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15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia 1 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental MAPEAMENTO DO RISCO GEOLÓGICO E HIDROLÓGICO DE ALEGRE - ES- BRASIL Leonardo Andrade de Souza 1 ; Marco Aurélio Costa Caiado 2 ; Larissa Tostes Leite Belo 3 ; Gilvimar Vieira Perdigão 4 ; Silvia C. Alves 5 ; Raphael H. O. Pimenta 6 ; RESUMO O mapeamento do risco geológico e hidrológico de Alegre - ES é parte integrante de um trabalho executado pelo Governo do Espírito Santo em 17 municípios prioritários do Estado, tendo como objetivos principais a ampliação do conhecimento sobre os processos geodinâmicos ocorrentes, riscos e ações de gerenciamento efetivas para enfrentamento dos eventos adversos. Neste caso específico, dentre as temáticas tratadas neste mapeamento, serão abordados neste trabalho os estudos relacionados ao mapeamento do risco geológico e hidrológico do município de Alegre com os resultados das etapas de mapeamento do risco, embora também tenham sido realizadas propostas de intervenções estruturais e não estruturais para a eliminação e/ou redução das áreas de risco alto e muito alto. O município tem sua sede a 198.0 quilômetros da capital do estado, possui uma população de 30.768 habitantes e uma área de 772.717 km². O PMRR é uma importante ferramenta para orientar a implementação de uma política pública de gestão para a redução de riscos e desastres em Alegre. Palavras-chave: Redução de Risco, Política Pública, Alegre. ABSTRACT The geological and hydrological risk mapping of Alegre - ES is part of a work executed by the government of the state of Espirito Santo (Brazil) in 17 priority cities, having, as main objectives, the expansion of the knowledge about the occurring geodynamic processes, risks and effective management actions in order of facing adverse events. In this specific case, amongst the issues addressed in this mapping, will be approached the studies related to the mapping of geological and hydrological risk of the city of Alegre with the results of the stages of the risk mapping, although proposals of structural and non-structural interventions have been made for risk elimination and / or reduction of the high and very high risk areas. The city is located 198,0 km from the state capital, has a population of 30,768 inhabitants and an area of 772,717 km². The PMRR is an important tool to guide the implementation of a public policy of management for the reduction of risks and disasters in Alegre. Keywords: Risk Reduction, Public Politic, Alegre. 1 Engenheiro Geólogo Zemlya Consultoria e Serviços LTDA [email protected] 2 Engenheiro Agrônomo.- Instituto Federal do Espírito Santo IFES [email protected] 3 Geógrafa - Zemlya Consultoria e Serviços LTDA [email protected] 4 Geógrafo - Zemlya Consultoria e Serviços LTDA [email protected] 5 Assistente Social - Zemlya Consultoria e Serviços LTDA [email protected] 6 Graduando de Engenharia Ambiental - Zemlya Consultoria e Serviços LTDA [email protected]

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15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia 1

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental

MAPEAMENTO DO RISCO GEOLÓGICO E HIDROLÓGICO DE ALEGRE - ES- BRASIL

Leonardo Andrade de Souza1; Marco Aurélio Costa Caiado2; Larissa Tostes Leite Belo3; Gilvimar Vieira Perdigão4; Silvia C. Alves5; Raphael H. O. Pimenta6;

RESUMO

O mapeamento do risco geológico e hidrológico de Alegre - ES é parte integrante de um trabalho executado pelo Governo do Espírito Santo em 17 municípios prioritários do Estado, tendo como objetivos principais a ampliação do conhecimento sobre os processos geodinâmicos ocorrentes, riscos e ações de gerenciamento efetivas para enfrentamento dos eventos adversos. Neste caso específico, dentre as temáticas tratadas neste mapeamento, serão abordados neste trabalho os estudos relacionados ao mapeamento do risco geológico e hidrológico do município de Alegre com os resultados das etapas de mapeamento do risco, embora também tenham sido realizadas propostas de intervenções estruturais e não estruturais para a eliminação e/ou redução das áreas de risco alto e muito alto. O município tem sua sede a 198.0 quilômetros da capital do estado, possui uma população de 30.768 habitantes e uma área de 772.717 km². O PMRR é uma importante ferramenta para orientar a implementação de uma política pública de gestão para a redução de riscos e desastres em Alegre.

Palavras-chave: Redução de Risco, Política Pública, Alegre.

