13. formação, suspensão e extinção do processo -...

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(Fonte: Neves, Daniel Assumpção Amorim, Manual de Direito Processual Civil. Salvador: Editora Juspodivm, 2016.) 13. Formação, suspensão e extinção do processo Sumário: 13.1. Formação do processo – 13.1.1. Formação gradual da relação jurídica processual – 13.1.2. Momento da propositura da ação – 13.1.3. Litispendência – 13.2.1. Suspensão do procedimento – 13.2.2. Suspensão própria e imprópria – 13.2.3. Decisão de suspensão do processo – 13.2.4. Impugnabilidade da decisão de suspensão do processo – 13.2.5. Morte ou perda da capacidade processual da parte – 13.2.6. Dissolução de sociedade – 13.2.7. Morte ou perda de capacidade processual do representante legal – 13.2.8. Morte ou perda de capacidade processual do advogado – 13.2.9. Convenção das partes – 13.2.10. Arguição de impedimento ou de suspeição – 13.2.11. Admissão de incidente de resolução de demandas repetitivas – 13.2.12. Prejudicialidade – 13.2.13. Necessidade de verificação de determinado fato ou a produção de certa prova, requisitada para outro juízo – 13.2.14. Força maior – 13.2.15. Acidentes e fatos da navegação de competência do tribunal marítimo – 13.2.16. Demais casos regulados pelo novo código de processo civil – 13.2.17. Prazo de suspensão – 13.2.18. Vedação à prática de atos processuais durante a suspensão do processo – 13.2.19. Arguição de suspeição e impedimento do juiz – 13.2.20. Verificação da existência de fato delituoso pela justiça criminal – 13.3. Extinção do processo – 13.3.1. Extinção do processo – 13.3.2. Impropriedade do termo “extinção parcial do processo”– 13.3.3. Princípio da cooperação e extinção do processo por sentença terminativa – 13.3.4. Reconhecimento jurídico do pedido. 13.1. Formação do processo 13.1.1. Formação gradual da relação jurídica processual O processo resulta da materialização do direito abstrato de ação, o que se dá pela propositura da ação por meio de protocolo da petição inicial perante o juízo para o qual a peça seja endereçada. Não tenho dúvida de que a partir desse momento já existe uma relação jurídica processual, ainda que apenas linear, formada entre o autor e o juiz. E com isso já existe processo, até porque quando há prolação de sentença liminar, seja para indeferir a petição inicial ou para julgar liminarmente improcedente o pedido do autor, o processo é extinto por essa sentença. Não é preciso muito esforço para compreender que só é possível se extinguir o que exista, de forma que a existência do processo necessariamente deve preceder à sua extinção. O processo, portanto, não precisa da citação para ser formado, não sendo correto o entendimento no sentido de que somente com a citação estar-se-á instaurado o processo. Na realidade o processo não se forma gradualmente, mas sim a relação jurídica processual, que com a citação do réu deixa de ser linear e passa a ser tríplice. 13.1.2. Momento da propositura da ação O art. 263 do CPC/1973 previa que a propositura da ação se dava com a distribuição em foros com mais de uma vara e com o primeiro despacho do juiz em foros de vara única. Essa previsão trazia um sério problema no tocante à interrupção da prescrição, porque se aplicado o dispositivo legal seria possível que o autor provocasse o Poder Judiciário antes do vencimento do prazo prescricional, mas que a distribuição ou o despacho do juiz ocorresse somente depois desse vencimento. Se realmente a propositura da ação dependesse de um ato do juízo – distribuição ou despacho do juiz – seria possível a extravagante hipótese de o autor exercer sua pretensão antes do vencimento do prazo prescricional e ainda assim ter seu processo extinto com fundamento na prescrição. Como tal situação é extremamente injusta, contrariando inclusive a própria razão de ser da prescrição, já que nesse caso a inércia não teria sido do titular do direito, o Superior Tribunal de Justiça ignorava a

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(Fonte: Neves, Daniel Assumpção Amorim, Manual de Direito Processual Civil. Salvador: Editora Juspodivm, 2016.)

13. Formação, suspensão e extinção do processo

Sumário: 13.1. Formação do processo – 13.1.1. Formação gradual da relação jurídica processual – 13.1.2. Momento da propositura da ação – 13.1.3. Litispendência – 13.2.1. Suspensão do procedimento – 13.2.2. Suspensão própria e imprópria – 13.2.3. Decisão de suspensão do processo – 13.2.4. Impugnabilidade da decisão de suspensão do processo – 13.2.5. Morte ou perda da capacidade processual da parte – 13.2.6. Dissolução de sociedade – 13.2.7. Morte ou perda de capacidade processual do representante legal – 13.2.8. Morte ou perda de capacidade processual do advogado – 13.2.9. Convenção das partes – 13.2.10. Arguição de impedimento ou de suspeição – 13.2.11. Admissão de incidente de resolução de demandas repetitivas – 13.2.12. Prejudicialidade – 13.2.13. Necessidade de verificação de determinado fato ou a produção de certa prova, requisitada para outro juízo – 13.2.14. Força maior – 13.2.15. Acidentes e fatos da navegação de competência do tribunal marítimo – 13.2.16. Demais casos regulados pelo novo código de processo civil – 13.2.17. Prazo de suspensão – 13.2.18. Vedação à prática de atos processuais durante a suspensão do processo – 13.2.19. Arguição de suspeição e impedimento do juiz – 13.2.20. Verificação da existência de fato delituoso pela justiça criminal – 13.3. Extinção do processo – 13.3.1. Extinção do processo – 13.3.2. Impropriedade do termo “extinção parcial do processo”– 13.3.3. Princípio da cooperação e extinção do processo por sentença terminativa – 13.3.4. Reconhecimento jurídico do pedido.

13.1. Formação do processo

13.1.1. Formação gradual da relação jurídica processual

O processo resulta da materialização do direito abstrato de ação, o que se dá pela propositura da ação por meio de protocolo da petição inicial perante o juízo para o qual a peça seja endereçada.

Não tenho dúvida de que a partir desse momento já existe uma relação jurídica processual, ainda que apenas linear, formada entre o autor e o juiz. E com isso já existe processo, até porque quando há prolação de sentença liminar, seja para indeferir a petição inicial ou para julgar liminarmente improcedente o pedido do autor, o processo é extinto por essa sentença. Não é preciso muito esforço para compreender que só é possível se extinguir o que exista, de forma que a existência do processo necessariamente deve preceder à sua extinção.

O processo, portanto, não precisa da citação para ser formado, não sendo correto o entendimento no sentido de que somente com a citação estar-se-á instaurado o processo. Na realidade o processo não se forma gradualmente, mas sim a relação jurídica processual, que com a citação do réu deixa de ser linear e passa a ser tríplice.

13.1.2. Momento da propositura da ação

O art. 263 do CPC/1973 previa que a propositura da ação se dava com a distribuição em foros com mais de uma vara e com o primeiro despacho do juiz em foros de vara única. Essa previsão trazia um sério problema no tocante à interrupção da prescrição, porque se aplicado o dispositivo legal seria possível que o autor provocasse o Poder Judiciário antes do vencimento do prazo prescricional, mas que a distribuição ou o despacho do juiz ocorresse somente depois desse vencimento. Se realmente a propositura da ação dependesse de um ato do juízo – distribuição ou despacho do juiz – seria possível a extravagante hipótese de o autor exercer sua pretensão antes do vencimento do prazo prescricional e ainda assim ter seu processo extinto com fundamento na prescrição.

Como tal situação é extremamente injusta, contrariando inclusive a própria razão de ser da prescrição, já que nesse caso a inércia não teria sido do titular do direito, o Superior Tribunal de Justiça ignorava a

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previsão legal para entender que a propositura da ação se dava com o protocolo da petição inicial.

O art. 312 do Novo CPC consagra esse entendimento, e em feliz redação prevê que a ação se considera proposta desde o protocolo da petição inicial. A propositura da ação é ato unilateral do autor, representado pela apresentação da petição inicial em juízo, não dependendo, portanto, de nenhum ato judicial que não o certificado de que a petição inicial foi protocolada. O registro e/ou a distribuição do processo, atos a serem praticados pelo Poder Judiciário, são estranhos ao ato da parte de propor a ação, sendo-lhe sempre posteriores.

13.1.3. Litispendência

O termo “litispendência” é equívoco, podendo significar pendência da causa (que começa a existir quando de sua propositura e se encerra com a sua extinção) ou pressuposto processual negativo verificado na concomitância de processos idênticos (mesma ação). O art. 312 do Novo CPC adotou o primeiro sentido da expressão para prever que, ainda que a propositura da ação se dê com o protocolo da petição inicial, ela só produz quanto ao réu os efeitos mencionados no art. 240 do mesmo diploma processual depois que for validamente citado.

Para o autor, há litispendência desde o protocolo de sua petição inicial, enquanto que para o réu a litispendência depende de sua citação válida. Ou ainda, como prefere parcela da doutrina, há litispendência desde a propositura da ação, mas seus efeitos são gerados para o autor a partir desse momento e para o réu somente depois de sua citação.

13.2. Suspensão do processo

13.2.1. Suspensão do procedimento

O processo é projetado para ter seu andamento sem interrupção, de forma que qualquer paralisação em seu trâmite é considerada pela melhor doutrina como crise do procedimento. Sendo a duração razoável do processo um dos princípios processuais consagrados tanto na Constituição Federal (art. 5º, LXXVIII) como no Novo Código de Processo Civil (art. 6º), é natural se compreender que qualquer suspensão do procedimento aumente o tempo de duração do processo, aparentemente conspirando contra tal princípio. Ocorre, entretanto, que em razão de determinadas circunstâncias é preferível a suspensão do que o andamento, sendo tal opção derivada de causas de ordem física, lógica e jurídica.

Diferente do que está previsto no art. 313 do Novo CPC, o dispositivo na realidade não consagra causas de suspensão do processo, até porque o processo nunca é suspenso, mantendo-se íntegro mesmo durante o prazo de suspensão. O que se suspende é o procedimento e não o processo, ou seja, cessa o andamento regular do processo por um determinado período.13.2.2. Suspensão própria e imprópria

A suspensão do processo é tecnicamente a situação em que todo o procedimento cessa durante um determinado período. Ocorre, entretanto, que por vezes, apesar de parcela do procedimento continuar a ter andamento, outra parcela fica suspensa, como ocorre nos julgamentos de incidentes processuais, que suspendem o procedimento principal, mas por fazerem parte do processo, permitem que ele ao menos parcialmente continue a tramitar. Tome-se como exemplo o incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR). O processo em que foi instaurado será suspenso, mas na realidade o que fica suspenso é o procedimento principal desse processo, porque sendo o incidente parte dele, o processo parcialmente continuará seu trâmite, por meio do incidente processual.

Diante dessas duas realidades distintas, a doutrina costuma falar em suspensão própria e imprópria do processo, ainda que nesse segundo caso não haja propriamente suspensão do processo. Na suspensão própria todo o procedimento cessa seu andamento por um determinado período, enquanto que na

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suspensão imprópria a suspensão atinge apenas parcela do procedimento, enquanto outra parte tramita normalmente.

13.2.3. Decisão de suspensão do processo

É tranquilo o entendimento de que a suspensão depende de uma decisão judicial nesse sentido, havendo, entretanto, divergência doutrinária a respeito do conteúdo de tal decisão. A doutrina majoritária entende tratar-se de decisão meramente declaratória, que se limita a dar a certeza jurídica da presença de uma das causas legais de suspensão do processo. Minoritariamente, há doutrinadores que defendem a natureza constitutiva, já que ela seria capaz de paralisar a atividade processual.

Apesar da divergência doutrinária, há um ponto de aceitação generalizada: a decisão de suspensão do processo tem eficácia ex tunc, ou seja, retroage à data do evento que deu causa à suspensão, devendo-se considerar desde esse momento suspenso o procedimento. É no mesmo sentido o entendimento do Superior Tribunal de Justiça.

13.2.4. Impugnabilidade da decisão de suspensão do processo

Por não estar previsto no rol do art. 1.015 do Novo CPC e nem haver qualquer previsão expressa nesse sentido, a decisão interlocutória de suspensão do processo não é recorrível por agravo de instrumento, salvo se proferida no inventário, cumprimento de sentença, processo de execução e liquidação de sentença (art. 1.015, parágrafo único, Novo CPC).

Teoricamente, a decisão seria impugnável em sede de apelação ou contrarrazões, nos termos do art. 1.009, § 1º, do Novo CPC, mas nesse caso fica evidente a inutilidade da impugnação da decisão somente nesse momento procedimental. Se o processo ficar suspenso indevidamente, e depois disso retomar seu andamento até a prolação da sentença, exatamente qual a utilidade prática de somente na apelação ou contrarrazões se insurgir contra a decisão que determinou a suspensão?

Diante da manifesta inutilidade da forma impugnativa será cabível o mandado de segurança contra essa decisão. Registre-se que o Superior Tribunal de Justiça admite o mandado de segurança contra ato judicial justamente quando o recurso cabível é incapaz de inverter a sucumbência suportada pela parte.

13.2.5. Morte ou perda da capacidade processual da parte

Falecendo a parte durante o processo e sendo o direito nele discutido intransmissível, o processo será extinto nos termos do art. 485, IX, do Novo CPC. Nos demais casos, a morte da parte será causa de suspensão do processo, nos termos do art. 313, I, do Novo CPC. Essa distinção de tratamento é reconhecida pelo art. 313, § 2º, II, do Novo CPC, que prevê que a intimação do espólio, sucessor ou herdeiro do autor depende de o direito em litígio ser transferível.

Tendo a decisão sobre a suspensão do processo eficácia ex tunc, o processo estará suspenso desde o momento em que a parte faleceu, sendo irrelevante para esse fim o momento em que a informação é levada ao juízo ou o da data da decisão de suspensão.

A suspensão de processo, em virtude de falecimento da parte e cujo objeto seja direito transmissível, deve ser analisada com cuidado, porque depois de sua morte é possível que sejam praticados atos que não dependam de intervenção da parte, sendo, nesse caso, irrelevante se ela está viva ou morta. Nesses casos, não parece adequado afirmar-se que o processo está suspenso e que tais atos não podem ser praticados (art. 314 do Novo CPC). Se os autos estão com o contador judicial, porque ele teria que parar seu trabalho em razão do falecimento da parte? Se os autos estão conclusos para a sentença e ocorre o falecimento da parte, porque o juiz teria que esperar a regularização processual para sentenciar o processo?

Nos arts. 687 a 692 do Novo CPC está prevista a ação de habilitação, que segundo o art. 687 do Novo

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CPC é cabível quando ocorrer o falecimento de uma das partes e os interessados houverem de suceder-lhe no processo. Trata-se de ação incidental de procedimento especial para habilitar a sucessão processual na hipótese de morte da parte.

Nos termos do § 1º do art. 313 do Novo CPC, a propositura dessa ação suspende o processo, sendo exatamente essa a previsão do art. 689 do Novo CPC. Os dois dispositivos têm previsão inadequada porque não é a propositura da ação incidental de habilitação que suspende o processo, que na realidade estará suspenso desde o falecimento da parte.

Caso não seja ajuizada a ação de habilitação, mas o juiz tome de ofício conhecimento da morte da parte, o § 2º do art. 313 do Novo CPC prevê que o juiz determinará a suspensão do processo (na realidade o processo já estará suspenso, sendo a decisão meramente declaratória), e adotará posturas distintas a depender de o falecimento ter ocorrido com sujeito que figure no polo ativo ou passivo da relação jurídica processual.

Falecido o réu, o juiz ordenará a intimação do autor para que promova a citação do respectivo espólio, de quem for o sucessor ou, se for o caso, dos herdeiros, no prazo que designar, de no mínimo 2 e no máximo 6 meses. Descumprida a diligência, estará configurado o abandono do processo, devendo o processo ser extinto sem resolução do mérito, nos termos do art. 485, II, do Novo CPC).

Falecido o autor e sendo transmissível o direito em litígio, determinará a intimação de seu espólio, de quem for o sucessor ou, se for o caso, dos herdeiros, pelos meios de divulgação que reputar mais adequados, para que manifestem interesse na sucessão processual e promovam a respectiva habilitação no prazo designado, sob pena de extinção do processo sem resolução de mérito (art. 485, IV, do Novo CPC).

Na hipótese de perda da capacidade processual da parte, a suspensão do processo serve para que ingresse no processo um representante processual, porque nesse caso a parte perde a capacidade de estar em juízo, só podendo atuar no processo por meio de um representante processual. Nesse caso deve se seguir o procedimento previsto no art. 76 do Novo CPC.

13.2.6. Dissolução de sociedade

Há doutrina que equipara a morte da parte à extinção da pessoa jurídica, de forma que havendo a dissolução da sociedade caberia a suspensão do processo, sendo a essa hipótese aplicadas as regras previstas para a morte da parte e de sua sucessão no processo.

Esse entendimento, entretanto, não é pacífico, havendo corrente doutrinária que entende ser inadequada essa equiparação, porque diante da dissolução da sociedade sempre haverá alguém encarregado de representá-la judicialmente, até final liquidação de seus direitos e obrigações. Por outro lado, na maioria dos casos, a extinção da pessoa jurídica decorre de ato voluntário de seus membros, não devendo se dar a eles o poder de suspender o processo pelo simples fato de terem extinguido a pessoa jurídica.

Para essa parcela doutrinária, portanto, a extinção da pessoa jurídica não é causa de suspensão do processo, devendo o procedimento seguir normalmente.

13.2.7. Morte ou perda de capacidade processual do representante legal

Se existe um representante legal no processo é porque falta à parte representada a capacidade de estar em juízo. No caso de morte ou de perda da capacidade processual desse representante processual, a parte volta a não ter capacidade de estar em juízo, cabendo a indicação de um novo representante processual para que se regularize sua situação no processo.

O procedimento para a regularização é aquele previsto no art. 76 do Novo CPC, sendo entendimento tranquilo na doutrina que a hipótese não se aplica aos casos de morte ou perda de capacidade processual

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do “presentante” de pessoa jurídica, porque nesse caso outra pessoa tomará o lugar do “presentante” morto ou que se torna incapaz, sem que haja obstáculos à continuidade do processo. Apenas para exemplificar, morto o prefeito, que “presenta” a Municipalidade em juízo, assume o cargo em seu lugar o vice-prefeito, não havendo razão para a suspensão do processo.

13.2.8. Morte ou perda de capacidade processual do advogado

O art. 313, I, do Novo CPC, prevê como causa de suspensão do processo a morte ou a perda de capacidade processual do patrono da parte. Essa perda da capacidade processual deve ser entendida de forma ampliativa, porque o processo deve ser suspenso não só quando o advogado perde sua capacidade civil (por exemplo, é interditado), mas também quando perde sua capacidade postulatória (por exemplo, quando é suspenso pela Ordem dos Advogados do Brasil).

A suspensão aqui tratada só se justifica se o advogado morto ou que perdeu sua capacidade for o único constituído nos autos, de forma que, havendo mais de um advogado constituído, o processo deve prosseguir normalmente com o outro procurador remanescente. Há, entretanto, situação excepcional quando o advogado foi contratado especificamente para praticar determinado ato processual. Imagine uma oitiva por carta precatória em que o advogado contratado, que tem domicílio profissional no local da audiência, venha a falecer e por essa razão obviamente não comparece à audiência. Ou ainda um advogado contratado para uma sustentação oral que vem a falecer antes da sessão de julgamento. Entendo que nesse caso, mesmo havendo mais de um advogado constituído, o processo deve ser suspenso.

Nos termos do § 3º do art. 313 do Novo CPC, no caso de morte do procurador de qualquer das partes, ainda que iniciada a audiência de instrução e julgamento, o juiz determinará que a parte constitua novo mandatário, no prazo de 15 dias. Nos termos do art. 139, VI, do Novo CPC, o juiz poderá dilatar esse prazo diante das particularidades do caso concreto.

Caso não haja a regularização, as consequências variam a depender de a omissão ser conduta adotada pelo autor ou pelo réu. Sem advogado faltará capacidade postulatória ao autor, e sem esse pressuposto processual subjetivo o processo não poderá prosseguir, sendo caso de extinção do processo sem resolução do mérito nos termos do art. 485, IV, do Novo CPC.

Sendo o réu omisso, não tem qualquer sentido a extinção do processo, que favoreceria o réu omisso e prejudicaria o autor que, nem que queira, poderá regularizar a capacidade postulatória do réu. A consequência, portanto, é outra, prevendo o art. 313, § 3º, do Novo CPC que nesse caso o juiz ordenará o prosseguimento do processo à revelia do réu. A previsão deve ser bem compreendida, porque confunde a revelia com seus efeitos.

Caso o falecimento do advogado do réu ocorra depois de já apresentada sua contestação, mesmo que não haja a regularização nos termos do art. 313, § 3º, do Novo CPC, será impossível considerar-se esse réu revel, já que a revelia é um estado de fato gerado pela ausência jurídica da contestação. E apresentada validamente a contestação não será gerado o principal efeito da revelia que é a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor. Nessa situação, a única consequência será a geração de outro efeito da revelia, a da dispensa da intimação do réu.

13.2.9. Convenção das partes

A suspensão do processo por acordo das partes prevista no art. 313, II, do Novo CPC é apenas uma especificação da cláusula geral dos negócios jurídicos processuais prevista no art. 190 do Novo CPC. Tratando-se de acordo bilateral, está sujeito às exigências formais do art. 190 do Novo CPC, exigindo-se que seja celebrado por partes capazes, em processos em que se admita a autocomposição e que nenhuma das partes esteja em situação de vulnerabilidade.

Não há exigência de motivação do acordo, não sendo dado ao juiz indeferir o pedido formulado pelas

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partes.

Esse acordo específico de suspensão do processo tem uma limitação temporal prevista no art. 313, § 4º, do Novo CPC, não podendo ser superior a 6 meses. O legislador equacionou o interesse das partes com o interesse público na continuidade e encerramento do processo dentro de um prazo razoável. Registre-se que esse prazo não é aplicável à execução quando a motivação da suspensão for o cumprimento da obrigação pelo executado, sendo nesse caso o tempo de suspensão o necessário para tal cumprimento (art. 922 do Novo CPC).

