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JÚLIO MIRAGAYA Revista Editada pelo CORECON/DF - ANO V - nº 19 - JUL/SET DE 2004 DRª CLAIR (PT/PR) ........................................................................................................5 Revista de conjuntura Avaliação das Exigências dos Canais de Distribuição para Comercialização de Hortaliças da Agricultura Familiar: o caso do Distrito Federal.................................28 jul/set de 2004 33333

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.............................................................................................................................................. 4

ENTREVISTA

DRª CLAIR (PT/PR) ........................................................................................................ 5

ARTIGOS

MÁRIO SÉRGIO FERNANDES SALLORENZO

Capital Social, Democracia e Desenvolvimento .............................................................. 9

JÚLIO MIRAGAYA

Investimentos e finanças internacionais na América Latina ........................................ 24

ADELAIDE DOS SANTOS FIGUEIREDO e GERALDO ANDRADE DA SILVA

Avaliação das Exigências dos Canais de Distribuição para Comercialização de

Hortaliças da Agricultura Familiar: o caso do Distrito Federal ................................. 28

MAX LENO DE ALMEIDA

Aspectos gerais da Lei Orçamentária Anual para 2005............................................... 40

EDITORIAL

jul/set de 200433333Revista de conjuntura

Revista Editada pelo CORECON/DF - ANO V - nº 19 - JUL/SET DE 2004

Page 4: 19-revista

jul/set de 200444444Revista de conjuntura

EDITORIAL

Diretor Responsável:Roberto Bocaccio Piscitelli

Conselho Editorial:Roberto Bocaccio Piscitelli,Humberto Vendelino Richter,José Aroudo Mota,Mônica Beraldo Fabrício da Silva,Maurício Barata de Paula Pinto,José Roberto Novaes de Almeida eMário Sérgio Fernandez Sallorenzo

Jornalista Responsável:Daniela Lima - Reg. DRT/DF: 4926

Redação:Daniela Lima

Editoração Eletrônica:om,Loducca (Tércio Caldas)(61) 328-8697Impressão: Bárbara Bela GráficaTiragem: 4.000Periodicidade: Trimestral

As matérias assinadas por colaborado-res não refletem, necessariamente, aposição das entidades. É permitida areprodução total ou parcial dos artigosdesta edição, desde que citada a fonte.

CONSELHO REGIONAL DE ECONOMIADA 11ª REGIÃO – DFPresidente:Roberto Bocaccio Piscitelli

Vice-Presidente:Humberto Vendelino Richter

Conselheiros Efetivos:Roberto Bocaccio Piscitelli,Humberto Vendelino Richter,André Luiz Ferro de Oliveira,Irma Cavalcante Sátiro,Maurício Barata de Paula Pinto,Guidborgongne Carneiro Nunes da Silva,José Aroudo Mota,Victor José Hohl ePaulo Luiz Figueiredo de Oliveira.

Conselheiros Suplentes:Ronalde Silva Lins,Miguel Rendy,Iliana Alves Canoff,Newton Ferreira da Silva Marques,Max Leno de Almeida,Evilásio da Silva Salvador,Maria Cristina de Araújo,Homero Gustavo Reginaldo Lima eJosé Luiz Xavier.

Equipe do CORECON:Iraídes Godinho de Sales,Ismar Marques Teixeira,Michele Cantuária Soares,Jamildo Cezário Gomes eAngeilton Francisco Lima Faleiro.

End.: SCS Qd. 04, Ed. Embaixador, Sala 202CEP 70300-907 – Brasília –DFTels: (61) 225-9242 / 223-14293964-8366 / 3964-8368Fax: (61) 3964-8364E-mail: [email protected]: www.corecondf.org.brHorário de Funcionamento:das 8:00 as 18:00 horas (sem intervalo)

EXPEDIENTE

Órgão Oficial do CORECON-DF

Continua a se travar uma intensa discussão sobre o fôlego e os efeitos do cresci-mento registrado a partir do 2º semestre de 2003. A questão não é apenas saber se oprocesso é sustentável, mas também sobre a sua intensidade.

Os indicadores de produção continuam favoráveis. Segundo pesquisa da Confe-deração Nacional da Indústria, o ritmo de crescimento da atividade industrial atingiuno terceiro trimestre o nível mais alto dos últimos seis anos. Entretanto, supõe-seque com a elevação observada e o patamar atingido, principalmente a partir do 4ºtrimestre as bases de comparação do ano e dos meses anteriores vão acarretar au-mentos mais modestos e realistas.

Há também controvérsia quanto aos níveis de utilização da capacidade instalada,que ronda os 85% na média, mas em limites críticos em certos setores. Segue-se odilema: aumentando a demanda e não havendo novos investimentos, haveria umaintensificação de pressões inflacionárias. Mas só se investe mais quando a expectati-va é a de absorção dessa produção adicional – interna e/ou externa -, com amortizaçãodo investimento. A renda média do trabalhador não acompanhou o crescimento doemprego. Mais que isso: segundo a Fundação Seade e o Dieese, na Grande São Paulo,o rendimento médio dos trabalhadores ocupados, que vinha crescendo, ainda que deforma moderada, já caiu de julho para agosto. E mesmo a velocidade da criação depostos está desacelerando-se. Ou seja: o crescimento do mercado de trabalho tambémnão acompanha o ritmo de aumento da produção. Constata-se deterioração da qualida-de dos postos gerados, com a contratação de pessoas sem carteira assinada.

O mercado externo respondeu muito bem, mas uma conjunção de fatores favorá-veis contribuiu para alavancar os excelentes resultados obtidos pelo País nas expor-tações: crescimento até inesperado das economias dos países desenvolvidos e dealguns importantes emergentes, como China e Índia, crescimento excepcional docomércio internacional, chegando perto dos 10%, altas cotações para ascommodities, entre outros fatores. O Brasil aproveitou bem as brechas existentes,mas alguns comportamentos dificilmente irão repetir-se, a começar pelo preço dealgumas commodities, cujo caso mais notório é o da soja, mas não pára por aí.

Neste ponto, reabre-se a discussão sobre o nível do câmbio, aumentando aspressões sobre o governo para intervir no mercado, oscilando em torno dos R$ 2,85,mas que já chegou a R$ 3,10. O governo poderia até aumentar suas reservas, mascomo as exportações vão bem, é mais cômodo deixar que o dólar não pressione ospreços. Enquanto isso, o COPOM mexe na taxa de juros, que, para alguns, se perma-necesse como estava, facilitaria uma “acomodação” natural do câmbio.

É provável, aliás, que com os recentes aumentos da SELIC, imediatamente re-fletidos na ponta do crédito, aumente o aperto das famílias justamente com a apro-ximação do fim do ano. Nesse sentido, é preocupante o ingresso de mais 1.500.000de inadimplentes nos SPCs (o Distrito Federal tem mais de 10% desse volume).Muitas dessas pessoas, certamente, entraram na onda do crédito, que teve umaexpansão, embaladas pela nova onda de otimismo que assolou o País. Nesta épo-ca, quando deveriam estar regularizando sua situação, preparando-se para as fes-tas de Natal e Ano Novo, férias, viagens etc. estarão defrontando-se com estaquestão mal resolvida e com taxas de juros mais elevadas - apesar das promessasem contrário do comércio em geral – tanto para quitar os débitos anteriores quantopara assumir novos compromissos.

Enfim, há muitas incertezas e alguns movimentos importantes no quadro político-partidário emergente das eleições municipais. Mas é provável que as relações doExecutivo com o Legislativo, nos próximos dois anos, não sejam tão amenas e queas negociações sejam mais duras e mais dispendiosas em termos orçamentários.

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jul/set de 200455555Revista de conjuntura

CORECON realiza Seminário sobre oProjeto da nova Lei de Falências, emtramitação na Câmara dos Deputados.Aqui, a entrevista com uma das participantes

O Conselho de Economia

entrevista a Deputada

Federal, Drª Clair (PT/PR),

sobre o projeto da nova Lei

de Falências, em tramitação

na Câmara dos Deputados. O

projeto altera a ordem de

preferência, prevista na atual

legislação, dos créditos

devidos por empresas falidas.

Na falência, os créditos com

garantia real – ou seja,

principalmente os devidos a

bancos – teriam preferência

em relação aos créditos

tributários e até mesmo aos

trabalhistas acima de 150

salários mínimos. Outra

modificação introduzida é o

fim da sucessão tributária na

falência. Assim, o adquirente

de uma empresa falida não

mais terá de responder pelas

dívidas tributárias da

empresa, contraídas antes

da falência.

Entrevista: Daniela LimaColaboração: Roberto Bocaccio Piscitelli

jul/set de 200455555Revista de conjuntura

Conjuntura – Como a Srª. vê, em linhas gerais,este Projeto sobre Lei de Falências ?

Drª Clair – O projeto da Lei de Falências, segun-do alguns, teria como objetivo a “recuperação das em-presas.” Para muitos, entretanto, o objetivo seria au-mentar a garantia creditícia, o que permitiria a reduçãodo spread bancário, servindo para baratear o créditoao consumidor e às empresas.

ENTREVISTA

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jul/set de 200466666Revista de conjuntura“O objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não hav

mento e o desenvolvimentodo País;

b) a redução do custo docrédito no Brasil, garantin-do segurança jurídica aosdetentores de capital, compreservação das garantiase normas sobre a ordemde classificação de crédi-tos na falência;

c) a proteção aos trabalhadores,não só na precedência norecebimento de seus créditos,na falência, mas também cominstrumentos que, por preser-varem a empresa, preservamos seus empregos e criamnovas oportunidades.

Em nosso entendimento, to-davia, não há garantia de seatingir os objetivos de preserva-ção ou recuperação de empre-sas e dos empregos sejam cum-pridos, porque nem todos oscréditos se submetem a recupe-ração judicial, conforme previstono art., 49, § 3º e § 4º, doSubstitutivo do Senado.

Os créditos com garantiafiduciária de seus bens – móveisou imóveis –, os contratos debens imóveis com cláusula deirrevogabilidade ou irretratabili-dade, inclusive incorporaçõesimobiliárias, os contratos devenda com reserva de domínio,os contratos de arrendamentomercantil, assim como os adian-tamentos e contratos de câmbio,não se submeterão à recupera-ção judicial e prevalecerão as

“Os créditos trabalhistas,que se processam naJustiça do trabalho e têmuma tramitaçãodemorada para ter ovalor da habilitação,podem ser prejudicadose correr o risco de nãoserem pagos”.

condições contratuais. Assim oplano de recuperação judicialpode ficar prejudicado, pois aempresa com dificuldades teráque cumprir todas essas obriga-ções, sem muita liberdade parapropor um plano para preservara empresa e, em conseqüência,os empregos.

Conjuntura – Quem ganhae quem perde com a nova Leide Falências: o Fisco, os em-pregados, os bancos ou as em-presas em geral?

Drª Clair - O objetivo “deproteção aos trabalhadores”também pode não ser assegura-do. Primeiramente, porque háuma limitação do privilégio doscréditos trabalhistas a 150 salá-rios mínimos (...). Também nãohá classificação dos créditos noprocesso de recuperação judi-cial, e os créditos previstos noart. 49, como já citados, não sesubmetem à recuperação; assim,acabam tendo preferência sobreos trabalhistas.

Por outro lado, de acordocom o art.60 do Projeto, du-rante o processo de recupera-ção se poderá alienar bens,estando estes livres de quais-quer ônus, não havendo suces-são trabalhista.

Assim os créditos trabalhis-tas, que inclusive se processamna Justiça do Trabalho e têmuma tramitação demorada paralograr o valor da habilitação,

Segundo o relator do Projetono Senado, Ramez Tebet, diver-sos princípios deveriam orientara Lei de Falências, entre osquais citamos:a) a preservação da empresa,

em razão de sua função so-cial, pois gera riqueza eco-nômica, emprego e renda,contribuindo para o cresci-

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jul/set de 200477777Revista de conjunturaverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor.”

podem ser prejudicados e cor-rer o risco de não serem pagos.

Pela análise acima, há umasegurança para os créditos comgarantia real dos adiantamentosde contratos de câmbio e outroscontratos de arrendamento mer-cantil, previstos no art. 49.

O art. 83 do Substitutivo doSenado estabelece a classifica-ção dos créditos na falência, es-tabelecendo em primeiro lugar oscréditos trabalhistas, limitados a150 salários mínimos; depois, oscréditos com garantia real, vindoos tributários em terceiro lugar,alterando-se, portanto, o CódigoTributário Nacional, o que podelevar ao inadimplemento dos cré-ditos tributários (leia-se tambémprevidenciários), em prejuízo atoda sociedade.

Conjuntura – O queocorrerá quando houvertransferência do controleacionário de uma empresaem situação falimentar?

Drª Clair - De acordo como artigo 60 do Substitutivo, como plano de recuperação judicialaprovado, envolvendo alienaçãojudicial de filiais ou unidadesprodutivas isoladas do devedor,o objeto da alienação estarálivre de qualquer ônus e não ha-verá sucessão do arrematantenas obrigações do devedor.

Da mesma forma, o art.141estabelece que todos os credo-res têm direito ao produto das

alienações. O arrematante estarálivre de qualquer ônus e não ha-verá sucessão de arrematantenas obrigações do devedor.

Conjuntura – É razoávellimitar o direito de preferên-cia do empregado da empre-sa falida?

Drª Clair - Considero quedeveria ser mantido o privilégiodos créditos trabalhistas semqualquer limitação. A limitaçãoimposta, ausência de classifica-ção de créditos no processo derecuperação judicial, a ordemde classificação nos créditos defalência, e a não-submissão detodos os créditos no processode recuperação judicial podemlevar à inadimplência dos crédi-tos trabalhistas, previdenciáriose tributários.

Conjuntura – A Srª acreditaque, com a aprovação danova Lei de Falências, os ju-ros bancários vão baixar?

Drª Clair - Pelo já consig-nado, há uma série de garantiasdadas aos contratos de arren-damento mercantil com garantiareal dos adiantamentos de con-trato de câmbio etc., que pode-riam reduzir os juros bancários,mas há uma série de outros fa-tores externos e internos queinterferem na política de juros.Assim, a lei, por si só, dificil-mente será fator para a reduçãode juros.

“Há uma série de outrosfatores externos e

internos que interferemna política de juros.

Assim, a lei, por si só,dificilmente será fator

para a redução de juros”.

Conjuntura – A Srª acredi-ta que o prazo de 180 diasseja suficiente para uma em-presa recuperar-se?

Drª Clair - Não se podeprever genericamente em queprazo a empresa tem condi-ções de se recuperar. Isto de-pende da situação da mesma.O parágrafo 4º do art.6º esta-belece apenas o prazo de 180dias de deferimento do pro-cesso de recuperação para asuspensão das ações/execu-ções contra o devedor.

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jul/set de 200488888Revista de conjuntura

C o n v ê n i o s d e A s s i s t ê n c i a e o u t r o sC o n v ê n i o s d e A s s i s t ê n c i a e o u t r o sC o n v ê n i o s d e A s s i s t ê n c i a e o u t r o sC o n v ê n i o s d e A s s i s t ê n c i a e o u t r o sC o n v ê n i o s d e A s s i s t ê n c i a e o u t r o sC o n v ê n i o s d e A s s i s t ê n c i a e o u t r o sC o n v ê n i o s d e A s s i s t ê n c i a e o u t r o sC o n v ê n i o s d e A s s i s t ê n c i a e o u t r o sC o n v ê n i o s d e A s s i s t ê n c i a e o u t r o sC o n v ê n i o s d e A s s i s t ê n c i a e o u t r o s

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jul/set de 200499999Revista de conjuntura

A R T I G O

Capital Social, Democraciae Desenvolvimento

Introdução

O conceito de “capital social”,que já se inseria nas apreciaçõesde Tocqueville1 sobre a sociedadedos Estados Unidos da América,publicadas pela primeira vez em1835, e nos trabalhos de LydaHanifan, de 1916, de Jane Jacobs,de 1961, de Ivan Light, de 1972, ede Glenn Loury, de 1977, ganhoupapel de destaque nos trabalhosde James Coleman, PierreBourdieu, Durnston, RobertPutnam e Francis Fukuyama.

Cumpre observar, primeira-mente, que não há um conceitoúnico de “capital social”, e queeste vem sendo utilizado em re-flexões e decisões de política emramos os mais diversos, no âmbi-to das ciências ditas humanas.Cabe, então, considerar algunsdesses conceitos e algumas desuas pretendidas aplicações.

Uma das possíveis aplicaçõesé no entendimento da gênese enatureza da pobreza em umaeconomia, e, daí, na formulaçãode políticas públicas. Mas, cabepesquisar, como fez Putnam, so-bre os fatores da convivênciademocrática e da eficiência eeficácia dos governos – o que

não significa, de pronto, o endos-so às conclusões desse autor.

Merece avaliação à parte otrabalho de Pierre Bourdieu, quedesenvolve um tratamento muitointeressante sobre o que denomi-nou “espaço social”, base parasua teoria sobre a ação. É curio-so e desafiador perceber que otratamento dado ao tema porBourdieu aplica-se, com as ne-cessárias adaptações, a um am-plo conjunto de campos de atua-ção das pessoas.

De passagem, vale, também,comparar esta com outras for-mas de capital (físico, econômico,cultural, humano etc) como elessão apresentados pelos autorescitados. É nítido que, embora in-tangível, o capital social se cria,se desenvolve, e, sob certas cir-cunstâncias, se deprecia, comoas outras formas de capital. Oque é objeto de disputa é a medi-da do estoque de capital social, emesmo o sentido de “social” nãoé de concordância unânime –trata-se de um capital à disposi-ção de cada cidadão numa socie-dade ou só cabe considerá-locomo capital comunitário, ou seja,da comunidade como um todo,tomada como agente de decisão

independente dos cidadãos?Como ponto de partida, con-

vém tomar o referido texto deColeman, e a ele acrescentarobservações de Fukuyama eDurston, principalmente, paradiscutir a formulação do conceito,e formas de criação e desenvol-vimento do capital social. Logoem seguida, cabe o tratamento dePutnam, a partir de suas pesqui-sas na Itália. E, para lastrear pos-síveis conclusões e sugestõessobre o que parece ser o estágiode construção e aplicação doconceito e possíveis linhas depesquisas a perseguir, é necessá-rio refletir sobre a contribuiçãode Bourdieu.

As contribuições de Coleman,Fukuyama e Durnston

O conceito de Capital SocialNo entendimento de Coleman2,

o capital social é um tipo particu-lar de recurso à disposição de umagente social, para a sua açãoracional. Não é uma entidadeúnica, mas uma variedade dediferentes entidades, com doiselementos em comum: consistemde alguns aspectos das estruturassociais, e facilitam certas ações

Mário Sérgio Fernandez Sallorenzo*

1 Tocqueville, Alexis. A democracia na América. São Paulo, Ed. Martins Fontes, 1998.2 Coleman, James – “Social Capital in the Creation of Human Capital”, originalmente publicado em American Journal of Sociology, em 1988.

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jul/set de 20041010101010Revista de conjuntura

dos atores – sejam eles pessoasou atores corporativos – dentroda estrutura. Por exemplo, opartilhamento de informação quepermite a fixação de preçosnuma indústria constitui capitalsocial para os tomadores de deci-são nas empresas dessa indústria(entendida como ramo de ativida-de econômica). E uma dada for-ma do capital social que é útil nafacilitação de certas ações podeser inútil ou mesmo prejudicialpara outras.

