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O LIVRO DE MARTA(bilhetes de amor quebrado)

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Catalogao na Fonte Bibliotecria: Perptua Socorro T. Guimares C.R.B. 3/ 801 M 298 l Marques, Rodrigo O Livro de Marta: (bilhetes de amor quebrado) .- Fortaleza: Expresso Grfica Editora, 2011. 56 p. Isbn: 978-85-7563-672-5 1. Literatura brasileira- Poemas I. Ttulo CDD: 869.1

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R Rodrigo Marques

O LIVRO DE MARTA( (bilhetes de amor quebrado)

EXPRESSO GRFICA

Fortaleza/2011

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Copyright 2011 by Rodrigo Marques

Projeto grfico e capa: Geraldo Jesuino Editorao eletrnica e ilustrao da capa: Fernando Lima Foto do autor: Thiago A. M. Nascimento Reviso: Carlos Carvalho

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Eis o livro de Marta, caro leitor. Aceitas?Em pocas de livros eletrnicos, nunca se publicou tanto no Brasil. Parece contraditrio, uma vez que em cada cinco brasileiros, um analfabeto funcional, constituindo 20,3% da populao. Ou seja, com menos de quatro anos de estudo. Observadas as qualidades daquilo que se publica e daquilo que se l; a sim, o buraco bem mais embaixo. Mas Rodrigo Marques homem conhecedor do caminho das letras, sabendo trilhar como poucos os meandros no apenas da poesia, mas do romance, do cordel e do conto. Marques surge no universo da literatura brasileira a partir do lanamento de Fazendinha (2005). Muito bem recebido pela crtica especializada, Fazendinha se mostrou como um osis em meio ao deserto das inutilidades poticas publicadas aos borbotes. Novamente premiado em concurso literrio, Rodrigo Marques traz agora a lume sua mais recente publicao: O Livro de Marta (bilhetes de amor quebrado). Sem preocupao com quantidade, o pequeno grande livro de Rodrigo Marques contm uns trinta poemas dos bons. Todos eles tendo Marta como leitmotiv. Mas afinal, quem Marta? Isso o autor no confessa nem sob tortura. E eis que encontra Marta em tudo quanto situa-

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O LIVRO DE MARTA

o, cores e tons. Descobrimos, assim, que a linha (ou seria a vida?) de Marta afiada, passada em esmeril, tal qual a faca s lmina de Joo Cabral de Melo Neto, a navegar pelos rsticos mares sem abismos, pois abissal j o a prpria Marta. E no importa se Pablo Neruda nada escreveu para Marta. Marta no d a mnima para tudo isso. Ao contrrio, se deleita com uma taa do melhor dos vinhos, enquanto seu vestido se esvai e seu cheiro escapa do corpo. Quanto ao eu lrico, este se banha e escorre pelo ralo, sem direito a uma segunda chance. E uma pena que no consigamos ver o piercing de Marta brilhar na sua curva mais escura, embora o saibamos l. Mas pelas palavras do poeta, quase sentimos seu gosto metalizado em nossas bocas e imaginamos Marta fazendo as unhas no salo mais caro. Mas afinal, quem Marta? Uma passista de carnaval, um quadrpede ou a mulher que bebe no bar ao lado do salo mais caro, enquanto a cada um de seus goles o cho afunda mais um pouco? Ela a Marta do poeta, como Aurlia e Lucola o so de Jos. Como Beatrice o de Dante, como Oflia o de Shakespeare, Helosa de Abelardo, Isabeau de Navarre; assim como Isolda no de Tristo, nem muito menos Guinevere de Lancelot. Marta assim, essa incgnita, essa esfinge, esse enigma nada claro. Mas o livro no de ningum seno dela, que citada pelo menos umas trinta vezes ao longo da obra, e para ela que o livro dedicado. Marta contm em si toda essa gama de desejos, insultos e tdios. Mas o tdio, diz-nos o poeta, j no mais sinnimo de amor. Assim, s resta rasgar aqueles velhos trinta bilhetes escritos, mas jamais enviados Marta. O mais im-

