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FLORESTA, Curitiba, PR, v. 39, n. 4, p. 765-772, out./dez. 2009. Nunes, E. L. S.; Moreschi, J. C. 765 ANÁLISE DOS AERODISPERSOIDES SÓLIDOS PRODUZIDOS NA INDUSTRIALIZAÇÃO DA MADEIRA Elenise Leocádia da Silveira Nunes 1 , João Carlos Moreschi 2 1 Desenho Industrial, Dr a ., Depto. Desenho Industrial, UTFPR, Curitiba, PR, Brasil - [email protected] 2 Eng. Florestal, Dr., Depto. de Engenharia e Tecnologia Florestal, UFPR, Curitiba, PR, Brasil - [email protected] Recebido para publicação: 01/12/2008 – Aceito para publicação: 14/04/2009 Resumo Este estudo buscou caracterizar o particulado sólido proveniente de painéis de madeira aglomerada, visando minimizar a exposição ocupacional sofrida pelos trabalhadores do setor de base florestal. Para tanto, foram utilizados métodos de análise regulamentados por órgãos normatizadores, como a American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH), a National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH), a Occupational Safety and Health Administration (OSHA), a American Society for Testing and Materials (ASTM) e a Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO). Os resultados demonstraram que o particulado sólido do aglomerado é um material potencialmente tóxico e passível de desenvolver doenças ocupacionais nos trabalhadores expostos por longo período de tempo. Palavras-chave: Aerodispersoide sólido; poeira sólida do aglomerado; risco ocupacional. Abstract Solid airborne analysis produced in wood industrialization. The aim of this study was to feature the solid airborne dust generated from the mechanic processing of agglomerated wood particleboard in order to minimize the risk of occupational exposing that the workers could be subjected to. As analyzing tools there were used solid airborne analyzing rules and methods regulated by world known regulatory agencies: the American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH), the National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH), the Occupational Safety and Health Administration (OSHA), the American Society for Testing and Materials (ASTM) and Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO). This way the solid particulate from the agglomerated had been characterized as potentially toxic and it could induce occupational diseases in the workers exposed to it for a long period of time. Keywords: Solid airborne; agglomerated solid dust; occupational risk. INTRODUÇÃO O setor de transformação da indústria de base florestal utiliza em grande escala painéis de madeira aglomerada como matéria-prima para a produção de bens de consumo, como peças de mobiliário e embalagens. Entretanto, o processamento mecânico (corte, usinagem e lixamento) de painéis de madeira aglomerada tem como resultado final, além do produto acabado, a produção de uma grande quantidade de poeira, em diversas granulometrias, que fica em suspensão no ambiente de trabalho. Com o objetivo de reduzir a concentração desse tipo de resíduo, as empresas de médio e grande porte utilizam sistemas de exaustão na fonte, ou seja, aspiração da poeira gerada no instante em que ocorre o processamento do painel. Entretanto, empresas de pequeno porte ou com recursos tecnológicos mais escassos, acumulam esse material residual em um local determinado dentro do layout da empresa e só efetuam a limpeza e o descarte desse material uma vez por semana ou a cada quinze dias. Segundo a American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH, 1991), a exposição ao pó de madeira pode causar problemas à saúde dos trabalhadores. Essa exposição pode ser classificada de duas formas: a exposição direta, quando o trabalhador está sujeito ao contato direto com a poeira gerada, pois efetua o processamento da madeira, e a exposição indireta, quando o pó de madeira fica disperso no ambiente e todos os trabalhadores entrarão em contato com ele através do ar

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    765

    ANLISE DOS AERODISPERSOIDES SLIDOS PRODUZIDOS NA INDUSTRIALIZAO DA MADEIRA

    Elenise Leocdia da Silveira Nunes1, Joo Carlos Moreschi2

    1Desenho Industrial, Dra., Depto. Desenho Industrial, UTFPR, Curitiba, PR, Brasil - [email protected] 2Eng. Florestal, Dr., Depto. de Engenharia e Tecnologia Florestal, UFPR, Curitiba, PR, Brasil - [email protected]

    Recebido para publicao: 01/12/2008 Aceito para publicao: 14/04/2009

    Resumo Este estudo buscou caracterizar o particulado slido proveniente de painis de madeira aglomerada, visando minimizar a exposio ocupacional sofrida pelos trabalhadores do setor de base florestal. Para tanto, foram utilizados mtodos de anlise regulamentados por rgos normatizadores, como a American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH), a National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH), a Occupational Safety and Health Administration (OSHA), a American Society for Testing and Materials (ASTM) e a Fundao Jorge Duprat Figueiredo de Segurana e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO). Os resultados demonstraram que o particulado slido do aglomerado um material potencialmente txico e passvel de desenvolver doenas ocupacionais nos trabalhadores expostos por longo perodo de tempo. Palavras-chave: Aerodispersoide slido; poeira slida do aglomerado; risco ocupacional.

