entre a cidade e a zona rural jamais foi muito clara, onde as Comunas se esforçaram muito cedo por dominar o distrito rural

Entretanto, em toda parte, esse avanço das cidades provoca, nas zonas rurais, desordens de todas as espécies. É assim que se afirma, na Itália e mesmo na Espanha, o movimento de emancipação rural dirigido ou apoiado pelos burgueses das cidades que, a fim de libertar as terras de todos os direitos feudais e das antigas restrições, lutam contra os senhores.

Do ponto de vista econômico principalmente, a ação das cidades traduz-se por uma sensível especialização comercial, a fim de responder às necessidades do mercado urbano, assim como às do grande comércio internacional. É o momento em que os comerciantes dos centros urbanos compram florestas e empreendem sistematicamente o reflorestamento das montanhas vizinhas, para construir mais casas, assegurar a exploração de minas mais profundas que outrora, alimentar as novas indústrias do fogo (forjas e vidrarias), lançar grandes navios. Desenvolvem-se também as culturas de plantas têxteis e de tinturarias: o linho e o cânhamo nas planícies alemãs e nos vales da França, a garança e o açafrão.

O desenvolvimento da criação parece ainda mais espetacular. A demanda de lã e de carne de corte aumenta. Os açougueiros exercem uma influência política considerável, possuem bens e terras. Os senhores, geralmente,

169

Page 170: 1história geral livro

aproveitaram-se do despovoamento das aldeias, de uma menor coesão das comunidades rurais. Mas esse movimento dos enclosures, por sua vez, precipita o abandono das aldeias e transforma de maneira decisiva a paisagem rural.

O SENTIMENTO RELIGIOSO E SUAS EXPRESSÕES

Desde a primeira metade do século XIV, mas principalmente após a Grande Peste, pode-se notar uma evolução muito sensível do sentimento religioso, ligado à angústia, à freqüência da morte e dos infortúnios. Esta fé bem diferente, mais complexa, mais pessoal muitas vezes, dá testemunho de um vivo impulso místico. A exasperação do misticismo conduz por vezes a superstições, práticas mágicas, bruxarias, condenadas formalmente pelos papas ou pelos concílios, das quais se encontra uma reprodução impressionante nos quadros de Jerome Bosch. Mas, de qualquer maneira, inspira vivas devoções populares à Virgem, aos santos protetores e curandeiros. É a época em que o homem procura uma religião mais humana, mais familiar, um Deus mais próximo; deriva disso o culto da Virgem da Misericórdia que abriga todos os homens sob seu manto; também os incontáveis Milagres da Virgem que liberta as almas pecadoras e desesperadas. Por outro lado, as poesias, as esculturas e os afrescos contentam-se em mostrar os assuntos familiares próximos ao Cristo e à Santa Família: assim nas cenas, tão numerosas então, da Anunciação, da Visitação, do Natal.

A ARTE DAS CORTES E DAS CIDADES

Os artistas, agora, sobretudo nas cidades, trabalham para os príncipes e os burgueses. Os miniaturistas, os pintores e os joalheiros não são mais monges, mas artesãos agrupados em corporações de oficiais e em bairros especializados (assim, em Paris); trabalham também segundo outros métodos, para outros clientes.

A fortuna das cortes principescas provoca a expansão de novas formas de arte, freqüentemente originais; os palácios e as casas de recreio, nas cidades e, posteriormente, no campo, anunciam uma arte arquitetônica liberta das

170

Page 171: 1história geral livro

preocupações militares. Afirmam-se, inicialmente, as artes de ornamentação e de recreio: móveis, tapeçarias, iluminuras dos Livros de hora), retratos em tela, retratos esculpidos na pedra ou no mármore dos túmulos; enfim, composições musicais para as capelas dos príncipes. Esta arte principesca permanece ligada ao espírito cortesão e dá testemunho de um certo arcaísmo, pelo gosto da alegoria e dos símbolos, pela procura de temas que narram ainda os fastos em desuso da vida senhorial: caçadas, bailes e festas, divertimentos nos jardins.

EVOLUÇÃO E PERMANËNCIA DO GÓTICO

Uma nova forma do gótico desenvolve-se inicialmente na Inglaterra, no século XIV, com o estilo dito curvilíneo ou decorado. Triunfa em seguida, algumas dezenas de anos mais tarde, na França com o estilo fiamboyant que parece ser bem a expressão mais característica dessa nova corrente. Os pedreiros, sempre fiéis certamente ao espírito fundamental do gótico, carregam entretanto os monumentos religiosos e civis de uma profusão de decorações e inventam linhas bem mais complexas e audaciosas que outrora. Multiplicam as nervuras nas abóbadas (abóbadas em estrela, palmas, hexágonos), abaixam e ornamentam os centros das abóbadas que pendem à maneira de estalactites. O frontão triangular do portal, tão alto, oculta a grande rosácea do primeiro andar. Por toda parte, os mestres-de-obras acrescentam, para satisfazer ao gosto da época, pináculos e pequenos campanários, flechas, balaustradas cinzeladas. No interior das igrejas o impulso em altura exaspera-se com a supressão do trifório; as paredes da nave só apresentam amplos vitrais.

.

3. A FORMAÇÃO DAS MONARQUIAS NACIONAIS

OS ÓRGÃOS DO GOVERNO CENTRAL

O soberano apóia-se principalmente na classe burguesa em ascensão e a menbros de sua família ou diretamente ligados a ele. O pessoal político é recrutado de uma maneira bem mais ampla. Certamente os nobres reagiram

171

Page 172: 1história geral livro

vivamente Contra a influência dos legistas, plebeus, familiares do rei, sobre os principais motores do Estado. Mas essas pretensões não puderam erguer por muito tempo um obstáculo sério diante da ascensão de homens novos, os elementos designados então como os conselheiros do rei. São magistrados, juristas, financistas, contadores, técnicos, freqüentemente clérigos, eclesiásticos; formados nas universidades do reino, foram aí então acolhidos nos colégios fundados pelos grandes burgueses ou pelos prelados, e receberam, após sua ordenação, importantes benefícios da Igreja. Esta evolução política precipita a concentração econômica e demográfica em proveito das cidades principescas, sedes dos governos e das cortes.

Na França mesmo, outras cidades se beneficiam com o dinheiro e a atividade das cortes principescas. Avignon ergue o Palácio dos Papas, inicialmente uma fortaleza e depois residência suntuosa, e outros grandes palácios para os cardeais, em Villeneuve. Acolhe os banqueiros italianos, protege os financistas ou os negociantes judeus, atrai os pintores de Siena, faz encomendas aos fabricantes de seda e aos tingidores. Às margens do reino, cria-se entli, a fortuna de Pau, Todas essas cidades não são somente brilhantes centros literários e artísticos, as residências de príncipes mecenas, mas centros de comércios e de indústrias, bastante ativos.

OS SOBERANOS E AS ASSEMBLËIAS DE ELEITOS

A Guerra dos Cem Anos, o recrutamento e o soldo dos mercenários, obrigam p soberano inglês e o francês a procurarem novos recursos, mais importantes e mais regulares que os frutos de seus domínios e as contribuições feudais tradicionais. Para multiplicar essas contribuições era-lhes necessário o consentimento de urna assembléia de representantes das diferentes ordens do reino. Essas assembléias existem desde há muito na Inglaterra: com o nome de Parlamento. Na França, ao Contrário, os Estados foram convocados, sob Filipe, o Belo, somente em ocasiões excepcionais.

assembléia características

172

Page 173: 1história geral livro

Parlamento inglês órgão de governo regular, reúne-se todos os anos, urna a três vezes conforme as circunstâncias. As reuniões sEio curtas. Esta assembléia conta somente com duzentos ou trezentos pessoas, representantes de toda a Inglaterra e de todas as categorias sociais; o rei designa os “lords temporais e espirituais”, escolhidos, nExo como grandes proprietários, mas como chefes responsáveis por importantes comunidades. Convoca também os curi ai es, conselheiros técnicos, juizes, financistas, ou administradores. Entre os Comuns sentam-se, eleitos sob o controle do sheriff, dois cavaleiros para cada condado, dois delegados para cada cidade ou burgo. Esses homens, lords ou membros do Comum, não somente combinam o imposto, como lhe estabelecem o regulamento e lhe -asseguram a arrecadação. O rei trata com deputados responsáveis. Estes desempenham também um papel político, através de seus pareceres e conselhos freqüentemente solicitados, por petições que, apresentadas ao rei, podem precisar ou modificar a legislação tradicional. Apesar de sérios dificuldades no momento de algumas crises financeiros e políticas, malgrado por vezes violentas oposições (a do Good Pariarnent em 1376), o rei e o Parlamento as mais das vezes colaboram. A assembléia atua perfeitamente como um órgão do governo.

Os Estados gerais O rei convoca, principalmente, os senhores dos grandes feudos: nobres e prelados. Os delegados representam somente as cidades, eleitas por votação limitada; não se encontra qualquer membro da pequena nobreza. O rei

173

Page 174: 1história geral livro

os convoca raramente, somente em ocasiões catastróficas, para fazer face às necessidades prementes de dinheiro. Os delegados esforçam-se então, naturalmente, por apresentar suas reivindicações, por impor reformas. Esses estados agrupam representantes dos três Estados:nobreza, clero e povo

FRAQUEZA DO IMPËRIO. ANARQUIA NA ALEMANHA

O ABANDONO DOS PAPAS

O cativeiro de Avignon

A eleição de Clemente V, arcebispo de Bordéus (1305), posteriormente à instalação do papado era Avignon (de 1309 a 1378) anunciam para a Igreja ocidental sérias dificuldades e discórdias. Este papado de Avignon é, de fato, francês, aliado e submisso aos reis franceses. Todos os papas foram bispos franceses; os cardeais, os grandes oficiais da Curia eram da mesma forma, na sua grande maioria, das províncias do Sudoeste, Bordelais, Limousin e Périgord principalmente. Por isso os papas foram muito impopulares. Os italianos, e mais particularmente os romanos, privodos de importantes fontes de renda, condenam violentamente o que chamam de Cativeiro da Babilônia. Toda a cristandade queixa-se de sua submissão aos Valois e do peso excessivo de seu fisco.

Entretanto, quando Gregório XI decide, após haver confiado a capitães ingleses e alemães a reconquista de seus Estados italianos, retornar a Roma, em 1378, morre pouco após. Um concílio de cardeais italianos designa então Urbano VI; chegados um pouco mais tarde, os cardeais franceses elegem

174

Page 175: 1história geral livro

Roberto de Genebra, um francês, que se toma papa com o nome de Clemente VII. Desde então, o Grande Cisma do Ocidente separa toda a cristandade romana em duas obediências e arrasar o prestígio pontifical. A Itália, o imperador Carlos IV de Luxemburgo, a Inglaterra ligam-se ao papa italiano de Roma, enquanto a França, os duques da Lorena e de Brabante, a rainha de Nápoles seguem o papa francês, novamente em Avignon. Este cisma não é resolvido nem com a morte dos soberanos pontífices, pois cada partido escolhe então prontamente um sucessor, nem quando do concílio de Pisa (1409), que não teve outro resultado a não ser o de designar um terceiro papa.Enfim, o Concílio de Constança impõe, graças ao apoio político e mesmo policial do imperador Sigismundo a demissão de dois dos papas (Gregóiio XII e João XXIII) e elege Martinho V, em 1417.

