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Fl 4.8 Ap 1.3 Curso: Bacharelado em Teologia Aluno: Carlos Henrique da Conceição Seabra Matéria: Hemernéutica FATECBA – FACULDADE TEOLÓGICA CULTURAL DA BAHIA

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Fl 4.8

Ap 1.3

Curso: Bacharelado em Teologia

Aluno: Carlos Henrique da Conceição Seabra

Matéria: Hemernéutica

Data: 15/06/2008

FATECBA – FACULDADE TEOLÓGICA CULTURAL DA BAHIA

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Bacharelado em Teologia - Fatecba

Índice

Introdução 3

Estudar a Bíblia 4

Chave do Entendimento 5

Antigo Testamento 6

Ex 35.3 e Nm 15.32-36 6

Is 1.13 8

DN 9.24-27 9

DT 5.6-21 14

ML 3.10 19

Novo Testamento 22

Mt 5.17-18 22

Mc 2.23-28 e Mt 12.3-8 26

Rm 14 33

Cl 2.16-17 e Gl 4.10 39

2 Co 3.7-11 44

Conclusão 54

Bibliografia 55

Carlos Henrique da Conceição Seabra 2

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Bacharelado em Teologia - Fatecba

Introdução

Uma das condições para estudar a Bíblia com o máximo de proveito é estudá-la como a

Palavra de Deus. O apóstolo Paulo, ao escrever ao tessalonicenses, dava graças

incessantes a Deus por eles terem recebido a palavra anunciada "não como palavra de

homens, e sim como, em verdade é, a palavra de Deus" (1 Ts 2.13).

Aquele que não crê que a Bíblia é a Palavra de Deus deve ser encorajado a estudá-la.

Anteriormente eu também duvidava que fosse a Palavra de Deus, mas hoje a firme

confiança que tenho veio mais do estudo da própria Bíblia do que de qualquer outra

fonte. Aqueles que duvidam são geralmente os que estudam sobre a Bíblia e não os

que investigam e buscam dentro dos próprios ensinamentos da Bíblia.

Carlos Henrique da Conceição Seabra 3

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Estudar a Bíblia como Palavra de Deus envolve quatro coisas:

1. Envolve a aceitação incondicional dos seus ensinamentos, assim que forem

claramente descobertos, mesmo que pareçam ser irrazoáveis ou impossíveis. A razão

exige que submetamos nosso juízo e raciocínio às declarações da sabedoria infinita.

Nada é mais irracional que o racionalismo que faz da sabedoria finita o teste para

avaliar a sabedoria infinita; e que submete os ensinamentos da onisciência de Deus à

aprovação do juízo humano. A mente presunçosa diz: "Isto não pode ser verdade,

mesmo que Deus o tenha dito, pois não é aprovado por minha razão". "Quem és tu, ó

homem, para discutires com Deus?!" (Rm 9.20).

A verdadeira sabedoria humana, ao encontrar-se com a sabedoria infinita, curva-se

diante dela e diz: "Fale o que quiser e acreditarei". Uma vez formos convencidos de que

a Bíblia é a Palavra de Deus, seus ensinamentos terão de ser o fim de toda

controvérsia e discussão. Um "Assim diz o Senhor" resolve toda questão. Entretanto,

muitos que afirmam acreditar que a Bíblia é a Palavra de Deus balançam a cabeça e

dizem: "Sim, mas eu acho assim e assim"; ou "Doutor fulano, ou Professor beltrano, ou

nossa igreja ensina de outra maneira". Nesta base, há pouco proveito para o estudo da

Bíblia.

2. Estudar a Bíblia como Palavra de Deus envolve total confiança em todas suas

promessas, em toda sua extensão e abrangência. A pessoa que estuda a Bíblia como

Palavra de Deus não descontará uma vírgula de qualquer uma de suas promessas. Ele

dirá: "O Deus que não pode mentir prometeu", e não tentará fazer Deus de mentiroso,

fazendo com que sua palavra signifique menos do que de fato está dizendo. Aquele que

estuda a Bíblia como a Palavra de Deus estará sempre à procura das suas promessas.

Ao encontrar uma, procurará verificar seu verdadeiro significado, e então colocará sua

confiança total no que ela diz.

Este é um dos segredos do estudo proveitoso da Bíblia. Procure por promessas, e

aproprie-se delas o mais rápido que puder, preenchendo as condições e arriscando

tudo por elas. É assim que se toma posse de toda a plenitude da bênção de Deus. Esta

é a chave a todos os tesouros da graça de Deus. Feliz é o homem que aprendeu a

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Bacharelado em Teologia - Fatecba

estudar a Bíblia de tal forma que está pronto para apropriar para sua vida cada

promessa que encontra, e a arriscar tudo para confiar nela.

3. Estudar a Bíblia como Palavra de Deus envolve obediência imediata a todos os seus

princípios. Obediência pode parecer algo duro e impossível; mas Deus a ordenou, e

nada temos a fazer, senão obedecer e deixar os resultados com ele. Para ter proveito

no seu estudo da Bíblia, decida que de hoje em diante se apropriará de cada promessa

que lhe for revelada, e que obedecerá a cada ordem clara. Se o significado da

promessa ou da ordem não for claro, procure esclarecimento e luz para entender.

4. Estudar a Bíblia como Palavra de Deus envolve estudá-la como se estivesse na

presença de Deus. Quando lê um versículo da Escritura, ouça a voz do Deus vivo

falando diretamente a você naquelas palavras escritas. Há um novo poder e uma nova

atração na Bíblia quando se aprende a ouvir uma pessoa viva e presente – Deus, nosso

Pai – conversando diretamente consigo naquelas palavras.

Uma das afirmações mais fascinantes e inspiradoras na Bíblia é: "Andou Enoque com

Deus..." (Gn 5.24). Podemos ter a gloriosa companhia de Deus a qualquer momento,

simplesmente abrindo sua Palavra, e deixando o Deus vivo e sempre presente falar

conosco através dela. Que reverência santa, que alegria estranha e inexprimível, se

sentirá quando se estuda a Bíblia desta maneira! É o céu descendo para a terra.

A Chave do Entendimento

Outra condição para o estudo bíblico proveitoso é uma atitude de oração. O salmista

orou: "Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei" (Sl

119.18). Todo aquele que desejar um estudo proveitoso deve oferecer uma oração

semelhante cada vez que começar a estudar a Palavra. Poucas chaves poderão abrir

muitos "cofres" trancados cheios de tesouros. Poucas pistas poderão levar à solução de

muitos enigmas. Poucos microscópios desvendem muitas maravilhas escondidas dos

olhos do observador comum. Quanta luz nova brilha a partir de um texto conhecido

quando se dobra o joelho colocando o texto diante dele em oração!

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Eu acredito que se deve estudar a Bíblia freqüentemente de joelhos. Quando se lê um

livro inteiro de joelhos – o que pode ser feito sem dificuldade alguma – aquele livro

assume um novo significado e se torna um novo livro. Nunca se deve abrir a Bíblia sem

pelo menos elevar seu coração em oração silenciosa, pedindo que a interprete e que

ilumine suas páginas com a luz do seu Espírito. É um raro privilégio estudar qualquer

livro sob a orientação imediata e a instrução do seu autor; no entanto este privilégio é

de todos nós quando estudamos a Bíblia.

Quando chegar a uma passagem de difícil compreensão, ou difícil interpretação, ao

invés de desistir, ou de correr para algum conhecido erudito, ou para algum comentário,

coloque a passagem diante de Deus e peça-lhe para explicá-la. Clame baseado na

promessa: "Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a

todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida. Peça-a, porém,

com fé, em nada duvidando..." (Tg 1.5-6).

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ANTIGO TESTAMENTO

Êxodo 35:3 e Números 15:32-36.

 

“Não acendereis fogo em nenhuma das vossas moradas no dia do sábado”. (Êx35:3

RA).

 

“Estando, pois, os filhos de Israel no deserto, acharam um homem apanhando lenha

no dia de sábado. Os que o acharam apanhando lenha o trouxeram a Moisés, e a

Arão, e a toda a congregação. Meteram-no em guarda, porquanto ainda não estava

declarado o que se lhe devia fazer. Então, disse o SENHOR a Moisés: Tal homem

será morto; toda a congregação o apedrejará fora do arraial. Levou-o, pois, toda a

congregação para fora do arraial, e o apedrejaram; e ele morreu, como o SENHOR

ordenara a Moisés”. (Nm 15:32-36 RA).

 

Estas Leis existentes acerca do Sábado, aparentemente excessivas, eram dadas deste

modo sabe porque? “As Leis são dadas de acordo com a consciência moral das

pessoas”. Naquela época, eles tinham uma mentalidade diferente. Acender fogo no

Sábado, maldizer os pais era punido com a morte. Em Êxodo 21:17 era ordenado:

“quem maldizer seu pai ou sua mãe será morto”. Será que o fato de ser ordenado matar

quem maldissesse seus pais seria uma desculpa para não guardarmos o mandamento

que diz Honra teu pai e tua mãe? Claro que não, pois eles merecem todo nosso amor e

respeito.

 

Vemos então que não é porque a profanação do Sábado era punida com a morte que

iremos abolir o mandamento de Deus, que é eterno (Salmo 119:152), assim como não

podemos tirar do decálogo o mandamento “honra teu pai e tua mãe”(Êxodo 20:12) pelo

fato deste também ser punido na época com a morte. Estas punições estabelecidas por

Moisés eram para “mostrar a importância” da Lei.

Carlos Henrique da Conceição Seabra 7

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 Ascender fogo no dia de sábado.

“Antanho ascender um fogo exigia considerável esforço. O clima relativamente cálido

da região do Sinai não se fazia necessário o aquecimento, e o fogo só houvera servido

para cozinhar. Posto que não era indispensável para a saúde comer alimentos quentes

em tal clima, não se devia preparar comida quente no sábado ... Este mandato é

observado estritamente todavia, nos lugares de clima frio, para os judeus caraítas, que

não permitem ascender nem luz nem fogo nas suas casas durante o dia de sábado.

Sem dúvida, muitos judeus consideram que esta ordem era de caráter transitório, e

ascendem luzes e fogo, inclusive em Israel. Porém os judeus ortodoxos estritos não

cozinham (hoje) nenhum alimento no dia sábado”

Porque o homem que apanhou lenha no sábado foi morto?

 

“O pecado deste homem era claramente insolente, e o mesmo era uma ilustração da

classe de pecado de que se fala em Números 15: 30...”.

33.

 

“Foi sua atitude desafiadora que provocou o severo castigo. Deliberadamente

quebrantou o sábado”.

 

Isaías 1:13.

 

“Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e também as

Festas da Lua Nova, os sábados, e a convocação das congregações; não posso

suportar iniqüidade associada ao ajuntamento solene”. (Isaías 1:13 RA).

 

Existe uma ciência responsável pela interpretação do versículo Bíblico chamada de

“Hermenêutica”, que estabeleceu alguns princípios para a interpretação dos textos, e

um deles é examinar o “Contexto Externo” e o “Contexto Interno”.

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Analisar o “contexto externo” seria analisar o que o autor queria dizer, quando escreveu

a quem escreveu e o porque escreveu. “Contexto interno” seria ler os versos que vem

antes e depois do texto que queremos estudar.

 

Portanto, não devemos tirar conclusões precipitadas sem analisar o contexto do verso,

pois estaríamos forçando a Bíblia a dizer o que “não disse”.

 

Em Isaías diz: “Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso para mim é abominação,

e também as ofertas de lua nova, os sábados, e a convocação das congregações; não

posso suportar a iniqüidade “associada” ao ajuntamento solene”. Aqui, Deus não está

dizendo que iria abolir este mandamento ou que o povo de Israel não tinha mais espírito

religioso por observar o Sábado. O Senhor está dizendo apenas que não suportava

mais ver eles “MISTURAREM” a guarda do Sábado (neste texto mais especificamente

os dias sagrados) com a iniqüidade, assim como ele não toleraria a guarda de qualquer

outro mandamento, se estivesse associado ao pecado. Para Deus, não basta obedecer

apenas “exteriormente”, mas sim de “coração” como é ordenado no Novo Concerto.

