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16 a 22 de agosto de 201516 a 22 de agosto de 2015
MAIOR (C)IDADE
MINHOCÃESA reunião de donos eseus cachorros no elevado
CIDADONA O empresário que comanda
três casas de shows
ROTEIROTeatro do Sesi
completa 50 anos
Em 15 anos, capital paulista terá mais velhos do que jovens; atual geração de idososé mais ativa doque anteriores
A partir da esq.,Therezinha de Almeida, 84,
Áureo do Nascimento, 63,Maura Batista, 75,e Abel Nunes, 94,
no heliponto do Copan
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1 CAPA/ESPECIAL
Em 2030, cidade terá mais idosos do que pessoas com até 15 anos; apesar de mudança próxima, capital paulista oferece obstáculos para quem envelhece
1 INGRID FAGUNDEZ
Duas mulheres em seus 70 anos hesitam em atravessar a rua da Con-solação ao meio-dia de uma quar-ta-feira. Os semáforos estão verdes, mas a passagem livre dura menos de dez segundos. É preciso correr. Elas olham para os dois lados, testas franzidas e olhos atentos, e aceleram o passo. Só conseguem chegar, esba-foridas, ao canteiro central.
Os semáforos da Consolação, as ladeiras do Bixiga, os buracos nas calçadas e as ruas mal-iluminadas à
noite em vários bairros. Muita coisa torna São Paulo uma cidade difícil para quem tem mais de 60 anos. É nesse cenário desfavorável que os moradores da capital paulista estão envelhecendo —e rápido.
Projeções da Fundação Seade mostram que até 2030 a proporção de idosos em relação à de pessoas com até 15 anos —classificadas co-mo jovens pela padronização demo-gráfica— deve dobrar, chegando a 20% da população paulistana.
Apesar de mais velhos, os habi-tantes da cidade não ficarão restritos às suas casas. Assim como a atual, as próximas gerações de idosos serão mais ativas do que as de seus pais e avós, e vão querer aproveitar esse período da vida.
“Esta é a última geração de ‘idosos velhinhos’. Quem tem 85 anos viveu, trabalhando, as mudanças na socie-dade, como a revolução tecnológica e a entrada da mulher no mercado de trabalho. Eram e são pessoas ativas”,
SenhoraSSeSe
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2010 2030 2050
Índice de envelhecimentoNúmero de idosos para cada 10 jovens (de até 15 anos)
diz a professora do curso de geron-tologia da USP Maria Luisa Bestetti.
Que o diga Maura Batista, 75 anos, 25 deles trabalhando na Po-lícia Civil. Depois de se separar do marido, na década de 1970, procurou a vaga para sustentar os três filhos.
Hoje, usa seu tempo para fre-quentar bailes, além de viajar, sozi-nha, pelo Brasil e América Latina. Os últimos destinos foram Salvador e Buenos Aires, “uma cidade tão pe-quenininha, mas aconchegante”.
De vestido florido e sapato de sal-to alto no heliponto do Copan, onde posou para uma foto desta reporta-gem, diz que os filhos perguntam quando ela vai envelhecer. Hoje e nos próximos anos, Maura vê uma trajetória diferente da de seus pais.
“Minha mãe morreu com 72 anos. Lembro que as velhinhas ficavam só em casa, ouvindo rádio. Andavam um quarteirão e cansavam, não iam ao cinema, só diziam: ciclano mor-reu, fulano morreu.”
Abel José Nunes também se vê di-ferente da família mineira, de quem se separou em 1955 ao se mudar para a capital paulista. Aos 94 anos, ele concorreu quatro vezes ao título de mais belo idoso de São Paulo, con-cedido pelo IPGG (Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia).
Na última edição do concurso, que aconteceu neste mês, estava confiante, mas evitava criar expec-tativas. “Não tenho ambição de ga-nhar. Como é que se diz? Gosto é de participar.” Ele não venceu.