Apesar de entendimento arraigado na doutrina à luz do CPC/1973 de que não caberia suspensão convencional do processo durante o transcurso de prazo peremptório, já replicado em alguns entendimentos à luz do Novo Código de Processo Civil, entendo que esse impedimento não sobreviveu à nossa sistemática dos prazos criada pelo novo diploma legal. A partir do momento em que o art. 139, VI, do Novo CPC permite ao juiz a prorrogação de todo e qualquer prazo, entendo que não existem mais prazos peremptórios, sendo todos dilatórios. Dessa forma, a suspensão convencional será sempre admitida, ainda que pendente o prazo para a prática de ato processual.

Reforçando a natureza meramente declaratória da decisão de suspensão do processo, a doutrina é tranquila em apontar que o processo estará suspenso desde a data em que o acordo for celebrado, sendo irrelevante o momento em que ele é levado ao conhecimento do juízo e por ele homologado. Registre-se corrente doutrinária que entende que, ainda que a suspensão não dependa de decisão, ela só tem início quando o ato processual é praticado pelas partes nos autos do processo.

Há divergência doutrinária a respeito da possibilidade de as partes convencionarem a suspensão do processo quando o ato processual estiver em curso. Para parcela da doutrina, não se admite tal espécie de suspensão durante uma audiência ou de sessão de julgamento pelo tribunal, enquanto outra parcela não vê qualquer impedimento. Prefiro o entendimento contrário, porque pode justamente ser durante o ato processual que surja razão para as partes se motivarem a suspender o processo. Por outro lado, não parece adequado criar restrições ao exercício da vontade das partes quando a própria lei é omissa nesse sentido.

13.2.10. Arguição de impedimento ou de suspeição

O art. 313, III, do Novo CPC prevê como causa de suspensão do processo a arguição de impedimento ou de suspeição, e, ainda que seja omisso o dispositivo nesse sentido, a única arguição de impedimento e suspeição capaz de suspender o processo é a do juiz, não havendo suspensão quando a arguição se dirigir ao membro do Ministério Público (art. 148, § 2º, do Novo CPC) ou a auxiliares da Justiça.

A mera arguição da suspeição ou impedimento do juiz suspende o procedimento principal (suspensão imprópria), mas a continuidade dessa suspensão até o julgamento da arguição depende de decisão a ser proferida pelo relator do incidente no tribunal. Nos termos do art. 146, § 2º, do Novo CPC, o relator poderá receber o incidente sem efeito suspensivo, de forma que o processo retomará o seu andamento, ou com efeito suspensivo, quando a suspensão será prorrogada até o julgamento do incidente.

No tocante aos pedidos de tutela de urgência, serão dirigidos ao substituto legal do juiz acusado de parcial enquanto não for declarado o efeito em que o incidente é recebido ou quando ele for recebido com efeito suspensivo. Se o relator receber o incidente sem efeito suspensivo, o pedido será dirigido ao próprio juiz acusado de suspeito ou impedido.

13.2.11. Admissão de incidente de resolução de demandas repetitivas

O inciso IV do art. 313 do Novo CPC, além de repetitivo, diz menos do que deveria.

A suspensão do processo em razão da admissão do incidente de resolução de demandas repetitivas já está prevista no art. 982, I, do Novo CPC, que prevê que sendo o incidente admitido pelo relator no tribunal de

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segundo grau caberá a ele suspender os processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitam no Estado ou na região de competência do tribunal.

Por outro lado, teria sido mais adequado o dispositivo prever a suspensão na admissão do julgamento de casos repetitivos, já que além da admissão do incidente de resolução de demandas repetitivas (art. 982, I, Novo CPC), também no julgamento de recursos especiais e extraordinários repetitivos haverá suspensão do processo, nos termos do art. 1.037, II, Novo CPC. De qualquer forma, essa hipótese de suspensão está contemplada no inciso VIII do art. 313 do Novo CPC.

No caso da suspensão em razão da admissão de incidente de resolução de demandas repetitivas, o art. 980, caput, do Novo CPC prevê o prazo máximo de um ano de suspensão, que poderá ser prorrogado por decisão fundamentada do relator (art. 980, parágrafo único, Novo CPC).

13.2.12. Prejudicialidade

Nos termos do art. 313, V, “a”, do Novo CPC o processo será suspenso quando a sentença depender do julgamento de outra causa ou da declaração de existência ou de inexistência de relação jurídica que constitua o objeto principal de outro processo pendente. Nesse caso, não se tratando de suspensão obrigatória, ela depende de decisão judicial expressa do juiz no sentido da suspensão do processo.

Nas precisas lições da melhor doutrina, as questões prejudicais são aquelas que, além de constituírem premissas lógicas da sentença, reúnem condições suficientes para ser objeto de ação autônoma. Para se decidir um pedido de resolução contratual, o juiz deve necessariamente decidir se o contrato é válido ou nulo (questão prejudicial). Para se decidir um pedido de condenação a pagamento de alimentos, o juiz deve necessariamente decidir se o réu é ou não o pai do autor (questão prejudicial).

As questões prejudiciais podem ser internas (endógenas) ou externas (exógenas). As primeiras são aquelas que surgem dentro do próprio processo e com a supressão do sistema da ação declaratória incidental não geram suspensão do processo. O próprio art. 313, V, “a”, do Novo CPC, prevê expressamente que a suspensão depende de outro processo pendente.

As questões prejudiciais externas são aquelas que constituem objeto de outros processos, podendo ser homogêneas (objeto de outro processo da jurisdição civil) ou heterogêneas (objeto de outro processo da jurisdição criminal), sendo que o dispositivo ora comentado versa sobre a questão prejudicial externa homogênea. Na Jurisdição civil inclui-se a suspensão de processo em trâmite em diferentes Justiças, como Federal e Estadual.

Por uma questão de lógica, havendo suspensão entre dois processos em razão da prejudicialidade externa, é natural que seja suspenso o processo prejudicado à espera do julgamento do processo prejudicial. Havendo tal espécie de prejudicialidade, suspende-se o processo no qual a relação jurídica controvertida é discutida incidentalmente enquanto o processo no qual a mesma relação jurídica é discutida de forma principal não é decidido.

Para parcela doutrinária é irrelevante a ordem cronológica de propositura da ação prejudicada e da ação prejudicial. Nesse caso, desconsiderando-se a questão temporal, todo e qualquer processo, independentemente do momento de sua propositura, poderá ser suspenso à espera da solução da relação jurídica no processo que a decidirá de forma principal.

A redação do art. 313, IV, “a”, do Novo CPC permite tal conclusão, ao prever que a suspensão depende “de outro processo pendente”, não exigindo que tal processo já esteja pendente quando da propositura da ação prejudicial. Basta, portanto, que o processo prejudicado esteja pendente para que possa ser suspenso pela aplicação do dispositivo legal mencionado.

O Superior Tribunal de Justiça, embora não tenha tratado dessa matéria de forma principal, já permitiu

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incidentalmente que mesmo tendo sido proposta a ação prejudicial quando já em trâmite a causa prejudicada, essa segunda fosse suspensa até o julgamento da primeira. Nesse sentido, determinou a suspensão de um processo de busca e apreensão em razão de processo revisional de contrato, ainda que esse segundo tenha sido proposto depois do primeiro.

Há, entretanto, corrente doutrinária que entende que a suspensão depende de uma determinada ordem temporal de propositura dos processos. Para essa corrente doutrinária, só haverá suspensão se o processo prejudicial já estiver em trâmite quando da propositura do processo prejudicado.

A reunião com fundamento na causa ora analisada tem como fundamento a harmonização dos julgados e a economia processual, mesmos objetivos perseguidos pela reunião de processos perante o mesmo juízo. Diante dessa realidade, a doutrina entende que a suspensão só se justifica se não for possível a reunião dos processos perante o mesmo juízo para julgamento conjunto dos processos.

13.2.13. Necessidade de verificação de determinado fato ou a produção de certa prova, requisitada para outro juízo

O art. 313, V, “b”, do Novo CPC prevê a suspensão do processo quando a prolação de sentença de mérito depender da verificação de determinado fato ou de produção de certa prova requisitada para outro juízo. Até para se distinguir da hipótese prevista no art. 313, V, “a”, do Novo CPC, a suspensão ora analisada não trata de questão prejudicial, mas de questão preliminar ao julgamento de mérito, aqui compreendida como fato ou prova que deve ser verificada ou produzida anteriormente à prolação de decisão de mérito.

A produção de prova requerida a outro juízo se dá por meio da expedição de carta precatória, rogatória ou de ordem. Sempre tive dificuldade de aceitar a literalidade do art. 377 do Novo CPC, que prevê que a suspensão do processo em razão da expedição de carta só ocorre se o pedido de produção de prova for elaborado antes da decisão de saneamento e quando a prova for imprescindível à formação do convencimento do juiz.

Entendo que se a prova foi deferida, independentemente do momento procedimental, ela é imprescindível à formação do convencimento do juiz, porque, do contrário, será caso de indeferimento do pedido nos termos do art. 370, parágrafo único, do Novo CPC. Por tal razão, entendo que, sempre que haja prova pendente de produção por meio de carta de auxílio, o juízo da causa não poderá sentenciar o processo. Trata-se, naturalmente, de suspensão imprópria, porque todos os demais atos, salvo os debates orais (memoriais escritos) e sentença, podem ser normalmente praticados durante o cumprimento da carta.

13.2.14. Força maior

Havendo motivo de força maior o processo será suspenso, nos termos do art. 313, VI, do Novo CPC, entendendo-se como força maior qualquer causa representada por evento insuperável, alheio à vontade dos sujeitos processuais e que os impeça de praticar atos processuais, tais como no caso de epidemia, calamidade pública, inundação, fechamento do fórum por determinação da Defesa Civil, incêndio etc. Há doutrina, inclusive, que inclui na força maior obstáculo oposto pela parte contrária e até mesmo a superveniência de férias coletivas.

O processo deve ser considerado suspenso desde o momento em que ocorreu a força maior que motiva sua suspensão, sendo irrelevante para fins de fixação do termo inicial da suspensão o momento em que o juiz toma conhecimento da força maior ou em que profere a decisão de suspensão do processo. A suspensão fica condicionada à manutenção da força maior, de forma que encerrado o evento inevitável e irresistível que deu causa à suspensão o procedimento retoma seu andamento regular.

13.2.15. Acidentes e fatos da navegação de competência do tribunal marítimo

Será suspenso o processo, nos termos do art. 313, VII, do Novo CPC, quando se discutir em juízo questão

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decorrente de acidentes e fatos da navegação de competência do Tribunal Marítimo. Não parece adequada a interpretação literal da norma, porque se assim for o processo judicial deverá ser suspenso pelo simples fato de versar sobre acidentes e fatos da navegação, independentemente de já existir processo instaurado perante o Tribunal Marítimo. A única interpretação possível é a de que, já estando em trâmite processo perante esse tribunal administrativo, e sendo a questão lá discutida repetida no processo judicial, caberá a suspensão do processo judicial.

O Tribunal Marítimo é vinculado ao Ministério da Marinha, não integrando, portanto, o Poder Judiciário. Segundo o art. 18 da Lei 2.180/1954, as decisões do Tribunal Marítimo quanto à matéria técnica referente aos acidentes e fatos da navegação têm valor probatório e se presumem certos, sendo, porém, suscetíveis de reexame pelo Poder Judiciário. O Superior Tribunal de Justiça, ao se manifestar sobre o tema, teve a oportunidade de decidir que as conclusões estabelecidas pelo Tribunal Marítimo são suscetíveis de reexame pelo Poder Judiciário, ainda que a decisão proferida pelo órgão administrativo, no que se refere à matéria técnica sobre acidentes e fatos da navegação, tenha valor probatório.

Essa força probatória das decisões proferidas pelo Tribunal Marítimo quanto à matéria técnica referente aos acidentes e fatos da navegação, no processo judicial, recomendam a suspensão do processo enquanto não proferida tal decisão, ainda que a independência da instância judiciária da marítima tenha levado parcela da doutrina a criticar essa causa de suspensão.

13.2.16. Demais casos regulados pelo novo código de processo civil

O inciso VIII do art. 313 do Novo CPC torna o rol de causas para a suspensão do processo previsto no dispositivo meramente exemplificativo ao prever que também será suspenso o processo em outros casos regulados pelo Novo Código de Processo Civil.

Pode ser mencionada como exemplo a suspensão em razão da instauração do incidente de desconsideração da personalidade jurídica (art. 134, § 3º, do Novo CPC); em razão da impugnação ao cumprimento de sentença ou embargos à execução (arts. 525, § 5º, e 919, § 1º, do Novo CPC); em razão da oposição (art. 685, parágrafo único, do Novo CPC); em razão da não localização de bens na execução de pagar quantia certa (art. 921, III, do Novo CPC); em razão de prazo concedido pelo exequente para que o executado cumpra sua obrigação (art. 922 do Novo CPC); em razão de julgamento de recurso especial e extraordinário repetitivos (art. 1.037, II, do Novo CPC).

13.2.17. Prazo de suspensão

O § 4º do art. 313 do Novo CPC prevê que no caso de suspensão convencionada pelas partes o prazo máximo de suspensão é de 6 meses, e nos casos previstos no inciso V, o prazo máximo é de um ano. O dispositivo faz claramente uma opção pela celeridade processual em detrimento da segurança jurídica, preferindo correr o risco da prolação de decisões contraditórias a postergar indefinidamente o andamento do processo.

Dessa forma, a suspensão seria no máximo pelo prazo de um ano, devendo o processo prejudicado retomar seu andamento mesmo sem a solução do processo prejudicial. O Superior Tribunal de Justiça tem decisões recentes adotando a interpretação literal do art. 313, § 4º, do Novo CPC, limitando o período de suspensão ao tempo previsto no dispositivo legal.

O tema, entretanto, não está pacificado, mesmo no Superior Tribunal de Justiça, que também já se manifestou recentemente admitindo estender a suspensão do processo por período superior a um ano, por meio da renovação desse prazo por um novo período de um ano334 ou determinando que a suspensão dure até o trânsito em julgado do processo prejudicial.

Parece razoável o entendimento, levando-se em conta que a reconhecida morosidade do processo não é compatível com o exíguo prazo de um ano de suspensão do processo.

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13.2.18. Vedação à prática de atos processuais durante a suspensão do processo

O art. 314 do Novo CPC é suficientemente claro ao prever a vedação à prática de qualquer ato processual durante o período de suspensão do processo, com exceção dos atos urgentes a fim de evitar dano irreparável. Dessa forma, não resta dúvida de que o ato não urgente praticado durante a suspensão do processo é viciado, já que praticado em desconformidade com a regra legal. Situar esse ato viciado no plano da existência, validade ou eficácia é matéria que sempre dividiu a doutrina.

Para determinada corrente doutrinária, o ato praticado durante o período de suspensão do processo é juridicamente inexistente em razão da inexistência do pressuposto da pendência da causa. Para outra corrente doutrinária o ato existe, mas é inválido. Por fim, há os que entendem tratar-se de ato ineficaz.

O Superior Tribunal de Justiça entende que os atos não urgentes praticados durante a suspensão do processo são nulos, aplicando o princípio da instrumentalidade das formas, de modo que a nulidade só será reconhecida se restar comprovado o prejuízo.

13.2.19. Arguição de suspeição e impedimento do juiz

Sendo arguida a suspeição ou impedimento do juiz o procedimento principal será suspenso – suspensão imprópria – nos termos do art. 313, III, do Novo CPC. Essa suspensão poderá ser prorrogada pelo relator do incidente até o seu julgamento. Nesse caso, o art. 314 do Novo CPC veda ao juiz proferir qualquer decisão, inclusive os atos urgentes necessários para evitar dano irreparável. Trata-se de medida de salvaguarda das partes diante de um juiz que, potencialmente parcial, poderá por meio de decisão sobre tutela de urgência gerar indevidamente sério sacrifício a uma das partes.

Havendo a necessidade de prática de ato urgente, a parte que dela necessita não ficará sem respaldo jurisdicional, cabendo ao substituto legal do juiz acusado de parcial a prática de tal espécie de ato, ainda que o procedimento principal esteja suspenso (art. 146, § 3º, do Novo CPC).

Registre-se que, não sendo o incidente recebido no efeito suspensivo pelo relator, o processo não estará suspenso, de forma que qualquer ato, urgente ou não, será praticado normalmente pelo juiz acusado de suspeição ou de impedimento.

13.2.20. Verificação da existência de fato delituoso pela justiça criminal

O art. 315 do Novo CPC regulamenta a chamada “prejudicialidade externa” entre a ação civil e a ação criminal, facultando-se ao juiz da ação civil sua suspensão até que se resolva o processo penal. O que importa para o sobrestamento da ação civil é a existência de questões que serão resolvidas na motivação da sentença penal (por exemplo, materialidade e autoria do crime, presença de excludentes de ilicitude) e que poderão influenciar a formação do convencimento do juiz na esfera cível. A depender da classificação, a prejudicialidade ora analisada será heterogênea (jurisdicional ou perfeita), porque envolve ações de competência de diferentes seções especializadas do Poder Judiciário.

Existe divergência doutrinária a respeito da obrigatoriedade ou facultatividade dessa suspensão. Enquanto doutrinadores entendem ser uma faculdade do juiz cível, outros defendem a obrigatoriedade sempre que presentes as hipóteses de vinculação do juízo civil à sentença penal. O Superior Tribunal de Justiça já teve a oportunidade de decidir que nos casos em que possa ser comprovado, na esfera criminal, a inexistência de materialidade ou da autoria do crime, tornando impossível a pretensão ressarcitória cível, será obrigatória a paralisação da ação civil.

De qualquer forma, tendo sido suspenso o processo na esfera cível, as partes serão intimadas dessa decisão, contando-se a partir do primeiro dia útil subsequente um prazo de 3 meses para a propositura da ação penal, sem o que cessará a suspensão, cabendo ao juiz cível examinar incidentalmente a questão prévia.

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Diante da omissão do art. 110 do CPC/1973, criou-se notável divergência doutrinária a respeito do tempo de duração do sobrestamento: para uns, o juiz cível, diante de demora irrazoável de definição na esfera penal, poderia cessar o sobrestamento, enquanto para outros, o sobrestamento deveria durar até o trânsito em julgado da ação penal. A divergência foi resolvida pelo § 2º do art. 315 do Novo CPC ao prever que o prazo máximo de suspensão nesse caso é de um ano, a exemplo do que ocorre com a prejudicialidade externa com outro processo na esfera cível (art. 313, § 4º, do Novo CPC).

13.3. Extinção do processo

13.3.1. Extinção do processo

Nos termos do art. 316 do Novo CPC, a extinção do processo dar-se-á por meio de sentença. Na realidade, o dispositivo desconsiderou os processos de competência originária dos tribunais, que serão extintos por decisão monocrática do relator ou por acórdão. Sentença, afinal, é ato processual privativo do primeiro grau, e nem todo processo é competência do primeiro grau.

Superado esse equívoco, é preciso dizer que o dispositivo está correto, não existindo outra forma de se extinguir o processo que não por meio de sentença, mas também é preciso dizer que nem toda sentença extingue o processo, já que naquelas que dependem de atos subsequentes para a satisfação do direito nelas reconhecidos (condenatória, executiva e mandamental), a sentença não extingue o processo, mas apenas a fase procedimental de conhecimento.

13.3.2. Impropriedade do termo “extinção parcial do processo”

Apesar de rotineiramente utilizada na praxe forense, a expressão “extinção parcial do processo” é inadequada, tratando um conceito jurídico absoluto de forma equivocada. Falar em extinção parcial do processo é o mesmo que afirmar que uma mulher pode estar meio grávida ou que um funcionário público é meio honesto. A mulher está ou não grávida, o funcionário público é ou não honesto, o processo é ou não extinto.

O que pode ocorrer é a diminuição objetiva ou subjetiva do processo, como ocorre, por exemplo, na exclusão de pedido para o qual o juízo é absolutamente incompetente e na exclusão de litisconsorte do processo por ilegitimidade de parte. Nesse caso, o processo é diminuído em termos objetivos ou subjetivos, e justamente por isso as decisões são interlocutórias e não sentenças. Se realmente houvesse extinção parcial do processo, teríamos que admitir sentenças também parciais, o que é refutado pelo Novo Código de Processo Civil.

A distinção entre diminuição objetiva ou subjetiva de demanda e a incorreta expressão “extinção parcial do processo” é importante porque evita qualquer dúvida a respeito da natureza da decisão e, por consequência, quanto ao recurso cabível.

13.3.3. Princípio da cooperação e extinção do processo por sentença terminativa

O processo (ou fase) de conhecimento foi projetado pelo legislador para resultar em um julgamento de mérito. Por essa razão, essa espécie de julgamento é considerada o fim normal dessa espécie de processo ou fase procedimental. Naturalmente nem sempre isso é possível no caso concreto, devendo o sistema conviver com o fim anômalo do processo ou fase de conhecimento, que se dá por meio da sentença terminativa (art. 485 do Novo CPC). Esse fim anômalo, portanto, deve ser evitado sempre que possível.

Por outro lado, o princípio da cooperação consagrado no art. 6º do Novo CPC cria um dever de prevenção ao juiz, apontando às partes eventuais deficiências e permitindo suas devidas correções, evitando-se assim a declaração de nulidade, dando-se ênfase ao processo como genuíno mecanismo técnico de proteção de direito material.

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Na conjugação do interesse no julgamento do mérito e no princípio da cooperação é criado o art. 317 do Novo CPC, ao prever que antes de proferir sentença terminativa cabe ao juiz conceder à parte oportunidade, sempre que possível, de corrigir o vício. Como se pode notar da própria leitura do dispositivo, sendo o vício insanável, de nada adiantará dar oportunidade ao autor para saneá-lo, sendo nesse caso necessária, embora não desejada, a prolação da sentença terminativa (art. 485 do Novo CPC).

13.3.4. Reconhecimento jurídico do pedido

Essa espécie de resposta do réu é bastante rara na praxe forense, consubstanciando-se na expressa declaração do réu de concordância com a pretensão do autor. É ato de total disposição de direito, pelo qual o réu concorda tanto com os aspectos fáticos como com os aspectos jurídicos narrados pelo autor em sua petição inicial. A consequência de um reconhecimento jurídico do pedido é a extinção do processo por meio de sentença homologatória de mérito (art. 487, III, “a”, do Novo CPC), desde que abranja toda a pretensão do autor ou, ainda, o julgamento antecipado parcial de mérito (art. 356 do Novo CPC).