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RODRIGO MARQUES

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portante agora continuar a escrever bilhetes outros, novos. Bilhetes no tm corpos, suor, porta ou aspas, advertenos o poeta. Bilhetes so apenas ritmos de letras, continua. Mas para que constituir provas contra si? A incapacidade de decifrar Marta pode ser fatal, pois nunca sabemos o outro lado da moldura. A diferena entre o que se esconde e o que se d aos olhos. Assim sendo, corremos o ritmo, a estrada porttil, no mesmo espao em que Marta prolonga o corpo ou liberta a lycra enrugada, travestindo-se em cada mulher da rua, dos sonhos, da academia, dos desejos (in)contidos, da praia, parada no semforo ou a gemer na cama, a uivar na mata, enquanto seus olhos bombardeiam horizontes plenos de hesitao e desejo. A chegada de O Livro Marta (bilhetes de amor quebrado) ao mercado editorial vem apenas reforar o que a crtica j sabia a respeito da qualidade literria das obras de Rodrigo Marques. Prenhe de poesia da melhor qualidade e eivada de apurado rigor literrio, o poeta oferece sua obra anlise e ao deleite daqueles que ainda no perderam a capacidade de sonhar e de se deixarem envolver por uma literatura de refinada espcie. A literatura, sabemos, no muda o mundo, mas muda as pessoas. E se o livro de Marta nada mudar no mundo, que fique a inteno provocadora do poeta de instigar a Marta que cada um de ns, homem ou mulher, mantm encalacrada nos mais recnditos escaninhos da nossa compleio humana. Eis os bilhetes de amor quebrado, caro leitor, aceitas?

Carlos CarvalhoMestre em Letras e professor na Universidade Estadual do Cear

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Para ser entregue Trote mobiliza polcia no centro Shopping Sesso 18:30h Lminas e pentes Soneto do dio mortal Mar rstico Pablo Neruda nada fez para ti Por outro lado Por a Bar ao lado Balada piercing Trs dias Fazendo unhas no salo mais caro Estao blitz Sesso 18:30h (reprise) Semforo Nuvem Tdio Mulher de mai Academia Linha Soneto do amor quebrado Verbete Fotossensor e um bilhete Poemas traduzidos

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Esta mulher que prometeu vir No a mulher do meu desejo antes a mulher do meu tdio... ... E ao partir, distrada e fatigada, Escolher um livro na estante Perguntando: Meu amor, vale a pena?

Ribeiro Couto

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o livro Marta

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O Livro de Marta

Caso esteja contigo, devolva-o Amor ey! O livro contigo? Ey! Caso contigo esteja, Ah! Ey!

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O LIVRO DE MARTA

PARA SER ENTREGUE

Marta, aceitas? (A porta aberta at um silncio fechado) Quando escrevo Marta, aceitas? nada digo da gota de frio, do desachar do corpo, do nome Marta rompendo boca, do carro, do susto. E se digo Marta, antes de aceitas, porque conheo o modo que ela amarra os cabelos, a voz, o perfil, porque conheci Marta a tempo de interrog-la. A pergunta escrita desconhece isso. Embora se esforce com as aspas... No sei ao certo as vozes, por nascerem do lado de fora. Tanto que julgo ser de outra pessoa ou de um desaparecido quando ouo a minha gravada nas fitas. Mas imperdovel o no poder escrever a voz: em qual slaba falhou, se esperou realmente a vrgula ou se fugiu escala das cordas. Por tudo isso, acho melhor um bilhete: Marta, aceitas?. Um bilhete no tem corpo, suor, porta ou aspas. Ritmo apenas de letras. E Marta ter que adivinhar a minha angstia, o nome, o susto, e ela tentar a minha voz na sua, levantando o papel altura do teto, e danar no quarto tantas voltas, tantos maos de cigarro, que se abriro meia lua as portas da casa.

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Trote mobiliza polcia no centro

Manchete de contracapa: um telefonema: voz ocupada: som, ameaa e trote. Uma testemunha no posto policial: o gesto, o copo [ dgua e acar: soluo molhado de trote. Ou mesmo um cdigo: na mquina:

T r o t e.Ou mesmo um bilhete. Ou mesmo um amor quebrado. Ou mesmo um livro.

T r o t e.

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O LIVRO DE MARTA

SHOPPING

Corre o vidro pelos dois lados minha presena. Passo a uma papelaria. Papel de carta, por favor. Qual a cor? Qual a cor, moo? Que me interessa a cor do bilhete? Escrevo mo e de azul. E no h erro num trabalho manual: defeito e ajuste ao alcance. Que me importam as cores, se j vi Marta apenas de gua e sabo, Marta branca e nua e a alva toalha bebendo os pelos? (Uma gota contorna Marta depois do rio e do chuveiro e se perde em Marta nas termas) O azulejo em branco e o branco no banheiro, s Marta branca e nua e um rastro negro no espelho.