Abel vai ao IPGG às sexta-feiras para dançar com sua namorada, uma senhora nos seus 80 anos com quem gosta de viajar. Ele evita falar do na-moro. “Põe que sou viúvo. É minha companheira, mas você sabe como é.”
Acostumado a andar com ajuda de sua bengala, o representante co-mercial aposentado diz que os bu-racos nas calçadas e a violência
75Costanza,
A empresária Costanza Pascolato, 75,
em seu apartamento
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o deixam em estado de alerta.“Rodo pelo centro, pego ônibus,
mas tem muito buraco. Deixo de sair às vezes porque é perigoso. Gostaria de passear mais à noite.”
A situação do calçamento e a sen-sação de insegurança foram alguns dos problemas citados pelos idosos entrevistados. Além disso, apare-cem as dificuldades no transporte público, com motoristas de ônibus que freiam bruscamente ou não es-peram todos embarcarem, e a falta
de espaços públicos de convivência.Para o coordenador do Centro
de Estudos do Envelhecimento da Unifesp, Fernando Bignardi, a cidade vive uma crise de acessibi-lidade. Se isso incomoda jovens e adultos, pode impedir o deslo-camento de pessoas mais velhas. “Tem problema de acesso à saú-de, de acesso aos lugares. Há uns tempos tive uma limitação física e descobri que o tempo do farol não é suficiente para cruzar a rua. ”
Responsável pela Coordenação de Políticas para Idosos da Secreta-ria Municipal de Direitos Humanos, Guiomar Lopes diz que a prefeitura tenta ampliar as ações voltadas para esse público e cita entraves. Entre eles, a falta de recursos, a dificulda-de de encontrar terrenos para obras e a escassa mão de obra especializada.
Por essas limitações, o plano de criar 15 Centros-Dia, locais onde idosos podem passar o dia fazendo atividades, foi adiado. Por enquanto, só duas unidades serão inauguradas.
“Estamos sensibilizando as instân-cias estaduais e federais porque temos que nos preparar. Até então a gente não encontrava quase nada para a população idosa. Está aquém do que precisaria. A discussão é nova, ainda se deixa para depois”, diz Guiomar.
Um agravante é o fato que as re-giões de São Paulo envelhecem de forma desigual. Enquanto o centro tem maior concentração de pessoas com mais de 60, nas áreas periféri-cas a maioria é de jovens. Em 2010, ano do último Censo, Consolação e Parelheiros foram, respectivamente, os distritos mais velho e mais novo.
Segundo a coordenadora da pre-feitura, essa diferença faz com que
Expectativa de vida ao nascer
Fonte: Fundação Seade
2010
2050
72 anos
79,2 anos
79,5 anos
84,7 anos
Gabriel Cabral/Folhapress
Jurada de concurso de beleza para senhores,Maria já foi Miss Elegância
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1 CAPA/ESPECIAL
20%Hoje, esta porcentagem da população paulistana é formada por jovens
Em 2
030,
est
e número será de idosos
a falta de programas e serviços es-pecíficos para a terceira idade em bairros pobres impeça o envelheci-mento saudável (ou qualquer enve-lhecimento) nessas regiões.
AdaptaçãoFrente a um novo cenário, a so-
ciedade paulistana, assim como a brasileira, vai ter que lidar com as consequências de ter habitantes mais velhos. Adaptar-se a isso vai de repensar o mobiliário urbano a ofe-recer vagas no mercado de trabalho,
passando pelas transformações nos sistemas médico e previdenciário.
Os dois últimos, como aponta o professor de finanças da USP José Savoia, são as principais preocupa-ções. Ele indica a necessidade de hospitais voltados para doenças li-gadas à terceira idade, além de mais postos do INSS na capital paulista.
A questão, no entanto, vai muito além da estrutura física. O rombo da Previdência levou o governo a propor no ano passado regras mais duras para se ter acesso aos direi-tos trabalhistas. A última estimativa oficial, de julho, é que o deficit nas contas seja de R$ 88,9 bilhões.
