1_apresentação economia internacional ii (2)

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ECONOMIA INTERNACIONAL Disciplina curricular do curso de Economia Docente: Dr. Sabino Pereira Ferraz CIS – Instituto Superior de Ciências Sociais e Relações Internacionais Cursos de Economia e Relações Internacionais

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Apresentação em power point das aulas ministradas aos estudantes do CIS - Instituto Superior de Ciências Sociais e relações Internacionais

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ECONOMIA INTERNACIONAL

Disciplina curricular do curso de Economia

ECONOMIA INTERNACIONAL

Disciplina curricular do curso de Economia

Docente:Dr. Sabino Pereira Ferraz

Docente:Dr. Sabino Pereira Ferraz

CIS – Instituto Superior de Ciências Sociais e Relações Internacionais

Cursos de Economia e Relações Internacionais

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PROGRAMA DA CADEIRA

Capitulo V - Balança de Pagamentoso Definição de balança de pagamentoso Utilidade da balança de pagamentoso As transacções internacionais e a sua inscrição na balança de pagamentoso As principais contas da balança de pagamentoso Balança de transacções correnteso Balança de capitaiso Exercícios

Capitulo VI - Taxas de Câmbio A taxa de câmbio Determinação da taxa de câmbio Taxas de câmbio fixas e taxas de câmbio flexíveis Taxas de câmbio e estabilidade económica Efeitos das variações da taxa de câmbio sobre a economia Sistemas de câmbios alternativos

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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PROGRAMA DA CADEIRA

Capitulo VII – Mundialização da Economia O crescimento mundial depois de 1945 Do GATT à OMC Exportação de capitais e as empresas multinacionais Sistema monetário internacional As grandes economias mundiais: Rivalidade EUA, Japão, EU e China

Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho Nova divisão internacional do trabalho A deterioração dos termos de troca dos produtos de base A estabilização dos termos de troca Diversificação e industrialização O comércio desigual

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo IX – A dívida externa dos países em desenvolvimento A dívida externa (definição, indicadores) O crescimento da dívida externa A origem da dívida externa Os países devedores e as instituições credoras face à crise As soluções A legitimidade da dívida

Capitulo X – As Teorias do Desenvolvimento A corrente liberal A corrente radical As iniciativas de integração económica e os blocos económicos regionais

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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PROGRAMA DA CADEIRA

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A Balança de Pagamentos  É um instrumento da contabilidade

nacional referente à descrição das relações comerciais de um país com o resto do mundo.

Nela se regista o total de dinheiro que entra e que sai de um país, na forma de importações e exportações de produtos, serviços, capital financeiro, bem como transferências comerciais.

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Capitulo V - Balança de Pagamentos

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Capitulo V - Balança de Pagamentos

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Existem duas contas nas quais se resumem as transações econômicas de um país: A conta corrente, que regista as entradas e saídas

devidas ao comércio de bens e serviços, bem como pagamentos de transferência; e

A conta de capital, que regista as transações de fundos, empréstimos e transferências. São componentes desta conta os capitais

compensatórios: contas caixa (haveres no exterior e direitos junto ao FMI), empréstimos oferecidos pelo FMI e contas atrasadas (débitos vencidos no exterior).

A soma das duas contas fornece a balança global de pagamentos.

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Capitulo V - Balança de Pagamentos

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Capitulo V - Balança de Pagamentos

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I ) BALANÇA COMERCIALEXPORTAÇÕES (FOB)IMPORTAÇÕES (FOB)II) BALANÇA DE SERVIÇOSTURISMOTRANSPORTESSEGUROSRENDAS DE CAPITAL Lucros e dividendosLucros reinvestidosJurosSERVIÇOS DIIVERSOS Relativos a factores de produçãoNão relativos a factores de produçãoIII) TRANSFERÊNCIAS UNILATERAISREMESSAS DE EMIGRANTESOUTROS DONATIVOSIV ) SALDO DA BALANÇA DE

TRANSAÇÕES CORRENTES (l+ll +lll)

V ) MOVIMENTO DE CAPITAIS AUTÓNOMOS

INVESTIMENTOS DIRETOSREINVESTIMENTOS (CONTRAPARTIDA DOS

LUCROS REINVESTIDOS)EMPRÉSTIMOS E FINANCIAMENTOSAMORTIZAÇÕESCAPITAIS A CURTO PRAZOOUTRAS OPERAÇÕES COM CAPITAIS VI) ERROS E OMISSÕES VIl) SALDO TOTAL DA BALANÇA DE

PAGAMENTOS (IV + V + VI) VIII) MOVIMENTO DE CAPITAIS

COMPENSATÓRIOS (-VII)CONTAS DE CAIXA «AUMENTO ( - )» HAVERES A CURTO PRAZO NO EXTERIOR OURO MONETÁRIO ATRIBUIÇÃO DE DES POSIÇÕES DE RESERVAS NO FMIEMPRÉSTIMOS DE REGULARIZAÇÃOATRASADOS

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Obs.: Balança de pagamentos segundo as normas internacionais ditadas pelo FMI (IMF, 1977).

Capitulo V - Balança de Pagamentos

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Regulamentação do Banco Nacional de Angola Sobre a Balança de Pagamentos

Capitulo V - Balança de Pagamentos

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Ao BNA, é atribuída a competência de elaborar e compilar a Balança de Pagamentos, através da Lei 6/97 (Lei Orgânica do BNA) de 11 de Julho, da Lei Nacional de Estatística e da Lei Cambial.

A Lei Orgânica do BNA, estabelece que todas as entidades residentes na República de Angola autorizadas a operar no mercado externo, devem submeter toda informação estatística requerida de acordo com os termos e condições determinadas pelo Banco Nacional de Angola.

A Balança de Pagamentos é compilada em dólares americanos, e mediante a associação de várias fontes, nomeadamente de Instituições Governamentais e Privadas que inclui registos administrativos, registos contabilísticos, inquéritos e informação avulsa.

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Capitulo V - Balança de Pagamentos

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Sistema de Classificações: A Balança de Pagamentos é classificada, excepto alguns

ajustes em várias contas, de acordo com a 5ª Edição do Manual das Estatísticas da Balança de Pagamentos do FMI (MBP5), e comporta três grandes rubricas: Conta Corrente - Bens, Serviços, Rendimentos e Transferências

Correntes; Conta de Capital; Conta Financeira - Investimento Directo e Outros

Investimentos (Capitais de M/L Prazo, Capitais de Curto Prazo e Activos de Reserva).  

Não são feitos ajustes de sazonalidade, em estimativas metodológicas.

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Capitulo V - Balança de Pagamentos

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II – ITENS ESPECIFICOS O Banco Nacional de Angola obtém a informação para

a compilação da Balança de Pagamentos de várias fontes:   Conta Corrente   Bens:  - Exportações de Bens. São principalmente recolhidas

com base na informação solicitada às empresas do ramo dos petróleos e diamantes, Ministério dos Petróleos, Ministério da Geologia e Minas, Ministério das Pescas e Instituto do Café, a Empresa de Cimento de Angola e a Empresa de Preparação e Transformação de Madeira.  - Importações de Bens. São compiladas utilizando como única fonte a Direcção Nacional das Alfândegas Nas exportações e importações de bens, a informação é apresentada em termos Free On Board - FOB, excluindo-se a componente Frete e Seguros, sendo estes registados na conta de serviços.  

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Capitulo V - Balança de Pagamentos

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Serviços: A informação é obtida principalmente de inquéritos aos Ministérios da Saúde e Pescas, às empresas do sector petrolífero, Empresa Nacional de Diamantes de Angola (ENDIAMA), Linhas Aéreas de Angola (TAAG), ao Gabinete de Aproveitamento do Médio Kwanza (GAMEK), Empresa de Seguros e Resseguros de Angola (ENSA) e Plano de Caixa do BNA. As rubricas relevantes são: os transportes, viagens, seguros, royalties, direitos e licenças, assim como outros serviços do governo não incluídas noutras rubricas.

Rendimentos: A informação é obtida por meio de inquéritos junto das empresas petrolíferas (remuneração de empregados e investimento directo), do BNA obtêm-se os juros próprios e os correspondentes à Dívida Externa Pública e Publicamente Garantida e dos Bancos Comerciais. A partir do ano de 2000 inclui estimativas sobre o rendimento dos activos externos do sector não financeiro com base nos dados do Banco Internacional de Pagamentos – BIS.

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Capitulo V - Balança de Pagamentos

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Transferências Correntes: - Oficiais: Registam-se as doações recebidas de Governos e

instituições do exterior, através de informação obtida de inquéritos dirigidos aos doadores e os recebedores.

- Privadas: Registam-se as remessas de trabalhadores estrangeiros residentes em Angola, segundo informação prestada nos inquéritos ás empresas petrolíferas.

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Capitulo V - Balança de Pagamentos

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Balança de Capital: Regista-se o perdão da dívida acordado por credores ao Governo de Angola. A informação é obtida directamente pelo acesso informático à base de dados do Debt Management Financing Analysing System – DMFAS.

Balança Financeira: A informação sobre Investimento Directo em Angola é obtida a partir dos inquéritos a empresas petrolíferas e diamantíferas. Os dados sobre Investimento Directo no Exterior não estão disponíveis. Os dados de Outro Investimento obtêm-se dos inquéritos às empresas petrolíferas, dos balanços Monetários do sistema bancário e do acesso informático à base de dados da Dívida Externa (DMFAS), cuja área produtora é o Departamento da dívida Externa do BNA. Os Activos de Reserva são compilados pelo Departamento de Contabilidade e Gestão Financeira do BNA com base na variação dos saldos de fim de período. Para efeitos da Balança de Pagamentos os dados são convertidos a US dólares ao câmbio médio do mês em que a transacção ocorreu.

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Capitulo V - Balança de Pagamentos

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Operações Cobertas: Em princípio, a Balança de Pagamentos cobre todas as

transacções entre residentes e não residentes. Na prática, cobre as principais transacções correntes e

financeiras realizadas, havendo dificuldades em relação a informação referente a transporte de passageiros, viagens, telecomunicações, construção, informática, turismo, rendimentos de investimento directo do sector não petrolífero, investimento directo do sector não petrolífero, investimento de carteira e outros componentes em outro investimento.

Cobertura Geográfica: O território geográfico de referência é o território da

República de Angola, aplicado em concordância com a definição de território económico do MBP5.

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Capitulo V - Balança de Pagamentos

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Capítulo VI – Taxas de Câmbio

Taxa de câmbio é o preço de uma unidade monetária de uma moeda em unidades monetárias de outra moeda. A taxa de câmbio pode ser definida em termos directos (ao

incerto) ou em termos indirectos (ao certo). A taxa de câmbio está definida em termos directos quando

exprime o preço de uma unidade monetária estrangeira em unidades monetárias de moeda nacional.

A taxa de câmbio está definida de forma indirecta quando exprime o preço de uma unidade monetária de moeda nacional em unidades monetárias de moeda estrangeira.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capítulo VI - Taxas de Câmbio

A taxa de câmbio reflete, assim, o custo de uma moeda em relação a outra, dividindo-se em taxa de venda e taxa de compra. Pensando sempre do ponto de vista do banco (ou outro

agente autorizado a operar pelo Banco Central), a taxa de venda é o preço que o banco cobra para vender a moeda estrangeira (a um importador, por exemplo);

A taxa de compra reflete o preço que o banco aceita pagar pela moeda estrangeira que lhe é oferecida (por um exportador, por exemplo).

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capítulo VI – Taxas de Câmbio

Portanto, o câmbio é uma das variáveis mais importantes da macroeconomia, sobretudo no que se refere ao comércio internacional. Quando se deseja negociar ativos de um país para outro,

quase invariavelmente temos de mudar a unidade de conta do valor desses ativos – da moeda doméstica para a moeda estrangeira.

Nesse sentido, pode-se definir a taxa de câmbio de um país como o número de unidades de moeda de um país necessário para se comprar uma unidade de moeda de outro país.

Por outras palavras, é o preço da moeda nacional em termos da moeda estrangeira.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

O espaço geográfico resulta da actuação do homem (com as suas técnicas, desenvolvidas ao longo da história) sobre o meio natural.

Portanto, o espaço geográfico reflete a evolução da sociedade, que deixou marcas visíveis sobre a natureza, como estradas, as cidades, os edifícios, os aterros, pontes, etc...

Na antiguidade (período em que predominavam as relações de produção de tipo esclavagista) o comércio internacional teve pouco desenvolvimento. O desenvolvimento das trocas e outras relações entre os povos eram dificultadas pela

péssima rede de vias de comunicação e fraco desenvolvimento dos transportes. A expansão de impérios como o grego e o romano levaram a algumas relações económicas

resultantes fundamentalmente da aplicação de políticas tributárias sobre as regiões ocupadas.

