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    Interfaces da Educ. Paranaba v. 1 n. 2 p. 97-106 2010

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    ESTRESSE INFANTIL E O CONTEDO PROGRAMTICO DATELEVISO: um desafio para o desenvolvimento cognitivo e emocional

    CHILDHOOD STRESS AND COURSE OUTLINE OF TELEVISION: achallenge for the cognate and emotional development

    Ceclia Freitas Martins (UEMS)Djalma Querino de Carvalho (UEMS-UFSCar)

    Resumo: Ao perceber, tanto em estudos quanto em prticas realizadas, como a criana est vulnervel scondies ambientais, sociais e culturais, pois absorve com alguma preciso, as condies e necessidadesque os adultos as implicam, mesmo que tais condies por exemplo: a presso para crescerem depressa

    no sejam benficas ao seu desenvolvimento cognitivo e emocional, nota-se a necessidade de obtermaiores dados sobre o estresse infantil e suas causas. Como os meios de comunicao, nos dias atuais,fazem parte do cotidiano de muitas famlias, principalmente das crianas, e aps ler alguns estudos sobre

    como a televiso pode contribuir para que as crianas absorvam ainda mais o contexto de terem que sedesenvolver mais rapidamente em benefcio da sociedade, neste projeto em andamento, temos comoobjetivo ampliar o conhecimento sobre a influncia da mdia, no caso, como a televiso e seus contedos

    programticos podem ser um fator de stress nas crianas e tentar entender a relao criana-televiso.

    Palavras-chave:criana. Televiso. Estresse. Mdia. Famlia.

    Abstract: Realizing both in practice and in studies conducted, how the child is vulnerable toenvironmental conditions, social and cultural rights, and ties up with some precision the conditions andneeds than adults to imply, even if such conditions - for example: the pressure to grow fast - are not

    beneficial to their cognitive and emotional development, there is the need to obtain more data onchildhood stress into their causes. Like the media, today, are part of everyday life for many families,

    particularly children, and after reading some studies on how television can help children to absorb moreof the context of having to develop more quickly in benefit of society, this project aims to increaseknowledge about the influence of media, where television and its programmatic content can be a stressfactor in Brazilian children and try to understand the relation "child-television.

    Keywords:children. Televisin. Stress. Media. family.

    Introduo

    Este artigo parte de um projeto de pesquisa em andamento, o qual visa ampliaros conhecimentos sobre a influncia da mdia, no caso, a televiso e seus contedos

    programticos sobre a criana e se este meio de comunicao pode ser um fator de

    estresse nas crianas brasileiras. Por meio desta proposta, pretendo compreender arelao criana-televiso e como esta pode proporcionar sintomas e/ou situaes deestresse em crianas de 09 a 12 anos de idade, alunos da rede pblica de ensino, pormeio dos contedos e imagens exibidas pela televiso.

    Para isso, pretendo desenvolver uma anlise qualitativa dos dados coletados,produzir significados sobre como o estresse infantil afeta crianas de 4 srie do ensinopblico, e como estas reagem aos contedos fornecidos pela televiso. A necessidade dese desenvolver esta pesquisa se deu, ao perceber, tanto em estudos quanto em prticasrealizadas, o quanto a criana est vulnervel s condies ambientais, sociais eculturais, e que esta absorve, com alguma preciso, as condies e necessidades que osadultos as implicam, mesmo que tais condies por exemplo: a presso para

    crescerem depressa no sejam benficas ao seu desenvolvimento cognitivo e

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    emocional, nota-se a necessidade de obter maiores dados sobre o estresse infantil.Como os meios de comunicao, nos dias atuais, fazem parte do cotidiano de

    muitas famlias, principalmente das crianas, aps ler alguns estudos sobre como a

    televiso pode contribuir para que as crianas absorvam ainda mais o contexto de teremque se desenvolver mais rapidamente em benefcio da sociedade, pretende-se, nesteprojeto, analisar, qualitativamente, crianas de 4 srie do ensino fundamental da redepblica e verificar como a televiso e os contedos exibidos em sua programaopodem afetar o desenvolvimento infantil, provocando-lhes estresse.