“Há 30 anos, a vida era consi-derada só até o fim do trabalho. As pessoas iriam viver entre 60 e 70 anos e já estavam se aposentando. O sistema se sentia à vontade. Elas pa-gavam a vida inteira e iriam receber por poucos anos”, diz o coordenador do Centro de Estudos do Envelheci-mento, Fernando Bignardi.
A expectativa de vida aumentou e chegou a 79,5 anos para as paulista-nas, passando muito a época da apo-sentadoria. E aí o cálculo não fecha.
Bancar tais mudanças provoca discussões sobre a idade mínima de aposentadoria, tema atualmente de-batido pelo governo.
“Não se pode mais dizer que al-guém tem o final de carreira e da vi-da aos 60 anos. Esse grupo faz cada
94Abel,
Gabriel Cabral/Folhapress
Abel Nunes levou a namorada para vê-lo concorrer ao título de mais belo idoso de SP
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1 CAPA/ESPECIAL
63Áureo,
Os distritos mais envelhecidos localizam-se no centro e no centro
expandido de São Paulo
Cidade Tiradentes
Parelheiros
Distrito mais jovem
Distrito mais velho
Consolação
Alto de Pinheiros
Número de idosos para cada 10 jovens
2010
2030
vez mais parte da economia”, diz o assessor econômico da Fecomercio-SP (federação paulista de comércio e serviços) Fábio Pina.
Essa participação é percebida por empresas de vários setores, que começam a se mexer para oferecer produtos voltados à terceira idade.
“Várias marcas começam a pensar nisso. Agora estamos falando com um banco sobre o assunto”, diz a pesqui-sadora de tendências da consultoria CO.R Inovação Lydia Caldana.
Para ela, depois da questão de gênero, o próximo tema a vir à tona é o envelhecimento populacional.
Se a publicidade planeja artigos para esse público, o mercado começa a empregá-lo. Pina, da Fecomercio, cita casos de supermercados que contratam atendentes nessa faixa etária, e de profissionais que demo-ram mais para se aposentar.
Segundo levantamento do institu-to QualiBest, feito a pedido da farma-cêutica Pfizer, 60% dos 989 entrevis-
Gabriel Cabral/Folhapress
Áureo do Nascimento, que tem uma empresa de mudanças, não pensa em se aposentar
6363Áureo,63
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tados disseram acreditar que quem trabalha após a aposentadoria fica saudável por mais tempo e mais feliz.
A empresária Costanza Pascolato, 75 anos, é um exemplo. Como consul-tora de estilo para a fábrica de tecidos Santaconstancia, fundada por seus pais, vai várias vezes durante a se-mana ao Parque Novo Mundo (zona norte). Ela diz que não se vê saindo de São Paulo ou deixando de trabalhar.
“Deus me livre. Se eu me aposen-tar, eu morro. Vou me sentir inútil.”
Além de estar envolvida com a fábrica, ela elabora coleções com seu nome e presta consultoria para várias marcas, como uma das prin-cipais referências da moda no Brasil.
O que acontece com Costanza é, para Fábio Pina, um exemplo de como a experiência de alguns pro-fissionais é valorizada e os fazem continuar em suas funções.
“Em serviços de advocacia e medicina, muitos vão escolher um médico ou advogado com número de registro bem baixinho, porque querem gente experiente.”
Em outros segmentos, o espaço disponível para idosos é limitado. Um dos maiores medos do grupo com mais de 50, segundo o levantamento, é de ser considerado velho demais para continuar trabalhando (25%).
As restrições acontecem tanto em vagas que exigem esforço físico co-mo nas de perfil intelectual. O ator Fúlvio Stefanini, 75, que interpreta um chefe na comédia em cartaz “Não Sou Bistrô”, diz que os papéis nessa fase da vida são mais raros.
“Os personagens [a fazer] são es-cassos. Os jovens têm um leque maior. Mas não penso em me aposentar.”