Qual a cor? Qual a cor, moo?Branca.

Pago. Passos procura de sada. Corre o vidro dois lados ausncia.

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SESSO 18:30Acrescento meia entrada uma sada de mim. E sento digno na quarta fila. A tela estendida na luz. o som corrido das cortinas aguardo o fim da vida (fecho os olhos) me fao poltrona aguardo soprarem as velas. O sol retm para si e para sempre.

...

Escuto longe um outro sol a projetar um outro destino outra chance outro barro macio a cor mais cinza se faz Carlitos e o beijo mais longo [se inicia. Mas meus olhos insistem no mundo apagado e choram. Me desligo da poltrona, esfrego o sol dos sentidos a tela : marca branca de biquni.

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O LIVRO DE MARTA

Lminas e Pentes

Centelham lminas e pentes. possvel que a lmina oferte um pouco de gume linha de Marta e a linha de Marta, passada em esmeril, adquira tons afiados.

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RODRIGO MARQUES

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Soneto do dio mortal

Me deparo, Amor, com o teu oposto. Parece contigo e com o teu corpo: O dio mais aceso e mais rpido. Entende-se o Amor pelo avesso. Ele me chegou outro pela escada Abrindo portas, batendo gavetas, Deixou nossas coisas s claras, Ps desnudo o Todo encoberto. Poderia eu fazer poema mais casto Falando do Amor pelo inverso? Se jogaste em mim o cristal, Foi por no encontrar outro objeto. O Amor tem dessas coisas, Quando no vai, manda seu verso.

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O LIVRO DE MARTA

MAR RSTICO

O mar que dorme no quarto, o meu quarto de um dos milhes do mundo que ningum sabe quem , no vale a pena, no espelha o cu. um mar sem abismo. Por ele no marulham naus meu mar muito pouco para quem sabe nadar no entanto meu; comprei-o na loja ao lado da tabacaria, completo: sem cais e por rimar. Quem sabe, Marta, uma lgrima mais salgada que Portugal?

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RODRIGO MARQUES

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P

FEZ NADA

NERUDRA TI BLO APA

A

No s Matilde No s o mar Nenhum dos cem sonetos de amor fez-se para ti Sequer uma barcarola pousou no cu... E no s Matilde E no s o mar Contenta-te com este livro, Contenta-te em eu no saber Quem tu s

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Por outro lado

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Por a

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O LIVRO DE MARTA

Examino a priso vtrea que abafa o vinho. [O rtulo nada diz das uvas: Tinto e seco Desenrazo a rolha. O cheiro de vinho escapa. Beb-lo rapt-lo do corpo de vidro, [ mexer no molde das coisas. (Os deuses olham de cima) Penso em Marta tirando o vestido. Ala e zper. O vestido se desmancha na cadeira, raptado do corpo. O cheiro de Marta escapa. (Os deuses olham de cima) Despejo o vinho: pouco me dizem os deuses e os rtulos [se me precipito nos copos.

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RODRIGO MARQUES

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Balada g ercin Piporque teu sexo atrai, nascem estrelas, alfinetes na curva escura sim, teu sexo de gosto atrai nbulas, quasares, pulsares, meu corpo e quando estrelas no teu centro fica certo o jogo colhe a lngua o gosto metal dos doces

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O LIVRO DE MARTA

TRS DIASArmado nos cabides, o corpo do passista: pernas, braos, suspensrio de circo, uma gravata de samba, outra camisa.

Visto s pressas o passista, e ele sai avenida: desce rua, ao bloco perdido, assina meu nome em cheques e vistos por pura travessura, por puro carnaval, e ri dele a jardineira triste, e o frevo e o lao de fita e ri mais o carnaval

To real o meu passista que o ano se encolhe fevereiro os doze meses seguidos. noite, quando chega em casa, eu dispo seu corpo e o penduro nos cabides.

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RODRIGO MARQUES

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Fazendo unhas no salao mais caro

Para que fazer unhas no salo mais caro Se arranhas em mim os pesares, as tardes, as frases, Se deixas em mim um cheiro falso de esmalte?