Coleman dá outros exemplosque ajudam a aclarar o que eleentende por capital social. Umdeles é o referente ao mercadoatacadista de diamantes de NovaIorque, operado por membros dacomunidade judaica, na qual severifica um alto grau de casa-mentos entre pessoas da mesmacomunidade, que moram próxi-mas umas das outras e freqüen-tam as mesmas sinagogas. Nessemercado, desenvolveu-se uma talrelação de confiança entre osmercadores, que um entregará aoutro um saco de diamantes, quepode valer muito dinheiro, paraexame em sua residência ou es-critório. A confiança de um mer-

cador em outro é uma forma decapital social, importante para aagilidade dos negócios. Deve serregistrado, de pronto, que osurgimento do capital social e osbenefícios que daí decorrem sãodevidos à existência de uma redede confiança. Como contraponto,há também o risco de represáliassociais (antes das estritamentelegais): se alguém se aventurar asubstituir ou furtar pedras, perde-rá as ligações de família, as reli-giosas e as comunitárias. A im-portância de uma rede de confi-ança, obrigações e ameaça depunições é nítida no raciocínio deColeman e de outros autores,como Putnam, que se refere às“comunidades cívicas”,Fukuyama e John Durston. Esteúltimo autor diz claramente que ocapital social lastreia-se na confi-ança, na reciprocidade e na coo-peração. A existência de confian-ça tem implícita a expectativa dereciprocidade e pressupõe afetopor pessoas que se mostramconfiáveis e também manifestamconfiança. A reciprocidade(Durston relaciona o tema aotexto “clássico” Ensayo sobre odon, de Marcel Mauss), por sua

vez, segue lógica diversa daquelado mercado, porque, embora es-teja implícita a compensação porum favor prestado, quem o rece-beu não “deve” outro favor de“igual valor”, nem há uma obriga-ção de resgate imediato. A faltada reciprocidade, porém, compro-meterá a existência do capitalsocial, pois porá a perder a con-fiança nas relações sociais. A co-operação, por sua vez, diferencia-se da colaboração, em que os ato-res têm empreendimentos e objeti-vos diferentes e compatíveis. Acooperação implica interação fre-qüente de estratégias individuais,não necessariamente combinadasentre os agentes.

Num outro exemplo, a organi-zação que torna possível o terro-rismo ou o simples crime seriauma forma poderosa de capitalsocial. Assim se expressando,Coleman enuncia o conceito deforma neutra, ou seja, bom oumau é o uso que faz dessa formade capital (como, de certo, acon-teceria com as demais formas).Fukuyama, por seu turno, diz, emdeterminado trecho de seu texto,que “partilhar valores e normasnão produz, por si só, capital soci-al, porque os valores podem seros valores errados”. Este é ocaso da Máfia. Então, se os valo-res forem “errados”, não haverá“capital social”. Desde já, no en-tanto, é possível questionar se a“proteção” oferecida pela Máfia(e organizações assemelhadas,como a Camorra), num contextocomo o exposto por Putnam comreferência às comunidades “não-cívicas” (ou com baixo grau decoesão entre as pessoas e gru-pos, resultado de escassas mani-festações cívicas) do Sul da Itá-lia, não se constituiria uma forma(precária e imperfeita, quase cer-

“A confiança de um mercador em outro é

uma forma de capital social, importante

para a agilidade dos negócios. Deve ser

registrado, de pronto, que o surgimento

do capital social e os benefícios que daí

decorrem são devidos à existência de

uma rede de confiança”.

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jul/set de 20041111111111Revista de conjuntura

tamente) de capital social. Quan-do é notória a escassez de confi-ança de cada pessoa nas demaissituadas fora de sua parentela edo reduzido grupo de amigos con-siderados confiáveis, a busca deuma pessoa à proteção de ummafioso, da perspectiva estrita dapessoa carente de segurança, écuriosa forma de aplicação deum raciocínio lógico: melhor aprecária segurança obtida daMáfia que nenhuma. E essa dis-ponibilidade de segurança é, emsi, uma forma de capital social,independentemente de quaisquerconsiderações sobre os crimescometidos pelo “protetor”.

Para Francis Fukuyama3, “Ocapital social pode ser definido ...como um conjunto de valores ounormas informais partilhados pormembros de um grupo que lhespermite cooperar entre si.” As-sim enunciado, o conceito nãodifere, no essencial, do apresen-tado por Coleman e Putnam(como será visto mais adiante).

Para John Durston4, capitalsocial é “o conteúdo de certasrelações sociais — que combi-nam atitudes de confiança comcondutas de reciprocidade e coo-peração —, que proporciona mai-ores benefícios àqueles que opossuem em comparação com oque se poderia conseguir semeste ativo”.

Durston registra a diversidadede conceitos e preocupações arespeito de sua aplicação, quevariam, no contexto ideológico,entre posições progressistas econservadoras. “No extremo pro-gressista há uma preocupaçãocom o empoderamento, a cidada-

nia, o pluralismo e a democratiza-ção. No extremo mais conserva-dor, o capital social situa-se numcompromisso com estruturas fa-miliares tradicionais e numa or-dem moral coletiva fundada emvalores tradicionais”.

Coleman diz que, enquanto ocapital humano “é criado por mu-danças nas habilidades e capaci-tações das pessoas, tornando-asaptas a agir de novas maneiras”,o capital social “se dá por modifi-cações nas relações entre pesso-as, que facilitam a ação”. Enten-de-se, então, que o seu capitalhumano cada pessoa pode atémesmo adquirir independente-mente das outras pessoas da co-munidade, mas o capital social deque usufrui só poderá surgir deuma relação social, do envolvi-mento com outras pessoas.

As formas gerais de capitalsocial identificadas por Colemansão: obrigações e expectativas(que dependem da confiabilidadedo ambiente social), capacidadeda estrutura social para gerar ofluxo de informação e normasacompanhadas por penalidades.

Quanto à primeira forma, seA faz algo por B e confia que Bretribuirá no futuro, isto estabe-lece uma expectativa por partede A e uma obrigação por partede B. Dois elementos devemestar presentes: a confiabilidadeque deve existir no ambientesocial, que implica a expectativade que as obrigações serão cum-pridas, e a medida efetiva dasobrigações mantidas.

Adicionalmente, diz Colemanque uma importante forma decapital social é o potencial deinformação que existe nas rela-ções sociais, e que se constituiuma base para a ação. Entende-se que o direcionamento do canal(quais as informações que sebuscam) e sua profundidade(quanto de informação se re-quer), e, daí, a qualidade e quanti-dade de capital social dessa for-ma, está condicionada, pelo me-nos em parte, pela decisão dosagentes em arcar com os custospara a aquisição da informação.Como exemplo, “um cientistasocial interessado em estar atua-lizado sobre pesquisas em cam-

“O capital social pode ser definido ...

como um conjunto de valores ou

normas informais partilhados por

membros de um grupo que lhes

permite cooperar entre si”.

Francis Fukuyama3 “Capital Social” – cap. 8, de Harrisson, Lawrence & Huntington, Samuel (org.), A Cultura Importa. Rio de Janeiro/São Paulo. Ed Record, 2002.4 Durston, John, “Capital social: parte del problema, parte de la solución, su papel en la persistencia y en la superación de la pobreza en América Latina y el

Caribe”, cap. V do livro Capital social y reducción de la pobreza en América Latina y el Caribe. Santiago/Chile: CEPAL, jan. 2003.

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pos relacionados pode fazer usode interações do dia-a-dia comcolegas, mas apenas numa uni-versidade em que a maioria doscolegas se mantém atualizada”.

Um exemplo da terceira formade capital social viria da existênciade normas efetivas para a inibiçãodo crime. (Devemos entender quea efetividade dessas normas de-penderia da eficácia e da eficiên-cia dos aparatos policiais e judici-ais na repressão aos crimes e pu-nição dos criminosos – considera-ções sobre justiça social à parte.)Essas normas transmitiriam a sen-sação de segurança aos cidadãos“de bem”, uma forma inequívocade capital social.

Quanto à construção,manutenção e desenvolvimentode capital social

A construção, manutenção edesenvolvimento de capital socialsão favorecidos pela existênciade uma estrutura social bem deli-mitada, em que seus componen-tes se reconheçam como tal. “Adelimitação da estrutura social éimportante não apenas para aexistência de normas efetivas”,diz Coleman, “mas também parauma outra forma de capital soci-

al: a confiabilidade das estruturassociais que permite a proliferaçãode obrigações e expectativas. Aboa reputação não pode surgirnuma estrutura aberta, e penali-dades coletivas que assegurariama confiabilidade não podem seraplicadas.” É nítida a importânciado sentimento de pertença decada cidadão da comunidadepara a definição de uma “socie-dade cívica”, como faz Putnam,por exemplo.

Outra observação relevantede Coleman é a que se refere àpossibilidade de uma forma decapital social propiciar ou facili-tar o aparecimento de outra, oque pode ser interpretado comouma externalidade positiva daprimeira (ou de ambas, face àpossibilidade de essas formasfortalecerem-se entre si). Ten-tando exemplificar os efeitosexternos positivos, Fukuyama5

diz: “O capital social dentro deum determinado grupo ou redepode produzir externalidadespositivas, ensinando ao povo vir-tudes sociais como a honradez, areciprocidade e o cumprimentodos compromissos, que logo po-dem se aplicar a outras pesso-as.” Aqui, inevitavelmente, te-

mos que pôr em dúvida o alcan-ce das palavras de Fukuyama:quem ensina ao povo o que vema ser honradez, se o próprioFukuyama (assim como Putnam)espera que as pessoas do povoestabeleçam, em conjunto, asrelações honradas? Melhor seriatrocar a expressão “ensinandoao povo virtudes sociais como ahonradez ...” por “reforçando,no povo, virtudes como ....

Quem se apropria docapital social?

Qual é o agente proprietáriodos benefícios do capital social?As pessoas? A comunidade? Estaquestão, que parece de poucaimportância, implica considera-ções sobre a própria natureza domarco conceitual e, depois, sobrea dinâmica das decisões na socie-dade. Durston registra que algunsautores (Portes e Espinoza sãocitados) consideram o capital soci-al como pertencente a indivíduosque participam das redes de reci-procidade, enquanto outros(Coleman, Putnam e Bourdieu)consideram-no propriedade decomunidades, classes e socieda-des como um todo em que umapessoa se encontre inserida. Osque defendem este segundo pen-samento estão afirmando, de fato,que a natureza das relações so-ciais não provém da agregação dedecisões individuais, de interessede pessoas, mas de sistemas com-plexos de decisões e interações.Se é assim, é vital entender comofuncionam esses sistemas e suasretroalimentações, para que secompreenda o próprio marcoconceitual. No fundo, está umadisputa entre os defensores da

5 Fukuyama, Francis. “Capital social y desarrollo: la agenda venidera”, cap. II do livro Capital social y reducción de la pobreza en América Latina y el Caribe,Santiago/Chile, CEPAL, jan. 2003.

“A construção, manutenção e

desenvolvimento de capital social são

favorecidos pela existência de uma estrutura

social bem delimitada, em que seus

componentes se reconheçam como tal”.

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preponderância de posturas“sobressociologizadas” e os queentendem prevalecer as posturas“subsociologizadas”, como dizDurston, traduzindo o pensamen-to de Portes. No primeiro grupo,a ênfase está na “internalizaçãode normas coletivas e o impactodas relações e instituições sociaissobre os processos econômicos”.No segundo, o foco está nas de-cisões individuais como motordas transformações econômicase sociais.

Partindo da idéia de que sãoos indivíduos que compõem ascomunidades que se beneficiamdo capital social comunitário,Durston diz que “grande parte dariqueza do ideário do capital soci-al reside justamente no que es-clarece a respeito da maneirapela qual o capital social individu-al interage, às vezes contraria-mente, mas em geral para refor-çar as instituições de capital so-cial comunitário.”

Vale registrar, ainda, a obser-vação de Durston, no sentido deque as formas pessoais do capitalsocial, que se expressam em re-des, desaparecerão se desapare-cerem alguns dos indivíduos. Asformas comunitárias e institucio-nalizadas, ao contrário, persistem,apesar da substituição de seusmembros. Em seqüência, dizDurston: “O surgimento em for-ma rápida das manifestações decapital social costuma basear-seprincipalmente nos laços existen-tes de caráter pessoal ou em suacriação a partir das primeirasinterações entre pessoas, quandocomeçam a cooperar. Estas rela-ções, todavia, desaparecem comigual rapidez ante condições ad-versas. Superar esta precarieda-de social implica um processo deinstitucionalização: o estabeleci-

mento de normas e sobretudo dedetalhes de inter-relação e proce-dimentos que funcionam em for-ma eficaz para conseguir objeti-vos compartilhados.”

O capital social como geradorde capital humano

Coleman se refere ao capitalsocial como gerador de capitalhumano, e cita como exemplo adisponibilidade de tempo dos paise a efetiva aplicação desse capitalsocial à aquisição de capital hu-mano por parte dos filhos, mesmonos casos em que o capital huma-no dos pais é apenas mediano(como disse Coleman ter sido ocaso do pai de John Stuart Mill,que, no entanto, aplicou-se decidi-damente à instrução de seu filho).

Uma característica de muitasformas de capital social é a natu-reza de bem público de que sereveste, ou seja, sua existênciafavorece todas as pessoas, semque se consiga estabelecer a“quantidade” de capital de quecada pessoa usufrui. Nesse caso,ninguém se responsabiliza pelaoferta do capital, esperando, cadaum, que alguém o faça. O resul-tado pode ser o subinvestimentoem capital social, a menos quehaja a intervenção do Estado,

que para tanto cobrará impostos.É nítida a manifestação dos quese consideram “liberais”, no sen-tido da inconveniência de se re-correr ao Estado (uma saídarotulada de “hobbesiana”).

Quanto à medição docapital social

Quanto à possibilidade e efi-cácia da medição do capital soci-al, Fukuyama vê três problemas:o capital social tem importantedimensão qualitativa, que masca-raria a quantitativa; há externali-dades positivas de um capitalsocial, que precisam ser levadasem conta e que podem ser difí-ceis de medir; e há externalida-des negativas.

Diz Fukuyama: “pode ser maisfácil medir a ausência de capitalsocial usando medidas tradicio-nais de disfunção social, comotaxas de criminalidade, dissoluçãofamiliar, consumo de drogas, lití-gio, suicídio, evasão fiscal e coi-sas do gênero. ... Um problemasério [é que] ... dados de disfun-ção social ... ignoram a distribui-ção. ... estratos de pessoas alta-mente socializadas e capazes deorganização podem coexistir combolsões de extrema atomização epatologia social.”

“Uma característica de muitas formas de

capital social é a natureza de bem público

de que se reveste, ou seja, sua existência

favorece todas as pessoas, sem que se

consiga estabelecer a “quantidade” de

capital de que cada pessoa usufrui”.

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Quanto à possibilidade deobtenção de capital socialpor organização espontâneada comunidade

Fukuyama registra fatores queinterferem na possibilidade de associedades gerarem suas solu-ções de ordem espontânea:1) o tamanho do grupo. Quanto

maior o tamanho do grupo,mais difícil o controle sociale a mais fácil o aparecimen-to de “aproveitadores”;

2) as fronteiras do grupo. Omesmo efeito apontado aci-ma ocorre quando não háclara definição dos contornosdo grupo, “se as pessoaspodem entrar e sair do grupoà vontade”;

3) a continuidade do relaciona-mento social. As pessoastendem a se preocupar tantomais com a sua reputaçãoquanto maior o tempo de con-vivência esperado de umascom as outras, no futuro;

4) normas que estabelecem umacultura comum. “As pessoassão muito mais inclinadas aexigir a punição de quem vio-la as regras de sua própriacultura do que as regras deoutra cultura. Inversamente,novas normas de cooperaçãosurgem com mais dificuldadeentre fronteiras culturais”;

5) poder e justiça “Normas so-ciais informais com freqüên-cia refletem a capacidadeque tem um grupo de domi-nar outro grupo por ter maisriqueza, poder, capacidadecultural, capacidade intelec-tual, ou mediante a violênciae a coerção.”;

6) persistência das más escolhas.“Normas ruins, ineficientes oucontraproducentes podempersistir em um sistema socialdurante gerações, por influên-cia da tradição, da socializa-ção e do ritual.”

O capital social na superaçãoda pobreza – a questão doempoderamento dos pobres

Durston ressalta a importânciada teoria do capital social para aformulação de estratégias de supe-ração da pobreza e de integraçãode setores sociais excluídos. Oobjetivo é o empoderamento dospobres, um processo de igualaçãode oportunidades entre os atoressociais. O êxito desse processosignifica a transformação de exclu-ídos em atores sociais efetivos.

O empoderamento é a antíte-se do paternalismo, e deve reali-zar-se por autogestão. Não seconfunde com a mera descentra-lização de funções, que manteriaa relação de forças na sociedade.

A existência de redes quetranscendem a comunidade po-bre e o capital social comunitá-rio são elementos importantesdo empoderamento.

Durston enumera medidastendentes ao empoderamento:a) criação de espaços institu-

cionais adequados à partici-pação dos setores excluídosna tomada de decisão empolíticas públicas;

b) formulação de direitos legais,divulgação para conhecimen-to e garantia de seu respeito;

c) fomento de organização naqual as pessoas excluídas pos-sam efetivamente participar einfluir nas decisões estratégi-cas para a sociedade. Isto seobtém quando essa organiza-ção torna possível estender eampliar a rede social das pes-soas que a integram;

d) transmissão de conhecimentospara o exercício da cidadaniae a produção, incluindo os sa-beres instrumentais essenciaise os instrumentos para a análi-se da dinâmica econômica edas políticas relevantes;

e) criação de acesso e controlesobre recursos e ativos (ma-teriais, financeiros e de infor-mação “de domínio público”)para possibilitar o efetivoaproveitamento dos espaços,dos direitos, da organizaçãoe das capacidades, em com-petição e em combinaçãocom os outros atores;

f) apropriação de instrumentose capacidades de proposição,de negociação e executivas;

g) acesso a redes quetranscendam a comunidadepobre fechada e o capitalsocial comunitário, naforma de diferentes tiposde associativismo.

“Durston ressalta a importância da

teoria do capital social para a

formulação de estratégias de

superação da pobreza e de integração

de setores sociais excluídos”.

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Durston cita um obstáculo amais para a superação da pobre-za: o clientelismo. Políticos man-têm relações desiguais e paterna-listas com suas clientelas, median-te o monopólio da informação e ocontrole da concessão de benefí-cios. Acrescenta Durston que “olobby e o clientelismo são parte doproblema da perpetuação da po-breza e a desigualdade, não por-que sejam maus em si, mas por-que estão mal distribuídos namaioria das sociedades. Em suasmanifestações de maior concen-tração, onde umas poucas pesso-as e grupos gozam de relaçõespessoais de alta confiança comfuncionários públicos, reforçadaspor compadrios e amizades, seproduzem ademais graves proble-mas de corrupção.”

Face às conseqüências negati-vas que podem ser geradas pelaeleição de um mau político, pode-ríamos acrescentar, ao conjuntode medidas transcritas acima,que visam ao empoderamento,medidas de controle das campa-nhas eleitorais, que incluíssemdispositivos como o financiamen-to público das campanhas e asevera punição de expedientescomo a compra de votos. Esteúltimo item já existe na legislaçãobrasileira, e seria ingenuidade oucinismo garantir que produzaefeitos em todos os casos. Entre-tanto, a inclusão de dispositivossaneadores, acompanhada doacompanhamento de seu cumpri-mento, pode contribuir para au-mentar um pouco (nem que sejasomente entre os mais ingênuos)o grau de confiança nas institui-ções democráticas.