(Jeremias 31:33; Hebreus 8:10). Nossa vida deve ser repleta de boas obras

demonstrando, assim, uma verdadeira conversão. A reclamação de Deus não era

jamais por eles guardarem o Sábado, pois o próprio criador lhes deu esta ordem!

(Êxodo 31:13), mas sim por misturarem os mandamentos de Deus com a iniqüidade

que praticavam! (examinando o contexto, você poderá ver que a iniqüidade pelo povo

praticada era a idolatria, bebedices e muita maldade- Ver capítulo 2, 5, 8, etc.)

Dn 9.24-27

Primeiramente gostaria de ressaltar que em nenhum lugar no livro de Daniel ou em

qualquer outra passagem da Bíblia encontramos qualquer menção de que exista um

lapso, um intervalo ou um parêntesis entre a sexagésima-nona e septuagésima

semanas da profecia de Daniel. Pelo contrário, Daniel profetiza: “Mas, nos dias destes

reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; este reino não

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passará a outro povo, esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo

subsistirá para sempre. Como viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxílio de

mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o outro. O Grande Deus faz

saber ao rei o que há de ser futuramente...” (Dn 2.44,45).

Demonstrarei que a profecia das 70 Semanas de Daniel é hoje muito mais profecia

realizada do que escatologia futura. Daniel estava com seu povo no exílio babilônico.

Ele estava estudando as profecias de Jeremias que previam que o exílio duraria 70

anos (Dn 9.2). Visto que o prazo dos 70 anos de exílio estava se cumprindo, Daniel,

consciente de que o exílio havia sido uma punição de Deus por causa dos pecados de

Israel, começa a interceder pedindo perdão a Deus em nome do seu povo, na

esperança de que o castigo de Israel estava para acabar com o final dos 70 anos de

cativeiro. A oração de Daniel é ouvida (Dn 9.20-23). Mas, para sua surpresa, ele recebe

uma visão de 490 anos (70 Semanas), no final dos quais as bênçãos viriam sobre Israel

na pessoa do Ungido (Messias).

Em Daniel 9.24, temos os seis propósitos da visão das 70 Semanas: 1. Para fazer

cessar a transgressão; 2. Para dar fim aos pecados; 3. Para expiar a iniqüidade; 4. Para

trazer a justiça eterna; 5. Para selar a visão e a profecia; e 6. Para ungir o Santo dos

Santos. Todos estes propósitos tiveram seu cumprimento na pessoa de Cristo. Da cruz,

Jesus bradou: “Está consumado!” (Jo 19.30).

As 70 Semanas estão dividas em três períodos (v.25): 1. Sete Semanas (7x7=49 anos)

de reedificação; Seguidas por: 2. Sessenta e duas semanas (62x7=434 anos); seguida

do terceiro e último período: 3. Uma semana (1x7=7 anos) - O v. 26 diz que após as

sessenta e duas semanas, ou seja, já dentro da última semana, será morto o ungido,

após a morte do ungido ocorreria a destruição de Jerusalém e do templo por um povo

de um príncipe que haveria de vir (v.26b); período em que surge o assolador (v.27); a

visão de Daniel termina com o assolador recebendo o merecido juízo de Deus.

Deve-se observar que a visão tem um caráter todo judaico: “70 semanas estão

determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade...” (v.24a). A visão vem em

resposta a oração de Daniel por perdão e libertação do povo. Embora a profecia de

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Jeremias 25.12 tenha seu cumprimento no retorno do povo à Palestina e reconstrução

da cidade e do templo, 70 semanas ainda estão determinadas para libertação espiritual,

que só se dará mais tarde com o advento do Messias, que cumprirá todos os seis

propósitos da visão. Depois dos dois primeiros períodos (v.26), ou seja, já na última

semana, o Messias será morto, o que traz consigo dois resultados distintos: 1)

justificação e salvação para os fiéis e 2) e traz para os infiéis o assolador que sitiará a

cidade e destruirá o templo, trazendo muita desolação, tais atrocidades são o resultado

da rejeição e da morte do Messias. Joyce Baldwin em seu comentário de Daniel disse

com muita propriedade que: “Os números são simbólicos e não aritméticos; pelo tempo

em que as sessenta e nove semanas tivessem passado, as 70 de Deus estarão quase

completas e o elemento designado como um ungido é evidentemente significativo na

realização dos propósitos descritos no versículo 24”i

É assim que Jesus interpreta a visão das 70 Semanas de Daniel. Vejamos o registro de

Mt 23: “Enchei vós, pois, a medida de vossos pais (comparar com Dn 9.24 e 1 Ts 2.16).

Serpentes, raça de víboras como escapareis da condenação do inferno? Por isso eis

que eu vos envio profetas, sábios e escribas. A uns matareis e crucificareis; a outros

açoitareis de cidade em cidade; para que sobre vós recaia todo o sangue justo

derramado sobre a terra, desde o sangue do justo Abel até ao sangue de Zacarias, filho

de Baraquias, a quem matastes entre o santuário e altar. Em verdade vos digo que

todas estas coisas hão de vir sobre a presente geração. Jerusalém, Jerusalém! Que

matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir

os teus filhos como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não

quisestes! Eis que a vossa casa vos ficará deserta... Em verdade vos digo que não

ficará aqui pedra sobre pedra, que não seja derrubada... Quando, pois, virdes o

abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê,

entenda)... porque nesse tempo haverá grande tribulação...” (Mt 23.32-24.2, 15, 21).

Jesus deixa claro que aquela geração (v.36) de judeus que o rejeitaram seria punida

conforme profetizou Daniel, com a casa ficando deserta (v.38) e o templo destruído

(24.2). No ano 70 d.C. se deu o cumprimento da profecia de Daniel e de Cristo sobre o

abominável da desolação e a destruição do templo. O historiador Josefo que foi

testemunha ocular daqueles eventos disse que os judeus nunca haviam sofrido

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tamanha tribulação em toda a sua história como nação. Josefo conta que mais de

1.3000.000 judeus foram mortos durante os sete anos em que Jerusalém ficou sitiada

pelos exércitos romanos, chefiados pelo General Tito, que culminou, em 70 d.C., com a

destruição do templo e da cidade. Josefo conta que durante os últimos anos de cerco, a

fome era tanta em Jerusalém, que as mães judias estavam matando os seus filhos para

comer. Ele ainda conta que os judeus eram crucificados e que por ocasião da invasão

não havia lugar na cidade onde não houvessem corpos esparramados uns por cima dos

outros.ii De tal forma que as profecias de Daniel e de Cristo tiveram cumprimento literal

(Lc 19.41-44; Lc 13.34).

Os Evangelhos sinópticos, escritos provavelmente antes de 70 a.C., relatam as

profecias de Cristo quanto ao “abominável da desolação” de que falou o profeta Daniel

e a conseqüente destruição de Jerusalém e do templo. Já o Evangelho de João, escrito

depois de 90 d.C., nada menciona a este respeito. Podemos concluir que não o faz por

entender que tais profecias (Mt 23, 24, Mc 13, Lc 21) tiveram seu cumprimento literal e

já, naquele tempo em que o Evangelho de João foi escrito, não eram mais profecias,

mas sim história. Seria bom também comparar o relato dos mártires da glória

procedentes da grande tribulação conforme encontramos em Ap 6.9s e 7.9s, para notar

um caráter completamente distintivo de Grande Tribulação. A Grande Tribulação

mencionada no livro de Apocalipse nada tem de judaica, nenhuma palavra é dita sobre

destruição de templo. Os mortos nesta grande tribulação são chamados de mártires.

Não foram mortos por rejeitarem a Cristo, pelo contrário foram mortos por causa do

testemunho que davam de Cristo. Os mártires são cristãos procedentes de todas as

partes do mundo e de todas as nacionalidades (Ap 7.9-14). Trata-se, portanto, de uma

Grande Tribulação cristã. Entendemos daí que este seja um caso de duplo significado e

cumprimento, que mesmo após o cumprimento literal da profecia bíblica, podemos

encontrar um outro significado ainda por se cumprir. É como se na visão das 70

Semanas a obra histórica de Cristo e a Sua Segunda Vinda estivessem sendo

focalizadas, ao mesmo tempo, através de um telescópio. Sendo este o caso, podemos

dizer que mesmo após 70 d.C., podemos entender que está reservado à Igreja uma

Grande Tribulação, produto do ódio do Anticristo. Baldwin argumenta que para Jesus o

significado do “abominável da destruição” não foi esgotado pela sua aplicabilidade às

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afrontas de Antíoco Epifânio, mas tem uma espécie de duplo cumprimento que se daria

com General Titu e a destruição do templo e de Jerusalém em 70 d.C. Ele conclui este

raciocínio dizendo:

O livro de apocalipse retoma o simbolismo da ‘metade da semana’, expresso em 11.2

como quarenta e dois meses, durante os quais a cidade santa é pisada aos pés; e em

13.5 a bem tem autoridade por um período idêntico. Se este livro foi escrito, como a

maioria dos estudiosos o afirma, após a queda de Jerusalém, então temos aqui uma

posterior aplicação da nossa passagem a um fim dos tempos que ainda não teve lugar.

Assim, o Novo Testamento positivamente encoraja o ponto-de-vista de que, embora

hajam eventos neste ínterim que demonstram a verdade das imagens usadas, ela tem

a sua perspectiva voltada para adiante, para uma culminação ao fim da história...

Como, então, devemos encarar a última das 70 Semanas com relação ao tempo

presente? Do ponto-de-vista da perspectiva do autor, a primeira vinda de Cristo é o

ponto focal da mirada para a frente, embora a Segunda Vinda em juízo também esteja

em vista. Para ele as 70 Semanas cobriam todo o tempo futuro, e a vinda do reino

parecia da posição em que ele se encontrava, como um único evento. É a luz do Novo

Testamento que temos aprendido a separar a primeira e a Segunda Vindas de Cristo, e,

com a ajuda do Seu ensino, a perceber que há um padrão reconhecível na história, que

os Seus seguidores devem observar e esperar vê-lo se desenrolando nos

acontecimentos do seu próprio tempo. A reinterpretação das visões de Daniel dada por

Jesus em Mt 24 e 25 não subestima os sofrimentos que podem ser esperados pelos

Seus seguidores; “desolações são determinadas” (Dn 9.26), embora “ainda não seja o

fim” (Mt 24.6-8). Mesmo antes da intensa oposição final (Mt 24.15) o crente pode

esperar oposição tal como o Mestre experimentou (Jo 15.20), e assim a Igreja como um

todo. A visão de Daniel terminou com o perseguidor encontrando o merecido

julgamento. Jesus levou a mensagem um passo mais adiante, focalizando a esperança

na Sua vinda em glória (Mt 24.30), descrita em termos cunhados por Daniel 7.13. E o

quadro ainda mais completo estava para ser dado no livro de Apocalipse.

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Portanto, não existe nada no texto de Daniel que indique algo como um intervalo ou

paralisação do relógio profético. Vemos que tais profecias são hoje mais história, do

que profecias apocalípticas a respeito de dias ainda futuros, pois Jesus veio como Rei

de Israel e estabeleceu a nova aliança que fôra profetizada por Jeremias. Jesus foi e é

a única esperança de Israel. Na sua primeira vinda, Cristo cumpriu todos os seis

objetivos da visão das 70 Semanas de Daniel. A Segunda Vinda de Cristo não será o

início da septuagésima semana de Daniel, mas, sim, a consumação final. O Reino de

Deus não foi postergado, mas já foi inaugurado por Jesus Cristo em Sua primeira

Vinda, como veremos com mais detalhes no próximo capítulo que tratará da natureza

do Reino de Deus, com as conseqüentes implicações para a Missão da Igreja.

Deuteronômio 5:6-21

Os Dez Mandamentos ou o Decálogo é o nome dado ao conjunto de leis que segundo a

Bíblia, teriam sido originalmente escritos por Deus em tábuas de pedra e entregues ao

profeta Moisés (as Tábuas da Lei). As tábuas de pedra originais foram quebradas, de

modo que, segundo Êxodo 34:1, Deus teve de escrever outras. Encontramos

primeiramente os Dez Mandamentos em Êxodo 20:2-17. É repetido novamente em

Deuteronômio 5:6-21, usando palavras similares.