ABSTRACT

The geological and hydrological risk mapping of Alegre - ES is part of a work executed by the government of the state of Espirito Santo (Brazil) in 17 priority cities, having, as main objectives, the expansion of the knowledge about the occurring geodynamic processes, risks and effective management actions in order of facing adverse events. In this specific case, amongst the issues addressed in this mapping, will be approached the studies related to the mapping of geological and hydrological risk of the city of Alegre with the results of the stages of the risk mapping, although proposals of structural and non-structural interventions have been made for risk elimination and / or reduction of the high and very high risk areas. The city is located 198,0 km from the state capital, has a population of 30,768 inhabitants and an area of 772,717 km². The PMRR is an important tool to guide the implementation of a public policy of management for the reduction of risks and disasters in Alegre.

Keywords: Risk Reduction, Public Politic, Alegre.

1 Engenheiro Geólogo – Zemlya Consultoria e Serviços LTDA – [email protected] 2 Engenheiro Agrônomo.- Instituto Federal do Espírito Santo – IFES – [email protected] 3 Geógrafa - Zemlya Consultoria e Serviços LTDA – [email protected] 4 Geógrafo - Zemlya Consultoria e Serviços LTDA – [email protected] 5 Assistente Social - Zemlya Consultoria e Serviços LTDA – [email protected] 6 Graduando de Engenharia Ambiental - Zemlya Consultoria e Serviços LTDA – [email protected]

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1- INTRODUÇÃO E OBJETIVOS

O processo de aceleração do crescimento econômico e social que marca o Brasil desde a década de 80 vem demandando já há muitos anos a inclusão da temática risco geológico e hidrológico na pauta da gestão pública, ficando cada dia mais evidente a importância da articulação de uma diversidade de ações, programas e políticas voltadas a identificar e reduzir ameaças, vulnerabilidades e riscos naturais, por todos os níveis e setores de governo, no sentido de alcançar a qualificação, sinergia e planejamento integrado, reduzindo perdas e danos às populações, à infraestrutura e à economia.

Com o objetivo de atender às expectativas da sociedade capixaba para a formulação de estratégias, diretrizes e procedimentos que efetivamente consigam ampliar o conhecimento sobre os processos geodinâmicos, riscos e desastres, com proposição de ações estruturais e não estruturais para reduzir os riscos e minimizar os impactos relacionados aos desastres, o Governo do Estado do Espírito Santo contratou para os 17 municípios mais afetados nos últimos 20 anos pelas chuvas, a elaboração de estudos envolvendo Planos Municipais de Redução de Risco Geológico (PMRR), Planos Diretores de Águas Pluviais e Fluviais, Programas de Gestão de Risco e Projetos Executivos de Engenharia.

Este trabalho detalha, especificamente, as atividades desenvolvidas no município de Alegre em relação ao mapeamento do risco geológico e hidrológico, sendo, portanto, mais uma ferramenta para orientar a implementação de uma política pública para a redução de riscos e desastres no Espírito Santo, como pautado pela Lei 12.608/2012 e pelo Programa Capixaba de Mudanças Climáticas, de forma a apontar os caminhos para o desenvolvimento de uma cultura de redução dos riscos no Estado e a construção de uma sociedade mais resiliente, em convivência mais harmoniosa com o ambiente.

Os riscos hidrológico e geológico-geotécnico constituem um dos mais graves problemas que tornam uma moradia inadequada, juntamente com outros aspectos, como a deficiência de infraestrutura, por exemplo. Sendo assim, o tratamento dessas questões no âmbito das políticas públicas deve sempre se dar de forma integrada e, preferencialmente, a partir da coordenação do órgão responsável pelo planejamento urbano e política habitacional municipal, pois embora esse tipo de problema, em geral, se concentre territorialmente nos assentamentos de interesse social, o avanço do processo de ocupação de forma desordenada tem corroborado para a inserção da dita “cidade formal” no mesmo contexto.

2- LOCALIZAÇÃO

O município de Alegre possui uma população de 30.768 habitantes e uma área de 772.717 km². Sua sede está a 198 quilômetros da capital do estado, Vitória. O município de Alegre limita-se com os seguintes municípios: Ao Norte com Muniz Freire, a leste com Castelo, Cachoeiro do Itapemirim e Jerônimo Monteiro, a Oeste com Ibitirama e Guaçuí e ao sul com São Roque do Calçado e Mimoso do Sul. (Figura 1).

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Figura 1 – Localização do município de Alegre no contexto do Espírito Santo.