Durston aponta a necessidadede um Estado central forte para a

concretização do empoderamento.A sociedade civil sozinha nãopode controlar a tendência àcorrupção de políticos.E citaTendler6: “necessitamos um go-verno central ativo ... capaz deapoiar os atores locais indepen-dentes na descentralização ... [noCeará] o governo central estimu-lou e apoiou associações cívicas, eestes grupos realizaram demandasautônomas”. Isso significa que aexistência de um governo central“sadio” pode ser de maior impor-tância para o empoderamento dospobres do que a de uma sociedadecivil sã. Durston abranda, em se-guida, essa observação, ao regis-trar que as melhorias no governolocal (ele se referia, citandoTendler, comunidades excluídas doEstado do Ceará) resultaram deuma dinâmica tripartite: local, cen-tral e cívica (a discussão sobre acontribuição das atitudes cívicasfica para mais adiante, pois é atônica do trabalho de Putnam).

“Em primeiro lugar, as ações dogoverno central produziram osurgimento de uma sociedade civillocal sã; em segundo lugar, osatores sociais assim fortalecidoscomeçaram a atuar de forma in-dependente; em terceiro lugar,pessoas nas associações se alia-ram a amigos no governo paraproduzir modificações na estruturade influências locais.” (Tendler)Não se encontra no texto umaexplicação aceitável para o pri-meiro elo da cadeia. Conquistadoeste, mais facilmente se esperariaa ação autônoma e organizada dacomunidade pobre para a supera-ção de suas carências.

O processo de empodera-mento, ainda segundo Durston, éfavorecido pela ação conjuntade uma cadeia de atores forma-da pelas elites urbanas, “organis-mos externos de luta contra apobreza” e as lideranças dascomunidades pobres, e a conse-qüente transição do clientelismo

“Face às conseqüências negativas que

podem ser geradas pela eleição de um

mau político, poderíamos acrescentar:

medidas de controle das campanhas

eleitorais, que incluíssem dispositivos

como o financiamento público das

campanhas e a severa punição de

expedientes como a compra de votos”.

6 Tendler, Judith (1997), Good Government in the Tropics, Baltimore, Maryland, Johns Hopkins University Press, p.16.

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clássico ao semiclientelismo.Durston espera o apoio dos“partidos semiclientelistas” naformação (ou fortalecimento) eacumulação do capital social dospobres. (Mas, o que vem a serum “partido semiclientelista”?Seria um “progressista” não “re-volucionário”? E o que seriaisso?) Mesmo com esse apoio, oobjetivo de empoderamento sóse concretizará se as comunida-des conseguirem formar o capi-tal social básico para intervircomo atores sociais efetivos.Um economista tenderia aacrescentar: e esse capital bási-co só se manterá e se fortalece-rá se for aliado ao crescimentodo produto, do emprego (emqualquer de suas formas) e darenda. Caso isto não ocorra, aonda de confiança e otimismo doprimeiro momento tenderá aoesfacelamento, e, com ele, vai-se o capital social. Em outraspalavras, sem o surgimento daspré-condições sociais para odesenvolvimento, não bastará

um eventual crescimento econô-mico para modificar a vida dosexcluídos, mas sem que essecrescimento ocorra e se mante-nha por tempo suficiente (mes-mo que motivado pelas conquis-tas sociais), o empoderamentonão se concretizará.

Um outro ponto a ser conside-rado é que o processo de empo-deramento dos pobres, natural-mente, tende a criar tensões so-ciais, e aí pode estar uma razãopara a existência de “governocentral sadio”. Durston observaque “a omissão da análise dosconflitos do poder na sociedadecontribui para gerar explicaçõesde ‘reducionismo culturalista’para entender por que a pobrezaé tão persistente.” Entende-se,então, que a decisão de medidaspara o empoderamento deve serespecífica para cada comunidadeexcluída e deve levar em conta ahistória das disputas, nessa co-munidade, entre grupos e estratospara conservar ou ampliar seucontrole sobre recursos escassos.

O emprego de capital socialcomo apoio à democracia e àpromoção do desenvolvimento

Segundo Fukuyama7, o fracas-so do Consenso de Washington napromoção do crescimento econô-mico não se deveu às políticaspreconizadas no início da décadade 1990. Segundo ele, aprivatização de ativos nacionaliza-dos ineficientes, a redução dasbarreiras ao comércio e ao inves-timento, a redução dos subsídiosque distorcem os preços de mer-cado, a desregulamentação e aintegração das economias nacio-nais na economia mundial, sãotodas políticas sempre atuais, ne-cessárias à obtenção do cresci-mento econômico. O problema éque o Consenso foi aplicado demodo incompleto, “entre outrasrazões, porque não levou em con-sideração o capital social. Querdizer, a capacidade de implemen-tar políticas liberalizantes pressu-punha a existência de um Estadocompetente, poderoso e efetivo,uma série de instituições em cujoseio poderiam ocorrer alteraçõesde políticas, e as predisposiçõesculturais apropriadas da parte dosatores econômicos e políticos”. E“uma das razões principais pelaquais a América Latina alcançoutaxas de crescimento global me-nores que as da Ásia Oriental nasduas últimas décadas, tem menosque ver com a classe de políticaseconômicas selecionadas (ou seja,orientadas ao mercado em lugarde protecionistas), e mais com aqualidade das instituições.”

Fukuyama deixa claro que nãodefende uma “transição autoritá-ria”, conduzida por uma ditadura.Antes, ele pretende pôr em dis-cussão o relacionamento entre

“Uma das razões principais pela quais a

América Latina alcançou taxas de

crescimento global menores que as da

Ásia Oriental nas duas últimas décadas,

tem menos que ver com a classe de

políticas econômicas selecionadas e

mais com a qualidade das instituições”.7 Fukuyama, Francis. “Capital social y desarrollo: la agenda venidera”, op. cit.

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capital social como apoio à de-mocracia, e, daí, ao desenvolvi-mento, porque o capital social“permite que os indivíduos débeisse agrupem para defender seusinteresses e se organizem emapoio de suas necessidades cole-tivas; o governo autoritário, pelocontrário, prospera em função daatomização social.”

A partir desse ponto,Fukuyama desenvolve raciocínioassemelhado ao de Putnam, quese verá e comentará em seguida,e que consiste, basicamente naidéia de que são fracos os laçosque unem as pessoas nas socie-dades nas quais prevalece o quechama de “familismo”, em que asrelações de confiança mais fir-mes estão reservadas para a fa-mília e os amigos íntimos. Nessascondições, por exemplo, “um polí-tico eleito para um cargo públicoexperimenta amiúde a obrigaçãocategórica de ... nomear familia-res e clientes em prejuízo de pes-soas mais qualificadas escolhidascom critérios objetivos. Grandeparte da crise de corrupção políti-ca que sofre o grosso da Améri-ca Latina se funda nesta estrutu-ra de dupla moral.”

Ainda quanto à relação entrefortes laços que devem constituiruma idealizada sociedade civil e ademocracia como condição parao desenvolvimento, Fukuyamadiz: “se a democracia não é pos-sível sem a existência da socie-dade civil, a presença excessivada sociedade civil pode ser amiú-de o pesadelo da democracia. Osgrupos de interesse podem prote-ger aos indivíduos débeis de umEstado opressivo, mas tambémpodem conduzir à paralisia, o

auto-interesse e o cinismo acercada política.” Aqui, podemos ques-tionar sobre o grau de democra-cia pretendido ou o que vem adar mais ou menos no mesmo, senão seria conveniente “abrandarum pouco” o ímpeto democrati-zante, em prol do desenvolvimen-to. Esta última opção parece tersido amplamente utilizada, princi-palmente pelos que seautodefinem como “liberais”,para coibir certos arroubos nacio-nalistas e, assim, dar espaço apolíticas globalizantes, em escalamundial. E não terá sido este ocaminho adotado pelos conduto-res de reformas constitucionais,no Brasil e em outros países?

O papel das “ComunidadesCívicas”, de Putnam

Putnam descreve em seu li-vro8 as pesquisas que desenvol-veu, por quase um quarto de sé-culo, motivadas pela criação degovernos regionais na Itália,ocorrida na primavera de 1970.Seu trabalho iniciou-se com umaindagação básica: “Por que al-guns governos democráticos têm

bom desempenho e outros não?”E, daí, “Quais são as condiçõesnecessárias para criar instituiçõesfortes, responsáveis e eficazes?”“Tomando as instituições comovariável independente”, dizPutnam, “investigamosempiricamente como a mudançainstitucional influencia a identida-de, o poder e a estratégia dosatores políticos. Depois, tomandoas instituições como variável de-pendente, examinamos como odesempenho institucional é condi-cionado pela história.”

Após vinte anos da criaçãodos governos regionais, Putnamconcluía que o papel do governosubnacional era mais importantedo que em 1970. “Muita coisamudou por causa da reforma re-gional ... Os governos regionaissão mais afeitos às realidadesregionais e mais acessíveis àsdemandas regionais do que osdistantes ministérios romanoscujo lugar eles tomaram.”Putnam constatou, porém, que,ao invés de ter-se atenuado,agravou-se a disparidade entre oNorte e o Sul. Mesmo assim,

“Muita coisa mudou por causa da reforma

regional ... Os governos regionais são

mais afeitos às realidades regionais e

mais acessíveis às demandas regionais

do que os distantes ministérios romanos

cujo lugar eles tomaram.” Putnam”.

8 Putnam, Robert D. – Comunidade e Democracia. a experiência da Itália moderna. Rio de Janeiro, Ed. FGV, 1996

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registrou manifestação de prefei-to sulista, no sentido de que ascoisas, antes, eram piores por lá.

Ao fim de duas décadas, certosgovernos obtiveram mais sucessoque outros – foram mais criativos,mais eficientes e mais eficazes –por mais de uma década, mesmocontando com os mesmos recursosjurídicos e financeiros.

De início, Putnam reconheceque o crescimento econômico fazcrescer a renda, o que atenua osproblemas públicos e privados, oque facilita a “acomodação soci-al”, e incrementa a classe média,“baluarte da democracia estávele eficaz”, Mas a diferença dedesempenho entre o Norte e oSul não se devia apenas à dispo-nibilidade de recursos financeirosdos governos regionais, o queresultava nítido da constataçãode que muitas das regiões maisatrasadas não eram capazes dedespender a totalidade de seusrecursos. Seria necessárioaprofundar as observações paraque fosse possível inferir se amodernidade é um dos fatores dodesempenho ou o inverso é o queocorre ou, ainda, se modernidadee desempenho são influenciadospor um terceiro fator. Em buscada explicação para as suas des-

cobertas, Putnam recorreu aoconceito de “comunidade cívica”,que envolve considerações sobreos padrões de participação doscidadãos e sobre solidariedadesocial, como fator da dinâmicasócio-econômica.

Numa comunidade cívica,primeiramente, a busca pelo bempúblico deve prevalecer sobre osinteresses particulares, sem queisto signifique que os cidadãossejam integralmente despojadosde seus direitos e desejos. Emoutras palavras, os cidadãos luta-riam pelos seus interesses, man-tendo-se, porém, sensíveis aosinteresses de todos”. É a situa-ção oposta à que dá origem ao“familismo amoral”, expressãocunhada por Edward Banfield, eque se encontra, também, no tra-balho de Durston.

Na comunidade cívica, comoconcebida por Putnam: a) cidada-nia implica direitos e deveresiguais para todos; b) relaçõeshorizontais de reciprocidade ecooperação, e não relações verti-cais de autoridade e dependência,mantêm unida a comunidade; c)os líderes devem ser e tambémconsiderar-se responsáveis porseus concidadãos; d) os cidadãossão prestativos, respeitosos e

confiantes uns nos outros, mesmoquando divergem em relação aassuntos importantes (a confian-ça mútua é peça-chave para aconstituição, preservação e pro-gresso da comunidade cívica).

Um índice de civismo foi con-cebido por Putnam, levando emcontra quatro fatores:1) existência de periódicos locais

(lembrando Tocqueville: “So-mente um jornal pode apre-sentar a mil leitores o mesmopensamento ao mesmo tempo(...) Portanto uma associaçãodemocrática dificilmente podeprescindir de um jornal.”). Apressuposição é de que “osleitores de jornais são maisinformados do que os não-leitores e, portanto, têm maiscondições de participar dasdeliberações cívicas”, naspalavras de Putnam;

2) votação em referendos nacio-nais, que é facultativa.Putnam não tomou como re-ferência o comparecimento àsurnas nas eleições gerais, poiseste era obrigatório até recen-temente, e em muitas partesda Península predomina a po-lítica do clientelismo. Votarnuma eleição geral pode signi-ficar, então, busca de “ganho”que nada tem de cívico. Aocontrário, votar num referen-do (sem a obrigação de fazê-lo) significa interesse porquestões relevantes para asua comunidade, como divór-cio, financiamento público dosPartidos, terrorismo e segu-rança pública, escala móveldos salários ou política deenergia nuclear;

3) “voto preferencial”. EsclarecePutnam que os eleitores italia-nos votam em uma chapa com-pleta, e, se quiserem, podem

“Putnam reconhece que o crescimento

econômico faz crescer a renda, o que

atenua os problemas públicos e privados,

o que facilita a “acomodação social”, e

incrementa a classe média, “baluarte da

democracia estável e eficaz”.

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indicar sua preferência por umdeterminado candidato inte-grante da chapa. Um voto pre-ferencial é “indicador seguro”,segundo Putnam (o que parecequestionável) do personalismo,integrante do clientelismo;

4) participação em associaçõescomunitárias. As regiõesmais desenvolvidas têm mai-or número de associações(cívicas, culturais, artísticas,recreativas etc.) e, quantomaior a participação do cida-dão numa (ou em mais deuma) dessas associações,mais “cívico” (porque mais“solidário” e “agregativo”) éo seu comportamento. Mas,adverte Putnam, “os vínculosverticais de autoridade sãomais característicos da Igrejaitaliana do que os vínculoshorizontais de solidariedade”e, por isso, “todas as mani-festações de religiosidade eclericalismo ... estão negati-vamente relacionadas com oengajamento cívico.” Adicio-nalmente, “dos italianos quevão à missa mais de uma vezpor semana, 52% dizem queraramente lêem jornais e51% dizem que jamais discu-tem política; entre os ateusconfessos, os índices corres-pondentes são 13 e 17%.”Então, conclui Putnam, “naItália de hoje, assim como naItália dos humanistas cívicosda escola de Maquiavel, acomunidade cívica é umacomunidade secular.” Ospartidos políticos tambémestão excluídos como fatoresde civismo, porque “não é ograu de participação políticaque distingue as regiões cívi-cas das não-cívicas, e sim anatureza dessa participação.”

Putnam declara ter obtido“uma estreita correlação entre osnossos quatro indicadores, namedida em que as regiões onde émaciço o comparecimento àsurnas nos referendos e inexpres-sivo o uso do voto preferencialsão praticamente as mesmasonde existem uma densa rede deassociações civis e um elevadonúmero de leitores de jornais.” Eobservou “uma notável coinci-dência entre o desempenho deum governo regional e o grau departicipação na vida social e polí-tica da região.” Daí concluiu que“quanto mais cívica a região,mais eficaz o seu governo.” Emais: “parece que as regiõeseconomicamente mais adiantadastêm governos regionais mais efi-cientes simplesmente porque ne-las há maior participação cívica.”

Algumas “conclusões” dePutnam ficam mais bem explici-tadas em suas próprias palavras:a) “Na sondagem que realizamos

em 1988, 20% dos eleitores dasregiões menos cívicas admiti-ram que ocasionalmente “pe-dem ajuda a algum político paraobter licenças, empregos e as-

sim por diante”, contra apenas5% dos eleitores nas regiõesmais cívicas. Esse “contatoparticular” não é determinadopelos fatores demográficos nor-malmente associados à partici-pação política, como educação,classe social, renda, engaja-mento político, partidarismo oufaixa etária, porém é muitomais comum em todas as cate-gorias sociais nas regiões me-nos cívicas. Essa forma de par-ticipação parece depender me-nos de quem você é do que deonde você está.”

b) “Não podemos saber até queponto os líderes estão sim-plesmente reagindo à compe-tência e ao entusiasmo cívico(ou à falta deste) do eleitora-do, nem até que ponto o enga-jamento cívico dos cidadãosfoi influenciado pela disposi-ção (ou relutância) das elitespara tolerar a igualdade e in-centivar a participação. Asatitudes da elite e das massassão na verdade os dois ladosde uma mesma moeda e com-binam-se num equilíbrio quese reforça mutuamente.”

“Não podemos saber até que ponto os

líderes estão simplesmente reagindo à

competência e ao entusiasmo cívico do

eleitorado, nem até que ponto o engajamento

cívico dos cidadãos foi influenciado pela

disposição das elites para tolerar a igualdade e

incentivar a participação”.

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c) “Uma situação em quehaja elites autoritárias emassas agressivas nãopode constituir um equilí-brio estável, assim comouma conjuntura de líderescomedidos e seguidorescomplacentes dificilmenteseria mais duradoura.”

d) “A eficácia do governo regi-onal está estreitamente rela-cionada com o grau em queo intercâmbio entre elite emassa na vida da região seorganiza horizontal ou hierar-quicamente. A igualdade éuma característica essencialda comunidade cívica.”

e) “Os cidadãos instruídos dasregiões menos cívicas sen-tem-se quase tão impoten-tes quanto os cidadãos me-nos instruídos das regiõesmais cívicas.”

f) “Verificamos que existemregiões com mau desempe-nho e muitos conflitos, comoa Campânia, mas tambémdescobrimos regiões consen-suais cujos governos apre-sentaram desempenho abai-xo da média nacional, comoa Basilicata ... Tais conclu-sões também deixam implíci-

to o fato de não termos en-contrado nenhuma correla-ção entre conflito e comuni-dade cívica. A comunidadecívica não é em absolutoharmoniosa nem tipicamentelivre de tensões.”

A importância das redes deconfiança entre os cidadãos ébem expressa no seguinte trechodo livro de Putnam: “A vida co-letiva nas regiões cívicas é faci-litada pela expectativa de que osoutros provavelmente seguirãoas regras. Sabendo que os ou-tros agirão assim, o mais prová-vel é que o cidadão faça o mes-mo, satisfazendo assim às ex-pectativas deles.” Enquanto isso,no sul italiano, “mesmo um go-verno com mão de ferro ... aca-ba enfraquecido pelo contextosocial pouco cívico. O própriocaráter comunitário que leva oscidadãos a reclamarem um go-verno mais forte torna menosprovável a existência de um go-verno forte, ao menos num regi-me democrático.”

Pesquisando a história,Putnam descobriu que vários re-gimes caracterizavam a Itália noinício do século XIV. Do sul parao norte:

• a monarquia feudal funda-da pelos normandos noMezzogiorno;

• os Estados papais com suamistura de feudalismo, tiraniae republicanismo;

• o centro do republicanismo,isto é, as comunas que haviamconservado as instituiçõesrepublicanas no século XIV; e

• as antigas áreas republica-nas mais ao norte, que havi-am então sucumbido ao do-mínio senhorial.

E concluiu: “Há uma notávelsemelhança entre essa configu-ração e a distribuição das carac-terísticas cívicas nos anos 70”.Daí, “Não obstante as grandesondas migratórias, as mudançaseconômicas e as convulsões so-ciais verificadas na penínsulanesse intervalo, as normas e oscomportamentos cívicos contem-porâneos reproduzem tradiçõesregionais que estavam desde hámuito estabelecidas.”