Para especialistas, é preciso mu-dar a visão que se tem sobre essa
parte da população, que vai ser en-grossada pelos adultos de hoje.
Segundo eles, a ideia de “velho ga-gá”, criada após a Revolução Indus-trial, que limitava o trabalhador a sua força física, deve ser desconstruída e se aproximar do modelo japonês, on-de velhice é sinônimo de experiência.
Quem viveu tantos anos em São Paulo, por exemplo, é capaz de re-contar a história da capital desde seu estilo parisiense, em 1950, à explosão demográfica nos anos 1970 e o cres-cimento desordenado que se seguiu.
Paulistana da Penha (zona leste), Maria Martiniano, 72, é testemunha de uma cidade onde as crianças brinca-vam na rua. Vestindo um longo renda-do para ser juíza do concurso de mais belo idoso de São Paulo, e sem rugas na pele negra, ela diz que não mudou de lá para cá. Só ficou mais velha. (Colaboraram natália albertoni e rafael balago)
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1 SAÚDE
Projeto da USP estuda o DNA de pessoas saudáveis com mais de 80 anos para entender os segredos da longevidade e analisar causas de doenças genéticas
1 INGRID FAGUNDEZ
MentesbrilhantesEugênia Fischer, 100, diz que nunca teve doenças graves
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SERVIÇO Para participar da seleção do projeto, mande um e-mail para [email protected]
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A viagem de Buenos Aires a Por-to Alegre foi feita de trem e durou uma semana. Durante o trajeto, uma trupe de artistas chamou a atenção de Eugênia Fischer, que ficou dias olhando para Pablo, um dos integrantes. Eugênia narra a mudança para o Brasil como se fosse ontem. Mas era 1920.
Aos cem anos, a argentina é uma das participantes do Projeto 80+, da USP, que estuda o DNA de idosos saudáveis com mais de 80 anos para descobrir que caracte-rísticas genéticas e ambientais os fazem viver mais e melhor.
Iniciado no Centro de Pesquisas sobre o Genoma Humano e Célu-las-Tronco em 2010, o projeto tem 150 participantes.
O biólogo Michel Naslavsky diz que a ideia de criar o grupo surgiu há oito anos, e desde então firmou parcerias com o programa Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento, da Faculdade de Saúde Pública da USP, e com o Instituto do Cérebro, do hospital Albert Einstein.
Com a ajuda da Faculdade de Saúde Pública, que coleta dados de idosos da cidade desde 2000, o pro-jeto elevou o número de membros de seu banco genético, incluindo pessoas a partir de 60 anos, de di-ferentes classes e estados de saúde.
“Tem de tudo. Conseguimos fa-zer uma comparação interna entre as pessoas de 60 que têm doenças e as de cem que estão bem.”
Como o conjunto pesquisado pela faculdade conta com 30% de analfabetos ou analfabetos funcio-nais, os pesquisadores perceberam que quem teve mais atividade inte-lectual durante a vida parece estar com a mente melhor na velhice.
Naslavsky explica que, segundo a teoria da reserva cognitiva, a par-tir do exercício intelectual, criam-se conexões entre os neurônios. Se alguém tem muitas conexões, quando surgem bloqueios em um caminho, os impulsos nervosos podem seguir trajetos alternativos.
A coordenadora do Centro de Pesquisas sobre o Genoma Humano, Mayana Zatz, diz que essa amostra maior vai permitir analisar os impac-tos da alfabetização. “Não sabemos como, mas as pessoas que não foram alfabetizadas têm uma maneira de raciocinar diferente da nossa.”
Atenta à conversa, Eugênia Fischer diz que lê muito desde a in-fância. Formada em letras e turismo, em seu aniversário de cem anos ela ganhou vários livros. Revistas e jor-nais também estão em seu cardápio.
“Tenho duas idades: a cronoló-gica, que é mais de cem anos, e a cerebral, porque penso como gente jovem, como se tivesse 50 anos.”