A guerra dos Cem Anos

AS ORIGENS E OS PRIMEIROS COMBATES

A história do conflito franco-inglês sublinha evolução política dos dois remos. Questão feudal de início, agravada por uma crise dinástica a guerra, um século mais tarde, assume um caráter mais nacional, compromete mais as populações e suscita recepções coletivas das mentalidades populares nacionais.

A questão feudal foi provocada pela recusa ou as reticências do rei da Inglaterra em prestar homenagem ao rei da França pelos seus feudos do continente; advindo disto a guerra em 1324-1327. Após haver prestado homenagem em 1329, Eduardo III recusa reconhecer Felipe VI. Os dois adversários procuram aliados, em particular em Flandres, e a guerra só toma seu rumo decisivo em 1340: pela vitória naval de Ëduse os ingleses asseguram-se do domínio do mar, do transporte de suas tropas pelo continente põem fim, por longo tempo, às incursões dos corsários normandos em suas costas.

Em terra, a superioridade militar inglesa afirma-se desde os primeiros encontros. Os franceses armam sempre tropas essencialmente feudais, difíceis

175

Page 176: 1história geral livro

de comandar, formadas principalmente por cavaleiros que atacam pesadamente o inimigo. Os ingleses recrutam de preferência mercenários; todavia, seus exércitos contam com um grande número de infantes, camponeses livres, armados com o “grande arco”, cujo uso certamente deve ter sido aprendido durante as guerras contra Gales: uma arma temível que atira muito longe e muito rápido. Formados em quadrados compactos, os arqueiros ingleses dizimam todas às vezes as cargas francesas. A guerra dos cem anos fortaleceu a unidade francesa e foi à base da formação nacional.

.A guerra das Duas Rosas

Na Inglaterra, a unidade do reino, sua paz interior ~ menos. encontram-se gravemente comprometidas pela longa minoridade de Henrique VI e pela divulgação dos reveses militares no continente. Ao mesmo tempo que aumentam o banditismo e as desordens, az revoltas de camponês e que a loucura do soberano deixa o poder real enfraquecido, entram em choque facções principescas que reivindicam a coroa e se apóiam em vastas clientelas feudais. Desse modo, inicia-se a guerra das Duas Rosas entre os partidos de York (rosa branca) e de Lancaster (rosa vermelha). Durante mais de quinze anos (de 1455 a 1471) essa guerra divide a Inglaterra em dois clãs violentamente hostis, devasta az zonas rurais, espalha por toda a parte cx corrupção. Finalmente. Eduardo 1V, chefe do partido York. vencedor em 1461, domina em seguida Henrique VI e o decapita na Torre de Londres.

UNIDADE DIDÁTICA XI - OS TEMPOS MODERNOS

176

Page 177: 1história geral livro

INTRODUÇÃO

Hoje, não se vê mais na Renascença uma ruptura brutal com a época me-dieval. mas o resultado de uma lenta evolução ue mergulha suas raízes na Idade Média. Alguns, históriadores, situam os começos da Renascença a partir do despertar da vida urbana, no século XIII e, mesmo, no XII. A maioria afirmar que a Renascença despertou muito cedo, não apenas na Itália mas também em grande parte da Europa Ocidental.

O conceito de reforma é ainda mais antigo que o de renascença. A História da Igreja, na Idade Média, é a de uma seqüência de reformas tímidas feitas por papas, concílios, Santos , que procuraram conduzi-la à pureza primitiva eliminando os abusos causados pela presença do clero na época. Poucos homens tinham ousado abandonar o seio da Igreja a fim de perseguir esse ideal de pureza clerical. Nem bem nem mal, até que uma solução viesse intervir no seio da Igreja romana. Enquanto a ação de Wyclif e João Huss permanecera limitada a seu país, a revolta de Lutero deu o sinal de um movimento que repercutiu em toda a Europa Ocidental.

1. Renascimento

Os homens do século XVI só adotaram tardiamente o termo “renascença”. Somente em 1550, este termo renascença inicialmente utilizado apenas pára artes é estendido o sentido a civilização. No entanto, não se havia esperado essa data para se tomar consciência da mudança operada nos espíritos e nas expressões literárias e artísticas. Este sentimento existia, na Itália sobretudo, onde os eruditos acreditavam, ser os únicos capazes de reencontrar o pensamento da antiguidade clássica. Por ser na Itália que existiu o império Romano. Na verdade o termo ao retorno ao pensamento e às formas de expressão da Antigüidade Clássica, (Roma e Grécia). Renascença não pode ser dissociada do humanismo, que situa o homem no centro das

177

Page 178: 1história geral livro

preocupações espirituais e dos estudos sociais . O Antropocentrismo é a forma de pensar dos homens do renascimento.

AS CONDIÇÕES DA VIDA INTELECTUAL

Na segunda metade do século XV e no começo do XVI, a vida intelectual reencontra condições favoráveis a uma renovação com o aparecimento do livro impresso, e a divulgação da cultura . Desde o seu aparecimento, a Igreja e os soberanos exercem vigilância sobre este poderoso meio de difusão das idéias. No século XVI. a indústria do livro se concentra nas grandes cidades universitárias e nos centros comerciais. A lista das publicações testemunha, sobretudo, as necessidades intelectuais da freguesia. Dos livros impressos no século XV, cerca de 30.000 a 35.000 edições, contam-se 77% em latim, nas línguas nacionais (francês, italiano português).

HUMANISMO E RENASCENÇA NA ITÁLIA

O humanismo, em seu início, consiste em uma nova concepção do homem e ocasiona uma nova concepção do espaço e das formas. Essas novas maneiras de ver se desenvolver numa nova concepção do mundo.

Na origem dessas novidades se encontram as heranças da cultura clássica muito presente em solo italiano. Na Florença dos Médicis, Lourenço, o Magnífico. agrupara a sua volta uma “academia” de letrados. Os Médicis não eram os únicos Mecenas de Florença., as igrejas e os conventos deram trabalho a um grande número de artistas, na realidade a Igreja católica era a maior mecenas da antiguidade. O período florentino da Renascença inaugura o estudo crítico dos textos da Antiguidade. Os artistas reencontram a perspectiva. libertando-se dos tabus da Idade Média, como o nu e os temas pagãos vistos como o inverso da fé. Florença é ilustrada pelo arquiteto Brabante e seus esboços (domo de Santa Maria das Flores) pelo escultor Donatello e uma legião de pintores como Botticelli e Ghirlandaio.

O papa Júlio II confiou a reconstrução de São Pedro ao arquiteto Bramante, que concebeu um edifício que exprimia a unidade e a harmonia

178

Page 179: 1história geral livro

do universo. Miguel Ângelo executou a obra empreendida por Bramante, não sem reduções infligidas pelas dificuldades do financiamento.

O período romano da Renascença representa perfeitamente o humanismo triunfante, apoiado nos exemplos da Antiguidade. Suas figuras ímpares são: Miguel Ângelo ( arquiteto. escultor, pintor e poeta), Leonardo da Vinci, (espírito universal, pintor original e engenheiro) e Rafael que melhor representa. incontestavelmente, o ideal humano da Renascença italiana.

O HUMANISMO NA EUROPA OCIDENTAL

O humanismo se difundiu da Itália para toda a Europa ocidental. No entanto as ciências exatas no século XV, já tinham grandes progressos e na astronomia que se realizam as maiores transformações, com o polonês Copérnico (1473-1543). O que denominamos a “revolução copernica”

179

O particularismo Veneziano

. Veneza é uma cidade de humanistas e de impressores, mas é também uma potência comercial, voltada para o Oriente, dominada pelo espírito prático. Na sua universidade de Pádua, continua-se fiel ao pensamento dos comentadores de Aristóteles, dentre os quais o muçulmano Averroês, que não aceita a imortalidade da alma. Nesse quadro espiritual original, ensina o humanista Pomponazzi (1462-1525), que se apresenta como um racionalista, afirma que o homem não foi feito à imagem de Deus e solapa as bases da revelação cristã negando os milagres e a imortalidade da alma..

Veneza, rebelde ao neoplatonismo, toma-se o principal centro de arte na Itália. Certamente, seus artistas tinham adotado a concepção do espaço dos romanos, mas exprimiram a grandeza de sua cidade, suas cores e seus contatos com o Oriente.

Page 180: 1história geral livro

consistiu em colocar o Sol no centro do sistema planetário. Revolução radical para época, pois conflitava com a Bíblia.

A ciência física acumula observações e, vez por outra, as receitas práticas, algumas das quais terão grande futuro. Desse modo, Paracelso foi um dos primeiros a utilizar os corpos químicos como medicamentos. O humanismo favoreceu o conhecimento do corpo humano. Os médicos começam a praticar as dissecações e os artistas reproduzem os sistemas ósseo e muscular com notável exatidão. Estabelece-se a circulação do sangue. Desenvolvem-se progressos no tratamento das feridas (invenção do garrote para estancar as hemorragias). Como podemos ver o humanismo encorajou a ciência.

Renovação dos temas e da expressão literárias e artísticas

Em toda a Europa Ocidental, a literatura e a arte sofreram transformações. A Itália, onde fora elaborada uma nova visão do homem e do espaço, permaneceu o país em que estas novidades encontrou a sua mais completa expressão. Nela teve, antes de 1530, numerosos escritores. Teve, igualmente, uma multidão de pintores, entre os quais Corregio (1494-1534), em que a composição, a forma e o colorido exprimem um paganismo fácil e voluptuoso. E na Itália que Machiavel (1469-1527), é notabilizado por O Príncipe (1513), tratado de política realista, permanece isolado.

Em Veneza, a arte italiana toma uma nova orientação com Ticiano (morto em 1576) e com o arquiteto San Sovino (1486-1570), que modela a Praça de São Marcos. A pintura produz ainda obras-primas inspiradas pela atmosfera e pela grandeza venezianas, com tmtoretto (1512-1594) na expressão patética, e com Veronese (1528-1500) que ilustra o luxo e o cenário das festas de sua cidade. As influências italianas chegaram, em primeiro lugar, nas cortes de Francisco I da Áustria, rapidamente a Espanha, muito embora as influências flamengas sejam nela exercidas durante algum tempo. A Flandres, que, na economia européia, constituía um pólo de atração distinto do da Itália, manteve a sua originalidade. Os edifícios, mesmo civis, permaneceram por mais tempo fiéis ao gótico. O mesmo aconteceu com os pintores como o visionário Bosch (1450--1516) ou Quentin Metsys (1465-1530). A influência da Antiguidade aparece apenas em Mabuse (1478-cerca de 1533), Bruegel, o

180

Page 181: 1história geral livro

Antigo (1525-1569), soube assimilar as técnicas italianas, porém permaneceu flamengo por sua sensibilidade à vida.