Não se confunda confissão com reconhecimento jurídico do pedido, porque a confissão atinge somente os fatos que em regra serão dados como verdadeiros pelo juiz; ainda que a confissão não seja prova plena, é comum que baste para a formação do convencimento do juiz. Mesmo convencido dos fatos, a aplicação do direito poderá ser contrária ao favorecido pela confissão, sendo incorreto imaginar que a confissão é apta, por si só, a produzir a vitória da parte beneficiada por ela. Por outro lado, o reconhecimento jurídico do pedido abrange tanto as questões de fato quanto as questões de direito, em integral submissão do réu à pretensão do autor. Nesse caso, independentemente de qualquer outra análise, o juiz homologa a manifestação de vontade do réu, sendo certa a vitória do autor.

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(Fonte: Neves, Daniel Assumpção Amorim, Manual de Direito Processual Civil. Salvador: Editora Juspodivm, 2016.)

15. PETIÇÃO INICIAL

Sumário: 15.1. Introdução – 15.2. Requisitos estruturais da petição inicial – 15.2.1. Juízo singular ou colegiado a que é dirigida a petição inicial – 15.2.2 Indicação das partes e sua qualificação – 15.2.3. Os fatos e os fundamentos jurídicos do pedido – 15.2.4. Pedido – 15.2.5. Valor da causa – 15.2.6. Provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados – 15.2.7. Opção do autor quanto à realização da audiência de conciliação ou de mediação – 15.3. Documentos indispensáveis à propositura da demanda.

15.1. Introdução

O princípio da inércia da jurisdição impede que o juiz inicie um processo de ofício, devendo aguardar a manifestação da parte interessada, sendo extremamente excepcional a exceção a essa regra, conforme analisado no Capítulo 1, item 1.4.3. A forma de materializar o interesse em buscar a tutela jurisdicional é a petição inicial, conceituada pela melhor doutrina como peça escrita no vernáculo e assinada por patrono devidamente constituído em que o autor formula demanda que virá a ser apreciada pelo juiz, na busca de um provimento final que lhe conceda a tutela jurisdicional pretendida.

A petição inicial tem duas funções: uma de provocar a instauração do processo e outra de identificar a demanda, decorrência natural da necessidade de menção às partes, causa de pedir e pedido. Essa segunda característica da petição inicial – indicar os elementos da ação – gera alguns interessantes efeitos processuais:

a) permite a aplicação do princípio da congruência, indicando os limites objetivos e subjetivos da sentença;

b) permite a verificação de eventual litispendência, coisa julgada ou conexão, quando comparada com outras ações;

c) fornece elementos para a fixação da competência;

d) indica desde logo ao juiz a eventual ausência de alguma das condições da ação;

e) pode vir a influenciar na determinação do procedimento.

Por tratar-se de peça que inicia o processo, permitindo o seguimento do procedimento mediante a citação do réu, e gerando todos os efeitos referidos, a lei processual exige que tal peça preencha alguns requisitos formais, o que torna a petição inicial um ato processual solene. A ausência de quaisquer deles pode gerar uma nulidade sanável ou insanável, sendo na primeira hipótese caso de emenda da petição inicial e, na segunda, de indeferimento liminar de tal peça.

15.2. Requisitos estruturais da petição inicial

O artigo legal que primordialmente trata dos requisitos estruturais da petição inicial é o art. 319 do Novo CPC. Além desse dispositivo legal, também o art. 106, I, do Novo CPC indica outro requisito estrutural essencial para a regularidade da petição inicial: o endereço do patrono que a subscreve. Nesse tocante, cumpre esclarecer que a indicação do endereço em papel timbrado, nota de rodapé, ou na procuração, cumpre perfeitamente a exigência formal. Nas excepcionais hipóteses de dispensa do advogado esse requisito não será exigido.

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15.2.1. Juízo singular ou colegiado a que é dirigida a petição inicial

O primeiro requisito previsto pelo art. 319 do Novo CPC, e que constará no topo da primeira página da petição inicial, é o juízo a que esta é dirigida. Sendo a primeira peça do processo, necessária é a indicação do juízo que a receberá nesse primeiro momento procedimental. A indicação do destinatário da petição – reconhecendo-se tanto a ação originária de primeiro grau como a de competência originária de Tribunal – é necessária para a remessa da petição inicial e formação dos autos perante o órgão pretensamente competente para o conhecimento da demanda.

Há melhora na redação do dispositivo quando comparado com o inciso I do art. 282 do CPC/1973, que previa o endereçamento para “juiz ou tribunal”. Como a indicação jamais será pessoal, mesmo quando a petição inicial for “distribuída por dependência”, ou ainda em comarcas de vara única com somente um juiz, exigindo-se a indicação do juízo, e não do juiz (consequência do caráter impessoal do Poder Judiciário), a nova redação deve ser elogiada.

Ainda que seja possível identificar o juiz que receberá a demanda, não será ele indicado no endereçamento, e sim o juízo que representa. Mesmo sabendo-se que será exatamente aquele juiz específico que receberá a petição inicial distribuída por dependência, não é correta a indicação pessoal do juiz. Apesar de incorreto do ponto de vista técnico, a indicação pessoal do juiz nos casos em que isso for possível – distribuição por dependência e comarcas com apenas um juiz – desde que acompanhada pela indicação do juízo, gera mera irregularidade, não produzindo efeitos significativos no processo.

15.2.2. Indicação das partes e sua qualificação

Deve constar da petição inicial a qualificação das partes, com indicação de nome completo, estado civil, profissão, domicílio e residência, o número do cadastro de pessoas físicas ou do cadastro nacional de pessoas jurídicas, o endereço eletrônico e a existência de união estável. Tais elementos identificadores se prestam a duas funções principais: permitir a citação do réu e a individuação dos sujeitos processuais parciais, o que se mostrará importante para distingui-los de outros sujeitos e fixar com precisão os limites subjetivos da demanda e da futura e eventual coisa julgada material.

Diante das razões justificadoras para a indicação de tais dados, o que importa na análise do preenchimento do requisito é se a irregularidade ou mesmo a ausência de algum deles gera alguma espécie de prejuízo ao réu ou ao processo. Sem a comprovação de efetivo prejuízo, não haverá nulidade, aplicando-se ao caso o princípio da instrumentalidade das formas. A indevida troca de um nome por outro é mera irregularidade, podendo ser corrigida a qualquer tempo, se o verdadeiro réu recebe a citação e contesta regularmente a demanda. O mesmo ocorre com os dados pessoais do réu, que nem sempre serão de amplo conhecimento do autor.

A indicação do estado civil das partes é importante em razão de normas processuais que exigem a presença de ambos os cônjuges em determinadas ações (art. 73, §§ 1.º e 2.º, do Novo CPC – ações reais imobiliárias), ou ainda o consentimento do cônjuge não litigante. Esse pressuposto processual poderá ser analisado à luz da petição inicial quando houver a exata indicação do estado civil das partes.

A indicação do endereço eletrônico suscita algumas questões: (i) nem todos os litigantes têm endereço eletrônico; (ii) haverá real dificuldade do autor em saber o endereço eletrônico do réu; (iii) caso o autor omita essa informação, como o juiz saberá se ele tem ou não endereço eletrônico?

Também a indicação de existência de união estável suscitará dúvidas, em especial quando a união estável não estiver reconhecida por contrato registrado ou sentença judicial. Nesse caso, é natural imaginar que o autor não tenha como indicar a existência de união estável do réu. Por outro lado, a mera indicação do autor de que mantém uma união estável já será o suficiente para assim ser considerado pelo juiz? Acredito que nesse caso o companheiro (a) deve concordar expressamente nos autos com tal estado civil, porque, havendo divergência, não parece ser legítimo criar um incidente processual para essa discussão apenas

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para legitimar a indicação feita à luz do art. 319, II, do Novo CPC. Afinal, o dispositivo se limita a exigir a indicação, não impondo a efetiva existência da união estável indicada na petição inicial.

Em algumas situações o autor não terá acesso às informações exigidas pela lei, mas pode contribuir com outras, ao menos para permitir a citação do réu. Pode-se imaginar a indicação de locais onde a pessoa possa ser encontrada, como o local em que comumente desfruta seus momentos de lazer (bar, restaurante, clube social, parques etc.) ou ainda em que exerça função ou profissão (escritório, consultório, empresa etc.). Outra circunstância possível é a indicação do apelido do réu, ou seja, a forma como ele é conhecido na sociedade à qual pertence (p. ex., “camarão”, “alemão”, “bigode” etc.), o que poderá auxiliar o oficial de justiça a localizá-lo.

Conforme já indicado, o trabalho do patrono do autor nem sempre é fácil na indicação dos requisitos previstos pelo art. 319, II, do Novo CPC, considerando-se que nem sempre saberá com exatidão todos os dados do réu demandados pela lei. A indicação de informações não previstas em lei pode ser de extrema utilidade, ao menos para permitir que a citação seja realizada, restando ao próprio réu, em sua contestação ou qualquer outra espécie de resposta, regularizar sua qualificação, com a indicação de dados que faltaram à petição inicial por desconhecimento do autor.

Nos parágrafos do art. 319 do Novo CPC, o legislador demonstrou sua preocupação com a dificuldade do autor em qualificar o réu. Nos termos do § 1.º, o autor poderá requerer ao juiz diligências necessárias à obtenção das informações exigidas pela lei. No § 2.º há previsão no sentido de não ser caso de indeferimento da petição inicial a ausência de dados do réu, desde que seja possível sua citação, ficando assim consagrado o entendimento doutrinário já exposto. Finalmente, o § 3.º prevê que a petição inicial não será indeferida pelo não atendimento ao disposto no inciso II do art. 319, se a obtenção de tais informações tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça. O dispositivo é feito sob medida para hipótese de réus incertos, como nas ações possessórias movidas contra multidão de pessoas responsáveis pela agressão à posse.

Mesmo sob a égide do CPC/1973 já se considerava como exceção à regra prevista pelo inciso ora em comento a existência de litisconsórcio passivo multitudinário, que exige do autor a colocação no polo passivo da demanda de número considerável de pessoas (uma verdadeira multidão). E o clássico exemplo sempre foi o das ações possessórias decorrentes de esbulho por grupos de pessoas. Nessas situações, sem conseguir responsabilizar o “órgão” ou “entidade” à qual pertencem os invasores – já que esses maliciosamente evitam se constituir em pessoas jurídicas – seria nítida ofensa ao princípio do acesso à justiça exigir do autor a perfeita identificação e qualificação de cada um dos réus, ou ainda a indicação de suas profissões e residências. A solução é permitir a indicação de algumas pessoas que o autor consiga identificar ou ainda do líder do movimento, se identificável, em nítida mitigação do dispositivo legal.

O Novo Código de Processo Civil trata da ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas nos §§ 1º e 2º do art. 554, mas curiosamente não regulamenta a flexibilização da qualificação dos réus nesse caso, preocupando-se apenas com a forma pela qual a citação deve ser realizada. Conforme analisado no Capítulo 28, item 28.8.3., será feita a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais, sendo que, para fim da citação pessoal, o oficial de justiça procurará os ocupantes no local por uma vez e os que não forem identificados serão citados por edital.

Por fim, ainda que se reconheça a existência de dificuldades na indicação de todos os dados exigidos pela lei quanto ao réu, o mesmo não ocorre relativamente ao autor, dado que este é o sujeito responsável pela contratação do patrono que elabora a petição inicial. Somente um desconhecimento considerável da lei ou a má-fé em omitir determinado dado podem explicar uma qualificação deficitária do autor, não se devendo admitir que a demanda prossiga com tal irregularidade. Será caso de emenda da petição inicial em 15 dias (art. 321 do Novo CPC), seguida de indeferimento (art. 330, IV, do Novo CPC) se o vício não for sanado.

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15.2.3. Os fatos e os fundamentos jurídicos do pedido

Apesar de o art. 319, III, do Novo CPC indicar como requisito da petição inicial “o fato” no singular, e os “fundamentos jurídicos do pedido” no plural, é pacífico o entendimento que a petição inicial pode perfeitamente ter um ou mais fatos e um ou mais fundamentos jurídicos. Trata-se da apresentação fática – causa de pedir próxima – e das consequências jurídicas que o autor pretende que tais fatos tenham no caso concreto – causa de pedir remota. Considerando que dos fatos nasce o direito, cumpre ao autor narrá-los e demonstrar a razão jurídica para que, em decorrência desses fatos, seja merecedor da tutela jurisdicional pretendida. A causa de pedir é tema tratado no Capítulo 2, item 2.3.4.

Registre-se que a exigência da narrativa dos fatos constitutivos do direito do autor já em sua petição inicial se limita aos fatos jurídicos, também chamados de fatos principais. Ainda que seja recomendável a narrativa também dos fatos simples, também chamados de fatos secundários, estes não fazem parte da causa de pedir, de forma que podem ser levados ao processo depois do momento inicial de propositura da demanda.

15.2.4. Pedido

O Poder Judiciário não pode servir como mero órgão consultivo, devendo sempre ser chamado à atuação para entregar ao autor o que este pretender receber. Dessa forma, é requisito essencial da petição inicial a indicação de sua pretensão jurisdicional. O pedido pode ser analisado sob a ótica processual, conhecido como pedido imediato, representando a providência jurisdicional pretendida – condenação, constituição, mera declaração – e sob a ótica material, conhecido como pedido mediato, representado pelo bem da vida perseguido, ou seja, o resultado prático (vantagem no mundo prático) que o autor pretende obter com a demanda judicial.

Enquanto o autor pode pleitear diversas tutelas jurisdicionais diferentes e incalculáveis bens da vida, o réu, ao contestar a pretensão do autor, fará sempre o mesmo pedido: sentença de improcedência (sentença declaratória da inexistência do direito material alegado pelo autor). Em razão dessa circunstância se justifica que a sentença – desde que de improcedência e em demanda que não seja declaratória – possa ser de natureza diversa da natureza da demanda, fixada pelo pedido imediato do autor.

As considerações sobre as características do pedido são realizadas no Capítulo 2, item 2.3.3.

15.2.5. Valor da causa

O art. 291 do Novo CPC estabelece que “a toda causa será atribuído um valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico imediatamente aferível”. Desse modo, ainda que o bem material objeto da pretensão do autor não tenha um valor economicamente aferível, é necessária a indicação de valor à causa, ainda que seja calculado de forma meramente estimativa.

A exigência de atribuição ao valor da causa decorre de diversos reflexos que esse requisito gera sobre o processo:

a) determinação de competência do juízo segundo as leis de organização judiciária, como a fixação de competência dos “Foros Regionais”;

b) definição do rito procedimental (comum e sumaríssimo);

c) recolhimento das taxas judiciárias;

d) fixação do valor para fins de aplicação de multas, no caso de deslealdade ou má-fé processual, que sempre leva em conta o valor da causa, seja para fixá-las em percentual desse valor, seja para desprezá-las quando o valor da causa for irrisório ou inestimável;

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e) fixação do depósito prévio na ação rescisória no valor correspondente a 5% do valor da causa (do processo originário – art. 968, II, do Novo CPC);

f) nos inventários e partilhas o valor da causa influi sobre a adoção do rito de arrolamento.

É um erro, até certo ponto comum, afirmar-se que uma das razões para que toda causa tenha um valor é a condenação em honorários advocatícios. Tal afirmação é incorreta porque o sistema processual disponibiliza outros critérios além do valor da causa para tal fixação, de forma que, mesmo que a causa não tivesse valor não haveria impedimento ao juiz para a fixação dos honorários advocatícios valendo-se desses outros critérios, devidamente analisados no Capítulo 5, item 5.5.

A lei pode expressamente prever uma regra específica a respeito do valor da causa de determinadas ações judiciais, sendo nesse caso afirmado que existe um critério legal ao valor da causa. O art. 292 do Novo CPC indica as regras específicas para o cálculo do valor da causa.

No inciso I está previsto o valor da causa nas ações de cobrança de dívida: a soma monetariamente corrigida do principal, dos juros de mora vencidos e de outras penalidades, se houver, até a data da propositura da ação. Apesar de o dispositivo prever os juros de mora, havendo no caso concreto juros compensatórios são esses que devem ser considerados para o cálculo do valor da causa.

Quando o litígio tiver por objeto a existência, validade, cumprimento, modificação, resolução, resilição ou rescisão de ato jurídico, o inciso II do dispositivo ora comentado prevê que o valor da causa será o valor do ato ou o de sua parte controvertida. A possibilidade de valor da causa em quantia inferior ao valor do ato, quando o objeto da demanda não corresponder à sua integralidade, é novidade do Novo Código de Processo Civil que vem ao encontro da jurisprudência formada sob a égide do CPC/1973, mesmo sem previsão expressa nesse sentido.

O inciso III mantém a regra de ser o valor da causa na ação de alimentos a soma de doze prestações mensais pedidas pelo autor.

Na ação de divisão, de demarcação e de reivindicação, o valor da causa será o valor de avaliação da área ou bem objeto do pedido, substituindo-se, assim, a estimativa oficial para lançamento do imposto como critério para a fixação do valor da causa, como previsto no inciso VII do art. 259 do CPC/1973.

O novo diploma processual nesse caso buscou prestigiar um valor mais próximo do real, mas criou uma dificuldade ao autor porque sugere que caberá a ele a contratação de um perito para elaboração de avaliação sobre o valor do imóvel ou bem. Essa exigência, entretanto, contraria o princípio da economia processual porque o laudo, elaborado unilateralmente, violará o contraditório e se prestará tão somente para a fixação do valor da causa. Não tem sentido exigir que o autor dispenda dinheiro e tempo com uma avaliação tão somente para fixação do valor da causa, de forma que a iniciativa do legislador, apesar de nobre, cria uma nova espécie de pedido genérico e valor da causa a ser fixado a gosto do autor, devendo ser corrigida quando for realizada a avaliação judicial.

Há um ponto importante nesse tocante. Em razão do disposto no § 1º, II do art. 330 do Novo CPC, é inepta a petição inicial quando formulado pedido genérico quando a lei exigir o pedido determinado. Trata-se, à evidência, de um exagero formal que contraria o espírito no novel diploma legal, transformando inexplicavelmente um vício manifestamente sanável em insanável. De qualquer forma, será um grande risco a parte nas ações de divisão, demarcação e reivindicação elaborar o pedido genérico diante da exigência do inciso IV do art. 292 do Novo CPC.

Em termos de novidades quanto ao tema ora analisado, parece não haver dúvida de que a principal está contida no inciso V do art. 292 do Novo CPC. Nas ações indenizatórias, inclusive as fundadas em dano moral, o valor da causa deve ser o valor pretendido. Ao tornar o pedido de dano moral em espécie de

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pedido determinado, exigindo-se do autor a indicação do valor pretendido, o dispositivo contraria posição consolidada do Superior Tribunal de Justiça de admitir nesses casos o pedido genérico, ainda que exista corrente doutrinária que defenda que o pedido de dano moral pode continuar a ser genérico.

Quanto à cumulação de pedidos, o inciso VI do art. 292 do Novo CPC prevê que cabe ao autor somar o valor de todos os pedidos para se chegar ao valor da causa. A regra, entretanto, só se aplica as duas espécies de cumulação própria de pedidos (simples e sucessiva), já que nessas cumulações o autor pode receber todos os pedidos que elabora, sendo lógico que o valor da causa represente todo o benefício econômico alcançável pelo autor.

Por outro lado, na cumulação imprópria, em que o autor só pode receber um dos pedidos que formula, não teria sentido aplicar a regra geral. Assim, sendo alternativos os pedidos, prevê o inciso VII do artigo ora analisado que o valor da causa será o do pedido de maior valor e o inciso VIII prevê que na cumulação subsidiária o valor da causa será o valor do pedido principal.

Não sendo hipótese de aplicação do critério legal caberá ao autor descobrir o valor referente à vantagem econômica que se busca com a demanda judicial. Basta verificar o valor econômico do bem da vida material perseguido e indicá-lo como valor da causa. Não tendo o bem da vida valor econômico ou sendo esse valor inestimável, caberá ao autor dar qualquer valor à causa, sendo nesse caso comum a utilização na praxe forense da expressão “meramente para fins fiscais”, seja lá o que isso realmente signifique.

Registre-se que, havendo cumulação de pedidos, sempre que o valor da causa para um deles for regido pelo critério legal ou tiver valor economicamente aferível e para o outro for causa de valor da causa meramente estimativo, o valor da causa da ação será tão somente o do primeiro pedido. A indicação de qualquer valor à causa só se justifica quando não há alternativa para o autor, o que não será o caso na situação exposta.

Edison ingressa com ação judicial pleiteando a condenação de Jussara ao pagamento de danos morais e matérias. Com relação aos danos morais, Edison faz pedido genérico, deixando ao juízo o arbitramento do valor, e com relação aos danos materiais Edison faz pedido determinado para reparação de seu prejuízo, que entende ter sido de R$ 5.000,00. O valor da causa será de R$ 5.000,00, não sendo preciso se somar a esse valor algum outro, meramente estimativo, somente para deixar claro que também se está pedindo condenação de Jussara ao pagamento de danos morais.

15.2.6. Provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados

Caso os operadores do direito levassem mais a sério a regra prevista no art. 319, VI, do Novo CPC, que se limita a repetir o mesmo inciso do art. 282 do CPC/1973, as petições iniciais viriam, a exemplo do que ocorria no extinto procedimento sumário, com a devida especificação de provas (assim, por exemplo, o autor já indicaria quais as testemunhas que pretende ouvir ou ainda os quesitos de perícia requerida). Acontece, entretanto, que atualmente o dispositivo legal não encontra tal aplicação, bastando ao autor a indicação genérica de todos os meios de prova em direito admitidos, para que o requisito seja considerado preenchido. E nada indica que tal entendimento será modificado diante do Novo Código de Processo Civil.

Tal prática, já arraigada em nossa praxe forense, enseja ao juiz, na fase de saneamento do processo, a prolação de despacho para que as partes especifiquem as provas que pretendem produzir, indicando e justificando os meios de prova requeridos. É medida tomada pelos juízes justamente em decorrência da generalidade do protesto realizado na petição inicial, sendo bastante improvável – para não dizer impossível – que a parte no momento em que é instada a especificar provas requeira todos os meios de prova admitidos.

Há doutrina que entende ser completamente inútil a exigência legal, afirmando não se poder entender que a ausência de requerimento de provas na petição inicial gere preclusão para o autor. Nesse entendimento,

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mesmo não tendo feito pedido de provas na petição inicial, a partir do momento em que o juiz intima as partes para a especificação de provas, poderá o autor livremente as requerer. O mesmo raciocínio seria aplicado ao réu quanto à exigência de requerer a produção de provas em contestação (art. 336 do Novo CPC). O Superior Tribunal de Justiça entende que, mesmo tendo sido realizado o pedido genérico na petição inicial (autor) ou contestação (réu), haverá preclusão da prova na hipótese de a parte não reiterar sua vontade de produzi-las no momento em que for intimada para especificá-las.