Mas era fundamentalmente a insipiência das relações monetário mercantis que restringia o comércio.

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Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Durante a primeira fase da idade média (em que predominaram as relações de produção feudais) as restrições à mobilidade e a insegurança dos caminhos contraíram ainda mais as relações comerciais entre os povos. Estruturas fechadas, de base acentuadamente agrícola; Na origem dessas estruturas estiveram as invasões de povos

bárbaros e a instabilidade social subsequente; Resultaram dessa insegurança e instabilidade o feudalismo e a

economia de castelo. A acção feudal e a acção do cristianismo permitiram a

formação de cidades. As cruzadas abriram novas perspectivas a essas cidades de

comerciantes. A esta fase de relativa segurança e incremento da produção

das trocas e do consumo, corresponde, no Ocidente, à organização corporativa.

As cruzadas favoreceram as actividades comerciais, e ampliaram os horizontes geográficos.

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Os descobrimentos o renascimento e a reforma À semelhança das cruzadas, os descobrimentos, mais do que

alargarem a comunidade cristã, estenderam o comércio dos cristãos a nações estranhas que nem sempre haviam de obedecer, no trato estabelecido, aos comandos da economia cristã.

A realização de empreendimentos ultramarinos era muito dispendiosa e arriscada. O seu custo tinha que ser coberto pelos ganhos do comércio, para não sobrecarregar as populações das metrópoles alheias a tais empreendimentos.

Para além disso a maior parte das vezes não era possível recrutar para tais expedições homens levados pelo espírito cristão da evangelização. Vencidos os perigos e os riscos da empreitada havia que buscar recompensas.

O fluxo de artistas e pensadores orientais para as cidades do ocidente contribuiu para comunicar a nostalgia da cultura clássica e, com ela, o gosto de fazê-la renascer.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

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O renascimento da antiguidade, num primeiro momento limitado ao plano estético da literatura e das artes plásticas havia de ameaçar toda a cultura medieval. Envolveu também um renascimento pagão incompatível com o entendimento medieval das questões económicas.

Paralelamente, os frutos dos descobrimentos, reservados a Portugal e à Espanha, começavam a suscitar os apetites das outras nações.

Mas era impossível destruir, nos limites da Respublica Christiana a divisão do “Mundo por conhecer” que Roma estabelecera ou sancionara.

Tal era a doutrina do “mare clausum” – os mares fechavam-se para serem cruzados apenas por aqueles que os tinham descoberto

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

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o A autoridade da igreja foi abalada por vários eventos: Lutas entre Roma e o Império Grande cisma do ocidente Heresias patentes e latentes, contágio dos hábitos

luxuosos e das práticas sexuais do Oriente Avanço dos Otomanos pela Europa Ameaças directas à Igreja

o O exclusivo ultramarino concedido a portugueses e espanhóis muito contribuiu para a reforma. Se os monarcas se afastassem da Respública Christiana já

a autoridade papal lhes não vedaria o acesso aos mares descobertos por portugueses e espanhóis.

Os Estados alheios ao tratado de Tordesilhas puderam, por essa via, encaminhar as suas armadas para esses mares.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

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A reforma foi amplamente influenciada pelas ambições materiais, quer em relação ao ultramar como em relação ao interior dos estados. Para além das lutas pela posse das posições ocupadas no ultramar por

Portugal e Espanha, nos países de religião reformada foram feitas expropriações de propriedades da igreja.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

O ouro da América e as questões monetáriasSem descobrimentos e sem reforma não se teriam

desenhado as correntes mercantilistas O fluxo de ouro da América à Espanha concedeu aos reis

espanhóis uma posição económica que teve reflexos políticos profundos e lhes facilitou a oposição aos Estados protestantes.

Esse fluxo alterou profundamente as condições da economia europeia: Houve uma subida generalizada dos preços, resultando dela dificuldades para os países que não tinham acesso directo ao ouro proveniente da América.

Governantes e pensadores debruçaram-se sobre a nova conjuntura, sendo o francês Jean Bodin orientado para formular um esboço da teoria quantitativa da moeda

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

O MercantilismoO período entre os séculos XVI e XVIII é comummente descrito

como mercantilismo. Neste período assistiu-se:

À exploração geográfica conhecida como os descobrimentos; Á exploração de mercados estrangeiros principalmente pela Inglaterra e

Países Baixos; À colonização europeia das Américas; Ao rápido crescimento no comércio exterior.

Neste período as commodities ainda eram em grande parte produzidas por métodos de produção não-capitalista.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

No período compreendido entre os séculos XVI e XVIII, comerciantes europeus, apoiados por controlos, subsídios e monopólios estatais, realizaram a maioria dos seus lucros a partir da compra e venda de mercadorias;

A fase comercial do capitalismo, origina-se a partir do século XVIII com a constituição da Companhia Britânica das Índias Orientais e da Companhia das Índias Orientais Holandesas, caracterizadas pela protecção imperialista das suas potências coloniais que lhes atribuíam amplos poderes de administração.

Durante esta época, os comerciantes, que haviam negociado com o estágio anterior do mercantilismo, investiram capital nas companhias britânica e holandesa das Índias Orientais e de outras colónias, buscando retorno dos seus investimentos.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

A Revolução Industrial Consistiu num conjunto de mudanças tecnológicas com profundo impacto

no processo produtivo ao nível económico e social. Iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII, expandiu-se pelo mundo a

partir do século XIX.Ao longo deste processo:

a era da agricultura foi superada; a máquina substituiu o trabalho humano; impôs-se uma nova relação entre capital e trabalho; estabeleceram-se novas relações entre nações; surgiu o fenómeno da cultura de massa.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo V – Mundialização da Economia

Essa transformação foi possível devido à combinação dos seguintes factores: liberalismo económico; acumulação de capital; Inovações tecnológicas tais como o motor a vapor.

O capitalismo tornou-se o sistema económico vigente: O industrial substituiu o comerciante como um actor dominante no sistema capitalista e efectuou o

declínio das habilidades de artesanato tradicional de artesãos, associações e artífices. O excedente gerado pelo aumento da agricultura comercial encorajou o aumento da mecanização

da agricultura. O capitalismo industrial marcou o desenvolvimento do sistema fabril de produção, caracterizado

por uma complexa divisão do trabalho entre e dentro do processo de trabalho e a rotina das tarefas de trabalho;

Finalmente, estabeleceu a dominação global do modo de produção capitalista.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Uma máquina a vapor de Watt. O motor a vapor, abastecido

primeiramente com carvão, impulsionou a Revolução Industrial no Reino Unido.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

A Primeira Guerra Mundial• Causas Económicas da Primeira Guerra Mundial:

• Partilha da África e Ásia (insatisfação da Itália e Alemanha que ficaram com territórios pequenos e desvalorizados)

• Concorrência económica entre as potências europeias e corrida armamentista• Consequências Económicas da Primeira Guerra Mundial:

• Os acordos que deveriam pôr fim aos conflitos da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) serviram para agravar um clima de rivalidades no pós-guerra. A imposição de multas e sanções extremamente pesadas não conseguiu fazer com que o equilíbrio político real fosse alcançado entre as potências económicas mundiais.

• Grosso modo, podemos afirmar que a Primeira Guerra pavimentou as possibilidades para a ocorrência de um novo conflito internacional.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Mesmo estando ao lado dos vencedores, a Itália saiu frustrada do conflito ao não receber os ganhos materiais que esperava.

Na Alemanha, onde as mais pesadas sanções do Tratado de Versalhes foram instituídas, a economia viveu em franca decadência e os índices inflacionistas alcançaram valores exorbitantes. Esse contexto de declínio e degradação acabou por criar oportunidade de a Itália e a Alemanha serem dominadas por regimes marcados pelo nacionalismo extremo e a franca expansão militar.

A Sociedade das Nações, órgão internacional incumbido de manter a paz, não conseguiu cumprir seu papel.

O Japão impôs um projecto expansionista que culminou com a ocupação da Manchúria.

Os alemães passaram paulatinamente a não cumprir as exigências impostas pelos Tratados de Versalhes e realizaram a ocupação da região da Renânia.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Entretanto os italianos aproveitaram a nova situação para realizar a invasão à Etiópia.

O equilíbrio almejado pelos países também foi impedido pela crise económica que devastou o sistema capitalista no ano de 1929.

Sem condições de impor seus interesses contra os alemães e italianos, as grandes nações europeias passaram a ceder espaço aos interesses dos governos totalitários.

Aproveitando-se dessa situação, os regimes de Hitler e Mussolini incentivaram a expansão de uma indústria bélica que utilizou a Guerra Civil Espanhola como “palco de ensaios” para um novo conflito mundial.

Fortalecidas com esta nova conjuntura política, a Itália, a Alemanha e o Japão engendraram os primeiros passos de uma guerra ainda mais sangrenta e devastadora.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Uma consequência da 1ª Guerra Mundial foi a desorganização do sistema financeiro e monetário que lhe antecedeu. Não se deve esquecer que este se baseava no padrão-ouro, ao qual estavam

ligadas as moedas das principais potências económicas. Sobre essa base estável e universal faziam-se com segurança as trocas

comerciais e a circulação internacional dos capitais. Os grandes fornecedores de capitais, os países credores, eram a Inglaterra e a

França, que tinham também uma balança comercial constantemente deficitária. Num certo número de anos estabelecia-se o equilíbrio: o resto do mundo pagava os juros das

suas dívidas à Inglaterra e à França vendendo-lhes mais produtos do que os que lhes comprava.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Entre 1924 e 1926, todas as moedas foram novamente estabilizadas e religadas ao ouro.

Porém, nunca se voltou integralmente ao jogo do padrão-ouro tradicional, garantia exclusiva do restabelecimento automático do equilíbrio.

O período de instabilidade monetária deixou traços e hábitos duráveis: Os capitais passaram a procurar menos o lucro máximo e mais a segurança

monetária; Tenderam a fugir dos países em que a moeda se depreciava rapidamente para

refugiar-se nos países que pareciam oferecer maiores garantias nesse sentido. Formou-se, dessa maneira, uma massa de capitais flutuantes, desequilibrando

e falseando a circulação financeira normal.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

A guerra fez sentir os seus efeitos de duas maneiras: Em primeiro lugar, as moedas de todos os países beligerantes, com excepção dos

Estados Unidos, desligaram-se do ouro, e depreciaram-se de modo variável, chegando algumas a perder todo o seu valor.

Outro efeito da Grande Guerra foi fazer dos Estados Unidos a principal potência credora, em relação à qual até a Inglaterra e a França se colocavam em posição devedora.

Os Estados Unidos que conservavam uma balança comercial largamente excedente e cuja estabilidade monetária nunca fora ameaçada serviram de refúgio aos capitais flutuantes em busca de segurança.

Todos esses fenómenos deveriam ter, logicamente, redundado num empobrecimento constante, num estrangulamento económico do resto do mundo em proveito da América do Norte.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

O que restabelecia o equilíbrio aparente é que os Estados Unidos tornavam a emprestar ao resto do mundo uma grande parte do dinheiro que dele recebiam.

Mas os créditos concedidos aos países cuja maioria passava, ou acabava de passar, por graves dificuldades financeiras, eram, numa grande extensão, créditos a curto prazo, que se podiam retirar ao primeiro sinal de alerta.

Uma crise financeira americana, por conseguinte, transtornaria muito mais depressa e mais completamente do que nunca toda a economia mundial.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

A Crise de 1929De um modo geral, associa-se a crise ao “crash” que estourou na Bolsa de

Nova Iorque em Outubro de 1929, depois de uma grande alta especulativa. O fenómeno era banalíssimo e dele havia inúmeros precedentes. Porém, desta

vez as consequências foram de tais que muita gente se interrogou se o crash da Bolsa, em vez da causa, não seria uma das muitas manifestações da crise propriamente dita.

A crise da Bolsa de Wall Street acarreta, progressiva mas inexoravelmente, o desmembramento de todo o aparelho de crédito sobre o qual vivia a economia americana. Esse processo termina e culmina, no início de 1933, numa ameaça de bancarrota geral, no

momento exacto em que Franklin Roosevelt chega ao poder. Ao mesmo tempo, a retirada dos créditos americanos a curto prazo resulta, em 1931, no desmoronamento financeiro da Europa Central e na impossibilidade, para a Grã-Bretanha, de honrar os seus compromissos externos

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Causas da Segunda Guerra MundialA Segunda Guerra Mundial decorreu, de entre um vasto conjunto de factores,

de: uma profunda crise económica e grandes tensões políticas e sociais em várias partes do Globo.