No capítulo 6 de seu livro,destinado às relações entre ca-pital social e desempenhoinstitucional, Putnam dedica-seinicialmente à questão do “dile-ma do prisioneiro”, caso clássi-co da teoria dos jogos: “doiscúmplices são mantidos inco-municáveis, e diz-se a cada umdeles que, se delatar o compa-nheiro, ganhará a liberdade,mas se guardar silêncio, e ooutro confessar, receberá umapunição especialmente severa.Se ambos mantivessem silêncio,seriam punidos levemente, mas,na impossibilidade de combina-rem suas versões, cada qual fazmelhor em delatar, indepen-dentemente do que o outrovenha a fazer.” Essa situaçãoé transposta, então, para os ca-sos das regiões menos cívicas,

“A vida coletiva nas regiões cívicas é

facilitada pela expectativa de que os outros

provavelmente seguirão as regras.

Sabendo que os outros agirão assim, o mais

provável é que o cidadão faça o mesmo,

satisfazendo assim às expectativas deles.”.

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em que é escassa a relação deconfiança entre os cidadãos, ecita Diego Gambetta: “Parahaver cooperação é preciso nãosó confiar nos outros, mas tam-bém acreditar que se goza daconfiança dos outros.” Comoresolver a questão?

Hobbes havia proposto, emsituações semelhantes, a coer-ção por um terceiro, que seria oEstado, que imporia aos cida-dãos o que eles não podem fazerpor conta própria – confiaremuns nos outros. Mas, segundoNorth, citado por Putnam, “omaior problema é que a coerçãoimparcial é em si mesma umbem público, estando sujeita aomesmo dilema básico que elabusca resolver. A coerção de umterceiro exige que este sejaconfiável ... se o Estado temforça coercitiva, então os que odirigem usarão essa força emproveito próprio, a expensas doresto da sociedade.”

O economista OliverWilliamson (citado por Putnam)enfatizou a importância das ins-tituições formais para diminuiros “custos de transação” (istoé, os custos de fiscalizar e fazercumprir os acordos), “permitin-do assim aos agentes lidaremmelhor com os problemas deoportunismo e deserção.” Mas,como disseram Cornell e Kalt,citados por Putnam, “os meca-nismos formais de controle so-cial são propensos ao oportunis-mo, pois se as minorias domi-nantes solapam a constituição,cidadãos bem-intencionadosdeixam a outros o ônus de poli-ciar esses usurpadores, e osinfratores contumazes sonegam

seus impostos e avançam ossinais de trânsito.”

A conclusão seria de que, forada participação cívica, não há sal-vação. Diz Putnam: “os sistemasde participação cívica são umaforma essencial de capital social:quanto mais desenvolvidos foremesses sistemas numa comunidade,maior será a probabilidade de queseus cidadãos sejam capazes decooperar em benefício mútuo.Esses sistemas aumentam os cus-tos potenciais para o transgressorem qualquer transação individual;eles aumentam a iteração e ainterconexão dos jogos; promo-vem sólidas regras de reciprocida-de. Os compatriotas queinteragem em muitos contextossociais “têm a faculdade de esta-belecer sólidas regras de bomcomportamento e de transmitiruns aos outros suas mútuas ex-pectativas em múltiplos contatosestimulantes”; facilitam a comuni-cação e melhoram o fluxo de in-formações sobre a confiabilidadedos indivíduos, permitem que asboas reputações sejam difundidas

e consolidadas. E quanto maiorfor a comunicação (tanto diretaquanto indireta) entre os partici-pantes, maior será a sua confian-ça mútua e mais facilidade elesterão para cooperar.”

Bourdieu e sua análisedo “espaço social”

Em seu livro Razões Práticassobre a teoria da ação9, PierreBourdieu apresenta sua “filosofiada ciência” como relacional, “jáque atribui primazia às relações”;sua filosofia da ação é disposi-cional, “pois atualiza as poten-cialidades inscritas nos corposdos agentes e na estrutura dassituações nas quais eles atuamou, mais precisamente, em suarelação”, e trabalha com apenastrês conceitos fundamentais:habitus, campo e capital” etem como “ponto central a rela-ção, de mão dupla, entre as es-truturas objetivas (dos campossociais) e as estruturas incorpo-radas (do habitus)”.

Bourdieu parte da convicçãode que não é possível entender a

“Os compatriotas que interagem em

muitos contextos sociais “têm a

faculdade de estabelecer sólidas regras

de bom comportamento e de transmitir

uns aos outros suas mútuas expectativas

em múltiplos contatos estimulantes”.

9 Bourdieu, Pierre. Razões Práticas. Campinas: Ed. Papirus, 1996

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lógica do mundo social “a nãoser submergindo na particulari-dade de uma realidade empírica,historicamente situada e datada,para construí-la, porém, como‘caso particular do possível’ ...como uma figura em um univer-so de configurações possíveis”.O objetivo é capturar oinvariante, de modo que a lógicada análise sirva, também, paraoutras situações, distanciadasem tempo e espaço.

O fundamento na noção deespaço, em Bourdieu, é o “con-junto de posições distintas ecoexistentes, exteriores umas àsoutras, definidas umas em rela-ção às outras por sua exteriorida-de mútua e por relações de proxi-midade, de vizinhança ou dedistanciamento, e, também, porrelações de ordem, como acima,abaixo e entre ...”

Na análise de Bourdieu, osagentes distribuem-se no espaçosocial de acordo com o volumeglobal de capital (econômico, cul-tural) que possuem e de acordocom o peso relativo nos diferen-tes tipos de cada capital no volu-

me global de seu capital.Bourdieu rejeita a pesquisa

de equivalentes diretos entretraços isolados, que podem serdiferentes à primeira vista, masfuncionalmente equivalentes(como o Pernod e o saquê) ouaparentemente idênticos (a prá-tica do golfe na França e no Ja-pão, por exemplo), mas estrutu-ralmente diferentes.

Assim Bourdieu explica otratamento que dá ao espaçosocial: “o espaço de posiçõessociais se retraduz em um espa-ço de tomadas de posição pelaintermediação do espaço de dis-posições (ou o habitus); ou, emoutros termos, ao sistema deseparações diferenciais, que de-finem as diferentes posições nosdois sistemas principais do espa-ço social, corresponde um siste-ma de separações diferenciaisnas propriedades dos agentes(ou de classes construídas comoagentes), isto é, em suas práti-cas e nos bens que possuem. Acada classe de posições corres-ponde uma classe de habitus(ou de gostos) produzidos pelos

condicionamentos sociais associ-ados à condição correspondentee, pela intermediação desseshabitus e de suas capacidadesgeradoras, um conjunto sistemá-tico de bens e de propriedades,vinculadas entre si por uma afi-nidade de estilo.”

Quanto ao habitus: “Oshabitus são princípios geradoresde práticas distintas e distintivas– o que o operário come, e so-bretudo sua maneira de comer...; mas são também esquemasclassificatórios, princípios declassificação, princípios de visãoe de divisão e gostos diferentes... diferenças entre o bem e omal ... O mesmo comportamentoou o mesmo bem pode parecerdistinto para um, pretensioso ouostentatório para outro e vulgarpara um terceiro.”

Bourdieu adverte que, em suaanálise, é a proximidade de umagente em relação a outro, noespaço social, em vista de suaspropriedades e seus gostos –habitus, que os predispõe àaproximação, e um e outro sãomais fáceis de abordar e mobili-zar. E aí vem uma conclusãointeressante: embora próximosno espaço social, indivíduos comessas características não consti-tuem uma classe social, no senti-do marxista, já existentes. Antes,são pessoas que podem ser mo-bilizadas com mais facilidadepara servirem a uma causa, ouseja, são classe em potencial,mas não já prontas. Na palavrasde Bourdieu: “As classes sociaisnão existem (ainda que o traba-lho político orientado pela teoriade Marx possa ter contribuído,em alguns casos, para torná-lasexistentes, ao menos atravésdas instâncias de mobilização edos representantes). O que

“Conjunto de posições distintas e

coexistentes, exteriores umas às outras,

definidas umas em relação às outras por

sua exterioridade mútua e por relações

de proximidade, de vizinhança ou de

distanciamento, e, também, por relações

de ordem, como acima, abaixo e entre ...”.

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existe é um espaço social, umespaço de diferenças no qual asclasses existem de algum modoem estado virtual, pontilhadas,não como um dado, mas comoalgo que se trata de fazer.”Um corolário nítido desse pen-samento: a confiança, a recipro-cidade, a colaboração, constitu-tivas do capital social, na visãodos autores já citados, ocorrecom mais facilidade entre pes-soas próximas em um dado es-paço social.

Uma curiosidade: levado arefletir sobre a diferenciação en-tre indivíduos numa sociedadesocialista, Bourdieu introduziu o“capital político” (ter ou não fa-vores do Estado, face a sua posi-ção mais ou menos próxima daspessoas do poder). Este, sim,poderia fazer diferença.

Outro ponto relevante, nasdecisões sobre em que setor eem que direção investir, numatentativa de criar capital social edaí obter mais democracia ou oempoderamento dos pobres, éreferente ao sistema educacional,que pode ser o sancionador dasdiferenças, e não o fator de cor-reção das desigualdades. Umagrande e afamada escola, aoconceder um diploma a um aluno,o está premiando com um títuloequivalente ao da nobreza, que odistanciará dos demais, agorasimples plebeus.

Um outro aspecto interessantedo modelo de Bourdieu é a suaversatilidade. Ele pode ser aplica-do, em tese, a qualquer espaço –o de escritores e poetas, porexemplo, ou o Estado. Vale, en-tão, avaliar as palavras deBourdieu: “o Estado, que dispõede meios de impor e de inculcarprincípios duráveis de visão e dedivisão de acordo com suas pró-

prias estruturas, é o lugar porexcelência da concentração e doexercício do poder simbólico.”E através do poder de impor sím-bolos aos cidadãos que o Estadoos manipula.

A família também manipula e,assim como o Estado, é umagente da manutenção das dife-renças, pela mesma ordem deidéias que Bourdieu apresentouao tratar do Estado.

Sugestão de pesquisa

Vimos o capital social comoelemento de ação para a criaçãode condições de aprimoramentoda democracia ou para o empo-deramento dos pobres. Em sínte-se, e otimistamente, um instru-mento para aumentar a felicidadedas pessoas.

Alguns elementos fundamen-tais para a construção, manuten-ção e desenvolvimento do capi-tal social são, de uma forma ououtra, compartilhados pelos di-versos autores: é melhor quehaja confiança entre os cida-dãos, que eles participem de sis-temas de reciprocidade e cola-

borem uns com os outros. Fato-res há que auxiliam o processo.Putnam chama a atenção para a“participação cívica”, Bourdieupara a proximidade de elemen-tos num espaço social.

Um economista não poderiadeixar, contudo, de tecer algu-mas considerações sobre demo-cracia e desenvolvimento eco-nômico (muito mais que cresci-mento do PIB etc.). Nos traba-lhos estudados, há uma suges-tão de que o ambiente cívicofavorece a construção do capi-tal social e, daí, resultará, maiscedo ou mais tarde, o desejadodesenvolvimento. Isto, porém,não chega a ser provado.Putnam, por exemplo, admiteisto explicitamente, e sugereuma linha de pesquisa: por meiode que mecanismos as normase instituições da comunidadecívica contribuiriam para aprosperidade econômica? Estabem pode ser uma pesquisa aser empreendida, com a ajuda,inclusive (e, talvez, principal-mente) de Bourdieu e seu “es-paço social”. Por que não “es-paço sócio-econômico”?

* Mário Sérgio Fernandez SallorenzoDoutorando.

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A discussão sobre investi-mentos e finanças na AméricaLatina remete necessariamentepara o debate sobre a formaçãoda Área de Livre Comércio dasAméricas (ALCA). Este projeto,proposto inicialmente pelo ex-presidente George Bush em1990, pois se trata na verdade deuma integração subordinada dospaíses latino-americanos ao im-pério do norte. O processo en-contra-se numa fase crucial emnosso continente, e mesmo quenão se realize o cronograma ini-cial, que prevê para janeiro de2005 o início da vigência doAcordo, as negociações entre osgovernos nacionais caminhampara a concretização do mesmo.A oposição do governo brasilei-ro, e, em certa medida, dos paí-ses do MERCOSUL, quanto àforma como o processo tem sidoconduzido, assim como à exigên-

A R T I G O

Investimentos efinanças internacionaisna América Latina

Júlio Miragaya *

Texto elaborado para o Fórum Social das Américas (25 a 30 de julho, em Quito,Equador) por Júlio Miragaya, membro do Conselho Regional de Economia/DF eda coordenação da REDE BRASIL sobre Instituições Financeiras Multilaterais.

cia de algumas garantias cobra-das do governo norte-americanode forma alguma eliminam asconseqüências nefastas que aconstituição da ALCA teriamsobre as nações e os povos lati-no-americanos.

Compreendendo que a consti-tuição da ALCA se configurarianum enorme prejuízo para os po-vos da América Latina, e, – porque não? – também para os daAmérica do Norte, resultando embenefícios apenas para as corpo-rações transnacionais e o merca-do financeiro, devem as organiza-ções dos trabalhadores e popula-res buscar obstruí-la. Para que aschances de obstrução da ALCAsejam reais, estas organizaçõesdevem buscar a mais ampla mo-bilização dos segmentos da socie-dade em contradição com aALCA, através de uma efetivaarticulação. Mas isto pode não

ser suficiente. A elaboração deuma proposta alternativa por par-te do campo popular pode vir ase constituir num decisivo instru-mento de mobilização e articula-ção desses interesses.

Nas duas últimas décadas, asnovas características apresenta-das pelo sistema capitalista gera-ram algumas tentativas de melhorclassificá-lo: neo-liberalismo, glo-balização, Consenso de Washing-ton foram algumas dessas carac-terizações. Alguns teóricos arris-caram-se mesmo a anunciar osurgimento de um sistema pós-capitalista, em face do grau detransformações por ele experi-mentado. Mas a realidade nosmostra que, independentementedas caracterizações e do grau dastransformações, o sistema capita-lista mantém inalteradas duas desuas principais características, eque constituem suas contradições

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fundamentais: a crescente dispa-ridade entre a excepcional taxade acumulação e as limitaçõespara a sua realização; e a inces-sante busca de mercados, queesbarra na questão das fronteirasnacionais. É fundamental nãoperder de vista estas referências,para que se possa entender oprocesso em curso.

Uma das principais marcas dacontemporaneidade capitalista éo excepcional “poder de fogo”das corporações transnacionais edos grandes bancos. De acordocom relatório da UNCTAD de2003, enquanto o PIB mundialcresceu (em valores correntes)198% entre 1982 e 2002 (de10,81 para 32,23 trilhões de dóla-res), o faturamento das empresastransnacionais (ETNs) cresceu546% (de 2,74 para 17,68 trilhõesde dólares) e os seus ativos, nadamenos que 1.169%, de 2,09 para26,54 trilhões de dólares no mes-mo período.

Em 2002, o estoque total deinvestimentos diretos no exterior(IDEs) das 64 mil ETNs alcan-çou 7,1 trilhões de dólares. Dessetotal, 2,53 trilhões estavam apli-cados nos países periféricos(correspondendo a 32% do PIBdestes países, contra 13% em1982), sendo que 760 bilhões naAmérica Latina.

No centro da discussão sobreo atual momento do capitalismo,acha-se a questão dos fluxos co-merciais e financeiros. É absolu-tamente falsa a concepção deque os países latino-americanossão, assim como os demais paí-ses periféricos, receptores de

capital. Trata-se exatamente dooposto. A existência de um gran-de passivo externo (dívida exter-na e investimentos diretos exter-nos) implica na saída sistemáticade bilhões de dólares desses paí-ses, na forma de pagamento dejuros e remessa de lucros. A re-cepção de capitais (empréstimos,IDEs) apenas atenua no presenteo saldo negativo, agravando, con-tudo, o quadro futuro, pois implicano aumento do passivo externo.

No conjunto dos países emdesenvolvimento (incluindo aschamadas economias em transi-ção – países do Leste Euro-peu), as transferências líquidasde recursos financeiros atingi-ram o saldo negativo de 202bilhões de dólares em 2002 enada menos que US$ 686 bi-lhões entre 1998 e 2002.

Na América Latina, o quadroapresenta-se de forma particular-mente grave. No período entre1995 e 2002, o saldo negativo daconta corrente ascendeu a 408

bilhões de dólares, refletindo oenorme (e histórico) déficit nabalança de serviços, dramatica-mente combinado com déficit nabalança comercial.

O quadro latino-americanovem, segundo a UNCTAD,agravando-se desde o final dadécada de sessenta, quando“vários países relaxaram oscontroles que impunham ao en-dividamento em divisas pelosbancos locais e suavizaram ascondições para a entrada emseus mercados dos bancos in-ternacionais sediados nos paísesindustrializados”. Ocorreu nestaépoca uma forte expansão domercado de eurodólares, cata-pultado pelos excedentes dospaíses exportadores de petróleo,os chamados petrodólares.

No decorrer da década deoitenta, a eclosão da crise mexi-cana, gerou uma abrupta eleva-ção do serviço da dívida. O resul-tado desse processo foi que oestoque da dívida externa dos

“Vários países relaxaram os

controles que impunham ao

endividamento em divisas pelos

bancos locais e suavizaram as

condições para a entrada em seus

mercados dos bancos internacionais

sediados nos países industrializados”.

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países periféricos saltou de 480bilhões de dólares em 1980 para1,78 trilhão em 2001. Na Améri-ca Latina, a dívida externa brutapassou de US$ 240 bilhões para740 bilhões no mesmo período.Quanto ao serviço desta dívidalatino-americana, ele saltou de 46para 158 bilhões de dólares entre1980 e 2001, sendo que, de juros,passou de 24 para 53 bilhões emidêntico período.

Expressão desta situaçãotem sido o pífio desempenhoeconômico dos países periféri-cos e, em particular, dos latino-americanos, nas duas últimasdécadas. Entre 1980 e 2000,acentuou-se o fosso entre ospaíses desenvolvidos e os emdesenvolvimento, pois, enquantoo PIB per capita mundial cres-ceu em média 1,25% ao ano,nos países desenvolvidos estataxa foi de 2,05%, ou seja, odobro da taxa média verificadanos países periféricos. O de-sempenho da América Latina

(0,3% ao ano), só não foi inferi-or ao dos países de economiaem transição do Leste Europeu,que apresentaram crescimentonegativo no período.

A forte queda do crescimentoeconômico nas duas últimas dé-cadas guarda uma relação diretacom o forte decréscimo na For-mação Bruta de Capital Fixo(FBKF), ou seja, a taxa de inves-timento do conjunto das economi-as nacionais. Na América Latina,esta taxa foi de 25% na décadade setenta, caindo para 20,4% nadécada seguinte e ficando em19,5% nos anos noventa. Tam-bém no continente africano ataxa de investimento tem apre-sentado tendência decrescente.De outro lado, a Ásia, particular-mente a sua região oriental, temestabelecido um regime de inver-sões bastante distinto das demaisregiões periféricas, tendo apre-sentado uma taxa de investimen-tos de 27,7% na última década,devido principalmente ao elevado

patamar alcançado pela China,Coréia e Malásia.