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O LIVRO DE MARTA

ESTAO BLITZ

Identificao, por favor. diz o pssaro Nada posso negar ao pssaro que cisma na terra (Entrego-lhe os documentos) o pssaro coa o bico e se afasta s placas talvez ele identifique a pessoa que vejo no espelho, em sua leitura de placas e plsticos a finalmente direi Marta quem sou basta que o pssaro /esprito santo?/ me devolva a papelada dizendo: Sim, o senhor o cidado descrito na carta de motorista, o senhor o proprietrio do carro. Sim, o senhor o cidado da foto, sim, sim o senhor... Nada posso negar ao pssaro que cisma na terra Ele me devolve silncio e apito num papel de carta

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RODRIGO MARQUES

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SESSO 18:30 (REPRISE)

Fosse possvel correr o filme Ao contrrio do que iniciara Seria o happy-end o princpio E o lado em que o fim retarda. preciso, pois, um cuidado Com os fios que fiam os quadros, Este cinema decerto marinho E a barca, uma antiga farsa... Clara est em mim a tela branca: A marca branca de biquni de praia. Creia mesmo, os olhos me bastam No negativo bao de Marta. Algum na poltrona disfara: Quando chegar atrasada?

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O LIVRO DE MARTA

Bem no vermelha, despasso. E guardo no carro a combusto que uso, e tudo, ou que me siga ou que me pare, em mim desuso. Olho Marta num prdio desfolhando roupas. (h um uso nos meus olhos furtados) ela, ela, a estender coisas teis. ela, ela, apanhando as dvidas na mquina de rodar os sujos: - Qual a veste de melhor shopping? - O vermelho ou o verde ndoa? (a palavra verde pulsa) O semforo abre a porta e o solo a meu passo til.

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SEMFORO

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Nuvem

a nuvem que antes beijava os lbios a chuva a lavoura irrigada

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O LIVRO DE MARTA

TDIO 702Lennui nest plus mon amour

Hoje, sinto que o tdio no mais meu amor. Sim, o tdio do stimo andar: o elevador me transportando do cho para o observatrio da cidade. A chave escondendo a entrada no tapete. Acendo as luzes. (Algum v minha janela existir e no desconfia de riso, das mentiras e do cinza engolidos, da msica que vasa da pia, do bilhete premiado e perdido) Acendo as luzes da estadia. O banho escorre pelo ralo adeus Marta e trinta bilhetes rasgados adeus cidade noite vizinho de tdio e construo amigo que viu a janela existir adeus. nos vemos :rebobinados: me

amanh

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Estou pensando em ti... Pensar estar sozinho

Dante Milano

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O LIVRO DE MARTA

MULHER DE MAI

(O azul mais que o costume de cu e um barco em contraponto na tela.) Na praia, espera, a mulher de mai. E h areia no decote e na borda, a acompanhar as coxas e os passos, [h suor e mar. E passam mil que no sei o nome: homens e mulheres sem nome. E a mulher de mai, que se chama Marta, [que se agacha ainda mais carne [quando cava a praia no me v pois nunca sabe o outro lado. Mas vejo o corpo alm: a linha que divide curva; o cabelo no contradiz de vento; o seio de marcar malha e disco rseo; e vejo escapar a mais pelo mai a chama que escoa.

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ACADEMIA

Fora do ar, a paisagem chuviscada, enquanto corro na esteira os meus passos. O caminho quando mquina mais fcil: no se afasta, no adia o necessrio, imprime passo a passo seu ritmo de fbrica. E corro o ritmo, a estrada porttil, no mesmo [espao em que Marta prolonga o corpo ou liberta a lycra enrugada, no mesmo espao em que Marta desconserta as mquinas com um tal ritmo de fmea cansada. Corro meus passos sem fuga.

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O LIVRO DE MARTA

L

I

N

H

A

contra-mo de mim, o nibus passa, e se atrs, viaja o corpo de Marta, e se ainda, nesse corpo, viaja encarnado uma parte minha, uma perna, um brao, uma mo, escuto, longe, a cidade estacionar-se.

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SONETODO AMOR QUEBRADO

Marta

Sem esvaziar a estrutura, Sem escapar a linha-curva, Agachas inteira a carne Num biquni quase marca. Vejo-te a contendo a fruta, Assim e tanto, corpo e parte, O pomo agachado que bifurcas, Que meus olhos escondem a cidade. E de te olhar sozinho, parte, Sou-te muito o amor mais fcil: Que no fixa e que no passa, Que se acende e que no arde, Posto carne quando agachas, Posto inteiro quando partes.

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VERBETE

Apenas um quadrpede, mamfero, Mas quando quadrpede, chupando o dedo, os olhos no horizonte, nem olha de lado, com saudades e uivos da mata.

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Se o verdadeiro amor pode ser falso e o falso ser o verdadeiro amor, isto faz crer que todo amor falso ou crer que verdadeiro todo amor.