3- GEOLOGIA DO MUNICÍPIO DE ALEGRE

O Estado do Espírito Santo situa-se na Província Estrutural Mantiqueira, a sudeste do Cráton São Francisco (Almeida 1976, 1977). A província Mantiqueira representa um sistema orogênico Neoproterozóico com direção preferencial NE-SW. Em decorrência do fato de a partir da divisa do Rio de Janeiro com o Espírito Santo ocorrer uma mudança de direção de NE-SW para N-S, alguns autores têm incluído este trecho na faixa Araçuaí (Alkmim&Mashark 1998), sendo esta uma das feições estruturais mais importantes da Faixa Ribeira.

As rochas magmáticas do Orógeno Araçuaí foram agrupadas segundo a seguinte sistemática: 1) hierarquização tectônica (γ1 = pré- a sincolisinal, γ2 = sin-atardicolisional, γ3 = tardi-a pós-colisional, γ4 =pós- tectônico); 2) Classificação química (I = tipo I cordilheirano; S = tipo S; C = chanockito) (Folha Se-24-V-A-III – Rio Doce). Na porção norte do Cinturão Móvel Ribeira, no Estado do Espírito Santo, são reconhecidos três complexos metamórficos paralelos à costa, correspondendo a três domínios crustais: Complexo Juiz de Fora, Complexo Alegre (Complexo Paraíba do Sul) e Complexo Costeiro (Wiedemannet al. 1986, Campos Neto e Figueiredo, 1990).

O Terreno Paraíba do Sul aflora como uma klippes informal complexamente dobrada sobre o Terreno Ocidental. É constituído por ortognaissespaleoproterozóicos do Complexo Quirino e por um conjunto metassedimentar rico em intercalações de mármores dolomíticos e de idade ainda incerta, denominado de Complexo Paraíba do Sul (Tupinambá, M. et. al., 2007). As seguintes unidades geológicas compõem o mapa geológico do município:

- NP3a γ 1Imf: Granitóides foliados e ortognaisses tipo I, calcialcalino de alto e médio-K (Granodiorito Muniz Freire) - NP3a γ C: charnokitóide indiferenciado - 2a γ 5lsa: Granitóide tipo I, calcialcalino de alto K (Santa Angélica) - NPps (Complexo Paraíba do Sul).

4- GEOMORFOLOGIA DO MUNICÍPIO DE ALEGRE

Os procedimentos adotados para a identificação dos domínios geomorfológicos do território referente ao município de Alegre foram propostos neste trabalho considerando as classes de relevo a seguir (Tabela 1). Em seguida é apresentado na Figura 2 o mapeamento geomorfológico do município de Alegre conforme metodologia proposta por Souza, 2015.

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Tabela 1- Classes de Sistemas de Relevo usadas como referência.

UNIDADES GEOMORFOLÓGICAS AMPLITUDE (m) DECLIVIDADE (%)

Suave a Plano < 100 m < 5%

Rampa <100m 5 a 10%

Colina <100m 10 a 20%

Morrote <100m > 20%

Morros com Vertentes Suaves 100 a 300 m 5 a 20%

Morro 100 a 300 m > 20%

Suave a Plano de Alta Altitude 100 a 300 m < 5%

Suave a Plano de Alta Altitude >300m <20%

Montanhoso >300m >20%

Figura 2 – Mapa geomorfológico do município de Alegre.

5- ESTRUTURA ADMINISTRATIVA E LEGISLAÇÃO VIGENTE NO MUNICÍPIO DE ALEGRE

Na coleta de dados referentes à legislação e estruturação orgânica do município de Alegre, foi constatado que os órgãos atuantes na gestão da política urbana e habitacional são: a Secretaria Municipal de Ação Social e Direitos Humanos, a Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável e a Secretaria Municipal de Obras, Planejamento Urbano e Serviços Públicos.

A Lei Municipal n° 2.924 de março de 2008 reestrutura a Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente criando a Superintendência Municipal de Meio Ambiente e, segundo o art. 2°, é competência desta Superintendência o planejamento, organização, execução e coordenação de programas, projetos e atividades que proporcionem o desenvolvimento e a melhoria da qualidade ambiental, bem como, contribuam para a minimização de impactos ambientais, preservação, conservação, proteção, recuperação e manejo sustentável dos recursos naturais, e melhoria contínua da qualidade de vida.

A Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (COMDEC) foi criada pela Lei Municipal n° 2.602 de novembro de 2003 e está subordinada diretamente ao Prefeito e tem como finalidade a coordenação, em nível municipal, de todas as ações de defesa civil, nos períodos de normalidade e anormalidade.