No caso da América Latina,a redução na FBKF tem tam-bém uma forte relação com oprocesso de privatização,deflagrado na região desde oinício dos anos oitenta, e queprovocou uma acentuada quedanos investimentos do setor públi-co. Concomitantemente, o com-prometimento de parcelas cadavez maiores dos recursos públi-cos para o pagamento do servi-ço da dívida contribuiu para oagravamento deste quadro. Osvários planos de ajuste estruturaldas economias latino-america-nas têm invariavelmente estabe-lecido como objetivo a geraçãode superávits orçamentários (ob-tidos através de cortes nos gas-tos e investimentos públicos),com o intuito de garantir o paga-mento das dívidas.

No campo das relações co-merciais, permanecem as de tipocolônia-império. Os países peri-féricos mantêm ainda uma parti-cipação reduzida no comérciomundial de produtos de maiorvalor agregado e composiçãotecnológica, participando comapenas 16,5% das exportaçõesde máquinas e material de trans-porte e 19,4% das exportaçõesde produtos químicos. Maiorrelevância apresentam apenasno comércio de commodities,como produtos agrícolas (36%),minérios/metais (41%) e petró-leo/gás (71%). Ocorre que estesegmento apresenta uma ten-dência histórica de decréscimode seus preços. O índice combi-

“A forte queda do crescimento

econômico nas duas últimas décadas

guarda uma relação direta com o forte

decréscimo na Formação Bruta de

Capital Fixo (FBKF), ou seja, a taxa de

investimento do conjunto das

economias nacionais”.

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jul/set de 20042727272727Revista de conjuntura

nado de preços das commodities,em dólares constantes, variou de100 em 1960 para 83 em 1985 e67 em 2000.

Em relação aos investimentos,o quadro atual é de total e pro-gressivo relaxamento nas políti-cas e legislações que regulamestes fluxos por parte dos gover-nos nacionais. De acordo com oInforme sobre Investimentos noMundo, da UNCTAD, de 2003,de 248 mudanças introduzidas nalegislação sobre IDEs em 2002,por 70 países, nada menos que236 (95%) serviram para facilitara circulação dos investimentos.No período de 1991 a 2002, fo-ram 1641 modificações, sendoque 1551 favoráveis ao IDEs.Também os acordos internacio-nais têm crescido na esteira dabusca de atração de IDEs porparte dos governos. São acordosregionais, bilaterais e multilate-rais, e que para os países de ori-gem dos investimentos têm comofunção proteger os investimentos.Até 2002, haviam sido firmados2.181 tratados bilaterais sobreinvestimentos (TBIs), assimcomo 2.256 tratados sobre duplaimputação (TDIs), que visamreduzir a “tributação excessiva”.

Uma questão fundamentalnesta discussão é precisar o pa-pel dos organismos multilaterais,particularmente do FMI e doBanco Mundial, neste contexto.Parece claro que ambos se tor-naram uma espécie de agênciasgabaritadas da banca e das cor-porações transnacionais. A evo-lução de ambos para a condiçãode elaboradores e orientadores

de planos de ajustes estruturaisdas economias periféricas emcrise, com o propósito indisfar-çável de garantir condições rela-tivamente estáveis de esses paí-ses seguirem “honrando” seuscompromissos com o capital fi-nanceiro, não deixa margempara dúvidas. Cabe então a al-guns setores do movimento soci-al (e não são poucos) aprofun-darem esta discussão, supera-rem as vacilações e adotaremuma posição mais contundentefrente a esses dois organismos.

Neste quadro, a elaboraçãode uma alternativa de integra-ção justa das Américas em in-vestimentos e finanças, por tudoque foi exposto, obviamente nãopode ser feita sob a égide dosistema em que estamos viven-do. Ocorre que não podemosparalisar-nos diante da impossi-bilidade política atual de substi-tuir o capitalismo por um siste-ma racional. Neste caso, deve-mos atuar no campo do possí-vel, sem perder, entretanto, areferência nos interesses histó-ricos dos povos. Assim sendo, oprimeiro movimento deve ser nosentido de rejeitar categorica-mente a proposta de formaçãoda ALCA, seja nos moldes ori-ginais ou no formato “light”.Um instrumento fundamental

para alcançar este objetivo é arealização de plebiscito nos di-versos países. Isto só será pos-sível através de um amplo pro-cesso de mobilização social,pressionando os governos na-cionais a efetuarem a consulta.

A atuação dos governos na-cionais na América Latina é ou-tra questão que merece ser de-batida. Compreender os planosde ajustes estruturais e suascondições draconianas comoalgo simplesmente imposto pelosorganismos internacionais e pe-los credores significa isentar osgovernos nacionais da responsa-bilidade de aceitarem passiva-mente tais políticas, e de seremnão apenas coniventes com elas,mas os seus implementadores.Existe espaço político para quealguns desses governos, particu-larmente aqueles com ligaçõeshistóricas mais fortes com o mo-vimento social, adotem outrorumo. A adoção de algumas me-didas, mesmo que limitadas, masque confrontem os interesses docapital, vão no sentido da elabo-ração de uma alternativa. Repu-diar a ALCA, resistir às pres-sões do Fundo e do BIRD, sãoposturas reais e possíveis. Natu-ralmente, isto depende do graude pressão que o movimentosocial consiga articular.

* Júlio MiragayaEconomista do CORECON-DF

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A R T I G O

Avaliação das Exigências dosCanais de Distribuição paraComercialização de Hortaliçasda Agricultura Familiar:o caso do Distrito Federal

Adelaide dos Santos Figueiredo*Geraldo Andrade da Silva*

RESUMO

Esta pesquisa examina as exi-gências dos canais de distribuiçãopara a comercialização de horta-liças no Distrito Federal, e tempor objetivo identificar e priorizaressas exigências na negociaçãodos compradores desses canais,avaliando se essas condições têmuma influência nos preços pagospelos produtos de hortaliças noDistrito Federal.

As principais questões queforam discutidas e avaliadas são:a análise para identificar as exi-gências em cada um dos canaisde comercialização e sua escalade importância, relacionando, as-sim, o peso que cada exigênciatem no âmbito de cada um dessescanais. O resultado mostrou que,essencialmente, para se atuar emmercados em que os ganhos po-dem ser mais atraentes que oscanais convencionais (feiras), oprodutor tem que garantir, sobre-

tudo, sua capacidade de integra-ção e coordenação na cadeia, deforma a oferecer Produtos Seleci-onados, Freqüência e Horário deEntrega, Embalagem e TransporteAdequado. A exigência que temmenos evidência para os compra-dores é a condição referente aoPrazo de Pagamento.

Palavras-chaves:Comercialização, Hortaliças eCanais de Distribuição.

1. INTRODUÇÃO

A agricultura familiar nos últi-mos anos vem ganhando reco-nhecimento econômico-social emtodo o território brasileiro, sobre-tudo pelo seu potencial e as enor-mes vantagens se comparadacom a agricultura das grandespropriedades rurais.

O Distrito Federal ocupa umasuperfície de 5.814 km2; o setoragrícola é composto por 13.282

estabelecimentos, dos quais 5.397são classificados como familiarese 7.895, patronais, que correspon-dem a 96.258,21 hectares. Assim,a sua estrutura fundiária é com-posta principalmente por pequenaspropriedades, comum na explora-ção de hortaliças. Desse total,7.120,86 hectares são de cultivode hortaliças, responsáveis pelaprodução de 167.600,16 toneladasao ano (EMATER-DF, 2002).

Os Canais de Distribuiçãopodem ser entendidos como sen-do as estruturas funcionais que,por intermédio de transações co-merciais, provocam o processode movimentação de bens e ser-viços entre os agentes integran-tes de um mercado (Novaes,2001). De acordo com Bowerson& Closse (2001), canal de distri-buição ou canal de marketing é omeio através do qual um sistemade livre mercado realiza a trans-ferência de propriedade de pro-dutos e serviços. Dessa forma,

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jul/set de 20042929292929Revista de conjuntura

Baker (1990) define um canalde distribuição como a estruturade unidades organizacionais den-tro da empresa, e agentes e fir-mas comerciais fora dela, ataca-distas e varejistas, por meio dosquais uma mercadoria, um pro-duto ou um serviço são comer-cializados. Especificamente, é oespaço em que as hortaliças es-tão à disposição dos consumido-res e são comercializadas.

Neste contexto, entende-seque o conhecimento das exigên-cias de cada canal de distribuiçãopermite identificar e priorizar asações necessárias de preparaçãodo produtor para atuar em deter-minado canal ao referente siste-ma logístico, a qualidade do pro-duto, recursos tecnológicos e fi-nanceiros, entre outros, comoforma de atenuar a desigualdadede poder de barganha entre pro-dutores e compradores.

Portanto, essa pesquisa consis-tiu em identificar e priorizar, porgrau de importância, as principaisexigências do mercado em seusvários canais, tentando buscaruma correlação entre essas exi-gências e a negociação dos pre-ços pagos em cada um deles aosprodutores. A partir do conheci-mento dessas exigências, espera-se que esta pesquisa sirva parasubsidiar a formulação de progra-ma de capacitação, para que opequeno produtor possa atuar noscanais de maior rentabilidade navenda de seus produtos.

2. ABORDAGEM TEÓRICA

A teoria de sustentação dessapesquisa partiu do entendimentode que, conforme argumenta Sil-va (1998), para a formação dospreços agrícolas, principalmente

em se tratando de hortaliças, de-vem ser consideradas as trans-formações nas relações inter eintra-setoriais. Reforçando essaabordagem, a pesquisa de Melo(2001) demonstrou que um dosfatores que tem causado a des-capitalização do pequeno produ-tor na última década é, sobretudo,o seu baixo poder de negociaçãodado às assimetrias de informa-ções existentes entre o produtore o mercado.

Uma outra abordagem consi-derada foi feita por Maluf (1992),argumentando que a comerciali-zação agrícola, como esfera decirculação das mercadorias, de-pende da organização social daprodução agrícola e do desenvol-vimento da concentração de ca-pital em toda a economia.

Um outro argumento comple-mentar é o de Belik & Chaim(2001), que defendem que a coo-peração e a coalizão podem per-mitir o compartilhamento de ativi-dades sem a necessidade decompetição nociva e arrasadora.Afirmam que, no atual contextodo mercado, a cooperaçãoconcorrencial, diferentementedos moldes tradicionais de co-

mercialização, tem a capacidadede transformar o paradoxo dacompetição em vantagem, e que,ao analisar o novo cenário, cons-tataram que atualmente este temlevado ao novo canal de circula-ção de produtos agrícolas e denovos agentes participantes, oque vem provocando o enfraque-cimento do sistema de comercia-lização tradicional.

Entretanto, vale ressaltar queo mercado está mudando e, comoafirma Vieira (1997), o varejopassa por mudanças estratégicasorganizacionais e tecnológicas,inclusive no que se refere ao es-tabelecimento de relações diretasentre as redes de varejo e aagroindústria de alimentos e osprodutores agrícolas, reduzindo,portanto, a importância dos seg-mentos de intermediação e ata-cado no seu suprimento, comsurgimento inclusive um novomodelo de negociação.

Portanto, é essencial para ospequenos produtores estarematentos a toda essa reorganização,pois, como se sabe, o mercado dehortaliças funciona basicamentesob duas estruturas. Um mercadocom características típicas de livre

“A pesquisa de Melo (2001) demonstrou

que um dos fatores que tem causado a

descapitalização do pequeno produtor na

última década é, sobretudo, o seu baixo

poder de negociação dado às assimetrias

de informações existentes entre o

produtor e o mercado”.

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concorrência, regulado pela de-manda e oferta, em que nenhumprodutor ou comerciante possuipoder suficiente para afetar o pro-cesso de formação de preços. Umoutro mercado de concorrênciaimperfeita é o caracterizado poroligopólio e oligopsônio.

3. METODOLOGIA

Para a consecução dos objeti-vos estabelecidos neste estudo, ametodologia utilizada foi de ummétodo dedutivo. Num primeiromomento foram identificadas aprincipais exigências dos canaisde distribuição para comercializa-ção de hortaliças. O levantamen-to das exigências foi realizado apartir da aplicação de um questi-onário com o objetivo de coletar,sob o foco dos compradores decada segmento, quais são as prin-cipais exigências na negociaçãocom os produtores que influenci-am diretamente o preço pago ao

produto. As principais exigênciasidentificadas foram: Freqüênciade Entrega, Embalagem Adequa-da ao Produto, Produtos Selecio-nados, Prazo de Pagamento,Repositor no Local de Venda,Capacidade de Suprimento Extra,Transporte Próprio Adequado eHorário de Entrega. Em um se-gundo momento procedeu-se àpriorização das exigências e àavaliação da predominância des-sas exigências em cada um dosCanais de Distribuição, quaissejam: Varejistas (hipermerca-dos e médios supermercados),CEASA (atacadistas) e Coope-rativa de Produtores.

Para a realização dessas aná-lises foi utilizado o método deanálise hierárquica (AnalyticHierarchy Process - AHP), cria-do por Thomas L. Saaty na déca-da de 70. É um método baseadono modelo aditivo, cujo ponto for-te é incorporar um teste de con-sistência para os julgamentos do

decisor. Sua premissa básica éque um problema complexo podeser eficientemente resolvidoquando ele é decomposto emdiversas partes, interligadas poruma estrutura hierárquica. Suascaracterísticas específicas envol-vem a determinação de pesosdos critérios (comparados par apar) e a possibilidade real de ava-liar alternativas com relação aoscritérios e aos objetivos da orga-nização (Boucher & Macstravic,1991; Santana et. al, 1996).

Como se trata de uma pesqui-sa qualitativa, a amostra foi não-probabilística (Hirano, 1979;Sommer & Sommer, 1986) e foifocada nos compradores dos gru-pos pesquisados, totalizando 6(seis) entrevistas, considerandoque o principal objetivo da pes-quisa foi o de levantar quais asprincipais exigências e predomi-nâncias dessas para a negocia-ção do produto nesses canais decomercialização. Desta forma, oinstrumento utilizado foram ques-tionários contendo questões rela-cionadas às exigências dos ca-nais de comercialização. Essesquestionários foram submetidos àvalidação semântica junto a umgrupo de compradores e aplica-dos individualmente aos segmen-tos de mercado, ou seja, super-mercados, hipermercados, coope-rativa de produtores e atacadistada CEASA-DF. A partir dos re-sultados da aplicação dessesquestionários, estruturou-se amatriz de priorização das exigên-cias no processo de negociaçãode hortaliças, que foi aplicadapara os varejistas, atacadistas -CEASA, Cooperativa de Produ-tores e um especialista em co-mercialização do mercado dehortaliças da EMATER-DF

“Como se trata de uma pesquisa qualitativa,

a amostra foi não-probabilística (Hirano,

1979; Sommer & Sommer, 1986) e foi

focada nos compradores dos grupos

pesquisados, totalizando 6 (seis)

entrevistas, considerando que o principal

objetivo da pesquisa foi o de levantar quais

as principais exigências e predominâncias

dessas para a negociação do produto

nesses canais de comercialização”.

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4. RESULTADOS EDISCUSSÃO

Aplicado o questionário, atra-vés de entrevistas, com o objetivode verificar a veracidade dessascondições no processo de negoci-ação com os produtores de horta-liças, foi solicitado aos responsá-veis pelas compras, em cada umdos canais pesquisados, que atri-buíssem uma escala de importân-cia, conforme o seu entendimen-

to, em relação às principais exi-gências que influenciam a nego-ciação e os preços pagos aospequenos produtores. Atribuiu-sea seguinte escala:1. representa Imprescindível;2. representa Muito Importante;3. representa Importante;4. representa Pouco Importante;5. representa Nenhuma Importância.

Considerando 8 (oito) critéri-os previamente estabelecidos,como Freqüência de Entrega,

Embalagem Adequada do Pro-duto, Produtos Selecionados(qualidade e quantidade garanti-da), Prazo de Pagamento, Repo-sitor no Local de Venda, Capaci-dade de Suprimento Extra,Transporte Próprio Adequado eHorário de Entrega, foram en-contrados os resultados que es-tão sintetizados na Tabela I, des-tacando como condição impres-cindível produtos selecionados eembalagem adequada.

Tabela 1- Escala de Importância das Condições de Comercialização

Fonte: Tratamento da Pesquisa Realizada (2003)

Destaca-se que 75% dos entrevistados consideraram que repositor no local de venda com uma condiçãosem nenhuma importância no processo de negociação dos produtos. Para seleção dos critérios de exigênci-as dos canais de comercialização foi utilizado o calculo estatístico da media aritmética ponderada, Spiegel(1994), em que foram atribuídos os seguintes pesos ou fator de ponderação para a escala de importância:

Peso 5 (cinco) para Imprescindível;Peso 4 (quatro) para Muito Importante;Peso 3 (três) para Importante;Peso 2 (dois) para Pouco Importante;Peso 1 (um) para Nenhuma Importância

A fórmula de cálculo foi a que se segue:

Onde:

Y = Média aritmética ponderada

W1, W

2... W

5 = Peso ou fator de ponderação

X1, X

2... X

5 = Valor da variável atribuído na escala de importância das exigências dos canais de comercialização.

ExigênciasAvaliação dos Compradores (%)

Imprescindível Muito Importante Importante Pouco importante

Freqüência de Entrega 15,8 8,6 30,7 5,5

Embalagem Adequada 22,2 0 0 0

Produtos Selecionados 22,2 0 0 0

Prazo de Pagamento 17,5 11,4 23,2 22,2

Repositor de Venda no local 3,2 14,3 30,7 –

Capacidade de Suprimento Extra 1,6 14,3 7,7 61,1

Transporte Adequado 6,3 22,8 7,7 11,2

Horário de Entrega 11,2 28,6 – –

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jul/set de 20043232323232Revista de conjuntura

Portanto, a partir desses resul-tados foram selecionadas as se-guintes exigências, consideradascomo as condições necessáriasque o produtor deva atender paracomercializar seus produtos na-quele canal. O critério Prazo de

Pagamento foi indicado pelosentrevistados como o de maiorprioridade, com 14,98%, seguidode Freqüência de Entrega e Ho-rário de Entrega, com 14,23%,Embalagem Adequada do Produ-to e Produtos Selecionados, com

13,11%, Transporte Próprio Ade-quado, com 11,05%, seguido deRepositor no Local de Venda,com 9,93% e, por último, capaci-dade de Suprimento Extra, com9,36%. Os resultados estão sinte-tizados na figura 1

Figura 1- Critérios de Decisão no Processo de Comercialização de Hortaliças

Critérios de decisão priorizados na negociação com os produtores de hortaliças

Capacidade desuprimento extra

9%

Prazo depagamento

16%

Freqüênciade entrega

14%

Horáriode entrega

14%

Embalagemadequada

13%

Produtosselecionados

13%

Transporteadequado

11%

Repositorde venda

10%

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jul/set de 20043333333333Revista de conjuntura

A partir desses resultados,passou-se para a estruturação daetapa 2 da pesquisa, que é amontagem da matriz de decisãopara a aplicação do método AHP.Estruturação da matriz decritérios e alternativas para

priorização das exigênciasdos canais de comercializa-ção – Etapa 2

Considerando que a aplicaçãodo Método Analytic HierarchyProcess (AHP) tem sua constru-ção estruturada em três níveis de

hierarquia, que podem ser divididosem quantos subníveis sejam neces-sários (SAATY,1990), e a partirdos resultados encontrados na pri-meira etapa da pesquisa modela-ram-se os critérios e alternativas,conforme apresentado na figura 2.