Nesta conjuntura despontaram regimes autoritários, sobretudo na Alemanha, Itália e Japão.

A ideologia expansionista principalmente destas potências levou-as a apetrecharem-se militarmente.

Nasceu assim, um clima de tensão internacional, que ficou marcado por várias acções belicistas.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

A Segunda Guerra Mundial ou II Guerra Mundial foi um conflito militar global que durou de 1939 a 1945, envolvendo a maioria das nações do mundo – incluindo todas as grandes potências – organizadas em duas alianças militares opostas: os Aliados e o Eixo.

Foi a guerra mais abrangente da história, com mais de 100 milhões de militares mobilizados.

Em estado de "guerra total", os principais envolvidos dedicaram toda sua capacidade económica, industrial e científica a serviço dos esforços de guerra, deixando de lado a distinção entre recursos civis e militares.

A guerra terminou com a vitória dos Aliados em 1945, alterando significativamente o alinhamento político e a estrutura social mundial.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo V – Mundialização da Economia

Enquanto a Organização das Nações Unidas era estabelecida para estimular a cooperação global e evitar futuros conflitos, a União Soviética e os Estados Unidos emergiam como superpotências rivais, preparando o terreno para uma Guerra Fria que se estenderia pelos próximos quarenta e seis anos.

Nesse ínterim, a aceitação do princípio de autodeterminação acelerou movimentos de descolonização na Ásia e na África, enquanto a Europa ocidental dava início a um movimento de recuperação económica e integração política.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Harry Dexter White

e

John Maynard Keynes

Harry Dexter White

e

John Maynard Keynes

Insígnias do

Fundo Monetário Internacional

e

do Banco Mundial

Insígnias do

Fundo Monetário Internacional

e

do Banco Mundial

Capitulo VII – Mundialização da Economia

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Os Principais Organismos Económicos Internacionais O sistema das Nações Unidas; O FMI e o BIRD

Durante três semanas do mês de Julho de 1944 (do dia 1 ao dia 22) no Hotel Mount Washington, em Bretton Woods, uma pequena cidade norte americana da costa atlântica, delegados de 44 países do mundo então em guerra reuniram-se para definir a Nova Ordem Económica Mundial.

Foi uma espécie de antecipação da Organização das Nações Unidas que viria a ser fundada no ano seguinte em São Francisco – Califórnia.

Os quarenta e quatro estados participantes subscreveram os acordos de Bretton Woods que reflectem uma solução de compromisso entre as teses dos planos britânico e americano, embora com predomínio das deste último, no plano das políticas monetárias.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Foi criado um “fundo” e um banco: Fundo Monetário Internacional (FMI) – criado com a finalidade de

promover a cooperação monetária entre os países membros, de coordenar a paridade entre as suas moedas (evitando as desvalorizações concorrenciais) e de proporcionar o levantamento de fundos entre eles, para cobrir os défices temporários das suas balanças de pagamentos.

Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) – criado inicialmente para financiar a reconstrução dos países membros no pós guerra e a promoção do desenvolvimento, através da realização de empréstimos de longo prazo a esses países ou a instituições por eles garantidas. Mais recentemente o BIRD passou a financiar também empresas privadas, mesmo sem garantia governamental, através da SFI (Sociedade Financeira Internacional) criada em 1956.

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Capitulo V – Mundialização da Economia

O GATT e a OMC – A UNCTADEstava nos planos de reorganização da economia mundial do pós-guerra que a

acção do FMI e do BIRD fosse complementada por uma organização internacional de comércio, prevista pela Carta de Havana de 1948.

Porém, a Carta de Havana nunca chegou a ser ratificada pelos Estados Membros, não tendo, por isso, entrado em vigor.

Em 1947, foi subscrito, e depois ratificado, o acordo de Genebra, que ficou conhecido como GATT (“General Agreement on Tariffs and Trade” – Acordo Geral Sobre Tarifas e Comércio) que continha já, a título provisório, alguns dos princípios contidos na Carta de Havana.

O GATT, proibia, salvo algumas excepções, o estabelecimento de contingentes, mas admitia alguma protecção aduaneira.

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Capitulo V – Mundialização da Economia

Os receios quanto aos efeitos da política liberalizadora do GATT sempre foram manifestados nas regiões menos desenvolvidas do planeta.

Estes receios fundam-se no facto de a não discriminação nas relações económicas internacionais, particularmente as comerciais, beneficiar sobretudo os países das regiões mais desenvolvidas (Europa, América do Norte e Japão), melhor preparados para a competição nos mercados dos produtos. Os países pobres e menos desenvolvidos, mais amplamente representados nalguns órgãos das

Nações Unidas do que no GATT procuraram reagir contra a liberalização do comércio internacional que não se lhes afigurava vantajosa. Daí resultou a criação, no seio da ONU, da UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development) que, em 1980 constituiu um Fundo Comum de Matérias Primas, o qual se tem deparado com múltiplos problemas, resistências e dificuldades.

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Capitulo V – Mundialização da Economia

Após a entrada em vigor do GATT desenvolveram-se vários ciclos de negociações comerciais que não só reduziram barreiras pautais como criaram vários códigos disciplinadores do comércio internacional, como por exemplo o Código Anti-Dumping.

Particularmente importante para os países em vias de desenvolvimento foi o “Kenedy Round” (1963-1967), na sequência da UNCTAD (1964), que estabeleceu a Parte IV do GATT (comércio e desenvolvimento) pelo qual os países em desenvolvimento eram dispensados de qualquer reciprocidade, em relação aos países desenvolvidos, na pós-execução de negociações comerciais.

Mas estes acordos não eram obrigatoriamente subscritos por todas as partes contratantes do GATT, o que constituía mais uma fragilidade do sistema.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

O último ciclo de negociações do GATT, denominado “Uruguay Round”, iniciado em 1986 em Punta del Este e formalmente concluído em 1994 em Marraquexe, foi o mais ambicioso de sempre. Os seus resultados incidiram, não só sobre o clássico comércio de mercadorias, mas levaram à

adopção, pela primeira vez, em termos multilaterais, de regras e normas aplicáveis ao comércio de serviços – GATS (Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços) – e aos aspectos do direito de propriedade relacionados com o comércio – TRIP (Acordo sobre os Direitos de Propriedade Intelectual Ligados ao Comércio).

Um outro aspecto importante foi o da elaboração de um entendimento sobre a resolução de litígios, criando um órgão de resolução de litígios (incluindo uma instância de apelo), que veio a dar ao sistema uma maior segurança, pela natureza fortemente jurisdicional e vinculativa com que o dotou e uma maior celeridade, pela redução dos prazos das diversas etapas do processo.

Foi ainda criado um mecanismo de exame regular das políticas comerciais nacionais dos Países Membros, que permite acompanhar a sua evolução e, sempre que conveniente, fazer recomendações.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Um sistema com esta amplitude e diversidade necessitava de uma organização que lhe desse unidade e o gerisse de forma conveniente. Foi por isso criada a Organização Mundial do Comércio (OMC) que se sucedeu ao GATT na

gestão e administração dos acordos multilaterais sobre comércio internacional resultantes do “Uruguai Round”.

Isso veio a permitir o funcionamento de um sistema comercial internacional integrado, virado para a concretização dos objectivos da Carta de Havana.

A OMC tem como funções a gestão dos diferentes acordos que a compõem, a cooperação com outras organizações internacionais dos membros da OMC e constitui um fórum para negociações comerciais, tutelando o sistema multilateral de regras e normas no domínio das relações comerciais internacionais.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

A OMC foi fundada em 1995, inclui 145 países e está sediada em Genebra, na Suíça.

A OMC tem sido utilizada para promover uma extensa série de políticas relativas ao comércio, investimentos e desregulamentações que exacerbam a desigualdade entre o Norte e o Sul, e entre os ricos e pobres dentro dos países.

A OMC executa cerca de vinte acordos comerciais diferentes, dentre os quais: AGCS (Acordo Geral de Comércio em Serviços; GATS General Agreement on Trade in Services), Acordo sobre Agricultura (AoA) Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao Comércio

(ADPIC; TRIPS – Trade-Related Intellectual Property Rights).

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Os poderosos países membros industrializados, assim como empresas multinacionais, estão a promover a expansão do campo de actuação da OMC e a incorporar ainda mais áreas operativas do quotidiano dos cidadão e dos governos. Na Conferência Ministerial da OMC, realizada entre 10 e 14 de Setembro de 2003, em Cancun, no México, houve fortes pressões sobre os países em desenvolvimento para que aceitem o lançamento de negociações quanto às chamadas “novas questões”: compras governamentais, investimentos, concorrência e facilitação do comércio.

A liberalização das economias em larga escala nessas áreas tenta forçar os países em desenvolvimento a renunciar a muitas das ferramentas de desenvolvimento económico que os países industrializados utilizaram para construir suas economias e criar empregos.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

A OMC é inerentemente anti-democrática: Os seus tribunais de comércio, trabalhando à porta fechada, estabeleceram normas

contra uma impressionante série de leis de saúde e segurança nacional, do trabalho, de direitos humanos e ambientais, consideradas como barreiras comerciais.

Políticas e leis nacionais que acreditou-se violavam as normas da OMC devem ser eliminadas ou alteradas, ou então o país enfrentará sanções comerciais perpétuas que podem ser de milhões de dólares.

Desde a criação da OMC, em 1995, a grande maioria das decisões judiciais nas disputas comerciais entre países membros tem favorecido os países mais poderosos e industrializados. Consequentemente, muitos países, sentem uma grande pressão para levantar as suas políticas de interesse nacional, sempre que um desafio da OMC é ameaçado,, a fim de evitar sanções dispendiosas.

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Capitulo V – Mundialização da Economia

Exportação de capitais e as empresas multinacionais O que caracterizava o velho capitalismo, no qual dominava plenamente a livre concorrência,

era a exportação de mercadorias. O que caracteriza o capitalismo moderno, no qual impera o monopólio, é a exportação de capital.

O desenvolvimento da troca, tanto no interior como, em especial, no campo internacional, é um traço distintivo e característico do capitalismo.

Em condições capitalistas os países/ou empresas querem obter o máximo de retorno dos seus investimentos para sobreviverem.

Para aumentar os seus ganhos exportam capitais para outros lugares. Os países, principalmente os desenvolvidos e emergentes, enviam os seus capitais para

desenvolver a sua actividade em países menos desenvolvidos que possuam matéria-prima e mão-de-obra abundante e barata, para produzirem a baixo custo e aumentarem o seu retorno financeiro.

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Capitulo V – Mundialização da Economia

Empresas que não conseguem fabricar a baixo custo e colocar produtos no mercado pelo menos com preços e qualidade equiparados ao da concorrência estão fadadas à falência.

Daí que as empresas multinacionais de países ricos enviem capitais para investir em países menos desenvolvidos e ofereçam os seus produtos por todo mundo, onde o processo de globalização vem eliminando barreiras e deixando a concorrência cada vez mais acirrada.

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Capitulo V – Mundialização da Economia

As multinacionais, também conhecidas como transnacionais, são empresas que possuem matriz num país e possuem actuação em diversos países. São grandes empresas que instalam filiais em outros países em busca de mercado consumidor,

energia, matéria-prima e mão-de-obra baratas. Estas empresas costumam produzir produtos para comercializar nos países em que actuam ou

até mesmo para enviar produtos para serem vendidos no país de origem ou outros países. Dentro do contexto actual da globalização, é muito comum as empresas multinacionais

produzirem cada parte de um produto em países diferentes, com o objectivo de reduzir custos de produção.

A entrada de empresas multinacionais num país é algo positivo, pois gera empregos e desenvolvimento. Porém, grande parte do lucro obtido por estas empresas é enviado para a matriz.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

O Sistema Monetário Internacional O sistema monetário internacional (SMI) é o conjunto de acordos, regras, práticas e

instituições que regulam os pagamentos feitos e recebidos resultantes de transacções realizadas entre fronteiras nacionais.

O SMI difere do sistema financeiro internacional quanto aos elementos que os integram e também quanto aos seus actores: Elementos integrantes: Actores:

Administração dos sistemas de taxas de câmbio Governos SMI Mecanismos de ajuste Bancos Centrais Liquidez FMI Facilitação dos processos de ajuste Banca internacional Financiamento do crescimento económico Inst. financ. não bancáriasSFI Financiamento das transacções comerciais Ag. nac. de comércio externo Realização de negociações em diferentes moedas Organ. multilat. de financiam.to

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

O PADRÃO OURO-CLÁSSICOO primeiro Sistema Monetário Internacional, o padrão ouro (clássico),

vigorou de 1870 a 1941. Nesse período, a Inglaterra era a potência económica líder e as outras

nações alinhavam-se (ou tinham que se alinhar) às directrizes da política inglesa para atingir sucesso económico.