Ainda que se entenda correto o entendimento que aponta a exigência do art. 319, VI, do Novo CPC uma “ridícula inutilidade”, entendo ser interessante o requerimento genérico na petição inicial (bem como na contestação), não para evitar a preclusão, mas para permitir a alegação de cerceamento de defesa na hipótese de julgamento antecipado da lide. Em minha visão, o autor que deixa de pedir provas em sua petição inicial permite ao juiz um julgamento antecipado da lide, sem que possa em grau recursal alegar cerceamento de defesa, visto que nada requerendo em termos de produção probatória permite ao juiz o julgamento imediato, sem a necessidade de produção de provas.

15.2.7. Opção do autor quanto à realização da audiência de conciliação ou de mediação

Nos termos do art. 319, VII, do Novo CPC, cabe ao autor a indicação, em sua petição inicial, de requerimento para a realização ou não da audiência de conciliação ou de mediação. Conforme devidamente analisado no Capítulo 17, item 17.5., o momento mais adequado para o autor expressar sua vontade contrária à realização de tal audiência é a petição inicial. Como a audiência só não será realizada se a vontade de ambas as partes for nesse sentido, havendo na petição inicial o requerimento de sua realização, a postura do réu torna-se inútil, porque mesmo não querendo a realização da audiência dela não conseguirá se livrar.

Entendo que não havendo qualquer manifestação de vontade do autor, em descumprimento ao previsto no inciso ora analisado, não é caso de irregularidade da petição inicial e tampouco de hipótese de emenda da petição inicial. A realização da audiência de conciliação e de mediação é o procedimento regular, cabendo às partes se manifestarem contra sua realização, de forma que sendo omissa a petição inicial, compreende-se que o autor não se recusa a participar da audiência, que assim sendo será regularmente realizada.

Como o art. 334, § 4º, II, do Novo CPC, exige a manifestação de ambas as partes para que a audiência de conciliação e mediação deixe de ocorrer, mesmo que o autor peça sua não realização em sua petição inicial, o réu será citado para comparecer a tal audiência, nos termos do caput do art. 334 do Novo CPC, salvo se o direito não admitir a autocomposição, quando a vontade das partes será irrelevante. Nesse caso, mesmo que o réu não queira a realização da audiência, provavelmente deixará de expressar essa vontade porque não tendo o autor em sua petição inicial se manifestado no mesmo sentido, de nada valerá sua discordância.

De qualquer forma, é possível que o réu, mesmo diante da omissão do autor em sua petição inicial quanto à vontade de não participar da audiência de conciliação e mediação, se manifeste contrariamente à sua realização, pedindo seu cancelamento. Entendo que, nesse caso, não há que se falar em preclusão temporal para a concordância do autor com a não realização da audiência, de forma que, mesmo não tendo se manifestado nesse sentido em sua petição inicial, poderá fazê-lo posteriormente.

15.3. Documentos indispensáveis à propositura da demanda

Determina o art. 320 do Novo CPC que a petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da demanda. A ausência de tais documentos enseja a possibilidade de emenda da petição inicial, considerando-se que o vício gerado pela não juntada de tais documentos é sanável. Caso o autor não tenha acesso a tais documentos, o juiz poderá requisitá-los, de ofício ou a pedido do autor, no exercício de seus “poderes” instrutórios.

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Não ocorrendo a emenda com a juntada dos documentos indispensáveis à propositura da demanda, a petição inicial será indeferida (art. 330, IV, do Novo CPC). Caso o juiz só perceba a ausência de tais documentos após a citação do réu, não mais se admitirá o indeferimento da petição inicial, que deve ocorrer sempre liminarmente, mas diante da resistência do autor em não juntar aos autos tais documentos, o processo deve ser extinto sem resolução de mérito por falta de pressuposto processual (art. 485, IV, do Novo CPC).

Documentos indispensáveis à propositura da demanda são aqueles cuja ausência impede o julgamento de mérito da demanda, não se confundindo com documentos indispensáveis à vitória do autor, ou seja, ao julgamento de procedência de seu pedido. Esses são considerados documentos úteis ao autor no objetivo do acolhimento de sua pretensão, mas, não sendo indispensáveis à propositura da demanda, não impedem a continuidade da demanda, tampouco a sua extinção com resolução do mérito. Numa demanda de divórcio, a certidão de casamento é um documento indispensável à propositura da demanda, porque sem esse documento é impossível o julgamento de mérito, o mesmo não se podendo dizer de um documento que comprove o adultério do cônjuge, que pode ser importante para a parte que o apresente em juízo, mas cuja ausência não impedirá o julgamento de mérito da demanda.

Registre-se que o Superior Tribunal de Justiça já permitiu o ingresso de ação revisional de contrato mesmo que o autor não apresente com a petição inicial uma cópia do contrato que se busca rever. É interessante porque, na sociedade massificada em que vivemos, com ampla presença dos contratos de adesão, é possível a elaboração de uma petição inicial nesse tipo de ação sem a necessidade de sua instrução com cópia do contrato celebrado entre as partes. Diante dessa nova realidade, o Superior Tribunal de Justiça entende pela viabilidade do pedido de exibição do contrato, ao invés de ser elaborado por meio de ação cautelar precedente de exibição de documento, seja elaborado incidentalmente, ainda que continue a acreditar ser o contrato documento indispensável à propositura da ação.

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F O RMA Ç Ã O DO P R O C E S SO E P E T I Ç Ã O I N I C I A L

O rdem dos Advogados do B ras i l e a soc i edade de advogados da q ua l part i c i pa; se não fo r s u p rida a om i ssão n o p razo de c i n co d i as, a pet i ção será i n defe r ida (art. 1 06, § 1 °, CPC) .

O art . 32 1 é regra gera l q ue auto r iza o j u iz a determ i nar a emenda da petição i n ic ia l , para a co rreção de víc ios sanáveis, n o p razo de q u i nze d ias, tam bém sob pena de i n defer i mento .

6. PED IDO

6.1 . Conceito e d ivisão

O ped ido é o n úc leo da pet i ção i n i c ia l; a p rovidên c ia q u e se pede ao Poder j ud i c iár io ; a p reten são mater ia l deduz ida em j u ízo (e q ue, po rtanto, v i ra a p reten são p rocessual) ; 4s a conseq uência j u ríd ica (eficácia) q u e se p retende ve r rea l i zada pe la ativi dade j u ri sd i c i ona l . É , como d ito, o efe ito j u ríd i co do fato j u ríd ico posto como causa de ped i r.

"O petitum é o q u e se pede, não o fundamento o u a razão de pedir, a causa petendi. É o obj eto i m ed iato e med iato da demanda. Aí está o motivo da d i scórdia, q u e o j u iz vai desfazer, dec larando quem está com a verdade" .46

Com o u m dos e l ementos obj et ivos da demanda (j u nto com a causa de ped i r), o ped ido tem i m portânc ia fundamenta l na atividade p rocessua l .

Em p ri me i ro l ugar, o ped ido b i to la a p restação j u ri sd i c i onal , que não poderá se r extra, u ltra ou infra/citra petita, confo rme p rescreve a regra da congruênc ia (arts . 14 1 e 492 do CPC) . Se rve o ped ido tam bém como e l emento de i den tif i cação da demanda, para fi m de ver if i cação da ocorrênc ia de conexão, l i t i s pendênc ia ou co isa j u lgada. O ped ido é, f i na lmente, o p r i nc i pa l parâmetro para a fixação do valo r da causa (art . 2 9 2 d o CPC)Y

É possíve l d i st i n gu i r, n o ped ido , um objeto imedia to e um obj eto media to . 48 Pedido imedia to é a p rovidênc ia j u ri sd i c iona l q u e se p retende : a condenação, a exped i ção de o rdem, a const i tu i ção de nova s i tuação j u ríd i ca, a tomada de p rovi ­dên cias executivas, a dec laração etc. O pedido media to é o bem da v ida, o resu ltado p ráti co q u e o demandante espera con segu i r com a tomada daque la p rovidên c ia . Essa d i st i n ção tem algu m re levo.

45 . ASSIS, Araken de . Cumulação de ações, p . 1 5 3 - 1 54. 46. MI RAN DA, Franc isco Cavalcant i Pontes de. Comentários ao Códi30 de Processo Civil, t. 4, p . 34. 47 . MORE IRA, José Carlos Barbosa, O novo processo civil brasileiro, p . 1 0- 1 1 . 48. MORE I RA, ] osé Carlos Barbosa. O novo processo civil brasileiro, p . 1 0 .

565

fplalmeida
Realce
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F R E D I E DI D I E R J R .

O ped ido imed iato será sem p re dete rm i n ado; já o m ed iato pode s e r re lativa­

men te i n dete rm i nado (ped ido gené ri co - a rt . 324 e i n c isos do CPC) .

Em re lação ao pedido med iato, ap l i ca-se a regra da congruên cia, q u e, de resto, deco rre da garant ia const i tuc iona l do contraditór io ; o magistrado não pode alte rar o bem da v ida p retend ido pe lo demandante . Essa é a regra.

A q uestão, entretanto, não é tão s imp les. À luz do art . 461 do CPC-1 973 , correspondente ao art. 536 do CPC atua l , há q uem defenda q ue "o j u i z está auto rizado, desde q ue res peitados os l i m ites da ob ri gação or ig inár ia, a i m por o fazer o u o não fazer ma is adeq uado à s i tuação concreta q ue l he é apresentada para j u lgamento" .49 Sobre o tema, conferi r o v. 5 deste Curso50•

6.2. Requisitos

O ped ido há de ser certo (art. 3 22 , CPC), determinado (art. 3 24, CPC), claro (art. 3 30, § 1 o, 1 1 , CPC) e coerente (art. 3 30, § 1 o, IV, CPC).

Ped ido certo é ped ido exp resso .�'

Com o será exam i nado ad iante, não se ad m ite, com o regra, o ped ido i m p líc ito. " Não se ad m ite, a teo r da me l ho r técn i ca, pedido obscu ro, dúbio e vago, su bst ituí­do, parc ia l ou i n tegral m ente, at ravés de expressões e l ípt i cas, por exem p lo , conde­na r o réu ' n o que coube r' ou , ai nda, ' n o q ue rep utar j u sto' , e out ras, i nfe l i zmente com u ns"Y Tanto o pedido mediato q uanto o pedido imedia to devem ser certos .

Ped ido determinado é aq ue le de l im itado em re lação à q ua l idade e à q uant ida­de . Ped ido dete rm i nado se cont rapõe ao ped ido gené ri co, logo abaixo exam i nado .

O ped ido tem tam bém de ser claro, in teli3ível. Ped ido q ue ten h a s ido fo rmu ­l ado de mane i ra pouco c lara i m p l i ca i népc ia da pet ição i n ic ia l , consoante já exam i ­nado .

O ped ido há, e nfi m , de se r coeren te, ou seja, deve ser conseq uênc ia j u ríd ica p revi sta para a causa de ped i r aduz ida . 5 3 Ped ido que não deco rre da causa de ped i r i m p l i ca i n é pc ia da peti ção i n ic ia l , tam bém como já exam i nado . 54

49. MAR I NON I , Luiz Gu i l he rme . Tutela inibitória. São Pau lo : RT, 1 998, p . 1 20. 50. MARI NON I , Lu iz Gu i lherme. Tutela inibitória. São Pau lo : RT, 1 998, p . 1 1 9- 1 2 1 ; D I NAMARCO, Cândido Range i . "Os

gêneros do p rocesso e o objeto da causa". Revista de Direito Processual Civil. Cu rit iba: Gênesis, 1 996, v. 2, p. 327; WATANABE, Kazuo. "Tutela anteci pató ria e tutela específica das obr igações de fazer e não fazer (arts. 273 e 461 do CPC)" . Reforma do Códiso de Processo Civil. São Pau lo: Saraiva, 1 996, p . 43 .

5 1 . M I RAN DA, Franc isco Cavalcanti Pontes de. Comentários ao Códiso de Processo Civil, t. 4, p. 35 . 52 . Araken de Assis, Cumulação de ações, p . 234 . 5 3 . M I RAN DA, Franc isco Cavalcant i Pontes de . Comen tários ao Códiso de Processo Civil, t . 4, p . 36 . 54. ASS IS , Araken de . Cumulação de ações, p . 236; SANTOS, Moacyr Amaral . Primeiras linhas de direito processual

civil, v . 2, p . 1 49.

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F O RMAÇÃO DO P R O C E S S O E P ETI ÇÃO I N I C I A L

Na falta de u m desses req u i s itos, deve o m agistrado, an tes de i n defer i r a pe ­

t i ção i n ic ia l , determ i nar a sua correção (art. 3 2 1 ) 5 5 •

Note q u e os req u is i tos do pedido (certeza, dete rm i n ação, c lareza e coerênc ia) são os mesmos req u i s itos da sentença (cf. v. 2 deste Curso) . Se o ped ido é u m p rojeto de sente n ça, nada mais razoável d o q u e exig i r dessa o s mesmos req u i s itos exig idos daq ue le .

6.3. Cumulação de pedidos

6.3. 1 . Cumulação própria: simples ou sucessiva

Há cum u lação própria de ped idos q uando se fo rm u lam vários ped idos, p reten ­dendo-se o aco l h i mento s i m u ltâneo de todos e les . Em u m mesmo p rocesso, vár ios ped idos são ve i cu lados, to rnando com posto o o bjeto desse p rocesso - o q ue, por tabe la, i m p l i cará que a dec isão j ud ic ia l ven ha a ser p rofer ida em capítu l os .

O Código de Processo Civi l exp ressamente auto riza o c úmu lo de ped idos n o a rt . 3 2 7 .

Duas são as espécies de cum u lação própria de pedidos : a ) simples; b) sucessiva.

Oco rre a c umu lação simples q uando as p reten sões não têm ent re si re lação de p recedênc ia lóg ica (ped ido p rej ud ic ia l o u p re l i m i n ar), podendo ser ana l i sadas u m a i n dependentem ente da out ra . Não há necess idade de exame p révio de u m d o s ped i ­dos, q ue são autônomos : podem ser aco l h idos, total ou parc ia l mente, o u rej eitados, sem q ue se perq u i ra o resu ltado do j u lgamento do outro .

O po rt una a transc rição dos en u n ciados 3 7 e 387 da s ú m u la da j u ris­p rudência do STJ : "São c u m u láveis as indenizações por dano material e dano mo ra l o riu ndos do mesmo fato"; "É l íc ita a c u m u lação das indenizações de dano estético e dano mo ra l " .

Dá-se a cu m u lação sucessiva q uando os exames dos ped idos guardam ent re s i u m vín cu l o de p recedência l óg ica: o aco l h imento de u m ped ido p ressu põe o aco­l h ime nto do anter ior. Veja q ue aq u i , d i ferentemente do q u e ocorre na cum u lação s u bs id iár ia, o segu ndo ped ido só será ap reciado se o p rime i ro for aco l h ido .

Essa dependênc ia lóg ica pode oco rrer de duas fo rmas : a ) o p rime i ro ped ido é p rej ud ic ia l ao segu ndo : o não aco l h i mento do p rime i ro ped ido i m p l i cará a rej e i ­ção (e, po rtanto, j u lgamento) do segundo; b) o p rime i ro pedido é p re l im i nar ao

55- Também assim, e n u nciado n . 292 do Fó rum Permanente de P rocessua l istas C iv i s : "Antes de i ndeferi r a petição i n ic ia l , o juiz deve apl icar o d i sposto no art. 3 2 1 " .

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F R E DIE D I D I E R J R .

segu ndo: o não-aco l h i mento do p r ime i ro i m p l i cará a i m poss i b i l idade de exame do segu ndo (q ue não se rá j u lgado, po i s ) . O aco l h i me nto do p rime i ro ped ido , em q ua l ­q ue r caso , não imp l i ca necessariamente o aco l h imento do segundo ped ido .

Norma lmente, diz-se q ue a c umu lação s ucessiva é uma c umu l ação por p rej udicialidade,56 o q ue é um erro, pois se mist u ram os conceitos de q uestão p rej udicial e p reliminar (ver capítu l o sob re a teo ria da cognição) .

São exem p los de c u m u lação s ucessiva por p rej udicia lidade: a) inves­tigação de paternidade e al imentos; b) dec larató ria de inexistência de relação j u rídica e repetição de indébito etc. É exemp lo de c umu lação s ucessiva por pedido p rel iminar a fo rm u lada na ação rescisória: j u ízo de rescisão (iudicium rescindens) e o j u ízo de rej u l gamento (iudicium rescissorium)Y

6.3.2. Cumulação imprópria: subsidiária ou alternativa

Cogita-se tam bém a chamada c umu lação imprópria de ped idos .

Cu i da-se de fo rmu lação de vár ios ped idos ao mesmo tem po, de modo q u e apenas u m de les seja atend i do : c hama-se, p o r i sso , de c u m u lação i m p róp ri a o fe n ômeno, exatamente po rq ue tem o auto r c i ên c ia de q u e apenas u m dos ped idos fo rmu lados poderá se r sat isfe i to : o aco l h i m en to de um i m p l i ca a i m poss i b i l i dade do aco l h i m ento do ou t ro . 58 A base n o rmativa para este t i po de postu l ação é o art .

326 do CPC .

o adjetivo " imp róp ria" j u st if ica-se porq ue, de fato, não se t rata r igo rosamente de u m a cum u lação de ped idos .

A doutri n a d ivi de a c u m u lação i m p róp ria em eventua l e alte rnat iva, segu i n do denom i nação de Ch iove nda. A cu m u lação eventua l está regu lada no caput do a rt . 3 26 e a alternativa, n o parágrafo ú n ico do mesmo art igo .

Cu idemos p rime i ro da cu m u lação even tual (de um lado, a form u l ação de mais

de um ped ido ; de out ro, o p restíg io da eventua l i dade), tam bém chamada de pedi ­

dos s u bs id iár ios , ped idos sucess ivos o u cumulação subsidiária, essa ú lt i ma deno ­

m i n ação ma is correta (po r i s so , se rá a adotada a part i r de ago ra) . 59

56 . D I NAMARCO, Cândido Range i . Instituições de direito processual civil, v. 2, p. 1 68 . 57 · "Apenas q uando a resci nd ib i l idade da sentença decorre da sua in j ustiça (v. g . , ar t . 485, no IX ) é q ue o iudicium

rescindens func iona como prejud ic ial do iudicium rescissorium" (MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil, p. 205).

58 . T JÃD ER, R i cardo . Cumulação eventual de pedidos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1 998, p . 34-37.

59 . Segu ndo l i ção de TUCC I , José Rogério Cruz e . " Reflexões sobre a c umu lação subsid iár ia de ped idos". Causa de

pedir e pedido no processo civil. São Pau lo : RT, 2002. p . 282 .

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FO RMAÇÃO DO P R O C E S S O E P ET I ÇÃO I N I C I A L

Trata-se de ap l i cação da regra da eventua l idade,60 segundo a q ua l a form u l ação das p reten sões e exceções deve ser feita no momento específico da postu l ação .6 ' O demandante estabe lece u m a h i e ra rq u i a/p refe rênc ia e ntre os ped idos fo rm u lados : o segu ndo só será ana l i sado se o p rime i ro for rej e itado ou não pude r se r exam i nado (falta de u m p ressu posto de exame do mérito)6'; o tercei ro só será atend i do se o

segu ndo e o p ri me i ro não pude re m sê- lo etc . O magistrado está cond i c i onado à ordem de ap resentação dos ped idos , não podendo passar ao exame do poster io r se não exam i nar e reje itar o anter ior. Nem mesmo se h o uve r recon heci m ento pe lo réu da p rocedência do pedido s u bs id iár io . 63

A cu m u lação de ped idos i n co m patívei s en t re s i é caso de i n épc ia da peti ção i n ic ia l (art . 3 30, § 1 °, V, CPC) .

Caso seja possível e i nteressante form u lá- los, a técn i ca correta é a dos pedi ­dos s u bs id iár ios . É possíve l q ue o autor esteja em d úvida sob re o aco l h imento do ped ido p ri n ci pa l e, po r i s so , form u l e o o utro, para o caso de não vi n ga r o p rime i ro, sendo este aspecto frág i l da i n ic ia l um ponto q u e fata lmente não passará sem a c rí­t ica do réu .64 Percebe-se, pois, que não se aplica à cumulação imprópria o requisito da compatibilidade dos pedidos formulados, os quais jamais poderão ser acolhidos simultaneamente (art . 327 , § 3o, CPC) . Os demais req u is itos gera is para a cum u lação de ped idos (com petênc ia e i dent idade de p roced i mento) ap l i cam-se, no part i cu la r, sem q ua lq ue r especia l i dade .6s

I m po rtante observação de José Rogér io Cruz e Tucc i : "Seja como for, a i n co m pati bi l i dade não s ignif ica q ue possam ser c u m u lados, na es­pécie aq u i exam inada, ped idos abso l utamente autônomos q uanto à sua gênese fático-j u ríd ica. Na verdade, deverá haver u m elo de p re­j ud ic ia lidade entre os ped idos , uma vez q ue o p rovimento j u ri sd i c io ­na l de p rocedênc ia do p rimário f u lm i na ( i m p licitamente) o interesse p rocessua l e, conseq uentemente, exau re a p retensão do autor em

6o. Barbosa More i ra identif ica a c umu l ação subs id iár ia como exemp lo do d i reito pos itivo nac iona l em que se perm ite i m p r im i r caráter cond ic iona l a atos das partes. Lembra o autor que não há norma genérica que regu le a inserção de cond ição em ato p rocessual , sendo o art. 326 exemp lo que pode serv i r como fundamento para aqueles que entendam ser possíve l ato p rocessual sob cond ição (MORE IRA, José Car los Barbosa."Recu rso espe­cial . Exam e de q uestão de i n const i tuc iona l idade de le i pe lo Su per ior Tribu na l de J u stiça. Recurso extrao rd i nár io i nte rposto sob cond ição". Direito Aplicado 11. Rio de jane i ro : Forense, 2000, p . 264·266). Sobre os atos p roces­suais sob cond ição ou termo, D I D I E R Jr . , Fredie; N OGUEI RA, Ped ro H e n ri que Ped rosa. Teoria dos fatos jurídicos processuais. 2• ed . Salvador : Ed i tora J us Podivm, 201 2, p. 1 47 - 1 60 .

