[1925] godoy - a questão social das pequenas habitações no rio

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-154 - A pequena habitacao, sem forro e paredes de frontal ao baixo, pode custar no maximo cinco contos e pouco, segundo intormacoes iiltimas obtidas. No caso de se construir um grande numero de habltacoes, ° custo e susceptivel de ser reduzido , Portanto, os bairros proletarios podem ser cons- truidos sem exigir as somas astronomicas que estao gastando outras nacoes. A comissao, a que acima me reteri, no seu relat6Iio ao prefeito, mostrou que a habltacao mais barata e modesta tern direito a rua, ao patio e ao [ardim , Com efeito, em face da observacao e dos estudos feitos POl' tecnicos notaveis do problema em foco, a sua solucao completa, tendo em vista as exigencias da moral, da higiene e do bern-estar coletivo, nao e possivel sem se darern it. habi- tacao os tres elementos apontados. A casa sem a rua, 0 patio e 0 pequeno jardim, nao preenche os requisitos minimos da habitacfio moderna , :.J A questee social dos pequenos hcbitocoes no Rio

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Uma das questões que mais dizem respeito ao bem-estar da maioria da nossa população e a do alojamento. Tal questão e de uma Importância social e moral que não tem sido bem avaliada pelos nossos dirigentes e proprietários, pois, se assim não acontecesse, medidas e providencias convergentes já teriam sido iniciadas no sentido de uma solução, que se não pode mais adiar .

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    A pequena habitacao, sem forro e paredes de frontal ao baixo, pode custar no maximo cinco contos e pouco, segundo intormacoes iiltimas obtidas. No caso de se construir um grande numero de habltacoes, custo e susceptivel de ser reduzido , Portanto, os bairros proletarios podem ser construidos sem exigir as somas astronomicas que estao gastando outras nacoes.

    A comissao, a que acima me reteri, no seu relat6Iio ao prefeito, mostrou que a habltacao mais barata e modesta tern direito a rua, ao patio e ao [ardim ,

    Com efeito, em face da observacao e dos estudos feitos POl' tecnicos notaveis do problema em foco, a sua solucao completa, tendo em vista as exigencias da moral, da higiene e do bern-estar coletivo, nao e possivel sem se darern it. habitacao os tres elementos apontados. A casa sem a rua, 0 patio e 0 pequeno jardim, nao preenche os requisitos minimos da habitacfio moderna ,

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    A questee social dos pequenos hcbitocoes no Rio

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    ~ A questdo socic] des pequencs habita~oes no Rio

    SETE~InRo DE 1925

    Uma das questces que mais dizern respeito ao bem-estar da maioria da nossa populacao e a do alojamento. Tal questao e de uma Importancia social e moral que nao tern sido bern avaliadu pelos nossos dirigentes e proprietartos, pois, se assim nao acontccesse, medidas e providencias convergentes ja teriam sido iniciadas no seritido de uma solucao, que se nao pode mnis adiar .

    Estamos ccrtos, - dadas as qualidades de coracfio da maioria des nossos hornens de governo e de boa parte dos nossos proprietarios, - que, se as pessimas e afJitivas condicocs tins classes pobres, em materia de alojamento, Iossem bern conhccidas, urn vasto programa ja se haveria organizado visando 0 objetivo de dimlnuir tao grande mal.

    Apenas quem como eu, par devcr inherente ao cargo de engenheiro municipal, S8 ve obrigado a percorrer as habitactics coletivas, as denorriinadas estalagens e as toscas casinhas que coraam as colinas e monos desta Capital, pede tel' uma ideia da Ialta de contorto, de higiene e de espaco que se nota na maioria das habitacoes destinadas aos pequenos cmprcgados e aos operarios .