Pela sua importância no comércio internacional e pelo desenvolvimento acelerado de suas instituições financeiras, a Inglaterra impunha ao mundo o padrão ouro e Londres tornava-se o centro financeiro do mundo.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

O padrão ouro clássico1 como qualquer Sistema Monetário Internacional teve como objectivo básico o equilíbrio interno e externo da economia. Neste padrão, a responsabilidade de atingir tal equilíbrio era dada ao Banco Central, que

deveria preservar a paridade oficial entre as moedas e o ouro. Para manter esse preço, o Banco Central precisava de um stock suficiente de ouro (reservas)

. Neste padrão, o equilíbrio externo caracterizava-se como uma situação em que o Banco

Central não ganhava nem perdia ouro porque os superávits ou défices da balança de pagamentos eram compensados por embarques de ouro entre os bancos centrais.

O padrão ouro contém mecanismos automáticos (mecanismos de mercado para os liberais) para alcançar o tão desejado equilíbrio simultâneo do balanço de pagamento por todos os países, sendo o mais importante deles o mecanismo do fluxo de preço em espécie reconhecido por David Hume, filosofo escocês, para contrapor-se às posições mercantilistas.

1- Apesar de ser usada há muito tempo como base de cunhagem da moeda em certos países, é somente por volta de 1870 que o ouro triunfou sobre a prata e o padrão ouro transformou-se em norma internacional.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

O mecanismo do fluxo de preço em espécie foi descrito por Paul Krugman da seguinte forma:

Suponha que o superavit em conta corrente da Inglaterra seja maior que o défice da sua conta de capital menos as reservas. Como as importações líquidas dos países estrangeiros, provenientes da Inglaterra, não estão a ser financiadas totalmente pelos empréstimos concedidos aos estrangeiros, o equilíbrio deve ser obtido por fluxos de reservas internacionais - isto é, de ouro - que entram na Inglaterra. Esse fluxo de ouro reduz automaticamente a oferta de moeda estrangeira e aumenta a oferta de moeda inglesa, baixando os preços estrangeiros e elevando os preços ingleses. O aumento dos preços ingleses e a queda dos preços estrangeiros - uma apreciação real da libra, dada a taxa de câmbio fixa – reduzem a procura estrangeira por bens e serviços ingleses e ao mesmo tempo aumentam a procura inglesa por bens e serviços estrangeiros. Esses deslocamentos da procura funcionam na direcção da redução do superavit na conta corrente da Inglaterra e da redução do défice na conta corrente do estrangeiro. Por fim, os movimentos de reservas param e ambos os países atingem o equilíbrio da balança de pagamentos. O mesmo processo também funciona ao contrário, eliminando uma situação de superavit estrangeiro e défice inglês.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Através dos seus mecanismos automáticos de ajuste o padrão ouro-clássico funcionou "bem“ e, segundo os seus admiradores, constitui a forma ideal de regularização financeira internacional. Porém, há também diversos críticos em relação ao padrão ouro clássico, dentre os

quais Robert Triffin (1979) que critica a falta de importância dada ao papel da prata e da moeda fiduciária naquele período. Mas a sua principal crítica diz respeito à limitação do padrão ouro imposto pela Inglaterra. Para ele, o padrão ouro limitava-se aos países economicamente mais avançados que formavam o núcleo do sistema e aos que estavam a eles ligados por vínculos políticos, económicos e financeiros.

As taxas de câmbio de outras moedas, particularmente na América Latina, flutuaram descontroladamente e se depreciaram durante o período.

Esse contraste entre os países do “centro" e os da "periferia" pode ser explicado, em grande parte, pela configuração cíclica dos movimentos de capital e termos de troca que contribuíram para a estabilidade do primeiro grupo e para a instabilidade do segundo grupo.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Para Triffin, portanto, o processo de ajustamento não dependeu de qualquer tendência ao equilíbrio do balanços de pagamento nacionais, mas sim, de vasto e crescente movimento de capitais que nortearam défices e superávits.

O que se pôde verificar foi que, através do padrão ouro, os dirigentes ingleses fizeram do controlo "quase monopolístico" dos meios de pagamento universais (a libra como moeda mundial) instrumento de subordinação dos outros países.

Isso permitiu que o governo inglês dirigisse com eficiência um espaço político e económico muito maior que qualquer outro império mundial anterior jamais geriu ou poderia ter gerido.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Após um extenso período de relativa paz, o equilíbrio global das forças mundiais, sofre instabilidade.

Instala-se principalmente entre os países europeus um clima pouco amistoso. Depois de sucessivas ameaças e rumores de conflitos eclode a Primeira Guerra Mundial (1914-1919).

Estava em jogo, principalmente, a posição hegemónica dos países envolvidos no conflito: de um lado, com interesses semelhantes, a Áustria-Hungria, a Itália e a Alemanha, exercendo esta a função de líder dessa coligação devido à sua capacidade técnico-militar e ao seu crescente progresso económico, que por sucessivas vezes ultrapassou a economia britânica; de outro lado, a Grã-Bretanha, a França e a Rússia.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Ao eclodir a Primeira Guerra Mundial estava instalado um cenário que se mostrou incompatível com os mecanismos automáticos de ajuste do padrão ouro então vigente.

Os governos financiavam os seus gastos militares emitindo moeda, a força de trabalho e a capacidade produtiva haviam sido reduzidas (resultando daí níveis de preços mais elevados em todos os países após a guerra), para reconstruírem os seus países, após a guerra, os governos utilizaram gastos públicos que causaram intensos processos inflacionários, dentre os quais se destacou a hiperinflação alemã.

Em meados da década de 20, a Inglaterra tentou voltar ao padrão ouro. Todavia a convertibilidade das moedas foi restaurada em bases bastantes frágeis.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

A valorização da libra pela Grã – Bretanha, aos níveis de antes da guerra (taxa supervalorizada), canaliza dinheiro especulativo para aquele país e, consequentemente, proporciona uma profunda recessão económica na Inglaterra. A taxa valorizada na Inglaterra subvaloriza as taxas nos demais países europeus,

proporcionando a expansão das actividades económicas e do emprego. A convertibilidade tinha que ser sustentada pela reposição dos níveis de reservas

adequados pelos Bancos Centrais. Isso foi conseguido, nos países com câmbio subvalorizado, com auxilio de:

empréstimos contraídos no exterior; com a reposição dos activos de reserva dos Bancos Centrais em ouro ou em

divisas estrangeiras; com superávits nas balanças de pagamentos, superávits estes constituídos pelo

retorno de capital refugiado e que agora deixava Londres.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Visando amenizar (ou resolver) esse problema, as autoridades britânicas buscam dois caminhos: a) negociar com outros países (especialmente com os Estados Unidos) níveis de taxas

de juros, propondo taxas de juros mais altas na Grã-Bretanha; b) a instituição do padrão ouro-Libra, no qual os bancos centrais de outros países

poderiam deter uma parte substancial das suas reservas monetárias internacionais na moeda nacional do principal centro financeiro (entenda-se Libra Esterlina).

O padrão ouro-Libra teve vida efémera, prevalecendo a incerteza e a desconfiança dos países que tinham parte das suas reservas em libras esterlinas, especialmente a França.

Esse arranjo inglês não suportou a grande depressão de 1929 e a libra esterlina perdeu definitivamente o seu status como moeda de reserva internacional em 1931.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Depois de 1931 o mundo fica num caos: Não há uma potência hegemónica; Explode a Segunda Guerra Mundial.

Só em 1944 os líderes financeiros e políticos "reconheceram" que a existência de uma ordem monetária e económica internacional para o Ocidente era indispensável.

Políticas bilaterais, desvalorizações cambias competitivas, etc. faziam com que, antes, em plena guerra comercial, os Estados Unidos e a Inglaterra iniciassem negociações para a definição de uma nova ordem económica mundial (Conferência do Atlântico de Ajuda Mútua – Fevereiro de 1942) . Essas negociações consolidam-se em Bretton Wood (1944).

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Apesar das discussões entre ingleses (com o Plano Keynes) e os Estados Unidos (com o Plano White) o que se verificou foi uma imposição quase total das opções norte americanas.

Os EUA, agora no papel de potência hegemónica mundial, fizeram prevalecer o seu plano, apesar do "Plano Keynes" ser considerado mais ambicioso e incisivo.

Entre os diversos pontos da discussão de Bretton Wood pode-se destacar dois como principais, pois são eles que irão nortear as finanças internacionais após a Segunda Guerra Mundial:1º) Qual seria o padrão monetário internacional?2º) Como conseguir o equilíbrio nos intercâmbios internacionais?

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

1º) Qual seria o padrão monetário internacional, ou seja, o que se poderia aceitar como dinheiro ou meio de pagamento internacional e como regular sua quantidade? A solução encontrada atendeu aos desejos americanos, na medida em que se

estabeleceu o ouro como instrumento de reserva internacional; Como a quantidade existente desse metal era insuficiente para reactivar e expandir o

comércio mundial, acordou-se que todas as moedas nacionais podiam adquirir status de meio de pagamento internacional se fossem convertíveis em ouro;

Esse princípio de conversibilidade no pós Segunda Guerra implicava que só o dólar poderia assumir esse status "moeda" internacional" (os Estados Unidos detinham dois terços das reservas mundiais de ouro).

Estava criado o padrão ouro-dólar, que, apesar das suas particularidades era similar ao padrão ouro-libra instituído pela Inglaterra em meados da década de 20;

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

2º) Como conseguir o equilíbrio nos intercâmbios internacionais? Também privilegiando o "Plano White", preconizou-se eliminar todas as restrições

impostas ao comércio internacional e as suas formas de pagamento, repudiando todas as práticas cambiais discriminatórias.

No que tange à estabilidade dos tipos de câmbio (expresso em ouro), esse não poderia afastar-se do preço de paridade em mais de 1%. Toda alteração superior deveria obedecer à exigência do equilíbrio da balança de pagamento e exigia a consulta prévia se fosse mais que 10%.

Um dos pontos incorrectos dessa concepção foi criar obrigações e condições concretas de ajuste para os países deficitários e não para os países superavitários, sendo assim, os Estados Unidos ficavam completamente salvos de prestar contas da sua política económica.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

O PADRÃO OURO-DÓLAREste padrão monetário, baseado no dólar, esteve associado à

hegemonia exercida pelos Estados Unidos no mundo capitalista nesse período.

Foi sob a sua hegemonia que se reconstituiu o mercado mundial e se desenvolveu um intenso processo de internalização dos capitais privados, liderados pelos norte americanos.

Ao impor ao mundo o dólar como moeda internacional os Estados Unidos legitimavam a sua soberania no campo monetário, soberania essa que implicou um alto grau de liberdade na condução da sua política económica, bem como responsabilidades na condução das finanças mundiais.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

O dólar tinha passado, então, a ser a moeda de circulação dentro dos Estados Unidos e a moeda internacional, duplo papel contraditório, conhecido como Dilema de Triffin que consiste na incompatibilidade do dólar (ou qualquer outra moeda nacional) de exercer, simultaneamente, as funções de circulação interna e de reserva de valor internacional (esta última ancorada em ouro). Cumprir com a regra da conversibilidade do ouro supunha que os Estados Unidos somente

pudessem emitir dólares na mesma proporção em que acumulassem reservas na sua balança de pagamentos, requerendo que o país incorresse em constantes superávits na balança de pagamentos.

Constantes superávits na balança de pagamentos significariam entradas de dólares superiores às saídas, o que implicaria a escassez de dólares americanos no mercado internacional, não satisfazendo a procura por liquidez externa.

Para que o dólar cumprisse sua função de circulação como moeda internacional, os Estados Unidos passaram a incorrer em constantes défices na sua balança de pagamentos, exportando capital para atender às necessidades da liquidez mundial:

Primeiro, via Plano Marshall e gastos militares; Num segundo momento, através da exportação do capital produtivo norte americano (especialmente

através de investimento estrangeiro directo na Europa e no Japão).

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

A crise do padrão dólar inicia-se nos anos 60 como resultado do próprio padrão adoptado pelos americanos. Ao alcançar maior autonomia económico-financeira os países europeus passam a

contestar os desajustes internos da política económica norte americana. O financiamento da guerra do Vietnam cria uma situação de descontentamento com a

total hegemonia americana e a desconfiança no âmbito militar torna-se acirrada, (especialmente pela França, que se opõe de forma incisiva à forte presença militar dos americanos na Europa).

Em termos monetários, ampliam-se a contestação e a desconfiança no dólar como activo de reserva de valor internacional, levando algumas autoridades a preferirem o ouro e como reserva e a criarem alternativas, como os Direitos Especiais de Saque (DES).