    A populao alvo tem suma importncia nesta pesquisa, j que as crianas deescolas pblicas, provavelmente, podem pertencer a uma classe socioeconmica menosfavorecida, como consequncia, os pais se vem privados perante a possibilidade dematricular seus filhos em atividades extra-escolares. Sendo assim, frente necessidadede cumprir sua jornada de trabalho, os pais, possivelmente, deixam seus filhos em casa,e, consequentemente, essas crianas tendem a ficar suscetveis a buscar a companhia da

    televiso, e, na maioria das vezes, sem o monitoramento de um adulto.Quanto srie escolar, em que o pblico alvo se encontra, refere-se a crianas

    com idade entre 09 e 12 anos da 4 srie do ensino fundamental, levando-se emconsiderao que podem estar adiantadas ou serem repetentes. Essas crianas, segundoo terico Jean Piaget, esto classificadas no perodo operatrio concreto, onde,estruturalmente, podem conseguir trabalhar de forma adequada com a simbolizao e alinguagem, apresentando, portanto, facilidade para expressar contedos introjetados.Sendo assim, espera-se que elas possam estar em condies de emitirem respostas queauxiliem no processo de coleta de dados, emitindo por meio da fala, gestos e expressesas possveis consequncias que a televiso possa vir a provocar no processo dedesenvolvimento cognitivo e emocional dessas crianas.

    Nesse contexto, esse projeto de pesquisa visa analisar qualitativamente a relaoentre criana e televiso, se de alguma forma os contedos que so exibidos diariamentenos canais de televiso podem alterar a estrutura emocional e cognitiva da criana, a

    ponto de gerar ou contribuir para um estresse infantil.No entanto, neste artigo, desenvolverei apenas uma reflexo terica sobre o

    estresse de um modo geral, o estresse infantil e a mdia.

    1. Estresse: definio, causas e sintomas

    Voltando ateno para a criana, pediatras, psiclogos, socilogos eeducadores, passaram a desenvolver estudos e pesquisas para compreender a estruturado desenvolvimento infantil no aspecto fsico, social, cognitivo e emocional. Muitosdesses estudos, chamaram a ateno da sociedade para o desenvolvimento infantil e,

    principalmente, para o ritmo ao qual a sociedade tem se desenvolvido. Numa sociedadecapitalista como a nossa, as modificaes passam a ser muito rpidas: mudanastecnolgicas e sociais ocorrem todo momento; onde as pessoas precisam se adaptar e semodificar rapidamente para que no haja grandes perdas com as transformaesocorridas na sociedade. Isso afeta tanto a estrutura familiar quanto, principalmente, aestrutura de desenvolvimento da criana que precisa ser gil para acompanhar taismudanas. Para acompanhar a velocidade com que o mundo se transforma, as crianasso, muitas vezes, pressionadas a crescerem e a se desenvolverem mais rpido do que

    sua prpria estrutura possibilita, vivenciando, assim, uma grande presso a qual ainda

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    no est apta, podendo sofrer danos emocionais no desenvolvimento infantil: umestresse excessivo e prejudicial.

    O termo estresse, no sculo XVII, era utilizado na literatura inglesa de forma

    espordica, seu significado era aflio e adversidade (LAZARUS e LAZARUS, apudLIPP, 2003). Posteriormente, a palavra estresse passa a representar o complexofenmeno composto de tenso-angstia-desconforto, a qual usada hoje pela sociedade.

    No sculo seguinte, a expresso passou a significar uma ao de fora, presso ouinfluncia muito forte sobre a pessoa, este significado foi retirado da engenharia, emque estresse significa o peso que uma ponte suporta at que ela se parta.(LIPP, 2003).