Decálogo significa dez palavras (Ex 34,28). Estas palavras resumem a Lei, dada por

Deus ao povo de Israel, no contexto da Aliança, por meio de Moisés. Este, ao

apresentar os mandamentos do amor a Deus (os quatro primeiros) e ao próximo (os

outros seis), traça, para o povo eleito e para cada um em particular, o caminho duma

vida liberta da escravidão do pecado.

De acordo com o livro bíblico de Êxodo, Moisés conduziu os israelitas que haviam sido

escravizados no Egito, atravessando o Mar Vermelho dirigindo-se ao Monte Horeb, na

Península do Sinai. No sopé do Monte Sinai, Moisés ao receber as duas "Tábuas da

Lei" contendo os Dez Mandamentos de Deus, estabeleceu solenemente um Pacto (ou

Aliança) entre YHWH(ou JHVH) e povo de Israel.

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1. Eu sou YHWH, teu Deus [Elo.hím], que te fiz sair da terra do Egipto, da casa dos

escravos. Não terás outros deuses em desafio a Mim [o Deus de Abraão].

2. Não farás imagem esculpida [em hebraico péshel, referindo-se a ídolos, nem

semelhança alguma do que há em cima nos ceús, nem embaixo na terra, nem

nas águas debaixo da terra. Não adora-las-á, nem prestar-lhes-á culto, por que

eu, YHWH, teu Deus, sou Deus zeloso ["Deus que exige devoção exclusiva" ou

"Deus ciumento"; em hebraico El qan.ná e em grego Theós zelotes], e que puno

o erro dos pais nos filhos até sobre a terceira geração e sobre a quarta geração

dos que me odeiam, mas que uso de benevolência para com até a milésima

geração dos que me amam e que guardam os meus mandamentos.

3. Não tomarás o nome de YHWH, teu Deus, em vão [ou "dum modo fútil",

blasfêmia], pois YHWH não considerá impune aquele que tomar seu nome em

vão.

4. Lembra-te do dia do Sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás todo

o teu trabalho; mas o sétimo dia é o Sábado [em hebraico, shab.báth] de YHWH,

teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua

filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o estrangeiro que

está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez YHWH o céu e a terra, o

mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou; por isso YHWH abençoou

o dia do Sábado, e o santificou.

5. Honra a teu pai e a tua mãe, a fim de que os teus dias se prolonguem sobre o

solo que YHWH, teu Deus, te dá.

6. Não assassinarás [ou cometer homicídio, em hebraico lo tir cá.vit].

7. Não cometerás adultério [em hebraico lo tin.àf].

8. Não furtarás.

9. Não levantarás falso testemunho contra teu próximo.

10.Não cobiçarás [em hebraico, lo thahh.módh] a casa do teu próximo, nem a

mulher do teu próximo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu touro, nem

seu jumento, nem qualquer coisa que pertença ao teu próximo

Torá

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Os Dez Mandamentos foram entregues no Monte Sinai ao povo hebreu, por Deus,

através de Moisés, separadamente do restante da Torá (ensinamentos). De acordo com

a Bíblia, os Mandamentos escritos nas duas tábuas da Lei, foram escritas pelo dedo do

próprio Deus sendo que os demais foram ditados e escritos em pergaminhos por

Moisés e ambos falados diretamente ao povo. Em hebraico (língua original dos

Mandamentos), o número de letras dos Dez Mandamentos é equivalente a 613, o

número total dos mandamentos da Torá.

Divisão dos mandamentos

Os versículos 2 a 17 são a divisão natural dos Dez Mandamentos. Flávio Josefo separa

o versículo 3 como o primeiro Mandamento, os versículos 4 a 6 como o segundo

mandamento, o versículo 7 é o terceiro mandamento, os versículos 8 a 11 são o quarto

mandamento (o mais longo), e os versículos 12 a 17 são o quinto ao décimo

mandamento (um versículo para cada mandamento) (Antigüidades Judaicas, Vol. 3,

Cap. 5 §5). Outros inclusive Agostinho consideravam os versículos 3 a 6 como 1 só

mandamento, mas dividiam o versículo 17 em dois mandamentos, o nono contra cobiça

da casa do próximo e o décimo contra cobiçar as coisas suas. A divisão de Agostinho

foi adotada pela Igreja Católica Romana.

Cristianismo

Os cristãos reconhecem no Decálogo uma importância e um significado basilares.

Algumas igrejas ordenam a sua completa observância. Outros enfatizam a importância

de seguir seus princípios, acreditando que Cristo tivesse resumido todos os

mandamentos no amor a Deus e ao próximo.

Jesus interpreta a Lei do Amor da seguinte maneira: "Amarás a YHWH teu Deus com

todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente e a teu próximo como

a ti mesmo" Assim, Cristo dividiu a Lei conforme suas tábuas em o Amor a Deus na

primeira tábua e o Amor ao próximo na segunda tábua. Estas palavras resumem a Lei,

dada por Deus ao povo de Israel, no contexto da Aliança, por meio de Moisés. Você

Carlos Henrique da Conceição Seabra 16

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ama a Deus não transgredindo estes quatro primeiros Mandamentos, e ama o

semelhante não transgredindo do 5 ao 10 Mandamento.

Amor a DEUS (primeira tábua)

Não tendo outro deus diante Dele (primeiro mandamento no Êxodo 20)

Não fazer imagens de ídolos, não se prostrando diante deles e nem os

cultuando. (segundo mandamento no Êxodo 20)

Não pronunciando o Seu Nome em vão (terceiro mandamento no Êxodo 20)

Não esquecer de santificar o dia de Sábado e, consagrar o dia de Sábado para

honra do Senhor: "Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e

tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia

do Sábado, e o santificou." (quarto mandamento no Êxodo 20)

"Amar a Deus sobre todas as coisas" é o maior e o primeiro dos mandamentos

(Na Lei de Deus do 1 ao 4 mandamento). E o segundo é semelhante ao primeiro:

"Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Na Lei de Deus do 5 ao 10

mandamento). Destes dois mandamentos (primeira e segunda tábuas) depende

toda a Lei e os Profetas» (Mateus 22: 40).

Amor ao próximo (segunda tábua)

Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que

YHWH, teu Deus, te dá (quinto mandamento no Êxodo 20)

Não matarás (sexto mandamento no Êxodo 20)

Não adulterarás (sétimo mandamento no Êxodo 20)

Não furtarás (oitavo mandamento no Êxodo 20)

Não dirás falso testemunho contra o teu próximo. (nono mandamento no Êxodo

20)

Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu

servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu

próximo. (décimo mandamento no Êxodo 20)

Carlos Henrique da Conceição Seabra 17

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Divisão dos Dez Mandamentos por religião/denominação

Mandamento Judáico

Anglicano,

Presbiteriano,

e Outras

Cristãs

Ortodoxa

Católico-

Romano,

Luterano*

Eu sou o SENHOR, o teu Deus 1 Prefácio

1

1Não terás outros deuses além de mim

2

1

Não farás para ti nenhum ídolo 2 2

Não tomarás em vão o nome do

SENHOR, o teu Deus3 3 3 2

Lembra-te do dia de sábado, para

santificá-lo4 4 4 3

Honra teu pai e tua mãe 5 5 5 4

Não matarás 6 6 6 5

Não adulterarás 7 7 7 6

Não furtarás** 8 8 8 7

Carlos Henrique da Conceição Seabra 18

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Não darás falso testemunho contra o

teu próximo9 9 9 8

Não cobiçarás (a mulher do teu

próximo)10 10 10

9

Não cobiçarás (a casa do teu próximo) 10

Malaquias 3.10

deve servir de base para a prática do dízimo na igreja? Entendo que não. Segue

abaixo, de forma bastante objetiva as devidas razões:

1. O livro do profeta Malaquias foi escrito especificamente para o povo de Israel. Sua

mensagem profética tem a sua razão e o seu lugar próprio no tempo, e no espaço

"Sentença pronunciada pelo Senhor contra Israel, por intermédio de Malaquias." (Ml

1.1)

"Assentar-se-á como derretedor e purificador de prata; purificará os filhos de Levi e os

refinará como ouro e como prata; eles trarão ao Senhor justas ofertas. Então, a oferta

de Judá e de Jerusalém será agradável ao SENHOR, como nos dias antigos e como

nos primeiros anos." (Ml 3.3)

"Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois

consumidos." (Ml 3.6)

Carlos Henrique da Conceição Seabra 19

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Afirmar que as profecias e as orientações específicas de Malaquias se aplicam

"literalmente" à Igreja, é uma atitude que implica na quebra de princípios básicos, sérios

e confiáveis que norteiam uma interpretação gramático-histórica da Bíblia;

"[...] os princípios do sistema gramático-histórico de interpretação, que surgiram em

antioquia pela primeira vez como princípios pensados e conscientes, representam o

modelo de interpretação que mais bem corresponde aos pressupostos do Cristianismo

histórico quanto à natureza das Escrituras" (Nicodemus, 2004, p. 256)

Bentho (2003, p. 69-71) diz que a função da hermenêutica e exegese bíblica, dentre

outras, é compreender o sentido do texto dentro de seu ambiente histórico-cultural e

léxico-sintático. Qualquer interpretação que tenta forçar o texto a dizer o que não diz,

seja de forma voluntária ou involuntária, com base em pressupostos ou premissas

previamente estabelecidos pelo intérprete, que ignora o contexto sob pretexto

ideológico, que ignora a mensagem e o propósito principal do livro e que não analisa o

texto à luz de outros, não deve ser confiável.

2. A mensagem de Malaquias está fundamentada na necessidade de se observar o

cumprimento da Lei do Senhor, prescrita para o povo de Israel

"Lembrai-vos da Lei de Moisés, meu servo, a qual lhe prescrevi em Horebe para todo o

Israel, a saber, Estatutos e juízos." (Ml 4.4)

Não vivemos sob a Lei de Moisés:

"Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou

crucificado com Cristo". (Gl 2.19)

"Ora, a lei não procede de fé, mas: Aquele que observar seus preceitos por eles viverá"

(Gl 3.12)

Carlos Henrique da Conceição Seabra 20

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"Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos

submetais, de novo, a jugo de escravidão" (Gl 5.1)

3. Os que se utilizam de Ml 3.10, acabam por incorrer na alegorese, ou seja, no abuso

de uma interpretação fundamentada na escola alegórica.

"Quem alegoriza fala ou escreve sobre alguma coisa por intermédio de outra,

procurando desvendar sentidos simbólicos, espirituais ou ocultos. [...] De acordo com o

método alegórico, o sentido literal e histórico das Escrituras é completamente

desprezado, e cada palavra e acontecimento são transformados em alegoria de algum

tipo, a fim de escapar de dificuldades teológicas ou para sustentar certas crenças

estranhas e alheias ao texto bíblico. Assim, não interpreta o texto bíblico, mas perverte

o verdadeiro sentido deles, embora sob o pretexto de buscar um sentido mais profundo

ou mais espiritual" (Idem, 2003, p. 124)

O uso claro de alegorese em Ml 3.10, é afirmar que a "casa do tesouro" e a "minha

casa", citadas no texto se aplicam aos templos cristãos. É equivocado também declarar,

que as maldições ali citadas, virão também sobre os crentes. Vale lembrar as palavras

de Paulo em Atos 17.24 "O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele

Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas."

Muitos se utilizam do texto de Ml 3.7-11, tirando-o do seu contexto, para colocar a "faca

no pescoço dos simples", amedrontando-os com maldições ou acusando-os de ladrões,

no que diz respeito a prática do dízimo. Volto a declarar que a Bíblia não deve ser

interpretada segundo as nossas conveniências.

Compreendo ainda pela Palavra, que na Igreja, o dízimo não deve ter a sua prática

incentivada a partir de Malaquias, mas sim, a partir de Abraão (Gn 14.18-20) e Jacó

(28.18-22) que contribuíram voluntariamente, livre de qualquer preceito legal, sem

medo de qualquer punição ou castigo, sendo unicamente movidos por pura adoração

em reconhecimento àquele que provê todas as coisas.

