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15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 1 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental RECUPERAÇÃO AMBIENTAL EM SIDERÓPOLIS SC André Luís Invernizzi 1 ; Irineu Capeletti 2 ; Vilson Paganini Bellettini 3 ; Sérgio Luciano Galatto 4 ; Jader Lima Pereira 5 , Giovani de Costa 6 Resumo O Ministério Público Federal, em Janeiro de 2000, proferiu sentença referente à ação civil pública 93.8000533-4, condenando solidariamente as empresas carboníferas de Santa Catarina e a União a recuperarem a degradação ambiental proveniente da mineração de carvão no Sul de Santa Catarina. Por determinação do Ministério de Minas e Energia, em conjunto com o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), foi designada para coordenar e executar trabalhos visando o cumprimento da execução da sentença judicial. Para atender a demanda, a CPRM/SGB contratou, através de licitação pública, o IPAT - Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnológicas da UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense para elaborar os Planos de Recuperação de Áreas Degradadas pela mineração do carvão, das áreas que integram o passivo ambiental da Carbonífera Treviso S.A. Em posse das licenças ambientais, seguindo um cronograma homologado na Justiça Federal, iniciou-se a contratação das empresas, através de licitação pública, para realização das obras de recuperação. No presente artigo serão apresentados os trabalhos desenvolvidos na elaboração do projeto conceitual e executivo e na realização da obra de recuperação ambiental da área denominada Belluno, com 42,23 hectares de área degradada pela mineração de carvão a céu aberto, pertencente à empresa Treviso. As obras iniciaram-se em maio de 2013 e foram concluídas em março de 2015. O Ministério Público Federal realizou a vistoria de conclusão das obras, iniciando-se a fase de monitoramento dos parâmetros ambientais. Abstract The Federal Prosecution Office issued a judgement regarding the Public-interest Civil Action no. 93.8000533-4 in January 2000. The coal industry of Santa Catarina was jointly and severally liable with the Federal Government for the environmental recovery of the degradation from coal mining in southern Santa Catarina. As determined by the Ministry of Mines and Energy, and the Ministry of Planning, Budget, and Management, the Company of Research of Mineral Resources / Geological Survey of Brazil (CPRM / SGB) had been assigned to supervise and carry out works to enforce the judgement. To meet the demand, CPRM / SGB had hired the IPAT - Environmental Research and Technology Institute of the UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense, through public bidding, to draw up the Recovery Plans for Degraded Areas caused by coal mining, the areas covered by the environmental liability of the company Carbonífera Treviso S.A. Holding the environmental permits, and following a schedule approved by the Federal Court, CPRM began hiring companies through public bidding, to carry out the recovery works. This article presents the works done for developing the conceptual and executive projects and the implementation of the environmental recovery work of the area called Belluno, with 42.23 hectares degraded by the open-pit mining of the Treviso. Works began in May 2013 and were completed in March 2015. The Federal Prosecution Office made the final inspection. Then, the monitoring phase of the environmental parameters started. Palavras-Chave Obras Ambientais, Fechamento de cava de mina, Pilhas de estéril 1 Geól., MSc, Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/ Serviço Geológico do Brasil CPRM/SGB - Rio de Janeiro RJ (21) 2244-0140 - [email protected] 2 Geól. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/ Serviço Geológico do Brasil CPRM/SGB - Rio de Janeiro RJ (21) 2244-0140 - [email protected] 3 Eng. Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnológicas/Parque Científico e Tecnológico/Universidade do Extremo Sul Catarinense - IPAT/IPARQUE/UNESC Criciúma SC (48) 3444-3742 - [email protected] 4 Eng., MSc - Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnológicas/Parque Científico e Tecnológico/Universidade do Extremo Sul Catarinense -IPAT/IPARQUE/UNESC Criciúma SC (48) 3444-3742 - [email protected] 5 Bio., MSc - Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnológicas/Parque Científico e Tecnológico/Universidade do Extremo Sul Catarinense -IPAT/IPARQUE/UNESC Criciúma SC (48) 3444-3742 - [email protected] 6 Eng. Civil- Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnológicas/Parque Científico e Tecnológico/Universidade do Extremo Sul Catarinense -IPAT/IPARQUE/UNESC Criciúma SC (48) 3444-3742 - [email protected]