    No sculo XIX, estudos comearam a ser desenvolvidos sobre uma possvelrelao entre os eventos emocionais relevantes e doenas fsicas e mentais, mas estanoo no recebeu maior importncia cientfica. J no sculo XX, Sir Osler (apud LIPP,2003), mdico ingls procurou igualar o termo stress (eventos estressantes) com oexcesso de trabalho e o termo strain (reao do organismo ao estresse) com

    preocupao, oportunidade em que ele associou, juntamente, com pesquisa realizadapor outros mdicos, que o excesso de trabalho e de preocupao estivesse ligado adoenas coronarianas, porm seus estudos tambm no receberam maior ateno, atque o mdico Hans Selye utilizou a palavra estresse, para determinar uma Sndrome deadaptao Geral, em que o indivduo sofre uma grande presso e submetido a umaimportante adaptao do organismo para enfrent-la. Como se o ser humano fosse uma

    ponte, em que o excesso de peso, sobrecarga de responsabilidades podem causar danosprofundos na estrutura psicofisiolgica do indivduo.

    De acordo com Lipp e Malagris (2001), o estresse um processo que sedesenvolve por etapas, sendo assim, possvel se ter um estresse temporrio, com baixaou grande intensidade. Todas as pessoas esto propensas ao estresse, pois tanto

    situaes de irritao, medo, excitao, confuso e felicidade, geram o estresse. Pormno somente o tipo de estressor que determina se o indivduo vai ou no desenvolver oestresse. Lazzarus e Folkman (apud LIPP, 2003) apontam que as atividades cognitivasusadas pelo indivduo para interpretar eventos ambientais so fundamentais no processodo estresse.

    O stress um processo e no uma reao nica, pois no momento emque a pessoa sujeita a uma fonte de tenso, um longo processo

    bioqumico se instala. Inicialmente, conforme mencionado por Selye(1984) ocorre uma mobilizao hormonal, visando fortalecer oorganismo a fim de capacit-lo para a ao necessria no momento.Posteriormente, em razo da inabilidade de se manter a quebra da

    homeostase que ocorre nesta mobilizao hormonal, o organismo queconsegue sobreviver vem a se adaptar, ele aprende a resistir tensona qual se encontra. (LIPP, 2003, p.18).

    Existem dois tipos de estressores: estressores internos e externos. As situaesque enfrentamos no cotidiano e as pessoas com as quais convivemos dia-a-dia podem seconfigurar em agentes estressores externos. J os estressores internos se caracterizam

    pelas caractersticas interpessoais, os valores morais e ticos, crenas e formas deinterpretao das situaes que cada indivduo faz de sua prpria vida.

    De acordo com Selye (apud Lipp e Novaes, 1996), a sndrome do estresse sedivide em trs fases: Alerta, Resistncia e Exausto; cujos sintomas, provavelmente,

    todos os seres humanos j devem ter experimentado pelo menos em parte.

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    A primeira fase, o Alerta, o organismo se prepara para a reao de luta ou fuga,que essencial para a preservao da vida. O indivduo entra em contato com sua fontede estresse ou estressor, e passa a apresentar algumas reaes tpicas, tais como:

    sudorese excessiva, taquicardia, respirao ofegante, boca seca, entre outras. Nessafase, o organismo perde seu equilbrio interno e se prepara para enfrentar a situao aqual necessita se adaptar.

    A segunda fase, a Resistncia, ocorre quando o organismo tenta se recuperar dodesequilbrio sofrido na fase anterior, os sintomas so opostos ao da primeira fase emuitos sintomas desaparecem dando lugar a uma sensao de desgaste fsico e cansao,

    pois na fase Alerta o organismo gasta muita energia. Se, no entanto, a pessoa noconsegue equilibrar suas foras internas, nesta fase de Resistncia, ento, o processo deestresse pode avanar a terceira fase. A fase de Exausto a mais perigosa, algunssintomas da primeira fase podem retornar s que de forma mais agravante, havendo ummaior comprometimento fsico em forma de doenas.

    Na teoria de Selye (1956), esse seria o modelo trifsico do estresse, porm,depois de quase cinco dcadas, LIPP (2000) identifica uma quarta fase no decorrer da

    padronizao do inventrio de sndrome de estresse para adultos. Essa quarta fase, Lippnomeou como Fase de Quase Exausto, pois se encontra entre a fase de Resistncia e aExausto, oportunidade em que:

    [...] as defesas do organismo comeam a ceder e ele j no consegueresistir s tenses e restabelecer a homeostase interior. H momentosem que ele consegue resistir e se sente razoavelmente bem e outrosem que ele no consegue mais. comum nesta fase a pessoa sentirque oscila entre momentos de bem-estar e tranqilidade e momentos

    de desconforto, cansao e ansiedade. Algumas doenas comeam asurgir demonstrando que a resistncia j no to eficaz. (LIPP,2003, p. 19).