    Abstract Solid airborne analysis produced in wood industrialization. The aim of this study was to feature the solid airborne dust generated from the mechanic processing of agglomerated wood particleboard in order to minimize the risk of occupational exposing that the workers could be subjected to. As analyzing tools there were used solid airborne analyzing rules and methods regulated by world known regulatory agencies: the American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH), the National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH), the Occupational Safety and Health Administration (OSHA), the American Society for Testing and Materials (ASTM) and Fundao Jorge Duprat Figueiredo de Segurana e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO). This way the solid particulate from the agglomerated had been characterized as potentially toxic and it could induce occupational diseases in the workers exposed to it for a long period of time. Keywords: Solid airborne; agglomerated solid dust; occupational risk.

    INTRODUO

    O setor de transformao da indstria de base florestal utiliza em grande escala painis de madeira aglomerada como matria-prima para a produo de bens de consumo, como peas de mobilirio e embalagens. Entretanto, o processamento mecnico (corte, usinagem e lixamento) de painis de madeira aglomerada tem como resultado final, alm do produto acabado, a produo de uma grande quantidade de poeira, em diversas granulometrias, que fica em suspenso no ambiente de trabalho. Com o objetivo de reduzir a concentrao desse tipo de resduo, as empresas de mdio e grande porte utilizam sistemas de exausto na fonte, ou seja, aspirao da poeira gerada no instante em que ocorre o processamento do painel. Entretanto, empresas de pequeno porte ou com recursos tecnolgicos mais escassos, acumulam esse material residual em um local determinado dentro do layout da empresa e s efetuam a limpeza e o descarte desse material uma vez por semana ou a cada quinze dias.

    Segundo a American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH, 1991), a exposio ao p de madeira pode causar problemas sade dos trabalhadores. Essa exposio pode ser classificada de duas formas: a exposio direta, quando o trabalhador est sujeito ao contato direto com a poeira gerada, pois efetua o processamento da madeira, e a exposio indireta, quando o p de madeira fica disperso no ambiente e todos os trabalhadores entraro em contato com ele atravs do ar

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    contaminado. A exposio indireta ao p de madeira pode causar irritao nos olhos e mucosas, dermatites por contato e alrgicas, eritemas e problemas respiratrios, como alergias, sinusites, asma e bronquite. Por outro lado, e de forma mais grave, a exposio direta ao p de madeira pode transformar esses problemas em doenas crnicas, inclusive com o aparecimento de carcinogneres.

    Sendo assim, o objetivo deste estudo foi caracterizar o aerodispersoide slido produzido a partir do processamento mecnico de painis de madeira aglomerada, atravs da determinao do seu limite de tolerncia e concentrao de partculas, buscando minimizar o risco de doenas ocupacionais para os trabalhadores expostos. REVISO BIBLIOGRFICA Caractersticas do painel de madeira aglomerada

    Segundo Iwakiri (2005), painel de madeira aglomerada, comercialmente denominado de aglomerado, um painel produzido com partculas de madeira tipo sliver, reconstitudo a partir de uma matriz randmica e consolidado atravs da aplicao de calor e presso, com a incorporao de um adesivo sinttico. importante ressaltar que a qualidade tcnica dos painis de madeira aglomerada descrita pelas suas propriedades fsicas, que devem estar em consonncia com a norma EN 312 (2003). A caracterstica principal do painel aglomerado possuir comportamento elstico-mecnico igual ou maior que a madeira macia, sendo que propriedades como flexo esttica e ligao interna s so afetadas com a variao dos elementos dimensionais das partculas. importante ressaltar que a maior parte do aglomerado produzido no Brasil elaborada a partir de partculas de Pinus spp. provenientes de florestas plantadas, o que faz com que a qualidade do painel seja relativamente maior do que em outros pases. Resduos provenientes de serrarias e de outros setores do processamento mecnico da madeira so utilizados na gerao de partculas, entretanto em pequenas propores e apenas por alguns fabricantes.