6 1 . Sobre a relação entre a prec lusão e a c umu lação subsid iária, a m p lamente, TUCC I , J osé Rogér io Cruz e . " Refle­xões sobre a cumu l ação subsid iár ia de ped idos", c it . , p . 283-284.

62 . Ass im , também, enu nciado n . 287 do Fórum Permanente de Processual istas Civi s : "O pedido subsid iár io so­mente pode ser ap reciado se o ju iz não puder exam inar ou expressamente rejeitar o pr inc i pal".

63 . TUCC I , José Rogér io Cruz e . " Reflexões sobre a c u m u lação subsid iár ia de ped idos", ob. c it . , p . 287. Também ass im , STJ. 3• T. , REsp n . 8.892-SP, rei . M i n . Dias Tri n dade, j . em. 30.04. 1 991 . .

64 . ASSIS, Araken de . Cumulação de ações, p . 255 . 65 . TUCC I , José Rogér io Cruz e . " Reflexões sobre a c u m u lação subsid iár ia de ped idos", c i t . , p . 286.

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FR E D I E 0 1 D I E R J R .

relação a o pedido s u bsidiário . Desse modo, não s e viabiliza o c úmu l o s u bsidiário na hipótese de o autor rec lamar o pagamento do p reço deco rrente da alienação de u m automóvel e, s u bsidiariamente, na circ u nstância de ser rechaçado esse p rimeiro pedido, reivindicar ele a propriedade de u m determinado imóve l" .66

É i n st ituto úti l n as h i póteses de concu rso de p reten sões (ve r item relaci o nado ao con cu rso de ações n o capít u l o sob re a teor ia da ação) . Trata-se de f igu ra s imétr i ­ca e oposta à da cum u lação sucess iva.67 O valo r da causa se rá o do pedido p ri n c i pa l (art . 292, VI I I , CPC) .

Aco l h ido o ped ido p ri n ci pa l , está o m agistrado d i spensado de exam i nar o pe­d ido su bs id iár io , q u e não fi cará acobertado pe la co isa j u lgada, exatam ente por não ter s ido exam i nado. 68 Caso o magistrado exam i ne o ped ido sucessivo per saltum, sem ter exam i nado o ped ido p ri n c i pa l , haverá errar in procedendo, i m pugnável pe lo autor, e m razão da p refe rênc ia exp ressada na fo rm u lação dos ped idos . Não aco l h i ­do ou não exam i nado (caso falte u m p ressu posto de ad m iss i b i l idade de exame do mé rito) o ped ido p r i nc i pa l , deve o magist rado exam i nar o ped ido su bs id i ár io, s ob pena de sua sentença s e r citra petita. 69

E se o pedido p rincipal for aco l hido apenas parcia l mente? Ricardo Tjader70 e Cruz e TuccP' defendem q ue o magistrado poderá passar ao exame do pedido subsidiário se for o caso de aco l h ê- l o integral mente, pois se presu me q ue o interesse do autor estaria mais bem atendido com a total p rocedência do pedido subsidiário do q ue com a parcial p rocedência do pedido p rincipa l .

Poderá o autor, ai n da, recorrer da parte da dec isão que reje itar o ped ido p r i nc i ­pa l , mesmo que logre êxito no ped ido subs id iár io, po i s , ao estabe lecer a h i e rarq u ia, defi n i u o demandante o q ue pare e le é mais i n teressante. 7 1

Aq u i , cabem as segu i ntes observações:

66. TUCC I , )osé Rogério Cruz e . "Reflexões sobre a cumu lação subsid iár ia de ped idos", c i t . , p . 285 . 67 . MORE I RA, )osé Carlos Barbosa. O novo processo civil brasileiro, p . 1 4 . 68 . STF, 2• T., AI 1 94.653-0-SP·AgRg, re i . M i n . Marco Au ré l io, D)U 7 - 1 1 . 1 997, p. 5 7 - 243 . 69 . ST) . 3' T., EDc l no REsp n . 26 .423/SP, Re i . M i n . Waldemar Zveiter, j . em 09.0 2 . 1 993, publ icado no D) de 22 .03 . 1 993,

p . 4 -539- Em sent ido seme lhante, m u ito embo ra sem fazer refe rênc ia a sentença citra petita (usa-se o termo

constrangi mento i legal), mas apontando a necessidade de respeito à ordem de p referência, não podendo

anal isar p r imar iamente o ped ido subs id iár io : ST) . 3' T., AgRg no Ag n . 1 343283/SP, Re i . M in . Nancy Andr igh i , j .

em 1 5 .02 . 20 1 1 , p ubl icado no D)e de 2 1 .02 .201 1 . 70. T)ÃDER, R icardo. Cumulação even tual de pedidos. Po rto Alegre: Livraria d o Advogado, 1 998, p . 3 7 -7 1 . TUCC I , J o sé Rogé r io C r uz e . " Reflexões sobre a cumu lação subsid iár ia de ped idos", c it . , p . 287- 288. 72 . " N este caso, se a sentença aco l h e r o ped i d o s u bs id iár io, e não o pri n c i pa l , o autor pode apelar, po rq ue não

teve sua p retensão in te i ramente aco l h ida" . (NEGRÃO, Theotôn io . Código de Processo Civil e legislação proces­

sual em vigor. 32• ed. São Pau lo : Saraiva, 200 1 , p . 378). Ass im , também, Ass im , também, e n u nc iado n. 288 do

Fóru m Permanente de Processua l istas Civ is : "Quando aco l h i do o ped ido subs id iá rio, o autor tem i nteresse de

recorrer em relação ao p r i nc i pa l " .

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F O RMAÇÃO DO P R O C E S S O E P ETI ÇÃO I N I C I A L

a) seu recu rso e nvolverá apenas um capít u l o da deci são;73

b) a aná l i se do ped ido s u bs id iár io , q u e não foi i m p ugnada por l h e ter s ido favo ráve l , n ão se rá devo lv ida ao ó rgão ad quem, salvo se houver rec u rso do réu , s i tuação em que se repeti rá, na segu nda i n stânc ia, o j u lgamento da causa, n os mo ldes em q u e ap resentada na p rime i ra;

c) caso seja p rovido o recu rso do autor, restará p rej ud i cada a sente n ça na par­te em que aco l h e u o ped ido s u bs id iár io ; não o sendo , p revalece o q ue fo ra decid ido na sentença, em razão da pro ib i ção da reformatio in peius. 74

Cruz e Tucci entende q ue, se a sentença recon h ecer a p rocedênc ia do ped ido p ri n ci pal , o t ri b u na l não poderá, n o j u lgamento da ape lação do réu , dando a e la p rovi mento, adent rar o exame do ped ido s ubs id iár io , po rq uanto somente o capítu ­l o da dec i são re lac ionado com o ped ido p ri n c i pa l é q ue foi devolvi do ao ó rgão ad quem .75 Este entend imento, defend ido n o i n íc io dos anos 2000, poss ive lmente está s u pe rado pe lo i n c iso 1 1 1 do §3o do art . 1 .0 1 3 do CPC, q ue perm ite ao t ri b u na l j u lgar ped ido não exam i nado em p rime i ra i n stânc ia (so b re o tema, v . 3 deste Curso) .

A sucum bência total do autor, q uando fo rm u l a ped ido s u bs id iário , só exist i rá se todos os seus ped idos forem reje itados. Aco l h i do apenas o ped ido s u bs id iár io , n ão há com o negar, po rém , que o autor sucu m be em parte - tanto que h á i n te resse recu rsa l . Ass im , o valo r da condenação em hono rár ios advocatíc ios deverá se r fixa­do proporc i o na lmente, e n ão no teto de 20'7o p revisto no art . 85 do CPC76•

Ago ra, a cu m u lação imprópria a l ternativa .

Cons iste na form u lação, pe lo autor, de ma is de uma p reten são, para q u e u m a ou out ra seja aco l h ida, s e m expressar, com isso, q ua l que r p refe rênc ia . É cu m u lação i m p róp ria, po i s somente um dos ped idos fo rm u lados poderá ser atend ido . Está p revista no parágrafo ú n ico do art . 326 do CPC .

D i fere nc ia-se da cu m u lação eventua l , po rq ue nesta o autor demonstra p refe­rênc ia por um dos ped idos , o q ue não acontece na cumulação a lterna tiva .

Não se deve confu nd i - l a com o pedido alterna tivo previsto no art. 325, que é ped ido ú n i co, fu n dado em ob rigação a l ternativa (q ue se caracteriza po r perm it i r o

7 3 - I dentif i cando o ped ido subsid iár io como capítu lo autônomo da decisão, ver o excelente t rabal h o de D I NAMAR­CO, Când ido . Capítulos da sentença. São Pau lo : Ma lhe i ros Ed., 2002, p . 65-66.

74 . Em sentido contrário, entendendo faltar ao autor i nteresse recu rsal quando o pedido subs id iár io é atend ido , TJÃDER, R i cardo . Cumulação even tual de pedidos, p . 98.

7 5 . TUCC I , )osé Rogér io C ruz e . " Reflexões sobre a c u m u lação subsid iár ia de ped idos", c it . , p . 291 . 76 . Neste sent ido, STJ , Co rte Espec ia l , EREsp n . 6 1 6 .91 8/MG, re i . M i n i st ro Castro Me i ra, j. em o2 .o8 .2o1 o, publ i cado

no D)e de 23 .08 .20 1 0; STJ . 2• T., REsp n. 1 . 1 58 .7 54/RS, Re i . M i n . Mauro Campbe l l , j . e m 24.08 . 20 1 0, pub l i cado no D)e 30.09.20 10 . Em sent ido d iverso, entendendo q u e o autor, neste caso, em nada sucu mbe: TJÃDER, R icardo. Cumulação even tual, p . 91 ; STJ . REsp n . 52 . 7 50-3 , re i . Barros Monte i ro)

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FR E D I E D I D I E R J R .

ad i m p l emento po r ma i s de uma fo rma) .77 Na cumulação al ternativa, há no mín imo d o i s ped idos autônomos, fo rm u lados para q u e se aco l h a apenas u m de les .

Vi s l u m b ra-se s i tuação específ ica de c úm u l o alte rnativo na cons ignação em pagamento : na dúv ida, pode o autor d i r igi r- se a d uas pessoas, por não saber a q ua l das duas se acha j u ri d i camente l i gado (art. 547, CPC), req ue rendo o devedor o de­pós ito e a citação dos que d i sputam o c réd ito . Ao j u lgar a cont rové rs ia en t re os do is réus , dec i d i rá o ju iz q ua l de les e ra o legit i mado perante o autor78•

O valo r da causa será o do ped ido que t ive r o ma io r va lo r (art. 292, VI l , CPC) .

Aco l h i do um dos ped idos, n ão terá o autor i n te resse para i n terpo r recu rso com o o bjet ivo de aco l h imento do out ro . 79 D i fe rentemente do que oco rre na cumulação subsidiária, po is não houve dete rm i n ação da p refe rênc ia en t re os ped idos, cons ide ­ra-se que ab ri u mão o demandante de q uest i ona r a esco l h a do magi strado por esse ou aq ue l e p l e i to . O aco l h imento de um e a reje i ção do o ut ro tam bém não i m p l icam sucum bênc ia parc ia l do autor.

Cu mp re ass ina lar q u e, como o recu rso é "s im ples aspecto, e lemento, modal i ­dade ou extensão do p róp rio d i reito de ação exe rci do no p rocesso",80 ap l i cam-se, por ana logia, à demanda recu rsal , as técn icas de postu lação i n ic ia l , como a cu m u lação de pedidos e os pedidos s ubs id iár ios . É mu ito com u m o reco rrente ped i r, por exem plo, a anu lação da decisão recorr ida ou , se ass im não entender o tr i bu nal , a sua reforma.

6.3.3. Cumulação inicial e cumulação ulterior

A c umu lação de pedidos pode ser inicia l, quando veicu lada na demanda i n ic ia l , ou ulterior, q uando a parte agrega novo ped ido ao p rocesso após a postu lação i n ic ia l . É cu m u lação ulterior o aditamento permit ido da petição i n ic ia l (art. 329, I , do CPC) . Out ro exemp lo de cum u lação u lteri o r é o aj u i zamento pe lo autor de ação dec larató ria i n cidental q u e objetiva o reconheci mento da fals idade de documento (art. 430, CPC).

Alguns autores cons ideram que q ualq uer ampl iação objetiva do p rocesso é uma cumu lação u lterior de pedidos. Ass im , seria a reconvenção, demanda proposta pelo réu contra o autor, p . ex., h i pótese de cumu lação de pedidos superven iente. Tam bém seria cum u lação u lterior a reu n ião de causas conexas pela causa de ped i r (arts. 55, § 1 o, CPC).

Fala-se, então, em cumulação homo3ênea, quando os pedidos forem fo rmu lados pe la mesma parte, e c umu lação hetero3ênea ou contrastante, q uando os pedidos

n. Tratando o ped ido alte rnativo como se fosse cumu lação alte rnativa, Ricardo Tjader, Cumulação eventual, p .

3 5 ; DUARTE, R o n n i e Preuss . " Lit isconsórc ios alternativo e subs id iário no p rocesso civi l bras i l e i ro" . Revista de

Processo. São Paulo : RT, 2007, n. 1 47, p. 39 · 78 . D I NAMARCO, Când ido Rangel . Litisconsórcio. 5' ed . São Pau lo : Ma lhe i ros, 1 998, p. 393 . 79 . Também nesse sent ido , Când ido D inamarco, Instituições de Direito Processual Civil, c it . , v . 2, p . 1 7 1 . 8o. MORE I RA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil . 1 0• ed . R io d e jane i ro : Forense, 2002,

v. V, p . 236 .

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F O RMAÇÃO DO P R O C E S S O E P ETI ÇÃO I N I C I A L

forem form u lados po r partes d i sti ntas, como é o caso da cum u lação pe l a reconvenção ou den u nc iação da l ide p romovida pe lo réu .8' Nesta l i n ha, cum p re advert i r, nem sem­pre se aplica à cumulação hetero3ênea o requisito da compatibilidade dos pedidos.

6.3.4. Requisitos para a cumulação.

A cum u lação de ped idos deve p reenche r a lgu n s req u i s itos, sob pena de não ser adm it ida . Como já sa l i en tado, a c u m u lação i ndevida de ped idos não pode i m ­p l i ca r i ndefer i m ento da peti ção i n i c ia l s e m q u e se dê a o demandante opo rt u n i dade de corr ig i r o vício . Vejamos os req u is i tos q u e o leg is lado r i m pôs para adm it i r a cu m u lação de ped idos, e n cont rávei s n o a rt . 3 28 do CPC .

6.3.4. 7 . Compatibilidade dos pedidos.

Tam bé m é req u i s i to para a c u m u lação de ped idos q u e e les sejam com patíve i s en t re s i (art . 3 27 , § 1 °, I , CPC ) . Trata-se de p ressu posto lóg ico da cum u lação, q ue, se não p reench i do, i m p l i ca i népc ia da petição i n ic ia l po r fo rça do art . 3 30, § 1 °, IV, CPC . Se fo r possíve l a formu lação de ped idos i n co m patíve is , deve o demandante vale r-se da técn i ca da cu m u lação i m p róp ria (eventua l o u alte rnat iva), q ue, como vi sto, d is ­pensa a com pati b i l i dade dos ped idos , exatamente po rq u e se espera o aco l h i mento de apenas um de les (327, § 3o, CPC.

A i n co m pati b i l idade dos pedidos decorre do d i reito mater ia l , razão pela q ua l a lgu n s autores u sam a exp ressão " i n co m pati b i l idade su bstanc ia l "8' .

Exemp los de cu m u lação de pedidos i n co m patíveis: i) revisão e n u li­dade do contrato; ii) reso l ução e abatimento do p reço (ação redibi­tór ia e quanti minoris); iii) comp lementação da área e reso l ução do contrato; iv) n u l i dade e reso l ução do contrato por inadim p lemento .

6.3.4.2. Competência

Somente é possíve l a c u m u lação se o j uízo t iver com petênc ia abso l uta para con h ecer de todos os ped idos fo rm u lados (art. 3 27 , § 1 °, 1 1 , CPC). "Caso ten h a com­petênc ia pa ra um e não ten ha para o out ro, não poderá h aver c umu lação" .83

É o q ue pode oco rrer q uando se form u lam ped idos , em c umu lação sim p les, contra litisconsortes facultativos, sendo q ue um deles goza de j uízo p rivativo, como a U nião e demais entes p úb licos .84

8 1 . N ERY JÚ N I O R, Ne lson; N ERY, Rosa Maria de And rade. Códiso de Processo Civil Comentado, p . 645. 82 . ASSIS, Araken de. Cumulação de ações, i tem 263 . 83 . N ERY JÚ N IO R, Ne lson; N ERY, Rosa Mar ia de And rade. Códiso de Processo Civil Comentado, p . 645 . 84. N esse sent ido , i nte ressante susc i tar o E n u nc iado n . 2 1 do FONAJ E F - Fó r u m Nac iona l dos J u izados Espec ia is

Federais de 2 1 . 1 0 . 2005. E n u nc iado n . 2 1 : "As pessoas fís icas, j u ríd i cas, de d i re ito p rivado o u de d i reito púb l i co estadua l o u m u n i c i pa l , podem f igu ra r n o po lo pass ivo, no caso de l i t i sconsórc io necessár io" .

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FR E D I E D I D I E R J R .

Não deve o magistrado i ndeferi r totalm ente a petição i n ic ia l , s e oco rrer c umu ­lação de ped ido q u e fuja da sua com petênc ia; deve ad mit i r o p rocessamento d o ped ido q u e l h e é pert i nen te, reje i tando o p rossegu imento daq ue le estranho à s u a parcela de j u r isd ição. Esse é o sent ido do correto e n u n c iado 1 70 da s ú m u la da j u ­ri s p rudência p redom i n ante do Su per io r Tri b u nal de j u st iça: "Com pete ao j uízo o nde p rime i ro f o r i n tentada a ação envolvendo acu m u lação de pedidos, t raba l h i sta e estatutár io, dec id i - l a nos l im ites de sua j u ri sd i ção, sem p rej uízo do aj u izamento de n ova causa, com o ped ido remanescente, n o j u ízo p róp rio" .

Vão nessa l i nha os §§ 1 o e 2° do art . 45 do CPC, que regu lam a cu m u lação de ped idos perante o j uízo federal , que é i n com petente para u m de les : "§ 1 ° Os autos não serão rem et idos se houver ped ido cuja ap reciação seja de com petênc ia do j u ízo perante o q ua l foi p roposta a ação . § 2° Na h i pótese do § 1 °, o j u iz, ao não ad m it i r a c u m u lação de ped idos em razão da i ncom petênc ia para ap reciar q ualq ue r de les, não exam i nará o mé rito daq ue le em q u e exista i n te resse da U n ião, de s uas e nt ida­des autárq u i cas ou de suas emp resas púb l i cas" .

Se a cu m u lação e nvo lver ped i do para cu jo p rocessam ento o j uízo n ão te n h a com petênc i a re lat iva, o desmem b ram ento da pet i ção i n i c ia l depende rá da a l ega­ção de i n co m petênc ia pe lo réu .85 No en tanto, se en t re os ped idos h o uver conexão, é possíve l a c u m u lação, mesmo q u e o j u ízo seja re lat ivamente i n co m petente para p rocessar e j u lgar u m de les , em razão do efeito m od i f i cativo da com petênc ia q u e deco rre da co n exão (art s . 5 5 , § 1 °, do CPC) . N ão poderá o réu opo r-se a ta l c u m u ­lação. 86 É po r i sso q u e se ad m ite a c u m u lação, n o m e s m o p rocesso, de ped ido d e reso l u ção do co m p ro m i sso de co m p ra e venda de i m óve l (co m petênc i a re lat iva) com o p l e i to reivi n d i cató ri o do mesmo bem (com petênc i a abso l uta) .

6.3.4.3. Iden tidade do procedimento ou conversibilidade para o procedimento co­

mum. Cláusula geral de adaptabilidade do procedimento comum.

Exige-se ai nda, para a ad m iss i b i l i dade da cum u lação, uma com pati b i l idade p roced imental e ntre os ped idos fo rm u lados . Todos devem poder t ram itar pe lo mes­m o p roced imento (art . 327, § 1 o, 1 1 1 , CPC) .

Se os ped idos co rresponde rem a p roced i mentos d iversos, ai nda assi m a c umu ­lação se rá possíve l , se pude re m se r p rocessados p e l o p roced imento com u m . Neste caso, o leg is lador, cor retam ente, dete rm i na q u e se adapte o p roced imento com u m,

8 5 . ASSIS, Araken d e . Cumulação d e ações, p . 266; FUX, Lu iz . Curso d e Direito Processual Civil, p . 202; GRECO F I LHO,

Vicente. Direito processual civil brasileiro, v. 2, p . 1 05 . 86. ASSIS, Araken de . Cumulação de ações, i t em 266 ; FUX, Lu i z . Curso de Direito Processual Civil, p . 203 . Ass im ,

também, Ass im , também, e n u n ciado n . 289 do Fóru m Permanente de P rocessua l istas C iv i s : "Se houver cone·

xão entre ped idos c umu lados, a i ncom petênc ia relativa não i m ped i rá a c u m u lação, em razão da modif i cação

legal da com petência".

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F O R M A ÇÃO DO P R O C E S S O E P ETI ÇÃO I N I C I A L

de modo a i n ser i r téc n i ca p rocessua l d i fe renc iada q u e com e l e não seja i n com patí­vel (art. 327 , § 2°, CPC) . Po r exem p lo : a técn ica da cogn i ção l im itada no p roced imen ­to possessór io ( i r re levânc ia da a legação de domín io) pode se r i n ser ida no p roced i ­m ento com u m, caso de c u m u lem ped idos possessór io e de reso l u ção de cont rato . Se i s s o oco r re r, o proced i men to ser ia o com u m, mas a cogn i ção, em relação ao pedido possessório, ser ia l im itada.

Esse d i s pos it ivo, cu jo a lcance ai nda prec isa se r d imens i onado, é m u ito r ico .

De le pode-se extra i r a conc l usão de que o p roced i mento com u m é adaptável, ma leável, flexível; de que ele é receptivo à incorporação, ainda que episódica, de técnicas diferenciadas pensadas para procedimentos especiais.