    O estresse excessivo capaz de produzir inmeras consequncias para oindivduo em si e para as pessoas e situaes a sua volta, tais como, sua famlia, seutrabalho, empresa e comunidade onde vive. Segundo LIPP (2003), no mbito

    psicolgico e emocional, o estresse excessivo pode produzir cansao mental,dificuldade de concentrao, perda de memria imediata, apatia e indiferenaemocional. A produtividade do indivduo estressado sofre quedas frequentes e suacriatividade fica prejudicada. Devido percepo do baixo desempenho, comeam a

    surgir dvidas sobre si mesmo. H crises de ansiedade e humor depressivo. A libidofica relativamente reduzida e doenas fsicas comeam a aparecer. Devido a todos essesfatores, a qualidade de vida do sujeito estressado sofre um dano, na qual sentevontade de fugir de tudo.

    2. A Criana e o Estresse

    Os sintomas ou conseqncias do estresse podem se desenvolver tanto emadultos quanto em crianas e adolescentes. Segundo David Elkind (2004), a crianahoje vtima de um estresse avassalador, nascido de uma mudana social rpida edesconcertante, em que as expectativas sobre ela aumentam cada vez mais. Jean-

    Jacques Rousseau (apud ELKIND, 2004), filsofo francs, estruturou o conceitomoderno da infncia, em que o valor da transmisso de uma herana scio-cultural era

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    benfico para a criana, porm o processo de aprendizagem deve levar em conta apercepo da criana e o seu estgio de desenvolvimento, pois a infncia tem suaprpria maneira de pensar, ver e sentir, diferentemente do adulto.

    Devido s mudanas bruscas na sociedade, as crianas passaram a serpressionadas a crescerem depressa, sobretudo, no mbito intelectual. Elkind (2004)aponta que

    Vrias dcadas atrs, a precocidade era encarada com grandedesconfiana. A criana prodgio assim se pensava transformava-se em um adulto neurtico; da a expresso amadurecimento

    precoce, deteriorao precoce!. Tentar acelerar a aquisio dehabilidades acadmicas das crianas era visto como evidncia de maudesempenho dos pais. (2004, p. 32).

    A presso por uma aquisio acadmica precoce apenas uma de muitaspresses exercidas sobre a criana, para que elas cresam depressa. O vesturio, nossculos XIX e XX, dava uma viso de um adulto em miniatura. Pensava-se que, se ascrianas se vestissem como adultos, teriam maior probabilidade de se comportar comoadultos. Segundo a perspectiva de ries (1981), no sculo XXI, a condio do vesturioainda permaneceu, crianas usando os mesmos modelos de roupas que os adultos,calas jeans, apertadas, sapatos de salto e maquiagens (no caso das meninas), ascrianas se vestem e se movem como adultos. Elkind (2004) aponta outros exemplos de

    presso social para que as crianas cresam mais rapidamente, como: viajar sozinhas denibus ou avio para visitar uns dos pais (quando pai e me so divorciados ou nomoram juntos). Em algumas situaes, crianas so pressionadas a processar seus pais,

    por abandono; os meios de comunicao, msicas, filmes, livros e televiso, mostramcontedos aos quais muitas crianas ainda no esto preparadas para ter acesso e podemacabar pressionando o desenvolvimento infantil.

    Psiclogos e psiquiatras reconhecem que essas presses afetam odesenvolvimento emocional da criana. Sentimentos e emoes tm seu prpriomomento e ritmo de desenvolvimento, por isso no poderiam ser apressados. Crianas

    podem crescer depressa de algumas maneiras, como por exemplo, fisicamente, mascrescer de forma apressada emocionalmente pode ser complicado e difcil, pois ocomportamento e a aparncia falam adulto, mas seus sentimentos choram criana.A presso para crescer depressa pode contribuir para um desenvolvimento do estresseinfantil.