    Normatizada pela American Society for Testing and Materials ASTM D4690-99 (2005), a resina UF a mais utilizada na fabricao de painis de madeira aglomerada para uso interno. Sua denominao polmero termofixo de ureia-formaldedo em soluo aquosa. um adesivo de fcil manuseio, solvel em gua, cura rpida e incolor que no agrega alto custo ao produto final. Sua proporo de utilizao em torno de 6 a 12% da massa seca de partculas e pode atuar em diferentes temperaturas de prensagem, de 90 a 120 C, dependendo do tipo do painel a ser fabricado e da prensa utilizada. Aerodispersoide slido

    De acordo com a Fundao Jorge Duprat Figueiredo de Segurana e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO), aerodispersoide slido a partcula formada a partir da ruptura mecnica de um material slido seco, seja por corte, quebra, usinagem, frico ou fundio, capaz de se manter suspensa no ar por tempo suficiente para que, com equipamentos especficos, possa ser efetuada a sua observao e medio. O tempo de suspenso depende diretamente do tamanho da partcula, de seu peso especfico e da velocidade de movimentao do ar no ambiente analisado (NHO 03, 2001).

    Com o intuito de regulamentar o limite de exposio ao p de madeira, em 1985 foi criado o Occupational Safety and Health Review Commission (OSHC), uma comisso composta por diversas organizaes normatizadoras internacionais, que, a partir de estudos especficos, criaram valores de limite de tolerncia para esse tipo de aerodispersoide. Dessa forma, o valor do limite de tolerncia (TLV Threshold Limit Value) determinado pela ACGIH (2006) ao p de madeira macia de 1 mg/m para madeiras duras e 5 mg/m para madeiras moles ou gimnospermas, para um perodo de 8 horas dirias ou 40 horas semanais. Entretanto, o limite mximo de exposio determinado para madeiras moles de 10 mg/m, por perodos de 15 minutos com intervalos de 60 minutos entre exposies consecutivas. Para o National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH, 1992), o limite de exposio recomendado (REL Recommended Exposure Limit) ao p de madeira de 1 mg/m3, tanto para madeiras moles quanto madeiras duras, para uma jornada de trabalho de at 10 horas dirias e/ou 40 horas semanais. Para o Occupational Safety and Health Administration (OSHA, 1994), o limite de exposio recomendado (PEL Permissible Exposure Limit) de 15 mg/m3 para poeira total e 5 mg/m3 para a frao de poeira respirvel, independentemente de madeira mole ou madeira dura. importante ressaltar

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    que cientificamente as madeiras duras so denominadas de angiospermas e as madeiras moles de gimnospermas (BURGER; RICHTER, 1991).

    Por outro lado, quanto poeira proveniente do processamento de painis de madeira reconstituda, formados a partir de partculas de madeira unidas atravs de um adesivo termofixo, sob efeito de calor e presso, no se tem limite de tolerncia determinado por rgos regulamentadores. Existe apenas a indicao na tabela da ACGIH (1998) de que esse tipo de particulado se enquadra na categoria de Particulates not Otherwise Regulated (PNOC) Particulado No Classificado de Outra Maneira ou seja, um particulado potencialmente txico, com percentual de slica livre cristalina menor que 1%, mas sem limite de tolerncia e limite de concentrao definidos.

    De acordo com a ACGIH (1998), existe uma relao entre o tamanho do aerodispersoide slido e o local de penetrao deles no sistema respiratrio. Nesse sentido, tm-se: Particulado inalvel: dimetro mdio entre 25 e 100 m. Devido ao seu tamanho passa pelas fossas

    nasais e pela boca, sendo eliminado pelo sistema de filtragem do sistema respiratrio. Particulado torcico: dimetro mdio entre 10 e 25 m. Atinge a faringe, a traqueia e os brnquios,

    mas ainda passvel de ser eliminado pelo sistema de filtragem do organismo humano. Particulado respirvel: dimetro mdio entre 1 e 10 m. Por possuir tamanho reduzido, passa pelos

    demais rgos de filtragem do sistema respiratrio e se deposita na regio alveolar. importante ressaltar que o sistema respiratrio humano constitudo por vrios rgos que

    conduzem o ar inalado para dentro e para fora das cavidades pulmonares, e por meio de mecanismos de filtragem promovem a proteo do organismo contra agentes externos. Assim sendo, partculas maiores so capturadas pelas fossas nasais e vias areas superiores e so eliminadas atravs da limpeza mucociliar pela tosse. J as partculas solveis se depositam sobre qualquer tecido do aparelho respiratrio e produzem irritao at a sua dissoluo completa. Partculas pequenas se depositam profundamente na cavidade pulmonar e, dependendo do seu nvel de toxicidade, podem ser dissolvidas e absorvidas pelo sangue ou podem ser sedimentadas pelas clulas macrfagas.