Naslavsky diz que esse é o perfil dos participantes do Projeto 80+. Segundo ele, ressonâncias magné-ticas feitas no Albert Einstein mos-tram que o cérebro de alguns têm aparência mais jovem.
Além de listar fatores que in-fluenciam na longevidade, o ob-jetivo é ter uma base de compara-ção para pesquisar mutações que podem causar doenças genéticas, como o Alzheimer.
“Conhecendo pessoas que passa-ram da idade de início da doença e não tiveram sintomas, ficamos mais confiantes de que tal tipo de muta-ção não vai gerar problemas.”
Intrigada, Eugênia pergunta: “Não tenho mais risco de ter isso, né? Acho que já estou isenta”.
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Aos 80 eu era jovem, nada me incomodava. Percebi que estava envelhecendo aos 92 anosEUGÊNIA FISCHER, 100
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1 VIAGENS
Grupos de idosas do interior se organizam em excursões para aproveitar os fi ns de semana nos teatros e centros de compras da capital
1 AMANDA MASSUELA
Aos 85 anos, dona Mercedes “não tem parada”. Quando recebe os tele-fonemas da guia turística Merli Sou-to, 49, oferecendo um novo passeio para São Paulo, é “sempre a primei-ra a dizer sim”. “A velhinha aqui passeia muito. Não gosto de ficar em casa de jeito nenhum. Apareceu alguma coisa, eu estou indo.”
Duas vezes por mês, a aposentada sai da cidade de Sorocaba, a 82 km da capital, e segue para São Paulo com um grupo de 15 pessoas —mais da metade composta de professoras aposentadas e donas de casa que já passaram dos 60 anos. O destino é sempre o mesmo: os teatros, museus e salas de concerto da cidade.
Elas não são as únicas a caírem na estrada. De acordo com levantamen-to realizado pela SPTuris, empresa municipal responsável por geren-ciar o turismo, 40% dos idosos que chegam à capital estão em busca de entretenimento e passeios turísticos. A permanência média na cidade é de 5,6 dias, e as mulheres representam 38% do total de visitantes.
“Amo São Paulo. Tudo aconte-ce aí, é uma cidade maravilhosa, o
senhoras
melhor lugar do planeta, digo, do Brasil, para curtir programas cultu-rais”, afirma Merli, que já organiza os passeios há 15 anos.
Dona Mercedes participa des-de as primeiras excursões e não pretende abandonar a estrada tão cedo. “Gosto muito de viajar, e com a Merli mais ainda. Nós é que so-mos as velhas e ela o broto, mas ela se tornou a nossa mãezona.”
Nas excursões de Merli, os teatros são parada obrigatória —já assistiram
à peça “Visitando o Sr. Green” sete vezes—, mas as viajantes que prefe-rem os musicais têm que se acertar com as que gostam mais dos espe-táculos tradicionais. “Fazemos um acordo pra agradar a todas”, diz Leda Maria Rossi, 65, também ve-terana no grupo de viagens do qual participa há 12 anos.
“Enquanto trabalhamos oito horas por dia não temos tempo de desenvolver a parte intelectual e cultural. Depois, está mais libera-do, até porque pagamos meia. Fica um pouquinho caro, não vou mentir, mas vale a pena”, afirma Leda, que desembolsa R$ 150 por passeio.
A próxima viagem está planejada para sábado (22), quando irão assis-tir à peça “Intocáveis”, em cartaz no teatro Renaissance. Depois, devem seguir para algum restaurante ou padaria artesanal nas redondezas para “discutir o espetáculo”, como já é de praxe. “Estamos sempre na ativa, meu bem”, diz Mercedes.