Identificação dos elementosda Matriz: consiste em identifi-car os elementos que foramutilizados como referência naidentificação das exigências doscompradores de hortaliças, deforma a priorizar os que sãoconsiderados mais importantesna negociação e determinaçãodos preços pagos aos produto-res. Portanto, na aplicação dametodologia, os níveis de hierar-quia foram assim estruturados:

• nível 1 da hierarquia (Meta).Identificar as exigências dos com-pradores para aquisição de produ-tos de hortaliças oriundos de pe-quenas propriedades (agricultura

familiar) que interferem nos preçospagos aos produtores em cada umdos canais de comercialização;

• nível 2 da hierarquia (Crité-rios). Nesta pesquisa, entendidocomo as exigências dos compra-dores para a negociação de com-pras ao produtor. A partir dosresultados da pesquisa com oscompradores na etapa 1, foramselecionados para julgamento osseguintes critérios: Freqüência deEntrega, Horário de Entrega,Embalagem Adequada, ProdutosSelecionados, Prazo de Paga-mento e Transporte Adequado;

• nível 3 da hierarquia (Alter-nativas). Entendido como, a partir

da visão dos compradores e con-siderando todas as condiçõesanalisadas, a predominância des-sas condições nos canais de co-mercialização. Estes canais estãodivididos em: varejistas (super-mercados e hipermercados), ata-cadistas (CEASA-DF), Coopera-tiva de Produtores e Especialista.

Após, identificados e estrutu-rados os critérios e alternativas,partiu-se para a construção eestruturação das matrizes, queforam utilizadas nas entrevistaspara o julgamento dos critérios ealternativas dos compradores deprodutos de hortaliças dos produ-tores de pequena propriedade

Figura 2- Estrutura da Matriz AHP - Exigências do Comprador na Negociação com o Produtor

METAS

EXIGÊNCIAS

CANAIS

Exigências do comprador nanegociação com o produtor

F. entrega H. entrega Embalagem P. seleci. P. pag. Transporte

Varejista CEASA Cooperativa

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jul/set de 20043434343434Revista de conjuntura

Definição Intensidade Explicação

Absoluta 9 Atividade favorecida com absoluto grau de certeza

Muito Forte 7 Atividade favorecida com alto grau de certeza

Forte 5 Atividade fortemente favorecida

Fraca 3 Atividade fracamente favorecida

Igual 1 Duas atividades contribuem igualmente

(agricultura familiar). Para vali-dar a matriz, foi solicitado aos

entrevistados que fizessem umacomparação par a par, utilizando

uma escala de valor apresentadana tabela 2

A modelagem matemática utilizada na avaliação do problema é feita através de comparações paritárias,e é calculada através da seguinte forma matricial (SAATY, 1991):

devendo satisfazer às seguintes condições:

onde: a: comparação paritária entre os critérios; e α: valor de intensidade de importância ou preferência.Tendo-se as importâncias relativas dos critérios e os níveis de preferência das alternativas, parte-se para

a valoração global de cada uma das alternativas, segundo o método da soma ponderada, assim calculado:

com , onde:

V(a) é o valor global dos canais de distribuição analisados;p

j é a importância relativa do critério j; e

vj é o nível de preferência das alternativas no critério j.

Tabela 2- Escala de Valor utilizada na validação do valor.

Fonte: Adaptação de Saaty (1991), Granemann & Figueiredo(2001)

A validação da matriz feitacom os compradores dos seg-mentos varejistas e atacadistasteve como orientação:1. avaliar a predominância de

cada uma das exigências (cri-térios) que influenciaram anegociação dos compradorescom os produtores;

2. considerando cada uma dasexigências isoladamente, avali-ar a predominância dos canaisde comercialização (alternati-vas) para o pequeno produtor;

3. considerando todas as exi-gências (critérios), avaliar ocanal de comercialização(alternativas) predominante

para cada um dos segmen-tos analisados.Para a realização da pesquisa

com o uso do AHP, foram estabe-lecidos os seguintes entendimen-tos no que tange às exigências doscanais de distribuição no processode negociação com os produtores,entendidos da seguinte forma:

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jul/set de 20043535353535Revista de conjuntura

• Produtos Selecionados. Defini-do como sendo as qualidades equantidades físicas em que es-tão relacionados os aspectosque dizem respeito à seleção ea classificação dos produtos.Christopher (1992) e Lavalleet. alii (2003);

• Freqüência de Entrega.Identificada como sendo a quan-tidade de vezes por período detempo em que os mesmos pro-dutores realizam as entregas.Lavalle, et. alii (2003);

• Horário de Entrega. Refere-seao horário em que o produto éagendado e entregue ao com-prador. Figueiredo et. al, (2003)e Lavalle et. al, (2003);

• Embalagem Adequada. Defini-do como sendo o acondiciona-mento em todos os estágios poronde vai passar o produto, des-de as suas colheitas até seu usoou consumo final Dias (1992).

• Prazo de Pagamento. Definidocomo sendo o prazo de paga-mento aos produtores, previa-mente acertado e cumprido

integralmente, ao longo do pro-cesso de comercialização deprodutos. Novais (2001);

• Transporte Próprio Adequado.Definido como sendo o meio detransporte adequado para asentregas nos locais previamen-te estabelecidos para o recebi-mento dos produtos negocia-dos. Figueiredo et. alii, (2003) eDias (1992).

ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os resultados da priorizaçãodas exigências dos comprado-res na comercialização com osprodutores, através da aplica-ção do modelo do AHP, foramrealizados com os responsáveispelas compras de hipermerca-dos, supermercado de médioporte, atacadistas do CEASA,Cooperativa de produtores e,finalmente, um técnico especia-lista em comercialização daEMATER-DF, conforme já foidefinido nos procedimentosmetodológicos. A partir das

análises se obtiveram os resul-tados a seguir.Supermercado de Médio Porte.

Na avaliação do compradorvarejista de médio porte, quantoà predominância das exigênciasse obteve: Produtos Seleciona-dos predominante em 61% so-bre as demais condições, segui-dos de Freqüência de Entrega,com 18%, Horário de Entrega,com 8%, Embalagem Adequa-da, com 7%, Prazo de Paga-mento e Transporte Adequado,com 3%.

No que se refere à predomi-nância das alternativas em fun-ção do conjunto de critérios, ouseja, em qual dos canais essasexigências são predominantes.Na avaliação do varejista médio,predominam com mais intensida-de essas condições primeiramen-te no Mercado Cooperativo deProdutores (52,2%), seguido deMercado Varejista (35,7%) eMercado Atacadista CEASA-DF(12,1%). A figura 3 sintetiza es-ses resultados.

Figura 3- Resultados da Predominância das Exigências para o Comprador de Médios Supermercados

Mercado Atacadista(CEASA)

12,1%

Mercado Varejista35,7%

Mercado Cooperativade Produtores

52,2%

Predominância das Condições no Canal -Varejista de Médio Porte

Freqüênciade entrega

Horárioda entrega

Embalagemadequada

Produtosselecionados

Prazo depagamento

Transporteadequado

18%

8%

7%

61%

3%

3%

Predominância das Condições de Negociação -Varejista de Médio Porte

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HipermercadosPara os compradores de

hipermercados, os resultados ob-tidos são os que se seguem. Pre-dominância das exigências: pre-domina como mais importante aexigência Produtos Selecionados,com 60%, seguido de Horário de

Entrega, com 15%, Freqüênciade Entrega, com 8%, TransporteAdequado, com 7%, EmbalagemAdequada, com 5% e Prazo dePagamento, com 4%.

Na predominância das alterna-tivas considerando o conjunto decondições, indicam no julgamento

dos compradores dos hipermerca-dos que todas as condições predo-minam, primeiramente no Merca-do Varejista (43%), seguido deCooperativa de Produtores(39,8%) e, com menos intensida-de, no CEASA-DF (17,2%.) Afigura 4 sintetiza esses resultados.

Figura 4- Predominância das Condições de Negociação - Hipermercados

Atacadista do CEASA-DFNo julgamento das condições

predominantes para o atacadis-ta do CEASA-DF, predominamas seguintes condições paradecisão de compra: ProdutosSelecionados, com 62%, segui-do de Freqüência de Entrega,

com 15%, Horário de Entrega,com 8%, Transporte Adequado,com 7%, Embalagem Adequa-da, com 5% e Prazo de Paga-mento, com 3%.

Quanto à predominância des-sas condições nos canais, o re-sultado do julgamento do com-

prador atacadista da CEASA-DF, essas exigências têm maispredominância para: Cooperati-va de Produtores (67,5%), se-guida do Mercado Varejista(18,6%) e, com menor exigên-cia, CEASA (14,1%). A figura 5sintetiza esses resultados.

Figura 5- Predominância das Condições de Negociação – Atacadista CEASA-DF

Mercado de Cooperativade Produtores

58,2%

Freqüênciade entrega

Horárioda entrega

Embalagemadequada

Produtosselecionados

Prazo depagamento

Transporteadequado

8%

15%

5%

60%

4%

7%

Predominância das Condições de Negociação -Hipermercados

Mercado Atacadista(CEASA)

15,6%

Mercado Varejista26,3%

Predominância das Condições no Canal -Especialista

Freqüênciade entrega

Horárioda entrega

Embalagemadequada

Produtosselecionados

Prazo depagamento

Transporteadequado

15%

8%

5%

62%

3%

7%

Predominância das Condições de Negociação -CEASA

Mercado de Cooperativade Produtores

67,3%

Mercado Atacadista(CEASA)

14,1%Mercado Varejista

18,6%

Predominância das Condições no Canal -CEASA

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jul/set de 20043737373737Revista de conjuntura

Mercado de Cooperativade Produtores

58,2%

Mercado Atacadista(CEASA)

15,6%

Mercado Varejista26,3%

Predominância das Condições no Canal -Especialista

Cooperativa de ProdutoresNo julgamento do comprador

da Cooperativa de Produtores,predomina como o mais relevan-te dos critérios de decisão Produ-tos Selecionados com 57%, se-guidos de Freqüência de Entrega,com 17%, Horário de Entrega,

com 11%, Embalagem Adequada,com 8%, Transporte Adequado,com 4% e Prazo de Pagamento,com 3%.

No que se refere ao julga-mento desses compradores quan-to à predominância de todas ascondições, os resultados indicam

que essas condições predominammais no mercado de Cooperativade Produtores (78,4%), seguidode Mercado Varejista (11,9%) e,com menor importância, no Mer-cado Atacadista CEASA-DF(9,7%). A figura 6 a seguir sinte-tiza esses resultados.

Figura 6 - Predominância das Condições de Negociação - Cooperativa de Produtores

Especialista da EMATER-DFNo julgamento do especialista

em comercialização, a condiçãopredominante é Produtos Selecio-nados, com 60%, seguidos deFreqüência de Entrega, com11%, Embalagem Adequada, com

10%, Horário de Entrega eTransporte Adequado, com 8% ePrazo de Pagamento, com 3%.

No que diz respeito à predomi-nância das alternativas em funçãode todas as condições para com-pra de produtos, o especialista

considera que essas condiçõespredominam mais no mercadoCooperativa de Produtores(58,2%), seguido de Mercado Va-rejista (26%) e Mercado Ataca-dista CEASA-DF (15,6%). A fi-gura 7 sintetiza esses resultados.

Figura 7- Predominância das Condições de Negociação - Especialista EMATER

Freqüênciade entrega

Horárioda entrega

Embalagemadequada

Produtosselecionados

Prazo depagamento

Transporteadequado

17%

11%

8%

57%

3%

4%Mercado de Cooperativa

de Produtores78,4%

Mercado Atacadista(CEASA)

9,7%Mercado Varejista11,9%

Predominância das Condições no Canal -Cooperativas

Freqüênciade entrega

Horárioda entrega

Embalagemadequada

Produtosselecionados

Prazo depagamento

Transporteadequado

11%

8%

10%

60%

3%

8%

Predominância das Condições de Negociação -Especialista EMATER

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jul/set de 20043838383838Revista de conjuntura

Os resultados aferidos comessa pesquisa permitem inferirque, na avaliação dos comprado-res de hortaliças entrevistados,houve coerência de decisão noque tange à condição predominan-te: ter Produtos Selecionados,seguidos de Freqüência e Horáriode Entrega. No geral, todos oscanais de comercialização elege-ram a condição Produtos Selecio-nados como a mais relevantecondição do processo de negocia-ção com o produtor. Porém, éimportante ressaltar que as de-mais condições, como Embalageme Transporte Adequado, são pré-requisitos essenciais para que oproduto cumpra a exigência pre-dominante e faça chegar ao com-prador produtos selecionados.

1. CONCLUSÕES

A partir dos resultados apre-sentados da pesquisa, é possívelenunciar algumas consideraçõese conclusões sobre as exigênci-as dos canais de distribuiçãopesquisados. Esta pesquisa mos-tra claramente que o conheci-mento das exigências dos canaisde comercialização é essencialpara que o produtor tenha aces-so e possa negociar em cada umdos canais analisados.

Quanto às exigências predo-minantes nos canais de distribui-ção, tiveram predominância Pro-dutos Selecionados, seguidos deFreqüência de Entrega, Horáriode Entrega, Embalagem Adequa-da e Transporte, ou seja, o que ocomprador exige é produto deboa qualidade; cumprida essaexigência, é necessário ter siste-matizado a Freqüência e Horáriode Entrega em Embalagem eTransporte Adequado. Em suma,

exige-se uma boa coordenaçãode toda a cadeia de suprimento.

Um outro fato relevante é aexigência Prazo de Pagamento terum menor grau de relevância, oque permite inferir que a forma depagamento nos vários canais dedistribuição já é uma forma prees-tabelecida, e não tem uma relaçãodireta com o processo de negocia-ção do canal com o produtor.

Evidências observadas nostrês canais de comercializaçãoconfirmam as observações deMaluf (1992) sobre a importânciada organização social da produ-ção no que se refere à comercia-lização de produtos agrícolas.

Quanto ao canal onde essascondições são menos predomi-nantes, houve consenso entreos compradores em indicar aCEASA-DF, como um dos ca-nais onde essas condições sãomenos predominantes, o que éfácil de compreender, pois aCEASA é o canal que se consti-tui com uma estrutura de merca-do de livre concorrência, onde ospreços são regulados pela ofertae demanda dos produtos. Entre-tanto, vale observar que, para oprodutor, dependendo da qualida-de de seus produtos e do horáriode entrega, é o canal em que eleobtém o menor preço pago porseus produtos.

Numa sondagem de preçospagos aos produtores no canal daCooperativa dos Produtores, emque a maioria dos compradoresapontou como o canal em queessas exigências são predominan-tes, analisaram-se preços pagosaos produtores, no ano de 2003,de três produtos (pimentão, ce-noura e beringela), cujo ganhomédio anual desta cesta de produ-tos foi aproximadamente 15%

superior aos preços médios pa-gos no CEASA no mesmo perío-do para essa cesta de produtos.Esta evidência confirma o queZybersztajn (2000) analisa quantoàs formas de inserção da pequenaprodução no mercado, com ques-tões como informação, coordena-ção e a natureza e implicações deinvestimentos para acessar estenovo mercado, inserindo o concei-to de custos de transação.

Entretanto, para garantir eatender a condição Produtos Sele-cionados, é necessário um com-plexo sistema de gestão e de in-formação dos processos, que vãodesde o plantio até o mercadoconsumidor. Isto implica em pro-gramação da produção, de modo aatender as condições de freqüên-cia e de horário de entrega, de em-balagem e de transporte adequa-dos. Todos esses processos exigemprocedimentos sistematizados erelacionados com a logística dedistribuição, que requer, além deboas práticas tecnológicas de plan-tio, condicionamento e integraçãologística com o seu comprador, poisse trata de produtos altamente pe-recíveis, onde, quanto mais rápida avenda após a colheita, melhor qua-lidade terá o produto para o consu-midor. Portanto, a condição essen-cial da movimentação da cadeiaestá no tempo, ou seja, é essencialque produto seja adquirido peloconsumidor final em um menortempo possível. Portanto, coorde-nar uma logística de distribuição dehortaliças é sobretudo integrar to-dos os processos relacionados coma distribuição do produto, que,como argumenta Romano (2001),trata-se de um processo estrutura-do de um conjunto de coordenaçãoe integração de todas as atividadesassociadas ao movimento dos pro-

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jul/set de 20043939393939Revista de conjuntura

dutos, desde o estágio inicial até oconsumidor final, resultando emuma cadeia de suprimentos for-mada por uma estrutura de trêselementos interrelacionados, asaber: diretrizes, coordenação eintegração dos mecanismos.

Em síntese, pode-se inferirque o pequeno produtor de horta-liças tem alguns desafios a ven-

cer: um mercado altamente exi-gente para compra, mas tendotoda a sua formação de preçosbaseada na CEASA-DF, portantoum mercado baseado naflutuação da oferta e demanda.

Neste contexto, entende-seque cumprir as exigências de mer-cado significa uma busca constan-te de aprendizado e de incorpora-

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Economia e Gestão dos Negócios Agroalimentares. São Paulo: Pioneira, 2000.

ção de novas tecnologias, parafazer face as essas exigências epermanecer no mercado garantin-do sua rentabilidade; como afirmaWilkinson (2003), a inserção dopequeno produtor no mercadodependerá das novas formas queele for capaz de encontrar paraagregar valor ao produto a seroferecido no mercado.

* Adelaide dos Santos FigueiredoEconomista com Doutorado em Transportes pela Escola de Engenharia de São Carlos da

Universidade de São Paulo - USP. E-mail: [email protected]

* Geraldo Andrade da SilvaEconomista pela Universidade Católica de Goiás – UCG, com Mestrado em Economia de

Empresas pela Universidade Católica de Brasília – UCB. E-mail: [email protected]

Referências Bibliográficas

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jul/set de 20044040404040Revista de conjuntura

A Constituição Federal de1988, assim como as Constitui-ções Estaduais e todas as LeisOrgânicas Municipais mencio-nam as três primeiras etapas dociclo de gestão, identificando-ascomo integrantes do processode planejamento.

Revestidas na forma de leisde iniciativa do Poder Executivo,as etapas de tal processo são: OPlano Plurianual, as DiretrizesOrçamentárias (expressas naLDO – Lei de Diretrizes Orça-mentárias) e o Orçamento Anu-al. Fechando o ciclo de gestão,há ainda duas etapas, sendoelas: a execução orçamentária,financeira e patrimonial, e aprestação de contas.

No que tange à Lei do Orça-mento Anual, ela está previstano artigo 165 da ConstituiçãoFederal. Chamada abreviada-mente de LOA, tal lei deve serelaborada e enviada ao Legisla-tivo pelos respectivos PoderesExecutivos de cada esfera go-

A R T I G O

Aspectos gerais daLei Orçamentária Anualpara 2005

Max Leno de Almeida *

A Constituição Federal de 1988, assim como as Constituições Estaduais e todas as Leis OrgânicasMunicipais mencionam as três primeiras etapas do ciclo de gestão, identificando-as como integrantes doprocesso de planejamento.

Revestidas na forma de leis de iniciativa do Poder Executivo, as etapas de tal processo são: O PlanoPlurianual, as Diretrizes Orçamentárias (expressas na LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias) e o Orça-mento Anual. Fechando o ciclo de gestão, há ainda duas etapas, sendo elas: a execução orçamentária, fi-nanceira e patrimonial, e a prestação de contas.

