14. inclusão escolar (1)

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 Introdução à Psicopedagogia Autores Márcia Souto Maior Mourão Sá Bertha de B orje Reis do Val le Cristina Maria Carvalho Delou Eloiza da Silva Gomes de Oliveira Fernando Gouvêa Henriete C. Sousa e Mello Ida Beatriz Mazzillo Mário Lúcio de Lima Nogueira Suely Pereira da Silva Rosa 2.ª edição 2008

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inclusão escolar

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  • Introduo Psicopedagogia

    AutoresMrcia Souto Maior Mouro S

    Bertha de Borje Reis do ValleCristina Maria Carvalho Delou

    Eloiza da Silva Gomes de OliveiraFernando Gouva

    Henriete C. Sousa e MelloIda Beatriz Mazzillo

    Mrio Lcio de Lima NogueiraSuely Pereira da Silva Rosa

    2. edio2008

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  • 2005 IESDE Brasil S.A. proibida a reproduo, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorizao por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

    Todos os direitos reservados.IESDE Brasil S.A.

    Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 Batel

    80730-200 Curitiba PR

    www.iesde.com.br

    S111 S, Mrcia Souto Maior Mouro; Valle, Bertha de Borje Reis do; Delou, Cristina Maria Carvalho et al. / Introduo

    Psicopedagogia. / Mrcia Souto Maior Mouro S; Bertha de

    Borje Reis do Valle; Cristina Maria Carvalho Delou. 2. ed

    Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2008.144 p.

    ISBN: 85-7638-250-4

    1. Psicologia Educacional. 2. Psicopedagogia. 3. Psicologia na

    aprendizagem. 4. Avaliao educacional. I. Ttulo. II. Vale, Ber-tha de Borje Reis do. III. Delou, Cristina Maria Carvalho.

    CDD 370.15

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  • SumrioO passado e o presente da Psicopedagogia ..........................................................................5

    Os caminhos da educao ........................................................................................................................5Caracterizao da Psicopedagogia ...........................................................................................................7A Psicopedagogia no Brasil .....................................................................................................................9A atuao do psicopedagogo uma reflexo ...........................................................................................11

    A insero da Psicopedagogia nas instituies ....................................................................13A construo das redes .............................................................................................................................13O papel do psicopedagogo na instituio escolar ....................................................................................16Para refletir e finalizar ..............................................................................................................................18

    A crescente profissionalizao do psicopedagogo ...............................................................21O psicopedagogo como profissional ........................................................................................................21Formas de atuao profissional do psicopedagogo ..................................................................................22A funo preventiva e a funo curativa (teraputica) ...........................................................................24Princpios norteadores da ao do psicopedagogo ..................................................................................25Diferenciao entre o papel do psicopedagogo e de alguns outros profissionais que atuam na rea de Educao ..........................................................................................26Finalizando ..............................................................................................................................................28

    Teorizando a ao psicopedaggica: limites e possibilidades .............................................29

    A Psicopedagogia legislada: o trabalho tico do psicopedagogo ......................................................39Um pouco de tica ...................................................................................................................................39tica profissional .....................................................................................................................................40O reconhecimento da profisso de psicopedagogo ..................................................................................42Concluindo ...............................................................................................................................................45

    Os campos de ao profissional do psicopedagogo: escola, clnica e empresa ...................47Relacionados com as prticas educativas escolares: ...............................................................................47Relacionados com outros tipos de prticas educativas: ...........................................................................50Relacionados com a Psicopedagogia clnica: ..........................................................................................52

    Psicologia e Pedagogia: uma relao dialgica ...................................................................55Psicologia e Pedagogia: uma histria de muitas aproximaes e equvocos ...........................................55A Psicologia da Educao: sua importncia e abrangncia .....................................................................58A atuao do psiclogo na escola ............................................................................................................60Uma concluso... ......................................................................................................................................61

    Os conceitos de normalidade e anormalidade em questo ..................................................63A impreciso do conceito de normalidade ...............................................................................................63A avaliao, o xis do problema ............................................................................................................66

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  • Esses alunos que no aprendem: um olhar psicopedaggico sobre o fracasso escolar .......73As abordagens do fracasso escolar no Brasil um pouco de Histria ....................................................73Essas crianas que no aprendem... .........................................................................................................76

    As queixas das escolas, interpretadas pela Psicopedagogia .............................................81As queixas da escola ............................................................................................................................81Um ltimo olhar: o da Psicopedagogia ....................................................................................................87