Na Inglaterra, a arte da Renascença penetrou muito lentamente com a construção do castelo de Hampton Court e a vinda do pintor alemão Holbein (1497-1543), célebre por seus retratos das grandes personagens. A Renascença foi um fenômeno europeu. Alcançou a Polônia e exerceu sua influência até em Moscou onde italianos trabalharam no Kremlin, e em Constantinopla.

2. A REFORMA

Não foi apenas os abusos da Igreja a única causa da Reforma nem podemos mais ver nela a exclusiva procura da salvação. Estas duas causas não eram novas. A Europa Ocidental estava em mudança. As provações da Peste Negra, as fomes e as guerras, as transformações econômicas e sociais, a constituição das nações não podiam deixar de agir sobre a religião. As exigências espirituais de um maior número de homens, no século XVI, tornavam os abusos mais insuportáveis do que no passado, tanto mais que o impulso econômico e o progresso das comunicações aumentavam a sua importância. Foi este conjunto complexo que fez da Reforma um movimento ao qual, pela primeira vez, a unidade da Igreja do Ocidente ficou definitivamente isolada.

CAUSAS DA REFORMA

Podemos distinguir causas religiosas, morais e sociais:.

As causas religiosas

.A religião se individualiza pelo efeito de práticas mais pessoais. Torna-se

mais interior. Os progressos da mística seguem no mesmo sentido, dissociara fé e razão, condenara a escolástica à decadência e criara uma insatisfação

181

Page 182: 1história geral livro

intelectual. Em vista disso, não deixava aos cristãos senão a possibilidade de duas atitudes: uma fé ritual e dissecada ou, então, a pesquisa do conhecimento místico.

No momento em que começa a Reforma, a Igreja continua a lutar contra heresias nas quais se encontram inúmeras idéias que formarão o essencial do protestantismo. Sob os termos “heresia boêmia”, Roma confundia, não apenas os discípulos de João Huss, mas também os de Wyclif, que proclamavam a Escritura única fonte de verdade, rejeitando a autoridade de Roma e da tradição, os sacramentos, à exceção do batismo e da comunhão, o Purgatório e o culto dos santos, e que se esforçavam por praticar fraternidade e pobreza. João Huss fizera, igualmente, da Escritura a fonte única da verdade, mas reconhecia a autoridade de Roma e admitia que cada qual podia interpretar a Bíblia livremente.

Todos esses movimentos tendem a rejeitar a tradição católica e a fazer da Bíblia o fundamento único da crença. O retorno à Bíblia foi auxiliado pela invenção da imprensa que permitiu a sua difusão para os leigos.

As causas morais

Antes de 1520, Erasmo, mais que Lutero, insistira sobre os abusos de que o clero era prova. Tais abusos enfraqueceram a resistência da Igreja e, uma vez consumada a ruptura, forneceram argumentos polêmicos aos seus adversários. Os abusos do clero eram reais. Muitos bispos tinham comprado os sufrágios de seu capítulo. acumulavam rendimentos e muito raramente rezavam missa. Padres viviam com companheiras mesmo tendo feito voto de castidade, vendiam os sacramentos e levavam a mesma vida de seus paroquianos.

A Santa Sé, particularmente, estava paralisada. A difícil reconstituição do Estado pontifício, após o Grande Cisma, o mecenato dos papas, seu papel político faziam deles príncipes italianos e lhes reduziam a autoridade sofre a Igreja no momento em que os sentimentos nacionais se desenvolviam e incitavam os fiéis a afirmarem a autonomia das Igrejas nacionais, A Inquisição espanhola estava nas mãos dos soberanos. A venda de indulgências escandalizava o povo..

182

Page 183: 1história geral livro

Causas econômicas, sociais e políticas

Os fatores econômicos, sociais e políticos podem explicar as atitudes dos fiéis e, conseqüentemente, a ruptura da unidade. Recordemos que todo descontentamento se exprimia de maneira religiosa. Desde os meados do século XV, o papel crescente do dinheiro é o que mais suscita indignação. Os pregadores dominicanos votam o usurário à danação. Após as perturbações sociais do século XVI, a revolta contra a miséria assume com facilidade a forma de conquista do reino de Deus. Os primórdios do capitalismo comercial formão os antagonismos entre as cidades em pleno desenvolvimento e os campos.

As razões econômicas, sociais e políticas foram, provavelmente, mais fortes na Alemanha do que em outros lugares. Na ausência de uma forte monarquia nacional capaz de defender os fiéis contra a voracidade da fiscalização pontifical. Os príncipes laicos aspiravam reduzir o papel do imperador e substituí-lo como chefes temporais da Igreja em seus domínios. Essa estrutura política explica o fato de que a pregação das indulgências tenha tomado na Alemanha um caráter mais escandaloso do que noutros países e tenha moldado a reação decisiva.

LUTERO E A REFORMA FORA DA IGREJA

Em 31 de outubro de 1517. Martinho Lutero fazia afixar em Wittenberg 95 teses, em que denunciava a falsa segurança alcançada pelas indulgências cuja venda o papa e tinham confiado aos donicanos, a iniciativa de Lutero teve repercussões inesperadas.

A revolta de Lutero

Lutero (1483-1546), filho de um camponês que se tornou pequeno empreiteiro sangra-se monge da ordem de santo agostinho, padre, doutor em teologia, professor na universidade de Wittenberg. Estudando as obras de santo agostinho Lutero chegou à opinião de que o homem, ficou decaído em razão do pecado original. só poderia ser salvo pelos méritos únicos de Jesus

183

Page 184: 1história geral livro

Cristo. Deus concede a salvação por graça àquele que acredita na promessa da graça feita pelo Cristo. Conseqüentemente. as obras são inúteis à salvação.

Encontravam-se nos escritos e nos propósitos de Lutero conclusões práticas. Ele reclamava a formação de uma Igreja nacional autônoma, a supressão das ordens mendicantes e do celibato eclesiástico, a comunhão, medidas contra o luxo e a usura. No entanto apesar sua revolta contra Roma e o dinheiro, ele se mostrava respeitador da hierarquia social e mesmo da eclesiástica. Com este programa Lutero seduziu a pequena nobreza que forçou Lutero a romper com a Igreja.

A atitude dos príncipes foi decisiva. A eleição imperial dava liberdade ao papa Leão X, e o novo imperador manifestava o desejo de reforçar o seu poder na Alemanha graças ao apoio de seus Estados espanhóis. Por isso, a independência religiosa proposta por Lutero revelou-se aos olhos dos príncipes como o complemento de sua independência perante o imperador e o papa.

Foi nessas condições que Lutero queimou, no Natal de 1520, a bula, que o condenava, e foi excomungado. Comparecendo assembléia de Worms, com um salvo-conduto, recusou retratar-se (abril de 1521), separou-se da Igreja, foi banido para o Wartburg.

Dietas ( Reunões) O que aconteceuNa Dieta de Worms (1521), Lutero foi condenado como

herege: Lutero negou-se a se retratar e com o apoio da nobreza não foi punido (refugiou-se no castelo do príncipe da Saxônia) traduziu a Bíblia latina para o alemão.

Na Dieta de Spira (1529), tentou-se conter o luteranismo (tolerar a doutrina luterana nas regiões convertidas, mantendo, porém, a proibição no

184

Page 185: 1história geral livro

restante do país), havendo protestos (daí o nome de protestantes).

Na Dieta de Augsburgo (1530),

o desacordo originou sérias lutas entre o imperador (Carlos V) e os nobres (Liga de Smalkade): guerra de religião.

A confissão de Augsburgo

Quando Lutero saiu do Wartburg onde se ocupara de traduzir a Bíblia e de compor cânticos, o movimento de reforma fora da Igreja romana se tinha propagado mas diversificado.Suas praticas exaltadas provocaram revoltas.

Foram consideráveis as conseqüências dessas guerras. A base social do luteranismo encolheu-se. Amedrontados, alguns abandonaram Lutero e se reaproximaram da Igreja romana, ao passo que outros levaram Lutero a inclinar-se no sentido de dar às Igrejas reformadas uma constituição hierarquizada sob a direção dos príncipes. O movimento luteriano progredia nos países alemães. Os príncipes luteranos, a partir de 1530, passaram a ter uma participação maior na política européia. Em 1529, protestaram contra a manutenção das medidas tomadas no tocante a Lutero, daí o nome “protestantes” que lhes foi dado. Tendo Carlos V convocado para esse fim uma assembléia de Império em Augsburgo, Melanchthon redigiu a Confissão lutarana de Angsburgo. Em 1555, pela paz de Augsburgo, Carlos V reconhecia uma existência oficial às Igrejas luteranas. Os súditos deveriam seguir a religião de seus países (Cujas regia, hajas religio), na realidade de seu príncipe.

185

Page 186: 1história geral livro

CALVINISMO

Os primórdios da Reforma na França

Quando Calvino se torna o guia da Reforma francesa, a França oferecia um terreno bem diferente às aspirações de reforma. O poder real aí se reforçara e podia defender a Igreja da França contra Roma. Essa Igreja conhecera uma vasta autonomia. Sua reforma só podia, pois, ter êxito se o rei o quisesse. O desejo de reformar a Igreja era muito forte. Luís XII, tinha tentado uma reforma nas ordens religiosas. Francisco I tinham sido ganho pelo humanismo.Entretanto, alguns dos numerosos pregadores populares tomavam por sua conta as afirmações de Lutero.

Crescia a efervescência religiosa. Deparavam-se em quase todas as províncias pequenos centros favoráveis às idéias luteranas,

O tom cresceu com a provocação dos “Cartazes” (18 de outubro de 1534). Cartazes fixados simultaneamente em Paris, em Orléans e até na porta

186

Anabatistas

O anabatismo apareceu em toda parte onde os reformadores submetiam a Igreja ao poder político. Considerando que não se podia ser cristão a não ser por uma conversão pessoal, os anabatistas só reconheciam o batismo dos adultos. Não procuravam conquistar a multidão e admitiam a tolerância. Recusavam, porém, a autoridade do Estado e consideravam a propriedade individual como um pecado. Os anabatistas foram então acossados pelos católicos e pelos protestantes. Entretanto, Menno Simons (1496-1559) restituiu ao anabatismo o caráter pacífico de seus primórdios. Alguns pequenos grupos se instalaram nos Países Baixos e na Europa Central.