    3. Estgios do Desenvolvimento Infantil: operaes concretas

    O psiclogo suo Jean Piaget descreveu quatro importantes estgios nodesenvolvimento do pensamento das crianas. Piaget (2003) aponta que, em cadaestgio, as crianas no copiam o que encontram, mas constroem ativamente a realidadea partir de suas experincias com o ambiente. Esses quatro estgios so: perodosensrio-motor (0 a 02 anos de idade), perodo pr-operacional (02 a 06 anos), perodooperacional concreto (06 aos 12 anos) e perodo operacional formal (12 anos emdiante). importante ressaltar que a faixa etria de cada estgio no precisa, pois osindivduos podem se desenvolver ou mudar de etapas do desenvolvimento mais rpido

    ou mais lentamente do que outros. Essas so as diferenas individuais.

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    Voltando a ateno especificamente para o perodo operacional concreto,possvel etapa do desenvolvimento que as crianas, sujeitos desse estudo, estaroinseridas, observa-se as seguintes caractersticas do desenvolvimento cognitivo,

    emocional e sociocultural: 1) quando as crianas atingem as operaes concretas, socapazes de classificar de uma forma hierrquica objetos, animais e pessoas; 2)conseguem manipular smbolos relativos aos objetos da mesma forma como sabemmanipular os prprios objetos; 3) a manipulao dos smbolos mental, a crianaconsegue visualizar a atuar mentalmente um objeto, sem precisar estar com ele nasmos ou mesmo vendo-o; 4) essa manipulao simblica amplia muito a extenso e avariedade das exploraes que a criana pode realizar.

    Os nveis de competncia so frequentemente ignorados quando a criana pressionada. Segundo Elkind (2004), aprender a manipular mentalmente smbolos demaneira eficiente requer tempo, algo que no pode ser apressado, principalmente, se asociedade deseja que as crianas se tornem realmente competentes.

    As operaes concretas possibilitam novas aquisies interpessoais eintelectuais. Nesse estgio, a criana j comea a operar com regras. Essas regras

    podem ser tanto de leitura, aritmtica, como regras scias. A criana no realiza esseprocesso de forma consciente. Esse processo, Piaget (2003) denomina de inconscienteintelectivo, ou seja, parte do pensamento da criana inconsciente, e ela s terconscincia dos seus resultados. Possivelmente, seria por esse motivo que os adultostm dificuldade para aceitar os problemas que as crianas possuem em lidar com regras.

    Ser por meio da aquisio de regras, principalmente, em jogos e na aceitaodas regras impostas por outras crianas, que elas se tornam mais sociveis, e passam ainteragir com outras crianas de igual para igual. Seria nesse momento, que ocorre a

    primeira separao parcial dos pais e o incio de novas ligaes com outros adultos e

    crianas. O pensamento das crianas pequenas, por verem seus pais como onisciente,como deuses, passam a ser substitudo por uma capacidade mental de raciocinar echegar smbolos em contraposio com a experincia, elas comeam a distinguir entre afantasia e a realidade.

    mediante a descoberta de que os adultos no so perfeitos, que as crianaspassam a eleger outros adultos para este status, tais como atletas, astros de televiso,cinema e msica. Outra consequncia dessa destronizao dos pais um fenmeno queElkind (2004) denomina de imaginao cognitiva, quando a criana percebe que seus

    pais desconhecem alguns assuntos ou no sabem responder a algumas perguntas,imaginam que aquele ser que sabia tudo, j no sabe nada.

    A imaginao cognitiva seria, portanto, na idade escolar, a emancipao dacriana de seus pais. Embora seja um fenmeno normal, que proporciona diverso criana, pode ter consequncias mais srias. Pressionar as crianas a tomarem decisesque so mais adequadas aos adultos favorece a imaginao cognitiva, podendo causarnas crianas um sentimento de autonomia, uma independncia imatura, um sentimentode inferioridade e prejudicar os relacionamentos interpessoais. Fazer com que a criana

    pule ou passe muito rapidamente de uma fase de desenvolvimento para outra, semrespeitar suas limitaes fsicas, cognitivas e emocionais, seria querer que a crianacrescesse mais rpido do que ela pode, e isso pode ser um grande gerador de estresse.