O procedimento comum passa a ser território propício para a imi3ração de ajustes procedimentais desenvolvidos para a tutela de determinados direitos. Essa cláusula 3era l pode ser a fonte normativa da reafirmação e do desenvolvimento do princípio da adequação do procedimento. De todo modo, ao menos há uma certeza: o procedimento comum, no processo civil brasileiro, não é xenófobo e, por isso, não é rí3ido.

Duas são, contudo, as s i tuações- prob lema :

a) cu m u lação de um ped ido de p roced imento espec ia l com um ped ido de p roced imento com u m;

b) cu m u lação de ped idos de p roced imento espec ia is d iferentes . N esse caso, perm ite o leg is lador q u e a c u m u lação seja feita, desde q u e segu i ndo o p roced imen ­t o com u m . Esta é a regra.

S ucede q u e a so l ução não é tão s im p les .

Há p roced i mentos espec ia is que não podem ser conve rt idos ao p roced imento com u m . Esse é o ponto -chave para a ve rif icação da ad m i s s i b i l i dade de cu m u lação de ped idos nessas h i póteses : saber se o p roced i mento espec ia l é ou não é red utíve l ao p roced imento com u m .

Por vezes, o legi s lador oferece a o autor ma is de u m p roced imento apto a ser­v i r de me io para a tute la j u ri sd i c iona l p l e iteada . Há p roced i m entos q u e são c riados como uma alte rnativa de tute la d i ferenc iada ao autor, que se vale rá de les conforme a sua conven i ê n cia . N esse caso, dete rm i nada p retensão, que poder ia te r s ido p ro ­posta v ia p roced imento espec ia l , poderá ser fo rmu lada v ia p roced imento com u m . São e les o s p roced imentos espec ia is não-obrigató r ios, opc ionais , porq uanto possam se r d i spensados pe lo autor. A e les se ap l i ca i rrestr itamente a regra da convers i b i l i ­dade do p roced imento em com u m , em caso de c u m u lação de ped idos, p revista no art . 3 2 7 , §2o, C PC . São exem p los de p roced imentos espec ia is opc iona i s : mandado de segu rança, possessórias e ação mon itór ia . Tem o autor, n estes casos, "a facu ldade de optar pe las v ias o rd i nár ias (o p rocesso com u m regido pe lo Código de P rocesso

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FR E D I E D I D I E R J R .

Civi l ) e c om i s s o ren u nc ia r aos benefíc ios do p rocesso espec ia l",87 q u e não pude rem ser i n se ridos no p roced i mento com u m (art . 327 , § 2°, fine, CPC) .

O ut ros p roced imentos espec ia is , no e ntanto, são cr iados com obj etivo p recí­puo de atende r a dete rm i nado i n te resse púb l i co, n o rma lmente envolvendo d i re itos i n d i s poníve i s . Esses p roced imentos são ob rigatór ios, i n de rrogáve i s pe la vontade do demandante, que não pode de les ab ri r mão, o ptando pe lo p roced imento com u m . A esses p roced i mentos não se ap l i ca a regra da convers i b i l i dade antes menci onada . Aq ue la p rete nsão mater ia l , t i p i camente p revista para ser tute lada pe la v ia de deter­m i nado p roced imento espec ia l , n ão pode ser ve i cu lada por q ualq u e r out ro p roce­d imento, nem mesmo em c umu lação de ped idos . Ass im , não pode o autor cu m u lar u m ped ido, que ser ia p rocessado po r u m p roced i mento especia l ob rigató r io, com ou t ro, q ua lq ue r q u e seja o p roced i mento a e le pe rt i nente . São exem p los : i nventári o e part i l h a, i n terd ição, p roced imentos espec ia is de j u ri sd i ção vo l u ntár ia, desapro ­p riação, ações de contro le concent rado da const i tuc i ona l i dade das le i s .

É por i s so q u e se não pode admi t i r a c u m u lação de ped idos em ação co l etiva, e nvolvendo i m p rob idade ad m i n ist rativa e out ro d i re ito d i fu ­so, em razão do p roced imento espec ia l do t ipo ob rigatór io p revisto para a tutela daq ue la p r ime i r a q uestão (Lei n. 8.429/1 992) .

Há quem adm ita a c u m u lação de ped ido de j u ri sd i ção contenc iosa com ped ido de j u ri sd ição vo l u ntár ia, sa lvo man ifesta i n com pati b i l i ­dade .88

6.4. Ampl iação da demanda

Salvo os casos em q u e se adm ite ped ido i m p lícito, i n c umbe ao autor fo rm u lar na petição i n ic ia l todos os ped idos que pude r cont ra o réu .

Poderá o autor, contudo, aditar a petição i n i c ia l antes da citação, desde q u e arq ue c o m a s despesas do aditamento (art. 3 29, I , do CPC) .

Após a c i tação do réu e até o saneamento do p rocesso, o autor pode ad i tar a demanda, desde q u e o réu cons i nta - há, aq u i , u m negócio processual típico : am­p l i ação n egociada do obj eto l i t ig ioso do p rocesso . Obviamente, garante-se ao ré u o d i reito de defende r-se em relação ao novo ped ido (art. 329, 1 1 , CPC) .

Há, porém, algumas ponderações que p rec isam ser feitas.

a) Se o n ovo ped ido for conexo ao pedido o rig i nár io , n ão há razão para i m ped i r

o ad i tamento, mesmo após o saneamento do p rocesso. I sso porq ue, em razão da

87 . D I NAMARCO, Cândido Range l . Instituições d e Direito Processual Civil. São Pau l o : Ma lhe i ros E d . , 2001, v. 1 1 , p . 461 . 88. G RECO, Leonardo . jurisdição voluntária moderna. São Pau lo : D ia lét i ca, 2003, p. 45 .

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FO R MAÇÃO DO P R O C E S S O E P ET I ÇÃO I N I C I A L

conexão, se o ped ido fo r ap resentado em demanda autônoma, os p rocessos have­riam de ser reu n idos por conexão, nos termos do a rt . 55, § 1 °, CPC .

b) Auto r e réu podem acrescentar, em eventua l autocom pos ição, l i de que n ão com po n ha o o bj eto l i t ig ioso o rig i n ári o (art . 5 1 5 , §2°, CPC). I sso é uma amp l iação do o bj eto l i t ig ioso do p rocesso, a i nda q ue apenas para fazer o aco rdo.

c) O leg is lador traz, n o parti cu la r, i n comp reensíve l /imitação à n egociação p ro­cessua l : se as partes são capazes e desejam, consensual mente, uma amp l i ação do o bj eto l i t ig ioso após o saneamento, po r q ue n ão aceitar? Por q ue não ap l i car o a rt . 1 90, que consagra a negociação p rocessua l atíp ica?

É realmente d ifíc i l entender essa vedação; parece um fóssi l leg is lativo, rema­nescente de um s istema anter ior, i n com patível com o s istema atual , q ue perm ite a negociação p rocessua l . É, enfim , i negavel mente, uma regra que restri nge a negocia­ção p rocessual , pois, ao regu la r um negócio p rocessua l típico, i m põe os seus l im ites.

D i f ic i l m ente, porém , a i nval idade deco rrente dessa amp l iação p rocessua l n ego­c iada será decretada, a lém de ser bastante q uestio nável a legit i m i dade de q ua lq ue r das partes aco rdantes para q uestiona r a val idade dessa convenção, po r s u posta­mente v io lar a p ro i b i ção do i n ciso 1 1 do art . 330. Seria possível cogitar, no caso, tu quoque, vedado pela i n cidênc ia do p ri n cíp io da boa-fé p rocessua l (art. 5o, CPC) .

d) A poss i b i l i dade de a parte ped i r a descons ide ração da persona l i dade j u rí­d i ca na i n stânc ia recu rsal (art. 1 34, CPC) é, tam bém, uma m it igação à estab i l ização o bjetiva do p rocesso. Há amp l iação do o bj eto l i t ig ioso, com a fo rmu lação de ped ido de ap l i cação da sanção da desconsideração da personalidade jurídica .

e) Fato constitutivo s upe rven ie nte - causa de ped i r remota superven i ente, por­tanto - pode ser con hecido, até mesmo de ofíc io, caso i n te rf i ra no j u lgamento da cau­sa (art. 493, CPC) . Esse con hecimento pode dar-se em q ua lquer estágio do p rocesso. Trata-se de regra q ue, c laramente, enfraq uece o rigor p recl us ivo do art . 3 29, CPC, pois perm ite acrésci mo de nova causa de ped i r, até mesmo de ofíc io, relemb re-se.

Todas essas ponderações servem para demonstrar que o a rt . 329 do CPC pare­ce com p letamente fora do contexto do s i stema q ue o p rópr io CPC i n st it u i u .

6.5. Redução da demanda

Barbosa Mo re i ra s i ntet izou as h i póteses de redução da demanda : a) des i stên ­c i a parcia l ; b ) ren ú n cia parc ia l a o d i reito postu l ado; c ) t ransação parc ia l n a pendên ­c ia do p rocesso; d) convenção de arb i t ragem re lat iva a parte do obj eto do l i tíg io , na pendênc ia do p rocesso; e) i nterpos ição, pe lo autor, de recu rso parc ia l contra a sentença de m érito desfavo rável .89

89. MORE I RA, José Car los Barbosa. O novo processo civil brasileiro, p. 1 2 - 1 3.

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FR E D I E D I D I E R J R .

Fr ise-se q ue, n esses casos, o p rocesso cont i n ua em re lação à parte restante do mé rito e as decisões q ue homo l oguem tais atos, em j u ízo s i ngu la r, se rão i n ter­locutór ias e, não, sentenças.

Cada um desses casos será estudado em momento opo rtu no .

6.6. Alteração objetiva da demanda

O autor tem o d i re ito p rocessua l de p romover a alte ração (su bst i tu i ção) dos e l ementos obj etivos da demanda (ped ido e causa de ped i r) antes da c itação do réu (art. 329, I , CPC).

Após a ci tação, o autor somente poderá fazê- l o com o consent i mento do de­mandado, a i nda q u e reve l (art. 329, 1 1 , do CPC), q ue terá novo p razo de resposta, po is a demanda terá s ido a l terada. Trata-se de ve rdade i ro negóc io j u ríd ico p roces­sua l . A n egativa do réu deve ser exp ressa, pois o s i l ê ncio , após i nt imação da p ro­posta de m udança, poderá ser i n terpretado como concordânc ia tácita, ope rando-se a p rec l u são .90 Há en tend imento segu ndo o q ual a m udança obj etiva ex officio pe lo magistrado deve ser i m pugnada, sob pena de ope rar-se a p rec lu são.9 '

Após o saneamento, é vedada qua l que r alte ração o bjetiva p romovida pe lo autor, mesmo com o consenti mento do réu . Em razão d i sso, não se pode alterar ob ­j et ivamente o p rocesso em fase recu rsal, até mesmo para q ue não h aja s up ressão de i n stânc ia .

O bservadas estas regras, é possível a alte ração do o bjeto imed iato ou med iato do ped ido . 92 Eventua is co rreções de e rros mater ia is da demanda podem ser feitas a q ua lq ue r tem po.9 3

Cabem, aq u i , as mesmas crít i cas ao leg is lador fei tas acima, por ocasião da aná l i se do aditamento da petição i n ic ia l .

Não se nega i m po rtân c ia à estab i l idade do p rocesso. Sucede q u e o r igor p rec l u ­s ivo do d i s pos itivo não pode ser levado às ú lt i mas conseq uênc ias : n ão há, em tese,

q ua lq ue r p rej uízo a u m a alteração o bjetiva do p rocesso com a conco rdânc ia das

90 . "Apresentada petição pe lo autor, em q u e se altera a causa de ped ir, e n e n h u ma objeção apresentando o réu ,

que , ao contrári o, cu ida de negar- l he o fundamento, é de ad m it ir-se que consent iu na alteração. I nc idênc ia da

ressalva cont ida no art. 264 do CPC". (ST), 3' T., Resp 2 1 .940- 5 -MG, re i . M in . Ed uardo R ibe i ro, DJU 08.03 . 1 993, p .

3 . 1 1 4, co l h ida por Theotôn i o Negrão, Códi80 de Processo Civil, nota. 1 oa ao art. 264, CPC). Oart . 2 64 do CPC- 1 97 3

corresponde a o art. 329 do CPC atual . 9 1 . "Const i tu i n u l idade relativa a alte ração do pedido ex officio pe lo j u iz. Caso não haja i m pugnação o portu na,

ocorre prec l u são". (]TA 90/34 1 ; col h ida e anotada por Ne ry ]r. e N ery, Código de Processo Civil Comentado e

legislação processual civil em vigor, p. 706). 92 . MORE I RA, José Carlos Barbosa. O novo processo civil brasileiro, p . 1 3 . 93 . D I NAMARCO, Când ido . Instituições de Direito Processual Civil, cit . , v. 1 1 , p. 69; Arruda Alvi m, Manual de direito

processual civil. 7' ed. São Pau lo : RT, 200 1 , v. 2, p . 352 - 353 .

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FO RMA Ç Ã O 00 P R O C E S S O E P E T I Ç Ã O I N I C I A L

partes, até mesmo após o saneamento . Se exist i r, o p rej u ízo deverá se r ver if icado in concreto e não p res u m ido pe lo leg is lador.

A r ig idez deste art igo coadu n a-se com o espírito das leg is lações do sécu lo X IX, denotando fo rmal i smo desnecessári o . Car los A l be rto Alvaro de O l ivei ra94 l em b ra a lgu n s d i s pos it ivos do d i reito estrange i ro, q u e podem servi r como refe rên cia : a) leg is lação p rocessua l a l emã, onde se perm ite a m odi f icação da demanda, i n depen ­dentemente da an uênc ia do adve rsár io, se entend i do estar p resente o req u i s ito da ut i l i dade para a causa; b) leg is lação p rocessua l austríaca, que auto riza o magis ­t rado a permit i r a mod if i cação da demanda se não conduz ao "agravamento" do desenvo lvi mento do p rocesso; c ) extenso regramento do Código de P rocesso Civi l Po rtuguês sob re o assu nto (arts . 272 -27 3)95 • Percebe-se q u e a anál i se da ut i l i dade e da viab i l i dade da alte ração do o bj eto l i t ig ioso do p rocesso deve ser transfer ida ao magistrado, q u e as ver if icará em cada caso conc reto q ue l h e fo r s ubmet ido . O leg is ­lado r part i u de p rem i ssa exatamente contrár ia a essa: é i nteressante, a p r i n cíp io , a alte ração consensual , salvo se não o fo r conc retamente.

6.7. Espécies de pedido

6.7. 1 . Pedido genérico

O ped ido tem de ser determ i n ado, confo rme visto . Ped ido indeterminado é ped ido i n e pto (art . 3 30, § 1 °, 1 1 1 , CPC) 96•

Perm ite a le i , em alguns casos, a formu lação de pedido genérico (art. 324 do CPC).

Determi nado quanto ao gêne ro, o pedido pode ser gené rico em relação à q uant i ­dade. No tocante ao an debeatur será determ i nado; em relação ao quantum debeatur,

94. OL IVE IRA, Carlos A lberto Alvaro de . Efetividade e processo de conhecimento, p. 6 1 -62 . 95 . Art . 272 . 0 do CPC português: "Alteração do ped ido e da causa de ped ir por acordo Havendo acordo das partes,

o pedido e a causa de pedir podem ser alterados ou amp l iados em qua lq uer a l tura, em 1 .• ou v i n stânc ia, salvo se a alteração ou amp l i ação perturbar i n conven ientemente a i n strução, d iscussão e j u lgamento do p le i ­to" . Ar t . 273 . 0 do CPC português : "Alteração do ped ido e da causa de pedir na falta de acordo 1 · Na falta de acordo, a causa de pedir só pode ser alterada ou amp l iada na rép l ica, se o processo a admit i r, a não ser que a alteração ou amp l i ação seja consequênc ia de conf issão feita pe lo réu e aceita pe l o autor. 2 - O ped i do pode também ser alterado ou amp l iado na rép l i ca; pode, a lém d isso, o autor, em q ua lquer altura, red uzir o pedido e pode amp l iá - lo até ao encerramento da d i scussão em 1 .• i n stânc ia se a amp l i ação for o desenvolvi mento ou a conseq uênc ia do ped ido pr im itivo. 3 - Se a mod ificação do ped ido for fe i ta na aud iênc ia de d i scussão e j u l gamento, f i cará a constar da ata respetiva. 4 - O ped ido de ap l i cação de sanção pecu n iária com p u lsória, ao abrigo do n . o 1 do artigo 829.0-A do Código Civi l , pode ser deduz ido nos termos da segu nda parte do n .o 2. 5 -Nas ações de i n demn ização fundadas em responsab i l idade c iv i l , pode o autor req uerer, até ao encerramento da audiênc ia de d iscussão e j u lgamento e m 1 .• i n stância, a condenação do réu nos termos previstos no art igo 567 .0 do Código Civ i l , mesmo que i n ic ia lmente ten ha pedido a condenação daq ue le em q uant ia certa. 6 - É permit ida a mod ifi cação s i m u ltânea do ped ido e da causa de ped ir, desde q u e tal não i m p l i que convolação para re lação j u ríd ica d iversa da controvert ida" .

96. "É i nepta a i n ic ia l se o autor se l i m ita a ped ir que o réu seja condenado 'nas penas previstas na le i ' . " (NEGRÃO, Theotôn io . Códi3o de Processo Civil e le3islação processual em vi3or. 32 ed. São Pau lo : Saraiva, 200 1 , nota 2• ao art. 286 do CPC- 1 973, que corresponde ao art. 3 24, p . 375) .

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FR E D I E D I D I E R J R .

será i ndete rm i n ado. Trata-se de h i pótese de pedido relativamente i ndeterm i nado, po is .97 Não se pode, p . ex., ped i r a condenação a q ualq ue r p restação. A i ndeterm i na­ção ficará restrita à q uantidade ou à qual idade das coisas ou i m portânc ias p le iteadas .98

Três são as s i tuações em q u e se adm ite o ped ido gené ri co, todas p revistas n o art . 324, § 1 o, do CPC. Essas h i póteses são excepc ionais , "devendo po r i sto mesmo se r i nterp retadas rest r it ivamente" .99

Ad m ite-se ped ido gené rico nas ações universais, se não puder o autor i n d iv i ­duar na peti ção os bens demandados (art . 324, § 1 , I , do CPC) . Ações universais são aq ue las e m que a p reten são reca i sob re uma u n ive rsal idade, seja e la de fato o u de d i re i to . A peti ção de he rança é exemp l o de ação u n ive rsa l .

Art. 90 do Cód igo Civi l : "Constit u i u n iversa l idade de fato a p l u ra l idade de bens s i ngu lares q ue, pe rt i n entes à mesma pessoa, tenham dest i ­n ação un itária" . Ex. : reban ho , co leção de l ivros de uma b i b l i oteca etc .

Art . 9 1 do Código Civi l : "Con st i tu i u n ive rsa l idade de d i re ito o com p le ­xo de relações j u ríd icas, de uma pessoa, dotadas de valo r econôm i ­c o " . E x . : patri môn io , espó l io , massa fal ida etc.

Pode o autor fo rmu lar ped ido genér ico nas ações i n den izató rias (art. 324, §2o, 1 1 , CPC) . O d i s pos it ivo fala em "consequências de ato ou fato", sem especif icar se líc ito ou i l íc ito .

A opção é correta, po is ped ido i n den izató r io pode deco rrer de fatos lícitos ' 00 o u i l íc itos . Em q ua lque r h i pótese, "o j u i z poderá l evar em cons ide ração fatos novos ocorr idos depo i s da p ropos i tu ra da ação, para q u e possa p rofe ri r a sentença", 1 0 1 q ue deve refleti r o montante dos danos existente à época da sua p ro lação . Trata-se da h i pótese ma is freq uente de ped ido gené rico .

Não há razão para associar o dever de i nden izar somente aos atos i l ícitos . Trata-se de um víc io mu ito freq uente, que acaba por confund i r o fato j u rídico com o seu efeito. É possíve l q ue atos lícitos ten ham po r

eficácia, tam bém, o dever de i nden izar. São i n úmeros os exem plos : a) atos lícitos da adm i n istração, como a construção de um viaduto, po­

dem gerar o dever de i nden izar os adm i n i strados q ue se p rej ud icaram

e q ue não poderiam arcar sozi n hos com o ônus do benefício de todos;

97 . PASSOS, José Joaq u im Cal mon de. Comentários ao Código de Processo Civil, p . 1 72 . A i ndete rm inação do ped ido

não pode ser absol uta (Pontes de M i randa, Comentários ao Código de Processo Civil, t . 4, p . 35) .

98. THEODORO j r. , H umberto. Curso de Direito Processual Civil. 32• ed . Rio de Jane i ro : Forense, 2ooo, p . 3 1 9.

99 . CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. 8 ed . R io de jane i ro : Lúmen J ú ris , 2002. v. I, p .

3 1 7 . 1 00 . Exem plos de atos lícitos de eficácia i nden izante podem ser l i dos em Marcos Bernardes de Me l l o (chamados

pe lo autor de atos-fatos i nden izantes), Teoria do Fato jurídico. 10 ed . São Pau lo : Saraiva, 2000, p . 1 1 5 .

1 0 1 . N E RY J R . , Ne l son , N ERY, Rosa Maria de And rade. Código d e Processo Civil Comentado e Le!Jislação Processual

Civil em vi!Jor. 6• ed. São Pau lo : RT, 2002. p. 642.

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F O R MAÇÃO DO P R O C E S S O E P ETIÇÃO I N IC I A L

b) a l egítima defesa e o exercíci o regular do d i reito são atos lícitos (art. 1 88 do Código Civi l) , mas podem gerar o dever de i nden izar (art. 929

do Código Civi l); c) Danos causados pelas emp resas ferroviárias a quem não seja passagei ro ou remetente de carga: o tráfego de trem é ato lícito, mas se, p. ex., uma faísca que s u rja do contato das rodas com os tri l hos vier a p rovocar u m i n cênd io em p lantações margi nais, esse dano deverá ser ressarcido e não terá havido ato i lícito.