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6- METODOLOGIA E ETAPAS DO MAPEAMANETO DE RISCO GEOLÓGICO E HIDROLÓGICO

A seguinte metodologia de trabalho e respectivas etapas de trabalho foram desenvolvidas:

Etapa 1: Consolidação do Plano de Trabalho

1 - Definição e homogeneização das bases conceituais principais. Alguns aspectos conceituais foram abordados durante o desenvolvimento dos trabalhos e para torná-los de fácil compreensão e objetivando definir bases conceituais que subsidiassem a confecção do mapeamento do risco geológico nos municípios, elaborou-se uma relação de terminologias, e suas respectivas definições, acerca da temática risco natural, sintetizadas de diversos autores (Cerri & Amaral,1998; Nogueira, 2002; FIDEM, 2003; Leite, 2005; UNISDR, 2009).

2 - Avaliação preliminar das informações, mapas, imagens de satélite, fotos do município, documentos gerados pela Defesa Civil Estadual e informações do mapeamento emergencial elaborado pelo Serviço Geológico do Brasil - CPRM.

3 - Realização de visita técnica ao município com o propósito de reconhecimento inicial do meio físico, processos geodinâmicos ocorrentes, histórico de eventos e impacto dos mesmos, bem como informações mínimas para a realização de estudos preliminares.

4 - Adaptação da metodologia do trabalho a partir da metodologia proposta pelo Ministério das Cidades e definição dos detalhes sobre a condução do mapeamento e acompanhamento do mesmo pelos técnicos municipais.

Etapa 2 - Preparação e Montagem das Bases Cartográficas

Durante a elaboração do Plano de Trabalho Consolidado, foram iniciados os trabalhos referentes à preparação e montagem da base cartográfica. O material cartográfico obtido para o município de Alegre foi:

a. Levantamento Aerofotogramétrico, com ortomosaico na escala 1:15.000, disponível no formato raster extensão.ecw;

b. Elementos planialtimétricos do mapeamento sistemático do IBGE:

- Setores censitários 2010, disponibilizado em formato vetorial na extensão.shp, estrutura conforme padrão do IBGE;

- Mancha urbana, entre outros atributos, além de base de dados alfanumérica (geodatabase), abrangendo todos os municípios, disponível em formato vetorial na extensão.shp.

c. OTTOBACIAS, que são bacias hidrográficas de abrangência estadual, ottocodificadas até nível 7, georreferenciada com atributos, em geodatabase, disponível em formato vetorial na extensão.shp;

d. Imagens de Satélite ALOS (Advanced Land Observing Satellite), ano 2009 e 2010, com resolução espacial de 10 m, e classificação de diversas categorias do uso e ocupação do solo, cobrindo todo o município;

e. Informações levantadas junto a Companhia Espírito Santense de Saneamento-CESAN;

f. Estudos topográficos com a geração de seções transversais ao longo dos canais, cadastro das redes pluviais, da macrodrenagem natural e construída;

g. Geração do mapa pedológico e uso do solo na escala de detalhe; e

h. Plano Diretor Municipal.

Como o material fornecido foi desenvolvido em diversas escalas e sistemas de projeção, estes foram projetados para Projeção Universal Transversa de Mercator (UTM), Datum (SIRGAS 2000, zona 24 S), de modo a equalizar o sistema de projeção a ser utilizado. Como se trata de material digital e georreferenciado, a escala dos mapas se ajusta entre si no sistema de informação geográfica. Foram geradas pranchas no formato A3 com recobrimento de todo o território municipal sendo os setores de risco delimitados diretamente sobre estas durante as atividades de campo.

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Etapa 3: Elaboração do Mapeamento do Risco Geológico e Hidrológico

A seguinte sequência de trabalho foi executada no desenvolvimento desta etapa:

1 - Definição dos critérios para elaboração do mapeamento de riscos de acordo com a publicação “mapeamento de riscos em encostas e margens de rios” (BRASIL, 2007).

2 - Identificação e análise do risco geológico dentro do município de Alegre. Os objetivos específicos desta atividade foram: (1) identificar evidências, (2) analisar os condicionantes geológico-geotécnicos e ocupacionais que as determinam e (3) avaliar a probabilidade de ocorrência de processos associados a escorregamentos de encostas e solapamentos de margens de córregos que poderiam afetar a segurança de moradias em assentamentos precários indicados pela Prefeitura do Município, (4) delimitar os setores da encosta que pudessem ser afetados por cada um dos processos destrutivos potenciais identificados na base cartográfica, (5) estimar o número de moradias de cada setor de risco. Nesta fase foram levantadas, ainda, as áreas com risco de inundação, quantificando as moradias expostas.