    De forma mais abrangente para a ACGIH (1998), a toxicidade do aerodispersoide slido tambm depende das condies ambientais do local de trabalho e das condies fsicas do trabalhador. As condies ambientais so: concentrao de partculas, temperatura ambiente, umidade relativa do ar e velocidade do ar. As condies fsicas do trabalhador so: a variabilidade individual, a sade, o sexo, a idade e a forma de realizao das tarefas. importante ressaltar que a maioria dos trabalhadores, quando possui algum tipo de obstruo nas fossas nasais, seja por enfermidade ou por irritao alrgica, respira pela boca, e dessa maneira o ar contaminado direcionado diretamente aos pulmes, sem passar pelo sistema de filtragem das vias areas superiores. Assim sendo, para a avaliao do risco sade do trabalhador, o particulado slido deve ser analisado principalmente nas fraes de poeira inalvel e respirvel, sendo que, nesta ltima, o equipamento utilizado para efetuar a coleta das partculas deve simular a respirao humana (ACGIH, 1998). MATERIAIS E MTODOS

    Visando minimizar as influncias das variveis ambientais, principalmente de particulados slidos proveniente de outros tipos de madeira ou materiais diversos, a presente pesquisa foi realizada atravs de um estudo de caso em uma indstria produtora de painis de madeira aglomerada, e a coleta de amostras ocorreu em um setor especfico, que refila os painis aglomerado em medidas especiais.

    Os tipos de amostragem mais utilizados para determinao da concentrao de particulado slido em anlises de exposio ocupacional so amostragem pessoal ou poeira respirvel (PR) e amostragem total ou poeira total (PT). Na frao de poeira respirvel (PR), o aparelho utilizado para coleta do particulado slido colocado prximo zona de respirao do trabalhador, enquanto este realiza a sua atividade diria, simulando o sistema de filtragem do aparelho respiratrio, pois separa apenas as partculas respirveis, permitindo avaliar a exposio ocupacional direta dos trabalhadores. Na frao de poeira total (PT), o aparelho para coleta do particulado colocado em um local predeterminado no layout fabril, com grande circulao de trabalhadores e prximo s fontes geradoras de poeira, coletando qualquer tamanho de partcula dispersa no ar do ambiente de trabalho, o que permite a avaliao da exposio ocupacional indireta dos trabalhadores envolvidos no processo. Assim sendo, de acordo com a

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    ACGIH (1998), o valor do limite de tolerncia (TLV Threshold Limit Value) para o Particulado Slido no Classificado de Outra Maneira (PNOC) de 8,8 mg/m para a frao de poeira total (PT) e 2,64 mg/m para a frao de poeira respirvel (PR).

    Assim, foram coletadas amostras do particulado slido nas fraes de poeira total (PT) e poeira respirvel (PR) durante a atividade de trabalho, por meio de equipamentos de amostragem especficos para cada coleta. O material particulado para anlise de poeira respirvel (PR) foi coletado com bomba gravimtrica autoajustvel da marca MSA, acoplada a um ciclone separador de partculas de nylon, sobre filtro de membrana de PVC de 37 mm. O material particulado para anlise de poeira total (PT) foi coletado de duas formas: com a utilizao da bomba gravimtrica autoajustvel da marca MSA sobre o filtro de membrana de PVC de 37 mm e em frascos de polipropileno, nos quais foi coletado o particulado slido depositado sobre o maquinrio, uma hora aps o trmino da atividade de trabalho, ou seja, quando a maior parte do particulado j havia se depositado sobre a bancada de trabalho sob o efeito da gravidade.