Bonde das
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Academias para terceira idade instaladas em praças e parques ajudam a atrair amigos e a retardar envelhecimento
1 Rafael Balago
Adriano Aguiar, 71, no parque da Água Branca
1 esporte
Georgina Oliveira, 71, teve melhora na artrite
da saúdePlayground
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“Machuquei meu joelho no mes-mo mês e do mesmo jeito que o Alan Kardec [jogador do São Paulo]. Como pedalei aqui, já me recuperei. Ele ain-da está fora do time”, brinca Adriano Aguiar, 71, enquanto mexe os pedais de um dos aparelhos voltados para a terceira idade instalados no parque da Água Branca, na zona oeste.
Equipamentos como simuladores de pedalada, de caminhada e de esqui foram espalhados por parques e praças
Preços dos equiPamentos Remada sentada r$ 892 Esqui duplo r$ 2.354 Bicicleta dupla r$ 1.662 Kit com esquiador, simuladores de caminhada e de cavalgada, giro vertical para braços, barra fixa e exercitador de pernas r$ 7.900
Fontes:� Ginast e Selva Equipamentos. Os valores não incluem frete e instalação
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Terezinha Monteiro, 85, faz exercícios diariamente
Como começar
A ideia foi trazida da China em 2006 pelo então prefeito de Maringá (PR), Sílvio Barros, que contratou uma metalúrgica do município, a Ziober, para produzir os equipamen-tos para sua cidade. “Hoje as acade-mias são o principal negócio da em-presa. Vendemos para todo o Brasil e temos encomendas do Chile”, diz Roderval dos Santos, coordenador comercial da Ziober, que patenteou o desenho dos aparelhos e já comer-cializou mais de 10 mil unidades.
A Prefeitura de São Paulo não in-formou quantas ATIs há na capital, mas disse, por nota, que os idosos usam esses equipamentos com mais frequência no começo da manhã e no fim da tarde, quando o sol está mais baixo. Como muitos deles são coloridos, esses aparelhos atraem a atenção das crianças. Para aten-dê-las, já foi criada a Academia da Primeira Idade, com simuladores va-riados para maiores de cinco anos.
Tenha cuidado com o sol. A pele dos idosos tem menor capacidade de regeneração
da cidade nos últimos cinco anos. Cha-mados de ATI (Academia da Terceira Idade), permitem realizar exercícios leves, mas que fazem diferença.
“Ao se exercitar, o idoso conse-gue diminuir a velocidade da perda de massa muscular e de densidade óssea gerada pelo envelhecimento”, diz Marcos Larizzatti, professor de Educação Física do Mackenzie. Ele destaca também a melhora da ca-pacidade pulmonar e a maior resis-tência a quedas. “Com o músculo forte, o idoso tem mais equilíbrio e consegue se apoiar ao cair.”
Outros pontos positivos são o con-tato com a natureza e a socialização com pessoas da mesma idade. Nas academias tradicionais, prevalece o público jovem, que tem objetivos e comportamento diferentes. “Gosto de fazer as coisas no meu ritmo e ser independente”, comenta Terezinha Monteiro, 85, que frequenta uma ATI diariamente há quatro anos. “Não te-nho nenhuma doença de velho”, ri.
“Minhas dores da artrite melhora-ram 80% ao combinar os exercícios com um remédio natural”, conta Georgina Oliveira, 71, que também faz alongamento três vezes por semana.
A implantação das ATIs ganhou força por terem instalação simples e baixo custo. Um kit com seis apare-lhos sai a partir de R$ 7.900, valor pró-ximo ao de um playground infantil.