Carlos Henrique da Conceição Seabra 21

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As bases motivadoras e punitivas que norteiam as contribuições financeiras na Igreja,

estão prescritas em 2 Co 9.6-15

"E isto afirmo: aquele que semeia pouco pouco também ceifará; e o que semeia com

fartura com abundância também ceifará. Cada um contribua segundo tiver proposto no

coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com

alegria. Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em

tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra, como está escrito: Distribuiu,

deu aos pobres, a sua justiça permanece para sempre. Ora, aquele que dá semente ao

que semeia e pão para alimento também suprirá e aumentará a vossa sementeira e

multiplicará os frutos da vossa justiça, enriquecendo-vos, em tudo, para toda

generosidade, a qual faz que, por nosso intermédio, sejam tributadas graças a Deus.

Porque o serviço desta assistência não só supre a necessidade dos santos, mas

também redunda em muitas graças a Deus, visto como, na prova desta ministração,

glorificam a Deus pela obediência da vossa confissão quanto ao evangelho de Cristo e

pela liberalidade com que contribuís para eles e para todos, enquanto oram eles a

vosso favor, com grande afeto, em virtude da superabundante graça de Deus que há

em vós. Graças a Deus pelo seu dom inefável!"

Dizimar e contribuir com outras ofertas, não pode ser encarado por cristãos como um

fardo ou jugo da lei. Deve sim, ser percebido como um privilégio e como um ato livre e

amoroso que reconhece em Deus o sustentator, provedor e criador de todas as coisas.

NOVO TESTAMENTO

Mateus 5:17 e 18.

 

Em Mat. 5:18 diz que, “nem um i ou til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra”.

Carlos Henrique da Conceição Seabra 22

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a)      Esse tudo se cumpra, de acordo com o texto, não é a lei? Até que se

cumprisse nada seria tirado dela?... E Cristo já não cumpriu?

b)      Aqui não está falando de toda a lei e não somente dos Dez Mandamentos?

 

Os versos, 17, 19 e 20 nos ajudam e entender o significado da expressão “cumprir” em

Mt 5:18 (e inclusive no próprio v. 17):

 

“Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para

cumprir”. (Mateus 5:17).

 

“Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim

ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém,

que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus. Porque

vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus,

jamais entrareis no reino dos céus”. (Mateus 5:19-20 RA).

 

Estes textos nos ensinam 2 coisas:

 

1) Que Jesus não veio revogar a lei;

2) Que aquele que violar um dos mandamentos, mesmo que seja dos menores, é

desaprovado pelo céu,ou seja: ninguém está autorizado a mudar a Palavra de

Deus, incluindo os 10 Mandamentos.

 

Isto nos leva a conclusão de que, se Jesus não veio revogar a lei e os profetas e

nenhum ser humano está autorizado a violar qualquer mandamento que esteja nos

mesmos (lei e profetas), a expressão “cumpriu” não pode insinuar que Jesus cumpriu a

lei no sentido de anula-la. Isto seria uma contradição no próprio texto no qual Jesus diz:

“não vim revogar a lei e os profetas”.

Carlos Henrique da Conceição Seabra 23

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“Que quer dizer ‘ab-rogar’ ? (ou revogar) De acordo com a clássica definição jurídica

significa revogação total de uma lei. ‘Abrogatur cum prorsus tollitur”. É nada menos que

extinguir uma lei. E Jesus disse que não viera AB-ROGAR (revogar) nada do que

continham a lei ou os profetas.”

 

Este tudo se cumpra não é a lei, mas a Palavra de Deus. Isto é claro no contexto do

verso. A Palavra de Deus será cumprida em todos os sentidos: as profecias referentes

a Cristo, Sua segunda vida a esta terra , o estabelecimento da Nova Terra e tudo o

mais.

 

O Contexto diz claramente que, “até que o céu e a terra passem...” não era para ser

tirado o mínimo acento da lei. Se a lei tivesse sido abolida, o céu e a terra também já

teriam passado e nós não estaríamos aqui hoje.

 

Este texto (Mateus 5:17-19) é um dos mais claros em dizer que Jesus não veio mudar a

lei; mesmo assim, é usado o argumento: “Se Jesus Cumpriu a Lei, eu não preciso mais

guardar. Está cumprido”!

 

O modo mais seguro é “ permitir que a Bíblia seja sua própria intérprete.” Vejamos

Mateus 3:13-16. o qual nos ajudará no esclarecimento:

 

“Mas Jesus lhe respondeu: Deixa por enquanto, porque, assim, nos convém cumprir

toda a justiça...” (Verso 15)

 

O texto diz que Jesus cumpriu o Batismo e a justiça. Será que pelo fato de Cristo ter

cumprido o Batismo, ninguém, mais precisa se batizar para se salvar? Nenhum

evangélico concordaria com isso.

 

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E a justiça? Não precisaria mais cumprir os justos reclamos de Deus por que Jesus os

cumpriu? De maneira nenhuma, pois temos de obedecer a Deus e sermos justos por

toda a vida!

 

“Diz o grande lexicógrafo Webster: ‘cumprir é obedecer’. É um atendimento exigência

legal, uma satisfação ao preceito. Um cidadão cumpre o dever de votar, por exemplo.

Extingue-se a instituição do voto, por ele te-lo cumprido? Não! A exigência é

permanente; o cumprimento é transigente . O cumprimento afeta a pessoa, não a

exigência; liga a pessoa à exigência, mas não remove a exigência.Esta só é removível

por força da lei superior que expressamente o declare...”

 

Digamos que você seja multado. Depois do susto, começas a cumprir corretamente as

leis de trânsito. Por ter cumprido a lei, quer dizer que agora você pode andar na

velocidade que quiser, bater em quem quiser, ou seja, não precisa mais obedecer? É

muito ilógico supor uma coisa destas.

 

Assim como o CUMPRIR o batismo não significa que nenhuma pessoa mais precisa ser

batizada para provar que crê em Jesus, o CUMPRIR a lei não significa que não

precisamos obedecer. De acordo com qualquer dicionário, cumprir significa “obedecer”.

 

Em Gálatas 6:2 diz: “Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de

Cristo”. (Gálatas 6:2 RA).

 

“J. Broadus, credenciado comentador batista, também faz empenho em alinhar-se na

opinião de que “cumprir” significa obedecer. Ele escreve sobre Mateus 5:17: “Cumprir é

a tradução de uma palavra grega significando “tornar cheio”, “encher”...Significa

“executar plenamente”, “realizar”, aplicado a qualquer obra e dever. Em vão se tem

procurado colocar este dito de Jesus em conflito com o que Paulo ensinou em

referência á lei... A idéia que ainda ás vezes surge, de que Jesus foi um reformador

Carlos Henrique da Conceição Seabra 25

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radical que pôs de lado a lei de Moisés por imperfeita e gasta, é contrária a todo os

espírito desta passagem”

 

“Cumprindo a lei, Cristo simplesmente “preencheu-a” no seu completo sentido, dando

ao homem um exemplo de perfeita obediência à vontade de Deus, a fim de que a

mesma lei ‘possa ser cumprida (pleros) em nós’. Rom. 8:4”.

Marcos 2:23-28 e Mateus 12:3-8.

 

“Ora, aconteceu atravessar Jesus, em dia de sábado, as searas, e os discípulos, ao

passarem, colhiam espigas. Advertiram-no os fariseus: Vê! Por que fazem o que não

é lícito aos sábados? Mas ele lhes respondeu: Nunca lestes o que fez Davi, quando

se viu em necessidade e teve fome, ele e os seus companheiros? Como entrou na

Casa de Deus, no tempo do sumo sacerdote Abiatar, e comeu os pães da

proposição, os quais não é lícito comer, senão aos sacerdotes, e deu também aos

que estavam com ele? E acrescentou: O sábado foi estabelecido por causa do

homem, e não o homem por causa do sábado; de sorte que o Filho do Homem é

senhor também do sábado”. (Marcos 2:23-28).

 

“Mas Jesus lhes disse: Não lestes o que fez Davi quando ele e seus companheiros

tiveram fome? Como entrou na Casa de Deus, e comeram os pães da proposição,

os quais não lhes era lícito comer, nem a ele nem aos que com ele estavam, mas

exclusivamente aos sacerdotes? Ou não lestes na Lei que, aos sábados, os

sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem culpa? Pois eu vos digo: aqui

está quem é maior que o templo. Mas, se vós soubésseis o que significa:

Misericórdia quero e não holocaustos, não teríeis condenado inocentes. Porque o

Filho do Homem é senhor do sábado”. (Mateus 12:3-8).

 

Carlos Henrique da Conceição Seabra 26

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O sábado Bíblico remonta da criação do mundo. Ao Deus terminar sua obra criadora,

Ele estabeleceu o sábado, o qual abençoou e santificou (Gênesis 2:1-3). Isto mostra-

nos o quando Deus tornou o sábado um dia santo, ou seja, “separado” para uso santo.

 

O Eterno Deus estabeleceu o sábado como memorial da criação, como o objetivo de

conservar na mente de seus filhos o verdadeiro motivo pelo qual Ele deve ser adorado

– Porque Ele é o Criador, e nós as suas criaturas. O estabelecimento do sábado foi

para manter na mente humana a lembrança de que há um Deus Criador e que não

estamos no mundo por acaso. É uma proteção contra o ateísmo e idolatria.

 

O sábado (hebraico Shabbath) foi criado por Deus para que pudéssemos desfrutar um

dia inteiro de comunhão com o Ele e nossa família; Deus viu que iríamos precisar

santificar um dia, pois durante a semana não temos tempo integral (só poucas horas)

para adorar a Deus e estar com a família. O sábado é meio divino de nos colocar em

maior comunhão com Deus e com a família e um remédio contra o estresse, devido á

possibilidade de descanso total das obras rotineiras.

 

Sendo que a guarda do sábado é tão importante, como harmonizar isto com alguns

textos Bíblicos que falam que Jesus curou no sábado e permitiu que os discípulos

colhessem espigas neste dia?

 

Vejamos:

 

Porque Jesus curou nos sábados e permitiu que os discípulos colhessem espigas?

 

Os fariseus tinham fanatizado a guarda do Sábado. Nas leis deles, era proibido

caminhar mais que um quilômetro aos sábados; se uma pessoa deixasse cair um lenço,

não poderia juntá-lo por que era Sábado; tinha-se aproximadamente trezentas regras

em relação ao dia de guarda.

 

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Ao permitir que os discípulos colhessem espigas no Sábado, ao curar as pessoas neste

dia, Cristo não estava abolindo o mandamento. Ele estava ensinando-os a guardarem o

sábado do modo correto. O próprio Jesus disse que “é lícito fazer o bem aos sábados”

(Mateus 12:12). O Sábado é um dia próprio para fazermos obras de caridade, auxiliar

os enfermos, visitar orfanatos e asilos, dar estudos Bíblicos.

 

Notemos que o Senhor disse “é lícito fazer o bem”, e não trabalhar, pois desviaria

nossa atenção de Deus. Deus nos deu seis dias da semana para fazermos o que

quisermos; Ele exige apenas um dos dias integrais da semana para dedicarmos em

comunhão contínua com Ele.

 

Jesus guardou a lei: “Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu

amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu

amor permaneço”. (João 15:10).

 

Durante a semana trabalhava na carpintaria, mas no sábado ia á igreja, “segundo seu

costume”: “Indo para Nazaré, onde fora criado, entrou, num sábado, na sinagoga,

segundo o seu costume, e levantou-se para ler”. (Lucas 4:16).

 

“Aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou”.

(1 João 2:6 ). Eu quero seguir o exemplo de Jesus e andar como ele andou.

 

Portanto, o simples ato de colher espigas no sábado não foi um pecado, pois eles não

estavam fazendo uma “colheita” (o que as escrituras não aprovam – ver Êxodo 34:21),

mas apenas colhendo para “comer”, assim como se faz ao comer uma “fruta”. Não é

pecado apanhar uma fruta para comer no Sábado. Jesus com esta lição queria ensinar

isto ao povo da época.