Page 187: 1história geral livro

da câmara do rei atacavam com violência a missa. O fato assumia o aspecto de um negócio de Estado. Francisco I, castigou ou Luteranos que foram queimados, os chefes da Reforma fugiram, enquanto procissões expiatórias revelavam a força do apego à fé tradicional. Foi então que Calvino se transformou em defensor dos reformados perseguidos e publicou a “Instituição Cristã” em latim (1538), depois em francês (1541).

Calvino

João Calvino, filho de um administrador de bens da Igreja, estudou as artes liberais em Paris, depois Direito em Orléans. Humanista, converteu-se as idéias dos reformistas, renunciou aos seus benefícios e fugiu para Estrasburgo.

Com a Instituição cristã, Calvino inova e cria uma visão própria e original para a reforma francesa. A obra é caracterizada pelo rigor e pela clareza do raciocínio, Calvino incorporou o pensamento de seus predecessores, renovando-o, a idéia essencial de Calvino é que Deus nos é transcendente só sabemos dele aquilo que Ele nos quis revelar através da Escritura. Sem a Escritura o homem só pode ter de Deus uma idéia falsa, pois o pecado original lhe enfraqueceu a inteligência. A lei só pode ser o efeito da graça divina. O tratado da Predestinação eterna de Deus (1552) precisa um ponto capital no pensamento de Calvino. A predestinação é absoluta. Deus, por antecipação, destina alguns à vida eterna, os outros à eterna maldição. A graça é irresistível. O sinal dela é a fé com que Deus nos presenteia. Desta fé decorre a certeza da salvação. Calvino não condenou o empréstimo a juro. Aliás, a moral calvinista encorajava a aplicação no trabalho na profissão em que Deus situara cada qual. Calvino considerava, igualmente, que o êxito em todo empreendimento constituía a recompensa de Deus a seus eleitos Deste modo, o calvinismo, não só reconhecia a evolução da Europa, mas justificava a atividade econômica. Max Weber, um sociólogo alemão, publicou no início do século XX, um estudo intitulado “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, onde procurava enfatizar as relações entre a ética calvinista e o início do capitalismo na Europa.

187

Page 188: 1história geral livro

A expansão do calvinismo

Com Calvíno, a Reforma encontrou um novo impulso. Chamado a Genebra, impôs as ordenanças eclesiásticas de 1541, que, de fato, implicava uma reforma da Igreja e da sociedade. Para ele a Igreja reformada , ligada intimamente ao Estado, não lhe era submissa. Ao contrário, era a sua inspiradora. Sem magistratura oficial, Calvino exerceu uma verdadeira ditadura. Calvino, apoiado por numerosos refugiados franceses, desejava impor uma inquisição rigorosa acerca das práticas católicas, anabatistas ou mesmo profanas, como a dança, o teatro e os divertimentos. Em 1558, Calvino fundou alcademia de Genebra, destinada a formar pastores e missionários. Genebra torna-se uma capital; no século XVI, ela foi o centro principal do calvinismo. Sua Igreja servia de modelo nos países de língua francesa, nos Países Baixos, na Alemanha. Na França, o calvinismo progrediu bastante.

O calvinismo propagou-se, igualmente, nos Paises Baixos. Na Escócia, a Reforma, provinda da Inglaterra, encontrou, de início, pequena repercussão. Mas o sentimento nacional colaborou com sua propagação. O Parlamento adotou uma confissão de fé redigida por John Knox, formado na Academia de Genebra, a Igreja presbiteriana da Escócia era organizada pelo Livro da Disciplina, de maneira mais democrática que a de Genebra, de vez que os pastores eram eleitos pelos fiéis.

A REFORMA ANGLICANA

antecedentes

A Reforma, na Inglaterra. revestiu-se de um caráter original, graças a um Parlamento fraco, a Reforma estava nas mãos do rei,como ocorreu na França mas diferente da francesa, a Igreja da Inglaterra não tinha tradições de autonomia em relação a Roma. Ao contrário, a Santa Sé impunha à Inglaterra um imposto muito pesado. Portanto era o papado impopular. O clero possuía grandes domínios. Wyclif já havia solicitado um retomo à simplicidade

188

Page 189: 1história geral livro

primitiva da Igreja. O rei da Inglaterra Henrique VIII, pretendia manter-se fiel a Roma e publicou um tratado em que justificava os sete sacramentos, o que lhe valeu do papa o título de “Defensor da fé”.

Porem por razões exteriores à religião, a Inglaterra o processo de reforma iniciou. Henrique VIII. não tendo tido filhos da rainha Catarina de Aragão e estando apaixonado por Ana de Bolena, solicitara ao papa a anulação de seu casamento, porem o papa negou a anulação. Em 1531, Henrique VIII, se fez proclamar pelo Parlamento protetor da Igreja inglesa. O clero entregou ao rei a chefia da Igreja. Henrique VIII fez com que o arcebispo de Canterbury, anulasse o casamento com Catarina e Aragão e se casou com Ana de Bolena. Em novembro de 1534. o Parlamento votava o primeiro Ato de supremacia. que estabelecia o rei como “Chefe supremo na Terra da Igreja da Inglaterra”. Os ingleses, por juramento. deviam submeter-se a essa supremacia. caso contrário seriam excomungados e perseguidos pela justiça real. A nomeação dos bispos retorna praticamente ao rei. A venda dos bens do clero regular permitiu ao rei forçar os seus adquirentes a romper com Roma. De Inicio a reforma inglesa era um cisma sem muitas mudanças com o catolicismo, posteriormente o anglicanismo vai se aproximar do luteranismo e do calvinismo.

O herdeiro de Henrique VIII, Eduardo VI morre logo após a chegada ao trono, e em 1553 é sucedido por Maria Tudor, filha de Catarina de Aragão, que se mantivera católica. A rainha tentou reconciliar a Inglaterra e Roma. No mesmo ano que chegou ao trono em 1553, o Parlamento votou o retomo à obediência romana. Os bens da Igreja secularizada deveriam permanecer em mãos de seus novos possuidores. A tentativa de restauração católica foi ajustada pelo casamento de Maria Tudor com Filipe II da Espanha. O catolicismo romano aparecia para a maior parte dos ingleses como a religião do estrangeiro.

Morrendo Maria Tudor em 1558, sua meia-irmã Elisabeth, filha de Ana de Bolena e, portanto mal vista aos olhos de Roma, retoma ao movimento de reforma. O Parlamento, votou o restabelecimento do Ato de supremacia e o do livro de orações de 1542. Em 1563 era definida a Confissão dos 39 artigos, que mantinha a hierarquia episcopal e o culto semelhante ao católico. Nascia, desse modo, uma confissão religiosa original, o anglicanismo.

189

Page 190: 1história geral livro

A REFORMA CATÓLICA OU A CONTRA-REFORMA

Na história da Igreja durante o período da reforma é possível distinguir Treis movimentos: a Contra-Reforma, isto é, a defesa da lei pela apologética e, também, pelas perseguições; a Reforma disciplinar e doutrinal; enfim, a Reforma Católica com o despertar da fé e do impulso missionário. A Contra-Reforma pertence tanto à história política e à história das mentalidades quanto à história religiosa. Em compensação, o estudo da reforma católica é inseparável do da reforma protestante. Ela se desenvolve mais ou menos na época de Calvino. Podemos dividi-la em dois períodos. O primeiro é caracterizado pela persistente esperança de um retomo à unidade da Igreja. No segundo, começado em 1541, a Igreja romana. havendo-se resignado à ruptura, se organizam em função de suas nova perspectivas.

A nostalgia da unidade

O movimento de reforma da Igreja romana, lançado no início do século, prosseguiu. Ele era sustentado pelos progressos da devotio moderna que, suscitada pela Imitaçao de Jesus Cristo, propagara o misticismo entre os laicos e conciliava a vida ascética e a vida ativa. Não se deveria, igualmente, ignorar o exemplo dado por alguns prelados que se dedicaram em melhorar a formação dos podres e a renovar o vigor da catequese e das obras de caridade. Todavia, a defesa do catolicismo repousava, no momento, sobretudo nos soberanos.

A iniciativa de fazer um Concilio Ecumênico para reunir os católicos vem de um papa que não parecia a isso destinado, Paulo III (1534—1549), no ano de 1536, Concílio Universal. A reforma da Igreja romana começava verdadeiramente. Paulo III soube mobilizar todas as energias que se apresentavam. Em 1536, nomeou cardeais humanistas eminentes e respeitados, que prepararam o programa do futuro concílio. E criado “o Conselho sobre a reforma da Igreja” (1537), órgão onde os abusos eram impiedosamente denunciados. Aliás. Em 1542, a Inquisição romana era confiada a uma congregação de cardeais e a censura dos livros ao Santo Oficio, em 1543. O

190

Page 191: 1história geral livro

primeiro índex dos livros interditos foi publicado em 1564. Paulo III apoiou-se também nas ordens monásticas novas: vicentinos, capuchinhos. saídos dos franciscanos, fundadas em 1525 e. enfim, jesuítas instituidos por Inácio de Loyola.

Dentro deste mesmo espírito, surgiu nosso interesse principal que é a Companhia de Jesus. Ela vem ocupar em âmbito mundial o espaço deixado pela Ordem dos Templários, embora constituam uma ordem de caráter militar, os jesuítas já não usariam espadas como os templários. Sua arma passou a ser a educação de acordo com o decreto "Ratio Studiorum". De certo, uma arma muito mais poderosa. Fundada pelo basco Inigo de Onaz mais conhecido por Santo Inácio de Loyola, fidalgo da corte de Fernando de Aragão portanto, vivendo as novidades do Novo Mundo, a vitória da reconquista e a luta contra o protestantismo, foi ele militar do exército espanhol, antes de descobrir sua vocação religiosa.

O concílio de Trento

Em 1541, a cidade de Trento fora escolhida como lugar de reunião de um concílio. Reuniu-se de 1545 a 1547, de 1551 a 1552 e, enfim, de 1562 a 1563, sujeito às eventualidades da política européia. Enfrentou diretamente duas tarefas: definição do dogma e restauração da disciplina. Duas tendências nele se opuseram. A primeira, a moderada sustentada pelos soberanos dos países divididos pela Reforma, que conseguiu com que aí fossem ouvidos teólogos luteranos. A segunda tendência era a do papado que, constatando a ruptura definitiva, se opunha a toda concessão doutrinária aos protestantes e esperava, através da reforma disciplinar, reforçar a autoridade pontifical sobre o mundo católico. Com o pontificado Paulo IV, o papado, apoiando-se no movimento, tomou a direção da reforma do catolicismo.

A obra doutrinária consistiu em reafirmações do dogma e em precisões destinadas a reduzir a possibilidade de controvérsias fundamentais.

1) O dogma está fundado na Escritura, que somente a Igreja tem o poder de interpretar, e na tradição. O papa e os bispos detêm os poderes outorgados por Jesus Cristo a São Pedro e aos apóstolos.