    As tcnicas de anlise utilizadas para o particulado slido do aglomerado coletado foram gravimetria, microscopia tica, microscopia eletrnica de varredura, espectrofotometria de energia dispersiva (EDS), espectrofotometria na regio do infravermelho e cromatografia lquida de alto desempenho, segundo os seguinte mtodos: NHO 03 / FUNDACENTRO: Anlise Gravimtrica de Aerodispersoides Slidos Coletados Sobre

    Filtros de Membrana. Norma de Higiene Ocupacional, 2001. PV 2121 / OSHA: Gravimetric Determination Partially Validated, 2003. ASTM E112-96: Standard Test Methods for Determining Average Grain Size (Reapproved 2004). ASTM E1382-97:Standard Test Methods for Determining Average Grain Size Using Semiautomatic

    and Automatic Image Analysis (Reapproved 2004). Method 7602 / NIOSH SILICA, CRYSTALLINE BY IR (K BR PELLET), in Manual of

    Analytical Methods (NMAM, 2003). Method 2016 / NIOSH FORMALDEHYDE, in Manual of Analytical Methods (NMAM, 2003). Method 0500 / NIOSH PARTICULATES NOT OTHERWISE REGULATED, TOTAL, Issue 2, de

    15/08/1994. Method 0600 / NIOSH PARTICULATES NOT OTHERWISE REGULATED, RESPIRABLE,

    Issue 3, de 15/01/1998. RESULTADOS E DISCUSSES

    A determinao do risco ocupacional gerado pelo contato com o particulado slido do aglomerado suspenso no ar do ambiente de trabalho foi realizada a partir da anlise estatstica dos dados obtidos, assim como atravs da comparao desses valores com os limites de tolerncia estabelecidos por rgos normatizadores, como a ACGIH, a NIOSH e a OSHA.

    O resduo disperso no ar caracteriza a concentrao de partculas pertinente ao ambiente de trabalho analisado, sendo dependente do tipo de processamento efetuado, do material processado e das condies ambientais existentes. Na presente pesquisa, foi analisado o particulado slido obtido a partir do corte retilneo de painis de madeira aglomerada com espessura mdia de 15 mm, efetuado por uma serra seccionadora. A tabela 1 apresenta a sntese dos valores obtidos para o limite de tolerncia (LT) e para a concentrao de partculas (C), relativos frao de poeira total (PT) e frao de poeira respirvel (PR).

    De acordo com os dados apresentados na tabela 1, existe risco ocupacional para o trabalhador exposto ao particulado slido do aglomerado na frao de poeira total (PT), pois a concentrao de partculas encontrada no material amostrado (CpPT = 16,069 mg/m

    3) foi superior tanto ao limite de tolerncia calculado especificamente para o particulado slido do aglomerado (LTpPT = 6,9994 mg/m

    3) como para o limite de tolerncia estabelecido pela ACGIH (LTACGIH = 8,8 mg/m

    3). Com relao aos valores obtidos para a frao de poeira respirvel (PR), como foi realizada a

    anlise em apenas uma amostra, no foi possvel efetuar uma anlise efetiva dos dados no clculo do limite de tolerncia especfico para o particulado slido do aglomerado (LTpPR). Mas se for comparada a concentrao de partculas encontrada para a frao respirvel (CpPR = 2,4741 mg/m

    3) com o limite de tolerncia estabelecido pela ACGIH (LTACGIH = 2,64 mg/m

    3), tem-se valores muito prximos, o que

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    indica potencial risco ocupacional para o trabalhador exposto ao particulado do aglomerado na frao respirvel. Tabela 1. Sntese dos valores do limite de tolerncia (LT) e da concentrao de partculas (C) obtidos no

    ambiente de trabalho analisado na presente pesquisa. Table 1. Value synthesis of tolerance limit (LT) and particle concentration (C) obtained in work

    environment under analysis in this research.

    Especificao das informaes levantadas Valor mdio obtido (mg/m3) Desvio padro

    dp (mg/m3) Parmetro de

    comparao (mg/m3) Limite de tolerncia especfico para o particulado slido do aglomerado = LTPT (poeira total/PT). LTPT = 6,9994 0,3073 CPT = 13,6553

    Limite de tolerncia especfico para o particulado slido do aglomerado = LTPT (material coletado sobre o maquinrio).