“Os sacerdotes...violam o sábado”. – O raciocínio do Senhor neste passo é muito claro:

se seus discípulos estavam profanando o sábado por colherem espigas para come-las

a seguir (o que era perfeitamente legal), então os atos dos sacerdotes ao cumprirem

Carlos Henrique da Conceição Seabra 28

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sua função religiosa no templo (e faziam sacrifícios em dobro nesse dia, cf. Números

28:9) seriam também transgressão.

 

Caso, por suas palavras, Cristo estivesse afirmando que os sacerdotes desrespeitavam

o mandamento, então realmente se poderá concluir que Deus deu ao povo uma lei

santa ordenando a santificação do sábado, para depois transmitir a Moisés outra lei

eclesiástica que resultaria em violação semanal do sábado da primeira...

 

É evidente, que o isso da palavra “violam” deve aqui ser compreendido no contexto

daquela controvérsia, e a referência de Cristo aos sacerdotes foi simplesmente como

ilustração da declaração que pouco depois faria: “Logo, é lícito fazer bem, aos

sábados”. (v.12).

 

Marcos 2:27.

 

“E acrescentou: O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por

causa do sábado” (Marcos 2:27).

 

Um verso que nos ajudará a entender esta declaração de Jesus é o seguinte:

 

“Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, e sim a mulher,

por causa do homem”. (1 Coríntios 11:9).

 

Se a afirmação de Jesus que “o sábado foi estabelecido por causa do homem e não o

homem por causa do sábado” abole o mandamento, temos de supor que a afirmação

de Paulo de que “o homem não foi criado por causa da mulher, e sim a mulher, por

causa do homem” quer dizer que Deus “aboliu a mulher e sua importância”, o que seria

absurdo.

 

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Um dos ensinos de Paulo neste verso é que a mulher foi criada para beneficiar o

homem (pois este estava só); o mesmo se dá com o sábado.

 

Ao dizer que “o Sábado foi estabelecido por causa do homem e não o homem por

causa do Sábado”, Jesus está afirmando que o dia de guarda foi santificado para

“beneficiar” o homem, e não o homem beneficiar o Sábado. O Sábado foi estabelecido

para que o homem pudesse descansar de suas obras diárias e dedicar este tempo

somente ao criador, para refletir em seu amor e no seu poder criativo. Os judeus

achavam o contrário.

 

Raciocinemos: Se o sábado foi feito para o benefício do homem, quando que o ser

humano se beneficiará dele? Guardando-o! Não podemos nos beneficiar com suas

bênçãos sem observá-lo.

 

Vejamos um estudo extraído do livro “Sutilezas do Erro” acera deste assunto:

 

“Vejamos o que o Mestre quis dizer com estas palavras. Há aí duas proposições: uma

do sábado servir ao homem; outra, do homem sujeitar-se ao sábado. Consideremos a

primeira. É de clareza meridiana. O sábado foi instituído e oferecido ao homem como

algo muito precioso, como um bem, um favor divino. Figueiredo traduz: “O sábado foi

feito em contemplação do homem”. O sentido evidente é que o sábado foi instituído

para o bem estar físico, moral e espiritual das criaturas humanas. O sábado é assim

uma instituição a favor do homem, em seu benefício, uma bênção grandiosa. Só uma

perversa distorção do texto poderia levar à conclusão de que o sábado deva ser

considerado contrário ao homem...

 

“A segunda proposição contida no texto diz: ‘e não o homem por causa do sábado’.

Simples demais para ser entendida. Deus não criou o homem porque Ele tivesse um

sábado necessitando ser guardado por alguém. Ao contrário, criara primeiro homem , e

depois o sábado para atender-lhe às necessidades de repouso e recreação espiritual.

Assim o sábado lhe seria uma bênção e não uma carga. O farisaísmo dos dias de

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Cristo obscurecera o verdadeiro caráter do sábado. Os rabinos o acumularam de

exigências esdrúxulas que o tornaram um fardo quase insuportável. A atitude de Cristo

para com o sábado foi a de escoima-lo desses acréscimos, devolvendo-o à prístina

pureza. A atitude de Cristo para com Seu santo dia foi de reverência e não de

desprezo.

 

“E de passagem cabe aqui uma observação: o sábado foi feito por causa do homem, e

isto não pode ser verdade em relação ao domingo, porque no primeiro dia da semana o

homem ainda não fora criado!

 

“...sendo o sábado um mandamento da lei de Deus, se Cristo o transgredisse de

qualquer maneira Se tornaria um pecador, e nessa condição não poderia ser nosso

Salvador!

 

“...Jesus declarou-Se Senhor do sábado! Solene e importantíssima declaração! Frise-se

bem que Ele é o Senhor do sábado e não do domingo, embora a cristandade... averbe

este dia este dia como o “dia do Senhor”. Cristo, porém, reafirmou Sua soberania sobre

o sábado. É o autor do sétimo dia, consagrado ao repouso e, nessa qualidade, sabe o

que é lícito ou não fazer nele. Os fariseus que censuraram os discípulos por apanharem

espigas, foram além dos reclamos divinos, “além do que está escrito”. Punham

restrições descabidas à guarda do sábado. E Jesus, para mostrar-lhes Sua autoridade,

apresenta-Se como Autor do sábado. Nada há de derrogatório na declaração do

Mestre. Ao contrário, reafirma o valor e a vigência do sábado, escoimado, no entanto,

das exigências talmúdicas

 

“Broadus, renomado comentarista Batista, tratando desse texto, assim conclui:

 

“Mas o sábado permanece ainda, pois que existia antes de Israel, e era desde a criação

um dia designado por Deus para ser santificado” (Gên. 2:3)...” (John A. Broadus,

Comentário de Mateus, Vol. 1, pág. 345).

 

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“Cristo jamais combateu o sábado, mas apenas a maneira de guarda-lo, a estreiteza

dos fariseus.

 

“Diz Strong, grande teólogo batista:

 

‘Nem nosso Senhor ou os apóstolos ab-rogaram o sábado do decálogo. A nova

dispensação abole as prescrições mosaicas quanto à forma de guardar o sábado mas

ao mesmo tempo declara sua observância de origem divina e como sendo uma

necessidade da natureza humana... Cristo não cravou na cruz qualquer mandamento

do decálogo...Jesus não Se defende da acusação de quebrar o sábado, declarando que

este fora abolido, mas estabelece o verdadeiro caráter do sábado em atender uma

necessidade humana fundamental’ (A.H. Strong, Systhematic Theology, p. 409).

 

 

“Ryle, erudito comentarista evangélico, tratando do texto diz:

 

‘Não devemos deixar-nos arrastar pela opinião comum de que o sábado é mera

instituição judaica, que foi abolido ou anulado por Cristo. Não há uma só passagem das

Escrituras que isso prove. Todos os casos em que nosso Senhor Ser refere ao sábado,

fala contra as opiniões errôneas que os fariseus propagaram a respeito de sua

observância. Cristo depurou do quarto mandamento da superfluidade profana dos

judeus... O Salvador que despojou o sábado das tradições judaicas e que tantas vezes

esclareceu o seu sentido, não pode ser inimigo do 4o mandamento. Pelo contrário, Ele o

engrandeceu e o exaltou’ (J. C. Ryle, Comentário Expositivo do Evangelho Segundo

Lucas, pág. 79)

 

Mateus 12:8.

 

“Porque o Filho do Homem é senhor do sábado”. (Mateus 12:8).

 

Carlos Henrique da Conceição Seabra 32

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Bacharelado em Teologia - Fatecba

Neste verso Jesus diz que é o “Senhor do Sábado”, referindo-se ao fato de que ele é o

dono. Ele faz o que quiser, ou seja, ele diz como se deve guardá-lo ou não.

 

Como visto anteriormente, Jesus guardou o sábado e em sua vida testemunhou acerca

da maneira correta de faze-lo, como um memorial do Criador e da criação e sem o

fanatismo ensinado pelos fariseus.

Romanos 14.

 

“Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor está em pé ou

cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o suster. Um faz

diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião

bem definida em sua própria mente”. (Romanos 14:4-5).

 

“Um crê que de tudo pode comer, mas o débil come legumes”. (Romanos 14:2).

 

“Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha

opinião bem definida em sua própria mente. Quem distingue entre dia e dia para o

Senhor o faz; e quem come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem

não come para o Senhor não come e dá graças a Deus”. (Romanos 14:5-6).

 

“Débil na fé – Isto é, aquele que não tem senão uma limitada compreensão dos

princípios da justiça. Nele está o desejo de ser salvo e ansioso para cumprir o que quer

que dele seja exigido.

 

“Porém, na imaturidade da sua experiência cristã (ver Hebreus 5:11 a 6:2), e

provavelmente também como resultado da primitiva educação e crença tenta obter a

sua salvação mais seguramente pela observância de certas regras e regulamentos que

Carlos Henrique da Conceição Seabra 33

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Bacharelado em Teologia - Fatecba

na realidade não são obrigatórios. Para ele, estes regulamentos revestem-se de grande

importância. Ele os considera como absolutamente obrigatórios para a sua salvação, e

torna-se agoniado e confundido quando vê outros cristãos ao seu redor, especialmente

os que parecem mais experientes, não participarem de seus escrúpulos.

 

“A declaração de Paulo em Romanos 14 tem sido interpretada de várias formas, e tem

sido usada por alguns: (1) para depreciar uma dieta vegetariana, (2) abolir a distinção

entre alimentos puros e impuros, e (3) remover toda distinção entre dias, abolindo

dessa forma, o sábado do 7o dia. Que Paulo não está fazendo nenhuma destas coisas

torna-se evidente quanto este capítulo é estudado á luz de certo problemas religiosos

referidos que perturbaram alguns cristãos do primeiro século.

 

“Paulo menciona vários problemas que são uma ocasião de mal entendido entre os

irmãos: (1) problemas relativos á dieta (verso 2), e (2) problemas concernentes á

observância de certos dias (versos 5, 6). Em I Coríntios 8 o problema do irmão forte

versus irmão débil, considerando a dieta, também é tratado. A carta aos Coríntios foi

escrita menos de um ano antes da enviada aos Romanos. Parece razoável concluir que

em I Coríntios 8 e Romanos 14 Paulo está tratando em essência do mesmo problema.

Em Coríntios o problema é identificado quanto a ser próprio o comer de alimentos

sacrificados aos ídolos. Segundo a antiga prática pagã, os sacerdotes praticavam um

intenso mercado de animais oferecidos aos ídolos. Paulo dissera aos crentes de

Corinto conversos do judaísmo e do paganismo que desde que era um ídolo, nada

havia de errado em si, no comer alimentos dedicados a ele. Contundo, explica, por

causa da herança em instrução primitiva e diversidade no discernimento espiritual, nem

todos possuíam este “conhecimento” e não podiam com a consciência livre, comer de

tais alimentos... Daí, Paulo insta com aqueles sem escrúpulos quanto á consideração

desses alimentos, a não colocarem pedra de tropeço no caminho dos irmãos pelo

consumo destes alimentos (Romanos 14:3). Sua admoestação encontra-se dessa

forma em harmonia com a decisão do Concílio de Jerusalém, e sem dúvida lança luz,

sobre pelo menos uma razão por que o concílio tomou posição sobre este

assunto...Provavelmente por temor de ofender neste assunto, alguns cristãos abstiam-

Carlos Henrique da Conceição Seabra 34

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Bacharelado em Teologia - Fatecba

se inteiramente de alimentos cárneos, o que significa que o seu alimento era restrito a

“ervas”, isto é, vegetais (Romanos 14:2).

 

“Paulo não está falando de alimentos higienicamente prejudiciais. Não está sugerindo

que os cristãos de fé vigorosa possam comer qualquer coisa, desconsiderando os seus

efeitos sobre o bem estar físico. Paulo já tem deixado claro no capítulo 12:1 que o

verdadeiro crente compreenderá que o seu corpo dever ser preservado santo e

aceitável a Deus como sacrifico vivo. O Homem de fé robusta considerará como ato de

adoração espiritual, manter boa saúde (Romanos 12:1 e I Coríntios 10:31).