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15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 1

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental

RECUPERAÇÃO AMBIENTAL EM SIDERÓPOLIS – SC –

André Luís Invernizzi

1; Irineu Capeletti

2; Vilson Paganini Bellettini

3; Sérgio Luciano Galatto

4;

Jader Lima Pereira5, Giovani de Costa

6

Resumo – O Ministério Público Federal, em Janeiro de 2000, proferiu sentença referente à ação civil pública 93.8000533-4, condenando solidariamente as empresas carboníferas de Santa Catarina e a União a recuperarem a degradação ambiental proveniente da mineração de carvão no Sul de Santa Catarina. Por determinação do Ministério de Minas e Energia, em conjunto com o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB), foi designada para coordenar e executar trabalhos visando o cumprimento da execução da sentença judicial. Para atender a demanda, a CPRM/SGB contratou, através de licitação pública, o IPAT - Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnológicas da UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense para elaborar os Planos de Recuperação de Áreas Degradadas pela mineração do carvão, das áreas que integram o passivo ambiental da Carbonífera Treviso S.A. Em posse das licenças ambientais, seguindo um cronograma homologado na Justiça Federal, iniciou-se a contratação das empresas, através de licitação pública, para realização das obras de recuperação. No presente artigo serão apresentados os trabalhos desenvolvidos na elaboração do projeto conceitual e executivo e na realização da obra de recuperação ambiental da área denominada Belluno, com 42,23 hectares de área degradada pela mineração de carvão a céu aberto, pertencente à empresa Treviso. As obras iniciaram-se em maio de 2013 e foram concluídas em março de 2015. O Ministério Público Federal realizou a vistoria de conclusão das obras, iniciando-se a fase de monitoramento dos parâmetros ambientais.

Abstract – The Federal Prosecution Office issued a judgement regarding the Public-interest Civil Action no. 93.8000533-4 in January 2000. The coal industry of Santa Catarina was jointly and severally liable with the Federal Government for the environmental recovery of the degradation from coal mining in southern Santa Catarina. As determined by the Ministry of Mines and Energy, and the Ministry of Planning, Budget, and Management, the Company of Research of Mineral Resources / Geological Survey of Brazil (CPRM / SGB) had been assigned to supervise and carry out works to enforce the judgement. To meet the demand, CPRM / SGB had hired the IPAT - Environmental Research and Technology Institute of the UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense, through public bidding, to draw up the Recovery Plans for Degraded Areas caused by coal mining, the areas covered by the environmental liability of the company Carbonífera Treviso S.A. Holding the environmental permits, and following a schedule approved by the Federal Court, CPRM began hiring companies through public bidding, to carry out the recovery works. This article presents the works done for developing the conceptual and executive projects and the implementation of the environmental recovery work of the area called Belluno, with 42.23 hectares degraded by the open-pit mining of the Treviso. Works began in May 2013 and were completed in March 2015. The Federal Prosecution Office made the final inspection. Then, the monitoring phase of the environmental parameters started.

Palavras-Chave – Obras Ambientais, Fechamento de cava de mina, Pilhas de estéril

1Geól., MSc, Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/ Serviço Geológico do Brasil – CPRM/SGB - Rio de Janeiro – RJ

(21) 2244-0140 - [email protected] 2Geól. Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/ Serviço Geológico do Brasil – CPRM/SGB - Rio de Janeiro – RJ

(21) 2244-0140 - [email protected] 3Eng. Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnológicas/Parque Científico e Tecnológico/Universidade do Extremo Sul Catarinense -

IPAT/IPARQUE/UNESC – Criciúma – SC (48) 3444-3742 - [email protected] 4Eng., MSc - Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnológicas/Parque Científico e Tecnológico/Universidade do Extremo Sul

Catarinense -IPAT/IPARQUE/UNESC – Criciúma – SC (48) 3444-3742 - [email protected] 5Bio., MSc - Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnológicas/Parque Científico e Tecnológico/Universidade do Extremo Sul

Catarinense -IPAT/IPARQUE/UNESC – Criciúma – SC (48) 3444-3742 - [email protected] 6Eng. Civil- Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnológicas/Parque Científico e Tecnológico/Universidade do Extremo Sul

Catarinense -IPAT/IPARQUE/UNESC – Criciúma – SC (48) 3444-3742 - [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

O presente artigo apresenta os resultados da obra de recuperação ambiental realizada na Área Belluno, pertencente à Carbonífera Treviso S.A, impactada pela mineração de carvão a céu aberto. As obras de recuperação foram executadas de acordo com o projeto executivo elaborado pelo IPAT - Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnológicas da UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense.