2) O homem não pode ser justificado sem a graça divina, mas pode

191

Page 192: 1história geral livro

conservá-la ou perdê-la e, graças aos sacramentos instituídos por Deus, reencontrá-la. O livre arbítrio existe na medida em que Deus o permite, e o homem será julgado, não apenas por sua fé, mas por suas obras pelas quais é responsável.

3) A missa é um sacrifício que renova, realmente, o do Cristo. Reafirma-se, assim, a presença real de Jesus no pão e no vinho, presença rejeitada por alguns protestastes e pela transubstanciação, isto é, a mudança de substância das duas espécies que se tornam o corpo e o sangue do Cristo, rejeitada pelo conjunto dos protestantes.

4 ) O concílio fixou, igualmente, regras disciplinares concernentes a formação e à vida dos padres (seminários) e do clero regulares (clausura), à administração dos sacramentos. O direito canônico precisou notadamente a legislação do casamento.

BALANÇO DA REFORMA CATOLICA

Sendo múltiplas as conseqüências, da Reforma, é difícil estabelecer um balanço do concílio de Trento logo após a sua realização. Notemos que foi em torno de 1563 que se assinou a m paz de Augsburgo (1555), que a Confissão dos 39 artigos funda o anglicanismo (1563) e que Calvino vem a falecer (1564). A unidade religiosa da Europa Ocidental está dividida em dois blocos confessionais.

1) Nas penínsulas mediterrâneas, o protestantismo foi eliminado. Foi aí que a Reforma católica criou seus fundamentos. O catolicismo renovado parece estar ligado à civlização mediterrâneo e da península ibérica.

2) No norte, constituiu-se o bloco protestante: luteranos na Alemanha do Norte e do Leste, nos reinos escandinavos; calvinista na Escócia; anglicana na Inglaterra. Somente a Irlanda permaneceu fiel a Roma. Neste país, a religião ligou-se ao nacionalismo.

3) Entre esses dois blocos, uma zona em litígio compreendia a França, os

192

Page 193: 1história geral livro

Países Baixos, a Suíça, a Áustria, a Boêmia, a Hungria, a Polônia. Tudo dependia dos soberanos. Estes permanecerão fiéis à Igreja romana e, cedo ou tarde, se tornarão os agentes da Contra-Reforma. As duas confissões se repartem os países. É neles que se desencadeiam as guerras religiosas e que se coloca a questão da tolerância.

193

O ESPÍRITO DA REFORMA CATÓLICADurante a Idade Média, a Europa Ocidental vivia uma unidade, uma unidade teológica: "todo o pensamento teológico da Idade Média é dominado por Santo Agostinho. E assim a Idade Média era puramente e simplesmente Católica cristã." Agora, o principal inimigo está dentro de suas esferas e este questiona a autoridade, os dogmas e coloca em risco a própria sobrevivência da Igreja como instituição. Necessitava a Igreja disputar espaço de forma combativa e, por ironia do destino, Espanha e Portugal, países aliados de Roma, que se mantiveram à parte das idéias protestantes, realizando dura repressão a estas, dando amplos poderes ao Santo Oficio, por seus investimentos marítimos, chegaram em novos continentes, tanto no Oriente quanto no Ocidente, proporcionado uma revolução econômico-cultural. A Igreja ganhou força pois ressoava ainda na Península o espírito do "cruzado", existindo uma forte consciência da "Orbis Cristianus".. No seu Cânon Primeiro sobre justificação, prega. "Si alguno dijere que el hombre puede justificarse delante de Dios por sus obras que se realizam por las fuerzas de la humana natureza o por la doctrina de la ley, sin la gracia divina Por Cristo Jesus, sea Anatema". Negando a doutrina protestante e traçando o que seria a ação da Igreja pós-Trento.Texto elaborado pela Prof. Luciana de Abreu. Historiadora-Curitiba

Page 194: 1história geral livro

UNIDADE DIDÁTICA 1- O ESTADO MODERNO E AS GRANDES NAVEGAÇÕES

No sistema medieval, cada grupo — clérigos, senhores, servos e membros das guildas — ocupava um espaço específico e exerciam uma função própria. A sociedade funcionava melhor quando cada pessoa cumpria o papel que lhe fora atribuído na sociedade. Porem no início dos tempos modernos assistiu-se ao crescimento de uma economia de mercado capitalista, cujo foco principal era o indivíduo auto-suficiente, zeloso, de ação prática e motivada por interesses pessoais. Essa rudimentar economia de mercado, fortemente impulsionada pelas viagens de descobrimento e pela conquista e colonização de outras partes do mundo, subverteu a tradicional comunidade medieval, hierarquicamente organizada. Buscando enriquecer seus tesouros e ampliar seu poder, os Estados promoveram o desenvolvimento comercial e a expansão ultramarina. A extensão da hegemonia européia a grande parte do mundo já se encontrava bem adiantada por volta do século XVIII.

CAPITULO 1 – OS TEMPOS MODERNOS

1. AS TRANSFORMAÇÕES DO SÉCULO XV

Caro amigo de estudo no século XV (1401 a 1500), a Europa passava por um período de surgimento e fortalecimento dos Estados Nacionais, mas os pensamentos vigentes na Idade Média ainda se prolongariam pela Modernidade.

194

Page 195: 1história geral livro

A crise da Idade Média do século XIV criava uma massa faminta que, sem maiores expectativas de vida, que perambulava pelo continente. Os aumentos anteriores da produção (Séc XIII) que você já estudou no ano passado não tiveram continuidade. Agravando ainda mais a situação, houve também a Peste Negra ou Peste Bubônica. Os árabes mantinham as linhas comerciais sob controle, restando aos monarcas reforçar o estimulo à exploração marítima.

195

A Peste negra ronda o Século XIV,Miniatura Medieval.

Page 196: 1história geral livro

2. PRINCIPAIS CARACTERISTICAS ECONOMICAS DO SÉCULO XV

Em finais do século XV opera-se um despertar econômico que anuncia os tempos modernos, devidos especialmente às descobertas cientificas e técnicas. A industria Têxtil transforma-se e desenvolve-se a metalurgia do ferro. A descoberta dos Altos fornos traz também um progresso importante ao trabalho das minas. A criação de bovinos e ovelhas intensifica-se, aumentando o consumo de carne nas cidades. Mas as condições de vida dos camponeses não sofrem melhorias, da mesma forma que as técnicas agrícolas. Pelo contrário, as técnicas comerciais recebem um grande impulso, especialmente através de uma melhoria dos transportes marítimos, do aparecimento da letra de Câmbio e dos Seguros e da contabilidade mais precisa. Há uma grande ascensão de uma nova classe a burguesia.

196

Page 197: 1história geral livro

Você esta certo sentinela, e os interesses desta burguesia da Idade Média eram extremamente limitados pelo poder dos senhores feudais, que seriam de obstáculos também às aspirações políticas dos Reis. Por isto que a cada passo, burgueses e monarcas aliavam-se para lutar contra a nobreza feudal, surgindo assim um dos fundamentos da Monarquia Nacional. Sentinela, preste atenção! A caminhada da burguesia de simples habitantes dos Burgos a grandes Co-participantes da formação do Estado Nacional foi longo e cheio de etapas, O conceito atual de burguesia e mais complexo do que o inicial. Vamos conhece-lo;

A transformação da classe burguesa esta relacionada as transformações comerciais entre elas:

ROTAS DE COMÉRCIO INTERNACIONAL:

As rotas comerciais da Baixa Idade Média que dinamizaram o comércio Europeu e aumentaram os lucros dos que nela se

197

Burguesia: “Classe social composta dos proprietários do capital que vive dos rendimentos por eles gerados. Pertencem à burguesia os industriais, os comerciantes, os banqueiros, os empresários agrícolas e os donos de empresas de serviços”.Novíssimo dicionário de economia. Paulo Sandroni editora Best Seller.

Page 198: 1história geral livro

dedicavam sendo a base para o desenvolvimento do comércio e da burguesia, as mais importantes rotas eram:

Mediterrâneo: Constantinopla ― Itália. Champagne: Itália ― Champagne. Mar do Norte: norte da Europa ― Champagne.

FEIRAS MEDIEVAIS:

Eram locais ou pontos de comércio sazonais e inter-regionais de amplitude continental que dinamizaram a economia da Baixa Idade Média. As principais feiras eram as de Champagne e Flandres ocorriam valorização dos bens móveis, transações financeiras, uso acentuado de moeda, atividade creditícia, circulação de letras de câmbio, atividades bancárias, atuação de um novo grupo social, os mercadores.

A burguesia como forma defesa perante os senhores feudais vai se organizar em Associações Comerciais. Vamos observar as principais características das associações comerciais século XIV e XV

Associação Comercial Conceitos

GuildasCaracterísticas Associações de comerciantes de

uma mesma cidade.Objetivando Garantir o monopólio do comércio

local, e controle dos preços das mercadorias.

198

Page 199: 1história geral livro

Associação Comercial Conceitos

HANSASCaracterísticas Associações de comerciantes de

várias cidades: comércio em grande escala Dinamizaram as cidades e os mercados.

Objetivando Defender os interesses comerciais da burguesia urbana. Divulgar concepções de lucro e capitalização.

Principais Hansas

Merchants of the Staple: controlava a exportação de lã da Inglaterra e a importação de produtos de várias cidades flamengas.Hansa Teutônica ou Liga Hanseática:controlava o comércio no norte da Europa

2. PRINCIPAIS CARACTERISTICAS POLITICAS DO SÉCULO XV

MOVIMENTO COMUNAL:As cidades passaram a lutar pela independência: autonomia urbana (emancipação da tutela feudal). Cidades Francas: cidades que conseguiram sua autonomia por meios pacíficos através de acordos (Carta de Franquia) com os senhores feudais (indenizações). Cidades Comunas: cidades que conseguiram sua autonomia através da luta armada, buscando o apoio real diante da resistência dos senhores feudais. A burguesia assume o controle administrativo das

199

Page 200: 1história geral livro

cidades: os serviços urbanos eram proporcionados pelos grandes comerciantes.

CORPORAÇÕES DE OFÍCIO:

Eram associações de artesãos de um mesmo ofício (ramo de atividade). Objetivos: impedir a concorrência, garantir a qualidade dos produtos e organizar os horários de trabalho. Existia um código de ética: o “justo preço” o era representado pela adição do custo da matéria-prima ao custo do trabalho. E o núcleo produtivo era a oficina, nela não existia completa separação entre capital e trabalho nem especialização com divisão do trabalho, no entanto o trabalho nas oficinas era Hierarquizado.

200

Na Cidade medieval, a Burguesia era tributária dos Senhores feudais.