 

“Um fato adicional lança luz sobre os problemas que Paulo está discutindo. Apenas

muito palidamente, a princípio, os judeus cristãos compreenderam que a lei cerimonial

encontra os seus cumprimentos em Cristo... e que esta daí por diante não mais era

válida. Em verdade, os primeiros Cris~tabus não forma chamados abruptamente a

cessar o serviço das festas anuais judaicas ou repudiar os ritos cerimoniais de uma vez

por todas. Sob a lei cerimonial os judeus deviam guardar 7 sábados anuais. Paulo

mesmo observou várias festas após a sua conversão (Atos 18:21, etc). Embora

pensasse que a circuncisão nada era (I Coríntios 7:19), tinha consigo o circuncidado

Timóteo (Atos 16:3) e concordara em cumprir um voto segundo as estipulações do

código antigo (Atos 21:20-27). Sob tais circunstâncias parecia melhor permitir que os

vários elementos da lei cerimonial da lei judaica gradualmente viessem a desaparecer a

medida que a mente e a consciência se iam iluminando. Dessa maneira, era inevitável

que entre os judeus cristãos surgisse a questão quanto á conveniência de observar

certos “dias” – dias santos judaicos, em conexão com as suas festas anuais (Ver

Levíticos 23:1-44).

 

“Em vista destes fatos, torna-se evidente que Paulo, em Romanos 14, não está: (1)

depreciando a dieta de “ervas” (vegetais), ou (2) indo de encontro á antiga distinção

bíblica entre – alimentos puros e impuros, ou (3) abolindo o sétimo dia, o sábado da lei

moral... O que pretenda afirmar que assim foi, deve estar vendo no argumento de Paulo

algo o que aí não existe.

Carlos Henrique da Conceição Seabra 35

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Bacharelado em Teologia - Fatecba

 

“Que Paulo não ensina ou mesmo de a entender a abolição do sábado do sétimo dia

tem sido reconhecido por comentaristas tais como: Janieson, Fausset e Brown em seus

comentários sobre o cap. 14:5 e 6: "Dessa passagem sobre a observância de dias,

Alford infelizmente infere que tal linguagem não podia ter sido usada se a sábado-lei

não estivesse forçando o evangelho de qualquer maneira. Certamente não podia, se o

sábado fosse meramente um dos dias de festas judaicas; porém, tal não acontecerá

pois não foi outorgado meramente porque fora observado sob, a economia judaica. E

certamente se o sábado era mais antigo que o judaísmo; se mesmo sobre o judaísmo

foi guardado como relíquia entre a terna santidade do decálogo, proferido, com

nenhumas outras porções do judaísmo o foram, em meio, aos terrores do Sinai; e se o

próprio Legislador disse quando na terra “O Filho do homem ´se Senhor até do sábado”

(Marcos 2:28). Será difícil mostrar que o apóstolo significasse que o mesmo devia ser

colocado pelos seus leitores entre aqueles desaparecidos dias de festa judaicas, e que

só um “débil” poderia imaginar estarem ainda em vigor, uma debilidade que os que

tinham mais luz deviam, apenas por amor, suportar.

 

“Em Romanos 14: a 15:14 Paulo insta com os cristãos mais fortes para dar simpática

consideração aos problemas de seus irmãos mais fracos. Como nos capítulos 12 e 13,

ele mostra que a fonte da unidade e paz na igreja é o amor cristão genuíno. Este

mesmo amor e respeito mútuo assegurará harmonia contínua entre o corpo de crentes,

a despeito das opiniões e escrúpulos diferentes em assuntos de religião”

 

“Paulo não diz que todos os dias são iguais. A palavra iguais está em itálico (Versão

Almeida Revista e Corrigida), porque não se encontra no original grego e foi acrescentada

por Almeida.

 

O dia aí mencionado não é o dia de repouso semanal, porque o mesmo apóstolo, em sua

epístola aos Cl 2:16, tratando do mesmo assunto (pois o mesmo problema surgira

naquela igreja) nos esclarece que são “dias de festa”. E em Gl. 3:10, abordando o mesmo

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problema, Paulo menciona “dias, e meses, e tempos e anos” (grifo nosso). Quer dizer que

eram dias de festa, os feriados anuais e mensais, como:

 

Páscoa – Pentecostes – Dia da Expiação – Luas Novas – Tabernáculos – Jubileu

regulados pela lei cerimonial. Por quê? Porque embora abolidos na cruz, esses dias, os

judeus neófitos na fé, recém-convertidos (judaizantes) não se desvencilharam deles de

pronto; queriam observa-los e ainda julgavam os cristãos vindos do gentilismo por não os

observarem.

Em parte algumas dos ensinos de Paulo, o sétimo dia do decálogo é assunto de

controvérsia.”

 

“Não destruas a obra de Deus por causa da comida. Todas as coisas, na

verdade, são limpas, mas é mau para o homem o comer com escândalo. É bom

não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa com que teu

irmão venha a tropeçar ou se ofender ou se enfraquecer”. (Romanos 14:20-21).

 

Após as considerações anteriores, podemos tr mais luz para entender este verso. Paulo

está dizendo para os Corintos não destruírem a obra de Deus por causa do comer ou

não carnes sacrificadas aos ídolos. O ídolo nada é.

 

Ao dizer que “todas as coisas são limpas”, Paulo está se referindo ás “carnes

sacrificadas a ídolos”; não está usando o termo genericamente, pois se o fizesse,

teríamos de supor que até cobras, lagartos, cachorro, são limpos para alimentação.

 

Paulo falou que “é bom não comer carne e nem beber vinho” porque estes eram

evidentemente os objetos principais dos escrúpulos religiosos do irmão mais fraco,

provavelmente porque eram costumeiramente usados nos sacrifícios aos ídolos pagãos

 

 

Carlos Henrique da Conceição Seabra 37

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Bacharelado em Teologia - Fatecba

Rm 14 trata em essência do mesmo assunto de I Co 8: Carnes sacrificadas a ídolos.

Podemos facilmente perceber isto através da comparação dos dois livros:

 

“Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria

no Espírito Santo”. (Rm 14:17).

 

“Não é a comida que nos recomendará a Deus, pois nada perderemos, se não

comermos, e nada ganharemos, se comermos”. (1 Co 8:8).

 

Podemos ver que em Rm 14 está sendo tratado sobre o mesmo assunto, que diz

respeito ás carnes sacrificadas a ídolos. O versos 17 não está dando autorização para

usarmos alimentos imundos, pois neste é este o objetivo do livro.

 

Outro fator que leva-nos a concluir que o assunto é o mesmo nos dois livros, é o fato da

epístola aos Coríntios ter sido escrita menos de um ano antes da de Romanos. Chega-

se á inevitável conclusão de que falam do mesmo assunto.

 

Lembremos de que o próprio Paulo disse: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais

outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”. (I Co 10:31).

 

Os versos 4 e 5 referem-se aos dias de festividades judaicos, que eram chamados de

‘sábados cerimoniais’, sábados estes que eram diferentes do sábado do Senhor,

abençoado e santificado na criação do mundo. (Leia Lv 23:38; Lv 23:3 e 24-25).

Carlos Henrique da Conceição Seabra 38

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Bacharelado em Teologia - Fatecba

Colossenses 2:16 e 17 e Gálatas 4:10.

 

“Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua

nova, ou sábados”. (Colossenses 2:16).

 

“Guardais dias, e meses, e tempos, e anos...”. (Gálatas 4:10)

 

Muitos sinceros cristãos têm lido este texto e ‘entendido’ que esta é uma forte evidência

a favor da abolição do 4o mandamento – o descanso no sétimo dia. Ao analisarmos seu

contexto e entendermos ‘a que tipo’ de sábado se refere, vermos que tal conclusão

(abolição do sábado) não é apoiada pelas Escrituras.

 

 

Podemos ver, portanto, palavra “Sábado” está no plural, indicando que se refere aos

sábados cerimoniais.

 

O Sábado mencionado nesta passagem não se refere ao descanso do Sétimo Dia, mas

aos sábados “cerimoniais”. A palavra “Sábado” está no plural, indicando que se refere

aos sábados cerimoniais. Estes sábados eram guardados uma vez ao ano, quando o

sacerdote fazia expiação pelos pecados do povo (ver Levíticos 16:29 a 31). Em

Levíticos 23:38 Deus orienta ao povo para guardarem as festas fixas do Senhor “além

dos sábados do Senhor”. Isto mostra que além dos sábados do Senhor tinham outras

cerimônias, e entre elas este Sábado anual.

 

Existem muitas provas de que na Bíblia são mencionados dois tipos de Sábados; mas

creio que esta passagem da Bíblia será suficiente: Levíticos 23: 3 e 24,25.

 

“Seis dias trabalhareis, mas o sétimo será o sábado do descanso solene, santa

convocação; nenhuma obra fareis; é sábado do SENHOR em todas as vossas

moradas”. (verso 3).

Carlos Henrique da Conceição Seabra 39

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Bacharelado em Teologia - Fatecba

 

“Fala aos filhos de Israel, dizendo: No mês sétimo, ao primeiro do mês, tereis

descanso (esta é a tradução da Palavra “Sábado” – quer dizer “descanso”)

solene, memorial, com sonidos de trombetas, santa convocação. Nenhuma obra

servil fareis, mas trareis oferta queimada ao SENHOR”. (verso 24 e 25).

 

Analise:

 

No verso 3 – Deus está falando do sábado “Semanal”, pois ele disse para trabalhar seis

dias e descansar no sétimo.

 

Nos versos 24 e 25 – Deus fala para eles guardarem um sábado “anual”, que era dia

primeiro de todo o sétimo mês.

 

Este sábado anual sim foi abolido; não precisamos nos reunir uma vez por ano para

celebrar esta festa que antecedia ao dia da expiação, pois Jesus já fez a expiação

(cumpriu a pena) pelos nossos pecados na cruz.

 

O Sábado do 7o Dia, semanal, foi feito pelo criador para comemorarmos o ato Divino da

Criação; não faz parte da lei cerimonial.

 

Em Atos 17:2 vemos que era “costume” de Paulo ir todos aos sábados á igreja, ou seja,

ele era um cristão que seguia o exemplo de Jesus. No cap.16 verso 13 vemos que os

cristãos, juntamente com Paulo “foram para perto de um rio no Sábado, pois conselho

um lugar de oração”.

 

Atos 18:3 e 4 nos mostram que Paulo trabalhava em Corinto construindo tendas

durante a semana, juntamente com Áquila e Priscila e todos os sábados ia à igreja. No

verso 11 diz que ele permaneceu um ano e seis meses. Isto equivale à 72 Sábados

guardados por Paulo só na cidade de Corinto!

 

Carlos Henrique da Conceição Seabra 40

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O Sábado semanal o qual Jesus guardou (Lc 4:16) é uma bênção; neste dia podemos

repousar de nossas atividades, adorar a Deus com maior intensidade e estar mais

tempo com a família. Este sábado semanal não foi abolido, pois é um presente de Deus

para nós.

 

A cada sábado na nova terra iremos adorar a Deus:

 

“E será que, de uma Festa da Lua Nova à outra e de um sábado a outro, virá toda a

carne a adorar perante mim, diz o SENHOR”. (Isaías 66:23).

 

Gálatas 4:10.

“Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio de vós tenha eu trabalhado em

vão para convosco”. (Gálatas 4:10-11).

 

O livro de Gálatas jamais poderá ser usado como a favor da abolição da lei. Paulo,

escrevendo o livro de gálatas, não está sendo contra a lei, mas sim contra um sistema

religioso que colocava a lei como ponto de salvação. O livro trata da justificação pela fé

em Jesus Cristo, em contraste com o conceito dos judaizantes de que a justificação

vem por meio do cumprimento das obras prescritas no sistema judaico.

 

Apesar do objetivo da epístola de gálatas não ser o de ocupar-se na discussão das leis

(morais e cerimoniais), pois trata do tema da justificação pela fé (Paulo está sendo

contra uma forma de religião que crê na lei como um meio de salvação), o livro comenta

algo acerca da circuncisão. Se você contar, verá que nos seis capítulos de gálatas a

palavra “circuncisão” aparece mais de dez vezes.