M u ito embo ra não p rec ise q uant if icá- lo, o autor deverá especif icar o p rej uízo sofr i do . Afi rma H u m berto Theodoro ] r. : " Exp ressões vagas como ' perdas e danos' e ' l u cros cessantes' não se rvem para a n ecessár ia i n d iv id uação do obj eto da causa. N ecessariamente deve rá ser descrita a l esão s u po rtada pela vít ima do ato i l íc ito, v. g. : p rej uízos (danos eme rgentes) co rrespondentes à pe rda da co l h eita de ce rta lavou ra, ou , ai n da, os l u c ros cessantes representados pe la pe rda do rend imento líq u ido do veícu l o d u rante sua i n at iv idade ... " ' 0'

P rob l ema q u e me rece cu idadosa aná l i se é a do ped ido gené ri co n as ações de reparação de dano mora l : o autor deve ou não q uantif icar o valo r da i n den ização na peti ção i n i c ia l ? A resposta é pos it iva: o ped ido nestas demandas deve ser certo e dete rm i n ado, de l im itando o auto r q uanto p retende receber como ressarc i mento pe los p rej uízos mo rais q u e sofreu . Quem , a lém do p róp rio autor, poder ia q uant if icar a "dor mo ra l" q ue alega ter sofri do ? Como um s uje i to estra n ho e por i sso mesmo a l he i o a esta "dor" poder ia afe ri r a sua existên cia, mensu rar a sua extensão e q uan ­t if i cá- la em pecú n ia? A fun ção do m agistrado é j u lgar se o m ontante req uer ido pe lo auto r é ou n ão devido; não l h e cabe, sem uma p rovocação do demandante, d i ze r q uanto deve ser o montante . Ademais , se o auto r ped i r q ue o magist rado dete rm i n e o val o r da i n den ização, n ã o poderá recorrer da dec isão q ue, p o r absu rdo, a fixou em u m rea l (R$ 1 ,oo), po is o ped ido ter ia s ido aco l h ido i ntegralmente, n ão havendo como se cogitar i nte resse recu rsa l .

O art . 292, V, CPC, parece i r por este cam i n ho , ao i m po r como o val o r da causa o val o r do ped ido nas ações i nden izató rias, " i n c l us ive as f undadas em dano mo ra l" .

Somente é possível a i/iquidez do pedido, nestas h i póteses, se o ato causador do dano puder repercut ir, ai nda, no futu ro, gerando outros danos (p . ex. : uma s ituação em que a lesão à mo ral é cont i n uada, como a i nscri ção i ndevida em arq u ivos de con­sumo ou a contín ua ofensa à imagem); ap l i car-se- ia, então, o i n ciso 1 1 do § 1 o do art . 324, aqu i comentado. Fora desta h i pótese, i n cabíve l a form u lação de ped ido i l íq u ido .

joe l D ias F igue i ra j r. abordou com p recisão o tema : "Mu itas vezes, o ped ido de condenação (objeto i mediato) do réu (ped ido certo) por danos morais, deco rrentes da mo rte de u m ente q uer ido, não está na dependênc ia de q ua lquer e lemento probatór io para a sua fixação

1 02 . THEODORO ] r. , H u m berto. Curso de Direito Processual Civil. 32 ed. Rio de janeiro : Forense, 2000, p . 3 1 9.

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FR E D I E D I D I E R J R .

(determ i nação), em que tri steza e o sofrimento pe la pe rda i rreparáve l da pessoa amada aparecem de fo rma íns ita na própr ia re lação de d i ­reito mate rial v io lada, em face do i l ícito civi l p raticado . Nesses casos, arbitrar o valo r persegu ido com a demanda é um ônus processua l do postu lante, não podendo ser re legado, em pri n cíp io, para fase proces­sual poste rior o u remetido para esti pu lação, de acordo com o prudente critério do j u lgador". 103

O STJ ad m it i u , contudo, em bora sem grandes argumentos, a fo rm u la­ção de ped ido genér ico em demandas de ressarc imento de dano mo­ral : STL 1 • T., REsp n . 693 . 1 7 2/MG, Re i . M in . Lu i z F ux, j . em 23 .08. 2005, p ub l i cado no DJ de 1 2 .09. 2005, p . 2 3 3; STL 3• T., AgRg nos EDcl n o AREsp n . 1 58 .865/RL Re i . M i n . S idne i Benet i , j . em 26.06. 20 1 2, p u b l i ­cado no D j e de 29.06. 201 2 .

Perm ite-se, a i nda, ped ido gené ri co q uando a condenação depende r de ato a ser p raticado pe lo ré u (art. 324, § 1 o, 1 1 1 , do CPC), como na h i pótese da ação de p res­tação de contas cu m u lada com o pagamento do sa ldo devedor.

6.7.2. Pedido alternativo

Ped ido alte rnativo é aq ue le q u e rec lama p restações d i sj u nt ivas. Trata-se de t i po de ped ido c lass if icado a part i r de dada re lação de d i re ito su bstanc ia l , que per­m ite a sati sfação do d i re ito por p restações autônomas e excl udentes . Seu estudo d i z mais respe ito ao d i re ito mater ia l , cu idando a legi s l ação p rocessua l , tão-somen ­te, de regu lamentar a postu lação em j uízo dessas ob r igações .

O ped ido será alte rnativo q uando ve icu lar p rete n são o ri u nda de o b ri gação a l ­ternat iva, facu ltativa ou com facu ldade de su bsti tu i ção. 1 04 E l e está regu lado no art . 3 2 5 do CPC .

Não se trata de cumulação de pedidos (nem da chamada cu m u lação a lterna­t iva, vi sta l i n has atrás) : somente um ped ido é fe i to; a fo rma de sati sfação desse pedido é q ue é d i sj u n t iva105 •

1 03 . F I GUE I RA ] r. ]oe l D ias . Comentários ao Códiso de Processo Civil. São Pau lo : RT, 200 1 , vo l . 4, tomo 2, p . 92 -93 . No

mesmo sent ido, Ne ry ] r. e Ne ry: "2 . Dano mora l . Nas ações de i nden ização por dano moral ou à i magem (v.g . ,

CF s .o v e X), o pedido deve ser certo e determ i nado, f ixado pe lo auto r. Não se deve deixar para o perito j ud i cia l

a fixação do q uantum, na i nden ização dos danos extrapatri mon ia is" . (Códiso de Processo Civil Comentado e

Lesislação processual civil em visar. 6• ed . São Pau lo : RT, 2002. p. 642).

1 04. MORE I RA, José Carlos Barbosa More i ra . O novo processo civil brasileiro. 22• ed . R io de jane i ro : Forense, 20o2,

p . 1 2 ; PASSOS, ]osé Joaq u i m Cal mon de . Comentários ao Códiso de Processo Civil, v. 3, p . 1 90 . Or lando Gomes

aponta para a correção da termino logia: "A expressão obr igação facu ltativa é man ifestamente i m própria, po r

i n d icar a poss i b i l idade de não ser c u m prida ao arbítr io do devedor, o q u e ser ia absurdo . A doutri na a lemã

p refere des igná- la ob rigação com facu ldade alternativa, ou com facu ldade de so lução, ou a inda com facu ldade

de su bst itu ição". (GOM ES, Or lando. Obrisações. 3' ed . R io de Jane i ro : Fo rense, 1 972, p . 92) .

1 05 . Neste sent ido, PASSOS, José Joaq u i m Calmon de . Comentários ao Códiso de Processo Civil. 8• ed . Rio de jane i ro : Forense, 1 998, v . 3, p . 1 89; ASS IS, Araken de Cumulação de ações. 4' ed . São Pau lo : RT, 2002, p . 246 . Tratando o

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F O RMAÇÃO DO P R O C E S S O E P ETI ÇÃO I N I C I A L

Cons ide ram-se as ob rigações a l ternativas como compostas, po i s h á p revisão de ma i s de uma p restação c omo forma de ext i n ção da o b r i ­gação (arts. 252-256 do Cód igo Civi l ) : plures sunt in obliBatione, una autem in solutione. 1 06 Opõem-se às ob rigações c u m u lativas, em q u e se exigem do devedor vár ias p restações . ' 07 A s chamadas ob rigações facu ltativas são o b rigações s im p les, q u e m u ito se asseme l ham às al­te rnativas, mas apenas sob a ót ica do devedor, q u e poderá exi m i r-se da ob ri gação efetivando q ua l que r das p restações possíve is ; tem e l e a facu l dade de esco l h a da p restação a se r c u m p rida, embo ra somente uma de las seja a devida: existem uma p restação in obli3a tione e u m a i n facultate solutione. O Código C iv i l de 2002, ass im c o m o o de 1 9 1 6,

não cu idou expressamente de las . 1 08 A d iferença ent re as m oda l idades de obr igação res ide n o fato de que nas facu ltativas a segu nda p res­tação é acessó ria, se a p r ime i ra perecer, perecerá a o b rigação; n as

alternativas, a ob rigação só pe rece se am bas pe recerem . C ump re ad­

vert i r q u e a p restação in facultate solutione não pode ser exig ida pe lo credor, q ue não tem sobre e la d i reito de crédito . ' 09 Nas ob rigações a l ternativas, ao cont rár io, todas as p restações podem ser exig idas, cabendo a esco l h a ao c redor o u devedor, conforme seja.

Se a esco l h a da p restação cou be r ao auto r, não have rá ped ido a lte rnat ivo: se rá fixo, po is o autor ao fo rmu lá - lo fez a sua esco l h a. Poderá o autor reservar-se para esco l he r na fase de execução (mesmo e m se tratando de o b rigação de fazer, não fa­zer ou dar, cujo cu mp ri mento da respect iva sentença d i spensa p rocesso autônomo de execução), form u lando ped ido alte rnatiV0 1 1 0 •

Mesmo se o autor fo rm u lar ped ido fixo, nas h i póteses em que a esco l ha da p restação cou besse ao réu , deverá o ju iz assegu rar ao demandado o d i reito de esco l h a (parágrafo ú n ico do art . 3 2 5 , CPC) . " É que não se ria lícito a u m a parte, u n i late ral m ente, arrogar-se o ius eli3endi perten cente à out ra" _ , , Mas cabe ao réu a i n i c iativa de salvaguardar o seu d i reito de substi t u i ção, fazendo-a na contestação, não podendo o magistrado agi r de ofício . 1 1 2

E s e o ré u f o r reve l , tendo o autor form u lado ped ido fixo, q uan ­do a esco l ha caber ia ao demandado? Calmon de Passos responde

tema como c u m u lação alternativa, D I NAMARCO, Când ido Range i . Instituições de Direito Processual Civil, c it . , v. 2, p. 1 70- 1 7 1 ; SANTOS, Si las S i lva. Litisconsórcio even tual, a l terna tivo e sucessivo. São Pau lo : Atlas, 20 1 3, p. 97 .

1 o6 . Sobre o regramento das obrigações alternativas no Cód igo C iv i l de 2002, ver com proveito GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA F I LHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. Obri3ações. São Pau lo : Saraiva, 2002, v. 2, p . 89-93.

1 07 . ASSIS, Araken de. Cumulação de ações. 4• ed. São Pau lo : RT, 2002, p . 245. 1 08. GAGL IANO, Pab lo Sto lze e PAM PLONA F I LHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. Obri3ações. São Pau lo : Saraiva,

2002, V. 2, p. 94. 1 09 . GOM ES, Or lando . Obri3ações. 3• ed . R io de jane i ro : Forense, 1 972 , p . 93. 1 1 o . MORE IRA, ]os é Carlos Barbosa. O novo processo civil brasileiro. 22 ed. Rio de jane i ro : Forense, 2002, p . 1 2 . 1 1 1 . MORE IRA, José Carlos Barbosa. O novo processo civil brasileiro. 22 ed . Rio de jane i ro : Forense, 2002, p. 1 2 . 1 1 2 . CALMON DE PASSOS, Comentários ao Códi3o de Processo Civil, c it . , p. 1 92 .

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FR E D I E D I D I E R J R .

o q u est ionamento : "Não n o s parece q u e a reve l i a descaracter ize a natu reza da ob rigação . E la conduz à ad m i ss i b i l idade dos fatos, não à constitu i ção de fatos j u ríd icos novos, nem à descaracterização do fato j u ríd ico tít u l o da demanda. Conseq uentemente, ao revel deve o j u iz condenar, deferi ndo - l he o d i reito de esco l ha, se o autor form u l ou ped ido fixo q uando dever ia tê- lo posto como alte rnat ivo" ." 3

Não se ap l ica às demandas de ped ido alte rnativo o d i s posto no art . 292, V i l , CPC, que cu ida da h i pótese de c umu l ação alte rnat iva, em que há ma is de u m ped i ­do . Aq u i , conforme visto, cu ida-se de pedido único e, po is , de "um só valo r a con ­s ide rar, po rq uanto ent re as alte rnativas de so l ução i n existe d i ferença q uant i tativa, podendo-se fa lar apenas em d i fere n ça q ua l itativa" . " 4

6.7.3. Pedido relativo a obrigação indivisível

Cu ida o art . 328 do CPC"5 da h i pótese em q u e u m dos c redo res de o b rigação i n d ivisíve l p l e ite ia em j uízo a sua sati sfação.

Regu la-se a demanda que envolve re lação j u ríd ica c red i tíc ia em q ue há p l u ra l i ­dade de c redo res em torno de u m objeto i n d ivi síve l , e somente u m ou a lgu n s de les va i a j uízo ped i r a efetivação desta o b rigação. Esse art igo é o d i spos it ivo p rocessua l que " regu lamenta" as d i spos ições do d i re i to materia l re lac ionadas com a cob rança j u d ic ia l de c réd itos de o b rigação i n d ivisíve l . A co rreta com p reensão desse art igo i m põe q u e se façam, po is, a lgu mas cons ide rações de d i re i to materia l .

En tende-se por o b rigação i n d ivi sível aq ue la cuja p restação tem po r o bjeto uma co isa ou u m fato n ão suscetíve i s de d ivisão, po r sua natu reza, p o r motivo de o rdem econôm i ca, o u dada a razão dete rm i n ante do n egócio j u ríd ico (art. 258 do Código Civi l ) . São ob rigações, e nf i m , cuja p restação somente se pode cu m p ri r po r i nte i ro .

Quando há p l u ra l i dade de c redo res de ob rigação i n d ivi síve l , poderá cada um destes exigi r a dívida i nte i ra (art. 260, p rime i ra parte, do Código Civi l ) . A p l u ra l i dade de c redores de obr igação i n d ivi síve l i m p l i ca t ratamento igua l ao da so l i dar iedade ativa (arts . 264/265 c/c a rt . 260, todos do Código Civi l ) . " 6 O d i reito m ater ia l , ass im , leg it ima u m dos credo res a p le itear a dívida por i nte i ro .

A c lassificação das obrigações em divisíveis e i ndivisíveis d iz respeito ao seu objeto. Na verdade, o estudo da obrigação i ndivisível somente tem

1 1 3 . CALMO N DE PASSOS, Comentários ao Código de Processo Civil, v. 3, c it . , p . 1 92 . 1 1 4 . CALMO N DE PASSOS, Comentários ao Código de Processo Civil, v . 3, c i t . , p . 1 90 . 1 1 5 . Ar t . 3 28 do CPC : "Na obrigação i n d ivi sível com p l u ra l idade de credores, aque le que não part i c ipou do p rocesso

receberá a sua parte, deduz idas as despesas na proporção de seu crédito" . 1 1 6 . "Não há dif icu ldade em reso lver as situações or iundas de obrigações com p restação ind ivisível, desde que se

reconheça a necessidade de disc i p l i ná- las pelas normas relativas às obrigações sol idárias". (Or lando Gomes,

Obrigações, p . 9 1 ) .

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FO RMAÇÃO DO P R O C E S S O E P ET I ÇÃO I N I C I A L

relevância prática nas h i póteses em que há p l u ral idade de credores ou devedores - o que acaba por tornar o seu exame mu ito p róximo do estu­do das obrigações so l idárias, fazendo com que alguns autores as vejam como espécies de obrigações em razão dos sujeitos, e não do objeto."7

Nada obstante seme l hantes, d i st i nguem -se pe la causa: "A i nd iv i s i ­b i l idade resu lta de o bstác u lo ao fracionamento da ob ri gação, a inda q uando c riado em razão do que se q ue r o bter, e nquanto a so l idar ie­dade é garant ia q u e nada tem a ver com o conteúdo da p restação" ." 8 Os arts . 263 e 27 1 do Código Civi l reve lam u m t ratamento d iferenc iado das ob ri gações i n d ivi síve is e so l i dár ias, q uando se resolverem em pe rdas e danos .

Se apenas um dos c redores receber a p restação por i nte i ro, a cada um dos o utros assist i rá o d i re ito de exig i r de l e em d i n h e i ro a parte q ue lhe cai ba n o total (art. 261 do Cód igo Civi l) .

A regra do Código Civi l fo i rep rod uz ida no a rt . 328 do CPC, q ue l h e acrescenta, ent retanto, o segu i nte : aq ue le credo r q u e n ão part i c ipou do p rocesso, para l evan ­ta r o seu q u i n hão, deve rá arcar, p ropo rci onalmente, com as despesas p rocessua is da cobrança do crédito ( i n c l us ive hono rár ios advocatíc ios) . Essa é a pecu l iar idade t raz ida pe lo CPC, q ue com p lementa o regramento mater ia l - e q ue dá ao p resente a rt igo a lgu ma ut i l i dade, po is , do contrár io , ser ia me ra repeti ção do q uanto d i s posto no Cód igo Civi l . " 9

J á d i s s e Araken de Ass is q u e o art. 29 1 do CPC- 1 973 , correspondente ao atua l art . 3 28, se s i tua de mane i ra tota lmente i nco rreta no capí­tu lo dest inado à peti ção i n ic ia l e na seção dest i nada ao ped ido, pois nada de espec ia l ter ia a ação condenatór ia de cobrança de p restação i n d ivisíve l"0•

Ass im , resume Calmon de Passos : " Mas o autor apenas estará auto rizado a l e ­vantar a parte que l h e for devida, l egit i mados os que não part ic i param do p rocesso, tanto a executar a sentença pe la parte que l h e cou ber, com o a levantar do p roduto a q u ota q u e l h es for devida, abat ida sua part ic i pação p ropo rc iona l n as despesas do p rocesso" . 1 2 1

F i nalmente, uma observação: conforme o a rt . 274 do Código Civi l , pode ser q u e o out ro credor n ão l evante o s e u q u i n hão, se o devedo r, cont ra e le, t ive r a lgu ma exceção pessoa l .

1 1 7 . Sobre o tema, Or lando Gomes. Obrisações, p . 90; Robert Joseph Poth ie r. Tratado das Obrisações. Cam pi nas : Servanda, 2002, p . 248.

1 1 8 . Or lando Gomes. Obrisações, p . 9 1 . 1 1 9 . Neste sent ido, Araken de Assis , Cumulação d e ações, p . 250 . 1 20 . ASSIS, Araken de . Cumulação de ações, p. 249. 1 2 1 . PASSOS, José Joaq u i m Cal mon de. Comentários ao Códiso de Processo Civil, p . 1 98 .

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FR E D I E D I D I E R J R .

6.8. Interpretação do pedido e pedido implícito

6.8. 7 . Interpretação da petição inicial. Regras gerais sobre a interpretação dos atos postulatórios

De aco rdo com o §2o do art . 3 2 2 do CPC, o ped ido há de ser i n te rp retado de acordo com o conj un to da postu lação e com o p r i n cíp io da boa-fé.

Trata-se de regra i n d i spen sável à de l im itação do o bjeto l i t ig ioso do p rocesso1 2 2 •

A com p reensão desse d i s pos it ivo p ressu põe uma sér ie de cons ide rações.

a) A postu lação i n ic ia l é u m a dec laração de vontade ' 23 ; como tal , p rec isa ser i n terpretada.

Desta dec laração su rgi rão d iversas conseq uências j u ríd i cas p rocessua is : i) es­co l h a do j uízo a q uem a pet ição é d i r ig ida - dado necessár io para o exame da com­petênc ia; ii) esco l ha do p roced i mento a ser adotado; iii) fixação do o bj eto l i t ig ioso - e, po rtanto, a de l i m itação do exe rcíc io da f unção j u ri sd i c iona l ; iv) def i n i ção de quem está sendo demandado etc.

Não é, po rtanto, tema late ral , de somenos i m po rtânc ia . A dout ri n a, po rém , com as exceções de p raxe, não l h e dá a aten ção devida. 1 24

b) O caput do art . 3 2 2 i m põe q ue o ped ido tem de ser certo; ou seja, o ped ido tem de constar da peti ção i n i c ia l , n ão se aceitando, a p ri n cíp io, ped i do i m p lícito -há exceções, q u e se rão exam i nadas no p róxi mo item . Não se pode co ns ide rar como ped ido aq ue le q ue, embo ra pudesse ter s ido fo rmu lado, não o fo i 1 25 •

c) O art. 34 1 , 1 1 1 , CPC, traz regra de i nte rpretação da contestação. O réu tem o ônus de impugnar especif icadamente os fatos afi rmados pe lo autor. Se não o fize r, p resume-se ocorr ido o fato não i m pugnado. Sucede q ue o i n ciso 1 1 1 do art . 34 1 d i spõe que essa p resunção não oco rre rá, se os fatos não impugnados "estive rem em con ­

t radição com a defesa, cons iderada em seu conju nto". Ou seja, a regra i m põe a i n ­

terp retação s i stemática da contestação - para a l ém da i nterp retação l i teral , portanto .

1 22 . Sobre a i nterp retação do ped ido e a defi n ição do objeto l i t ig ioso, S I LVA, Paula Costa e. A c to e processo - o

dogma da irrelevância da von tade na in terpretação e nos vícios do acto postula tivo. Coi m b ra: Coi m b ra Edito ra,

2003, p. 375 -1 23 . M I RAN DA, Francisco Cavalcant i Pontes de . Comentários ao Código de Processo Civil. 3' ed . R io de jane i ro : Fo­

rense, 1 999, t . 4, p . 3-1 24 . Boa contr i bu ição naciona l sobre o tema em OL IVE I RA, B runo S i lvei ra de. O juízo de iden tificação de demandas e

de recursos no processo civil. São Pau lo : Saraiva, 201 1 , p. 1 25 e segs. ; MACHADO, Marcelo Pacheco . Correlação

no processo civil. Salvador : Ed i tora j u s Podivm, 201 5· 1 25 . " I nterpretar restritivamente o pedido é t i rar de le tudo q uanto ne le se contém e só o que ne le se contém, sem

que se possa amp l iá- lo por força de interpretação extens iva ou por cons ideração outra q ua lquer de caráter her­menêut ica . Com p reendido no pedido só o que expressamente contiver, não o que possa, v i rtua lmente, ser o seu conteúdo". (PASSOS, )osé Joaq u i m Calmon de Comentários ao Código de Processo Civil, v. 3, cit . , p . 209).