Page 201: 1história geral livro

Organização hierárquica de uma Oficina de uma Corporação de oficio:

201

Oficial

Aprendiz

Jornaleiro

Mestre

Page 202: 1história geral livro

4. A BURGUESIA E O ESTADO NACIONAL MODERNO

Processo de centralização do poder e de unificação política ocorrida na Baixa Idade Média e que vai promover o fortalecimento do poder real e o surgimento das modernas nações, dos governos e das instituições nacionais.

A centralização monárquica criou as condições institucionais necessárias ao desenvolvimento econômico e cultural no final da Baixa Idade Média (de meados do século XII até o início do século

202

Sentinela o jornaleiro da oficina medieval, não era quem vendia jornal, mas aquele que recebia pagamento por uma jornada de trabalho. A jornada poderia ser de um dia, uma semana, mês ou ano dependendo do contrato.

Page 203: 1história geral livro

XIV), mais à centralização monárquica só foi possível graças à estrutura que unificou: o processo de crescimento da população, da produção, do comércio, das corporações de ofício, das cidades. Expansão militar e territorial: cruzadas de Reconquista. Desenvolvimento cultural e artístico e a força econômica da burguesia. Somando a tudo isto a crise do sistema feudal com a: dissolução da ordem feudal clássica. O renascimento comercial e urbano. O fortalecimento da burguesia e a aliança do rei com a burguesia, graças ao posterior enfraquecimento da nobreza. A evolução da economia capitalista-burguesa. O desenvolvimento da concorrência internacional comercial. A luta entre (burguesia X nobreza).

Capitulo 2 – O Estado Nacional ModernoCapitulo 2 – O Estado Nacional Moderno

Introdução

Porem temos que reforçar a idéia de que tudo isso acarretou enfraquecimento da nobreza feudal e a desintegração das formas políticas medievais o conseqüente fortalecimento do poder real. O surgimento da burguesia é também um fator importante para o surgimento do estado Nacional Moderno, graças à aliança do rei com a burguesia. A emergência do Estado Moderna coincidiu com a ruptura gradativa do sistema Socioeconômico da Idade Média, baseado na tradição, na hierarquia e nas ordens ou estados.

203

Page 204: 1história geral livro

Portanto o Estado Nacional Moderno uma nova e singular forma de organização política e perdurou na Europa dos séculos XIII ao XVIII. O Estado Nacional Moderno, dinástico em sua essência, empregou os recursos materiais do território, dirigiu as energias da nobreza para o serviço nacional e centralizou cada vez mais a autoridade política. Produto da consolidação dinástica, o Estado Nacional é a principal instituição política do Ocidente moderno. Cresciam na Europa ocidental as consciências nacionais. As

razões disso são: o apego ao soberano, a afirmação das monarquias perante os regimes feudais, as lutas empreendidas em comum contra os vizinhos, os progressos das línguas nacionais, favorecidos pelas administrações reais e, igualmente, o impulso de comercio, o desenvolvimento da instrução graças imprensa. O Estado Moderno não criou a nação. Fez-la desenvolver e, com ela, transformou-se. Tornou-se a sua expressão.

Características do Estado Nacional Moderno

204

Page 205: 1história geral livro

( Banquete oferecido por D.João I ao Duque de Lancaster,

Séc XV )

Durante a Idade Média, alguns reis começaram a forjar os Estados

nacionais. No entanto, as formas políticas medievais diferiam

consideravelmente daquelas que se desenvolveram mais tarde, no 205

Observem a figura e como o rei esta em posição de destaque em posição maior a do que o Bispo

Page 206: 1história geral livro

início do período moderno. Na Idade Média, os reis tinham de

partilhar o poder político com os senhores feudais, o clero, as

cidades livres e as assembléias representativas. A autoridade central

era contida por alçadas que se sobrepunham e por numerosas

vassalagens que competiam entre si. As pessoas viviam como

membros de uma ordem (clero nobreza ou povo), e não como

súditos e cidadãos de um Estado. Os teóricos da Igreja visionaram a

Europa cristã como uma comunidade unitária, na qual as

preocupações espirituais prevaleciam sobre a autoridade

monárquica.

Para ocorrer à centralização do poder e com o fortalecimento do

poder real, e junto com ele a unificação política, monetária,

tributária, a centralização judiciária através de uma justiça real e

seus juizes, a criação do braço forte do rei o Exército nacional e a

conseqüente burocracia destas estruturas. Seria necessária a

206

Page 207: 1história geral livro

eliminação do particularismo feudal (submetendo a nobreza) e do

universalismo da Igreja (limitando sua atuação).

Porem as fontes do poder real estavam ainda muito ligados ao sistema de idéias medieval. A religião era uma delas o rei teria o Direito Divino de governar. Além da religião as fontes do poder real situam-se em geral no direito feudal, que faz do rei o supremo suserano, e no direito romano, que os juristas lhe aplicam com mais ou menos êxito. Na verdade, existem monarquias que permaneceram quase feudais, a exemplo da Polônia. Outras que tendem para um absolutismo efetivo, como a França ou Castela.

No entanto o soberano não é proprietário de seus súditos. Deve governar respeitando a sua liberdade e seus bens em conformidade com a lei divina e com a lei natural. Em toda parte, os súditos estão associados à administração do Estado Nacional Moderno, e para exercer seu poder na o Rei distribuía múltiplos privilégios, entre eles:

1) Privilégios locais das províncias e das cidades, concedidos no momento de sua união ao reino e por razões particulares e amiúde confirmadas — a

2) Assembléias das ordens ou Estados Gerais a que o rei deve apelar freqüentemente para obter a ajuda financeira de seus súditos; Um pouco em toda parte, as ordens procuram

3) Autonomia administrativa de certo número de corpos, corpos de cidade, corpos de oficio, comunidades rurais sobre os quais, devido as distâncias e ao

207

Page 208: 1história geral livro

Inglaterra é o país em que esses privilégios locais são menos numerosos;

valorizar o seu papel quando o soberano lhes solicita ajuda financeira.

pequeno número de seus agentes, o rei se desobriga de inúmeras tarefas.

A oposição entre nobreza e burguesia favoreceu mais os soberanos. O poder real necessitou freqüentemente dos burgueses para as suas finanças. Em compensação, ele os protegeu contra a nobreza e, igualmente, contra levantes de trabalhadores. Outorgou a alguns títulos de nobreza a. Mas esses novos nobres (nobreza togada) não conseguiram fundir-se na antiga nobreza (Nobreza de Espada), senão ao cabo de diversas gerações e consagrando alguns de seus filhos à carreira das armas. No entanto os novos nobres permanecem demasiados pr6xinos dos interesses econômicos e se mostram devotados ao rei a quem devem as suas ascensão à segunda ordem. A antiga nobreza continua a manter um estilo de vida

dispendioso. Por causa disso, tem de solicitar ao rei funções, comandos militares, bispados e abadias, pensões, enfim. Abandonando com nisso a própria independência perante o rei. Esses laços entre economia, sociedade e política condicionam o desenvolvimento dos Estados e diversificam na pratica instituições repetidamente. Os tribunais de contas verificavam a contabilidade pública. As cortes de auxílios representavam a suprema instância em matéria de impostos.

208

Page 209: 1história geral livro

Resumindo o estado nacional moderno tinha as seguintes características

Centralização e unificação administrativa. Formação de uma burocracia.

Formação de um exército. Arrecadação de impostos “reais”

Unificação monetária. Unificação do sistema de pesos e

medidas. Imposição da justiça real.

Definição de absolutismo

Teorias do absolutismo

209

Absolutismo (monarquia absoluta) “Sistema político no qual o poder fica nas mãos de um monarca ou de outro regente autoritário. Em filosofia, o termo define qualquer doutrina que afirme só haver um modo correto de interpretar, explicar ou governar.”

Page 210: 1história geral livro

Teórico Obra Síntese do Pensamento.Nicolau Maquiavel(1492-1527)

O príncipe A grande meta de Maquiavel é formular as regras da arte de dirigir uma nação dentro do princípio: justificam os meios”. Ou seja o soberano pode fazer tudo quando o busca o interesse do Estado.

Jaen Bodin(1530-1596)

Os seis livros da República

Que de todas as formas de governos estudadas por ele. O estado popular, o estado aristocrata e o estado monárquico. É no estado monárquico que o rei naturalmente zela como um Pai pelo bem de todos os súditos e pela defesa da soberania da nação.

Thomas Hobbes(1588-1679)

Leviatã A elaboração complexa de uma teoria do estado, onde o Estado é uma grande entidade todo-poderosa que dominaria todos os cidadãos, segundo ele a sociedade primitiva estava mergulhada em um grande caos, e que para obter a ordem os membros desta sociedade deveriam delegar poder a um soberano que poria ordem no caos.Leviatã é um monstro mítico, muito forte e que vencia outros monstros que poderiam, desequilibrar a sociedade (Leviatã segundo Hobbes seria a figura do rei).

Jacques Bossuet(1627-1704)

Política segundo a sagrada escritura

Defesa do Principio do direito divino dos reis: os poderes reais provem de Deus, a autoridade do rei é sagrada, revoltar-se contra o rei equivalia a revoltar-se contra Deus.

210

Page 211: 1história geral livro

A características do absolutismo

211

Esta é a capa da primeira edição da obra Leviatã,Observem como o corpo do rei é formado pelo corpo de seus súditos.

Page 212: 1história geral livro

Para o rei, o absolutismo consiste na ausência de controle sobre sua ação e não na ausência de limites à sua autoridade. O príncipe apresenta-se como o arbitro supremo entre as ordens e os súditos. Deve impor a sua vontade aos mais poderosos de seus súditos. Consegue este intento na medida em que esses necessitam desse arbitramento.

Odomínio real

estende-se sobre grande

212

Page 213: 1história geral livro

parte do reino. Existem, contudo, feudos importantes sobre os quais o rei exerce menor ou maior autoridade. O centro do governo é a Corte, que acompanha o rei em suas deslocações. Compreende a Casa do rei ligada ao serviço da pessoa real, cujos órgãos principais são a Câmara, a Capela, a Cavalariça e o Conselho do rei composto dos pares de França e grandes oficiais da Coroa, membros de direita, e de grande dignitários convocados pelo rei. A esse Conselho demasiado numeroso e pouco manejável, o rei prefere alguns conselheiros, que formam o Conselho secreto ou Conselho restrito.

Os grandes dignitários são o chanceler, presidente da chancelaria e da justiça que preside o Conselho na ausência do rei, trabalham na Chancelaria os secretários do rei; entre eles se destacam os secretários de Estado. As ordens do rei são transmitidas e executadas por oficiais ou por comissários incumbidos de missão tomados, amiúde, no corpo dos oficiais Alguns têm, ao mesmo tempo, atribuições militares, judiciárias e administrativas, mas entregam suas funções judiciárias a seus lugares-tenente togados, que são magistrados, e conservam suas funções militares. No começo do século XVI é possível distinguir diversos corpos de oficiais reais: oficiais militares, de justiça, de finanças.