Tal como tinha acontecido com a Libra Esterlina na década de 20, o ouro saía agora dos Estados Unidos em direcção à Europa recuperada.

Os Estados Unidos resistem mas, finalmente, em 1971 decretam o fim do padrão ouro.Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Ter-se-ia então repetido a história? O resultado em ambos os casos é fruto de uma moeda nacional que se propõe a ser reserva de

valor internacional. Porém, o caso americano tem algumas peculiaridades: a hegemonia americana foi legitimada por

um "consenso" das nações e institucionalizada por organismos internacionais, que os Estados Unidos usaram para viabilizar os seus objectivos e adiar a sua crise.

Nesse sentido, pode-se evidenciar que só a partir da crise do padrão ouro-dólar é que instituições como o FMI e o Banco Mundial passaram a ter papel um activo no cenário monetário internacional.

Contrariamente à Inglaterra, os Estados Unidos, após o padrão dólar ainda são a nação mais rica e poderosa do mundo, não tendo nenhuma outra nação que possa colocar em causa a sua liderança pois, mesmo com o fracasso do padrão ouro-dólar, os Estados Unidos conseguiram fazer com que a sua moeda continuasse a ser a principal moeda de referência internacional. Essa posição de líder mundial viria a consolida-se com o fim da Guerra Fria.

Os Estados Unidos continuam hoje a exercer, de maneira diferente e peculiar, a hegemonia mundial. Assim, as distintas economias mundiais encontra-se hoje mais do que nunca, na dependência das acções dessa potência hegemónica.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Desde 1971, e principalmente após Março de 1973 quando foram abandonados os esforços sistemáticos de reordenamento das taxas de câmbio para chegar a uma nova estrutura de paridades fixas, o mundo vive sem um Sistema Monetário Internacional formal. Apesar de alguma instabilidade, esse período não pode ser caracterizado como de

caos, ao contrário, até funcionou relativamente bem. A grande discussão actual é saber se existe necessidade de um Sistema Monetário

Internacional formal e, existindo, qual deverá ser o seu perfil. Um ponto comum nas respostas a essas questões é que, existindo, o sistema deverá

considerar: a importância dos capitais privados fortemente internacionalizados no sistema financeiro

internacional; as relações dinâmicas do mundo global; e a inserção e peculiaridade dos países emergentes.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Dever-se-á observar, porém, que os dois períodos de grande prosperidade mundial – iniciados em fins do século XIX e depois da Segunda Guerra Mundial –foram marcados pelo funcionamento de um Sistema Monetário Internacional formal e pela hegemonia explicita de uma nação.

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As grandes economias mundiais: Rivalidade EUA, Japão, EU e China Em Outubro de 2010 apareceram sinais claros de uma possível guerra de

divisas (dólar, euro, yen y yuan). Os países baixaram a cotação das suas moedas em busca de vantagens competitivas –

para facilitar as suas exportações – que os ajudem a sair da crise. Contudo, caso se produza uma guerra de divisas e um ciclo de desvalorizações cambiais,

acentuar-se-á o confronto comercial chegando-se a uma guerra comercial que acentuará e atrasará inevitavelmente a recuperação.

Recorde-se que também houve uma guerra comercial durante a Grande Depressão, iniciada pelos Estados Unidos e a Grã-Bretanha.

Neste momento os olhares voltam-se para a China, de quem se diz, poderia corrigir o problema, se assim o desejasse, apreciando a sua moeda.

Para Immanuel Wallerstein a perda de peso do dólar é real e pode conduzir a dois cenários: i) produzir-se uma queda repentina que gere um caos tremendo; produzir-se uma queda suave que origine a substituição paulatina do dólar como moeda de referência internacional.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

A guerra comercial consiste na adopção, por um ou vários países, de tarifas ou barreiras ao comércio em relação a um ou vários países terceiros.

Este termo é antónimo de livre comércio.Os economistas, regra geral, são de opinião que este tipo de guerra é

muito pouco producente, com uma grande influência negativa sobre o bem-estar social e económico das nacões implicadas;

Contudo, os politólogos persistem na crença que a ameaça que pressupõe uma guerra comercial é uma importante ajuda no momento de obter concessões de outros tipos.

Dr. Sabino Pereira Ferraz

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Alguns economistas argumentam que algumas protecções económicas são mais onerosas que outras que poderiam conduzir à guerra comercial.

Por exemplo, se um país aumenta sua tarifas, o outro pode, como retaliação, aumentar as suas tarifas, mas também aumentar os subsidios a certos sectores económicos. É uma estratégia de repressão mais difícil para um país estrangeiro.

Muitos países pobres não têm a possibilidade de elevar subsídios para os seus sectores, pelo que são mais vulneráveis a esse tipo de guerra comercial (ver, por exemplo, o caso da agricultura na Europa, cujas bolsas de alguma forma impedir a concorrência no estrangeiro, ou pelo menos limitar).

Para aumentar a protecção contra a importação de produtos mais baratos, os países pobres expõem-se a que esses produtos sejam muito caros para que as suas economias possam produzi-los.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

As posibilidades de uma crise financeira muito grave já havia sido advertida por Raghuram Rajan em 2005, numa publicação apresentada por ocasião de uma homenagem a Greenspan. «A eclosão da crise financeira de 2008 pode fixar-se oficialmente em Agosto de 2007.

Foi quando os bancos centrais tiveram que intervir para proporcionar liquidez", de acordo com George Soros.

O que é certo é que o início da crise data de meados do ano de 2007, com os primeros sintomas das dificuldades originadas pelas hipotecas subprime. No fim de 2007 os mercados bolsistas dos Estados Unidos iniciaram uma precipitada queda, que se acentuou gravemente no começo de 2008.

A confluência de outros eventos particularmente nocivos para a economía norte americana (subida dos preços do petróleo, aumento da inflação, estancamento do crédito), exageraram o pessimismo global sobre o futuro económico norte americano, até ao ponto da Bolsa de Valores de Nova York sucumbir diariamente aos «rumores» financieros.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Muitos opinam que isto foi o que precipitou a queda abrupta do banco de invertimentos Bear Stearns, que previamente não mostrava sinais particulares de debilidade.

Contudo, em Março de 2008, em questão de días foi liquidado em mercado aberto (open market) e posteriormente, num acto sem precedentes, a Reserva Federal realizou uma operação de resgate da instituição, a qual acabou sendo vendida a preço de saldo à JP Morgan Chase.

Rápidamente, o impacto das hipotecas subprime provocou repercussões para lá dos Estados Unidos. Os bancos de investimento sofreram perdas em todo o mundo. As empresas começaram a negar-se a comprar títulos de milhares de milhões de dólares, por por causa das condições do mercado.

O Banco Federal dos E.U.A. e o Banco Central Europeu trataram de reforçar os mercados com dinheiro, injectando fundos disponiveis nos bancos (empréstimos em condições mais favoráveis).

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As taxas de juro também foram cortadas, num esforço para incentivar os empréstimos. Contudo, no curto prazo as ajudas não resolveram a crise de liquidez (falta de dinheiro

disponivel), já que os bancos continuavam cépticos, pelo que se negaram a outorgar empréstimos uns aos outros.

Os mercados de crédito imobilizaram-se porque os bancos estavam relutantes em emprestar dinheiro entre eles, ao não saberem quantos empréstimos mal parados poderiam ter os seus concorrentes.

A falta de crédito a bancos, empresas e indivíduos trouxe a ameaça de recessão, perdas de empregos, falências e, portanto, um aumento do custo de vida.

No Reino Unido, o banco Northern Rock pediu um empréstimo de emergência para manter-se, lo que impeliu a uma corrida ao banco. 2.000 milhões de libras foram levantadas por clientes preocupados. El banco se nacionalizó más tarde.

Nos E.U.A., o banco Bear Stearns quase colapsou, o que levou a uma crise de confiança no sector financeiro e o fim dos bancos especializados em investimento.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Depois de uma pausa na Primavera, os mercados de acções nos Estados Unidos voltaram a uma extrema debilidade, entrando oficialmente em quedas de mais de 20% em Junho, o que é considerado uma situação de retrocesso de mercado ('bear market').

Isso voltou a ser motivados por más notícias no sector financeiro, com as primeiras declarações de falência, incluindo o colapso do banco IndyMac, a segunda maior falência em termos de dólares na história do país, com orisco latente de que outros bancos regionais também pudessem terminar de igual forma.

A crisis tomou dimensões ainda mais perigosas para a economía dos Estados Unidos quando as duas maiores sociedades hipotecárias do país, Freddie Mac y Fannie Mae, que reúnem metade do mercado hipotecário habitacional, começaram a ver as suas accões atacadas por los especuladores, a tal ponto que no princípio de Julho, o governo dos Estados Unidos e a Reserva Federal novamente tiveram que anunciar um resgate para esas entidades financieras. Tal decisão criou consternação em vários sectores liberais, que argumentaram que tais resgates só pioraríam a longo prazo as prácticas éticas dos investidores, fomentando a imprudência com dinheiro público.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Durante esse período, o FED, assim como outros bancos centrais, continuaram a injectar liquidez no mercado, no valor de centenas de milhares de milhões de Dólares, Euros ou Libras Esterlinas.

Em 15 de Septembro, o banco de investimento Lehman Brothers pediu concordata, declarando-se oficialmente falido. Entretanto, o banco de investimento Merrill Lynch foi adquirido pelo Bank of America, por metade do seu valor real. Os candidatos presidenciais dos E.U.A. por ambos os partidos e la imprensa começaram a catalogar a situação de 'pânico financiero', 'crisis económica no país' e 'colapso'.

As economías de todo o mundo vêm-se afectadas pela carencia de crédito. Certos governos nacionalizaram bancos, como a Islandia e a França. Os bancos centrais dos E.U.A., Canadá e de algumas partes da Europa adoptaram uma decisão coordenada, sem precedentes, de um corte de meio por cento dos juros num esforço para aliviar a crise.

As acções nas bolsa têm subido e descido com as notícias das falências, aquisições e resgates. Em parte, isso reflecte a confiança dos investidores no sistema bancário.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

O Dólar norte americano sofreu um processo constante de depreciação e o défice comercial continuou a bater records.

A vantagem exportadora devida ao dólar fraco foi completamente anulada no intercâmbio comercial pela subida dos preços do petróleo, do qual os E.U.A. importam 50% das suas necessidades.

Millones de familias começaram a perder as suas casas, e instituciones como a General Motors, a Ford, a Chrysler e muitas linhas aéreas começaram a ter sérias dificuldades.

Os índices de confiança do consumidor situaram-se nos seus mais baixos níveis históricos (alguns datam dos anos 50), e produziu-se uma subida do desemprego nos Estados Unidos e outros países desenvolvidos.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Em Março de 2009, os mercados bolsistas e de obrigações recuperaram um pouco. Além disso, foi aliviada a pressão sobre algumas empresas financeiras nos Estados Unidos.

O FMI relatou que os sistemas financeiros da Europa, Estados Unidos e Japão registaram, entre 2007 e 2010 $4,1 bilhões em perdas - até agora o sector bancário perdeu $1 bilhão.

Para voltar a aos níveis de capitalização anteriores, os bancos necesitaram arrecadar $875.000 milhões em 2009. O FMI propôs, inclusivamente nacionalizar os bancos se fosse necessário.

A acumulação de activos «podres» impede a recuperação económica: as perdas de crédito estimam-se maiores que as dos E.U.A. Os bancos necesitam de mais dinheiro fresco para sanear os seus balanços, segundo o FMI.

No ano de 2010, a crise financeira global provocou uma crise no sistema do Euro, tornando-se necessário ao Banco Central Europeu resgatar as economias da Grécia e Irlanda (e mais recentemente de Portugal).

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Medidas As autoridades económicas, desde o inicio da crise, optaram por soluções diferentes:

Injecção de liquidez pelos bancos centrais. Intervenção e nacionalização dos bancos, Extensão das garantias de depósitos, criando fundos milionários para a compra de títulos

podres ou a garantia de dívidas de bancos. As medidas parecem ter sido destinadas a manter a solvência das instituições

financeiras, restabelecer a confiança entre instituições financeiras, acalmar a turbulência do mercado de acções e tranquilizar os aforradores.

Desde o fim de Agosto de 2007, o governo dos EUA anunciou várias medidas para evitar situações de incumprimento das prestações de crédito à habitação.

Um primeiro plano de resgate dos bancos foi oficialmente lançado no início de Dezembro de 2007, com um duplo objectivo: Proteger as famílias mais frágeis, Gerir a crise.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

A principal medida para limitar os padrões de hipoteca foi congelar, sob certas condições, as taxas de juros dos empréstimos de alto risco de tipo varável.