Os trabalhos de campo constituíram-se basicamente em investigações geológico-geotécnicas de superfície buscando identificar condicionantes dos processos de instabilização, existência de agentes potencializadores e evidências de instabilidade ou indícios do desenvolvimento de processos destrutivos.

3 – O mapeamento das áreas de inundação foi baseado nos seguintes princípios:

- Bacias hidrográficas como unidades de planejamento, o que permite que o excesso de escoamento superficial seja controlado na fonte, evitando a transferência para jusante do aumento do escoamento e da poluição urbana;

- Diagnóstico executado na escala de detalhe (1:5.000 ou maior) em compatibilidade com a definição efetiva da aptidão a urbanização através de uma abordagem interdisciplinar, bem como a futura solução dos problemas de inundação integradas à paisagem e aos mecanismos de conservação do meio ambiente;

- Identificar a distribuição da água pluvial no tempo e no espaço, englobando as áreas já ocupadas e com histórico de cheias, bem como as áreas definidas para a expansão urbana dos municípios, de forma a permitir análises correlacionando a tendência de ocupação urbana para um horizonte mínimo de planejamento de 20 anos, compatibilizando esse desenvolvimento e a infraestrutura para evitar prejuízos sociais, econômicos e ambientais; e

- Incorporação dos estudos na cultura da administração municipal, principalmente nos setores diretamente responsáveis pelo planejamento urbano e serviços de águas pluviais.

7- RESULTADOS DO MAPEAMENTO DAS ÁREAS DE RISCO GEOLÓGICO

O diagnóstico de risco geológico do município de Alegre foi realizado na sede e nos distritos, em áreas correspondentes a assentamentos precários, loteamentos e bairros regulares onde julgou-se haver situações de risco geológico. Foram delimitados e caracterizados 27 setores de risco sendo 1 setor classificado como de risco geológico muito alto, 15 setores de risco alto e 11 setores de risco médio, distribuídos ao longo das áreas mapeadas (Figura 3).

Foram identificados 445 domicílios entre os quatro níveis de risco geológico apontados no diagnóstico, quais sejam, muito alto, alto, médio e baixo. Entretanto, em situação de risco muito alto e alto, existem 272 domicílios, o que corresponde às situações prioritárias para intervenção, conforme a Tabela 2.

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Tabela 2– Síntese dos setores de risco identificados no PMRR.

Setor nº Grau Nº de moradias

ameaçadas Processo Geodinâmico

Setor 01 Médio (R2) 25 Solapamento

Setor 02 Alto (R3) 26 Deslizamento de Solo

Setor 03 Alto (R3) 31 Deslizamento de Solo

Setor 04 Alto (R3) 7 Deslizamento de Solo

Setor 05 Médio (R2) 8 Deslizamento de Solo

Setor 06 Alto (R3) 53 Deslizamento de Solo

Setor 07 Alto (R3) 28 Deslizamento de Solo

Setor 08 Médio (R2) 34 Deslizamento de Solo

Setor 09 Médio (R2) 16 Deslizamento de Solo

Setor 10 Alto (R3) 3 Deslizamento de Solo

Setor 11 Médio (R2) 25 Deslizamento de Solo, Solapamento

Setor 12 Médio (R2) 16 Deslizamento de Solo

Setor 13 Alto (R3) 4 Deslizamento de Solo

Setor 14 Alto (R3) 9 Deslizamento de Solo

Setor 15 Médio (R2) 8 Deslizamento de Solo

Setor 16 Alto (R3) 12 Deslizamento de Solo

Setor 17 Médio (R2) 18 Deslizamento de Solo

Setor 18 Muito Alto (R4) 16 Deslizamento de Solo

Setor 19 Alto (R3) 5 Deslizamento de Solo

Setor 20 Alto (R3) 7 Deslizamento de Solo, Rolamento de

Bloco

Setor 21 Médio (R2) 3 Deslizamento de Solo

Setor 22 Alto (R3) 12 Deslizamento de Solo

Setor 23 Alto (R3) 18 Deslizamento de Solo

Setor 24 Médio (R2) 1 Deslizamento de Solo

Setor 25 Alto (R3) 24 Deslizamento de Solo

Setor 26 Médio (R2) 19 Deslizamento de Solo

Setor 27 Alto (R3) 17 Deslizamento de Solo

Figura 3 – Setores de risco identificados na sede do município de Alegre - ES.