Entre os oficiais militares, podemos distinguir oficiais permanentes da estrutura militar, do Estado (governadores de províncias ou de cidades encarregados da manutenção da ordem, portanto de poderes militares e de “policia” ou de administração), e oficiais temporários (capitães comandantes de tropas).

No alto da organização judiciária acabava de surgir o Grande Conselho, instrumento da justiça pessoal do rei (direito de evocação que tinha o rei sobre todas as causas), espécie de tribunal dos conflitos. Deparavam-se a seguir as cortes soberanas.

Com a ascensão do Estado Absolutista. As nações reforçam o poder dos reis face ao papa. Porem pela própria estrutura do absolutismo europeu o poder espiritual e poder temporal aparecem

213

Page 214: 1história geral livro

como que inseparáveis Ninguém contesta o principio capital do absolutismo, onde a ação dos soberanos deve ser inspirada pela religião. O papado, todavia, teve de abrandar suas pretensões em relação aos reis. Ele conserva em certos casos, um papel de árbitro supremo entre as nações. Assim, em 1496, Alexandre VI partilha as terras novas entre espanhóis e portuguesas, mas isso provoca os protestos dos franceses e dos ingleses. Entretanto, no que respeita ao temporal. Os soberanos se libertaram dos conselhos da Igreja. Em seus conselhos privativos que procuram a inspiração cristã de seus atos. Eles estão, de resto, investidos de um caráter religioso. No que dizer respeito ao sagrado. Só devem o seu cetro a Deus. Os reis da França e da Inglaterra possuem poderes taumatúrgicos reconhecidos pela Igreja.

Resumindo o absolutismo tinha as seguintes características

- O poder absoluto nas mãos de um só soberano.

- O absolutismo restringe o poder papal.

214

Taumaturgo: “o poder que os reis da França e da Inglaterra teriam de curar por meio de toque das mãos especialmente tuberculose (adenite tuberculosa). A atribuição deste poder curativo aos reis remonta o século XII, e tal crença iria perdurar até o século XVII” (Os reis Taumaturgos) Marc Bloch- cia das letras ed.

Page 215: 1história geral livro

- O rei tinha para manutenção de seu poder uma grande gama de funcionário.

- O rei era juiz supremo o que favorecia seu poder.

As guerras de religião e o fortalecimento do estado francês

Sob a diversidade das instituições, podemos reconhecer princípios comuns aos países da Cristandade ocidental. São todos regidos em conformidade com os costumes políticos estreitamente adaptados aos princípios cristãos e as concepções sociais. Tais costumes tornam verdadeiras constituições consuetudinárias. Porem a unidade da cristandade retrocedeu diante dos progressos das nações. Como vimos anteriormente em todo Estado emergente havia uma tensão entre os monarcas e o papado, esta em jogo o controle da igreja dentro do território nacional. Na França Hugo Capeto, Conde de Paris, assumiu, o trono francês em 987 iniciando o processo de centralização do poder que levaria a submissão dos senhores feudais. Posteriormente Luís IX combateu o particularismo feudal com a ampliação dos poderes dos tribunais reais e instituindo uma moeda de circulação nacional. No entanto o maior conflito entre o Papado e a Monarquia francesa ascendente ocorreu com Filipe IV (1268-1314), o Belo, filho de Filipe III, o audaz, e de Isabel de Aragão, neto de Luis IX, Filipe IV, a semelhança de outros reis absolutistas jamais separava autoridade espiritual do poder temporal entrou em choque com a Igreja graças sua política de fortalecimento da monarquia e para contornar a crise

215

Page 216: 1história geral livro

econômica que seu reinado atravessava, inicialmente entrou em conflito com a poderosa Ordem dos Templários sendo diretamente responsável por sua Extinção e pela execução dos Grão-mestres da Ordem decidiu ainda cobrar impostos ao clero e enfrentou, por isso, forte oposição do papa Bonifácio VIII, que ameaçou excomungá-lo. Buscou apoio na Assembléia dos Estados Gerais que autorizou a cobrança dos impostos clericais. Com a morte de Bonifácio VIII, Filipe IV, interferiu na escolha do sucessor, influenciando os membros do Conclave de Pérouse, que elegeram Clemente V (1305-1314) o novo papa pressionado pelo rei, transferiu a sede do papado de Roma para a cidade francesa de Avignon fato este que ficou conhecido como o Cisma do Ocidente ou Cativeiro de Avignon (1307-1377), submissão de vários papas à tutela dos reis franceses com a supremacia do poder real sobre o poder espiritual. Nesse período, a Igreja chegou a ter três papas: um em Avignon, outro em Roma e outro em Pisa. Conseqüências: oposição teológica e esgotamento do poder temporal da Igreja. Em 1417 foi eleito Martinho V que centralizou o poder da Igreja e Roma voltou a ser a única sede do papado.

Com Francisco I (1515-1547) e Henrique II (1547-1559) produziu-se uma mudança na forma de governar, sem modificação dos princípios. Desse modo, o termo Majestade, reservado até aí para o imperador dos romanos, foi dado ao rei da França. Assistiu-se a um encolhimento da nação em redor do rei e a um reforço de funcionários na administração real. A administração evoluiu no sentido da eficácia e de uma relativa padronização. Com Francisco I, foi concluída a Concordata de Bolonha, onde o Papa Leão X autorizou que os reis da França indicassem pessoas de suas escolha para os altos cargos eclesiásticos.

No entanto a reforma protestante desafiava a autoridade Real e ameaçava a própria unidade a França. Com medo de que o protestantismo enfraquecesse seu poder, Francisco I declarou a Fé e as

216

Page 217: 1história geral livro

crenças protestantes ilegais. No entanto o numero de Protestantes (Huguenotes) cresceu em na França. De 1562 a 1598, a França conheceu várias ondas de guerras religiosas.As grandes famílias aristocráticas, os Guise católicos e os Bourbon protestantes, organizaram exércitos que devastaram o território francês , matando e aleijando seus adversários religiosos e desmantelando a autoridade do governo central.

Em 1579, os intelectuais huguenotes extremados publicaram o “Vinadiciae contra Tyrannos”, mais que um simples documento, um protesto, um chamado ao combate , foi o primeiro manifesto no começo da Idade Moderna que justificava a rebelião contra um rei injusto, e mesmo sua execução. A era de supremacia real instituída por Francisco I teve um fim súbito durante o reinado de seu sucessor, Henrique II (1547-1559), Casado com Catarina de Médici, membro de uma poderosa família de banqueiros italianos, Henrique e os filhos que o sucederam, Francisco II (1559-1560), Carlos IX (1560-1574) e Henrique III (1574-1589) — eram todos portadores de pouca capacidade de liderança e governo. Graças a este vácuo de poder, quem governava na França era Catarina de Médici, que em 1572 ordenou a execução de milhares de protestantes pelos soldados reais em Paris — o infame massacre da Noite de São Bartolomeu, que se tornou símbolo do abuso religioso.

As Guerras civis iniciadas em 1562 ganharam mais intensidade depois da Noite de São Bartolomeu, arrastando-se até a morte do último Rei Valois, em 1589. O fato de Henrique III, não ter um herdeiro masculino para o trono colocou outro Henrique, o duque de Bourbon, na linha de sucessão francesa. Henrique de Bourbon era protestante porem entendendo que a a grande maioria da população católica não aceitaria um rei protestante, Henrique renunciou à religião que adotara e abraçou o catolicismo, sua famosa frase ao se converter ao Catolicismo Romano foi: Paris Bem Vale Uma Missa. Durante o século XVII, os reis franceses procuraram enfraquecer as bases de poder dos protestantes.

217

Page 218: 1história geral livro

A consolidação do poder monárquico na França e na Inglaterra

Bourbons na França

A ruína do protestantismo na luta pelo poder na França, facilitou o caminho para a consolidação do Estado francês, no século XVII, sob os reis Bourbon, Luís XIII e Luís XIV. O rei Luís XIII (1610-1643) compreendeu que seu reinado necessitava de uma burocracia eficiente e incorruptível, de um tesouro farto e de uma constante e eficiente cobrança de impostos assim como de uma vigilância inflexível contra as aspirações ao poder, por parte da aristocracia e das cidades ainda em mão dos protestantes. O cardeal Richelieu, que serviu como primeiro-ministro de Luís XIII de 1624 a 1642, o edificador do absolutismo francês.

A ética de Richelieu baseava-se num princípio sagrado, que tudo justificava na expressão por ele criada: razão de Estado. Richelieu submeteu ao controle do rei os elementos que poderiam se opor ao poder absoluto do soberano. Aumentou o poder central, atacou o poder das cidades independentes e perseguiu os protestantes. Acima de tudo, diminuiu o poder dos grandes nobres limitando seus poderesd e proibindo seus privilégios tradicionais, (como duelar em vez de recorrer aos tribunais para solucionar disputas). A razão de Estado também orientou a política externa de Richelieu. Apoiando os protestantes do Santo Império Romano Germânico contra a Espanha Católica, que no seu entender era inimiga da França também católica. A adesão da França na Guerra dos Trinta Anos fortaleceu categoricamente o poderio francês no continente.

218

Page 219: 1história geral livro

Richelieu morreu em 1642, e Luís XIII no ano seguinte. O cardeal Mazarin, que chefiou o governo durante a menoridade de Luís XIV (este tinha cinco anos quando Luís XIII morreu), continuou as políticas de Richelieu. Com a morte do cardeal Mazarin, Luís XIV, “O Rei Sol”, finalmente assumiu o governo, em 1661. Durante seu reinado ele conseguiu o maior grau de poder absolutista obtido na Idade Moderna, suas idéias podem ser resumidas na frase “L’État c’est moi”, o Estado sou Eu. Na verdade, nenhum monarca absoluto na Europa ocidental, antes ou depois dele teve tanta autoridade pessoal ou comandou um grupo administrativo tão eficiente, promoveu a ascensão da burguesia, e recrutando burgueses entre seus ministros a exemplo de Colbert, promotor da política de industrialização. O reinado de Luís XIV representa a culminação do processo de ascenção da autoridade monárquica. Inteligente, astuto e dedicava muitas horas a construção de sua grandeza pessoal. O majestoso palácio de Versalhes foi arquitetado com este fim, mostrar ao mundo o poder do Rei Sol.