Para realização das obras a CPRM/SGB contratou a empresa Colombo Retroterra LTDA, através de licitação pública (concorrência 006/SERAFI-RJ/2012). O prazo de vigência do contrato foi de 24 meses contados a partir da assinatura. As obras iniciaram-se em maio de 2013 e foram concluídas em março de 2015. O valor do contrato foi de R$ 5.369.024,08.

Os trabalhos consistiram em remodelamento da topografia por meio da movimentação do material estéril, instalação de drenagem e obras de arte, aterramento de cavas da mina a céu aberto, construção de solo, implantação da vegetação, tratamento das lagoas ácidas e isolamento da área.

2. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA

A Área Belluno está localizada no município de Siderópolis - SC, possuindo uma área de 42,23 ha, degradada pela mineração de carvão a céu aberto. A Área está inserida na bacia hidrográfica do rio Araranguá. A Figura 1 apresenta a localização com imagem ilustrando a área antes da obra de recuperação.

Figura 1 - Localização com imagem ilustrando a área antes da obra de recuperação

2.1. Caracterização da área

A Área Belluno é ocupada predominantemente por pilhas de estéril, resultante da inversão de camadas durante a lavra de carvão a céu aberto e por cavas de mina com acúmulo de água em seu interior. Os fluxos de água advindos dos recursos hídricos perenes e de períodos de pluviosidades intensas que são interceptados pelo polígono, fluem para as cavas de mina localizadas no interior da área, formando extensas lagoas artificiais. O relevo regional é

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caracterizado como forte ondulado, sendo a área constituída por formação suave ondulado e com algumas regiões planas.

O polígono abrange também residências, empresas, vegetação do tipo eucalipto (Eucalyptus sp), sendo que em alguns locais observou-se vegetação exótica Pinus (Pinus sp) e ainda disposição de resíduos sólidos domiciliares, comerciais e de construção civil.

Nas áreas lindeiras com o perímetro que limita o polígono, verificaram-se o predomínio de áreas de pastagens e de área industrial.

2.2. Caracterização geológica

Na região onde está localizada a Área Belluno afloram rochas sedimentares e vulcânicas que constituem a sequência da borda leste da Bacia do Paraná e sedimentos inconsolidados que constituem a Planície Costeira ou formam depósitos aluviais atuais. A área minerada está toda inserida na zona de ocorrência da Formação Rio Bonito, onde predominam arenitos quartzosos, maciços, de coloração cinza-esbranquiçado, dispostos em bancos métricos, intercalados com camadas menos espessas de siltitos acinzentados, folhelhos carbonosos e carvão (camada Barro Branco). A camada Barro Branco é constituída por intercalações de carvão, folhelhos carbonosos cinza-escuros e argilitos cinza-acastanhado, os quais estão dispostos em finas camadas centimétricas.

2.3. Caracterização das pilhas de estéril

As pilhas de estéril, são constituídas por blocos centimétricos a métricos de arenitos cinza-esbranquiçados a esbranquiçados, siltitos acastanhados a acinzentados, com nódulos de pirita e folhelhos cinza-escuros, rochas pertencentes à Formação Rio Bonito e que, antes da mineração, se intercalavam em camadas sobre a camada de carvão Barro Branco.

De maneira geral, há pilhas de estéril com predominância de folhelhos e siltitos, mais friáveis que os arenitos, onde são encontrados solos mais espessos e desenvolvidos, enquanto nas pilhas compostas em sua maior parte por arenitos, o solo praticamente inexiste e, portanto, a vegetação é bastante rara.

2.4 Caracterização Hidrogeológica

A área estudada apresenta rochas com diferentes características granulométricas, texturais e estruturais, fazendo com que a caracterização hidrogeológica seja importante, principalmente pela intercomunicação entre os diferentes aquíferos.