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    4. Causas e contribuintes do estresse infantil

    Segundo Lipp e Novaes (1996), h uma tendncia em acreditar que criana no

    tem estresse, como se o seu organismo funcionasse de modo diferente a de um adulto.Esse pensamento, muitas vezes, proveniente dos pais. Estes parecem pensar que seusfilhos esto protegidos por algo ou um ser superior, que os torna isentos de maioresdanos na vida, mas que os pais e muitos adultos, at mesmo os profissionais da sadedesconhecem, pois a criana est sujeita s mesmas dificuldades que o adulto enfrenta.Por isso, a criana precisa aprender a lidar com as tenses e se tornar apta para lutar ou fugirde situaes que representem ameaa ao seu bem estar. (LIPP e NOVAES, 1996, p. 54).

    As mudanas que ocorrem na vida da pessoa exigem o uso de energia para suaadaptao ou para super-las. Toda mudana produz um desgaste no organismo(estresse), dessa forma, a cada fase do desenvolvimento do ser humano, este defrontacom novas situaes que exigem um esforo adaptativo e algumas delas so

    conflitantes. No caso da criana e do adolescente, essas mudanas ocorrem maisrapidamente do que no adulto, tornando-se, assim, um perodo suscetvel ao estresse.(FRANCA e LEAL apud LIPP, 2003).

    Segundo Lipp (1998), o estresse infantil se assemelha ao dos adultos emdiversos aspectos. A rpida modernizao, a globalizao e a tecnologia cada vez mais

    presente no cotidiano das pessoas acarretam mudanas e adaptaes igualmente a todasas idades. Toda criana, inevitavelmente, enfrentar inmeras situaes de estresse, taiscomo doenas, hospitalizao, mudana de casa, de escola, nascimento de um irmo e anecessidade de autocontrole. Durante o seu desenvolvimento intelectual, emocional eafetivo, a criana se confronta com nveis muito alto de tenso, s vezes, superando suacapacidade ainda imatura para lidar com situaes conflitantes.

    Em pesquisa realizada por Vilela (1995) sobre sintomas e fontes de estresse emcrianas de 1 a 4 srie de escolas particulares e pblicas, verificou que 60% e 65% dascrianas possuem sintomas de estresse. Tal resultado demonstra que o estresse aparecena infncia independente da classe social que esto inseridas.

    Outra pesquisa realizada por Tricoli (apud LIPP, 2003), com crianasbrasileiras, com faixa etria entre 06 a 11 anos, nas quais foi verificado um considervelnvel de estresse, constatou que as meninas parecem estar mais propensas ao estresseque os meninos.

    Levando em considerao alguns fatores que podem contribuir para o estresseinfantil, observa-se que os meios de comunicao esto inseridos como participativos.O autor David Elkind (2004) realizou diversas pesquisas com crianas norte-americanas, sobre a atuao da mdia como fator estressante para a criana. Ele apontaque os meios de comunicao (televiso, rdio, jornais, revistas e cinema) ampliam ossentidos do espectador.

    5. A Televiso e o Estresse Infantil

    Voltando a ateno especificamente para a televiso, esta mpar emproporcionar acesso imediato a todas as partes do mundo. Nenhum outro meio decomunicao consegue os mesmos resultados que a televiso consegue. (ELKIND,2004).

    Esse mesmo autor comenta ainda que a televiso envolva os sentidos daspessoas imediatamente e nem sempre se faz necessrio uma mediao verbal de um

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    narrador, para que a mensagem seja compreendida. As crianas pequenas no precisamentender a descrio verbal das imagens mostradas na televiso (guerras, tragdias,assassinatos, sexo, traio etc), as imagens falam por si s. Ento, como a televiso no

    precisa de uma codificao ou uma decodificao verbal para ampliar a experincia daspessoas, ela fica muito acessvel s crianas pequenas e, s vezes, pode apressar o seucontato com eventos no indicados por essa faixa etria.

    Por isso, com a televiso, as crianas no precisam mais ser capazesde ler ou traduzir as palavras de um narrador para observar oseventos que esto acontecendo em locais distantes. [...] Com ateleviso, as crianas tm acesso s notcias, s representaesdramticas e ao entretenimento, sem ter que traduzir as palavras emimagens. As imagens j esto ali. (ELKIND, 2004 p. 106).