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8 - ELABORAÇÃO DO MAPEAMENTO DAS ÁREAS DE INUNDAÇÃO

O crescimento urbano das cidades provoca impactos significativos na população e no meio ambiente. Estes impactos deterioram a qualidade de vida da população devido ao aumento da frequência e do nível das inundações, somado à péssima qualidade das águas pluviais com o

aumento da presença de materiais sólidos e, muitas vezes, de esgoto in natura. O mapeamento das áreas de inundação do Município de Alegre incluiu inicialmente:

- Áreas de intervenção; causas das inundações que acontecem no município, abrangendo: áreas suscetíveis, contornos e cotas das linhas de inundação com recorrências calculadas entre 2 e 100 anos, trechos críticos, singularidades do sistema, eventos pluviométricos críticos e prejuízos causados pelas inundações;

- Análise da legislação de uso e ocupação do solo em vigor, como também do sistema atual de gestão da drenagem, identificando as posturas legais mais impactantes e os “gargalos” institucionais;

- O impacto da urbanização sobre o sistema de drenagem existente.

Num segundo momento, além dos cenários atuais de inundação foram traçados cenários futuros utilizando modelos de simulação como ferramentas para a previsão tomando-se como base a expansão urbana em curso e considerando a não implantação das propostas indicadas no Plano Diretor de Águas Pluviais elaborado.

O Plano Diretor de Águas Pluviais/ Fluviais do município de Alegre teve como foco o trecho urbano das bacias hidrográficas do Rio Alegre e de seu principal afluente, o Córrego Varjão da Cutia, que abrigam o principal aglomerado populacional do município. A Figura 4 apresenta as bacias hidrográficas supracitadas e sua relação com a área urbana do município.

Figura 4 - Bacias hidrográficas do município de Alegre relacionadas ao estudo.

O objetivo do mapeamento foi fornecer subsídios técnicos que possam contribuir efetivamente para uma expansão urbana adequada no território municipal, bem como a redução dos impactos das inundações na cidade criando as condições para uma gestão sustentável da drenagem urbana.

O resultado da cartografia da suscetibilidade a processos de inundação tomando-se como base modelagens e recorrências de 2 a 100 anos pode ser visualizada a seguir, na Figura 5.

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Figura 5 – Carta de suscetibilidade a inundação do Município de Alegre – ES.

9- CONCLUSÕES

A realização das atividades de identificação e mapeamento dos setores de risco resultou nos seguintes produtos:

- Atualização e qualificação do conhecimento já disponível sobre os riscos associados a deslizamentos e inundações não só para as áreas de assentamento precário do município, mas também para a cidade formal, por meio de setorização, estimativa de moradias afetadas e estabelecimento de graus e tipologias de suscetibilidade e risco;

- Mapa dos setores de risco geológico muito alto, alto, e médio do território municipal relacionados aos processos de deslizamento, solapamento, principalmente, e, secundariamente erosão;

- Mapa das áreas de suscetibilidade a processos de inundação do município de Alegre; e

- Ficha de campo para cada setor de risco identificado, contendo não só as características da área, mas também as proposições de intervenção estruturais e não estruturais para a eliminação/redução do risco e/ou convivência segura com o quadro diagnosticado.

Apesar da relação direta entre condicionantes físicos (relevo e geologia), a deflagração de processos geodinâmicos de movimentos de massa se dá no município principalmente pela forma de ocupação. Já os problemas relacionados as áreas de inundação, como na maioria dos municípios brasileiros, a ocupação da planície aluvionar e o adensamento e verticalização desta só tem aumentado o número de vítimas associadas a estes processos no município. Entretanto, o Plano de Intervenções Estruturais para o Município de Alegre, que corresponde a uma das etapas do Plano Municipal de Redução de Risco - PMRR, e o Plano Diretor de Águas Pluviais e Fluviais dos quais estes mapeamentos fazem parte demonstraram a viabilidade de melhoria das condições de convivência com o risco na cidade a curto e médio prazo e apontou a necessidade de intervenções imediatas para eliminação das situações classificadas como de risco alto e muito alto

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para os movimentos de massa e suscetibilidade/perigo alta em relação as áreas de inundação com recorrência entre 2 a 10 anos.

REFERÊNCIAS

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