O mais importante sistema aquífero relacionado às rochas sedimentares presentes na área estudada é aquele constituído pelo terço superior da Formação Rio Bonito (Membro Siderópolis). Com exceção da Formação Rio do Sul e das litologias arenosas que ocorrem no terço inferior da Formação Palermo, as demais formações geológicas, pelo fato de serem predominantemente formadas por siltitos e folhelhos, constituem-se em aquíferos mais fracos.

A vulnerabilidade deste sistema aquífero está diretamente relacionada com o seu posicionamento estratigráfico. Os intervalos aquíferos inferiores relacionados ao Membro Triunfo, pelo fato de ocorrerem em intervalos estratigráficos profundos e, além disso, apresentarem uma espessa sequencia de rochas predominantemente argilosas, pertencentes ao Membro Paraguaçu, capeando este sistema aquífero, a vulnerabilidade é baixa. Os aquíferos superiores da Formação Rio Bonito, relacionados ao Membro Siderópolis, pelo fato de serem constituídos por litologias arenosas que afloraram ou ocorrem em níveis estratigráficos pouco profundos, a vulnerabilidade passa a ser alta.

3. AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS

A avaliação dos impactos ambientais constituiu uma importante etapa do diagnóstico ambiental, uma vez que seu objetivo foi subsidiar à tomada de decisão em relação às medidas de reabilitação ambiental indicadas na fase de elaboração do Projeto de Reabilitação Ambiental de Áreas Degradadas ((IPAT/UNESC, 2010).

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O processo de avaliação dos impactos foi realizado considerando as consequências da inserção do passivo ambiental local, e em suas áreas de influências. Os seguintes procedimentos foram adotados na avaliação dos impactos:

Identificação e descrição dos impactos: nesta fase, descreveram-se os impactos ambientais potenciais levando em consideração os limites espaciais anteriormente estabelecidos, representados pelas áreas de influência direta e indireta das áreas de mineração de carvão;

Avaliação dos impactos: nesta fase foram aplicados os métodos e técnicas adotadas para valoração dos impactos, permitindo valorar qualitativamente os impactos considerados mais significativos.

3.1 Identificação e Descrição dos Impactos Ambientais

3.1.1 Alteração no relevo e modificação da drenagem natural Durante as fases de implantação e operação das atividades de lavra na Área Belluno, foram realizados cortes, escavações e aterros desconformando topograficamente o relevo original da área, que normalmente alteram as condições naturais da superfície do terreno, modificando a morfologia e as drenagens naturais.

Durante a implantação do projeto de recuperação ambiental foram realizadas atividades de reconformação topográfica para suavizar o relevo e implantados sistemas de drenagem..

3.1.2 Degradação dos solos e intensificação dos processos erosivos Durante a supressão da vegetação, abertura de estradas de acesso, instalação de estruturas de apoio (oficina, escritório, etc.), tráfego de veículos, e principalmente na atividade de lavra com a inversão de camadas realizadas pela dragline Marion, os solos em taludes e nas superfícies foram revolvidos, misturados ao substrato rochoso e expostos a intempéries (precipitação, ventos e radiação solar).

3.1.3 Contaminação das águas superficiais pela lixiviação das pilhas de estéril e rejeito

As águas pluviais que entram em contato com o estéril e rejeito favorecem a oxidação do material sulfetado (pirita), o que faz com que o escoamento superficial, além de carrear sedimentos, se apresente com baixos valores de pH e elevadas concentrações de acidez, sulfatos e metais, prejudicando a qualidade dos solos de entorno e das águas superficiais.

3.1.4 Contaminação dos aquíferos pela lixiviação e solubilização dos contaminantes

presentes nas pilhas de estéril e rejeito

A parcela de águas superficiais que se infiltra nas pilhas de estéril e rejeito solubiliza os componentes dos materiais ali depositados, transportando os poluentes, atingindo as águas subterrâneas, em especial as do aquífero livre.

3.1.5 Contaminação do ar em função do arraste eólico de partículas de estéril e rejeito

(poeira)

A ação eólica sobre as pilhas de estéril e rejeito sem um sistema adequado de cobertura pode carrear o material mais fino mantendo-o em suspensão, aumentando a concentração de “poeiras” próxima às áreas de entorno.