    Quem quiser tel' uma ideia de tao dolorosa situacao basta percorrer as monos da Providencia, do Pinto, de Sao Carlos, Itapiru, etc., ou visitar os inumeros cortices espalhados pela Cidade, sobretudo nos Distritos de Gamboa, Santa Rita, Sant'Ana, S. Jose e Santo Antonio. Ha pequenns casinhas de avenida dando abrigo a mais de uma familia numerosa, onde se nota a mais impresslonante promiscuidade, fato

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    de grandes inconvenientes de ordem moral: ha velhos casaroes em que se encontram os membros de uma familia vivendo em corredores ou em pequenos compartimentos destinados a uma s6 pessoa; existem quartos de 8 metros quadrados com tres leitos e salas acanhadas com sete e oito camas. Tenho encontrado grupos de casas, para ondc a agua destinada it mais elemental' higiene e carregada em baldes, de pontos mais bern abastecidos e Com cotas muito inferiores, exigindo urn enorme dispendio de energia com tal trabalho.

    Dadas tais condicoes, pode-se dizer que nao e born, sob aspecto hlgtenico, 0 modo de vida de nossa populacao ,

    Alern disso, devendo-ss it ausencia de urn plano geral de melhoramentos que presidisse e bern orientasse it expansao desta Capital, ela se desenvolveu de modo irregular, se espalhou ao capricho do acaso, sem que certos requisites indispensaveis fossem preenchidos ,

    Ruas e avenidas se foram abrindo sern se cuidar previa e sUficientemente do seu abastecimento de agua, gas e eletricidade, do sou calcarnento, do seu esgoto e de sua limpeza sistematica. Abstraiu-se integralmente, nas quadras novas, de regular a fragmen tacao dos terrenos. Em consequencta encontra-se agua estagnada em muitos pontos, falta de agua, de esg6to e de limpeza em muitos logradouros, ausencia de ventilac;ao no interior dos lotes, nao permitindo hoje a renda da Prcfeitura, nern que fosse duas vezes maior, melhorar e corrigir tal estado de coisas.

    Do que vale a Saude Publica exigir continuamente obras de asseio nos edificios da parte baixa e monos irregularmente cOl1struidos, se nos lugares elevados da cidade, onde as favelas se multiplicaram, nao ha agua ou se aha, _ a sua quantidade e insuficiente, e se em tais pontos nao se da vasao it que ja Iol servida ?

    Enquanto existirem cortices na nossa Capital, barrac6es toscos e construc;6es miseraveis, espalhadas pelas encostas dos morros, cnteiando as nossas lindas coli..nas, a ac;ao da Saude Publica Com relac;ao as habitac;6es ficara reduzida a muito pouca coisa, nao obstante a sua direc;ao superior e os esforc;os de seus agentes.

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    Para melhorar as condicoes de vida da populacao pobre, para lhc diminuir 0 estado de desanirno e de abatimento em que vive, para the dar outro vigor fisico, para lhe elevar a moral e, portanto, para influir em sua saude, e preciso antes de tudo fazer 0 que for possivel para que cada pequena familia possa tel' e construir 0 seu lar. Tal preocupacao por parte de industriais de coracao e bern orientados, assim como de alguns administradores de cidades, foi que detcrminou 0 aparecimento e a construcao das cidades-jardins, como Letchworth e Tergnier, onde a letalidade e muito menor que nas mais higierncas cidades, e onde se notam surprcendentcs res ultados sociais.

    Nao obstante a afirmativa contraria elos pessimistas e descrentes, e preciso reconhecer que a solidariedade humana cresce em toda a parte, e que nas cidades industriais, formadas nos ultimos anos, nao se pouparam estorcos para que as mais humildes familias tivessern residencias condignas .

    Aqui 0 movimento ja teve inicio, quer por parte do Estado, quer elos particulares, nao se havcndo, entrctanto, organizado um programa conveniente para tal fim. E' nccessario que, se quiserem sanar 0 grande mal a que nos refcrimos, 0 Estado nao concorra com os particulares, isto e, nao se meta a construir, como ja 0 fez, quer por iniciativa do Prefcito Passos, quer pOl' iniciativa do Marechal Hermes.

    o Estado tern que proceder indiretamente, facilitanelo e arnparando por meio de cortes favores a acao dos proprietarios .