    Propostas psicopedaggicas para a Educao Inclusiva ......................................................91Propostas psicopedaggicas para a Educao Inclusiva .........................................................................94

    A interveno psicopedaggica nos processos de ensino ....................................................101Saber e conhecer ......................................................................................................................................102

    A interveno psicopedaggica nos processos de aprendizagens individuais e coletivas ...111

    Incluso escolar: dissonncias entre teoria e prtica ............................................................121A importncia da incluso educacional e seu modelo de atendimento ....................................................121Realidade da incluso ..............................................................................................................................123Professores acham que no h problemas com a incluso ......................................................................123Concluso ................................................................................................................................................127

    Escola Inclusiva: as crianas agradecem .............................................................................131Formao dos professores ........................................................................................................................132Projeto Poltico Pedaggico .....................................................................................................................134Concluindo ...............................................................................................................................................135

    Referncias ...........................................................................................................................139

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  • Incluso escolar: dissonncias entre teoria e prtica

    A relevncia do tema incluso escolar no se limita apenas populao dos alunos com neces-sidades educacionais especiais. A incluso educacional no somente um fator que envolve essas pessoas, mas, tambm, as famlias, os professores e a comunidade, na medida em que visa construir uma sociedade mais justa e conseqentemente mais humana.

    A convivncia com a comunidade como um todo visa ampliar as oportunidades de trocas so-ciais, permitindo uma viso bem mais ntida do mundo. Quanto mais cedo for dada a oportunidade de familiaridade com grupos diferentes, melhores e mais rpidos se faro os processos de integrao. Dessa maneira, o sentimento de mtua ajuda far-se- quase que naturalmente e num tempo surpreen-dentemente mais rpido, fazendo do ambiente escolar o principal veculo para o surgimento do ver-dadeiro esprito de solidariedade, de socializao e dos alicerces dos princpios de cidadania. Como todo ser humano, a possibilidade de acesso ao conhecimento da cultura universal contribuir para que suas habilidades e aptides sejam desenvolvidas.

    O princpio da incluso um processo educacional que busca atender a criana portadora de deficincia na escola ou na classe de ensino regular. Para que isso acontea, fundamental o suporte dos servios da rea de Educao Especial por meio de seus profissionais. A incluso um processo inacabado que ainda precisa ser freqentemente revisado.

    Na certeza de que a pesquisa emprica de cunho qualitativo um instrumento valioso para esta reviso, resolvemos analisar algumas falas de professores, onde os mesmos expem opinies sobre este modelo que nos direciona a uma Educao que deve ou deveria valorizar a diversidade das manifestaes humanas.

    A importncia da incluso educacional e seu modelo de atendimento

    Entre os diversos motivos relevantes da incluso educacional da pessoa portadora de deficin-cia, destacam-se os princpios de justia e igualdade, pois todos tm direito oportunidade de acesso Educao, nas mesmas condies. A observncia deste preceito proporcionar, no futuro, aos defi-cientes fsicos, uma participao social integrada aos demais membros de sua comunidade.

    A Educao Inclusiva tem sua histria influenciada por dois marcos importantes: o primeiro se deu em maro de 1990, quando foi realizada em Jomtien, na Tailndia, a Conferncia Mundial de Educao para Todos, com a proposta da Cepal/Unesco: Educao e Conhecimento, onde o objetivo foi examinar o encaminhamento e enfrentamento da excluso escolar; o segundo, se deu no ano de 1994, na ocasio em que se realizou uma conferncia na Espanha, em Salamanca, onde foi elabora-

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  • da um documento denominado Declarao de Salamanca sobre as necessidades educativas especiais: acesso e qualidade. Tal documento enfatiza, entre outras questes, o desenvolvimento de uma orientao escolar inclusiva.

    Alm de contribuir para a socializao de alunos portadores de necessidades educacionais especiais, a Educao Inclusiva favorece a um melhor desenvolvi-mento fsico e psquico dos mesmos, beneficiando tambm os demais alunos que aprendem a adquirir atitudes de respeito e compreenso pelas diferenas, alm de receberem uma metodologia de ensino individualizada e disporem de maiores recursos. Sero tambm obedecidos os princpios de: igualdade de viver social-mente com direitos, privilgios e deveres iguais; participao ativa na interao social e observncia a direitos e deveres institudos pela sociedade. exigida uma maior competncia profissional, projetos educacionais bem elaborados, currculos adaptados s necessidades dos alunos, surgindo, conseqentemente, uma gama maior de possibilidades de recursos educacionais.