3.1.6 Redução de habitats e alteração da densidade populacional nas áreas diretamente

afetadas e de entorno

A movimentação intensa de veículos e maquinários pesados utilizados na abertura de estradas e nas atividades pertinentes a mineração (e.g. implantação e operação) resultou na geração de ruídos, suspensão de material particulado (poeira), além da supressão da cobertura vegetal, afetando diretamente a fauna local.

Com a interrupção ou abandono das atividades mineiras, a fauna, vem retornando de forma gradual nos poucos fragmentos florestais existentes nas áreas.

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3.1.7 Pressão sobre áreas protegidas e vegetação remanescente

Na implantação e operação das atividades minerarias as APPs foram utilizadas como locais de deposição de estéril/rejeito. Estes materiais foram gerados a partir das atividades de lavra a céu aberto, recebendo também contribuições provenientes de outras unidades de mineração.

3.1.8 Alteração da paisagem natural

O impacto visual causado pela deposição de grandes volumes de estéril e rejeito é agravado quando estas áreas encontram-se próximas a adensamentos populacionais. A dimensão das áreas visíveis e o seu contraste visual com o entorno, além de deteriorar e destruir a paisagem afeta o bem estar da população.

3.2 Matriz Simplificada de Avaliação de Impactos Ambientais

A representação e a compatibilização das interações considerando os aspectos e impactos decorrentes das ações desenvolvidas para área são apresentadas em Matrizes de Avaliação de Impactos Ambientais (Quadro 1) .

Na elaboração destas matrizes foram consideradas as medidas mitigadoras, corretivas, preventivas e de controle. Destaca-se que as ações geradoras (aspectos) relacionadas aos impactos decorrentes das áreas foram reunidas para facilitar e simplificar as Matrizes de Avaliação. Os impactos potenciais foram divididos pelos diferentes componentes ambientais: solo, geologia, geomorfologia, geotecnia, recursos hídricos, fauna, flora, economia, aspectos sociais e qualidade de vida.

Quadro 1 - Matrizes de Avaliação de Impactos Ambientais (modificado de IPAT/UNESC, 2010)

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4. USO FUTURO DAS ÁREAS PARA FINS DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL

Foram obtidas sugestões de uso futuro dos moradores das áreas e do entorno, bem como de empresários e comerciantes através de questionários. As prefeituras também foram consultadas para indicar suas sugestões quanto ao uso futuro das áreas.

A Área Belluno por encontrar-se em perímetro urbano do município de Siderópolis e também devido à presença de algumas empresas, foi reabilitada para fins de instalação de condomínio industrial (com baixo potencial poluidor), assim como uso residencial.

De acordo com o diagnóstico ambiental 28,18% do total de 42,23 ha que corresponde à Área Belluno encontra-se ocupado por terceiros e, portanto, não receberão intervenções por parte da União.

As lagoas formadas a partir de cavas da mineração a céu aberto sofreram intervenções para reabilitação, respeitando-se as suas APPs. No entorno das lagoas formadas a partir das cavas da mineração a céu aberto, numa distância de 50 metros, a recuperação foi realizada de forma a construir a vegetação ripária ou mata ciliar (IPAT/UNESC, 2012).

A Figura 2 apresenta a compartimentação da Área Belluno em função da recomendação do uso futuro e do tratamento a ser adotado.

Figura 2 - Compartimentação da Área Belluno em função da recomendação do uso futuro e do tratamento a ser adotado.

5. REABILITAÇÃO DE AMBIENTES TERRESTRES

Na Área Belluno não foi constatada a presença de rejeito do beneficiamento de carvão. As análises realizadas no estéril de cobertura da mineração a céu aberto apontaram concentração de enxofre entre 0,17 a 0,27%, o que consequentemente, faz com que o potencial de geração de acidez não seja tão elevado quanto as demais áreas.

5.1 Movimentação de Estéril

A remodelagem do terreno foi realizada com objetivo de obter a suavização do relevo atual adaptando a área à proposta de uso futuro. A declividade projetada, associada às obras de drenagem superficial, garante o processo de reconstrução do solo, sem que haja perdas significativas do material silte-argiloso de cobertura, assim como dos corretivos e fertilizantes do solo e mesmo de sementes em decorrência de erosão pela água de chuva.