    LTPT = 6,9468 0,2963 CPT = 16,1069

    Concentrao de partculas coletadas = CPT (poeira total/PT). CPT = 16,1069 2,2966

    LT(ACGIH) = 8,8 LTPT = 6,9994

    Concentrao de partculas de poeira respirvel = CPR (poeira respirvel/PR). CPR = 2,4741 0,3832

    LT(ACGIH) = 2,64 LTPR = 3,6364

    Limite de tolerncia especfico para o particulado slido do aglomerado = LTPR (poeira respirvel/PR) LTPR = 3,6364 *** CPR = 2,4741

    LT: limite de tolerncia; C: concentrao de partculas; PT: frao de poeira total; PR: frao de poeira respirvel; *** : limite de tolerncia definido a partir de uma amostra, portanto sem variao estatstica; LTACGIH: Limite de tolerncia da ACGIH para Particulado No Classificado de Outra Maneira (PNOC). Segundo a ACGIH, se C >LT existe risco ocupacional.

    A toxidade do particulado slido do aglomerado foi avaliada a partir da concentrao de slica

    cristalina e de formaldedo, sendo que na anlise efetuada por EDS (Espectrmetro de Energia Dispersiva) foram detectadas partculas contendo uma concentrao de silcio variando de 11,74% a 39,74%. De acordo com o OSHA (2002), na anlise da concentrao de slica cristalina (Cs) em aerodispersoides slidos, a maior importncia est na caracterizao das partculas na frao respirvel, pois quando o ar inalado chega aos pulmes com esse tipo de substncia, ele pode promover a reduo da capacidade respiratria e da elasticidade pulmonar, culminando por desenvolver silicose. Entretanto importante ressaltar que a gravidade da silicose depende tambm do tempo de exposio ao agente agressor a que o trabalhador esteve sujeito durante a atividade de trabalho. O limite de tolerncia da ACGIH (TLV Threshold Limit Value) para a slica livre cristalina de 0,022 mg/m, e para o formaldedo de 0,369 mg/m.

    Segundo os resultados demonstrados na tabela 2, o particulado slido do aglomerado apresentou na frao de poeira total (PT) concentrao de slica livre cristalina (Cs) 170% superior ao limite estabelecido pela ACGIH (LTACGIH), o que indica grande risco ocupacional para os trabalhadores expostos. Entretanto, como esse tipo de particulado possui dimenses maiores que 10 m, ou seja, pertence frao inalvel, pode ser eliminado pelo sistema de defesa do organismo humano atravs das vias respiratrias superiores. Na anlise da frao de poeira respirvel (PR) do particulado slido do aglomerado, a concentrao de slica cristalina (Cs) ficou 80% abaixo do limite de exposio estabelecido pela ACGIH (LTACGIH). Esses dados indicam que grande parte do particulado pode ser filtrado pelo sistema respiratrio superior do ser humano e provavelmente no chegar a penetrar nos pulmes.

    Com relao ao formaldedo, foi detectada no particulado slido do aglomerado uma concentrao de formaldedo (Cf) 60% superior aos limites de tolerncia estabelecidos pela ACGIH (LTACGIH). De acordo com a ACGIH, se a concentrao de formaldedo encontrada no material amostrado for superior ao limite estabelecido, o material caracterizado como substancia A2, ou seja, como substncia suspeita de desenvolver carcinogneres nos seres humanos. Entretanto, a toxidade do formaldedo tende a ser mais potencializada no instante em que o particulado slido desprende do painel de madeira aglomerada durante o processamento mecnico do material (corte, usinagem ou lixamento), pois ocorre o aquecimento da superfcie trabalhada assim como do particulado produzido. Portanto, para determinar o grau de periculosidade do particulado slido do aglomerado quanto concentrao de formaldedo (Cf), deve-se considerar o tempo de exposio; a variabilidade intraindividual, pois o

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    trabalhador pode ser mais ou menos suscetvel substncia; a eficincia do sistema de exausto existente sobre o maquinrio; e a distncia do trabalhador ao maquinrio. Tabela 2. Sntese dos valores da concentrao de slica (Cs) e concentrao de formaldedo (Cf) obtidos

    no ambiente de trabalho analisado na presente pesquisa. Table 2. Value synthesis of silica concentration (Cs) and formaldehyde concentration (Cf) obtained in

    work environment under analysis in this research.