A administração Bush também anunciou no início de 2008 um plano orçamental de recuperação económica de cerca de US $ 150 bilhões, ou o equivalente a 1% do PIB.

Buscando uma solução de longo prazo, o governo dos E.U.A lançou um plano de resgate de 700.000 millones de dólares para comprar dívida mal parada de Wall Street a troco de uma participação nos bancos.

O governo quería pedir empréstimos nos mercados financeiros mundiais, e esperava que pudessa vender os títulos podres quando o mercado imobiliário habitacional estivesse estabilizado.

O governo do Reino Unido lançou o seu próprio plano de resgate, tornando disponíveis 400.000 milhões de libras para oito dos maiores bancos do Reino Unido e a empresas imobiliárias em troca de participação nos seus capitais.

Em troca do seu investimento, o governo espera obter uma participação nos bancos.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Muitas medidas tiveram um certo proteccionismo segundo denunciou a OMC: «Houve incrementos nas tarifas, novas medidas não tarifárias e mais países recorrem a medidas de defesa comercial como acções anti-dumping".

Desde o início de 2009 houve um "declínio significativo" no compromisso global com o livre comércio devido à crise económica global, segundo a OMC

No seu relatório anual, a OMC, refere que o comercio global se contrairia 9% este ano. O relatório también enuncia exemplos das medidas que os países estão a tomar para proteger as suas companhias e economias, desde tarifas na importação na Europa de bolsas plásticas da Ásia até à proibição de joguetes chineses na Índia. A Corea do Sul aumentou as tarifas sobre o petróleo. O México subiu as tarifas de 89 produtos norte americanos, A Ucrania impôs uma tarifa de 13% sobre todas las importacões, Os E.U.A. subiu as tarifas das importações de tubos de aço chineses, Argentina impôs uma licencia especial para a importação de joguetes, Argentina, Brasil, Canadá, Rússia, Equador e Ucrânia recentemente aumentaram as suas tarifas sobre a

importação de sapatos, principalmente da China e do Vietnam.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Doze países auxiliaram as suas indústrias automóveis. Os Estados Unidos, o Brasil e a França ofereceram generosos empréstimos às suas indústrias. A Índia passou a exigir licenças e a Argentina fixou os preços de importação de peças para automóveis.

A União Europeia e mais dez países aumentaram as tarifas sobre o aço importado.

No entanto, a OMC também saudou os esforços para promover o comércio global: Argentina eliminou cerca de 35 impostos de exportação de produtos lácteos. O Brasil ampliou um programa de empréstimos aos exportadores. A China eliminou as tarifas sobre as importações de chapas de aço e as Filipinas reduziram as tarifas de trigo e

cimento.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Política monetária Desde o início da crise, em agosto de 2007, os bancos centrais demonstraram uma grande

capacidade de reacção. Além do mais também actuaram em simultâneo para evitar uma crise sistémica bancária e para limitar o impacto sobre o crescimento

A Reserva Federal norte americana flexibilizou a política monetária injectando liquidez e, eventualmente, actuou sobre as taxas de juro.

Os bancos financiam-se tradicionalmente tomando dinheiro emprestado a corto prazo no mercado interbancário. Mas a crise financeira que começou em 2007 se caracterizou-se por uma grande desconfiança mútua entre os bancos, o que levou a um aumento das taxas interbancarias. As taxas interbancárias superaram largamente a taxa primária do banco central.

Os bancos centrais intervieram massivamente para injectar liquidez, esperando assim reduzir as tensões do mercado monetário e restabelecer a confiança.

A política monetária caracterizou-se também por uma extensão da duração dos empréstimos, uma ampliação das garantías e a posibilidade de obter refinanciamentos.

Para além de prover liquidez, para reduzir o impacto da crise financeira sobre o crecimento, o FED baixou consideravelmente a taxa de juro primária que passou de 6% em 2007 a 0,5% no fim de 2008.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Em troca, o BCE não baixou a sua taxa primária. Por fim los bancos centrais desempenharam a função de prestamistas de última instância (PUI), ao emprestar fundos

adicionais aos bancos tomando os seus activos como garantía. Desde o principio da crise, o Banco de Inglaterra teve que nacionalizar, ainda que temporariamente – em Fevereiro de

2008 – o banco hipotecário Northern Rock, e em Março de 2008, o FED teve que acudir financeiramente o banco de investimrnto Bear Stearns.

A 23 de março de 2008, o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet afirmou que a Europa não necesitava de aumentar os gastos para poder combater a crise financeira global.

Em vez disso, propôs que os gobiernos deveriam actuar com rapidez na implementação das medidas ja anunciadas. Baseou as suas medidas no argumento que estas correspondem à gravidade da situação.

Em Março de 2009, Timothy Geithner (Secretário do Tesouro dos Estados Unidos) anunciou a criação de sociedades público-privadas que compraram os empréstimos e valores tóxicos dos bancos. O objectivo é que os investidores ganhem grandes quantidades de dinheiro, para incentivar os investimentos neste

sector, para que se revitalizem os mercados financeiros relacionados com empréstimos e valores.

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Capitulo VII – Mundialização da Economia

Assim, segundo o jornal on-line WSJ: "Se um banco tem um empréstimo hipotecário de US$ 100 que pretende vender a uma entidade público-privada por US$ 84, os investidores privados contribuem apenas com US$ 6. O Tesouro põe US$ 6 e o Fundo de Garantia de Depósitos (FDIC) dos E.U.A. garantem um empréstimo de US$ 72".

Um dos inconvenientes seria os bancos recusarem a venda dos seus activos a preços inferiores aos escriturados, pois esgotar-se-iam as suas reservas, o que obrigaria a encerrá-los ou a aceitar dinheiro dos contribuintes.

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

A evolução histórica do capitalismo nos últimos dois séculos produziu uma recorrente assimetria na repartição do trabalho pelo mundo.

Apesar de encontrar-se subordinada ao desenvolvimento das actividades produtivas, a capacidade de absorver uma maior ou menor quantidade de trabalhadores não depende exclusivamente do grau de expansão de cada país, mas do padrão de desenvolvimento económico nacional.

Da mesma forma, a qualidade dos postos de trabalho existentes tende a estar associado tanto ao desenvolvimento tecnológico e organização do trabalho quanto às condicionalidades impostas pela regulação no mercado nacional de trabalho

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

A partir disso, o conceito de Divisão Internacional do Trabalho assume relevância como expressão do grau de assimetria geográfica no uso e rendimento da mão-de-obra em distintas fases históricas da evolução da economia mundial.

Duas são as referências teóricas que se sobressaem na sustentação temática da Divisão Internacional do Trabalho: Por um lado, destaca-se a noção fundada nas vantagens comparativas que

determinadas nações possuem ao produzir e comercializar seus bens e serviços. Assim, a existência de algumas nações mais ricas do que outras poderia ser explicada por factores estritamente de ordem económica.

Por outro lado, há uma outra noção teórica diametralmente oposta, que identifica a estratificação e hierarquização da economia mundial como não associadas à simples noção de vantagem comparativa na produção e comercialização de bens, serviços e informação, mas produto da lógica intrínseca de funcionamento do sistema económico e social.

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

Noção fundada nas vantagens comparativas: Somente o maior intercâmbio de bens, serviços e informação entre as nações possibilita

haver menor grau desigualdades entre os distintos estágios de desenvolvimento económico e, portanto, no formato da Divisão Internacional do Trabalho.

Dessa forma, a integração no sistema económico mundial, por ser realizada através da maior competição entre nações, seria capaz de gerar saldos positivos entre a destruição e a criação de postos de trabalho para as áreas geográficas mundiais com vantagens comparativas.

A especialização nas actividades produtivas seria requerida como princípio motivador da competitividade no contexto do livre-comércio internacional. Nos dias de hoje, a versão mais sofisticada dessa visão teórica pode ser encontrada nas

publicações de importantes agências multilaterais que definem as possibilidades de expansão nacional directamente associada à maior integração no mercado mundial.

A desregulamentação dos mercados financeiros, de produtos e do trabalho constitui peça fundamental no roteiro de medidas necessárias para o melhor acesso ao desenvolvimento económico e à ampliação dos postos de trabalho

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

Noção fundada na lógica intrínseca de funcionamento do sistema económico e social: A correlação de forças entre as distintas nações engendraria a geografia mundial da

geração e absorção de riqueza e de criação e destruição de postos de trabalho, havendo possibilidades de manifestação de múltiplas formas de dominação de uma nação por outra, através da dimensão política, militar, económica e cultural.

Duas ênfases distintas podem ser destacadas no campo de interpretação das assimetrias na divisão da renda e dos postos de trabalho no mundo: A primeira interpretação dá mais ênfase ao elemento externo, ou seja, ao próprio

funcionamento das relações internacionais articulado por laços de dominação e dependência, o que possibilita, para algumas nações, a imposição a outras de seus próprios interesses. Assim, a subordinação das nações decorre da natureza concentradora dos poderes político-militar, financeiro e tecnológico durante a dinâmica do desenvolvimento capitalista.

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

A segunda interpretação enfatiza mais o elemento interno, relativo aos obstáculos especificamente nacionais.

Sem desconhecer as assimetrias nas relações internacionais, o enfoque teórico em referência termina valorizando mais a articulação das elites nacionais no favorecimento dos seus interesses e o estágio de desenvolvimento das estruturas produtivas internas na explicação da maior ou menor viabilidade de expansão doméstica, simultaneamente ao avanço da economia mundial.

A despeito das divergências nas distintas interpretações sobre a evolução histórica do capitalismo prevalece, pelo menos, uma convergência sobre a base de geração das desigualdades e sua auto-reprodução na repartição mundial do trabalho.

Com o objectivo de melhor precisar a estratificação do trabalho adoptou-se como referência, o entendimento de que a economia mundial encontra-se estruturada nas relações entre centro e periferia.

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

O centro da economia mundial representa o locus1 do poder de comando, sendo nele predominantes as actividades de controlo dos excedentes das cadeias produtivas, bem como de produção e difusão de novas tecnologias.

A periferia assume, entretanto, um papel secundário na estrutura de poder mundial, sendo locus subordinado na apropriação do excedente económico e dependente na geração e absorção tecnológica.

Mais recentemente, foi introduzido o conceito de semiperiferia para identificar melhor o surgimento de uma diferenciação significativa no interior dos países fora do centro capitalista:

1 - A palavra locus (plural loci) significa "lugar" em latim.

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

Por um lado, para distinguir as experiências das economias centralmente planificadas (socialistas), que apesar de não serem tão dependentes na geração de tecnologia, nem subordinados na apropriação do excedente económico e tão pouco dominados pelo poder de comando central, apresentaram, num determinado período histórico, condições socioeconómicas intermediárias em relação ao centro capitalista mundial.

Por outro lado, para destacar a constituição de um pequeno conjunto de economias de mercado que, apesar de serem tecnologicamente dependentes, subordinadas na apropriação do excedente e dominadas pela estrutura do poder de comando do centro capitalista mundial, conseguiram alcançar uma posição socioeconómica intermediária. Foi o caso dos novos países que conseguiram internalizar algum grau de industrialização

tardiamente (New Industrializing Countries) no segundo pós-guerra.

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

As duas estratégias de desenvolvimento de economias semiperiféricas tiveram naturezas distintas: Nas economias centralmente planificadas, o padrão de desenvolvimento foi anti-

sitémico, pois ocorreu através de um ruptura com o centro do capitalismo mundial, através de revoluções ou de profundas reformas. Dessa forma foi possível a constituição de sociedades mais homogéneas, mesmo sem registar

afluência idêntica a dos países centrais. Ao contrário, nalgumas economias capitalistas periféricas conseguiram levar avante um

projecto de industrialização nacional, através de uma estratégia pró-sistémica. Em geral, sem romper com à lógica de funcionamento das economias de mercado, houve o

surgimento de um pequeno segmento social com padrão de vida próximo ao do centro do capitalismo mundial, rodeado por grande parte da população vivendo em condições precárias, mais tradicionais às dos países periféricos.

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

Essa polarização no interior da economia mundial implicou processos distintos de repartição geográfica do trabalho. Isso porque as relações centro – periferia – semiperiferia, resultam de uma constante disputa

pela apropriação dos benefício engendrados pela Divisão Internacional do Trabalho, não apenas decorrente de combinações das actividades produtivas entre os distintos países.

Conforme poderá ser observado, a Divisão Internacional do Trabalho tende a expressar diferentes fases da evolução histórica do capitalismo: inicialmente como relação dicotómica entre manufactura e produtos primários, posteriormente, uma relação entre produtos industriais de maior e menor valor agregado e

baixo coeficiente tecnológica e, mais recentemente, uma relação entre serviços de produção e manufactura.