O material (estéril) cortado do topo das pilhas foi utilizado como material de aterro das vertentes entre as pilhas e reconformação das margens do conjunto de lagoas formado nos cortes da mina.

Área de Preservação Permanente

Condomínio Industrial

Lagoa

Área sem intervenção

Estradas

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5.2 Aterramento de Cavas da Mina a Céu Aberto

Na Área Belluno as lagoas formadas nas cavas da mineração a céu aberto ocupam aproximadamente 13% do total da área a ser reabilitada. A maioria das lagoas permaneceram no local, sendo aterrada apenas uma delas, para viabilizar a área destinada ao uso industrial.

5.3 Construção do Solo

O solo construído corresponde à camada de materiais argilosos não compactados depositados na superfície de toda área a ser reabilitada, a qual é adicionada insumos para a correção da acidez, melhoria dos níveis de fertilidade química e física do solo. O solo construído tem por função dar sustentação física e química à vegetação a ser implantada. A espessura estabelecida para a área é de cento e vinte centímetros de solo construído para áreas de APP. Nas demais áreas destinadas a condomínio industrial, residências e estradas, o solo tem uma espessura de cinquenta centímetros, para proporcionar o estabelecimento da vegetação e garantir a estabilidade da área para estas propostas de uso. (MPF/GTA, 2012)

Sobre a superfície de toda a área a ser reabilitada, para os trinta centímetros superficiais, foram selecionados os materiais argilosos de melhor qualidade provenientes de horizontes pedológicos B (HB) das jazidas de empréstimo. A estes materiais foram adicionados calcário, fertilizante químico (NPK), cama de aviário e turfa.

No restante do solo construído, abaixo dos 30 centímetros superficiais, ou seja, 90 cm em áreas de APP e 20 cm nas áreas de condomínio industrial, residencial e estradas, utilizaram-se horizontes com qualidade inferior como horizonte C (HC) e horizonte B (HB) proveniente de camadas mais profundas das jazidas de empréstimo.

5.4 Cobertura Vegetal

A cobertura vegetal da Área Belluno tem por objetivo principal a reestruturação do ecossistema para que este venha a se tornar um sistema ecologicamente estável e autossustentável. O processo de revegetação desta área foi planejado de modo que a vegetação introduzida venha a auxiliar na estabilização do solo construído, evitando a instalação de processos erosivos.

Para alcançar o objetivo almejado, o plano de recuperação da cobertura vegetal foi elaborado levando em consideração a proteção das APPs e o uso futuro proposto para a área (IPAT/UNESC, 2010).

No total foram plantadas aproximadamente16 mil mudas nativas da Mata Atlântica nas APPs.

6. EXECUÇÃO DAS OBRAS

Para a realização das obras a CPRM/SGB contratou a empresa Colombo Retroterra LTDA, através de licitação pública (concorrência 006/SERAFI-RJ/2012). O prazo de vigência do contrato foi de 24 meses contados a partir da assinatura. O valor do contrato foi R$ 5.369.024,08. As obras iniciaram-se em maio de 2013 e terminaram em março de 2015. Na Figura 3 pode ser observada a placa da obra que apresenta o valor total da obra, o objetivo e o período de vigência do contrato.

Figura 3 - placa da obra

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O processo de recuperação ambiental das áreas degradadas na Área Belluno necessitou de diversas obras de engenharia civil e ambiental para atender ao Projeto Executivo.

6.1 Movimentação de Estéril

A movimentação de estéril representou um volume de 240.936,71 m3 escavado e transportados

para as cavas de minas e aterro das vertentes (Figura 4).

Figura 4 – Movimentação e remodelamento do material estéril

6.2 Drenagens e obras de arte

A instalação da rede de drenagem permite o escoamento das águas pluviais protegendo a área de processos erosivos. Para tanto foram instalados na área mais de 1600 m de canaletas longitudinais aos acessos rodoviários, 1800 m de drenagem superficial atendendo todas as cristas de lagos e taludes existentes, construção de 10 caixas de transferência mais uma de passagem, implantação de 480,0 m de tubos para direcionar o escoamento superficial para os bueiros instalados na área e instalação de escadarias para amortecimento das águas pluviais incidentes. A Figura 5 ilustra a instalação de caixas de transferência, drenagem subterrânea e escadarias.