    Outro fator importante que o autor verificou em seus estudos sobre o estresseinfantil e sua ligao com a televiso, que os pais podem acabar perdendo o controle ea restrio sobre as informaes que querem ou no que seus filhos tenham acesso.Mesmo que j existam videocassetes, televiso a cabo e DVD, que ajudam no controleda programao, muitos pais j no conseguem exercer controle sobre o que os filhosassistem na televiso.

    Alm de a televiso tornar as informaes mais acessveis s crianas e dereduzir o controle dos pais, ela tambm serve para homogeneizar as diferenas de classesocial. A homogeneizao muitas vezes ultrapassa limites sociais, tnicos, geogrfico, elimites de idade. Obviamente os programas de televiso no so rigidamente graduados

    por idades, assim como h programao destinada a crianas, h programas para adultos

    e adolescentes. No entanto, o que ocorre, na maioria das vezes, que as crianasassistem programas destinados audincia mais velha (novelas, seriados, filmes,jornais), programas que abordam contedos como atividade sexual, drogas, distrbiosemocionais, assassinatos. Dessa forma, as crianas so iniciadas em questes e

    problemas inadequados sua idade.Jeffrey Cowan (1980, apud ELKIND, 2004) menciona que as razes para a

    homogeneizao so principalmente econmicas:

    De certa forma, a uniformidade e o carter explorador da televiso aos quais muitos telespectadores fazem uma objeo de legtima uma funo de estrutura econmica curiosa da indstria. Ao contrriode outros meios de comunicao, como livros e jornais que obtmsua renda dos consumidores e tambm dos anunciantes , a televisoconta apenas com os anunciantes para sua renda. [...] a grandemaioria das campanhas quer atingir uma audincia urbana de 18 a 40anos de idade, h poucos incentivos para desenvolver programas queapelem fundamentalmente a pessoas com mais de 40 anos, jovenscom menos de 18 anos ou pessoas que vivem nas reas rurais. (p.109).

    A televiso proporciona s crianas experincias de informaes quepossivelmente jamais poderiam ter sem ela, porm a exposio sob a televiso e seuscontedos uma coisa, o entendimento dessas informaes, outra. Dessa forma, tornar

    esses contedos mais acessveis s crianas no as torna nem um pouco menos confusas

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    ou menos perturbadoras.Segundo Elkind (2004), uma das consequncias da homogeneizao dos vaivns

    de uma dcada para outra, entre a fantasia e a realidade criar uma pseudo-sofisticao,

    ou seja, fazer com que atualmente as crianas, em idade escolar, saibam muito mais doque entendem. Essa pseudo-sofisticao o efeito da presso da televiso sobre ascrianas, encoraja pais e adultos a pression-las mais ainda. Entretanto, deve-se lembrarque mesmo as crianas falando, se comportando e se parecendo com adultos, aindasentem e pensam como crianas.

    Nessa perspectiva, a televiso funciona tambm como uma maneira de descobrirquem e o que as pessoas so. (ELKIND, 2004). Quando estas se identificam com um

    personagem, passam a descobrir mais coisas sobre si mesmas, ou ento, as pessoastentam se parecer cada vez mais com o personagem identificado. A maneira como ascrianas so retratadas na televiso, reflete a maneira como a sociedade v e percebe ascrianas, por isso proporcionam imagens com as quais iro se identificar e procurar

    imitar.Weinberg (1970) descreve bem como a televiso descreve as crianas:

    As crianas (da televiso) so muito bem-comportadas e tm umbom-senso que est alm a sua idade. Todas as crianas tm insightsexcepcionais. Em muitos programas, os insights das crianas podemser surpreendemente filosficos. A lio parece ser: Oua comateno as crianas pequenas e voc vai aprender grandes verdades.(WEINBERG, apud ELKIND, 2004 p. 113).