    Este novo paradigma educacional procura fazer com que todos os alunos portadores de deficincia, independentemente do comprometimento, tenham acesso educao de qualidade, prioritariamente, na rede regular de ensino, pro-curando a melhor forma de desenvolver suas capacidades.

    Norteiam a Educao Inclusiva os seguintes objetivos:

    atender portadores de deficincias em escolas prximas de suas residn-cias;

    ampliar o acesso desses alunos nas classes comuns;

    fornecer capacitao aos professores propiciando um atendimento de qualidade;

    favorecer uma aprendizagem na qual as crianas possam adquirir conhe-cimentos juntas, porm, tendo objetivos e processos diferentes;

    desenvolver no professor a capacidade de usar formas criativas com alu-nos portadores de deficincias a fim de que a aprendizagem se concreti-ze.

    O modelo da incluso procura romper com crenas cristalizadas pelo para-digma que o antecedeu, o da integrao, que era baseado em um modelo mdico, onde a deficincia deveria ser superada para que o aluno chegasse o mais perto possvel do parmetro normal, vendo os distrbios e as dificuldades como disfun-es, anomalias e patologias. Este tipo de viso tinha preceitos que, durante muito tempo, segregaram as diferenas, norteando-se pelo princpio da normalizao, que privilegiava aqueles alunos que estivessem preparados para se inserirem no ensino regular; ou seja, a tese defendida era a que quanto mais prximo da norma-lidade, mais apto o aluno est para freqentar o ensino regular.

    Portanto, a incluso busca derrubar este tipo de viso, defendendo a idia de que o ensino se constri na pluralidade e na certeza de que os alunos no so, em qualquer circunstncia, capazes de construrem sozinhos seu conhecimento de mundo. O processo de aprendizagem se funde na interao, a partir da qual desenvolve uma forma humana e significativa de perceber o meio.

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  • Contudo, por meio de pesquisa realizada em escolas que receberam alunos com paralisia cerebral, constata-se que apesar do processo de incluso se encon-trar presente na escola, ainda existem profissionais que no acreditam neste pro-cesso, por motivos diferentes, preferindo, muitas vezes, no se comprometer com o trabalho de incluso, at porque acreditam que o atendimento, em separado, o melhor caminho, mantendo-se a viso de ensino segregado.

    Realidade da inclusoApesar de garantida na Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, em

    1996, a filosofia da incluso no se consolidou na forma desejada. preciso, antes de qualquer ponto, que os professores se adaptem a este novo processo, enten-dendo que h necessidade de um novo olhar para os portadores de necessidades educacionais especiais. importante que sejam revistos os conceitos e precon-ceitos existentes para que seja possvel a elaborao de um trabalho educativo de qualidade.

    Com esta perspectiva, fomos ouvir os profissionais de trs escolas muni-cipais do Rio de Janeiro, localizadas num bairro da zona norte da cidade, que receberam alunos com paralisia cerebral.

    Professores acham que no h problemas com a incluso

    Para muitos professores, a incluso vista como uma prtica positiva, tanto para o aluno portador de paralisia cerebral, quanto para os outros alunos. Esses professores nos relataram que no existe nenhuma interferncia negativa desse aluno no desenrolar de suas aulas, como se destacou a fala de um professor sobre a solidariedade da turma com esse aluno, assim como sobre a aceitao da turma por outro professor:

    No, no acho que interfira no, porque os alunos, eles so muito solidrios com este tipo de aluno. Os colegas mesmos, procuram ajudar muito. No interfere no de maneira nenhuma.

    No interfere em nada, nada. Pelo contrrio, ele faz parte da turma. Eles so extrema-mente bem aceitos e a turma brinca muito com eles e eles respondem, se interagem numa boa.

    A solidariedade e a aceitao so valores importantes na relao humana. importante que a escola incentive esse sentimento solidrio, pois, dessa forma, estar contribuindo para uma sociedade melhor, com igualdade e justia para to-dos. A presena do aluno portador de paralisia cerebral favorece a oportunidade de gerar, em sala de aula, este tipo de postura diante da vida.

    No entanto, ainda h muitos professores que dizem existir problemas na incluso destes alunos, enfatizando-se dois tipos de problemas: os estruturais e os causados pelas peculiaridades dos alunos. Verificamos, tambm, que todos os en-

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  • trevistados nunca haviam trabalhado nenhum tema referente a pessoas portadoras de deficincia em sala de aula, evidenciando-se, com isso, a falta de naturalidade para tratar da questo. Este um fato que deve nos preocupar, na medida em que causa prejuzo no s incluso, mas no que no falado e fica no domnio do juzo consensual.