Dante Milano

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fotossensorE UM BILHETE

e juntos ainda mais nos estreitamos meus dedos riscaram-te atrs, no carro meus dedos de preparar chuva e a nuvem a embaar os vidros

[fotografia]onze e meia. mo dupla. infrao: chuva entre os dedos a escorrer asfalto. multa: descartveis bilhetes. Marta, aceitas?

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Poemas traduzidos por Silvia Lpez

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Para ser entregadoMarta, acepts? (La puerta abierta hasta um silencio cerrado) Cuando escribo Marta, acepts? nada digo de La gota de frio, del desencontrar del cuerpo, del nombre Marta rompiendo la boca, del auto, del susto. Y si digo Marta antes del acepts, es porque conozco El modo em que Ella se ata los cabellos, la voz, el perfil; es porque conoc a Marta a tiempo de interrogarla. La pregunta escrita desconoce eso. Por ms que se esfuerce com comillas assustadas, una coma separando angustia y anzuelo sin lazo. No reconozco las vocs, por nascer em El lado de afuera. Tanto que ls juzgo ser de outra persona o de un desaparecido cuando escucho La mia grabada em La cinta. Pero imperdonable es El no poder escribir la voz: em cul slaba fall, se esper realmente la coma o huy la escala de cuerdas. Por todo eso, creo que es mejor uma nota: Marta, acepts?. una nota no tiene cuerpo, sudor, puerta o comillas. Ritmo slo de letras. Y Marta tendr que adivinar mi angustia, el nombre, el susto, y ella intentar mi voz em la suya, levantando el papel a la altura del techo, y danzar em El cuarto tantas vueltas, tantos paquetes de cigarrillos, que se abrirn a media luna ls puertas de la casa.

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O LIVRO DE MARTA

Estacin Blitz

Identificacin, por favor. Dice El pjaro Nada pueso negarle AL pjaro que medita em la tierra. Pues El suelo, El suelo donde vivo siempre necesita de vuelo y canto. (Le entrego los documentos) el pjaro se rasca el pico y se aleja hacia las placas. Tal vez l identifique a la persona que veo em el espejo, em su lectura de placas y plsticos. Ah, entonces finalmente le dir a Marta quin soy: /basta que el pjaro/ espritu santo? me devuelva los papeles diciendo: si, usted es el ciudadano/ descripto em la licencia de conductor, usted es el propietario del/ auto. S, usted es el ciudadano de la foto, s, s,es usted... Nada Le puedo negar al pjaro que medita em la tierra. Sin embargo, l me devuelve apenas silencio y pito em um papel de carta.

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Soneto de amor roto

Sin vaciar la estructura, sin escapar la lnea-curva, agachas entera la carne en uma biquni casi sombra. Te veo ah conteniendo la fruta, as y tanto, cuerpo y parte, la pulpa agachada que bifurcas, que mis ojos esconden la ciudad. Y de mirarte solo, a un lado, soy tu amor ms fcil: que no se fija y que no pasa, que se enciende y que no arde, hecho carne cuando te agachas, hecho entero cuando partes.

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O LIVRO DE MARTA

Tdio 702

Lennui nest plus mon amour Hoy, siento que el tdio no es ms mi amor. Si, el tdio del sptimo piso: el ascensor transpotandme del suelo para el [observatrio de la ciudad. La llave escondiendo la entrada em la alfombra. Enciendo las luces. (Alguien v mi ventana existir y no desconfia de la risa, de ls mentiras [y de ls cenizas ragadas de la msica que rebalsa de la pia, del bilete premiado y perdido) El bao me escurre por el ralo

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adis Marta y treinta notas rasgadas adis ciudad de noche vacino del tdio y construccon amigo que vio la ventana existir adis. nos vemos maana :rebobinados:

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Rodrigo Marquesnasceu em Fortaleza, em abril de 1980. Professor de Literatura em Lngua Portuguesa da Universidade Estadual do Cear, reside atualmente no Serto Central cearense, na cidade de Quixad. Publicou Fazendinha (Cavalo Marinho: 2005). [email protected]

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EXPRESSO GRFICA

Esta obra foi composta com as fontes Minion, e impresso em 01 cor sobre papel Plen soft 80 gr/m2 LD (miolo) e carto supremo 250 gr/m2 (capa), nas oficinas da Expresso Grfica e Editora, em Fortaleza - CE, no ms de janeiro de 2011.

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