Comece indo um dia sim e outro não no primeiro mês. Aos poucos, a frequência pode ser aumentada para 4 ou 5 vezes por semana
Quem busca emagrecer tem resultados melhores se fizer exercícios todos os dias
A soma dos exercícios deve durar ao menos 30 minutos. Além dos aparelhos, esse tempo pode incluir caminhada
PrecauçõesBeba bastante água. Os idosos possuem menos água no corpo e podem se desidratar mais facilmente
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1 O QUE FAZER
De ofi cinas de capoeira a redes sociais, aulas voltadas para idosos propõem manter corpo e mente ativos; confi ra algumas sugestões
1 AMANDA MASSUELA
CURSO DE REDES SOCIAISPara quem cansou de depender de fi lhos e netos para ver um vídeo no YouTube ou postar uma foto no Facebook, o Ideac (Instituto de Desenvolvimento Educacional, Artístico e Científi co) criou um curso só para redes sociais. Desde 2001, o instituto direciona suas atividades apenas para idosos. Instituto de Desenvolvimento Educacional Artístico e Científi co. R. Pamplona, 1.326, Jardim Paulista, região oeste, tel. 3085-0091. Dias 7, 14, 21 e 28 de outubro, das 9h às 11h. R$ 412. www.ideac.com.br
Maturidade
IOGA E TAI CHI CHUANAqui, a prioridade é o equilíbrio físico e mental. Há dez anos, o Espaço de Convivência do Idoso tem atividades para pessoas acima dos 55. São 19 cursos semanais, com aulas de ioga e tai chi chuan —um tipo de arte marcial de baixo impacto que, assim como a ioga, melhora a fl exibilidade, alonga as musculaturas e desbloqueia articulações. Espaço de Convivência do Idoso. R. Ministro Godói, 180, Perdizes, região oeste, tel. 2588-5765. Às segundas e quartas, das 9h às 10h20 e outros três horários. GRÁTIS
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AULAS DE BICICLETAO programa Escola Bike Anjo SP atende, por ano, mais de mil pessoas que querem pedalar, mas nunca subiram numa bicicleta. As aulas são divididas em seis módulos e as inscrições são abertas entre os dias 15 e 20 de cada mês.Escola Bike Anjo São Paulo. Praça Marechal Cordeiro de Farias, região central. A partir de 30/8 (módulo 1 e 2), todo último domingo do mês às 15h. GRÁTIS. www.bikeanjo.org
CONVIVÊNCIA ENTRE ÉPOCASO Fussesp (Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo) promove a reunião entre crianças e idosos no curso “Ciranda do Tempo: Encontro de Gerações”. A intenção é criar um espaço de troca de experiências por meio de leituras, cirandas e jogos colaborativos. Espaço de Convivência do Idoso. R. Ministro Godói, 180, Perdizes, região oeste, tel. 2588-5765. De 28/8 a 16/10, todas as sextas das 9h às 11h ou das 14h às 16h. GRÁTIS
OFICINA DE FLAUTA E PINTURATodos os dias, o Ciipe (Centro de Integração, Informação e Preparação para o Envelhecimento) ocupa a praça Victor Civita com atividades que vão do esporte ao artesanato. Há ofi cinas semanais de fl auta e de pintura, com inscrições abertas durante o ano todo. Ciipe. Praça Victor Civita, R. Sumidouro, 580, Pinheiros, região oeste, tel 3031-3689. Todas as quartas (fl auta) e quintas (pintura), às 15h e 14h, respectivamente. GRÁTIS. www.pracavictorcivita.org.br
UNIVERSIDADE ABERTAHá 22 anos a USP mantém o projeto
Universidade Aberta à Terceira Idade, que permite que idosos se matriculem em cursos de todos os departamentos da instituição. As inscrições para as turmas do segundo semestre já acabaram, mas há vagas remanescentes em algumas turmas. O melhor a fazer é consultar a lista de cursos e se informar no Núcleo dos Direitos. Universidade Aberta à Terceira Idade. R. do Anfi teatro, 181, Cidade Universitária, tel 3091-9183, região oeste. GRÁTIS. www.prceu.usp.br/nucleodosdireitos/usp3idade/