    A anlise do material coletado mostra a falta de entendimento do processo de incluso e do desconhecimento de prticas que atendam a este novo paradigma educacional.

    Problemas estruturaisA impresso que tivemos diante das falas relativas aos problemas estrutu-

    rais que as mesmas tm sido incorporadas mais como justificativa para o no fazer e no se empenhar na busca da excelncia do processo de incluso escolar desses alunos, do que propriamente ser um problema a ser resolvido. Uma das falas aponta a durao do tempo de aula como curta para dar um bom atendimen-to a esses alunos: Sinceramente no, porque a gente no tem tempo, quarenta minutos na sala mal d para voc dar aula, quanto mais para ter este atendimento individualizado.

    verdade que quarenta minutos de aula tempo insuficiente para se co-nhecer uma turma; no entanto, ao receber um grupo de crianas com o qual vai trabalhar, o professor necessita conhec-los. Uma outra questo quanto ao apro-veitamento deste tempo, se h na classe uma criana que necessita de um prazo maior para a execuo de sua tarefa, inegvel que o planejamento de seu trabalho necessita dar conta deste aluno dentro do limite estabelecido como tempo de aula. Entretanto, algumas simples adaptaes podem ser implementadas para agilizar processos nos quais esses alunos teriam dificuldades. O uso de papel carbono e uma folha parte em um caderno de outro aluno, tirar fotocpia deste caderno, o uso de gravador e a preparao pelo professor de textos explicativos so procedi-mentos simples que podem facilitar a vida escolar deste educando, diminuindo a preocupao do professor com as necessidades especiais dos alunos portadores de paralisia cerebral durante as aulas. Isso ir minimizar o tempo gasto com cpias ou anotaes realizadas tanto pelo aluno com dificuldades motoras, quanto as feitas pelo professor no intuito de auxiliar este aluno.

    O tamanho das turmas foi outro problema apontado pelos professores: Com as turmas grandes como a gente tem, eu acho complicado sim, eu acho complicado.

    Realmente, quando a turma numerosa, o trabalho docente fica comprome-tido em qualquer situao regular e, mais ainda, com alunos includos. Mas esse problema no afeta somente os alunos portadores de paralisia cerebral; ele afeta todos aqueles que venham a possuir alguma dificuldade que exija uma ateno maior do professor. Por isso, reforamos o que j foi dito: a importncia funda-mental de se conhecer o grupo com o qual se vai trabalhar!

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  • O modelo da incluso convida os professores a terem um olhar para cada aluno, para poderem conceder direitos iguais a todos, como nos lembra Stainback e Stainback (1999, p. 29):

    Se realmente desejamos uma sociedade justa e igualitria, em que todas as pessoas te-nham valor igual e direitos iguais, precisamos reavaliar a maneira como operamos em nossas escolas, para proporcionar aos alunos com deficincias as oportunidades e as habi-lidades para participar da nova sociedade que est surgindo.

    O processo de mudanas operacionais nas escolas s ir ocorrer na medida em que essas instituies reconheam sua responsabilidade com todos os alunos, evitando haver preferncias ou discriminaes, dando ao professor melhores con-dies de trabalho e uma remunerao que evite a necessidade de se trabalhar em mais de uma escola. Alis, tivemos este fato comentado por um dos professores entrevistados:

    Eu tenho 6 turmas nesta escola, no trabalho s aqui, mal tenho condio. Isto muito bonito, mas, se tivesse condio para trabalhar com um grupo de pessoas que pudesse trabalhar. A com certeza, quem me conhece, saberia que eu ia buscar todos os recursos possveis e imaginrios para ajudar.

    Estamos solidrios com este professor que nos aponta as condies inspi-tas de seu dia-a-dia profissional. Porm, a busca de informao est relacionada com o interesse; logo, a falta de tempo pode atrapalhar, mas no impeditiva para se buscar conhecimentos, de vez que ser ele o alimentador de nossa prtica. O professor precisa estar ligado a novas idias, novas descobertas, novas situaes, tanto internas quanto externas escola onde leciona. A falta de tempo no pode ser uma justificativa para uma inrcia intelectual, sustentada pela idia de que se ele tivesse condies seria diferente.