    A televiso proporciona s crianas modelos de precocidade emocional e

    intelectual, constituindo, assim, uma espcie de presso para crescerem depressa. Ao secomportarem de maneira sensata e madura, os adultos criam e aumentam asexpectativas de que as crianas se tornem rapidamente mais sensatas, sbias e maisinteligentes do que elas podem ser naquele momento.

    Consideraes Prvias

    Tendo em vista que o projeto ainda no foi concludo, e as analises no foramrealizadas, pode-se apenas considerar embasado nas leituras bibliogrficas dos autorese pesquisadores dessa temtica, que a televiso, assim como outros meios decomunicao em massa possuem uma influncia no comportamento do indivduo, j

    que este est exposto a imagens e contedos o qual pode no estar preparado parareceber, naquele momento, e esses contedos afetam o comportamento do homem,isso se nota em seu modo de vestir, de falar e de agir perante a sociedade. Percebe-seque aqueles indivduos que no aderem reproduo das imagens que a TV lhesimpe, pode no se enquadrar aos grupos sociais que seguem o modismo da televiso,ainda mais as crianas que algumas vezes tm dificuldades em diferenciar fantasia darealidade, e podem acabar misturando o contedo da TV com suas vidas particulares.

    Afirmar que a televiso causa estresse infantil, seria imprprio porque o trabalhono foi concludo, porm percebe-se que existe sim uma grande influncia, peso eimportncia na vida das pessoas principalmente das crianas, e que os contedos

    programticos podem ser fortes e inadequados para determinadas idades, pois podem

    no compreender o real significado, mas acabam reproduzindo aquilo que vem.

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    INTERFACES DA EDUCAO

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    Verifica-se que a falta de controle sobre o contedo exibido pela televiso, assimcomo a dificuldade em privar as crianas de assistirem contedos no designados asua faixa etria, seria o principal fator que mais prejudicaria as crianas por receberem

    somente informaes destinadas a elas. Outro fator importante a ausncia de umadulto que monitore os programas, ou que sirva de intrprete para os contedos maiscomplexos, assim as crianas tiram suas prprias concluses, muitas vezes ilusrias eerradas, fantasiam com esses contedos e os trazem para a realidade e para o meioexterno (sociedade) de forma banalizada, agressiva, ou numa seriedade como se aquiloque ele estivesse vendo fosse real.

    Dessa forma, as concluses prvias deste estudo se resumem no fato de que ocontedo programtico da televiso ser um contribuinte para o desenvolvimento doestresse infantil. Acredita-se que aquelas crianas que j tenham uma predisposio aoestresse, ou que j venha de outras situaes de vida estressoras (famlia, escola,situao socioeconmica, violncia, enfermidades) estas podem estar mais propensas a

    se envolverem mais na iluso da mdia e absorverem com mais facilidade a tenso e asobrecarga que as imagens dos canais de televiso fornecem e assimconsequentemente influenciam no desenvolvimento cognitivo e emocional dessascrianas, causando-lhes um estresse mais significativo.

    Convm ressaltar que este projeto est em andamento, cujos resultadoscomprobatrios s podero ser realizados aps o trmino da pesquisa, assim ser maisfcil confirmar o que os estudos bibliogrficos apontam, e que na realidade brasileira ateleviso atua da mesma forma em nossas crianas.

    Referncias Bibliogrficas

    ARIES, P.Histria social da criana e da famlia.Rio de Janeiro: LTC, 1981.

    ELKIND, D. Sem tempo para ser criana. A infncia estressada. Porto Alegre:Artmed, 2004.

    LIPP, M. E. N. Crianas estressadas, causas, sintomas e solues. Campinas-SP:Papirus, 2000.

    LIPP, M. E. N (Org.). Mecanismos Neuropsicofisiolgicos do stress: teorias eaplicaes clnicas.So Paulo: Casa do Psiclogo, 2003.

    LIPP, M. E. N.e NOVAES, L. E. Mitos e verdades sobre o stress. So Paulo:Contexto, 1996.

    PIAGET, J. Psicologia da criana.Rio de Janeiro; DIFEL, 2003.

    VILELA, M.V. Sintomas e fontes de stress em uma amostra de escolares da 1 a 4srie. 1995. Dissertao (Mestrado em Psicologia) Pontifcia Universidade Catlica,Campinas, 1995.