 

E. Huxtable vê uma similaridade entre os “dias, e meses, e tempos, e anos” de Gálatas

4:10 e “dia de festa, ou lua nova, ou sábados” de Colossenses 2:16. Segundo ele, “as

mesmas idéias são aparentemente apresentadas, mas em ordem inversa”

Carlos Henrique da Conceição Seabra 41

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Bacharelado em Teologia - Fatecba

 

...Paulo está aqui se referindo “aos sete sábados cerimoniais e às luas novas do

sistema cerimonial”, e as mesmas considerações feitas sobre Colossenses 2:16 e 17

também se aplicam a este texto.

 

Quais eram os 7 Sábados Cerimoniais].

 

...Existem dois tipos específicos de sábados no Antigo Testamento, os sábados anuais

e os sábados semanais. Paulo não deixa dúvidas sobre os quais está falando.

 

Os dias de descanso cerimoniais anuais, em conjunto com o festival de ciclo anual, não

estavam relacionados aos sábados do sétimo dia ou ao ciclo semanal. Cada um desses

outros sábados, ou dias de descanso, caíam numa data fixa do ano, e assim em dias

diferentes da semana a cada ano. Assim, eram propriamente chamados sábados

anuais, em contraste com os sábados semanais. Esses dias em que o trabalho era

proibido “além dos sábados do Senhor” (Levíticos 23:38) eram:

 

1. O Primeiro Dia dos Pães Asmos – 15o dia do 1o mês (Lev. 23:6);

2. O Sétimo Dia dos Pães Asmos – 21o dia do 1o mês (Lev. 23:8,11);

3. Dia de Pentecostes – 6o dia do 3o mês (Lev. 23:24;25);

4. Festa das Trombetas – 10o dia do 7o mês (Lev. 23:16,21);

5. Dia da Expiação – 10o dia do 7o mês (Lev. 23:29-31);

6. Primeiro Dia da Festa do Tabernáculos – 15o dia do 7o mês (Lev. 23:34;35);

7. Sétimo Dia da Festa dos Tabernáculos – 22o dia do 7o mês (Lev. 23:36).

 

Os sábados anuais eram parte do sistema cerimonial que representava a vida e a morte

de Cristo, e cessou quando Ele expirou na cruz. Eram “sombras de coisas futuras”.

 

Em contraste com o sábado semanal, que foi ordenado à toda humanidade ao fim da

semana da criação, os sábados anuais apontavam para a vinda do Messias. E a sua

observância findou com Sua morte na cruz...

Carlos Henrique da Conceição Seabra 42

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Bacharelado em Teologia - Fatecba

 

“Poderíamos encerrar o assunto por aqui, mas como sempre há doutrinadores

cavilosos que apelam para a filologia em torno da palavra “sábados” de Colossenses

2:16, mister se faz uma ligeira consideração neste particular.

 

De início, a palavra grega empregada pode referir-se aos sábados semanais ou aos

sábados anuais. Temos que apelar para o contexto a fim de sabermos a quais se

refere. Em grego, “Sábados” do texto em lide é sabbata, uma forma plural de sabbaton.

Embora sabbata em muitos casos não represente um exato plural, pelo fato de derivar

da forma singular aramaica, por outro lado é de freqüente sentido singular. A

exploração que pretensos helenistas fazem em torno deste fato em nada altera a

posição que sustentamos, porque sabbata, pode representar um plural exato, como por

exemplo, em Atos 17:2 e sem dúvida em nosso texto (Colossenses 2:16) ainda

reforçado com o peso do contexto indicando tratar-se de sábados anuais.

 

Há oponentes que exploram também o fato de a palavra “Sábados”, na passagem que

estamos considerando, estar no grego sem o artigo, mas esquecem-se de que o

sábado semanal é também freqüentemente citado sem o artigo em grego, como, por

exemplo, em S. João 5:9; 9:14, etc.”.

Veja o quanto é importante o estudo do contexto do verso e também seu correto

significado na língua original.

 

Carlos Henrique da Conceição Seabra 43

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2 Coríntios 3:7-11.

 

“E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a

ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória

do seu rosto, ainda que desvanecente, como não será de maior glória o ministério

do Espírito! Porque, se o ministério da condenação foi glória, em muito maior

proporção será glorioso o ministério da justiça. Porquanto, na verdade, o que,

outrora, foi glorificado, neste respeito, já não resplandece, diante da atual

sobreexcelente glória. Porque, se o que se desvanecia teve sua glória, muito mais

glória tem o que é permanente”. (2 Coríntios 3:7-11).

 

“Permita-me repetir as palavras de Paulo mais uma vez: Lei Santa, Lei justa, Lei boa. É

inegável que Paulo faz alusão a leis diferentes, porque jamais poderia afirmar que uma

lei boa não presta e seja boa ao mesmo tempo. Que foi anulada, e é santa, justa e boa.

Que é maldição e que tenha uma promessa de longa vida ao se observa-la”1[25].

 

Se a lei é boa, é certo concluirmos que ela contribui para que homem torne-se

espiritual.

 

Uma lei Santa e boa não pode ser considerada o “ministério da morte” (2 Co 3:7) como

quer o opositor. Na Bíblia jamais poderia haver tal contradição. Quando achamos

vemos uma ‘contradição’ nas Escrituras o erro está em nós e não no livro sagrado.

 

Voltemos à questão de ser a lei ou não o ‘ministério da morte’ mencionado em 2 Co 3:7.

O oponente afirma que “o ministério da morte era os Dez Mandamentos”. Estudando

porém o contexto do verso e outros textos paralelos do apóstolo Paulo onde lei é

exaltada por ele, vê-se a infelicidade desta declaração. O apóstolo disse que a lei é

“santa, e o mandamento santo, justo e bom” (Rm 7:12) e “o que é bom de modo

1[25] Lourenço Gonzáles, Assim Diz o Senhor, (7a Edição), p. 77.

Carlos Henrique da Conceição Seabra 44

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nenhum se tornou em morte” (v. 13). Se o mandamento do Senhor “não se tornou em

morte”, chega-se à fatal conclusão de que o “ministério da morte” não é a lei moral.

 

Antes de estudarmos a expressão “ministério da morte”, faremos um breve estudo

acerca do que é o “Novo Concerto”.

 

“Afirmamos que os Dez Mandamentos eram a base do velho concerto, como

igualmente o são do novo. Os oponentes, tomando o conteúdo pelo continente,

concluem que se o velho concerto caducou, também caducou a lei de Deus. Mas não é

assim.

 

“De fato, em Deuteronômio 4:13 se afirma que os Dez Mandamentos (dez palavras, no

original) eram o concerto, porém essa maneira de expressar é um modismo hebraico.

Do mesmo modo Moisés dissera aos israelitas: “... eu tomei o vosso pecado, o bezerro

que tínheis feito, e o queimei”. Deut. 9:21. Em linguagem exata, o pecado era o volver

deles para um falso deus – um ato da vontade rebelde – mas o bezerro era a base

daquele pecado, era apenas aquilo em relação ao qual fora o pecado cometido. Assim

também, o concerto fora feito pela vontade dos israelitas em resposta a Deus (Êxo.

19:5-8); os dez mandamentos eram a base – o ponto de referência sobre o qual fora o

concerto feito. Esta é a legítima relação do decálogo com o concerto. Nada mais claro.

 

“Por aquele concerto, Israel prometera guardar o decálogo. O concerto dependia do

decálogo, mas o decálogo não dependia do concerto. Sem dúvida, o concerto – o trato

que Israel fizera – podia ser quebrado um milhão de vezes, porém isto não afetaria a lei

de Deus...vamos ilustrar esta verdade. Um estrangeiro pode prometer guardar a lei do

nosso país, sob a condição de que seja aceito como um cidadão brasileiro. Há então

como que um concerto, uma promessa formal da parte dele, e aceita pelas nossas

autoridades máximas. A lei do país (Constituição, códigos etc.,) seria no caso a lei que

serviria de base a esse convênio ou promessa. Pois bem, esse indivíduo poderia

Carlos Henrique da Conceição Seabra 45

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quebrar sua promessa, ou violar seu convênio; isso, porém, não aboliria e de modo

algum afetaria a lei do país. Ela permaneceria em vigor quer ele a observasse ou não.

O seu convênio dependia da lei, mas a lei não dependia do convênio.

 

“A promessa do novo concerto não prediz uma época em que a graça suplantaria a lei

de Deus, mas ao contrário, refere-se claramente a um tempo em que a lei de Deus

seria escrita no coração dos homens, e isto, sem dúvida, pela graça de Deus atuando

nos seus corações. Jer. 31:33; Heb. 8:10; 10:16. Assim é evidente que, longe de ser a

lei de Deus abolida, ela é guardada no interior daquele que recebeu um novo coração.

Ela é, portanto, reafirmada, e não ab-rogada.

 

“É oportuno lembrar que o insucesso do velho concerto não estava na lei de Deus, mas

no povo. Em Hebreus 8:9 se diz que Deus os repreendeu, porque eram repreensíveis.

A tradução inglesa diz: “Porque sendo eles (o povo) achado em falta...”.

 

“O velho concerto era um pacto de obras, feito sobre promessas humanas, e seu

fracasso demonstrou a falibilidade do homem em pretender, por esforço próprio,

guardar os mandamentos de Deus, ou pôr-se em harmonia com a lei do Céu. Quão

significativas as palavras de Paulo, ao dizer que “a inclinação da carne” – a mente

carnal que caracterizou o Israel rebelde – “não está sujeita à lei de Deus, nem em

verdade o pode ser”. Rom. 8:7. Isto significa que, quando, pelo evangelho, somos

transformados do carnal para o espiritual, então a lei de Deus pode ser escrita em

nossos corações, e o novo concerto – ratificado com o precioso sangue de Cristo – é

efetivado em nossa vida. Quem não tem um novo coração e não se põe em harmonia

com a lei do Céu, nunca nasceu de novo, pois quem vive transgredindo a lei de Deus

continua no pecado, porque “pecado é a transgressão da lei”, segundo a melhor da

tradução de I João 3:4 e o mais autorizado conceito teológico.

 

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“As leis civis e cerimoniais eram derivação de lei de Deus, para os judeus. Primeiro,

porque eram, na época, depositários dos oráculos divinos, e assim entendemos que,

enquanto não surgisse o Messias – o cordeiro de Deus que Se imolou pelos pecadores

– as leis cerimoniais com suas prefigurações consistentes em símbolos, holocaustos,

ofertas, sacerdócio, ritos e festividades que apontavam para Ele, tinham que vigorar.

Em segundo lugar, porque Israel, como nacionalidade teocrática, tinha o seu código

civil de certo modo relacionado ao decálogo.

 

“Se o velho concerto ligava o Israel literal a Deus, é obvio que, embora a base daquele

concerto fosse o decálogo, logicamente abrangia as leis acessórias. É elementar que

os estatutos civis e cerimoniais eram, para Israel, acessórios ao decálogo; eles deviam

sua existência e significado ao decálogo, mas este não era dependente deles.

 

“Sabido é que o novo concerto a rigor, remonta à queda do homem – com a promessa

de redenção que seria efetuada pela Semente da mulher; e que o concerto fora

reafirmado a Abraão, Isaque, etc., e teve sua vigência suspensa quando os israelitas

apresentaram o concerto do Sinai, denominado velho concerto. Porém o novo concerto

foi restabelecido depois da falácia do velho, sendo eficazmente ratificado com o sangue

de Cristo, e extensivo aos gentios, aos filhos de Deus, ao Israel. Gál.3:29. A base desse

pacto da graça continua sendo a lei de Deus escrita nos corações. Como é evidente,

permaneceu a base, o decálogo. As leis acessórias são peremptas (extintas), pois o

código civil judaico deixou de vigorar desde o ano 70 A.D., e o cerimonialismo com suas

festividades caducou, quando o “véu do santuário rasgou-se de alto a baixo”.

 

“É fatal a conclusão de que não há o mais leve indício, na doutrina dos concertos, de

que a lei de Deus tenha sido abolida.