    Problemas causados pelas peculiaridades dos alunos

    Algumas falas apresentadas sinalizam para a existncia de problemas rela-cionados s peculiaridades desses alunos, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento do trabalho programado. Vejamos:

    Claro, interfere. Ele, praticamente, dificulta a dinmica, ele cessa, a gente no pode apli-car a dinmica, tem que fazer uma derivao. A gente tem que fazer uma improvisao. Mas nunca boa esta improvisao, porque o prprio meio, os prprios alunos, que no so portadores de deficincia, discriminam.

    Interfere no momento em que voc tem que diminuir o nmero de trabalhos de grupo, porque quando voc est dando aula normal no quadro, giz, livros didticos a acompa-nhante consegue passar a aula para a aluna, mas quando o trabalho um trabalho de criao de grupo, quer dizer no esta aluna que est criando nada. Ela simplesmente est sentada, dentro de um grupo, mas no est tendo possibilidade de criar, porque se for criar quem vai criar ser a acompanhante da aluna.

    As falas apresentam conceitos preconceituosos que no justificam a interfe-rncia desses alunos na turma. Primeiramente, adequar uma dinmica turma sempre necessrio, considerando-se a prpria composio do grupo de alunos, in-

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  • dependentemente de se ter ou no alunos portadores de necessidades educacionais especiais: em segundo lugar, no expressar-se convencionalmente no significa impossibilidade de criao. O que ambas as falas indicam a viso tradicional de comportamento humano.

    Reconhecer dificuldades salutar, porque nos propicia a busca de alternati-vas que visam a super-las. Mostrar aos demais alunos que existem outras formas de comunicao estabelecer um clima de respeito s individualidades e cami-nhar rumo incluso.

    Argumentos a favor ou no da incluso Durante as entrevistas tambm surgiram posicionamentos quanto crena

    no paradigma da incluso, nas quais uns destacaram argumentos a favor e outros se mostraram reticentes. Comearemos pelas falas que indicam argumentos favo-rveis incluso e depois passaremos a anlise daquelas desfavorveis mesma.

    Na socializao, na hora em que ele faz amigos, onde o colega v que existe outra pessoa diferente e que to importante quanto ele.

    Eu acho muito importante em termos de socializao, em termos do se sentir: eu sou diferente, mas posso ser igual.

    Eu acho que ele fica superfeliz, porque ele participa da mesma forma que os outros, ele tem amizades, ele tem uma vida normal igual aos outros alunos.

    Eu acho importante, pois permite a uma criana destas, que antigamente ficava isolada, ter um maior contato com outras crianas, crianas que no so como ela, que no tm a deficincia que ela tem.

    Mais uma vez destacamos nestas falas a total falta de conhecimento so-bre os princpios da incluso e os procedimentos a serem adotados para sua im-plementao. Estes depoimentos, recheados de forte preconceito, visualizam a possibilidade de existncia de uma homogeneidade em uma sociedade marcada por diversidades tnicas, culturais e sociais. Por este motivo, falam de triagem seleo de iguais e criticam a incluso culpabilizando a escola por receber todos que a procuram, passando a idia de que a heterogeneidade a grande vil do fracasso escolar. A fora de seu argumento vem por meio da utilizao de termos pejorativos aleijado para indicar crianas com deficincias e animais para os de-mais como responsveis pelo insucesso na escola, esquecendo-se de que o grave problema se encontra nas prticas pedaggicas adotadas.

    Um ltimo argumento que acreditamos ser urgente o seu repensar, se en-contra no contedo do prximo depoimento: Ainda no, acho que ainda no tem este comprometimento no. Por mais apoio que as pessoas da Coordenadoria, venham e orientem a gente, muito pouco. Podemos observar aqui que a falta de apoio ao professor acarreta pouca crena na implementao da incluso, ficando estes educadores dependentes do trabalho do professor itinerante.

    Para que se realize a incluso escolar efetiva destes alunos necessrio que haja troca de informaes entre a famlia do aluno, a escola e a comunidade, como nos prope Carvalho (1998, p. 193): A operacionalidade da incluso de qualquer aluno no espao escolar deve resultar de relaes dialgicas envolvendo famlia,

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  • escola e comunidade, de modo que cada escola ressignifique as diferenas indivi-duais, bem como reexamine sua prtica pedaggica.

    Acreditamos que, por meio de um dilogo mais efetivo de todos aqueles que fazem parte da rotina deste aluno, dentro e fora da escola, e inclusive com o prprio aluno, pois ningum melhor do que ele para saber do que necessita, que iremos construir uma escola inclusiva e democrtica.