Figura 5 - Instalação de caixas de transferência, drenagem subterrânea e escadarias.

6.3 Construção de solo

A construção do solo foi executada nas APPs, abrangendo 7,67 ha e nas áreas destinadas ao condomínio industrial com 11,77 ha, num total de 19,44 ha, sendo utilizado um volume de 163.767,04 m

3 de argila para envelopar o material estéril (Figura 6).

Figura 6 – Lançamento da argila sobre o material estéril remodelado

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6.4 Correção da acidez do solo

A correção do solo teve por objetivo elevar o pH do solo construído, por meio da incorporação de calcário. O quantitativo calcário foi aplicado em duas etapas. Aplicou-se metade sobre o material argiloso não compactado e fez-se a incorporação com arado de disco e em seguida aplicou-se o restante do calcário mais a cama de aviário e gradeou-se, possibilitando a incorporação da matéria orgânica, além da correção do substrato. A figura 7 ilustra a aplicação do calcário.

Figura 7 - Aplicação do calcário

6.5 Cobertura vegetal

6.5.1 Espécies Herbáceas

A revegetação da área com espécies herbácias teve como função principal a formação de um ambiente ecológicamente estável, alem da reduzir a ocorrência de processos erosivos. Para tanto, a vegetação utilizada apresenta características específicas como tolerância a seca, crescimento vigoroso, disponibilidade de semente, facilidade de propagação, sobrevivência em condições de baixa fertilidade e eficácia no revestimento do solo. A Figura 8 ilustra a aplicação e o desenvolvimento das espécies herbáceas

Figura 8 - Aplicação e desenvolvimento das espécies herbáceas

6.4.2 Espécies Arbóreas

O plantio de espécies arbóreas foi realizado nas APP e tem apresentado excelente desenvolvimento. A Figura 9 ilustra o plantio das espécies arbóreas.

Figura 9 - Plantio das espécies arbóreas

7. TRATAMENTO DAS LAGOAS

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Para o tratamento das lagoas com água ácida foram adicionados calcário sobre a superfície das lagoas. Após a remodelagem da área, o CaCO3 foi aplicado aplicado “in natura” sobre a superfície da água das lagoas (cavas das minas que permaneceram na área).

8 ISOLAMENTO DA ÁREA

A Área Belluno foi isolada com cerca de arame farpado, com mourões de 2800 x 130 x 130 mm, sendo 0,50 metros enterrados, com espaçamento de 3 metros. Os fios do arame farpado foram espaçados a uma distância de 20 a 30 cm.

9 CONSIDERAÇÃO FINAL

As obras foram executadas de acordo com o PRAD executivo. O Ministério Público Federal realizou a vistoria de conclusão das obras. Após emissão da licença pelo órgão ambiental de Santa Catarina – FATMA será iniciada a fase de monitoramento dos parâmetros ambientais. O monitoramento será realizado por um período de cinco anos e incluirá o monitoramento das condições climáticas, do solo construído, da qualidade da água, da vegetação introduzida e da regeneração natural e do retorno da fauna.

10 AGRADECIMENTO

Os autores agradecem ao Analista em Geociências da CPRM Sr Júlio Fernandes Lima pela colaboração na elaboração do abstract

11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

IPAT-UNESC. Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnológicas - Universidade do Extremo Sul Catarinense. (2010). “Plano de Recuperação de Áreas Degradadas para reabilitação das Áreas da massa falida Treviso S.A”. PRAD Conceitual (Inédito), 2107p. e anexos.

IPAT-UNESC. Instituto de Pesquisas Ambientais e Tecnológicas - Universidade do Extremo Sul Catarinense. (2012) “Plano de Recuperação de Áreas Degradadas para reabilitação das Áreas da massa falida Treviso S.A”. PRAD Executivo (Inédito), 1455p. e anexos.

MPF/GTA. Ministério Público Federal/Grupo Técnico de Assessoramento (2012) “Critérios para recuperação ou reabilitação de áreas degradadas pela mineração de carvão”. Revisão 6 - Disponível na página da internet: < https://www.jfsc.jus.br/acpdocarvao/portal/conteudo_portal/conteudo.php?cat=220> Acesso em: 13/05/2012.