    Especificao das informaes levantadas Concentrao mdia (mg/m3) Desvio padro /

    dp (mg/m3) Parmetro de

    comparao (mg/m3) Concentrao de slica cristalina na amostra = Cs (poeira total PT). Cs=0,0592 0,0215 LT(ACGIH) = 0,022

    Concentrao de slica cristalina na amostra = Cs (poeira respirvel PR). Cs=0,0043 *** LT(ACGIH) = 0,022

    Concentrao de formaldedo na amostra = Cf

    (poeira total PT). Cf=0,5904 0,2021 LT(ACGIH) = 0,369

    Cs: concentrao de partculas de slica cristalina; Cf: concentrao de partculas de formaldedo; LT(ACGIH): limite de tolerncia da ACGIH. Segundo a ACGIH, se Cs >LTACGIH, existe risco ocupacional. Cf > LTACGIH: material caracterizado como substncia A2 suspeito de desenvolver cncer em seres humanos. *** : concentrao definida a partir de uma amostra, portanto sem variao estatstica.

    Vale salientar que ocorreu, durante os dias de coleta das amostras, variao da temperatura e da umidade relativa do ar, com tendncia de reduo nos valores obtidos para a massa corrigida do particulado coletado sobre o filtro de membrana. Esse tipo de comportamento do aerodispersoide slido j havia sido comentado na pesquisa feita por Santos (2005), na qual descreve que o local de deposio da partcula depende do seu tamanho e da sua higroscopicidade, sendo que as partculas menores que 1 m possuem baixo ndice de sedimentao pela gravidade. Portanto a reduo no valor da massa corrigida das partculas pode ser decorrente da coleta do aerodispersoide pelo sistema de exausto situado sobre o maquinrio. Por essa razo, recomendado para as empresas do setor de base florestal que utilizam no seu processamento painis de madeira aglomerada que seja feita uma checagem na regulagem do sistema de exausto nos dias quentes com baixa umidade do ar e nos dias frios com alta umidade relativa do ar, buscando melhorar a eficincia da coleta desse tipo de aerodispersoide no ambiente de trabalho. CONSIDERAES FINAIS

    De acordo com os dados apurados, existe risco ocupacional para o trabalhador exposto por longo perodo de tempo ao particulado slido do aglomerado. importante ressaltar que as amostras do particulado slido do aglomerado utilizado na presente pesquisa foram coletadas a partir de um estudo de caso, em uma indstria de painis de madeira aglomerada, visando minimizar algumas varveis pertinentes ao processamento do material, mas o resultado obtido aplicvel aos demais setores de transformao da indstria de base florestal, mais especificamente a indstria moveleira, responsvel pelo consumo de mais de 90% dos painis de madeira aglomerada produzidos no Brasil.

    A partir da homologao desses resultados, alguns cuidados devem ser tomados pelas empresas do setor de base florestal, buscando minimizar o risco ocupacional sofrido por seus empregados. Com resultado mais imediato, as empresas podem utilizar barreiras de segurana que minimizam a exposio do trabalhador. Esses sistemas de controle podem ser efetuados de duas maneiras: na fonte de propagao do aerodispersoide e/ou diretamente no trabalhador que sofre a exposio.

    Como medida de controle do particulado slido do aglomerado no ambiente de trabalho, indicada a utilizao de um sistema de exausto eficiente sobre o maquinrio, que ir retirar do ambiente de trabalho a poeira no instante do seu processamento. Como ao combinada, deve ser instalado um sistema de exausto geral na empresa, buscando eliminar a poeira remanescente.

    Por outro lado, para controlar a exposio direta do trabalhador, indicada a utilizao de equipamentos de proteo individual (EPIs), que devem ser plenamente adaptveis aos trabalhadores, para no atrapalhar a realizao das tarefas. Em se tratando do particulado slido do aglomerado, deve-se dar ateno proteo das mucosas e vias areas superiores. Para tanto, indicado para os trabalhadores

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    o uso de culos e mscaras ou respiradores. Os culos devem possuir lentes inteirias, que assegurem a completa proteo do globo ocular, mas com amplo campo de viso e resistentes a impactos. A armao deve ser de material flexvel, hipoalrgico, com sistema de ventilao lateral e elstico para reteno cabea. As mscaras tambm devem ser de material hipoalrgico e flexvel, ajustvel face do trabalhador. Deve possuir elstico para reteno na cabea e permitir a troca peridica do sistema de filtros, visando fornecer ao indivduo um ar livre de partculas de poeira slida, inclusive as pertencentes frao respirvel. REFERNCIAS AMERICAN CONFERENCE OF GOVERNMENTAL INDUSTRIAL HYGIENISTS (ACGIH). Documentation of the Threshold Limit Values and Biological Exposure Indices. Cincinnati, 1991. Disponvel em: . Acesso em: 5/10/2005.

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