    Enquanto nao se facilitar a construcao elas pequenas habitacoes, nao se resolvera 0 problema do alojamento confortavel para a rnaioria de nossa populacao, nem se tara desaparecer 0 aspecto miseravel, degradante e doloroso que apresentam os morros desta Capital, onde se instalaram e alojaram as classes pobres, amontoando-se em velhos edificios, ou ai improvisando-se moradias, muito inferiores as destinadas aos colonos no interior.

    Em que pode facilitar 0 Estado a construc;ao de peque nas casas? Pode faze-lo sob muitos aspectos. Mostremos 0 muito que podera fazer.

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  • II.

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    Dcsaproprlar terrenos para a abertura de ruas nos suburbios da nossa Capital, destinados somente a pequenashabltacoes isoladas. Fragmental' os terrenos correspondentes e vende-Ios em Ieilao com a obrigacao de nao permitir senao a construcao de edificios com as proporgoes e condicoes necessarias para que so sejam utilizados por operarios e pequenos empregados , Dispensar tais construcoes do imposto de construcao e do predial durante certo periodo, ou entao reduzir tais impostos. Abastecer de agua essas ruas e dotalas de esgoto . Entre as obrigacoes a impor, lembro a de nao perrnlttr que haja predios contiguos, 0 que os urbanistas estao condenando. POI' meio do Banco do Brasil ou de empresa idonea que se organize, podera ser feita a construcao dos lotes, assim como a venda a prestacoes destes e dos edificios feitos, a operarios, empregados publicos e servidores do Estado de categoria inferior.

    Alem do mais, devera ser reduzido 0 impasto de construcao, assim como 0 predial, durante certo numero de anos para todo 0 edificio destinado a pequenas familias dos bairros pobres e modestos desta Capital.

    Lembro, como uma medida que influira para 0 aproveitamento de grandes porcoes de terrenos nao edificados, 0 permitir-sc a construcao de avenidas particulares com ruas de quatro metros, dos dois lados, desde que sua altura nao exceda de 3,m50.

    Tal ideia propus a comissao que elaborou comigo 0 projete do atual Codigo de Construcoes ,

    Infelizmente, nao obstante a aceitacao por parte da comissao, tao nnportante concessao feita aos proprietaries nao vingou, 0 que teria determinado a edificacao de urn grande numero de casinhas com 0 conforto e a higiene necessaria para a constituicao de regular alojamento de Iamilias modestas.

    Tal largura, mesmo no caso de pessima orientacao, permite regular e suficlente insolacao . Com efeito, multiplicaudo a altura de valor igual a 3,m50 pelo coeficiente de 1,50, que corresponde a latitude desta Capital, ve-se que 0 produto e inferior a largura permitida, 0 que da lugar a insolacao mesmo no dia mais curto do ano ,

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    suponho que a altura maxima a tolcrar seja a de 3,50 metros, nas casas de tais avenldas. No caso de maier altura e de maior numero de pavimentos, a largura deve aumentar de modo que se verifique a agao salutar dos raios solares.

    Pode-se afirmar que 0 problema do sancamento e do aformoseamento dos monos desta Capital depende das facilidades que se esta.belecerem noutros pontos para a cons

    tru~~io de pequenos cdificios, que dem abrigo aos moradores das varias Iavelas (1'i.1e maculam e muito reduzem a beleza do Rio de Janei.ro, eonstituinao para nos motive de vergonha. A Capital do Brasil nao se podera utanar de ser uma cidade rnoderna C adiarrtada, enquanto. nao houver agua, esgotos, eletricidade, calcamcnto, limpeza sistematica e habitacoes bern ilumin adas eventiladas em todas as ruas.

    E' este 0 objetivo que devem colimar os que se virem em condicoes de poccr inIIuir para 0 prcgresso da terra carioca.