No que tange à Lei do Orçamento Anual, ela está prevista no artigo 165 da Constituição Federal. Cha-mada abreviadamente de LOA, tal lei deve ser elaborada e enviada ao Legislativo pelos respectivos Pode-res Executivos de cada esfera governamental até 31 de agosto de cada ano (art.35, parágrafo 2º, III,ADCT1), ou conforme determinar cada Constituição Estadual ou Lei Orgânica Municipal.

Uma das principais finalidades dessa lei consiste em estabelecer, para o período de 1 (um) ano, a discrimi-nação da receita e despesa, de forma a evidenciar a política econômico-financeira bem como o programa detrabalho do governo, obedecendo-se aos princípios da unidade, universalidade e anualidade2.

A LOA é, assim, de iniciativa do Poder Executivo e estima a receita como também fixa a despesa da admi-nistração pública, sendo elaborada em um exercício para, depois de aprovada pelo Poder Legislativo, vigorarno exercício seguinte. Vale lembrar que tanto a dívida pública como o seu refinanciamento também devemconstar na LOA.

Outro detalhe importante é que a LOA deve estar de acordo com a orientação geral estabelecida pelaLDO, e compreende:• o Orçamento Fiscal, que se refere ao orçamento dos Poderes do ente federado, seus fundos, órgãos e enti-

dades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público;• o Orçamento de Investimento, que se refere ao orçamento de investimento das empresas em que o ente

federado, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto;• o Orçamento da Seguridade Social, que abrange todas as entidades, fundos e fundações da administração

direta e indireta, instituídos e mantidos pelo Poder Público, vinculados à Seguridade Social.Após o envio por parte do Executivo, o Legislativo tem até o final da sessão legislativa do exercício que antecede

a entrada em vigor da proposta orçamentária para apreciá-la. Os parlamentares podem fazer emendas ao projeto delei do Executivo ou aos anexos dos quais faz parte o programa de trabalho, com as respectivas previsões de despe-sas. Havendo emendas, devem ser indicados de qual dotação orçamentária os recursos vão ser retirados e paraonde serão destinados, sendo que os parlamentares não têm poder para movimentar recursos destinados a despesascom pessoal e encargos sociais, pagamento da dívida e transferências de recursos determinadas pela Constituição.

A mensagem presidencial do projeto de lei orçamentária do ano de 2005 traz, além dos anexos, muitas in-formações que possibilitam a verificação dos principais elementos constitutivos do orçamento de 2005, sendo

Max Leno de Almeida *

A Constituição Federal de1988, assim como as Consti-tuições Estaduais e todas asLeis Orgânicas Municipaismencionam as três primeirasetapas do ciclo de gestão,identificando-as como inte-grantes do processo de pla-nejamento.

Revestidas na forma deleis de iniciativa do PoderExecutivo, as etapas de talprocesso são: O PlanoPlurianual, as Diretrizes Or-çamentárias (expressas naLDO – Lei de Diretrizes Or-çamentárias) e o OrçamentoAnual. Fechando o ciclo degestão, há ainda duas etapas,sendo elas: a execução orça-mentária, financeira epatrimonial, e a prestação decontas.

No que tange à Lei doOrçamento Anual, ela estáprevista no artigo 165 daConstituição Federal. Chama-da abreviadamente de LOA,tal lei deve ser elaborada eenviada ao Legislativo pelosrespectivos Poderes Executi-vos de cada esfera governa-mental até 31 de agosto decada ano (art.35, parágrafo2º, III, ADCT1), ou conforme

vernamental até 31 de agosto decada ano (art.35, parágrafo 2º,III, ADCT1), ou conforme deter-minar cada Constituição Estadu-al ou Lei Orgânica Municipal.

Uma das principais finalidadesdessa lei consiste em estabelecer,para o período de 1 (um) ano, adiscriminação da receita e despe-sa, de forma a evidenciar a políti-ca econômico-financeira bemcomo o programa de trabalho dogoverno, obedecendo-se aos prin-cípios da unidade, universalidadee anualidade2.

A LOA é, assim, de iniciativado Poder Executivo e estima areceita como também fixa a des-pesa da administração pública,sendo elaborada em um exercíciopara, depois de aprovada peloPoder Legislativo, vigorar noexercício seguinte. Vale lembrarque tanto a dívida pública como oseu refinanciamento também de-vem constar na LOA.

Outro detalhe importante éque a LOA deve estar de acordo

com a orientação geral estabele-cida pela LDO, e compreende:• o Orçamento Fiscal, que se

refere ao orçamento dos Pode-res do ente federado, seus fun-dos, órgãos e entidades da ad-ministração direta e indireta,inclusive fundações instituídas emantidas pelo Poder Público;

• o Orçamento de Investimento,que se refere ao orçamento deinvestimento das empresas emque o ente federado, direta ouindiretamente, detenha a maio-ria do capital social com direitoa voto;

• o Orçamento da SeguridadeSocial, que abrange todas asentidades, fundos e fundaçõesda administração direta e indi-reta, instituídos e mantidos peloPoder Público, vinculados àSeguridade Social.

Após o envio por parte do Exe-cutivo, o Legislativo tem até o finalda sessão legislativa do exercícioque antecede a entrada em vigorda proposta orçamentária para

1 Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.2 Princípio da unidade – todas as receitas e despesas devem compor um único orçamento. Princípio da Universalidade – todas as despesas e receitas do

governo devem ser obrigatoriamente consideradas. Princípio da anualidade – o orçamento deve valer para o período de um ano.

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jul/set de 20044141414141Revista de conjuntura

apreciá-la. Os parlamentares po-dem fazer emendas ao projeto delei do Executivo ou aos anexos dosquais faz parte o programa de tra-balho, com as respectivas previ-sões de despesas. Havendo emen-das, devem ser indicados de qualdotação orçamentária os recursosvão ser retirados e para onde serãodestinados, sendo que os parlamen-tares não têm poder para movi-mentar recursos destinados a des-pesas com pessoal e encargos so-ciais, pagamento da dívida e trans-ferências de recursos determina-das pela Constituição.

A mensagem presidencial doprojeto de lei orçamentária doano de 2005 traz, além dos ane-xos, muitas informações que pos-sibilitam a verificação dos princi-pais elementos constitutivos doorçamento de 2005, sendo eles:• cenário macroeconômico

(em atendimento ao dispostona LDO);

• resumo da política econômicado governo;

• políticas setoriais de desenvol-vimento;

• políticas sociais;• receita;• pessoal e encargos sociais;• sistemas previdenciários;• dívida pública federal;• agências financeiras oficiais

de fomentoNa parte relativa ao cenário

macroeconômico, o projeto de leiorçamentária traz um retrospectodos principais indicadores, resga-tando-se, inclusive, as dificulda-des enfrentadas no ano de 2003,no qual o Brasil enfrentou umaincômoda conjuntura econômica,reflexo da crise iniciada no se-gundo semestre de 2002.

Segundo ainda tal mensagem,o desempenho macroeconômico

no ano de 2004 vem sendo mar-cado por um conjunto de indica-dores favoráveis à economia bra-sileira, tanto no que diz respeito àevolução do nível geral de preçosmedido pelo IPCA (Índice dePreços ao Consumidor Amplo),como também em relação àscontas de transações correntesdo Balanço de Pagamentos, as-sociado ainda ao fato de que osdados sobre a atividade econômi-ca sinalizam para um crescimen-to significativo do PIB neste ano.

O governo, além disso, come-mora o significativo incrementoverificado nas vendas do comér-cio, a elevação na produção in-dustrial e a criação de empregosem alta. No tocante aos níveisde emprego, é válido lembrarque tal crescimento vem sendofortemente influenciado pelodesempenho positivo das expor-tações, sobretudo no setor deagronegócios, onde a demandapor mão-de-obra é reduzida emfunção da alta mecanização atu-almente existente e difundida emtodo o campo.

Na parte que retrata o resumoda política econômica do gover-no, nota-se que a grande preocu-pação continua sendo a manuten-ção da estabilidade econômica.Não se pode esquecer, no entan-to, que tal objetivo poderá esbar-rar em um eventual aumento nademanda agregada, bem como nalimitação da capacidade instaladadas indústrias, resultando, assim,em um maior controle da eleva-ção dos preços a partir do instru-mento das metas de inflação.Com isso, naturalmente, poderáocorrer uma redefinição dos ru-mos da política monetária e fis-cal, vindo a se tornar ainda maisrestritiva para os próximos me-

ses, com eventual reflexo naspretensões de crescimento eco-nômico mais duradouras ou mes-mo mais audaciosas para os pró-ximos anos.

Analisando-se a evolução dasprojeções de variáveis macroeco-nômicas, nota-se que, primeira-mente, o valor do PIB para 2004foi revisto para 3,8%, já que naLOA 2004 a estimativa era deum crescimento na ordem de4%. Quanto ao ano de 2005, in-fluenciado pelo aumento das ex-portações e também dos investi-mentos, a estimativa é de que ocrescimento do PIB se situe emtorno de 4%. Dessa maneira, oPIB nominal esperado é de R$1.849.755,3 milhões. Vale lem-brar que toda frustração em ter-mos de crescimento é danosa àscontas públicas, pois as receitaspodem crescer menos que o es-perado. Para se ter uma idéia,grosso modo, cada ponto de per-centagem de crescimento a me-nos, pode implicar perda em tor-no de R$ 3,5 bilhões em 20053.

Quanto à inflação, eis um pontoa que o governo vem dando bas-tante ênfase. Naturalmente, dentreoutros fatores, ela estará condicio-nada ao aumento dos preços dopetróleo em nível internacional elocal e às oscilações na taxa decâmbio, sendo que a grande apostado governo reside nos resultadosfiscais previstos, bem como nossuperávits comerciais e de transa-ções correntes esperados.

Vale salientar que o próprioBanco Central, por conta de taisindefinições no campo internacio-nal e pela pressão do “potencial”repasse dos preços do atacadopara o varejo (relativamente previ-sível em um cenário de retomadado crescimento econômico), já

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jul/set de 20044242424242Revista de conjuntura

cogita em um aumento de preçosacima da meta central de 4,5%estabelecida para o ano de 2005, játrabalhando, assim, com o objetivode atingir uma inflação de 5,1% nopróximo ano4, sinalizando, também,segundo a última ata do Copom,que precisará ser ainda menostolerante em relação a choquesque ameacem tornar a inflaçãomaior do que a sua meta, o queeventualmente poderá trazer refle-xos na dinâmica da taxa de jurosda economia, com impactos nosdemais indicadores econômicos.

O governo trabalha tambémcom o equilíbrio das contas pú-blicas, apostando na queda donível de endividamento do Go-verno. Para se ter uma idéia, ameta de superávit primário5 doGoverno Central, prevista noProjeto de Lei do OrçamentoFiscal e da Seguridade Socialpara 2005, havia sido fixada naLDO em 2,45% do PIB6, o quecorresponderia a R$ 45,32 bi-lhões. Inicialmente, a meta geralacertada com o Fundo Monetá-rio Internacional era poupar pelomenos R$ 71,5 bilhões7 em 2004,

para pagar os juros da dívida.Com o aumento da meta recente-mente divulgado, de 4,25% para4,50% do PIB, o esforço fiscaldo governo terá um valor adicio-nal estimado entre R$ 4,2 bilhõese R$ 4,3 bilhões, montante esseque corresponde a um poucomais de 22 vezes o orçamentodeste ano do programa PrimeiroEmprego (R$ 188 milhões).

Quanto aos juros, a taxaSELIC média esperada apresen-tou uma ligeira variação em rela-ção à previsão da LDO de 2005,passando de 12,5% para 13,5%,frente aos 15,9% reprogramadospara o ano de 2004. Ou seja, em-bora decrescente, nota-se umaperto para 2005, ao se efetuar acomparação com as expectativastraçadas quando da elaboraçãoda LDO 2005. (Ver tabela 01)

Uma das grandes novidadespresentes na LDO/2005 e tam-bém constante na LOA de 2005diz respeito à questão do saláriomínimo. Após a correção peloINPC, o valor implícito na pro-posta para o ano que vem é deR$ 281,29, sendo superior em

8,2% ao valor atual de R$260,00. Esse aumento de R$21,29 é o resultado da variaçãoesperada de 5,54% para o INPCnos 12 meses anteriores ao mêsde maio de 2005, conjugada auma expectativa de crescimentodo PIB real per capita de 2,5%.

Assim, a partir dos parâme-tros apresentados na tabela 1,bem como por conta dos seusefeitos sobre a economia e asfinanças do Governo, estima-seque o valor total da proposta or-çamentária para 2005 será de R$1.616,6 bilhões (incluindo-se oorçamento de Investimento dasEmpresas Estatais, no valor deR$ 35,8 bilhões), sendo que, des-se total, R$ 935,38 bilhões têmefeito meramente contábil, poisse referem ao refinanciamento(rolagem) da dívida públicamobiliária federal9.

Quanto à receita primária10,estima-se que ela seja de R$457,4 bilhões, o que representaaproximadamente 24,73% do PIB,sendo, dessa forma, 11,4% supe-rior, em termos nominais, à receitareprogramada do ano de 2004. Tal

3 Ver Nota Técnica nº 04, de 2004, da Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados.4 A inflação medida pelo IPCA está em 5,14% entre janeiro e agosto desse ano. Outro detalhe é que a margem de intervalo permanece em 2,5 pontos

percentuais para cima ou para baixo da meta central.5 O Superávit Primário é a diferença entre gastos e receitas do governo. Essa economia de recursos é geralmente usada para pagar juros da dívida pública.6 O Superávit Primário de 4,25% representa a soma do resultado primário do Governo Central (2,45%), das Empresas Estatais Federais (0,70%) e dos

Estados e Municípios (1,10%).7 Nesse caso, leva-se em consideração o percentual de Superávit Primário como um todo (4,25%).8 Outros itens que compõem a Receita Financeira são: Emissão líquida de Títulos (R$ 94,6 bilhões), Remuneração das Disponibilidades do Tesouro (R$ 20

bilhões) e Outras (R$ 73,5 bilhões).9 É importante destacar que parte da dívida vence a prazos muito curtos, sendo preciso, assim, emitir novos títulos para substituir os que vão vencendo. A

Lei n° 4.320/64 estabelece também que todas as receitas precisam estar previstas no orçamento.10 As receitas primárias são compostas de: Receita Administrada (tributárias e contribuições sociais), não administrada (concessões, dividendos, cota parte de

compensações financeiras, salário-educação e Receitas Próprias/ demais receitas), Arrecadação líquida do INSS e Incentivos Fiscais.

Tabela 01 – Evolução das projeções de Variáveis Macroeconômicas

Fonte: Projeto de Lei Orçamentária – 2005

Variável macroeconômica 2004 LDO 2005 Projeção 2005

Crescimento do PIB – taxa % de crescimento anual 3,80 4,00 4,00

IPCA - % de variação acumulada no ano 6,73 4,50 4,50

Taxa de Câmbio R$/US$ - média anual 3,02 3,24 3,16

Taxa SELIC anual – taxa % média 15,92 12,52 13,47

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jul/set de 20044343434343Revista de conjuntura

comportamento foi influenciadopela elevação prevista em termosnominais da receita administrada,que, segundo as projeções, subiráde R$ 281,0 bilhões para R$ 302,3bilhões, ou seja, R$ 21,3 bilhões amais nos cofres públicos.

Apesar desse incremento, emtermos de participação percentualdo PIB projeta-se que haverá umaqueda do patamar de 16,76% para16,34%. Tal comportamento, en-tretanto, não ocorrerá, segundo asestimativas, no caso da arrecada-

ção líquida do INSS e também dasreceitas não administradas, queterão tanto uma elevação na parti-cipação do PIB, como tambémincrementos nominais, de R$ 14,5bilhões, e R$ 10,8 bilhões, respec-tivamente. (Ver tabela 02)

A mensagem presidencialconstante no Orçamento daUnião de 2005 estabelece aindaa pretensão governamental deredução da carga tributária deaproximadamente R$ 7,6 bilhões(0,41% do PIB), a partir de medi-das de desoneração tributária,especialmente sobre bens de ca-pital e poupança de longo prazo.(Ver tabela 03)

A implementação de taismedidas de desoneração tribu-

tária ao longo de 2004 e 2005está sendo possibilitada pelobom desempenho da arrecada-ção, justificado pelo governocom o combate à sonegação ea eficiência na fiscalização,sendo que a pretensão é que areceita administrada pela Se-cretaria da Receita Federal,que representa a parcela dasreceitas decorrentes de tribu-tos, retorne em 2005 ao pata-mar observado em 2002, que

ficou próximo a 16,34% doPIB. Não se pode esquecer, noentanto, que o Brasil apresentauma das mais volumosas car-gas tributárias, comparativa-mente a outros países. Segun-do estimativas, ela representaatualmente algo em torno de37% do PIB, sendo que a mag-nitude da carga tributária totaljá chegou a alcançar 35,2% doPIB em 2002 e 35,68% do PIBem 2003.

Medidas 2005

Tabela 02 – Composição da Receita Total

Fonte: Projeto de Lei Orçamentária – 2005

Tabela 03 - Principais Medidas de redução da carga tributária para o ano de 2005

Fonte: Projeto de Lei Orçamentária – 2005

R$ milhões

Medidas 2005

Redução de alíquota do IPI sobre bens de capital (Dec.nº 5173/04) - 459

Redução de alíquota do IOF sobre seguros de vida (Dec. nº 5172/04) - 118

Alíquota zero de PIS/COFINS para produtos relacionados (Lei nº 10.925/04) -3.692

Alíquota zero de PIS/COFINS sobre receitas financeiras (Dec.nº 5164/04) -123

Receitas decorrentes das atividades econômicas relacionadas, que permanecem noregime de não cumulatividade do PIS/COFINS - 824

Alongamento do prazo e redução de alíquota incidente sobre aplicações financeiras - 1.917

Mudança da sistemática de tributação dos planos de benefícios previdenciários -450

TOTAL -7.583

DiscriminaçãoRealizado/03 Reprogramado/04 PL 2005

R$ milhões % PIB R$ milhões % PIB R$ milhões % PIB

Receita Primária Total 357,8 23,62 410,6 24,71 457,4 24,73

• Receita Administrada 242,9 16,03 281,0 16,76 302,3 16,34

• Arrecadação líq.INSS 80,7 5,33 93,2 5,56 107,7 5,82

• Receitas não Admin. 32,7 2,16 34,7 2,29 45,5 2,46

• FGTS 1,7 0,11 2,0 0,12 2,2 0,12

• Incentivos fiscais -0,2 -0,01 -0,3 -0,02 -0,3 -0,01

Receitas Financeiras 508,4 33,56 1.042,1 62,19 1.123,4 60,73

Receita Total 866,2 57,18 1.452,7 86,69 1.580,8 85,46

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jul/set de 20044444444444Revista de conjuntura

Analisando-se sob a ótica dadespesa, percebe-se que uma dasgrandes contas, os benefícios pre-videnciários, totalizarão R$ 137,6bilhões, significando uma variaçãode 12,4% em relação ao ano de

2004 (reprogramado). Tal despe-sa, inclusive, terá maior repercus-são frente às demais despesas noque tange à apropriação do au-mento da receita líquida, já queserão mais de R$ 15 bilhões a

serem direcionados para atender atal fim. Ainda assim, estima-se umdéficit de R$ 29,9 bilhões, mesmocom o financiamento de R$ 107,7bilhões provenientes da arrecada-ção do INSS.