Essas relações que sustentam distintas divisões de trabalho podem ocorrer de maneira simultânea no tempo entre nações do centro, semiperiferia e periferia.

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

A Primeira Divisão Internacional do Trabalho Com a primeira Revolução Industrial (1780-1820), a Inglaterra emergiu como o país de

industrialização originária, transformada imediatamente na grande oficina do mundo ao longo do século XIX.

A combinação entre o poder militar já existente e as formas superiores de produção industrial naquela oportunidade possibilitou à Inglaterra assumir uma posição de hegemonia na economia mundial.

A Libra Esterlina passou a sustentar o padrão monetário internacional (gold standard) a partir de sua conversibilidade ao ouro, e assumiu funções de reserva de valor, bem como alavancou as trocas comerciais.

Nestas condições, a Inglaterra assumia isoladamente o centro do capitalismo mundial.

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

Diante do monopólio da industrialização, a Inglaterra manteve uma relação dicotómica com as demais nações que, na posição de periferia, procuravam compensar a grande importação de produtos manufacturados ingleses com a exportação de produtos primários (basicamente alimentos e matérias primas).

Não foi outro o motivo que fez o cento capitalista interessar-se tanto e insistir no livre comércio, extremamente favorável à Inglaterra.

Nessa condição, os ingleses praticamente abandonaram as possibilidades de produção e exportação de produtos primários, transformando-se na grande nação dependente da importação de alimentos e matérias primas que era financiada pela exportação de produtos manufacturados.

Assim, a Inglaterra pôde empregar apenas 9% da sua força de trabalho no sector primário em 1900, enquanto os Estados Unidos possuíam 37% da sua população activa no campo, a Alemanha 34%, a França 43%, a Itália 59%, a Espanha 67%, o Japão 69%, o México 71%, a Índia 72%, o Brasil 73%, a Rússia 77% e a China 81%.

(Morris & Irwin -1970)

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

Aproveitando o facto de o padrão de industrialização inglês não exigir elevados investimentos, nem grande escala de produção e, ainda, de a tecnologia utilizada não ser muito complexa – difundida através da própria migração de profissionais mestres de ofício – alguns poucos países puderam internalizar a produção decorrente da primeira Revolução Industrial e Tecnológica (máquina a vapor, tear e ferrovia), passando a constituir também parte do centro capitalista mundial durante o século XIX.

Isso ocorreu de maneira distinta no tempo, marcando uma transição do processo de industrialização originário (Inglaterra) ao atrasado (Alemanha, EUA, França, Japão e Rússia).

Na primeira metade do século XIX, por exemplo, países como a Alemanha e os Estados Unidos internalizaram o modelo inglês de produção e consumo, enquanto no pós-1870 outro pequeno bloco de países como Japão e Rússia também teve êxito na cópia do padrão de industrialização inglês.

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

Nessa passagem, ocorreu uma segunda Revolução Industrial e Tecnológica, com graus de exigência de internalização bem superiores.

A maior escala de produção imposta pelo processo industrial de novos bens (energia eléctrica, automóvel, química, petróleo, aço, entre outros) requeria, por consequência, grandes entradas de investimentos e elevada escala de produção, somente realizados através de um significativo movimento de centralização e de concentração do capital.

O surgimento de grandes empresas, através de fusões e cartéis e a união dos capitais industrial e bancário (financeiro), viabilizou, para poucas empresas, a possibilidade de produção e difusão de uma nova onda de inovação tecnológica.

As dificuldades adicionais de acesso à segunda Revolução Industrial e Tecnológica tornaram mais complexas as possibilidades de transição das nações periféricas para as nações do centro capitalista.

Assim, entre 1890 e 1940, as exportações mundiais de produtos manufacturados estiveram concentradas em apenas 5 países (Inglaterra, Estados Unidos, França, Japão e Alemanha) que respondiam por cerca de 80% do total do comércio internacional.

(Chirot, 1977).

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

Da mesma forma, países como a Alemanha, Estados Unidos, França e Inglaterra, que juntos representavam apenas 13% da população mundial, foram responsáveis por 74% da produção total de manufactura do mundo durante o começo do século XX.

Em relação ao emprego industrial, que geralmente revela relações de trabalho e de remuneração menos precárias, verificou-se que ele se concentrou em poucos países, ao passo que 75% do total da ocupação no sector primário estavam associadas às economias periféricas.

A forte dependência da monocultura agrícola de exportação era uma das principais marcas da periferia, que se utilizava disso para financiar as importações de produtos manufacturados do centro industrializado.

Em 1900, por exemplo, o Brasil tinha quase 80% de sua pauta de exportação dependente das culturas de café (61%) e da borracha (18%), assim como o Egipto possuía 87% das exportações associadas ao algodão, Ghana era 77% dependente do cacau e ouro, a Roménia dependia em 76% dos cereais, a Indonésia em 60% do tabaco e do açúcar e a Argentina em mais de 2/3 de produtos primários.

(Chirot, 1977)

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

A dicotomia entre os produtos manufacturados do centro e os produtos primários da periferia demarcou a primeira Divisão Internacional do Trabalho.

Enquanto que o sector agrícola era o grande empregador nos países periféricos, o sector urbano, especialmente a indústria, destacava -se no emprego da maior parte da mão-de-obra nas economias centrais.

É importante ressaltar ainda que a periferia, por englobar um conjunto grande países, não se caracterizava pela homogeneidade: Diversos países periféricos serviam de ponto de apoio à acumulação de capital por parte da

metrópole, impulsionada pela concorrência no centro capitalista. Algumas nações como a Argentina e colónias inglesas conseguiram alguns sucessos contidos,

com elevação da renda per capita acima dos demais países periféricos. Toda essa estratificação e hierarquização do trabalho no mundo contribuiu para a

manutenção de enormes diferenças de potencialidades no desenvolvimento das nações.

Além disso, foi fonte de grande assimetria na geração e absorção da renda mundial.

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

A Segunda Divisão Internacional do Trabalho A partir do início do século XX, a Inglaterra passou a registar sinais de fragilidade na sua

condição de potência hegemónica, situação agravada por duas guerras mundiais e, principalmente, pela Depressão de 1929.

Os Estados Unidos, que já se apresentavam como a principal economia do centro capitalista, não demonstrava interesse em assumir a posição de nação hegemónica, ocupada até então pela Inglaterra.

Somente após a 2.ª Guerra Mundial os Estados Unidos assumiram a posição de nação hegemónica, porém num cenário internacional até então desconhecido: Existência de um modo de produção distinto do capitalista, difundido pela Revolução Russa de

1917 e que posteriormente iria atingir 1/3 de toda a população mundial, Entrada em jogo de uma estratégia de desenvolvimento anti-sitémico, que distinguia a nova

situação do quadro de relações internacionais que predominava até então (possibilidade de crescimento económico somente pró-sistémico).

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

A predominância de um quadro de guerra fria, fortemente marcado pela bipolaridade nas relações internacionais, especialmente entre EUA e URSS, terminou favorecendo, no pós-guerra mundial, não apenas a reconstrução da Europa e do Japão, mas a também a reformulação do próprio centro capitalista mundial, com a geração de um bloco de países semiperiféricos, engajados tanto na estratégia antisistémica (economia centralmente planficada) como na estratégia pró-sistémica (economia de mercado subdesenvolvida).

Apesar de certa coexistência pacífica entre os dois conjuntos de países (capitalistas e socialistas), as relações internacionais caracterizaram-se entre 1947 e 1989 por significativas tensões, favorecendo, em parte, a consolidação e o aprofundamento do bloco soviético.

Dentro da estratégia pró-sistémica, que possibilitou a formação de uma semiperiferia, a partir da sua parcial industrialização, esteve também a promoção do esvaziamento de antigas potências coloniais como o Reino Unido, a França, a Bélgica, a Holanda e Portugal.

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Assim, ocorreu uma fase de descolonização promovida por factores tanto de ordem interna como de ordem externa, com a independência de países como Indonésia (1945), Filipinas (1946), Índia (1947), Coreia (1949), Vietname (1954), Marrocos (1956), Zaire (1960), Nigéria (1960), Kuweit (1961), Argélia (1962), Malásia (1963), Singapura (1965), Guiné-Bissau (1974), entre outros.

Em resultado disso, amadureceu uma segunda Divisão Internacional do Trabalho através da constituição de um bloco de países semiperiféricos que teve o apoio de uma ordem económica mais favorável à difusão geográfica do padrão de industrialização norte-americano.

O papel das agências multilaterais na regulação das relações internacionais (ONU, BIRD, FMI, GATT) esteve voltado para a contenção da valorização financeira (fictícia) do capital, através da estabilidade do padrão monetário, que se sustentava no padrão ouro-dólar, nas taxas fixas de câmbio e de juros e no controlo dos bancos.

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Enquanto o centro capitalista, reforçado pelo programa norte-americano (Plano Marshall) de reconstrução europeia e japonês, permitiu contra-arrestar a área de influência soviética e viabilizar, ao mesmo tempo, quase três décadas gloriosas de expansão económica pós-1945, parte pequena da periferia integrada ao centro capitalista conseguiu avançar a internalização do padrão de industrialização da segunda Revolução Industrial e Tecnológica.

Dessa forma, o conjunto dos países periféricos dependentes da relação tradicional de produtores e exportadores de bens primários e importadores de produtos manufacturados, teve um pequeno subconjunto de nações que ingressaram no estágio de produtores e até exportadores de produtos manufacturados.

O surgimento de um bloco de países semiperiféricos deu-se a partir da combinação do forte esforço das elites internas com a oportunidade de ter o seu espaço geográfico nacional privilegiado pela concorrência das grandes empresas transnacionais.

A periferização da indústria ocorreu, em grande medida, sob a liderança do Estado, através da expansão e protecção do mercado interno, o que permitiu a rápida passagem da fase agrária -exportadora para a de desenvolvimento industrial.

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Aproveitando a existência de um período de relativa estabilidade tecnológica e de um contexto de bipolaridade nas relações internacionais, alguns países africanos (África do Sul), latino-americanos (Brasil, México, Argentina, Venezuela e Chile) e do leste-asiático (Coreia, Singapura e Taiwan) avançaram na implantação completa ou não de sistemas industriais. O Brasil e a Coreia foram os países que mais se destacaram dentro da estratégia pró-

sistémica de alcançar uma etapa mais avançada de industrialização, sendo o primeiro sustentado pelo maior aproveitamento do mercado interno, com forte apoio das empresas multinacionais, e o segundo fundado no mercado externo, com apoio de grandes empresas nacionais.

O papel da semiperiferia foi absolutamente importante para a estabilidade do sistema capitalista mundial, impedindo, de certa forma, o aprofundamento da polarização entre países ricos e pobres.

A abertura de espaços para nações com renda intermediária mostrou-se também necessária para a oxigenação de empresas e sectores de actividade económica que se encontravam em declínio no centro capitalista.

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Mas tudo isso, que possibilitou a formação interna de segmentos sociais com nível de renda e padrão de consumo nos países semiperiféricos similares aos do centro capitalista terminou não ocorrendo, na maioria das vezes, homogeneamente. Foram assegurados privilégios para pequenas parcelas sociais, muitas vezes motivadas por experiências autoritárias.

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Para ressaltar as características da segunda Divisão Internacional do Trabalho, especialmente em relação aos países de baixa renda, foram adoptados os conceitos de fordismo periférico, sociedade salarial incompleta e periferização do sector industrial, que indicavam situações distintas em relação ao que havia anteriormente ocorrido nas economias de altas rendas.

Apesar disso houve mudanças, tanto na repartição do trabalho no mundo como na pauta de exportação.

Em 1998, por exemplo, 47,6% das exportações dos países semiperiféricos eram compostas de produtos primários e de 52,4% de produtos manufacturados, enquanto que em 1970, a proporção era de 72,5% para produtos primários e de 27,5% para produtos manufacturados.

Nas economias periféricas, a participação dos produtos primários nas pautas de exportação foi de 82,1% em 1998, contra 94,2% em 1970.

Já nas economias centrais, a presença de produtos primários no conjunto de exportados foi reduzida de 22,9%, em 1970, para 14,4%, em 1998.

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A Terceira Divisão Internacional do Trabalho Desde a década de 70 assiste -se a uma modificação substancial na Divisão

Internacional do Trabalho ocasionada principalmente por dois vectores estruturais no centro do capitalismo mundial:

O primeiro vector está associado ao processo de reestruturação empresarial, acompanhado da maturação de uma nova Revolução Tecnológica. Com o aprofundamento da concorrência intercapitalista tem havido uma maior concentração e

centralização do capital, seja nos sectores produtivos, seja no sector bancário e financeiro, o que concede maior importância para o papel das grandes corporações transaccionais.