Tudor na Inglaterra

O reino da Inglaterra compreendia a Inglaterra e o País de Gales, aos quais se ligava, a Irlanda. A Escócia era um reino independente. Sob Henrique VII (1485-1509) chegou ao trono os Tudor, ele ascendeu ao poder por meio da vitória militar na guerra civil. A intenção de Henrique era subjugar a nobreza, como todo rei absolutista. Com essa finalidade, atraiu os comuns, (assim que os ingleses chamavam quem não era nobre, aqui no caso os burgueses), a participarem do governo; estes ansiavam por aquilo que o rei tinha a oferecer: remuneração financeira e ascensão social. Embora não tenham deixado de lado totalmente a nobreza, os comuns, ou plebeus, foram levados a participar do círculo de influencia real, do Conselho Privado, e dos tribunais. A eficiência do governo Tudor evidenciou-se durante a Reforma anglicana, quando Henrique VIII (1509-1547)

219

Page 220: 1história geral livro

colocou-se na chefia da Igreja inglesa, afastando o poder da Igreja de Roma e administrando os bens eclesiásticos na Inglaterra. A Reforma na Inglaterra foi uma reforma de governo. Atacou e venceu um importante empecilho à autoridade monárquica: o poder do papado. Porem uma mudança na prática religiosa teria que ter o apoio do Parlamento, este teve maior poder e importância com os Tudor. Com a morte de Henrique VIII, subiu ao governo resistiu o filho Henrique, o doentio Eduardo VI (1547-1553), junto com ele protestantismo radical de alguns de seus conselheiros; as reformas iniciadas por Henrique VIII, tiveram um retrocesso no agitado reinado de Maria (1553-1558), primeira filha de Henrique, que tentou restaurar ao catolicismo. A segunda filha de Henrique, Elisabete I, tornou-se rainha em 1558 no lugar da irmã e reinou até 1603, quando faleceu. No seu governo pode-se dizer que foi forjado um senso de identidade nacional. A Reforma Anglicana fortaleceu esse sentimento nacional, fortalecido ainda mais com a guerra que Elisabete travava com a Espanha, principalmente apos a derrota da Armada espanhola, (A Invencível Armada) em 1588. O Anglicanismo desempenhou um papel principal nesta luta de interesses políticos. Muitos membros da aristocracia apegaram-se ao anglicanismo.

Capitulo 3- Mercantilismo

220

Page 221: 1história geral livro

Introdução

O papes da riqueza como meio de poder não deixava de ser uma evidencia para os governantes europeus no começo da idade média. O dinheiro permitia levantar e manter exércitos, financiar guerras, sustentar a burocracia estatal, em resumo custear ambiciosos programas de governo. Não é de se estranhar, portanto a constante interferência na economia dos governantes do Estado Nacional Moderno, a interferência na economia resultava n interferência do comércio. A pratica econômica desta época resulta de uma série de conceitos que se conhece como o Nome de Mercantilismo. Classicamente, o mercantilismo é a política econômica do Absolutismo. Com uma doutrina feita mais basicamente de observações, o Mercantilismo se organizava e se reforçava na medida em que crescia a possibilidade de atuação do Estado Moderno. Ele caracteriza o período da Revolução Comercial (Séculos XVI – XVIII) marcados como já Vimos pela desintegração do feudalismo e pela formação do Estado Nacional moderno. O mercantilismo é chamado também de Capitalismo mercantil. (imagem de um porto na época moderna)

221

Page 222: 1história geral livro

A dinâmica do mercantilismo

Muito bem sentinela, você esta me ajudando. Então vamos definir o conceito de mercantilismo, leia o quadro abaixo.

222

Mercantilismo: é a Política e Prática econômica do Absolutismo

Os Portos passaram na época do mercantilismo a ter uma nova dinâmica.

Page 223: 1história geral livro

Sentinela o mercantilismo tem um conjunto de idéias que formam o corpo de sua doutrina. Não constitui propriamente uma escola econômica sistemática de pensamento econômico, mais se trata de um conjunto de práticas de definidas por caracteres comuns, são elas:

(elaborar esquema dentro destes moldes)

223

Estado nacional modernoSéculos XV, XVI e XVII.

Page 224: 1história geral livro

224

Mercantilismo

Balança Comercial Favorável: relação entre importação e exportação de um país. Deve-se exportar mais do que importar.

Metalismo:Sistema monetário que tem como moeda-padrão algum metal precioso (ouro ou prata). Segundo a mentalidade econômica da época teníase a julgar a riqueza com a posse de metais preciosos.( quanto mais ouro tenho mais rico sou)

Protecionismo: adoção de um sistema de tarifas alfandegárias e cotas para restringir o fluxo de importações.

Industrialismo: conjunto de atividades apoiadas pelo estado de visão transformar matéria-prima em bens de consumo.

Colonialismo:Possuir colônias para que se estabelece uma relação comercial conhecida como Pacto Colonial.

Page 225: 1história geral livro

TIPOS DE MERCANTILISMOS

O incentivo à economia nacional e a defesa dos interesses próprios existem em todos os sistemas mercantilistas, os estados pretendiam promover o crescimento material dos seus súditos como base de sustentação de seu próprio poder (mais dinheiro, mais imposto). Trata-se como já vimos de uma política econômica protecionista e intervencionista, pois estendia a ação do poder político mediante leis de proibições no comercio nacional, visando conseguir meios para o desenvolvimento nacional.

A desenvolvimento econômico nacionalista que sobre existe em todos os paises mercantilistas do século XV e XVI. Levaram a construção de várias práticas mercantilistas, mas, basicamente, eles estavam ligados às riquezas que cada nação poderia extrair de suas colônias.

Tipo: Conceito:Bulionista ou Metalismo ( Espanha)

Caracterizado pela idéia de que quanto mais quantidade de metais preciosos tiver uns pais mais rico ele será, característica do mercantilismo espanhol,

Comercial (Portugal, até 1580, e Holanda)

O comércio foi considerado pelos Holandeses e pelos portugueses a forma mais efetiva de promover a riqueza da nação. As políticas econômicas mercantilista eram com guia, neste

225

Page 226: 1história geral livro

processo de garantir uma balança favorável de pagamentos para a economia nacional por meio da promulgação de medidas legais de caráter protecionista. As leis aduaneiras fizeram um papel importante para adquirir este objetivo.

Industrialista (Inglaterra)

O Estado inglês pretendeu implementar a indústria privada vigorosamente como o objetivo de estimular o desenvolvimento das fábricas nacionais. O desenvolvimento da indústria não dependeu exclusivamente, porém, da difusão da fábrica rural para casa. O protecionismo industrial representou outro fator importante. Para isto era fundamental para impedir a importação volumosa de manufaturas, para fomentar a produção nacional. No caso Inglês da industria de lã. O sucesso desta política dependia não só do trabalho o empregado rural na produção de lã, mas também da barateza da lã inglesa e irlandesa que saturou o mercado.

Cameralista (Alemanha e Austria)

Representava um anplo sistema de administração pública e organização dos negócios financeiros do estado. Defendiam o aumento populacional como forma de incrementar o produto nacional e instimulavam o mercado interno mediante o incentivo ao consumo de produtos locais. Para eles a ação do governo dentro desta ótica era a mais importante elemento de riqueza de uma nação.

Colbertista (França) Nome dado à política mercantilista da França durante o período em que Jean-Batiste Colbert (1619-1683), foi ministro das finanças de Luis

226

Page 227: 1história geral livro

XVI. Pregava uma taxa sobre os lucros visando o enriquecimento do tesouro nacional, e incentivava a industria de bens de Luxo, para equilibrar a balança comercial. (o Colbertismo é um industrialismo especializado, em bens de luxo)

Pacto colonialPacto colonial

227

Isto mesmo sentinela, o espanhol Pedro de Valencia também escreveu em 1608: “O dano veio de ter muita prata e muito dinheiro que é e sempre foi (...) o veneno que destrói as Repúblicas e as cidades. O pensam que o dinheiro os mantém e não é deste modo: as propriedades figuradas e os gados e pescas são esses que dão amparo”. La época mercantilista. Eli F. Heckesher. Fundo de cultura econômico ed. México. 1980.

PACTO COLONIAL: Conjunto de relações econômicas e políticas que subordinavam a colônia à metrópole. No plano político, a dominação era exercida por meio da presença de autoridades civis nomeadas pela presença de autoridades da metrópole e cujo desempenho era assegurado pela ocupação militar. No campo econômico, o Pacto colonial significava uma série de obrigações de compra e venda da colônia com a metrópole, sendo os mecanismos desse comércio controlados de forma monopolistas pelas companhias de comércio, formadas por capitais privados em associação com o estado ou totalmente controladas por este.

Page 228: 1história geral livro

O colonialismo, razão da formação do Pacto colonial, representa outras das características principais das políticas de mercantilista.O pensamento e as políticas mercantilistas tinham como guia o favorecimento do crescimento de populacional e a emigração de elementos produtivos para as colônias, dinamizando o comércio Metrópole – colônia, ao criar nas colônias um mercado produtor de matérias-primas e também consumidor de manufaturas. O comércio inicialmente vantajoso alcançou suas maiores possibilidades por meio do controle efetivo das áreas coloniais. Pacto colonial era, na verdade, a forma com que as metrópoles dominavam suas colônias. As colônias só poderiam fazer comércio com a metrópole. A colônia fornecia produtos tropicais e matéria-prima para a metrópole e esta vendia manufaturas à colônia. Plantation, plantação em inglês, é o termo que se convencionou chamar as grandes fazendas com atividades monoculturas nas colônias de exploração.

228

Page 229: 1história geral livro

A subordinação econômica de áreas eternas da Europa (extra-europeas) colonial constituíram uma condição do desenvolvimento capitalista da economia ocidental. O conflito dos poderes para o controle de colônias fundamentalmente é explicado por razões de tipo econômico-mercantil. A rivalidade dos países pelos interesses mercantis deu lugar ao aparecimento de um fenômeno relativamente novo no século XVI: as guerras econômicas.

229

Colônias de exploração: A colonização neste tipo estava, como não poderia deixar de ser, dentro dos moldes sistema mercantilista mundial. A economia, graças ao Pacto Colonial, era transformada em uma economia periférica, cuja função era gerar riquezas para a metrópole. Por isso, algumas colônias de exploração possuíam uma política de produto único. Exemplo (Argentina, Brasil, Cuba, Haiti, Suriname etc.).

Page 230: 1história geral livro

(fazer um esquema dentro destas informações)

Modelo de Pacto Colonialcolonias de Exploração

manufaturas

matérias primas

Colonia Matéria prima (fumo-Cachaça)

230

metrópole

África

Colônias de Povoamento: geralmente organizadas por perseguidos religiosos, ou políticos. Eles não pretendiam voltar para a metrópole, e organizaram estruturas que facilitariam sua vida no novo mundo.Exemplos ( 13 colônias inglesas, principalmente as do sul no atual EUA, Colônias Huguenotes na américa: França Antártica )

Page 231: 1história geral livro

Escravos

A escravidão que nunca tinha sido definitivamente extinta na Idade média, mas reduzida a alguns prisioneiro de guerra, será efetivamente e durante a revolução comercial e na época mercantilista, a escravidão assume um aspecto racial até então não existente, por interesse econômico famílias e tribos inteiras foram escravizadas, esta assunto se aprofundara nos capítulos posteriores.

231