 

“Que o novo concerto abrange a todos os homens, e que todos os crentes se unem sob

o mesmo está claramente demonstrado em Efésios 2:11-13. Diz o apóstolo aos crentes

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de Éfeso (não eram só judeus) que eles em outros tempos estavam sem Cristo,

“estranhos aos concertos da promessa”, mas “agora em Cristo Jesus...pelo sangue de

Cristo chegastes perto”. É disparatada a conclusão de que o novo concerto se aplica

somente ao Israel literal, principalmente pelo fato de que este povo, como povo de

Deus, fora formalmente rejeitado nos tempos apostólicos, e jamais tornará a ser povo

de Deus.

 

“Não se deve passar por alto o fato de o chamado novo concerto ter sido feito antes do

velho. Era, como foi dito, a promessa da graça redentora, que provia o perdão dos

pecados. Fora feito a Adão, renovado a Noé, Abraão e a Israel. Ora, se era um

concerto que, no entender do autor do livro desobriga a guarda da lei de Deus, então os

patriarcas também não precisavam guardar os dez mandamentos, por aí se vê como é

palpável o absurdo da tese antinomista construída sobre os concertos.

 

“A lei ‘dada 430 anos depois’, significa que ela foi dada em forma escrita ou

solenemente promulgada nessa época, como lembrete a um povo que, pelo convívio

com o paganismo, estava perdendo a noção da vontade divina, porém a lei moral

existia desde o princípio. Ela revela o pecado, portanto, desde que existe o pecado, ela

existe também.

 

“A lei de Deus consubstancia-se nos dez mandamentos; resume-se no decálogo, e sua

observância subordina-se à aceitação dos homens. Por isso é chamada a “lei de

liberdade” em S. Tia. 2:12. Também Cristo dissera ao mancebo: “se quereres... guarda

dos mandamentos”. Certamente as ordenanças ritualísticas da lei cerimonial e os

preceitos civis não seriam escritos nos corações, porque tais leis não dependiam do

arbítrio dos homens, mas eram-lhes impostas. Não eram de caráter moral. E note-se

que a lei escrita no coração é a mesma lei que Jeremias conhecia seiscentos anos

antes de Cristo. E isto vem em abono da permanecibilidade da santa lei de Deus. Como

admitir-se a sua ob-rogação?

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“Note-se cuidadosamente o que Deus disse através de Jer. 31:33: ‘Porei a Minha lei no

seu interior, e a escreverei no seu coração’. Donde se conclui que o novo concerto é

uma providência para pôr o homem novamente em harmonia com a vontade divina, ou

seja, pô-lo em situação em que possa guardar a lei de Deus. Não há dúvida que ‘as

melhores promessas’ conferem perdão aos pecados, dão graça e poder para obedecer

à lei de Deus, coisas que o velho concerto não tinha.

 

“Está é a verdadeira doutrina bíblica dos concertos, na qual a lei de Deus é exaltada.

Porém a tese de que o novo concerto nos desobriga de viver em harmonia com a

vontade divina revelada no decálogo, não passa de mais um subterfúgio dos inimigos

da lei de Deus”

 

Entendendo a expressão ‘ministério da morte’ em 2 Coríntios 3:7.

 

“E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a

ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória

do seu rosto, ainda que desvanecente”. (2 Coríntios 3:7).

 

Lendo atentamente todo o capítulo de 2 Co 3, pode-se perceber que Paulo fala de

“ministério” e não de “lei”. O termo ‘lei’ não é empregado, o que será fundamental para

nossa análise do texto, pois se o mesmo não mencionando a lei de Deus, então não

podemos dizer, que a mesma tenha sido abolida.

“O apóstolo estabelece vários contrastes entre os concertos, que, em resumo, são os

seguintes:

 

VELHO CONCERTO NOVO CONCERTO

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1. “ministério da morte” 1. “ministério do espírito”

2. “ministério da condenação” 2. “ministério da justiça”

3. “letra que mata” 3. “espírito que vivifica”

4. “foi abolido” 4. “permanece”

5. “em glória” 5. “em excelente glória”

6. Está fora do homem (II Co 3:6) 6. Está dentro do homem. Concerto do

espírito (II Co3:6)

 

 

“Vamos analisar estes contrastes, para melhor esclarecimento.

 

“1 e 2. Que vinha a ser este “ministério da morte” ou “ministério da condenação?”

Certissimamente não significa ‘lei’, porque ministério ou ministração jamais foi sinônimo

de lei. Uma coisa é a ministração de uma lei, outra coisa é a lei em si mesma. A

ministração, ou ministério, nada mais é do que os meios pelos quais a lei é aplicada,

ensinada e vivida e só muita má vontade poderia confundi-la com a própria lei.

Portanto, é fora de dúvida que o “ministério da morte” ou “ministério da condenação”

refere-se inequivocamente ao antigo ministério ou ministração da lei que fora “gravadas

com letras em pedra” – ou seja o concerto com base no decálogo, concerto este que,

pela incapacidade dos israelitas, precisou ser abolido. Ao novo concerto, em contraste,

Paulo chama de “ministério do espírito” ou “ministério da justiça”. Salta à evidência que,

em linguagem vívida e comparativa, o apóstolo procura demonstrar que Cristo e o Seu

ministério são a glória refulgente, ao lado da qual a glória do ministério dos tempos

anteriores empalidecia e desaparecia. O livro de Hebreus está cheio desses contrastes,

livro que fora escrito para os crentes judeus, os quais até aceitarem Cristo criam

naturalmente que a glória do Sinai – a ministração (ministério) da lei divina pelos

sacerdotes, levitas e governadores – era a última palavra no plano celestial. No entanto,

viam depois que a glória de Cristo a superava em muito.

 

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“É evidente também que a metáfora comparativa “tábuas de pedra” e “tábuas de carne

do coração” é indicativo do contraste entre os dois concertos. Compare-se

cuidadosamente com Jer. 31: 31-34 e Ezeq. 11:19 e 20. Mas não se pode encontrar aí

a mais leve alusão à ab-rogação da lei de Deus. Convém lembrar também que há

expressões na Bíblia que devem ser entendidas pelo que de fato significam e não tanto

pela forma das palavras. Por simples figura literária, o ministério da lei no velho

concerto é denominado de “morte” ou “condenação”, isto porque a transgressão da lei

(pecado) tinha o seu salário de morte ou condenação. Também nos dias de Eliseu,

certa vez, os filhos dos profetas ajuntaram-se em torno da “panela grande” em que se

cozeu colocíntide. Evidentemente eram ervas venenosas porque os que as comiam

clamaram: “Homem de Deus, há morte na panela”. II Reis 4:38-40. Em linguagem

exata, queriam dizer que havia algo no interior da panela que iria causar a morte, mas,

trocando a causa pelo efeito, gritaram, expressando-se daquela forma. Mas fácil é

encontrar-se o sentido. Basta ser sincero,e querer descobri-lo. Assim a relação de

Paulo com as “tábuas de pedra”.

 

3. Consideremos a “letra que mata”, em contraste com o “espírito que vivifica”. Um

ministério de lei, baseado em sua letra, resulta somente em morte para os seus

transgressores; mas um ministério de lei, baseado na justiça de Cristo através da ação

do Espírito no coração do pecador, resulta em vida. O primeiro ministério foi letra morta,

por inadimplemento por parte do povo; o último, espírito que vivifica, por ser Cristo que

habilita o homem a obedecer. Sempre em foco os dois concertos. Nada sugere a

abolição do decálogo.

 

4. Quanto ao que “foi abolido”, o versículo 14 diz, no original, que foi o velho concerto

(diatheke) e não a lei de Deus. O novo permanece. Se a Bíblia diz que permanece, é

porque permanece mesmo, queiram ou não os inimigos da verdade. Não se desmente

a Palavra de Deus com malabarismos exegéticos. Nada é aqui afirmado com relação

ao decálogo.

 

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5. Finalmente, com relação à “glória” mencionada por Paulo, diz respeito à glória

proporcional aos dois ninistérios. A justiça divina refulgiu de modo terrível no monte

Sinai, quando foi solenemente proclamada a lei. Deus era um fogo consumidor. Porém,

quão incomparavelmente maior, infinitamente maior, a glória de Deus jorrando sobre a

terra seus raios vivificantes, quando Cristo desceu para “salvar o povo dos seus

pecados”. S. Mateus 1:21. A última “glória” empalideceu a primeira. Aquela primeira –

que produziu reflexos no rosto de Moisés – foi abolida, superada que foi pelo resplendor

inigualável da segunda. Claramente diz a Bíblia que o véu foi posto no rosto de Moisés,

e não nas tábuas da lei. Era a sua face que brilhava, não as tábuas; e foi o brilho do

seu rosto que feneceu, não o decálogo.

 

“Comentando este capítulo, escreveram os eruditos e fundamentalistas Jamieson,

Fausset, na Brown: ‘A lei moral do dez mandamentos, sendo escritas pelo dedo de

Deus, é tão obrigatória agora como sempre o foi; mas ainda sob o evangelho com

espírito de amor, do que sob a letra de uma obediência servil; agora com espiritualidade

muito mais intensa e mais profunda (S. Mateus 5:17-48;Rom. 13:9)’.

 

“Portanto, II Coríntios 3 reafirma a vigência da lei!”

 

Veja que o Novo Concerto não abole o decálogo. O fato de estarmos na Nova Aliança

não termina com o mandamento de Deus. Veja:

 

“Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias,

diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração

lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo”. (Jeremias

31:33).

 

“Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias,

diz o Senhor: na sua mente imprimirei as minhas leis, também sobre o seu

coração as inscreverei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo”.

(Hebreus 8:10).

Carlos Henrique da Conceição Seabra 52

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Percebeu? No Novo Concerto não guardamos a lei “na letra”, mas no espírito, ou seja,

de coração, interiormente. Na Nova Aliança a lei será escrita por Deus em nossa mente

e coração para obedecermos automaticamente, através da comunhão com o Criador.

 

Onde nestes textos vê –se a abolição da lei só porque estamos na Nova Aliança? Ora,

se no Novo Concerto a lei será escrita no ‘coração e na mente’, como pode ser

anulada? O Novo Concerto reafirma a lei de Deus; põe a lei de Deus em uma nova

perspectiva, que não é a de salvar mas sim direcionar a vida do crente para que se

afaste do pecado e torne para Deus. Na Nova Aliança a lei brota do coração porque foi

o Espírito Santo quem a colocou ali; não é como na Velha Aliança cuja obediência era

pela “letra da lei” (e não interiormente), apenas exteriormente.

 

“Um estudo cuidadoso de ambos os concertos revela que a diferença entre eles não

estava na lei, mas sim em como a humanidade se relacionava com a lei... A lei foi

escrita em tábuas de pedra durante o antigo concerto. Sob os termos do novo concerto,

está escrita no coração. Em Hebreus 8:10, Paulo usa as palavras de Jeremias para o

novo concerto, explicando que agora a lei está escrita, não em pedras, mas “porei a

minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração”. Ele não aboliu a lei, nem a

modificou. Ele a escreveu nas mentes daqueles que O seguem”

 

Carlos Henrique da Conceição Seabra 53

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Conclução

Algumas das maiores heresias do mundo começaram a existir porque homens

ignoraram leis básicas de interpretação Bíblica. Aliás, dá para questionar se em algum

momento haveria uma única heresia se homens tivessem sempre interpretado as

Escrituras de modo correto. A heresia só entra porque alguém deixou de “manejar bem

a Palavra da Verdade”. É claro, muitas heresias foram introduzidas por homens não

salvos que não tinham entendimento espiritual, mas muito erro também foi introduzido

no mundo religioso por crentes ignorantes e sem fundamento que deixaram de

“manejar bem a Palavra da Verdade”. Daí, vemos a grande importância de métodos

certos de interpretação da Bíblia.

Carlos Henrique da Conceição Seabra 54

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Bibliografia

Buckland, Ver. A. R. Dicionário Bíblico universal

Ed. Vida

Champlin, Russell Norman Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. São 6 vol

Ed. Hagnos

CR-ROM de Estudo_ Palavra Prudente

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