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F O R MAÇÃO DO P R O C E S S O E P ETI ÇÃO I N I C I A L

A i nterpretação s i stemática é técn i ca que tam bém se ap l i ca à i nterp retação do

ped ido . O §2o do art . 3 2 2 consagra uma regra de i nterpretação: o ped ido há de se r i n terp retado de acordo com o conj u n to da postu lação - regra s imétr ica à p revista

para a i nterp retação da contestação .

A causa de ped i r, como fu ndamento do ped ido , é, po rtanto, dado i m p resci n dí-

vel para a cor reta i nterp retação da postu l ação 1 26 •

Registre-se : co rretamente pensadas as coisas, ped ido e causa de pe­

d i r são perspectivas do d i reito mater ia l afi rmado em j u ízo. A causa

de pedi r com põe-se da afi rmação deste d i reito e o pedido se refere

ao efeito j u ríd ico mater ia l q u e deste d i reito deco rre. Ass i m , o o bj eto

do p rocesso não pode ser de l im itado sem q u e se levem em contas essas d u as pe rs pectivas. "7

Mesmo antes do CPC atua l , o STJ já en te ndeu q ue o ped ido há de se r i n te r­

p retado de acordo com o conj u n to da post u l ação: o ped ido deve se r i n fe r ido a part i r de u m a exegese l óg i co -s istêm i ca do com p leto teo r da pet ição i n i c ia l , razão pe la q ual n ão pode se r cons i de rado como ul tra petita o j u lgado q u e o i n te rp reta de fo rma a m p la e con cede à parte aq u i l o q u e fo i efet ivamente p retend i do com o aj u izamento da ação (STJ , 3• T. , REsp n . 1 .049 . s6o- M G, Re i . M i n . Nancy And ri gh i , j . e m 4 . 1 1 . 20 1 0) . 1 28

d) Ap l i cam-se à i nte rp retação do ped ido as no rmas de i n te rpretação dos atos j u ríd i cos; ou seja, as no rmas q ue d i sc i p l i nam a i n terp retação das dec larações de

vontade . A postu lação é, tam bém, u m a dec laração de vontade (art. 200 do CPC) .

O art . 1 1 2 do Código Civ i l , po r exem p lo, e n u nc ia que " nas dec larações de von ­tade se atende rá mais à i ntenção ne l as consu bstan ciada do q u e a o sent ido l i tera l da l i nguagem" . Trata-se de d i s pos it ivo p l enamente ap l i cáve l à in terp retação do

1 26 . Comentando o CPC - 1 973, q u e n ã o possuía e n u nc iado seme l hante (ao cont rár io , poss uía e n u nc iado q u e de­te rm i nava a i n te rp retação restr it iva do ped ido), Pontes de M i randa já d iz ia : " . . . a regra j u ríd ica não p reexc l u i q u e se p ref i ra a i nte rp retação q u e m a i s de afe içoe à c a u s a de ped i r o u à narração dos fatos" . ( M I RANDA, Franc isco Cavalcant i Pontes de . Comentários ao Códiso de Processo Civil. 3' ed . R io de j ane i ro : Forense, 1 999, t . 4, p . 82 . )

1 27 . MANDRIOU, Cr isanto . "Rif less ion i i n tema d i ' petit um ' e d i 'causa petend i ' " . Rivista di Diritto Processua fe. Padova: CEDAM, 1 984, v. XXX IX, p. 474.

1 28 . Nesse sent ido, em dete rmi nado p recedente, afi rmou o STJ q ue, ainda que exp ressa de forma s i nge la, a pet ição i n ic ia l que perm ite conc l u i r pe la p retensão de tute la anteci pada não i nval ida a deci são que a concede. Consta do p recedente que "A petição i n ic ia l , não obstante ter sido redigida de forma s i nge la, narra que o autor bus­ca a concessão de aposentador ia por i nval idez ru ra l porq ue é segu rado da P revidênc ia Soc ia l e se encont ra

i nvál ido para o traba lho que l he garanta o sustento" e que "Ao f ina l , consta ped ido para que o benefício seja im plantado desde a c itação, o q ue, a l i nhado às razões deduzidas, traduz p retensão de c u n h o anteci pató r io" . (http ://www.stj . j u s . b r/portal_stj /pub l i cacao/eng ine .wsp?t m p .area=398tltmp.texto= 1 1 0983, notíc ia pub l i cada em 29 de agosto de 20 13 ) .

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FR E D I E D I D I E R J R .

ped ido 1 29- ' 30 . É p rec iso i nvestigar a vontade do postu lante, para que se possa p roce­der corretamente à i nterp retação do ped ido . Regi stre-se: a vontade da parte não é i r re levante para a i nterp retação do ped ido ' 3 ' .

Em bora a i nterpretação l ite ral sej a o ponto de part ida - uma i nte rp retação que contrar ie fronta lmente o texto ou q u e não se ten h a u m "mín imo de co rrespondên ­c ia no texto respectivo" ' 32 d if ic i lmente se rá cons iderada com o legít ima' 33 - , e la não é a ú n ica técn i ca possíve l de i nterpretação. A i n te rpretação te leo lógica tam bém é i m po rtante - a lém da s i stemát ica, já refe r ida. E é d isso q u e t rata o a rt . 1 1 2 do Có­d igo Civi l .

O art . 1 1 3 d o Cód igo Civi l e n u n c ia, ai nda, q u e "os negóc ios j u ríd icos devem ser i nterpretados confo rme a boa-fé e os usos do l ugar de sua ce leb ração" . A ap l i cação do d i spos it ivo à i nterpretação do ped ido é c la ra, até mesmo como refo rço à i n c idên ­c ia do p ri n cíp io da boa-fé p rocessua l .

Os s ign os (palavras, n úme ros e out ros sím bo los) ut i l i zados pe lo demandante devem ser i nterpretados de acordo com a boa-fé e com os u sos do l u gar de sua ce­l eb ração . Se, em dete rm i n ada com u n i dade, u m a expressão consagrou -se, pelo uso, em um sent ido , não se pode, ao i nterpretá- la poster io rmente, dar a ela um sent ido i n com patíve l com aq ue l e q ue a e la semp re se at ri b u i u .

1 29 . Ass im , ST) . 3' - T. , REsp n . 6 1 3 . 7 3 2-RR, re i . M i n . Nancy Andrigh i , j . e m 1 0. 1 1 .2005: "PROCESSUAL C IV I L. I NTERPRE­TAÇÃO DE ATO PROCESSUAL . PED IDO DE DES ISTÊNC IA DA AÇÃO I NTERPRETADO COMO REN Ú N C IA. SENT IDO LITERAL DA L I NGUAGEM EMPREGADA I N CORRETAM ENTE PELA PARTE . I NADEQUAÇÃO. BUSCA PELA REAL VONTADE CONT IDA NO ATO PROCESSUAL. REN Ú NC IA . N ECESS IDADE DE I NTERPRETAÇÃO RESTRIT IVA. - A i nterp retação l iteral e gra­matical dos atos p rocessuais é a mais pob re e perigosa das i nterpretações, acabando por desviá-lo de sua f ina l idade, com desastrosas conseq uênc ias . - É imp resc indível ao ap l i cador ou i ntérprete do ato p rocessual perq u i ri r pe la valo ração vol it iva i nse rta em seu conteúdo, po is o conteúdo deve preponderar sobre a forma. - A ren ú nc ia ao d i reito que se funda a ação é c lassif i cada tanto pela doutr ina como pela j u ri sp rudênc ia como i n st ituto de natu reza material e, por isso, deve ser i nterpretada restritivamente".

1 30. " . . . o ped ido é uma dec laração de vontade que p recisa ser descod ificada, e la deve ser i nterp retada atendendo­-se mais à in tenção do auto r do ato do q u e ao seu sent ido l i teral (art. 1 1 2 do CC). Perq u i rição da vontade efe­tiva do autor do ato e i nterp retação restritiva dos pedidos não são, portanto, vetores incom patíve is" . (PERE I RA, Lu is G u i l herme Gonçalves. A possibilidade jurídica de julsamentos implícitos no processo civil. D i ssertação de mestrado . U n iversidade Federal da Bahia, 20 1 2, p. 74).

1 3 1 . Sobre o assu nto, longamente, é i m p resc indível a le i tu ra de S I LVA, Paula Costa e . Acto e processo - o dosma da irrelevância da von tade na in terpretação e nos vícios do acto postula tivo. Co imbra: Coi m b ra Edito ra, 2003, p . 341 -448. Nesse sentido, também, o enu nc iado n . 285 do Fórum Permanente de Processua l i stas Civi s : "A interpretação do pedido e dos atos postu lató r ios em geral deve levar em cons ideração a vontade da parte,

ap l icando-se o art . 1 1 2 do Código Civi l " . 1 32 . PERE I RA, Lu i s Gu i l he rme Gonçalves. A possibilidade jurídica de julsamentos implícitos no processo civil. Dis­

se rtação de mestrado . U n iversidade Federa l da Bah ia, 201 2, p . 7 1 . A propós ito, como refe rênc ia, o n . 1 do art.

238• do Código Civi l po rtuguês, que cuida dos negócios j u rídicos fo rmais : " 1 . Nos negócios formais não pode

a dec laração valer com um sentido que não tenha u m mín imo de correspondênc ia no texto do respectivo

documento, a inda que i m pe rfeitamente expresso". 1 3 3 . Ressalva-se a poss ib i l i dade de ambas as partes conco rdarem com isso e a causa perm iti r autocom posição.

588

Neste caso, teríamos verdade i ro negócio j u ríd ico processua l . A p ropósito, S I LVA, Pau la Costa e . Acto e processo

- o dosma da irrelevância da von tade na in terpretação e nos vícios do acto postulativo, c it . , p . 393-395 .

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F O RMAÇÃO DO P R O C E S S O E P E T I ÇÃO I N I C I A L

O CPC rep roduz iu a regra de i nterp retação, q uando, n a parte fi na l do §2o do a rt . 322 , determ i n ou q ue o ped ido se ja i nterpretado de acordo com a boa-fé .

e) A i n terp retação do ped ido deve observar o d i re ito de defesa . Não se pode dar à postu l ação um sent ido que com p rometa a defesa, que se base ia sem p re na­q u i l o que foi demandado . Não é l íc i to i nterp retar a postu l ação para extra i r de la u m ped ido q u e o réu não contestou .

A man i festação do réu, porém , é u m dado re levante para a defi n i ção do q uanto foi postu lado . Por vezes, em bora a peti ção não seja tão c lara - o que poderia levar à i n épc ia da peti ção i n i c ia l -, a contestação, q u e tam bém deverá ser i nterp retada, se rve para reve lar o sent ido em q u e a postu lação do auto r fo i form u lada ' 34 - sent ido esse q ue foi efet ivamente contestado pe lo réu ' 35 •

No ponto, m u ito opo rtuna a refe rên cia ao art . 1 86°, 3, do CPC po rtuguês : "3. Se o réu contestar, apesar de argu i r a i nept idão com fundamento na a l ínea a) do n ú me ro ante rio r, não se j u lgará p rocedente a argu i ção q uando , ouv ido o auto r, se ver if icar q u e o réu i nterpretou conven i entemente a petição i n i c ia l " .

Registre-se: a postu l ação em j uízo é u m a dec laração de vontade com no mín imo do i s dest i natár ios, a contraparte e o ó rgão j u ri sd i c iona l ' 36 •

Po r isso, se am bas as partes estão concordes em relação à i n tep re­tação da postu l ação, o p rob l ema da i nterp retação do pedido p rat i ca­m ente de ixa de exi st i r, ressalvadas as s i t uações de p rocesso s i m u la­do. Não se pode esq uecer q u e a parte demandada é o desti natár io da dec laração de vontade (ped ido) que tem, em tese, con h ecim entos sob re a re lação j u ríd ica mater ia l controvert ida . o ó rgão j u ri sd ic iona l não d i spõe dessas i nformações.

Como afi rma Pau la Costa e S i lva, "d i f ic i l mente se poderá j u st i f icar q ue, exist i ndo uma convergênc ia das partes q uanto ao sent ido com q u e devem se r com p reend idos os com po rtamentos p rocessuais , este entend imento possa ser poste rgado po r um entend imento d ivergente do t ri b u na l" ' 37 •

Não por acaso, ped ido o bscu ramente deduz ido leva à i n épc ia da peti ção i n i c ia l , exatamente po rq ue d i f i cu lta a fixação do objeto l i t i gioso e a defesa do demandado .

1 34 . S I LVA, Pau la Costa e . Acto e processo - o dogma d a irrelevância d a vontade na interpretação e n o s vícios do acto postula tivo, cit., p . 376 .

1 35 . Ass im como a man ifestação do auto r ( rép l i ca) sob re a contestação é u m dado relevante para a correta i nter­p retação da peça de defesa.

1 36 . S I LVA, Pau la Costa e . Acto e processo - o dogma da irrelevância da von tade na interpretação e nos vícios do acto postula tivo, cit., p . 380.

1 37 . S I LVA, Paula Costa e . Acto e processo - o dogma da irrelevância da von tade na interpretação e nos vícios do acto postula tivo, c it . , p . 3 77 -

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FR E D I E DI D I E R J R .

f) Do p ri n cíp io da cooperação, como vi sto neste vo l u m e do Cu rso, deco rre o dever de esclarecimento. Ass im , caso tenha d úv idas sob re o sent ido da postu lação, deve o ó rgão j u ri sd i c iona l i nt imar a parte para q u e o esc lareça.

g) Tudo o q uanto aq u i se d i sse ap l i ca-se, muta tis mutandis, à i n te rp retação de todos os atos postulatórios, como a con testação, a réplica e os recursos' 38• Todos são dec larações de vontade.

E i s a síntese: i ) o j u lgado r deve ater-se aos ped idos fo rmu lados pe lo deman­dante, ressalvados os ped idos i m p lícitos, ad iante exam i nados; ii) a i dent if i cação dos ped idos exp ressam ente fo rm u lados decorre da i n terp retação da demanda, con ­s i de rada como dec laração de vontade e que deve ser i n terpretada em seu conj u n to; iii) a i nte rp retação do ped ido deve basear-se, ai nda q u e m i n i mamente, n o texto da peti ção i n i c ia l ; iv) a i nterpretação do ped ido não pode p rej ud i car a defesa; a defesa, porém, pode servi r como dado para a i nterp retação do ped ido; v) a i nterpretação do ped ido deve observar o p ri n cíp io da boa-fé e os usos do l ugar da postu l ação.

6.8.2. Pedido implícito

O ped ido i m p líc ito é aq ue le q ue, embo ra não exp l i c itado no i n st r umento da postu lação, com põe o o bj eto l i t ig ioso do p rocesso (mérito) em razão de dete rm i na­ção lega l . Mesmo q u e a parte não peça, deve o m agistrado exam i ná- lo e dec i d i - l o .

É tem pe ramento da regra de q ue o ped ido há de ser certo .

Quando há ped ido i m p líc ito, ocorre uma c u m u lação o bjetiva de ped idos por fo rça de le i (ex vi legis) ' 39 : é com o se a le i acrescen tasse à demanda um n ovo ped i ­do . Em bora se t rate de ped ido i m p lícito, não se perm ite a condenação i m p líc ita'40 : o magi strado deve exam i na r exp ressamente o ped ido i m p l íci to ' 4' . A aná l i se desse ped ido tam bém se const i tu i capítu l o autônomo da dec i são14 2 •

Ass im , o caput do art . 49 1 do CPC: "Art . 491 . Na ação re lativa à ob ri ­

gação de pagar q uant ia, a i nda q ue form u lado ped ido genérico, a dec i ­

são defi n i rá desde l ogo a extensão da ob rigação, o índ ice de correção

monetária, a taxa de j u ros, o termo i n ic ia l de ambos e a per iod ic idade

da capita l ização dos j u ros, se fo r o caso, sa lvo q uando : " .

1 38 . Nesse sent ido, tam bém, o e n u nciado n . 2 8 6 do Fó rum Permanente de P rocessual istas Civi s : "Apl ica-se o §2•

do art. 322 à i nterpretação de todos os atos postu lató r ios, i n c l usive da contestação e do recu rso" .

1 39 . Lúc ida síntese de Când ido D i namarco. Capítulos de sentença, c i t . , p . 66 .

1 40. ASS IS , Araken de . Cumulação de ações, cit . , p . 247; PASSOS, José Joaq u i m Calmon de . Comentários ao Códiso

de Processo Civil, v. 3 , c i t . , p. 2 1 0 .

1 4 1 . N ão obstante isso, s ú m u la do STF, n . 254 : " I nc luem-se os j u ros morató r ios na l i qu idação, em bora omisso o

ped ido i n ic ia l ou a condenação". 1 42 . D I NAMARCO, Cândido Range i . Capítulos de sen tença, cit . , p . 66.

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FO R MAÇÃO DO P R O C E S S O E P ETI ÇÃO I N I C I A L

São exem p los de ped ido i m p lícito : a ) os j u ros l egai s (art. 322 , § 1 o, CPC; arts . 405 e 406 do Código Civi l ) ; ' 43 b) ressarc imento das despesas p rocessua is e dos ho­no rár ios advocatíc ios (art . 3 22, § 1 o, CPC); c) cor reção monetár ia (art. 3 22, § 1 o, CPC; art . 404 do Código Civi l ) ; d) ped ido re lat ivo a o b rigações com p restações per iód icas, pois o autor está desob rigado a ped i r as p restações vi ncendas : o magist rado deve i n c l u i r, na dec i são, as p restações vi n cendas e não pagas (art . 3 2 3 do CPC) . I m po rta fr isar q ue os j u ros convencio na is ou com pensató r ios não p resci ndem do ped ido exp resso do autor, não se con sti t u i ndo ped ido i m p lícito ' 44 •

Cr ist iano Chaves de Far ias tam bém aponta o ped ido de a l imentos como i m p lícito na demanda de i nvestigação de pate rn idade, em ra­zão do art. 7o da Lei n. 8 . 560/ 1 992'4 5 •

Segue um rol de e n u nc iados de s ú m u las dos t ri b u na is s u per iores re lativas aos j u ros .

STJ 1 2 : Em desaprop riação, são c umu láve i s j u ros com pensató r ios e mo rató r ios .

STJ 43 . I n c ide co rreção monetár ia sobre dív ida por ato i l ícito a part i r da data do efetivo p rej uízo .

STJ 54 . Os j u ros morató r ios f l uem a part i r do evento danoso, em caso de responsab i l idade extracont ratua l .

STJ 69 . Na desaprop riação d i reta, os j u ros com pensató r ios são devidos desde a antec ipada i m issão na posse e, na desapro p riação i nd i reta, a part i r da efetiva ocu pação do imóve l .

STJ 70. Os j u ros mo rató r ios, na desaprop riação d i reta ou i nd i reta, contam -se desde o trânsito em j u l gado da sentença .

STJ 93 . A legi s l ação sob re cédu las de c rédito ru ral, comerc ia l e i n d us­tr ia l adm ite pacto de capita l ização de j u ros .

STJ 1 02 . A i n c i dência dos j u ros mo rató r ios sob re os com pensató r ios, nas ações exprop riatórias, não constit u i anatoc i smo vedado em l e i .

STJ 1 1 3 . Os j u ros com pensatór ios, na desapro p riação d i reta, i nc idem a part i r da im issão na posse, ca lcu lados sob re o valo r da i nden ização, corr ig ido monetariamente.

1 43 . A r t . 405 do Código Civi l : "Contam-se os j u ros de mora desde a citação i n ic ia l" . A r t . 406 do Cód igo Civi l : "Quando os j u ros mo ratór ios não fo rem convenc ionados, ou o forem sem taxa est i pu lada, ou quando p rovierem de de ­termi nação da le i , serão fixados segu ndo a taxa q u e estive r em v igor para a mora do pagamento de i m postos devidos à Fazenda Naciona l" .

1 44 - ASS IS , Araken de . Cumulação de ações, c i t . , p . 248 , com am p las refe rênc ias b i b l i ográficas. 1 45 . FAR IAS, Cr ist iano Chaves de. " I nvestigação de pate rn idade" . Procedimentos especiais Cíveis - le!Jis/ação extra ­

va!Jante. Fredie D id ie r j r. e Cr ist iano Chaves de Farias (coord.) . São Paulo : Saraiva, 2003, p. 90 1 .

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FR E D I E D I D I E R J R .

STJ 1 1 4 . Os j u ros com pensató r ios, na desaprop riação i n d i reta, i n c idem a part i r da ocu pação, ca lcu lados sob re o valo r da i n den ização, corr i ­g ido monetariamente.

STJ 1 76. É n u la a c láusu l a contratua l que s uje ita o devedor à taxa de j u ros d ivu lgada pe la ANB I D/CET IP.

STJ 1 86. N as i nden izações por ato i l íc ito, os j u ros com postos somente são devidos por aq ue le q u e p rati cou o crime .

STJ 1 88 . Os j u ros morató r ios, na repetição do i ndéb ito, são devidos a part i r do trâns ito em j u l gado da sentença.

STJ 204. Os j u ros de mo ra nas ações re lativas a benefíc ios p revidenc i ­á r i os i nc idem a parti r da c i tação vál ida .

STJ 362 . A correção monetár ia do valo r da i n den ização do dano mo ral i n c ide desde a data do arb i t ramento .

STJ 408. Nas ações de desaprop riação, os j u ros com pensató r ios i n c i ­dentes após a Med ida P rovisória n . 1 . 5 77 , de 1 1 /06/ 1 997, devem se r f ixados em 6"/o ao ano até 1 3/09/200 1 e, a part i r de então, em 1 2"lo ao ano , na fo rma da Sú m u la n . 6 1 8 do S up remo Tri bu na l Federa l .

STJ 426 . Os j u ros de mo ra na i nden ização do segu ro D PVAT f l uem a part i r da c itação .

STF 1 2 1 . É vedada a capita l ização de j u ros, a inda q u e exp ressamente convenc ionada .

STF 254 . I n c l u em -se os j u ros mo rató r ios na l i q u idação, em bora om i sso o pedido i n i c ia l ou a condenação.

STF 562. Na i nden ização de danos mater ia is decorrentes de ato i l íc ito cabe a atua l ização de seu valo r, u t i l izando-se, para esse fi m , dent re out ros cr itér ios, dos índ i ces de correção monetár ia.

STF 596. As d i s pos ições do Dec . 22 .626/33 não se ap l i cam às taxas de

j u ros e aos out ros encargos cobrados nas operações real izadas por

i n st i tu ições púb l i cas o u p rivadas q ue i n tegram o s i stema f i nance i ro

naciona l .