Na realidade, conformam-se oligopólios mundiais, responsáveis pela dominação dos principais mercados, como é o caso no sector de computadores com apenas 10 empresas controlando 70% da produção, ou de 10 empresas que respondem por 82% da produção de automóveis, ou de 8 empresas que dominam 90% do processamento de dados, ou de 8 empresas que dominam 71% do sector petroquímico ou ainda de 7 empresas que respondem por 92% do sector de material de saúde

(Chesnais, 1996).

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O segundo vector está relacionado com a expansão dos Investimentos Directos no Exterior (IDE) Apesar dos avanços no fluxo de recursos estrangeiros em países semiperiféricos, o IDE

permanece ainda muito fortemente concentrado nas economias centrais. Ainda que mais recentemente uma parte importante dos IDE tenha sido direccionada aos países

de renda intermediária (semiperiferia), nota-se que o segmento de economias de baixa renda (periferia) continuou a perder participação no fluxo de recursos internacionais, sem alterar a parte do bolo que fica com as economias avançadas.

Durante os anos 50 e 60, a expansão das antigas empresas multinacionais para várias áreas geográficas ajudou a diversificar a especialização das firmas, diante da maior intensificação da competição interempresa, a partir da ajuda norte-americana na reconstrução europeia.

A ampliação da competição em torno de novos mercados e a procura de menores custos de produção contribuíram para o estímulo à relocalização de determinados processos produtivos especialmente para os países semiperiféricos.

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Na década de 70, um nova onda de expansão das empresas multinacionais foi estimulada pela elevação dos preços de petróleo e de matérias primas.

A ampliação dos investimentos na construção de filiais nas economias periféricas e sobretudo nos países semiperiféricos proporcionou: Por um lado, o reforço adicional na estratégia pró-sistémica de industrialização em países de

per capita intermediária Por outro lado, constituiu uma nova alternativa de construção de vantagens competitivas por

porte das empresas. As empresas multinacionais transformaram-se em corporações transnacionais ainda

maiores e mais poderosas, com capacidade de focalizar o mundo inteiro como espaço relevante para suas decisões de investimento e produção, provocando, em consequência, a reorganização do processo produtivo em grandes extensões territoriais e sobrepondo-se, inclusive, a jurisdições nacionais. A partir dos anos 80 assiste-se à reformulação dos processos globais de acumulação de

capital, coordenada por grandes corporações transnacionais que buscam incessantemente explorar novas oportunidades mais lucrativas de investimento.

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

As novas oportunidades de investimentos foram muitas vezes forjadas por ofertas de governos nacionais de abaixamento de custos e concessão de financiamentos domésticos subsidiados.

Essa submissão, por parte de vários governos nacionais, favoreceu a transferência de partes da cadeia produtiva, através da formação de redes de subcontratação vinculadas às corporações transnacionais, que podem ser de três tipos distintos: A subcontratação primária que ocorre pelo uso de serviços directos dos compradores finais,

como a distribuição de produtos; A subcontratação secundária que implica alguma montagem de equipamento ou produto, com

baixa agregação de valor; A subcontratação terciária com vínculos semipermanentes na obtenção de materiais e

uniformização do processo produtivo. A actuação mais recente das corporações transnacionais tendeu a diferenciar-se do

padrão dos anos 50 a 70, quando havia uma séria intenção das suas filiais internalizarem projectos industriais que guardavam alguma relação com a empresa mãe.

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

Ao longo da década de 90, a estratégia marcante das corporações transnacionais foi a de procurar permanecer o mais livre possível dos investimentos de longa duração, com o intuito de explorar rapidamente as oportunidades lucrativas de investimento, abrindo e fechando fábricas, tantas quantas fossem necessárias.

A constante disputa por custos ainda mais baixos faz com que a corporação transnacional deslocasse a sua capacidade produtiva para outras localidades.

Com isso, o reforço da produção industrial ocorreu aos saltos, com a transferência, muitas vezes, de operações de montagem mais simples e rotineiras, que exigiam menor nível de qualificação dos seus empregados.

A simples atracção de empresas, estimuladas pelos baixos custos, impede que a diferença de renda que separa o centro capitalista da periferia e da semiperiferia seja reduzida.

Entretanto, as partes mais complexas do processo produtivo acabam não sendo externalizadas pela empresa mãe, tendo em conta que as corporações transnacionais se especializam mais do que modificam por completo o seu mix de produção.

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

Segundo uma pesquisa realizada entre 1987 e 1993 com as principais corporações transnacionais estabelecidas nos Estados Unidos, Japão, Inglaterra e Alemanha, foi constatado que 75% do valor da produção gerada ficou nos países que operam as matrizes. (Hirst & Thompson, 1998)

Também se constatou que cerca de 82% do total dos postos de trabalho existentes nas corporações transnacionais permaneceram concentrados no centro capitalista, conforme as informações das Nações Unidas e da Organização Internacional do Trabalho. Os países periféricos e semiperiféricos, no intuito de oferecerem condições mais satisfatórias à

atracção das corporações transnacionais, aceitam, grande parte das vezes, o programa de agências multilaterais como o FMI e o BIRD, o que termina provocando o abaixamento ainda maior do custo do trabalho (usando recursos públicos para qualificar a mão-de-obra, criar contratos de trabalho especiais, ampliar jornadas de trabalho, entre outros) e a desregulamentação os mercados de trabalho.

Além de deteriorar a distribuição da renda, não há garantias de que não possa existir um novo deslocamento do processo produtivo para outras localidades.

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

A constituição de cadeias produtivas mundiais encontra-se dividida em dois níveis distintos:

No primeiro nível, assumem maior importância as actividades produtivas vinculadas à concepção do produto, definição do design, marketing, comercialização, administração, pesquisa e tecnologia e aplicação das finanças empresariais.

•Por serem actividades de comando e concepção, estão vinculadas aos serviços de apoio à produção, com tecnologia mais avançada, procurando crescentemente mão-de-obra mais qualificada, que recebe melhor salário e com melhores condições de trabalho.

•Aparte maioritária dos investimentos em ciência e tecnologia são de responsabilidade do países do centro capitalista.

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

Entre 1976 e 1996, a composição do comércio mundial de produtos sofreu importantes alterações: Os bens com médio e alto conteúdos tecnológicos passaram de 33% para 54% no total das

exportações, enquanto que os produtos com baixo conteúdo tecnológico e oriundos do sector primário foram reduzidos de 55% para 31% do comércio mundial; (Dahlman – 1999)

Ao mesmo tempo, mudou rapidamente a composição do emprego total nas economias centrais, conforme atestam os indicadores de repartição das ocupações qualificadas e não-qualificadas;

Para as nações não pertencentes ao centro da economias mundial, também houve alterações substanciais na composição do emprego, apesar de terem mantido a tendência de maior participação relativa na ocupação total;

Continuou a periferização da indústria, através do deslocamento de partes menos complexas das actividades manufactureiras que constituem cada vez a maior parte dos bens que podem ser considerados quase commodities, com base na alta escala de produção, baixo preço unitário, simplificação tecnológica e rotinação das tarefas realizadas pelos trabalhadores.

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

A mão-de-obra envolvida neste processo produtivo, assume menor custo do trabalho e as condições de trabalho mais flexíveis e precárias, possíveis, não exigindo, em contrapartida, qualificação laboral superior.

As principais actividades laborais encontram-se concentradas nas esferas de execução, distribuição e montagem de produtos, muitas vezes, com organização do trabalho crescentemente taylorizado. Colocada assim, a nova Divisão Internacional do Trabalho parece referir-se mais à polarização

entre a produção manufactureira, em parte nos países periféricos, e a produção de bens industriais de informação e comunicação sofisticados e de serviços de apoio à produção no centro do capitalismo.

Nas economias semiperiféricas, a especialização em torno das actividades da indústria de transformação resulta, cada vez mais, da migração da produção de menor valor agregado e de baixo coeficiente tecnológico, do centro capitalista – que requer a utilização de mão-de-obra mais barata possível e de qualificação não elevada, para além do uso extensivo de matéria-prima e energia, em grande parte sustentada por actividades insalubres e poluidoras do ambiente, não mais aceites nos países ricos.

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

No centro do capitalismo, a redução da capacidade de produção intensiva em mão-de-obra foi complementada, em parte, pela ampliação da produção intensiva em capital e conhecimento, com valor adicionado por trabalhador muito mais elevado. Por conta disso, mais de 70% do total da ocupação desses países concentra-se no sector de

serviços, que é menos globalizado (mais protegido) que os sectores industriais e agro-pecuários.

Mesmo com a redução no total dos postos de trabalho no sector primário das economias da periferia, ele ainda é responsável por 55% da ocupação total.

Enquanto os países ricos possuem 30% das ocupações mais expostas à concorrência internacional (indústria e agro-pecuária), os países pobres têm 70% das ocupações concentradas nos sectores primários e secundários, que são objectos mais expostos à competição mundial. Por conta disso, são justamente os trabalhadores dos países periféricos e semiperiféricos os

que sofrem mais directamente os efeitos nocivos da globalização, decorrente da liberalização comercial e da desregulamentação do mercado de trabalho, sem constrangimentos por parte das políticas macroeconómicas e sociais nacionais.

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

Deve-se ressaltar, ainda, que o processo de periferização da indústria transformadora ocorrido desde os anos 50 possibilitou a abertura de oportunidades adicionais de procura de mão-de-obra qualificada justamente nos países de menor renda.

Em contrapartida, as economias centrais reduziram a sua participação relativa no total dos postos de trabalho qualificados de 87%, em 1950, para 68% em 1980, assim como as ocupações não-qualificadas continuaram a ser reduzidas, no mesmo período, de 46,2% para 15,6%.

Esse ajuste no emprego industrial não implicou desemprego nos países do centro capitalista mundial.

Entretanto, nas duas últimas décadas, o centro capitalista passou a concentrar maior participação relativa no total do emprego qualificado devido à difusão de uma nova Divisão Internacional do Trabalho.

Em 1997, quase 72% do total dos postos de trabalho qualificados eram de responsabilidade dos países de maior renda, ao mesmo tempo que continuavam a perder participação relativa nas ocupação não qualificadas.

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

Na periferia e semiperiferia, a nova Divisão Internacional do Trabalho tem representado uma oportunidade adicional para a maior concentração dos postos de trabalho não qualificados, com a diminuição relativa dos empregos de qualidade. Em 1997, por exemplo, para cada 10 ocupação não-qualificadas do mundo, 8 eram de

responsabilidade dos países de menor renda, enquanto que para cada 10 postos de trabalho qualificados apenas 3 pertenciam aos países periféricos.

Em 1980, os países periféricos e semiperiféricos eram responsáveis por 32% dos postos de trabalho qualificados e 84% das vagas não-qualificadas.

Ao mesmo tempo que a nova Divisão Internacional do Trabalho impõe limites à dinâmica dos bons empregos nos países pobres, ocorre, paralelamente, a elevação no grau de desigualdade na distribuição da renda entre as populações dos distintos grupos de países.

No centro capitalista, a diferença entre a renda dos 10% mais ricos em relação à renda dos 20% mais pobres, nos anos 90, era de menos de 4 vezes, enquanto que nos países periféricos foi de quase 6 vezes e de mais de 7 vezes nas economias semiperiféricas.

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Capitulo VIII – Os Países em Desenvolvimento e a Divisão Internacional do Trabalho

Em geral, a deterioração na distribuição pessoal da renda na década de 1990 na periferia deve-se à própria situação de insucesso na estratégia de desenvolvimento.

Inicialmente, nos anos 60, o insucesso dos países semiperiféricos que optaram por uma estratégia de desenvolvimento pró-sistémica atingiu as economias africanas, enquanto que entre o final da década de 70 e início dos anos 80, alcançou as economias latino-americanas, sobretudo a partir da crise da dívida externa.

No final dos anos 80 e início dos anos 90, com a crise do socialismo real, houve o desmoronamento da semiperiferia que havia buscado a estratégia anti sistémica.

Por fim, nos anos 90, as economias do leste-asiático foram fortemente atingidas pelas crise financeiras, comprometendo, em grande medida, o último bloco de países semiperiféricos que havia optado por uma estratégia de desenvolvimento pró sistémica.

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Capitulo IX – A dívida externa dos países em desenvolvimento

A dívida externa (definição, indicadores) O crescimento da dívida externa A origem da dívida externa Os países devedores e as instituições credoras face à crise As soluções A legitimidade da dívida

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Capitulo X – As Teorias do Desenvolvimento

A corrente liberal A corrente radical As iniciativas de integração económica e os blocos económicos regionais

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