DANÇASemanalmente, o parque da Aclimação oferece aulas de ginástica dançante para todos, mas a adesão é maior entre os que já passaram dos 60. As aulas são leves, com coreografi as mais livres e que não demandam muito esforço físico. Para participar, basta se juntar à turma. Parque da Aclimação. R. Muniz de Souza, 1119, Aclimação, região central, tel 3208-4042. Todas as terças, quintas e sábados, das 7h30 às 8h30. GRÁTIS
CAPOEIRAEm parceria com a ONG Juntos (Jardins Unidos Num Trabalho de Obras Sociais), o grupo Capoeira Mandinga mantém, na zona leste, seis núcleos de ensino da prática para idosos, cada um com cerca de 60 alunos. Para assistir ao vídeo de uma aula, acesse folha.com.br/saopauloGrupo Capoeira Mandinga. R. Canfora, 90, Jardim Brasilia, região leste, tel. 2743-9791. De seg. a sex. das 9h às 11h ou das 13h30 às 16h30. GRÁTIS. www.grupocapoeiramandinga.com
Aula de ioga laboral realizada no Espaço de Convivência do Idoso
Reiko Takano, 75, faz aula de informática no Parque da Água Branca
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1 ECONOMIA
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ImpostoAposentados e pensionistas podem pedir isenção do IPTU na cidade de São Paulo, desde que a pessoa tenha renda mensal de até cinco salários mínimos (R$ 3.940). O imóvel deve ter valor menor que R$ 1 milhão, ser usado para moradia e estar no nome do beneficiado.Como solicitar: pelo site bit.ly/iptuidosos
Na cidade de São PauloPessoas com mais de 60 anos não pagam para viajar em ônibus municipais e intermunicipais, trem e metrô no Estado de São Paulo. Em âmbito nacional, a lei estabelece a idade mínima de 65 anos para ter direito ao benefício. Como usar: apresente documento com foto no transporte ou faça o cadastro para ter um Bilhete Único Especial, sem cobrança de taxa.
Viagem entre EstadosIdosos com mais de 60 anos e renda mensal de até dois salários mínimos (R$ 1.576) podem viajar gratuitamente em ônibus interestaduais. Para esse fim, são reservados dois assentos por viagem. Caso eles tenham sido ocupados, os idosos nessas condições podem comprar passagem para outro assento por 50% do valor.A venda é feita nos guichês das empresas. É preciso levar documento com foto e comprovante de renda.
O programa VidAtiva, do governo estadual, dá uma ajuda mensal de R$ 57 para pessoas com mais de 60 anos frequentarem academias. Podem receber o auxílio idosos com renda mensal de até três salários mínimos (R$ 2.364) e que não tenham em seu nome bens com valor superior a R$ 106 mil. Pessoas que possuem recomendação médica para a prática de exercícios têm prioridade.Como se inscrever: compareça ao posto de inscrição na praça Antônio Prado, 9, 6º andar, centro, tel. 3241-5822 (r. 1203) ou 3241-5925.
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ingresso cultura50% de desconto em atrações culturais como cinema, teatro, exposições, parques de diversão, shows e jogos de futebol etc. A compra do ingresso deve ser feita nas bilheterias, mediante apresentação de documento com foto.Peça “Barbaridade” dá desconto de 65% para quem tem mais de 65 anos na sessão de sábado, às 17h.
Alguns fabricantes de remédios de uso contínuo, como Aché, Bayer, Novartis e Pfizer, oferecem descontos para clientes que fazem parte de programas de fidelização. As campanhas reduzem o valor de comprimidos para controlar colesterol, diabetes e pressão alta, por exemplo, e atendem pessoas de qualquer idade. É preciso ter a receita do medicamento e o cadastro pode ser feito via telefone ou internet.Mais informações nos sites bayerparavoce.com.br; maispfizer.com.br; cuidadospelavida.com.br (Aché) e valemaissaude.com.br (Novartis).
O site Viaja Mais Melhor Idade, do Ministério do Turismo, reúne algumas ofertas para idosos. Até quinta (13), havia promoções para hospedagens em Foz do Iguaçu (PR), Juiz de Fora (MG), Natal (RN) e Caldas Novas (GO).Veja mais em viajamais.gov.br/vm
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