    As demais falas so lamentveis, se comparadas aos objetivos que funda-mentam a Declarao de Salamanca e que ganhou destaque justamente por se constituir em um avano considervel, sendo capaz de indicar aos governos as metas de trabalho, que devem dar um amplo nvel de prioridade poltica e finan-ceira a fim de aprimorar seus sistemas educacionais com objetivo de incluir todas as crianas sem excluir nenhuma diferena ou dificuldades individuais.

    Reconhecemos que j existem vrias instituies de ensino superior que oferecem formao de professores com enfoque na Educao Inclusiva, tanto nos cursos de graduao quanto nos cursos de ps-graduao. Porm, de funda-mental importncia que haja trabalho de capacitao para os professores que j esto na rede regular de ensino, vivenciando ou prestes a vivenciar a experincia de ter um aluno portador de necessidades educacionais especiais inserido em sua classe.

    ConclusoNo se pode perder de vista que estamos inseridos em uma lgica de modelo

    econmico-neoliberal que surgiu como uma forma de reestruturao do capita-lismo, tornando-se cada vez mais difcil a manuteno do Estado de Bem-Estar Social. Instalou-se uma poltica de mercado na qual o Estado Mnimo se caracte-riza pela interveno do Estado, de acordo, apenas, com o interesse daqueles que tm o domnio do capital. Assim, as polticas sociais tm se subordinado lgica do mercado.

    Este modelo econmico vem dificultando mais ainda s pessoas portadoras de deficincia e s demais minorias, o acesso aos direitos de igualdades de condi-es. Se fssemos nos guiar pela lgica intrnseca deste modelo poltico, no ha-veria motivos para investir na educao de uma pessoa, que tida, muitas vezes, como improdutiva. Assim, tal lgica estimuladora da propagao de um estigma para com esta pessoa e revela um imaginrio social carregado de preconceitos.

    A falta dessa urgncia em se realizar uma incluso de qualidade, dando nfase a uma eficaz capacitao, baseada nas afirmaes das potencialidades que variam de acordo com as peculiaridades de cada aluno, mas que certamente todos as possuem, pode nos levar a compactuar com a lgica neoliberalista. Esse mode-lo poltico-econmico pode nos levar a uma descrena ideolgica ou a uma total falta de ideologia.

    Neste sentido, se no houver empenho em fazer valer os preceitos que nor-tearam a Declarao de Salamanca, estaremos deixando que, como vimos neste

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  • trabalho, os depoimentos contra o processo de incluso, quer por descrenas, quer por falta de conhecimento, interfiram nas aes profissionais, impedindo um di-reito que no passado ou era negado ou era eleito queles que estivessem o mais perto possvel da norma, mas, principalmente, no prprio destino destes alunos que j esto includos em escolas de ensino regular.

    Cabe-nos registrar a ntida dicotomia entre teoria e prtica, contida nas fa-las dos profissionais que deram seus depoimentos sobre o processo de incluso, considerando que estas turmas j contam com a presena de alunos portadores de necessidades educacionais especiais. E, por suposto, esta diviso to demarcada apresenta conseqncias expressivas no processo de incluso, apontando para o fato de que no realizado de maneira minimamente articulada, nem segue uma orientao mais uniforme. Ele se faz (ou deixa de ser feito) de acordo com a per-cepo de cada professor a respeito de seu aluno.

    Este desequilbrio entre teoria e prtica nos leva a crer que para a efetivao de uma mudana de conscincia dos profissionais ser preciso validar todo este constructo terico por meio de uma incluso eficaz. Fica evidente que o processo de formao dos profissionais de ensino precisa urgentemente ser avaliado, bem como capacitar aqueles que j se encontram na fora de trabalho tarefa de on-tem!

    Finalizando, urge uma discusso sria quanto aos princpios norteadores da Educao Inclusiva, bem como a implementao de polticas que visem ultrapas-sar o ceticismo que tomou conta da Educao nos ltimos anos.

    A aula de hoje nos traz as diferentes vises que circulam no campo educacional a respeito do processo de incluso dos portadores de necessidades educacionais especiais, apontando, inclu-sive, para a dissonncia entre teoria e prtica.

    1. Levante os conceitos embutidos nas falas dos professores que fizeram parte da pesquisa, a favor do processo de incluso, e discuta com seus colegas.

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  • 2. Voc j teve a oportunidade de trabalhar com um aluno portador de paralisia cerebral? Conte para seu grupo sua experincia. Depois registre-a.

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  • 3. Os questionamentos e as dvidas provocadas por este texto precisam ser anotados e discutidos com os seus colegas.

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