Tabela 04 – Apropriação do Adicional da Receita Líquida

Fonte: Projeto de Lei Orçamentária – 2005

Quanto às demais despesas,estima-se que as transferênciasconstitucionais e legais a Estadose Municípios serão de aproxima-damente R$ 69,9 bilhões, o querepresentará um crescimento de

12,4% comparativamente ao va-lor de 2004 reprogramado (R$62,3 bilhões). Em relação às Ou-tras Despesas de Custeio e Capi-tal, somando-se, no caso, o Exe-cutivo, o Legislativo, o Judiciário

e o MPU, projeta-se que o gastototal fique cerca de R$ 12,7 bi-lhões superior ao valor de 2004,tendo a sua participação em rela-ção ao PIB aumentada de 6,05%para 6,18%. (Ver tabela 05)

Fonte: Projeto de Lei Orçamentária – 2005(1) Valores compatíveis com a estimativa do terceiro bimestre.

Tabela 05 – Síntese do Orçamento para o ano de 2005

Discriminação 2004 2005 Variação 2005-2004R$ bilhões R$ bilhões R$ bilhões %

Aumento da Receita Líquida 348.322,7 387.462,3 39.139,6 11,2Apropriação na Despesa 348.322,7 387.462,3 39.139,6 11,2

Pessoal e Encargos Sociais 83.138,0 90.344,6 7.206,6 8,7Benefícios da Previdência 122.392,6 137.550,8 15.158,2 12,4Outras Despesas de Custeio e Capital 101.705,5 114.247,9 12.542,4 12,3

Executivo 98.030,5 109.686,9 11.656,4 11,9Legislativo/ Judiciário e MPU 3.675,0 4.561,0 885,9 24,1

Resultado Primário 41.086,6 45.319,0 4.232,4 10,3

Discriminação2003 2004 (1) 2005

R$ bilhões % PIB R$ bilhões % PIB R$ bilhões % PIB

I. RECEITAS 357,0 23,57 410,7 24,49 457,4 24,73

II. Transferências – Repartição de Receita 56,9 3,76 62,3 3,71 69,9 3,78

III. Receita Líquida (I – II) 300,0 19,81 348,5 20,78 387,5 20,95

IV. DESPESAS 260,8 17,21 307,2 18,32 342,1 18,50

IV.1. Pessoal e Encargos Sociais 75,8 5,00 83,3 4,97 90,3 4,88

IV.2. Benefícios da Previdência 105,3 6,95 122,4 7,30 137,6 7,44

IV.3. Outras despesas de Custeio e Capital 79,7 5,25 101,5 6,05 114,2 6,18

Executivo 77,0 5,07 97,9 5,84 109,7 5,93

Legislativo/ Judiciário e MPU 2,8 0,18 3,7 0,22 4,6 0,25

V. Discrepância Estatística -0,5 -0,04 -0,2 -0,01 0,0 0,00

VI. Resultado Primário – Fiscal e Seguridade (III – IV + V) 38,7 2,56 41,1 2,45 45,3 2,45

VII. Resultado Primário – Estatais 9,6 0,63 12,0 0,70 12,9 0,70

VIII. Resultado Primário – Estados e Municípios 17,8 1,18 18,4 1,10 20,3 1,10

IX. Resultado Primário – Consolidado (VI + VII + VIII) 66,1 4,37 71,6 4,25 78,6 4,25

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jul/set de 20044545454545Revista de conjuntura

A proposta para 2005 contem-pla ainda uma previsão de inves-timentos nos orçamentos fiscal eda Seguridade Social de R$ 11,5bilhões que, confrontando-se como previsto na LOA 2004, repre-sentaria uma queda de mais de7%. No entanto, há um valor re-servado para o acolhimento deemendas parlamentares, de R$2,8 bilhões. Dessa forma, os in-vestimentos poderão alcançar umvalor superior a R$ 14 bilhões.Em relação ao orçamento de in-vestimento das empresas estataisfederais, está previsto para o anode 2005 um valor de R$ 35,8 bi-lhões11, sendo superior em cercade 8,5% ao valor da LOA de2004 (R$ 33 bilhões).

Os valores referentes aosjuros e encargos da Dívida Públi-ca integram o Quadro das Ne-cessidades de Financiamento doGoverno Central, constantes tam-bém da Mensagem que encami-nhou o Projeto de Lei do Orça-mento para o ano de 2005. Nesseaspecto, a despesa com jurosnominais do Governo Federalprevista para 2005 (incluindo oBanco Central) é de R$ 80,3 bi-lhões, ou seja, aproximadamente7% superior ao valor estabeleci-do para 2004 reprogramado (R$75,1 bilhões).

Vale uma consideração im-portante, constante no informa-tivo da COFF/CONORF12, quedestaca o fato de que essesvalores referentes aos juros sãocalculados não apenas sobre as

dívidas mobiliária e contratualdo Tesouro Nacional, mas tam-bém sobre a dívida do BACEN,descontados destas os créditosque estes entes têm contra osetor privado e o valor das re-servas cambiais. São, assim,juros líquidos (juros ativos me-nos juros passivos), e são cal-culados pelo regime de compe-tência13, considerando, portanto,os juros incorridos, ainda quenão tenham sido pagos.

O mesmo informativo aindaesclarece que tais valores dife-rem dos constantes da propostaorçamentária para 2005, indica-dos em R$ 110,8 bilhões, pois: a)estes valores são computados emregime de caixa14; b) referem-seapenas à dívida mobiliária federale contratual de responsabilidadedo Tesouro Nacional; e c) nãosão deduzidos dos juros a seremrecebidos pelo Governo.

Outro dispêndio importanteconsiste na despesa obrigatóriade Pessoal e Encargos Sociais.Nota-se que o valor constante noDemonstrativo de Resultado Pri-mário é de R$ 90,3 bilhões. En-tretanto, no texto da Mensagem,consta a estimativa de R$ 97,1bilhões, como reforça também oinformativo da COFF/CONORFcitado anteriormente. Segundo aSOF, a diferença deve-se ao fatode a contribuição patronal tersido registrada como despesafinanceira, no total de R$ 6,8 bi-lhões, sendo, no entanto, de res-ponsabilidade da União.

Sendo assim, levando-se emconsideração o total geral de R$97,1 bilhões, e confrontando-secom os valores compatíveis coma estimativa do 3º bimestre de2004, de R$ 83,3 bilhões nessecaso, o crescimento dessa despe-sa é de 16,57%, ao passo que, seconsiderarmos o valor de R$ 90,3bilhões, quer dizer, excluída aparcela relativa à contribuiçãopatronal de responsabilidade daUnião, o incremento é de 8,40%.

Vale observar, inclusive, que,em relação à projeção do total dadespesa para o exercício de 2004,ocorreu um crescimento de 10,6%devido à concessão de reajustes eàs novas contratações ocorridasneste exercício. A mensagem pre-sidencial destaca, ainda, que osgastos do Poder Legislativo repre-sentam 4,6% do total, os do PoderJudiciário e Ministério Público daUnião, 14,5%, e os do Poder Exe-cutivo, 80,9%.

Nesse item de despesa, cabeobservar que há uma previsibili-dade em termos de contrataçãode mais de 49.000 novos cargos,empregos e funções por conta doconsiderável número de aposen-tadorias registrados nos últimosanos, associado também ao fatode que boa parte da força de tra-balho está sendo composta porpessoal terceirizado.

Dessa forma, mais de 22 milnovas vagas previstas destinam-se ao provimento de cargos, em-pregos e funções dos PoderesLegislativo, Judiciário e MPU

11 Computados, nesse caso, os investimentos do Grupo Petrobrás no exterior, no valor de R$ 7.121 milhões.12 Informativo conjunto COFF/CONORF, de 08/09/2004 – “Principais aspectos e parâmetros básicos do Projeto de Lei Orçamentária Anual para 2005 (PL

nº 51/04)” – Consultoria de Orçamentos, Fiscalização e Controle do Senado Federal e Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmarados Deputados.

13 Critério para contabilização que registra o fato econômico ou financeiro tendo em vista a data a que ele se refere.14 Critério para contabilização que registra o fato econômico ou financeiro na data em que ocorreu o pagamento/recebimento.

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jul/set de 20044646464646Revista de conjuntura

(Ver tabela 06), e mais de 27 milse refere ao provimento de car-gos, empregos e funções do Po-der Executivo. (Ver tabela 07).

Desse modo, as dotações or-çamentárias para tal fim são nototal de R$ 955,8 milhões, sendoR$ 515,9 milhões destinados ao

provimento de cargos nos Pode-res Legislativo, Judiciário e MPUe R$ 439,9 referentes ao PoderExecutivo. (Ver tabelas 6 e 7)

Tabela 06 – Provimento de Cargos, Empregos e Funções – Poderes Legislativo, Judiciário e MPU

Tabela 07 – Provimento de Cargos, Empregos e Funções – Poder Executivo

Fonte: Anexo V do Projeto de Lei Orçamentária de 2005.Obs.: O provimento pode ser em relação aos cargos e funções vagos, criados ou transformados.- As quantidades estabelecidas, segundo o anexo V, estão limitadas aos números expressos na última coluna.

Fonte: Anexo V do Projeto de Lei Orçamentária de 2005.Obs.: O provimento pode ser em relação aos cargos e funções vagos, criados ou transformados.- As quantidades estabelecidas, segundo o anexo V, estão limitadas aos números expressos na última coluna.

Poderes Dotação orçamentária (em R$) Quantitativo de cargos e funções

1 - Poder Legislativo

1.1 – Câmara dos Deputados 41.613.000,00 288

1.2 – Senado Federal 37.798.715,00 325

1.3 – Tribunal de Contas da União 12.293.664,00 170

TOTAL 91.705.379,00 783

2 - Poder Judiciário

2.1 – Supremo Tribunal Federal 12.408.287,00 287

2.2 – Superior Tribunal de Justiça 23.000.000,00 602

2.3 – Justiça Federal 98.322.666,00 7.043

2.4 – Superior Tribunal Militar 2.803.370,00 65

2.5 – Justiça Eleitoral 90.000.000,00 3.862

2.6 – Justiça do Trabalho 97.446.703,00 6.538

2.7 – Justiça do DF e Territórios 2.240.176,00 63

TOTAL 326.221.202,00 18.460

3 - Ministério Público da União 98.000.000,00 2.765

TOTAL GERAL 515.926.581,00 22.008

Poderes Dotação orçamentária Quantitativo de(em R$) cargos e funções

1 - Poder Executivo 439.864.669,00

1.1 – Auditoria e Fiscalização 1.090

1.2 – Gestão e Diplomacia 1.232

1.3 – Jurídica 989

1.4 – Defesa e Segurança Pública 3.584

1.5 – Cultura, Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia 3.055

1.6 – Seguridade Social, Educação e Esportes 13.911

1.7 – Regulação do Mercado, dos Serviços Públicose do Sistema Financeiro 2.600

1.8 – Indústria e Comércio, Infra-Estrutura, Agricultura eReforma Agrária 1.458

TOTAL 439.864.669,00 27.919

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jul/set de 20044747474747Revista de conjuntura

O governo, em sua mensagempresidencial, exalta, adicionalmente,que uma das ações relativas àconstituição de quadros de pessoal,ingressos e política remuneratóriaestá associada ao fato de reforçara agenda do sistema meritocrático,mediante a instituição de gratifica-ção por desempenho, reestrutura-ção de carreiras e revisão de re-munerações e de gratificações noâmbito dos Poderes Legislativo,Executivo, Judiciário e no Ministé-rio Público da União.

Isto sinaliza para as eventuaispretensões em relação à políticade reajustes para o ano de 2005,pois o anexo V, que mostra asautorizações específicas de quetrata o artigo 85 da Lei nº

10.934, de 11 de agosto de 2004,para atendimento ao disposto noartigo 169, § 1º, inciso II daConstituição, sinaliza para a al-teração da estrutura de carreirasem todos os Poderes, bem comoestabelece limites de recursos aserem destinados à continuidadeou ainda ao próprio estabeleci-mento de reestruturação da re-muneração de cargos ou planosde carreiras específicos.

Ademais, no âmbito do PoderExecutivo, por exemplo, a preten-são é dar continuidade à revisãodas estruturas salariais dos car-gos e carreiras. Para tanto, esti-ma-se um volume de recursos demais de R$ 1 bilhão, justamentecom o objetivo de prosseguir com

essa revisão em algumas catego-rias funcionais. (Ver tabela 08)

No âmbito dos Poderes Legis-lativo e Judiciário, merece desta-que, também, a aprovação de leisque concederão reajustes e pro-moverão adequações nos planosde carreira dos servidores dosrespectivos Poderes, bem comodo Ministério Público da União.

Nota-se, inclusive, que as alte-rações de estrutura de carreirasdos Poderes Legislativo, Judiciá-rio e MPU consistem em dartambém continuidade aos proces-sos de reestruturação já existen-tes. Ou seja, os efeitos financei-ros decorrentes da aprovaçãodas leis que tratam de tais ques-tões podem ser percebidos já a

Tabela 08 - Alteração de Estrutura de Carreiras do Poder Executivo

Fonte: Anexo V do Projeto de Lei Orçamentária de 2005.Obs.: Total de Recursos a serem destinados para tal finalidade: R$ 1.024.764.628,00

Dotação orçamentária (em R$) Finalidade Cargos436.435.553,00 Continuidade da • Plano de Classificação de Cargos

reestruturação • Agência Nacional de Vigilância Sanitáriada remuneração • Agência Nacional de Águasde cargos • Carreiras da área de Ciência e Tecnologia

• Carreiras da área de Fiscalização• Carreiras da área de Gestão• Carreiras da área Jurídica• Carreiras da área de Previdência• Carreiras da área de Regulação

588.329.075,00 Reestruturação • Plano de Classificação de Cargosda remuneração • Carreiras das áreas de Agriculturade cargos • Carreiras das áreas de Reforma Agrária

• Carreiras das áreas de Auditoria e Fiscalização• Carreiras da área de Regulação e fiscalização do Sistema Financeiro• Carreiras de Ciência e Tecnologia• Carreiras da área de Educação• Carreiras da área de Gestão e Diplomacia• Carreiras da área de Inteligência• Carreiras da área Jurídica• Carreiras da área de Previdência• Carreiras da área de Regulação• Carreiras da área de Seguridade Social e Trabalho• Carreiras da área de Tecnologia Militar

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jul/set de 20044848484848Revista de conjuntura

partir do ano de 2004. Porém, aMensagem Presidencial queacompanha o Projeto de Lei Or-çamentária destaca que o impac-to orçamentário anual dessesplanos consta também da Pro-posta Orçamentária para 2005.

Assim, no total, a dotação pre-vista para os Poderes Legislativo,Judiciário e MPU para tais finsperfaz o total de mais de R$ 1,4bilhão, sendo que para o Poder

Legislativo está previsto um volu-me de recursos superior a R$ 319milhões, sendo que grande parteserá direcionada para o Plano deCarreira do Senado Federal (R$295,4 milhões), ficando o restante(R$ 24,2 milhões) para dar conti-nuidade ao processo de reestrutu-ração de carreira do Tribunal deContas da União. (Ver tabela 09)

Ao Poder Judiciário o valortotal previsto é de mais de R$ 1

bilhão, a serem destinados, inclu-sive, para elevação de Gratifica-ção de Atividade Judiciária. Nocaso, o maior quantitativo de re-cursos terá como destino a Justi-ça do Trabalho (R$ 509 milhões),seguido pela Justiça Federal (R$283 milhões). Já no que tange àprevisão de recursos para o Mi-nistério Público da União, a esti-mativa é de R$ 42,6 milhões.(Ver tabela 09)

Tabela 09 - Alteração de Estrutura de Carreiras dos Poderes Legislativo e Judiciário e MPU

Fonte: Anexo V do Projeto de Lei Orçamentária de 2005.

Nesse aspecto, o incrementototal previsto para a despesa compessoal é de aproximadamente 7bilhões, desconsiderando-se, nes-se caso, a despesa de R$ 6,8 bi-lhões relativa à contribuição pa-tronal de responsabilidade daUnião. Subtraindo-se o provimen-to de cargos, empregos e fun-ções, bem como as admissões oucontratações de pessoal cujo gas-

to estimado é de R$ R$ 955,7milhões nos Três Poderes e noMPU, e ainda deduzindo-se ovalor estimado para alteração deestrutura de carreiras, no total deR$ 2.443,3 milhões, nota-se que adiferença é de aproximadamenteR$ 3,6 bilhões.

Uma aposta que está em jogo,além das previsões de gasto compessoal já mencionadas anterior-

mente, é a possibilidade de quenovos cortes em despesas discri-cionárias ou mesmo uma maiorexpectativa em relação às recei-tas extraordinárias possam cons-tituir-se em elementos importan-tes para viabilizar tanto um maioraumento do salário mínimo noano que vem, como tambématender à questão salarial dosservidores públicos, já que, se-

DotaçãoPoderes orçamentária Finalidade

(em R$)

1 - Poder Legislativo 319.605.215,00

1.1 – Senado Federal 295.435.932,00 Implantação da última etapa do Plano de Carreira

1.2 – Tribunal de Contas da União 24.169.283,00 Continuidade de reestruturação de que trata a Lei 10.930

2 - Poder Judiciário 1.056.356.771,00 Continuidade da reestruturação de que trata a Lei 10.475 eelevação do percentual da Gratificação de Atividade Judiciária

2.1 – Supremo Tribunal Federal 15.848.189,00

2.2 – Superior Tribunal de Justiça 37.521.393,00

2.3 – Justiça Federal 283.631.079,00

2.4 – Justiça Militar 6.603.694,00

2.5 – Justiça Eleitoral 139.017.427,00

2.6 – Justiça do Trabalho 506.930.340,00

2.2 – Justiça do DF e Territórios 66.804.649,00

3 - Ministério Público da União 42.571.276,00 Continuidade da reestruturação de que trata a Lei 10.476

TOTAL 1.418.533.262,00

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jul/set de 20044949494949Revista de conjuntura

gundo demonstrativo da margemde expansão da LDO15, a previ-são de recursos estabelecidapara os gastos com pessoal pode-rá destinar-se à implantação dasreestruturações de carreiras jáautorizadas ou em fase de autori-zação, provimentos de cargosvagos ou criados já autorizadosou em fase de autorização, noâmbito de todos os Poderes daUnião, despesas com AnistiadosPolíticos, de que trata a Lei nº10.559/02, crescimento vegetati-

vo da folha de pagamentos deservidores ativos e inativos, emtodos os Poderes da União,dissídios das estatais em 2005,revisão geral, reestruturações decarreiras e provimentos de car-gos em 2005.

Vale lembrar que, além dositens citados, a dotação previstapode ser direcionada para possí-

veis acréscimos em benefíciosdos servidores ou ainda paraatender a itens relacionados àsdeterminações legais, como, porexemplo, a questão dos Precató-rios 16, o que pode, evidentemen-te, resultar em uma diminuição nototal geral de recursos a seremdirecionados para a revisão geraldos servidores públicos federais.

15 Ver anexo de Metas Fiscais – Lei de Diretrizes Orçamentárias – 2005, que contém o demonstrativo da margem de expansão das despesas obrigatórias decaráter continuado.

16 Em apresentação feita pela Secretaria de Recursos Humanos/ SOF e AGPU do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão: “Pessoal e Encargos Sociaisda União – Evolução”, o volume de precatórios representou R$ 915 milhões em 2004, já que se elevou de R$ 1,2 bi em 2003 para R$ 2,1 bi em 2004.

* Max Leno de AlmeidaMestre em Economia pela UcB, Assessor Técnico do

DIEESE na CONDSEF e Conselheiro do CORECON/DF

www.corecondf.org.br

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